UNESP UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Faculdade de Engenharia do Campus de Guaratinguetá Análise da estabilidade da região externa do sistema Plutão-Caronte após a descoberta dos novos satélites Nix e Hidra: aplicação à sonda New Horizons Pryscilla Maria Pires dos Santos Guaratinguetá 2010 PRYSCILLA MARIA PIRES DOS SANTOS ANÁLISE DA ESTABILIDADE DA REGIÃO EXTERNA DO SISTEMA PLUTÃO-CARONTE APÓS A DESCOBERTA DOS NOVOS SATÉLITES NIX E HIDRA: APLICAÇÃO À SONDA NEW HORIZONS Dissertação apresentada à Faculdade de Engenharia do Campus de Guaratinguetá, Universidade Estadual Paulista, para a obtenção do tı́tulo de Mestre em Fı́sica. Orientadora: Profa Dra Silvia Maria Giuliatti Winter Guaratinguetá 2010 DADOS CURRICULARES PRYSCILLA MARIA PIRES DOS SANTOS NASCIMENTO 23.03.1984 - GUARATINGUETÁ/SP FILIAÇÃO Silvio Ananias dos Santos Regina Pires dos Santos 2004 - 2007 Curso de Graduação Licenciatura em Matemática- UNESP - Campus de Guaratinguetá de modo especial, à minha mãe, pai, irmãos, sobrinho e avó Ana. AGRADECIMENTOS À minha orientadora, profa Silvia Maria Giuliatti Winter por todo incentivo, sabedoria e compreensão. Aos meus pais pelo apoio e paciência. Aos meus irmãos e sobrinho em especial ao meu irmão Felipe por sua amizade. Aos meus amigos e professores do Curso de Pós-graduação com os quais aprendi muito durante os dois anos do curso, e em especial ao Rafael Sfair por todo conhecimento sobre linguagem de programação e simulações numéricas comigo compartilhados. Este trabalho contou com o apoio da FAPESP - através do processo n◦ 2007/06275-0 SANTOS, P.M.P. Análise da estabilidade da região externa do Sistema Plutão-Caronte após a descoberta dos novos satélites Nix e Hidra: aplicação à sonda New Horizons, 2010, 103 f., Dissertação (Mestrado em Fı́sica) - Faculdade de Engenharia do Campus de Guaratinguetá, Universidade Estadual Paulista, Guaratinguetá, 2010. RESUMO Neste trabalho analisamos numericamente a região externa do sistema Plutão-Caronte através da inserção de partı́culas-teste inicialmente em órbitas do tipo-P prógradas e retrógradas, no sis- tema formado por Plutão, Caronte, Nix e Hidra. Destas integrações numéricas foram geradas grades semi-eixo maior em função da excentricidade definindo-se regiões de partı́culas em órbitas estáveis e regiões de colisão e escape. Na vizinhança dos satélites Nix e Hidra foram identificadas regiões caóticas, em que partı́culas localizadas dentro desta região têm suas ex- centricidades e semi-eixo maiores aumentados e escapam ou colidem com um corpo massivo do sistema. Um conjunto de partı́culas permaneceram em regiões próximas das órbitas de Nix e Hidra, possivelmente coorbitais de Nix e Hidra. Para ambos os casos, prógrado e retrógrado, a região “estável” é maior na região externa do sistema, após a órbita de Hidra, dependendo do valor da excentricidade. Também foram realizadas simulações numéricas inserindo satélites hipotéticos massivos além da órbita de Caronte e os efeitos causados nas órbitas de Nix e Hidra foram analisados. Um estudo numérico preliminar dos efeitos da Pressão de Radiação So- lar em partı́culas com raios de 1μm, 3μm, 5μm e 10μm foi realizado. Este estudo mostrou que partı́culas sob os efeitos do Arrasto de Poynting-Robertson decaı́ram em 1,45 × 106 anos (partı́culas de 1μm de raio) e 1,45 × 107 anos (partı́culas de 10μm de raio), enquanto que a Pressão de Radiação causou variações das excentricidades das partı́culas fazendo com que em alguns casos houvesse colisões com o planeta. Palavras-chave: Sistema de Plutão, efeitos gravitacionais, órbitas estáveis, pressão de radiação solar, simulação numérica. SANTOS, P.M.P. Análise da estabilidade da região externa do Sistema Plutão-Caronte após a descoberta dos novos satélites Nix e Hidra: aplicação à sonda New Horizons, 2010, 103 f., Dissertação (Mestrado em Fı́sica) - Faculdade de Engenharia do Campus de Guaratinguetá, Universidade Estadual Paulista, Guaratinguetá, 2010. ABSTRACT In this work we performed a numerical analysis of the the outer region of the Pluto-Charon system by the insertion of a sample of test particles initially in P-type prograde and retrograde orbits, in the system formed by Pluto, Charon, Nix and Hydra. These numerical integrations generated diagrams of semi-major axis versus eccentricity which define regions of particles in stable orbits and regions of collision and escape. In the vicinity of the satellites Nix and Hydra were identified chaotic regions, where particles located in this region have their eccen- tricities and semi-major axis increased provoking an ejection or collision with a massive body of the system. A set of particles remained in regions near the orbits of Nix and Hydra, possibly coorbitais with them. For both cases, prograde and retrograde, the “stable” region is larger in the outer region of the system, after Hydra’s orbit, depending on the value of eccentricity. Numerical simulations were also performed by inserting some massive hypothetical satellites beyond the Charon’s orbit and the effects on the orbits of Nix and Hydra were analyzed. A preliminary numerical study of the effects of the solar radiation force on a sample of particles with radii of 1μm, 3μm, 5μm e 10μm was performed. This study showed that particles under the effects of the Poynting-Robertson drag decay on a time scale between 1.45×106 years (par- ticles of 1μm in radius) and 1.45×107 years (particles of 10μm in radius), while the radiation pressure caused variations of the eccentricities of the particles causing in some cases collisions with the planet. Keywords: Pluto system, gravitacional effects, stable orbits, solar radiation pressure, nu- merical simulation. Lista de Figuras 2.1 Plutão e Caronte a frente e Nix e Hidra atrás. Imagem do sistema de Plutão em 15 de fevereiro de 2006, obtida através do Telescópio Espacial Hubble. (Ex- traı́da de Hubble site/NASA). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 2.2 Trajetória da sonda New Horizons. As setas vermelhas indicam a posição da sonda, as quais dependiam da data de lançamento. Adaptado de Stern (2008). . 29 3.1 Precessão do argumento do pericentro de Caronte por um perı́odo de 60 anos. . 38 3.2 Semi-eixo maior (km) em função do tempo (dias) de Nix por um perı́odo de 100 dias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 3.3 Excentricidade em função do tempo (dias) de Nix por um perı́odo de 100 dias. . 39 3.4 Semi-eixo maior (km) em função do tempo (dias) de Hidra por um perı́odo de 100 dias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 3.5 Excentricidade em função do tempo (dias) de Hidra por um perı́odo de 100 dias. 41 3.6 Semi-eixo maior (km) em função do tempo (dias) de Nix por um perı́odo de 100 dias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 3.7 Excentricidade em função do tempo (dias) de Nix por um perı́odo de 100 dias. . 43 3.8 Semi-eixo maior (km) em função do tempo (dias) de Hidra por um perı́odo de 100 dias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 3.9 Excentricidade em função do tempo (dias) de Hidra por um perı́odo de 100 dias. 43 4.1 Localização dos pontos de equilı́brio lagrangianos, L1, L2, L3, L4 e L5 em relação as massas μ1 e μ2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 4.2 Semi-eixo maior (km) em função da excentricidade para o conjunto de partı́culas no tempo inicial t=0. Nix e Hidra são indicados por pequenos quadrados pretos em 49.240 km e 65.210 km, respectivamente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 10 4.3 Semi-eixo maior (km) em função da excentricidade por um perı́odo de∼103TP−C (10.000 dias). Nix e Hidra são indicados por pequenos quadrados pretos em 49.240 km e 65.210 km, respectivamente. A localização aproximada dos semi- eixo maiores ressonantes entre partı́cula-satélite Nix (parte superior) ou Hidra (parte inferior) são indicadas por retas verticais tracejadas. As retas em preto são uma aproximação do limite da região de caos. . . . . . . . . . . . . . . . . 56 4.4 Semi-eixo maior (km) em função da excentricidade por um perı́odo de∼104TP−C (70.000 dias). Nix e Hidra são indicados por pequenos quadrados pretos em 49.240 km e 65.210 km, respectivamente. A localização aproximada dos semi- eixo maiores ressonantes entre partı́cula-satélite Nix (parte superior) ou Hidra (parte inferior) são indicadas por retas verticais tracejadas. As retas em preto são uma aproximação do limite da região de caos. . . . . . . . . . . . . . . . . 57 4.5 Semi-eixo maior (km) em função da excentricidade por um perı́odo de∼105TP−C (650.000 dias). Nix e Hidra são indicados por pequenos quadrados pretos em 49.240 km e 65.210 km, respectivamente. A localização aproximada dos semi- eixo maiores ressonantes entre partı́cula-satélite Nix (parte superior) ou Hidra (parte inferior) são indicadas por retas verticais tracejadas. As retas em preto são uma aproximação do limite da região de caos. . . . . . . . . . . . . . . . . 57 4.6 Partı́cula com semi-eixomaior inicial igual a 49.100 km, θ apresenta uma variação de aproximadamente 155◦. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62 4.7 Partı́cula com semi-eixomaior inicial igual a 49.200 km, θ apresenta uma variação de aproximadamente 153◦. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 4.8 Partı́cula com semi-eixomaior inicial igual a 49.300 km, θ apresenta uma variação de aproximadamente 155◦. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 4.9 Partı́cula com semi-eixomaior inicial igual a 65.100 km, θ apresenta uma variação de aproximadamente 134◦. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 4.10 Partı́cula com semi-eixomaior inicial igual a 65.200 km, θ apresenta uma variação de aproximadamente 140◦. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64 4.11 Partı́cula com semi-eixomaior inicial igual a 65.300 km, θ apresenta uma variação de aproximadamente 153◦. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64 11 4.12 Semi-eixo maior (km) em função da excentricidade para o conjunto de partı́culas no tempo inicial t=0. Nix e Hidra são indicados por pequenos quadrados pretos em 49.240 km e 65.210 km, respectivamente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 4.13 Semi-eixo maior (km) em função da excentricidade para um perı́odo de∼103TP−C (10.000 dias). Nix e Hidra são indicados por pequenos quadrados pretos em 49.240 km e 65.210km, respectivamente. As retas contı́nuas são uma aproximação dos limites das regiões colisionais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 4.14 Semi-eixo maior (km) em função da excentricidade para um perı́odo de∼104TP−C (70.000 dias). Nix e Hidra são indicados por pequenos quadrados pretos em 49.240 km e 65.210km, respectivamente. As retas contı́nuas são uma aproximação dos limites das regiões colisionais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 4.15 Semi-eixo maior (km) em função da excentricidade para um perı́odo de∼105TP−C (650.000 dias). Nix e Hidra são indicados por pequenos quadrados pretos em 49.240 km e 65.210km, respectivamente. As retas contı́nuas são uma aproximação dos limites das regiões colisionais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 5.1 Limite superior em raio (km) de um satélite hipotético em órbita ao redor do baricentro do sistema, como função de seu semi-eixo maior inicial, que causa somente uma variação negligenciável nos limites superiores das excentricidades de Nix e Hidra daO (10−3). Nix e Hidra são indiciados por pequenos quadrados em vermelho. A localização aproximada dos semi-eixo maiores ressonantes entre satélite hipotético-Nix (parte superior) ou satélite hipotético-Hidra (parte inferior) são indicadas por retas verticais tracejadas. . . . . . . . . . . . . . . . 72 5.2 Raio do satélite hipotético (km) em função do tempo de colisão ou ejeção (x650.000 dias). