UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA "JÚLIO DE MESQUITA FILHO" FACULDADE DE CIÊNCIAS Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem ALINE DANIELA GOMES DA SILVA VIEIRA Emergência de intraverbal via Instrução por Múltiplos Exemplares em crianças com repertório minimamente verbal. BAURU - SP 2023 ALINE DANIELA GOMES DA SILVA VIEIRA Emergência de intraverbal via Instrução por Múltiplos Exemplares em crianças com repertório minimamente verbal. Dissertação apresentada como requisito à obtenção do título de Mestre à Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem, área de concentração Aprendizagem e Ensino (L1), sob orientação da Profa. Dra. Ana Claudia Moreira Almeida Verdu. BAURU - SP 2023 Este trabalho foi realizado sob o escopo do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia sobre Comportamento, Cognição e Ensino (INCT-ECCE, 2014). Processos FAPESP 2014/50909- 8; CNPQ 465686/2014-1; CAPES 88887136407/2017-00, com vigência de 01/01/2017 a 31/01/2023. O presente trabalho foi realizado com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) – Código de financiamento 001. 2023 “Ciência é, antes de tudo, um conjunto de atitudes. É uma disposição para lidar com fatos e não com o que foi dito por alguém a respeito deles.” (SKINNER, 1953, p.12). AGRADECIMENTOS Agradecimento é uma virtude que considero mais admiráveis, essa com certeza é a minha palavra favorita do nosso vocabulário. Dizer sobre os motivos pelos quais a agradecer, é jamais esquecer que nenhum esforço é desempenhado sozinho. Chegar onde estou é sempre um conjunto de aprendizados, decisões, e pessoas que contribuíram para minha formação, por isso deveria ter equivalente número de páginas que os artigos científicos possuem, é um sonho que parecia muito distante escrever sobre eles em uma dissertação de mestrado. Não dá para digitar o último ponto da minha dissertação sem agradecer imediatamente, e principalmente, a Deus, Meu Anjo da Guarda e Nossa Senhora, não tenho palavras para agradecer por todas as bênçãos derramadas durante esse percurso. Sei que estiveram comigo desde os estudos para seleção do mestrado, nas minhas viagens, durante a leitura dos artigos, me dando sabedoria e entendimento para escrever cada palavra, até a defesa. Obrigada por me presentear com aprovação na UNESP, honrando a minha fé com a conclusão de mais este ciclo. Agradeço à todos da minha família, meus pais José Carlos e Rose, minha boadrasta Elaine, meus irmãos Beto e Douglas e minhas cunhadas Giovana e Adriele, vocês são meu alicerce, pelo apoio incondicional, por celebrarem comigo cada conquista, pelas orações e por me transmitir valores e princípios mais importantes. Adendo especial ao meu sobrinho José Emanuel, por ser uma criança amorosa e brilhante, para você entrego o meu coração repleto de amor e carinho. Amo vocês! As mamães do Matteo, Théo e da Laura, minhas amigas de infância, Aline, Tamires e Priscila, obrigada por estarem ao meu lado de modo tão amoroso, também por serem as principais responsáveis para me mostrar aonde chegamos e dar a vida aos bebês mais lindos. Tenho orgulho das mamães que estão se tornando, como eu amo vocês! Minha amiga Carol, por todos os momentos felizes compartilhados e pelo apoio nos momentos difíceis. Você é um grande exemplo de força e serenidade. Obrigada por me oferecer um ombro amigo sempre que precisei. Te amo! Aos meus colegas de profissão, amigos de vida e APAE de Pederneiras, pelo companheirismo, por terem trazido leveza aos anos escolares, de graduação e no dia a dia no trabalho e significado especial à minha formação, agradeço especialmente à Alani, Raquel, Cibele, Isadora, Angélica, Ana, Marcela e Karina, por ainda se fazerem tão presentes, respeitaram as minhas ausências e caminharam comigo nesses anos. É muito bom saber que tenho vocês sempre comigo. Amo vocês! À Vanessa, que me ajudou em todas as etapas. Solicitei a sua ajuda inúmeras vezes, e em todas fui atendida com paciência e tranquilidade. Serei eternamente grata por toda ajuda. Você foi fundamental! Aos professores do ensino escolar e da graduação, em especial a Salete e Larissa, pelos ensinamentos que transcendem os limites da Universidade. A Karina, minha irmã de vida, e família, apesar da distância, quebrando qualquer fronteira, ter sido tão presente na minha vida nestes últimos anos, agradeço o carinho, apoio, incentivo e por celebrar comigo a finalização deste trabalho. I love you and I miss you! A maravilhosa amiga Juliana, que abriu os meus olhos para esse mundo e me permitiu viver as experiências mais incríveis da vida, que me inspira enquanto pessoa e profissional e compreende meus longos momentos de ausência. Amo você demais! Aos meus “Mini-amores” (pacientes) e familiares, sinônimo de amor e união. Obrigada por acreditar no meu sonho e sempre me motivar a seguir em frente. É bom saber que posso contar com vocês nessa produção de conhecimento. À Isabelly pelo apoio nas análises dos vídeos, por estar no meu dia a dia e dos nossos mini-amores fazendo a diferença em nossas vidas. Eu adoro você! E a Maria Fernanda, amiga que fiz durante a graduação, me ligou chorando e dizendo que estava aprovada no mestrado e eu não sabia ainda, foi uma mistura de sentimentos. Você embarcou comigo neste sonho de pós-graduação também no trabalho para pessoas com deficiências embasada na Análise do Comportamento Aplicada. Obrigada por todo apoio ao longo desta caminhada, pois dividimos sonhos e dificuldades juntas. Ter você por perto foi essencial para que eu conseguisse seguir em frente. Muito obrigada por tudo e ser exemplo de vida. Te amo! A minha querida orientadora, Ana Verdu, por sempre ter acreditado em mim, visualizando características além do que eu podia ver. Obrigada pelo incentivar, por ser tão presente e me ajudar a concretizar um sonho. Você marcou a minha história! À Fernanda, é com imensa felicidade ter você comigo em momentos mais incríveis, cada fase da pesquisa, a nossa participação na ABAI, em nossa história uma contribuindo com o desenvolvimento acadêmico da outra. Esses agradecimentos vão muito além dos anos de graduação e mestrado. Com certeza a minha vida acadêmica foi leve com você ao meu lado. Aos meus queridos colegas do grupo de pesquisa, pelas discussões e aprendizados, permeados de companheirismo e amizade. A Maria Clara pela escuta atenta e incentivo desde o início. Fico muito orgulhosa em saber da sua história com garra, que em breve terei uma amiga extremamente competente e engajada no mundo da psicologia e na análise do comportamento. Ao Anderson, pessoa admirável e um grande exemplo de dedicação. Realiza o seu trabalho de forma brilhante, e ainda ajuda a todos à sua volta. Agradeço do fundo do coração por todo o tempo destinado a me ajudar, sempre com calma e atenção. Ao amigo Felipe, pelo companheirismo diário e noturno do mestrado. Você tornou essa caminhada de trabalho e estudo muito mais leve e bem divertido. Obrigada por me ajudar em todos os momentos que precisei. Sou muito grata à você, meu amigo! Aos membros da minha banca, especialmente ao Carlos Barbosa e João Henrique pelas contribuições essenciais na realização deste trabalho. Agradeço à CAPES, que possibilitou o desenvolvimento desta pesquisa, por meio da bolsa de estudo disponibilizada durante o mestrado. Um agradecimento especial às Mães dos participantes deste estudo. Obrigada pela confiança e por dividir comigo os bens mais preciosos que são seus filhos. Às crianças mais lindas, protagonista desta história. Aprendi com vocês, que é possível amar apesar de tudo, que nunca devemos esmorecer em meio as lutas e dificuldades que a vida nos impõe. Aprendi que nunca devemos deixar de ter a inocência de uma criança, para que assim possamos ter mundo melhor, justo e mais alegre. A cada sorriso, a cada abraço, a cada beijo que recebi de vocês quando acertavam as fases da pesquisa, foi um incentivo e uma certeza que estou no caminho certo. Sempre levarei vocês em meu coração. Muitíssimo obrigada. Por fim, a todos que de alguma forma contribuíram para a realização deste trabalho, o meu muito obrigada! Aline Vieira VIEIRA, Aline Daniela Gomes Silva. Emergência de intraverbal via Instrução por Múltiplos Exemplares em crianças com repertório minimamente verbal. 2023 Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem. Universidade Estadual Paulista, UNESP, Faculdade de Ciências, Bauru, 2023. RESUMO Crianças com diferentes características diagnósticas podem ter importantes déficits no desenvolvimento do comportamento verbal, apresentando dificuldades na aquisição de linguagem, principalmente nos repertórios de intraverbal. Há uma literatura que as denomina como minimamente verbais. Existem muitos procedimentos de ensino de intraverbal, porém há pouca investigação sobre o efeito da estruturação do ensino de operantes verbais em Instrução com Múltiplos Exemplares (do inglês Multiple Exemplar Instruction - MEI) sobre a indução dessa cúspide comportamental e na integração entre repertórios de ouvinte e de falante. Este estudo verificou a emergência de intraverbal após o ensino de MEI em seis crianças, com idades entre 2 e 7 anos, sendo duas crianças ouvintes sem diagnóstico (P1: 4a, menino; P2: 5a, menina), duas com Transtorno do Espectro Autista - TEA (P3: 6a, menino; P4: 4a; menino) e duas crianças com deficiência auditiva que ouvem via implante coclear - IC (P4: 6a, menina; P5: 7a, menino). Ensino e testes foram conduzidos em tentativas discretas, via software, em etapas: a) pré-teste de tato, intraverbal e ouvinte baseado em seleção com cinco conjuntos de estímulos; b) ensino de ouvinte e tato e teste de intraverbal (conjunto 1); c) MEI de tato, ouvinte e intraverbal (conjunto 2); d) ensino de ouvinte e tato e teste de intraverbal (conjunto 1); e) ensino de ouvinte e tato e teste de intraverbal (conjunto 3). No pré-teste observou-se muita variabilidade no comportamento de ouvinte (acima de 33%) e tato (abaixo de 67%); no intraverbal, os resultados foram nulos para quatro participantes (P3, P4, P5 e P6) e muito baixos para os demais (P1 e P2), evidenciando independência funcional entre ouvinte e falante. Após o MEI todos os participantes tiveram 100% de acertos em ouvinte e tato; as porcentagens de acertos em intraverbal aumentaram para todos os participantes (entre 67% e 100%), demonstrando emergência de intraverbal após MEI em crianças com repertório miminamente verbal. Palavras-chave: Repertório minimamente verbal; Crianças; Intraverbal; Instrução por Múltiplos Exemplares. VIEIRA, Aline Daniela Gomes Silva. Emergence of intraverbal via Multiple Exemplar Instruction in children with minimally verbal repertoire. 2023. Master Dissertation. Postgraduation program in Development and Learning Psychology. Universidade Estadual Paulista, UNESP, Faculdade de Ciências, Bauru, 2023. ABSTRACT Children with minimal verbal repertoire, regardless of the diagnostic characteristic, have important deficits in the development of verbal behavior, presenting difficulties in language acquisition, especially in intraverbal repertoires. There is literature that calls them minimally verbal. There are many intraverbal teaching procedures, but there is little investigation about the effect of structuring the teaching of verbal operants in Multiple Exemplar Instruction (MEI) on the induction of this behavioral cusp and on the integration between listener and speaker repertoires. This study verified the emergence of intraverbal after teaching MEI in six children, aged between 2 and 7 years, being two of them hearing children without a diagnosis (P1: 4th, boy; P2: 5th, girl), two with Autism Spectrum Disorder - ASD (P3: 6th, boy; P4: 4th; boy) and two children with hearing impairment who hear via cochlear implant - CI (P4: 6th, girl; P5: 7th, boy). Teaching and tests were conducted in discrete trials, via software, in stages: a) tact, intraverbal and listener selection-based pre-test with five sets of stimuli; b) listener and tact teaching and intraverbal test (set 1); c) MEI of tact, listener and intraverbal MEI (set 2); d) listener and tact teaching and intraverbal test (set 1); e) listener and tact teaching and intraverbal test (set 3). In the pre-test, a lot of variability was observed in listening behavior (above 33%) and tact (below 67%); in the intraverbal, the results were null for four participants (P3, P4, P5 and P6) and very low for the others (P1 and P2), showing functional independence between listener and speaker. After the MEI, all participants scored 100% on listening and tact; the percentages of correct responses in intraverbal increased for all participants (between 67% and 100%), demonstrating emergence of intraverbal after MEI in children with minimally verbal repertoire. Keywords: Minimally verbal repertoire; Children; Intraverbal; Multiple Exemplar Instruction. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Relações de controle em listener responding by function, feature and class (LRFFC), Tato e Intraverbal involved responses to instructions about function, feature and class of stimuli (FFC). Figura 2 - Componentes externos e internos do Implante Coclear: receptor-transmissor, microfone e processador de fala, receptor e estimulador, eletrodos. Fonte: https://www.fda.gov/medicaldevices/productsandmedicalprocedures/implantsandprosthetics Figura 3 – Porcentagem de acertos de José nos testes dos operantes de ouvinte, tato e intraverbal nas fases do experimento com estímulos dos conjuntos 1 e 3. Figura 4 – Porcentagem de acertos de Ana nos operantes de ouvinte, tato e intraverbal em cada fase do experimento com estímulos dos conjuntos 1 e 3. Figura 5 – Porcentagem de acertos de Samuel nos operantes de ouvinte, tato e intraverbal em cada fase do experimento com estímulos dos conjuntos 1, 3 e 5. Figura 6 – Porcentagem de acertos de João nos operantes de ouvinte, tato e intraverbal em cada fase do experimento com estímulos dos conjuntos 1 e 3 Figura 7 – Porcentagem de acertos de Vitória nos operantes de ouvinte, tato e intraverbal em cada fase do experimento com estímulos dos conjuntos 1 e 3. Figura 8 – Porcentagem de acertos de Arthur o nos operantes de ouvinte, tato e intraverbal em cada fase do experimento com os conjuntos de estímulos 1 e 3. Figura 9 – Linha de base múltipla entre participantes neurotípicos nos operantes de ouvinte, tato e ecoico, em todas as fases do experimento com estímulos do conjunto 3. Figura 10 – Linha de base múltipla entre participantes com TEA nos operantes de ouvinte, tato e ecoico, em todas as fases do experimento com estímulos do conjunto 3 e 5 (Samuel). https://www.fda.gov/medicaldevices/productsandmedicalprocedures/implantsandprosthetics Figura 11 – Linha de base múltipla entre participantes com deficiência auditiva e implante coclear nos operantes de ouvinte, tato e ecoico, em todas as fases do experimento com estímulos do conjunto 3 LISTA DE QUADROS Quadro 1. Definição dos operantes verbais: Mando, Tato, Intraverbal, Textual, Ecoico, Cópia e ditado de acordo com as relações de antecedentes e respostas verbais. Quadro 2 – Estímulos discriminativos em conjunto. Quadro 3 – Exemplo das tentativas de cada operante com a instrução para cada tipo de tarefa e a resposta esperada da criança. LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Diferenças entre os operantes verbais tatos e Intraverbal Tabela 2. As referências dos estudos em estrutura de ensino via MEI em ordem cronológica. Tabela 3 – Características dos participantes: Nome, Sexo, Idade, Ano Escolar, Diagnóstico, Tempo de Implante Coclear, Avaliação Cognitiva (SON-R) e Verbal (VB-MAPP). *Os nomes utilizados neste estudo são fictícios Tabela 4- Banco de estímulos discriminativos. Tabela 5 – Fases do Procedimento Geral, finalidade, estímulos, operantes, critério e destino. Tabela 6 – Distribuição dos blocos de tentativas de tato e intraverbal de acordo com os participantes, fases do procedimento e a porcentagem. Tabela 7 – Distribuição dos blocos de tentativas de tato e intraverbal de acordo com as fases do procedimento e a porcentagem Tabela 8 – Porcentagens de acertos dos participantes nas fases MEI Linear e MEI Randomizado. Tabela 9 – Porcentagens de acertos obtidos pelos participantes nas fases de ensino em ouvinte e de tato que precederam os testes de intraverbal com estímulos dos conjuntos 1, 3 e 5. LISTA DE ABREVIATURAS ℗ - Pausa AAC – Comunicação não verbal aumentativa e alternativa ABA – Applied Behavior Analysis ANSI - American National Standards Institute AVMTS - Auditory Visual matching-to-sample - emparelhamento ao modelo auditivo-visual BiN -Nomeação bidirecional C1, 2, 3, 4 e 5 – Conjunto 1, 2, 3, 4 e 5 CAAE – Certificado de Apresentação de Apreciação Ética C-BiN - Nomeação bidirecional comum CENAS – Currículo de Ensino e Aprendizagem de sentença Ctrl+a – Tecla correspondente do computador + a (acerto) Ctrl+e – Tecla correspondente do computador + e (erro) ᴰ - Dica DA - Deficiência Auditiva DSM – 5 - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria FFC – Intraverbal por função, característica e classe GERAS - Gerenciador de Ensino de Repertórios Acadêmicos e Simbólicos I-BiN - Nomeação bidirecional intraverbal IC – Implante coclear IDMTS - Identity matching-to-sample - emparelhamento ao modelo por identidade. IDMTS+tato - IDMTS com o experimentador tateando o estímulo modelo. IRV - Interdependência entre Repertórios Verbais LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais LRFFC – Responder como ouvinte por função, característica e classe (Listener Responding by Function, Feature and class) MEI – Multiple Exemplar Instruction PECS – Picture Exchange Communication System (Sistema de Comunicação por troca de figura) PND – Perentage Nonoverlapping Data QI – Quociente de inteligência R – Resposta RJ – Rio de Janeiro Sᴰ – Estímulo discriminativo SON-R 2 1/2 - 7 [a] - Teste Não Verbal para Avaliação da Inteligência Geral SP – São Paulo Sᴿ - Consequência TALE – Termo de Assentimento Livre e Esclarecido TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TEA – Transtorno do Espectro Autista VB-MAPP – Verbal Behavior Milestones Assessment and Placement Program VCD – Discriminação Condicional Verbal (Verbal Conditional Discrimination) VD – Variável dependente VI – Variável independente LISTA DE APÊNDICES APÊNDICE A – Protocolo de Avaliação Intraverbal APÊNDICE B – Pré-teste, Pós-teste e Follow-up APÊNDICE C- Ensino de Ouvinte e Falante (Tato) e Teste de Falante (Intraverbal) e Revisão do conjunto 1 após o MEI. APÊNDICE D- Continuação - Ensino via MEI com os operantes Ouvinte, Tato e Intraverbal para o conjunto 2 APÊNDICE E- Continuação - Ensino de Ouvinte e falante (Tato) e Teste de falante (Intraverbal) para conjunto 3. APÊNDICE F- Continuação - Ensino via MEI com os operantes Ouvinte, Tato e Intraverbal para o conjunto 4 APÊNDICE G- Continuação - Ensino via MEI com os operantes Ouvinte, Tato e Intraverbal para o conjunto 5 APÊNDICE H- As porcentagens de acertos representam uma medida de acurácia da fala. APÊNDICE I– Folha de registro para Análise de Integridade. APÊNDICE J– Folha de registro para Análise entre Observadores. LISTA DE ANEXOS ANEXO A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ANEXO B - Termo de Assentimento Livre e Esclarecido ANEXO C – Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa Sumário 1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 25 1.1 Comportamento de falante e ouvinte ................................................................................. 26 1.2 Controle múltiplo .............................................................................................................. 29 1.3 Tipos de intraverbais e de discriminações com diferentes níveis de complexidade. .......... 30 1.4 Independência funcional entre operantes verbais............................................................... 34 1.5 Multiple Exemplar Instruction (MEI) ................................................................................ 36 1.6 Populações com déficit em repertório verbal ..................................................................... 43 1. 7 OBJETIVO GERAL ......................................................................................................... 50 Objetivos Específicos .............................................................................................................. 50 2. MÉTODO ................................................................................................................................... 50 2.1 Participantes ........................................................................................................................... 50 2.2 Instrumentos, Materiais e Estímulos .................................................................................. 54 2.2.1 Instrumentos ................................................................................................................... 54 2.2.2 Materiais ......................................................................................................................... 56 2.2.3 Estímulos ........................................................................................................................ 56 2.3 Ambiente ........................................................................................................................... 60 2.4 Variáveis e Medidas .......................................................................................................... 60 2.4.1 Variável Dependente ...................................................................................................... 60 2.4.2 Variável Independente .................................................................................................... 61 2.5 Delineamento .................................................................................................................... 61 2.6 Procedimento ..................................................................................................................... 61 2.6.1 Tipos de tentativas .......................................................................................................... 61 2.6.2 Fases do Procedimento ................................................................................................... 63 2.7 Procedimento de Análise de Dados ................................................................................... 70 2.8 Concordância entre observadores ...................................................................................... 71 2.9 Análise da integridade do procedimento ............................................................................ 72 3. RESULTADOS ........................................................................................................................... 73 3.2 Ensino de ouvinte e de tato e Multiple Exemplar Instruction (MEI)................................ 80 3.3 Linha de Base Múltipla ..................................................................................................... 87 4. DISCUSSÃO ............................................................................................................................... 91 5. REFERÊNCIAS ......................................................................................................................... 