artisan. Rafaella Lucera 2019 3 Universidade Estadual Paulista "Julio de Mesquita Filho" Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação agradecimentos artisan Trabalho de Conclusão de Curso Bacharelado em Design de Produto Rafaella Fernanda Lucera dos Santos Orientação Prof. Dr. Cláudio Roberto Y Goya e Prof ª Dr ª Maria Antonia Benutti Bauru, 2019 Quero agradecer aos meus orientadores Cláudio Goya e Toninha Benutti não só pela paciência e apoio durante o TCC, mas também por tudo que aprendi ao longo da graduação. Eu não poderia deixar de falar dos meus amigos que transformaram esses qua- tro anos de faculdade em lembranças incríveis, eu sou grata por todo o carinho e suporte durante esse tempo, pelas risadas e por serem a minha rede de apoio em Bauru . Deixo aqui um agradecimento em especial ao João Ricardo Pessutti, Ma- theus Barbosa, Michael Garcia e Silas Alcantara que me ajudaram nesse projeto. Agradeço aos que participaram de cada etapa da produção das peças e que tornaram cada pedaço dele possível. Menção ao meu colega de trabalho Cleber Rios por me tirar muitas dúvidas e me dar diversas dicas ao longo desses meses e ao Emerson que me ajudou muito durante a reta final e se responsabi- lizou pelas semijoias do meu projeto. Um agradecimento especial ao meu tio Roberto Lucera que sempre foi muito presente na minha vida e me ajudou desde a minha mudança para Bauru. Eu cresci vendo ele trabalhar com joalheria e grande parte do meu interesse pelo ramo é por causa dele. E por fim, nem essa graduação nem esse projeto seriam possíveis sem todo o apoio incondicional que eu tive da minha familia. Eu sou profundamente grata à eles por sempre participarem ativamente de todas as etapas da minha vida, por sempre acreditarem em meu potencial e por me darem a oportunidade de estar aqui . Por mais que seja meu nome no diploma, esse final de graduação re- presenta uma vitória dos meus pais que muito batalharam para que eu pudesse estar em uma universidade pública. À todos o meu mais sincero obrigada, pois esse final de ciclo não seria possí- vel sem a participação de cada um. 5 40 Joias 42 Pingente 46 Girdle belt 50 Brincos 54 Render 60 Produção do vestuário 61 Os tecidos 62 Corset 63 Vestidos 65 Produção do bordado 66 Materiais 66 Processos 68 Produção das joias 69 Materiais 70 Modelagem 71 Impressão do protótipo 72 Molde 73 Cera perdida e fundição 74 Cravação 75 Acabamento 75 Banho 76 Erros 77 Conclusão 78 Índice de figuras 83 Referências sumário 5 Resumo 6 Abstract 7 Artisan 8 Introdução 8 Justificativa 9 Pesquisa histórica 10 Período Elizabetano 12 Simbolismo Elizabetano 14 Bordado 16 Joalheria 18 Temática 19 Tarot 21 Arcanos maiores 23 Arcanos menores 24 As Rainhas 26 Planejamento de coleção 28 Vestuário 28 Vestido de espadas 30 Vestido de copas 34 Bordado 34 Cisne 36 Coração e espada 36 Escrita resumo Parte importante do desenvolvimento da sociedade Elizabetana foi o uso de uma comunicação pautada em simbolismos. A rainha Elizabeth I criou sua persona pública embutindo metáforas e alegorias não só nas artes, mas também no seu vestuário . Neste mesmo contexto o tarot passa a ser utiliza- do como oráculo, e as imagens presentes nas cartas se tornam ferramenta de adivinhação do futuro.Através dos arquétipos do tarot, foram desenvol- vidas peças de vestuário e uma coleção cápsula de joias, que utilizam o refe- rencial imagético das cartas para criar designs inspirados na moda inglesa do século XVI.Produzido mesclando tecnologia e métodos artesanais o pro- jeto promove uma interação de ferramentas de produção em larga escala com processos que humanizam o produto final. Palavra chave : bordado, joalheria, tarot, período Elizabetano. 