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73 5.3 Raio do satélite hipotético (km) em função do tempo de colisão ou ejeção (x650.000 dias). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74 12 6.1 Cı́rculo unitário centrado no planeta. I é a inclinação do plano da órbita da partı́cula em relação ao plano orbital do planeta. Ω, ω, γ, f são as variáveis usuais. â é o versor na direção planeta-pericentro da órbita da partı́cula, b̂ é per- pendicular a â, ĉ = â× b̂ e é paralelo ao vetor êN . Os versores radial, transversal e normal localizados na partı́cula com anomalia verdadeira f são êR, êT e êN , respectivamente. O movimento solar é dado por λ = nst. (Adaptado de Burns et al., 1979). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78 6.2 Evolução temporal do semi-eixo maior (km) de partı́culas com raios 1μm, 3μm, 5μm, 10μm sob os efeitos do Arrasto de Poynting-Robertson. Δa = 0 corre- sponde ao semi-eixo maior inicial da partı́cula. . . . . . . . . . . . . . . . . . 81 6.3 Evolução temporal da excentricidade de partı́culas com raios 1μm, 3μm, 5μm, 10μm sob os efeitos do Arrasto de Poynting-Robertson. . . . . . . . . . . . . . 82 6.4 Evolução temporal da excentricidade de partı́culas com raios 1μm, 3μm, 5μm, 10μm sob os efeitos da Pressão de Radiação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83 6.5 Evolução temporal do semi-eixo maior (km) de uma partı́cula de 10μm de raio sob os efeitos da Pressão de Radiação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83 6.6 Valores dos parâmetros em função da distância em raios do planeta, A (maré solar) e C (pressão de radiação). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84 6.7 Distância da partı́cula ao planeta (Rp) em função do tempo de colisão (anos). . 85 6.8 Evolução temporal da excentricidade de partı́culas com raios iguais a 1μm, 3μm, 5μm e 10μm sob os efeitos do Arrasto de Poynting-Robertson e da Pressão de Radiação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86 6.9 Evolução temporal da excentricidade de partı́culas com raios iguais a 20μm, 30μm, 40μm sob os efeitos da Pressão de Radiação. . . . . . . . . . . . . . . 89 6.10 Evolução temporal da excentricidade de partı́culas com raios iguais a 50μm, 80μm, 100μm sob os efeitos da Pressão de Radiação. . . . . . . . . . . . . . . 90 6.11 Evolução temporal da excentricidade de partı́culas com raios iguais a 10μm com diferentes valores para a obliquidade sob os efeitos da Pressão de Radiação. 91 6.12 Evolução temporal da excentricidade de partı́culas com raios iguais a 10μm com diferentes valores para a obliquidade sob os efeitos da Pressão de Radiação. 91 6.13 Evolução temporal da excentricidade de partı́culas com raios iguais a 100μm com diferentes valores para a obliquidade sob os efeitos da Pressão de Radiação. 92 13 6.14 Valores dos parâmetros em função da distância em raios do planeta, A (maré solar) e C (pressão de radiação) para Marte. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93 6.15 Valores dos parâmetros em função da distância em raios do planeta, A (maré solar) e C (pressão de radiação) para Júpiter. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94 6.16 Valores dos parâmetros em função da distância em raios do planeta, A (maré solar) e C (pressão de radiação) para Saturno. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95 6.17 Valores dos parâmetros em função da distância em raios do planeta, A (maré solar) e C (pressão de radiação) para Urano. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96 14 Lista de Tabelas 2.1 Massas, densidades e diâmetros dos corpos do Sistema de Plutão. Dados ex- traı́dos de Tholen et al. (2008). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 2.2 Elementos Orbitais Keplerianos extraı́dos de Tholen et al. (2008). Época JD 2452600,5 (J2000). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 3.1 Condições iniciais, em unidades do Sistema Internacional (SI), utilizados nas simulações numéricas, em relação a um referencial plutocêntrico. Valores ex- traı́dos de Tholen et al. (2008). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 3.2 Massa e raio dos corpos analisados, utilizados nas simulações numéricas. Val- ores extraı́dos de Tholen et al. (2008). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 4.1 Taxas de ejeção e colisão entre as partı́culas e os corpos massivos para o tempo final de integração, 650.000 dias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58 4.2 Taxas de ejeção e colisão entre as partı́culas e os corpos massivos do sistema de Plutão para o tempo final de integração, 650.000 dias. . . . . . . . . . . . . . . 58 4.3 Taxas de ejeção e colisão entre as partı́culas e os corpos massivos para o tempo final de integração, 650.000 dias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68 5.1 Limites para satélites adicionais com 90% de confiança considerando um albedo como o de Caronte (0,38) e um albedo comparável a um núcleo cometário (0,04). Adaptado de Steffl et al. (2006). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 6.1 Variação do parâmetro C para diferentes planetas do Sistema Solar. . . . . . . 94 15 Sumário 1 Introdução 18 2 Revisão Bibliográfica 20 2.1 Plutão, Caronte, Nix e Hidra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 2.2 Missão New Horizons . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 3 Simulações Numéricas 31 3.1 Integrador Numérico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 3.2 Sistema de 4-corpos: Plutão, Caronte, Nix e Hidra . . . . . . . . . . . . . . . . 32 3.2.1 Problema de Dois Corpos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 3.3 Evolução Orbital . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 3.3.1 Caronte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 3.3.2 Nix . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 3.3.3 Hidra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 3.3.4 Nix e Hidra: perturbação mútua . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 4 Análise da região externa do Sistema Plutão-Caronte 44 4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 4.2 Estudo Teórico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 4.2.1 Ressonâncias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 4.2.2 Caos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48 4.2.3 Órbitas girino e ferradura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 4.3 Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 4.3.1 Órbitas prógradas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 4.3.2 Partı́culas coorbitais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62 4.3.3 Órbitas retrógradas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65 16 5 Evolução orbital de Nix e Hidra após a inserção de satélites hipotéticos no sistema 70 5.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70 5.2 Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 6 Efeitos da Pressão de Radiação Solar 75 6.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 6.2 Pressão de Radiação Solar para o caso planetocêntrico . . . . . . . . . . . . . 77 6.3 Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80 6.4 Análise dos Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86 7 Discussão Geral 97 17 Capı́tulo 1 Introdução Após a descoberta de Netuno em 1846, alguns astrônomos começaram a procurar por um nono planeta. Percival Lowell inspirado por irregularidades observadas na órbita de Netuno iniciou sua busca por um novo planeta em 1905. Em 1930 Clyde Tombaugh descobriu Plutão (atualmente classificado como um planeta-anão), porém Plutão era menor do que o esperado (Tegler e Romanishin, 2001). Caronte, o primeiro satélite de Plutão, descoberto por Christy e Harrington (1978), con- tribuiu para que o estudo de Plutão fosse facilitado através do estudo dos eventos mútuos en- tre os dois corpos (Buie et al., 2006). O diâmetro de Caronte é aproximadamente metade do diâmetro de Plutão, o que faz com que seja o maior, em relação ao seu primário, de todos os satélites planetários no Sistema Solar. Recentemente, Weaver et al. (2006) descobriram dois novos satélites de Plutão, Nix e Hidra, através de imagens obtidas pelo Telescópio Espacial Hubble realizadas em maio de 2005. Desta maneira, Plutão passou a ser o primeiro objeto conhecido do Cinturão de Kuiper a ter múltiplos satélites. Os novos satélites orbitam o centro de massa do sistema, o qual é localizado fora de Plutão. A região onde estão localizados Plutão e seus satélites é muito distante para ser observada em detalhes da Terra, assim a missão New Horizons-The first mission to Pluto and the Kuiper Belt: exploring frontier worlds da National Aeronautics and Space Administration (NASA) foi lançada em janeiro de 2006 com o objetivo de se aproximar de Plutão em julho de 2015. Essa missão propiciará a oportunidade de obter uma maior quantidade de informações à respeito de Plutão, Caronte, Nix e Hidra. Para que a sondaNew Horizons possa passar pelo sistema sem sofrer danos causados por im- pactos, os quais poderiam danificar seus equipamentos, é importante que se tenha o 18 conhecimento da região onde pode haver aglomerações de partı́culas. Materiais ejetados de co- lisões entre pequenos detritos do Cinturão de Kuiper comNix e Hidra podem escapar destes cor- pos, porém geralmente ficarão ligados gravitacionalmente a Plutão formando aneis, dependendo de alguns fatores como seu tamanho e densidade (Steffl e Stern, 2007). Assim, é necessário determinar as regiões dinamicamente instáveis, regiões estas recomendadas para a passagem da sonda New Horizons. Além disso, a descoberta de Nix e Hidra reforça a importância do conhecimento de órbitas estáveis no sistema, propı́cias a existência de corpos. Neste trabalho analisamos a região externa do sistema Plutão-Caronte (além da órbita de Caronte), no que tange a delimitação das regiões onde possam haver partı́culas que permaneçam por longos perı́odos de tempo, e regiões de colisões e escape onde satélites não seriam espera- dos. Também analisamos os efeitos gravitacionais causados por satélites hipotéticos massivos em Nix e Hidra. Um estudo numérico preliminar da pressão de radiação solar também foi realizado. No capı́tulo 2 apresentamos uma revisão bibliográfica sobre Plutão, Caronte, Nix e Hidra, além de um resumo sobre a Missão New Horizons. No capı́tulo 3 apresentamos uma descrição do integrador numérico utilizado para realizar as simulações numéricas, além de uma breve revisão do Problema de Dois Corpos. Também apresentamos os resultados de simulações numéricas iniciais realizadas no sistema formado por 4-corpos. No capı́tulo 4 são apresentados os resultados obtidos com a inserção de um conjunto de partı́culas localizadas na região externa do sistema Plutão-Caronte. No capı́tulo 5 é análisada a evolução orbital de Nix e Hidra após a inserção de satélites hipotéticos no sistema. No capı́tulo 6 é apresentado um estudo preliminar dos efeitos das componentes da Pressão de Radiação Solar em partı́culas da ordem de mı́cronmetro. No capı́tulo 7 é apresentada uma discussão geral. 