UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Instituto de Geociências e Ciências Exatas Campus de Rio Claro A NEVE EM PALMAS/PR: DA RECONSTITUIÇÃO HISTÓRICA À ABORDAGEM DINÂMICA Ilton Jardim de Carvalho Júnior Orientador: Dr. João Afonso Zavattini Dissertação de Mestrado elaborada junto ao Programa de Pós-Graduação em Geografia - Área de Concentração em Análise da Informação Espacial, para obtenção do Título de Mestre em Geografia. Rio Claro (SP) 2004 Comissão Examinadora _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ Ilton Jardim de Carvalho Júnior Rio Claro, _____ de ______________________ de _______ Resultado: __________________________________________________________________ Dedico este trabalho aos meus pais, Alvorada de toda minha alegria, Fonte inesgotável de luz, No infindável soneto da vida, Sua estrofe é a que mais seduz. AGRADECIMENTOS A realização desta dissertação só foi possível graças à colaboração direta ou indireta de muitas pessoas. Gostaria de externar minha gratidão a todas elas e de forma especial: aos diretores Rogério Riva e Walter Stooss, pela compreensão das ausências necessárias à finalização do mestrado. à amiga Maria do Carmo Jorge, a quem conheci no primeiro dia de aula do curso de graduação em geografia da UFPR, em 1995, e que agora também finaliza seu mestrado na UNESP, meus sinceros agradecimentos, por me acolher tantas vezes em Rio Claro, e pela amizade de quase 10 anos. ao amigo jailson Pacheco, pelo companheirismo e auxílio na parte gráfica da dissertação e pela presença constante desde a elaboração da monografia do bacharelado em 2001. a Leonardo Teixeira de Oliveira, amigo novo, e que já considero uma pessoa importante na minha vida, agradeço o longo período de trabalho incansável, no acabamento gráfico e na elaboração dos penosos gráficos de análise rítmica, além de me acompanhar fielmente no último mês de trabalho. Sem esse amigo, os prazos não teriam sido cumpridos. ao amigo Rodolfo de Oliveira Souza, “pai” da neve brasileira, pela contribuição científica que suportou esta dissertação, pela generosidade nesses seis anos de amizade, pela leitura dos originais, pelo envio de inumeráveis cartas sinóticas, imagens de satélite, fotos, dados meteorológicos e textos, enfim, por entregar-se com tanto afinco ao seu objeto de estudo e pelo desprendimento em compartilhar seus estudos com tantos pesquisadores e estudantes. ao Orientador e amigo João Afonso Zavattini, por ser tão sincero e sensível, pelo apoio e dedicação incondicional e constante, mesmo nas horas mais difíceis. Gostaria de salientar meu grande apreço pela suas qualidades profissionais, seriedade e competência, valores tão caros ao ser humano, e agradecer a inestimável contribuição em meus estudos de Climatologia Geográfica. Obrigado por suportar minhas idiossincrasias e ainda conseguir sorrir, pelos momentos de descontração e bom humor, pela ajuda conferida durante minhas estadias em Rio Claro, enfim, por ter um ideal e servir de modelo para seus alunos. Para finalizar, deixo aqui os mais carinhosos e ternos agradecimentos às duas pessoas sem as quais essa dissertação não teria se concretizado: meus pais, Ilton Jardim de Carvalho e Neide Maria de Carvalho. Muito obrigado pelo apoio à minha trajetória acadêmica, pela paciência, persistência, compreensão, altruísmo e todas suas infindáveis qualidades, tão raras de se encontrar concentradas em um só ser humano. Mais uma vez obrigado, por cultivarem em mim a paixão incomensurável pela natureza, o gosto pelo conhecimento, e por compreenderem tão bem a natureza humana, e, acima de tudo, pelos 29 anos de amizade. Há metafísica bastante em não pensar em nada. O que penso eu do mundo? Sei lá o que penso do mundo! Se eu adoecesse pensaria nisso. Que idéia tenho eu das coisas? Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos? Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma E sobre a criação do mundo? Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos E não pensar. É correr as cortinas Da minha janela (Mas ela não tem cortinas). O mistério das coisas? Sei lá o que é mistério! O único mistério é haver quem pense no mistério. Quem está ao sol e fecha os olhos, Começa a não saber o que é o sol, E a pensar muitas coisas cheias de calor. Mas abre os olhos e vê o sol, E já não pode pensar em nada, Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos De todos os filósofos e de todos os poetas. A luz do sol não sabe o que faz. E por isso não erra e é comum e boa. Metafísica! Que metafísica têm aquelas árvores? A de serem verdes e copadas e de terem ramos E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar, A nós, que não sabemos dar por elas. Mas que melhor metafísica que a delas, Que é a de não saber para que vivem Nem saber o que não sabem? “Constituição íntima das coisas...” “Sentido íntimo do universo...” Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada. É incrível que se possa pensar em coisas dessas. É como pensar em razões e fins Quando o começo da manhã está raiando, e pelos [lados das árvores Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão. Pensar no sentido íntimo das coisas É acrescentado, como pensar na saúde Ou levar um copo à água das fontes O único sentido íntimo das coisas É elas não terem sentido íntimo nenhum O mistério das coisas, onde está ele? Onde está ele que não aparece Pelo menos a mostrar-nos que é mistério? Que sabe o rio disso e que sabe a árvore? E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso? Sempre que olho para as coisas e penso no que os homens pensam delas, Rio como um regato que soa fresco numa pedra. Porque o único sentido oculto das coisas É elas não terem sentido oculto nenhum É mais estranho do que todas as estranhezas E de que os sonhos de todos os poetas E os pensamentos de todos os filósofos, Que as coisas sejam realmente o que parecem ser E não haja nada que compreender. Sim, eis que os meus sentidos aprenderam sozinhos: As coisas não têm significação: têm existência. As coisas são o único sentido oculto das coisas. Fernando Pessoa (Alberto Caeiro), de: O guardador de Rebanhos (1911 – 1912) S U M Á R I O Índice ............................................................................................................................................i Lista de Siglas e Abreviaturas ....................................................................................................iv Resumo .......................................................................................................................................vi Abstract..................................................................................................................................... vii I - Introdução .............................................................................................................................01 II – Panorama da Ocorrência de Neve no Brasil com Ênfase em Palmas/PR...........................41 III – Reconstituição Histórico-Documental dos Episódios de Frio Intenso e Neve em Palmas/PR, entre 1923 e 2000.............................................................................................62 IV – Análise dos Principais Episódios de Neve em Palmas/PR..............................................181 V – Considerações Finais ........................................................................................................252 Referências Bibliográficas.......................................................................................................256 Anexos .....................................................................................................................................260 Í N D I C E 1. CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO..........................................................................................1 1.1. Importância do tema para a geografia ..............................................................................1 1.2. Objetivo Geral e Hipótese ................................................................................................6 1.3. Metodologia......................................................................................................................8 1.3.1 Fundamentação Teórica.............................................................................................8 1.3.2 Documentação de Apoio .........................................................................................11 1.4. Análise Bibliográfica......................................................................................................16 1.5. Caracterização da Área de Estudo ..................................................................................22 1.5.1 Localização..............................................................................................................22 1.5.2 Aspectos geográficos de Palmas/PR........................................................................24 1.5.3 Aspectos Climáticos de Palmas/PR com Ênfase na Variabilidade Intra-anual e Interanual dos Elementos Climáticos ...............................................................................29 2. CAPÍTULO 2 – PANORAMA DA OCORRÊNCIA DE NEVE NO BRASIL COM ÊNFASE EM PALMAS/PR....................................................................................................41 2.1. A Distribuição Geográfica da Neve no Espaço Brasileiro .............................................41 2.2. A Precipitação Nival em Palmas ....................................................................................55 3. CAPÍTULO 3 – RECONSTITUIÇÃO HISTÓRICO-DOCUMENTAL DOS EPISÓDIOS DE FRIO INTENSO E NEVE EM PALMAS/PR ENTRE 1923 E 2000.....62 3.1. Anos de 1923 e 1933 ......................................................................................................64 3.2. Ano de 1941 ...................................................................................................................67 3.2.1 Dias 28, 29 e 30 de maio .........................................................................................67 3.2.2 Dias 14 e 15 de setembro.........................................................................................69 3.3. Ano de 1942 ...................................................................................................................73 3.3.1 Dias 18 e 19 de junho ..............................................................................................73 3.3.2 Dias 10, 11 e 12 de julho .........................................................................................74 3.4. Ano de 1943 ...................................................................................................................78 3.5. Ano de 1946 ...................................................................................................................81 3.6. Ano de 1953 ...................................................................................................................83 3.7. Ano de 1955 ...................................................................................................................85 3.8. Ano de 1957 ...................................................................................................................93 3.9. Ano de 1965 ...................................................................................................................97 3.10. Ano de 1969 ...............................................................................................................115 3.11. Ano de 1972 ...............................................................................................................120 3.11.1 Dias 7, e 9 de julho .............................................................................................120 3.11.2 Dia 5 de agosto ....................................................................................................125 