98 25 1. INTRODUÇÃO Nos últimos anos, diversas pesquisas aplicadas têm estudado as variáveis relacionadas à emergência de comportamentos verbais novos, não ensinados diretamente, em crianças com desenvolvimento típico e atípico. Sobre déficits no repertório comportamental verbal estes podem estar tanto ausentes, ser apresentados com lacunas ou de forma inconsistente, ou ainda, serem adquiridos mais tardiamente. Para esses casos, o desenvolvimento do repertório verbal se dá a partir da elaboração de programas de ensino que envolvem treino sistemático requerendo organização cuidadosa e especialmente planejada das condições de ensino (Ribeiro; Sella, 2018; Silva; Araújo, 2007; Cooper et al., 2007; Greer; Ross, 2008). Como resultados, observa- se melhora na percepção e compreensão auditiva, e aquisição da linguagem oral, promovendo melhor qualidade de vida, proporcionando possibilidade de experiências comunicativas e as interações sociais de maneira funcional diante dos comportamentos aprendidos. O comportamento verbal é um comportamento operante, cuja consequência para o comportamento do falante é mediada pelo comportamento do ouvinte. À exemplo apresentado por Catania (1998) quando o falante diz: “Tenho certeza de que o café o está pronto”, esses estímulos verbais apresentarão efeitos sobre o ouvinte, aumentando a probabilidade deste indivíduo se engajar ou não, como, por exemplo, em buscar o café. Neste exemplo, é possível verificar a necessidade de aprendizagem para atuar como ouvinte e como falante em uma comunidade verbal. Assim, é estabelecido, ampliado e mantido pelas contingências de reforço social, ou seja, sustentada pelas interações entre o organismo e o ambiente social, levando em consideração as circunstâncias em que cada um ocorre e porque está acontecendo (Skinner, 1957). Além do reforço mediado pelo comportamento de um ouvinte, outra característica importante do comportamento verbal é que este é definido pela sua função e não pela topografia. Desta forma, não só a linguagem falada, mas a escrita, a língua visual-espacial (i.e., línguas de sinais), cartões de comunicação (i.e., PECS), código Morse, pontos em relevo do Braile com a devida descrição, também preenchem a definição de comportamento verbal. 26 1.1 Comportamento de falante e ouvinte De acordo com Skinner (1957), o meio dos quais um indivíduo se torna um ouvinte será diferente para se tornar um falante. Ao adquirir um comportamento característico de ouvinte ele não se torna um falante e mesmo acontece no processo de falante para ouvinte. O comportamento de ouvinte foi descrito (Skinner, 1957) como controlado por estímulos discriminativos verbais emitidos pelo falante, podendo ser verbal ou não, pois ouvinte (audiência) irá selecionar e fortalecer o comportamento do falante e, para que isso aconteça, o ouvinte precisa ter requisitos de aprendizagens na comunidade verbal em que está inserido para disponibilizar a consequência adequada e adquire habilidades de reconhecimento e compreensão auditivas sob controle de estímulos auditivos (Almeida-Verdu, 2002). O comportamento de ouvinte é requisito para aprendizagem de operantes verbais mais complexos (Greer et al., 2005). O ouvinte pode responder ao falante de forma verbal ou não verbal (Dahás, Goulart, Souza, 2008), funcionando como contexto ou estímulo discriminativo verbal, e seu comportamento é modelado e mantido por esquemas de reforçamento diversificados e relacionados com a interação com o falante (Lage et al., 2004; Baum, 2008). As habilidades de falante foram descritas a partir de categorias de operantes verbais (Greer; Ross, 2008; Skinner, 1957) a partir de sua topografia (falada ou escrita), de seus antecedentes (verbais ou não verbais) e de suas consequências (generalizadas ou específicas). Skinner (1957) descreveu os operantes verbais primários a partir das relações de contingências envolvidas na emissão do comportamento verbal e suas relações de controle pelos estímulos discriminativos. Os operantes verbais primários são: mando, tato, ecoico, intraverbal, textual e transcrição (ditado e cópia). Os operantes verbais tato e intraverbal serão alvo principal desta pesquisa, em adição o comportamento de ouvir baseado em seleção, em virtude de tais operantes são essenciais para aquisição de vocabulário e aprendizagem de respostas verbais mais complexas (Greer; Ross, 2008). O Quadro 1 expõe as definições dos operantes verbais segundo a relação entre os antecedentes e respostas verbais. 27 Quadro 1. Definição dos operantes verbais: Mando, Tato, Ecoico, Intraverbal, Textual, Cópia e Ditado de acordo com as relações de antecedentes e respostas verbais. Operante Verbal Antecedente Resposta Mando Operações motivacionais – privação e estimulação aversiva R verbal Tato Sᴰ não verbal R verbal Intraverbal Sᴰ verbal R verbal Textual Sᴰ verbal escrito R verbal Ecóico Sᴰ verbal R verbal Cópia Sᴰ verbal escrita R verbal escrita Ditado Sᴰ verbal R verbal escrita Fonte: Elaborado pela autora De acordo com o quadro 1, de maneira geral, no tato a resposta é verbal e o antecedente é não verbal, públicos ou privados (objeto, evento e sensações). No caso específico deste trabalho a resposta verbal emitida sobre controle de um estímulo não verbal é vocal. Na hipótese de o tato ser emitido por uma pessoa com surdez que se comunica pela língua de sinais a resposta verbal seria a emissão do sinal correspondente ao estímulo não verbal, ou seja, uma resposta motora. Então, a definição de tato e de qualquer outro operante verbal não é baseado na topografia e sim no controle de estímulo antecedente (algum evento não verbal). No intraverbal a resposta é verbal e está sobre controle de estímulos antecedentes também verbais. Uma característica do intraverbal é que a resposta verbal emitida não tem correspondência estrutural com o antecedente verbal (as respostas estão sob controle da pergunta, por exemplo, responder “muuu” quando perguntado “Qual é o som que a vaca faz?”). Além de tudo, o intraverbal pode ocorrer ainda de maneira escrita onde o estímulo discriminativo verbal (prova digitalizada ou um bilhete escrito por uma pessoa) pode ser tanto escrito quanto impresso, e a resposta verbal emitida pode ser motora, cujo produto da resposta é escrever ou digitar. Um exemplo é o caso em que a professora apresenta a prova impressa com uma questão com a informação (estímulo discriminativo impresso) “calcule, 5 + 5=____” e, a criança sob controle disso, escreve (resposta escrita) “10” depois do sinal de igualdade, 28 entre outras variações de resposta que poderá surgir. O intraverbal difere do operante ecoico no qual a emissão verbal deve ocorrer com correspondência ponto a ponto com o estímulo auditivo antecedente, ocorrendo uma relação de identidade entre o antecedente e a resposta emitida, como: após ouvir “pipa”, a criança apresente a resposta alvo “pipa”. Da mesma maneira que no operante tato, o intraverbal não está restrito a topografia vocal. Se considerar a comunicação em LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) os intraverbais podem ser realizados pela emissão de sinais; uma pessoa emite sinais convencionados pela comunidade surda e a outra pessoa, treinada nesta mesma comunidade, responde sob controle desses sinais. As respostas são mantidas por reforços sociais generalizados. Então, a definição de verbal está mais relacionada ao fato de o comportamento emitido pelo falante afetar e modificar o comportamento de um ouvinte no que relacionada a uma topografia vocal. As relações intraverbais estão presentes em muitos contextos do indivíduo, tais como educação, comunidade, literatura, história, ciência, pensamento e criatividade. Diante desses contextos, as pessoas estabelecem diferentes tipos de interações intraverbais, como, por exemplo, diante do antecedente verbal “Como vai você?”, a resposta verbal emitida pode ser “Eu estou bem, obrigada por perguntar”. Intraverbais são essenciais para o produto de processos de ensino, como habilidades acadêmicas (Sundberg; Sundberg, 2011). O intraverbal também difere do tato em relação aos estímulos antecedentes que controlam cada um dos dois operantes. Na Tabela 1 são representadas as diferenças entre os operantes tatos e intraverbal, no que refere ao estímulo antecedente, resposta, consequência, incluindo exemplos. Nota-se que, de acordo com os exemplos na tabela, ainda que a topografia verbal seja a mesma (i.e., dizer “casa”) o controle de estímulos no tato e no intraverbal são diferentes. 29 Tabela 1 – Diferenças entre os operantes verbais tato e intraverbal. Operantes verbais Antecedente Resposta Consequência Exemplo Tato Sᴰ Estímulo não verbal R verbal Sᴿ Reforço generalizado Sᴰ: R: “Casa” Sᴿ: “Fantástico!” Intraverbal Sᴰ Estímulo verbal R verbal Sᴿ Reforço generalizado Sᴰ: “Qual seu tipo de moradia?” R: “Casa” Sᴿ: “Incrível!!” Fonte: Elaborado pela autora De acordo com o exemplo na Tabela 1, o comportamento verbal é controlado por múltiplas variáveis e conhecê-las e descrevê-las permite o planejamento de condições de ensino mais efetivas para crianças minimamente verbais e que não adquirem comportamento verbal sob condições incidentais. 1.2 Controle múltiplo Em uma revisão de literatura sobre intraverbal nos anos de 2015 a 2020, Jennings et al. (2021), recomendaram estudar o comportamento verbal mais “complexo” o que significa estudar o comportamento verbal controlado por múltiplas variáveis. Isso geralmente é chamado de controle múltiplo (Michael et al., 2011), podendo envolver combinações de tatos com qualificadores (e.g., animal grande, carro vermelho) ou discriminações condicionais (e.g., “Se você estiver vestindo azul, levante-se” (Eikeseth; Smith, 2013). Variáveis adicionais que controlam uma resposta também podem envolver eventos passados (e.g., “O que você comeu no almoço ontem?”) ou alguma forma de resolução de problemas (e.g., “Vamos levar 30 minutos para chegar lá, quando devemos sair?”) (Palmer, 2016). Estudar como diferentes antecedentes afetam a mesma resposta verbal é uma das formas do controle múltiplo. No tato, envolve um estímulo não-verbal (i.e., evento, objeto), mas em intraverbais envolve um comportamento especificamente verbal. 30 Na perspectiva apresentada por Michael et al. (2011), o controle está relacionado com a direção dada ao responder, sendo elas: controle divergente como dizer “laranja, preto e vermelho” sob controle da variável “diga-me nomes de cores...”. Neste caso, uma única variável controla a emissão de respostas múltiplas; ou controle convergente em que o efeito combinado de mais de uma variável que converge na evocação de uma única resposta, como por exemplo, (1) “a criança está com fome, olha para mãe” e diz “bolo”; (2) “Qual alimento é feito para cantar parabéns na festa de aniversário?”, a criança responde “bolo”; (3) ao ver a imagem do bolo ou item presente no ambiente, a criança diz “bolo” em que três variáveis discriminativas diferentes controlam a mesma resposta verbal. De maneira geral, discute-se neste estudo formas em que o controle convergente apresenta mais de uma variável discriminativa diferente para afetar sobre uma única topografia de resposta; o que consequentemente criaria uma condição para resposta controlada; esta condição de destaque seria fundamental e responsável por uma aprendizagem complexa, como por exemplo, aquisição de comportamento verbal novo em condições incidentais. 