UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS CÂMPUS DE JABOTICABAL CONTAGEM DE MASTÓCITOS DÉRMICOS EM BOVINOS F2 MESTIÇOS HOLANDÊS HPB x GIR INFESTADOS ARTIFICIALMENTE COM CARRAPATOS Boophilus microplus (ACARI:IXODIDAE) Jair Rodini Engracia Filho Orientador: Prof. Dr. Gervásio Henrique Bechara Tese apresentada à Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – Unesp, Câmpus de Jaboticabal, como parte das exigências para a obtenção do título de Doutor em Medicina Veterinária – Área de Concentração em Patologia Animal JABOTICABAL – SÃO PAULO - BRASIL Fevereiro de 2005 Engracia Filho, Jair Rodini E58c Contagem de mastócitos dérmicos em bovinos F2 mestiços Holandês HPB x Gir infestados artificialmente com carrapatos Boophilus microplus (ACARI:IXODIDAE) / Jair Rodini Engracia Filho. – – Jaboticabal, 2005 xi, 110 f. : il. ; 28 cm Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, 2005 Orientador: Gervásio Henrique Bechara Banca examinadora: Matias Pablo Juan Szabó, Hélio José Montassier, Beatriz Rosseti Ferreira, Isabel Kinney Ferreira de Miranda Santos Bibliografia 1. Mastócitos. 2. Boophilus microplus. 3. Bovinos. I. Título. II. Jaboticabal-Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias. CDU 619:616-091.8:636.2 Ficha catalográfica elaborada pela Seção Técnica de Aquisição e Tratamento da Informação – Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação - UNESP, Câmpus de Jaboticabal. II DADOS CURRICULARES DO AUTOR Jair Rodini Engracia Filho – nascido em Orlândia, São Paulo a seis de agosto de 1972, RG – 21.676.906, CPF – 138.777.138-82, Título de eleitor – 180.3212.301-41 e CRMV-SP 10.183. Filho de Jair Rodini Engracia e Wilma Solera Engracia, casado com Juliana Franco Gracioli Engracia e pai de Maria Júlia Gracioli Engracia. Concluiu o curso de 1º grau na E.E.P.G. “Coronel Francisco Orlando” - Orlândia, SP- 1986. A conclusão do 2º grau, em 1989, deu-se em Ribeirão Preto-SP, no Colégio e Curso Oswaldo Cruz. Ingressou no curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia em 1991, cursando somente o 1º semestre do curso e trancando matrícula por ter sido aprovado no curso de Medicina Veterinária da FCAV/UNESP - Jaboticabal em fevereiro de 1992, o qual foi concluído em dezembro de 1996. Durante o curso foi bolsista PIBIC/CNPq por duas vezes. Em 1997 trabalhou como médico veterinário autônomo na Clínica Veterinária Quatro Patas, Ribeirão Preto-SP. Em março de 1998 iniciou curso de Mestrado em Patologia Animal da FCAV/UNESP, sob orientação do Prof. Dr. Alvimar José da Costa, atuando também como pesquisador do Centro de Pesquisas em Sanidade Animal (CPPAR). O Título de Mestre foi obtido em janeiro de 2001 com a dissertação “Aspectos biológicos, fisiopatológicos e terapêuticos na toxoplasmose experimental em coelhas gestantes”, a qual foi aprovada com distinção e louvor. Em março de 2001 iniciou o Doutoramento, sob orientação do Prof. Dr. Gervásio Henrique Bechara, no curso de Pós-graduação em Medicina Veterinária. Atua desde fevereiro de 2000 como professor adjunto das disciplinas de Anatomia Patológica Geral e Especial do curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário Barão de Mauá – Ribeirão Preto, SP, onde também é coordenador de estágio curricular e responsável técnico do Biotério Central. III "...Quero ser o homem que sou, ... Mas dizendo a verdade, somente a verdade... ...Esse gênio esboçado, essa criança louca, esse filho da dor, Que foi capaz de erguer do lodo Uma voz rouca e um canto de amor. Enquanto geme e chora, mata e mente, acusa e defende Deixa ficar para trás, na sua jornada, uma canção de glória!!...” (Raul Seixas) IV Ofereço À minha esposa JULIANA e minha filha MARIA JÚLIA, razões da minha alegria e força de viver, estímulos inesgotáveis para que eu nunca desistisse desta difícil caminhada. V Dedico Aos meus pais, JAIR e WILMA, pela força e apoio incondicionais durante toda minha vida acadêmica e, especialmente, durante o desenvolvimento desta tese. Ao Prof. Dr. Gervásio Henrique Bechara, pelo exemplo de profissionalismo, amizade, bom humor, paciência, compreensão, serenidade e bom gosto musical. VI AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus pelo dom da vida e pelo privilégio de ter a chance de obter o título de Doutor; Agradeço imensamente ao meu orientador Prof. Dr. Gervásio Henrique Bechara pela orientação acadêmica e por tudo que fez para que eu conseguisse chegar até aqui; Ao Dr. Roberto Luiz Teodoro, em nome de toda equipe da Embrapa Gado de Leite, pela disponibilização das informações e materiais do projeto “Marcadores”, pela colheita e envio das biópsias e pelas dicas e orientações preciosas; À grande amiga e “chefa” Profª. Drª Adriana Coelho de Souza, pelo apoio incomensurável, compreensão e conivência durante todo meu período de doutoramento; Aos meus tios e mentores Prof. Dr. Flávio Ruas de Moraes e Profª Drª Julieta Rodini Engracia de Moraes; Ao Prof. Dr. Matias Pablo Juan Szabó e Profª Drª Rosângela Zacarias Machado pelas orientações e dicas, principalmente no obscuro mundo da imunopatologia; Aos Professores Áureo Evangelista Santana e Gilson Pereira de Oliveira pelas valiosas sugestões e correções deste trabalho; Ao amigo e estatístico Dr. Vando Edésio Soares pela contribuição na análise estatística do experimento; A todos os professores e funcionários do Departamento de Patologia Veterinária da FCAV; VII Aos professores Paulo Francischini (Cocão) e Mario Roberto Hatayde (Pitanga) pela confiança, amizade e oportunidades oferecidas. Aos grandes amigos de pós-graduação, república e aos dinossauros que restaram em Jaboticabal nos últimos anos: Anderson, Stanley, Lepra, Ratão, Nara, Guilhermão, Guilherme (Homer), Nilson, Gugula, Patrícia, Rafael e tantos outros que não caberiam aqui mas estão guardados no coração... Ao U2 Boy Cover, ao Banzé e ao Kama Sutra pelos momentos inesquecíveis, tocando boa música e fazendo a vida valer a pena; Ao Ozzy e à Black, por me ensinarem o valor do amor incondicional; À Juliana por ter me dado a Maria Júlia, maior presente da minha vida! vii SUMÁRIO Página RESUMO ................................................................................................................. x ABSTRACT .............................................................................................................. xi I. INTRODUÇÃO E REVISÃO DE LITERATURA ................................................... 1 1. O carrapato Boophilus microplus....................................................................... 1 2. Importância econômica e sanitária das infestações por B. microplus............... 2 3. O controle do B. microplus................................................................................ 4 4. Seleção de raças resistentes............................................................................. 5 5. Mecanismos de parasitismo dos ixodídeos....................................................... 8 6. Resistência do bovino ao B. microplus.............................................................. 10 7. Mecanismos celulares envolvidos na resistência a carrapatos......................... 13 8. Aspectos morfofuncionais de eosinófilos........................................................... 17 9. Aspectos morfofuncionais de basófilos............................................................. 18 10. Aspectos morfofuncionais de mastócitos......................................................... 19 II. OBJETIVOS......................................................................................................... 23 1. Geral.................................................................................................................. 23 2. Específicos........................................................................................................ 23 III. MATERIAL E MÉTODOS.................................................................................... 24 1. Hospedeiros....................................................................................................... 24 2. Parasitas............................................................................................................ 25 3. Infestação artificial............................................................................................. 25 4. Avaliação da carga parasitária.......................................................................... 26 5. Colheita de material para histopatologia........................................................... 26 6. Histopatologia.................................................................................................... 28 6.1. processamento histológico........................................................................ 28 6.2. Avaliação dos aspectos histopatológicos gerais....................................... 28 6.3. Contagem diferencial de células inflamatórias.......................................... 28 6.4. Avaliação da população mastocitária em derme não-inflamada............... 30 7. Análise estatística.............................................................................................. 30 viii 7.1. Contagens de carrapatos.......................................................................... 30 7.2. Avaliação do efeito da infestação artificial na população de mastócitos dérmicos.................................................................................................... 30 7.3. Comparação do número de mastócitos entre os animais com altas e baixas infestações..................................................................................... 31 7.4. Avaliação da correlação entre idade e grau de infestação dos hospedeiros............................................................................................... 31 7.5. Avaliação da correlação entre idade e população de mastócitos em derme não-inflamada................................................................................. 31 7.6. Avaliação da correlação entre número de mastócitos cutâneos e grau de infestação dos hospedeiros.................................................................. 32 7.7. Comparação do número de mastócitos entre os animais pertencentes às gerações Fo, F1 e F2............................................................................... 32 IV. RESULTADOS................................................................................................... 33 1. Infestação artificial com larvas de B. microplus................................................. 33 1.1. Contagens de carrapatos.......................................................................... 33 1.2. Avaliação da influência da sozonalidade no grau de infestação por carrapatos................................................................................................... 36 1.3. Avaliação da correlação entre idade dos hospedeiros e grau de infestação por B. microplus..................................................................... 37 2. Amostras de pele, colhidas de bovinos mestiços F2 HPB x Gir após infestação artificial, com presença de sítio de fixação de carrapatos............... 38 2.1. Aspectos histopatológicos gerais.............................................................. 38 2.2. Contagem diferencial de células inflamatórias no sítio de fixação e avaliação da correlação com o grau de infestação por carrapatos........... 41 3. Amostras de pele não-inflamada de bovinos mestiços F2 HPB x Gir colhidas antes e após infestação artificial com carrapatos............................................. 44 3.1. Aspectos histopatológicos gerais.............................................................. 44 3.2. Avaliação do efeito da infestação artificial no número de mastócitos em bovinos mestiços F2 HPB x Gir................................................................... 46 3.3. Comparação de número de mastócitos dérmicos entre animais resistentes e susceptíveis........................................................................... 