RESSALVA Atendendo solicitação da autora, o texto completo desta Dissertação será disponibilizado somente a partir de 21/01/2022. Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Faculdade de Ciências Farmacêuticas Impacto da afetividade negativa e do estilo de vida em dimensões do comportamento alimentar de estudantes universitários Bianca Gonzalez Martins Dissertação apresentada ao programa de Pós-graduação em Alimentos e Nutrição para obtenção do título de Mestre em Alimentos e Nutrição. Área de Concentração: Ciências Nutricionais Orientadora: Prof.ª Dr.ª Juliana Alvares Duarte Bonini Campos Coorientador: Prof. Dr. Wanderson Roberto da Silva Araraquara 2020 Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Faculdade de Ciências Farmacêuticas Impacto da afetividade negativa e do estilo de vida em dimensões do comportamento alimentar de estudantes universitários Bianca Gonzalez Martins Dissertação apresentada ao programa de Pós-graduação em Alimentos e Nutrição para obtenção do título de Mestre em Alimentos e Nutrição. Área de Concentração: Ciências Nutricionais Orientadora: Prof.ª Dr.ª Juliana Alvares Duarte Bonini Campos Coorientador: Prof. Dr. Wanderson Roberto da Silva Araraquara 2020 Agradecimentos O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) – código de financiamento 001. Agradecemos também à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP (Processos: 2017/18679-0; 2017/21149-3; 2019/00148-4) pela concessão de recursos financeiros para viabilização do projeto ao qual se refere a presente dissertação. À minha orientadora Profª Drª Juliana Alvares Duarte Bonini Campos pela oportunidade de realizar esse trabalho. Agradeço seu empenho, disposição e solicitude em passar os ensinamentos e sua exigência e rigor nas correções para que o trabalho pudesse ser plenamente desenvolvido. Ao meu co-orientador Prof. Dr. Wanderson Roberto da Silva pelo comprometimento, dedicação e disponibilidade em me auxiliar em todas as etapas do projeto. Ao prof. Dr. João Maroco pela disponibilidade em me receber para estágio de pesquisa no exterior e pelos ensinamentos que me passou, contribuindo efetivamente para a realização dessa dissertação. Às colegas Júlia e Adrielly pela cooperação na coleta de dados. Aos diretores e docentes da Faculdade de Ciências Farmacêuticas e de Ciências e Letras pela autorização concedida para que as coletas de dados pudessem ser realizadas. A todos os funcionários da Faculdade de Ciências Farmacêuticas. A todos os discentes que concordaram em participar do estudo. Agradecimentos Pessoais Agradeço a Deus pela presença constante em minha vida, o que certamente me fortaleceu nas jornadas de trabalho, não apenas no Brasil, mas, principalmente, no exterior. Ao meu pai Ronijer, minha mãe Camila e minha irmã Vitória pelo amor, cuidado, compreensão, apoio físico e emocional e por serem a base e alicerce de quem eu sou. Sem eles eu não conseguiria concretizar esse trabalho pelo qual venho lutando tanto. À minha orientadora Profª Drª Juliana Alvares Duarte Bonini Campos pela parceria estabelecida desde os primórdios da minha graduação. Agradeço imensamente a paciência e dedicação que ela teve em me ensinar a fazer ciência e a buscar sempre uma ciência de qualidade, baseada nos valores da ética, integridade e no amor. Ao meu co-orientador Wanderson Roberto da Silva, não só pelo auxílio em todas as etapas do projeto, mas também pelo carinho e disponibilidade em compartilhar seus conhecimentos comigo. Aos meus queridos amigos do grupo de pesquisa Análise e Validação Métrica que coloriram meus dias e me deram suporte em todas as etapas desse árduo percurso na pós-graduação. Ao Prof. Dr. João Maroco que aceitou me receber no Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA) para que eu pudesse realizar meu estágio de pesquisa no exterior. Sou muito grata pela convivência e paciência que o professor teve em me ensinar as ferramentas necessárias para que minha análise de dados fosse mais completa. Aos amigos do ISPA pela convivência e acolhimento. Eles sempre compartilharam seus conhecimentos comigo e, assim, enriqueceram a experiência do estágio imensamente. À minha amiga Marília, que conheci durante o estágio e que foi muito importante, pois representou meu amparo e animou bastante minha estadia em Lisboa. Aos meus familiares e amigos que sempre estiveram presentes, acompanhando meus passos e cuidando de mim, na torcida para que meu projeto fosse bem-sucedido. "Não vos orgulheis do que sabeis, porque esse saber tem limites bem estreitos no mundo em que habitais. (...) Se Deus, em seus desígnios, vos fez nascer num meio onde pudestes desenvolver a vossa inteligência, é que Ele quer que dela useis para o bem de todos; porque é uma missão que vos dá.” Missão do Homem Inteligente na Terra Capítulo VII do Evangelho Segundo o Espiritismo vii Resumo Objetivos: i. avaliar as propriedades psicométricas do Questionário Alimentar de Três Fatores (TFEQ-18), da Escala de Depressão, Ansiedade e Estresse (DASS-21) e do