UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE ARARAQUARA SIMONE DI SALVO MASTRANTONIO AVALIAÇÃO IN VITRO DA DENTINA REMANESCENTE APÓS REMOÇÃO QUÍMICO-MECÂNICA DO TECIDO CARIADO EM DENTES DECÍDUOS Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Ciências Odontológicas – Área de Odontopediatria, da Faculdade de Odontologia de Araraquara, da Universidade Estadual Paulista, para obtenção do título de Doutor em Odontopediatria. Orientadora: Profa. Dra. Lourdes Aparecida Martins dos Santos Pinto Araraquara 2011 Mastrantonio, Simone Di Salvo Avaliação in vitro da dentina remanescente após remoção químico- mecânica do tecido cariado em dentes decíduos / Simone Di Salvo Mastrantonio. – Araraquara: [s.n.], 2011. 87 f. ; 30 cm. Tese (Doutorado) – Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Odontologia Orientadora: Profa Dra. Lourdes Aparecida Martins dos Santos Pinto 1. Cárie dentária 2. Dente decíduo 3. Microscopia confocal 4. Histologia 5. Microscopia eletrônica de varredura 6. Dureza I. Título Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária Marley C. Chiusoli Montagnoli, CRB-8/5646 Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação da Faculdade de Odontologia de Araraquara / UNESP SIMONE DI SALVO MASTRANTONIO AVALIAÇÃO IN VITRO DA DENTINA REMANESCENTE APÓS REMOÇÃO QUÍMICO-MECÂNICA DO TECIDO CARIADO EM DENTES DECÍDUOS COMISSÃO JULGADORA TESE PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE DOUTOR Presidente e Orientador: Profa. Dra. Lourdes Aparecida Martins dos Santos Pinto 2º Examinador: Profa. Dra. Rita de Cássia Loiola Cordeiro 3º Examinador: Profa. Dra. Alessandra Nara de Souza Rastelli 4º Examinador: Profa. Dra. Maria Cristina Borsatto 5º Examinador: Prof. Dr. Fábio Luiz Ferreira Scannavino Araraquara, 28 de março de 2011. Dados Curriculares SIMONE DI SALVO MASTRANTONIO NASCIMENTO 05/11/1977 NATURALIDADE São Carlos - SP FILIAÇÃO José Luiz Roberti Mastrantonio Antonina Di Salvo Mastrantonio 1997-2000 Curso de Graduação na Faculdade de Odontologia de Araraquara da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” 2002-2004 Curso de Especialização em Odontopediatria no Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais Universidade de São Paulo (HRAC/USP) 2005-2007 Curso de Pós-Graduação em Ciências Odontológicas, área de concentração Odontopediatria, nível Mestrado, na Faculdade de Odontologia de Araraquara da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” 2007-2011 Curso de Pós-Graduação em Ciências Odontológicas, área de concentração Odontopediatria, nível Doutorado, na Faculdade de Odontologia de Araraquara da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” AGRADECIMENTOS A DEUS, pelo dom da vida, pela sua presença em todos os momentos da minha caminhada, me concedendo sabedoria, paciência e força para atingir meus ideiais. À Profa. Tuka, pela valiosa e precisa orientação na realização deste trabalho. Pela atenção, confiança em mim depositada, paciência e disponibilidade em todos os momentos que necessitei. Pessoa extremamente competente, exemplo de dedicação ao ensino e à pesquisa. À Profa. Dra. Lizeti Toledo de Oliveira Ramalho pela atenção, disposição e ensinamentos transmitidos durante a realização da parte histológica deste estudo. Aos meus pais, José Luiz e Antonina, que me apoiaram e incentivaram nos momentos difíceis e me auxiliaram sempre que necessário para que eu pudesse realizar mais esta conquista. Aos meus irmãos, Renato e Sabrina, pelo carinho, apoio e companheirismo. Ao meu esposo Renato, pelo amor, apoio, compreensão e paciência. A todos os meus familiares, pelo carinho, apoio e incentivo. À Faculdade de Odontologia de Araraquara-UNESP, na pessoa de seu Diretor Prof. Dr. José Cláudio Martins Segalla e de sua vice–diretora, Profa. Dra. Andréia Affonso Barretto Montandon. À Coordenadora do Curso de Pós–Graduação em Ciências Odontológicas, da Faculdade de Odontologia de Araraquara-UNESP, Profa. Dra. Josimeri Hebling Costa, que sempre se mostrou atenciosa e pronta para ajudar. Ao Departamento de Clínica Infantil da Faculdade de Odontologia de Araraquara-UNESP representado pela chefe de Departamento Profa. Dra. Lídia Parsekian Martins e vice-chefe Prof. Dr. Fábio César Braga de Abreu e Lima. Aos Professores da Disciplina de Odontopediatria da Faculdade de Odontologia de Araraquara-UNESP: Ângela Cristina Cilense Zuanon, Cyneu Aguiar Pansani, Elisa Maria Aparecida Giro, Fábio César Braga de Abreu e Lima, Josimeri Hebling Costa, Lourdes Aparecida Martins dos Santos Pinto e Rita de Cássia Loiola Cordeiro, pelos conhecimentos transmitidos, amizade e atenção durante todos esses anos. Aos funcionários do Departamento de Clínica Infantil da Faculdade de Odontologia de Araraquara-UNESP: Dulce, Sônia, Thania, Cristina, Márcia, Odete, Pedrinho, Totó, pela ajuda e atenção durante todo o curso. Ao Departamento de Morfologia da Faculdade de Odontologia de Araraquara-UNESP representado pela chefe de Departamento Profa. Dra. Ana Maria Minarelli Gaspar por permitir a utilização do Laboratório de Histologia e o equipamento de microscopia óptica. À Profa. Dra. Eunice Teresinha Giampaolo do Departamento de Materiais Odontológicos e Prótese, da Faculdade de Odontologia de Araraquara- UNESP, por permitir a utilização do microdurômetro. À Profa. Dra. Maria Cristina Borsatto, por sua generosidade, receptividade e assistência sempre que se fez necessário durante o uso do Laboratório de Pesquisa pertencente ao Departamento de Clínica Infantil, Odontologia Preventiva e Social da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto- USP. Ao Prof. Dr. Roy Edward Larson, responsável pelo Laboratório Multiusuário de Microscopia Confocal do Departamento de Biologia Celular e Molecular e Bioagentes Patogênicos da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto- USP e em especial ao Prof. Dr. Lenaldo Branco Rocha, pela atenção e disposição em me ajudar. Ao Núcleo de Apoio a Pesquisa/Microscopia Eletrônica Aplicada a Pesquisa Agropecuária – ESALQ/USP, por permitir a utilização do laboratório do microscópio eletrônico de varredura. Ao Departamento de Engenharia de Materiais da UFSCar e em especial ao Diego e Vítor pela realização das análises de MEV e EDS. Aos funcionários da Secretaria de Pós-Graduação da Faculdade de Odontologia de Araraquara-UNESP, Alexandre, Flávia, Mara e Rosângela, pela atenção e pelo atendimento sempre eficiente e cordial. Aos funcionários da Biblioteca da Faculdade de Odontologia de Araraquara-UNESP: Adriano, Ceres, Eliane, Inês, Maria Helena, Marley, Odete e Silvia, pela disponibilidade e atenção. Às amigas de Mestrado e Doutorado: Cármen, Michele, Nancy e Juliana, pela amizade e pelos momentos de alegria e dificuldade compartilhados. Aos colegas de Pós-Graduação em Odontopediatria: Amanda, Ana Luisa, Ana Paula, Beatriz, Camila Fávero, Camila Fragelli, Cristiane, Débora, Elcilaine, Fabiano, Hérica, Juliana, Letícia, Luciana, Marcela, Márcia, Marcos, Margareth, Marília, Natália e Thalita, pela amizade e agradável convívio. À Sra. Giana Coelho, da TrollDental, que gentilmente nos forneceu o gel Carisolv e a cureta da MediTeam para a realização deste trabalho. À CAPES, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, pelo apoio financeiro. A todas as pessoas que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste trabalho. Sumário Resumo .................................................................................. 10 Abstract .................................................................................. 11 INTRODUÇÃO ....................................................................... 12 PROPOSIÇÃO ....................................................................... 18 CAPÍTULO 1 .......................................................................... 19 CAPÍTULO 2 .......................................................................... 40 CAPÍTULO 3 .......................................................................... 58 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................... 75 REFERÊNCIAS ..................................................................... 77 ANEXOS...................................................................................84 Mastrantonio SS. Avaliação in vitro da dentina remanescente após remoção químico-mecânica do tecido cariado em dentes decíduos [Tese de Doutorado]. Araraquara: Faculdade de Odontologia da UNESP; 2011. Resumo As características físicas, químicas e morfológicas da dentina remanescente foram analisadas após a remoção químico-mecânica e mecânica do tecido cariado. Molares decíduos cariados extraídos foram seccionados no centro da lesão de cárie, no sentido mésio-distal, em duas metades semelhantes e os espécimes gerados foram divididos em 3 grupos de acordo com o método utilizado para remoção do tecido cariado: grupo CS (Carisolv™), grupo PC (Papacárie®) e grupo BR (Broca). Foram realizadas as análises em microscopia confocal (MC), microscopia óptica de luz (MO), microscopia eletrônica de varredura (MEV), espectrometria de energia dispersiva (EDS) e microdureza (MD). Na análise da MC observou-se que o método químico-mecânico removeu menos tecido cariado e a análise histológica evidenciou maior preservação da estrutura dentinária. No MEV/EDS, após a remoção químico-mecânica do tecido cariado, a dentina remanescente apresentou reduzido conteúdo de cálcio, porém a superfície dentinária apresentava-se mais irregular e livre de lama dentinária. A microdureza da dentina após a remoção do tecido cariado foi semelhante, independente do método utilizado. Os resultados deste estudo mostraram que o método químico-mecânico é mais conservador na remoção do tecido cariado. Palavras-chave: Cárie dentária; dente decíduo; microscopia confocal; histologia; microscopia eletrônica de varredura; dureza. Mastrantonio SS. In vitro evaluation of remaining dentine after chemomechanical caries removal in deciduous teeth [Tese de Doutorado]. Araraquara: Faculdade de Odontologia da UNESP; 2011. Abstract The physical, chemical and morphological characteristics of the remaining dentine were analysed after chemomechanical and mechanical caries removal. Extracted carious deciduous molars were sectioned mesiodistally through the center of the carious lesion into two similar