48 ix 3.4. Avaliação da correlação entre idade e número de mastócitos cutâneos em animais artificialmente infestados com carrapatos................................ 50 3.5. Avaliação da correlação entre número de carrapatos e número de mastócitos cutâneos.................................................................................... 52 4. Comparação do número de mastócitos cutâneos entre animais F0,, F1 e F2.... 54 V. DISCUSSÃO........................................................................................................ 55 VI. CONCLUSÕES................................................................................................... 68 VII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................... 69 APÊNDICES............................................................................................................. 88 Apêndice A: Contagem diferencial de células inflamatórias no sítio de fixação e avaliação da correlação com o grau de infestação por carrapatos......................................................................................... 89 Apêndice B: Avaliação do efeito da infestação artificial no número de mastócitos em bovinos mestiços F2 HPB x Gir............................. 92 Apêndice C : Comparação de número de mastócitos dérmicos entre animais resistentes e susceptíveis............................................................... 105 Apêndice D : Comparação do número de mastócitos cutâneos entre animais F0, F1 e F2....................................................................................... 109 x CONTAGEM DE MASTÓCITOS DÉRMICOS EM BOVINOS F2 MESTIÇOS HOLANDÊS HPB x GIR INFESTADOS ARTIFICIALMENTE COM CARRAPATOS Boophilus microplus (ACARI:IXODIDAE) RESUMO - Este trabalho teve como objetivo avaliar a resposta cutânea e a correlação entre contagens de carrapatos e número de mastócitos em pele de bovinos artificialmente infestados. Para tanto, 148 animais F2 provenientes de animais F1 Holandês x Gir, foram infestados artificialmente com 1,0 x 104 larvas de B. microplus por animal e, após 21 dias, foi realizada contagem de carrapatos. Antes da infestação e 21 dias após, foram colhidos fragmentos da pele, os quais foram fixados, processados e corados com May-Grünwald & Giemsa e H.E. Os mastócitos cutâneos dos bovinos F0 (Gir puros), F1 e F2 foram contados em microscópio de luz com retículo ocular quadriculado e objetiva de 40x na derme superficial e profunda, além disso, foram feitas contagens globais de células no sítio de fixação. Os valores obtidos mostraram que a infestação artificial induziu aumento significativo no número de mastócitos na derme de bovinos F2, e que este aumento foi acompanhado por intensa infiltrado de eosinófilos. O exame histopatológico do sítio de fixação dos carrapatos mostrou alterações gerais semelhantes às observadas por outros autores em períodos mais curtos de fixação. A contagem diferencial de células mostrou que houve predomínio de eosinófilos, neutrófilos e mononucleares e que houve significativa correlação negativa entre mastócitos e basófilos e entre mastócitos e neutrófilos. Correlação significativa entre número de carrapatos e contagem de mastócitos só foi observada na derme superficial, após infestação artificial. Também houve correlação altamente significativa entre idade e número de mastócitos. As populações mastocitárias de animais Gir puros e mestiços F1 e F2 não mostraram diferença significativa. Palavras-chave: Boophilus microplus, gir, holandês, mastócitos, resposta cutânea xi DERMAL MAST CELLS COUNTS IN F2 HOLSTEIN x GIR CROSSBRED CATTLE ARTIFICIALLY INFESTED WITH Boophilus microplus TICK (ACARI:IXODIDAE) SUMMARY - This work had as objective to evaluate the cutaneous response and the correlation between tick infestation and mast cells number in the skin of artificially infested bovines. For this purpose, 148 bovines F2 crossbred Holstein x Gir cattle, were artificially infested with 1,0 x 104 B. microplus larvae and, after 21 days, ticks attached were counted. Before the infestation (B.I.) and 21 days after (A.I.), biopsies of the skin were harvested, fixed, processed and stained with May-Grünwald & Giemsa and H.E. Dermal mast cells of F0 (pure Gir), F1 and F2 crossbred cattle were counted under light microscopy with square-lined ocular reticulum and 40x objective in the superficial and deep dermis. Diferencial inflammatory cells countings of the tick attachment site were also done. The data obtained showed that artificial infestation induced a significant increase in the mast cell number in the dermis of F2 cattle, and that this increase was followed by intense eosinophils infiltration. The histopatological evaluation of the tick feeding sites 21 days A.I. showed general alterations similar to that observed by other authors in shorter periods of tick feeding and, the diferencial cells counts showed a negative correlation between mast cells and basophils and between mast cells and neutrophils. Significant correlation between tick number and mast cells counts were observed in the upper dermis after artificial tick infestation. A correlation was also detected between age and mast cells numbers. No significant differences in the mast cell populations of pure Gir and F1 and F2 crossbred cattle were observed. Keywords: Boophilus microplus, gir, holstein, mast cell, cutaneous response 1 I. INTRODUÇÃO E REVISÃO DE LITERATURA 1. O carrapato Boophilus microplus O Boophilus microplus é um ectoparasito pertencente à família IXODIDAE, que tem na espécie bovina seu hospedeiro preferencial. Recentemente sugeriu-se que o gênero Boophilus seja parafilético ao gênero Rhipicephalus, devendo o primeiro ser classificado como subgênero do Rhipicephalus. Segundo esta mudança de nomenclatura, seria mantido o Boophilus conhecido no uso comum, ou seja, o Rhipicephalus (Boophilus) microplus poderá continuar a ser nomeado como B. microplus, mas a nomenclatura deverá mudar no futuro para refletir novos conhecimentos da filogenia e a evolução destes carrapatos (BARKER & MURREL, 2002). Originário da Ásia, principalmente da Índia e Ilha de Java, sua expansão se deu a partir do século XV com o trânsito de animais e mercadorias nas expedições exploradoras européias. Atualmente, o B. microplus é encontrado na Ásia, Austrália, México, América Central, América do Sul e África, ou seja, praticamente todos os países compreendidos entre os paralelos 32 de Latitude Norte e 25 de Latitude Sul (FREITAS, 1982). A introdução deste em território brasileiro se deu, provavelmente, no Rio Grande do Sul por meio de bovinos oriundos do Chile no início do século XVII (THIESEN, 1979 citado por GOMES, 1998). O carrapato B. microplus é um parasita monoxeno, ou seja, possui um único hospedeiro em seu ciclo evolutivo. Há uma divisão nítida de seu ciclo em uma fase parasitária que se realiza no corpo do hospedeiro e uma fase de vida livre desenvolvida na cobertura vegetal. Na região central do Brasil, segundo Furlong (1993), na fase de vida livre são necessários em torno de três dias para a pré-postura; de 21 a 42 dias para a postura; 22 a 30 dias para a eclosão das larvas e de dois a três dias para o fortalecimento de suas cutículas, transformando-as em larvas infestantes. Na fase parasitária são 2 necessários, em média, de 18 a 26 dias para a fixação, alimentação, troca de cutícula, fase adulta e acasalamento, assim como para a alimentação, ingurgitamento e queda das fêmeas. De modo geral, o início e o término deste ciclo se dão quase sempre no pasto, onde se integram o parasito, o hospedeiro e o meio ambiente (GOMES, 1998). A fase parasitária pode ser delimitada em seu início pela fixação das larvas em um hospedeiro susceptível. Neste período não há influência das condições externas, sendo então as condições do próprio hospedeiro que ocupam papel preponderante no desenvolvimento dos carrapatos. É na fase de vida parasitária que ocorre a cópula, bem como as mudanças de estádios. O término desta fase é marcado pelo momento em que os parasitas adultos, principalmente as fêmeas fecundadas e ingurgitadas, desprendem-se do hospedeiro e caem ao solo para sua oviposição (GOMES, 1998). 2. Importância econômica e sanitária das infestações por B. microplus O Brasil possui o maior rebanho comercial de bovinos do mundo com aproximadamente 170 milhões de cabeças (BRASIL, 2003), sendo que cerca de 18% é destinado à bovinocultura de leite e o restante à atividade de corte. Somadas, representam 50% do PIB agropecuário do Brasil (INDICADORES RURAIS, 2001). O carrapato-do-boi é, sem dúvida, o ectoparasito de maior impacto econômico na pecuária de leite e corte nacional, por ocasionar um prejuízo anual estimado em 2 bilhões de dólares, segundo Grisi et al. (2002). Horn (1988) descreve um gasto anual de 13,8 milhões de dólares somente com acaricidas, o que representaria 15% do gasto total do país com defensivos na agropecuária. Tais prejuízos devem-se a diferentes fatores relativos à biologia e aos aspectos parasitários do B. microplus. O carrapato atua como vetor de bioagentes patogênicos como os protozoários Babesia bovis e Babesia bigemina e a riquétsia Anaplasma marginale (PATARROYO, 1994), conhecidos causadores da chamada Tristeza Parasitária Bovina (TPB), uma das doenças mais importantes da bovinocultura 3 brasileira. Mais recentemente, comprovou-se a participação do carrapato na transmissão da Theileria equi (GUIMARÃES et al., 1998). No processo de fixação e ingurgitamento do carrapato, há a inoculação de diferentes toxinas no hospedeiro, promovendo alterações fisiológicas que podem levar à inapetência e interferir na síntese protéica (GOMES, 1998). Componentes da saliva do carrapato, tais como inibidores de prostaglandinas e outros moduladores da resposta inflamatória, são inoculados, podendo provocar reações de hipersensibilidade, paralisia de membros ou até hipotrofia testicular (SAUER et al., 1995). Estima-se que cada teleógina é responsável pela queda de produção de 8,9 mL de leite e de 1g de peso corporal do hospedeiro, diariamente (JONSSON et al., 1998). Holroyd et al. (1987) observaram que, em um período de três anos, animais que não foram parasitados por carrapatos tiveram um ganho de peso 17 Kg maior do que aqueles expostos ao parasita. No mesmo sentido, Furlong et al. (1996) observaram, em infestações crescentes sucessivas, decréscimo na produção leiteira. As soluções de continuidade causadas pela fixação do carrapato em seu hospedeiro tornam-se portas de entrada para infecções bacterianas e miíases. Ademais, no processo de fixação, o carrapato provoca lesões na pele do animal, responsáveis pela depreciação do couro quando do seu beneficiamento nos curtumes. De fato, os prejuízos causados pela ação mecânica do carrapato são de grande importância em regiões de tradição em produção coureira (SAUER et al., 1995). Neste sentido, os produtores brasileiros de couro cru deixaram de ganhar e transferir ao setor pecuário, cerca de 500 milhões de dólares por ano entre 1986 e 1995 (PROGRAMA, 2004). Além dos danos diretos supracitados, há que se considerar as perdas indiretas causadas pelos carrapatos, representadas pelos gastos com mão-de-obra, medicamentos, construções e medidas preventivas necessárias no combate ao ectoparasito. (GOMES, 1998). 