Perfil do Estilo de vida Individual (PEVI) aplicados a amostra de estudantes universitários; ii. verificar o impacto do estilo de vida, da afetividade negativa e de características demográficas nas dimensões do comportamento alimentar dos universitários. Métodos: Participaram 1.109 estudantes (média de idade=20,9 (desvio-padrão=2,7) anos; 65,7% mulheres). As propriedades psicométricas dos instrumentos aplicados à amostra foram analisadas a partir de análise fatorial confirmatória. As validades convergente e discriminante e a confiabilidade foram investigadas. Utilizou-se análise multigrupos para avaliação da invariância fatorial de cada instrumento entre amostras independentes. Após ajustamento dos modelos fatoriais dos instrumentos, um modelo estrutural com trajetórias hipotéticas foi elaborado e testado utilizando a modelagem de equações estruturais. Nesse contexto, foi estimado o impacto do estilo de vida, da afetividade negativa e de características demográficas no comportamento alimentar dos universitários. Resultados: O modelo fatorial original do TFEQ-18 apresentou adequado ajustamento aos dados. Para a DASS-21 foi necessária remoção de um item devido ao baixo peso fatorial. No que se refere ao PEVI, houve adequado ajuste aos dados, contudo, a validade convergente e confiabilidade foram limitadas. Atestou-se invariância forte dos instrumentos entre amostras independentes. No modelo estrutural, verificou-se que o estilo de vida exerceu impacto significativo sobre a afetividade negativa. A afetividade negativa exerceu efeito de mediação entre o estilo de vida e o comportamento alimentar. As características demográficas sexo, idade, pensamento em desistir do curso e estado nutricional antropométrico foram relevantes para a avaliação do comportamento alimentar. Conclusão: O TFEQ-18, a DASS-21 e o PEVI apresentaram boas qualidades psicométricas para amostra. A afetividade negativa, o estilo de vida e as características demográficas tiveram impacto sobre o comportamento alimentar dos universitários, o que reforça a importância da avaliação de aspectos emocionais e cognitivos no que se refere ao processo alimentar dos indivíduos. Palavras-Chave: Comportamento alimentar, Emoções, Estilo de Vida Psicometria, Estudantes. viii Abstract Aims: i. To assess the psychometric properties of the Three-factor Eating Questionnaire (TFEQ-18), of the Depression, Anxiety and Stress Scale (DASS-21) and of the Individual Lifestyle Profile (PEVI) applied to sample of university students; ii. to verify the impact of the lifestyle, of the negative affectivity and of the demographic characteristics on eating behavior dimensions among university students. Methods: A total of 1,109 students participated (mean age=20.9 [standard-deviation=2.7] years; 65.7% females). The psychometric properties of the instruments applied to sample were analyzed by confirmatory factor analysis. The convergent and discriminant validities as well as reliability were investigated. The multi-group analysis was used to evaluate factorial invariance among independent samples. After the fit of instruments’ factorial models, a structural model with the hypothetical paths was elaborated and tested considering structural equation modeling techniques. In this context, the impact of lifestyle, of the negative affectivity and of demographic characteristics on eating behavior was estimated. Results: The original factorial model of the TFEQ-18 presented adequate fit to the data. Regarding DASS-21, it was necessary the exclusion of one item because of the low factorial weight. The PEVI had an adequate fit to data, however, the convergent validity and reliability were limited. Strong invariance was verified among independent sample for all instruments. In structural model, the lifestyle had a significant impact on the negative affectivity. The negative affectivity had a mediator effect between the lifestyle and the eating behavior. The demographic characteristics such as sex, age, thoughts about dropping out of college and anthropometric weight status were relevant in evaluation of eating behavior. Conclusion: The TFEQ-18, the DASS-21 and the PEVI presented adequate psychometric properties to sample. The negative affectivity, the lifestyle and the demographic characteristics had impact on eating behavior of the university students. These results reinforce the importance of evaluation of emotional and cognitive aspects in context of individual’s eating. Key-words: Eating Behavior, Emotions, Lifestyle, Psychometrics, Students. ix Lista de Tabelas e Quadros Pág. Capítulo 1 Table 1. Original and Brazilian Portuguese versions of the Three-Factor Eating Questionnaire-18 (TFEQ-18). 33 Table 2. Cuttoff points of inherent aspects of the eating behavior (Cognitive Restraint, Uncontrolled Eating, and Emotional Eating). 37 Table 3. Sample characterization . 38 Table 4. Descriptive characterization of TFEQ-18 items. 39 Table 5. Prevalence of students grouped according to eating behavior factors (Cognitive Restraint, Uncontrolled Eating, Emotional Eating). 