76 abstract An important part of the Elizabethan society development was the use of a symbolical communication. The Queen Elizabeth I created her public per- sona through metaphors and allegories not only in the arts but also in her clothing. Likewise the tarot started to be used as an oracle and the cards imagery became a tool of divination. A small collection of jewellery and the outfits were created base on the tarot archetypes. Their imagery was used as reference in the designs inspired by the 16th century England and its fashion.It was produced merging technology and handcraft to promote an interaction between large scale production tools and the ways to humanize the manufacturing process. Keywords: embroidery, jewellery, tarot, Elizabethan era artisan. O projeto gira em torno da produção de artes finas (bordado e joalheria) no Período Elizabetano, e a inter- secção entre processos manuais e tecnológicos em seu desenvolvimento. Desde os primeiros esboços eu sabia que o artesanato seria um dos pilares e a partir disso eu encontrei a palavra “artisan”, artesão em inglês. Figura importante na sociedade renascentista o artesão era o indivíduo que produzia os bens de consu- mo. Suas habilidades iam além do conhecimento téc- nico necessário para a fabricação de objetos, já que o processo criativo também ficava em seu encargo. Talen- tosos, eram os responsáveis por idealizar peças únicas, ricamente detalhadas que hoje representam registros artísticos de seu período histórico. O nome Artisan foi escolhido, pois o artesão é os primórdios do designer. Ele representa esse profissional que mescla a criatividade e o pensar artisticamente com a capacidade de materializar as suas criações. 8 introdução A proposta do projeto é desenvolver duas peças de roupa que conversem com uma co- leção cápsula de semijoias. O conjunto pre- tende criar uma interação entre os meios de produção artesanais e as facilidades propor- cionadas pela tecnologia. Os itens de vestu- ário se desenvolverão a partir de métodos tradicionais de costura e bordado enquanto as joias irão focar nas ferramenta digitais que agilizam o processo de produção. Em 2016 eu me interessei por pesquisa acadêmica e durante um ano desenvolvi uma iniciação científica sobre bordado no período Tudor e Stuart. A partir dela eu es- crevi artigos sobre como na Era Elizabeta- na o bordado e a joalheria andavam juntas para criar uma elaborada narrativa, usada como ferramenta de propaganda política. Esse escopo de pesquisa servirá como base para a estruturação teórica do projeto, uma vez que através dele concluiu-se que as artes finas na moda são dotadas de signi- ficantes e constituem parte da construção identitária do indivíduo. Sua aplicação se dará através dos arcanos do tarot, que tra- zem uma comunicação alegórica como as artes finas da Renascença Inglesa. O eixo tecnológico se assenta na mode- lagem virtual das semijoias e e sua poste- rior prototipagem através da impressão 3D, pelas quais eu me interessei durante a graduação e hoje é o campo de atuação que me contempla como designer. justificativa O artesanato sempre esteve presente no meu desenvolvimento e não há como desvinculá-lo do meu eu como designer, do meu senso estético. Eu cresci frequen- tando aulas de artesanato com a minha mãe e isso sempre me instigou a bisbilho- tar entre as pedrarias e rolos de linha que eu encontrava pela casa. Em contrapartida a tecnologia e os sof- twares eram bichos de sete cabeças que me preocupavam ao pensar sobre minha carreira no futuro. Entretanto, durante a graduação eu me senti curiosa com o mundo de possibilidades que o 3D abria à minha frente e consequentemente eu me descobri feliz na modelagem 3D. Quando surgiu o momento de começar a pensar no meu projeto, no meio de diversas dúvidas, a única certeza era que ele deveria ser uma jornada que envolvesse esses dois mundos: as minhas experimentações pueris junto ao conhecimento técnico e a bagagem que eu adquiri durante a minha graduação, uma vez que isso me define como pessoa. A área do design me permitiu transfor- mar algo que era muito intrínseco e natural para