UNESP- UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” CÂMPUS UNIVERSITÁRIO DE BAURU PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO DOCÊNCIA PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA FACULDADE DE CIÊNCIAS JOSIANE APARECIDA LUCIANO VIEIRA "DICIONÁRIO INGLÊS LÍNGUA FRANCA, APLICATIVO KIDLANDIA: CONSTRUINDO CONEXÕES GLOBAIS E MULTILETRAMENTOS NA ERA DIGITAL" BAURU – SP 2025 JOSIANE APARECIDA LUCIANO VIEIRA "DICIONÁRIO INGLÊS LÍNGUA FRANCA, APLICATIVO KIDLANDIA: CONSTRUINDO CONEXÕES GLOBAIS E MULTILETRAMENTOS NA ERA DIGITAL" Dissertação apresentada como cumprimento de requisito obrigatório, para o título de Mestre, à Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – Faculdade de Ciências, Câmpus de Bauru – Programa de Pós-graduação em Docência para a Educação Básica. Orientadora: Profª. Drª. Regiani Aparecida Santos Zacarias. BAURU – SP 2025 V658" Vieira, Josiane Aparecida Luciano "Dicionário Inglês Língua Franca, Aplicativo Kidlandia : construindo Conexões Globais e Multiletramentos na era digital" / Josiane Aparecida Luciano Vieira. -- Bauru, 2025 142 p. : il. + aplicativo Dissertação (Mestrado profissional - Docência para a Educação Básica) - Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Ciências, Bauru Orientadora: Regiani Aparecida Santos Zacarias 1. Dicionário. 2. Inglês como Língua Franca. 3. Vocabulário. 4. Recurso Digital. 5. Linguagem. I. Título. Sistema de geração automática de fichas catalográficas da Unesp. Dados fornecidos pelo autor(a). JOSIANE APARECIDA LUCIANO VIEIRA "DICIONÁRIO INGLÊS LÍNGUA FRANCA, APLICATIVO KIDLANDIA: CONSTRUINDO CONEXÕES GLOBAIS E MULTILETRAMENTOS NA ERA DIGITAL" Dissertação apresentada como cumprimento de requisito obrigatório, para o título de Mestre, à Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – Faculdade de Ciências, Câmpus de Bauru – Programa de Pós- graduação em Docência para a Educação Básica. Orientadora: Profª. Drª. Regiani Aparecida Santos Zacarias. Data da defesa: 20/03/2025 MEMBROS COMPONENTES DA BANCA EXAMINADORA: ___________________________________________________________________ Presidente e Orientadora: Profª. Drª. Regiani Aparecida Santos Zacarias Universidade Estadual Paulista - UNESP/Assis - SP ___________________________________________________________________ Membro Titular: Profª. Drª. Débora Ballielo Borcala Universidade Estadual Paulista - UNESP/Assis - SP ___________________________________________________________________ Membro Titular: Prof. Dr. Fabio Fernandes Villela Universidade Estadual Paulista - UNESP/São José do Rio Preto - SP ___________________________________________________________________ Local: Universidade Estadual Paulista Faculdade de Ciências Unesp – Câmpus de Bauru Faculdade de Ciências - Câmpus de Bauru - Av. Engenheiro Edmundo Carrijo Coube, 14-01, 17033360 http://www.fc.unesp.br/posdocenciaCNPJ: 48.031.918/0028-44. UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Câmpus de Bauru ATA DA DEFESA PÚBLICA DA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO DE JOSIANE APARECIDA LUCIANO VIEIRA, DISCENTE DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DOCÊNCIA PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA, DA FACULDADE DE CIÊNCIAS - CÂMPUS DE BAURU. Aos 20 dias do mês de março do ano de 2025, às 14h, por meio de Videoconferência, realizou-se a defesa de DISSERTAÇÃO DE MESTRADO de JOSIANE APARECIDA LUCIANO VIEIRA, intitulada "DICIONÁRIO INGLÊS LÍNGUA FRANCA, APLICATIVO KIDLANDIA: CONSTRUINDO CONEXÕES GLOBAIS E MULTILETRAMENTOS NA ERA DIGITAL" e produto educacional " KIDLANDIA".. A Comissão Examinadora foi constituída pelos seguintes membros: Profa. Dra. REGIANI APARECIDA SANTOS ZACARIAS (Orientador(a) - Participação Virtual) do(a) Departamento de Letras Modernas / UNESP Câmpus de Assis, Profa. Dra. DÉBORA BALLIELO BARCALA (Participação Virtual) do(a) Departamento de Letras Modernas / Câmpus de Assis, Prof. Dr. FABIO FERNANDES VILLELA (Participação Virtual) do(a) Departamento de Educação / Instituto de Biociências Letras e Ciências Exatas de São José do Rio Preto. Após a exposição pela mestranda e arguição pelos membros da Comissão Examinadora que participaram do ato, de forma presencial e/ou virtual, a discente recebeu o conceito final APROVADA. Nada mais havendo, foi lavrada a presente ata, que após lida e aprovada, foi assinada pelo(a) Presidente(a) da Comissão Examinadora. Profa. Dra. REGIANI APARECIDA SANTOS ZACARIAS http://www.fc.unesp.br/posdocenciaCNPJ Agência Odontología Sin Fronteras Carimbo Sou imensamente grata a Deus pela dádiva da vida e pelo dom que me foi confiado. Ao Arcanjo Miguel e à Nossa Senhora Aparecida, minha protetora, por sua presença amorosa e proteção constante. À minha família, especialmente meu filho Felipe e meu marido Luiz, por seu apoio incondicional, amor e companhia em cada passo da minha jornada. Aos amigos, pelo carinho, compreensão e palavras que tanto me fortaleceram. Com todo o meu coração, minha eterna gratidão! AGRADECIMENTOS Gostaria de expressar minha mais profunda gratidão a Deus, pela dádiva sublime da vida e pelo dom que generosamente me foi confiado. Ao Arcanjo Miguel e à Nossa Senhora Aparecida, minha protetora, agradeço por sua presença constante e pela proteção que me guiou ao longo dos anos. Ao meu amado filho, marido e família, minha eterna gratidão pelo apoio incondicional e por estarem comigo durante cada passo desta jornada de intensa dedicação. Aos amigos queridos, tanto os de longa data quanto aqueles que o destino trouxe recentemente, sou grata pela compreensão, pelas palavras de conforto e pelos incentivos que me fortaleceram, seja nos momentos de lazer ou nas adversidades. Aos colegas de caminhada, de cursos e disciplinas, em especial aqueles do Programa de Docência para a Educação Básica e do Grupo de Pesquisa "Tradução, léxico”, expresso meu sincero reconhecimento pela parceria, pelo auxílio e pelo aprendizado que compartilhamos. Minha gratidão se estende também às instituições escolares que me acolheram, seja como aluna ou professora, cada uma delas contribuiu de maneira significativa para minha formação, tanto profissional quanto pessoal. Por fim, deixo minha mais sincera gratidão ao Programa de Pós-Graduação em Docência para a Educação Básica da Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Câmpus Bauru, aos docentes e a todos os profissionais comprometidos com a nobre missão de disseminar conhecimento e transformar vidas. Agradeço de modo especial à querida Prof.ª Dr.ª Regiani Aparecida dos Santos Zacarias, cuja sensibilidade, acolhimento e orientação sábia me guiaram com tanto carinho e compreensão ao longo desta jornada. A todos, meu mais profundo e sincero obrigado! “A educação é o passaporte para o futuro, pois o amanhã pertence àqueles que se preparam hoje” (Malcolm X). VIEIRA, J. A. L. "Dicionário Inglês Língua Franca, Aplicativo Kidlandia: construindo Conexões Globais e Multiletramentos na era digital". Orientadora: Regiani Aparecida Santos Zacarias. 142 f. Dissertação (Mestrado em Docência para Educação Básica) – Faculdade de Ciências, Universidade Estadual Paulista, Bauru – SP, 2025. RESUMO Esta pesquisa explora o potencial pedagógico de um aplicativo de dicionário de língua franca no Ensino Fundamental I, uma vez que acredita-se que o uso de dicionários é crucial para o desenvolvimento das habilidades linguísticas das crianças. A construção do vocabulário é um componente fundamental desse processo. Além disso, o uso desperta para habilidades que vão além da simples consulta ao dicionário, estimulando a autonomia. Nesse contexto, o objetivo deste estudo é investigar, registar e analisar as estratégias de uso de um aplicativo de dicionário em uma rede municipal de ensino do interior do Estado de São Paulo. Para tanto, a metodologia comporta estudo teórico, documental e pesquisa empírica. Primeiramente, será realizada uma revisão de literatura valendo-se das teorias sobre Língua e Linguagem, Linguística Computacional, Sociolinguística, Língua Inglesa na Contemporaneidade, Multiletramentos e Metodologias Ativas e Lexicografía Eletrônica. Além do estudo teórico, será realizada uma pesquisa documental referente aos documentos que norteiam a BNCC. Os princípios teóricos serão aplicados no desenvolvimento do Produto Educacional KIDLANDIA, que será objeto de uma pesquisa empírica com alunos do 5.º ano. A pesquisa buscará avaliar as estratégias de uso e necessidades dos alunos no manuseio do aplicativo. Espera-se que os resultados possam colaborar para propor melhorias ao Produto desenvolvido, bem como a demais aplicativos de dicionário destinados ao público estudantil. Palavras-chave: Dicionário. Inglês como Língua Franca. Vocabulário. Recurso Digital. Linguagem. Multiletramentos. TDCIs. VIEIRA, J. A. L. “English Lingua Franca Dictionary, Kidlandia Application: Building Global Connections and Multiliteracies in the Digital Age.” Advisor: Regiani Aparecida Santos Zacarias. 142 p. Dissertation (Master's Degree in Teaching for Basic Education) – Faculty of Sciences, São Paulo State University, Bauru – SP, 2025. ABSTRACT This research explores the pedagogical potential of a lingua franca dictionary app in Elementary School, since it is believed that the use of dictionaries is crucial for the development of children's linguistic skills. Vocabulary building is a fundamental component of this process. In addition, its use awakens skills that go beyond simply consulting the dictionary, stimulating autonomy. In this context, the objective of this study is to investigate, record and analyze the strategies for using a dictionary app in a municipal school network in the interior of the state of São Paulo. To this end, the methodology includes theoretical, documentary and empirical research. First, a literature review will be carried out using theories on Language and Linguistics, Computational Linguistics, Sociolinguistics, English Language in Contemporary Times, Multiliteracies and Active Methodologies and Electronic Lexicography. In addition to the theoretical study, a documentary research will be carried out regarding the documents that guide the BNCC. The theoretical principles will be applied in the development of the educational product KIDLANDIA, which will be the object of empirical research with 5th grade students. The research will seek to evaluate the usage strategies and needs of students in handling the application. It is expected that the results can help to propose improvements to the product developed, as well as to other dictionary applications aimed at students. Keywords: Dictionary. English as a Lingua Franca. Vocabulary. Digital Resource. Language. Multiliteracies. TDCIs. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Competências e habilidades padrões da BNCC ...................................... 50 Figura 2 – Personagem 1 ....................................................................................... 109 Figura 3 – Personagem 2 ....................................................................................... 109 Figura 4 – Personagem 3 ....................................................................................... 110 Figura 5 – Personagem 4 ....................................................................................... 110 Figura 6 – Imagem inicial do aplicativo KIDLANDIA ............................................... 116 Figura 7 – Página de Storybooks ........................................................................... 117 Figura 8 – Iniciando o Storybook ............................................................................ 118 Figura 9 – Primeira etapa do Storybook ................................................................. 119 Figura 10 – Jogando .............................................................................................. 120 Figura 11 – Etapas da aplicação do jogo ............................................................... 