3.11.2 Dia 30 de agosto ..................................................................................................126 3.12. Ano de 1975 ...............................................................................................................128 3.13. Anos de 1977 e 1978..................................................................................................138 3.14. Ano de 1979 ...............................................................................................................141 3.14.1 Dias 30 e 31 de maio ...........................................................................................141 3.14.2 Dia 20 de julho ....................................................................................................144 3.15. Ano de 1981 ...............................................................................................................155 3.16. Ano de 1985 ...............................................................................................................159 3.17. Ano de 1988 ...............................................................................................................160 3.18. Ano de 1990 ...............................................................................................................161 3.18.1 Dia 18 de maio.....................................................................................................161 3.18.2 Dias 20 e 21 de julho ...........................................................................................162 3.19. Anos de 1991, 1992 e 1993........................................................................................165 3.20. Ano de 1994 ...............................................................................................................166 3.20.1 Dia 25 de junho ...................................................................................................166 3.20.2 Dias 8 e 9 de julho ...............................................................................................166 3.21. Ano de 1999 ...............................................................................................................170 3.22. Ano de 2000 ...............................................................................................................173 4. CAPÍTULO 4 – ANÁLISE DOS PRINCIPAIS EPISÓDIOS DE NEVE EM PALMAS/PR..........................................................................................................................181 4.1. Episódio de 15 a 26 de julho de 1957...........................................................................182 4.2. Episódio de 11 a 24 de agosto e 1965 ..........................................................................189 4.3. Episódio de 06 a 12 de julho de 1969...........................................................................198 4.4. Episódio de 13 a 20 de julho de 1975...........................................................................202 4.5. Episódio de 26 de maio a 03 de junho de 1979............................................................212 4.6. Episódio de 16 a 23 de julho de 1981...........................................................................229 4.7. Episódio de 21 a 28 de agosto de 1984 ........................................................................244 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................252 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................255 ANEXOS.................................................................................................................................260 LISTA DE SÍMBOLOS, SIGLAS E ABREVIATURAS AFRUPAL – Associação de fruticultores de Palmas APa – Anticiclone Polar Atlântico Apv – Anticiclone Polar Velho cm – centímetros cm2 – centímetros quadrados EPAGRE – Empresa de Pesquisa Agropecuária e Difusão de Tecnologia de Santa Catarina FACIPAL – Faculdade de Ciências e Letras de Palmas FPa – Frente Polar Atlântica h – hora hPa - hectopascal IAPAR – Instituto Agronômico do Paraná IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INMET – Instituto Nacional de Meteorologia km2 – quilômetros quadrados L – leste lat – latitude long – longitude m – metros mb – milibares MG – Minas Gerais mm – milímetros MPa – Massa Polar Atlântica msnm – metros sobre o nível do mar MW – Megawatts N – Norte o C – Graus Celsius OMM - Organização Meteorológica Mundial p. – página PR – Paraná RJ – Rio de Janeiro RS – Rio Grande do Sul S – Sul SC – Santa Catarina SIMEPAR – Sistema Meteorológico do Paraná séc. – século SP – São Paulo W – Oeste RESUMO Este trabalho, que tem como foco de estudo o município de Palmas/PR, tem como objetivo realizar um levantamento histórico-documental contextualizado dos episódios de frio intenso e neve nessa localidade e avançar na compreensão da dinâmica atmosférica responsável pela ocorrência desse hidrometeoro. Este trabalho adquire importância geográfica na medida em que a precipitação nival representa um fenômeno meteorológico de grande impacto no espaço geográfico. O clima de Palmas foi caracterizado sob o ponto de vista da climatologia dinâmica, focalizando a variabilidade interanual e sazonal de seus elementos. Os resultados finais foram alcançados por meio da análise de sete episódios excepcionais de neve, fazendo uso de cartas sinóticas, imagens de satélite e gráficos de análise rítmica. Também foi possível estimar a distribuição espacial das principais nevadas do período analisado e definir o limite norte da ocorrência de neve na Região Sul. Fazendo uso de uma longa série temporal (1923 – 2000), foi possível reconstruir os episódios, dimensionando-os e caracterizando-os do ponto de vista de seus impactos sócio-econômicos. Espera-se, por conseguinte, que esta dissertação possa servir de subsídio para futuras pesquisas sobre a ocorrência de neve na Região Sul, particularmente em Palmas, e também para aqueles interessados num estudo da dinâmica atmosférica da Região Sul durante os meses mais frios do ano. Palavras-chave: Neve, episódios de frio intenso, impactos sócio-econômicos, dinâmica atmosférica, levantamento histórico-documental. ABSTRACT Snowfall is a meteorological phenomenum of great importance over geographical space. The region comprised by the municipality of Palmas and its sorrounding areas is considered to be the coldest area in Parana State, being also the second snowiest place in southern Brazil.The purpose of this dissertation is to reconstruct the most important polar outbreaks in the period 1923-2000, focusing their socio-economic impacts through historical researching and going further in the explanation of meteorological conditions (atmosphere dynamics) leading to snowfalls in Palmas. It was also intended to highlight the importance of interannual variability and seasonal variability of the elements of climate, particularly the snow, in order to allow us a more dynamic approach of climate, taking into account climate extremes and its variability. It was used a combination of oficial datas (from INMET, IAPAR, etc) with researching on newspapers and magazines so as to cover the entire period (1923 – 2001). Furthermore, we could also draw some preliminar maps about the spatial distribution of the main snowfalls in Palmas and find the northern limit of snowfall in the southern region. We hope that our analysis and the data gathered in this dissertation are useful for future researches on the subject and for those who wish to study the winter climate of southern Brazil in a more dynamic approach. Key words: Snow, polar outbreaks, socio-economic impacts, atmosphere dynamics, historical researching. 1 CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO 1.1 Importância do tema para a geografia A climatologia constitui-se num importante campo de estudo da Geografia. Atualmente, existe no país uma intensa atividade nesse ramo do saber geográfico, com freqüentes eventos científicos reunindo pesquisadores das mais diversas áreas da climatologia. Até o final dos anos oitenta, eventos específicos como esse não eram uma realidade, uma vez que os temas de interesse da comunidade geográfica eram tratados, indistintamente, em encontros nacionais promovidos pela Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB). Constituindo-se em um ramo da Geografia, a climatologia reveste-se de importante papel no que diz respeito à organização do espaço e à qualidade de vida do homem que o habita. Esta dissertação pode ser definida como um estudo geográfico do clima de Palmas/PR, tendo como foco a ocorrência de neve. O tema desta pesquisa adquire relevância geográfica na medida em que as nevadas e outros fenômenos meteorológicos associados ao frio, causam expressivos impactos sócio- econômicos e influências culturais1, conferindo à Região Sul, particularmente aos Planaltos de Palmas e de São Joaquim2, uma singularidade e especificidade sui generis no espaço geográfico brasileiro. Cientificamente, a presente dissertação pode contribuir com as seguintes abordagens: dinâmica, para a qual o estudo da neve é um desafio, diante da carência de dados, da extrema irregularidade do fenômeno e do grande número de variáveis envolvidas na ocorrência de neve; e histórico-documental, já que neste aspecto este trabalho é pioneiro no Brasil, pois é a primeira vez que se faz um levantamento das repercussões de algumas das principais nevadas do século XX, associando-as com a bibliografia disponível sobre o tema. 1 Esses impactos e influências serão estudados detalhadamente no capítulo 3 dessa dissertação. 2 Também denominado de Planalto da Neve, segundo Souza (1997). Nesta dissertação ambos os termos serão usados como sinônimos. 2 Somam-se a essas contribuições o fato de que esse levantamento servirá para futuros estudos da ocorrência de neve, além de que sua freqüência e intensidade ao longo deste século poderão ser comparados com os registros do século passado por nós preservados. Desse modo, perpetuam-se informações acerca de um fenômeno que até recentemente era subestimado, e o material que foi possível levantar certamente ajudará em estudos vindouros. Em relação aos impactos sócio-econômicos dos episódios de neve e principalmente da geada e do frio intenso que a sucedem, podemos mencionar a questão da saúde da população e a maior incidência de certas patologias favorecidas por condições climáticas de inverno, os transtornos nas redes viárias, nas atividades agropecuárias, na infra-estrutura urbana e no cotidiano da população. Ainda sobre os impactos sócio-econômicos da precipitação nival, devemos mencionar que o turismo da neve ganhou um novo impulso após as pesquisas de Souza (1990,1994,1996,1997) no planalto de São Joaquim, ao longo da última década do século XX. Outro pesquisador que tem contribuído para este “despertar” em relação à neve é o agrônomo Ronaldo Coutinho, que por meio de sua estação meteorológica, na cidade de São Joaquim, e de seu afinco nas observações e aferições do fenômeno, fornece a previsão do tempo aos agricultores e pecuaristas da região, além de manter um site com a previsão do tempo e da ocorrência de neve na região Sul do Brasil.3 O município de São Joaquim costuma ter a totalidade de sua rede hoteleira ocupada toda vez que é anunciada a chegada de uma massa polar, o que gera enormes dividendos à receita do município. É nesse sentido, o do aproveitamento econômico da neve e do frio, que o município de Palmas poderia direcionar esforços, pois a beleza dos campos e bosques de araucárias da região, aliados à presença da primeira usina eólica do Brasil, ao estilo campestre de vida em antigas fazendas, à excelência na produção de frutas de clima temperado e à ocorrência de neve e frio, podem constituir-se em atrativos para o turismo em nível regional ou mesmo nacional. A neve no sul do Brasil não tem despertado o interesse apenas de profissionais da Geografia e áreas afins, mas