mim em uma produção metodológica e esteticamente mais madura. Foi com isso em mente que eu decidi mesclar esse meu repertório com processos tecnológicos pelos quais eu me apeguei através da faculdade. pesquisa histórica 1.Autor desconhecido, cerca de 1600, Queen Elizabeth I, National Portrait Gallery 1110 período elizabetano A moda desde o seu surgimento no final da Idade Média es- teve engendrada ao prestígio e privilégio social, entretanto, por mais que mulheres participassem da produção de um discurso de moda, os protagonistas sempre foram os homens, eram eles que ditavam os conformes nas relações sociais e consequentemente o universo de significados era delineado por seus ditames. Durante o período Elisabetano tal panorama muda, uma vez que a rainha toma para si as possibilidades que a moda propicia como utensí- lio subserviente à construção de sua persona pública. Quando Elizabeth I ascende ao trono, seus retratos pas- sam a narrativa de uma monarca maternal e bem quista pela nação. Já que após a saída da cristandade, graças à Reforma Protestante, sua propaganda recebe a complicada missão de modificar o pensamento inglês, o qual fora estabelecido pelos dogmas católicos séculos atrás. Com a substituição do pontí- fice e o surgimento de uma nova igreja a produção imagética precisa ressignificar as interações sociais com o ambiente em que está inserida. O culto a Gloriana foi habilidosamente criado para reforçar o apoio público e, até mesmo, deliberadamente substituir aparatos religiosos da pré-Reforma, como o culto à Virgem, aos santos e suas respecti- vas iconografias, procissões, cerimônias e folias seculares. Assim ao invés dos vários aspectos do culto à Nossa Senhora, temos os “devo- tos” da Rainha Virgem; ao invés dos rituais e festividades de Corpus Christi, páscoa e Ascensão de Cristo, temos as novas festas do Dia da Ascensão de Elizabeth e seu aniversário. (STRONG, 1986, p.16) A propaganda produzida sobre a Rainha Virgem proporcio- nou uma autonomia à Elizabeth. Durante a Idade Média, em que o papel feminino era estritamente restrito ao âmbito doméstico, o extensivo uso de sua imagem lhe permitiu não se limitar à fi- gura de mãe e esposa, dando-lhe suporte para se desenvolver além dos estereótipos de gênero, os quais indicavam que mu- lheres eram temperamentais e propensas a atitudes impulsivas, influenciadas por paixões, e consequentemente inaptas para cargos de autoridade. 2. Nicholas Hilliard, 1575, The Phoenix Portrait of Queen Elizabeth I, National Portrait Gallery. 1312 simbolismo elizabetano Parte importante do desenvolvimento da sociedade medieval é a construção do seu pensamento através de alegorias, em uma época que a população era majoritariamen- te analfabeta o conhecimento era dissemi- nado através de uma linguagem não verbal. A realidade era vista através de uma ótica fantasiosa, na qual à cada animal e planta era relegado um conjunto de características, defeitos ou qualidades que criavam uma narrativa utilizada para justificar a doutrina cristã. Por exemplo, a serpente, que simbo- liza a mentira, a tentação e o pecado graças ao seu papel na queda de Adão e Eva. Para suplantar a falta de ídolos, excluídos pelo protestantismo, a propaganda elisabe- tana cria a figura da Rainha Virgem através das artes, como a pintura e a literatura. Eli- zabeth I utiliza a simbologia cristã e mito- lógica presente no inconsciente coletivo na criação de sua persona pública, para forta- lecer a sua posição com “mãe da nação”. A dupla de retratos Fênix e Pelicano produzi- da por Nicholas Hilliard em 1575 é um dos produtos de sua propaganda. Ambos são nomeados pelos pendentes, o primeiro contém a Fênix (Figura 2) , ave mitológica que representa o renascimento e a castidade, utilizada na construção do culto à Rainha Virgem para reafirmar sua pureza e sua trajetória de ascensão ao tro- no. Da mesma forma que a ave morre e re- nasce das