124 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Trabalhos de relevância para a Lexicografia ......................................... 88 Quadro 2 – Aplicativos para aprendizagem de Língua Inglesa ................................. 96 Quadro 3 – Dados pessoais dos alunos / Encontros presenciais ........................... 104 Quadro 4 – Questões pessoais .............................................................................. 124 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ACTFL The American Council on the Teaching of Foreign Languages ALAB Associação de Línguística Aplicada do Brasil ANPOLL Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Letras e Linguística BNCC Base Nacional Comum Curricular CSS Cascading Style Sheets ENPLE Encontro Nacional de Politíca de Ensino de Línguas ILE Inglês como Língua Estrangeira ILG Inglês como Língua Global ILI Inglês como Língua Internacional IOS Iphone Operation System ILF Inglês como Língua Franca LA Línguística Aplicada LAC Línguística Aplicada Crítica LDB Lei de Diretrizese Bases da Educação LE Língua Estrangeira LEM Língua Estrangeira Moderna LF Língua Franca LI Língua Inglesa LM Línguas Multinacionais PCNs Parâmetros Curriculares Nacionais PNL Processamento de linguagem natural RP Pronúncia recebida TALE Termo de Assentimento Livre Esclarecido TCL Termo de Consentimento Livre Esclarecido TDICs Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação UNESP Universidade Estadual Paulista SUMÁRIO TRAJETÓRIA ACADÊMICA ................................................................................... 15 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 17 2 ENSINO DE LÍNGUA INGLESA: DE LE À LF .................................................... 24 2.1 Língua e Linguagem ........................................................................................ 24 2.1.1 Linguística Computacional: A simbiose entre linguagem e tecnologia ........... 30 2.2 A contribuição da Sociolinguística no Ensino da Língua Inglesa ...................... 35 2.2.1 Variação regional ........................................................................................... 40 2.3 Dialeto e Alojamento: expressões da identidade regional ................................. 43 2.3.1 Língua Inglesa na contemporaneidade .......................................................... 47 2.4 Inglês como Língua Franca ............................................................................. 52 2.4.1 Ensino de Língua Inglesa do ponto de vista do ILF ....................................... 55 3 DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS PARA O ENSINO DE INGLÊS NO CONTEXTO BRASILEIRO ........................................................................................................... 59 3.1 O Ensino de Línguas Estrangeiras na Educação Básica Brasileira: desafios e perspectivas. ............................................................................................................ 59 3.1.1 Documentos norteadores do ensino de LI ..................................................... 64 3.1.2 A competência comunicativa do falante de Língua Inglesa como Língua Franca 69 3.1.3 Multiculturalismo e Globalização.................................................................... 71 3.1.4 Desafios contemporâneos ............................................................................. 77 4 E-DICIONÁRIOS COMO RECURSO PARA O ENSINO E APRENDIZAGEM DE INGLÊS ................................................................................................................... 81 4.1 TDICs, Multiletramentos e Metodologias Ativas ............................................... 81 4.2 E-lexicografia ................................................................................................... 87 4.2.1 A Lexicografia Digital e a Língua Inglesa: navegando pelos dicionários do século 21 . ............................................................................................................... 91 4.2.2 Aplicativo de dicionário personalizado para aprendizagem de Inglês ............ 94 5 PRODUTO EDUCACIONAL .............................................................................. 102 6 DESCRIÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS DO APLICATIVO KIDLANDIA ......... 106 6.1 Desenho do Produto ...................................................................................... 106 6.2 Resumo do produto ....................................................................................... 106 6.2.1 Local de aplicação do Produto ..................................................................... 107 6.2.2 Público-alvo ................................................................................................. 108 6.2.4 Objetivos do Produto ................................................................................... 108 6.3 Personagens do Storybooks .......................................................................... 109 6.4 Estrutura do aplicativo ................................................................................... 111 6.5 Recursos utilizados para potencializar o uso do jogo..................................... 116 6.6 Entendendo os componentes e a dinâmica do jogo ....................................... 117 6.7 Sequência Didática aplicativo KIDLANDIA .................................................... 121 7 RESULTADOS .................................................................................................. 124 7.1 Fase 1: contexto de ensino e aprendizagem de Inglês .................................. 124 7.2 Dados da aplicação do Produto Educacional ................................................. 127 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 129 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 131 APÊNDICES .......................................................................................................... 138 APÊNDICE A – Solicitação de Autorização para Pesquisa Acadêmico-Científica .. 138 APÊNDICE B – Termo de Autorização de Uso de Imagem e Depoimentos ........... 139 APÊNDICE C – Termo de Assentimento Livre e Esclarecido do Estudante ........... 140 APÊNDICE D – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido .............................. 141 15 TRAJETÓRIA ACADÊMICA Desde a infância, minha vida foi marcada pela paixão por brincar, dançar e cantar. Cresci em uma família de três irmãos – Rodrigo, Diego e Tiago – e nunca me faltou companhia para minhas aventuras. Apesar de ser menina, adorava me juntar aos meus irmãos para explorar o mundo ao nosso redor. Nasci na Fazenda São Domingos, em Lençóis Paulista, onde passei meus primeiros 17 anos de vida. Um lugar de liberdade para brincar e explorar, mas também uma região com muitas carências. Meu pai, um trabalhador rural e fiscal da Usina Barra Grande, passava seus dias dirigindo o caminhão que transportava trabalhadores para o corte de cana, além de registrar a produção de cada um. Um trabalho árduo sob o sol quente. Minha mãe, dona de casa dedicada, cuidava de nós com muito amor, mesmo em meio às dificuldades financeiras. Acreditava que nunca nos faltaria o essencial, pois no sítio cultivávamos nossos próprios alimentos e criávamos animais. Apesar disso, o salário do meu pai não era suficiente para cobrir todas as despesas da casa e, muitas vezes, dependíamos de doações de roupas e calçados, que usávamos com gratidão. Por viver no sítio, não tive acesso à Educação Infantil. A escola mais próxima ficava a 25 km de distância e o transporte escolar só era oferecido a partir da 1.ª série. Eu via meu irmão mais velho indo à escola e sentia um desejo enorme de acompanhá- lo. Tentava aprender sozinha com seus cadernos, pois meus pais, com formação limitada, não podiam nos ajudar nas tarefas escolares. Aos sete anos, comecei a estudar na 1.ª série da Escola Municipal “Cecília Marins Bosi”, no distrito de Alfredo Guedes. A falta de Educação Infantil dificultou minha alfabetização, mas, com dedicação, consegui superar os obstáculos e me alfabetizar no final do ano. Eu adorava ir à escola e ficava encantada quando a professora lia livros para a turma, mesmo sabendo que as condições eram precárias. Não tínhamos livros para levar para casa e enfrentávamos o preconceito de outros alunos, que nos faziam sofrer com bullying. Apesar de tudo, nunca deixei de sonhar. Mesmo quando alguns professores duvidavam de meu potencial, decidi focar nos estudos e me destacar. No final do Ensino Médio, não consegui ingressar em uma universidade pública, pois minha formação básica não me preparou da melhor forma para competir com outros candidatos. 16 Mudando para a cidade, fui morar com meu irmão mais velho e comecei a trabalhar para custear meus estudos. Passei por empregos difíceis, mas minha determinação me levou a uma vaga como telefonista, na qual o inglês me abriu novas portas. Esse interesse pela língua inglesa e pela literatura me motivou a ingressar no curso de Letras, equilibrando a paixão por estudar com as limitações financeiras. No primeiro dia de aula, chorei no ônibus, emocionada por ser a primeira da família a cursar uma faculdade. Foram quatro anos desafiadores, mas também repletos de aprendizado, amizades e superação. Durante esse tempo, casei, tive meu filho Felipe e, apesar das dificuldades, continuei lutando por um futuro melhor. Passei em concursos públicos e comecei minha carreira como professora de Língua Portuguesa e Língua Inglesa no Ensino Fundamental. Enfrentei muitos desafios no início, mas encontrei minha verdadeira paixão no Ensino Fundamental I, pois pude ensinar de maneira lúdica e criativa. Hoje, leciono para cerca de 700 alunos por semana, em 26 turmas, sempre com dedicação e entusiasmo. Para aprimorar minha prática, cursei pós-graduação em Letras e Pedagogia e, recentemente, iniciei o mestrado. Foi durante esse período que criei o aplicativo KIDLANDIA, um projeto educacional que visa proporcionar uma aprendizagem significativa e divertida para os alunos. Através de minitextos com personagens de diferentes culturas que falam inglês, os alunos interagem com o jogo, avançam de fase, ouvem as pronúncias e, se necessário, consultam o dicionário, tornando a aprendizagem lúdica e autônoma. Embora os medos iniciais tenham sido muitos, a experiência tem sido incrivelmente enriquecedora. Sou profundamente grata aos professores, alunos e minha família, que sempre me apoiaram, além da Prof.ª Dr.ª Regiani, cuja sabedoria e humanidade me inspiraram ao longo de toda a jornada. Agora, ao concluir essa etapa, me sinto privilegiada por ter chegado até aqui. Este curso não apenas transformou minha vida profissional, mas também meu crescimento pessoal e sou eternamente grata por cada passo dessa trajetória. 17 1 INTRODUÇÃO Na contemporaneidade, em que o idioma inglês se posiciona como preponderante enquanto língua estrangeira na sociedade global, torna-se evidente o crescente valor atribuído ao seu ensino, dada a sua significativa presença e influência em todo o mundo. O inglês é amplamente empregado em diversas esferas, como nos âmbitos empresarial, educacional, artístico, científico, tecnológico, dentre outros setores. No entanto, no âmbito da Educação Básica no Brasil, observa-se uma carência significativa de recursos que possam auxiliar na realização de aulas que incentivem os alunos a aprender o idioma e a entender a importância de seu uso além de ser apenas uma disciplina escolar. É imperativo conscientizá-los sobre a necessidade de aprimoramento da língua para o seu desenvolvimento pessoal, acadêmico e social. Vários ambientes que orientam as práticas de indivíduos e comunidades para diferentes formas de letramento são conhecidos como agências de letramento. A escola, portanto, não é a única dessas agências, embora seja uma das mais importantes. No entanto, ela não é exclusiva na vida das comunidades. Pessoas e grupos podem adquirir letramento em diversos contextos e por meio de diferentes práticas, todas igualmente essenciais para os usos daquela sociedade. Soares (2002) aponta que existem diferentes modalidades de letramento, cuja palavra é pluralizada: há letramentos, não letramento, ou seja, que “diferentes formas de escrita e diferentes mecanismos de produção, reprodução e disseminação da escrita resultam em diferentes letramentos”. Dentre esses, destacamos o letramento digital e o letramento lexicográfico contemplados neste estudo. Nesse contexto, mudanças nas formas de interação humana na cibercultura também provocam alterações “[...] reconfigurando um letramento digital, isto é, um certo estado ou condição que adquirem os que se apropriam da nova tecnologia digital e exercem práticas de leitura e de escrita na tela [...]” (Soares, 2002, p. 151). Além disso, a tecnologia mudou a vida humana e a educação não é exceção. (Ríos Fuentes et al., 2020). “O espaço do saber incita reinventar o laço social em torno o aprendizado recíproco, da sinergia das competências, da imaginação e da inteligência coletivas” (Lévy, 2008, p. 34), ou seja, a tecnologia fez com que a motivação e dedicação dos alunos se tornasse uma importante ferramenta de serviço para o ensino de Inglês como língua estrangeira em algumas instituições. 