19 Capı́tulo 2 Revisão Bibliográfica 2.1 Plutão, Caronte, Nix e Hidra Em 1930 Plutão foi descoberto por Clyde Tombaugh. Ele possui três satélites conhecidos, Caronte descoberto por Christy e Harrington (1978), e Nix e Hidra descobertos por Weaver et al. (2006). Plutão e seu maior satélite Caronte formam um sistema binário. Esses objetos pertencem ao Cinturão de Kuiper, um disco de corpos de gelo que orbita o Sol além da órbita de Netuno, o nome foi dado em homenagem ao astronômo Gerard Kuiper. Atualmente, mais de 1.000 objetos já foram descobertos na região do Cinturão de Kuiper com diâmetros entre 50km e 2.000 km (Stern et al., 2006a). Em 24 de agosto de 2006 a International Astronomical Union (IAU) definiu o termo planeta, segundo essa definição Plutão deixou de ser classificado como planeta e passou a per- tencer a uma nova categoria, a dos planetas-anões, juntamente com Eris e Ceres (pertencente ao Cinturão Principal de Asteróides), Makemake e Haumea. A definição de planeta-anão segundo a IAU é a seguinte: é um objeto celeste que está em órbita ao redor do Sol, grande suficiente para estar em equilı́brio hidrostático (se tornar redondo), tem massa insuficiente para dominar gravitacionalmente a sua região (permite a formação ou estabilidade de outros corpos de tamanho similar em sua vizinhança) e não é um satélite. Um objeto maior que Plutão foi descoberto no Sistema Solar externo, hoje chamado de Eris. Eris possui um diâmetro de ∼2.400km (Brown et al., 2006a), o diâmetro de Plutão estimado por Tholen et al. (2008) é 2.294km. Quase dois anos após a criação da categoria Planeta-anão, foi criada pela IAU uma sub-categoria para os planetas-anões trans-netunianos similares a Plutão, chamada Plutoides. Pertencem à essa nova categoria os planetas-anões que possuem semi-eixo maiores maiores do que o de Netuno, são 20 eles Plutão, Eris, Makemake e Haumea. Segundo a IAU mais corpos desse tipo são esperados para serem anunciados nos próximos anos. Plutão é consideravelmente menor que os outros oito planetas do Sistema Solar, seu perı́odo orbital é de aproximadamente 248 anos, com um semi-eixo maior de 39,482 UA (Murray e Dermott, 1999). A excentricidade (e) e a inclinação (I) são maiores que as de qualquer outro planeta no Sistema Solar, sendo e = 0,2488 e I = 17,16◦, elementos orbitais keplearianos, época JD 2452600,5 (J2000). A alta excentricidade de Plutão faz com que ele atravesse a órbita de Netuno e esteja em torno de 29,658 UA de distância do Sol no periélio, e em torno de 49,7 UA no afélio. Entre 1979 e 1999 Plutão estava mais próximo do Sol do que Netuno. Em 1989 Plutão teve seu encontro próximo com o Sol. Plutão está em ressonância de movimento médio 3:2 com Netuno, ou seja, enquanto Plutão realiza duas voltas ao redor do Sol, Netuno realiza três. Na época do descobrimento de Plutão acreditava-se que o seu tempo de vida antes que um encontro próximo com Netuno alterasse radicalmente a sua órbita era curto (Lyttleton, 1936), porém conforme mostrado por Cohen e Hubbard (1965) a ressonância 3:2 com Netuno faz com que a distância entre Plutão e Netuno seja grande no momento do cruzamento de suas órbitas. Levison e Stern (1995) afirmam que os dois corpos não se aproximam menos do que aproximadamente 17UA. Segundo Murray e Dermot (1999) essa distância não é inferior a aproximadamente 20 UA. A alta excentricidade e inclinação de Plutão são caracterı́sticas dinâmicas únicas quando comparadas com as dos planetas do Sistema Solar, uma alternativa para a origem da atual órbita de Plutão foi desenvolvida por Malhotra (Malhotra, 1993, 1995). Malhotra (1993, 1995) apresentou a primeira tentativa de explicação da estrutura orbital do Cinturão de Kuiper, neste trabalho utilizando resultados de Fernandez e Ip (1984), foi proposto que um disco primor- dial de planetesimais forçou os planetas maiores a migrar, em particular foi proposto que Plutão foi capturado na ressonância 3:2 com Netuno enquanto a órbita de Netuno estava ex- pandindo devida a troca de momento angular entre os planetas gigantes e os detritos que foram espalhados, ou seja, a órbita excêntrica de Plutão pode ser o resultado da ressonância 3:2 var- rendo o disco proto-planetário durante a migração de Netuno para a direção exterior do Sistema Solar. A idéia utilizada porMalhotra (1993, 1995) em que a configuração do Cinturão de Kuiper pode ser consequência de uma migração planetária primordial foi revisada por Gomes (2003) utilizando uma quantidade maior de planetesimais compondo o disco. Em Gomes (2003) foi simulado numericamente a evolução orbital dos quatro planetas gigantes e de um disco primor- 21 dial massivo de planetesimais, conforme Netuno migrava devido a troca de energia e momento angular com os planetesimais, um grande número de planetesimais eram espalhados. Durante a migração muitos planetesimais localizados inicialmente na parte interna do disco ficaram pre- sos na ressonância 3:2 com Netuno. Como resultado foi obtido que a maioria dos plutinos teriam vindos das regiões interiores do disco primordial planetesimal, em especial o modelo mostra que Plutão seria um objeto primordial espalhado ao invés de um produto do processo de varredura de ressonância proposto por Malhotra (1995). Caronte, o primeiro satélite descoberto de Plutão, tem aproximadamentemetade do diâmetro e umamassa aproximadamente 10 vezes menor que massa de Plutão. A razão de massa Caronte- Plutão é aproximadamente 0,1166 (Tholen et al., 2008), o centro de massa do binário localiza- se fora do corpo principal. O perı́odo de rotação de Plutão é igual ao perı́odo de rotação e ao perı́odo orbital de Caronte, cujo valor fornecido por Tholen et al. (2008) é 6,38720 dias. Com a descoberta de Caronte o estudo de Plutão foi facilitado, pois foi possı́vel determinar com mais precisão o valor da massa do planeta-anão. Nix e Hidra foram identificados em imagens feitas com o Telescópio Espacial Hubble em 15 e 18 de maio de 2005, os objetos tinham sido fracamente identificados em imagens de 2002 (Weaver et al., 2006). Eles orbitam o centro de massa do sistema. Soluções orbitais preliminares de Weaver et al. (2006) forneceram a=49.400 ± 600km e P = 25 ± 0,5 dias para Nix, e a= 64.700± 850 km e P = 38,2± 0,8 dias para Hidra, medidos em relação a um sistema baricêntrico, ambos os satélites se movendo no mesmo plano orbital de Caronte. Foi sugerido que Nix pode estar na ressonância de movimento médio 4:1 com Caronte, enquanto Hidra pode estar na ressonância 6:1, e Hidra e Nix podem estar na ressonância 3:2. Na figura (2.1) podem ser vistos Plutão e seus satélites. 22 Figura 2.1: Plutão e Caronte a frente e Nix e Hidra atrás. Imagem do sistema de Plutão em 15 de fevereiro de 2006, obtida através do Telescópio Espacial Hubble. (Extraı́da de Hubble site/NASA). Stern et al. (1994) realizou um estudo com o objetivo de localizar regiões estáveis na região interna (interior a órbita de Caronte) e externa (exterior a órbita de Caronte). O sistema era com- posto por Plutão, Caronte e partı́culas. Plutão e Caronte estavam inicialmente em órbitas circu- lares ao redor um do outro. Seus resultados mostraram que entre 1,8a0 e 2,4a0, havia órbitas estáveis e instáveis, a0=19.580 km, efeito que Stern et al. (1994) acreditam estar associado com ressonâncias de movimento médio. Para órbitas retrógradas, seus resultados mostraram que a região de estabilidade é maior, sendo que o limite da região de instabilidade se move para ∼1,6a0. Um segundo conjunto de simulações numéricas realizadas tinha como objetivo verificar quão massivo um objeto pode ser estando localizado nas regiões estáveis do sistema sem fazer com que a excentricidade de Caronte alcance valores maiores que 10−3 e 10−4. Nes- sas simulações numéricas Caronte tinha uma órbita circular em torno de Plutão e os satélites hipotéticos estavam no mesmo plano da órbita de Plutão-Caronte. Considerando a excentri- cidade de Caronte igual a 10−3 encontraram que nenhum satélite com massa maior que uma massa da ordem de 1017 e com raio maior que 85 km pode existir na região interna a órbita de Caronte sem violar o limite para a excentricidade utilizado. Para 2a0 Stern et al. (1994) encon- traram resultados similares, porém conforme o semi-eixo maior do satélite hipotético aumenta 23 satélites maiores não são descartados. Para 5a0 os autores não excluem satélites com massas da ordem de 1020. Estudo que está de acordo com valores atuais de semi-eixo maior e massa de Nix e Hidra. Holman e Wiegert (1999) seguindo a nomenclatura de Dvorak (1986) classificam as órbitas dos binários em três categorias: órbitas do tipo-P, que são aquelas fora do binário em que o terceiro corpo orbita o centro de massa do sistema; órbitas do tipo-S, em que o terceiro corpo orbita um dos componentes do binário; e órbitas próximas aos pontos L4 ou L5 (pontos Lagrangianos triangulares), os quais não são geralmente de interesse em sistema binários, pois a razão de massa deve ser menor que ±0,04 para que o movimento em torno desses pontos sejam linearmente estáveis. A solução do problema de dois corpos (P2C) para Nix e Hidra foi realizada por Buie et al. (2006) utilizando dados de imagens do sistema de Plutão no perı́odo 2002-2003, obtidas com o Telescópio Espacial Hubble. Foram obtidas imagens de todos os corpos do sistema de Plutão. Algumas das maiores conclusões de Buie et al. (2006) são: as órbitas de Nix e Hidra são quase coplanares com a órbita de Caronte e são praticamente circulares, com excentricidades de 0,0023 ± 0,0021 e 0,0052 ± 0,001, respectivamente, os perı́odos orbitais são 24,8562 ± 0,0013 dias para Nix, 38,2065 ± 0,0014 dias para Hidra e 6,3872304 ± 0,0000011 dias para Caronte, as razões entre os perı́odos orbitais de Nix e Hidra com o perı́odo orbital de Caronte diferem significativamente das razões exatas de 4:1 e 6:1, respectivamente. Desta maneira, eles propõem que talvez não exista ressonâncias atuando entre os satélites. Nagy et al. (2006) estudaram a estrutura dinâmica do espaço de fase do sistema Plutão- Caronte, através do Problema Circular Restrito de três corpos espacial. Nesse estudo as órbitas dos primários (Plutão e Caronte) eram circulares, e Nix e Hidra foram tratados como partı́culas- teste. Seus resultados mostraram, para órbitas do tipo-P, que a região estável é mais larga para órbitas retrógradas (I > 90◦) do que para órbitas prógradas (I < 90◦). Para órbitas retrógradas o limite da região caótica para I > 160◦ se mantém em ∼1,7A, A=19.600 km, podendo ser verificado em suas grades a por I. Para verificar se Nix e Hidra estavam em uma região estável do espaço de fase, foi apresentada uma grade a por e para o caso I = 0◦ (em relação ao plano dos primários). Nesta grade para a < 2,15A (∼42.000 km do baricentro) o sistema é instável para todas as excentricidades, e para a ≥ 2,15A há uma região estável dependendo do valor da excentricidade. De acordo com seus resultados Nix e Hidra estão em regiões estáveis do espaço de fase do sistema, com excentricidades superiores limitadas a 0,31 para Nix e 0,17 para Hidra. 