1.3 Tipos de intraverbais e de discriminações com diferentes níveis de complexidade. Podem ocorrer variações nos estímulos antecedentes que controlam as relações intraverbais. As relações intraverbais podem requerer uma discriminação verbal simples como, por exemplo, responder à questão “Quantos anos você tem?”). Relações intraverbais também podem requerer discriminações verbais complexas, como aquelas que envolvem discriminação condicional verbal ao responder à questão “Qual transporte tem duas rodas?”, em que a resposta deve ser controlada tanto por “transporte” quanto por “duas rodas”. Essas relações de discriminação condicional verbal (VCD, do inglês Verbal Conditional Discrimination), na qual um estímulo verbal está desempenhando o papel de estímulo condicional, alterando o efeito do outro estímulo verbal, sendo que os dois estímulos, em conjuntos, devem controlar uma resposta verbal, que é o embasamento para quase todos os comportamentos intraverbais (Axe, 2008; Sundber; Sundberg, 2011). E esta relação pode tornar mais complexa à medida que o repertório verbal da criança começa ampliar e são adicionados ao antecedente, por exemplo, os modificadores verbais (adjetivos, preposições, pronomes, conjunções), conceitos mais complexos (negação, posições ordinais, tempo), palavras muito complexas e temas diversos. Os diferentes níveis de complexidade que envolvem relações intraverbais são: 1) discriminação simples (e.g., dizer “dedo” diante da pergunta “Diga-me o que temos na mão?”). Com uma relação arbitrária entre antecedente e resposta e a palavra “mão” é a variável 31 de controle crítica sobre o responder que será evocado pelo ouvinte; 2) discriminação por controle convergente (e.g., dizer “Olho” diante da instrução “Qual é a parte do corpo que você usa para ver as coisas”), nesta situação existe duas palavras que controlam a resposta do ouvinte, isto é, as palavras “corpo” e “ver”, assim, caracteriza um tipo de discriminação condicional verbal; 3) discriminação por controle divergente (e.g., “olho, boca e nariz” sob controle da instrução “O que temos no rosto”), neste caso, uma instrução controla a emissão de várias respostas; 4) discriminação modificadora de função verbal (e.g., perante as orientações da mãe para o filho “quando eu lhe chamar para entrar, você irá para o banho”). O estímulo discriminativo verbal emitido pela mãe modifica a função do comportamento emitido, especificando o deve ser feito pelo filho ao entrar, portanto o antecedente controla a emissão do responder pelo filho em outro momento (De Souza et al., 2019; Matos et al., 2021; Pérez González, 2020; Sundberg, 2016). Ribeiro (2007) classificou o operante verbal tato como “tato receptivo e tato expressivo” como uma maneira de evidencial que o operante não é definido pela topografia vocal, mas pelas relações de controle que estabelece com estímulos discriminativos. No tato receptivo a relação é baseada na seleção em que a resposta esperada que o indivíduo selecione um estímulo não verbal (antecedente), a partir do estímulo condicional, por exemplo, em uma tentativa de pareamento de acordo com o modelo, diante de um sinal da LIBRAS (apresentado como modelo), o indivíduo aponta para figura correspondente, dentre aquelas apresentadas como estímulos de comparação. No tato expressivo, a relação é baseada na topografia (vocal ou motora), na qual o comportamento é emitido diante de um estímulo não verbal, como quando o indivíduo emite um gesto que represente o sinal da LIBRAS diante da apresentação de uma imagem. Uma extensão poderia ser feita aqui para intraverbal que implica em uma resposta verbal expressiva (vocal, motora ou escrita), sob controle de um estímulo verbal. Tecendo a devida analogia com a categorização de Ribeiro (2007), poderia assumir uma forma receptiva em que após uma sentença (auditiva, escrita ou uma cena) esta poderia ser respondida ao apontar uma figura ou cena (arbitrariamente) relacionada, em tarefas de pareamento de acordo com o modelo. Há uma literatura que denomina esses comportamentos como Responder como ouvinte por função, característica e classe (Listener Responding by Function, Feature and Class – LRFFC) e intraverbal por Função, Característica e Classe (intraverbal FFC), respectivamente. O LRFFC, é uma tarefa de repertório de ouvinte administrada por um adulto que tem a finalidade de apresentar figuras retratando diferentes estímulos não verbais sobre uma mesa e 32 diante de uma criança. O adulto emite um estímulo discriminativo verbal (Sᴰ), em forma de pergunta ou preenchimento de lacuna como, por exemplo, “onde você pode dormir?” ou “Tem folhas na...” e a criança, por sua vez, seleciona a figura (estímulo discriminativo em relação à função, característica ou classe) que contém a imagem de uma cama ou árvore. O intraverbal FFC são repertórios verbais em que a criança responde a um estímulo antecedente verbal com relação à função, característica ou classe e sem que exista uma correspondência ponto a ponto entre o estímulo discriminativo e a resposta e, neste caso, não há apresentação de uma imagem. Como exemplo, em uma situação em que nenhuma imagem é apresentada, um adulto pergunta “onde você coloca o suco?” e a criança responde verbalmente “no copo”. A Figura 1 representa outro exemplo de contingências LRFFC e FFC, ambos envolveram um alvo semelhante (pássaro), na primeira situação foi uma resposta baseada em seleção, sob controle de estímulos verbais (LRFFC), já na segunda, houve emissão de uma resposta verbal sob controle de estímulos verbais (FFC intraverbal) (Matos et al., 2020). Figura 1. Relações de controle em listener responding by function, feature and class (LRFFC), Tato e Intraverbal por função, característica e classe (intraverbal FFC). Fonte: Elaborado pela autora Uma investigação realizada por Matos et al. (2020) teve como objetivo em comparar a eficiência de duas estruturas de ensino de habilidade de falante (intraverbal FFC) e de ouvinte (LRFFC) em duas crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A pesquisa envolveu três fases que aconteceram de forma separada. A primeira fase realizou uma avaliação inicial de LRFFC e FFC para verificar o repertório de entrada dos participantes. A segunda fase 33 ensinou LRFFC e testou FFC com estímulos não ensinados. E por fim, a terceira condição foi semelhante a fase anterior, mas a sequência de ensino era iniciando pelo ensino de repertório de falante (FFC) e seguido pela testagem do repertório de ouvinte (LRFFC). Os resultados demonstraram que em ambas as sequências de ensino, quais sejam, de LRFFC seguido de sonda de intraverbal e de intraverbal seguido de sonda de LRFFC, foram suficientes para a emergência do repertório não ensinado para os dois participantes. Entretanto, o ensino de intraverbal (intraverbal FFC) produziu emergência do LRFFC com menor porcentagem de acertos para as duas crianças. Kodak e Paden (2015) verificaram os efeitos do ensino de LRFFC e de intraverbal FFC em duas crianças com TEA. De acordo com os dados, os pesquisadores verificaram que o ensino de intraverbais produziu a emergência de LRFFC com resultados positivos para os participantes, entretanto o ensino do LRFFC produziu a emergência de intraverbais para uma das crianças. O procedimento do estudo foi conduzindo com um pré-teste avaliando o comportamento de ouvinte (ouvir uma frase incompleta e apontar para a figura que a completa) e o intraverbal (ouvir uma frase incompleta e completá-la pelo comportamento vocal). Os participantes receberam treino de ouvinte e de intraverbal de acordo com tratamento alternado e sondas avaliaram ambos os comportamentos. Durante o treinamento do ouvinte, o experimentador colocou três estímulos visuais na frente do participante e apresentou um estímulo verbal antecedente, por exemplo /Você lava com__/, e os participantes foram treinados para tocar os estímulos visuais corretos, respostas incorretas eram seguidas por prompts com o experimentador apontando o estímulo correto. O ensino do comportamento intraverbal consistiu na apresentação de um estímulo verbal antecedente, por exemplo /Você lava com__/ e a resposta requerida era vocal; se não ocorresse o experimentado fornecia prompt ecoico. Os autores acrescentam que as respostas de tato durante o ensino de LRFFC (selecionar figuras a partir de Sᴰ sobre função, característica e classe e verbalizar os nomes das figuras) são importantes para a emergência de intraverbais. Desta forma, os dados foram classificados como relevantes pelos autores e novas pesquisas poderiam buscar replicar os achados com mais participantes. Aspectos semelhantes foram relatados em estudos com crianças com desenvolvimento típico (Cortez et al., 2020; Lechago et al., 2015; Petursdottir; Hafidadottir, 2009; Petursdottir et al., 2008b; Petursdottir et al., 2014). 34 1.4 Independência funcional entre operantes verbais Skinner (1957), considera que quando uma resposta verbal é aprendida com uma determinada função, ou seja, uma pessoa aprende a emitir comportamento de ouvinte sob controle discriminativo de certos estímulos verbais, não necessariamente ela emitirá o comportamento de falante que produz o mesmo estímulo sem treino direto. Portanto, os comportamentos de ouvinte e falante são aprendidos por contingências distintas e são independentes funcionalmente. A função de ouvinte em um episódio verbal, com a finalidade de consequenciar o comportamento de falante, também precisa ser treinada. A literatura em análise do comportamento verbal, documenta que quando a pessoa adquire um operante não garante a emergência de outro, ou seja, se uma criança aprende uma determinada topografia de resposta em um contexto funcional, por exemplo o tato (e.g., dizer “bolo” na presença do bolo; dizer “mamãe”, na presença da mãe), não significa que ela emitirá a mesma topografia de resposta quando estiver em uma situação que necessita emitir um intraverbal (e.g., Em resposta à pergunta “O que vamos fazer para o lanche da tarde?” dizer “bolo”; “Na sua casa, quem você chama quando precisa de ajuda?” dizer “mamãe”). Esta característica é denominada de independência funcional (Ribeiro, 2007; Skinner, 1957). Diante dessa discussão, alguns estudos tinham como objetivos investigar e demonstrar as condições de independência funcional entre os repertórios de ouvinte e falante (Guess, 1969; Bandini et al., 2012). E outros sobre o repertório de falante emergindo depois de um treino de ouvinte (Fiorile; Greer, 2007; Ribeiro et al., 2010). Outros estudos ainda, documentaram a independência funcional entre operantes de mesma topografia como entre tato e mando (Nuzzolo-Gomes; Greer, 2004; Córdova et al., 2012). É de conhecimento que a independência funcional dos operantes verbais tem sido tema de muitos estudos, e a maior parte deles tem focado nos operantes, tato e mando de acordo com Gamba et al. (2014). Analisando esses estudos, Andrade (2021) teve como objetivo investigar a relação de independência funcional entre o operante verbal tato e intraverbal. Os participantes foram três crianças com suspeita ou diagnóstico concluído em TEA. As fases do procedimento foram divididas em: pré-testes, treino da ação, treino de operantes e pós-teste. O treino e teste de tato foram realizados com apresentação de imagens impressas (estímulo discriminativo não verbal) e o treino e teste de intraverbal foram feitos apenas com perguntas (estímulo discriminativo verbal, sem a presença de imagens). Na primeira fase todos os participantes foram submetidos a testes de tato e intraverbal. Um dos participantes foi submetido ao treino de tato e teste de intraverbal, enquanto dois participantes passaram pelo treino de intraverbal e 35 teste de tato. Os resultados apontaram para relações de dependência e independência funcional entre os operantes verbais estudados. Diante da mudança de fase no experimento, foi possível observar uma queda de desempenho dos participantes. O participante 1 emitiu 0% de respostas corretas no teste de intraverbal, o que demonstra que não houve aquisição de respostas com função de intraverbal, após o treino de tato. Tais resultados confirmam a proposição de Skinner (1957) de que aprender uma topografia de resposta em um operante não é automaticamente generalizado para outro operante verbal, ainda que tenham a mesma topografia, incluindo outros resultados de estudos que também apresentam a proposta de independência funcional (Lamarre; Holland, 1985; Carroll; Hesse, 1987; Hall; Sundberg, 1987; Nuzzolo-Gomez; Greer, 2004; Córdova et al., 2012) Com o intuito de verificar qual operante verbal (mando, tato ou intraverbal) foi adquirido primeiramente, crianças de 3 e 4 anos e desenvolvimento típico foram expostas a três condições: se uma resposta estabelecida sob condições de mando ocorre sob condições de tato e intraverbal, se uma resposta estabelecida sob condições de tato ocorre sob condições de mando e intraverbal, e se uma resposta estabelecida sob condições de intraverbal ocorre sob condições de tato e mando (Simonassi, 2004). Utilizaram-se sessões de linha de base para testar o operante ecoico, e cada um dos operantes (tato, mando e intraverbal). Na sequência foram feitos os treinos em cada participante com cada uma das estruturas de ensino e testes, com uso de estímulos (brinquedos) diferentes. Os testes foram conduzidos com cada um dos operantes treinados e não treinados, após os critérios serem atingidos. Os resultados demostraram que tato e intraverbal são operantes mais facilmente adquiridos, demonstraram a relação de dependência funcional maior entre mandos e tatos e relações escassas de dependência funcional entre intraverbais e tatos. Partington e Bailey (1993) verificaram se quatro crianças de quatro anos, após o ensino de tatos de 20 figuras referentes a brinquedos, frutas e mobília, demonstrariam a emergência de intraverbais, consistindo em relatar estímulos pertencentes às categorias mencionadas e a partir de antecedentes verbais como “diga-me nomes de frutas”. A emergência foi demonstrada para apenas uma criança. Em um segundo experimento, foi realizado também o ensino de tato dos nomes das categorias do estudo. Após o ensino, foi verificado um efeito discreto/baixo de emergência de intraverbais para uma de duas crianças com algum repertório de entrada de intraverbais. Portanto, os resultados dessa pesquisa apontam uma possível independência funcional entre tatos e intraverbais, tendo em vista que os treinos de tatos não produziram emergência de intraverbais. 