também do público leigo, inclusive de estudantes do ensino 3 http://www.climaterra.com.br 3 médio, como é o caso de Luiz Carlos Martins Filho, residente em Maringá, responsável pela criação do primeiro site brasileiro exclusivo sobre a neve4, com informações coletadas junto a pesquisadores da área e na imprensa escrita. A própria imprensa tem aprimorado substancialmente sua cobertura dos episódios de frio e neve, inclusive com um maior rigor na coleta de dados climáticos e um melhor levantamento dos impactos sócio-econômicos. Sobre a relação neve-exotismo-incredulidade-tropicalidade, gostaríamos de chamar a atenção para alguns pontos intrigantes. Os livros didáticos de Geografia sempre afirmaram ser o Brasil um país tropical. Inúmeros ícones da música popular brasileira, como Tom Jobim, Dorival Caymmi, Waldir Azevedo e Ary Barroso, dentre outros, já prestaram sua homenagem a essa “tropicalidade”, através de suas letras e canções, já imortalizadas no cenário cultural brasileiro, de “Garotas de Ipanema” e “Quindins de Iaiá”. Contudo, não podemos esquecer que esses artistas, muito embora nos tenham deixado precioso legado cultural, não expressaram em suas obras as características de outras regiões, como as da Região Sul por exemplo, mas sim aqueles aspectos e singularidades da cultura e natureza de suas terras natais, situadas em pleno domínio tropical. A respeito da incredulidade, é muito comum encontrar pessoas (inclusive da Região Sul), que acreditam ser impossível no Brasil a existência de paisagens “como as dos filmes”, com invernos marcados pela total transformação da paisagem pela neve que ali ocorre e por baixas temperaturas que afetam com intensidade o cotidiano das pessoas e as atividades econômicas. O enraizamento do estereótipo tropical é tão forte que acaba por levar à incredulidade, ou, ao menos, ao deslumbramento. A verdade é que para aproximadamente 15 milhões de brasileiros, a neve nada tem de exótica ou excepcional. E indo mais além, para aproximadamente 2 milhões de pessoas, ela é presença quase que anual, faz parte de suas histórias, de suas trajetórias, é esperada, e apenas apreciada. Para nós, pesquisadores, a ocorrência de neve se reveste da mais alta significância clímato-geográfica, para eles, moradores do “Brasil da Neve”, não passa de um ocorrência climática dentre tantas outras (Granizo, vendavais, geadas, etc) e simplesmente ocorre. 4 http://www.abaixodezero.com.br 4 Retomando a questão da tropicalidade, a própria condição do Brasil como país de clima predominantemente tropical contribui para um certo encantamento com as paisagens hibernais da América do Norte e Europa, que no Brasil estão presentes em todos os lugares: cinema, literatura, marketing, e que são “vendidas” pelo meio publicitário como sinônimo de luxo e sofisticação. Diante dessa realidade, muitos empresários estão “descobrindo” a neve no Planalto de São Joaquim, e ao que tudo indica, a região da serra catarinense seguirá os passos da vizinha Serra Gaúcha, pois para isso, basta infra-estrutura e marketing. O número de turistas tem aumentado anualmente. Ainda em relação à incredulidade na ocorrência de neve no país, Souza (1997), afirma que “criou-se uma fantasia de que a neve é um fenômeno raro ou até mesmo inexistente no Brasil. Não se acredita que possa haver paisagens surpreendentemente brancas, cobertas por espessas camadas de neve e que isto possa se repetir a cada ano.” Para fechar essa discussão, gostaríamos de lembrar que do ponto de vista natural, a neve nada tem de improvável ou exótico. Há registros de sua ocorrência no sul do Brasil desde que lá chegaram os primeiros naturalistas e viajantes europeus, há quase 3 séculos. Se ela ocorre, faz parte da dinâmica atmosférica reinante na área, e sua marcha anual e interanual nada tem de peculiar, é apenas um aspecto de um contexto natural muito mais amplo. Planaltos de outros continentes, em latitudes semelhantes, também recebem nevadas, como na Austrália, sudoeste da China, Taiwan, Califórnia e África do Sul. O caráter geralmente efêmero, pontual e imprevisível (até há alguns anos) da neve no Brasil é que acaba por fazer dela algo inusitado e curioso. Mas o fato de sua freqüência ser maior em áreas relativamente pouco habitadas, como é o caso do Planalto de Palmas e de São Joaquim, faz sua repercussão ser pequena em âmbito nacional. Prova disso é que a nevada de 1975, que atingiu uma metrópole como Curitiba, por ter tido ampla repercussão na imprensa, é de conhecimento da maioria das pessoas que já eram nascidas na época, sendo que encontramos moradores de várias partes do Brasil que tinham conhecimento do episódio. O próprio autor desta dissertação, nascido no Paraná, até bem pouco antes de iniciar a graduação em Geografia, não tinha conhecimento da dimensão da ocorrência de neve no Brasil, tendo apenas visto algumas imagens insignificantes pela televisão. Encontramos inclusive muitos climatólogos que se surpreendem com a existência e especificidades do 5 fenômeno, haja visto que até 1997 inexistiam trabalhos com abordagem geográfica do tema, e de maneira exclusiva e abrangente. Aliás, até o início dos anos 90, quando o então mestrando Rodolfo de Oliveira Souza começou a publicar os resultados de suas pesquisas, sequer era sabido quais eram as áreas realmente sujeitas ao fenômeno, uma vez que as estações meteorológicas subestimavam ou ignoravam a ocorrência de neve, o que acabou por dificultar uma delimitação geográfica precisa das áreas a ela sujeitas. Apenas os habitantes de cada região é que tinham esse conhecimento, mas poucos deles nos legaram informações através de manuscritos, diários ou trabalhos científicos e esses, se existem, geralmente não estão ao alcance dos pesquisadores. Tais fatos representam uma grande perda para aqueles que pretendem investigar a ocorrência de neve e outros fenômenos associados ao frio. Dessa maneira, torna-se muito laborioso traçar um histórico das ocorrências, bem como avaliar seus pretéritos impactos sobre as comunidades da época. 6 1.2 Objetivo Geral e Hipótese A presente dissertação tem como principal objetivo a caracterização da ocorrência de neve em Palmas/PR entre 1923 e 2000, buscando compreender a circulação atmosférica regional produtora de nevadas intensas. Pretende-se também reconstituir alguns episódios de frio e neve por meio de uma abordagem histórico-documental, focalizando tanto o tratamento dado pela imprensa, quanto os impactos da neve sobre o espaço geográfico de Palmas, contextualizando-os no todo da Região Sul. A precipitação da neve no Brasil se constitui num dos fenômenos atmosféricos mais singulares5 em seu território, sendo um dos menos estudados pela comunidade científica. Se considerarmos a soma de todas as ocorrências de neve registradas no Brasil entre 1923 e 2000, veremos que a maior parte da Região Sul já presenciou a neve, ainda que apenas uma única vez. Os estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro também já registraram neve nas partes mais elevadas da Serra da Mantiqueira em alguns episódios de frio intenso ao longo do período 1923-2000. No Brasil meridional, as duas áreas com o maior número de dias de neve são os planaltos de São Joaquim e de Palmas, os mais frios da Região Sul, podendo o fenômeno ocorrer entre os meses de abril e outubro. Dessa maneira, decidimos pesquisar os tipos de tempo responsáveis pela ocorrência de neve em Palmas, numa tentativa de avançarmos na compreensão da dinâmica climática que caracteriza esta área sulina, marcada pela precipitação nival e outros fenômenos climatérios de inverno. O Planalto de São Joaquim, já estudado por Souza (1997, 2002), recebe nevadas mais freqüentes e intensas do que o de Palmas porque se beneficia de maior altitude e principalmente de um maior aporte de umidade proveniente do ciclone extratropical que atua junto à costa da Região Sul. Quanto mais próximo e ativo for esse ciclone, mais umidade é jogada em direção ao Planalto de São Joaquim e maiores são as possibilidades de nevadas intensas e duradouras, 5 Singular nesse contexto significa único distinto ou notável. 7 desde que aliadas ao domínio de um anticiclone polar continentalizado o bastante para manter as temperaturas suficientemente baixas para a formação de neve. Palmas, por seu turno, situada em posição mais continental e em uma altitude 300 metros inferior a de São Joaquim, recebe nevadas menos freqüentes e menos intensas. Disso resulta que a precipitação nival em Palmas não apresenta sincronismo com a de São Joaquim. Contudo, todas as vezes em que neva em Palmas, neva em São Joaquim, exceto pelo episódio de 4 de agosto de 1972, quando nevou apenas em Palmas. Porém, nem todas as vezes em que houve neve em São Joaquim, nevou em Palmas. Isto nos levou a pensar em tipos de tempo que privilegiam São Joaquim, do ponto de vista da neve. Considerando que o teor de umidade em Palmas é habitualmente inferior ao de São Joaquim, devido à maior distância em relação ao ciclone extratropical, é de se supor que a umidade necessária à ocorrência de neve em Palmas deve ser proveniente da própria frontogênese, bem definida até níveis médios e altos da troposfera. Finalmente, para que neve em São Joaquim e também em Palmas, é necessário que a frente polar atlântica (frontogênese) tenha um desenvolvimento tal que alcance o oeste dos estados do sul, em particular o sudoeste paranaense, e que na sua retaguarda esteja presente um anticiclone de trajetória continental, afim de que a umidade restante (pós- frontal) em contato com a periferia do anticiclone polar, propicie a ocorrência da neve. 8 1.3 Metodologia 1.3.1 Fundamentação teórica A Climatologia Dinâmica, também conhecida como Climatologia Sintética ou Moderna, encontra suas raízes na Meteorologia Dinâmica, que faz uma análise do complexo atmosférico em porções individualizadas (massas de ar) e seus conflitos (frontologia) (Monteiro, 1962). A evolução da Meteorologia Dinâmica possibilitou que Sorre (1951) realizasse a revisão do conceito de clima que conduziu a uma nova forma de abordagem, mais apropriada aos propósitos da Geografia para os estudos do clima. É sob esse novo conceito de clima que a presente pesquisa se baseia, pois que aquele autor define o clima como sendo “o ambiente atmosférico constituído pela série de estados da atmosfera sobre um determinado lugar em sua sucessão habitual” (SORRE, 1951, p. 14). Referindo-se à noção de ritmo, Sorre (1951, p.33) afirma que “ele exprime não mais a distância quantitativa dos valores sucessivos, mas o retorno mais ou menos regular dos mesmos estados” No caso da neve no Brasil, há um conhecimento bastante razoável sobre quais são exatamente os estados atmosféricos que ocasionam a neve, mas ainda faltam explicações mais pormenorizadas e contextualizadas na dinâmica atmosférica regional que conduz à precipitação de neve em Palmas. Além do ritmo, Sorre (1951) considera ainda a noção de variabilidade, que “... incluindo sutilezas de graus diferentes, desde as variações horárias, diárias e mensais, até as anuais e aquelas de um ano para o outro – enfatiza as rupturas na continuidade das situações” (MONTEIRO, 1976, p. 26). Tal noção será de vital importância na análise da ocorrência de neve em Palmas e será estudada a partir da análise de cartas sinóticas, gráficos de análise rítmica e, em alguns casos, de imagens de satélite. Dessa maneira, é baseado nos preceitos sorreanos de clima, que optamos, no sub- capítulo 1.5 e no capítulo 2, por uma abordagem climática de Palmas que privilegiasse a variabilidade interanual dos elementos climáticos, por acreditarmos que essa variabilidade nada mais é que a resposta diferenciada desses elementos em superfície, em face do complexo jogo de massas de ar atuantes na área de estudo. 