24 Com relação à ressonância concluı́ram que o semi-eixo maior de Nix e Hidra indicam que eles estão próximos da ressonância de movimento médio 4:1 e 6:1 com Caronte, respectivamente, porém acreditam que são necessárias mais observações do sistema para essa confirmação. Tholen et al. (2008) obteve a “solução” do problema de quatro corpos utilizando dados astrométricos de diversas fontes. Neste estudo as perturbações do Sol foram ignoradas devido ao fato dos três satélites estarem fortemente ligados gravitacionalmente a Plutão. O objetivo era determinar a massa de cada um dos membros do sistema. O valor obtido para a razão de massa Caronte/Plutão foi 0,1166 ±0,0069, praticamente idêntico ao obtido por Buie et al. (2006). Foram verificados que as excentricidades dos três satélites não são iguais a zero, porém são pequenas quando medidas em um sistema de referência baricêntrico, e que Caronte, Nix e Hidra não são coplanares. Com relação à ressonância, não foi identificado qualquer argumento ressonante que indicasse a existência de ressonância de movimento médio entre qualquer um dos pares de satélites. Na tabela (2.1) são apresentados os dados fı́sicos de Plutão e dos satélites, e na tabela (2.2) são apresentados os elementos orbitais dos satélites, em que a é o semi-eixo maior, e é a excentricidade, I é a inclinação, Ω é a longitudade do nodo ascendente, ω é o argumento do pericentro, L é a longitude média da época e P é o perı́odo, os valores entre [ ] são quantidades assumidas. Massa (kg) Densidade (gm cm−3) Diâmetro (km) Plutão 1,304 x 1022 2,06 [2.294] Caronte 1,520 x 1021 1,63 1.212 Nix 5,8 x 1017 [1,63] 88 Hidra 3,2 x 1017 [1,63] 72 Total 1,456 x 1022 2,01 - Tabela 2.1: Massas, densidades e diâmetros dos corpos do Sistema de Plutão. Dados extraı́dos de Tholen et al. (2008). Süli e Zsigmond (2009) apresentaram um estudo da estrutura dinâmica do espaço de fase em torno das novas luas do sistema Plutão-Caronte, utilizando o Problema Elı́ptico Restrito de três corpos. As condições inicias para Caronte foram extraı́das de Tholen et al. (2008). O estudo na vizinhança de Nix e Hidra foi feito separadamente variando-se os elementos orbitais das partı́culas teste mas mantendo a anomalia média constante. Foram apresentados mapas de estabilidade a por e e a por I. Seus resultados mostraram que a estrutura do espaço de fase 25 a(km) e I (graus) Ω (graus) ω (graus) L P (dias) Carontea 19.570,3 0,0035 96,168 223,054 157,9 257,960 6,38720 Nixb 49.240 0,0119 96,190 223,202 244,3 122,7 25,49 Hidrab 65.210 0,0078 96,362 223,077 45,4 322,4 38,85 Tabela 2.2: Elementos Orbitais Keplerianos extraı́dos de Tholen et al. (2008). Época JD 2452600,5 (J2000). Notas Medidos em relação a um sistema de referência plutocêntricoa Medidos em relação a um sistema de referência baricêntricob para o caso elı́ptico e para o caso circular (Nagy et al., 2006) são qualitativamente diferentes, a região instável é muito maior para o caso elı́ptico. O centro da ressonância 4:1 muda de∼2,544 para ∼2,564, enquanto que o centro da ressonância 6:1 se move para mais perto de Plutão e tem sua forma mudada completamente. Também é mostrado que as presentes posições de Nix e Hidra estão nas regiões estáveis em ambos os mapas (a-e) e (a-I), porém nenhuma das estruturas relacionadas as ressonâncias de movimento médio 4:1 e 6:1 contêm os satélites. Giuliatti Winter et al. (2009) utilizando o Problema Restrito de três corpos apresentaram diagramas (a-e) para partı́culas teste inicialmente em órbitas do tipo-S ao redor de Plutão e de Caronte. Neste trabalho foram determinadas regiões estáveis para partı́culas em órbitas ao redor de Plutão e Caronte, para diferentes valores de excentricidade. Através da análise das Superfı́cies de Seção de Poincaré foi verificado que nessas regiões estáveis as partı́culas estão em órbitas periódicas e quase-periódicas. A famı́lia de cada órbita foi identificada. A seguir apresentamos alguns estudos relacionados à formação dos satélites Nix e Hidra. Stern et al. (2006b) sugeriram que Nix e Hidra, assim como Caronte, foram formados de material ejetado em uma órbita ao redor de Plutão como resultado do impacto formador de Caronte. A hipótese é baseada no fato das órbitas de Nix e Hidra serem circulares ou quase circulares, deles aparentemente estarem próximos ou em ressonâncias de movimento médio de alta ordem, e no mesmo plano da órbita de Caronte. Além disso, a partir das órbitas circulares dos satélites, foi sugerido que eles provavelmente foram formados muito próximos de Plutão, migrando posteriormente para sua posição atual durante a evolução, causada pelo efeito de maré, de Caronte para sua atual órbita. Foi proposto que talvez outros pequenos satélites, podem 26 ter sido formados, porém se desestabilizaram dinamicamente e se acumularam sobre Caronte ou Plutão, ou escaparam da detecção de telescópios. Na época do descobrimento de Nix e Hidra suas magnitudes eram V = 23,38 ± 0,17 e V = 22,93 ± 0,12, respectivamente (Weaver et al., 2006). Magnitude visual (V) é uma unidade de medida utilizada para medir o brilho de objetos astronômicos, quanto menor o valor de V mais brilhante é o objeto. Ward e Canup (2006) propuseram um cenário (Cenário de Migração Ressonante Forçada) no qual Nix e Hidra foram formados a partir da colisão que formou Caronte, e migraram pos- teriormente para suas posições atuais devido a interações ressonantes com o satélite, enquanto que Caronte também migrava para sua posição atual. Lithwick e Wu (2008) mostraram que o cenário de Ward e Canup (2006) só funciona para Nix ou Hidra se a excentricidade de Caronte for corretamente escolhida, mas não para ambos simultaneamente. No trabalho também foram discutidas mais duas possibilidades de como Nix e Hidra teriam evoluı́do para suas posições atuais com baixas excentricidades, caso eles fossem produtos do referido impacto. Uma das possibilidades é que os dois pequenos satélites teriam sido ejetados para os seus semi-eixo maiores atuais com altas excentricidades, sendo posteriormente diminuı́das devido aos efeitos de maré de Plutão, porém o tempo necessário para que houvesse a diminuição das excentrici- dades é maior que a idade do Sistema Solar (Stern et al, 2006b); a segunda possibilidade era que Nix e Hidra teriam sido ejetados como produtos do impacto formador de Caronte junto com várias partı́culas, se essas partı́culas formassem um disco as excentricidades dos satélites pode- riam ter sido diminuı́das devido as interações com o disco, porém um disco desse tipo não se estenderia a distâncias tão grandes. Em contrapartida, Lithwick e Wu (2008) sugeriram que Nix e Hidra foram formados em um disco plutocêntrico colisional composto por pequenos corpos capturados em órbitas heliocêntricas. Com o passar dos anos os parâmetros fı́sicos e orbitais dos corpos deste sistema quadrúplo vêm sendo determinados com mais precisão, porém podemos verificar que existem diferentes teorias para a formação destes corpos e que estudos vêm sendo realizados na tentativa de se entender melhor esses objetos que ainda estão em fase inicial de conhecimento. Assim, a missão New Horizons (a primeira missão lançada com destino a Plutão e o Cinturão de Kuiper) poderá contribuir muito para a expansão do conhecimento e entendimento deste sistema e também da história da região. A descoberta de Nix e Hidra acrescentaram mais objetivos e expectativas em relação à missão. Na próxima seção faremos uma introdução à Missão New Horizons. 27 2.2 Missão New Horizons A missão New Horizons-The first mission to Pluto and the Kuiper Belt: exploring frontier worlds é uma missão da NASA lançada em 19 de janeiro de 2006. É a primeira missão para o sistema de Plutão e para o Cinturão de Kuiper e também a primeira da série de missões New Frontiers. Existem diversas motivações para a realização da missão, entre elas a órbita de Plutão, seu tamanho, por ser um tipo de objeto (anão de gelo) somente encontrado no Sistema Solar externo, por formar um binário com Caronte (o único sistema binário conhecido no Sis- tema Solar), pelo fato de que acredita-se que colisão similar a que formou Caronte possa ter formado a Lua, podendo contribuir para se entender como o sistema Terra-Lua foi formado, pelas recentes descobertas de mais dois satélites (Nix e Hidra), pelo sistema estar tão longe da Terra dificultando a sua observação mesmo com os telescópios mais avançados tecnologica- mente, e por possibilitar o conhecimento destes corpos tão distantes, estendendo o entendimento dos anões de gelo, dos objetos do Cinturão de Kuiper e da origem e evolução do Sistema Solar externo. Desde a descoberta do primeiro objeto do Cinturão de Kuiper em 1992, astrônomos en- contraram mais de 1.000 objetos no cinturão, com diâmetros entre 50 km e 2.000 km (Stern et al., 2006a), portanto o sistema de Plutão pode ser somente o primeiro de uma série de outros sistemas ainda desconhecidos. Foi apresentado por Brown et al. (2006b) o primeiro satélite descoberto de Eris, Dysnomia. A sonda também chamada New Horizons é a mais rápida já lançada, passou pela órbita da Lua em apenas 9 horas e por Júpiter em apenas 13 meses depois do seu lançamento, e alcançará Plutão em 9 anos e meio. As sondas Galileo e Cassini levaram 6 anos e 4 anos, respectivamente, para alcançar Júpiter. Após passagem por Júpiter ela passará pelo sistema de Plutão (a sonda não irá orbitá-lo). Em 13 de junho de 2006, a New Horizons passou próximo a um pequeno asteróide (∼4 km de diâmetro) com uma órbita do tipo-S chamado 2002 JF56, foram realizados testes com os instrumentos de imagem da sonda (Stern, 2008). O encontro com o sistema de Júpiter ocorreu no dia 28 de fevereiro de 2007. De janeiro a junho de 2007 foi possı́vel realizar uma série de mais de 700 observações do sistema (Stern, 2008). Segundo Stern et al. (2006a) o objetivo da passagem pelo sistema de Júpiter foi aproveitar a gravidade assistida para diminuir o tempo de viagem da sonda. Para conseguir maximar a quantidade e qualidade dos dados obtidos a sonda carrega 7 28 instrumentos cientı́ficos, sendo 3 intrumentos ópticos, 2 instrumentos de plasma, 1 detector de poeira e 1 experimento de rádio ciência. Os objetivos cientı́ficos da missão são classificados em 3 categorias. Os objetivos da primeira categoria são caracterizar a morfologia, geologia e mapear a composição da superfı́cie de Plutão e Caronte, e caracterizar a atmosfera neutra e a taxa de escape da atmosfera de Plutão. Na segunda e terceira categoria destacamos procurar por uma atmosfera em Caronte, refinar parâmetros orbitais e fı́sicos (massa, densidade, raios) de Plutão e Caronte e procurar por satélites e por um sistema de anéis, detectar ou possibilitar o estabelecimento de um valor limite de J2 (coeficiente gravitacional) de Plutão e medir a interação do vento solar com Plutão e Caronte. Os objetivos da primeira categoria são principais, os demais serão cumpridos caso sejam possı́veis. A figura (2.5) mostra a trajetória da sonda. Figura 2.2: Trajetória da sonda New Horizons. As setas vermelhas indicam a posição da sonda, as quais dependiam da data de lançamento. Adaptado de Stern (2008). 29 Se a extensão da missão for aprovada, os planos para a sonda New Horizons de 2016 a 2020, incluem a realização de um ou dois encontros próximos com objetos do Cinturão de Kuiper com diâmetros iguais ou superiores a 50 km. Os estudos a serem realizados com os objetos do Cinturão de Kuiper serão similares aos realizados em Plutão e Caronte (Stern et al., 2006a). Posteriormente, a sonda continuará sua trajetória para além do Cinturão de Kuiper, escapando da gravidade solar. 30 Capı́tulo 3 Simulações Numéricas 3.1 Integrador Numérico Para a realização das simulações numéricas utilizamos o pacote Mercury (Chambers, 1999). Esse pacote foi desenvolvido para simular um conjunto de n-corpos, a evolução orbital de obje- tos movendo-se no campo gravitacional de um corpo central muito massivo quando comparado ao tamanho dos outros objetos. Este integrador numérico oferece os seguintes algoritmos de integração escritos em linguagem FORTRAN: RADAU (RA15) (Everhart, 1985), algoritmos Bulirsch-Stoer (Stoer e Bulirsch, 1980), Integrador simplético de variáveis mistas (MVS) (Wis- dom e Holman, 1991; Wisdom et al. 1996) e um integrador hı́brido e simplético. O método utilizado foi o Bulirsch-Stoer. Os arquivos de entrada, os quais são alterados para descrever cada sistema estudado, são: a) big.in: este arquivo contém as condições iniciais dos corpos massivos, exceto as do corpo central. Um corpo massivo é definido como um corpo que perturba todos os outros objetos durante a integração. b) small.in: este arquivo contém as condições iniciais para todos os corpos pequenos (partı́culas) da integração numérica. Um corpo pequeno é definido como aquele que perturba e interage com os corpos massivos durante a integração, porém ignoram uns aos outros comple- tamente (não perturbam uns aos outros e não podem colidir entre si). c) param.in: este arquivo contém os parâmetros que controlam a integração numérica. Pode- se escolher por exemplo o algoritmo da integração, tempo inicial e tempo final, intervalo de saı́da dos dados, a opção de parar a integração após um encontro próximo, a opção de permitir que ocorram colisões com os corpos massivos, inclusão de fragmentos colisionais, escolha do 31 valor da distância de ejeção, inclusão do raio e da massa do corpo central, a opção de inserir os coeficientes gravitacionais: J2, J4 ou J6 do corpo central. Se o campo gravitacional do planeta não é esfericamente simétrico, suas não-uniformidades produzem