18 Uma das partes essenciais ao aprender um novo idioma é a aquisição de novo vocabulário. As mudanças provocadas por instrumentos tecnológicos de mediação estão conectadas de maneira dialética com o aprendizado, “uma vez que as transformações no ambiente externo influenciam o modo de aprender e o contrário também ocorre” (Smolka, 1995, p. 11). Atualmente, alguns alunos não desenvolvem a aquisição dessas palavras de maneira a atender às propostas de ensino regular, por isso é necessário buscar e aplicar novas técnicas motivadoras que melhorem as habilidades de aprendizagem e promovam a aquisição lexical de línguas. O tema abordado neste trabalho constata, ao analisar os dados nas diretrizes da BNCC de 2018, as baixas porcentagens de brasileiros fluentes em inglês. O documento evidencia a necessidade de estudos para mudar essa situação, já que a aprendizagem eficaz do inglês é de grande importância no mundo globalizado. Assim, após refletir sobre esses dados e relacioná-los com experiências observadas no ensino de Língua Inglesa em uma escola pública de SP, surgiu a motivação para realizar estudos em uma linha de pesquisa que promovesse, com maior acerto, o desenvolvimento da oralidade e a aprendizagem de cultura através de recursos lúdicos e digitais. Instigados a falar sobre o de ensino de Língua Inglesa, com a expansão do inglês e a sua manifestação moderna, alguns escritores no campo da Linguística Aplicada tentaram compreender este fenômeno linguístico e rotulá-lo como Inglês como Língua Franca (ILF) ou inglês mundial. Línguas Multinacionais (LM), línguas Internacionais (COMPREENDI), etc. Dentre as muitas nomenclaturas adotadas pelo inglês nos tempos modernos, optamos por focar no ILF e em algumas de suas teorias que diferem entre os eruditos. Ao pensar nas implicações pedagógicas da perspectiva ILF, particularmente em relação aos materiais de ensino de inglês, vale a pena mencionar como esta perspectiva foi obtida através da análise e desenvolvimento dos livros didáticos de inglês, o que promoveria uma abordagem pedagógica mais orientada para a interculturalidade e outras variedades da língua inglesa. No que tange ao ensino e aprendizagem de cultura, é importante ressaltar que as diretrizes da BNCC também enfatizam o ensino da dimensão intercultural e o ensino do inglês como língua franca, ou seja, deve-se associar a ideia de que o inglês é um idioma utilizado para a comunicação comum entre falantes de diferentes línguas nativas. A partir dessas perspectivas e do despertar para os dicionários como recurso lúdico que pode ser usado na aprendizagem de idiomas, decidimos desenvolver como 19 Produto Educacional deste trabalho um aplicativo de dicionário ILF e games com storybooks, que buscaram abordar a cultura e os aspectos linguísticos de diversos países que utilizam intensamente a língua inglesa como meio de comunicação. Considerando que, ao abordar a dimensão intercultural, é necessário levar em conta a língua e a cultura materna do aprendiz, o aplicativo ILF web e celular, desenvolvido neste trabalho, buscou-se explorar a cultura brasileira, americana, coreana e espanhola, englobando aspectos do cotidiano, históricos e linguísticos. Segundo o autor Silva (2016), essa relação entre culturas tem o objetivo de desenvolver o respeito pelas diferenças, evitando que se estabeleçam vínculos para supervalorizar ou suprimir as diferenças culturais. Outro fato que motivou esta pesquisa foi a observação de um método de ensino que privilegia a tradição gramatical em detrimento da promoção de uma análise mais aprofundada do funcionamento linguístico, nas aulas de língua inglesa. Corrobora com essa questão a informação de que educadores têm enfrentado o desafio de melhorar constantemente o ensino do inglês ao longo do tempo, como revela a Pesquisa do Conselho Britânico (2014). A pesquisa destaca, ainda, que as aulas de inglês na Educação Básica no Brasil, por diversas razões, acabam enfatizando consideravelmente o ensino de gramática e a leitura de textos curtos. Este estudo, conduzido com o objetivo de compreender o nível de conhecimento de inglês entre os brasileiros, revelou que apenas 5,1% da população com 16 anos ou mais declararam possuir algum conhecimento dessa língua estrangeira. Quando a pesquisa é delimitada aos jovens entre 18 e 24 anos que afirmam falar inglês, a porcentagem aumenta para 10,3%. Embora esses dados representem um crescimento, ainda assim refletem percentuais baixos. Com base na pesquisa, este quadro traça o seguinte cenário: A Lei de Diretrizes e Bases da Educação e os Parâmetros Curriculares Nacionais, tanto para o ensino fundamental como para o ensino médio, determinam o ensino de língua estrangeira. No entanto, especialistas, professores e até mesmo o governo reconhecem que o ensino de inglês na educação básica, seja privada ou pública, não consegue formar estudantes com um bom nível de proficiência nesse idioma. As principais causas, segundo esses interlocutores, são comuns a outros problemas identificados na educação básica: pouca estrutura para um ensino adequado da língua e turmas com número elevado de alunos. Somam-se a isso a carga horária insuficiente e a dificuldade de encontrar professores com formação adequada. Nesse contexto, o ensino do inglês resume-se a noções iniciais das regras gramaticais, leitura de textos curtos e desenvolvimento da 18 habilidade de resolver testes de múltipla escolha voltados para o vestibular (British Council, 2014, p. 12). 20 Após análise das informações apresentadas anteriormente, constatamos que os desafios relativos ao ensino e aprendizagem da língua inglesa são significativos. Dentro desse contexto, desde 2018, observaram-se alterações na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a qual agora enfatiza de forma mais pronunciada os aspectos relacionados às interações sociais, à oralidade, à aprendizagem intercultural e ao uso de tecnologias. Conforme estabelecido nesse documento, as aulas de inglês não devem se restringir unicamente às habilidades de leitura e escrita, mas sim abranger a oralidade e promovê-las por meio de conteúdos com uma dimensão intercultural e o uso de tecnologias. É crucial que eles direcionem seus esforços não apenas para o aprimoramento teórico dos alunos, mas também para cultivar as habilidades essenciais que os ajudem a alcançar um alto desempenho acadêmico. Ademais, a perspectiva sociolinguística educacional como fundamento para pesquisar sobre a língua seria uma forma de garantir uma educação inclusiva e de qualidade, que valorize todas as variedades linguísticas materializadas pelos alunos em suas falas e textos (escolarmente interpretadas como “erros”), promovendo oportunidades de aprendizagem ao longo da vida aos alunos. Trabalhar com multiletramentos pode ou não envolver (normalmente envolverá) o uso de novas tecnologias de comunicação e informação ("novos letramentos"), mas caracteriza-se como um trabalho que parte das culturas de referência do alunado (popular, local, de massa) e de gêneros, mídias e linguagens por eles conhecidos, para buscar um enfoque crítico, pluralista, ético e democrático - que envolva agência - de textos/discursos que ampliem o repertório cultural, na direção de outros letramentos, valorizados [...] ou desvalorizados [...] (Rojo; Moura, 2012, p. 8). O objetivo geral deste estudo é investigar a estratégia utilizada por uma professora de Língua Inglesa, em uma rede municipal de ensino, do interior do Estado de São Paulo, que leciona para alunos do Ensino Fundamental I, com foco especificamente neste trabalho para os alunos de 5.º ano. Esta pesquisa discursa sobre a utilização de um aplicativo de dicionário: Inglês como Língua Franca e gamificação, objetiva reforçar as habilidades linguísticas e seu foco estará no aprendizado visual, auditivo, interativo e análise da interpretação textual, leitura e escrita com foco na aquisição de novos vocabulários. Com o propósito de alcançar tais objetivos, foi conduzida uma pesquisa de abordagem qualitativa interventiva. Nesse contexto, o Produto Educacional foi desenvolvido e aperfeiçoado ao longo de todo o processo, em conformidade com as teorias mencionadas, bem como em 21 consonância com os conteúdos da nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e consultas bibliográficas pertinentes às abordagens de ensino de línguas. Referente à primeira abordagem mencionada, conforme destacado por (Almeida Filho, 2015), a abordagem comunicativa concentra-se no significado, sem negligenciar, contudo, a competência gramatical. Nesse sentido, é relevante observar que até mesmo os elementos gramaticais foram selecionados para compor os textos dos storybooks e as perguntas apresentadas no jogo, assim como fácil acesso ao dicionário ILF, caso necessário a consulta de algum significado da palavra. Esses conteúdos foram escolhidos em conformidade com a BNCC, selecionando-se os elementos gramaticais do 5.º ano, conforme apresentados nos campos "Unidades Temáticas" e "Objetos de Conhecimento". Assim sendo, o aplicativo celular e WEB: Dicionário Inglês Língua Franca e jogos com storybooks e personagens caraterísticos de quatro países falantes de língua Inglesa denominado KIDLANDIA será implementado com os estudantes do 5.