UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE ENGENHARIA DE BAURU NATALIA MARTIN VIOLA PRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO FÍSICA E MECÂNICA DE COMPÓSITO PLÁSTICO-MADEIRA Bauru 2012 NATALIA MARTIN VIOLA PRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO FÍSICA E MECÂNICA DE COMPÓSITO PLÁSTICO-MADEIRA Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Engenharia de Produção da Faculdade de Engenharia de Bauru – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, como requisito à obtenção do título de Mestre em Engenharia de Produção. Orientador: Profª. Drª. Rosane Aparecida Gomes Battistelle. Co-orientador: Prof. Dr. Ivaldo De Domênico Valarelli. Bauru 2012 Viola, Natalia Martin. Caracterização física e mecânica de compósito plástico-madeira / Natalia Martin Viola, 2012 140 f.:Il. Orientador: Rosane Aparecida Gomes Battistelle Dissertação (Mestrado)–Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Engenharia, Bauru, 2012 1. Polipropileno. 2. Madeira. 3. Extrusão. 4. Injeção. 5. WPC. I. Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Engenharia. II. Título. Dedico este trabalho ao meu esposo Rogers, pelo incentivo e dedicação. Aos meus pais, por sempre estarem acreditando e pela compreensão da minha ausência. AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer a minha orientadora, a Prof. Dra. Rosane Aparecida Gomes Battistelle, pela orientação, pela oportunidade de amizade, companheirismo e incentivo; Agradeço também ao meu co-orientador, Prof. Dr. Ivaldo De Domênico Valarelli pelas valiosas contribuições, apoio e pela confiança; À UNESP em especial ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Faculdade de Engenharia de Bauru; Ao Prof. Dr. Adilson Renófio, docente da Faculdade de Engenharia de Bauru – UNESP, pelos conselhos e apoio a essa pesquisa; Agradeço ao Prof. Dr. Tomás Queiroz F. Barata, docente do Departamento de Design da FAAC – UNESP pelo incentivo, e valiosa contribuição à minha pesquisa. Ao Sr. Sebastião Pereira da Silva, por ceder o material plástico reciclado utilizado nesta pesquisa e pelo grande exemplo de vida; À empresa Pinhopó Moagem de Madeira, da cidade de Ponta Grossa-PR, por ter cedido a farinha de madeira e pelo incentivo à pesquisa; Ao Prof. Dr. José Augusto Marcondes Agnelli, docente da Universidade Federal de São Carlos-UFSCar, pela grande ajuda na confecção dos compósitos e testes laboratoriais e pelo apoio dado aos pesquisadores; Aos colegas Susan, Osvaldo e Sr. Elias, funcionários do Laboratório de BIOCycle – UFSCar, pela ajuda na produção dos compósitos, dos corpos de prova e ensaios laboratoriais. A ajuda de vocês foi imprescindível! Ao Prof. Dr. Carlos Roberto Grandini, Fabio Bossoi Vicente, José Roberto, Allan e Thiago do Laboratório de Anelasticidade e Biomateriais da Faculdade de Ciências da UNESP de Bauru; Ao Sidney Carlos Rigo Junior, do Centro de Divulgação Científica e Cultural – CDCC da USP em São Carlos pela injeção dos produtos em wpc; Aos colegas de mestrado Natasha e Edvaldo, pelo grande apoio e amizade; À Letícia de Marchi, pelo companheirismo demonstrado durante os ensaios de laboratório; Ao colega de trabalho Paulo César Santineli, pelo incentivo e apoio nos momentos difíceis; Ao Departamento de Design da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da UNESP de Bauru, pelo apoio demonstrado e concessão dos afastamentos para cursar o programa, os quais foram importantes para a conclusão da pesquisa; À amiga Rosana Pereira Cardoso, pela amizade, incentivo, carinho e apoio nos momentos difíceis; Agradeço a minha família pela confiança a mim depositada. Amo todos vocês! “Descobri como é bom chegar quando se tem paciência. E para se chegar, onde quer que seja, aprendi que não é preciso dominar a força, mas a razão. É preciso, antes de tudo, querer”. (Amyr Klink) RESUMO O objetivo deste estudo foi produzir compósitos plástico-madeira (wpc) com farinha de madeira e o polímero de polipropileno reciclado, e a confecção de corpos de prova por meio do processo de injeção, para realizar as análises laboratoriais. O estudo resultou em quatro formulações para o compósito, sendo a matriz polimérica, no caso o polipropileno reciclado com adição de 10%, 20% e 30% de farinha de madeira composta pela mistura do Pinus taeda e Pinus elliotti, mais uma composição com 100% polipropileno reciclado. A avaliação do compósito plástico- madeira foi realizada através de ensaios dos corpos de prova injetados. Os resultados dos ensaios mostraram a possibilidade de utilização da farinha de madeira para a produção de compósitos plástico-madeira, já que esta apresenta uma granulometria fina e, considerando que há pouco consumo para o material, são muitas vezes descartados na natureza. Também foi possível a utilização do polipropileno reciclado, constituindo assim, em mais uma vantagem de utilização dos resíduos de plásticos que poluem solo, rios e mares. O fato de não ter usado compatibilizante, é outra vantagem do estudo, pois este material apresenta forte influência no custo de produção, podendo inviabilizar o conceito da utilização de resíduos na sua composição. As composições do compósito com 30% de farinha de madeira mostraram o menor desvio padrão das composições, além de um resultado satisfatório no ensaio de impacto com 34,94J/m. Porém, o aumento no percentual de madeira pode diminuir a resistência à tração nos compósitos, pois, mesmo que a fibra de madeira in natura apresente em média um módulo de 30GPa, o compósito depende da resistência de um agregado formado de fibras e outros elementos celulares, sofrendo influência da dispersão das fibras na matriz polimérica e da adesão entre as fases. Palavras-chave: polipropileno, madeira, extrusão, injeção, wpc. ABSTRACT The aim of this study was to produce wood-plastic composites (wpc) with wood flour and polypropylene recycled polymer, and the making of specimens through the injection process, to perform the laboratory analyzes. The study resulted in four formulations for the composite, and the polymeric matrix, if recycled polypropylene with the addition of 10%, 20% and 30% of wood flour composed by mixing Pinus taeda and Pinus elliotii, over a composition with 100 % recycled polypropylene. The evaluation of wood-plastic composite was performed by testing the specimens injected. The test results showed the possibility of using wood flour for the production of wood-plastic composite, since it has a fine grain size, and considering that there is little material to consumption, are often disposed in nature. It was also possible to use recycled polypropylene and, thus, a further advantage in the use of plastic waste that pollutes the soil, rivers and seas. The fact of not having used compatibilizer, is another advantage of the study, because this material has a strong influence on the cost of production and may derail the concept of using waste in its composition. The compositions of the composite with 30% wood flour showed the lowest standard deviation of the compositions, and a satisfactory result in the impact test with 34.94 J/m. However, the increase in the percentage of wood can reduce the tensile strength in composites, because even if the wood fiber present in fresh medium one module 30GPa, the composite depends on the strength of an aggregate formed of fibers and other cellular elements , being influenced by fiber dispersion in the polymer matrix and the adhesion between the phases. Keywords: polypropylene, wood, extrusion, injection, wpc. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Fluxograma das ações necessárias para o desenvolvimento da pesquisa.......... 20 Figura 2 – Índice de qualidade de aterro de resíduos no Estado de São Paulo no ano de 1997....................................................................................................... 24 Figura 3 – Índice de qualidade de aterro de resíduos no Estado de São Paulo no ano de 2011....................................................................................................... 24 Figura 4 – Composição do lixo no Brasil. ............................................................................. 28 Figura 5 – Estimativa em R$, do custo de carga em compósitos no Reino Unido. ............... 33 Figura 6 – Vista de alguns itens produzidos pela empresa, em compósito plástico-madeira. ............................................................................................... 37 Figura 7 – Gráfico da previsão para aplicações de wpc´s, e compósitos de fibras naturais. ............................................................................................................. 38 Figura 8 – Mapa do desmatamento na Amazônia em 2012. ................................................ 42 Figura 9 – Classificação dos polímeros................................................................................ 46 Figura 10 – Classificação dos materiais de engenharia. ...................................................... 46 Figura 11 – Amostra de embalagens plásticas encontradas em praias brasileiras. .............. 47 Figura 12 – Aspecto inicial do polipropileno...........................................................................52 Figura 13 – Processo de lavagem do polímero .................................................................... 51 Figura 14 – Aspecto do polímero após ser lavado.................................................................52 Figura 15 – Estufa usada na secagem do material................................................................51 Figura 16 – Fluxograma das principais atividades desenvolvidas para o compósito plástico-madeira. ............................................................................................... 52 Figura 17 – Vista parcial da extrusora utilizada para a produção do compósito. .................. 54 Figura 18 – Pellets do compósito plástico-madeira em 30%, 20%, 10% FM e 100%PP, respectivamente. ................................................................................ 55 Figura 19 – Máquina Injetora utilizada para a produção do compósito. ................................ 57 Figura 20 – Conjunto de corpos de prova para teste de impacto e para teste de tração. ............................................................................................................... 58 Figura 21 – Conjunto de placas de 6cm2. ............................................................................ 58 Figura 22 – Corpos de prova separados individualmente. ................................................... 59 Figura 23 – Vista parcial da estufa utilizada. ........................................................................ 61 Figura 24 – Vista superior e dimensões em mm, do corpo de prova para o ensaio de tração. .......................................................................................................... 62 Figura 25 – Equipamento utilizado para o ensaio de tração. ................................................ 63 Figura 26 – Modelo e medidas do corpo de prova para o ensaio de impacto. ...................... 65 Figura 27 – Exemplo de máquina para o ensaio de impacto de pêndulo. ............................ 66 Figura 28 – Vista parcial da entalhadora usada para entalhar os corpos de prova conforme a ASTM D-256-00. ............................................................................. 67 Figura 29 – Exemplo do plastômetro utilizado no ensaio de índice de fluidez. ..................... 69 Figura 30 – Desenho esquemático de microscópio óptico. .................................................. 70 Figura 31 – Vista parcial do microscópio eletrônico de varredura. ....................................... 72 Figura 32 – Vista parcial das amostras do wpc no equipamento de ensaio de envelhecimento. ................................................................................................ 