halves. The specimens were divided into three groups according to the method used for caries removal: CS group (Carisolv™), PC group (Papacárie®) and CB group (conventional bur). The specimes were analysed under confocal laser scanning microscopy (CLSM), light microscopy (LM), scanning electron microscopy (SEM), energy dispersive analysis of x-rays (EDS) and microhardness (MH). After chemomechanical caries removal, under CLSM the remaining dentine showed less carious tissue and more dentine structure preserved in the histological analysis. SEM/EDS analysis showed the remaining dentine after chemomechanical carious removal presented reduced calcium content with irregular surface and smear layer free. Regardless the method used for caries removal the microhardness of the dentine was similar. The results showed that chemomechanical method was more conservative in the removal of carious tissue. Keywords: Dental caries; deciduous tooth; confocal microscopy; histology; Scanning Electron Microscopy, hardness. Introdução A cárie dentária pode ser definida como uma doença bacteriana dos tecidos calcificados do dente, caracterizada pela desmineralização do seu conteúdo inorgânico, seguido da decomposição da matriz orgânica (Chu, Edward16, 2008). Devido a desmineralização que ocorre durante o desenvolvimento da cárie, há uma considerável redução do conteúdo mineral e conseqüentemente um decréscimo das propriedades mecânicas do tecido dentário remanescente (Angker et al.2, 2004; Banerjee, Boyde5, 1998; Hosoya et al.25, 2000). Na lesão de cárie em dentina podem ser identificadas duas camadas distintas, diferenciadas macroscopicamente por suas características de resistência ao corte e coloração (Fusayama22, 1979). Micro-estruturalmente a camada mais superficial apresenta-se infectada, com extensa desmineralização e fibrilas de colágeno desnaturadas, não passíveis de remineralização. A segunda camada, imediatamente adjacente, denominada dentina afetada ou contaminada, caracteriza-se por desmineralização moderada, com fibrilas de colágeno sadias e presença de prolongamentos odontoblásticos, sendo biologicamente recuperável (Fusayama22, 1979; Kuboki et al.31, 1977; Ohgushi, Fusayama36, 1975). Esta capacidade de reparação da dentina afetada estimulou o desenvolvimento do método de remoção químico-mecânica do tecido cariado, que consiste na aplicação de um produto sobre a dentina infectada, facilitando sua remoção e preservando o tecido dentinário afetado (Ammari, Moliterno1, 2005; Beeley et al.9, 2000; Habib et al.24, 1975; Maragakis et al.33, 2001). Esta ação seletiva é explicada pela ausência de uma antiprotease plasmática no tecido infectado, a alfa Introdução 14 1-antitripsina, presente nos tecidos sadios e que impede a ação proteolítica do agente químico (Bertassoni, Marshall10, 2009; Bussadori et al.11, 2005). O hipoclorito de sódio a 5% foi a primeira substância utilizada na remoção química do tecido cariado, por ser um agente proteolítico não específico que dissolve material orgânico (Habib et al.24, 1975). Entretanto se mostrou instável e agressivo aos tecidos sadios. Na tentativa de eliminar as propriedades negativas foi incorporado ao hipoclorito de sódio uma solução tampão de Sorensen (hidróxido de sódio, cloreto de sódio e glicina), que se tornou conhecida como GK 101. Este produto atuava no rompimento das pontes de hidrogênio do colágeno parcialmente degradado pela lesão de cárie, facilitando sua remoção (Habib et al.24, 1975; Kronman et al.30, 1977). Para aumentar a velocidade da reação, adicionou-se ácido aminobutírico à fórmula. O novo sistema, resultante deste acréscimo, denominado GK 101-E ou N-monocloroaminobutirato (NMAB), foi patenteado nos Estados Unidos e aprovado na década de 80 pela Food and Drug Administration (FDA), tornando-se conhecido como sistema Caridex™* (Maragakis et al.33, 2001). Apesar da sua eficácia, o Caridex™ apresentava limitações na prática clínica, caracterizada pela remoção tecidual lenta (10 a 15 minutos), grande volume de solução empregada (200 - 500ml), curto prazo de validade, alto custo e necessidade de aquecimento, resultando em insucesso comercial, com sua retirada do mercado (Ericson et al.19, 1999; Maragakis et al.33, 2001). * National Patent Medical Products Inc., New Brunswick, NJ, USA Introdução 15 Na década de 90, foi desenvolvido na Suécia o Carisolv™**, um gel composto por solução de hipoclorito de sódio e três aminoácidos (ácido glutâmico, leucina e lisina), com ação semelhante ao Caridex™. Os três aminoácidos reagem com o hipoclorito de sódio, neutralizando o efeito agressivo do mesmo nos tecidos sadios (Ericsson et al.19, 1999; Yazici et al.45, 2003). Para aumentar a eficácia do Carisolv™, sua formulação original foi modificada, alterando-se a concentração do hipoclorito de sódio, de 0,5% para 0,95% e foi retirado o corante eritrosina que, em alguns casos, provocou o manchamento da estrutura dentária (Fure, Lingström21, 2004; Rahman et al.42, 2005). Em 2003, no Brasil, foi lançado o Papacárie®***, um gel constituído pela papaína, uma enzima retirada da casca do mamão, a qual possui atividade bactericida, bacteriostática e anti-inflamatória (Bussadori et al.11, 2005; Pereira et al.38, 2004). O produto apresenta ainda em sua composição o anti-séptico cloramina (composto de cloro e amônia) e o azul de toluidina, um corante fotossensível com propriedades antimicrobianas, que substituiu o corante verde de malaquita, presente na composição inicial do produto (Bussadori et al.11, 2005). O Papacárie® atua no rompimento da ligação entre as fibrilas de colágeno da dentina cariada, deixando intacta a dentina sadia, que por não estar desmineralizada e não ter fibrilas de colágeno expostas, não sofre a ação do produto (Bertassoni, Marshall10, 2009; Bussadori et al.12, 2008). O método químico-mecânico para remoção de cárie tem sido reportado como mais confortável que a utilização de instrumentos rotatórios e ** MediTeam AB, Sävedalen, Sweden *** Fórmula & Ação, São Paulo, Brasil Introdução 16 freqüentemente não requer a utilização de anestesia local, sendo uma alternativa promissora em Odontopediatria, principalmente para pacientes ansiosos ou portadores de necessidades especiais (Beeley et al.9, 2000; Carrillo et al.14, 2008; Nadanovsky et al.35, 2001). Tradicionalmente, a remoção do tecido cariado é realizada com o auxílio de brocas adaptadas a motores de baixa e alta rotação. Este método é associado ao ruído, aquecimento, vibração e desconforto, além da remoção de estrutura dentária sadia (Anusavice, Kincheloe3, 1987; Corrêa et al.17, 2007). Os critérios utilizados para identificação e remoção do tecido cariado são a análise visual e a sensação tátil (Kidd et al.29, 1996). Entretanto, estes critérios são subjetivos e não definem com exatidão quanto de dentina cariada deve ser removido, o que muitas vezes, pode conduzir a uma sobre-extensão do preparo cavitário (Corrêa et al.17, 2007; Magalhães et al.32, 2006). A dureza da dentina é considerada um indicador da efetividade do tratamento, uma vez que está associada com a relativa mineralização da dentina, auxiliando o dentista a distinguir entre o tecido altamente infectado (amolecido) e a dentina afetada (dentina dura) (Banerjee et al.6, 2010; Hossain et al.26, 2003; Iost et al.27, 1995; Sakoolnamarka et al.44, 2005). Clinicamente, não é possível confirmar se a superfície dentinária remanescente está mineralizada e qual sua extensão (Mendonça et al.34, 2002). Neste sentido, a avaliação da presença de íons cálcio pode ser utilizada como indicador do nível de mineralização da dentina (Arvidson et al.4, 2002; Hossain et al.26, 2003; Yip et al.46, 1995). Introdução 17 Considerando que o método químico-mecânico preserva a dentina afetada, é importante conhecer as características da dentina remanescente, quanto à autofluorescência (Banerjee et al.7, 2000), características histológicas (Cederlund et al.15,1999; Flückiger et al.20, 2005; Jawa et al.28, 2010; Peric, Markovic39, 2007), mineralização (Arvidson et al.4, 2002; Hossain et al.26, 2003; Pai et al.37, 2009; Sakoolnamarka et al.44, 2005; Yip et al.46, 1995), características morfológicas (Banerjee et al.8, 2000; Cajazeira, Santos13, 2007; Corrêa et al.18, 2008; Gurbuz et al.23, 2008; Peric, Markovic39, 2007; Pinheiro et al.40, 2004) e microdureza (Corrêa et al.17, 2007; Flückiger et al.20, 2005; Hosoya et al.25, 2000; Hossain et al.26, 2003; Magalhães et al.32, 2006; Prabhakar et al.41, 2009; Reis et al.43, 2003; Sakoolnamarka et al.44, 2005), para definir as condições clínicas desta dentina que está indicada a receber o tratamento restaurador. PROPOSIÇÃO OBJETIVO GERAL O objetivo deste estudo foi avaliar as características físicas, químicas e morfológicas da dentina remanescente de dentes decíduos após a remoção do tecido cariado utilizando o Carisolv™, o Papacárie® e a broca. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Capítulo 1 – Quantificar a remoção de dentina cariada pelo método químico- mecânico. Capítulo 2 – Avaliar a quantidade de Ca e P presente na dentina remanescente e a morfologia desta superfície dentinária. Capítulo 3 – Avaliar a microdureza do tecido remanescente. ESTUDO DA REMOÇÃO QUÍMICO-MECÂNICA DO TECIDO CARIADO EM DENTES DECÍDUOS Capítulo 1 Capítulo 1 Resumo A quantidade de tecido cariado e as características histológicas da dentina remanescente foram analisadas após a remoção químico-mecânica e mecânica do tecido cariado. Trinta e três molares decíduos cariados extraídos foram seccionados no centro da lesão de cárie, no sentido mésio-distal, gerando dois espécimes por dente, que foram analisados em microscópio confocal (MC). Na seqüência, os 66 espécimes foram distribuídos entre 3 grupos, de acordo com o método de remoção do tecido cariado: grupo CS (Carisolv™), grupo PC (Papacárie®) e grupo BR (Broca). Após a remoção do tecido cariado foi realizada uma segunda análise em MC e espécimes representativos de cada grupo foram processados para avaliação histológica. As áreas das imagens antes e após a remoção do tecido cariado foram calculadas em mm2 e a diferença obtida representou a quantidade de tecido removido. A análise dos dados aplicando o teste de Kruskal-Wallis ao nível de significância de 5% evidenciou que a quantidade de tecido cariado removido foi maior no grupo BR (66,29+14,26%), estatisticamente diferente quando comparado com os grupos CS (40,25+14,50%) e PC (40,74+23,88%). Pode-se concluir que o método químico-mecânico removeu menos tecido cariado e histologicamente foi observado maior preservação da estrutura dentinária, podendo ser considerado um método mais conservador do que a broca. Palavras-chave: Cárie dentária; dentina; dente decíduo; microscopia confocal; histologia. Capítulo 1 21 Abstract The amount of carious tissue and histological characteristics of the remaining dentine were analyzed after chemomechanical and mechanical caries removal. Thirty-three extracted carious deciduous molars were sectioned mesiodistally through the center of the carious lesion into two similar halves that were analyzed by confocal laser scanning microscopy (CLSM). Subsequently, the 66 specimens were distributed among 3 groups according to the method used for caries removal: CS group (Carisolv™), PC group (Papacárie®) and CB group (conventional bur). After caries removal, a second analysis was performed using CLSM and representative specimens of each group were processed for histological evaluation. The areas of the images before and after caries removal were calculated in mm2 and the difference represented the amount of tissue removed. Data analysis applying the Kruskal-Wallis test at a significance level of 5% showed that the amount of carious tissue removed was higher in CB group (66,29+14,26%), statistically different when compared with CS group (40,25+14,50%) and PC group (40,74+23,88%). It can be concluded that the chemomechanical method removed less carious tissue and histologically it was observed more preserved dentine structure and could be considered more conservative than conventional bur. Keywords: Dental caries; dentine; deciduous tooth; confocal microscopy; histology. Capítulo 1 22 INTRODUÇÃO O tratamento conservador da cárie dentária indica a remoção da camada de dentina infectada, irreversivelmente desnaturada e não remineralizável e a preservação da camada afetada, passível de remineralização e reparação19,21-22. Assim, a diferenciação entre estas camadas é clinicamente relevante com o objetivo de evitar a remoção desnecessária de estrutura dentária8,15. A dureza, a textura e a cor da dentina cariada são os principais parâmetros utilizados pelos clínicos para diferenciar a dentina infectada da afetada durante a remoção do tecido cariado4,18,23. A dentina infectada caracteriza-se por consistência amolecida, coloração amarelada, aspecto umedecido, contém alta concentração de bactérias e fibras colágenas degradadas por ácidos e enzimas proteolíticas produzidas pelas bactérias15. A dentina afetada, ainda que superficialmente apresente certo grau de desmineralização, tem consistência endurecida com aspecto seco e coloração mais acastanhada. Sua matriz orgânica apresenta-se intacta e com número reduzido de bactérias1,7,20. Tradicionalmente a remoção do tecido cariado tem sido realizada com o uso de brocas adaptadas a motores de baixa e alta rotação. Este método, embora seja efetivo, apresenta algumas desvantagens como a dificuldade em se estabelecer exatamente quanto de dentina cariada deve ser removido e a freqüente presença de dor e desconforto durante o preparo cavitário11. Com o objetivo de suprir estas dificuldades foi proposto o método químico-mecânico, que é menos invasivo e mais seletivo que o tradicional, pois remove apenas a dentina Capítulo 1 23 infectada10,32. Embora este método remova o tecido cariado mais lentamente, tem tido uma boa aceitação entre os pacientes pediátricos, reduzindo a ansiedade e o medo10-11. Apesar do crescente número de pesquisas sobre o método químico- mecânico13,17,23,31, pouco se conhece sobre a quantidade de tecido cariado remanescente. O processo carioso afeta as propriedades ópticas da dentina, intensificando sua fluorescência3. A dentina cariada possui uma propriedade chamada autofluorescência, resultante da presença de cromóforos27. A autofluorescência é causada pela perda mineral e uma interação entre moléculas da matriz modificada e bactérias presentes na dentina infectada3. Tecidos emissores de sinal fluorescente são identificados em microscopia confocal, que tem sido utilizada para validar a extensão e a remoção de dentina cariada2,5-6. As vantagens do microscópio confocal incluem um exame não-destrutivo, sem necessidade de procedimentos de processamento e seccionamento do dente, fatores que minimizam os artefatos técnicos, além de possibilitar a obtenção de imagens em diferentes profundidades12,28-29. Assim sendo, o objetivo deste estudo foi quantificar, em microscopia confocal, a remoção de dentina cariada pelo método químico-mecânico e ilustrar histologicamente o aspecto da dentina remanescente. Capítulo 1 24 MATERIAL E MÉTODO Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Odontologia de Araraquara, UNESP-SP sob o protocolo no 05/09 (Anexo 1). Após obtenção do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 2), foram coletados 33 molares decíduos cujos critérios para inclusão na amostra foram: cavidade de cárie em dentina nas faces oclusal e/ou proximal e extração indicada por estar em processo de esfoliação e seus sucessores permanentes apresentarem 2/3 de formação radicular ou por motivos ortodônticos. Os critérios de não inclusão foram: presença de reabsorção interna da câmara coronária e dente com lesão de cárie que havia atingido a polpa. Após a exodontia, os dentes foram limpos com soro fisiológico para remoção dos resíduos do tecido gengival, colocados em recipientes individuais e imediatamente armazenados a -20oC sem adição de solução para evitar possíveis alterações químicas, físicas ou ópticas na dentina13,25. Para o descongelamento, os dentes foram mantidos em temperatura ambiente (25oC) por pelo menos uma hora. Para evitar a desidratação e manter o ambiente úmido, uma gaze umedecida com água destilada foi colocada no interior de cada recipiente que abrigava os dentes12. Os 33 dentes foram seccionados no centro da lesão de cárie, no sentido mésio-distal, utilizando-se a máquina metalográfica ISOMET 1000 (ISOMET Buehler Ltd., Lake Bluf, Il, EUA) equipada com disco diamantado, sob Capítulo 1 25 refrigeração constante. Cada dente gerou dois espécimes, num total de 66. Inicialmente os espécimes foram analisados em microscópio confocal (Leica TCS SP2, Carl Zeiss, Oberkochen, Germany) com lente objetiva de 2,5X (Figura 1A). A imagem de cada lesão de cárie foi capturada e salva digitalmente para futura comparação. Na seqüência, os espécimes foram distribuídos aleatoriamente entre 3 grupos (n = 22) e o tecido cariado foi removido utilizando a técnica estabelecida para cada grupo, tendo sido realizada por um único operador (Tabela 1). Tabela 1 - Grupos experimentais segundo o método de remoção do tecido cariado Grupos experimentais Métodos de remoção Grupo CS Remoção químico-mecânica com Carisolv™ Grupo PC Remoção químico-mecânica com Papacárie® Grupo BR Broca esférica de aço no baixa rotação No grupo CS, o Carisolv™ (MediTeam AB, Sävedalen, Sweden) foi preparado de acordo com as instruções do fabricante e depositado na cavidade de cárie. Após 40 segundos, a superfície amolecida foi removida com cureta específica no 3 (Mediteam, Sävedalen, Sweden). A cavidade foi lavada, seca e o procedimento repetido uma vez. No grupo PC, o Papacárie® (Fórmula & Ação, São Paulo, Brasil) foi utilizado de acordo com as instruções do fabricante, depositando-se o gel na dentina cariada por 40 segundos e em seguida, foi realizada a remoção do tecido amolecido com cureta sem corte (S.S. White, Rio de Janeiro, Brasil). Após Capítulo 1 26 lavagem e secagem da cavidade, o gel foi reaplicado uma vez e o procedimento repetido. Nos espécimes do grupo BR foi utilizado motor de baixa-rotação (Kavo do Brasil Ind. Com. Ltda, Joinville, Santa Catarina, Brasil) com broca esférica de aço (KG Sorensen, Barueri, São Paulo, Brasil), de diâmetro compatível com o tamanho da cavidade, sendo que as brocas foram trocadas após quatro preparos cavitários. O critério clínico para o limite da remoção do tecido cariado foi o utilizado em estudos prévios, com a completa remoção da dentina amolecida, deixando a dentina clara e dura ou a dentina escura que é sentida como firme (“couro duro”) quando testada com uma sonda exploradora18,23-24. Na seqüência, os 66 espécimes foram analisados novamente no microscópio confocal (Figura 1B). FIGURA 1 - IMAGENS OBTIDAS NO MICROSCÓPIO CONFOCAL ANTES (A) E APÓS (B) A REMOÇÃO DO TECIDO CARIADO. 1A 1B Capítulo 1 27 As áreas das imagens antes e após a remoção foram calculadas em mm2 utilizando o software “Image J” e as diferenças obtidas, convertidas em porcentagem, representou a quantidade de tecido cariado removido (Figura 2). Aos dados obtidos foi aplicado o teste de Kruskal-Wallis ao nível de significância de 5%. FIGURA 2 - ANÁLISE DAS IMAGENS NO SOFTWARE “IMAGE J” ANTES (A) E APÓS (B) A REMOÇÃO DO TECIDO CARIADO. Espécimes representativos de cada grupo foram desmineralizados, desidratados em soluções crescentes de etanol, incluídos em parafina e seccionados em cortes histológicos de 6μm ao longo eixo do dente. As lâminas foram coradas com Hematoxilina e Eosina (H/E) e Brown e Brenn (B/B) para análise em microscópio óptico (Olympus BX51, Japão). As imagens das lâminas foram fotografadas e transferidas para o computador por meio de uma câmera digital (Olympus CAMEDIA C5060, Japão) acoplada ao microscópio. 