º ano durante o horário contrário as aulas regulares de Língua Inglesa, com 12 alunos que se candidatarão a experenciar o Produto. A metodologia que é qualitativa e interventiva, do aplicativo KIDLANDIA oferece desafios fundamentados nos princípios teóricos da abordagem comunicativa, na teoria sociocultural e nas diretrizes estabelecidas pela BNCC. Assim, o aplicativo fornece uma aba com o dicionário bilingue para consulta, caso necessário, e na parte de gamificação oferta textos com personagens de quatro nacionalidades diferentes, propiciando a inclusão e o estímulo a utilização da linguagem Inglês como Língua Franca, estimulando a comunicação e interação. Como forma de organizar o nosso trabalho, estruturamos esta dissertação com a Introdução, seção na qual é apresentada a temática deste trabalho, os objetivos, a justificativa, as perguntadas norteadoras, as hipóteses e a metodologia. No primeiro capítulo discorreremos sobre Língua e Linguagem, sobre a evolução da Linguística e do ensino de línguas, destacando Ferdinand de Saussure e David Wilkins. Almeida Filho adapta essas abordagens no Brasil, enfatizando a pedagogia comunicativa. Na sequência, abordamos os subitens, destacados em negrito. Em Linguística Computacional, enfatizaremos sua interseção com a tecnologia e suas aplicações práticas, como o Processamento de Linguagem Natural (PLN). Dando sequência, baseamo-nos em teorias linguísticas relevantes, pois a 22 disciplina permite a criação de sistemas que interpretam a linguagem humana. Discutiremos também a importância da sociolinguística no ensino da língua inglesa, destacando como fatores sociais como classe, gênero e etnia influenciam o uso da língua, além de abordar o conceito de falante nativo. Na pesquisa de Labov em Martha’s Vineyard ilustramos como a variação linguística está ligada a identidades sociais e status. Destacamos que reconhecer as variações linguísticas enriquece o aprendizado e combate preconceitos, promovendo práticas pedagógicas inclusivas. O texto também examina a variação regional do inglês, abordando diferenças de pronúncia, vocabulário e sintaxe entre variantes como o inglês britânico e o americano. Finalizamos o capítulo um, discutindo a importância do dialeto e do alojamento regional na construção da identidade regional e os desafios da globalização que ameaçam a diversidade linguística. No capítulo dois, discorreremos sobre a história do ensino de línguas estrangeiras no Brasil, com ênfase no inglês. Na seção “Documentos norteadores no ensino de LI”, a BNCC orienta o ensino de Inglês como Língua Franca (ILF), destacando a comunicação intercultural e a valorização da diversidade linguística. Com foco em cinco eixos (Oralidade, Leitura, Escrita, Conhecimentos Linguísticos e Dimensão Intercultural), o documento busca desenvolver habilidades para o uso eficaz do ensino de inglês em contextos globais. No subitem: A competência comunicativa do falante de Inglês como Língua Franca, o texto explora a competência comunicativa intercultural no uso do inglês como língua franca, ressaltando a importância da habilidade de navegar entre diferentes culturas Por fim, o texto analisa os desafios contemporâneos no ensino de língua inglesa no Brasil, considerando aspectos pedagógicos, socioculturais e estruturais. Destacando a importância de uma abordagem intercultural que valorize a diversidade linguística, reconhecendo o inglês como uma "língua mundial" que deve refletir as várias formas de uso global. No capítulo três, abordaremos a relação entre multiletramentos, TDICs e metodologias ativas no contexto da educação, enfatizando a importância de compreender e produzir textos em diversas linguagens e mídias, propondo uma colaboração entre educadores e desenvolvedores para otimizar o uso dos aplicativos na educação, promovendo uma aprendizagem mais significativa. 23 Sobre E-lexicografia explicaremos o estudo do léxico e a produção de dicionários e glossários, sendo crucial para a compreensão e registro da língua no Brasil. Em Lexicografia Digital dialogamos como ela transformou a forma como interagimos com a Língua Inglesa no século 21, tornando os dicionários digitais ferramentas essenciais para estudantes e profissionais, assim, a Lexicografia Digital não só facilita a pesquisa, mas também enriquece o aprendizado, sendo crucial para a educação contemporânea em inglês. Por fim, falaremos sobre aplicativos educacionais, especialmente um dicionário personalizado, para a aprendizagem de inglês em um contexto tecnológico crescente. Com a globalização e a popularização da língua inglesa, esses aplicativos oferecem métodos de aprendizado mais acessíveis e personalizados, promovendo autonomia e interatividade entre alunos e professores. Apesar dos benefícios, como aumento da motivação e promoção de aulas dinâmicas, desafios como resistência dos alunos e dificuldades de acesso à tecnologia também são destacados. O desenvolvimento do aplicativo KIDLANDIA busca contribuir para um aprendizado significativo, integrando tecnologia e pedagogia para formar cidadãos mais preparados. Em suma, a tecnologia educacional representa um avanço crucial no ensino de idiomas, necessitando de uma abordagem pedagógica consciente. No capítulo quatro, apresentaremos nosso Produto Educacional: Dicionário Inglês Língua Franca, chamado KIDLANDIA, no qual explicaremos como funciona o aplicativo para celular e web, quais os benefícios no ensino e aprendizagem de língua Inglesa, melhorias e adaptações a serem realizadas e como será a aplicação do Produto com alunos do 5.º ano do Ensino Fundamental I de uma rede pública, resultados e apontamentos. Finalizaremos esta dissertação com as Considerações Finais e as Referências consultadas. 24 2 ENSINO DE LÍNGUA INGLESA: DE LE À LF 2.1 Língua e Linguagem O suíço Ferdinand de Saussure pode ser considerado o pai da linguística moderna, nos anos de 1907, 1908 e 1910. Para Saussure, a linguagem é algo que só os humanos têm, permitindo que se crie, entenda e desenvolva a língua e outras formas de comunicação simbólica. Ele dizia que a linguagem é muito diversa e complexa, com aspectos físicos, mentais e sociais, e se encaixa tanto na esfera individual quanto na coletiva. Saussure (1907) acreditava que não seria possível encontrar uma única unidade para a linguagem como um todo, então não faria sentido estudá-la como se fosse uma coisa só. Por outro lado, a língua é vista como uma parte essencial da capacidade de linguagem. Ela é uma criação social, feita por um grupo para usar a linguagem de maneira organizada. A língua é uma unidade por si só e serve como padrão para entender todas as outras formas de linguagem, ajudando a colocar ordem na capacidade de comunicação. Em 1976, o linguista David Wilkins publicou o livro "National Syllabuses", que integrava noções gramaticais e comunicativas. Os conceitos abordados no livro levaram ao desenvolvimento do método Nocional/Funcional, cuja finalidade era estruturar conteúdos de programas denominados nocionais-funcionais. Os estudos (Wilkins,1975) exploraram questões relacionadas às categorias nocionais como quantidade, tempo e sequência, assim como às categorias de funções comunicativas. O autor defendia que o ensino de línguas deveria adotar uma perspectiva semântica, em que os materiais e as aulas fossem elaborados com base em conteúdos linguísticos que atendessem às necessidades dos alunos. As ideias discutidas neste livro, junto com outras teorias de autores renomados, ajudaram a consolidar a abordagem comunicativa. Seguindo estes conceitos, quando se fala de "língua", especificamente o inglês, é considerada como um sistema organizado, cheio de regras gramaticais, vocabulário e formas de pronunciar as palavras. Já "linguagem" é um termo mais amplo que inclui toda a comunicação humana, seja ela verbal, escrita ou até mesmo não verbal. A contribuição de Wilkins foi uma análise dos significados comunicativos que um aprendiz de línguas precisa entender e expressar. Mais do que descrever a essência da língua através de conceitos tradicionais de gramática e 25 vocabulário, Wilkins tentou demonstrar os sistemas de significado que estavam por trás do uso comunicativo da língua (Richards; Rodgers, 1994, p. 65). No Brasil, a abordagem comunicativa foi introduzida e desenvolvida por Almeida Filho (1986), que identificou certas limitações no movimento comunicativo funcional e corroborou a teoria de Widdowson. Almeida Filho continuou seus estudos nesta área e produziu outras obras, incluindo o livro “Dimensões Comunicativas no Ensino de Línguas”, que passou por várias edições desde seu lançamento. Na vigésima edição do livro, publicada em 2015, Almeida Filho explorou temas relacionados às aulas, aos métodos comunicativos, à integração da gramática com a coerência comunicativa e a diferentes métodos de avaliação que um professor utilizando essa abordagem pode empregar. Nesse sentido, observamos que as colocações do autor no ensino de Língua Inglesa são fundamentais para que os alunos desenvolvam a chamada competência linguística. Isso significa que eles precisam entender e usar o inglês de forma correta, conhecendo as regras gramaticais e o vocabulário. Mas não é só isso: também é crucial que eles sejam capazes de se comunicar efetivamente, o que envolve entender a cultura, usar expressões idiomáticas e adaptar o discurso para diferentes situações. Existem diversas maneiras de ensinar inglês, cada uma com abordagens específicas. O Método Direto propõe que o aluno aprenda o idioma sem recorrer à tradução para sua língua materna e permite uma imersão completa no inglês. Já o Método Gramática-tradução enfatiza o ensino das regras gramaticais e do vocabulário, utilizando traduções entre o inglês e o idioma nativo do aluno. Por outro lado, o Método Comunicativo prioriza a prática do idioma em situações reais, promove atividades que simulam interações do cotidiano para estimular a comunicação natural. Já o Método Natural baseia-se em uma abordagem mais orgânica, como se o aluno estivesse aprendendo a língua da mesma forma que aprende sua língua materna. Dessa forma, o ensino comunicativo foca na organização das atividades e tarefas com base nas necessidades e interesses dos alunos. Além disso, valoriza a ideia de oferecer exemplos autênticos para que os aprendizes sejam capazes de interagir efetivamente com outros falantes da língua-alvo. Segundo o autor: [...] não toma as formas da língua descritas nas gramáticas como modelo suficiente para organizar as experiências de aprender a outra língua, mas sim 26 aquele que toma unidades de ação feitas com linguagem como organizatórias das amostras autênticas de língua-alvo que se vão oferecer ao aluno- aprendiz (Almeida Filho, 2015 p. 76). Com a tecnologia, o ensino de inglês ganhou novas ferramentas, como aplicativos e plataformas on-line que oferecem prática interativa. Não podemos esquecer da importância de compreender a cultura dos países de língua inglesa, pois isso facilita bastante a comunicação. O desafio consiste em lidar com alunos que apresentam diferentes níveis de proficiência. É fundamental manter a motivação deles, destacando a relevância do aprendizado do inglês. Porém, observamos que a BNCC exige a inclusão da aprendizagem cultural, utilizando o inglês como meio para oferecer um acesso crítico à cultura. Assim, os alunos têm a oportunidade de aprender e, ao mesmo tempo, apreciar as diversas diferenças culturais entre os povos. Atualmente, há algumas tendências interessantes no ensino de inglês. Muitas escolas estão se tornando bilíngues ou multilíngues, refletindo a globalização. Também há uma crescente popularidade da gamificação, uma vez que os jogos e atividades lúdicas tornam o aprendizado mais divertido. E, claro, as abordagens personalizadas estão se tornando mais comuns, adaptando o ensino às necessidades e interesses individuais dos alunos. No fim das contas, o ensino de inglês é uma jornada que combina entender a língua, a cultura e usar as melhores práticas para ajudar os alunos a se comunicarem com confiança. Bakhtin (2014, p. 74), por outro lado, argumenta que "a língua é uma atividade, um processo criativo ininterrupto de construção, que se materializa sob a forma de atos individuais de fala". Ou seja, a língua é um componente essencial dos atos de fala, sendo a base de toda a atividade linguística. Bakhtin, cujas ideias informam as discussões contemporâneas sobre o tema, considera a língua como uma realidade dinâmica e inseparável do aspecto ideológico, sendo, portanto, impossível analisá-la isoladamente dos atos de fala. Nas interações, Bakhtin destaca que: Para o interlocutor o centro de gravidade da língua não reside na conformidade à norma da forma utilizada, mas na nova significação que essa forma adquire no contexto. O que importa não é o aspecto formal da linguística que, em qualquer caso em que esta é utilizada, permanece idêntico (Bakhtin, 2014, p. 96). 