74 Figura 33 – Vista parcial do equipamento Wheater Ometer 2. ............................................ 75 Figura 34 – Processo feito para cortar os corpos de prova. ................................................. 77 Figura 35 – Corpos de prova imersos em água destilada e corpos de prova sendo pesados. ............................................................................................................ 78 Figura 36 – Gráfico da média dos valores de absorção de água. ........................................ 79 Figura 37 – Gráfico da média dos valores de inchamento em espessura. ........................... 81 Figura 38 – Teste de tração em corpos de prova com 30%FM. ........................................... 82 Figura 39 – Teste de tração em corpos de prova com 100%PP. ......................................... 83 Figura 40 – Curva Tensão vs Deformação em Tração – 10% de farinha de madeira........... 85 Figura 41 – Corpos de prova utilizados no ensaio de impacto. ............................................ 87 Figura 42 – Equipamento utilizado para o ensaio de impacto. ............................................. 88 Figura 43 – Micrografia do compósito de 10%FM em ampliações respectivas de 100x e 500x. ...................................................................................................... 92 Figura 44 – Micrografia do compósito de 20%FM em ampliações respectivas de 100x e 500x. ...................................................................................................... 92 Figura 45 – Micrografia do compósito de 30%FM em ampliações respectivas de 100x e 500x. ...................................................................................................... 92 Figura 46 – Micrografia do corpo de prova com 100%PP, em ampliação de 100x. .............. 93 Figura 47 – Amostra sendo preparada para o recebimento da camada de íons. ................. 94 Figura 48 – MEV do compósito de 10%FM em ampliação de 500x e 7.250x, respectivamente. ............................................................................................... 95 Figura 49 – MEV do compósito de 20%FM em ampliação de 500x e 7.250x, respectivamente. ............................................................................................... 95 Figura 50 – MEV do compósito de 30%FM em ampliação de 500x e 7.250x, respectivamente. ............................................................................................... 96 Figura 51 – Vista parcial das amostras do compósito no equipamento de envelhecimento artificial. ................................................................................... 98 Figura 52 – Vista parcial das amostras do compósito e de 100%PP, no equipamento de envelhecimento artificial. ............................................................................... 98 Figura 53 – Detalhe dos corpos de prova no equipamento de envelhecimento artificial. ..... 99 Figura 54 – Pesagem do compósito antes da produção do objeto. ................................... 100 Figura 55 – Vista parcial da injetora utilizada na produção do Tangram. .......................... 101 Figura 56 – Vista do material sendo expelido pelo bico injetor. ......................................... 102 Figura 57 – Vista do produto com rebarbas provenientes de problemas na injeção. ......... 103 Figura 58 – Vista das deformações superficiais do produto com o compósito de 30%FM. ........................................................................................................... 103 Figura 59 – Kit contendo produtos feitos com o compósito. ............................................... 105 Figura 60 – Curva Tensão vs Deformação em tração – 100%PP. ..................................... 120 Figura 61 – Curva Tensão vs Deformação em tração – 10%FM. ....................................... 121 Figura 62 – Curva Tensão vs Deformação em tração – 20%FM ........................................ 122 Figura 63 – Curva Tensão vs Deformação em tração – 30%FM. ....................................... 123 Figura 64 – Micrografia superficial em ampliação de 100x do corpo de prova de 10%FM+90%PP. ............................................................................................. 130 Figura 65 – Micrografia superficial em ampliação de 200x do corpo de prova de 10%FM+90%PP. ............................................................................................. 130 Figura 66 – Micrografia superficial em ampliação de 500x do corpo de prova de 10%FM+90%PP. ............................................................................................. 131 Figura 67 – Micrografia superficial em ampliação de 200x do corpo de prova de 20%FM+80%PP. ............................................................................................. 131 Figura 68 – Micrografia superficial em ampliação de 100x do corpo de prova de 20%FM+80%PP. ............................................................................................. 132 Figura 69 – Micrografia superficial em ampliação de 500x do corpo de prova de 20%FM+80%PP. ............................................................................................. 132 Figura 70 – Micrografia superficial em ampliação de 100x do corpo de prova de 30%FM+70%PP. ............................................................................................. 133 Figura 71 – Micrografia superficial em ampliação de 200x do corpo de prova de 30%FM+70%PP. ............................................................................................. 133 Figura 72 – Micrografia superficial em ampliação de 500x do corpo de prova de 30%FM+70%PP. ............................................................................................. 134 Figura 73 – Micrografia superficial em ampliação de 100x do corpo de prova de 100%PP. ......................................................................................................... 134 Figura 74 – Micrografia superficial em ampliação de 100x da borda do corpo de prova de 100%PP. ........................................................................................... 135 Figura 75 – MEV em ampliação de 3.000x do corpo de prova de 10%FM. ........................ 137 Figura 76 – MEV em ampliação de 2.550x do corpo de prova de 10%FM. ........................ 137 Figura 77 – MEV em ampliação de 3.000x do corpo de prova de 20%FM. ........................ 138 Figura 78 – MEV em ampliação de 3.000x do corpo de prova de 30%FM. ........................ 138 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Aplicações para o wpc. ...................................................................................... 34 Tabela 2 – Valores de densidade e resistência à flexão de alguns compósitos. .................. 36 Tabela 3 – Proporção de elementos celulares que compõem a madeira. ............................ 40 Tabela 4 – Evolução do uso de elementos estruturais pelo homem. .................................... 44 Tabela 5 – Formulações para produção do compósito. ........................................................ 53 Tabela 6 – Programação da extrusora para todas as formulações do compósito. ............... 55 Tabela 7 – Programação da injetora para a confecção do conjunto tipo Charpy. ................. 56 Tabela 8 – Programação da injetora para a confecção do conjunto de placas. .................... 57 Tabela 9 – Média dos valores obtidos pelo teste de absorção de água (em percentual). ..... 78 Tabela 10 – Média dos valores obtidos pelo teste de inchamento em espessura (em milímetros). ........................................................................................................ 80 Tabela 11 – Média dos resultados obtidos para o teste de tração........................................ 83 Tabela 12 – Desvio Padrão dos resultados para o teste de tração. ..................................... 84 Tabela 13 – Resultados da resistência ao impacto para as quatro formulações. ................. 89 Tabela 14 – Resultados ensaio Índice de Fluidez ................................................................ 90 Tabela 15 – Condições do ensaio de envelhecimento artificial acelerado ........................... 97 Tabela 16 – Quantidade de objetos produzidos para cada Kg de compósito. .................... 104 Tabela 17 – Resumo dos dados obtidos nos ensaios físicos e mecânicos. ....................... 107 Tabela 18 – Média dos valores obtidos pelo teste de absorção de água (em gramas). ..... 118 Tabela 19 – Média dos valores obtidos pelo teste de inchamento em espessura (em milímetros). ...................................................................................................... 118 Tabela 20 – Resultados do ensaio de tração para 100%PP. ............................................. 120 Tabela 21 – Resultados do ensaio de tração para 10%FM. ............................................... 121 Tabela 22 – Resultados do ensaio de tração para 20%FM. ............................................... 122 Tabela 23 – Resultados do ensaio de tração para 30%FM. ............................................... 123 Tabela 24 – Resultados do ensaio de impacto para 100%PP. ........................................... 125 Tabela 25 – Resultados do desvio padrão no ensaio de impacto para 100%PP. ............... 125 Tabela 26 – Resultados do ensaio de impacto para 10%FM. ............................................ 126 Tabela 27 – Resultados do desvio padrão no ensaio de impacto para 10%FM. ................ 126 Tabela 28 – Resultados do ensaio de impacto para 20%FM. ............................................ 127 Tabela 29 – Resultados do desvio padrão no ensaio de impacto para 20%FM. ................ 127 Tabela 30 – Resultados do ensaio de impacto para 30%FM. ............................................ 128 Tabela 31 – Resultados do desvio padrão no ensaio de impacto para 30%FM. ................ 128 ÍNDICE 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 14 1.1 Objetivos .......................................................................................................... 16 1.2 Justificativa ...................................................................................................... 17 1.3 Estrutura e limites da pesquisa ...................................................................... 19 2 REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................. 21 2.1 Resíduos sólidos ............................................................................................. 21 2.2 Coleta Seletiva ................................................................................................. 26 2.3 Compósitos ...................................................................................................... 30 2.3.1 Compósito plástico-madeira ..................................................................... 32 2.4 Utilização da Madeira ...................................................................................... 39 2.5 Utilização dos Plásticos .................................................................................. 43 3 MATERIAL E MÉTODO .......................................................................................... 49 3.1 Materiais ........................................................................................................... 49 Farinha de madeira .............................................................................................. 50 Polipropileno ........................................................................................................ 50 3.2 Métodos ............................................................................................................ 