2A 2B Capítulo 1 28 RESULTADO Os resultados obtidos estão apresentados na Tabela 2. A análise dos dados evidenciou que a quantidade de tecido cariado removido foi maior no grupo BR, estatisticamente diferente quando comparado com os grupos CS e PC. Tabela 2 - Porcentagem de tecido cariado removido de acordo com o grupo Espécime Grupo CS Grupo PC Grupo BR 1 36,53 40,47 88,47 2 34,64 97,28 61,33 3 21,88 52,92 81,51 4 17,48 51,13 51,39 5 35,83 48,01 60,63 6 47,45 21,58 87,09 7 62,25 22,96 49,91 8 49,59 14,77 89,83 9 52,74 43,20 68,56 10 43,25 75,34 57,06 11 50,38 48,67 69,72 12 26,49 37,39 44,13 13 28,70 27,28 81,29 14 59,58 10,92 56,66 15 32,48 28,83 79,19 16 23,23 17,20 56,69 17 32,47 37,89 60,74 18 31,46 74,39 41,83 19 61,08 28,50 73,82 20 26,04 82,10 59,72 21 43,86 15,54 62,65 22 68,00 19,84 76,23 Média/DP 40,25+14,50a 40,74+23,88a 66,29+14,26b * letras diferentes = diferença estatística Capítulo 1 29 A análise histológica foi realizada sobre a dentina adjacente à cavidade de cárie que se apresentou autofluorescente na microscopia confocal. Nos espécimes do grupo CS corados pela H/E, o assoalho da cavidade apresentou-se irregular com túbulos dentinários desorganizados e presença de resíduos (Figura 3). Na coloração B/B observaram-se túbulos dentinários dilatados e preenchidos por bactérias no seu interior (Figura 4). FIGURA 3 - CORTE HISTOLÓGICO DE DENTE DO GRUPO CS (H/E - 25X). FIGURA 4 - CORTE HISTOLÓGICO DE DENTE DO GRUPO CS (B/B - 25X). Capítulo 1 30 Na análise dos espécimes do grupo PC na coloração H/E, o assoalho cavitário apresentara os túbulos dentinários preservados e a dentina mais distante tem aspecto de normalidade (Figura 5). Na coloração B/B, observou-se bactérias no interior dos túbulos dentinários (Figura 6). FIGURA 5 - CORTE HISTOLÓGICO DE DENTE DO GRUPO PC (H/E – 25X). FIGURA 6 - CORTE HISTOLÓGICO DE DENTE DO GRUPO PC (B/B – 25X). Capítulo 1 31 Nos espécimes do grupo BR na coloração H/E, o contorno da cavidade apresentou-se mais regular, sem fragmentos, nem resíduos no assoalho cavitário e com prolongamentos odontoblásticos cortados (Figura 7). As paredes proximais da cavidade estavam planas e sem irregularidades e os túbulos dentinários dilatados e com bactérias no seu interior (Figura 8). FIGURA 7 - CORTE HISTOLÓGICO DE DENTE DO GRUPO BR (H/E – 40X). FIGURA 8 - CORTE HISTOLÓGICO DE DENTE DO GRUPO BR (B/B – 12,5X). Capítulo 1 32 DISCUSSÃO Tradicionalmente a remoção do tecido cariado tem sido realizada com métodos exclusivamente mecânicos, que embora sejam efetivos, são geralmente associados à dor e desconforto10. A broca remove facilmente o tecido cariado alcançando rapidamente os túbulos dentinários, que por meio da estimulação dos processos odontoblásticos pode provocar dor22. Para minimizar os efeitos indesejáveis da remoção do tecido cariado com instrumentos rotatórios foram desenvolvidos métodos alternativos que reforçam as características conservadoras da Odontologia moderna4,30, com destaque para a remoção químico-mecânica do tecido irreversivelmente comprometido pelo processo carioso8,22. O mecanismo de ação dos produtos disponíveis no mercado para remoção químico-mecânica do tecido cariado, o Carisolv™ e o Papacárie®, baseia-se em seus componentes ativos, hipoclorito de sódio e papaína, respectivamente. Estes são agentes proteolíticos, capazes de dissolver o material orgânico da dentina desorganizada previamente exposta pela ação bacteriana (dentina infectada), facilitando sua remoção e preservando o tecido subjacente remineralizável (dentina afetada)4,10. Esta ação seletiva é explicada pela ausência de uma antiprotease plasmática no tecido infectado, a alfa 1-antitripsina, presente nos tecidos sadios e que impede a ação proteolítica9-10. Capítulo 1 33 O parâmetro mais utilizado pelos cirurgiões-dentistas para identificação da dentina infectada é a cor, dureza e textura do tecido cariado, critérios subjetivos e que dependem da percepção e experiência do profissional4,12,18,20. No entanto, a autofluorescência deste tecido pelo microscópio confocal se mostrou um método confiável para validação da presença de tecido cariado5-6,14. Assim, optamos por este método de análise uma vez que oferece a possibilidade de delimitar a lesão de cárie de dentina em uma alta resolução sem a aplicação de corantes, o que poderia gerar tendências para a decisão do operador durante a remoção do tecido cariado5,12,29. Segundo Banerjee et al.3 (2004), a desmineralização do processo carioso expõe matriz dentinária e a interação desta matriz com a bactéria pode gerar o cromóforo responsável pelo sinal de autofluorescência. Embora a dentina afetada também seja acometida pela ação de bactérias, nesta ocorrem apenas mudanças estruturais inorgânicas (desmineralização), não havendo a interação proteolítica bacteriana dentro da matriz, o que resulta em ausência de sinal de autofluorescência nesta camada6. Neste estudo foram utilizadas lesões de cárie natural, fato que não permitiu a padronização de todas as variáveis de interferência tais como: idade do paciente, forma, tamanho e estágio da atividade da lesão. No entanto, as características das lesões presentes nos dentes selecionados são as que encontramos com maior freqüência na clínica odontopediátrica. A comparação das áreas das imagens antes e após a remoção do tecido cariado evidenciou que a broca (grupo BR) removeu em média 20% mais tecido Capítulo 1 34 cariado do que os métodos químicos. Nossos resultados demonstraram que a broca é o método mais invasivo, sendo o grupo que apresentou menor quantidade de tecido cariado remanescente, concordando com o trabalho de Celiberti et al.12 (2006), embora seja considerado um método não conservador4. Apesar da extensa remoção realizada pela broca, foi possível identificar tecido cariado remanescente em todos os espécimes. Este fato não corrobora com os achados de Celiberti et al.12, que consideraram os preparos realizados pela broca sobre extendidos. Deve-se ressaltar que no referido estudo a área do tecido cariado removido foi calculada em uma sobreposição de imagens obtidas em microscopia confocal e óptica, ao passo que em nosso estudo as medidas foram realizadas diretamente no microscópio confocal. É importante ressaltar ainda que a determinação da quantidade de tecido cariado a ser removido é determinada por critérios subjetivos que dependem da experiência e habilidade do operador. A presença de microrganismos na dentina remanescente antes de ser o resultado da ineficácia do método de remoção da dentina cariada, pode estar relacionada com o padrão variável da penetração bacteriana durante o processo carioso23. Trowbridge26 enfatiza que a análise histológica com freqüência mostra bactérias profundamente situadas na dentina sadia, provocando o alargamento de um único túbulo. No processo de cárie, a morfologia da dentina composta por canalículos dentinários favorece a penetração de microrganismos, que ocorre antes da destruição da matriz dentinária22. Embora no presente estudo a análise histológica tenha ilustrado a presença de microrganismos em todos os grupos, a dentina Capítulo 1 35 remanescente contaminada representa a dentina afetada, pois não apresenta grandes alterações estruturais6,16 e segundo Azrak et al.1 (2004), possui um número significativamente menor de colônias de bactérias quando comparada com a dentina infectada. Após a remoção químico-mecânica do tecido cariado com Carisolv™ (grupo CS), o assoalho cavitário apresentou-se irregular, fato também observado por Yip et al.31 (1999) e Peric, Markovic23 (2007). Quando comparado com o método tradicional, houve maior preservação de estrutura dentinária nos espécimes tratados com Papacárie® (grupo PC) corroborando com os achados de Jawa et al.17 (2010). CONCLUSÃO Baseado nos resultados obtidos pode-se concluir que o método químico- mecânico removeu menos dentina cariada que o método mecânico. REFERÊNCIAS 1. Azrak B, Callaway A, Grundheber A, Stender E, Willershausen B. Comparison of the efficacy of chemomechanical caries removal (Carisolv) with that of conventional excavation in reducing the cariogenic flora. Int J Paediatr Dent. 2004; 14: 182-91. Capítulo 1 36 2. Banerjee A, Boyde A. Autofluorescence and mineral content of carious dentine: scanning optical and backscaterred electron microscopic studies. Caries Res. 1998; 32: 219-26. 3. Banerjee A, Gilmour A, Kidd E, Watson T. Relationship between S. mutans and the autofluorescence of carious dentin. Am J Dent. 2004; 17: 233-6. 4. Banerjee A, Kidd EA, Watson TF. In vitro evaluation of five alternative methods of carious dentine excavation. Caries Res. 2000; 34: 144-50. 5. Banerjee A, Kidd EA, Watson TF. In vitro validation of carious dentine removed using different excavation criteria. Am J Dent. 2003; 16: 228-30. 6. Banerjee A, Sheriff M, Kidd EA, Watson TF. A confocal microscopic study relating the autofluorescence of carious dentine to its microhardness. Br Dent J. 1999; 187: 206-10. 7. Banerjee A, Watson TF, Kidd EA. Dentine caries: take it or leave it? Dent Update. 2000; 27: 272-6. 8. Beeley JA, Yip HK, Stevenson AG. Chemochemical caries removal: a review of the techniques and latest developments. Br Dent J. 2000; 188: 427-30. 9. Bertassoni LE, Marshall GW. Papain-gel degrades intact nonmineralized type I collagen fibrils. Scanning. 2009; 31: 253-8. 10. Bussadori SK, Castro LC, Galvão AC. Papain gel: a new chemo-mechanical caries removal agent. J Clin Pediatr Dent. 2005; 30: 115-9. 11. Cederlund A, Lindskog S, Blomlöf J. Efficacy of Carisolv-assisted caries excavation. Int J Periodontics Restorative Dent. 1999; 19: 464-9. Capítulo 1 37 12. Celiberti P, Francescut P, Lussi A. Performance of four dentine excavation methods in deciduous teeth. Caries Res. 2006; 40: 117-23. 13. Flückiger L, Waltimo T, Stich H, Lussi A. Comparison of chemomechanical caries removal using Carisolv or conventional hand excavation in deciduous teeth in vitro. J Dent. 2005; 33: 87-90. 14. Foster LV. Autofluorescence – a potential method for the in-vitro validation of carious dentine. Br Dent J. 1999; 187: 203. 15. Fusayama T. Two layers of carious dentin: diagnosis and treatment. Oper Dent. 1979; 4: 63-70. 16. Iost HI, Costa JH, Rodrigues HH, Rocca RA. Dureza e contaminação bacteriana da dentina após remoção da lesão de cárie. Rev ABO Nac. 1995; 3: 25-9. 17. Jawa D, Singh S, Somani R, Jaidka S, Sirkar K, Jaidka R. Comparative evaluation of the efficacy of chemomechanical caries removal agent (Papacarie) and conventional method of caries removal: an in vitro study. J Indian Soc Pedod Prev Dent. 2010; 28: 73-7. 18. Kidd EA, Ricketts DN, Beighton D. Criteria for caries removal at the enamel- dentine junction: a clinical and microbiological study. Br Dent J. 1996; 180: 287-91. 19. Kuboki Y, Ohgushi K, Fusayama T. Collagen biochemistry of the two layers of carious dentin. J Dent Res. 1977; 56: 1233-7. Capítulo 1 38 20. Maltz M, Oliveira EF, Fontanella V, Bianchi R. A clinical, microbiologic and radiographic study of deep caries lesions after incomplete caries removal. Quintessence Int. 2002; 33: 151-9. 