36 Petursdottir et al. (2008), pesquisaram se o ensino de intraverbais de categorias produziria a emergência da identificação das categorias como ouvinte, e o oposto também, em cinco crianças típicas de 3 e 4 anos. Os autores apresentaram 30 figuras, consistindo em 12 desenhos de mapas de países, 12 símbolos de sistemas de escrita estrangeiros e 6 desenhos de itens com os quais as crianças tinham familiaridade. O ensino dos repertórios de ouvinte e de intraverbal não foram condição para a emergência para as cinco crianças. Há experimentos para explicar como o comportamento de ouvinte e falante podem se tornar funcionalmente integrados, em outros termos é designado de interdependência funcional ou integração entre operantes verbais. Pesquisas empíricas e teóricas têm sido conduzidas para investigar as variáveis que favorecem esse fenômeno (Bao et al., 2017; Fiorile; Greer, 2007; Gilic; Greer, 2011; Greer; Longano, 2010; Greer; Speckman, 2009; Greer et al., 2005). A Instrução por Múltiplos Exemplares (do inglês, Multiple Exemplar Instruction - MEI) tem sido uma estrutura investigada na literatura mais recente pelos seus efeitos sobre a integração entre operantes do falante e ouvinte e entre operantes verbais, além de seu papel indutor na nomeação bidirecional. 1.5 Multiple Exemplar Instruction (MEI) O Multiple Exemplar Instruction – MEI (Instrução por Múltiplos Exemplares) é reconhecida pelo seu efeito em induzir a integração entre os repertórios de falante e de ouvinte. Essa integração é uma é reconhecida como uma cúspide comportamental, isto é, um repertório que permite que o indivíduo entre em contato com novas situações de aprendizagem (i.e., aquisição de vocabulário, resolução de problemas) que não seriam possíveis sem essa aprendizagem prévia (behavioral cusp, Rosales Ruiz; Baer, 1997). Especificamente, MEI é uma forma de estruturar o ensino e consiste na apresentação de operantes com diferentes topografias de resposta e diferentes relações de controle de estímulo (Greer et al., 2005). Além disso, o ensino por MEI tem demonstrado a emergência de repertório verbal novo em populações com repertório verbal muito reduzido (Nuzzolo-Gomez; Greer, 2004; Greer; Nirgudkar; Park, 2003; Greer et al., 2005; Luke et al., 2011). Ao analisar as populações que participaram com a estrutura de ensino via MEI, constatou-se uma heterogeneidade de participantes com diferentes condições diagnósticas. No presente estudo selecionou-se uma pesquisa de cada uma das características diagnósticas da população que atuou como participante, quais sejam, crianças com desenvolvimento típico ou sem diagnósticos, mas que 37 apresentam déficits no comportamento verbal em questão, crianças com diagnóstico de TEA e crianças com deficiência auditiva e experiência de ouvinte pelo uso de implante coclear (IC). A nomeação bidirecional, isto é, emergência de comportamento de falante e de ouvinte após a exposição ao MEI foi investigada em oito crianças com desenvolvimento típico, com dois anos de idade (Gilic; Greer, 2011). A estrutura de ensino via MEI randomizou tentativas de pareamento de identidade entre estímulos com tato do modelo pelo experimentador [IDMTS+tato], de pareamento entre estímulos auditivo e visuais [AVMTS] (Auditory Visual Matching-to-sample) e de tato impuro. Os resultados apresentados foram mistos, sendo sete crianças adquiriram nomeação, isto é, após o treino de ouvinte observou-se a emergência do comportamento de falante. O desempenho médio no pré-teste foi de 20% de acertos para o comportamento de ouvinte e de 16% de acertos para o comportamento de falante; no pós-teste foi de 100% de acertos para ouvinte e de 86% de acertos para falante. No estudo de Olaff et al. (2017), três crianças com idades entre 4 a 6 anos diagnosticadas com TEA participaram da pesquisa. O MEI tinha estrutura para induzir nomeação bidirecional. com tentativas de [IDMTS+tato] com exigência de resposta ecoica, AVMTS, tato puro e impuro. Os resultados foram mistos; todos os participantes adquiriram o repertório de ouvinte após o treino de falante e uma criança demonstrou o repertório de falante após o treino de ouvinte. Esses resultados foram obtidos após a exposição ao MEI. Os efeitos do MEI têm sido investigados em crianças com deficiência auditiva e experiência de ouvinte via uso de implante coclear (IC). Merlin et al., (2019), descreveu dados de duas crianças com 6 anos de idade expostas a uma estrutura MEI com os operantes de ecoico, tato e comportamento de ouvinte. Os estímulos eram sequências de substantivos e adjetivos. O MEI iniciava de forma linear na qual a sequência de tentativas era a mesma para cada estímulo (AVMTS, ecoico e tato impuro). Antes do ensino os comportamentos de ouvinte e de falante eram independentes; para um participante o comportamento de ouvinte estava bem estabelecido, mas o de falante não; para outro participante as porcentagens de acertos eram superiores em comportamento de falante, mas em comportamento de ouvinte não. Os autores relatam que as porcentagens de respostas corretas em ouvinte, tato e ecoico aumentaram após ao MEI com desempenho de 100% em respostas em todos os repertórios, demonstrando a integração ou a interdependência entre os comportamentos de falante e de ouvinte. A expressão MEI muitas vezes é confundida com a expressão Multiple Exemplar Training (MET). Mascotti e Almeida-Verdu (2020) realizaram uma revisão da literatura que selecionou 65 artigos, sendo que 52 utilizaram o termo MET e 13 estudos usaram o termo MEI. 38 Nesta revisão, o primeiro com o termo MET foi o de Hughes e Rusch (1989); já o primeiro estudo com o termo MEI foi o de Nuzzolo-Gomez; Greer (2004). Enquanto que o termo MET está relacionado a treinos por exemplares suficientes para estabelecer repertórios verbais emergentes e para proporcionar a generalização, ensinar diretamente um comportamento específico com uma diversidade de variações de estímulos (Meindl, et al., 2013; Albright, et al., 2015; Vizcaíno-Torres, et al., 2015; Parra; Ruiz, 2016; Thirus, et al., 2016; Dass, et al., 2018; Schnell, et al., 2018), o termo MEI refere uma estrutura para estabelecer a integração entre os repertórios de falante e ouvinte, com o propósito na emergência da capacidade de aprender novos conjuntos de relações verbais (Byrne et al. 2014; Greer; Du, 2015). No MEI há a necessidade de rotatividade de operantes durante o ensino como diversas respostas para um único estímulo, e também a rotação de diferentes conformações de estímulo para uma única resposta, com alternância entre respostas de ouvinte e falante (Greer; Yuan, 2008). A programação da estrutura de ensino em MEI subdivide-se em duas categorias, o MEI linear e o MEI randomizado. O MEI linear refere-se à apresentação sequencial dos operantes verbais para cada estímulo (i.e., ensina-se ouvinte, tato e intraverbal para um estímulo; em seguida segue o ensino dessa mesma sequência de operantes, porém para um novo estímulo). Alguns estudos têm adotado essa estrutura (Nuzzolo-Gomez; Greer, 2004; Greer, et al., 2005; Greer et al., 2005; Merlin et al., 2019; Mascotti, 2019). O MEI randomizado seria o ensino totalmente misturado e aleatorizado entre operantes e estímulos (e.g., uma tarefa de tato para um estímulo, seguida de uma tarefa de ouvinte para outro estímulo e finalmente para intraverbal) e oito estudos foram estruturados de maneira randomizada (Fiorile; Greer, 2007; Greer; Yuan, 2008; Silber; Martens, 2010; Gilic; Greer, 2011; Luke, et al., 2011; Lechago, et al., 2015; Greer; Du, 2015; Santos; Souza, 2016). O uso de MEI linear ou randomizado deve considerar o repertório inicial do aprendiz e a necessidade de planejar rotas de ensino que minimizem a ocorrência de erros. Mascotti (2019), adotou a estrutura MEI linear precedendo a randomizada, para verificar seu potencial indutor na emergência do tato após o treino de ouvinte com uma criança com deficiência auditiva (Estudo 2) e três crianças com TEA (Estudo 3). Exceto uma criança com TEA, as demais atingiram altas porcentagens de acertos nos operantes de ecoico, ouvinte e tato estruturados em MEI e demonstraram tato emergente. Lima e Souza (2022) realizaram uma pesquisa nas bases de dados e encontraram 24 artigos que tiveram o MEI como procedimento de ensino estruturado com repertórios de ouvinte e falante. Na análise mostrou que 12 artigos empregou a estruturação de ensino para induzir 39 nomeação como comportamento bidirecional (Greer, et al., 2005; Fiorile; Greer, 2007; Hawkins et al., 2007; Hawkins et al., 2009; Gilic; Greer, 2011; Greer et al., 2011; Greer; Du, 2015; Pereira et al., 2016; Santos; Souza, 2016; Olaff et al., 2017 Pereira et al., 2018). A outra metade utilizou o MEI para promover a interdependência entre repertórios verbais de mesma topografia ou de ouvinte e de falante (Nuzzolo-Gomez; Greer, 2004; Greer; et al., 2005; Greer; Yuan, 2008; Eby et al., 2010; Sidener et al., 2010; Luke et al., 2011; Cahill; Greer, 2014; Lechago et al., 2015; Rique et al., 2017; Singer-Dudek et al., 2017; Merlin et al., 2019; Guerra; Almeida-Verdu, 2020). Em especial, extraiu-se de Lima e Souza (2022), as referências dos estudos em estrutura de ensino via MEI, cujo alvo foi o intraverbal (Greer et al., 2005; Eby et al., 2010; Lechago et al., 2015) conforme Tabela 2; também se realizou uma atualização de pesquisa que identificou estudos realizados após a publicação da revisão com eles unitermos e critérios (Lee et al., 2021; Silva; Elias, 2021) (Tabela 2). A Tabela 2 apresenta dados de cinco estudos com os procedimentos de ensino via MEI e a emergência de intraverbal. 