52 3.2.1 Método do processo de extrusão do wpc ................................................. 54 3.2.2 Método do processo de injeção do wpc ................................................... 56 3.2.3 Metodologia para o ensaio de absorção de água e inchamento em espessura, norma ASTM D-570-98 .......................................................... 59 3.2.4 Metodologia para o ensaio de propriedades de tração, norma ASTM D-638-10 ....................................................................................... 61 3.2.5 Metodologia para o ensaio de determinação da resistência ao impacto, norma ASTM D-256-00 .............................................................. 64 3.2.6 Método do ensaio de índice de fluidez, norma ASTM D-1238-10 ............ 68 3.2.7 Método da micrografia de superfície ........................................................ 70 3.2.8 Método da microscopia eletrônica de varredura ....................................... 71 4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .................................................... 76 4.1 Resultados do ensaio de absorção de água e inchamento em espessura ....................................................................................................... 76 4.1.1 Absorção de água .................................................................................... 76 4.1.2 Inchamento em espessura ....................................................................... 80 4.2 Resultados do ensaio de tração ..................................................................... 81 4.3 Resultados do ensaio de impacto por pêndulo ............................................ 86 4.4 Resultados do ensaio de índice de fluidez .................................................... 90 4.5 Resultados da micrografia de superfície ....................................................... 91 4.6 Resultados da microscopia eletrônica de varredura (MEV) ........................ 94 4.7 Resultados do Ensaio de Envelhecimento Artificial por Radiação Ultravioleta (UV) .............................................................................................. 97 5 APLICAÇÃO DO WPC ........................................................................................ 100 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 106 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 110 ANEXOS.... ............................................................................................................. 116 ANEXO 1RELAÇÃO DOS RESULTADOS OBTIDOS NO ENSAIO DE ABSORÇÃO DE ÁGUA E INCHAMENTO EM ESPESSURA. .................................. 117 ANEXO 2RELAÇÃO DOS RESULTADOS DO ENSAIO DE TRAÇÃO. ................ 119 ANEXO 3RELAÇÃO DOS RESULTADOS DO ENSAIO DE IMPACTO ................ 124 ANEXO 4RELAÇÃO DOS RESULTADOS DA MICROGRAFIA DE SUPERFÍCIE. ............................................................................................................. 129 ANEXO 5RELAÇÃO DOS RESULTADOS DA MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA. ....................................................... 136 14 Introdução 1 INTRODUÇÃO A Revolução Industrial trouxe diversas mudanças no modo de pensamento e produção das sociedades, e principalmente no modo industrial de produzir mercadorias. O conhecimento gera produção que, consequentemente gera novos conhecimentos, desenvolvimento e novas tecnologias, porém, também se geram resíduos e surgem novos problemas (ORTIGOZA e CORTEZ, 2009). Aumentos descontrolados nas demandas e no uso de reservas naturais, trazendo consequências desastrosas ao planeta emergiram com o desenvolvimento das tecnologias modernas. Desequilíbrio de ecossistemas e desastres ambientais tem despertado um grande interesse de cientistas e da sociedade em geral, pois seus efeitos globais já são associados à forma destrutiva de ação do ser humano sobre a natureza (MARINELLI, et al. 2008). Alguns materiais extraídos da natureza se tornam resíduos industriais devido à má utilização e sobras do processo industrial, podendo ser descartados no meio ambiente ou utilizados pela mesma indústria ou ainda, enviados a alguma outra indústria através de intercâmbio de resíduos. Existem três alternativas para o material descartado – reutilização, reciclagem e descarte. Na reutilização, os produtos são usados novamente para a mesma finalidade ou podem ser colocados para um segundo uso. A reutilização amplia a vida do produto original reduzindo os resíduos. Por outro lado, a reciclagem envolve a coleta dos resíduos e processamento em novos produtos, seguindo para o descarte, quando não há possibilidade de nenhuma das soluções anteriores (VESILIND e MORGAN, 2011). Apesar dos esforços que estão sendo feitos pelas indústrias para a reciclagem de resíduos, eles ainda tem pouco valor agregado. É contraditório o consumo da madeira que, para a fabricação de móveis e utilização na construção civil são usadas madeiras nobres e as suas sobras levadas para a incineração. A madeira virgem tem grande valor estético, mas as suas sobras perdem valor. As sobras da madeira ainda são pouco utilizadas como matéria prima na fabricação de novos produtos, porém existem possibilidades de reaproveitamento dos resíduos de 15 Introdução madeira de modo que sua utilização agregue um valor estético, econômico e que tenha utilidade para a sociedade, possibilitando assim maiores cuidados com o meio ambiente. A ecologia industrial traz conceitos de reaproveitamento destes resíduos procurando o aproveitamento deste material e agregando um novo valor a ele (MANZINI e VEZZOLI, 2008). Teixeira (2005) desenvolveu um compósito baseado em conceitos de ecologia industrial e eco-design que procura atender os requisitos ambientais e atuando no ciclo de vida de um produto. O compósito ecológico elaborado a partir de resíduo de indústrias madeireiras mostrou ter boas propriedades físicas e mecânicas. Wang e Morrel (2003) realizou estudos de absorção de água pelo compósito plástico-madeira e constatou que a absorção de água no compósito depende do tamanho e geometria das partículas de madeira e da presença de outros compósitos repelentes a água. Mas na maioria das formulações, o wpc apresenta menor absorção de água quando comparada com a madeira maciça, devido ao fato de conter polímeros que são repelentes por natureza. Outra vantagem do wpc é a sua composição, onde são elaborados a partir de resíduos e materiais reciclados e também são recicláveis no final de sua vida útil (WINANDY et al., 2004). Segundo Savastano (2000), um material deixa de ser resíduo através de sua valorização como matéria prima na obtenção de novos produtos. Do ponto de vista do produtor, onde o resíduo passa a ser tratado como subproduto do processo produtivo, esta é uma ótima alternativa de negócios, onde ele deixará de se preocupar com os resíduos, como rejeito, e passará a tratá-lo como matéria prima, produzindo produtos a custos mais baixos ou gerando renda extra na venda dos mesmos. Considerando estas questões acima, levanta-se o seguinte problema: é possível a produção do compósito plástico-madeira sem a utilização de aditivos ou compatibilizantes? 16 Introdução O presente trabalho tem por objetivo a produção do compósito plástico- madeira em diferentes traços, além de apresentar suas características com base nos ensaios de tração, absorção de água, inchamento em espessura, impacto, índice de fluidez, envelhecimento, micrografia de superfície, microscopia eletrônica de varredura e análise química do polímero, também busca sugerir aplicações para o material. O objetivo do trabalho é de buscar conceitos e aplicações compatíveis que tornem o produto realmente eco-eficiente, e que garanta não somente sua qualidade técnica, como também seu bom desempenho ambiental. 1.1 Objetivos O objetivo principal da presente pesquisa é produzir wpc empregando quatro traços entre polipropileno e farinha de madeira Pinnus com a utilização do polímero de origem reciclada, e não está previsto o uso de agentes compatibilizantes para a produção do wpc; Como objetivos secundários, deseja-se: a) Analisar em laboratório os parâmetros físicos e mecânicos do material obtido através de ensaios laboratoriais de acordo com as normas ASTM D- 570-98, ASTM D-638-10, ASTM D1238-10, ASTM G-155-05 e ASTM D- 256-00, visando apresentar os resultados a fim de contribuir para o desenvolvimento de novas tecnologias na fabricação de novos produtos; b) Caracterizar o compósito e comparar os resultados obtidos com diferentes compósitos já pesquisados por outros pesquisadores; c) Produzir um produto, através do processo de injeção, para visualizar a aplicação do wpc. 17 Introdução 1.2 Justificativa O meio ambiente é um tema atual que faz parte do vocabulário de políticos, da imprensa, das ONGs, líderes sindicais e dos cidadãos de um modo geral. No âmbito empresarial, a preocupação com o meio ambiente ainda é recente, embora não faltem empresas que buscaram práticas ambientalmente saudáveis quando o assunto ainda estava começando a despertar interesse fora dos círculos restritos de especialistas. Porém, para a maioria das empresas, essa preocupação ainda não se transformou em práticas administrativas efetivas (BARBIERI, 2007). A América do Sul sofreu a maior perda em volume de florestas entre os anos de 2000 e 2010. Ao todo, a região perdeu quatro milhões de hectares ao ano, sendo a principal causa, os desmatamentos das florestas nativas no Brasil. Em contrapartida, as taxas de desmatamento estão diminuindo neste início de década baseadas no aumento do número de novos plantios, como reflorestamentos. Nos anos 1990, o planeta perdeu 8,3 milhões de hectares por ano. Nesta década, a redução na área de florestas mundiais caiu para 5,2 milhões de hectares por ano representando cerca de 40% no desmatamento (REMADE, 2011). O processo de reciclagem pode auxiliar na preservação do meio ambiente, que se apresenta com uma importância muito relevante durante o desenvolvimento de um projeto que contemple o baixo impacto ambiental e que considere o ciclo de vida dos materiais contidos nos produtos. Nem todos os materiais são reciclados do mesmo modo que os outros, pois as características dos materiais reciclados podem ser diferentes das dos materiais virgens. Os polímeros termoplásticos são recicláveis termicamente, mas perdem parte das suas propriedades (MANZINI e VEZZOLI, 2008). A reciclagem, ou recuperação do material envolve a coleta dos resíduos e o seu processamento em novos produtos, como por exemplo, transformar embalagens plásticas em bancos de jardim ou roupas, converter latas de alumínio usadas em novas. Os fabricantes podem aprimorar a viabilidade da reciclagem e recuperação 18 Introdução dos materiais ao produzirem produtos simples e baratos de recuperar ou reciclar (VESILIND e MORGAN, 2011). Mediante as premissas expostas, houve o interesse do estudo pelo reaproveitamento de resíduos de madeira e plástico para produção do wpc. O resíduo de madeira, objeto de estudo desta pesquisa, é oriundo de recursos florestais, sendo que desta forma, sua utilização deste resíduo como matéria prima para novos produtos auxilia na preservação dos recursos naturais, diminuindo o desmatamento das florestas. Tais resíduos apresentam-se em grande volume, tendo origem em processos de pré-uso como em indústrias de chapas e móveis, além dos processos de pós-uso, como a destinação de móveis e utilidades domésticas já usados, que estimulam o desenvolvimento de pesquisas de aproveitamento dos mesmos resíduos em outros processos produtivos. Os polímeros são largamente utilizados em embalagens, como nos copos plásticos e outros materiais descartados diariamente, cuja decomposição leva-se décadas, chegando aos cursos dos rios e mares, além de poluir o solo durante este tempo de decomposição. A fabricação do compósito plástico-madeira ajudaria a reduzir a quantidade de material plástico descartado, aumentando assim seu tempo de vida útil. O polímero utilizado no compósito age contra o ataque dos fungos e parasitas da madeira, além de ser um ótimo repelente à água, promovendo durabilidade para o material. Este estudo procura utilizar os conceitos da ecologia industrial, que apresentam alguns requisitos para a concepção de novos materiais, levando em consideração as necessidades tanto do ser humano quanto do meio ambiente, de forma a reduzir os impactos ambientais. Também leva em consideração o princípio tecnológico do wpc que oferece alternativa para o aproveitamento dos resíduos de madeira e plásticos como matéria prima na fabricação de novos produtos. 