43 Capítulo 2 Tabela 1. Versões em português da Escala de Depressão, Ansiedade e Estresse considerando a proposta de Vignola e a versão conciliada no presente estudo. 60 Tabela 2. Pontos de corte (escore médio) obtidos a partir dos percentis da escala de resposta aos itens da Escala de Depressão, Ansiedade e Estresse (DASS-21), propostos por Lovibond e Lovibond. 63 Tabela 3. Caracterização da amostra de estudo. 63 Tabela 4. Indicadores psicométricos da Escala de Depressão, Ansiedade e Estresse (DASS-21) para a amostra de estudantes universitários. 65 Tabela 5. Prevalências de estudantes agrupados segundo as classificações de severidade da Depressão, Ansiedade e Estresse. 67 Capítulo 3 Table 1. Characterization of the study sample. 84 Table 2. Descriptive statistics on the answers given to the items of the Individual Lifestyle Profile - PEVI instrument by the participants of the two samples used (Test n=635 and Validation n=668). 86 Table 3. Measures of construct validity, reliability and factorial invariance of Individual Lifestyle Profile (PEVI) applied among university students. 87 Table 4. Distribution of individuals in lifestyle components according to sex and physical exercise. 89 Table 5. Distribution of individuals in lifestyle components according to weight status. 90 Capítulo 4 Tabela 1. Caracterização da amostra. 111 Tabela 2. Modelo estrutural confeccionado para avaliação do impacto dos componentes do estilo de vida (Físico e Psicológico), da afetividade negativa, e do sexo, idade, estado nutricional e pensamento de desistir do curso de graduação sobre as dimensões do comportamento alimentar (Restrição Cognitiva, Descontrole Alimentar e Alimentação Emocional) de estudantes universitários (n=1.109). 112 x Lista de Figuras Pág. Capítulo 1 Figure 1. Factor structure of the Three-Factor Eating Questionnaire-18 (TFEQ-18) in a sample of Brazilian undergraduate students. 41 Capítulo 2 Figura 1. Modelos da Escala de Depressão, Ansiedade e Estresse (DASS-21) aplicada a estudantes universitários. 66 Capítulo 3 Figure 1. Second-order model of the PEVI instrument (Individual Lifestyle Profile) fitted to the sample of college students. 88 Capítulo 4 Figura 1. Modelos estruturais hipoteticamente causais elaborados para verificar o impacto dos componentes do estilo de vida, da afetividade negativa, e do sexo, idade, estado nutricional e pensamento em desistir do curso sobre as dimensões do comportamento alimentar. 110 xi Lista de Anexos Pág. Anexo 1. Autorização do Jornal Brasileiro de Psiquiatria para inserção do manuscrito na dissertação 134 Sumário Resumo vi Abstract vii Lista de Tabelas e Quadros viii Lista de Figuras ix Lista de Anexos x Introdução 13 Capítulo 1. Psychometric characteristics of the Three-Factor Eating Questionnaire-18 and eating behavior in university students 24 Abstract 26 Introduction 27 Methods 32 Results 37 Discussion 44 Conclusion 47 References 47 Capítulo 2. Escala de Depressão, Ansiedade e Estresse: propriedades psicométricas e prevalência das afetividades em universitários 52 Resumo 54 Abstract 54 Introdução 55 Métodos 59 Resultados 63 Discussão 67 Conclusão 70 Referências 72 Capítulo 3. Lifestyle choices of College students 075 Abstract 077 Introduction 078 Methods 081 Results 084 Discussion 091 Conclusion 095 References 096 Capítulo 4. Influência do estilo de vida e da afetividade negativa no comportamento alimentar de universitários 099 Resumo 101 Introdução 102 Métodos 105 Resultados 111 Discussão 113 Conclusão 118 Referências 118 Considerações Finais 123 Referências 128 14 Introdução A atitude representa globalmente uma interação entre as crenças, os conhecimentos, os pensamentos, os sentimentos e os comportamentos dos indivíduos sobre um determinado assunto (1). Assim, a atitude é sustentada por componentes cognitivos, afetivos e comportamentais e, portanto, trata de crenças e valores dotados de carga afetiva, que podem predispor a ocorrência de comportamentos (1, 2). Esse conceito pode ser aplicado à área da nutrição (2), dando origem ao termo atitude alimentar, que foi definido considerando o relacionamento do indivíduo com o alimento englobando os três componentes mencionados anteriormente. A concepção do conceito de atitudes em relação à alimentação se baseia na necessidade e importância de compreender como o indivíduo interpreta e vivencia seu processo alimentar (2). O processo alimentar está inserido entre os contextos rotineiros vivenciados pelos indivíduos, estando intimamente relacionado à saúde (3). A alimentação possui a função básica de fornecer nutrientes indispensáveis ao funcionamento biológico dos indivíduos (2, 3). Contudo, esse processo não se restringe ao aspecto nutricional, exercendo também uma função social, de modo que a alimentação pode ser considerada formadora de identidade individual ou coletiva (2). Nesse processo, coexistem e interagem elementos emocionais, cognitivos e culturais (4-8), sendo, portanto, multidimensional. Desse