4 3. O controle do B. microplus A natureza dispõe de mecanismos que limitam o parasitismo visando um equilíbrio na relação hospedeiro-parasita. Do ponto de vista biológico, o parasitismo é uma relação natural entre dois ou mais organismos vivos, de forma que a imunidade do hospedeiro e o escape desta vigilância pelo parasita são fenômenos relativos que existem de forma equilibrada e tensa (BLOOM, 1979). O grau de parasitismo é dependente da patogenicidade do parasita e da imunidade inata e adquirida do hospedeiro. O equilíbrio destas duas forças, permitindo que haja a espoliação, mas não a morte do hospedeiro e a proteção deste sem a exterminação do parasita, é a forma de parasitismo encontrada em ambientes naturalmente equilibrados. O homem alterou totalmente esta relação de parasitismo na natureza por meio de diversas intervenções, tais como alterações drásticas no meio-ambiente e na distribuição geográfica das populações de hospedeiros e de parasitas; criação de habitats artificiais não equilibrados; propagação da idéia antropocêntrica de que o parasitismo é patológico e seu maior favorecimento para o desenvolvimento de amostras resistentes a acaricidas devido ao controle negligente das infestações. Segundo Tatchell (1987), populações seriamente infestadas só são possíveis sob interferência humana. Destarte, um ambiente que foi alterado por mãos humanas necessitará, inexoravelmente, da intervenção do homem para poder, pelo menos, aproximar-se do quadro de equilíbrio na relação hospedeiro-parasita. As condições de parasitismo do B. microplus na pecuária da América Latina, assim como de outras regiões do planeta, são de total artificialidade, uma vez que carrapatos e bovinos ocupam “habitats” que não lhes são naturais, o que leva à inexistência de equilíbrio na relação hospedeiro-parasita. Assim sendo, o controle das infestações por B. microplus é imprescindível e totalmente dependente da ação humana. Segundo Rocha (1984), bovinos susceptíveis, como os taurinos, não sobrevivem se não houver controle da infestação por B. microplus. O combate ao carrapato-do-boi deve se basear na aplicação de métodos racionais de controle visando um baixo nível de parasitismo, indispensável à premunição contra os agentes da TPB, mas não prejudicial à saúde do hospedeiro 5 (MORELLI JÚNIOR., 2000). Atualmente, o seu controle, que na maioria dos casos é feito com acaricidas químicos, tem se complicado em função do aumento na freqüência do surgimento de amostras resistentes aos princípios ativos utilizados (MURAKAMI & SILVA, 1997; OLIVEIRA & FREITAS, 1998; SOARES et al., 2001). Essa situação, aliada à preocupação com a proteção ambiental e à eterna busca de uma relação custo/benefício mais favorável, propiciou o crescimento do interesse pelos controles estratégicos e pelos métodos de controle alternativos. 4. Seleção de raças resistentes. A utilização da resistência do bovino como controle da infestação por carrapatos, tem como base a seleção de raças comprovadamente resistentes, o cruzamento entre raças resistentes e raças susceptíveis, porém de alta produção e/ou animais mais resistentes dentro da mesma raça. A resistência do hospedeiro é expressa basicamente pelo aumento da mortalidade de diferentes estágios de desenvolvimento do carrapato, principalmente das larvas nas suas primeiras 24 horas de vida parasitária (MORAES, 1988). De forma geral, raças zebuínas são mais resistentes em comparação às raças taurinas, uma vez que o Bos indicus é o hospedeiro natural do B. microplus. Em 1941, Villares já demonstrara a fundamentação genética da maior resistência do Bos indicus em relação ao Bos taurus, e comprovou que dentro de cada uma destas espécies, há raças mais resistentes que outras e ainda dentro de cada raça há indivíduos mais resistentes ou mais susceptíveis que a média da raça. Zebuínos e taurinos tendem a ter a mesma susceptibilidade na primo-infestação por B. microplus, não havendo diferenças qualitativas entre seus mecanismos de resistência (WAGLAND, 1978). Entretanto há uma redução na proporção de larvas que atingem a maturidade à medida que aumenta a taxa de infestação mais rápida em zebuínos (SUTHERST et al., 1973). Isto demonstra a grande importância da imunidade adquirida nos mecanismos de resistência. 6 Quando se introduz o Bos taurus em áreas enzoóticas para este ixodídeo, geralmente desenvolve-se nos bovinos um problema agudo em função da sua incapacidade para controlar o número de parasitas (GOMES, 1998). Diversos trabalhos demonstram a maior resistência de animais zebuínos em comparação aos taurinos, como os de Villares (1941), Riek (1962), Francis & Little (1964), Johnston & Haydock (1969), Utech et al. (1978), Seifert (1984), Rocha (1984) e Sartor (1992), dentre outros. Em relação à comparação entre raças da mesma espécie, Villares (1941) e Rocha (1984) observaram que a raça Nelore se destaca entre os zebuínos brasileiros. Nagar et al. (1978) demonstraram que, na Índia, a raça Hariana é mais resistente que a Sahival. Rocha (1984) observou que raças taurinas adaptadas ao Brasil, como a Caracu e Mocha Nacional, foram mais resistentes que raças taurinas de importação recente. Entre as raças européias, a Jersey mostrou-se a mais resistente (RIEK, 1956; UTECH et al., 1978). A utilização de cruzamentos Bos indicus x Bos taurus demonstrou fornecer bom grau de resistência aos mestiços. Estudos comprovam que, em geral, animais mestiços zebu x europeu apresentam, assim como zebuínos puros, um número significativamente menor de carrapatos em relação aos europeus puros (RIEK, 1962; FRANCIS & LITTLE, 1964; JOHNSTON & HAYDOCK, 1969). Na Austrália, zebuínos vêm sendo utilizados intensamente em cruzamentos com raças européias, sendo que os animais oriundos do cruzamento apresentam, de modo geral, resistência de moderada a alta (BYFORD et al., 1976; UTECH et al., 1978). No Brasil, Teodoro et al. (1984), estudando a resistência de touros mestiços (europeu x zebu), observaram maior proporção de animais resistentes entre os 5/8, seguidos dos 3/4, com os 7/8 apresentando menor resistência. Da mesma forma, Lemos et al. (1985) estudando a resistência em animais mestiços variando de ¼ Holandês x zebu a Holandês PC, demonstraram que, à medida que se aumenta o grau de mestiçagem de gado zebu, aumenta também a infestação por carrapatos. 7 A utilização de cruzamentos visando à combinação de características de resistência ao carrapato e tolerância ao calor do Bos indicus, com a alta produtividade leiteira e fertilidade do Bos taurus é sugerida por Rendel (1971). Assim como a produção leiteira e o ganho de peso, o potencial do hospedeiro em adquirir resistência ao carrapato é hereditário (WHARTON et al., 1970; ROBERTS, 1971) e, em raças tropicais, a resistência pode ser elevada a altos níveis por meio de seleção (FRISCH, 1999). O convívio de milhares de anos entre carrapato e gado zebuíno, segundo Lemos (1986), promoveu uma eliminação natural dos animais mais sensíveis, permitindo assim, maiores oportunidades reprodutivas para os animais geneticamente resistentes. A seleção natural de zebus pelo parasitismo do carrapato promoveu, provavelmente, acúmulo de grande quantidade de genes de pequenos efeitos,o que é característico de herança poligênica (quantitativa). Segundo Martinez et al. (2004), este tipo de resistência poligênica promove resposta rápida e efetiva à seleção em raças de moderada a alta resistência, mas não em raças susceptíveis. Hewetson (1968), Wharton et al. (1970), Teodoro et al. (1984) e Madalena et al. (1985) obtiveram estimativas de herdabilidade variando de 20 a 49% em zebuínos e mestiços, enquanto Veríssimo et al. (1997) observaram baixas estimativas de herdabilidade (0,89 a 0,91%) em mestiços leiteiros. A seleção de animais de raças susceptíveis com base na resistência poligênica não é viável, sendo necessário então a exploração de genes de efeito maior que possam estar associados à resistência aos carrapatos (MARTINEZ et al., 2004). Estes genes de efeito maior ocorrem em taurinos Belmont Adaptaur (raça sintética criada a partir do cruzamento de Hereford e Shorthorn) e em condições genéticas apropriadas pode conferir até 100% de resistência (FRISCH, 1999). Em mais de 30 anos de trabalho, observou-se que cada cópia do gene Adaptaur no DNA dos animais reduziu seqüencialmente a contagem dos carrapatos em 75%, sendo que a freqüência deste gene na população foi de 25% (FRISCH, 1994). 8 5. Mecanismos de parasitismo dos ixodídeos A introdução do aparelho bucal do carrapato na pele do hospedeiro se dá pela ação conjunta das quelíceras e de enzimas citolíticas e queratinolíticas secretadas na saliva, propiciando a penetração do hipostômio. Nas espécies de carrapatos que possuem aparelho bucal curto, como é o caso do Boophilus microplus, a saliva se sobressai como o componente mais importante no processo de fixação (MOORHOUSE & TATCHELL, 1966). Após a penetração nos tecidos, ocorre o processo de solidificação da saliva no meio externo, formando uma lâmina hialina concêntrica denominada "cone de cemento", a qual tem função de fixação do ixodídeo ao hospedeiro durante o período de ingurgitamento (FONSECA, 2003). A ação de enzimas hidrolíticas da saliva provoca necrose focal das células da derme e ruptura de capilares sangüíneos e linfáticos, formando a chamada "cavidade alimentar dermal", composta basicamente por tecido necrótico amorfo e componentes sangüíneos. Segundo Tatchell & Moorhouse (1968), larvas, ninfas e adultos possuem a mesma profundidade de penetração na pele do hospedeiro, entretanto as lesões são maiores em cada estágio como conseqüência do maior volume de saliva secretada pelo carrapato. Os carrapatos intercalam momentos de sucção de sangue e de secreção de saliva, sendo que o maior volume de saliva é secretado no final do processo de ingurgitamento (BALASHOV, 1972). Além das enzimas hidrolíticas, a saliva dos carrapatos contém diversas moléculas que apresentam propriedades anti-hemostáticas, vasodilatadoras, antiinflamatórias e imunossupressoras (WIKEL, 1996b) as quais apresentam papel importantíssimo nos mecanismos de alimentação e evasão das respostas do hospedeiro ao parasitismo do carrapato. As glândulas salivares secretam a apirase, substância que inibe a agregação de plaquetas pela quebra do ATP em AMP e do ADP em ortofosfato (RIBEIRO, 1989; TITUS & RIBEIRO, 1990). Segundo Ribeiro et al. (1985), a apirase previne a agregação de neutrófilos e a desgranulação dos mastócitos, o que, provavelmente, é 9 conseqüência da não agregação plaquetária, evento responsável pela liberação de citocinas ativadoras de neutrófilos e mastócitos. A prostaglandina E2 (PGE2) produzida pelas glândulas salivares de carrapatos, também exibe funções de inibição de plaquetas e vasodilatação (CHAMPAGNE, 1994). São secretadas, na saliva de Ixodes dammini, prostaciclinas que inibem agregação plaquetária e desgranulação mastocitária e induzem vasodilatação (RIBEIRO et al., 1988), e a cininase, capaz de quebrar a bradicinina ativada no plasma do hospedeiro e que tem papel importante na indução de dor (RIBEIRO et al, 1985). A capacidade dos ixodídeos em modular a resposta imune do hospedeiro é assunto bastante discutido na literatura. Existe um balanço entre a resposta imune do hospedeiro e a imunossupressão mediada pelos carrapatos, resultando numa diminuição na imunidade, facilitando o ingurgitamento do carrapato sem, no entanto, reduzir a capacidade de sobrevivência do hospedeiro natural (WIKEL & BERGMAN, 1997). Segundo Wikel (1999), os mecanismos de combate do carrapato aos mecanismos de defesas inata e adquirida do hospedeiro incluem a inibição da síntese de fragmentos biologicamente ativos de moléculas do sistema complemento (anafilatoxinas do complemento – C3a e C5a ); inibição da deposição de componentes do sistema complemento (C3b e C5b); redução da produção de citocinas pró- inflamatórias pelos macrófagos (TNF- , IL-1, etc.); redução da produção de citocinas pelos linfócitos Th1; inibição das células NK ("natural killers"), entre outros. Mais recentemente foi descoberta, na saliva de carrapatos R. appendiculatus, uma proteína ligante da histamina (HBP) de alta afinidade pelos receptores de histamina no hospedeiro e que, por competição, inibe a resposta inflamatória durante o repasto sanguíneo (PAESEN et al, 1999). Outra forma do carrapato se esquivar da resposta imunológica do hospedeiro é mudar constantemente os componentes salivares, de forma que antígenos do final do ingurgitamento sejam diferentes do início da fixação, tornando inócuos os anticorpos produzidos contra os primeiros antígenos (WIKEL, 1996a). 