19 Introdução 1.3 Estrutura e limites da pesquisa Esta pesquisa está classificada de acordo com sua natureza como pesquisa aplicada, pois objetiva a geração de novos conhecimentos para aplicação prática e dirigida para a solução de problemas específicos. Com abordagem do problema de forma quantitativa, pois se constitui como dados quantitativos os valores colhidos no ambiente de pesquisa, tais como resultados de testes físicos e mecânicos do compósito. Do ponto de vista dos procedimentos técnicos, pode ser classificada em pesquisa bibliográfica, por utilizar de materiais já publicados, tais como livros, artigos de periódicos e material disponibilizado em sites específicos. Também pode ser definida como pesquisa experimental, pois determinou-se um objeto de estudo, submetendo-o a investigação e analisando-o em suas características físicas e mecânicas (GIL, 1999; SILVA e MENEZES, 2005). A abordagem metodológica será dividida em cinco etapas: 1ª Etapa: Definir e preparar o material a ser utilizado; 2ª Etapa: Desenvolver, em laboratório, o compósito em quatro traços distintos, com percentuais de madeira em 10%, 20% e 30% e polipropileno em 70%, 80%, 90% e 100%. 3ª Etapa: Processar, em laboratório, o compósito desenvolvido, moldando três modelos de corpos de prova para cada traço; 4ª Etapa: Realizar os testes de acordo com as normas ASTM D-638-10, ASTM D-256-00, ASTM D-570-98 e ASTM D-1238-10 nos corpos de prova moldados. 5ª Etapa: Descrever as características do wpc, de acordo com os resultados dos testes laboratoriais, comparando-os com compósitos já pesquisados por outros autores. Pode-se verificar o esquema estabelecido para o desenvolvimento do trabalho, na Figura 1. 20 Introdução Figura 1 – Fluxograma das ações necessárias para o desenvolvimento da pesquisa. 21 Revisão de Literatura 2 REVISÃO DE LITERATURA A pesquisa bibliográfica está restrita aos principais conceitos correlacionados ao tema compósito plástico-madeira, e sua contribuição ambiental, além das possíveis aplicações para o material. 2.1 Resíduos sólidos Na sociedade atual de consumo, os valores e a posição social de um indivíduo podem ser influenciados pela quantidade de bens que ele possui. É este consumo que faz aflorar o sentimento de pertencer a um determinado grupo, cujos parâmetros definem o envolvimento nas redes sociais. O consumismo pode ser considerado um símbolo das economias capitalistas, com fartura em bens de consumo, e que pode ser um dos principais problemas das sociedades industriais modernas. Este padrão de consumo é ambientalmente insustentável (ORTIGOZA e CORTEZ, 2009). O consumo desenfreado pode causar aumento significativo na geração de resíduos, um grande problema, principalmente para a correta destinação dos mesmos, que normalmente acabam em lixões, muitas vezes ilegais, aumentando a poluição do meio ambiente. No Brasil, o serviço de limpeza urbana foi iniciado oficialmente em 25 de novembro de 1880, na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, capital do Império nesta data. O Imperador D. Pedro II assinou o Decreto nº 3024, aprovando o contrato de "limpeza e irrigação" da cidade, que foi executado por Aleixo Gary de 22 Revisão de Literatura cujo sobrenome origina-se a palavra gari, que hoje se denomina os trabalhadores da limpeza urbana em muitas cidades brasileiras (MONTEIRO et al., 2001). Segundo a NBR 10004:2004, os resíduos sólidos podem ser de origem industrial, hospitalar, agrícola, comercial, doméstica, de serviços e de varrição. São classificados como resíduos no estado sólido ou semi-sólido, sendo que também estão incluídos nestas características o lodo proveniente de sistemas de tratamento de água, os gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição e alguns líquidos cujas particularidades tornem inviável seu lançamento na rede pública de esgoto ou exijam soluções técnicas e economicamente inviáveis (ABNT, 2004). Segundo o Programa Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), resíduo sólido é definido como: “Material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnicas ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível”. (BRASIL, 2010). De acordo com o Fundo de População das Nações Unidas (2011), o Brasil tem cerca de 90% da população vivendo em áreas urbanas, com um total da população em 196,7 milhões, porém as infraestruturas e os serviços não acompanharam o ritmo do crescimento das cidades. Se os resíduos sólidos forem descartados incorretamente, podem ocorrer danos, quer seja em relação à saúde pública e à qualidade ambiental, os aspectos estéticos ou de turismo. Os resíduos sólidos urbanos são geralmente lançados em aterros sanitários, e muitas vezes, materiais que poderiam ser reciclados estão misturados com matéria orgânica, impossibilitando a sua identificação e separação. A NBR 10004:2004 classifica os resíduos sólidos em: - Classe I – Perigosos: resíduos que, em função de suas propriedades físicas, químicas ou infecto-contagiosas, podem apresentar: 23 Revisão de Literatura a) riscos à saúde pública, provocando mortalidade, incidência de doenças ou acentuando seus índices; b) riscos ao meio ambiente, quando o resíduo for gerenciado de forma inadequada caracterizando-se por possuir uma ou mais das seguintes propriedades: inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade ou patogenidade. - Classe II – Não perigoso: esses resíduos subdividem em resíduos de classe IIA (não inertes) e resíduos classe IIB (inerte). Como resíduo de restaurante (restos de alimentos), resíduo de madeira, sucata de metais ferrosos, resíduo de materiais têxteis, sucata de metais não ferrosos (latão etc.), resíduos de minerais não- metálicos, resíduo de papel e papelão, areia de fundição, resíduos de plástico polimerizado, bagaço de cana, resíduos de borracha e outros resíduos não perigosos. - Classe II A – Não Inerte: são aqueles que não se enquadram nas classificações de resíduos classe I – Perigosos ou de resíduos classe II B – Inertes. Esses resíduos podem ter propriedades de biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água. - Classe II B – Inerte: não tenham nenhum de seus constituintes solubilizados a concentrações superiores aos padrões de água potável, excetuando-se aspecto, cor, turbidez, dureza e sabor quando amostradas de forma representativa. De acordo com o Inventário Estadual de Resíduos Sólidos Domiciliares da CETESB (2012), numa cidade de 200 a 500mil habitantes, são gerados cerca 0,6kg de resíduos sólidos domiciliares por habitante diariamente. Nas Figuras 2 e 3, pode-se verificar a distribuição dos aterros de resíduos no estado de São Paulo e o índice de qualidade dos mesmos. 24 Revisão de Literatura Figura 2 – Índice de qualidade de aterro de resíduos no Estado de São Paulo no ano de 1997. Fonte: CETESB, 2012. Figura 3 – Índice de qualidade de aterro de resíduos no Estado de São Paulo no ano de 2011. Fonte: CETESB, 2012. Verifica-se nas Figuras 2 e 3, que no ano de 1997 havia um grande número de aterros inadequados no Estado de São Paulo e poucos eram os aterros adequados. Já no ano de 2011 percebe-se que, grande quantidade desses aterros 25 Revisão de Literatura se adequaram e alguns estão controlados, sendo os aterros inadequados, uma pequena parte. Com a promulgação da lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) está previsto que haja uma mudança no paradigma da gestão dos resíduos sólidos, que amplia a responsabilidade da cadeia produtiva até a destinação final do produto ambientalmente adequada, de acordo com o capítulo II, art. 3º VII: “[...] destinação final ambientalmente adequada: destinação de resíduos que inclui a reutilização, a reciclagem, a compostagem, a recuperação e o aproveitamento energético ou outras destinações admitidas pelos órgãos competentes do Sisnama, do SNVS e do Suasa, entre elas a disposição final, observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos” (BRASIL, 2010). Ou seja, o gerador do resíduo é o seu responsável até a sua destinação final, tendo que observar as normas de descarte correto e procurar os meios legais para o descarte ou reaproveitamento destes resíduos. A geração dos resíduos sólidos industriais supera muitas vezes a geração dos resíduos sólidos urbanos, e com uma população em crescimento constante é preciso repensar os meios produtivos, a durabilidade dos produtos, a reutilização e reciclagem dos produtos, e as tecnologias ultrapassadas e que causam desperdício. Segundo Valle (2004), se o estilo de vida da sociedade atual continuar, e os países em desenvolvimento aumentarem seus padrões de consumo ao nível dos países desenvolvidos, a geração de resíduos aumentará significativamente, sendo necessárias técnicas cada vez mais eficientes para sua prevenção, redução e disposição final. 26 Revisão de Literatura 2.2 Coleta Seletiva A falta de distinção entre coleta seletiva e triagem ou recuperação de materiais recicláveis secos é um aspecto importante e que ainda gera confusão, pois trata-se de procedimentos e resultados distintos (SNIS, 2012). A coleta seletiva pode ser definida como a etapa de coleta dos materiais recicláveis presentes nos resíduos sólidos urbanos tais como papéis, vidros, plásticos, metais, ou resíduos orgânicos compostáveis, previamente separados na própria fonte geradora. A coleta seletiva de resíduos recicláveis pode ser feita no sistema porta a porta, com auxílio de veículos automotores ou de tração animal ou manual, ou ainda, entregue em Postos de Entrega Voluntária, catadores, sucateiros ou entidades beneficentes. A coleta seletiva pode ou não ser seguida pelo processamento (triagem final, acondicionamento, estocagem e comercialização) dos resíduos recicláveis sob a responsabilidade da mesma entidade. (IBGE, 2010; BRINGHENTI, 2004). Segundo IBGE (2010), os primeiros programas de coleta seletiva e reciclagem de resíduos sólidos no Brasil teve início na década de 1980, como alternativas inovadoras para a redução da geração dos resíduos sólidos domiciliares e o estímulo à reciclagem. A partir deste momento, comunidades, indústrias, empresas e governos locais se mobilizaram para a separação dos resíduos na fonte produtoras. Em 1989, o PNSB identificou a existência de 58 programas de coleta seletiva no país, já em 2000 este número cresceu para 451 e em 2008, havia 994 programas de coleta seletiva, indicando um avanço na implantação da coleta seletiva. Porém, o modelo de alto consumo da sociedade capitalista faz aumentar a geração per capta de lixo. Tal aumento foi o exórdio da preocupação de ambientalistas e da população, tanto pelo potencial poluidor, quanto pela necessidade de novos espaços para aterros sanitários. O interesse pela questão dos resíduos sólidos surgiu concomitante com a criação de políticas ambientais nos 27 Revisão de Literatura países desenvolvidos. A coleta seletiva ainda é uma realidade bastante longe do ideal, pois ainda existe o mau acondicionamento dos resíduos pela população e falta de informação sobre coleta seletiva. Outros fatores que também contribuem para o baixo índice de reciclagem dos resíduos como o alto custo da coleta seletiva