modo, a avaliação de aspectos atitudinais relacionados à alimentação pode fornecer informações interessantes à 15 compreensão das condições de saúde dos indivíduos, embora a complexidade do tema represente um desafio à sua investigação. O estudo do componente comportamental das atitudes alimentares permitiu a formulação do termo comportamento alimentar, que envolve o gerenciamento das ações e condutas alimentares dos indivíduos (2). Esse novo conceito não deve ser interpretado como equivalente à ingestão ou consumo alimentar, uma vez que o comportamento alimentar engloba aspectos anteriores ao ato de comer (2, 4, 6, 9), como as cognições e os afetos. Alguns estudos (10-14) apontam que diferentes dimensões são integrantes do comportamento alimentar, entre as quais se destacam a restrição cognitiva, o descontrole alimentar e a alimentação emocional (10). Essas dimensões referem-se, respectivamente, à restrição consciente da alimentação no intuito de manter ou perder peso, à ingestão de expressiva quantidade de alimentos em períodos delimitados de tempo e à ingestão de alimentos em decorrência de emoções como tristeza, depressão e solidão (10). De modo similar ao processo alimentar, o comportamento alimentar representa um conceito complexo e multidimensional e sofre influência de fatores psicológicos, sociais, fisiológicos e ambientais (4-7, 15). Nessa perspectiva, a investigação do comportamento alimentar torna-se importante e pertinente, uma vez que pode possibilitar o entendimento da vivência do indivíduo no contexto de sua alimentação, o que pode ser relevante à compreensão de questões atuais relacionadas à nutrição e saúde. Além da avaliação do comportamento alimentar em si, a influência de aspectos da vida dos indivíduos sobre esse conceito também tem sido tema 16 de interesse. Nessa perspectiva, um dos aspectos que poderiam interferir sobre o comportamento alimentar dos indivíduos seriam as afetividades (4-7, 9). A literatura (5, 7, 10, 16-19) tem reconhecido a importância das emoções tanto positivas quanto negativas no âmbito da alimentação. Em relação às emoções positivas tem sido apontado que, em geral, elas promovem um aumento na ingestão alimentar, uma vez que estão associadas à socialização do indivíduo, quando o mesmo reconhece seu ambiente social como bom e seguro (17). No que se refere às emoções negativas, essas podem influenciar o comportamento alimentar dos indivíduos, principalmente como uma estratégia de enfrentamento na tentativa de lidar com a emoção, guiando os processos de seleção e ingestão dos alimentos (2, 20). A afetividade negativa pode ser definida como uma tendência do indivíduo em experienciar estados emocionais negativos, tais como tédio, angústia, tristeza, depressão, ansiedade, estresse, entre outros (21). Destaca-se na literatura (21, 22) a avaliação da afetividade negativa a partir de sintomas relacionados a estados emocionais de depressão, ansiedade e estresse. A depressão pode ser caracterizada (22, 23) pela redução da autoestima e pela presença de anedonia. Já a ansiedade (22) pode estar associada à antecipação de eventos negativos quando o indivíduo vivencia incertezas e perigos reais ou potenciais. O estresse (22, 24, 25) envolve a persistência de sintomas de excitação/tensão que ocorrem quando há uma falha ou esgotamento das estratégias psíquicas de enfrentamento. Ainda, cabe esclarecer que a ansiedade e o estresse podem ocorrer tanto de maneira adaptativa, apresentando valência positiva, reproduzindo uma 17 resposta fisiológica a um evento estressor, quanto configurar um transtorno emocional, apresentando valência negativa, em vista da duração prolongada e intensidade dessas condições emocionais, no contexto da ineficácia das estratégias de enfrentamento mencionadas (26, 27). Apesar da depressão, ansiedade e estresse serem conceitos distintos, os indivíduos podem apresentar sintomas inespecíficos das condições deprimidas, ansiosas ou estressadas, o que pode resultar em uma sobreposição teórica e clínica desses estados emocionais (22). Assim, o rastreamento de condições emocionais negativas no contexto do comportamento alimentar pode direcionar o planejamento de medidas no âmbito educacional e clínico, a partir de uma abordagem interdisciplinar e holística. Outro elemento que pode exercer influência sobre o comportamento alimentar é o estilo de vida (3, 8, 28). Esse conceito se refere ao padrão de ações dos indivíduos que reproduz suas crenças e valores atribuídos à própria vida (3, 28). Desse modo, o estilo de vida está estreitamente relacionado ao comportamento e à saúde, uma vez que, juntamente aos aspectos socioculturais e ambientais, esse conceito é constituinte da qualidade de vida do indivíduo (28, 29). A investigação do estilo de vida pode ser realizada a partir de componentes físicos (nutrição, atividade física e comportamentos preventivos) e psicológicos (relacionamentos sociais e controle do estresse) (28). A presença desses componentes no estilo de vida torna-o