40 Tabela 2. As referências dos estudos em estrutura de ensino via MEI em ordem cronológica. Fonte: Elaborado pela autora Autores Participantes Instrumento e/ou Protocolo Operantes Verbais Estrutura de MEI Exposição ao MEI Resultados Gree et al. (2005) Exp. 1: 4 crianças (2 com diagnóstico de TEA e 2 com atraso na linguagem) Exp. 2: 4 crianças com diagnóstico de TEA Não informado Escrita (ditado) Vocal (Intraverbal) MEI com o Conjunto 2 de maneira randomizada (escrita e vocal) Uma exposição com o conjunto 2. Experimento 1 e 2: Após o MEI as respostas de ditado e intraverbais não ensinadas emergiram nos dois experimentos. Eby et al. (2010) 3 crianças diagnosticadas com TEA International Curriculum and Inventory of Repertoires for Children from Pre-school through Kindergarten (AIL/ PIRK) (Greer & McCorkle, 2008) e Avaliações das cúspides de desenvolvimento verbal. Topografias vocais e escritas de ortografia. MEI com o Conjunto 2 de maneira randomizada (vocal e escrita) Uma exposição com o conjunto 2 O número de respostas corretas não ensinadas aumentou em média 91,7% após MEI para todos os participantes. Lechago et al (2015) 6 crianças com desenvolvimento típico. Não informado Tato, Treino de Ouvinte, Intraverbal/Ouvinte por Categorização. Blocos de quatro tentativas foram apresentados, cada um contendo duas tentativas de treinamento de categorização intraverbal e duas tentativas de treinamento de categorização de ouvinte alternando entre os tipos de tentativa Houve duas exposições ao MEI: MEI A Intraverbal/Ouvinte por Categorização.) com o conjunto 2. MEI B Intraverbal/Ouvinte por Categorização) com um conjunto novo. Dois participantes apresentaram respostas intraverbais emergentes. Para os quatro participantes restantes o procedimento produziu melhorias mínimas ou nenhuma resposta emergente. Lee et al. (2021) 3 crianças com TEA Matrizes Progressivas Padrão de Raven Ouvinte, Tato e Intraverbal Bloco com 20 tentativas randomizada (Ouvinte, Tato e Intraverbal) Duas exposições ao MEI: MEI 1 e MEI 2 O número de respostas corretas não ensinadas aumentou em média 91,7% após MEI para todos os participantes. Silva & Elias (2021) 4 crianças e adolescentes diagnosticados com TEA e deficiência intelectual. Não informado Seguimento de instrução e Tato- Intraverbal MEI A randomizado (Seguimento de instrução e Tato-Intraverbal) Uma exposição ao MEI Dois participantes apresentaram respostas intraverbais emergentes. Para os demais o procedimento produziu melhorias mínimas ou nenhuma resposta emergente. 41 De acordo com a Tabela 2, de maneira geral, foram participantes das pesquisas crianças com TEA (Greer et al., 2005; Eby et al., 2010; Lee et al., 2021; Silva; Elias, 2021), com atrasos na linguagem e crianças típicas muito pequenas (Lechago et al., 2015). Do ponto de vista de estímulos, dois estudos adotaram respostas escritas na estrutura do MEI (Greer et al. 2005; Eby et al. 2010) e outros três adotaram os operantes de ouvinte, tato e intraverbal (Lechago et al. 2015; Lee et al. 2021; Silva; Elias, 2021), sendo este apresentado somente na randomizada. Os instrumentos adotados na caracterização dos participantes foram variados (i.e., inteligência geral, cúspides comportamentais) sendo que três estudos não adotaram instrumentos de caracterização dos participantes (Greer et al. 2005; Lechago et al. 2015; Silva; Elias, 2021). Foram necessários em média de 5 a 7 exposição aos blocos de MEI até a obtenção do critério. Muita variabilidade nos resultados diante dos dados obtidos nos estudos de Greer et al. 2005, Eby et al. (2010) e Lee et al. (2021). Outros estudos fazem referência a estudos que utilizaram a estrutura do MEI como uma possibilidade para o ensino com ouvinte e tato como indutor de respostas intraverbais generalizadas. Smith et al. (2016) testaram se o ensino de treinamento do ouvinte produziria a emergência de intraverbais em formas de perguntas e respostas não treinados em cinco crianças com TEA. Os participantes foram ensinados de selecionar uma figura de uma matriz após o experimentador apresentar um estímulo verbal antecedente sobre a FFC de um item (por exemplo, “Qual deles é um animal?”). Quando um critério de domínio foi atendido, os autores sondaram os intraverbais emergentes fazendo perguntas relacionadas ao FFC dos itens-alvo (por exemplo, perguntando “Qual deles é um animal?” sem apresentar figuras), sem consequência programada para verificar a emergência de novas respostas intraverbais. Os pesquisadores obtiveram dados de quatro dos cinco participantes emitiram intraverbais não treinados após o ensino; um participante precisou de treinamento de tato adicional para demonstrar intraverbais não treinados. E concluíram que o ensino de diferentes topografias de resposta a um determinado estímulo antecedente (ou seja, multiple-exemplar instruction [MEI]) tem se mostrado eficaz para estabelecer um repertório intraverbal emergente, portanto, pode ser uma possibilidade para novas pesquisas. Em Shillingsburg e Frampton (2019), o objetivo do Experimento 1 foi ampliar as descobertas da literatura MEI (i.e., Fiorile; Greer, 2007; Greer, Stolfi, et al., 2005; Greer, et al., 2005; Nuzzolo-Gomes; Greer, 2004) e Shillingsburg et al. (2018), avaliando sistematicamente um procedimento corretivo para promover o surgimento de intraverbais não treinados para alunos com TEA. A pesquisa avaliou a emergência de intraverbais para duas crianças com 42 diagnóstico de TEA. Antes da linha de base, ambas as crianças demonstraram tato, função de tato, ouvinte e ouvinte por respostas de função com 12 estímulos pictóricos, mas falharam em demonstrar intraverbais relacionados à função dos itens (por exemplo, "O que você faz com a faca? " e "O que você usa para ligar o carro?"). Seguindo a linha de base, previamente dominadas relacionadas tarefas de tato, função de tato, ouvinte e ouvinte por função foram apresentadas antes dos testes de sondagem para os intraverbais item-função e item-função-alvo. Os resultados mostraram que a intercalação das tarefas relacionadas para um subconjunto dos intraverbais, levou ao surgimento de intraverbais item-função e item-função não treinados para ambos os participantes. A aquisição de repertórios para aprendizagem da integração entre comportamentos de ouvinte e de falante ou de compartilhamento de controle de estímulos sobre uma mesma topografia verbal se torna um requisito essencial para o desenvolvimento das crianças, porque amplia as possibilidades de contato que o sujeito terá com a comunidade que está inserido (Gongora; Abib, 2001). Uma vez que a criança aprende a falar e compreender o que está ouvindo, ou de aprender uma palavra com uma função verbal (i.e., tato) e usar a mesma palavra com outra função verbal (i.e., intraverbal) ela terá a capacidade de aprender outras habilidades verbais mais complexas. Deste modo, Greer e Longano (2010) destacam a necessidade de quanto antes os repertórios de falante e ouvinte sejam ensinados pela comunidade verbal no qual esteja inserida. Para explicar a bidirecionalidade entre os repertórios de falante e ouvinte, Horne e Lowe (1996) descreveram a Teoria da Nomeação (Naming Theory) ou Nomeação Bidirecional [BiN], termo proposto por Miguel (2016) com a finalidade de esclarecer e evitar o equívoco com os termos da nomeação e do operante verbal tato. Miguel (2016) também destacou dois subtipos de Nomeação bidirecional: Nomeação bidirecional comum (C-BiN) e a Nomeação bidirecional intraverbal (I-BiN). No caso da nomeação bidirecional intraverbal, aprender relações intraverbais podem favorecer com que estímulos distintos sejam relacionados como equivalentes (Miguel, 2016). A literatura é vasta e intrigante, no entanto, este trabalho está circunscrito ao estudo do potencial do MEI para induzir a emergência do comportamento intraverbal após o ensino do comportamento de ouvinte e de tato, uma vez que a literatura é escassa e com variabilidade nos resultados. Os participantes de interesse têm características variadas como desenvolvimento típico, com TEA e incluindo participantes com deficiência auditiva (DA). Crianças muito pequenas, com TEA ou DA podem apresentar repertório verbal restrito e as condições sob as quais 43 aprendem repertório verbal são de relevância científica e social. Antes de seguir para os objetivos deste trabalho será realizada uma breve caracterização dessa população e do uso do termo “minimamente verbal” apresentado no presente trabalho. 1.6 Populações com déficit em repertório verbal Na perspectiva da Análise do Comportamento, foram testados empiricamente diversos programas de ensino com base nas categorias de comportamento verbal, proposto por Skinner (1957), como ponto de partida para o delineamento de ensino da comunicação (Barbera, 2007; Greer; Ross, 2008; Petursdottir; Carr, 2011; Sundberg; Partington, 1998). Na população que apresenta o comportamento verbal ausente ou mínimo quando comparado a falantes é possível o desenvolvimento do repertório verbal funcional (Mcilvane et al., 2016). Em geral, o termo minimamente verbal (minimally verbal) refere-se a crianças cujas habilidades comunicativas são limitadas como resultado de comprometimento da fala, distúrbio de linguagem, deficiência intelectual, capacidade cognitiva, privação social ou uma combinação destes (Chakrabarti, 2017), assim, também se aplica a indivíduos com uma ampla variedade de habilidades. Outras definições para repertório minimamente verbal incluem ou são baseadas na quantidade de palavras funcionais que a pessoa usa no seu dia a dia (Kasari et al., 2008; Koegel et al., 2009/2020; Yoder; Stone, 2005). Plesa-Skwerer, et al. (2016) basearam sua definição nos relatos dos pais (nenhum uso consistente da fala, menos ou 30 frases e/ou produção de palavras foram consideradas minimamente verbais). Outros estudos, como Norrelgen, et al. (2015), utilizaram a Escala de Comportamento Adaptativo de Vineland II (Sparrow et al., 2005), um instrumento de avaliação do comportamento adaptativo que pode ser aplicado desde o nascimento até a idade adulta (90 anos) e está organizada em quatro domínios que, por sua vez, se subdividem em 11 subdomínios: Comunicação – Receptiva, Expressiva e Escrita; Autonomia – Pessoal, Doméstica e Comunitária; Socialização – Relações Interpessoais, Lazer e Regras Sociais e Função Motora – Fina e Grossa. Assim, os autores consideram as crianças que relataram usar entre três palavras e algumas frases de duas palavras e cujo escore equivalente à idade da linguagem expressiva foi inferior a 24 meses foram consideradas com repertório verbal mínimo. Muito se discute sobre a importância em estudar o desenvolvimento da comunicação em crianças. Em primeiro lugar, Chenausky, et al. (2023) descreve que as crianças fornecem uma perspectiva única e valiosa sobre o desenvolvimento e a produção da fala. Tanto seus 44 desafios quanto suas habilidades preservadas fornecem informações importantes que podem iluminar futuros estudos. Além disso, uma compreensão profunda dos perfis de comunicação verbal é importante para melhorar as intervenções para comunicação, mesmo que a melhor escolha terapêutica seja uma modalidade de comunicação não verbal aumentativa e alternativa (AAC), como sinais ou uma modalidade baseada em imagem ou texto, como também um dispositivo gerador de fala. Neste sentido, o repertório minimamente verbal ou ausente, seja porque não aprendeu, seja por alteração nas vias sensoriais da audição e/ou porque há déficit desenvolvimento da linguagem fluida, funcional, social espontânea ou falada, se refere a uma população com repertório verbal limitado comparado com crianças com desenvolvimento típico (não necessita de um ensino estruturado) (Brignell et al., 2018; Sandbank et al., 2020). A ausência de tais repertórios verbais acarreta prejuízos relacionadas à alfabetização, socialização e ao desenvolvimento de outras habilidades que dependam da instrução (Ferracini et al., 2006). No presente estudo dar-se-á enfoque para a deficiência auditiva sensorioneural, de graus severo a severo-profundo, bilateral e pré-lingual, o Transtorno do Espectro Autista e crianças com indicativo de Atraso no Desenvolvimento da Linguagem que apresentam prejuízos na aquisição e o aprimoramento do comportamento verbal que dependem de interrelações complexas entre componentes biológicos (como sistemas sensoriais) e contingências arranjadas pela comunidade verbal para o desenvolvimento do processo de aprendizagem (Hixson, 2004; Papalia; Olds, 2000; Young; Kirk, 2016). 