para os municípios e a falta de um sistema de triagem destes resíduos. A implantação da co- leta seletiva é um processo contínuo ampliado gradativamente. (MONTEIRO et al., 2001). Segundo o autor, os principais benefícios ambientais da reciclagem dos materiais existentes no lixo (plásticos, papéis, metais e vidros) são: � A economia de matérias primas não-renováveis; � A economia de energia nos processos produtivos; � O aumento da vida útil dos aterros sanitários; � Além de que, a implantação de programas de reciclagem, estimula o desenvolvimento de uma maior consciência ambiental e dos princípios de cidadania por parte da população. A coleta seletiva possibilita a economia de matérias primas, energia e recursos naturais, além do reuso, e a reciclagem. Também consiste numa importante etapa do gerenciamento dos resíduos sólidos e contribui com a sustentabilidade ambiental, econômica e social urbana (RIBEIRO e BESEN, 2007). Conforme Cempre (2012), o lixo no Brasil é composto de 35% de material reciclável, conforme mostra a Figura 4. Em 2010, foi consumido 5,9 milhões de toneladas de resinas termoplásticas. No Brasil, a reciclagem absorve 5% do plástico consumido no país e é geralmente associada à produção industrial (pré-consumo). Neste mesmo ano, cerca de 20% dos plásticos foram reciclados no Brasil, representando um valor aproximado de 953 mil toneladas. Segundo mesmo autor, a reciclagem secundária, que consiste no processamento de polímeros, misturados ou não, é um mercado crescente sendo que novas tecnologias já estão disponíveis para possibilitar o uso simultâneo de diferentes resíduos plásticos, sem que haja incompatibilidade entre elas e a 28 Revisão de Literatura consequente perda de resistência e qualidade. Já a reciclagem terciária, que consiste na aplicação de processos químicos para recuperar as resinas que compõem o lixo plástico, fazendo-as voltar ao estágio químico inicial ainda não é utilizada no Brasil. Figura 4 – Composição do lixo no Brasil. Fonte: Cempre, 2012. Conforme citado em SNIS (2012), no ano de 2010, a cidade de Bauru, interior do Estado de São Paulo teve uma quantidade total de resíduos sólidos coletados (exceto os orgânicos) em 1.507t. Deste total, 989.6t foram reaproveitadas, sendo 600,8t de papel e papelão, 148,9t de plásticos, 68,7t de metais e 169,6 de vidros. A despesa corrente da Prefeitura, com serviços de limpeza urbana, soma R$4.072.660,00 ao ano. Sendo a coleta de resíduos sólidos domiciliares e públicos orçada em R$2.190.607,00 ao ano, e os serviços de varrição de logradouros públicos orçado em R$1.224.692,00 ao ano. Com a quantidade total de 340 trabalhadores remunerados de todo manejo de resíduos sólidos urbanos, sendo 159 nos serviços de coleta, 31 nos serviços de varrição, 105 nos serviços de capina e roçada e 26 em unidades de processamento. Na cidade de Bauru existe uma entidade associativa de catadores associada com a Prefeitura, contando com 23 associados. 29 Revisão de Literatura Segundo IBGE (2010), o estado de São Paulo conta com um total de 223 municípios com serviço de coleta seletiva, dentre eles, 181 municípios possuem manejo de resíduos sólidos com a participação de catadores nas ações de coleta seletiva, sendo 132 municípios com coleta organizada através de cooperativas ou associações, 70 municípios com participação isolada e 15 municípios com outra forma de coleta seletiva. No estado de São Paulo, o material mais recolhido é o papel ou papelão. Somente 77 cidades possuem sistema de coleta seletiva em todo o município, e o principal receptor final da coleta seletiva são os comerciantes de materiais recicláveis. Ainda segundo o mesmo autor, 88 municípios do estado de São Paulo aplicam os recursos provenientes da coleta seletiva com a manutenção do sistema de coleta, e 78 cidades aplicam os recursos em atividades socioculturais e assistenciais. Porém, os programas em parceria com catadores organizados enfrentam dificuldades como falta de capacitação, má organização do trabalho, pouca prática cooperativista, além de problemas econômicos como a competição pelo material reciclável, ausência de remuneração pelos serviços prestados pelos catadores. Há ainda, a necessidade de inserção institucional com base em instrumentos legais para garantir sua continuidade (RIBEIRO e BESEN, 2007). Para Jacobi e Besen (2011), é necessário definir estratégias para promover a redução de resíduos nas fontes geradoras, através da educação ambiental contínua, a coleta seletiva com inclusão de catadores, e um plano de gestão abrangente, integrado e pactuado com a sociedade para reduzir a disposição de resíduos no solo. A expansão da coleta seletiva é urgente e estratégica e poderá representar uma oportunidade de reduzir os custos das cidades com serviços de higiene, gerar milhares de postos de trabalho, além de promover a conscientização e responsabilidade dos cidadãos com relação à limpeza e a sustentabilidade urbana. 30 Revisão de Literatura 2.3 Compósitos Até a primeira metade do século passado, as atividades industriais eram pensadas de forma separada do meio ambiente, assim, a tendência em estudos relativos aos problemas ambientais era colocá-los fora do sistema produtivo, não se abordando as causas da poluição advinda dos sistemas industriais. As soluções técnicas surgidas com essa visão são chamadas de “end-of-pipe solutions” ou tratamentos de final de tubo, consistindo em processos de tratamento e descarte dos poluentes presentes nos resíduos industriais. Contudo, as práticas do fim do tubo não pararam o aumento da poluição industrial, e com a intensificação dos problemas ambientais e do aumento da coação social, as estruturas para o controle da poluição propostos não foram suficientes, pois não agiram na causa do problema. (PEREIRA et al. 2007). Segundo Pereira (2010) no Brasil, a Ecologia Industrial apresenta-se por meio de iniciativas isoladas e, as abordagens, são as mais variadas. Não existe um acompanhamento sistemático de avaliação das abordagens implantadas, dificultando o reconhecimento tanto da eficácia, quanto da ecoeficiência dos resultados. Tradicionalmente, o termo ecologia é definido como a ciência que estuda a relação entre o meio ambiente e os seres vivos, e em um ecossistema onde haja uma cadeia alimentar em equilíbrio, não existe sobras ou o que poderíamos chamar de “lixo”. É partindo deste conceito que se pode pensar no sistema industrial de produção e reaproveitamento dos recursos, de modo a reutilizar as sobras dando utilidade e agregando valor a elas, sendo uma forma de aproveitamento, a fabricação de produtos com compósitos elaborados de resíduos industriais de pós- uso. Dias (2009) afirma que a ecoeficiência consiste em produzir mais com menos, reduzindo o consumo de energia, de materiais e consequentemente, a diminuição na geração de resíduos e na poluição, assim como os custos de operações. 31 Revisão de Literatura Para Mendonça (2005) os materiais compostos podem ser definidos como um conjunto de dois ou mais materiais diferentes, combinados em escala macroscópica, para funcionarem como uma unidade, visando obter um melhor conjunto de propriedades que nenhum dos componentes individualmente apresenta. Segundo ficha informativa da Braskem (2002), compósito é um material formado por pelo menos dois componentes, sendo geralmente um polímero (matriz polimérica) e outro como fase de reforço, normalmente em forma de fibras. São leves, fáceis de moldar permitindo formas complexas e sem emendas e com a cor desejada. Mesmo sendo fortes, as fibras não podem ser usadas sozinhas, pois não podem sustentar a compressão ou cargas transversais. Portanto é necessária uma matriz para manter as fibras em conjunto, além de proteger as fibras de ataques de insetos e fungos e as ações do tempo. Desta forma, a matriz é crucial para determinar a resistência à corrosão do compósito. Por causa da excelente resistência ao ataque do ambiente, as composições com fibras têm conquistado grandes mercados em indústrias químicas, substituindo, em parte, materiais convencionais tais como o aço, concreto reforçado e alumínio (BARBERO, 1999). Segundo Matthews et al. (2009), plásticos reforçados com fibras são extremamente resistentes à corrosão e são, por conseguinte, utilizados na indústria química. Eles têm propriedades eletromagnéticas interessantes e, por causa disso, a fibra de vidro reforçada com resina é utilizada em minas de carvão e embarcações navais, pelo requisito de ser um material não-magnético. Outro exemplo é o epóxi reforçado com fibras de carbono, usado em aplicações médicas porque é transparente ao raio-X. A utilização dos compósitos vem crescendo, sendo que suas vantagens são inúmeras, tanto para as indústrias que reutilizam tal material, como em pesquisas no desenvolvimento de novos produtos e novas tecnologias para atender as necessidades de produção do material. Uma área que está crescendo juntamente com a utilização do compósito é a do design, e para Manzini e Vezzoli (2008), o design compreende o conjunto de atividades desde o projeto territorial até o projeto 32 Revisão de Literatura gráfico, passando pelo projeto arquitetônico e bens de consumo, sintetizando o tecnicamente possível com o ecologicamente viável e fazendo surgir novas propostas social e culturalmente apreciáveis. Papanek (1998) utiliza o termo “ecodesign” ou “eco-concepção” para designar um processo que tem por consequência conceber um produto reduzindo seus impactos ambientais, com a preocupação na conservação da sua qualidade de utilização e até modificando o relacionamento produto-usuário, melhorando a qualidade da vida humana e ponderando o ecossistema. 2.3.1 Compósito plástico-madeira O compósito plástico-madeira ou wpc (wood-plastic composite) é uma forma alternativa de utilização de resíduos, constituindo-se da mistura de polímero termorrígido ou termoplástico com madeira de qualquer forma. O wpc é um ótimo substituto para o aço, o alumínio e madeiras virgens ou placas elaboradas a partir de resíduos, das fibras sintéticas, como as de vidro e as poliméricas, o amianto e são muito usados na indústria automobilística, em navios e aeronaves. (CLEMONS, 2002; CARVALHO, 2003; YAMAJI, 2004; GOMES FILHO, 2006). O wpc têm sido utilizado nos EUA por muitos anos, embora seu crescimento principal tem sido observado mais recentemente. A utilização de wpc na produção de painéis interiores de automóveis, usando a tecnologia de extrusão italiana, foi uma das primeiras aplicações principais dos EUA para o material. Grande parte do crescimento recente, do desenvolvimento e utilização de wpc foi impulsionada por iniciativas financiadas pelo Ministério da Agricultura e outros grupos associados com a silvicultura e as indústrias da madeira serrada nos EUA. Por isto, muitas das empresas envolvidas na produção de wpc´s nos EUA são empresas madeireiras, que investiram no desenvolvimento de produtos e adicionaram esses materiais alternativos ao seu portfólio de produtos. (OPITMAT Ltd e MERL Lta, 2003). 33Revisão de Literatura O plástico mais utilizado para a produção do wpc nos Estados Unidos é o polietileno de alta densidade (PEAD), na Europa o Polipropileno (PP) e o Cloreto de Polivinilo (PVC), são os mais utilizados. Uma grande variedade de compósitos de madeira pode ser elaborada, sendo as combinações de fibras com resinas termoplásticas as mais usadas, numa proporção que pode variar de 10% a 50% de fibras. As resinas termoplásticas como polietileno, polipropileno e poliestireno são de pós-consumo, moldam com o calor e apresentam baixo custo. (TEIXEIRA, 2005; REMADE, 2007). Um complicador na elaboração dos compósitos reforçados com fibras de madeira é que, em processamentos em alta temperatura, necessários para muitos plásticos, pode iniciar o processo de combustão da madeira. Desta maneira, a combinação nos compósitos se restringe aos polímeros onde a temperatura do processo é baixa e não prejudique os resíduos de madeira como o polipropileno (PP), além disso, esses polímeros apresentam baixo custo (MANRICH, 2005). As fibras de madeira também podem substituir materiais usados em reforços e cargas1 para plásticos como o carbonato de cálcio e a fibra de vidro, que são materiais mais caros (Figura 5). Figura 5 – Estimativa em R$, do custo de carga em compósitos no Reino Unido. Fonte: adaptado de Opitmat Ltd e MERL Lta, 2003. 