10 6. Resistência do bovino ao B. microplus Uma observação mais ampla, pelo ponto de vista evolutivo, permite perceber que os mecanismos de resistência do hospedeiro não apresentam função restrita e essencial de defesa. Na verdade, representam “efeitos colaterais” de processos fisiológicos que possuem outras funções para as quais foram desenvolvidos, mas que, no processo evolutivo, tornaram-se mecanismos acidentalmente protetores, favorecendo a adaptação dos indivíduos que as possuíam. De modo geral, a resistência aos ixodídeos possui dois aspectos básicos: os mecanismos inatos, caracterizados principalmente por agentes inespecíficos (locais ou sistêmicos) de defesa e mecanismos específicos, compostos pelas respostas imunes humoral e celular. Os mecanismos de resistência inata são representados por características, estados e mecanismos inespecíficos de proteção apresentadas pelo hospedeiro e que têm capacidade de exercer certo controle sobre o parasita. Segundo Barriga et al. (1993), a resistência natural aos carrapatos não tem relação com a resistência adquirida. Mecanismos comportamentais, físicos, anatômicos, bioquímicos, fisiológicos e histológicos, entre outros, estão envolvidos com a resistência inata. Características de espécies, raças e mesmo individuais podem participar da resistência inata. Idade, sexo, quadro hormonal, estado nutricional e o ambiente influenciam tanto a imunidade natural como a adquirida (JONES et al, 2000). Certos elementos da imunidade adquirida podem ser responsáveis por diferenças individuais de resistência, mas na maioria dos casos acredita-se que estas diferenças sejam geneticamente determinadas. Estudos demonstram que a idade do hospedeiro pode interferir na sua susceptibilidade ao carrapato. Em experimento de campo, Sahibi et al. (1997) observaram que a susceptibilidade parece aumentar com a idade do hospedeiro, embora o fator raça tenha exercido muito mais influência do que a idade. Utech et al. (1978) observaram que vacas gestantes eram significativamente menos resistentes que vacas não-gestantes, assim como vacas em lactação 11 mostraram-se menos resistentes que vacas secas, sugerindo que gestação e lactação podem interferir na resistência aos ixodídeos. Segundo Jonsson et al. (2000), a seleção de animais mais resistentes aos carrapatos pode ser empregada sem se comprometer a produção leiteira. O comprimento do pêlo de bovinos parece interferir no grau de infestação por carrapatos. Foi demonstrado que em regiões tosquiadas do pescoço fixaram-se menos carrapatos que em regiões com o pêlo longo no mesmo animal, tanto em taurinos quanto em zebuínos (O´KELLY & SPIERS, 1983). Por outro lado, Spickett et al. (1989) encontraram correlação positiva entre comprimento do pêlo e número de carrapatos, quando da comparação entre raças européias e raças nativas africanas; da mesma forma Veríssimo et al. (1996) observaram a mesma correlação entre zebuínos (Gir) e mestiços (Gir x Holandês). Fraga et al. (2003) observaram em fêmeas da raça caracu que houve tendência de aumento na contagem de carrapatos com o aumento da espessura do pelame. De acordo com Bonsma & Pretorius (1943), maior espessura do pelame pode estabelecer microclima favorável ao parasita, contribuindo para sua permanência e sobrevivência no hospedeiro. Além disso, essa característica dificulta a prática da auto- limpeza realizada pelo animal. Oliveira & Alencar (1987) verificaram em bovinos da raça Canchim, que os animais mais claros (brancos) eram mais resistentes ao carrapato do que os mais escuros (amarelos e vermelhos). Os resultados de Veríssimo et al. (1997), em bovinos mestiços leiteiros, sugerem relação entre maior número de carrapatos e cor de pelame escura. Em um rebanho de bovinos da raça Gir, Andrade et al. (1998) verificaram que animais de colorações mais claras como branco, chita e chita claro apresentaram as menores médias de infestação. Segundo esses autores, a maior suscetibilidade ao carrapato dos animais de colorações mais escuras, provavelmente, pode ser provocada pela queda do nível de resistência dos animais mais escuros, em virtude do maior estresse calórico a que estão sujeitos. Entretanto, Fraga et al. (2003) não observaram diferenças com relação à cor dos animais. 12 Roberts (1968), em estudo de fragmentos aleatórios de pele de bovinos resistentes ao B. microplus, sugeriu a relação entre grau de resistência e número de anastomoses arteriovenosas (AAV) da pele de bovinos. Schleger et al. (1981) demonstraram que animais altamente resistentes têm número de AAV bem maior que animais de baixa resistência. Não há diferenças morfológicas entre a AAV de animais de alta e de baixa resistência, assim como entre animais “naive” e expostos à infestação, entretanto, os resultados sugerem que o padrão de AAV pode ser estabelecido antes da exposição prévia ao carrapato, até mesmo no período perinatal, ou ainda que o número de AAV em animais resistentes aumenta com o desafio por carrapatos. No mesmo sentido, Hales et al. (1981) observaram que o fluxo capilar era maior em animais mais resistentes, suscitando relação entre rejeição às larvas de carrapatos e hiperemia cutânea induzida pelos parasitas. Dados obtidos por De Castro et al. (1991) sugerem que animais de pele mais delgada carregam menor carga de carrapatos. Em contrapartida, Spickett et al. (1989) não conseguiram correlacionar resistência à espessura da pele. Além da barreira física da pele, pêlos, glândulas sebáceas, entre outros, os neutrófilos e macrófagos são importantes elementos celulares na imunidade inata, por serem capazes de fagocitar e degradar enzimaticamente uma ampla variedade de microrganismos e antígenos em hospedeiros não-imunes. Entretanto, a fagocitose por estas células fica muito reforçada se o antígeno estiver revestido (opsonizado) por anticorpos e complemento (JONES et al., 2000), os quais somente são produzidos durante a resposta imune adquirida. Os mecanismos específicos de defesa constituem uma segunda linha de proteção, quando os parasitas ultrapassaram mecanismos locais e inespecíficos de defesa. A resistência adquirida apresenta-se basicamente por uma resposta imune a qual conta com mecanismos de defesa humorais e celulares. Durante o processo de parasitismo, o carrapato inocula toxinas e metabólitos que induzem respostas imunológicas celulares e humorais do hospedeiro (OBEREM, 1984; KANAKLATA et al., 1986). O repasto sangüíneo do carrapato induz mecanismos 13 imunorregulatórios e efetores do hospedeiro envolvendo anticorpos, complemento, citocinas, células apresentadoras de antígeno (APCs) e linfócitos (WIKEL, 1996a). A resistência imunologicamente adquirida pelo hospedeiro pode resultar em diminuição no volume de sangue ingerido, diminuição no peso de ingurgitamento e na produção e na viabilidade dos ovos, aumento no período de alimentação, inibição da fixação e morte das fêmeas ingurgitadas (WIKEL, 1996a). Koudstaal et al., em 1978, sugeriram que a remoção mecânica pela lambedura desencadeada por mecanismos de hipersensibilidade também tem importância na diminuição da infestação de larvas de B. microplus em taurinos. Os autores observaram que somente animais de alta resistência apresentaram aumento no número e no tempo de lambedura nos sítios de fixação, sendo que na maioria destes animais a diminuição no número de larvas foi maior que 30%. Resistência adquirida tem sido mais observada nas infestações por fêmeas, no entanto, os machos também induzem resistência adquirida, embora esta seja mais discreta do que a observada em fêmeas isoladamente ou associada aos machos (RECHAV et al., 1991). 7. Mecanismos celulares envolvidos na resistência a carrapatos De modo geral, existem dois mecanismos principais na resistência adquirida a carrapatos: a reação de hipersensibilidade imediata, mediada por anticorpos e a reação de hipersensibilidade tardia, mediada por células. Têm-se sugerido que a resposta a infestações parasitárias, no que diz respeito à resistência ou susceptibilidade, envolve subgrupos de células T helper (Th) CD4+ (SHER & COFFMAN, 1992). De modo geral, células Th1 levam à ativação de macrófagos e têm sido associadas à reação de hipersensibilidade tardia. Células Th2 aumentam o número de mastócitos e eosinófilos e induzem aumento na síntese de anticorpos (FERREIRA & SILVA, 1999). Além disso, os produtos de células Th1 e Th2 podem negativamente regular a produção e/ou atividade umas das outras (MOSSMAN & MOORE, 1991). 14 Segundo Wikel & Bergman (1997), células Th1 são mediadoras da reação de hipersensibilidade Tipo IV que levam à hipersensibilidade basofílica cutânea, que caracteriza a resistência adquirida. A expressão da resistência adquirida envolve componentes da hipersensibilidade tardia (mediada por células Th1) e anticorpos circulantes das classes IgM e IgG (MORELLI JÚNIOR., 2000). Embora o mecanismo pelo qual a IgE participa da resistência do hospedeiro não esteja esclarecido, há diversas evidências de que mecanismos de desgranulação de basófilos ou mastócitos dependentes de IgE (e de IgG1 nas cobaias) ocorrem durante reações imunes associadas à resistência a infestações com parasitas cutâneos e intestinais (ASKENASE, 1980). Uma das primeiras demonstrações da resposta imune celular ao parasitismo por carrapatos foi descrita por Trager em 1939, que observou resposta mínima cutânea de cobaias a uma primo-infestação por Dermacentor variabilis. Já em cobaias sensibilizadas, a reação cutânea se caracterizava por hiperplasia cutânea, edema e grande infiltrado de granulócitos. Posteriormente, Allen (1973) descreveu a reação cutânea de cobaias aos carrapatos como sendo composta basicamente de basófilos e eosinófilos. Em revisão sobre a imunologia na interação entre carrapatos e animais de laboratório, Allen (1989) destacou a resposta cutânea em cobaias como reação basofílica e, em menor grau eosinofílica. Já em coelhos, basófilos e mastócitos parecem ser mais numerosos em animais pré-sensibilizados, além da presença numerosa de eosinófilos. Com relação aos camundongos, Allen cita o trabalho de Riek (1959) que relatou o infiltrado dérmico com leucócitos mononucleares e polimorfonucleares, sendo que poucos destes eram eosinófilos. Brown et al. (1982), utilizando cobaias pré-sensibilizadas ao Amblyomma americanum e tratadas com soro de coelho anti-basófilos (ABS) e soro de coelho anti- eosinófilos (AES), observaram que o ABS aboliu totalmente a imunidade dos hospedeiros, fazendo com que estes apresentassem taxas de parasitismo e peso das fêmeas ingurgitadas semelhantes às observadas nos animais “naive”. Além disso, foram observadas a quase ausência de basófilos e diminuição significativa de 15 eosinófilos - provavelmente como efeito secundário à diminuição de basófilos e, conseqüentemente, dos fatores quimiotáticos para eosinófilos - no sítio de fixação dos carrapatos nos animais que receberam ABS. Demonstrou-se, assim, o papel fundamental dos basófilos no mecanismo de resistência das cobaias a carrapatos. Em 1999, Szabó & Bechara avaliaram a migração celular em resposta às infestações primárias e terciárias por R. sanguineus em hospedeiros naturais e susceptíveis (cães) e hospedeiros não-naturais e resistentes (cobaias). A contagem diferencial celular no sítio de fixação dos carrapatos demonstrou diferenças significantes entre os dois hospedeiros. Cães reagiram, principalmente com neutrófilos, especialmente no final do período de alimentação, e também com mononucleares e mastócitos, já as cobaias apresentaram reação predominantemente basofílica e eosinofílica. Gill & Walker (1985) avaliaram a resposta celular de coelhos em infestações primárias e terciárias por Hyalomma anatolicum anatolicum e observaram que, 24 horas após a infestação primária, o infiltrado inflamatório compunha-se de 62% de neutrófilos, 22% de células mononucleares, 10% de eosinófilos e 3% de basófilos e mastócitos. Nas avaliações posteriores (72 e 144 horas pós-infestação) observou-se constante influxo de mononucleares e neutrófilos, diminuição no infiltrado eosinofílico (5% às 144 horas) e aumento no valor absoluto de basófilos, em contraste com a manutenção na contagem de mastócitos. Já nas infestações terciárias, ficou evidente a resposta celular muito mais acentuada com relação aos granulócitos, principalmente o aumento nas porcentagens de basófilos (4, 8 e 9% às 24, 72 e 144 horas pós-infestação, respectivamente) e eosinófilos (21, 18 e 9% às 24, 72 e 144 horas pós-infestação, respectivamente). Interessante observar que a diminuição na porcentagem de eosinófilos repetiu o observado nas infestações primárias. Den Hollander & Allen (1985) observaram que na terceira e quarta infestação em camundongos Balb/c, o infiltrado celular no sítio de fixação de carrapatos Dermacentor variabilis era composto principalmente por mastócitos e eosinófilos e pouco ou nenhum basófilo. 