acelerações que são tratadas como perturbações ao movimento Kepleriano de um satélite ou partı́culas de anéis. Os Jn’s são constantes presentes na equação do potencial gravitacional externo de um corpo. Essas constantes refletem a distribuição de massa de um corpo e são determinadas analiticamente utilizando-se os Polinômios de Legendre de grau n. d) element.in: este arquivo informa de que maneira devem ser gerados os dados de saı́da: em relação a um sistema centrado no corpo central, no baricentro, ou em elementos Jacobianos. Também se escolhe o formato de saı́da dos elementos (em elementos orbitais ou coordenadas de posição e velocidade). e) mercury.inc: este arquivo contém constantes e parâmetros gerais utilizados por subroti- nas do pacote Mercury. As alterações foram no valor de K2 (quadrado da constante gravita- cional gaussiana) e a unidade astronômica (UA) como sendo a distância de Caronte a Plutão, UA=19.570,3km. No pacote Mercury é possı́vel extender o tempo final de uma integração concluı́da. 3.2 Sistema de 4-corpos: Plutão, Caronte, Nix e Hidra No primeiro conjunto de simulações numéricas realizadas, durante a fase de aprendiza- gem do pacote Mercury, utilizamos as coordenadas de posição e velocidade apresentadas na tabela (3.1) e simulamos numericamente o sistema formado por 4-corpos: Plutão (corpo cen- tral), Caronte, Nix e Hidra, para fazermos uma comparação com os resultados obtidos (elemen- tos orbitais no tempo inicial de Caronte, Nix e Hidra e variação temporal da excentricidade e inclinação de Nix e Hidra) por Tholen et al. (2008). O objetivo dessas simulações numéricas era inserir as condições iniciais do sistema de Plutão no pacote Mercury, aprender a utilizá-lo e tentar reproduzir os resultados de Tholen et al. (2008). Os elementos orbitais de Caronte em Tholen et al. (2008) são fornecidos com relação a um referencial planetocêntrico, e os elementos orbitais de Nix e Hidra com relação a um referencial baricêntrico. No pacote Mercury a integração é realizada em relação a um referencial plutocêntrico, porém temos a opção para que os dados de saı́da sejam convertidos para um referencial baricêntrico, mas verificamos que a rotina apresenta problemas no cálculo 32 das velocidades. Assim, utilizou-se um programa escrito em linguagem de programação C para realizar a conversão entre os referenciais e a seguir fazermos as comparações dos resultados. Os gráficos com os dados obtidos nas simulações numéricas foram gerados com o Gnuplot. O programa barycenter.c faz a translação das coordenadas de posição e velocidade cen- tradas em Plutão para coordenadas de posição e velocidade centradas no baricentro, a seguir faz a transformação das coordenadas de posição e velocidade para elementos orbitais (agora dados em relação ao baricentro) e possı́veis de serem comparados com os dados do artigo. A translação do referencial plutocêntrico para o baricêntrico é feita utilizando-se as equações (3.1), (3.2), (3.3), e (3.4): A posição e velocidade do centro de massa em relação a Plutão: xcm = (mCxC + mNxN + mHxH) (mP + mC + mN + mH) (3.1) ẋcm = (mC ẋC + mN ẋN + mH ẋH) (mP + mC + mN + mH) (3.2) análogo para ycm e zcm, ẏcm e żcm, em que x, y e z são as componentes da posição e ẋ, ẏ e ż são as componentes da velocidade em relação a Plutão, m é a massa, os ı́ndices P , C, N e H referem-se a Plutão, Caronte, Nix e Hidra, respectivamente. x̄ = x− xcm (3.3) análogo para ȳ e z̄. ˙̄x = ẋ− ẋcm (3.4) análogo para ˙̄y e ˙̄z, em que x̄, ȳ, z̄ são as componentes da posição em relação ao baricentro, e ˙̄x, ˙̄y, ˙̄z são as componentes da velocidade em relação ao baricentro. Após a translação, utilizando as equações do Problema de 2-corpos, transformamos as co- ordenadas de posição e velocidade em relação ao baricentro (x̄, ȳ, z̄, ˙̄x, ˙̄y, ˙̄z) para elementos orbitais. As equações utilizadas no barycenter.c para obter a transformação de coordenadas de posição e velocidade para elementos orbitais são do Problema de 2-corpos, assim fez-se necessária fazer uma revisão do Problema de 2-corpos, a qual apresentamos resumidamente a seguir baseados em Murray e Dermott (1999). 3.2.1 Problema de Dois Corpos O Problema de Dois Corpos (P2C) é um problema possı́vel de ser resolvido analitica- mente. Trata da interação gravitacional de dois pontos de massa descrita pela Lei Universal 33 da Gravitação de Newton. O problema consiste de um corpo menor se movendo ao redor de um corpo central muito maior, os efeitos dos outros corpos são usualmente tratados como perturbações para o sistema de dois corpos. Considerando o movimento de m1 e m2, com vetores de posição −→r1 e −→r2 referentes a uma origem O fixada em um espaço inercial, pode-se escrever as forças gravitacionais e conse- quentes acelerações experimentadas pelas duas massas. Considerando o movimento m2 com relação am1 (movimento relativo), escrevemos: d2−→r dt2 + μ −→r r3 = −→ 0 (3.5) em que μ=G(m1+m2), G é a constante gravitacional. Determinando-se as constantes do movi- mento conseguimos obter a órbita dem2 relativo am1 através de (3.5). Fazendo o produto vetorial de −→r com a equação (3.5) obtemos −→r × −̈→r = −→0 , integrando em seguida obtemos −→r × −̇→r = −→ h . Considerando a origem do sistema centrada em m1 e uma linha de referência em θ=0◦, substituindo a definição do vetor aceleração em coordenadas polares na equação (3.5) e com- parando as componentes na direção r̂ obtemos r̈ − rθ̇2 = − μ r2 . Para resolver r=f(θ), pode-se fazer a substituição u = 1 r e eliminar o tempo fazendo uso da constante h = r2θ̇. Diferenciando duas vezes com relação ao tempo r de u = 1 r , e substituindo em r̈ − rθ̇2 = − μ r2 obtemos uma equação diferencial linear de segunda ordem para u. Substituindo r uti- lizando a relação entre u e r na solução geral da equação diferencial, obtemos: r = p 1 + e cos (θ −�) (3.6) A equação (3.6) é a equação geral de uma cônica em coordenadas polares, onde e é a ex- centricidade e p o semilatus rectum dado por p = h2 μ . Para o caso elı́ptico temos: r = a(1− e2) 1 + e cos (θ −�) (3.7) em que o ângulo θ é a longitudade verdadeira, f é a anomalia verdadeira e � = f + θ (� é a longitudade do pericentro). A velocidade angular “média”, ou movimento médio, n é definido como: n = 2π P (3.8) em que P é o perı́odo orbital. 34 Fazendo o produto escalar de −̇→r com a equação (3.5), substituindo as expressões para −→r e −̇→r em coordenadas polares no produto escalar e integrando, obtemos: 1 2 v2 − μ r = C (3.9) em que v2 = −̇→r · −̇→r , e C é uma constante do movimento. O Problema de 2-corpos tem quatro constantes do movimento: a Energia integral C e as três componentes da Integral do Momento Angular, −→h . Na prática deseja-se calcular a localização de um corpo para um dado tempo e a solução para o P2C, não contém o tempo explicitamente. A a anomalia médiaM é definida comoM = n(t − τ), em que τ é o tempo de passagem pelo pericentro. Através das projeções de r nas direções horizontal e vertical r pode ser escrito como: r = a(1− e cos E) (3.10) e cos f = cos E − e 1− e cos E (3.11) r e f são determinados unicamente a partir das equações (3.10) e (3.11), desde queE (anomalia excêntrica) e f estejam no mesmo semi-plano e E seja conhecido. No entanto, o tempo está presente na equação da anomalida média. A relação entreM e E é dada pela equação: M = E − esenE (3.12) que é a equação de Kepler e sua solução é fundamental para determinar a posição orbital em um dado tempo t. Agora, passaremos a tratar do caso de fornecidas as componentes de posição e velocidade, deseja-se obter os elementos orbitais correspondentes no tempo t. Murray e Dermott (1999) consideram um plano tridimensional como representação de uma órbita no espaço, e um sistema de coordenadas cartesianas tridimensional no qual um ponto arbitrário tem o vetor posição −→r = xx̂ + yŷ + zẑ. (X, Y, Z) e (Ẋ, Ẏ , Ż) são as coordenadas de posição e velocidade de um objeto em uma órbita elı́ptica no plano de referência padrão em um dado instante t, a, e, I , são o semi-eixo maior, a excentricidade e a inclinação da órbita, respec- tivamente. A seguir apresentamos os procedimentos para calcular alguns elementos orbitais extraı́dos de Murray e Dermott (1999). 35 1) Cálculo de a: a = ( 2 R − V 2 G(m1 + m2) ) −1 (3.13) 2) Cálculo de e: e = √ 1− h2 G(m1 + m2)a (3.14) 3) Cálculo de I: I = cos−1 (hz h ) (3.15) em que R = √ X2 + Y 2 + Z2 (3.16) V 2 = Ẋ2 + Ẏ 2 + Ż2 (3.17) −→ h = (Y Ż − ZẎ , ZẊ −XŻ, XẎ − Y Ẋ) (3.18) R = r representa o comprimento do raio vetor. As projeções de −→h são: hz = h cos I (3.19) ±hx = hsenIsenΩ (3.20) ∓hy = hsenI cos Ω (3.21) o sinal superior nas equações (3.20) e (3.21) é utilizado quando hz >0 e o sinal inferior é utilizado quando hz <0. 3.3 Evolução Orbital Na fase inicial deste trabalho, com o objetivo de reproduzir os gráficos (a por t) e (e por t) e os elementos orbitais dos três satélites apresentados em Tholen et al. (2008), realizamos as simulações numéricas descritas a seguir. As coordenadas de posição (x, y, z) e velocidade (x’,y’,z’) de Caronte, Nix e Hidra foram extraı́das da tabela (3.1). O valor deG assumido foiG = 6,67428x10−11 m3kg−1s−2. Os valores referentes a massa e raios de cada um dos quatro corpos são apresentados na tabela (3.2). O sistema de quatro corpos foi numericamente integrado em relação à um referencial iner- cial fixo em Plutão por um tempo correspondente a 100 dias. 36 x (km) y (km) z (km) x’ (km dia−1) y’ (km dia−1) z’ (km dia−1) Caronte -12.614 -10.150 11.061,1 6.842,2 8.715,1 15.699,2 Nix 8.450 1.020 -46.480 -7.930 -7.533 -542 Hidra 2.120 11.830 64.674 8.479 7.900 -132 Tabela 3.1: Condições iniciais, em unidades do Sistema Internacional (SI), utilizados nas simulações numéricas, em relação a um referencial plutocêntrico. Valores extraı́dos de Tholen et al. (2008). Plutão Caronte Nix Hidra Massa (kg) 1,304 x 1022 1,520 x 1021 5,8 x 1017 3,2 x 1017 Raio (km) 1.147 606 44 36 Tabela 3.2: Massa e raio dos corpos analisados, utilizados nas simulações numéricas. Valores extraı́dos de Tholen et al. (2008). 3.3.1 Caronte Os resultados obtidos foram que o semi-eixo maior a é igual a 19.574,80 ±2 km, valor que difere em apenas ∼4 km do valor obtido por Tholen et al. (2008) (o valor esperado). A excen- tricidade encontrada foi e = 0,0034 com variações da ordem de 3×10−5, o valor esperado era 0,0035 com variações de 2×10−5. A longitude do nodo ascendente (Ω) permaneceu constante com o valor de Ω = 223,0565◦, com uma diferença de 0,0025 para o valor esperado. O argu- mento do pericentro (ω) encontrado foi 154,575◦, valor esperado era 157,9◦. A inclinação de Caronte calculada foi I = 96,168◦, com uma variação de 10−5, no artigo citado o valor é I = 96,168◦ ± 0,0002◦. O perı́odo calculado foi 6,38 dias, valor que está de acordo com o esperado. Realizando a simulação numérica por um perı́odo de tempo maior, 60 anos, vemos que o argumento do pericentro (ω), figura (3.1), de Caronte precessiona conforme previsto por Tholen et al. (2008), com a mesma variação de 1,5◦ na amplitude, porém o valor inicial do argumento do pericentro que obtivemos foi menor que o previsto. 37 Figura 3.1: Precessão do argumento do pericentro de Caronte por um perı́odo de 60 anos. 3.3.2 Nix Para realizar as integrações numéricas para Nix foram inseridas as coordenadas de posição e velocidade em relação ao referencial plutocêntrico. Após realizada a integração numérica, ob- tivemos os elementos orbitais em relação ao baricentro, através do barycenter.c: a = 49.232,216km, e = 0,011860, I = 96,194526◦, valores que diferem somente de ∼8km para a e de 4× 10−5 e ∼4× 10−3 graus para e e I , respectivamente, em relação ao valor esperado. Para o perı́odo de 100 dias, obtivemos que o semi-eixo maior, a, assume valores no intervalo [48.576,220; 49.654,144] km, figura (3.2). A excentricidade, e, assume valores no intervalo [0,001325; 0,024970], figura (3.3). A inclinação assume valores dentro do intervalo [96,020; 96,316] graus. O perı́odo de Nix obtido foi de aproximadamente 25,04 dias, valor esperado era 25,49 dias. Na simulação numérica por um perı́odo de 90 dias Tholen et al. (2008) encontraram que a excentricidade de Nix assume valores no intervalo [0; 0,0272] e a inclinação assume valores no intervalo [96,020; 96,320] graus. Portanto, concluı́mos que os valores encontrados em nossas simulações numéricas estão de acordo com os apresentados no artigo citado. Nas figuras (3.2) e (3.3) são apresentados os gráficos do semi-eixo maior em função do tempo (a-t) e da excentricidade em função do tempo (e-t) de Nix, por um perı́odo de 100 dias. Gráfico semelhante ao da variação da excentricidade em função do tempo foi encontrado por Tholen et al. (2008). 