1 Segundo Rabello (2000), carga pode ser descrita como a fase de reforço em compósitos, e podem ser fibrosas ou não, orgânicas ou inorgânicas, naturais ou sintéticas. 34 Revisão de Literatura Os wpc´s, que são produzidos a partir de resíduos de madeira e termoplásticos reciclados podem ser considerados como eco-compósitos, embora eles não tenham uma aparência que seria considerada natural. O termo “eco- compósito” é descrito por Forestry (2004), como um material que pode conter tanto fibras naturais, como cânhamo, sisal, juta ou linho, como uma matriz de polímero natural. Compostos naturais com base em amido podem ser produzidos com a vantagem importante de biodegradabilidade. Um composto que é mais fácil de reciclar, tal como um material composto por polipropileno, também pode ser denominado como um eco-compósito. De uma forma geral, os wpc´s formam uma nova classe de materiais com grande potencial comercial. Na Tabela 1 é possível verificar algumas aplicações para o compósito plástico-madeira. Tabela 1 – Aplicações para o wpc. Construção Interno Automotivo Exteriores Industrial Outros Recobrimentos Pisos Portas e tetos Cercados Corrimão Teclas de piano Perfis de portas e janelas Persianas e Venezianas Painéis interiores Postes de muros Embalagens industriais Canais e tubos Estantes Pisos de caminhões Bancos de parque Dormentes de estrada de ferro Placas de barcos Molduras Recobrimento de estepes Equipamentos de recreação Caixas de lixo Telhas Mesas Pisos Placas de sinalização Escadas Perfis Fonte: adaptado de Optimat Ltd. e Merl Lta., 2003. Na China, a empresa Shenzhen GEM High-Tech Co. Ltd. patenteou a marca GEM WPC, que constitui em compósitos de madeira com PVC e PE e que, segundo a empresa, é formado por extrusão com equipamentos especiais e técnicas específicas, bem como tratamento de superfície requintado, possuindo as seguintes características: eficiente de energia e totalmente reciclável, semelhante à madeira 35 Revisão de Literatura em cores e texturas, tem isolamento térmico e acústico, é resistente, durável, resistentes ao ataque de insetos, ao desgaste, a dobras, não condutor elétrico, pode ser cortado, pregado e perfurado para se adaptar a todos os tipos de acessórios. Forestry (2004), afirma que existem várias empresas fabricando o compósito plástico-madeira, dentre elas, as empresas americanas: Trex, Strandex, American Composite Timbers, Wood Composites Technologies Inc., Environmental Polymer Products Ltd, Centriforce, Tech-wood, Timbaplus, Durawood, Cost, a empresa japonesa Einwood e a empresa chinesa Alloywood. Segundo o mesmo autor, a madeira sob a forma de farinha de madeira ou de fibras curtas (<5 mm) é usada na fabricação de wpc´s com um típico teor de 50%, apesar de alguns tipos de conterem até 80%. As espécies mais comuns utilizadas nos EUA são Pinus e Carvalho. As exigências do processo de fabricação são bastante severas. As fibras de madeira devem ser secas com teor de umidade a 2% ou 3%, ser limpas e de tamanho uniforme. Os resíduos de serrarias também representam uma fonte abundante de aparas de madeira e serragens que são em seguida secas e moídas em um moinho de martelos, até à dimensão pretendida. As matérias primas e as tecnologias de fabricação de wpc que foram desenvolvidos estão atualmente bem estabelecidos nos EUA. Os políemros virgens ou reciclados juntamente com resíduos de madeira processada são as principais matérias primas. Os aditivos2 são utilizados para auxiliar de processamento e otimizar o tempo de vida útil do produto. O processo de fabricação baseia-se em processamento de plásticos, em particular a operação de extrusão, com pequenas modificações feitas para acomodar as propriedades particulares de matérias primas do wpc, como as fibras vegetais. Novos estudos estão se dirigindo para a utilização de espuma como matriz polimérica, já que são mais leves e parecem mais com a madeira real que muitos dos atuais materiais utilizados em wpc (OPITMAT Ltd e MERL Lta, 2003). 2 Aditivos são substâncias que podem ser combinadas com os polímeros para melhorar suas características como rigidez, cor, resistência, intemperismo, flamabilidade e facilidade de processamento (KALPAKJIAN e SCHMID, 2002). 36 Revisão de Literatura Na Tabela 2 podem-se verificar os valores de densidade e de resistência à flexão de alguns compósitos comercializados. Tabela 2 – Valores de densidade e resistência à flexão de alguns compósitos. Material Densidade (kg/m3) MOE (N/mm2) MOR (N/mm2) PEBD (resíduos de plástico sólido) 980 710 N/A PEAD (“Plasti” madeira plástica - parte aerada) 900 700 – 800 N/A GPR/PEBD (fibra de vidro reforçada com poliéster resíduos / resíduos de plástico) 1100 1220 16 “Trex” plástico-madeira 910 a 950 1205 9.8 “Trimax” plástico-madeira 950 2239 19 “Einwood” plástico-madeira 1120 3047 17 “Tech-Wood” plástico-madeira 970 7440 74 “American Composite Timber” plástico reforçado com fibra de vidro 965 3100 17 Stika spruce (12% de teor de umidade) 384 8100 67 UK Douglas (12% de teor de umidade) 497 10500 91 Greenheart (12% de teor de umidade) 1009 21900 190 Fonte: adaptado de Forestry, 2004. A Marinha dos EUA está patrocinando o desenvolvimento de pesquisas para aplicações de wpc em cais navais. Este material é procurado porque tem propriedades semelhantes as da madeira, mas possuem uma maior durabilidade em ambientes agressivos que são normalmente vistos por estruturas de orla. Também são resistentes às brocas marinhas que têm sido uma praga para pilares de madeira tratados. Wpc´s são considerados mais seguros para o ambiente marinho do que a madeira tratada, pois não necessitam de produtos químicos tóxicos para a resistência à degradação. A Marinha dos EUA também está buscando projetos modulares, utilizando seções que permitirão a fácil substituição de membros individuais danificados (BALMA, 1999). 37 Revisão de Literatura Na Alemanha, a empresa JELU-Werk, produz compósitos de plástico-madeira da marca JELUXYL com 50% de farinha de madeira de Pinus e 50% de PP com modificações proporcionadas por aditivos, de acordo com a necessidade do cliente. Na Figura 6 podem-se observar alguns produtos do compósito plástico- madeira JELUXYL. Figura 6 – Vista de alguns itens produzidos pela empresa, em compósito plástico-madeira. Fonte: JELU-Werk. O uso de carga para compósitos nas indústrias de plásticos dos EUA no ano 2000 estava em 5,5bilhões de libras, dos quais 0,4milhões (7%) foram estimadas sendo fibras biológicas, sendo a maioria delas extraídas da madeira. No entanto o uso de outras fibras naturais como linho ou palha de trigo não está descartado. Outras cargas, incluindo as fibras naturais podem ter preço superior ao carbonato de cálcio, comumente utilizado como carga. O preço médio por quilo de plástico reforçado com fibra, no ano 2000 era de U$0,90 para fibra de vidro, U$0,20 para 38 Revisão de Literatura fibras naturais que não a madeira, U$0,10 para fibra de madeira e o carbonato de cálcio em U$0,70 (ECKERT, 2000 apud JEONG, 2004). Segundo a BCC Research (2011), o mercado mundial de produtos de compósitos plástico-madeira (wpc´s), plásticos celulósicos, madeira, e compósitos de fibras naturais foi estimado em cerca de 2,4 milhões de toneladas em 2011, conforme mostra a Figura7. Figura 7 – Gráfico da previsão para aplicações de wpc´s, e compósitos de fibras naturais. Fonte: adaptado de BCC Research, 2011. Ainda, segundo a BCC Research (2011), em 2016, estima-se um aumento de cerca de 4,6 milhões de toneladas a uma taxa de crescimento anual 13,8%. O mercado para produtos de construção está previsto para experimentar o maior crescimento, com uma taxa de crescimento anual de 12,4% durante o período de cinco anos entre 2011 e previsão para 2016. Este setor deverá produzir 1,7 milhão de toneladas em 2011 e está previsto cerca de 3,2 milhões de toneladas em 2016. O mercado, para aplicações automotivas, está estimado em 0,3 milhões de toneladas em 2011 e deverá aumentar a uma taxa de crescimento anual de 17,1% e deverá atingir cerca de 0,8 milhões de toneladas em 2016. 39 Revisão de Literatura 2.4 Utilização da Madeira A madeira pode ser considerada como um dos primeiros materiais de engenharia a ser utilizado pelo homem. No inicio dos tempos o homem evoluiu e, deixou de usar a mão como único instrumento ou ferramenta e passou a usar outros tipos de materiais em seus trabalhos, que ficavam cada vez mais complexos, como fazer abrigos para sua proteção e conforto. É usada desde sempre na construção de moradias, móveis e veículos, atendendo a três necessidades primordiais do homem: combustível, casa e transporte. (GONÇALVES, 2002; ULLOA, 2007) Existem duas categorias de madeiras, segundo a taxonomia: as Gimnospermas e as Angiospermas. Neste estudo, serão usadas as madeiras Pinus taeda e Pinus elliotti, contidas na categoria Gimnospermas, mais especificamente, das Coníferas, com característica de ser resinosa, e com ausência de vasos ou poros. As coníferas são compostas, basicamente, por traqueídeos, raios medulares, canais resiníferos, células de parênquima e pontuações areoladas (GONÇALVES, 2002). Pfeil e Pfeil (2003) afirmam que as madeiras são distintas em duas categorias: � Madeiras duras – árvores de crescimento lento, de folhas abundantes, como peroba, ipê, aroeira e também são chamadas de madeiras de lei. Perdem suas folhas no outono. São as dicotiledôneas, da classe das Angiospermas; � Madeiras macias – árvores de crescimento rápido, com folhas em forma de agulha ou escamas, como pinheiro-do-pará, pinheiros europeus e norte- americanos. Mantém suas folhas verdes o ano todo. São as coníferas, da classe das Gimnospermas. As fibras provenientes de coníferas possuem um comprimento em torno de 3.5mm, enquanto as folhosas apresentam fibras com tamanho em torno de 1.5mm (OPTIMAT Ltd e MERL Lta, 2003). 