cinzas, Elizabeth I foi declarada ilegítima e presa para no fim se tornar mo- narca de uma nação próspera. O Pelicano (Figura 3), também chamado de pelicano eucarístico pela cristandade, repre- senta o sacrifício de Cristo, pois da mesma for- ma que Jesus deu o sangue pelos seus, o pelica- no, quando a comida é escassa, bica o próprio peito, tirando a carne para alimentar os filho- tes. Sua imagem é incorporada à propaganda elisabetana para reforçar sua posição maternal e seu amor altruísta pelo povo. Elizabeth I era aficcionada por pérolas, nos retratos é possível observa-las não só na joalheria, mas bordadas por todo o vestido e na barra de seu véu.Por conveniência se encaixavam perfeitamente em seu discurso como Rainha Virgem. Na cristandade foram associadas à Maria, simbolizando sua pure- za, inocência e castidade. Por sua vez, a rosa Tudor não se restringiu aos elementos de vestuário, mas também foi pintada pelo artista no fundo do quadro e na mão da rainha. Emblema heráldico de sua família a imagem é repetida para reiterar o seu direito como herdeira legítima do trono. 3. Nicholas Hilliard, 1575, The Pelican Portrait of Queen Elizabeth I, Walker Art Gallery 1514 bordado A história do bordado acompanha a da evolução humana, po- dendo ser considera-da uma das artes mais antiga, precedendo a pintura e a escultura. Acredita-se que seu surgimento tenha ocor- rido logo após o da agulha. Ao contrário de outros artesanatos têx- teis, teve desde suas origens uma função essencialmente estética, não utilitária, e por isso se tornou um campo atraente para a arte popular (HOUDELIER, 2006). O bordado está a um passo de distância do desenho, e desenhar é sim- plesmente o ato de registrar as percepções do olho através dos movi- mentos da mão. É essa iminência, essa conexão íntima com o corpo humano que dá ao bordado esse apelo universal; e porque o artesanato pode ser praticado em casa com um capital e equipamento mínimo, que o torna diferente de todos os outros (CAVALLO, 1979,p.8) Até a atualidade a noção depreciativa em seu feitio perdura, justamente por sua história estar ligada ao feminino, entretan- to, é um campo vasto de produção, ricamente explorado, tanto quanto outras formas de expressão majoritariamente masculi- nas (Figura 4 ). Mais do que uma forma de adornar tecidos por motivações puramente estéticas, é um registro histórico do con- texto em que foi produzido, acompanha as mudanças sociopolí- ticas e é influenciado por fatores que regem a vida em sociedade da mesma forma que outros âmbitos da existência humana. 4.Tapeçaria The Garden of Eden, final do século XVI 5. Chichester-Constable Chasuble, 1335 – 45, Inglaterra A igreja católica teve papel fundamental no desenvolvimen- to têxtil durante a Idade Média, sendo o mecenas de tal forma que sua produção era primordialmente eclesiástica (Figura 5). O trabalho feito por devotos, monges e costureiras impediu que o bordado fosse esquecido e, por conseguinte, os exemplares que sobreviveram ao tempo tem um rico teor histórico, pois guardam simbolismos da fé cristã conhecidos atualmente. Durante a Reforma Protestante o bordado perde o seu maior patrono restabelecendo sua popularidade somente no reinado de Elizabeth I. Considerada a Era de Ouro da Inglaterra houve um enriquecimento da coroa e uma revolução cultural, a qual criou novas tradições e deu uma nova identidade à nação. Nesse contexto os bordados consistem em peças exageradamente ornamentadas com flores, animais e insetos, tanto nativos, quanto exóticos, não se limi- tando ao guarda roupa e fazendo parte do design de interiores. Ele passa a ser desenvolvido em uma gama maior de cores com uma estética mais naturalista, bus- cando maior semelhança com o real (Figura 6). 