16 Utilizando camundongos WBB6F1-+/+ (não-deficientes de mastócitos) infestados por larvas de Haemaphysalis longicornis, Ushio et al. (1993) observaram que, na primo- infestação, pequeno número de mastócitos desgranulados estavam presentes no sítio de fixação até seis dias pós-infestação e em seguida, aos 14 dias, o número de mastócitos dobrou no mesmo local, assim como o nível de IgE sérico e IgE ligados aos mastócitos. Na primeira infestação observou-se eosinofilia acentuada já no dia 2 pós- infestação, alcançando pico no dia 6. A migração de eosinófilos no sítio de fixação também foi constatada, sendo que no dia 20 pós-infestação os valores chegaram a sextuplicar. Schleger et al. (1976) avaliaram a resposta celular imediata (até 5 horas pós- fixação) de taurinos à infestação por larvas de B. microplus, utilizando-se animais não pré-sensibilizados, animais resistentes e animais susceptíveis. Em animais previamente imunizados houve redução no número de mastócitos próximos ao sítio de fixação. Diferenças significativas foram observadas entre animais resistentes e susceptíveis e entre áreas mais acometidas e menos acometidas por carrapatos. Em animais sem contato prévio não foram observados eosinófilos na lesão, embora a fixação fosse de longa duração. Por outro lado, em animais de baixa resistência observaram-se poucos eosinófilos infiltrados no tecido e grande número presente no meio intravascular na 3ª hora pós-fixação; nos animais altamente resistentes eosinófilos predominavam o infiltrado celular inflamatório. O grau de desgranulação eosinofílica foi significativamente maior nos animais de alta resistência. Basófilos foram observados ocasionalmente, mas em números insignificantes em todos os animais. Em 1977, Allen et al., investigando a histologia da resposta de bovinos à infestação por fêmeas de Ixodes holocyclus, observaram marcante infiltrado basofílico logo no início da resposta em animais pré-sensibilizados. Brown et al. (1984) avaliaram a resistência de bezerros puros holandeses ao Amblyomma americanum e observaram que, em animais não sensibilizados (naive), a resposta celular cutânea inicial consistia basicamente em infiltrado de mononucleares até 24 horas pós-infestação, quando apareciam os granulócitos. Após 48 horas, os basófilos representavam a maior porcentagem de granulócitos no sítio de fixação 17 (19%). Em infestações secundárias e terciárias, esta porcentagem variava entre 12 a 16% e 16 a 34%, respectivamente. Neutrófilos e eosinófilos foram mais abundantes nas infestações secundárias (22 a 33% e 3 a 13%, respectivamente) do que nas terciárias. Já os mastócitos responderam por menos de 10% do infiltrado na segunda e terceira infestações. Resultados semelhantes foram observados por Gill em 1986, na avaliação da resposta imune de bovinos ao H. anatolicum anatolicum em infestações primárias e terciárias. Os infiltrados celulares das infestações primárias eram dominados por neutrófilos (43 a 71%), mononucleares (25 a 35%) e poucos basófilos e eosinófilos observados somente a partir de 72 horas pós-infestação. Por sua vez, o infiltrado cutâneo das infestações terciárias era caracterizado por infiltração de basófilos (6%) e eosinófilos (3%) e marcada desgranulação de mastócitos e basófilos. 8. Aspectos morfofuncionais de eosinófilos Os eosinófilos, assim como basófilos e neutrófilos, são granulócitos derivados de células-tronco pluripotentes (CD 34+) da medula óssea (COSTA et al, 1997; ROTHENBERG, 1998). Tais células pluripotentes diferenciam-se primeiramente em precursores híbridos com propriedades de basófilos e eosinófilos e, posteriormente, numa linhagem separada de eosinófilos (BOYCE et al., 1995). Embora os eosinófilos se desenvolvam na medula óssea, residem em grande número nos tecidos periféricos, sendo mais abundantes em tecidos com mucosas que tenham contato com o meio externo, incluindo-se os tratos respiratório, gastrintestinal e geniturinário. A denominação dos eosinófilos é baseada na estreita afinidade de seus grânulos citoplasmáticos por corantes ácidos, como a eosina. As dimensões dos eosinófilos são semelhantes às dos neutrófilos, entretanto apresentam núcleo bilobulado, além de grânulos citoplasmáticos característicos (WELLER & DVORAK, 1994). Estes grânulos são numerosos, têm matriz cristalóide e em algumas espécies são preenchidos por um grupo de quatro proteínas catiônicas, as quais conferem a característica eosinofílica da 18 célula; dentre elas está a proteína básica principal (MBP) que corresponde a mais de 50% do conteúdo da matriz cristalina do grânulo. Além da MBP, ainda encontram-se proteína catiônica eosinofílica (ECP), peroxidase eosinofílica (EPO) e neurotoxina derivada do eosinófilo (EDN) (SCEPEK et al., 1994; COSTA et al., 1997). As atividades antiparasitárias da MBP têm sido demonstradas pela observação da presença da proteína após a adesão de eosinófilos na superfície de larvas de Schistosoma mansoni e de microfilárias de Oncocerca volvulus, Brugia pahangi e B. malayi (SCEPEK et al., 1994), entretanto sua ação enzimática ainda não está totalmente esclarecida. Além disso, foi demonstrado que os componentes dos grânulos principais são citotóxicos, sendo responsabilizados pela lesão da mucosa respiratória na asma brônquica (SCEPEK et al., 1994) e atuam também nas células tumorais (GLEICH et al., 1993). Além dos grânulos primários, ainda existem grânulos menores que contêm arilsulfatase e outras enzimas (COSTA et al., 1997). Os eosinófilos expressam receptores para IgA, IgG e IgE (CAPRON et al., 1995) e para componentes do sistema complemento, como C1q, C3b/C4b, iC3b e C5a (COSTA et al., 1997). A migração de eosinófilos entre os tecidos é iniciada pela ação de moléculas quimiotáticas locais. Várias substâncias quimiotáticas atuam nos eosinófilos, incluindo derivados de ácido araquidônico, como o leucotrieno B4 (LTB4), outros lipídeos mediadores como o fator ativador de plaquetas (PAF), produtos bacterianos, interleucinas e diversas quimiocinas, entre as quais destacam-se as eotaxinas 1 e 2 por serem relativamente específicas para eosinófilos (ROTHENBERG, 1998). 9. Aspectos morfofuncionais de basófilos Os basófilos recebem este nome devido à afinidade de seus grânulos citoplasmáticos por certos corantes básicos (WEDEMEYER & GALLI, 2000). Como os demais granulócitos, os basófilos possuem origem hematopoiética, sendo derivados de células pluripotentes CD34+ (COSTA et al., 1997) e, normalmente, sofrem maturação na medula óssea e no sangue circulante periférico, de onde podem ser recrutados para 19 dentro dos tecidos (GALLI, 2000). Estes granulócitos podem infiltrar focos de processos inflamatórios ou imunológicos, freqüentemente acompanhados pelos eosinófilos, e podem também participar da reação a alguns tipos de tumores (COSTA et al., 1997). Basófilos são os granulócitos menos numerosos na circulação sangüínea, representando 0,5% dos leucócitos circulantes no homem (GALLI & LANTZ, 1999), 0 a 2% nos bovinos, no máximo 3% em eqüinos e raros nos pequenos animais (FELDMAN et al., 2000). Entretanto, seu número pode aumentar em até 500% em hospedeiros parasitados por carrapatos (GORDON & ALLEN, 1979; BROWN & ASKENASE, 1982). Os grânulos basofílicos provêem inconfundível identificação nas lâminas de medula óssea e sangue coradas com Wright-Giemsa ou May-Grünwald e Giemsa e, sob condições fisiológicas, possuem meia-vida curta, de apenas alguns dias (WEDEMEYER & GALLI, 2000). O basófilo chega ao tecido em poucas horas após a agressão, aumentando aproximadamente em 80% a densidade celular no sítio de fixação do carrapato (BROWN, 1988b). Histamina, proteases e sulfato de condroitina - que, provavelmente, contribui para a armazenagem de histamina e proteases - estão entre os mediadores pré- formados e armazenados nos grânulos basofílicos (GALLI & LANTZ, 1999). Quando ocorre a agregação de IgE ligada ao antígeno com receptores Fc, induz-se desgranulação e liberação extracelular de mediadores pré-formados, além da síntese e liberação de leucotrieno C4 (GALLI, 2000). Vários trabalhos têm demonstrado que basófilos humanos podem liberar quantidades razoáveis de IL-4 e IL-13 em resposta à ativação pelos receptores Fc (BRUNNER et al., 1993; MacGlashan et al., 1994 citados por GALLI, 2000), que poderia desempenhar papel no aumento da produção de IgE ou na orientação da diferenciação Th2 (GALLI, 2000). 10. Aspectos morfofuncionais de mastócitos Os mastócitos foram descobertos por F. Von Recklinghausen em 1863 e nomeados por Paul Ehrlich no final dos anos de 1870 como “mästzellen” (do alemão mastig = bem alimentado) em referência aos grânulos citoplasmáticos característicos (EHRLICH, 1877 citado por OLSSON, 2003). 20 Além do bem conhecido papel efetor do mastócito no sistema imune, tem-se lhe atribuído outras funções como remodelação de tecido lesado, reparação de feridas, angioneogênese, resposta de hospedeiros aos parasitas e desordens inflamatórias agudas e crônicas (BENOIST & MATHIS, 2002, GALLI et al., 2002, Marshall et al., 2003). Estas células têm vida longa se comparado às outras células sanguíneas e podem, provavelmente, viver no tecido por vários meses (OLSSON, 2003). Os mastócitos distribuem-se por tecidos conectivos normais, onde permanecem geralmente adjacentes aos vasos sangüíneos e linfáticos, próximos ou mesmo juntos aos nervos periféricos e sob superfícies epiteliais expostas ao meio externo, como dos tratos respiratório, digestório, urogenital e tegumentar (GALLI, 1993). Foram descritos em humanos dois subtipos de mastócitos: o MCT (mastócito que contém triptase), predominantemente encontrado em tecido pulmonar e mucosa intestinal, e o MCTC (mastócitos que contém triptase e quimase) normalmente encontrado na pele e na submucosa intestinal (IRANI et al., 1986, NILSSON & SCHWARTZ, 1995). Diversos estudos indicam que muitos aspectos do desenvolvimento e sobrevivência dos mastócitos são regulados pelo “Stem Cell Factor” (SCF), (WEDEMEYER & GALLI, 2000). Assim como outros granulócitos, os mastócitos são derivados de células pluripotentes CD34+. Quando suas células progenitoras penetram o tecido, sofrem maturação sob influência principalmente do SCF, o qual, além de orientar a diferenciação, regula também crescimento, sobrevivência, migração, adesão e desgranulação de mastócitos (GALLI et al., 1994; NILSSON et al., 1999). Os mastócitos possuem receptores de alta afinidade à IgE em sua superfície, e a atividade imunológica dos mastócitos é mediada por meio destes receptores de IgE (ISHIZAKA & ISHIZAKA, 1984). Quando