9 Pédelaborde (1980), seguindo os preceitos sorreanos, ensaia as primeiras tentativas de se combinar uma climatologia separativa e uma climatologia de síntese, propondo seu importante “método sintético das massas de ar e dos tipos de tempo”, que fará parte do arcabouço teórico-metodológico que norteará esta pesquisa. Segundo Pédelaborde, para compreendermos o complexo climático de uma determinada área, faz-se premente investigar a procedência da massa de ar, o tempo que ela permanece sobre um determinado lugar, a trajetória de tal massa, os mecanismos físicos que ela leva consigo e quais transformações em suas características naturais ela sofre antes de atingir a área em questão, possibilitando assim abranger a totalidade dos tipos de tempo de uma região, calcular sua freqüência e a maneira pela qual se sucedem no transcorrer de um longo período, restituindo o “ambiente” verdadeiro do qual fala Sorre, e fornecendo uma concepção genética que possa ser adicionada aos dados, também importantes, porém incompletos, provenientes de uma abordagem analítico-separativa. Apesar da presente pesquisa apoiar-se nos pressupostos sorreanos e pédelabordeanos de clima, o paradigma fundamental à execução de nosso trabalho - a noção de ritmo- é proveniente da obra do Geógrafo Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, e constitui-se na base teórico-metodológica norteadora dessa dissertação. No âmbito da Climatologia Geográfica Brasileira, conforme ressaltado por Zavattini (2000), encontramos na obra do Prof. Monteiro uma tradução “ lúcida e fiel” dos preceitos de Sorre e Pédelaborde. Zavattini ainda enfatiza que Monteiro divergiu de Pédelaborde quanto à interpretação do novo paradigma proposto por Sorre (1951). Enquanto para Pédelaborde o paradigma seria a “totalidade dos tipos de tempos”, para Monteiro é o “ritmo”, ou seja, “o encadeamento, sucessivo e contínuo, dos estados atmosféricos e suas articulações no sentido de retorno aos mesmos estados” (Zavattini, 2000) Monteiro (1969, p.12) insiste “na necessidade de recorrer à dinâmica atmosférica, não apenas esporadicamente na interpretação de fatos isolados, mas, com a devida ênfase, na própria definição climática regional”, delimitando, assim, sua posição teórico- metodológica, devidamente exposta já em seus primeiros artigos sobre a necessidade de uma nova abordagem climatológica, como evidencia o trecho a seguir: Se a finalidade precípua do método geográfico é a explicação do fenômeno climático, se esta compreensão só pode ser obtida através da circulação 10 atmosférica regional (...) este objetivo só poderá ser alcançado através do método dinâmico. A orientação analítica tradicional, baseada em índices numéricos, em dados médios, mascara os valores máximos e mínimos, e mesmo aqueles menos ocasionais, que apesar disto existem e se sucedem segundo uma pulsação e um ritmo próprio, nos fornece apenas algo de descritivo” (MONTEIRO, 1962, p.31, grifo nosso). Com base nessas reflexões de Monteiro é que podemos externar nossa inquietação em relação à precipitação nival, um fenômeno climático que se oculta por detrás de generalizações e médias, mas que “existe”, individualizando climaticamente as áreas onde ocorre, repercutindo no espaço geográfico, e “pulsando num ritmo próprio” e que não foi satisfatoriamente elucidado. Com essa dissertação desejamos evoluir no desvelar da dinâmica desse fenômeno e de seu ritmo, sem, contudo, pretender uma regionalização climática das áreas afetadas pela precipitação nival. Monteiro ainda afirma que “é pela sucessão que se percebem as diferentes combinações dos elementos climáticos entre si e suas relações com os demais elementos do quadro geográfico. É a seqüência que conduz ao ritmo, e o ritmo é a essência da análise dinâmica”. (MONTEIRO, 1969, p.13) Monteiro (1964) vê na participação das massas de ar uma excelente possibilidade de representação prática do ritmo, já que trazem consigo toda uma estrutura de fatos complexamente combinados ao longo do tempo e do espaço. E vem daí a importância do caráter regional quando se pretende estudar o clima à luz da metodologia dinâmica. A preocupação em analisar os diferentes elementos do clima e combiná-los com os tipos de tempo, levou Monteiro a utilizar seqüências de cartas sinóticas e a empregá-las no aperfeiçoamento da classificação genética dos climas em termos regionais, possibilitando- lhe a concepção e o aprimoramento da técnica da análise rítmica, que será utilizada em nossa pesquisa, e que se constitui numa tentativa de representação do ritmo climático associado ao fenômeno da precipitação nival. Em relação à problemática das escalas de abordagem em estudos de climatologia, contamos com a elucidação de Monteiro ao afirmar que: “não podemos alcançar o clima local sem o prévio estudo da circulação atmosférica regional a qual, sob a influência dos fatores geográficos dentro da região, vai possibilitar a definição dos climas locais”. (MONTEIRO, 1962, p. 30). No nosso caso, não temos a pretensão de “alcançar o clima 11 local” de Palmas, mas de apenas avançar ao jogar luzes num fenômeno climático ainda não totalmente elucidado do ponto de vista da dinâmica atmosférica. O autor prossegue enfatizando que “se a escala zonal generaliza, pelas leis de influência da latitude sobre a radiação, e a escala local diversifica e multiplica, pela influência dos múltiplos e pequenos fatores das diferentes esferas do domínio geográfico, a escala regional lhes dá a verdadeira unidade geográfica”. (MONTEIRO, 1964, p.61) Com a adoção do paradigma do ritmo por Monteiro e com suas propostas para estudos de climatologia dinâmica, iniciava-se, nos anos sessenta, aquilo que no final do século XX viria a se concretizar na “Escola Brasileira de Climatologia Geográfica” (Zavattini, 2000), cujos princípios e métodos nortearão os rumos dessa pesquisa, baseando-se nos pressupostos de que o ritmo deve ser a essência do fato climático e de que o espaço geográfico sofre significativa influência de tipos de tempo excepcionais (em nosso caso as nevadas e o frio intenso a elas associado), que pulsam num ritmo próprio, caracterizando e particularizando as áreas onde atuam. 1.3.2 Documentação de Apoio A escassez de dados referentes ao fenômeno da neve e mesmo de outros elementos do clima da região de Palmas/PR constituiu-se no maior obstáculo ao longo destes 36 meses de trabalho. Apesar desta dificuldade na reunião das informações e dados necessários, foi escolhido um período relativamente longo, entre os anos de 1923 e 2000. Com o presente trabalho pretendemos enfocar um tema pouco abordado na climatologia geográfica brasileira e com escassa bibliografia específica disponível, a precipitação nival no município de Palmas, entre os anos de 1923 e 2001, período escolhido em função da disponibilidade de dados. Felizmente, foi possível utilizar esse longo período devido ao fato de Palmas ser um município muito antigo, possuindo um dos mais longos registros meteorológicos do Paraná, ao lado de Curitiba e Paranaguá. O período escolhido inicia-se em 1923 devido ao fato de a estação do INMET ter sido instalada nesse ano. Encontramos, inclusive, referência à solenidade de abertura em um livro sobre a história de Palmas. A nossa preocupação primeira foi relativa à existência de dados suficientes para 12 uma adequada caracterização e análise das ocorrências do fenômeno, bem como à confiabilidade dos mesmos. De modo a atingir os fins propostos por esta dissertação, fez-se o uso de dados coletados junto ao INMET e ao IAPAR, referentes aos dados de dias de neve no município de Palmas. Os dados do INMET cobriram o período de 1923 – 1973, ao passo que os dados do IAPAR completaram a amostra temporal com os dados de 1979 a 2000. A lacuna entre os anos de 1973 e 1979, período em que a estação esteve fechada por ocasião da saída do INMET e entrada do IAPAR, foi completada por dados coletados pelo autor junto à imprensa escrita e confirmada com o trabalho do geólogo palmense Geraldo Barfknecht, intitulado “Contribuição à Climatologia da Região de Palmas – PR” (exemplar do autor, s/d). O levantamento dos dados referentes aos dias de neve foi realizado, desta maneira, conjugando-se os dados oficiais dos órgãos supracitados com a pesquisa documental junto à imprensa escrita. Tal atitude foi necessária, pois havia falhas nos dados do INMET que só puderam ser suprimidas por longa e minuciosa pesquisa documental, confrontando informações de inúmeros jornais para os anos que apresentaram falhas. O ano de 1942 ilustra bem o quão importante foi a pesquisa documental e jornalística para a realização da presente pesquisa, pois não constava nos dados do INMET que houvera forte nevada neste ano. Foi por iniciativa do autor, de averiguar os anos sem registro de neve no INMET através da imprensa escrita, que foi possível obter um banco de dados com o menor número possível de falhas. Gostaríamos de frisar, todavia, que as informações da imprensa escrita devem ser interpretadas com cautela, uma vez que geralmente carecem de uma maior precisão dos dados levantados. Apesar da extensa pesquisa documental, ainda podem ter persistido algumas lacunas, devido à extensão do período - o que é inevitável em pesquisas que envolvem grandes quantidades de informação e de variadas fontes. Na pesquisa documental foram confrontadas, na maioria das vezes, reportagens de pelo menos dois jornais para cada ano analisado, utilizando por vezes de três até seis periódicos. A seguir, listamos os jornais e periódicos utilizados na pesquisa documental, separados por estado: 1 – Jornais de circulação diária 13 Rio Grande do Sul • Zero Hora Santa Catarina • Diário Catarinense Paraná • Dezenove de Dezembro • O Dia • O Diário do Paraná • Diário da Tarde • O Estado do Paraná • A Tribuna • Gazeta do Povo • Diário Popular • Folha do Norte São Paulo • Folha de São Paulo • O Estado de São Paulo Rio de janeiro • O Globo • Jornal do Brasil • O Dia 2 – Periódicos. • O Palmense • Paraná em Páginas • Veja 14 As pesquisas foram realizadas em grande parte na Biblioteca Pública do Paraná, na cidade de Curitiba, onde havia jornais do Paraná desde meados do século XIX, e também na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Também fez parte da pesquisa documental o levantamento de fotografias das nevadas, uma vez que são importantes na estimação, ainda que não totalmente precisa, da quantidade de neve anual em Palmas/PR. A esse respeito, informamos que o levantamento da altura da camada de neve dos principais episódios foi realizado com base na imprensa escrita, nas fotografias e na bibliografia analisada, uma vez que não houve por parte do INMET e do IAPAR a preocupação de medir a altura da camada de neve e a duração das nevadas. Foi apenas após o trabalho de Souza (1997), que algumas estações passaram a usar réguas para medir a camada de neve. Os dados referentes à caracterização geográfica da área de estudo foram levantados com pesquisadores e professores da Faculdade de Palmas, em pesquisa bibliográfica na Biblioteca Pública do Paraná, na Biblioteca da Faculdade de Palmas e junto ao agrônomo Antônio Bonkerner, do IAPAR, que nos forneceu dados sobre a fruticultura no município, dentre outros assuntos. No tópico referente à caracterização climática de Palmas, utilizamos dados coletados pela estação meteorológica do IAPAR e concedidos pelo Sistema Meteorológico do Paraná (SIMEPAR). No decurso da pesquisa, foi também importante a nossa visita ao município, que foi fundamental para a execução do trabalho, pois preencheu lacunas existentes na amostra temporal utilizada. Na ocasião foram consultados órgãos públicos, como a Prefeitura Municipal, Museu Municipal e escolas, além de moradores tradicionais da região e pesquisadores, tendo sido necessário recorrer inclusive à consulta de diários de padres e freiras no Palácio Episcopal do município, de modo a sanar as dúvidas existentes em relação ao número de dias de neve. Podemos afirmar que foi um trabalho de garimpagem muito assemelhado àquele feito por historiadores, pois as fontes foram inúmeras e diversificadas. Ao terminar o levantamento de dados junto a todas as fontes supracitadas, procedeu- se a uma sistematização das informações, organizadas por episódios e, posteriormente, à seleção das nevadas de maior repercussão na imprensa, de modo a serem caracterizadas no capítulo 3. Ao mesmo tempo, partimos para a análise da variabilidade interanual das nevadas na série temporal em questão. 