Pesq. agropec. bras., Brasília, v.35, n.8, p.1645-1652, ago. 2000 POPULAÇÃO DE PLANTAS 1645 POPULAÇÃO DE PLANTAS, MÉTODO DE COLHEITA E QUALIDADE DE SEMENTES DE CENOURA, CULTIVAR BRASÍLIA1 ADELIANA SAES COELHO BARBEDO2, FRANCISCO LUIZ ARAÚJO CÂMARA3, JOÃO NAKAGAWA4 e CLAUDIO JOSÉ BARBEDO5 RESUMO - Brasília é uma cultivar de cenoura com possibilidade de produção de raízes em áreas e épocas de elevada temperatura. A produção de suas sementes ainda requer pesquisa quanto ao estímulo artificial ao florescimento e população de plantas. Objetivou-se, neste trabalho, o estudo desses fatores, no método semente-semente, da cultivar Brasília, em São Manuel, SP. Foram conduzidos dois experi- mentos, com e sem aplicação de ácido giberélico. As populações foram 25.000, 50.000, 100.000, 200.000 e 400.000 plantas ha-1. As sementes foram separadas de acordo com a origem de sua coleta, constituin- do dois grupos: sementes de umbelas de primeira e segunda ordem (colheita selecionada) e sementes de todas as umbelas da parcela útil (colheita geral). Após cada colheita foram realizados análises de pureza física, testes de germinação e de vigor (emergência de plântulas em campo e envelhecimento acelerado), avaliações do peso de mil sementes e do teor de água. Houve florescimento e produção de sementes, mesmo sem a aplicação do ácido giberélico. De modo geral, as sementes de colheita selecionada apresen- taram qualidade superior às de colheita geral, com diferenças de germinação de até 16%. O aumento da população de plantas, até 200.000 plantas ha-1, não diminuiu a qualidade das sementes. Termos para indexação: Daucus carota, floração induzida, ácido giberélico, umbela, espaçamento. PLANT POPULATION, HARVEST METHOD AND SEED QUALITY OF CARROT, BRASÍLIA CULTIVAR ABSTRACT - Brasília is a cultivar of carrot with a possibility of root production in hot areas and periods of high temperature. The seed production of this cultivar still requests research regarding to artificial induction of flowering and plant population. This work aimed at the study of these factors in the seed to seed method, Brasília cultivar, in São Manuel, SP, Brazil. Two experiments were carried out with and without spraying gibberellic acid. The plant densities were 25,000, 50,000, 100,000, 200,000, and 400,000 plants ha-1. The seeds were divided according to the origin of their harvest, forming two groups: umbels seeds from the first and second orders (selected harvest) and umbels seeds from the second and other orders (general harvest). After each harvest the seeds were evaluated taking into consideration the physical characteristics, germination, vigour, 1.000-seed weight and water content. There were flowering and seed production in both experiments (with and without GA3 spraying). In general, seeds from selected harvest had superior quality than the ones from the general harvest with difference in germination up to about 16%. Increase in plant population up to 200,000 plants ha-1 did not alter the seeds quality. Index terms: Daucus carota, induced flowering, gibberellic acid, umbels, spacing. 1 Aceito para publicação em 20 de julho de 1999. Extraído da tese de doutorado da primeira autora apresenta- da à Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Es- tadual Paulista (UNESP), Câmpus de Botucatu. 