ativados, os mastócitos liberam seus grânulos citoplasmáticos, os quais contêm diversos mediadores inflamatórios. Estes mediadores pré-formados rapidamente induzem vasodilatação e aumento da permeabilidade vascular. A ativação dos mastócitos e a subseqüente exocitose dos grânulos é seguido pela produção e 21 secreção de citocinas e outros fatores que induzem infiltração de leucócitos e inflamação local (SUNDSTRÖM, 2001). A liberação de mediadores da inflamação estocados nos grânulos dos mastócitos pode levar à destruição local de tecidos por proteases, alterações vasculares por liberação de histamina e por recrutamento de eosinófilos e plaquetas (BUZETTI, 2001). Tal desgranulação resulta não somente em reações de hipersensibilidade mediada por IgE, como também por agentes farmacológicos, estímulos físicos e neurais ou fatores derivados de linfócitos T (CASTRO & ARNTZEN, 1993 citados por BUZETTI, 2001). Embora mastócitos e basófilos compartilhem várias funções importantes, estas são células distintas. Antigamente, acreditava-se que basófilos eram precursores dos mastócitos ou que mastócitos eram "basófilos teciduais", no entanto vários trabalhos demonstraram que basófilos são granulócitos que sofreram maturação na corrente circulatória e que podem infiltrar tecidos em resposta a estímulos imunológicos ou inflamatórios. Por sua vez, mastócitos maduros não são encontrados no sangue circulante e sua maturação ocorre nos tecidos vascularizados onde residem (COSTA et al., 1997). Tanto mastócitos quanto basófilos contêm grânulos citoplasmáticos que apresentam propriedades distintas de metacromasia quando tingidos com corantes básicos. Ambos os tipos celulares, derivados de células progenitoras e precursoras presentes na medula óssea, são as principais fontes de histamina e outros potentes mediadores químicos implicados em uma grande variedade de processos inflamatórios e imunológicos (VALENT & BETTELHEIM, 1990; COSTA & GALLI, 1996 citados por COSTA et al., 1997). A extensão das similaridades bioquímicas e funcionais entre mastócitos e basófilos continua a ser explorada. Segundo Wedemeyer & Galli (2000), há achados que, vistos conjuntamente, são consistentes com a hipótese de que mastócitos e basófilos possuem funções que se sobrepõem ou são complementares durante a aquisição da resposta imune, associada à IgE, a certos parasitas. 22 Matsuda et al. (1990) demonstraram que, embora camundongos deficientes de mastócitos (WBB6F1-W/Wv) não manifestassem resistência contra carrapatos Haemaphisalis longicornis, os títulos de IgE aumentaram mais de 100 vezes após a segunda infestação. A transferência de soro destes camundongos para outros WBB6F1-W/Wv que receberam injeções intracutâneas de cultura de mastócitos demonstrou sinais de hipersensibilidade imediata. Por outro lado, Steeves & Allen (1991) observaram que, tanto em camundongos mastócito-deficientes W/Wv quanto em camundongos normais (+/+), os números de eosinófilos e neutrófilos aumentaram significativamente durante infestações secundárias e terciárias por Dermacentor variabilis. Além disso, a resistência (medida pela diminuição no peso de larvas ingurgitadas em cada infestação) foi adquirida pelas duas linhagens de camundongos. Muitos estudos têm apontado para o papel dos mastócitos tanto na imunidade inata quanto na resposta adquirida. O papel essencial destas células na imunidade inata foi demonstrado por Echtenacher et al. (1996), quando demonstraram que camundongos mastócitos-deficientes foram menos eficientes do que camundongos normais na eliminação e sobrevivência sob infecções bacterianas. Por outro lado é evidente também o papel dos mastócitos como iniciador da resposta imune adquirida, pela expressão de diversos receptores MHC-II, ICAM-1, ICAM-3, CD43, entre outros, interagindo diretamente com linfócitos T e B e células endoteliais (OLSSON, 2003). Em função dos expostos, o presente trabalho procura acrescentar novos dados a respeito do possível papel dos mastócitos nos mecanismos de resistência de bovinos ao B. microplus, principalmente com relação ao ambiente cutâneo proporcionado pelos mastócitos e que é encontrado pelo carrapato e a relação dos mastócitos com o infiltrado inflamatório no sítio de fixação. 23 II. OBJETIVOS 1. Geral Verificar a existência de possível correlação do número de mastócitos dérmicos com o grau de resistência ou susceptibilidade a carrapatos B. microplus em bovinos mestiços F2 Holandês x Gir antes e após infestação artificial. 2. Específicos 2.1. Caracterizar histopatologicamente a reação de fixação de carrapatos B. microplus na pele de bovinos mestiços F2 Holandês x Gir após infestação artificial; 2.2. Avaliar o grau de resistência a carrapatos B. microplus em bovinos mestiços F2 Holandês x Gir, antes e após infestação artificial, por meio da análise da correlação entre o número de mastócitos dérmicos e contagem de carrapatos; 2.3. Correlacionar contagem de carrapatos e número de mastócitos dérmicos com a idade em bovinos mestiços F2 Holandês x Gir antes e após infestação artificial; 2.4. Comparar o número de mastócitos em pele não inflamada de animais Gir puros (F0), F1 e F2 Holandês x; Gir 24 III. MATERIAL E MÉTODOS 1. Hospedeiros A população experimental que foi utilizada no presente projeto é pertencente à Embrapa Gado de Leite (CNPGL) situada em Juiz de Fora-MG. Bovinos mestiços Holandês HPB x Gir, pertencentes a uma geração F2 composta por 148 animais, foi utilizada para avaliação da resposta celular ao B. microplus por meio de infestações artificiais com larvas infectantes e contagem de fêmeas adultas. Para se obter a geração F2 estudada, foram utilizadas 20 fêmeas Gir, caracterizadas como geração F0, em trabalho de superovulação e transferência de embriões (T. E.) que receberam sêmen de quatro touros da raça Holandesa, não pertencentes ao CNPGL. Dos produtos destas inseminações artificiais foram selecionados quatro touros e 44 fêmeas desta geração F1 para se formar quatro famílias de geração F2, evitando-se o parentesco entre o reprodutor e as fêmeas a ele designadas, obtendo-se os 148 animais F2. Os bovinos F2 foram distribuídos em sete grupos de acordo com a data que receberam a infestação artificial de carrapatos e mantidos em piquetes de capim-estrela (Cynodon nlemfuensis) com, no máximo, 25 animais por piquete. Os animais da geração F2 não receberam tratamento carrapaticida antes da infestação artificial, uma vez que apresentavam, em sua grande maioria, infestações baixas o suficiente para não interferirem na infestação artificial. Como não houve controle das infestações naturais por carrapatos antes da realização do experimento, todos animais F2 foram considerados pré-sensibilizados naturalmente por B. microplus. Embora os animais pertencentes às gerações F0 e F1 não tenham recebido infestações artificiais por B. microplus, algumas amostras de pele destas gerações foram colhidas para serem comparadas entre si e com as amostras da geração F2. 25 2. Parasitas Os animais F2 receberam infestações artificiais com larvas de carrapato Boophilus microplus, pertencentes à cepa POA, originária do Rio Grande do Sul, mantida pelo Laboratório de parasitologia do CNPGL. As larvas de B. microplus para a infestação artificial foram preparadas em laboratório no CNPGL incubando-se 0,5g de ovos em dispositivos adaptados com seringas plásticas descartáveis (aproximadamente 1,0 x 104 larvas por seringa). 3. Infestação artificial As infestações artificiais foram realizadas entre sete e dez dias após eclosão das larvas incubadas em estufa tipo BOD. Para a infestação artificial foi aplicado um dispositivo por animal da geração F2, contendo larvas de B. microplus infectantes, distribuindo-se as larvas ao longo da região cervical dos bovinos, de modo que as larvas pudessem atingir ambos os lados do corpo. Destarte, cada hospedeiro recebeu cerca de 1,0 x 104 larvas de B. microplus. A distribuição dos 148 bovinos F2, as datas de infestação artificial com larvas de B. microplus, datas de contagem de fêmeas ingurgitadas e a faixa etária dos grupos são mostrados na Tabela 1. O delineamento dos grupos foi baseado na data em que os animais receberam infestação artificial e a estação do ano. Os animais das gerações F0 e F1 não foram infestados artificialmente. 26 Tabela 1. Número de animais, estação do ano quando do contagem de carrapatos,data de infestação artificial com 1,0 x 104 larvas de Boophilus microplus, data de contagem de carrapatos, faixa etária em dias e faixa etária em meses dos grupos de bovinos mestiços F2 Gir x holandês. Jaboticabal, 2004. Grupo (n) Estação do ano/contagem Data de infestação Data de contagem Faixa etária (dias) Faixa etária em meses (média) 1 (22) Chuvosa 16/02/2001 08/03/2001 382-456 12-15 (13,5) 4 (22) Chuvosa 29/11/2002 19/12/2002 451-599 15-20 (17,5) 3 (11) Chuvosa 21/12/2001 10/01/2002 408-719 13-25 (19) 2 (24) Seca 17/05/2001 06/06/2001 371-462 12-15 (13,5) 5 (20) Seca 10/07/2003 31/07/2003 750-831 25-27 (26) 6 (24) Seca 10/07/2003 31/07/2003 632-762 21-25 (23) 7 (25) Seca 10/07/2003 31/07/2003 485-630 16-21 (18,5) 4. Avaliação da carga parasitária Para a determinação do nível de resistência de cada animal, foram realizadas avaliações absolutas pela contagem das fêmeas de carrapatos que completam seu ciclo após infestação artificial com número conhecido de larvas (aproximadamente 1,0 x 104 larvas por animal). As contagens realizaram-se no dia modal de queda dos carrapatos que, segundo a literatura, ocorre em torno do 21º dia pós-infestação (SEIFERT, 1984). Foram contadas as fêmeas semi-ingurgitadas, de 4,5 a 8,0 mm de diâmetro presentes em um dos lados do animal. O resultado obtido era multiplicado por dois para se obter o número total de carrapatos presentes no hospedeiro. A quantificação do número de ixodídeos foi realizada no período da manhã, até aproximadamente 11 horas, horário em que a maioria dos carrapatos se desprende dos animais. 5. Colheita de material para histopatologia Momentos antes da infestação artificial e no mesmo dia da contagem dos ixodídeos foram colhidas biópsias da pele do pavilhão auricular interno direito de todos os animais F2. Este local de biópsia foi escolhido devido à facilidade de imobilização da 27 região e pela presença da cartilagem auricular, a qual acompanhava o material colhido e era utilizada para se delimitar a derme profunda na histopatologia. Sempre que havia carrapatos fixados na região supracitada, a biópsia era colhida na área de fixação do ixodídeo, caso contrário colhia-se material em pele íntegra. Assim sendo, foram obtidas 42 amostras pós-infestação com sítio de fixação de carrapatos. Destas 42 amostras,apenas 22 foram utilizadas para contagem diferencial de células inflamatórias, obedecendo-se critério de seleção das amostras com base na visualização ideal do cone de cemento para identificação das zonas seguindo descrições do item 6.3 deste capítulo. Todas as 148 amostras pós-infestação foram utilizadas para avaliação da população mastocitária dérmica, sendo que, das 42 biópsias que continham carrapato fixado, foram preparadas lâminas com cortes mais distantes do sítio de fixação. As amostras pré-infestação mostraram-se todas compostas por pele íntegra. As colheitas foram realizadas no mesmo dia da contagem dos ixodídeos. Devido a problemas técnicos, não foram colhidas biópsias pré-infestação dos animais pertencentes ao Grupo 2. Para comparação do número de mastócitos cutâneos entre os animais F2 e os animais F1 e F0 (Gir e Holandês puros), foram colhidas biópsias de 22 animais F1 (machos e fêmeas) e oito animais F0 (vacas Gir) ainda presentes no plantel do CNPGL, embora não tivessem sido realizadas infestações artificiais de B. microplus nem tampouco contagens de ectoparasitas nestes animais. Não foi possível obter amostras dos touros holandeses F0 uma vez que os animais não pertenciam ao CNPGL e somente seus semens foram comercializados para a inseminação artificial das vacas Gir. Para a realização da biópsia, os animais foram imobilizados em troncos de contenção. As biópsias foram realizadas com auxílio de "punch" de 6 mm de diâmetro. Os fragmentos de pele obtidos foram imersos em frascos contendo formalina tamponada a 10%, lacrados e encaminhados ao Departamento de Patologia Veterinária da FCAV / UNESP para processamento histológico e posterior estudo histopatológico. 