6.Bíblia pertencente à Rainha Elizabeth I 1716 joalheria A joalheria foi uma resposta do homem à profunda necessidade humana de se ador- nar e, consequentemente, é uma das mais antigas formas de arte decorativa (TAIT, 2010). Sua função, entretanto, vai além da ornamentação, em diferentes culturas car- rega um conteúdo simbólico atrelado aos misticismos e crenças do povo que a produz. Na Europa cristã em que a religião tinha um importante papel na dinâmica social, a jo- alheria foi explorada tanto para proteção quanto para demonstração de fé. Como parte da produção artística re- nascentista sofreu influências da osten- tação e do exagero previamente vistos nas artes maiores . Após séculos sob o estrito comando da igreja católica, a retomada de valores antropocêntricos proporciona um campo fértil para o desenvolvimento de joias extravagantes que exprimem a necessidade humana de se adornar e dar vazão ao culto do próprio corpo. A literatura e a mitologia clássica se tor- nam temáticas populares, em que joalhei- ros utilizam técnicas associadas à escul- tura para exibir a sua criatividade. Neste novo estilo imagens fantásticas, bestas e outras criaturas do imaginário coletivo são colocadas junto à frutas, flores e ara- bescos em composições excêntricas ca- racterísticas do período (Figura 8 e 9). Desde os primórdios seu uso remete à hierarquização social, uma vez que a or- namentação era utilizada para destacar as classes mais altas das demais. No período Elisabetano não é diferente, as peças se tor- nam mais elaboradas, e seu uso pela aris- tocracia era uma espécie de manutenção de classes, visto que era um recurso para se sobressair na corte já que o custo alto de tais artefatos os restringia à uma parcela abastada da sociedade . Tal aristocracia vê na joalheria não so- mente um conjunto de artigos bonitos, mas uma maneira de se expressar. As pe- ças de uma forma emblemática indicavam os sentimentos de quem usava e também seu estado de espírito. Na corte Elizabe- tana, essa forma de comunicação ganhou faces políticas quando seus apoiadores co- meçaram a usar sua imagem em retratos e medalhões como sinal de apoio à Rainha Virgem (Figura 7). 7. Nicholas Hilliard, 1572,Pingente com miniatura da Rainha Elizabeth I, National Portrait Gallery 9. Pingente em formato de esfinge, em ouro esmaltado, cravejado com pérola barroca e rubis 8. 9. 8. Pingente em formato de cupido, em ouro, cravejado com esmeraldas, rubis e pérolas 19 temática 10. Cartas de tarot do deck Golden Thread tarot O Tarot é um conjunto de analogias em forma de um baralho composto por 78 car- tas divididas em dois pilares. O primeiro pi- lar consiste em 22 cartas chamadas arcanos maiores, que representam arquétipos da sociedade e o segundo pilar, são as 56 cartas restantes, denominadas arcanos menores, um conjunto de 10 cartas numéricas, mais as cartas de corte, que se repetem através dos quatro naipes, semelhante a estrutura de um baralho de azar. Sua origem não é unânime entre historia- dores do assunto, existem partidários da teo- ria de que seu surgimento ocorreu na China, Índia ou Egito como uma espécie de herança divina e outros de que na verdade o tarot é uma invenção europeia para entretenimento da nobreza. De acordo com Naiff ( 2015) ape- sar das diferentes opiniões há um consenso de que os seus primeiros vestígios são data- dos do final do século XIV. Durante séculos o tarot não serviu a um único propósito, seu uso ocorreu simulta- neamente para o espiritual como para jogos de azar. Os registros afirmam que antes de ser evocado como canal de comunicação com o desconhecido, o tarot surgiu na Itália, como um baralho encomendado para um jogo homônimo. Um dos primeiros conjuntos de cartas que sobreviveu ao tempo foi comissio- nado pelo Duque de Milão Franscesco Sforza na primeira metade do século XV, apresentan- do a mesma estrutura dos de hoje (Figura 11). De acordo com Christine Payne (2018) du- rante a Idade Média, a educação teve papel im- portante no controle da igreja sobre a socieda- de, escolas foram fechadas e a população era em sua maioria analfabeta, fato que dificulta- va a disseminação de qualquer conhecimento não pautado no dogmatismo cristão. Consequentemente tal repressão foi um campo fértil para a comunicação visual, uma vez que os ensinamentos eram transmi- tidos através de pinturas, bordados e outras expressões artísticas. A partir dessa conjun- tura o tarot era apresentado como um con- junto de cartas lúdicas, enquanto paralela- mente era utilizado por sociedades secretas e seitas como um meio silencioso de enten- der o oculto sem levantar suspeitas. 