compatível com a visão integral de saúde, que aponta que o estado de saúde é resultante da integração bem-sucedida de componentes físicos, sociais, espirituais, emocionais e intelectuais e não simplesmente a 18 inexistência de enfermidades (3, 28). A adoção de estilos de vida mais saudáveis pode interferir no comportamento do indivíduo em relação à alimentação (8), uma vez que o estilo de vida físico é basicamente o reflexo entre a nutrição e prática de atividade física. Por outro lado, o estilo de vida psicológico representa as relações sociais e o controle emocional, que também podem influenciar os processos alimentares (3, 28). Nessas circunstâncias, torna-se apropriada a investigação do estilo de vida na esfera do comportamento alimentar. No que se refere ao comportamento alimentar, afetividade negativa e estilo de vida, deve-se enfatizar que são conceitos latentes, ou seja, não são mensuráveis de maneira direta. Desse modo, para a avaliação desses conceitos, o uso de instrumentos psicométricos tem sido recorrente, uma vez que esses instrumentos buscam operacionalizar, a partir de itens, o conceito que pretende medir. Assim, alguns instrumentos foram propostos com a finalidade de investigar aspectos inerentes ao comportamento alimentar como, por exemplo, a Escala de Restrição (RS) (30), o Questionário Holandês de Comportamento Alimentar (DEBQ) (31) e o Questionário Alimentar de Três Fatores (TFEQ) (11). A construção teórica da RS tem sido questionada por alguns especialistas que apontam a inclusão de outros aspectos além da restrição alimentar na escala (por exemplo, flutuação de peso) que podem interferir no comportamento alimentar, mas não contribuir diretamente para sua avaliação (11, 32). Sobre o DEBQ, cabe relatar que apesar de bastante utilizado para avaliação do comportamento alimentar, este instrumento não é de domínio público, fato que pode dificultar sua 19 utilização tanto em âmbito clínico quanto epidemiológico. Já o TFEQ é um instrumento comumente utilizado (10, 14, 33, 34) para investigar aspectos do comportamento alimentar e pode ser aplicado sem necessidade de aquisição comercial sendo, portanto, uma ferramenta interessante. Para desenvolvimento do TFEQ, Stunkard e Messick (11) buscaram investigar alguns aspectos do comportamento alimentar que estavam sendo abordados por outros instrumentos. Nesse contexto, foram avaliadas a Escala de Restrição (restrição do consumo alimentar para controle do peso corporal) e o Questionário de Obesidade Latente (identificação de indivíduos com predisposição ao excesso de peso corporal que pode ser atenuado pela restrição consciente da ingestão alimentar). Ainda, esses autores consideraram experiências clínicas para elaboração de alguns itens que foram inseridos no TFEQ. Desse modo, após avaliação psicométrica e refinamento do instrumento elaborado, Stunkard e Messick (11) apresentaram o TFEQ, que investigava três dimensões do comportamento alimentar dos indivíduos (Restrição Cognitiva da Alimentação, Suscetibilidade à Fome e Desinibição Alimentar) utilizando 51 itens. Contudo, posteriormente, Karlsson et al. (10), consideraram a necessidade de reavaliar o TFEQ, uma vez que o mesmo não apresentava estimativas psicométricas consistentes entre os estudos. Assim, nessa investigação os autores propuseram uma versão reduzida do instrumento (TFEQ-18) que foi baseada em abordagens teóricas e psicométricas para composição das dimensões restrição cognitiva, descontrole alimentar e alimentação emocional. Considerando que o TFEQ-18 tem sido aplicado em diversos 20 contextos e suas estimativas psicométricas tem sido consideradas adequadas (14, 35-38) a utilização dessa ferramenta pode ser encorajada para avaliação das dimensões do comportamento alimentar. Para avaliação das afetividades, alguns instrumentos foram propostos com foco principalmente na investigação da depressão, ansiedade e estresse, como, por exemplo, a Escala de Rastreamento Populacional para a Depressão (CES-D) (39), os inventários de Beck para Depressão (BDI) (40) e Ansiedade (BAI) (41), a Escala de Percepção do Estresse (EPS) (42) e a Escala de Depressão, Ansiedade e Estresse (DASS) (22). Desses, apenas a DASS avalia simultaneamente os sintomas de estados de depressão, ansiedade e estresse. A DASS foi construída com base no Modelo Tripartido proposto por Clark e Watson (23), o qual concentra em fatores distintos os sintomas específicos e inerentes à depressão e à ansiedade e agrupa num único fator as características inespecíficas e compartilhadas dessas condições. Ainda nesse contexto, Lovibond e Lovibond (22) mencionam que o conceito de estresse também não se diferencia claramente do conceito da ansiedade, da mesma forma que ocorre entre a depressão e ansiedade. Tendo em vista essa sobreposição teórica e clínica entre os estados de depressão, ansiedade e estresse, abre- se espaço para avaliação de um conceito que represente de modo geral esses estados. Assim, as teorias que sustentam a proposição da DASS permitem a avaliação