2 Eng. Agrôn., Dra., Dep. de Parques e Áreas Verdes, Secreta- ria do Verde e do Meio Ambiente, Prefeitura do município de São Paulo, Rua do Paraíso 387, CEP 04203-000 São Paulo, SP. E-mail: cbarbedo@uol.com.br 3 Eng. Agrôn., Dr., Dep. de Horticultura, Faculdade de Ciên- cias Agronômicas, UNESP, Caixa Postal 237, CEP 18603-970 Botucatu, SP. 4 Eng. Agrôn., Dr., Prof. Titular, Dep. de Agricultura e Me- lhoramento Vegetal, Faculdade de Ciências Agronômicas, UNESP. Bolsista do CNPq. E-mail: secdamv@fca.unesp.br. 5 Eng. Agrôn., Dr., Seção de Sementes e Melhoramento Vege- tal, Instituto de Botânica, Caixa Postal 4005, CEP 01061-970 São Paulo, SP. E-mail: cbarbedo@smtp-gw.ibot.sp.gov.br Pesq. agropec. bras., Brasília, v.35, n.8, p.1645-1652, ago. 2000 A.S.C. BARBEDO et al.1646 INTRODUÇÃO A cenoura é uma importante hortaliça no Brasil. Diversas cultivares aqui utilizadas foram obtidas do melhoramento vegetal realizado em outros países e, dentre estas, até hoje, muitas necessitam que suas sementes sejam importadas. Entre as cultivares naci- onais, Brasília, de grande potencial comercial, apre- senta possibilidades de recomendação para o culti- vo, conforme a época, em quase todo o país. Porém, a produção de suas sementes ainda apresenta as- pectos indefinidos. Campos de produção de sementes de cenoura que dependam de estímulo natural ao florescimento po- dem apresentar alguns problemas, como o desen- volvimento prematuro de hastes florais, ou bolting. Decorre, disto, a indesejável produção de sementes de baixa qualidade (Shinohara, 1977). Um estímulo artificial ao florescimento pode ser empregado, como a frigorificação das raízes (método raiz-semente), mediante sua exposição a temperaturas de 2 a 4oC durante 30 a 50 dias (Viggiano, 1990); contudo, o custo é quase sempre elevado (Lucchesi et al., 1983) com necessidade de dois anos de cultivo e demasia- do manuseio do material (Enzie, 1943). O estímulo pode, também, ser fornecido diretamente às plantas, no campo (método semente-semente), pela aplica- ção do ácido giberélico (Bukovac & Wittwer, 1957; Lang, 1957; Lang & Reinhard, 1961; Globerson, 1972; Arafa et al., 1977; Lucchesi et al., 1983), com vanta- gens na produtividade e na qualidade das sementes produzidas, porém sem oferecer a opção, aos melhoristas, de seleção de raízes para o plantio (Viggiano, 1990). Neste último método, a população de plantas pode ter grande influência na qualidade das sementes produzidas. Pesquisas com espaçamentos utilizaram, em sua maioria, o método raiz-semente (Harrington, 1951; Malik, 1973; Krarup et al., 1976; Krarup & Pavez, 1981; Krarup & Durán, 1982; Gray & Steckel, 1985; Singh et al., 1994). Quanto ao método semente-semente, a literatura mostrou-se deficiente. Há, portanto, neces- sidade de trabalhos científicos que possam fornecer subsídios ao desenvolvimento de tecnologia para produção de sementes de cenoura da cultivar Brasília com qualidade e eficiência. Neste trabalho objetivou-se avaliar os efeitos da utilização de diferentes populações de plantas e da colheita de diferentes ordens de umbelas sobre a qualidade das sementes de cenoura cultivar Brasília. MATERIAL E MÉTODOS Este trabalho teve duas fases experimentais: a primei- ra, de produção das sementes, iniciou-se em junho de 1995, em São Manuel, SP; a segunda, de laboratório, iniciou-se em janeiro de 1996. O local de produção das sementes situa-se a 22o44' S e 48o34' W, com altitude média de 740 m. É considerada re- gião subtropical úmida, com presença de estiagem no perí- odo de inverno, tipo Cwa, segundo classificação de Köppen. Os dados climáticos (temperaturas máxima, média e míni- ma e precipitação pluvial) do período que abrangeu a fase de campo estão apresentados na Fig. 1. O solo da área foi classificado como Latossolo Vermelho-Escuro, fase areno- sa, apresentou, na análise química, os seguintes resulta- dos: pH CaCl2 = 4,3; matéria orgânica = 14 g kg-1; P = 41 mg cm-3; H+Al, K, Ca, Mg, SB e CTC = 34, 1,2, 9, 3, 13 e 47 mmolc dm-3, respectivamente; V(%) = 28. Com base nos resultados da análise química do solo, foi efetuada a sua correção (3,4 t ha-1 de calcário dolomítico) e a adubação de semeadura (2.000 kg ha-1 de superfosfato simples e 56 kg ha-1 de cloreto de potássio), segundo reco- FIG . 