27 Na realidade, o que realmente importa para o indivíduo é o que a linguagem permite que se torne compreensível em um determinado contexto, o que viabiliza a expressão de maneira adequada às condições da situação de interação social. No entanto, o sujeito também precisa negociar com seu interlocutor, que deve entender o ato de fala em seu contexto. Portanto, as enunciações são utilizadas em situações concretas, uma vez que todo ato de enunciação é “um puro produto da interação social” (Bakhtin, 2014, p. 123). Dessa forma, concebemos o sentido da língua sob a perspectiva da linguagem como uma prática social. Assim, é por meio da linguagem, especialmente das línguas, que as relações sociais ocorrem. A linguagem é o meio pelo qual as pessoas transmitem informações, sentimentos, criam arte e ciência, compartilham sua cultura em suas várias formas, seja por meio de comunicação oral ou escrita. De acordo com Souza “é na linguagem, e por meio dela, que construímos a interpretação da vida e de nossa própria história, com a linguagem, somos capazes de atribuir significados” (1994, p. 21). Portanto, compreendemos a linguagem por meio de várias formas de comunicação, como imagens, gestos, palavras, textos, e a consideramos como um componente fundamental da construção histórica da humanidade. É por meio dela que a sociedade desenvolve suas formas de pensar e agir em relação aos outros e reconhece a realidade em que está inserida. Nessa perspectiva, a linguagem engloba tudo o que permite a interação e a comunicação entre os sujeitos. A linguagem é amplamente definida em suas diversas formas e aspectos e, ao mesmo tempo, é composta por irregularidades, uma vez que é usada em contextos de necessidade, às vezes fugindo das regras gramaticais, com foco na interação social. Quando uma criança nasce, a língua não lhe é entregue pronta em sua forma material de fala, com todos os seus usos linguísticos. À medida que o tempo passa, a criança entra nas relações verbais e sua consciência começa a compreender como usar a língua para a comunicação verbal. Os indivíduos começam a empregar a linguagem quando estão imersos em relações sociais que compartilham a mesma língua materna. A língua se constitui por meio de processos dialógicos nas práticas sociais e, ao mesmo tempo, ela constitui essas práticas sociais. A interação verbal torna-se uma parte fundamental da língua, que é construída ao longo do processo de desenvolvimento do sujeito. Dessa forma, a língua se destaca como um dos principais meios de mediação entre as pessoas. Faz sentido que a linguagem tenha surgido da necessidade de 28 intermediação entre os indivíduos e o mundo ao seu redor. Vigotski (1983, p. 11) corrobora essa ideia ao afirmar que “a linguagem é, acima de tudo, um meio de comunicação social, de expressão e compreensão”. Portanto, a função principal da linguagem é, fundamentalmente, mediar as relações sociais. Dada a globalização como um processo que caracteriza e permeia as relações sociais, econômicas e culturais na contemporaneidade, torna-se essencial compreender as implicações desse fenômeno para a definição de língua e linguagem. De acordo com Kumaravadivelu (2006, p. 131), [...] no mundo globalizado, as interações entre os indivíduos estão cada vez mais intensas e imediatamente interconectadas por meio da comunicação. As diferentes tecnologias de comunicação são um aspecto distintivo dessa dinâmica, sendo que a internet se tornou o motor principal que impulsiona os imperativos econômicos, bem como as identidades culturais e linguísticas. Esses processos, inevitavelmente, impactam os saberes desenvolvidos nesse contexto. Com isso, será necessário lidar com as demandas de um mundo globalizado em diversas áreas de atuação. No campo da formação de professores de Língua Estrangeira (LE), especialmente no ensino do inglês, a Linguística Aplicada (LA) tem abordado questões relacionadas ao ensino e aprendizagem de línguas na contemporaneidade. Considerando o campo de conhecimento ao qual este estudo se relaciona, a LA congrega conhecimentos relacionados ao ensino de LE e, por conseguinte, à formação de professores. Dado o vínculo entre a disseminação do idioma e a dinâmica globalizada, a LA tem se dedicado cada vez mais a questões relacionadas ao ensino e aprendizado de inglês na era atual. Isso ocorre porque, como observado por Moita Lopes (2006, p. 22), a LA abrange estudos relacionados ao “impacto nas ciências sociais e nas humanidades, levando a profundas reflexões sobre os conhecimentos produzidos e buscando explicar as mudanças contemporâneas que estamos vivenciando”. Portanto, é necessário desenvolver teorias sobre o ensino de inglês que possam se adequar ao mundo contemporâneo (Moita Lopes, 2006). A Linguística Aplicada (LA), concebida como um campo de conhecimento Inter ou transdisciplinar (Pennycook, 2006), dedica-se à exploração do uso da linguagem em contextos sociais. É composta pelos campos de pesquisa sobre a linguagem, a educação, o ensino e a aprendizagem de línguas, bem como pelas dinâmicas sociais e culturais que permeiam essas interações. Seu objetivo é contribuir para que teorias 29 linguísticas ou teorias de outras áreas do conhecimento possam se desenvolver visando aprimorar os modelos didáticos da LA (Cavalcanti,1983). Recentemente, estudiosos desse campo têm se dedicado a discussões que situam o ensino e a aprendizagem de línguas na complexa dinâmica essencialmente política que permeia as práticas sociais e, consequentemente, os usos da linguagem. Essa vertente é conhecida como Linguística Aplicada Crítica (LAC). A LAC visa a gerar novas perguntas e interesses que abrangem aspectos previamente negligenciados, como identidade, ética, desigualdade, alteridade, entre outros, que passam a desempenhar um papel central nas pesquisas da área (Pennycook, 2006). Ela é uma abordagem variável e flexível para os estudos da linguagem em diferentes contextos, e não se limita a ser apenas um método específico; ao contrário, é uma abordagem dinâmica que permeia diversas áreas de estudo. Vale ressaltar, portanto, que tanto o “ensino quanto as pesquisas nessa vertente” devem se basear em aspectos diversos e emergentes que estimulem o pensamento crítico por parte dos envolvidos no ensino e na aprendizagem de idiomas. Essa abordagem sugere a ideia de ultrapassar fronteiras disciplinares e desafiar as barreiras existentes (Pennycook, 2006, p. 73). Por meio da interdisciplinaridade, a LAC passa a considerar o contexto político, ideológico e cultural, a fim de revelar processos de silenciamento, apagamento, opressão e discriminação que podem estar enraizados nas práticas sociais. Isso significa que a reprodução cultural que ocorre na sala de aula, muitas vezes por meio de livros didáticos, precisa ser mais focada na valorização mútua entre culturas. Além disso, é importante destacar que as interações em sala de aula estão vinculadas a diferentes contextos de socialização e os livros didáticos muitas vezes apresentam mensagens culturais ideológicas que expõem os alunos a apenas uma cultura de Língua Estrangeira (LE). No contexto deste estudo, a análise da utilização de um aplicativo personalizado de dicionário de Inglês Língua Franca, que poderá ser usado nas aulas de LI, está alinhada aos interesses da LAC. Pennycook (2006) sugere que não deve ser entendido como algo que os sujeitos simplesmente possuem, mas como algo com diferentes valores em contextos variados, sujeito a relações de poder e conhecimento de acordo com o contexto social. A utilização do aplicativo, como suporte para o ensino de LI, é a materialização da língua e pode ter o potencial de adotar uma abordagem crítica. 30 Sob essa perspectiva, é comum observarmos materiais pedagógicos que utilizem imagens e textos que retratam estilos de vida, histórias e diálogos que não se relacionam com a realidade dos aprendizes. Tanto os livros didáticos quanto a sala de aula fazem parte do mundo e, portanto, o que é utilizado em sala de aula pode ter significados externos e interpretações internas. Essas interpretações e significados surgem das complexas interações entre as culturas na sala de aula. Pennycook ressalta que: A língua que ensinamos, os materiais que usamos, a forma como dirigimos nossas salas de aula, as coisas que os alunos fazem e dizem, tudo isso pode ser visto como termos sociais e culturais e, portanto, de uma perspectiva crítica como, as questões sociais, políticas e políticas culturais (Pennycook, 2006, p. 83). Nesse cenário, a sala de aula é vista como um espaço no qual os alunos constroem e transformam suas identidades. Ao adotar uma perspectiva cultural no ensino, os alunos podem relacionar o que acontece na sala de aula com suas realidades sociais. Isso ressalta a importância de abordar e valorizar diversas culturas em sala de aula, seja por meio de um aplicativo de dicionário ou de outras ferramentas utilizadas pelo professor. A pesquisa sobre a utilização do aplicativo de dicionário Língua Franca se torna relevante ao analisar como as culturas representadas nesse material se relacionam com o ensino e a aprendizagem da língua estrangeira. É importante explorar como essas discussões sobre língua e linguagem se alinham com as compreensões contemporâneas sobre o ensino de línguas, bem como suas implicações para a prática pedagógica. 2.1.1 Linguística Computacional: A simbiose entre linguagem e tecnologia A introdução à Linguística Computacional oferece uma visão geral da interseção entre linguagem e tecnologia, destacando a importância do campo no processamento de informações linguísticas. Explora a aplicação de métodos computacionais no estudo da linguagem, fornecendo uma base sólida para compreender os fundamentos da disciplina e suas aplicações práticas (Freitas, 2002). Segundo Freitas (2002), a área de Fundamentos da Linguística Computacional aborda os princípios e conceitos fundamentais que são essenciais para a 31 compreensão e aplicação da linguística computacional. Isso inclui a análise de teorias linguísticas, métodos e abordagens que são relevantes para a computação, bem como a integração de conhecimentos linguísticos com a tecnologia. O objetivo é estabelecer uma base sólida para a compreensão da interseção entre linguagem e computação, preparando os estudantes para explorar os diversos aspectos dessa simbiose em contextos práticos e teóricos. Os conceitos a seguir estão relacionados aos estudos de Freitas (2002). À Computação explora as teorias linguísticas que são diretamente relevantes e aplicáveis no contexto da computação. Isso envolve a análise de teorias como a gramática gerativa, a teoria da relevância, a teoria da linguagem de programação e outras abordagens que têm implicações significativas para as aplicações práticas da linguística computacional. Ao compreender e aplicar essas teorias, os profissionais e pesquisadores podem desenvolver soluções avançadas e inovadoras que aproveitam as nuances da linguagem natural para aprimorar tecnologias e sistemas baseados em linguagem. O Processamento de Linguagem Natural (PLN) diz respeito à habilidade dos computadores de entender e interpretar a linguagem humana de maneira inteligente. As principais técnicas de PLN incluem a tokenização, que envolve dividir um texto em palavras ou frases significativas; a lematização, que busca a forma base de uma palavra; e a análise sintática, que analisa a estrutura gramatical das sentenças. Além disso, os algoritmos de PLN mais utilizados incluem as redes neurais, que são capazes de aprender padrões complexos nos dados linguísticos, e os modelos de linguagem baseados em transformadores, que têm demonstrado excelentes resultados em diversas tarefas de PLN. Os recursos linguísticos são ferramentas fundamentais para a Linguística Computacional, pois fornecem o material necessário para análise e processamento de linguagem. Dentre os tipos de recursos linguísticos, destacam-se os dicionários, léxicos, gramáticas, ontologias, entre outros. Cada um desses recursos desempenha um papel importante no desenvolvimento de algoritmos de PLN e na compreensão da estrutura da língua. Além disso, os corpora, que são conjuntos de textos ou fala em um determinado idioma, também são essenciais, pois fornecem dados reais para análise de linguagem. Portanto, a importância dos recursos linguísticos e corpora na área da linguística computacional é indiscutível, uma vez que são a base para a construção e 32 aprimoramento de sistemas de PLN. Os recursos linguísticos abrangem uma variedade de tipos, cada um com sua relevância específica para a análise e processamento de linguagem. Os dicionários são essenciais para a definição e interpretação de palavras, enquanto os léxicos fornecem