do conceito global da afetividade negativa (22). A dimensão de avaliação de sintomas depressivos está pautada em aspectos específicos dessa condição como, por exemplo, a ausência de esperança e 21 desvalorização da vida. O mesmo ocorre para a ansiedade (sintomas como excitação autonômica e efeitos musculares são investigados) e para o estresse (avaliação da dificuldade de relaxar e da excitação nervosa). Cabe relatar, ainda, que Lovibond e Lovibond (22) apresentaram uma versão reduzida do instrumento (DASS-21), considerando a aplicação da escala em contextos epidemiológicos. A DASS-21 está aninhada à proposta original de 42 itens e tem sido amplamente utilizada na literatura (24, 43-48) tornando-a uma versão interessante para avaliação da afetividade negativa. Em relação à investigação do estilo de vida, entre os instrumentos psicométricos propostos, destaca-se o “FANTASTIC” (49), o “Questionário Saúde na Boa” (50) e o “Pentáculo do Bem-Estar ou Perfil do Estilo de Vida Individual (PEVI)” (28). O PEVI se propõe a avaliar o estilo de vida a partir da nutrição, prática de atividade física, adoção de comportamentos preventivos, cultivo de relacionamentos sociais e controle do estresse (28). É pertinente esclarecer que o PEVI não foi elaborado em âmbito de pesquisa e sim em contexto educacional e clínico (28, 51), a partir da pictografia da estrela de 5 pontas. Desse modo, o principal objetivo do PEVI, segundo Nahas, Barros e Francalacci (28) seria contribuir para que o indivíduo reconhecesse seu próprio estilo de vida, percebendo suas qualidades e pontos a melhorar. Nesse sentido, uma vez que o PEVI foi proposto em panorama brasileiro e que seu uso não é restrito, sua utilização pode ser uma estratégia interessante na investigação do estilo de vida. Ainda, no que se refere aos instrumentos psicométricos, é importante mencionar que o TFEQ-18, a DASS-21 e o PEVI têm sido utilizados em 22 diversos contextos (14, 24, 36-38, 44, 45, 52-56). Entretanto, nem sempre os estudos realizam a avaliação das propriedades psicométricas dos instrumentos utilizados para seu contexto específico. Nesse sentido, cabe esclarecer que a investigação dessas propriedades permite verificar se o instrumento realmente avalia o que se propõe a medir (57, 58), ou seja, se a operacionalização do conceito latente investigado está ocorrendo de maneira acurada na amostra. Destaca-se também a importância de se verificar as propriedades psicométricas sempre que houver a aplicação do instrumento em diferentes amostras, uma vez que essas propriedades são referentes aos dados e não aos instrumentos por si só (57, 58). Assim, torna-se imprescindível estimar a validade e confiabilidade dos dados obtidos a partir da utilização dos instrumentos em cada contexto amostral particular. Além da necessidade de se avaliar o comportamento alimentar, a afetividade negativa e o estilo de vida, a literatura (2, 5, 7, 8, 19, 28) tem apontado que os estados emocionais e o estilo de vida adotado podem influenciar no processo alimentar de um indivíduo. Contudo, poucos estudos (20, 59, 60) realizaram esta investigação utilizando metodologias robustas que preservam a natureza latente das variáveis como é o caso da técnica de modelagem de equações estruturais (58) Assim, abre-se espaço para realização de novos trabalhos que possibilitem entender melhor a relação entre as afetividades negativas, o estilo de vida e as dimensões do comportamento alimentar para que seja possível a obtenção de evidências 23 que contribuam para uma avaliação individual mais completa e auxiliem na tomada de decisão clínica. A literatura (5, 14, 35, 36, 61-64) tem verificado, ainda, que não apenas aspectos afetivos e socioculturais podem exercer impacto sobre o comportamento alimentar dos indivíduos, mas também características demográficas como o sexo, a idade e o estado nutricional podem ter sua influência no contexto alimentar. Nesse âmbito, as mulheres reportam maior alimentação emocional e restrição cognitiva em relação aos homens (14, 36, 64). No que se refere à idade, indivíduos mais jovens, em geral, manifestam maior alimentação emocional e descontrole alimentar que os mais velhos (61, 63), uma vez que com o aumento da idade, os indivíduos vão adquirindo repertório para lidar com adversidades, reduzindo a utilização do alimento como estratégia de enfrentamento (5, 65). Em relação ao estado nutricional, tem sido observado (35, 62) que indivíduos em condições de obesidade apresentam maior escore de descontrole alimentar do que àqueles sem essa condição. Em vista disso, a investigação de características demográficas no processo alimentar, torna-se pertinente, principalmente no que se refere à identificação de suscetibilidades específicas a comportamentos alimentares disfuncionais. Ainda, é válido mencionar que a literatura tem destacado a importância da investigação do comportamento alimentar e dos aspectos relacionados a esse conceito em estudantes universitários (36, 43, 44, 53- 55, 64, 66-69). Esses indivíduos