15 Para a construção do capítulo 4, fizemos uso de cartas sinóticas coletadas junto ao Centro de Hidrografia da Marinha, em Niterói, RJ, e ao INMET, bem como de cartas sinóticas e imagens de satélites já analisados em artigos científicos publicados em revistas nacionais e internacionais e em trabalhos de pós-graduação. Os episódios dos anos de 1975, 1979, e 1981 foram analisados com base nas cartas sinóticas já mencionadas e por meio de imagens de satélite adquiridas no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. A elaboração dos gráficos de análise rítmica dos episódios selecionados, também exigiu o uso dessas cartas sinóticas, além dos dados diários de temperatura, umidade e precipitação, para as 09:00, 15:00 e 21:00, no período 1979-2000 e registrados pela estação do IAPAR. Esse foi o recorte temporal utilizado para caracterizar o clima de Palmas, destacando a variabilidade interanual dos principais elementos climáticos, e para realizar os gráficos de análise rítmica dos episódios selecionados. O gráfico de análise rítmica de agosto de 1965 foi elaborado com base nos dados levantados por Monteiro (1965). Os critérios para escolha dos episódios do capítulo 4 foram os seguintes: a disponibilidade de cartas sinóticas, restrita ao período 1957-2000, a intensidade das nevadas e a repercussão na imprensa escrita. Dessa combinação resultou a seguinte escolha: 1957, 1965, 1969, 1975, 1979, 1981 e 1984. Os mapas dos capítulos 1, 2, e 4 foram extraídos de algumas obras a respeito da neve no Brasil e de sites de órgãos governamentais. Os mapas do capítulo 3, sobre a distribuição da neve no espaço geográfico da Região Sul nos principais episódios de nossa série temporal, foram confeccionados com base nas informações relatadas pela imprensa escrita, sendo, portanto, um levantamento preliminar e aproximado das áreas que registraram neve nos episódios por nós selecionados. 16 1.4 Análise Bibliográfica Até 1997, quando foi defendida a primeira dissertação a abordar a neve no Brasil de um ponto de vista geográfico e de maneira exclusiva, não havia nenhuma obra de referência para quem quisesse conhecer a geografia da neve brasileira, tampouco uma obra que tratasse exclusivamente da ocorrência do fenômeno no espaço brasileiro. Hoje, em 2004, temos três monografias de bacharelado, defendidas na UFRGS, UFSC e UFPR, uma para cada um dos estados do sul, e dois trabalhos em nível de pós-graduação, uma dissertação e uma tese. Nesta análise bibliográfica, optamos por resenhar essas cinco obras, e outras que, parcialmente ou de maneira exclusiva, abordaram a ocorrência de neve no Brasil. São livros de clima, história regional, geografia regional, artigos científicos, dentre outros, todos eles publicados no Brasil. Rambo (1942), enfoca aspectos físicos do Rio Grande do Sul, mencionando brevemente as áreas de ocorrência da neve (Serras do Nordeste, Sudeste e Planalto Central), citando as grandes nevadas de julho de 1918 e julho de 1942. Machado (1950), traz breve análise da ocorrência de neve no Rio Grande do Sul, com destaque para o mapa onde classifica as áreas de ocorrência segundo três categorias: mais freqüentes, menos freqüentes e esporádicas. Fortes (1960), refere-se à freqüência da neve, mencionando os meses de junho, julho e agosto como os mais nivosos na região Sul, fato que não se aplica a Palmas, pois segundo Carvalho (2002) o mês de maio é mais nivoso do que junho. Monteiro (1965), em sua crônica geográfica sobre as calamidades meteorológicas no Brasil Meridional, em agosto de 1965, faz uma análise da série de fenômenos meteorológicos de rara intensidade que afetaram o sul do país entre os dias 19 e 28 daquele mês e ano. Monteiro faz uma descrição dos impactos ambientais que iam sendo gerados à medida que os centros de ação envolvidos no episódio progrediam. Destaca a trajetória continental do anticiclone polar migratório, e da ciclogênese que evoluiu para uma oclusão. O autor deu atenção especial à intensa precipitação nival que se abateu sobre vastas áreas da Região Sul, confeccionando um mapa das catástrofes, baseado em informações da 17 imprensa. Termina a crônica enfatizando o caráter geográfico de uma abordagem climatológica que priorize o estudo de eventos extremos e não habituais. Matos (1972), focaliza o estudo da Araucária angustifólia, descrevendo o domínio climático a que pertence esta conífera, relatando os efeitos da grande nevada de julho de 1957, que resultou num acúmulo de aproximadamente um metro em São Joaquim Moraes (1975), apesar de dar mais ênfase à geada e ao frio intenso a ela associado, enumera as principais ocorrências de neve entre 1901 e 1970, citando as temperaturas mínimas registradas em algumas localidades do Brasil e as áreas com maior freqüência de precipitação nival. Sua obra, ainda que pouco extensa, realizou importante resgate histórico das ocorrências de neve e geada no Brasil, citando casos tão excepcionais quanto os de Cerro Azul, na fronteira entre Paraná e São Paulo. Barbosa (1978), traça as características gerais da cidade de Vacaria/RS, incluindo uma breve descrição das fortes nevadas que assolaram a cidade em 1870, 1879, 1912 e 1965. O autor chama a atenção para o evento de agosto de 1879, quando, de acordo com o anuário da província do Rio Grande do Sul, “Nevou com tal intensidade que formou uma camada de mais de dois metros de espessura, chegando a enterrar reses, que apenas ficaram com os chifres de fora.” Barbosa também levantou os impactos da famosa nevada de 1965, a mais intensa do século XX em Palmas. Nimer (1979), em capítulo referente à climatologia da região sul, para finalizar o estudo sobre a temperatura e geadas, tece algumas considerações sobre a precipitação de neve, usando, porém, termos subjetivos e imprecisos: “entretanto, na superfícies mais elevadas deste planalto (o de São Joaquim), (...), a ocorrência de nevada durante o inverno, embora ainda não seja comum, não é contudo, uma raridade, havendo um dia de nevada, em média, para cada inverno”. A freqüência apontada é bem inferior à que já foi comprovada por Souza (1997), o que demonstra uma subestimação do fenômeno. Adiante o autor entra em contradição com o que afirmou, reconhecendo que “nessa área6 a incidência de nevada não apenas é mais freqüente (três dias de nevada, em média, por ano), como ainda é mais intensa.” 6 Essa área refere-se às superfícies mais elevadas do planalto de São Joaquim, já citada anteriormente como tendo um dia de nevada em cada inverno. 18 Maack (1981), em sua volumosa obra sobre a geografia física do Paraná, prefaciada por Ab’Saber, escreve um capítulo sobre o clima do estado. De posse de um banco de dados meteorológicos acerca de inúmeros elementos climáticos, faz ampla e minuciosa análise do clima paranaense, resultando numa série de mapas, gráficos e climogramas, ainda que sob o viés de uma climatologia analítico-separativa. Todavia, houve uma preocupação de destacar os extremos climáticos do período analisado, o que se reveste de suma importância para os propósitos da geografia. No sub capítulo das precipitações cita a nevada de 1928 em Curitiba, descrevendo também a grande nevada de agosto de 1965, citando ainda a de agosto de 1966. Souza (1991), faz uma comparação entre as precipitações nivais do sul do Brasil com algumas outras áreas do mundo, principalmente aquelas localizadas no mesmo hemisfério e em mesma latitude. Além disso, analisa o expressivo período de neve de agosto de 1978 no Brasil meridional. Souza (1994), busca definir a região de associação araucária-campo como sendo a área mais propensa à ocorrência de neve, o que foi comprovado estatisticamente por meio da análise da freqüência do fenômeno em Bom Jesus/RS e São Joaquim/SC, ambos pertencentes ao domínio araucária-campo. Wons (1994), em seu compêndio sobre a geografia do Paraná, curiosamente classifica as massas polares atuantes no Paraná em dois tipos: Polar Continental, mais seca e de trajetória continental ocasionando geadas e dias ensolarados; e Polar Marítima, que ocasiona quedas buscas de temperatura, mau tempo, frio úmido e chuvas abundantes. Provavelmente por desconhecer as condições atmosféricas conducentes a neve, não a associa nem à Massa Polar continental, nem à Massa Polar Marítima, afirmando genericamente que “massas de ar frio acentuam-se no inverno, provocando ondas de frio responsáveis pela formação de fortes geadas e queda de neve.” Observa, ainda, que a temperatura mínima absoluta em Palmas foi de 11,5 graus abaixo de zero em 18 de julho de 1975. Souza (1995), classifica as áreas mais atingidas pelo fenômeno da neve no sul e sudeste do Brasil, em dois regimes diferenciados: regime nival ordinário, para as localidades que apresentam de um a cinco dias de neve ao ano, e regime nival marginal, 19 para aquelas que tem menos de um dia de neve ao ano. Para o autor, Palmas estaria no regime nival ordinário. Souza (1997), em pioneira dissertação de mestrado sob a ocorrência de neve no Brasil, faz uma análise geográfica do fenômeno, levantando a freqüência e intensidade com que atingiu a Região Sul, em particular o planalto de São Joaquim entre 1970 e 1990. Em seu estudo, fez um levantamento preliminar sobre o número de dias de neve para várias localidades dos três estados sulinos, focalizando o episódio de neve de julho de 1990, que foi analisado sinoticamente, com o apoio de algumas imagens de satélite e a construção da análise rítmica de Bom Jesus/RS, e Fraiburgo/SC. Também foi realizada uma análise sinótica do episódio de agosto de 1978. Dentre as muitas contribuições da dissertação destacamos a delimitação do planalto da neve enquanto unidade clímato-geográfica, com freqüência anual superior a um dia de neve ao ano, assim como um avanço na compreensão da ocorrência de neve no Brasil, associada à trajetória continental do anticiclone polar e aos fatores estáticos altitude e relevo. Houve também um avanço no mapeamento do fenômeno, anteriormente negligenciado. Souza (1997), baseado em arquivos fotográficos, busca suprir as deficiências na medição da neve, por meio de uma avaliação preliminar da quantidade precipitada em São Joaquim/SC. Carvalho (2000), traça um perfil evolutivo da precipitação nival em Palmas/PR, ressaltando os impactos sócio-econômicos e as influências culturais que a neve e o frio intenso trazem à cidade. Schmitz (2000), em sua monografia de bacharelado, trata da neve de forma exclusiva, enfocando o período 1960-1990 no Rio Grande do Sul, com destaque para o episódio de julho de 2000. Foi calculado o número de dias com neve para quinze estações distribuídas pelo espaço gaúcho. Para seis localidades do nordeste do estado, foram calculados os percentuais de nevadas fracas, moderadas e fortes, baseado em dados do INMET. Essas localidades também foram contempladas com um tratamento estatístico que visou encontrar a sazonalidade da neve nessas localidades, indicando o número de dias de neve entre maio e setembro. A análise do episódio de julho de 2000 trouxe, além de uma abordagem estatística, uma descrição da dinâmica atmosférica que acarretou em neve, por meio de quatro cartas sinóticas e uma imagem de satélite. Também constam dos anexos 20 duas cartas das correntes de jato em 200 hpa, numa tentativa de associar a neve à circulação atmosférica em altitude. Souza (2000), descreve o longo episódio de frio intenso em julho de 2000, um dos mais rigorosos do século XX, estudando a situação sinótica que acarretou em queda de neve e congelamento da paisagem, apresentando resultados inéditos e consistentes