informações sobre o uso e significado de termos em um determinado contexto. As gramáticas são importantes para compreender a estrutura da língua e as relações entre as palavras. Já as ontologias têm o papel de organizar o conhecimento em categorias e estabelecer relações semânticas. Em relação aos corpora, eles são fundamentais para fornecer dados reais da linguagem, possibilitando a análise e o desenvolvimento de sistemas e algoritmos de PLN. Portanto, a diversidade e a importância dos recursos linguísticos são fundamentais para a abordagem computacional da linguagem, contribuindo para avanços significativos na área. A Linguística Computacional possui diversas aplicações práticas em diferentes áreas, como na tradução automática e nos sistemas de perguntas e respostas. No campo da tradução automática, os sistemas de PLN têm avançado significativamente, permitindo a tradução rápida e eficaz de textos entre diferentes idiomas. Já os sistemas de perguntas e respostas utilizam algoritmos de PLN para compreender e responder a perguntas formuladas em linguagem natural, facilitando interações humanas com máquinas, como chatbots e assistentes virtuais. Essas aplicações demonstram o potencial da Linguística Computacional na resolução de problemas linguísticos complexos e na melhoria da interação entre humanos e sistemas computacionais. A área de Linguística Computacional enfrenta diversos desafios e está sujeita a várias tendências futuras. Entre os desafios, destacam-se a necessidade de lidar com grandes volumes de dados, a garantia da segurança e privacidade das informações linguísticas, a melhoria contínua das técnicas de processamento de linguagem natural e a evolução das aplicações práticas em diferentes áreas. No que diz respeito às tendências, é esperado um maior foco em abordagens baseadas em aprendizado profundo, o desenvolvimento de sistemas mais personalizados e adaptáveis, a crescente integração com áreas como a inteligência artificial e a expansão do uso da Linguística Computacional para lidar com problemas socioeconômicos e ambientais. Os algoritmos de Processamento de Linguagem Natural (PLN) podem estar sujeitos a problemas éticos e viés, refletindo preconceitos e injustiças presentes na 33 sociedade. Isso pode ocorrer em diferentes níveis, desde a coleta e seleção de dados até a construção e implementação dos algoritmos. É crucial abordar estas questões éticas e de viés, a fim de garantir a equidade e imparcialidade nas aplicações de PLN. Os profissionais da área devem estar atentos para identificar e mitigar esses problemas, além de promover práticas éticas e inclusivas no desenvolvimento e uso de algoritmos de PLN. A Linguística Computacional tem desempenhado um papel significativo no ensino de língua inglesa, oferecendo aplicações práticas que visam aprimorar a experiência de aprendizagem dos estudantes. Com o uso de algoritmos de processamento de linguagem natural, é viável criar ferramentas para correção automática de texto, tradução e geração de exercícios personalizados, proporcionando um feedback mais eficaz e adaptado às necessidades individuais dos alunos. Além disso, a utilização de recursos linguísticos e corpora específicos do inglês permite a criação de atividades mais contextualizadas e alinhadas com a realidade da linguagem falada e escrita, enriquecendo o processo de ensino e aprendizagem da língua inglesa. No contexto do ensino de inglês, as aplicações práticas da Linguística Computacional abrangem desde a criação de chatbots para a prática da conversação até o desenvolvimento de sistemas de correção gramatical e ortográfica automatizados. Essas ferramentas têm o potencial de fornecer um suporte adicional aos professores, permitindo que foquem em questões mais complexas e no desenvolvimento de habilidades comunicativas dos alunos. Além disso, a aplicação de algoritmos de PLN possibilita a análise de erros comuns cometidos por aprendizes de inglês, resultando em atividades personalizadas que visam atender as necessidades específicas de cada estudante, contribuindo assim para um ensino mais eficaz e personalizado como softwares, bibliotecas de código aberto, inclusivo o aplicativo que estamos desenvolvendo de dicionário LF e gamificação, tudo isso irá agregar e facilitar a busca por conhecimentos de fontes confiáveis. Seguindo por este contexto, podemos citar, a contribuição de Vigotski que é amplamente investigada por ele (Luria; Leontiev,1988), que exploram de maneira profunda a interação entre aprendizagem e desenvolvimento psicointelectual em crianças. Eles enfatizam que métodos especializados de aprendizagem têm um impacto significativo no desenvolvimento geral da criança, já que cada habilidade está 34 intimamente ligada ao material com o qual a criança interage e aos processos psicológicos envolvidos. A teoria sociocultural de (Vygotsky; Luria; Leontiev, 1988) destacam-se a importância crucial da interação social e cultural no desenvolvimento cognitivo. O conceito central deles, a "zona de desenvolvimento proximal/potencial" (ZDP), emerge como fundamental para compreender como a mediação pode servir como uma ferramenta facilitadora de aprendizado. Eles argumentam que o desenvolvimento humano é fortemente moldado pela participação em atividades sociais e pela aquisição de conhecimento culturalmente relevante. A Zona de Desenvolvimento Proximal, conforme descrita por (Vygotsky; Luria; Leontiev, 1988), representa a diferença entre o que uma pessoa pode realizar de forma independente e o que pode alcançar com a ajuda de um guia experiente. Isso sublinha que a aprendizagem vai além da simples aquisição de conhecimento, envolvendo a formação de funções mentais superiores que são facilitadas pela interação social e pela mediação. Além disso, por Vygotsky, Luria e Leontiev (1988) salientam que o desenvolvimento intelectual não se limita ao aprimoramento de habilidades específicas, mas também à formação de hábitos relacionados a diferentes atividades, refletindo a interação contínua entre o indivíduo e seu ambiente. Eles discutem a importância dos processos intermediários, que desempenham um papel crucial na formação de funções psicológicas superiores como pensamento, linguagem, memória e aprendizado. Embora Vygotsky, Luria e Leontiev (1988) não tenham utilizado explicitamente o termo "mediação", seus conceitos estão profundamente entrelaçados com essa ideia. Eles exploram como ferramentas culturais, interações sociais e processos intermediários moldam o desenvolvimento cognitivo e a aprendizagem de maneira fundamental. A teoria desses autores destaca que as funções cognitivas superiores se desenvolvem através da interação social e cultural, sendo essenciais para o desenvolvimento intelectual. Este entendimento é crucial não apenas para a educação formal, mas também para o pensamento computacional e outras habilidades essenciais na era digital e tecnológica contemporânea. A evolução da Linguística Computacional tem sido impulsionada pela disponibilidade de grandes quantidades de dados textuais e pelo avanço nas técnicas de aprendizado de máquina, especialmente as redes neurais profundas. Essas redes podem aprender padrões complexos na linguagem e melhorar a capacidade de compreensão e geração de texto por parte dos sistemas computacionais. Embora a 35 Linguística Computacional tenha feito avanços significativos, ainda enfrenta desafios, como lidar com idiomas, compreender contextos mais complexos e abordar questões éticas relacionadas ao processamento de dados linguísticos pessoais. Isto posto, a Linguística Computacional desempenha um papel fundamental em nossa sociedade cada vez mais digital, capacitando sistemas de inteligência artificial a interagir com os humanos de maneira mais eficaz e a lidar com a complexidade da linguagem natural. À medida que a tecnologia continua a avançar, podemos esperar que essa disciplina continue a desempenhar um papel vital no desenvolvimento de aplicativos e sistemas baseados em linguagem. As potencialidades da Linguística Computacional são vastas, abrangendo desde a automação de tarefas linguísticas até a criação de sistemas de tradução cada vez mais eficientes. No entanto, as limitações também são palpáveis, especialmente no que se refere à compreensão de ironia, sarcasmo e outras nuances da linguagem. Além disso, a dependência de grandes bases de dados e a perspectiva presente nos algoritmos de PLN representam desafios a serem superados para o pleno desenvolvimento da área (Freitas, 2002). De forma geral, a Linguística Computacional demonstrou ser uma área de estudo promissora e em constante evolução, com aplicações em diversas áreas, como tradução automática, processamento de linguagem natural e ensino de línguas. No entanto, os entraves ainda são evidentes, especialmente no que diz respeito à compreensão semântica e contextos ambíguos. As perspectivas futuras apontam para o aprimoramento das técnicas de PLN, a busca por soluções para os desafios éticos e a aplicação cada vez mais ampla da Linguística Computacional em diferentes contextos linguísticos e tecnológicos. 2.2 A contribuição da Sociolinguística no Ensino da Língua Inglesa A Sociolinguística é o ramo da Linguística que estuda a relação entre a língua e a sociedade, examinando como fatores sociais como classe, gênero, idade, etnia e contexto social influenciam o uso da língua. No ensino de línguas, especialmente no ensino de inglês como língua estrangeira, a Sociolinguística desempenha um papel crucial de várias maneiras. Sobre o conceito de falante nativo, fundamentando-nos nos trabalhos de Davies e Preto-Bay (2009), Kramsch (2009) e Rajagopalan (2003). Uma das principais 36 razões pelas quais as teorias de aquisição de línguas estrangeiras enfatizam a importância do falante nativo é a crença de que quem aprende uma nova língua o faz com o objetivo principal de se comunicar com falantes nativos. Kramsch (2009) argumenta sobre a ênfase dada à competência comunicativa, ou seja, além de conhecer as regras e estruturas da língua, saber como usá-las, e também em que contexto e com quem utilizá-las ou não. De acordo com Dell Hymes na década de 1970, conferiu ao falante nativo um privilégio sem precedentes em décadas anteriores. Inicialmente, ser falante nativo era amplamente considerado um privilégio adquirido pelo nascimento, ou seja, uma pessoa nasceria como falante nativo de uma língua. Nota-se que a ideia do falante nativo como alguém que possui conhecimentos exclusivos devido à sua condição de nativo continua a existir até os dias de hoje (Kramsch, 2009; Davies; Preto-Bay, 2009; Rajagopalan, 2003). Labov (2008), conhecido como o pai da Sociolinguística Variacionista, estadunidense, buscou explorar a língua falada na ilha de Martha’s Vineyard, utilizando a Teoria da Variação. Para reforçar a compreensão dessa teoria, ele aplicou um método que envolvia a análise dos fenômenos linguísticos na ilha, recorrendo a estatísticas que levavam em conta, naturalmente, as condições sociais da comunidade local. Os professores de Sociolinguística chamaram Labov de "uma figura fortemente original e influente que criou grande parte da metodologia". Em sua pesquisa na ilha de Martha’s Vineyard, perto de Nova Iorque, o foco do estudo foi analisar a pronúncia dos ditongos /ay/ e /aw/, observando se os residentes da ilha os pronunciavam de maneira mais ou menos centralizada. A ilha foi escolhida por ser um local interessante para esse tipo de pesquisa devido às transformações socioeconômicas que a comunidade estava vivenciando e à sua estrutura social complexa. Inicialmente, a variação na pronúncia parecia aleatória, mas, após as entrevistas realizadas por Labov (2008), foi possível identificar padrões relacionados a sentimentos sobre a ilha e construções identitárias, como a percepção de pertencimento à ilha, que influenciavam a mudança linguística. No estudo de Labov (2008), foram observadas duas formas de pronunciar o fonema /r/ pós-vocálico: a presença do segmento fonético ([r]) versus a