1. Dados climáticos registrados durante o perí- odo de produção das sementes de cenoura em São Manuel, SP. Fonte: Departamento de Ci- ências Ambientais da Faculdade de Ciências Agronômicas, UNESP/ Campus de Botucatu. 0 5 10 15 20 25 30 Fev. Abr. Jun. Ago. Out. Dez. Fev. Meses T em pe ra tu ra ( O C ) 0 100 200 300 400 500 P re ci pi ta çã o (m m ) Temperatura máxima Temperatura média Temperatura mínima Precipitação pluvial Pesq. agropec. bras., Brasília, v.35, n.8, p.1645-1652, ago. 2000 POPULAÇÃO DE PLANTAS 1647 mendações de Viggiano (1990), específicas para a produ- ção de sementes de cenoura. A cultivar de cenoura utilizada foi Brasília, cujas sementes apresentavam 81% de germinação. O método de produção de sementes utilizado foi o semente-semente, que consiste em um único ciclo da cultura, sem frigorificação das raízes (Viggiano, 1990). As sementes foram semeadas em sulcos, com espaçamento de 0,5 m entre si, em 9/6/95. Após desbastes, foram obtidos os espaçamentos relativos às populações de plantas a serem estudadas, ou seja, 0,8, 0,4, 0,2, 0,1 e 0,05 m entre plantas para 25, 50, 100, 200 e 400 mil plantas ha-1, respectivamente. Foram conduzidos dois experimentos, com e sem apli- cação de ácido giberélico (GA3). O GA3 (100 mg L-1) foi aplicado em três épocas a partir dos 60 dias da semeadura, com intervalos de 10 dias. Foram efetuadas quatro colhei- tas, em 21 e 29 de novembro e 5 e 21 de dezembro de 1995. Nas três primeiras datas, as sementes foram colhidas se- paradamente por umbela, principalmente umbelas primá- rias e secundárias. Essas sementes constituíram-se em um sublote denominado, doravante, colheita selecionada. Na última colheita, realizada nas parcelas não utilizadas em colheitas anteriores, foram removidas todas as umbelas da parcela útil. Estas sementes formaram outro sublote, denominado colheita geral. Após a colheita, as sementes foram beneficiadas e leva- das ao laboratório para análise de sua qualidade. O beneficiamento das sementes foi feito manualmente, com fricção das umbelas, em peneiras sucessivas. Foi realizada análise de pureza e, com as semen- tes puras, foram realizados os testes de avaliação de ger- minação, vigor, teor de água e peso de mil sementes (Brasil, 1992). O teste de germinação foi realizado utilizando-se duas caixas gerbox por repetição, cada qual contendo 50 semen- tes, tratadas com solução 0,2% de thiram (imersão rápida). As caixas foram colocadas em germinadores tipo BOD, com iluminação fluorescente e temperatura constante de 20oC. As contagens foram realizadas aos 7 e 14 dias após a instalação do teste. Os testes de vigor instalados foram os de emergência de plântulas em campo e de envelhecimento acelerado. Para o teste de emergência de plântulas em campo, do qual se obtiveram o índice de velocidade e a porcentagem de emer- gência de plântulas, foram semeadas, em sulco, 100 sementes por repetição, em bandejas de plástico, tendo como substrato um composto de terra, vermiculita e areia (1:1:1), em condições não controladas de temperatura (ambiente natural de laboratório). A irrigação foi feita quan- do necessária, para garantir umidade uniforme em toda a bandeja. Foram feitas observações diárias de plântulas emergidas (consideradas como tais quando as duas primei- ras folhas, cotiledonares, apresentavam-se expandidas) até se manter constante esse número. A porcentagem de emer- gência de plântulas foi obtida pela soma direta das plântulas emergidas, e a velocidade foi calculada empregando-se a fórmula do índice de velocidade de emergência (Nakagawa, 1994). Para o teste de envelhecimento acelerado, foram utili- zadas caixas gerbox adaptadas. Sob o suporte de aço inoxi- dável, coberto por malha de sombrite