21. Maragakis GM, Hahn P, Hellwig E. Chemomechanical caries removal: a comprehensive review of the literature. Int Dent J. 2001; 51: 291-9. 22. Mendonça SMS, Moreira NA, Magalhães CS. Dentina cariada: uma revisão dos métodos e critérios clínicos empregados em sua remoção. JBD: J Bras Dent Estet. 2002; 1: 166-74. 23. Peric T, Markovic D. In vitro effectiveness of a chemo-mechanical method for caries removal. Eur J Paediatr Dent. 2007; 8: 61-7. 24. Splieth C, Rosin M, Gellissen B. Determination of residual dentine caries after conventional mechanical and chemomechanical caries removal with Carisolv. Clin Oral Invest. 2001; 5: 250-3. 25. Strawn SE, White JM, Marshall GW, Gee L, Goodis HE, Marshall SJ. Spectroscopic changes in human dentine exposed to various storage solutions- short term. J Dent. 1996; 24: 417-23. 26. Trowbridge HO. Pathogenesis of pulpitis from dental caries. J Endod. 1981; 7: 52-60. 27. Van der Veen MH, Bosch JJ. The influence of mineral loss on the auto- fluorescent behaviour of in vitro demineralised dentine. Caries Res. 1996; 30: 93-9. Capítulo 1 39 28. Watson TF. Applications of confocal scanning optical microscopy to dentistry. Br Dent J. 1991; 171: 287-91. 29. Watson TF, Pilecki P, Cook RJ, Azzopardi A, Paolinelis G, Banerjee A, et al. Operative dentistry and the abuse of dental hard tissues: confocal microscopical imaging of cutting. Oper Dent. 2008; 33: 215-24. 30. Yazici AR, Atílla P, Ozgünaltay G, Müftüoglu S. In vitro comparison of the efficacy of Carisolv and conventional rotary instrument in caries removal. J Oral Rehabil. 2003; 30: 1177-82. 31. Yip HK, Beeley JA, Stevenson AG. Mineral content of the dentine remaining after chemomechanical caries removal. Caries Res. 1995; 29: 111-7. 32. Zinck JH, McInnes-Ledoux P, Capdeboscq C, Weinberg R. Chemomechanical caries removal – a clinical evaluation. J Oral Rehabil. 1988; 15: 23-33. MORFOLOGIA E CONTEÚDO MINERAL DA DENTINA REMANESCENTE APÓS REMOÇÃO DO TECIDO CARIADO Capítulo 2 Capítulo 2 Resumo O conteúdo mineral e a morfologia da dentina remanescente foram analisados após a remoção do tecido cariado com método químico-mecânico e com a broca. Vinte e quatro molares decíduos cariados extraídos foram seccionados no centro da lesão de cárie, no sentido mésio-distal, em duas metades semelhantes, gerando 48 espécimes, que foram divididos em 3 grupos de acordo com o método utilizado para remoção do tecido cariado: grupo CS (Carisolv™), grupo PC (Papacárie®) e grupo BR (Broca). Após a remoção do tecido cariado os espécimes foram analisados em microscopia eletrônica de varredura com espectrometria de energia dispersiva de raio-X (MEV/EDS) para quantificar os elementos Ca e P. A lama dentinária e os túbulos dentinários foram analisados e graduados em escores de 0 a 3. A análise de variância (ANOVA) e o teste de Tukey ao nível de significância de 5% não mostraram diferença estatisticamente significante na porcentagem de P (CS - 15,91+0,70 / PC - 15,64+1,62 / BR - 17,53+1,32) e na proporção de Ca/P (CS - 1,83+0,16 / PC - 1,82+0,17 / BR - 1,91+0,80). A porcentagem de Ca foi estatisticamente maior no grupo BR (CS - 29,05+2,70 / PC - 28,58+4,34 / BR - 33,56+3,71). O teste de Kruskal-Wallis não mostrou diferença estatisticamente significante entre os grupos CS e PC que apresentaram túbulos dentinários abertos e ausência de lama dentinária. Entretanto, o grupo BR foi estatisticamente diferente, apresentando dentina amorfa, lama dentinária e túbulos dentinários ocluídos. Conclui-se que na remoção químico-mecânica do tecido cariado, o tecido remanescente apresentou uma redução no conteúdo de cálcio, porém este método produziu uma superfície dentinária mais irregular e livre de lama dentinária. Palavras-chave: Cárie dentária; dentina; dente decíduo; microscopia eletrônica de varredura. Capítulo 2 42 Abstract The mineral content and the morphology of dentine were analyzed after carious tissue removal using chemomechanical methods and low speed conventional bur. Twenty-four extracted carious deciduous molars were sectioned mesiodistally through the center of the carious lesion into two similar halves and divided into 3 groups, according to carious tissue removal method: CS group (Carisolv™), PC group (Papacárie®) and CB group (conventional bur). The energy-dispersive X-ray method and scanning electron microscopic (SEM/EDX) were used to quantify calcium and phosphorus ion content. The smear layer and dentinal tubules were analyzed and graded using score from 0 to 3. Analysis of variance (ANOVA) and Tukey´s test at 5% significant level showed no significant differences in the percentage of P (CS -15,91+0,70 / PC - 15,64+1,62 / CB - 17,53+1,32) and the Ca/P weight ratio (CS - 1,83+0,16 / PC - 1,82+0,17 / CB - 1,91+0,80). The Ca percentage was statistically higher in the CB group (CS - 29,05+2,70 / PC - 28,58+4,34 / CB - 33,56+3,71). Kruskal-Wallis test showed no significant differences between CS and PC groups that presented opened dentinal tubules and no smear layer. Nevertheless, CB group was statistically different presenting amorphous dentine, debris-like smear layer and occluded dentine tubules. The chemomechanical method produced a irregular surface with smear layer free dentine and decreased Ca ion content. Keywords: Dental caries; dentine; deciduous tooth; Scanning Electron Microscopy. Capítulo 2 43 INTRODUÇÃO A remoção do tecido cariado é uma fase crítica no preparo cavitário, pois implica na formação da lama dentinária, que além de ocluir os túbulos dentinários, abriga bactérias e resulta em uma superfície com características pouco adequadas para a adesão dos materiais restauradores resinosos7,12-13. Tradicionalmente, a remoção do tecido cariado é realizada com o uso de brocas adaptadas a motores de baixa e/ou alta rotação. O método mecânico convencional freqüentemente está associado ao ruído, aquecimento, vibração, desconforto e pode contribuir para uma sobre extensão do preparo cavitário6,12. Desde a década de 70, o método de remoção químico-mecânica do tecido cariado tem sido estudado como uma proposta alternativa8,19,26,39-40. Este tratamento consiste na aplicação de um produto sobre o tecido cariado, que promove o rompimento das fibrilas de colágeno desnaturadas facilitando sua remoção sem alterar a dentina sadia19,28. A dentina apresenta o cálcio e o fósforo como elementos inorgânicos mais significativos, havendo uma proporção de Ca/P de aproximadamente 2:17,38. A dentina cariada, por sofrer um processo de desmineralização, apresenta uma considerável redução dos seus componentes minerais. Clinicamente, após a remoção do tecido cariado, não é possível confirmar o grau de mineralização da superfície dentinária remanescente, sendo que o nível de cálcio pode ser utilizado como indicador de mineralização2,4,15,38. O conteúdo mineral in vitro dos tecidos dentários pode ser analisado por diferentes técnicas: micro Raman spectroscopy3,31,33, backscattered electron– Capítulo 2 44 scanning electron (BSE-SEM)1-2,38, microssonda eletrônica (EPMA)38 e microscopia eletrônica de varredura com espectrometria de energia dispersiva de raio-X (MEV-EDS)22-23,30,33. Dentre estas técnicas destaca-se a EDS, por ser um método rápido e não destrutivo. A EDS utiliza raios-X característicos, emitidos por uma região da amostra, após bombardeamento por um feixe de elétrons que pode deslocar elétrons de camadas eletrônicas internas dos átomos da amostra. O átomo atingido (átomo ionizado) tende a voltar para o estado fundamental e passa por uma transição. Este estado de transição gera excesso de energia que é acompanhada pela produção de raios-X característicos que permitem a identificação dos íons presentes30. Assim sendo, o objetivo deste estudo foi avaliar a morfologia estrutural e a quantidade de Ca e P da dentina remanescente após a remoção do tecido cariado utilizando o método químico-mecânico e a broca. MATERIAL E MÉTODO Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Odontologia de Araraquara, UNESP-SP sob o protocolo no 05/09 (Anexo 1). Após obtenção do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 2), foram coletados 24 molares decíduos cujos critérios para inclusão na amostra foram: cavidade de cárie em dentina nas faces oclusal e/ou proximal e extração Capítulo 2 45 indicada por estar em processo de esfoliação e seus sucessores permanentes apresentarem 2/3 de formação radicular ou por motivos ortodônticos . Os critérios de não inclusão foram: presença de reabsorção interna da câmara coronária e dente com lesão de cárie que havia atingido a polpa. Após a exodontia, os dentes foram limpos com soro fisiológico para remoção dos resíduos do tecido gengival, colocados em recipientes individuais e imediatamente armazenados a -20oC, sem adição de solução para evitar possíveis alterações químicas, físicas ou ópticas na dentina16,35. Para o descongelamento, os dentes foram mantidos em temperatura ambiente (25oC) por pelo menos uma hora. Para evitar a desidratação e manter o ambiente úmido, uma gaze umedecida com água destilada foi colocada no interior de cada recipiente que abrigava os dentes11. Os 24 dentes foram seccionados no centro da lesão de cárie, no sentido mésio-distal, utilizando-se a máquina metalográfica ISOMET 1000 (ISOMET Buehler Ltd., Lake Bluf, Il, EUA), gerando dois espécimes por dente, num total de 48, que foram distribuídos aleatoriamente entre 3 grupos (n = 16). O tecido cariado foi removido utilizando o método estabelecido para cada grupo, tendo sido realizado por um único operador (Tabela 1). Tabela 1 - Divisão dos grupos experimentais, segundo o método de remoção do tecido cariado Grupos experimentais Métodos de remoção Grupo CS Remoção químico-mecânica com Carisolv™ Grupo PC Grupo BR Remoção químico-mecânica com Papacárie® Broca esférica de aço no baixa rotação Capítulo 2 46 No grupo CS, o Carisolv™ (MediTeam AB, Sävedalen, Sweden) foi preparado de acordo com as instruções do fabricante e depositado na cavidade de cárie. Após 40 segundos, a superfície amolecida foi removida com cureta específica no 3 (Mediteam, Sävedalen, Sweden). A cavidade foi lavada, seca e o procedimento repetido uma vez. No grupo PC, o Papacárie® (Fórmula & Ação, São Paulo, Brasil) foi utilizado de acordo com as instruções do fabricante, depositando-se o gel na dentina cariada