28 6. Histopatologia 6.1. processamento histológico As amostras foram processadas segundo histotécnica de rotina, com inclusão em parafina e secção em micrótomo em cortes de 4 m de espessura. Foram montadas de cinco a sete secções por lâmina de cada amostra. As 22 amostras que possuíam carrapatos fixados foram seccionadas o mais medialmente possível do aparelho bucal do ixodídeo, objetivando melhor visualização do sítio de fixação. Do mesmo material foram preparados cortes mais próximos do bordo e o mais distante possível do sítio de fixação do carrapato, visando as contagens de mastócitos. Para cada amostra foram montadas duas lâminas, sendo que uma era corada pela técnica da hematoxilina-eosina (HE) e outra pela técnica de May-Grünwald & Giemsa. Os cortes corados em HE foram utilizados para observação de alterações teciduais e avaliação da morfologia geral do local de colheita. A coloração pela técnica de May-Grünwald & Giemsa foi realizada para identificação e contagem de granulócitos presentes na pele, inclusive para avaliação da população mastocitária. 6.2. Avaliação dos aspectos histopatológicos gerais Os cortes corados em HE das amostras utilizadas nas contagens diferenciais de células inflamatórias no sítio de fixação dos carrapatos foram utilizados para observação de alterações teciduais e avaliação da morfologia geral do local de colheita. O mesmo procedimento foi realizado com os cortes corados em HE das amostras para avaliação da população mastocitária, tanto de colheitas antes como as pós-infestação. 6.3. Contagem diferencial de células inflamatórias A avaliação da resposta celular ao parasitismo de carrapatos em seu ponto de fixação foi dada pela contagem de granulócitos (eosinófilos, basófilos, neutrófilos e mastócitos) presentes nos cortes corados pelo May-Grünwald & Giemsa e que apresentavam cone de cemento visível, seguindo-se técnica descrita por SZABÓ & 29 BECHARA (1999) com ligeiras modificações. Para tanto, foram delimitadas quatro zonas distintas, de acordo com a distância do ponto de fixação do carrapato (Figura 1). Figura 1. Fotomicrografia de sítio de fixação de carrapato contendo cone de cemento e a demarcação das zonas utilizadas para contagem diferencial de células. Os círculos representam a seqüência e a região que receberam contagens. A) Restos do aparelho bucal; B) Cone de cemento; C) Camada córnea da epiderme; D) Epiderme; E) Derme inflamada. Apenas as zonas 1 e 2, as quais incluíam a região central do sítio de fixação, foram analisadas, utilizando-se retículo de 100 quadros integrado à ocular (Nikon 10x/20) e objetiva 100x. A área foi delimitada pelo retículo em 0,001 mm2 por meio de régua micrométrica; a contagem foi realizada em duas áreas na zona 1 e duas áreas na zona 2 na derme superficial, logo abaixo da lâmina basal da epiderme, e duas áreas nas zonas 1 e 2 a 1 mm de profundidade na derme, totalizando-se oito áreas contadas. ZONAS 1 32 23 4 A B C D E2 1 4 3 4 5 6 8 7 30 6.4. Avaliação da população mastocitária em derme não-inflamada As contagens de mastócitos em pele não-inflamada foram realizadas na derme superficial, logo abaixo da lâmina basal da epiderme, e na derme profunda, próxima à cartilagem auricular, em cinco áreas de cada região escolhidas ao acaso. Para a realização das contagens, foi utilizado microscópio de luz empregando-se retículo de 100 quadros integrado à ocular (Nikon 10x/20) e objetiva 40x. A área foi delimitada pelo retículo em 0,0625 mm2 por meio de régua micrométrica. 7. Análise estatística Para as análises estatísticas foi utilizado o software SAS© (1999-2001). Com base nos dados obtidos, foram realizadas as seguintes análises estatísticas: 7.1. Contagens de carrapatos A análise do grau de infestação dos bovinos F2 foi realizada com todos os 148 animais, sem distinção de grupos, idade ou estação em que foi realizada a infestação artificial. Para tanto, foram obtidos a curva gaussiana de distribuição normal da freqüência de carrapatos e valores da média, mediana, desvio padrão, amplitude de variação e variância. Com base nestes valores foi feita a classificação dos animais quanto ao grau de infestação seguindo-se metodologia de VERÍSSIMO (1993). Para se avaliar a influência da sazonalidade, foi feita a comparação de médias entre os animais infestados em estação chuvosa e aqueles infestados na seca. Além disso foi feita a comparação de médias por faixa etária visando-se avaliar o efeito da idade no grau de infestação. 7.2. Avaliação do efeito da infestação artificial na população de mastócitos dérmicos Para se averiguar a hipótese de que a infestação artificial por carrapatos poderia interferir na população mastocitária da derme, foram comparadas, utilizando-se o Teste © Copyright (c) 1999-2001 by SAS Institute Inc., Cary, NC, USA. 31 F, as contagens de mastócitos de amostras colhidas antes da infestação com as amostras colhidas pós-infestação artificial, tanto da derme superficial como da derme profunda e a somatória das duas regiões. As comparações entre médias foram realizadas com o teste de Tukey (P>0,05). 7.3. Comparação do número de mastócitos entre os animais com altas e baixas infestações Os valores obtidos na análise da distribuição Gaussiana das contagens de carrapatos forneceram o 1º Quartil composto por 25% da população experimental com menor infestação (8,0 carrapatos/animal), supostamente mais resistentes, e o 3º Quartil que conta com 25% da população que apresentou maior infestação (31,5 carrapatos/animal), supostamente mais susceptíveis. Com base nestes valores foram formados dois grupos: um composto pelos animais com contagens de carrapatos abaixo de 8,0 (n = 41), e outro com os animais com contagens acima de 31,5 (n = 37). Para a comparação de médias foi utilizado o Teste T de Student. 7.4. Avaliação da correlação entre idade e grau de infestação dos hospedeiros Para a avaliação da correlação entre idade e grau de infestação por B. microplus nos mestiços F2 foi utilizado o Coeficiente de Correlação de Pearson e os dados estão exibidos em gráfico de dispersão com a linha de tendência. 7.5. Avaliação da correlação entre idade e população de mastócitos em derme não-inflamada A correlação entre idade dos hospedeiros e a população de mastócitos em derme não-inflamada foi avaliada pelo Coeficiente de Correlação de Pearson, separadamente para as amostras pré-infestação e para as amostras pós-infestação, e os dados estão exibidos em gráficos de dispersão com a linha de tendência. 32 7.6. Avaliação da correlação entre número de mastócitos cutâneos e grau de infestação dos hospedeiros O Coeficiente de Correlação de Pearson também foi utilizado para se avaliar a correlação entre número de carrapatos observados nos hospedeiros e a população de mastócitos em derme não-inflamada de amostras pré-infestação e pós-infestação, e os dados estão exibidos em gráficos de dispersão com a linha de tendência. 7.7. Comparação do número de mastócitos entre os animais pertencentes às gerações Fo, F1 e F2 A análise de variância entre as gerações (F0, F1 e F2) para as contagens de mastócitos foram obtidas usando-se teste não paramétrico de Kruskal-Wallis. As comparações entre médias foram realizadas com o teste de comparação múltipla de Dunn (P>0,05). 33 IV. RESULTADOS 1. Infestação artificial com larvas de B. microplus 1.1. Contagens de carrapatos Os valores obtidos nas contagens de carrapatos estão apresentados nas Tabelas 1B a 7B e em histograma na Figura 2, com a curva de distribuição normal das contagens de B. microplus, além de Box-plot e intervalos de confiança. Os valores individuais mostraram grande variabilidade, observando-se amplitude de variação entre 0 e 128 carrapatos por animal, com média geral de 23,34 e desvio padrão de 22,06. Os histogramas de freqüência de observações por número de carrapatos (figura 2a) mostram que houve 41 observações de 0 a 10 carrapatos/animal e 44 observações de 11 a 20 carrapatos/animal. Juntos, estes valores indicam que 85 animais F2 (57,4% da população experimental) mostraram baixas infestações. O valor do 1º quartil, composto por 25% das contagens com os menores números de carrapatos, foi de 8,0 carrapatos/animal. O 2º quartil, o qual comporta 25% das contagens com os maiores números de carrapatos, obteve valor de 31,5 carrapatos por animal. Estes dados, associados ao valor da mediana (16,0), reafirmam a forte tendência à baixa infestação mostrada pelos animais F2 utilizados no experimento como pode ser observado no box plot (figura 2b) e, além disso, denota o perfil de distribuição de herança poligênica apresentada pela característica de resistência. 34 N ú m e ro d e c a rr a p a to s Frequência 12 0 10 0 80 60 40 20 0 M ed ia na M éd ia 27 ,5 25 ,0 22 ,5 20 ,0 17 ,5 15 ,0 1 0 0 1 2 5 3 8 8 11 24 44 41 In te rv a lo d e c o n fi a n ça 9 5 % Fi gu ra 2 . A ) H is to gr am as e c ur va d e di st rib ui çã o no rm al d e fre qü ên ci a da s co nt ag en s de B oo ph ilu s m ic ro pl us e m a ni m ai s F 2 G ir x H ol an dê s ao s 21 d ia s pó s- in fe st aç ão . B ) B ox p lo t da d is tri bu iç ão d os d ad os o bt id os . C ) I nt er va lo d e co nf ia nç a a 95 % d a m éd ia e m ed ia na . J ab ot ic ab al -S P , 2 00 4. V al or es o bt id os M éd ia 23 ,3 4 D es vi o pa dr ão 22 ,0 6 Va riâ nc ia 4 86 ,7 3 N 1 48 M ín im o 0, 00 1º Q ua rt il (2 5% ) 8, 00 M ed ia na 16 ,0 0 3º Q ua rt il (7 5% ) 31 ,5 0 M áx im o 12 8, 00 | M ed ia na 25 % - 7 5% Am pl itu de d e va ria çã o * O ut lie rs b a c 35 Na Tabela 2 estão dispostos, por grupo, datas de infestação e contagem, faixa etária e a distribuição dos animais quanto ao grau de resistência, de acordo com classificação proposta por VERÍSSIMO (1993). Tabela 2. Distribuição dos animais quanto ao grau de resistência e média de contagem de carrapatos, por categoria e desvio padrão de animais F2 Gir x Holandês, infestados artificialmente com aproximadamente 1,0 x 104 larvas de Boophilus microplus. Jaboticabal-SP, 2004. Nº de animais por categoria, segundo a média de carrapatos Grupo (n) ≤25 26-100 ≥101 Média 1 (22) 12 (54,6%) 9 (40,9%) 1 (4,5%) 32,00 2 (22) 17 (77,3%) 5 (22,7%) 0 (0%) 19,91 3 (11) 8 (72,7%) 3 (27,3%) 0 (0%) 16,09 4 (24) 21 (87,5%) 3 (12,5%) 0 (0%) 18,25 5 (20) 16 (80%) 4 (20%) 0 (0%) 17,40 6 (24) 12 (50%) 12 (50%) 0 (0%) 27,25 7 (25) 13 (52%) 12 (48%) 0 (0%) 27,84 Média (Desvio padrão) 99 (4,22) 48 (4,05) 1 (0,38) 22,68 % 66,9% 32,5% 0,6% 100% <26 = Resistente 26-100 = Moderadamente resistente >100 = Susceptível Pode-se verificar que 66,29% da população foi classificada como resistente e 32,5% como moderadamente resistente; apenas um animal foi classificado como susceptível. Os diferentes grupos apresentaram diferentes distribuições dos animais entre as categorias resistente e moderadamente resistente, sendo que o Grupo 4 mostrou a maior porcentagem de animais resistentes (87,5%) e a porcentagem mínima desta categoria não ultrapassou 50%. 