38 Figura 3.2: Semi-eixo maior (km) em função do tempo (dias) de Nix por um perı́odo de 100 dias. Figura 3.3: Excentricidade em função do tempo (dias) de Nix por um perı́odo de 100 dias. 3.3.3 Hidra Para o caso do satélite Hidra foram realizadas as mesmas conversões necessárias para obtenção dos elementos orbitais do satélite Nix em relação ao baricentro. Após realizada a integração numérica, obtivemos os elementos orbitais em relação ao baricentro, através do barycenter.c: a = 65.213,096 km, e = 0,007842, I = 96,349336◦, valores que diferem somente de ∼3km para a e de 4 × 10−5 e ∼2 × 10−2 para e e I , respectivamente, em relação ao valor esperado. 39 Para o perı́odo de 100 dias obtivemos que o semi-eixo maior assume valores no inter- valo [64.827,964; 65.266,556] km, figura (3.4). A excentricidade assume valores no intervalo [0,000339; 0,015198], figura (3.5). A inclinação assume valores dentro do intervalo [95,983; 96,352] graus. O perı́odo determinado através da simulação numérica foi 38,3957 dias, o valor esperado era 38,85 dias. Na simulação numérica por um perı́odo de 90 dias Tholen et al. (2008) encontraram que a excentricidade de Hidra assume valores no intervalo [0; 0,0179] e a inclinação assume valores no intervalo [95,980; 96,340] graus. Portanto, concluı́mos que os nossos resultados estão de acordo com os valores do referido artigo. Nas figuras (3.4) e (3.5) são apresentados os gráficos do semi-eixo maior em função do tempo (a-t) e da excentricidade em função do tempo (e-t) de Hidra por um perı́odo de 100 dias. Gráfico semelhante ao da variação da excentricidade em função do tempo foi encontrado por Tholen et al. (2008). Figura 3.4: Semi-eixo maior (km) em função do tempo (dias) de Hidra por um perı́odo de 100 dias. 40 Figura 3.5: Excentricidade em função do tempo (dias) de Hidra por um perı́odo de 100 dias. O estudo foi útil para verificarmos a funcionalidade do programa de conversão, o qual seria utilizado nas próximas etapas deste trabalho. Após a realização desta primeira etapa, fizemos novas integrações numéricas utilizando as mesmas condições inicias para os quatros corpos, porém simulamos para um intervalo de tempo maior, 50 anos. O objetivo era verificar a variação do semi-eixo maior (a) e excentricidade (e) de Nix e Hidra em um intervalo de tempo maior. Analisando os gráficos do semi-eixo maior e da excentricidade em funções do tempo, ambos por um perı́odo de 50 anos, verificamos que o semi-eixo maior de Nix assume valores pratica- mente iguais e tem a mesma variação de Δa∼1.000 km obtida para o perı́odo de 100 dias. A excentricidade assume valores no intervalo [0,000103; 0,026610]. O perı́odo obtido para Nix foi P∼25,3 dias. Para Hidra analisando os gráficos do semi-eixo maior e da excentricidade em funções do tempo por um perı́odo de 50 anos, verificamos que o semi-eixo maior assume praticamente os mesmos valores e tem a mesma variação de Δa∼430 km obtida para o perı́odo de 100 dias. A excentricidade assume valores no intervalo [0,000020; 0,017461]. O perı́odo encontrado para Hidra foi P∼38,36 dias. Os perı́odos de Nix e Hidra encontrados por Tholen et al. (2008) na simulação por um perı́odo de 50 anos são P = 25,492 dias e P = 38,734 dias, respectivamente. Valores próximos ao encontrado em nossas simulações. Concluı́mos que os elementos a e e de Nix e Hidra mantêm praticamente as mesmas variações apresentadas para um perı́odo de 100 dias. Verificamos também que como esperado Nix sofre mais os efeitos das interações dinâmicas com Caronte do que Hidra. 41 3.3.4 Nix e Hidra: perturbação mútua Com o objetivo de verificarmos a perturbação mútua entre Nix e Hidra, realizamos duas simulações numéricas: 1a simulação numérica: no arquivo big.in inserimos somente as condições iniciais de Caronte e Nix, portanto temos somente as perturbações causadas por Plutão e Caronte em Nix, sem o acréscimo de eventuais efeitos gravitacionais de Hidra (sistema formado por três corpos). 2a simulação numérica: no arquivo big.in inserimos somente os dados de Caronte e Hidra, portanto temos somente as perturbações causadas por Plutão e Caronte emHidra, sem o acréscimo de eventuais efeitos gravitacionais de Nix (sistema formado por três corpos). Após obtidos os gráficos, comparamos com os gráficos que mostravam a variação do a e do e em função do tempo de Nix e Hidra nas simulações numéricas realizadas para o sistema formado pelos quatro corpos. 1a simulação - Em relação aos resultados obtidos nas simulações numéricas com o sistema formado por quatro corpos verificamos que o Δa é igual para os dois sistemas, mesmo fato ocorreu com o valor de Δe. Logo, concluı́mos que Hidra não exerce um efeito significativo na variação temporal dos elementos orbitais (a, e) de Nix. 2a simulação - O Δa obtido nesta simulação numérica é igual ao do sistema com quatro corpos, mesmo fato ocorreu com a variação da excentricidade, Δe. Logo, concluı́mos que Nix não exerce um efeito significativo no movimento de Hidra, sendo um resultado esperado, visto que Nix e Hidra têm diâmetros de 88 km e 72 km, respectivamente, e estão separados de Δa=15.970,0 km. Nas figuras de (3.6) a (3.9) apresentamos os gráficos obtidos no sistema de 4-corpos e de 3-corpos para um perı́odo menor, 100 dias, pois a visualização de que as os resultados obtidos nos dois sistemas são praticamente iguais fica mais fácil. 42 48400 48600 48800 49000 49200 49400 49600 49800 0 20 40 60 80 100 se m i-e ix o m ai or (k m ) tempo (dias) 4-corpos 3-corpos Figura 3.6: Semi-eixo maior (km) em função do tempo (dias) de Nix por um perı́odo de 100 dias. 0 0.005 0.01 0.015 0.02 0.025 0 20 40 60 80 100 ex ce nt ric id ad e tempo (dias) 4-corpos 3-corpos Figura 3.7: Excentricidade em função do tempo (dias) de Nix por um perı́odo de 100 dias. 64800 64850 64900 64950 65000 65050 65100 65150 65200 65250 65300 0 20 40 60 80 100 se m i-e ix o m ai or (k m ) tempo (dias) 4-corpos 3-corpos Figura 3.8: Semi-eixo maior (km) em função do tempo (dias) de Hidra por um perı́odo de 100 dias. 0 0.002 0.004 0.006 0.008 0.01 0.012 0.014 0.016 0 20 40 60 80 100 ex ce nt ric id ad e tempo (dias) 4-corpos 3-corpos Figura 3.9: Excentricidade em função do tempo (dias) de Hidra por um perı́odo de 100 dias. 43 Capı́tulo 4 Análise da região externa do Sistema Plutão-Caronte 4.1 Introdução A análise e determinação de regiões estáveis podem auxiliar a sonda New Horizons a detec- tar possı́veis satélites e anéis pertencentes ao sistema Plutão-Caronte. Além disso, determinar regiões onde partı́culas possam permanecer por longos perı́odos de tempo é importante para a própria segurança da sonda, pois caso esta passe através de um sistema de aneis pouco tênue poderá sofrer colisões com um número significativo de partı́culas que poderão causar prejuı́zos à missão. Thiessenhusen et al. (2002) sugerem que Plutão e Caronte estão dentro de um tênue anel de poeira, e mostram que um anel de poeira pode existir em torno do binário. No trabalho foram estudados a densidade deste possı́vel anel e as órbitas das partı́culas que o formam. As partı́culas que compõem o anel seriam ejetadas de Plutão e, especialmente de Caronte, frutos de colisões de micrometeoritos originários do Cinturão de Kuiper com as superfı́cies destes. Os efeitos da atmosfera de Plutão em suas análises têm um efeito pequeno, pois a maior contribuição vem de material ejetado de Caronte, não se sabe ainda se Caronte tem atmosfera. Segundo Thiessenhusen et al. (2002) o possı́vel anel é denso o suficiente para ser detectado por uma sonda espacial que passasse pelo sistema. Com a descoberta de Nix e Hidra, a questão sobre a existência de uma sistema de aneis originado de colisões entre pequenos detritos com esse corpos apareceu commais força. Através do cálculo da velocidade de escape do material que seria ejetado dessas colisões, Steffl e Stern 44 (2007) concluı́ram que o material poderia ficar gravitacionalmente ligado a Plutão, dependendo de algumas caracterı́sticas como tamanho e densidade, podendo formar aneis. A profundidade óptica média (τ ) de um anel é uma medida do declı́nio exponencial da luz à medida que penetra o anel, ela permite dizer se um anel é mais tênue ou mais denso. Baseados em teorias que sugerem que pequenos corpos que colidem com os satélites Nix e Hidra são capazes de gerar aneis no sistema de Plutão, Steffl e Stern (2007) realizaram um estudo sobre a existência destes aneis, utilizando imagens obtidas com o Telescópio Espacial Hubble. Seus resultados mostraram que não foram encontradas evidências observacionais de aneis no sistema e que se o sistema de aneis de Plutão existir, ele é tão tênue quanto o sistema de aneis de Júpiter. O valor de τ determinado por Stern et al. (2006b) é τ = 5×10−6. Holman e Wiegert (1999) analisaram em quais regiões do espaço de fase próximo a um sis- tema binário poderiam existir planetas. Eles simularam numericamente conjuntos de partı́culas utilizando o Problema Elı́ptico Restrito de 3-corpos por um perı́odo de 104Tbinário. Valores para a excentricidade dos binários foram adotados entre 0,0 ≤ e ≤ 0,8 e para a razão de massa entre 0,1 ≤ μ ≤ 0,9. Dos resultados foram derivadas expressões analı́ticas para o semi-eixo maior crı́tico, o qual determina um limite para a região estável para o tempo de integração consider- ado. Para o caso de partı́culas externas ao binário orbitando o centro de massa do sistema o semi-eixo maior crı́tico (acrit) em unidades do semi-eixo maior do binário, é dado por: acrit = (1, 60± 0, 04) + (5, 10± 0, 05)e (4.1) +(−2, 22± 0, 11)e2 + (4, 12± 0, 09)μ (4.2) +(−4, 27± 0, 17)eμ + (−5, 09± 0, 11)μ2 (4.3) +(4, 61± 0, 36)e2μ2 (4.4) Para o sistema Plutão-Caronte, em que e = 0,0035 e μ=mC mP = é 0,1166, temos acrit=39.674km. Holman e Wiegert (1999) ressaltam que o limiar entre a região de estabilidade e a região de instabilidade não é bem definido. Nosso objetivo neste capı́tulo é obter diagramas semi-eixo maior em função da excentrici- dade (a-e) para partı́culas em órbitas prógradas e retrógradas se movendo em órbitas do tipo-P sob os efeitos gravitacionais de todos os corpos do sistema de Plutão na região externa do sis- tema binário Plutão-Caronte, esta região é localizada além da órbita de Caronte. De acordo com os resultados obtidos foram identificadas regiões caóticas próximas dos satélites Nix e Hidra. 45 Também foram identificadas partı́culas em ressonância de movimento médio com os satélites Nix ou Hidra. Temos que partı́culas-teste localizadas inicialmente dentro da região de caos sofrem um aumento em suas excentricidades podendo colidir com um dos corpos massivos do sistema ou serem ejetadas. Partı́culas com semi-eixo maiores mais próximos aos dos satélites são “refletidas” quando se aproximam destes e movem-se em órbitas ferradura ou girino. Para entendermos esses regimes, os quais foram necessários para a análise dos gráficos obtidos, faremos nas próximas seções considerações teóricas breves com relação a sobreposição de res- sonâncias e caos e com relação a dinâmica de partı́culas coorbitais a um satélite. 