11. Cartas de tarot do deck Visconti-Sforza 2120 Os misticismos pagãos voltam a permear o imaginário do século XVII quando o Romantismo tem sua ascensão, desper- tando o interesse por antigas culturas e seus mistérios. Neste contexto a primeira versão do tarot de Marselha é produzida pelo fabricante de cartas parisiense Jean Noblet. Posterior- mente, em 1709, Pierre Madenie cria a primeira variante do tarot de Marselha moderno, cuja estética ainda é uma das mais populares da atualidade. Jean Baptiste Alliette, conhecido pelo pseudônimo Etteilla, foi um ocultista francês pioneiro do tarot moderno, conhecido por ser o autor de uma das primeiras literaturas acerca da car- tomancia na qual desenvolve uma metodologia de jogo, inau- gurando associações entre astrologia, os quatro elementos e o tarot. Também foi o primeiro a lançar um baralho desenvolvido especificamente para a adivinhação. Apesar de seu legado, e de seu leal grupo de seguidores, mui- tos são os críticos de seu trabalho. Seus textos são complexos e outros tarologos tiveram trabalhos mais proeminentes, entre- tanto para Cynthia Gille (2018) sua grande contribuição foi popu- larizar o tarot, mais do que criar um design de cartas significante. De acordo com James Revak: Ele reinou sobre algo que nenhum de seus companheiros pôde ter tido crédito: a importante transformação pública do Tarô de um curioso su- posto artefato de uma antiga civilização em uma ferramenta contempo- rânea e prática para a adivinhação relacionada a outras formas de Eso- terismo. Graças, em grande parte a Etteilla, muitos ocultistas e pessoas afins puderam utilizar um baralho de Tarô especialmente desenhado para fins Esotéricos e aplicar um método, relativamente completo, coe- rente e racional para acessar sua sabedoria e poder. (REVAK, 20-) 12. Carta Os Enamorados do tarot de Marselha 13. Carta do tarot de Eteilla arcanos maiores Fruto do pensamento renascentista, cada arcano é a síntese da arte e concei- tos filosóficos clássicos que influenciaram o pensamento medieval e renascentista (PLACE, 2010, p.12). Quando colocadas em ordem numérica, as 22 cartas dos arcanos maiores, partir da número zero (O Louco), criam uma narra- tiva chamada jornada do louco, que pode ser compreendida como uma forma ale- górica de explicar o ciclo da vida, processo de construção do caráter humano e conse- quentemente sua evolução espiritual. De acordo com Paul Marteau: O tarô é um conjunto de figuras que exprimem sim- bolicamente o trabalho do homem para realizar sua evolução, ou seja, para atingir aos fins inscritos em seu destino, evolução que exigirá dele lutas, esfor- ços, alegrias e sofrimentos conforme ele se ajustar ou não às leis universais (MARTEAU, p.24) Tudo começa com o louco, figura in- gênua e imprudente disposta a se aventu- rar em uma jornada rumo ao desconhe- cido, e termina na carta O Mundo, na qual todas as forças antagônicas com que o herói vem lutando unem-se num mundo (NICHOLS, 1980, p.33). Em seu percurso ele tem uma noção mais completa de sua realidade e aprende a integrar as diferentes facetas de si mes- mo para alcançar a felicidade e a plenitude. Na representação de cada carta pode-se observar o uso de diferentes símbolos, cores e composições chamadas por C. G. Jung de arquétipos. Para ele o arquétipo se desenvolve a partir de uma mesma experiência compartilhada por diferentes indivíduos em perí- odos distintos e seu significado transcende sua representação, uma vez que é possível observar em diversas culturas a figura da mãe zelosa, do velho sábio ou do herói. 