são considerados suscetíveis à adoção de comportamentos inadequados (70, 71), uma vez que se encontram em 24 adultez emergente (70). Usualmente, essa etapa da vida corresponde ao período de ingresso à universidade, sendo marcada pelo enfrentamento de novos desafios, por crescentes exigências sociais, acadêmicas e pessoais, pelo ganho de autonomia e de responsabilidades adicionais (70), como, por exemplo, o preparo das próprias refeições. A associação desses eventos conflituosos, em consonância à possível ineficácia das estratégias de enfrentamento e a dificuldade dos universitários no gerenciamento da própria rotina (66) pode desencadear experiências emocionais negativas, promovendo alta afetividade negativa, o que, por sua vez, pode resultar na adoção de comportamentos inadequados. Como essas condições podem trazer prejuízos à saúde física e mental desses indivíduos, o rastreamento da afetividade negativa, do estilo de vida e do comportamento alimentar bem como a investigação das relações entre esses conceitos tornam-se apropriados nessa população. Em vista das reflexões expostas anteriormente, conduziu-se o presente estudo a partir de dois objetivos. O primeiro objetivo visa estimar as propriedades psicométricas do Questionário Alimentar de Três fatores (TFEQ-18), da Escala de Depressão, Ansiedade e Estresse (DASS-21) e do instrumento Perfil do Estilo de Vida Individual (PEVI) quando aplicados em amostra de estudantes universitários. O segundo objetivo foi proposto para estimar o impacto da afetividade negativa, do estilo de vida e de características demográficas nas dimensões do comportamento alimentar desses estudantes. 25 Considerações Finais O primeiro objetivo do presente trabalho foi estimar as propriedades psicométricas do Questionário Alimentar de Três Fatores (TFEQ-18), da Escala de Depressão, Ansiedade e Estresse (DASS-21) e do instrumento Perfil do Estilo de Vida Individual (PEVI) quando aplicados em estudantes universitários. Nesse sentido, torna-se pertinente mencionar que a verificação das propriedades psicométricas trata de processo fundamental frente à utilização de instrumentos de medida que avaliam conceitos abstratos (latentes). Apesar de os pesquisadores utilizarem comumente escalas psicométricas para o rastreamento de diferentes condições, a avaliação de suas propriedades para a amostra tem sido banalizada o que pode comprometer a validade e confiabilidade das evidências apresentadas. Assim, os Capítulos 1, 2 e 3 dessa dissertação foram desenvolvidos buscando apresentar evidências de validade e confiabilidade dos dados obtidos a partir do TFEQ-18, da DASS-21 e do PEVI para amostra de estudantes universitários brasileiros. No Capítulo 1, observou-se que o TFEQ-18 apresentou adequadas propriedades psicométricas para amostra sem necessidade de nenhuma alteração em relação à proposta original, assegurando, portanto, a validade e confiabilidade dos dados referentes à avaliação do comportamento alimentar realizada nesse estudo. Para DASS-21, para obtenção de adequado ajustamento à amostra, foi necessário refinamento do modelo com exclusão de um item (do fator ansiedade: it.Estava consciente de que minha boca estava seca). Como relatado anteriormente, a baixa contribuição desse item para avaliação do conceito “Ansiedade” pode ter ocorrido pela sobreposição conceitual desse item com os demais fatores do instrumento (Depressão, Estresse) o que já foi relatado na literatura(47). O refinamento da DASS-21 propiciou o levantamento de informações com adequadas validade e confiabilidade para amostra. No que se refere ao PEVI, observou-se que a estrutura fatorial proposta possuía validade fatorial, contudo, apresentava limitações em relação à validade convergente e confiabilidade. Apesar dessas limitações, 26 considerando a validade fatorial adequada, optou-se pela manutenção do modelo original uma vez que os refinamentos realizados não contribuíram substancialmente para a melhora da validade convergente e confiabilidade do instrumento à amostra. Assim, sabendo-se que as medidas de validade convergente e confiabilidade estão diretamente relacionadas ao número de itens dos fatores dos instrumentos, a elaboração de um modelo de segunda ordem, com fatores gerais de Estilo de vida “Físico” e “Psicológico”, pode ser uma alternativa mais interessante para avaliação do estilo de vida do que a utilização do modelo oblíquo (com correlação entre os fatores) de primeira ordem. Além da avaliação das propriedades psicométricas, os Capítulos 1, 2 e 3 abordaram as prevalências de condições relacionadas ao comportamento alimentar, à afetividade negativa e ao estilo de vida, respectivamente. Nesse âmbito, no Capítulo 1 observou-se expressiva prevalência de indivíduos com escores moderados/exacerbados para os aspectos do comportamento alimentar (restrição cognitiva, alimentação emocional, descontrole alimentar) e essa prevalência não foi estatisticamente diferente segundo sexo e estado nutricional dos indivíduos. Esses resultados alertam