4.2 Estudo Teórico 4.2.1 Ressonâncias São os fenômenos de ressonância que determinam a estrutura dinâmica do Sistema So- lar. Em anéis planetários, ressonâncias entre partes dos anéis e satélites são responsáveis pela formação de várias estruturas nos aneis, como falhas e ondulações. No caso dos aneis de Saturno, a maioria da estrutura do anel A pode ser entendida no contexto de ressonâncias entre as partı́culas do anel e os satélites que orbitam próximos a ele, Prometeu, Pandora e Jano. Em algumas situações o anel é confinado devido a ressonâncias com seus satélites pastores, por exemplo, o anel ε é confinado devido a ressonância com Cordélia e Ofélia (Goldreich e Tremaine, 1979) que orbitam interiormente e exteriormente o anel. Esta teoria foi confirmada posteriormente através de imagens da Voyager 2 (Murray e Dermott, 1999). O Sistema de Saturno apresenta uma enorme variedade de fenômenos causados por res- sonância, alguns exemplos são Mimas e Tétis que estão em ressonância 4:2 e Enceladus e Dione em ressonância 2:1 (Murray e Dermott, 1999). Estes são somente alguns exemplos da grande quantidade de ressonâncias presentes no Sistema Solar. Uma ressonância pode aparecer quando há uma relação numérica entre frequências ou perı́odos, outros tipos de relação de ressonância mais complicadas também existem. Os perı́odos podem ser rotacional ou orbital de um único corpo ou orbitais de dois ou mais corpos. A res- sonância 1:1 (quando o perı́odo orbital é igual ao perı́odo rotacional) faz com que a Lua man- tenha sempre a mesma face voltada para a Terra. Este tipo de ressonância está presente na maioria dos satélites naturais do Sistema Solar (Murray e Dermott, 1999). O estudo dos efeitos da ressonância em mecânica celeste começou com a dinâmica dos asteróides. Kirkwood em 46 1867 publicou um estudo que apontava falhas no Cinturão de Asteróides devido a importantes ressonâncias com Júpiter (Kirkwood, 1867). Em um caso mais geral, considerando dois satélites se movendo ao redor de um planeta em órbitas circulares e coplanares podemos assumir que: n′ n = p p + q (4.5) em que n e n′ são os movimentos médios dos satélites interno e externo, respectivamente, e p e q são inteiros. Considerando dois satélites em conjunção no tempo t=0, então a próxima conjunção ocorrerá quando: nt− n′t = 2π (4.6) e o perı́odo, Tcon, entre conjunções sucessivas é dado por: Tcon = 2π n− n′ (4.7) De (4.5) temos que p(n − n′) = qn′ então (n − n′) = q p n′, e temos que p = (p+q)n′ n , substituindo (n− n′) em (4.7) obtemos: Tcon = p q 2π n′ = p q T ′ = p + q q T (4.8) em que T e T ′ são os perı́odos orbitais dos dois satélites, interno e externo, respectivamente. De (4.8) obtemos: qTcon = pT ′ = (p + q)T (4.9) Para q=1 sabemos o número de voltas completas realizadas por cada um dos satélites entre sucessivas conjunções e cada conjunção ocorre na mesma longitude do espaço inercial. Se q=2, cada segunda conjunção ocorre na mesma longitude. Anteriormente consideramos o caso dos dois satélites em órbitas circulares, e =0 e e′=0, agora vamos considerar o caso quando e=0 e e′ �= 0, e além disso �̇ �= 0, em que � é a longitude do pericentro. Se a equação (p + q)n′ − pn− q�̇′ = 0 (4.10) é satisfeita, então podemos escrevê-la da seguinte forma: 47 (n′ − �̇′)q + (n′ − n)p + p�̇′ − p�̇′ = 0 (4.11) (n′ − �̇′)q + (n′ − �̇′)p− pn + p�̇′ = 0 (4.12) (n′ − �̇′)(p + q) = p(n− �̇′) (4.13) (n′ − �̇′) (n− �̇′) = p p + q (4.14) em que n′ − �̇′ e n− �̇′ são os movimentos relativos, podendo ser considerado como o movi- mento médio em um sistema de referência corotacional com o pericentro do satélite externo (Murray e Dermott, 1999). O argumento ressonante correspondente à equação (4.10) é ϕ = (p + q)λ′ − pλ− q�′ (4.15) O ângulo ϕ é a medida do deslocamento da longitude da conjunção em relação ao pericentro do satélite externo. O Sistema Solar tem vários exemplos de objetos que orbitam um corpo central e ambos estão presos em uma ressonância de movimentomédio. Este tipo de ressonância também é conhecida como ressonância de dois-corpos, neste caso um ou mais argumentos da expansão da função perturbadora está librando, por exemplo, Plutão está em ressonância de movimento médio 3:2 com Netuno e o argumento do periélio de Plutão libra em torno de 90◦ (Levison e Stern, 1995). No caso de Titã-Hipério, em que Titã está em uma ressonância 4:3 com Hipérion, de observações foi obtido que ϕ = 4λ′ - 3λ - �′ libra em torno de 180◦. A conjunção entre os dois satélites libra em torno do apocentro de Hipério. 4.2.2 Caos O fenômeno conhecido como caos pode ser detectado em vários sistema dinâmicos, porém não há ainda uma definição universalmente aceita de caos (Murray e Dermott, 1999). Um sistema é dito determinı́stico quando o seu estado atual permite definir as condições de seus estados passado e futuro conhecendo todas as forças que agem sobre ele, ou seja, dado um estado inicial e as equações que descrevem tal sistema é possı́vel calcular a configuração do 48 sistema em qualquer instante de tempo. Em um sistema caótico existe uma dependência em relação as condições iniciais, que faz com que um mesmo sistema com duas condições iniciais próximas apresentem configurações bastante diferentes depois de um determinado perı́odo de tempo. Sistemas caóticos são caracterizados pela extrema sensibilidade às condições iniciais e pela imprevisibilidade a longo prazo. Um objeto no Sistema Solar exibe um movimento caótico se o seu estado dinâmico final é sensivelmente dependente do seu estado inicial (Murray e Dermott, 1999). O movimento caótico também pode ser originário da sobreposição de ressonâncias adja- centes. Considerando o caso do Problema Circular Restrito de 3-corpos em que temos dois corpos com massas se movendo em órbitas circulares e coplanares ao redor do centro de massa comum e uma partı́cula de massa negligenciável, de tal modo que a partı́cula não afeta as duas massas embora seja afetada por elas, de acordo com a teoria de perturbações ressonantes desen- volvida em Murray e Dermott (1999) na vizinhança de uma ressonância existe uma separatriz bem definida e uma largura máxima para a ressonância. Em primeira aproximação neste tra- balho é considerado um espaço de fase composto por uma sucessão de tais ressonâncias cada uma tratada isoladamente, assim são definidas expressões para o cálculo da largura máxima de libração de tais ressonâncias. Um exemplo são as ressonâncias interiores de primeira ordem da forma p + 1 : p. Cada ressonância tem uma separação bem definida em semi-eixo maior e conforme o perturbador se aproxima as separações entre ressonâncias adjacentes se tornam menores, chegando a um ponto onde elas começam a se sobrepor (Murray e Dermott, 1999). Utilizando o Problema Circular Restrito de 3-corpos Wisdom (1980) mostrou que para pe- quenas excentricidades (e ≤ 0, 15) da partı́cula o ponto de sobreposição de ressonâncias é alcançado quando: ssobrep ≈ 0, 51μ −2/7 2 (4.16) em que μ2 = m2 m1+m2 , m2 é a massa do perturbador secundário e m1 é a massa do corpo central. Murray e Dermott (1999) fornecem a separação em semi-eixo maior do satélite perturbador, utilizando a terceira Lei de Kepler, pela equação: Δasobrep ≈ 1, 3μ 2/7 2 a′ (4.17) em que a′ é o semi-eixo maior do perturbador. É esperado que partı́culas na região a′±Δasobrep estejam em órbitas caóticas, sendo removidas da região devido a encontros próximos com o 49 corpo perturbador. Utilizamos a equação (4.17) quando calculamos a localização aproximada dos limites das regiões de caos de Nix e Hidra. 4.2.3 Órbitas girino e ferradura O Problema Circular Restrito de 3-corpos não é integrável, porém é possı́vel encontrar soluções particulares distintas. Elas podem ser encontradas buscando por pontos onde a partı́cula tem velocidade e aceleração nulas em um sistema girante, estes pontos são chamados pontos de equilı́brio do sistema. Partı́culas de aneis, por exemplo, podem ser confinadas devido a perturbação de um satélite imerso no anel fazendo com que as partı́culas descrevam em um sistema girante uma órbita do tipo ferradura ou girino. Dermott e Murray (1981a,1981b) apresentaram um estudo da dinâmica de órbitas do tipo girino e ferradura para o Problema Restrito de 3-corpos circular e elı́ptico utilizando métodos analı́ticos e numéricos. Em Dermott e Murray (1981a) são descritas as propriedades gerais de órbitas girino e ferradura. Foi mostrado que a trajetória da partı́cula em um sistema girante está relacionada a forma da curva de velocidade zero associada (as curvas de velocidade zero delimitam regiões onde o movimento da partı́cula é excluı́do). As localizações dos pontos de equilı́brio foram mostradas por Murray e Dermott (1999) utilizando o Problema Circular Restrito de 3-corpos. Nesta seção apresentaremos considerações teóricas breves visando o entendimento da dinâmica de órbitas do tipo ferradura e girino. Considerando o movimento de uma partı́cula de massa negligenciável se movento sob os efeitos gravitacionais de dois corpos com massas m1 e m2 que estão em órbitas circulares ao redor de seu centro de massa comum e exercem uma força na partı́cula, a partı́cula não afeta as duas massas. No sistema de referência inercial ξ, η e ζ são os eixos do sistema centrado no centro de massa do sistema. O eixo ξ está ao longo de uma linha conectandom1 am2 no tempo t =0, η é perpendicular a ξ, e ζ é perpendicular ao plano ξ − η. Assume-se que m1 e m2 tem separação constante e mesma velocidade angular ao redor um do outro e do centro de massa comum, quem1 > m2 e μ = m2 m1+m2 , μ1 = Gm1= 1− μ e μ2 = Gm2 = μ. As equações do movimento da partı́cula são dadas por: ξ̈ = μ1 ξ1 − ξ r3 1 + μ2 ξ2 − ξ r3 2 (4.18) 50 η̈ = μ1 η1 − η r3 1 + μ2 η2 − η r3 2 (4.19) ζ̈ = μ1 ζ1 − ζ r3 1 + μ2 ζ2 − ζ r3 2 (4.20) em que r2 1 = (ξ1 − ξ)2 + (η1 − η)2 + (ζ1 − ζ)2 (4.21) r2 2 = (ξ2 − ξ)2 + (η2 − η)2 + (ζ2 − ζ)2 (4.22) A distância entre as duas massas é fixa (órbitas circulares) e a velocidade angular n (movi- mento médio) é fixa em torno do centro de massa, assim é interessante trabalharmos com um sistema girante (x, y, z) no qual as duas massas são fixas e o sistema gira no sentido anti-horário (positivo) a uma taxa constante n tendo a mesma origem do sistema inercial. No novo sistema as duas massas têm coordenadas (x1, y1, z1) = (−μ2, 0, 0) e (x2, y2, z2) = (μ1, 0, 0). Da equação (4.21) e (4.22) e das definições de μ1 e μ2 temos: r2 1 = (x + μ2) 2 + y2 + z2 (4.23) r2 2 = (x− μ1) 2 + y2 + z2 (4.24) (x, y, z) são as coordenadas da partı́cula no sistema girante. Através de matrizes de rotação é possı́vel relacionar os dois sistemas. No novo sistema as acelerações podem ser escritas como o gradiente de uma função escalar U : ẍ− 2nẏ = ∂U ∂x (4.25) ÿ + 2nẋ = ∂U ∂y (4.26) z̈ = ∂U ∂z (4.27) em que U = U(x, y, z) é dado da forma: U = n2 2 (x2 + y2) + μ1 r1 + μ2 r2 (4.28) 51 Vamos assumir que todo o movimento está confinado no plano x− y e n =1. Das equações (4.23) e (4.24) e usando o fato que μ1 + μ2 =1, U pode ser escrito da seguinte forma: U = μ1( 1 r1 + r2 1 2 ) + μ2( 1 r2 + r2 2 2 )− 1 2 μ1μ2 (4.29) Para determinar as localizações dos pontos de equilı́brio devemos resolver as equações: ∂U ∂x = 0 (4.30) ∂U ∂y = 0 (4.31) usando U = U(r1, r2) dada em (4.29). Após a resolução das derivadas parcias obtém-se que r1 = r2 = 1 no sistema de unidades considerado. Das equações (4.23) e (4.24), obtém-se: x = 1 2 − μ2 (4.32) y = ± √ 3 2 (4.33) Temos que r1 = r2 = 1, logo cada um desses pontos denifidos pelas equações formam um triângulo equilátero com massas μ1 e μ2, sendo chamados de pontos de equilı́brio Lagrangianos triangulares (L4 e L5). Para y = 0 outra solução é obtida implicando que os pontos de equilı́brio estão dispostos no eixo x, estes são chamados pontos de equilı́brio lagrangianos colineares (L1, L2 e L3). Além da determinação da quantidade de pontos de equilı́brio existentes em um sistema, também é importante determinar a estabilidade dos mesmos. A verificação da estabilidade dos pontos é feita analisando o movimento de uma partı́cula considerando um pequeno deslo- camento de um ponto de equilı́brio, através da linearização das equações do movimento. A solução geral das componentes dos vetores velocidade e posição relativos ao ponto de equilı́brio envolvem uma combinação linear de termos da forma eλjt, sendo λ um autovalor complexo. Para os pontos triangulares os autovalores são puramente imaginários o que resulta num movi- mento da partı́cula oscilatório, ela permanece na vizinhança do ponto de equilı́brio e o movi- mento é estável para μ2 ≤ 0,0385 (Murray e Dermott, 1999). Para os pontos colineares os au- tovalores tem parte real e parte imaginária, assim há um crescimento exponencial nas variáveis X, Y, Ẋ e Ẏ (X , Y denotam os pequenos deslocamentos) resultando nummovimento da partı́cula se afastando do ponto de equilı́brio e no ponto ser linearmente instável. 