por 40 segundos e em seguida, foi realizada a remoção do tecido amolecido com cureta sem corte (S.S. White, Rio de Janeiro, Brasil). Após lavagem e secagem da cavidade, o gel foi reaplicado uma vez e o procedimento repetido. Nos espécimes do grupo BR foi utilizado motor de baixa-rotação (Kavo do Brasil Ind. Com. Ltda, Joinville, Santa Catarina, Brasil) com broca esférica de aço (KG Sorensen, Barueri, São Paulo, Brasil), de diâmetro compatível com o tamanho da cavidade, sendo que as brocas foram trocadas após quatro preparos cavitários. O critério clínico para o limite da remoção do tecido cariado foi o utilizado em estudos prévios, com a completa remoção da dentina amolecida, deixando a dentina clara e dura ou a dentina escura que é sentida como firme (“couro duro”) quando testada com uma sonda exploradora24,32,34. Finalizada a remoção do tecido cariado, todos os espécimes foram fixados com solução de formol a 10% por 48 horas, e então imediatamente imersos em solução tampão de fosfato (pH 7,3) e lavados em água destilada. As amostras foram desidratadas em soluções crescentes de álcool (70, 80, 90 e 100%) por 24 Capítulo 2 47 horas em cada solução e secos ao ponto crítico (Critical Point Dryer 030 Balzers). Vinte e quatro espécimes foram metalizados em ouro para análise em microscopia eletrônica de varredura (Philips, modelo XL30 FEG). Imagens obtidas com aumento de 1000X foram codificadas para evitar a identificação dos grupos e examinadas por dois examinadores calibrados por duas vezes em intervalo de uma semana. Um gabarito com imagens representativas de cada escore foi oferecido aos avaliadores (Figuras 1,2,3 e 4) que atribuíram os escores (0 a 3) para avaliação da lama dentinária (adaptado de Menezes et al.29). FIGURA 1 - NENHUMA LAMA DENTINÁRIA FIGURA 2 - POUCA LAMA DENTINÁRIA E TÚBULOS ABERTOS. E TÚBULOS ABERTOS. FIGURA 3 - LAMA DENTINÁRIA ESPESSA FIGURA 4 - LAMA DENTINÁRIA ESPESSA COM MUITOS TÚBULOS OBSTRUÍDOS. COM TODOS TÚBULOS OBSTRUÍDOS. Escore 0 Escore 1 Escore 2 Escore 3 Capítulo 2 48 A concordância intra e inter-examinadores foram determinadas pelo coeficiente de correlação de Spearman. Os resultados obtidos foram analisados pelo teste não paramétrico Kruskal-Wallis ao nível de significância de 5%, complementado pelo teste de comparação múltipla de Tukey. Os outros 24 espécimes foram cobertos com carbono e analisados em microscopia eletrônica de varredura com espectrometria de energia dispersiva de raio-X (MEV-EDS) (Philips-FEG SEM, Philips Electron Optics, Netherlands modelo XL30 FEG) para a quantificação em porcentagem dos elementos Ca e P pelo software ISIS. As medidas foram realizadas na dentina remanescente correspondente a parede pulpar da cavidade e na região correspondente na face oposta para a quantificação dos minerais na porção sadia do dente. Os resultados obtidos foram analisados pelo teste t de Student ao nível de significância de 5%. RESULTADO Os resultados das características da superfície dentinária após a remoção do tecido cariado, representado por escores está apresentado na Tabela 2. A concordância intra e inter-examinadores foi de 0.90 e 0.85 respectivamente. Tabela 2 - Distribuição dos espécimes nos grupos de acordo com o escore Escores Grupos CS PC BR Total 0 1 3 0 4 1 4 4 0 8 2 3 1 3 7 3 0 0 5 5 Total 8 8 8 24 Capítulo 2 49 A análise dos dados pela aplicação do teste de Kruskal-Wallis a 5% demonstrou diferença estatisticamente significante entre os grupos tratados. O teste de Tukey evidenciou que os grupos CS e PC foram similares e estatisticamente diferentes do grupo BR. A porcentagem de Ca e P e a relação Ca/P encontrado no tecido dentinário remanescente estão apresentados na Tabela 3. A aplicação da análise de variância para avaliar os métodos de remoção de cárie e o teste t pareado para comparar a parede pulpar da cavidade tratada com a mesma região do seu respectivo controle demonstrou diferença significante na quantidade de cálcio, fósforo e na proporção de cálcio e fósforo. Tabela 3 - Porcentagem de minerais presentes na dentina em cada grupo Grupos Minerais CS Tratado Sadio PC Tratado Sadio BR Tratado Sadio Ca 29,05+2,70a 36,43+3,82 b 28,58+4,34 a 39,04+3,23b 33,56+3,71a 37,75+2,74b P 15,91+0,70a 17,92+0,89 b 15,64+1,62a 18,69+0,43b 17,53+1,32a 18,17+0,63b Ca/P 1,83+0,16a 2,03+0,13 b 1,82+0,17a 2,09+0,17 b 1,91+0,80a 2,07+0,93b * letras diferentes = diferença estatística Nos espécimes tratados com o método de remoção químico-mecânica, os níveis de cálcio e fósforo na dentina remanescente foram freqüentemente menores que na camada da dentina remanescente em que o tecido cariado foi removido com a broca. No entanto, apenas a porcentagem de cálcio na dentina remanescente do grupo BR foi estatisticamente maior que nos grupos CS e PC. Capítulo 2 50 DISCUSSÃO Após a remoção do tecido cariado com a broca, na análise em microscopia eletrônica de varredura, observou-se que a superfície dentinária estava plana, coberta por lama dentinária e com túbulos dentinários obstruídos5,17,23,32,34, características que podem interferir com a adesão, molhamento e penetração dos materiais adesivos12,14. Quando o tecido cariado foi removido com auxílio do Carisolv™ (grupo CS), a superfície dentinária apresentou-se irregular, porosa e com a maioria dos túbulos dentinários abertos, características também reportadas por outros autores5,21-22,32,34. A lama dentinária estava ausente ou em pequena quantidade, provavelmente como resultado da técnica de remoção, sem os efeitos térmicos e mecânicos, do alto pH do gel5,17 e da ação proteolítica do NaOCl20. Entretanto Cederlund et al.10 quando utilizaram o Carisolv™ para o tratamento de dentes permanentes cariados, encontraram uma superfície lisa, coberta com lama dentinária e a maioria dos túbulos dentinários ocluídos. Hosoya et al.21 reportaram que o Carisolv™ é mais efetivo na remoção da lama dentinária em dentes decíduos, fato que pode ser atribuído às diferenças de mineralização e micromorfologia dentinária (concentração e diâmetro dos túbulos dentinários) entre os dentes decíduos e permanentes. No grupo PC houve presença mínima de lama dentinária e a maioria dos túbulos estavam abertos, confirmando os achados de Cajazeira et al.9 (2007). A cloramina, presente na composição do Papacárie®, pode ter contribuído para a Capítulo 2 51 dissolução da lama dentinária expondo a entrada dos túbulos dentinários36. No entanto, Corrêa et al.12 (2007) quando analisaram incisivos decíduos cariados tratados com Papacárie®, observaram dois padrões de dentina remanescente, uma superfície regular, com fissuras, pouca lama dentinária e túbulos abertos em algumas regiões e também uma superfície irregular e rugosa coberta por lama dentinária obliterando os túbulos. A superfície dentinária com muitas irregularidades resultante da remoção do tecido cariado pelo método químico- mecânico9,22,32,34 é considerada ideal para os materiais restauradores adesivos12, possivelmente sem a necessidade de condicionamento ácido37. Para avaliar o conteúdo mineral da dentina remanescente foi utilizado a EDS por ser uma técnica simples, rápida e não destrutiva. A dentina sadia de cada dente foi utilizada como controle, para evitar interferências como idade do dente e estágio da atividade da lesão. Na dentina hígida, a porcentagem de Ca (37,32+3,25) e P (18,25+0,79) encontradas foram maiores que as reportadas por Haataja et al.18 (Ca - 24,8% e P - 13,3%) e Lakomaaa, Rytomaa27 (Ca - 29,1% e P - 14,1%). O conteúdo mineral da dentina remanescente, independente do método de remoção do tecido cariado utilizado, foi estatisticamente menor que na dentina sadia, demonstrando que esta dentina continua desmineralizada38. Entretanto, Hossain et al.22 (2003), quando utilizaram o Carisolv™ para remoção do tecido cariado em dentes permanentes não encontraram diferença estatística na quantidade de cálcio e fósforo entre as cavidades tratadas com Carisolv™ e a dentina sadia. Essa diferença encontrada no nosso estudo pode ser explicada em Capítulo 2 52 função da quantidade de tecido cariado removido, uma vez que os critérios de julgamento das características do tecido remanescente são subjetivos e das características próprias da dentina do dente decíduo como: menor número de túbulos dentinários, com menor diâmetro e conseqüentemente há menor quantidade de dentina peritubular (que forma a parede do canalículo), a qual é mais mineralizada que a dentina intercanalicular e no processo de cárie, a dentina peritubular é perdida7,25. O menor conteúdo de Ca da dentina após o tratamento químico-mecânico quando comparado ao convencional (broca) pode ser atribuído ao fato do método químico-mecânico preservar maior quantidade de dentina desmineralizada. Entretanto, esta diferença não foi encontrada por Arvidsson et al.3 (2002) e Pai et al.31 (2010), quando analisaram quimicamente a dentina cariada após o tratamento com o Carisolv™ e a broca. CONCLUSÃO Baseado nos resultados deste trabalho pode-se concluir que: • A morfologia da superfície dentinária remanescente após a remoção químico- mecânica do tecido cariado apresentou-se irregular, com presença mínima ou ausência de lama dentinária e túbulos dentinários abertos. • O conteúdo de cálcio presente no tecido dentinário remanescente após a remoção químico-mecânica do tecido cariado, independentemente do material utilizado, foi menor do que comparado com a broca. Capítulo 2 53 REFERÊNCIAS 1. Angker L, Nockolds C, Swain MV, Kilpatrick N. Correlating the mechanical properties to the mineral content of carious dentine – a comparative study using an ultra-micro indentation system (UMIS) and SEM-BSE signals. Arch Oral Biol. 2004; 49: 369-78. 2. Angker L, Nockolds C, Swain MV, Kilpatrick N. Quantitative analysis of the mineral content of sound and carious primary dentine using BSE imaging. Arch Oral Biol. 2004; 49: 99-107. 3. 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Cajazeira MRR, Santos MEO. Análise ultraestrutural da superfície dentinária de molares decíduos submetida a diferentes métodos usados na remoção do tecido cariado. Pesq Bras Odontoped Clin Integr. 2007; 7: 265-9. 10. Cederlund A, Lindskog S, Blomlöf J. Efficacy of Carisolv-assisted caries excavation. Int J Periodontics Restorative Dent. 1999; 19: 464-9. 