para a necessidade da elaboração de estratégias educativas/preventivas que considerem todos os universitários (independente do sexo ou estado nutricional) como suscetíveis à adoção de comportamento alimentar inadequado. No Capítulo 2, observou-se baixa prevalência de estudantes com escores altos relacionados a sintomas de depressão, ansiedade e estresse e não houve diferença significativa entre essas prevalências segundo sexo. Contudo, apesar da baixa prevalência, existem estudantes com escores altos para essas condições emocionais, os quais podem estar vivenciando altos níveis de afetividade negativa, e, portanto, o rastreamento dessas condições e de seu impacto na vida dos indivíduos pode ser interessante para promoção e manutenção do bem-estar dos estudantes. 27 Em relação ao estilo de vida, abordado no Capítulo 3, notou-se que os estudantes universitários apresentaram estilos de vida inadequados em relação à nutrição e atividade física, e mais favoráveis no que se refere aos relacionamentos sociais e controle do estresse. Os Resultados apresentados consideraram a avaliação da adequação/inadequação de cada componente do estilo de vida e sua comparação segundo o sexo, estado nutricional e prática de atividade física realizada pelos estudantes. No presente estudo, estilos de vida mais negativos foram mais expressivos em relação às mulheres, aos não praticantes de exercício físico e aos indivíduos de baixo peso e obesos. Essas estimativas forneceram evidências importantes para separação de grupos para elaboração de ações mais direcionadas. Contudo, ainda podemos explorar essa informação segundo sua intensidade (escores gerais) (Figura 1) a partir do pentáculo do bem-estar (considerando os escores médios dos 5 fatores do PEVI), que poderá nos dar um panorama visual e geral da condição do estilo de vida. Cabe esclarecer, porém, que apesar do pentáculo do bem-estar ser uma alternativa possível, essa parece fazer mais sentido na avaliação individual, uma vez que os escores médios gerais podem não favorecer a tomada de decisão referente à adequação ou não do estilo de vida a comportamentos salutares em populações. Por esse motivo, optamos por não apresentar o pentáculo no Capítulo 3 da dissertação, mas, apenas nesse momento de Considerações finais, uma vez que essa apresentação pode despertar o interesse de futuros profissionais/pesquisadores da área em uma abordagem mais individual. 28 NUT: Nutrição; ATF: Atividade Física; CPR: Comportamentos Preventivos; RSO: Relacionamentos Sociais; CES: Controle do Estresse Figura 1. Pentáculo do bem-estar dos estudantes universitários avaliados. O segundo objetivo do presente estudo se refere à estimação do impacto da afetividade negativa e do estilo de vida nas dimensões do comportamento alimentar dos universitários. Para tanto, elaborou-se modelo estrutural hipoteticamente causal. A partir do modelo proposto, observou-se que os componentes do estilo de vida exerceram impacto direto sobre a afetividade negativa. O estilo de vida não impactou diretamente na Alimentação Emocional. Os fatores Psicológicos do Estilo de Vida impactaram diretamente apenas na Restrição Cognitiva enquanto os fatores Físicos impactaram diretamente no descontrole Alimentar. A afetividade negativa foi fator mediador tanto para o Descontrole Alimentar quanto para a Alimentação emocional. Assim, a inclusão de avaliação do estilo de vida e das afetividades negativas em protocolos de rastreamento do comportamento alimentar torna-se relevante. 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 NUT ATF CPRRSO CES Referência média geral da amostra 29 As características sexo, idade, pensamento em desistir do curso e estado nutricional também influenciaram as dimensões do comportamento alimentar dos universitários. A partir do Capítulo 4, foi possível discutir questões relacionadas à dualidade entre prazer e saúde no contexto da alimentação. Além disso, discutiu-se o papel das motivações, crenças e emoções no gerenciamento do processo alimentar dos indivíduos. Desse modo, destaca-se que a compreensão do comportamento alimentar, da afetividade negativa e do estilo de vida, bem como das interações entre esses conceitos pode contribuir para uma avaliação mais completa da alimentação do indivíduo de modo a favorecer a manutenção de sua saúde. Espera-se com os resultados apresentados fornecer indícios relacionados ao comportamento alimentar, à afetividade negativa e ao estilo de vida à comunidade científica para que seja possível o desenvolvimento de estratégias educativas, preventivas e clínicas eficazes. Tais estratégias podem ser direcionadas aos grupos mais suscetíveis, contudo, recomenda- se não perder o foco no panorama universitário geral, mantendo um olhar igualitário e humanizado. 30 Referências 1. Rodrigues A, Assmar EML, Jablonski B. Psicologia Social: Editora Vozes; 1999. 2. Alvarenga M, Koritar P. Atitude e comportamento alimentar – determinantes de escolhas e consumo. 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