sobre as medições realizadas em alguns municípios do Planalto da Neve, já delimitado em 1997. Bauer, em sua obra ainda não publicada, ao tratar da história de Palmas, dedica um capítulo à nevada de agosto de 1965, relatando esse episódio de frio e neve que pôde presenciar e que marcou a história do município. Faz um relato dos prejuízos à lavoura, à pecuária, descrevendo o drama dos flagelados, que tiveram o telhado de suas casas desabado por conta do peso da neve que chegou a acumular mais de 30 cm após 72 horas contínuas de precipitação. Também relata histórias envolvendo a nevada de 1918. Barfknecht (2001), em artigo ainda não publicado, traz algumas datas de nevadas ocorridas em Palmas entre 1887 e 1889, e entre 1923 e 2000, descrevendo os impactos socioeconômicos das principais nevadas, e citando as temperaturas mínimas absolutas que têm sido registradas na cidade nas últimas décadas. Carvalho (2002), em trabalho exclusivo sobre a ocorrência de neve no Paraná, realiza uma caracterização do clima de Palmas, enfatizando a variabilidade sazonal e interanual dos elementos climáticos, destacando os extremos climáticos relacionados com os meses mais frios. Por meio de análise estatística, busca a compreensão da ocorrência da neve em Palmas, em termos de intensidade e freqüência do fenômeno, destacando a variabilidade interanual ao longo da série. O autor utilizou um longo período compreendido entre 1923 e 2000, com dados do INMET, IAPAR e da imprensa escrita. Com este trabalho foi possível iniciar a reconstituição do clima de Palmas no século XX em termos de precipitação nival, e recuperar algumas informações históricas sobre as principais nevadas que afetaram Palmas e por vezes, vastas áreas do estado do Paraná. Cabe ainda mencionar o levantamento inédito de todas as ocorrências de neve em Curitiba entre 1889 e 2001, totalizando 13 dias de neve num período de 113 anos, o que acaba por enquadrar Curitiba no regime nival marginal. Especial atenção foi dedicada ao tratamento da grande nevada de 1975, com a transcrição de inúmeras reportagens de jornal, construindo, desse modo, um panorama abrangente das repercussões desse episódio. 21 Souza (2002), em sua tese de doutorado, procura estabelecer uma relação entre as massas de ar atuantes no inverno e a precipitação nival no sul do Brasil, focalizando o Planalto da Neve definido na dissertação de mestrado. Para alcançar esse objetivo, o autor faz uso do índice de participação das massas de ar proposto por Monteiro (1964), culminando na classificação dos anticiclones polares em três categorias: Anticiclone Polar Marítimo, Anticiclone Polar Continentalizado e Anticiclone Polar Continental. Utilizando- se de análise estatística comprova que o anticiclone polar continental está associado a setenta por cento do total de dias de neve, ficando o restante associado à atuação do anticiclone polar continentalizado. Houve também um avanço na compreensão das condições atmosféricas que favorecem a neve, alcançada por meio do uso da análise rítmica em superfície e em altitude, demonstrando como cada um dos anticiclones repercute em superfície. A análise do episódio de julho de 1981, por meio de cartas sinóticas dos níveis baixos e médios da troposfera, trouxe alguns avanços na compreensão da gênese da neve, evidenciando a importância da circulação atmosférica em altitude (ondulações da corrente de jato e formação de cavados em níveis altos e médios) para a ocorrência de nevada no sul do Brasil. Rombo (2002), em sua monografia de bacharelado, analisa dois episódios representativos de ondas de frio e precipitação de neve, no município de São Joaquim/SC, ocorridos em abril de 1999 e julho de 2000, e que tiveram ampla repercussão no espaço geográfico brasileiro. Houve uma contribuição para esclarecer os mecanismos atuantes nas seqüências de tipos de tempo, ao analisar as condicionantes geográficas e meteorológicas que promovem as ondas de frio e ocorrência de neve no Sul do Brasil, além de um preocupação com os efeitos do frio e da neve no estilo de vida e no desenvolvimento de atividades produtivas, como a indústria do turismo. O autor também fez um levantamento temporal das ocorrências de neve em São Joaquim entre os anos de 1955 e 2000, contribuindo assim para o resgate histórico desse marcante fenômeno climático da região Sul. Cabe ainda mencionar a minuciosa descrição dos episódios de 1999 e 2000, coletados na Revista Climanálise, e as duas cartas síntese dessas duas ondas de frio, representando a trajetória das frentes, anticiclones polares e ciclones extratropicais. 22 1.5 Caracterização da Área de Estudo 1.5.1 Localização O município de Palmas, com uma população de 36000 habitantes (segundo o Censo 2000 do IBGE), está localizado na região centro-sul do estado do Paraná, aproximadamente entre as latitudes de 26°14’ e 26o36’ Sul e entre as longitudes de 51o35’ e 52o10’Oeste. (ver figuras 1 e 2) É um dos maiores municípios do estado, totalizando 1691 Km2 de área. Limita-se ao norte com o município de Pinhão, a oeste com Clevelândia e Coronel Domingos Soares, a leste com General Carneiro e Bituruna e ao sul com o estado de Santa Catarina. FIGURA 1 - LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DA ESTAÇÃO METEOROLÓGICA DE PALMAS, PR. FONTE: ROMBO, 2002. Adaptado pelo autor. FONTE: ROMBO, 2002 Elaboração Gráfico: Maria do Carmo Jorge 23 B r a s i l E s t a d o d o P a r a n á L o c a l i z a ç ã o d o M u n i c í p i o d e P a l m a s N B a s e C a r t o g r á f i c a : S E M A O r g . : E d u a r d o V e d o r d e P a u l a 1 0 0 1 0 K m # # S e d e M u n i c i p a l S e d e M u n ic ip a l 2 6 ° 3 0 ' 2 6 ° 1 5 ' 5 2 ° 0 0 ' 5 2 ° 0 0 ' 5 1 ° 4 5 ' 5 1 ° 4 5 ' Distrito de Horizonte # FIGURA 2 LOCALIZAÇÃO DE PALMAS 24 1.5.2 Aspectos geográficos de Palmas/PR Antes de discutirmos os aspectos geográficos de Palmas, gostaríamos de trazer algumas informações históricas que estão intimamente associadas ao frio intenso que caracteriza seus meses mais frios. Desse modo, cabe mencionar que os rigores do inverno palmense tiveram sua parcela de influência no local de instalação da sede do município. Os primeiros colonos inicialmente instalaram-se numa área mais elevada que a atual, em torno de 1300 metros, em região de campo limpo. Devido ao frio intenso, à exposição aos ventos de inverno e às grandes nevadas, os colonos viram-se forçados a procurar uma outra área, menos fria e mais abrigada dos ventos e nevadas que assolavam os “campos de cima”. É um fato curioso que até mesmo os próprios habitantes da cidade tem conhecimento das duas Palmas, a “Palmas de baixo” e a “Palmas de cima”, como são referidas pelos historiadores da região. Deste modo, o sítio exato onde se encontra o município atualmente teve também a questão climática como um dos fatores decisivos para sua escolha. Outra informação curiosa refere-se aos indígenas que habitavam a região de Palmas. Os Kaingangues protegiam-se contra o frio usando tecidos que obtinham da fibra da urtiga brava, com os quais faziam uma manta grande, espécie de cobertor, o “coru”, que lhes servia de agasalho por ocasião do inverno. Também há relatos de que estes indígenas construíam cavidades no solo para se abrigar das intempéries. O município de Palmas está totalmente inserido na bacia hidrográfica do Rio Iguaçu, fazendo parte do terceiro planalto do Paraná. Maack (1968), divide o terceiro planalto em cinco subzonas naturais, limitadas pelos rios Tibagi, Ivaí, Piquiri e Iguaçu. O município de Palmas localiza-se na quinta subzona, denominada “o declive do planalto de Palmas”. A palavra “declive” já denota a conformação topográfica do município, pois ao sul encontram-se as áreas mais altas, entre 1300 e 1400 metros sobre o nível do mar(msnm), que formam os divisores d’água entre as bacias dos rios Iguaçu e Uruguai, enquanto que ao norte, a calha do Rio Iguaçu (600-700 msnm) representa sua porção menos elevada. O município encontra-se, dessa forma, em um suave declive na direção norte, com relevo caracterizado por vastas áreas aplainadas, colinas e serras de baixa altitude relativa (ver figura 3). A cidade de Palmas encontra-se a 1090 msnm, estando a Estação do Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR) a 1110 msnm (ver figuras 6 e 7). 25 A vegetação remanescente do planalto de Palmas é constituída por campos limpos de altitude entremeados por capões esparsos de araucária e pela floresta subtropical de araucárias, que foi em grande parte devastada pelo ciclo madeireiro da primeira metade do séc. XX, e que atingiu seu auge nas décadas de 50 e 60. O declínio do ciclo madeireiro cedeu espaço à pecuária extensiva, principal atividade econômica dos Campos de Palmas. A associação Araucária-campo7, que constitui os Campos de Palmas, está intimamente relacionada com um determinado quadro climático, encontrado nos três estados sulinos e que se caracteriza por apresentar um elevado número de dias com geada, mínimas absolutas bem inferiores a zero grau e em algumas áreas, presença anual ou quase anual de precipitação nival. Em relação às atividades econômicas do município de Palmas, as principais são a agropecuária, a extração vegetal e a fruticultura, com destaque para a produção de maçãs, além do cultivo de pêra, pêssego, kiwi, uva e nectarina. O número de horas de frio abaixo de 7° C8 registrados em Palmas é adequado à produção de frutas de clima temperado, sendo as condições edafo-climáticas da região propícias à pomicultura. O município é o maior produtor de maçã do Paraná e o terceiro do Brasil. A figura 4 mostra o aumento na produção ao longo das décadas de 80 e 90. 7 Em artigo intitulado “Análise estatística preliminar da ocorrência de neve em região de associação araucária- campo no sul do Brasil”, Souza (1994) chama atenção para o fato de que a neve se constitui em um importante fator de diferenciação climática do sul do Brasil em relação às demais áreas onde não ocorre. O autor ainda conclui afirmando que a ocorrência da neve se dá principalmente nas regiões de associação de araucária-campo, com uma freqüência anual superior ao descrito pela literatura geográfico-meteorológica. Acreditamos que a existência de floresta de araucária é um indicador de ocorrência de neve em regime hibernal, seja ela rara ou habitual, o que faz desta conífera um parâmetro para se afirmar que uma determinada área está sujeita à ocorrência de neve, por menor que seja sua freqüência. 8Este valor foi arbitrado por BERNARDES, L.R.M.; TOME, M.T.T. Sobre este assunto consultar o artigo “Delimitação de dados que melhor estimem “horas de frio” em função de temperaturas”. 26 FIGURA 3 – CAMPOS DE ALTITUDE DO DISTRITO DE HORIZONTE FONTE: Foto Real. FIGURA 4 – PRODUÇÃO DE MAÇÃ NO MUNICÍPIO DE PALMAS/PR NO PERÍODO 1981-1997 FONTE: AFRUPAL 0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000 16000 TO N EL A D A S D E M A ÇÃ 81 - 82 82 - 83 83 - 84 84 - 85 85 - 86 86 - 87 87 - 88 88 - 89 89 - 90 90 - 91 91 - 92 92 - 93 93 - 94 94 - 95 95 - 96 96 - 97 SAFRA PRO D UÇ Ã O D E M A Ç Ã N O M UN IC ÍPIO D E PA LM A S/PR N O PERÍO D O 1981-1997 FO NTE: AFRUPAL 27 FIGURAS 5 E 6 – ESTAÇÃO EXPERIMENTAL DO IAPAR EM JULHO DE 2001 . FONTE: O autor. 28 FIGURA 7 – USINA EÓLICA NOS CAMPOS DE PALMAS FONTE: Foto Real. Em relação ao aproveitamento econômico do clima para fins energéticos, é importante mencionar a existência nos campos de Palmas, da primeira usina eólica do sul do Brasil, com cinco aerogeradores instalados com capacidade de geração de 2,5 MW, podendo atender a uma população de aproximadamente 20.000 pessoas (ver figura 7). O parque eólico está localizado às margens da PR-280, nos campos de altitude do distrito de Horizonte, região caracterizada pela presença constante de fortes ventos, principalmente durante o inverno, quando a região permanece sob a influência do vento Minuano ou Pampeiro. Além de gerar energia aproveitando um recurso inesgotável e limpo, constitui-se em mais uma atração turística para a região. 