52 Um esquema mostrando a localização dos pontos de equilı́brio é mostrado na figura (4.1) em que L4 e L5 são pontos de equilı́brio estáveis e L1, L2 e L3 pontos de equilı́brio instáveis. Figura 4.1: Localização dos pontos de equilı́brio lagrangianos, L1, L2, L3, L4 e L5 em relação as massas μ1 e μ2. Uma órbita é chamada de girino devido ao seu formato alongado ao redor dos pontos de equilı́brio estáveis L4 e L5, e chamada de ferradura quando engloba os pontos L3, L4 e L5. Esses formatos são visı́veis em um sistema rotacional. Em um sistema rotacional a partı́cula libra em torno de 60◦ ou 300◦ (órbita girino) ou em torno de 180◦ (órbita ferradura). A largura da região de órbitas de ferradura depende da razão de massa entre as massas do satélite e do planeta (μ) e do semi-eixo maior do satélite (asat). Dermott e Murray (1981a) fornecem a largura radial da região de ferradura dada pela equação: δr ≈ 0, 5μ1/3asat (4.34) Nix e Hidra possuem órbitas excêntricas, utilizando a equação (4.34) podemos calcular uma aproximação para a largura da região de ferradura desses corpos. Assim obtemos: Whs(Nix) = 1.680km (4.35) Whs(Hidra) = 1.826km (4.36) Os limites para a região coorbital são asat ± δr. 53 4.3 Resultados 4.3.1 Órbitas prógradas Nosso sistema é formado por 5 corpos: Plutão (corpo central), Caronte, Nix e Hidra (cor- pos massivos) e partı́cula-teste. Realizamos as integrações numéricas utilizando o integrador Bulirsch-Stoer (Chambers, 1999). A distância Plutão-Caronte d foi tomada como unidade de distância, o plano orbital dos primários foi considerado o plano de referência e a linha que os conecta em t = 0 define um eixo de referência x. A razão de massa adotada μ = m2/(m1+m2)=0,1166 (Tholen et al., 2008), sendo m1 a massa de Plutão e m2 a massa de Caronte. As condições iniciais de Plutão, Caronte, Nix e Hidra foram extraı́das das tabelas (3.1) e (3.2). Variamos os elementos orbitais iniciais das partı́culas testes da seguinte maneira: • o semi-eixo maior a, medido em relação ao baricentro do sistema, assumiu valores de ∼2d (40.000 km) a ∼5d (100.000 km), com passo Δa=0,005d, em que d = 19.570,3 km; • a excentricidade e assumiu valores de 0,0 a 0,20 com passoΔe = 0,05; • assumimos que a linha dos nodos do plano orbital das partı́culas teste coincide com o eixo x no tempo t = 0, logo Ω = 0◦; • valores de ω foram escolhidos aleatoriamente entre 0◦ e 360◦, f = 0◦ (anomalia ver- dadeira); • I = 0◦ em relação ao plano orbital de Plutão-Caronte. O sistema formado por Plutão, Caronte, Nix, Hidra e partı́culas foi integrado numericamente por um perı́odo de∼105 perı́odos do binário (TP−C), ou 650.000 dias, com saı́da a cada 10.000 dias. No total foram integradas numericamente 303.505 partı́culas. A distância de ejeção ado- tada foi 10d ou ∼200.000 km de Plutão, quando a distância da partı́cula a Plutão é maior que esse valor uma ejeção é detectada. Quando a distância entre a partı́cula e um satélite ou entre a partı́cula e o corpo central é menor que o raio desses corpos, uma colisão é detectada. No caso de colisão e ejeção a partı́cula é removida do sistema e as coordenadas de posição e ve- locidade são armazenadas. Os elementos orbitais acima referem-se a um sistema de referência baricêntrico, em que a massa do baricentro é dada pela massa de Plutão somada a massa de Caronte (mP +mC). 54 Realizamos integrações numéricas com a de 40.000 km a 100.000 km, pois resultados ante- riores (Stern et al., 1994 e Nagy et al., 2006) mostraram que interações dinâmicas com Caronte tornam as órbitas das partı́culas com a <42.000 km instáveis. Além disso, o nosso objetivo é analisar as regiões de órbitas estáveis externas, próximas a Nix e Hidra. Optamos por obter aleatoriamente um conjunto de 101 valores para o argumento do pericentro das partı́culas teste, de modo que ficasse mais clara a visualização dos efeitos sofridos quando elas estivessem lo- calizadas próximas ou nas posições de ressonância. Logo, para cada valor de a e e tı́nhamos um pequeno conjunto de partı́culas. Como dissemos anteriormente, no pacote Mercury a integração numérica é realizada em relação a um referencial plutocêntrico, portanto através de um programa escrito em linguagem C, transformamos os elementos orbitais das partı́culas em um referencial baricêntrico para co- ordenadas de posição e velocidade no mesmo referencial. A seguir as coordenadas de posição e velocidade foram transladadas do referencial baricêntrico para um referencial plutocêntrico. Uma lista com estas coordenadas de posição e velocidade foi criada no arquivo small.in do pacote Mercury. Após realizadas as integrações numéricas, transformamos as coordenadas de posição e velocidade das partı́culas e de Nix e Hidra dos arquivos de saı́da em elementos orbitais em relação ao baricentro. A figura (4.2) apresenta o semi-eixo maior em função da excentricidade para todas as partı́culas no tempo inicial (t = 0). Partı́culas com semi-eixo maior inicial entre 40.000 km e 60.000 km estão em vermelho, entre 60.000 km e 80.000 km estão em verde e entre 80.000 km e 100.000 km estão em azul. 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 2x104 3x104 4x104 5x104 6x104 7x104 8x104 9x104 1x105 ex ce nt ric id ad e semi-eixo maior (km) Figura 4.2: Semi-eixo maior (km) em função da excentricidade para o conjunto de partı́culas no tempo inicial t=0. Nix e Hidra são indicados por pequenos quadrados pretos em 49.240 km e 65.210 km, respectivamente. 55 A seguir apresentamos as grades (a-e) obtidas para ∼103TP−C (figura 4.3), ∼104TP−C (figura 4.4) e ∼105TP−C (figura 4.5). 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45 0.5 4x104 5x104 6x104 7x104 8x104 9x104 1x105 6: 5 5: 4 3: 2 2: 1 5: 2 ex ce nt ric id ad e semi-eixo maior (km) 3: 2 5: 4 6: 5 2: 3 6: 7 8: 5 9: 7 8: 7 9: 8 7: 5 11 :8 10 :7 4: 5 5: 6 7: 6 4: 3 Figura 4.3: Semi-eixo maior (km) em função da excentricidade por um perı́odo de ∼103TP−C (10.000 dias). Nix e Hidra são indicados por pequenos quadrados pretos em 49.240 km e 65.210 km, respectivamente. A localização aproximada dos semi-eixo maiores ressonantes entre partı́cula-satélite Nix (parte superior) ou Hidra (parte inferior) são indicadas por retas verticais tracejadas. As retas em preto são uma aproximação do limite da região de caos. Na tabela (4.1) apresentamos as taxas de ejeção e colisão entre as partı́culas e os corpos massivos. 56 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45 0.5 4x104 5x104 6x104 7x104 8x104 9x104 1x105 6: 5 5: 4 3: 2 2: 1 5: 2 ex ce nt ric id ad e semi-eixo maior (km) 3: 2 5: 4 6: 5 2: 3 6: 7 8: 5 9: 7 8: 7 9: 8 7: 5 11 :8 10 :7 4: 5 5: 6 7: 6 4: 3 Figura 4.4: Semi-eixo maior (km) em função da excentricidade por um perı́odo de ∼104TP−C (70.000 dias). Nix e Hidra são indicados por pequenos quadrados pretos em 49.240 km e 65.210 km, respectivamente. A localização aproximada dos semi-eixo maiores ressonantes entre partı́cula-satélite Nix (parte superior) ou Hidra (parte inferior) são indicadas por retas verticais tracejadas. As retas em preto são uma aproximação do limite da região de caos. 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45 0.5 4x104 5x104 6x104 7x104 8x104 9x104 1x105 6: 5 5: 4 3: 2 2: 1 5: 2 ex ce nt ric id ad e semi-eixo maior (km) 3: 2 5: 4 6: 5 2: 3 6: 7 8: 5 9: 7 8: 7 9: 8 7: 5 11 :8 10 :7 4: 5 5: 6 7: 6 4: 3 Figura 4.5: Semi-eixo maior (km) em função da excentricidade por um perı́odo de ∼105TP−C (650.000 dias). Nix e Hidra são indicados por pequenos quadrados pretos em 49.240 km e 65.210 km, respectivamente. A localização aproximada dos semi-eixomaiores ressonantes entre partı́cula-satélite Nix (parte superior) ou Hidra (parte inferior) são indicadas por retas verticais tracejadas. As retas em preto são uma aproximação do limite da região de caos. 57 Plutão Caronte Nix Hidra Total colisão 0,70% 1,07% 7,39% 7,11% 16,27% ejeção - - - - 32,74% total 49,02% Tabela 4.1: Taxas de ejeção e colisão entre as partı́culas e os corpos massivos para o tempo final de integração, 650.000 dias. Aproximadamente 51% das partı́culas “sobreviveram” até o tempo final de integração, sendo que a maior parte das partı́culas que sobreviveram são indicadas nos gráficos por pontos em azul, após a órbita de Hidra, como pode ser verificado pelos valores das taxas de ejeção e co- lisão com os corpos massivos do sistema em função da localização inicial da partı́cula na tabela (4.2). Partı́culas com semi-eixo maior inicial entre 40.000 km e 60.000 km (em vermelho) con- stituem o conjunto 1, entre 60.000 km e 80.000 km (em verde) constituem o conjunto 2 e entre 80.000 km e 100.000 km (em azul) constituem o conjunto 3. conj. 1 conj. 2 conj. 3 colisão-Nix 17,18% colisão-Hidra 15,81% colisão-Hidra 0,84% colisão-outros corpos 9,17% colisão-outros corpos 5,49% colisão-outros corpos 0,30% ejeção 63,69% ejeção 32,67% ejeção 1,70% total 90,03% total 53,97% total 2,85% Tabela 4.2: Taxas de ejeção e colisão entre as partı́culas e os corpos massivos do sistema de Plutão para o tempo final de integração, 650.000 dias. Nas grades (a-e) é possı́vel ver os efeitos de Nix e e Hidra nas partı́culas. Os satélites “limpam” a região em torno deles, permanecendo somente partı́culas com semi-eixo maior próximo aos dos satélites (“coorbitais”) e com baixas excentricidades. Também vemos os efeitos causados nas partı́culas, aumento das excentricidades, quando estas tem um semi-eixo maior inicial próximo a uma ressonância p + q : q em que q é a ordem da ressonância, dada pela fórmula para o corpo interno (Murray e Dermott, 1999): a = ( p p + q )2/3a′ (4.37) em que a′ é o semi-eixo maior do satélite, sendo similar para o corpo externo: 58 a = ( p + q p )2/3a′ (4.38) Para calcular as localizações dos semi-eixo maiores ressonantes entre partı́cula-satélite (Nix e Hidra) escrevemos um programa em C que nos forneceu esses valores utilizando as equações (4.37) e (4.38) para diferentes valores de q. Pela análise das figuras (4.3), (4.4) e (4.5) vemos que as interações gravitacionais das partı́culas-teste com os corpos massivos do sistema podem causar um aumento na excentri- cidade e no semi-eixo maior destes pequenos corpos. Desta forma, estes corpos podem ser ejetados, colidir com Plutão ou com os seus satélites, ou ainda devido ao tempo de integração não ser suficiente para que umas das duas opções anteriores ocorra, como pode ser verificado nas figuras (4.3) e (4.4), os pequenos corpos podem ser espalhados pela região 1 (interior à órbita de Nix) e 2 (entre as órbitas de Nix e Hidra) se movendo em direção a região mais ex- terna do sistema. Em torno dos satélites Nix e Hidra foram identificadas regiões caóticas, os limites inferiores e exteriores dessas regiões são: a = 45.698 km e a = 52.781 km para Nix, e a = 61.253 km e a = 69.167 km para Hidra, respectivamente, para e = 0. As regiões de caos aumentam à medida que a excentricidade aumenta. Essas regiões têm a largura radial calculada através da equação (4.39) (Murray e Dermott, 1999). Δasobrep = 1, 3μ2/7a′ (4.39) em que a′ é o semi-eixo maior do perturbador, μ = m