1.6 a) Deficiência Auditiva (DA) - é considerada como a diferença existente entre o desempenho auditivo de um indivíduo e a habilidade normal para a detecção sonora, de acordo com padrões estabelecidos pela American National Standards Institute (ANSI – 1989), independente da causa, localização, tipo ou severidade, que possa causar problemas no desenvolvimento da linguagem, psicológico, social, acadêmico e profissionalizante na idade adulta (Bevilacqua, 1998). Há, portanto, uma classificação de acordo com a) os órgãos sensoriais afetados (condutiva, neurossensorial e/ou central), b) se ocorre em um ou em dois ouvidos (unilateral ou bilateral), c) o período de estabelecimento levando em consideração a aquisição da linguagem (pré ou pós-lingual), d) e com o grau considerando o limiar auditivo (leve, moderado, severo e profundo) (Bevilacqua, 1998; Oliveira, 2005; Victorio et al, 2005). 45 As crianças com perdas auditivas sensorioneurais, de graus severo a severo-profundo, em ambas as orelhas, apresentam comprometimento na aquisição e no desenvolvimento da linguagem oral, pois a audição desempenha um papel principal e decisivo no desenvolvimento e na manutenção da comunicação por meio da linguagem falada. (Levine et al., 2016; Moret et al., 2007). É importante ressaltar, com o desenvolvimento da tecnologia e avanços da medicina as crianças com impedimento sensoriais podem adquirir linguagem por meio de diferentes recursos tecnológicos. E uma das possibilidades é o implante coclear (IC). O dispositivo IC, ilustrado na Figura 2, tem a função de proporcionar audibilidade aos indivíduos que não se beneficiam com o uso de próteses auditivas. Diferente da prótese auditiva, que requer a presença de células ciliadas externas para transferir o sinal para o nervo auditivo por amplificação do som, o implante coclear assume a função dessas células, ativando o nervo auditivo diretamente, possibilitando que indivíduos surdos apresentem sensações auditivas anteriormente impossíveis como a detecção sonora e condições de aprendizagem de discriminação, reconhecimento e compreensão sonoras, incluindo a aprendizagem da linguagem oral (Bevilacqua et al., 2002). Existem na literatura pesquisas que visam aquisição de habilidades de ouvinte e de falante, onde ocorre na comunidade verbal, possibilitando assim aprendizagem dos repertórios verbais simples aos complexos (Greer; Ross, 2008; Skinner, 1957). Os indivíduos com deficiências auditivas apresentam comprometimento no desenvolvimento das habilidades auditivas e da linguagem oral, sendo necessário adicionalmente ao dispositivo auditivo (IC) que restabelece a detecção auditiva, o ensino de habilidades receptivas (auditivas - discriminação, reconhecimento e compreensão dos sons) e as habilidades expressivas (interação pela fala), portanto, elas necessitam ser ensinadas (Almeida-Verdu et al., 2021). Essa aprendizagem ocorre através de estratégias com o uso do IC, com ensino em MEI com propósitos de ensinar as habilidades de ouvir e falar para indução dos operantes verbais ausentes ou enfraquecidos, sendo eles ecoico, discriminação auditivo-visual e tato (Pereira et al., 2016); há relato de estudos baseados em equivalência cuja finalidade foi verificar as condições de emergência de leitura e nomeação (Rique et al., 2017); e ainda o ensino de habilidades comportamentais a mães, durante a pandemia e via remota, visando a reprodução do MEI e seus efeitos sobre tato emergente (Rissato; Almeida-Verdu, 2022). Na literatura com a população de crianças com DA e IC não foram encontrados estudos que verificassem os efeitos do MEI sobre a emergência de intraverbal. 46 Figura 2. Componentes externos e internos do Implante Coclear: receptor-transmissor, microfone e processador de fala, receptor e estimulador, eletrodos. Fonte de: https://www.fda.gov/medicaldevices/productsandmedicalprocedures/implantsandprosthetics 1.6.b) Transtorno do Espectro Autista (TEA) - segundo o manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria – DSM – 5, é caracterizado por um comprometimento no desenvolvimento da comunicação social e pela presença de comportamentos e/ou interesses restritos e repetitivos. Tais sintomas podem estar presentes nos primeiros 24 meses de vida (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013). Com relação à comunicação, o indivíduo pode apresentar atraso na aquisição da fala, déficit nas habilidades não verbais (gestos, expressões faciais, entre outros), limitações na linguagem receptiva e expressiva, ecolalia (repetição de palavras ou frases de forma imediata ou tardia), dificuldades na iniciativa para comunicação, interesses restritos em determinados assuntos de preferência, fala idiossincrática em que utiliza palavras peculiares ou frases ou eventos fora do contexto com o ouvinte, alteração na prosódia da fala (ritmo e entonação), prejuízo na atenção compartilhada e habilidades pragmáticas que consistente as habilidades conversacionais (Lemos et al., 2014). O recentemente estudo de Kedar e Bauminger-Zviely (2023) com 54 crianças com TEA em idade escolar (8-16 anos) examinaram os sintomas que são caracterizados pelo TEA, a idade, o QI verbal e não verbal, as funções executivas e o perfil de processamento sensorial, e quanto à sua contribuição para a capacidade das crianças de formar trocas de comunicação espontâneas relevantes com seus pares. As principais conclusões revelaram que crianças em https://www.fda.gov/medicaldevices/productsandmedicalprocedures/implantsandprosthetics 47 idade escolar no espectro autista são minimamente verbais por apresentarem dificuldades na linguagem falada, escassez de fala espontânea, o que limita as trocas de conversação com seus pares (iniciar e responder durante uma situação de engajamento social). Em relação ao funcionamento cognitivo os participantes mais velhos com QI verbal e não verbal mais baixo melhoraram mais a relevância da comunicação após a intervenção de conversação. E concluíram que adaptação das intervenções entre pares podem resultar na redução do isolamento social, da solidão e na melhoria do bem-estar. As intervenções centram-se menos frequentemente no desenvolvimento de uma linguagem social espontânea, utilizada para a função de comentar ou de fazer perguntas; portanto, melhorar a linguagem social em crianças que são minimamente verbais continua a ser uma alta prioridade para os investigadores de intervenção (Pickett et al., 2009). Analisando a literatura científica sobre ensino ou emergência de intraverbais para crianças com TEA, que é bastante ampla, as pesquisas vêm apresentando diferentes tipos de intraverbais e em diferentes estruturas de ensino. Dentre eles, a ênfase está no estabelecimento dos seguintes tipos de intraverbais: responder perguntas, por exemplo, dizer “avião” diante de: “o que pode voar?”, (Matos et al., 2020a; Matos et al., 2020b; Finkel Williams, 2001; Ingvarsson; Hollobaugh, 2011; Sundberg; Sundberg, 1990); dizer nomes de itens pertencentes a diferentes categorias, por exemplo, dizer “azul” diante de: “fale o nome de uma cor”, (Partington; Bailey, 1993; Petursdottir et al., 2008; Grannan; Rehfeldt, 2012; Matos; Lima, 2018; Matos et al., 2018; Matos et al., 2019; Cordeiro, 2020). Intraverbal com elemento na função reversa de estímulo-resposta, por exemplo, presença da pergunta “diga-me oposto de quente?” a criança diz: “frio”, (Pérez-González et al., 2007; Pérez-González et al., 2018); recontar uma história na sequência lógica de acordo com as partes relatadas, exemplo, a criança responder: “ela levantou cedinho, escovou os dentes, vestiu-se, comeu um pão e foi para o trabalho”, diante da pergunta: “qual a rotina de Valentina?”, (Valentino et al., 2015; Matos et al., 2017; Matos et al., 2019; Matos et al., 2019; Matos et al., 2021); intraverbal de equivalência entre dois idiomas (língua nativa e a estrangeira), mediante a presença do estímulo verbal: “como se fala bola em inglês?” criança verbalizar: “ball”, (Petursdottir et al., 2008; Petursdottir; Haflidadóttir, 2009; Cortez et al., 2020); intraverbais do tipo ABC sob influência do paradigma de equivalência de estímulos, são repertórios de intraverbal após a tarefa de leitura de frases com três elementos relacionados, mas antes a criança deverá ler as frases – “A Argentina é um país. A capital da Argentina é Buenos Aires. Em Buenos Aires existe um parque chamado El Botânico”, para a criança responder “Argentina”, “Buenos Aires” e 48 “El Botânico” após as perguntas: “fale o nome do país onde fica o parque El Botânico?”, “qual o nome da capital da Argentina?” e “conte-me o nome de um parque em Buenos Aire” (Pérez-González; Oltra, 2021); por fim, intraverbal com três elementos verbais relacionados entre si, a criança precisa aprender a responder “El Botánico” sob controle de “diga-me o nome de um parque em Buenos Aires”; falar “Argentina” diante do antecedente “qual o nome do país onde fica o parque El Botánico?”; e dizer: “Buenos Aires” sob controle de “qual é a capital da Argentina?”, (Belloso-Díaz; Pérez-González, 2015). Embora a literatura sobre intraverbais em crianças com TEA seja vasta, são escassos os estudos envolvendo emergência de intraverbais via MEI (Lima; Souza, 2022). 1.6.c) Ainda no primeiro ano de vida do bebê, espera-se que a criança fale as suas primeiras palavras. A princípio, costumam ser palavras isoladas, como mamãe e papai. Além disso, o bebê já poderá emitir onomatopeias (au-au, miau, bibi). Com um ano e seis meses, é possível que o pequeno ou pequena comece a combinar duas palavras, como “da mamá” e “eu quero”, por exemplo. Aos dois anos produzem bem frases com duas palavras como por exemplo "nenê" ou "papá". Espera-se que, aos três anos, a criança já seja capaz de repetir trechos de histórias e produzir frases de quatro a cinco palavras. Por isso, é possível iniciar uma conversação e cantar músicas infantis e cantigas populares com os pequenos ou pequenas. Aos quatro anos, a criança já deverá ser capaz de elaborar frases de cinco ou seis palavras. Ainda, o pequeno ou pequena poderá começar a narrar fatos e histórias. Com cinco anos de idade, a criança pode utilizar os tempos verbais, pedir informações e utilizar orações em períodos simples e compostos. Ao final da primeira infância, aos seis anos, é esperado que a criança já articule todos os sons da fala, utilize frases gramaticalmente corretas e narre fatos e histórias com desenvoltura (Papalia, 2006). Essas características mostradas são as mais comuns para cada faixa etária. Assim, é possível que a criança apresente um ou outro aspecto adiantado ou atrasado em relação aos critérios de desenvolvimento, e isso vai depender essencialmente dos estímulos que a criança recebe no seu dia a dia. Para Levine et al. (2016), o primeiro ano de vida, as crianças começam a integrar a informação verbal e não verbal, através do olhar, vocalização e gestos, adquirindo uma crescente familiaridade com a sua língua nativa para processar o som da voz, mapear as palavras e compreender. A partir de uma certa idade, o não falar passa a ser uma característica muito marcante e que distancia muito dos seus pares. Para crianças que vivem em contextos 49 vulneráveis a atrasos no desenvolvimento da linguagem ou ausência de alguma forma de comunicação funcional, com o tempo, pode gerar o surgimento de comportamentos inadequados que adquirem a função de comunicação, como por exemplo: birras, agressões e autolesões ou outras dificuldades relacionadas à alfabetização e socialização (Ferracini et al., 2006). Drash e Tuddor (1993) descreveram seis paradigmas de reforçamento na relação pais e filhos que podem provocar supressão ou baixa frequência na emissão de comportamento verbal de algumas crianças. O primeiro paradigma foi por eles denominado como reforçamento de submissão, fuga e reforçamento de outros comportamentos inadequados. O segundo de reforçamento de formas não vocais de comportamento verbal. O terceiro é descrito como a extinção de respostas vocais. No quarto os autores citam o processo de supressão do comportamento verbal por punição. No quinto é descrito a ausência ou ineficiência de reforçamento do comportamento verbal. Por último Drash e Tudor (1993), ressaltam como paradigma a interação entre fatores orgânicos ou presumivelmente orgânicos e fatores comportamentais. Segundo os autores, as respostas dos pais diante da inabilidade da criança podem aumentar ou diminuir e, até mesmo, suprimir a frequência de comportamento verbal. Crianças ainda sem diagnóstico e consideradas neurotípicas têm sido alvo de estudos de emergência de intraverbal via MEI e os resultados têm sido inconsistentes ora demonstrando emergência de intraverbal (Greer et al., 2005) ora as porcentagens de acertos em intraverbal após a exposição ao MEI são bem reduzidas (Lechago et al., 2015). Portanto, as crianças necessitam da estruturação do ambiente para propiciar o desenvolvimento dos repertórios verbais (Varella, 2009; Gomes; De Souza, 2016). Isso indica que, aprendizagem não depende apenas delas ou de suas condições diagnósticas, mas sim de uma comunidade verbal que atue com práticas diferentes, das quais são necessárias e que são suficientes para emergência do comportamento verbal em crianças com quaisquer diagnósticos ou aquelas que vivem em contextos vulneráveis a atrasos no desenvolvimento da linguagem. 