29 1.5.3 Aspectos Climáticos de Palmas/PR com Ênfase na Variabilidade Intra-anual e Interanual dos Elementos Climáticos O município de Palmas é considerado o mais frio de todo o estado do Paraná. A figura 8 mostra o número médio de geadas mensais no período 1931/1960 e 1979/2000. Como não tivemos acesso ao número total de geadas do período 31/60, optamos por usar a média. Constata-se que todos os meses do ano são suscetíveis à ocorrência de geada, fato confirmado por moradores antigos de Palmas, que afirmaram já ter passado o Natal junto à lareira, com geada no dia seguinte. No entanto, as geadas de verão costumam ser fracas e isoladas, não apresentando a intensidade e extensão das geadas de inverno, outono e primavera. FIGURA 8 FONTE: INMET, IAPAR. Um outro dado que pode confirmar a posição de Palmas como o município com inverno mais acentuadamente frio do estado, é o que diz respeito às horas de frio abaixo de 7° C. Na figura 9, pode-se comparar Palmas com outros municípios frios do estado, como Clevelândia e Guarapuava. - 1 ,0 2 ,0 3 ,0 4 ,0 5 ,0 6 ,0 7 ,0 8 ,0 N Ú M ER O M ÉD IO M EN SA L D EG EA D A S J a n . F e v . M a r A b r i l M a io J u n . J u l . A g o S e t . O u t . N o v . D e z . M E S E S N Ú M E R O M É D I O M E N S A L D E G E A D A S N O P E R Í O D O 1 9 3 1 - 1 9 6 0 E 1 9 7 9 - 2 0 0 0 1 9 3 1 - 1 9 6 0 1 9 7 9 - 2 0 0 0 F O N T E : I N M E T , I A P A R 30 FIGURA 9 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 Palmas Inácio Martins Clevelândia Guarapuava Pato branco CIDADES NÚMERO MÉDIO DE HORAS DE FRIO <7,0 oC ENTRE OS MESES DE ABRIL E SETEMBRO EM MUNICÍPIOS PARANAENSES NO PERÍODO 1978-1986 FONTE: IAPAR H O RA S D E FR IO < 7 ,0 O C FONTE: IAPAR. Tratando-se das condições atmosféricas na Região Sul, é importante ressaltar que é o jogo das massas de ar atuantes nesta área, e principalmente a pulsação da Massa Polar Atlântica e Pacífica9, que influenciam a marcha anual dos elementos do clima, em consonância com os fatores estáticos, como latitude, altitude, cobertura vegetal e continentalidade, que geram diferentes respostas da superfície à dinâmica das massas de ar. O clima de uma dada área pode ser, portanto, explicado pela íntima e complexa associação de fatores estáticos e dinâmicos, e não apenas em função dos estáticos, como era comum em estudos no âmbito da Geografia tradicional. Palmas, principalmente entre os meses de maio e setembro, é particularmente suscetível à atuação de anticiclones polares de trajetória continental, que são mais freqüentes e potentes em alguns anos e menos expressivos em outros. É por esta razão que a Antártica constitui-se em área “core” para compreensão da variabilidade climática no 9 A massa polar pacífica, ao contrário do que se poderia supor pela etimologia da palavra e pelo obstáculo geográfico representado pela cordilheira, também influencia a circulação atmosférica na fachada atlântica do cone sul, pois ao extravasar por sobre a cordilheira andina, em seu setor meridional, de menores altitudes, propicia um mecanismo de reforço à massa polar atlântica, que pode, deste modo, causar ondas de frio excepcionalmente severas na região centro-sul do país. 31 Hemisfério Sul, principalmente das regiões situadas em latitudes médias. Essa irregularidade na participação da massa polar é que explica uma alternância de anos com registros de temperatura e precipitação tão díspares em uma mesma localidade. Segundo Monteiro, (1969) existem 6 tipos de fluxos polares, responsáveis por diferentes tipos de tempo. Quando há o predomínio de um de determinado tipo de fluxo ao longo do inverno, este registra intensa pluviosidade, enquanto que o predomínio de um outro tipo de fluxo ocasiona seca prolongada em algumas áreas. Da mesma maneira, há fluxos polares mais comumente associados à ocorrência de neve. Considerando essa dinâmica climática, é necessário caracterizar Palmas climaticamente não a partir dos dados médios de temperatura, umidade, pluviosidade e ocorrência de neve e geada, mas antes ressaltando os extremos meteorológicos, estes sim de grande impacto sócio-econômico no espaço geográfico10. A tabela 1 nos traz o número de horas de frio para o período 1979-2000.O mês de julho, em função de sua maior susceptibilidade à invasão de poderosos anticiclones polares, apresenta-se como o mês de maior amplitude em horas de frio, variando entre extremos de 28 horas (1997) e 375 horas (2000). Este último valor foi registrado em um dos julhos mais rigorosos do séc. XX, quando lagos e cachoeiras volumosas do planalto situado no sudeste de Santa Catarina e nordeste do Rio Grande do Sul, permaneceram congelados por mais de uma semana11. Os meses de maio, junho e julho apresentaram os maiores desvios-padrão, o que confere a estes meses uma maior variabilidade interanual, ou seja, ora se apresentam muito frios, ora muito quentes. Decorre daí que meses com horas de frio iguais ou próximos a uma suposta “média”, são raros ou praticamente inexistentes, constatação que vem ao 10 Em relação ao estudo de eventos extremos em climatologia, podemos mencionar os estudos de Titarelli (1972), Parmenter (1976), Souza (2000), e Monteiro (1965). Chamamos atenção a este último, que em seu artigo intitulado “Calamidades meteorológicas no Brasil meridional, em agosto de 1965” ressaltou a importância, para a ciência geográfica, dos eventos extremos e não habituais, uma vez que são esses estados da atmosfera que tem uma grande capacidade desestabilizadora do espaço geográfico, implicando em impactos sócio-econômicos e psicológicos profundos à região e população afetadas. Este artigo é particularmente importante aos nossos propósitos nesse estudo sobre a ocorrência de neve no município de Palmas/PR, uma vez que foi em agosto de 1965 que este município se viu envolvido por uma das mais intensas e severas nevadas já registradas desde o povoamento pelos primeiros colonizadores, no início do século XIX. 11 Sobre este episódio, Souza (2000), em seu artigo denominado “Frio intenso e Congelamento da paisagem em julho de 2000 no planalto da neve”, faz uma caracterização desse evento excepcional, que foi um dos mais intensos do século XX, graças à atuação de três massas de ar polar sucessivas e de incomum intensidade. Este episódio será analisado nos capítulo 3 e 4 do presente trabalho. 32 encontro do que expusemos anteriormente sobre a supervalorização dos valores médios, que no caso acima analisado, não passam de meras abstrações que não encontram nenhum paralelo com o número de horas de frio que realmente ocorrem ano a ano e que tendem muito mais aos valores extremos do que à média propriamente dita, uma vez que as horas de frio são, de modo geral, ou muito elevadas, ou muito baixas. Gostaríamos de deixar claro que, muito embora esse parâmetro de horas de frio tenha sido criado visando ao cultivo de maçãs, serve para evidenciar a intensidade e duração das ondas de frio, uma vez que estas repercutem em superfície com um rebaixamento intenso das temperaturas. As temperaturas médias12 para o período (1979-2000) podem ser vistas na figura 10. Nota-se uma gradativa queda nos valores térmicos desde janeiro até julho (mais intensa entre abril e junho), quando se inicia uma gradual ascensão até dezembro. As temperaturas mínimas e máximas absolutas do período oscilaram entre –6.8°C (19/06/1981) e 34.4°C (16/11/1985), e são reflexo de estados atmosféricos excepcionais que atuaram em Palmas. As figuras 11 e 12 mostram as temperaturas médias no Paraná, tanto anual, quanto a do trimestre mais frio (Julho, Julho e Agosto). Nota-se que Palmas fica localizada na região paranaense com as mais baixas temperaturas, constituindo-se num dos pólos frios do Brasil. É interessante observar que, embora a mínima absoluta tenha sido de –6.8°C, a sensação térmica13 é muito mais baixa, sendo que esta sensação é que deve ser levada em conta ao considerarmos os impactos das ondas de frio sobre uma determinada população. Durante a atuação de fortes massas polares, a sensação térmica em Palmas e São Joaquim habitualmente oscila entre –10°C e –20°C, de acordo com a Climaterra de São Joaquim, podendo atingir, em caráter excepcional, cifras tão baixas quanto –30°C, como ocorreu entre os dias 11 e 20 de julho de 2000 em São Joaquim. Situações extremas como essa só 12 O uso da temperatura média nesse caso justifica-se pela necessidade de visualizar a acentuada sazonalidade no que tange à temperatura e para servir de referência para que o leitor possa comparar com outras áreas. As diferenças entre as temperaturas máximas e mínimas mostram a expressiva amplitude térmica mensal entre esses valores, que no caso de Palmas é reflexo de uma também elevada amplitude térmica diária. Gostaríamos de salientar, entretanto, que essas médias não se prestam a uma caracterização abrangente e pormenorizada do clima da área de estudo, que só pode ser alcançada por meio da elaboração de gráficos de análise rítmica, contendo o índice de participação das massas de ar atuantes em Palmas. 13 Calculada com base na velocidade do vento. A sensação de frio é diretamente proporcional à velocidade do vento. 33 acontecem sob a influência de um anticiclone polar de acentuada trajetória continental e elevado potencial isobárico, gerando ventos fortes do quadrante sudoeste. TABELA 1 ANO JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ TOTAL 1979 0 0 0 7 164 162 208 26 120 7 19 0 713 1980 0 0 0 6 44 140 136 92 112 13 0 0 543 1981 0 0 0 10 8 151 218 65 86 16 8 0 562 1982 0 0 0 6 94 43 74 56 13 35 0 6 327 1983 0 0 0 1 9 175 65 116 98 16 5 0 485 1984 0 0 0 44 62 88 121 140 44 0 0 0 499 1985 0 0 0 3 121 173 163 56 20 10 0 0 546 1986 0 0 0 5 54 48 74 76 30 27 8 0 322 1987 0 2 18 0 147 149 35 195 47 3 0 0 596 1988 0 0 0 11 101 143 176 46 7 19 0 0 503 1989 0 0 0 0 86 54 206 55 61 19 1 0 482 1990 0 0 0 1 104 158 220 65 90 0 0 0 638 1991 0 0 0 10 10 42 168 68 0 14 0 0 312 1992 0 0 0 5 30 29 191 94 18 0 15 0 382 1993 0 0 0 9 71 110 167 98 17 5 2 0 479 1994 0 0 0 0 3 104 132 90 24 0 0 0 353 1995 0 0 0 40 94 68 36 51 45 29 0 0 363 1996 0 0 5 24 48 162 243 36 84 5 0 0 607 1997 0 0 0 39 55 171 28 78 19 0 0 0 390 1998 0 0 6 8 26 118 65 37 7 0 0 0 267 1999 0 0 0 61 126 69 50 131 22 0 0 0 459 2000 0 0 0 11 115 71 375 85 37 12 0 0 706 MAX 0 2 18 61 164 175 375 195 120 35 19 6 713 MIN 0 0 0 0 3 29 28 26 0 0 0 0 267 DP 0 0 4 17 46 49 84 38 36 10 5 1 125 DISTRIBUIÇÃO ANUAL E MENSAL DO NÚMERO DE HORAS DE FRIO < 7,0 oC EM PALMAS/PR NO PERIODO 1979 - 2000 FONTE: IAPAR FONTE: IAPAR FIGURA 10 REGIME TERMOMÉTRICO EM PALMAS/PR NO PERÍODO 1979 - 2000 0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 Ja ne iro Fe ve re iro Ab ril Ma io Ju nh o Ju lho Ag os to Se te mb ro Ou tu br o No ve mb ro De ze mb ro MESES T EM PE RA T U RA M ÉD IA Média das Máximas Média do Mês Média das Mínimas FONTE: IAPAR FONTE: IAPAR 34 FIGURA 11 – TEMPERATURA MÉDIA ANUAL NO ESTADO DO PARANÁ FONTE: IAPAR 35 FIGURA 12 – TEMPERATURA MÉDIA DOS TRÊS MESES MAIS FRIOS FONTE: IAPAR A variabilidade interanual das temperaturas médias mensais em Palmas/PR pode ser analisada na figura 13. Nota-se que os meses de abril e outubro são os únicos a oscilarem em torno de uma “suposta” média anual para o período, pois abril é o mês de transição entre o domínio estival e hibernal, enquanto outubro também caracteriza uma “ponte”, porém entre o período hibernal e o estival. Em outras palavras, são meses termicamente intermediários e os únicos que apresentam temperaturas próximas à média anual, daí esta média ser considerada uma abstração que não encontra correspondência na realidade. Os outros dez meses podem ser agrupados da seguinte maneira: os meses que apresentam temperaturas médias acima da média anual e os meses que apresentam temperaturas médias abaixo da média anual. Esse exercício estatístico de abstração se faz necessário para chegarmos ao raciocínio que será explicado