branco, foram colo- cados 40 mL de água destilada. As sementes foram coloca- das sobre essa malha, sem contato com a água. As caixas, acondicionadas em sacos de plástico fechados, permane- ceram 24 horas em câmara de envelhecimento a 42oC. Após esse procedimento, foi instalado um novo teste de germi- nação. Foi determinado, também, o teor de água das se- mentes, após o período em que permaneceram na câmara. O delineamento experimental foi de blocos ao acaso, num esquema fatorial 5 x 2 (cinco populações de plantas x duas formas de colheita), com quatro repetições. A análise estatística foi efetuada separadamente, em cada experi- mento. Os dados de porcentagem foram transformados em arc sen (%/100)0,5, e as médias, comparadas pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade (Pimentel-Gomes, 1982). RESULTADOS E DISCUSSÃO Nas condições edafoclimáticas do local e época nos quais o experimento foi conduzido, não houve necessidade da aplicação do GA3, ou mesmo do tra- tamento de raízes em câmara fria (frigorificação), para que as plantas iniciassem a fase reprodutiva. Os registros de temperatura durante a época em que os experimentos foram conduzidos demonstraram que houve uma grande freqüência de temperaturas abaixo de 15°C, principalmente nos primeiros meses de cultivo (Fig. 1). Contudo, a aplicação do GA3 objetivou não apenas garantir o florescimento das plantas no método semente-semente, mas também avaliar se tal aplicação poderia modificar a qualidade das sementes produzidas. Não houve interação significativa entre tipo de colheita e população de plantas em nenhuma das variáveis analisadas, nas sementes produzidas em plantas que não receberam aplicação do GA3. O teor de água das sementes não apresentou diferença sig- nificativa entre os tratamentos de ambos os fatores estudados; a média geral foi de 5,9%. O peso de 1.000 sementes foi maior nas sementes da colheita seleci- onada, comparativamente ao da colheita geral. Po- Pesq. agropec. bras., Brasília, v.35, n.8, p.1645-1652, ago. 2000 A.S.C. BARBEDO et al.1648 rém, não houve influência das populações de plan- tas sobre o peso de 1.000 sementes (Tabela 1). No teste de germinação, a porcentagem de plântulas normais foi maior nas sementes da colheita selecionada do que nas da colheita geral. Contudo, nos diferentes espaçamentos utilizados, não houve diferença quanto a esta característica (Tabela 1). Com relação ao vigor das sementes, houve diferença tan- to na porcentagem de plântulas normais após o en- velhecimento acelerado quanto na porcentagem de emergência de plântulas. Em ambos os casos, as se- mentes da colheita selecionada apresentaram maior vigor que as da colheita geral (Tabela 2). Nessas variáveis, não houve influência da população de plantas. O índice de velocidade de emergência (IVE) não apresentou nenhuma diferença significativa entre tratamentos, nos dois fatores estudados (Tabela 3). A análise de pureza diferenciou apenas a colheita selecionada da geral, esta com porcentagem ligeira- mente menor de sementes puras do que aquela (Tabela 3). O teor de água das sementes produzidas com aplicação do GA3 não diferiu entre as oriundas dos diferentes espaçamentos ou dos tipos de colheita; a média do teor de água foi de 5,1%. Quanto ao peso de 1.000 sementes, no qual houve interação entre espaçamentos e colheitas, nos maiores espaçamentos as sementes apresentaram-se mais pesadas quando colhidas das umbelas de primeira e segunda ordem (colheita selecionada), relativamente às demais (Tabela 4). Nas duas populações mais adensadas, não houve essa diferença. Na colheita selecionada, TABELA 1. Germinação (%) e peso (g) de 1.000 sementes, de cenoura cultivar Brasília, em função da popula- ção de plantas e do tipo de colheita, produzidas sem aplicação de ácido giberélico (GA3). São Manuel, SP, 19951. 