sua ausência ([ø]) em contextos fonológicos idênticos. Por exemplo, a letra "r" no final de palavras como "car" pode ser pronunciada com o /r/ ou sem ele, da mesma forma ocorre com a palavra “cart”. Os resultados indicam que a ausência do /r/ é socialmente estigmatizada. O uso comum do [r] corresponde a um status social mais elevado do 37 falante, mas não existe uma regra que defina o uso do [r] pós-vocálico como errado ou incorreto. É uma questão de atitude sociolinguística dos membros de uma determinada comunidade. Se observarmos na Inglaterra, a pronúncia do [r] pós-vocálico é socialmente desaprovada, o que é diferente da situação em Nova Iorque. A história nos conta que até a segunda guerra mundial em Nova Iorque, a forma socialmente prestigiada era a ausência do /r/. A verdade é que a variação do /r/ pós-vocálico está de cabeça para baixo, pois agora quem pronuncia o /r/ pós-vocálico é considerado prestigioso. Graças a Labov e à Sociolinguística, podemos compreender os exageros na pronúncia e estudar as dinâmicas sociais das comunidades em questão. A Ilha de Martha's Vineyard foi estudada, revelando duas maneiras distintas de pronunciar as vogais nucleares dos ditongos /au/, como em "house" e "mouse", e /ay/, como em "right" e "might". No entanto, isso não se aplica ao inglês, por exemplo, que é amplamente utilizado como Língua Franca entre pessoas de diferentes idiomas (Graddol, 2006). Ademais, pensar que a variedade nativa de uma língua é a única correta pode fazer com que os falantes não nativos se sintam inferiores. De acordo com Rajagopalan (2003), a partir de uma perspectiva de mundo globalizado, caracterizar os falantes nativos como "autoridades" que conhecem perfeitamente sua língua ou como "proprietários legítimos" dessa língua não faz mais sentido. As línguas mudam e se adaptam continuamente em um mundo globalizado, refletindo as influências de várias culturas e locais. Isso significa que a competência linguística não é apenas a proximidade com a variedade nativa, mas também a capacidade de se comunicar bem em vários ambientes e entender outras culturas. Essa visão mais inclusiva reconhece a contribuição dos falantes não nativos e a diversidade linguística como uma riqueza cultural. O papel do falante nativo está sendo amplamente debatido. De acordo com Rajagopalan (2003), essas discussões estão vinculadas à ideia de que as línguas naturais não são fixas, mas estão sujeitas a diversas influências externas. Portanto, não é mais possível considerar línguas estrangeiras e falantes nativos como conceitos fixos e imutáveis, que não podem ser revisados. O interesse na aquisição de LE e na interface sociolinguística está crescendo devido à relevância dos aspectos sociais na aprendizagem de uma nova língua. 38 A Sociolinguística e a análise de dados são o ponto de partida essencial para aqueles que, como nós, se esforçam para compreender e abordar as barreiras sociais presentes na educação. Para melhor contextualização deste estudo, trazemos questões da Sociolinguística que enfatizam as variações linguística e decorrentes impactos no ensino e aprendizagem de Inglês Língua Franca, ou seja, pertinentes à temática. Entendemos que os professores que estão abertos às variações existentes no Português do Brasil e sensíveis às diferenças sociolinguísticas em seu próprio idioma, desenvolverão estratégias interacionais em sala de aula que serão eficazes e benéficas para seus alunos, também no ensino de inglês. Em consonância com Rajagopalan (2003), para fortalecer esta argumentação, podemos conectar a importância da Sociolinguística e da análise de dados às práticas pedagógicas do professor de língua inglesa. Por isso, professores que compreendem as variações linguísticas no contexto do Português do Brasil e reconhecem as diferenças sociolinguísticas são capazes de adotar práticas pedagógicas mais inclusivas e eficazes no ensino de inglês. Esses educadores desenvolvem uma sensibilidade que lhes permite criar estratégias de ensino que respeitam e valorizam a diversidade linguística de seus alunos. Ao incorporar essa perspectiva sociolinguística em suas práticas pedagógicas, os professores de inglês conseguem adaptar suas metodologias para atender às necessidades específicas de seus alunos, promovendo um ambiente de aprendizagem mais acessível e motivador. Por exemplo, ao estar ciente das variações linguísticas que os alunos trazem de suas próprias experiências com o português, o professor pode ajustar sua abordagem ao ensino de inglês, utilizando essas variações como pontos de conexão e facilitando a aprendizagem. Além disso, práticas pedagógicas que reconhecem e celebram a diversidade linguística ajudam a reduzir o impacto negativo de eventuais preconceitos linguísticos, promovendo uma aprendizagem mais equitativa e eficaz. Portanto, o entendimento das variações linguísticas e a aplicação de uma abordagem sociolinguística são fundamentais para o desenvolvimento de práticas pedagógicas que não apenas ensinam o inglês como língua franca, mas também valorizam e respeitam a identidade linguística dos alunos. Isso, por sua vez, contribui para um ensino de inglês mais eficiente e inclusivo, alinhado às necessidades e realidades dos estudantes. 39 A Sociolinguística estuda como o contexto social influencia o registro linguístico. No ensino de inglês, isso é importante para que os alunos consigam adequar sua linguagem de acordo com o contexto, seja ele formal, informal, acadêmico ou profissional. Este estudo, pode ajudar a entender como a língua está ligada à identidade cultural e social. No ensino de LI, é útil para os alunos compreenderem como o uso da língua pode refletir e afetar a identidade cultural, além de aumentar a consciência cultural e a sensibilidade. No aprendizado de língua inglesa, isso é relevante para combater estereótipos e preconceitos que podem surgir em relação a determinados sotaques ou formas de falar, integrar, a Sociolinguística na educação em inglês não apenas aprimora as habilidades linguísticas dos alunos, mas também os capacita a utilizar a língua de forma eficaz e sensível em um mundo diversificado e globalizado. A aprendizagem da linguagem e sua conexão com o contexto social são aspectos fundamentais da Sociolinguística, que investiga como a linguagem muda e se adapta em diferentes contextos sociais, além de examinar como essas variações afetam o uso da língua. Inicialmente, o texto enfatiza que a linguagem não é oferecida de forma completa à criança; ela se desenvolve através das interações sociais. Esse ponto se relaciona diretamente com a perspectiva sociolinguística, que sugere que a maneira como a língua é adquirida pode variar de acordo com o ambiente sociocultural em que a criança está inserida (Rajagopalan, 2003). Contudo, a língua apresenta irregularidades e que, em contextos de necessidade, as regras gramaticais podem ser flexibilizadas para favorecer a interação social. Esta observação está em consonância com a abordagem sociolinguística que reconhece a variabilidade linguística como um fenômeno adaptativo e dinâmico. Outro aspecto destacado é que a língua é constituída através de processos dialógicos nas práticas sociais, e essas práticas sociais também são moldadas pela língua. Este conceito reflete a ideia sociolinguística de que a linguagem não apenas reflete, mas também constrói e perpetua identidades sociais e relações de poder. A interação verbal, portanto, desempenha um papel fundamental na negociação e no reforço de normas e práticas sociais. A Sociolinguística, por sua vez, investiga de que maneira os fatores sociais afetam o processo de aquisição da linguagem. Assim, os estudantes não apenas aprendem a língua, mas também assimilam as normas e as variações linguísticas que 40 predominam em seu ambiente social. A diversidade na aquisição linguística pode ser examinada à luz dessas influências socioculturais e contextuais. O texto demonstra como a interação social é fundamental para o desenvolvimento da linguagem, um elemento central na sociolinguística. O estudo sociolinguístico oferece uma compreensão mais profunda de como essas interações moldam e são moldadas pela língua em diversos contextos sociais. 2.2.1 Variação regional A língua inglesa, assim como outras línguas, apresenta diferentes variantes regionais e sociais. Essas variantes podem surgir dentro de um país, estado, cidade ou grupo específico. As diferenças aparecem na pronúncia, no vocabulário e, às vezes, na sintaxe. No vocabulário, pode-se encontrar palavras diferentes para se referir à mesma coisa ou a mesma palavra com significados distintos em diferentes variantes. No caso do inglês, falado por um grande número de pessoas, há muitas variantes, sendo as principais o inglês britânico e o americano. Em ambos os países, existem variantes regionais e sociais, mas em ambos os casos há uma koiné, segundo Pique (1996): (Koiné significa “comum” e foi o primeiro dialeto comum na Grécia. A língua koiné foi falada e escrita entre o século IV a.C. e o século V d.C. e foi baseada no dialeto ático, mas também teve influências de outros dialetos gregos e de línguas do Oriente Médio), ou seja, um código oficial que é socialmente aceito e considerado como padrão. Koiné é uma forma de língua que é compreendida por todos. No caso das variações entre o inglês britânico e o americano, o aprendiz do idioma deve evitar misturar as duas variantes. Seria semelhante a misturar o português de Portugal com o do Brasil. Embora sejam a mesma língua, há diferenças em pronúncia, vocabulário e estrutura das frases. De acordo com Steinberg (2003, p. 7), o inglês, na forma em que era falado quando foi levado para o novo mundo pelos peregrinos do Mayflower em 1620, passou por mudanças que resultaram em características distintas de cada lado do oceano. No Novo Mundo, no decorrer da história, as diferenças se manifestaram na retenção de alguns significados que caíram de uso na língua mãe. É o caso, por exemplo, da retenção de Fall com o significado de outono, que no Reino 41 Unido passou a ser Autumn. Na pronúncia, a retenção da vogal /æ/, que depois na pátria-mãe passou a / a / em muitas palavras quando a referida vogal é seguida de “s”, “ns”, “f”, “th”. A retenção do “r” diante de consoante é outra característica. A ortografia também tem regras diferentes nas duas vertentes. Noutras vezes, houve uma especialização de significado, como bug, que se refere, nos Estados Unidos, a inseto em geral, ao passo que na pátria-mãe o significado se especializou para percevejo (Steinberg, 2003, p. 7). De todos os fatores sociolinguísticos e estilísticos que promovem a linguagem o que as pessoas, comumente procuram é o geográfico, o fato de que a fala, em particular, pode transmitir uma guerra clara a pergunta de onde você é? Exerce um fascínio peculiar e os termos são uma parte normal do vocabulário cotidiano. Nós percebemos diferenças regionais no modo como as pessoas falam, e embora sejam incapazes de descrever estas diferenças ela é diferente dos termos mais vagos impressionistas, não temos dificuldade em responder a eles intuitivamente, rindo de piadas dialetais, apreciando a literatura dialetal e o folclore e apreciando o sentido das paródias dialetais (Crystal, 2019, p. 436). O preconceito linguístico acontece porque algumas variedades da língua são vistas como "mais corretas" ou "superiores" do que outras e isso está intimamente relacionado a fatores históricos, sociais e culturais. Línguas e dialetos falados por grupos com mais poder econômico, político ou educacional tendem a ser mais valorizados, enquanto as formas de fala de comunidades menos privilegiadas são muitas vezes marginalizadas. A escola, os meios de comunicação e outras instituições reforçam essa visão ao privilegiar a norma culta como a única forma legítima de linguagem, desconsiderando a diversidade linguística presente em diferentes contextos sociais. Ao mesmo tempo, esse é o paradoxo do estudo dos dialetos: frequentemente, fazemos julgamentos severos e críticos