adiante. Nota-se uma diferença marcante na intensidade da variabilidade interanual desses dois grupos, pois os 5 meses mais quentes (nov, dez, jan, fev, mar) apresentaram ao longo do período discreta variabilidade interanual, contrastando significantemente com os cinco meses mais frios do ano (mai, jun, jul, ago, set), onde essa variabilidade foi bem mais acentuada. Fica também 36 muito evidente o comportamento do mês mais frio do ano, julho, que apresentou a mais forte variabilidade interanual dentre todos os meses do ano. A explicação para essa maior variabilidade térmica nos meses mais frios relaciona-se ao maior dinamismo da Massa Polar Atlântica em contraposição à Massa Tropical Atlântica, pois o predomínio de um ou de outro sistema varia grandemente de um ano para outro. Nos 5 meses mais quentes, a maior ou menor atuação da massa polar também varia consideravelmente de ano para ano, porém tal fato afeta mais os totais pluviométricos e sua distribuição, e apesar dos meses mais frios também apresentarem acentuadas variações pluviométricas de um ano para outro, é no comportamento das temperaturas que se nota uma maior variabilidade interanual. Isto decorre do maior potencial de resfriamento das massas polares durante os 5 meses mais frios do ano. Desse modo, se num desses cinco meses, julho por exemplo, houver o predomínio da massa tropical atlântica (fluxos polares fracos ou interrompidos, segundo Monteiro, 1969) ou de anticiclones polares de trajetórias marítimas, as temperaturas desse mês ficarão bem acima daquelas verificadas em julho de um outro ano, quando houve predomínio de anticiclones de trajetória continental e de fluxos polares contínuos e dominantes. Isto explica a elevada variabilidade térmica interanual de julho, em torno de 6,4 graus Celsius, oscilando entre 8,6°C em 2000 e 15°C em 1987 e 1995. Já nos cinco meses mais quentes do ano, janeiro, por exemplo, uma maior atuação da massa polar não acarreta em um rebaixamento intenso das temperaturas, devido ao menor potencial de resfriamento das massas polares, que perdem suas características originais ao atravessarem as águas do Atlântico, bastante aquecido nesses 5 meses mais quentes. Isto explica a reduzida variabilidade térmica interanual desses meses, que no caso do mês de janeiro é de apenas 2,4 graus Celsius, oscilando entre 18,9°C em 1980 e 21,3°C em 1988. Todavia, a explicação dos mecanismos físicos e atmosféricos que fazem a participação relativa das massas polares variar de ano pra ano, extrapola os propósitos deste trabalho, além de pertencer também aos domínios de outras áreas afins, como a meteorologia sinótica e a meteorologia dinâmica. Considerando que nosso tema, a neve em Palmas, está em íntima associação com episódios de frio intenso, julgamos oportuno trazer para nossa dissertação uma tabela que mostra as temperaturas mínimas absolutas em Palmas, em cada um dos meses do período 37 1979-2000, e que devem ser interpretadas como uma resposta térmica em superfície diante da atuação de fortes anticiclones polares, que podem afetar as condições atmosféricas do município em qualquer mês do ano, porém com menor freqüência e intensidade nos meses de verão. É preciso observar ainda que esses anticiclones polares já causaram quedas de temperatura em pleno mês de janeiro (quando atingiu 6,2°C) e dezembro (quando atingiu 4,4°C). Estas baixas térmicas são comparáveis em intensidade com as que habitualmente acontecem durante o inverno. Dentre os 12 meses do ano, sete (abril a outubro) registraram temperaturas abaixo de zero em pelo menos um ano da série temporal. Cabe ainda destacar que julho foi o mês com maior variabilidade interanual, com as mínimas absolutas no período oscilando entre –6,4°C (em julho de 2000, mês marcado por sucessivas entradas de anticiclones de trajetória continental e fluxos do tipo contínuo e dominante) a 4,4 oC (em julho de 1987, mês marcado pela ausência de anticiclones polares de trajetória continental e dominância de fluxos do tipo nulo e fraco). VARIAÇÃO ANUAL E MENSAL DA TEMPERATURA MÉDIA EM PALMAS/PR NO PERÍODO 1979-2000 8 10 12 14 16 18 20 22 19 79 19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 19 88 19 89 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 ANOS TE M PE RA TU RA M ÉD IA JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ MEDIA FONTE: IAPAR 39 TABELA 2 - VARIABILIDADE DA TEMPERTAURA MÍNIMA ABSOLUTA EM PALMAS/PR, NO PERÍODO 1979-2000 ANO JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ MIN 1979 10,0 11,6 7,4 4,8 -2,4 -3,6 -4,8 0,3 -1,7 4,6 3,2 10,6 -4,8 1980 6,8 11,2 13,6 5,6 -1,8 -6,2 -3,8 -1,8 -2,8 5,6 8,0 8,6 -6,2 1981 12,4 13,8 9,4 4,4 4,2 -6,8 -3,8 -0,6 0,4 0,2 3,4 8,4 -6,8 1982 9,2 13,6 11,0 5,4 -2,0 -0,6 -1,6 2,4 5,0 -1,4 7,6 4,4 -2,0 1983 12,8 10,6 7,6 5,8 4,0 -1,0 0,3 0,7 -0,6 1,8 5,4 10,3 -1,0 1984 14,0 14,0 10,8 1,6 -2,0 -1,2 -1,6 -4,4 3,3 7,2 9,4 7,0 -4,4 1985 11,8 14,0 10,2 7,4 -0,4 -1,8 -4,2 3,2 0,8 1,3 10,0 10,2 -4,2 1986 11,8 12,4 7,6 4,6 0,4 -2,4 1,6 -1,4 -2,4 2,4 5,0 11,8 -2,4 1987 11,2 6,2 2,4 10,2 -0,8 -4,2 4,4 -1,6 1,0 6,0 7,6 7,6 -4,2 1988 8,8 9,2 10,8 2,4 0,2 -3,0 -4,1 3,6 5,2 3,2 7,6 11,4 -4,1 1989 10,8 12,4 9,8 7,3 2,1 4,7 -3,6 0,7 1,9 4,9 6,8 10,8 -3,6 1990 12,2 7,2 10,8 6,6 -1,8 -1,6 -4,8 -2,6 -1,8 9,8 7,2 10,8 -4,8 1991 11,6 6,8 10,9 4,3 5,0 0,0 -1,6 -5,1 7,4 5,0 8,0 12,2 -5,1 1992 10,2 14,9 12,6 5,3 -1,8 1,8 -3,0 -1,2 3,0 8,1 3,6 9,6 -3,0 1993 13,0 12,0 11,4 3,8 -0,8 -2,0 -4,4 -2,8 4,2 4,0 5,6 8,8 -4,4 1994 6,2 13,7 6,4 7,2 6,5 -5,9 -4,7 -0,8 1,1 9,2 6,9 12,0 -5,9 1995 14,8 13,0 8,6 -1,0 -0,3 -2,8 4,0 1,6 1,4 2,4 10,0 11,8 -2,8 1996 14,4 11,2 4,1 1,2 3,6 -2,4 -2,2 3,9 1,2 6,3 7,8 11,2 -2,4 1997 13,9 16,0 10,0 1,4 1,0 0,9 1,2 3,0 2,8 7,7 11,8 8,6 0,9 1998 12,6 11,2 3,9 4,2 4,8 1,0 2,2 2,2 5,6 9,4 10,4 8,0 1,0 1999 12,6 12,6 12,8 -0,4 0,4 -3,0 0,9 -4,6 1,8 2,7 5,0 11,4 -4,6 2000 12,6 10,4 11,7 5,2 -0,2 -1,0 -6,4 -0,1 1,6 2,9 7,0 9,3 -6,4 MIN 6,2 6,2 2,4 -1,0 -2,4 -6,8 -6,4 -5,1 -2,8 -1,4 3,2 4,4 -6,8 ANO 94 87 87 95 79 81 2.000 91 80 82 79 82 VARIABILIDADE DA TEMPERATURA MÍNIMA ABSOLUTA EM PALMAS/PR, NO PERÍODO 1979-2000 FONTE: IAPAR FIGURA 14 – TOTAL PLUVIOMÉTRICO NO MÊS DE JULHO PARA O ESTADO DO PARANÁ FONTE: IAPAR 40 A figura 14 mostra o total pluviométrico para o mês de julho no Paraná, o mais nivoso em Palmas. Considerando que as chuvas em Palmas no mês de Julho são oriundas exclusivamente da Frente Polar Atlântica, podemos supor que o Planalto de Palmas é a área mais suscetível à atuação desse sistema atmosférico, que nesta área repercute com mais intensidade, fato que justifica a maior freqüência de neve nesta área se comparada ao restante do Paraná. Observando a figura 15, nota-se que os totais pluviométricos anuais habitualmente oscilam entre 1800 e 2400 mm. O maior total anual aconteceu em 1983 (3290mm), mais do que o dobro do que foi registrado em 1985 (1319,6 mm). De acordo com os dados mensais de precipitação, que não se encontram na tabela, Julho, mais uma vez, apresentou a maior variabilidade interanual, com valores extremos de 11 mm (1988) e 805 mm (1983), o que nos leva a retomar a mesma linha de raciocínio utilizada na explicação da elevada variabilidade térmica interanual de julho. Ou seja, nesse mês, houve uma maior oscilação interanual da participação relativa da Massa Polar Atlântica (úmida) e da Massa Tropical Atlântica, sendo que esta última, em julho de 1988, impediu o avanço de sucessivas massas polares, destacadamente no estado do Paraná, cuja porção meridional, excepcionalmente, recebe escassa precipitação, fato comum no norte e oeste do estado. Apesar do ano de 1988 ter sido no geral desfavorável à ocorrência de neve e Chuva na Região Sul, houve queda de neve no maciço do Itatiaia, por ocasião de uma das poucas invasões polares que atingiram o centro-sul do país. Esta situação ocorre quando a invasão da massa polar atlântica é dificultada pelo estabelecimento de massas tropicais secas, que impedem o avanço de anticiclones polares. Dessa forma, predominam fluxos polares nulos ou fracos. Esta situação é muito freqüente quando, durante o inverno, a massa tropical atlântica adentra o continente até o Mato Grosso, e, pelo processo de resfriamento basal, confere estabilidade e tempo seco a algumas áreas da Região Sudeste, Centro-oeste e porção norte da Região Sul. Lembramos ainda que a atuação de anticiclones polares de acentuada trajetória continental também traz tempo estável e seco para o Paraná e ao Planalto de Palmas, porém são antecedidos por frontogêneses moderadas ou fortes que acarretam, especialmente no Planalto de Palmas, episódios de intensa pluviosidade. 41 FIGURA 15 0,0 500,0 1000,0 1500,0 2000,0 2500,0 3000,0 3500,0 To ta l P lu vi m ét ric os (m m ) 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 Anos TOTAL PLUVIOMÉTRICO EM PALMAS/PR NO PERÍODO 1979 - 2000 FONTE: IAPAR FONTE: IAPAR O total pluviométrico de 805 mm aconteceu em julho de 1983, ano caracterizado pela atuação de um dos mais fortes El Niños do séc. XX, responsável por enchentes que fizeram do inverno de 1983 um dos mais catastróficos já vistos na Região Sul, com cheias recordes em vários rios da região, notadamente nos rios Itajaí, Iguaçu e Uruguai. Alguns meteorologistas chegaram a lançar a hipótese de que o El Niño teria sido responsável pela ausência de neve no Sul do Brasil no ano de 1982, fato que não se sustenta, pois, segundo Souza (1997, 2002) e Carvalho (2002), houve precipitação de neve em muitos outros anos caracterizados pela atuação deste fenômeno. 41 CAPÍTULO 2 - PANORAMA DA OCORRÊNCIA DE NEVE NO BRASIL COM ÊNFASE EM PALMAS/PR 2.1 A Distribuição Geográfica da Neve no Espaço Brasileiro A precipitação nival em território brasileiro já foi registrada em seis estados das regiões Sul e Sudeste, sendo eles: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Segundo Souza (1997), a área de ocorrência de neve nos três estados sulinos é bastante extensa, totalizando aproximadamente 286.225 km2. No entanto, é importante ressaltar que estes números referem-se às áreas onde a neve ocorre com uma freqüência de ao menos 1 dia a cada 2 anos, pois se considerássemos também as regiões que presenciaram o fenômeno ao longo do século XX, a área poderia ultrapassar 500.000 Km2. A figura 16 nos dá uma idéia da freqüência com que a neve ocorre em algumas cidades do sul do Brasil. FIGURA 16 0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 N úm er o m éd io d e di as d e ne ve Curitiba Guarapuava Bento Gonçalves Campos Novos Caçador Lages Vacaria Palmas Cambará do Sul Bom Jesus São Joaquim Cidades (altitude msnm) NÚMERO MÉDIO DE DIAS DE NEVE AO ANO EM CIDADES BRASILEIRAS FONTE: Souza, 1997 A freqüência de dias com neve na Região Sul pode ser observada nas figuras 17 e 18. Analisando as isolinhas da média de dias de neve percebe-se que há um aumento na freqüência no sentido sudoeste-nordeste, entre os paralelos de 31 e 27 graus, atingindo um máximo no Planalto da Neve.(ver figura 18) De acordo com a figura 17, as regiões de Palmas, Curitiba e União da Vitória foram agrupadas dentro da mesma categoria, ou seja, de neve esporádica. Esta é uma generalização 42 que coloca três cidades com número de ocorrências de neve consideravelmente díspares, sob uma mesma denominação, além do mais vaga e imprecisa. É importante considerar que não foram incluídas localidades de regiões planálticas com registro de neve superiores ao de Curitiba, como Guarapuava e Inácio Martins. A figura 18, elaborada por Souza (1997), traz o número médio de dias de neve ao ano na Região Sul. Nessa figura, observam-se duas regiões com 1 ou mais dias de neve ao ano no Brasil meridional. Essas duas regiões foram chamadas por Souza de “núcleo de neve anual”, baseando-se apenas na média, que resultou da soma de todos os dias de neve entre 1970 e 1990, dividido pelo número de anos do período. Todavia, a neve ocorre anualmente apenas no Planalto da Neve. A primeira região abrange áreas que se este