1 Médias seguidas pelas mesmas letras, minúsculas nas colunas e maiúsculas nas linhas, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Colheita das umbelas Colheita das umbelasPopulação de plantas (plantas ha-1) Selecionada Geral Média Selecionada Geral Média ------- Peso de 1000 sementes (g) ------ ----------------- Germinação (%)-------------- 25.000 1,617 1,170 1,394a 66 60 63a 50.000 1,862 1,265 1,564a 68 48 58a 100.000 1,790 1,290 1,540a 73 48 61a 200.000 1,652 1,375 1,514a 79 62 71a 400.000 1,672 1,342 1,507a 75 63 69a Média 1,719A 1,288B 72A 56B CV (%) 9,17 11,83 TABELA 2. Germinação de sementes (%) após envelhecimento acelerado e emergência de plântulas (%), em cenoura cultivar Brasília, em função da população de plantas e do tipo de colheita, produzidas sem aplicação de ácido giberélico (GA3). São Manuel, SP, 19951. 1 Médias seguidas pelas mesmas letras, minúsculas nas colunas e maiúsculas nas linhas, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Colheita das umbelas Colheita das umbelasPopulação de plantas (plantas ha-1) Selecionada Geral Média Selecionada Geral Média ------- Envelhecimento acelerado (%) ----- ------ Emergência de plântulas (%) ------ 25.000 78 66 72a 68 53 60a 50.000 79 75 77a 60 66 63a 100.000 79 74 77a 68 52 60a 200.000 85 77 81a 63 63 63a 400.000 76 75 76a 74 57 65a Média 79A 74B 66A 58B CV (%) 8,14 10,65 Pesq. agropec. bras., Brasília, v.35, n.8, p.1645-1652, ago. 2000 POPULAÇÃO DE PLANTAS 1649 TABELA 3. Índice de velocidade (IVE) de emergência de plântulas e porcentagem de sementes puras da análise de pureza, em cenoura cultivar Brasília, em função da população de plantas e do tipo de colheita, produzidas sem aplicação de ácido giberélico (GA3). São Manuel, SP, 19951. 1 Médias seguidas pelas mesmas letras, minúsculas nas colunas e maiúsculas nas linhas, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Colheita das umbelas Colheita das umbelasPopulação de plantas (plantas ha-1) Selecionada Geral Média Selecionada Geral Média --------------------- IVE ------------------- -------------- Sementes puras (%) ------------- 25.000 6,6 5,4 6,0a 83,6 80,4 82,0a 50.000 5,9 6,9 6,4a 84,9 83,1 84,0a 100.000 6,7 5,5 6,1a 82,0 82,2 82,1a 200.000 6,2 6,3 6,3a 85,7 82,8 84,2a 400.000 7,3 5,8 6,5a 85,4 83,5 84,4a Média 6,5A 6,0A 84,3A 82,4B CV (%) 16,36 2,85 TABELA 4. Peso (g) de 1.000 sementes e germinação (%), em cenoura cultivar Brasília, em função da popu- lação de plantas e do tipo de colheita, produzidas com aplicação de ácido giberélico (GA3). São Manuel, SP, 19951. 1 Médias seguidas pelas mesmas letras, minúsculas nas colunas e maiúsculas nas linhas, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Colheita das umbelas Colheita das umbelasPopulação de plantas (plantas ha-1) Selecionada Geral Média Selecionada Geral Média ------- Peso de 1000 sementes (g) ------ ----------------- Germinação (%)-------------- 25.000 1,507bA 1,145aB 1,326 78 59 69a 50.000 1,790aA 1,235aB 1,512 81 70 76a 100.000 1,530abA 1,257aB 1,394 78 69 73a 200.000 1,462bA 1,282aA 1,372 62 62 62a 400.000 1,442bA 1,265aA 1,354 75 63 69a Média 1,546 1,237 75A 64B CV (%) 9,42 12,79 o comportamento em relação à população de plantas foi errático, e na colheita geral, não houve diferença significativa entre populações de plantas. Assim como no experimento no qual não houve aplicação de GA3, no teste de germinação, as semen- tes da colheita selecionada tiveram maior porcenta- gem de germinação (75%) que as da colheita geral (64%), sem qualquer diferença entre sementes oriun- das dos diversos espaçamentos (Tabela 4). Este tam- bém foi o comportamento observado após o enve- lhecimento acelerado (Tabela 5). É interessante observar, porém, que o