40 Revisão de Literatura A Tabela 3 apresenta a proporção dos tipos de tecidos celulares que compõe a madeira, diferenciando as coníferas das dicotiledôneas. Tabela 3 – Proporção de elementos celulares que compõem a madeira. Proporção Volumétrica (%) Coníferas Dicotiledôneas Tipos de tecidos Menor Média Maior Menor Média Maior Vasos 2 15 65 Traqueídeos 87 93 96 Fibras 13 55 80 Parênquima 1 2 2 12 75 Raios Medulares 4 7 12 1,2 15 50 Canais Resiníferos 0,4 1,1 Fonte: adaptado de Gonçalvez, 2002. Para Pfeil e Pfeil (2003) as madeiras para construção civil devem ser retiradas do cerne, que é a parte mais durável da madeira. Já a madeira do alburno é mais higroscópica sendo mais sensível a ação dos fungos, porém tem maior aceitação de agentes protetores. A madeira é constituída por substâncias orgânicas, sendo 50% carbono, 44% oxigênio e 6% hidrogênio. Segundo Gonçalves (2002), algumas experiências feitas por pesquisadores indicam que as propriedades de resistência da madeira se relacionam com o teor de umidade contido na mesma. A madeira verde contém em seu interior, denominado cerne, uma variação de percentual de água de 30% a 100%, e no alburno entre 40% e 200%, referido ao peso seco. Um aspecto interessante a ser descrito é que, no interior da madeira, podem ser encontrados polímeros. A madeira é composta por celulose, hemicelulose e lignina, que são caracterizados como polímeros, os quais formam a parede celular da madeira e são responsáveis pela maioria de suas características físicas e químicas. A celulose é um polímero formado por centenas de glucoses formando cadeias de até 10.000 elementos. Pfeil e Pfeil (2003) também afirmam que o composto orgânico predominante é a celulose, constituindo cerca de 50% da madeira, seguido da lignina que compõe de 20% a 30% e as hemiceluloses com 20% a 25% da constituição da madeira. A densidade da madeira é uma característica importante a ser observada na 41 Revisão de Literatura classificação de madeiras serradas ou compostas. A densidade se refere à massa de uma substância por unidade de volume e é expressa em kg/m3. Sendo que a densidade da madeira depende da espécie, da localização de onde os corpos de prova foram retirados na tora, da umidade, etc. A espécie Pinus elliotti apresenta uma densidade de 0,32g/cm3, correspondente a uma densidade relativa a 12% de teor de umidade. No que se refere à condutividade térmica, a madeira não apresenta bons resultados. Os materiais celulósicos são maus condutores devido à porosidade e à falta de elétrons livres, os quais transmitem a energia. Alguns autores afirmam que a condutividade da madeira pode ser equivalente à sua densidade, pois a umidade aumenta a capacidade de transmissão de calor e com isso a condutividade aumenta (GONÇALVES, 2002). A madeira é um material anisotrópico3, apresentando as direções longitudinal, radial e tangencial. A umidade da madeira tem uma importância elevada sobre suas propriedades, e a quantidade de água das madeiras recém-cortadas varia conforme a espécie. Elas podem sofrer retração ou inchamento com a variação da umidade e também está sujeita à deterioração por ataque biológico e ação do fogo. Tem baixa resistência ao fogo se não forem empregadas adequadamente (PFEIL e PFEIL, 2003). A utilização irregular da madeira e o comércio desenfreado podem causar danos diretos ao meio ambiente, como desmatamento, utilização irregular do solo, queimadas e o desaparecimento de espécies da fauna. Somente no mês de outubro de 2012, foram apreendidos 6.000m3 de madeira ilegal em Belém-PA (IBAMA, 2012). Além do problema do desmatamento e do comércio ilegal de madeiras, há o problema de geração de resíduos nas indústrias madeireiras durante o processamento das toras. Para que a madeira seja comercializada, é realizado o processamento primário onde a tora é cortada na serra de fita de acordo com o 3 Um material anisotrópico é aquele em que uma ou mais de suas propriedades dependem da direção em que são observadas no meio (WEISZFLOG, 1998). No caso da madeira, as propriedades variam de acordo com a direção de suas fibras. 42 Revisão de Literatura desejado. A madeira aparelhada também pode ser obtida através de seções maiores por meio de processamento na serra no sentido longitudinal e é eventualmente aplainada para atingir uma determinada medida. Tais procedimentos geram resíduos, tanto no corte das toras, como no processo de aparelhar a madeira, gerando serragem (NENEWITZ, et al. 2008). Segundo dados do Imazon (2012), em julho de 2012 foi detectado 139,5 quilômetros quadrados de desmatamento na Amazônia Legal, significando um aumento de 50% em relação ao mês de julho de 2011, sendo a grande maioria do desmatamento ocorrida no Pará com 83% (Figura 8). Figura 8 – Mapa do desmatamento na Amazônia em 2012. Fonte: Imazon, 2012. 43 Revisão de Literatura De acordo com a Figura 8, a maioria do desmatamento ocorreu no Pará, seguido pelo Mato Grosso, Rondônia e Amazonas. Nota-se ainda que alguns pontos de desmatamento ocorrem próximos aos rios, o que acelera o assoreamento. A redução do desmatamento implica na redução da emissão de gases que provocam o efeito estufa. Atualmente, a sociedade vem mudando alguns aspectos culturais e o consenso de que o desmatamento deve ser combatido está cada vez mais forte. As pesquisas que estão sendo desenvolvidas abrangendo a reciclagem e reutilização de materiais também podem contribuir de alguma forma, com a diminuição do desmatamento. 2.5 Utilização dos Plásticos Com a evolução do ser humano e da história, os elementos estruturais e materiais que eram utilizados pelo homem foram sofrendo alterações. Um fato surgido no início do Século XX marcou a história da humanidade: alguns materiais produzidos pela química, consistiam de grandes moléculas, resultado do encadeamento de 10.000 ou mais átomos de carbono. Esses produtos apresentavam repetição de pequenas unidades estruturais em sua longa cadeia principal, e assim foram denominados polímeros, que no grego significa “muitas partes” (MANO, 2000). Os polímeros, também conhecidos como plásticos, são materiais sólidos, sintéticos e com origem geralmente orgânica. São de fácil fabricação, principalmente relacionado ao custo final se comparados com outros materiais de engenharia, consequente dos baixos níveis de força, energia e temperatura necessários para a fabricação do plástico (MENDONÇA, 2005). Os materiais sólidos são classificados em quatro grupos: materiais metálicos, cerâmicos, poliméricos e os compósitos. A classificação é baseada na estrutura atômica e nas ligações químicas predominantes em cada grupo (PADILHA, 1997). 44 Revisão de Literatura Na Tabela 4 pode-se verificar a utilização de elementos estruturais, pelo homem, ao longo da evolução histórica. Tabela 4 – Evolução do uso de elementos estruturais pelo homem. Evolução histórica Ano Material Pré-história Idade da Pedra 25.000 até 6.500 AC Madeira, Pedra lascada e Pedra polida Proto-história Idade dos metais 6.500 até 1.500 AC Cobre, estanho, bronze, ferro, cerâmica História Antiguidade 4.000 até 500 AC Vidro Idade Média 500 até 1.500 DC Ligas metálicas Idade Moderna 1.500 até 1.800 DC Concreto Idade Contemporânea 1.800 até os dias atuais Polímeros Fonte: adaptado de Mano, 2000. Conforme Marczak (2004), a produção industrial dos plásticos teve início em 1909 com o desenvolvimento do plástico fenol-formaldeído (Baquelite) por L. H. Bakeland. Porém a indústria de plásticos só avançou a partir de 1930, quando foram desenvolvidos o Nylon, os uretanos e os fluorcarbonos. Também nesta época começaram a ser produzidos os compostos moldáveis à base de estireno, a celulose, o acetato e a melamina, e consequentemente, surgiram no mercado as primeiras máquinas para produção industrial de peças plásticas com processo por injeção, sopro e vácuo. Segundo o mesmo autor, quando comparados com outros materiais, os plásticos possuem propriedades únicas. Se empregados adequadamente, realizam suas funções a um custo mais atraente quando comparado com outros materiais. Para Mano (2000), dentre os materiais de engenharia atuais, estão incluídos os plásticos, borrachas, fibras e adesivos, e que estes são indispensáveis à vida moderna. Alguns polímeros podem ser usados para aplicações de engenharia, como 45 Revisão de Literatura engrenagens e peças estruturais, permitindo a substituição a materiais como metais. Neste grupo, incluem-se os plásticos que podem ser aquecidos e resfriados, processados por métodos de laminação, injeção e extrusão: os termoplásticos. Já os termorrígidos, que se fundem quando aquecidos, porém não são reversíveis, sofrendo reação química que causa a formação de ligações cruzadas intermoleculares, resultando em uma estrutura reticulada, infusível e insolúvel. Segundo Mendonça (2005), os polímeros termoplásticos são aqueles que amolecem ou fundem quando submetidos a temperaturas elevadas. O processo de aquecimento – amolecimento – resfriamento – endurecimento é reversível de forma que podem ser reutilizados com o calor e pressão, podendo apresentar redução parcial de suas propriedades mecânicas. Para o autor, a característica de ser reutilizado constitui em um dos aspectos mais importantes dos termoplásticos, associado à preservação e conservação do meio ambiente. Os principais termoplásticos são: Polietileno, Poliestireno, Policarbonato, Poliacetal, Poliamida-imida, Fluorcarcono, Fenóxis, Celuloses, Poliéter-éter, Peek, Acrílicos, Polisulfone, Polifenilene Sulfide, Poliéter-imida, Estirenos, Polivinil Cloride, Poliolefinos. Marczak (2004) afirma que os plásticos se diferenciam dos demais materiais como, por exemplo, o peso, tornando-os atrativos na indústria de embalagens, equipamentos esportivos e na redução de custos de transporte. A Figura 9 representa a classificação dos polímeros com seus respectivos números de identificação. 46 Revisão de Literatura Figura 9 – Classificação dos polímeros. Fonte: adaptado de Vesilind e Morgan, 2011. De acordo com Mano (2000), as propriedades físicas são aquelas que não envolvem qualquer modificação estrutural em nível molecular dos materiais, sendo que nestas propriedades estão inclusas as propriedades mecânicas, térmicas, elétricas e óticas. A Figura 10 representa a classificação dos materiais de engenharia divididos em clássicos, ou tradicionais que são a madeira, as cerâmicas, os vidros e os metais, e os não-clássicos, que compreendem os polímeros sintéticos. Figura 10 – Classificação dos materiais de engenharia. Fonte: adaptado de Mano, 2000. 47 Revisão de Literatura Os plásticos possuem grande flexibilidade, conforme o tipo de polímero e os aditivos usados na sua formulação. Os polímeros têm uma dureza inferior que outros materiais como a cerâmica e os metais, além de serem maus condutores térmicos e elétricos, se fundem quando são aquecidos. Nos termorrígidos não ocorre distorção por aquecimento e quanto mais a temperatura aumenta ocorre a degradação do material polimérico. O módulo de elasticidade dos plásticos é mais suscetível a variações de temperatura do que os metais. Podem ser considerados leves em relação com outros materiais (MANO, 2000; WIEBECK e HARADA, 2005). Segundo os mesmos autores, os polímeros orgânicos apresentam uma facilidade de queima, constituindo-se em uma desvantagem para o material. Quando um polímero orgânico é aquecido, ele vai sofrendo alterações físicas e posteriormente químicas, seguindo pela decomposição e formação de produto volátil. Quando tais polímeros estão em composição com matérias orgânicas, como aditivos minerais, ele deixa cinzas nas quais se encontram tais aditivos. Porém, a má utilização dos plásticos, resultando em produtos de baixa qualidade, e o descarte incorreto destes produtos e embalagens plásticas acabam em poluição e degradação ambiental, como pode ser visualizado na Figura 10. Figura 11 – Amostra de embalagens plásticas encontradas em praias brasileiras. Fonte: http://planetasustentavel.abril.com.br 48 Revisão de Literatura Em levantamentos realizados em grandes cidades brasileiras, os principais plásticos encontrados em meio aos resíduos sólidos urbanos são o polietileno de alta e baixa densidade, o PVC e o polipropileno, sendo que os outros polímeros encontrados correspondem a apenas 11% do total (SPINACÉ e PAOLI, 2005). Os poluentes podem ser gerados por fontes naturais, como as cinzas vulcânicas, ou por fontes antropogênicas que podem ser identificadas como as atividades humanas, a agropecuária, mineração, transportes e indústrias, e são estas que causam os maiores problemas ambientais, pois cada um deles produz certos tipos de poluentes específicos em decorrência dos processos típicos já que nem todos os materiais extraídos podem ser utilizados e alguns se tornam resíduos industriais que muitas vezes são descartados no meio ambiente (BARBIERI, 2007; VESILIND e MORGAN, 2011; OMS, 2010). Segundo os mesmos autores, as fontes de poluição podem ser pontuais, como as fábricas, hospitais, depósitos, veículos e domicílios, ou podem ser difusas, como o lixo que se espalha pelas ruas ou a sujeira deixada numa praia depois do fim de semana. A poluição de cursos d’água acarreta um esforço cada vez maior para que água tratada seja oferecida à população, com consequente aumento de custos. Este aspecto não envolve apenas uma questão financeira, mas as doenças das populações que dependem de cursos d’água por conta da contaminação por agentes patogênicos e tóxicos. Para Dias (2009) um dos problemas mais visíveis causados pela industrialização é a destinação dos resíduos sólidos, afetando o meio ambiente natural e a saúde humana. Este problema ambiental foi agravado nos últimos 200 anos, devido à intensificação da industrialização e a intervenção do homem na natureza. 