36 1.2. Avaliação da influência da sazonalidade no grau de infestação por carrapatos As diferentes estações em que foram realizadas infestação artificial e contagem de carrapatos não interferiram no número de ixodídeos contados, como pode ser observado na Tabela 3. A média das contagens em estação de chuva foi praticamente idêntica à média obtida nas em período de seca (22,67 e 22,69 respectivamente). Tabela 3. Médias das contagens de carrapatos, por grupo, em diferentes estações do ano, de bovinos mestiços F2 Gir x holandês infestados artificialmente com 1,0 x 104 larvas de Boophilus microplus. Análise de comparação de médias pelo Teste T de Student. Jaboticabal, 2004. Estação chuvosa Estação seca 32,00 18,25 19,91 17,40 16,09 27,25 Médias dos grupos - 27,84 Média total 22,67 22,69 Desvio padrão 8,306 5,628 Teste T 0,2360 P = 0,9976 P 0,05 37 1.3. Avaliação da correlação entre idade dos hospedeiros e grau de infestação por B. microplus A correlação entre número de carrapatos e idade dos bovinos F2, demonstrada na Figura 13, foi determinada pelo Coeficiente de Correlação de Pearson ( r ), cujo resultado negativo (- 0,05) demonstrou que não houve significância estatística (P = 0,4621). Tomando o número de carrapatos como um índice de resistência / susceptibilidade ao B. microplus, observa-se que a idade não interferiu no grau de susceptibilidade nas condições avaliadas, embora as idades dos animais F2 variaram somente de um ano a dois anos de idade. 0 20 40 60 80 100 120 140 350 400 450 500 550 600 650 700 750 800 850 900 Idade em Dias N úm er o de B oo ph ilu s m ic ro pl us r = - 0,0532 P = 0,5267 Figura 13. Correlação entre a idade dos bovinos e a infestação por Boophilus microplus em animais F2 artificialmente infestados avaliados aos 21 dias pós-infestação. Jaboticabal-SP, 2004. 38 2. Amostras de pele, colhidas de bovinos mestiços F2 HPB x Gir após infestação artificial, com presença de sítio de fixação de carrapatos 2.1. Aspectos histopatológicos gerais Os cortes corados em H&E, assim como as lâminas coradas pelo May-Grünwald & Giemsa contendo sítio de fixação de carrapatos foram examinados para a avaliação dos aspectos histopatológicos e citopatológicos gerais Os fragmentos colhidos após infestação artificial e que apresentavam sítios de fixação de carrapatos caracterizaram- se por intenso infiltrado inflamatório (Figuras 3 e 4). Figura 3. Fotomicrografia da região de fixação de carrapato em pele de bovino mestiço F2 artificialmente infestado com 1,0 x 104 larvas de Boophilus microplus mostrando cone de cemento (seta) e infiltrado inflamatório na derme (cabeças de seta). H. E. (Objetiva 4x). Jaboticabal-SP, 2004. 39 Figura 4. Fotomicrografia da região de fixação de carrapato em pele de bovino mestiço F2 artificialmente infestado com 1,0x104 larvas de Boophilus microplus mostrando o ixodídeo (seta branca), cone de cemento (cabeça de seta) e infiltrado eosinofílico na derme (seta). May-Grünwald & Giemsa (Objetiva 4x). Jaboticabal-SP, 2004. O infiltrado inflamatório do sítio de fixação mostrou-se, no exame histopatológico geral, composto principalmente por células mononucleares e eosinófilos (Figura 5). Figura 5. Fotomicrografia da região da derme na área de fixação de carrapato em pele de bovino mestiço F2 artificialmente infestado com 1,0x104 larvas de Boophilus microplus mostrando infiltrado composto predominantemente por eosinófilos (seta negra) e mononucleares (seta amarela). May-Grünwald & Giemsa (Objetiva 20x) Destaque com ampliação digital de 4x. Jaboticabal-SP, 2004. 40 De modo geral, a derme de fragmentos cutâneos contendo lesões induzidas por carrapatos mostrava extensa dissociação de fibras conjuntivas (edema intersticial) e necrose tecidual, além do infiltrado inflamatório supracitado (Figura 6). Figura 6. Fotomicrografia da região de fixação de carrapato em pele de bovino mestiço F2 artificialmente infestado com 1,0x104 larvas de Boophilus microplus mostrando dissociação de fibras conjuntivas (edema) representado pelas áreas claras no tecido intersticial da derme e vasodilatação linfática (setas). H. E. (Objetiva 20x). Jaboticabal-SP, 2004. Foi freqüentemente observada numerosa quantidade de corpos apoptóticos na epiderme próxima ao sítio de fixação dos carrapatos (Figura 7), espongiose e hiperplasia de epiderme. Figura 7. Fotomicrografia da região de fixação de carrapato em pele de bovino mestiço F2 artificialmente infestado com 1,0x104 larvas de Boophilus microplus mostrando corpos apoptóticos na epiderme (setas negras). Notar edema representado pelas áreas claras no tecido intersticial da derme e infiltrado inflamatório. H. E. (Objetiva 20x). Jaboticabal-SP, 2004. 41 2.2. Contagem diferencial de células inflamatórias no sítio de fixação e avaliação da correlação com o grau de infestação por carrapatos Os resultados obtidos na contagem diferencial de células no sítio de fixação estão exibidos nas Tabelas 1A. e Figuras 8 e 9. As amostras utilizadas para esta avaliação pertenciam a diferentes grupos de animais mestiços F2 e a distribuição dos animais na obedeceu a classificação pelo grau de infestação por carrapatos. Foi observado que no infiltrado celular predominaram eosinófilos (47,8%), seguidos das células mononucleares (28,3%) e neutrófilos (14,4%). As porcentagens de basófilos variaram de 0 a aproximadamente 2% do total de células. A análise de Correlação de Pearson, apresentada na Tabela 2A, mostrou que, embora não tenha havido correlação entre mastócitos e eosinófilos, houve correlação negativa e significativa entre mastócitos e neutrófilos (C = -0,414, P =0,056) e entre mastócitos e basófilos (C = -0,450, P =0,035), ou seja, quanto maior o número de mastócitos, menor a contagens de neutrófilos e basófilos. Por outro lado, não houve correlação significativa entre grau de infestação e número de células inflamatórias 0%20 % 40 % 60 % 80 % 10 0% Porcentagem de células 6 12 12 14 16 16 16 22 22 30 34 36 40 42 44 54 56 60 62 70 84 12 8 N úm er o de c ar ra pa to s N eu tró fil os Eo si nó fil os Ba só fil os M as tó ci to s M N Fi gu ra 8 : Po rc en ta ge m gl ob al de cé lu la s in fla m at ór ia s em bi óp si as co lh id as de sí tio de fix aç ão ap ós in fe st aç ão ar tif ic ia l co m ap ro xi m ad am en te 1 ,0 x 1 04 la rv as e m a ni m ai s F 2 G ir x H ol an dê s. N o ei xo X e st ão d is po st os o s nú m er os d e ca rr ap at o do s an im ai s re la tiv os à a m os tra . J ab ot ic ab al -S P , 2 00 4. 42 43 0, 0 50 00 ,0 10 00 0, 0 15 00 0, 0 20 00 0, 0 25 00 0, 0 30 00 0, 0 35 00 0, 0 40 00 0, 0 45 00 0, 0 50 00 0, 0 Número de células 6 12 12 14 16 16 16 22 22 30 34 36 40 42 44 54 56 60 62 70 84 12 8 N úm er o de c ar ra pa to s N eu tró fil os Eo si nó fil os Ba só fil os M as tó ci to s M N Fi gu ra 9: C on ta ge m gl ob al de cé lu la s in fla m at ór ia s em bi óp si as co lh id as de sí tio de fix aç ão ap ós in fe st aç ão ar tif ic ia l co m ap ro xi m ad am en te 1 ,0 x 1 04 la rv as e m a ni m ai s F 2 G ir x H ol an dê s. N o ei xo X e st ão d is po st os o s nú m er os d e ca rr ap at o do s an im ai s re la tiv os à a m os tra . J ab ot ic ab al -S P , 2 00 4. 44 3. Amostras de pele não-inflamada de bovinos mestiços F2 HPB x Gir colhidas antes e após infestação artificial com carrapatos 3.1. Aspectos histopatológicos gerais Os cortes corados em H&E, assim como as lâminas coradas pelo May-Grünwald & Giemsa foram examinados para a avaliação dos aspectos histopatológicos e citopatológicos gerais. A maioria das amostras colhidas antes da infestação artificial não demonstrava sinais de lesão tecidual, entretanto, algumas biópsias apresentavam infiltrado inflamatório composto predominantemente por neutrófilos e eosinófilos, característicos do infiltrado induzido por carrapatos e presença de basófilos, porém sem sinais de fixação por carrapato, como cone de cemento, cavidade alimentar e/ou fragmentos de peça bucal do ixodídeo. Basófilos e eosinófilos foram raramente encontrados nas lâminas coradas pelo May-Grünwald & Giemsa nos tecidos não lesados. Pôde-se observar nas contagens pós-infestação que um maior número de mastócitos era freqüentemente acompanhado por infiltração eosinofílica (Figura 10). e A Figura 10. Fotomicrografias da derme de bovino mestiç de Boophilus microplus mostrando mastócit (setas vermelhas). A) Derme profunda. May superficial em região de papila dérmica faze Giemsa (Objetiva 40x). Jaboticabal-SP, 2004 B o F2 artificialmente infestado com 1,0x104 larvas os (setas negras) acompanhados de eosinófilos -Grünwald & Giemsa (Objetiva 20x). B) Derme ndo saliência na epiderme (e). May-Grünwald & . 45 Mastócitos presentes na derme profunda encontravam-se ora em posições perivasculares, ora infiltrando o tecido intersticial da derme. A identificação dos mastócitos se dava pela coloração arroxeada dos grânulos, conferida pela coloração de May-Grünwald & Giemsa, e pela morfologia das células. Mastócitos apresentavam-se ora fusiformes, ora arredondados, geralmente com os núcleos ovalados e bastante basofílicos, com a cromatina disposta perifericamente e nucléolos evidentes. Mastócitos não desgranulados normalmente apresentavam seus grânulos posicionados perifericamente, formando um halo claro perinuclear (Figura 11). Figura 11. A) Fotomicrografia da derme de bovino mestiço F2 artificialmente infestado com 1,0x104 larvas de Boophilus microplus mostrando aspecto fusiforme dos mastócitos (setas). May-Grünwald & Giemsa (Objetiva 20x). B) Detalhe de mastócitos mostrando grânulos citoplasmáticos bem delimitados e núcleos ovalados e basofílicos. May-Grünwald & Giemsa (Objetiva 100x). Jaboticabal-SP, 2004. Foram contados somente os mastócitos que apresentavam núcleo e grânulos intra-citoplasmáticos evidentes. Eventuais células que apresentavam morfologia que dificultava sua diferenciação, principalmente entre mastócitos e basófilos, eram desconsideradas. Basófilos, geralmente, apresentavam-se menores e com granulação citoplasmática intensamente basofílica. Eosinófilos exibiam-se caracteristicamente com grânulos avermelhados e núcleos polimórficos, muitas vezes com aspecto bilobulado. A B 46 3.2. Avaliação do efeito da infestação artificial no número de mastócitos em bovinos mestiços F2 HPB x Gir As idades individuais, contagens de B. microplus, contagens de mastócitos em derme superficial e profunda de biópsias colhidas antes e após infestação artificial com larvas de carrapatos estão separadas por grupos experimentais e exibidas nas Tabelas 1B a 7B. A contagem total de mastócitos foi obtida pela soma das contagens de derme superficial e derme profunda. As médias dos valores obtidos em todos os grupos estão condensadas na Tabela 4. Com exceção do Grupo 7, que apresentou valores semelhantes nas contagens pré e pós-infestação tanto na derme superficial quanto na derme profunda, os grupos sofreram aumento na população mastocitária pós-infestação que chegaram até aproximadamente 10 vezes o valor obtido pré-infestação. Tabela 4. Médias de idade, número de carrapatos Boophilus microplus e número de mastócitos cutâneos em biópsias colhidas antes e após infestação artificial com aproximadamente 1,0 x 104 larvas em animais F2 Gir x Holandês. Jaboticabal-SP, 2004. Nº de mastócitos / mm2 Derme Superficial Derme profunda Total Grupo (n) Idade (dias) Número de carrapatos AI PI AI PI AI PI 1 (22) 418 32,00 15,04 30,84 13,76 24,87 28,80 55,71 2 (22) 511 19,91 - 19,05 - 22,25 - 41,31 3 (11) 515 16,09 16,00 70,40 3,20 29,76 19,20 91,05 4 (24) 408 18,25 10,76 70,80 4,51 40,00 15,27 110,80 5 (20) 788 17,40 32,17 51,36 39,75 44,80 71,92 96,16 6 (24) 704 27,25 33,73 65,20 22,13 43,73 55,87 108,93 7 (25) 537 27,84 22,91 21,57 21,63 20,45 44,54 42,02 Média (Desvio padrão) 21,77 (9,51) 47,03 (22,92) 17,50 (13,57) 32,27 (10,40) 39,27 (22,17) 78,00 (30,74) AI: Antes da infestação artificial PI: Após infestação artificial - : Parcela perdida As comparações, pelo teste F, entre as médias de mastócitos obtidas antes e após a infestação artificial estão apresentadas na Tabela 5, e mostraram que houve 47 diferença altamente significativa (P< 0,01) entre as médias de contagens pré e pós- infestação, tanto na derme superficial quanto na derme profunda e derme total. Tabela 5. Médias de números de mastócitos cutâneos em biópsias colhidas de animais F2 Gir x Holandês antes e após infestação artificial com aproximadamente 1