envelhecimento acelerado não foi eficiente como agente de deterioração das sementes, pois os valores de germinação, após sua realização, foram praticamente os mesmos obtidos inicialmente (Tabela 4). Analisando-se os dados dos demais testes de vigor (emergência de plântulas, e IVE, Tabelas 5 e 6), verifica-se que não houve dife- rença entre tratamentos. Finalmente, analisando-se os resultados da porcentagem de sementes puras no lote, mais uma vez a colheita selecionada resultou em menor quan- tidade de impurezas que a colheita geral, e, também como ocorrido no experimento sem aplicação de ácido giberélico, a variação da população de plantas não promoveu mudanças na pureza física dos lotes (Tabela 6). De modo geral, a colheita selecionada resultou em sementes de qualidade superior, identificada pe- los testes de germinação ou vigor. Este fato foi ob- servado também por outros autores (Hawthorn et al., 1962; Castro & Andrews, 1971; Gray & Steckel, Pesq. agropec. bras., Brasília, v.35, n.8, p.1645-1652, ago. 2000 A.S.C. BARBEDO et al.1650 1983; Nascimento, 1991; Corbineau et al., 1995), po- rém empregando o método raiz-semente, no qual as plantas são distribuídas em espaçamentos mais am- plos para melhor aproveitamento das raízes frigorificadas. Neste trabalho, mesmo nas maiores populações de plantas a qualidade das sementes da colheita selecionada foi superior à da colheita geral. Esta qualidade superior foi correlacionada por Gray (1979), inicialmente, ao maior tamanho de embrião apresentado pelas sementes da umbela primária. Po- rém, verificou-se, posteriormente, que esta correla- ção era decorrente de outros fatores que não a posi- ção da semente na planta (Gray et al., 1984). Outro aspecto importante em favor da colheita selecionada TABELA 5. Germinação (%) de sementes após o envelhecimento acelerado e emergência de plântulas (%), em cenoura cultivar Brasília, em função da população de plantas e do tipo de colheita, produzidas com aplicação de ácido giberélico (GA3). São Manuel, SP, 19951. 1 Médias seguidas pelas mesmas letras, minúsculas nas colunas e maiúsculas nas linhas, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Colheita das umbelas Colheita das umbelasPopulação de plantas (plantas ha-1) Selecionada Geral Média Selecionada Geral Média ------ Envelhecimento acelerado (%) ------ --------Emergência de plântulas (%)---------- 25.000 68 67 68a 50 52 51a 50.000 77 68 72a 64 56 60a 100.000 89 72 81a 57 52 55a 200.000 78 65 72a 49 50 50a 400.000 79 71 75a 70 43 56a Média 78A 69B 58A 51A CV (%) 11,27 15,72 TABELA 6. Índice de velocidade (IVE) de emergência de plântulas e porcentagem de sementes puras da análise de pureza, em cenoura cultivar Brasília, em função da população de plantas e do tipo de colheita, produzidas com aplicação de ácido giberélico (GA3). São Manuel, SP, 19951. 1 Médias seguidas pelas mesmas letras, minúsculas nas colunas e maiúsculas nas linhas, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Colheita das umbelas Colheita das umbelasPopulação de plantas (plantas ha-1) Selecionada Geral Média Selecionada Geral Média -------------------- IVE------------------ ---------- Sementes puras (%) ---------- 25.000 4,2 4,2 4,2a 83,9 80,8 82,3a 50.000 5,1 4,6 4,8a 78,2 81,7 79,9a 100.000 4,4 4,3 4,3a 84,0 81,2 82,6a 200.000 4,0 4,2 4,1a 80,7 76,6 78,6a 400.000 5,7 3,5 4,6a 80,8 76,7 78,8a Média 4,7A 4,1A 82,2A 78,7B CV (%) 26,39 5,70 foi a maior porcentagem de pureza obtida em relação à da colheita geral, o que implica maior facilidade de beneficiamento e maior rendimento comercial de sementes. No método semente-semente, diferentemente do raiz-semente, é possível aumentar a freqüência, por área, de umbelas de primeira e segunda ordem, adensando-se as plantas. Com este adensamento, obtém-se, de