11. Celiberti P, Francescut P, Lussi A. Performance of four dentine excavation methods in deciduous teeth. Caries Res. 2006; 40: 117-23. 12. Corrêa FN, Rodrigues Filho LE, Rodrigues CR. Evaluation of residual dentin after conventional and chemomechanical caries removal using SEM. J Clin Pediatr Dent. 2008; 32: 115-20. 13. Eick JD, Gwinnett AJ, Pashley DH, Robinson SJ. Current concepts on adhesion to dentin. Crit Rev Oral Biol Med. 1997; 8: 306-35. 14. Eick JD, Robinson SJ, Cobb CM, Chappell RP, Spencer P. The dentinal surface: its influence on dentinal adhesion. Part II. Quintessence Int. 1992; 23: 43-51. 15. 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Doze molares decíduos cariados extraídos foram seccionados no centro da lesão de cárie, no sentido mésio-distal, em duas metades semelhantes, gerando 24 espécimes, que foram divididos em 3 grupos (n = 8) de acordo com o método utilizado para remoção do tecido cariado: grupo CS (Carisolv™), grupo PC (Papacárie®) e grupo BR (Broca). Os espécimes foram incluídos e a microdureza Knoop foi medida na dentina remanescente a partir do assoalho cavitário e na dentina sadia do lado oposto a partir da junção amelo-dentinária. A análise dos dados aplicando o teste de Kruskal-Wallis ao nível de significância de 5% evidenciou diferença estatisticamente significante entre a dureza do tecido cariado remanescente e seu controle hígido apenas nas medidas realizadas até 100μm no grupo PC e até 50μm no grupo BR. Comparando os valores no mesmo intervalo nos 3 grupos tratados, só foi observada diferença estatisticamente significante entre os grupos BR e CS no intervalo de 50μm. Palavras-chave: Cárie dentária; dentina; dente decíduo; dureza. Capítulo 3 60 Abstract The microhardness of the remaining dentine was analyzed after caries removal using chemomechanical method and conventional bur. Twelve extracted carious deciduous molars were sectioned mesiodistally through the center of the carious lesion into two similar halves, resulting in 24 specimens that were divided into 3 groups (n = 8) according to caries removal method: CS group (Carisolv™), PC group (Papacárie®) and group CB (conventional bur). The microhardness of the remaining dentine was measured in the base of cavity floor and in the opposite healthy dentine at enamel-dentine junction. Data analysis applying the Kruskal- Wallis test at a significance level of 5% showed a statistically significant difference between the microhardness of remaining dentine and its control measured from 0 to 100 m in the PC group and from 0 to 50 m in the CB group. Comparing the microhardness values at the same measure range in all groups there was statistically significant difference only between CB and CS groups in the 50 m distance. Keywords: Dental caries; dentine; deciduous tooth; hardness. Capítulo 3 61 INTRODUÇÃO A cárie dentária pode ser definida como uma doença bacteriana dos tecidos calcificados do dente, caracterizada pela desmineralização do seu conteúdo inorgânico, seguido da decomposição da matriz orgânica11. Em decorrência do desenvolvimento da doença cárie, podem ser identificadas duas camadas distintas na lesão de dentina, diferenciadas macroscopicamente por suas características de resistência ao corte e coloração15. Micro-estruturalmente, a camada de dentina cariada mais superficial apresenta-se infectada, com extensa desmineralização e fibrilas de colágeno desnaturadas, não passíveis de remineralização, devendo ser removida. A segunda camada, imediatamente adjacente, denominada dentina afetada ou contaminada, caracteriza-se por desmineralização moderada, com fibrilas de colágeno sadias e presença de prolongamentos odontoblásticos, sendo biologicamente recuperável15,22,25. A capacidade de reparação da dentina afetada estimulou o desenvolvimento do método de remoção químico-mecânica do tecido cariado, que consiste na aplicação de um produto sobre o tecido cariado, facilitando sua remoção e preservando a dentina sadia1,9,17,24. Apesar do crescente número de estudos sobre a remoção da dentina cariada, o critério clínico mais utilizado como guia para a remoção da dentina infectada é a dureza deste tecido7,21. Assim a análise da microdureza tem sido utilizada como método de avaliação da mineralização dos tecidos dentários, já que Capítulo 3 62 a redução do valor numérico da microdureza apresenta relação linear com a perda mineral18,33. A avaliação da dureza do tecido remanescente é de fundamental importância porque está associada com a infectividade da dentina cariada, auxiliando o dentista a distinguir entre a dentina infectada (amolecida) e a dentina afetada (dura), sendo um indicador da efetividade do tratamento8,21,23. Assim sendo, o objetivo deste estudo foi avaliar a microdureza da dentina remanescente após a remoção do tecido cariado com o Carisolv™, Papacárie® e a broca. MATERIAL E MÉTODO Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Odontologia de Araraquara, UNESP-SP sob o protocolo no 05/09 (Anexo 1). Após obtenção do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 2), foram coletados 12 molares decíduos cujos critérios para inclusão na amostra foram: cavidade de cárie em dentina nas faces oclusal e/ou proximal e extração indicada por estar em processo de esfoliação e seus sucessores permanentes apresentarem 2/3 de formação radicular ou por motivos ortodônticos. Os critérios de não inclusão foram: presença de reabsorção interna da câmara coronária e dente com lesão de cárie que havia atingido a polpa. Após a exodontia, os dentes foram limpos com soro fisiológico para remoção dos resíduos do tecido gengival, colocados em recipientes individuais e Capítulo 3 63 imediatamente armazenados a -20oC sem adição de solução para evitar possíveis alterações químicas, físicas ou ópticas na dentina14,32. Para o descongelamento, os dentes foram mantidos em temperatura ambiente (25oC) por pelo menos uma hora. Para evitar a desidratação e manter o ambiente úmido, uma gaze umedecida com água destilada foi colocada no interior de cada recipiente que abrigava os dentes10. Os doze dentes foram seccionados no centro da lesão de cárie, no sentido mésio-distal, utilizando-se a máquina metalográfica ISOMET 1000 (Buehler Ltda., Lake Bluf, IL, EUA) equipada com disco diamantado, sob refrigeração constante. Cada dente gerou dois espécimes, num total de 24, que foram distribuídos aleatoriamente entre 3 grupos (n = 8). O tecido cariado foi removido utilizando o método estabelecido para cada grupo tendo sido realizado por um único operador (Tabela 1). Tabela 1 - Divisão dos grupos experimentais, segundo o método de remoção do tecido cariado Grupos experimentais Métodos de remoção Grupo CS Remoção químico-mecânica com Carisolv™ Grupo PC Grupo BR Remoção químico-mecânica com Papacárie® Broca esférica de aço no baixa rotação No grupo CS, o Carisolv™ (MediTeam AB, Sävedalen, Sweden) foi preparado de acordo com as instruções do fabricante e depositado na cavidade de cárie. Após 40 segundos, a superfície amolecida foi removida com cureta Capítulo 3 64 específica no 3 (Mediteam, Sävedalen, Sweden). A cavidade foi lavada e seca e o procedimento repetido uma vez. No grupo PC, o Papacárie® (Fórmula & Ação, São Paulo, Brasil) foi utilizado de acordo com as instruções do fabricante, depositando-se o gel na dentina cariada por 40 segundos e em seguida, foi realizada a remoção do tecido amolecido com cureta sem corte (S.S. White, S.S. White, Rio de Janeiro, Brasil). Após lavagem e secagem da cavidade, o gel foi reaplicado uma vez e o procedimento repetido. Nos espécimes do grupo BR foi utilizado motor de baixa-rotação (Kavo do Brasil Ind. Com. Ltda, Joinville, Santa Catarina, Brasil) com broca esférica de aço (KG Sorensen, Barueri, São Paulo, Brasil), de diâmetro compatível com o tamanho da cavidade, sendo que as brocas foram trocadas após quatro preparos cavitários. O critério clínico para o limite da remoção do tecido cariado foi o mesmo utilizado em estudos prévios, com a completa remoção da dentina amolecida, deixando a dentina clara e dura ou a dentina escura que é sentida como firme (“couro duro”) quando testada com uma sonda exploradora21,27,31. Após a remoção do tecido cariado, os espécimes foram incluídos em resina acrílica autopolimerizável, de modo que a área interna a ser analisada permaneceu exposta. Os espécimes foram seqüencialmente polidos em politriz rotativa (Buehler Ltda., Lake Bluf, IL, EUA) com lixas abrasivas de óxido de alumínio de granulação 180, 320, 600, 1200 e 2000, complementadas com disco de feltro e pasta diamantada com granulação de 1μm, 3μm e 6μm (Arotec, São Paulo, Capítulo 3 65 Brasil). Posteriormente as amostras foram lavadas em cuba ultra-sônica para remoção de resíduos. Os espécimes foram submetidos ao teste de microdureza, utilizando um microdurômetro (Buehler Ltd., modelo Micromet 5103) equipado com diamante Knoop, com carga de 25 gramas aplicado sobre a superfície por 10 segundos. Foram realizadas 21 indentações, sendo 3 a cada distância, iniciando-se abaixo do assoalho cavitário e repetidos em 50, 100, 150, 200, 300, 400 e 500μm. A distância entre as indentações foi de 100μm. As mesmas indentações foram realizadas na dentina hígida, localizada no lado oposto, a partir da junção amelo- dentinária, para análise comparativa (Figura 1). FIGURA 1 - REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DAS INDENTAÇÕES REALIZADAS NA DENTINA. RESULTADO Os resultados encontrados no teste de microdureza Knoop estão representados na Tabela 2. Capítulo 3 66 Tabela 2 - Média e desvio-padrão da microdureza Knoop Grupos Intervalos CS Tratado Sadio PC Tratado Sadio BR Tratado Sadio inicial 45,5+17,42a 58,6+6,97 a 31,85+14,9c 58,19+4,33D 30,7+18,92E 52,2+2,68F 50μm 56,0+18,05a* 61,8+7,09a 38,00+18,64c 60,42+5,83D 34,7+20,17 E* 54,2+2,09F 100μm 60,8+16,60a 65,9+7,33a 45,02+19,46c 65,34+7,32D 39,1+19,44E 57,2+3,39E 150μm 64,0+14,45 a 67,3+6,98a 50,64+18,80c 68,24+6,72c 44,8+18,79E 60,6+2,06E 200μm 65,4+12,77a 70,4+5,94a 56,65+18,00c 70,60+6,16 c 48,5+17,61E 64,4+2,50E 300μm 69,9+10,03a 70,9+5,76a 62,14+16,39c 73,38+5,90 c 52,3+15,53E 65,8+3,60E 400μm 71,8+11,06a 71,9+6,79a 65,28+13,66c 73,45+5,77 c 60,1+10,63E 67,5+3,07E 500μm 72,0+8,22a 73,9+10,14a 72,05+13,12c 77,14+5,29c 67,4+7,33E 69,7+4,49E letras diferentes = diferença estatística entre grupo tratado e sadio * = diferença estatística no mesmo intervalo entre os grupos Devido a grande variabilidade dos dados, foi aplicado o teste não paramétrico de Kruskal-Wallis ao nível de significância de 5%. A análise dos dados demonstrou diferença estatisticamente significante entre a dureza do tecido cariado remanescente e seu controle hígido apenas nas medidas realizadas a partir do assoalho cavitário (inicial) até 100μm no grupo PC e até 50μm no grupo BR. Pelo teste de Kruskal-Wallis e teste complementar de Dunn a 5%, comparando os valores de dureza obtidos nos 3 grupos controle houve diferença estatística entre os valores das medidas iniciais e de 50μm com aqueles obtidos nas distâncias de 400μm e 500μm. Quando foi realizada a comparação entre os valores de cada medida dentro do mesmo grupo tratado, não foi observada diferença estatística no grupo CS. Diferença estatisticamente significante foi observada no grupo PC entre a medida inicial e as finais (400 e 500μm) e no grupo BR entre as medidas iniciais (0 e 50μm) e final (500μm). Capítulo 3 67 Com relação aos grupos tratados no mesmo intervalo foi observada diferença estatisticamente significante apenas entre os grupos BR e CS no intervalo de 50μm. DISCUSSÃO A dureza da dentina varia em função do seu conteúdo mineral3,8. Devido à desmineralização que ocorre durante o desenvolvimento da cárie dentária, há uma considerável redução do conteúdo mineral e conseqüentemente um decréscimo das propriedades mecânicas do tecido dentário remanescente2-3,5,18, o que explica os menores valores iniciais de microdureza encontrados nos grupos tratados. Neste estudo foram selecionados molares decíduos por serem os dentes mais propensos à doença cárie28. O fato das lesões de cárie serem naturais não permitiu a padronização de todas as variáveis de interferência como: tamanho, forma e atividade da lesão. Entretanto, foi utilizada a dentina adjacente sadia do lado oposto como grupo controle de cada dente. O teste de dureza Knoop é amplamente utilizado para avaliação in vitro da dureza da dentina12,19,26,30 por ser capaz de fornecer valores de dureza para áreas pequenas4. Neste estudo foi realizado a partir da base da cavidade e a distância entre as indentações foi de 100μm para compensar as variações existentes entre locais próximos e evitar interferências de uma penetração sobre a outra12. Na dentina cariada, a dureza depende da idade da lesão e do estágio de progressão. As lesões ativas tendem a ser amolecidas enquanto que as lesões Capítulo 3 68 crônicas tendem a se tornar duras com o tempo, provavelmente por causa do processo de remineralização30. Fusayama et al.15 relataram que o valor médio de microdureza da dentina hígida de dentes permanentes é de 70KHN. Enquanto a lesão de cárie crônica apresenta valores entre 61 – 68 KHN e a lesão de cárie aguda apresenta 4,3 – 17 KHN. Existem diversos estudos que avaliaram a microdureza em dentes permanentes e encontraram na dentina hígida valores que variam de 51,39 a 70 KHN e na dentina cariada ou após sua remoção valores entre 10,64 a 68 KHN6,8,14,19,23, o que demonstra a grande variabilidade entre a dentina sadia e cariada. A variação dos valores de microdureza observados neste estudo indica a heterogeneidade da dentina remanescente12. Na dentina sadia observou-se um aumento nos valores da microdureza a partir da junção amelo-dentinária até a distância de 500μm. De acordo com Craig, Peyton13 a mudança na orientação e densidade dos túbulos da junção amelo- dentinária para a interface pulpar tem um importante papel nas diferenças de dureza encontrada entre as áreas de dentina sadia. Hosoya et al.18 (2000), quando avaliaram a microdureza Knoop na dentina hígida de dentes decíduos, encontram valores de 55,4+17,9, 49+9,8 e 30,3+11,2 nas profundidades de 1/3 externo, médio e interno, respectivamente. Ao compararem a microdureza da dentina cariada com a hígida de dentes decíduos, encontraram diferenças significativas, independente da profundidade (terço externo, médio e interno). Capítulo 3 69 A microdureza pode variar em função das diversas regiões de um mesmo dente, não havendo um padrão estabelecido13. Alguns autores relataram aumento ou diminuição, dependendo da região analisada12,16,18,29, o que torna difícil a comparação dos resultados. No presente estudo somente foi observada diferença estatística quando o tecido cariado foi removido pelo Papacárie® da medida inicial até a medida realizada a 100μm e até 50μm no grupo onde a broca foi o instrumento utilizado. Esta diferença pode ser explicada pela variedade dos dentes, que apresentam diferentes superfícies dentárias e extensões da lesão de cárie23. Embora a literatura indique que os valores de microdureza na dentina remanescente após a remoção do tecido cariado são inferiores àqueles da dentina sadia8,14,16,18,20, os valores de microdureza da dentina tratada com Carisolv™ foi similar à dentina sadia, semelhante ao resultado reportado por Hossain et al.19 (2003), que utilizaram dentes permanentes. Estes resultados confirmam o fato do Carisolv™ não agir sobre o tecido dentinário remanescente ao redor da cavidade. Fluckiger et al.14 (2005), quando avaliaram a microdureza Knoop da dentina de molares decíduos cariados após o uso do Carisolv™ e do instrumento manual encontraram valores similares de microdureza após remoção químico- mecânica e mecânica. Entretanto, no estudo de Phabakar et al.28 (2009), que utilizaram a microdureza Vicker’s, observaram valores médios estatisticamente menores no grupo do Carisolv™ comparado ao grupo da escavação manual. Esta diferença pode ser devido a metodologia utilizada na obtenção da dureza ou no critério utilizado na remoção do tecido cariado. Capítulo 3 70 Os valores de microdureza se elevaram em função da distância da base no grupo do Papacárie® e do Carisolv™, da cavidade, semelhante aos resultados encontrados por Corrêa et al.12 (2007). No entanto, os valores de microdureza obtidos foram superiores e esta diferença pode ser devido ao fato dos dentes utilizados serem incisivos centrais decíduos, e além disso, a carga utilizada ter sido diferente no grupo tratado e sadio. Os valores de microdureza do grupo BR foram semelhantes aos reportados por Hossain et al.19 (2003) quando avaliaram a microdureza da dentina remanescente de dentes permanentes após a remoção do tecido cariado com a broca e encontraram valores de 53,50+3,65 KHN. CONCLUSÃO A microdureza da dentina após a remoção do tecido cariado foi semelhante independente do método utilizado na sua remoção, exceto na distância de 50μm, onde houve diferença estatisticamente diferente entre o grupo do Carisolv™ e o da broca. REFERÊNCIAS 1. Ammari MM, Moliterno LFM. Remoção químico-mecânica da cárie: evidências atuais. Rev Bras Odontol. 2005; 62: 125-7. 2. Angker L, Nockolds C, Swain MV, Kilpatrick N. Correlating the mechanical properties to the mineral content of carious dentine – a comparative study using an ultra-micro indentation system (UMIS) and SEM-BSE signals. Arch Oral Biol. 2004; 49: 369-78. Capítulo 3 71 3. Angker L, Swain MV, Kilpatrick N. Micro-mechanical characterisation of the properties of primary tooth dentine. J Dent. 2003; 31: 261-7. 4. Anusavice KJ. Philips – Materiais Dentários. 11a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2005. 800p. 5. Banerjee A, Boyde A. 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Dureza da dentina após remoção de cárie: avaliação de diferentes métodos. Rev Fac Odontol Univ Passo Fundo. 2003; 8: 56-61. 30. Sakoolnamarka R, Burrow MF, Swain M, Tyas MJ. Microhardness and Ca:P ratio of carious and Carisolv treated caries-affected dentine using an ultra- micro-indentation system and energy dipersive analysis of x-rays – a pilot study. Aust Dent J. 2005; 50: 246-50. 31. Splieth C, Rosin M, Gellissen B. Determination of residual dentine caries after conventional mechanical and chemomechanical caries removal with Carisolv. Clin Oral Investig. 2001; 5: 250-3. 32. Strawn SE, White JM, Marshall GW, Gee L, Goodis HE, Marshall SJ. Spectroscopic changes in human dentine exposed to various storage solutions- short term. J Dent. 1996; 24: 417-23. 33. Zheng L, Hilton JF, Habelitz S, Marshall SJ, Marshall GW. Dentin caries activity status related to hardness and elasticity. Eur J Oral Sci. 2003; 111: 243-52. Considerações finais O tratamento da cárie dentária vem sendo abordado de forma mais conservadora, devendo-se remover apenas a camada de dentina infectada (Mendonça et al.34, 2002). Os clínicos sempre tiveram dificuldades em distinguir as camadas de dentina cariada e determinar o quanto deve ser removido. Historicamente, os critérios clínicos mais utilizados são a coloração e a resistência ao corte (Fusayama22, 1979, Kidd et al.29, 1996; Yip et al.46, 1995). Entretanto, estes critérios são subjetivos e variam de acordo com cada profissional. Neste estudo, o conjunto de análises procurou evidências científicas para responder a pergunta: “quando interromper a remoção do tecido cariado dentinário e quais critérios clínicos podem auxiliar o Cirurgião-dentista a tomar esta decisão?”. O método químico-mecânico mostrou-se mais conservador na remoção do tecido cariado e os dois materiais testados (Carisolv™ e Papacárie®) apresentaram comportamento semelhante. Entretanto, a broca convencional foi o método mais efetivo. Os resultados deste trabalho não respondem claramente à pergunta formulada, mas fornece ao clínico informações importantes para que ele possa refletir a respeito de sua prática, optando por um dos métodos de remoção do tecido cariado. REFERÊNCIAS* 1. Ammari MM, Moliterno LFM. Remoção químico-mecânica da cárie: evidências atuais. Rev Bras Odontol. 2005; 62: 125-7. 2. Angker L, Nockolds C, Swain MV, Kilpatrick N. Correlating the mechanical properties to the mineral content of carious dentine – a comparative study using an ultra-micro indentation system (UMIS) and SEM-BSE signals. Arch Oral Biol. 2004;49: 369-78. 3. Anusavice KJ, Kincheloe JE. Comparison of pain associated with mechanical and chemomechanical removal of caries. J Dent Res. 1987; 66: 1680-3. 4. Arvidsson A, Liedberg B, Möller K, Lyvén B, Sellén A, Wennerberg A. Chemical and topographical analyses of dentine surfaces after Carisolv treatment. 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