sobre modos de falar que consideramos "estranhos". Esses julgamentos são, em grande parte, atitudes subconscientes, mas não é difícil trazê-los à tona. As diferenças de opinião entre pessoas de origens dialetais distintas podem rapidamente resultar em desentendimentos ou zombarias sobre a forma de falar de cada um. Esse tipo de preconceito linguístico não tem base científica, pois todas as formas de linguagem cumprem sua função de comunicação dentro de seus contextos, mas os estigmas sociais associados a certos modos de falar podem reforçar a desigualdade. É preciso ter uma sensibilidade especial para que essas zombarias não causem danos emocionais, pois o impacto de um julgamento 42 negativo pode ser profundo e doloroso para quem é alvo dessa crítica. Combater o preconceito linguístico é, portanto, essencial para valorizar a diversidade e promover a inclusão. Além disso o menosprezo do discurso regional transformar-se facilmente em menosprezo de oradores, e os jornais ocasionalmente relatam experiências perturbadoras ou até mesmo catastróficas. Tais assuntos tem atraído muitos estudos acadêmicos, especialmente por parte de sociolinguistas, mas ainda há uma consequência tardia popular dos problemas. O estudo da variação linguística regional tem, portanto, mais a oferecer do que um interesse meramente descritivo, quanto mais soubermos sobre variação regional e a mudança no uso do Inglês, mais apreciaremos a marcante individualidade de cada uma das variedades, que chamamos de dialetos, e menor será a possibilidades de adotarmos falas humilhantes sobre pessoas de outros países, partes do país ou do mundo. Segundo Steinberg: Há cerca de 4 mil palavras da língua inglesa com sentido diferente na Inglaterra e nos Estados Unidos. Ocorre também muitas vezes que dois ou mais termos são comuns às duas variantes, mas sempre há uma questão de preferência de uso de uma forma em detrimento da outra. É a chamada usage, ou seja, uso (Steinberg, 2003, p. 8). É possível que palavras distintas se refiram ao mesmo objeto, como ocorre com “subway” e "underground", ambas empregadas para designar o metrô. Além disso, existem diferenças sutis na grafia que distinguem certos termos, como "grey" e "gray", ambas formas para representar a cor cinza. Seguindo os conceitos de Steinberg, o primeiro passo é substituir a noção de que uma variedade regional é apenas um dialeto, porque lhe falta prestígio da língua padrão, que claro também é um dialeto, embora de tipo não regional, pela compreensão de que todo dialeto é uma fonte de grande complexidade e potencial linguístico. Não é fácil aceitar que um dialeto ou um sotaque de que não gostamos ou detestamos é uma variedade da língua inglesa que merece tanto respeito e tem tanto direito de existir quanto a variedade que nós próprios falamos, mas esse é um avanço exigido por uma dialetologia genuinamente democrática. Destaca-se que o inglês britânico passou por mudanças ao longo do tempo. Além da evolução da pronúncia, ele também incorporou muitos empréstimos linguísticos, especialmente do francês. Hoje em dia, o inglês britânico é fortemente 43 influenciado pelo inglês americano, principalmente através da televisão e, em especial, do cinema. A evolução do inglês britânico, incluindo o impacto dos empréstimos linguísticos e a influência do inglês americano, também afeta o dialeto da língua. A pronúncia e as variações regionais do inglês britânico refletem não só a evolução interna da língua, mas também a integração de elementos externos, como as palavras emprestadas do francês e as formas de falar do inglês americano. Essas influências contribuem para a diversidade dos sotaques e dialetos dentro do inglês britânico, mostrando como a língua continua a se transformar e se adaptar às mudanças culturais e sociais. 2.3 Dialeto e Alojamento: expressões da identidade regional O sotaque e o dialeto têm um papel fundamental na formação da identidade regional, pois expressam as particularidades linguísticas e culturais de uma área específica. Eles estão intrinsecamente ligados ao modo como as pessoas se identificam com sua origem geográfica e social, demonstrando a diversidade e riqueza das manifestações linguísticas. A partir do dialeto, é possível identificar não apenas a região de onde a pessoa é, mas também sua história, tradições e valores. Portanto, a compreensão da importância do dialeto na identidade regional é fundamental para a preservação e valorização da diversidade linguística e cultural (Crystal 2010). Em inglês, tanto o alojamento regional quanto o dialeto desempenham papéis importantes na diversidade linguística e na forma como a língua é falada ao redor do mundo. Nos Estados Unidos, os sotaques incluem o Southern do sul, o New York de Nova Iorque e o New England da região da Nova Inglaterra. As diferenças de dialeto podem afetar a pronúncia das vogais e consoantes, bem como a entonação geral da fala. Por outro lado, dialeto engloba variações mais amplas que vão além da pronúncia, incluindo diferenças no vocabulário e na gramática. Dialetos podem variar significativamente dentro de uma mesma língua e são frequentemente associados a regiões específicas. Por exemplo, o inglês falado na Escócia pode apresentar um dialeto bastante distinto do inglês falado em Londres, com variações não apenas na pronúncia, mas também no uso de palavras e estruturas gramaticais (Crystal, 2010). 44 O dialeto abrange uma gama mais ampla de diferenças linguísticas, incluindo vocabulário e gramática. Compreender essas variações é crucial para apreciar a riqueza e a diversidade da língua inglesa e para facilitar a comunicação entre falantes de diferentes regiões. Segundo os estudos de Crystal, (2010) é feita uma distinção sistemática entre sotaque regional e dialeto regional. Um sotaque regional refere-se as características de pronúncia que transmitem informações sobre a origem geográfica de uma pessoa como por exemplo: Bath/bat (-) / (‘short a’) vs bath/ba:(-) / (‘longa’), hold/hₔꭒd/ vs ‘old / ƏƲld/ (dropping the aitch). Um dialeto regional refere-se a características de gramática e vocabulário que transmitem informações e apreciam informações geográficas de uma pessoa. Exemplos: They real good? Vs They are really good? I’II will visit in the fall vs I’II visit in the autumn. Os falantes que tem um dialeto regional distintivo terá um acesso regional distinto, mas o inverso não significa necessariamente que é possível, ter um sotaque regional, mais é um dialeto que não transmite nada sobre a origem geográfica, como no caso do Inglês padrão (Crystal, 2010). Os dialetos regionais são geralmente associados a variedade de sotaques regionais, alguns muito mais amplos que outros. Dentro de um país, pode haver um sotaque de prestigio neutro que não transmite nenhuma informação sobre o contexto geográfico, o exemplo mais famoso ocorre na Grã-Bretanha, com o sotaque que há muito tempo é chamado de pronúncia recebida, ou RP (Crystal,2010). De um ponto de vista internacional, é claro, RP é distintamente regional, percebido como um arquétipo do sotaque britânico e satirizado. Baseados nos estudos de (Crystal, 2010) elencamos alguns diferentes contextos linguísticos: Os sotaques regionais desempenham um papel fundamental na identidade linguística de uma pessoa. No entanto, nem sempre é possível determinar a origem geográfica de alguém apenas pelo dialeto, especialmente no caso do "Inglês padrão". Um exemplo amplamente conhecido de sotaque britânico é o RP (Received Pronunciation). Além disso, o conceito de acomodação linguística ocorre quando indivíduos com diferentes origens sociais ajustam seus padrões de fala ao interagir. Esse fenômeno pode levar à convergência, quando os padrões se tornam mais semelhantes, ou à divergência, quando se afastam. Essas mudanças são frequentemente perceptíveis nos sotaques. 45 As percepções sociais também são influenciadas pelos sotaques. Estudos experimentais demonstram que ouvintes fazem avaliações distintas com base no sotaque de uma pessoa. Por exemplo, quando dois atores modificaram seus sotaques durante uma entrevista, foram avaliados de maneiras diferentes em aspectos como atratividade social e inteligência percebida. Essa relação entre sotaque e julgamento social pode ter efeitos significativos na educação. Crianças imigrantes que pertencem a grupos minoritários em uma sala de aula podem ser estigmatizadas devido ao seu sotaque, independentemente de sua capacidade intelectual. Isso evidencia como as percepções linguísticas afetam o tratamento e as oportunidades educacionais de diferentes grupos. Consequentemente, os sotaques regionais e as diferenças linguísticas podem influenciar a maneira como as pessoas são percebidas e tratadas socialmente, destacando a importância da compreensão e aceitação da diversidade linguística. Também destaca como os estereótipos relacionados a sotaques podem ter impactos significativos na educação e nas oportunidades das pessoas. Alguns estudos experimentais demonstram claramente ações divergentes que evidenciam como o inconsciente associa aspectos regionais a traços psicológicos e sociais. Em um desses estudos, que analisou o Anglo-Welsh como uma variação linguística (p. 354), os participantes avaliaram um diálogo entre duas pessoas com sotaque galês que estavam sendo interrogadas por um policial com sotaque do Inglês RP. Os papéis foram interpretados por atores que, em determinados momentos, alteraram seus sotaques: em um caso, adotando um sotaque mais próximo do RP, como estratégia de convergência; em outro, utilizando um sotaque mais marcadamente galês, como estratégia de divergência. Durante todo o experimento, o conteúdo das entrevistas permaneceu inalterado. Em nenhum momento, é claro, a atenção dos ouvintes foi atraída para as mudanças de sotaque, na medida que eles estavam preocupados, estavam ouvindo apenas o conteúdo do que estava sendo dito. Os resultados foram claros, a linguagem dos ouvintes avaliou os sujeitos de forma diferente, dependendo do sotaque que a palavra estava sendo empregada. Em termos de atratividade social e identidade nacional os suspeitos foram avaliados de forma favorável e receberam uma sentença mais branda, por outro lado a condição de divergência também atraiu algumas avaliações negativas, em termos de fatores como a inteligência. Este tipo de fator é 46 típico de estudos envolvendo sotaques regionais, pois parece existir um perigo real de avaliarmos de forma desfavorável as pessoas cujos sotaques divergem do nosso. Certos grupos de pessoas estão especialmente em risco, por exemplo, está agora bem estabelecido que crianças imigrantes que constituem uma minoria numa sala de aula escolar correm o risco de serem educadas como alunos menos inteligentes ou mais pobres. Este estereótipo ilustra que não há qualquer correlação entre distinções regionais da fala com o nível da inteligência, de acordo com Bourhis et al. (1979). A relação entre dialeto e identidade cultural é complexa e multifacetada, uma vez que a forma como as pessoas falam está intrinsecamente ligada à sua cultura e identidade. O dialeto e alojamento refletem não apenas as diferenças linguísticas, mas também aspectos históricos, sociais e culturais de uma comunidade. Através da linguagem, os falantes expressam sua pertença a uma determinada região e a conexão com suas tradições e valores culturais. Portanto, compreender essa relação, é fundamental para a preservação e valorização da diversidade linguística e cultural em contextos regionais (Silva, 2005). O alojamento desempenha um papel fundamental na preservação dos dialetos regionais, pois oferece um ambiente propício para a prática e manutenção dessas características linguísticas. Ao conviver com diferentes pessoas de uma determinada região, os indivíduos têm a oportunidade de ouvir e praticar os dialetos locais, contribuindo para a preservação e valorização dessas expressões linguísticas. Dessa forma, o alojamento se torna um espaço importante para a vivência cultural e a manutenção da identid