50 1. 7 OBJETIVO GERAL Verificar se os operantes de ouvinte baseado em seleção, tato e intraverbal estruturados em Instrução por Múltiplos Exemplares (MEI) com um conjunto de estímulos se constituiriam em condições para a emergência de intraverbal, após treino de ouvinte e de tato com estímulos novos, em crianças que não apresentam intraverbal. Objetivos Específicos ● Caracterizar repertório verbal, e cognitivo via instrumentos padronizados. ● Avaliar repertórios de ouvinte baseado em seleção, tato e intraverbal. ● Avaliar a emergência de intraverbal após treino de ouvinte e de tato antes e depois da exposição ao ensino por MEI. ● Ensinar repertório de ouvinte, tato e intraverbal por MEI. ● Verificar se há manutenção das relações aprendidas e das emergentes após um mês (follow-up). 2. MÉTODO 2.1 Participantes Neste estudo participaram seis crianças. A caracterização geral dos participantes está na Tabela 3. Participaram duas crianças com diagnósticos de Transtorno do Espectro Autista – TEA, sem outra comorbidade, dois participantes com deficiência auditiva com audição via implante coclear e dois participantes com desenvolvimento típico. O critério para participação na pesquisa foi demonstrar déficit em comportamento intraverbal pelo Verbal Behavior Milestones Assessment and Placement Programa – VB-MAPP (Sundberg, 2008), que também avaliou os comportamentos de ecoico, tato, ouvinte, e os comportamentos preditores para aprendizagem como: estabelecer e manter contato visual diante de pessoas, imitação, habilidades de sentar e permanecer sentado que deveriam estar presentes. O segundo critério, era a obtenção de 35% ou menos de respostas corretas nos pré-testes de respostas intraverbais (descrito na seção de procedimentos) e na avaliação intraverbal com 10 respostas corretas ou menos na triagem para participação na pesquisa (Apêndice A). Foi realizada avaliação cognitiva com o propósito de caracterizar os participantes a partir de um Teste Não-Verbal de Inteligência, a saber, o SON-R 2 1/2 - 7 [a] (Laros et al., 2016). 51 No início da pesquisa José tinha 4 anos e 4 meses de idade, sem diagnóstico e não apresentava queixas de atraso no desenvolvimento, não recebia nenhum acompanhamento terapêutico. Frequentava escola do município (pública), diariamente, no ensino regular. A criança apresentava repertórios compatíveis com os seus pares no instrumento SON-R (escore 112); no protocolo VB-MAPP obteve classificação no nível 2 e 3 para os repertórios de tato, ouvinte, ecoico e intraverbal. Segundo as pontuações, ele obteve 13 para tato (máximo 15), 12 para ouvinte (máximo 15), ecoico 10 (máximo 10) e intraverbal 4,5 (máximo 15), representando déficit em intraverbal. A participante Ana tinha 5 anos e 11 meses de idade, sem diagnóstico ou queixas de atraso no desenvolvimento. A criança frequentava uma escola de ensino regular na educação infantil do município (pública) e não realizava atividades ou atendimentos clínicos no contraturno. Diante dos resultados, a criança apresentou repertórios compatíveis com os seus pares no instrumento SON-R (escore 94), para o protocolo VB-MAPP obteve classificação no nível 2 e 3 para os repertórios de tato, ouvinte, ecoico e intraverbal. Segundo as pontuações, Ana obteve 15 para tato (máximo 15), 15 para ouvinte (máximo 15), ecoico 10 (máximo 10) e intraverbal 4,5 (máximo 15), representando déficit em intraverbal. O Samuel tinha 6 anos e 6 meses de idade no início do estudo, diagnóstico de TEA nível de suporte 2, sem comorbidade. Frequentava o ensino fundamental em uma escola privada de ensino regular. Recebia atendimentos em Análise do Comportamento Aplicada (ABA), diariamente, contabilizando 20 horas semanais e atendimento com fisioterapia duas vezes na semana. Na avaliação conduzida pela pesquisadora utilizando o SON-R (escore 80), obteve a classificação abaixo da média esperada para crianças da sua idade. Para o protocolo VB-MAPP, sua classificação estava no nível 2 para os repertórios de tato, ouvinte, ecoico e intraverbal. O participante obteve 7 para tato (máximo 15), 7,5 para ouvinte (máximo 15), ecoico 8 (máximo 10) e intraverbal 1 (máximo 15), ou seja, tais resultados representaram déficits em todos os repertórios avaliados, pontuando menos em intraverbal. Dos comportamentos requisito para receber ensino a criança apresentou os comportamentos de seguir instrução simples, realizava pedidos, olhar e manter o contato visual, sentar e permanecer sentado e imitação generalizada. Também apresentou algumas barreiras para aprendizagem como: comportamentos inadequados quando não tinha acesso aos reforçadores como gritar, chorar, bater as mãos na mesa e levantar- se da cadeira. 52 Tabela 3 – Características dos participantes: Nome, Sexo, Idade, Ano Escolar, Diagnóstico, Tempo de Implante Coclear, Avaliação Cognitiva (SON-R) e Verbal (VB-MAPP). *Os nomes utilizados neste estudo são fictícios. Participantes Sexo Idade (ano/meses) Ano escolar Diagnóstico Tempo de IC SON-R VB-MAPP Escores Escores Ouvinte Tato Ecoico Intraverbal José M 4 anos e 4 meses Infantil Neurotípicas ___ 112 (Acima da média) 13/15 12/15 10/10 4,5/15 Ana F 5 anos e 11 meses Infantil Neurotípicas ___ 94 (Média) 15/15 15/15 10/10 4,5/15 Samuel M 6 anos 6 meses Ensino fundamental TEA ___ 80 (Abaixo da média) 7/15 7,5/15 8/10 1/15 João M 3 anos e 5 meses Infantil TEA ___ 87 (Abaixo da média) 8/15 10/15 9/10 3,5/15 Vitória F 6 anos e 10 meses Ensino fundamental Deficiência auditiva com IC 3 anos 94 (Média) 8,5/15 9/15 8/10 2/15 Arthur M 7 anos e 6 meses Ensino fundamental Deficiência auditiva com IC 4 anos 95 (Média) 9,5/15 9/15 10/10 2/15 Fonte: Elaborado pela autora 53 João tinha 3 anos e 5 meses de idade, diagnóstico de TEA com nível de suporte 1, sem comorbidade. Na época da coleta de dados, a criança estava na educação infantil em uma escola municipal de ensino (pública). Realizava atendimentos em Análise do Comportamento Aplicada (ABA) três vezes na semana, contabilizando 6 horas semanais e iria iniciar o atendimento multidisciplinar (fonoaudiologia e terapia ocupacional) em uma clínica privada. No instrumento SON-R (escore 87), a criança obteve classificação abaixo da média esperada para crianças da sua idade. No protocolo VB-MAPP sua classificação estava no Nível 2 para os repertórios de tato, ouvinte, ecoico e intraverbal. João obteve 8 para tato (máximo 15), 10 para ouvinte (máximo 15), ecoico 9 (máximo 10) e intraverbal 3,5 (máximo 15), ou seja, representaram déficits nos repertórios avaliados, principalmente em intraverbal. Além dos repertórios verbais avaliados, a criança apresentou comportamentos de seguir instrução simples e complexas, realizava pedidos para itens presentes e ausentes, olhar e manter o contato visual, sentar-se e permanecer sentado, imitação generalizada, mas, apresentou alguns comportamentos inadequados quando o bloco demorava para encerrar, como: levantar-se da cadeira, ausência de respostas, demorava para responder e algumas situações sussurrava a palavra. O participante Arthur tinha 7 anos e 6 meses de idade, diagnóstico de deficiência auditiva profunda bilateral, usuário de implante coclear bilateral há três anos. Frequentava o ensino fundamental em uma escola municipal de ensino regular. Recebia atendimentos com fonoaudiologia, psicologia, pedagogia e frequentava da sala de recurso. Na avaliação conduzida pela pesquisadora utilizando o SON-R (escore 94), obteve a classificação na média esperada para crianças da sua idade. Para o protocolo VB-MAPP, sua classificação está no Nível 2 para os repertórios de tato, ouvinte, ecoico e intraverbal. O participante obteve 9,5 para tato (máximo 15), 9 para ouvinte (máximo 15), ecoico 10 (máximo 10) e intraverbal 2 (10 máximo), ou seja, tais resultados representam déficits nos repertórios avaliados. Em avaliação fonoaudiológica, segundo as medidas de linguagem e de audição, de acordo com os testes da fonoaudiologia com IC na orelha na esquerda e sem o IC na orelha direita apresentou 51,25% de acertos para total de 41 fonemas, sendo esperado 80 fonemas; em palavras foram 5 palavras com 25% de acertos do total de 20 palavras avaliadas. Na orelha direita com IC e sem na esquerda, Arthur, apresentou no total de 55 fonemas com 68,75% de acertos, e 6 palavras com 30% de acertos. Por fim, com o IC bilateral, a criança apresentou 56 fonemas com acerto de 70% e 6 palavras com 30% de acertos. Além desses repertórios citados, a criança apresentou comportamentos de seguir instruções simples e complexas, realizava pedidos para itens presentes e ausentes, fez 54 perguntas simples, entretanto, apresentou comportamentos inadequados quando estava demorando para encerrar atividade, como se levantava da cadeira, respondia qualquer palavra ou apontava e ausência de respostas. Por fim, Vitória tinha 6 anos e 10 meses de idade, diagnóstico de deficiência auditiva profunda bilateral, e usuária de implante coclear bilateral há três anos. Frequentava o ensino fundamental em uma escola municipal de ensino regular. Recebia atendimentos com fonoaudiologia, psicologia, pedagogia e participava da sala de recurso. Na avaliação conduzida pela pesquisadora utilizando o SON-R (escore 95), ela obteve a classificação na média esperada para crianças da sua idade. Para o protocolo VB-MAPP, sua classificação está no nível 2 para os repertórios de tato, ouvinte, ecoico e intraverbal, ela obteve 8,5 para tato (máximo 15), 9 para ouvinte (máximo 15), ecoico 8 (máximo 10) e intraverbal 2 (10 máximo), ou seja, tais resultados representam déficits nos repertórios avaliados. Todos os cuidados éticos foram adotados. O estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências da Universidade Estadual Paulista (CAAE 52338021.0.0000.5398). Após reunião para apresentar aos pais/responsáveis dos participantes, com o propósito de conhecer, compreender os objetivos e procedimentos do estudo, em concordância, foi realizada a leitura e a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) pelos pais/responsáveis e do Termo de Assentimento Livre e Esclarecido (TALE) pela criança, efetivando a autorização, e assim a pesquisadora iniciou-se a avaliação das crianças. 2.2 Instrumentos, Materiais e Estímulos 2.2.1 Instrumentos - Protocolo de Avaliação Intraverbal (Apêndice A): Elaborado pela pesquisadora, contém 30 perguntas com a finalidade de sondar a compreensão, o repertório verbal expressivo e de discriminações condicionais verbais dos participantes, em relação às perguntas apresentadas. Eram registrados acertos ou erros às questões. - Ve