49 Material e Método 3 MATERIAL E MÉTODO Neste capítulo serão descritos os ensaios laboratoriais, que deram origem à análise comparativa entre o compósito plástico-madeira elaborado nesta pesquisa e os compósitos já pesquisados. Neste trabalho foi realizada uma análise comparativa entre compósitos poliméricos já pesquisados e o compósito plástico-madeira desenvolvido nesta pesquisa, considerando como parâmetro as especificações das normas ASTM D- 638-10, ASTM D-256-00, ASTM D-570-98, ASTM G-155-05 e ASTM D-1238-10. Os ensaios foram realizados no Laboratório de Processamento da Madeira da Faculdade de Engenharia de Bauru – UNESP, no Departamento de Materiais da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar e no Laboratório de Anelasticidade e Biomateriais da Faculdade de Ciências da UNESP – Bauru, seguindo as normas descritas a seguir. 3.1 Materiais Os principais materiais utilizados nesta pesquisa foram a farinha de madeira proveniente da mistura das espécies Pinus taeda e Pinus elliotti e o polímero polipropileno (PP) reciclado descritos a seguir: 50 Material e Método Farinha de madeira Foi escolhida a espécie de madeira Pinus para esta pesquisa, pois é uma das madeiras mais plantadas nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, além de serem utilizadas na extração de resinas (EMBRAPA, 2005), sendo um ponto importante para a pesquisa já que não será utilizado nenhum compatibilizante4 para a aglutinação do polímero com a madeira. A farinha de madeira usada para a produção do compósito plástico-madeira é proveniente da mistura das espécies Pinus taeda e Pinus elliotti e foi fornecida pela Indústria Pinhopó Moagem de Madeira, localizada em Ponta Grossa-PR, de lote 03/11/11-A, malha 04-C, boca B (C B2). O material é obtido através da moagem de resíduos de madeira que não contenham impurezas, possuindo coloração clara e granulometria uniforme. A farinha de madeira ficou em estufa por um período de 03h à temperatura de 60ºC antes do processamento do compósito. Polipropileno Nesta pesquisa foi escolhido o polímero polipropileno (PP) reciclado, pois, além da abundância do material em resíduos sólidos, contribuindo de alguma forma para a poluição, este polímero é totalmente reciclável, possui temperatura de amolecimento compatível para a produção do wpc, tem elevada resistência química e a solventes, possui boa estabilidade térmica e é de fácil moldagem (MANRICH, 2005). O material utilizado na pesquisa é proveniente de uma Recicladora de Plásticos localizada na cidade de Bauru-SP, sendo obtido através de trabalhadores 4 Os agentes compatibilizantes são copolímeros que podem modificar a energia mecânica do material em relação ao termoplástico (MAGLIO e PALUMBIO, 1986). 51 Material e Método autônomos que recolhem os materiais reciclados na cidade e vendem a esta recicladora. Após o recebimento, o material é separado por tipo de polímero, levado à picadora e extrusado em forma de pellets. O polipropileno na forma de pellets (Figura 12), passou por processo de limpeza, a saber: inicialmente o material foi lavado para retirada de materiais estranhos (Figura 13 e 14), e seco ao ar para retirada do excesso de água para, em seguida, o material ser seco em estufa (temperatura de 90ºC pelo período de 24h). Nestas condições, o PP está apto para ser usado no processo de produção do wpc (Figura 15). Figura 12 – Aspecto inicial do polipropileno Figura 13 – Processo de lavagem do polímero antes de ser lavado. Figura 14 – Aspecto do polímero após ser lavado. Figura 15 – Estufa usada na secagem do material. 52 Material e Método 3.2 Métodos Após a escolha dos materiais, a próxima etapa foi a produção do compósito plástico-madeira e a injeção dos corpos de prova para as análises. Para todas as amostras foram utilizados os mesmos materiais, porém em traços distintos (farinha de madeira e polipropileno). A sequencia das principais etapas desenvolvidas neste estudo está sintetizada na Figura 16. Figura 16 – Fluxograma das principais atividades desenvolvidas para o compósito plástico-madeira. 53 Material e Método O compósito plástico-madeira e os corpos de prova foram produzidos no Laboratório de BIOCyle do Departamento de Materiais da Universidade Federal de São Carlos. Foram feitos quatro traços sendo que, para cada um, foi usado 05kg de material. As formulações foram de 100% PP (T1), 90%PP+10%FM (T2), 80%PP+20%FM (T3) e 70%PP+30%FM (T4). Os corpos de prova foram injetados com moldes conforme a American Society for Testing and Materials, normas ASTM D-256-00 e ASTM D-638-10. Para todas as amostras foram utilizados os mesmos materiais (farinha de madeira Pinus taeda e Pinus elliotti e polipropileno reciclado) A abordagem metodológica foi desenvolvida em quatro etapas: 1ª Etapa: Preparar quatro traços com diferentes proporções de farinha de madeira e o polipropileno reciclado. As diferentes formulações estão descritas na Tabela 5. Tabela 5 – Formulações para produção do compósito. Traço Quantidade de material (kg) Percentual de material 1 5,0kg 100% PP 2 4,5kg PP + 0,5kg FM 90% PP + 10%FM 3 4,0kg PP + 1,0kg FM 80% PP + 20% FM 4 3,5kg PP + 1,5kg FM 70% PP + 30% FM 2ª Etapa: Produzir o compósito plástico-madeira através do processo de extrusão. 3ª Etapa: Injetar os corpos de prova com padrões determinados pela norma ASTM D-638-10 e ASTM D-256-00. 4ª Etapa: Realizar as análises necessárias de acordo com a norma ASTM D- 638-10, ASTM D-256-00, ASTM D-570-98, ASTM G-155-05 e ASTM D-1238-10 nas amostras desenvolvidas. As análises realizadas e suas respectivas normas metodológicas estão descritas a seguir. 54 Material e Método 3.2.1 Método do processo de extrusão do wpc Para produção dos compósitos, foi utilizada uma extrusora da marca Extrusão Brasil, de dupla rosca, co-rotacional e L/D = 40, com onze zonas de aquecimento como mostra a Figura 17. Para a produção, as formulações foram despejadas no funil de alimentação do equipamento, que estava programado para produção de pellets de PP virgem. Para que não houvesse problemas durante o processo, como entupimento da rosca, e considerando que o polipropileno utilizado era de procedência de reciclagem e não apresentava homogeneidade, o polímero foi extrudado e picado em pellets novamente. Figura 17 – Vista parcial da extrusora utilizada para a produção do compósito. Após a pesagem, o material foi colocado em sacos plásticos e misturado por aproximadamente 02minutos, para torná-la homogênea. Em seguida, teve início o 55 Material e Método processo de extrusão do material, sendo que a extrusora estava programada conforme a Tabela 6. Tabela 6 – Programação da extrusora para todas as formulações do compósito. Temperatura da água Zonas de aquecimento Temperatura em ºC Z1 110ºC 25 ºC Z2 150ºC Z3 170ºC Z4 195ºC Z5 195ºC Z6 195ºC Z7 190ºC Z8 190ºC Z9 190ºC Z10 190ºC Z11 200ºC Velocidade de 50kg/h para 100% e 90% PP , para 20% e 30% FM velocidade de 20kg/h Depois da passagem pelo funil, os materiais passavam pela rosca em alta temperatura, que misturava o compósito e empurrava para a saída, com um molde tipo “macarrão”. O material saía a uma temperatura média de 200ºC e caía na água para resfriamento. Após o resfriamento o “macarrão” ia direto para a picadora, produzindo os pellets do compósito plástico-madeira, conforme Figura 18. Figura 18 – Pellets do compósito plástico-madeira em 30%, 20%, 10% FM e 100%PP, respectivamente. Algumas observações puderam ser feitas desde a fase de preparo até a extrusão do compósito, ou seja: 56 Material e Método - os materiais devem ser secos em estufa antes da extrusão para que não haja problemas com o sistema de degasagem, e nem com o compósito; - a pré-mistura deve ser feita no momento da extrusão. Como os materiais têm densidades diferentes, pode haver uma separação do material se ficar parado por muito tempo antes do procedimento; - no funil de alimentação houve a necessidade de “empurrar” o material, pois como os materiais apresentavam densidades diferentes, o polipropileno estava escoando mais rapidamente; - na extrusão da formulação com 30% de farinha de madeira houve liberação de gases, sendo necessária a limpeza do sistema de degasagem; - a maior dificuldade foi observada na produção do compósito com 30% de farinha de madeira, pois o material que escoava da extrusora quebrava-se muito facilmente. 3.2.2 Método do processo de injeção do wpc Após a extrusão, as formulações ficaram em estufa por um período de 24h a uma temperatura de 60ºC. Após a secagem, o processo de injeção foi iniciado para a confecção dos corpos de prova. A configuração da injetora variou segundo cada formulação, conforme as Tabelas 7 e 8. Tabela 7 – Programação da injetora para a confecção do conjunto tipo Charpy. Traço Temperatura em ºC das zonas de aquecimento Velocidade de injeção Temperatura da água em ºC Peso do conjunto tipo Charpy 1 z1-110ºC; z2-192,6ºC; z3-189ºC; z4-159,8ºC 20seg/bar 30ºC 0,022kg 2 z1-190ºC; z2-190,5ºC; z3-185,3ºC; z4-159,3ºC 20seg/bar 30ºC 0,022kg 3 z1-190ºC; z2-190,5ºC; z3-185,3ºC; z4-159,3ºC 20seg/bar 30ºC 0,022kg 4 z1-190ºC; z2-190,1ºC; z3-185ºC; z4-159,8ºC 20seg/bar 30ºC 0,024kg 57 Material e Método A programação da injetora para o material de 100% PP foi diferente dos demais compósitos, pois as fibras da madeira influenciam na fluidez do material no bico de injeção, sendo necessários ajustes nas temperaturas de processamento e na velocidade de injeção. Tabela 8 – Programação da injetora para a confecção do conjunto de placas. Traço Temperatura em ºC das zonas de aquecimento Velocidade de injeção Temperatura da água em ºC Peso do corpo de prova (02 placas de 6cm2x3mm) 1 z1-200ºC; z2-199,5ºC; z3-194,8ºC; z4-191ºC 15seg/bar 30ºC 0,024kg 2 z1-190,1ºC; z2-189,9ºC; z3-185,2ºC; z4-159,8ºC 20seg/bar 30ºC 0,026kg 3 z1-190,1ºC; z2-189,9ºC; z3-185,2ºC; z4-159,8ºC 20seg/bar 30ºC 0,026kg 4 z1-190,1ºC; z2-189,9ºC; z3-185,2ºC; z4-159,8ºC 20seg/bar 30ºC 0,028kg A máquina utilizada para a injeção dos corpos de prova foi a Injetora Romi Prática, modelo 130, com quatro zonas de aquecimento, conforme mostra a Figura 19. Figura 19 – Máquina Injetora utilizada para a produção do compósito. 58 Material e Método Foram moldados vinte corpos de prova no conjunto tipo charpy (Figura 20) para cada formulação, e vinte corpos de prova de placas de 6cm2, como o molde se consistia num conjunto de duas placas, foram injetados dez conjuntos, totalizando vinte placas, como mostra as Figuras 21 e 22. Figura 20 – Conjunto de corpos de prova para teste de impacto e para teste de tração. Figura 21 – Conjunto de placas de 6cm2. 59 Material e Método Figura 22 – Corpos de prova separados individualmente. O processo de injeção dos corpos de prova não apresentou nenhum problema. Os compósitos fluíram bem no bico de alimentação da injetora. 3.2.3 Metodologia para o ensaio de absorção de água e inchamento em espessura, norma ASTM D-570-98 Este método de ensaio determina a relação da taxa de absorção de água pelos plásticos, quando imersos. Destina-se a todos os tipos de plásticos, incluindo os produtos resinosos (moldado-quente e moldado-frio) ambos homogêneos e plásticos laminados em haste e em forma de tubo. O ensaio para a taxa de absorção de água permite analisar a proporção de água absorvida por um material e como um teste de controle da uniformidade de um produto. De acordo com a norma ASTM D-570-98, o teor de umidade de um plástico é intimamente relacionado com propriedades como: resistência