cada planta, menor ramificação e, no campo todo, maior incidência daquelas umbelas, o que resulta em sementes de melhor qualidade e com maior uniformidade de maturação (Krarup et al., 1976; Gray, 1981; Oliva et al., 1988). Pesq. agropec. bras., Brasília, v.35, n.8, p.1645-1652, ago. 2000 POPULAÇÃO DE PLANTAS 1651 Neste trabalho também se constatou que a co- lheita de umbelas de primeira e segunda ordem resul- tou em sementes mais pesadas. Apesar de não se poder generalizar uma relação de qualidade e peso das sementes (Smith & Berjak, 1995), Malik & Kanwar (1969) verificaram que sementes mais pesadas de cenoura (as de maior tamanho) resultaram em por- centagem de germinação mais elevada do que as de menor peso (menor tamanho). A grande vantagem do método semente-semen- te, como já discutido anteriormente, é a possibilida- de do aumento da população de plantas. No método raiz-semente, esse aumento da população de plantas geralmente resulta em maior custo de produção, pois o número de raízes a serem frigorificadas será maior, exigindo maior espaço nas câmaras de frigorificação ou maior tempo de sua utilização. Porém, ainda havia dúvidas quanto à qualidade das sementes produzi- das em maiores populações de plantas, no sistema semente-semente. O aumento da população de plan- tas implica aumento de competição entre plantas por luz, água e nutrientes, entre outros fatores. Também propicia um ambiente mais favorável ao desenvolvi- mento de microrganismos patogênicos às plantas, formando um microclima mais úmido e de mais baixa eficiência dos defensivos agrícolas. Deve-se salien- tar, ainda, que o manejo é mais difícil com uma maior densidade de plantas que, após o alongamento da haste floral, formam massa vegetal de difícil acesso ou transposição. Nos experimentos avaliados, o aumento da popu- lação de plantas dificultou o manejo da cultura, prin- cipalmente no menor espaçamento (400.000 plantas). Entretanto, a qualidade das sementes, de modo ge- ral, permaneceu inalterada, o que também foi obtido por Krarup & Montealegre (1975); porém, é impor- tante salientar que os referidos autores utilizaram o método raiz-semente e estudaram espaçamentos bem maiores que os deste trabalho. Conforme resultados deste experimento, e segun- do Krarup et al. (1976), as umbelas de ordens meno- res produzem sementes de melhor qualidade. Assim, os campos com maior proporção destas umbelas te- rão, por conseqüência, maior produção de sementes de elevada qualidade. CONCLUSÕES 1. A colheita de sementes de umbelas primárias e secundárias produz lotes com qualidade superior à colheita de todas as umbelas. 2. O aumento da população de plantas, de 25.000 a 400.000 plantas por hectare, não afeta a qualidade fisiológica das sementes. AGRADECIMENTOS À FAPESP, pela concessão das bolsas de douto- rado I e II, para o desenvolvimento do trabalho e do curso de pós-graduação. REFERÊNCIAS ARAFA, E.A.; SAHHAR, K.F.E.; SAID, M.S. Induction of flowering in Daucus carota L. with gibberellin and its effect on different characters of plant. Agricultural Research Review, Beltsville, v.55, n.3, p.135-142, 1977. BRASIL. Ministério da Agricultura e Reforma Agrária. Regras para análise de sementes. Brasília : DNDV/CLAV, 1992. 365p. BUKOVAC, M.J.; WITTWER, S.H. Gibberellin and higher plants. II. Induction of flowering in biennials. Michigan Agricultural Experiment Station Quarterly Bulletin, East Lansing, v.39, n.4, p.650- 660, 1957. CASTRO, L.A.B.; ANDREWS, C.H. Fatores influenci- ando o rendimento e a qualidade de sementes de ce- noura (Daucus carota L.). Arquivos da Universi- dade Federal Rural do Rio Janeiro, Itaguaí, v.1, p.19-28, 1971. CORBINEAU, F.; PICARD, M.A.; BONNET, A.; CÔME, D. 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