14. Arcanos Maiores do baralho Rider-Waite 2322 O tarot utiliza essa comunicação não verbal como ferramenta para canalizar a imaginação e acessar o subconsciente do indivíduo. Sally Ni- chols (1980, p.26) define tal fato como projeção, um processo inconsciente, autônomo, pelo qual vemos primeiro nas pessoas, nos objetos e nos acon- tecimentos as tendências, caracterís- ticas, potencialidades e deficiências que, na verdade, são nossas. Um exemplo é a carta da Papisa, ou Sumo Sacerdotisa. Em uma sociedade construída sobre a tradição judaico- -cristã, a carta automaticamente re- mete à Virgem Maria, entretanto seu arquétipo é pautado em relações mais antigas. Responsável pelos templos, as sacerdotisas tinham papel impor- tante nas questões espirituais de sua comunidade,eram elas as responsá- veis pelos rituais sagrados e pela co- nexão com as forças superiores, o que as levava a ocupar cargos de autorida- de em diferentes civilizações. Normalmente representada vesti- da de azul com um livro no colo, entre os pilares do Templo de Salomão, a Papisa é o arquétipo do Sagrado Feminino, visto em outras figuras femininas como Per- séfone e Ísis. É a grande mãe, a personificação do poder espiritual feminino e do conhecimento místico. Nas leituras está relacionada ao autoconhecimento, à intuição, à sensibilidade e ao inconsciente. 15. Carta A Sacerdotisa do baralho Rider-Waite arcanos menores Os naipes presentes nos arcanos menores seguem uma estrutura quaternária análoga à presentes nas Quatro Funções Psicológicas Fundamentais de Jung, que são as respon- sáveis pela percepção e adaptação do homem ao meio no qual está inserido. Definidas como Intuição, Sentimento, Pensamento e Sensação representam o naipe de paus, co- pas, espadas e ouros respectivamente. Jung escreveu: Sob o conceito de Sensação pretendo abranger todas as percepções através dos órgãos sensoriais; o Pensamento é a função do conhecimento intelectual e da formação lógica de conclusões;por Senti- mento entendo uma função que avalia as coisas subjetivamente e por Intuição entendo a percepção por vias inconscientes .(Jung ,1971, paragrafo: 497). Subdividindo o baralho além dos conjuntos de cartas numéricas se encontram as chamadas cartas de corte, compostas por um rei, uma rainha, um cavaleiro e um pajem. Entretanto o pro- jeto não irá destrinchar todas elas uma vez que este seria um processo extenso. A temática focou nas rainhas, que junto com os arcanos da Papisa e da Imperatriz repre- sentam o aspecto feminino do tarot. Os arquétipos aqui adotados para a análise das cartas foram os presentes no ensaio “As quatro formas estruturais da psique feminina”, escrito por Toni Wolff, no qual ela descreve o pensamento feminino através de quatro arquétipos básicos. 16. Arcanos Menores do baralho Rider Waite 2524 as rainhas Relacionado ao elemento terra, ou- ros é a existência material, o sucesso e a prosperidade. De personalidade proativa sua rainha é leal, pragmática e dedicada ao trabalho. Sempre preo- cupada com o bem estar do próximo, é a estrutura da família, a figura que ga- rante a segurança dos entes queridos. Sua simbologia permeia a fertilidade, o cuidar e a dedicação, e justamente por isso representa o arquétipo da Mãe. Copas está ligada à imaginação, ao mergulho no inconsciente e a capacidade de tomar decisões com o coração ao in- vés de se pautar na razão. Sua rainha se- ria o arquétipo denominado de Médium, mulher moldada pelo meio em que vive e que tem dificuldade de separar o seu in- consciente pessoal do coletivo. Ela representa alguém introspectivo, de natureza doce, amável e sensível, sempre disposto a cuidar do próximo. Seu caráter está ligado à empatia e ao amor incondicional. Dada sua natureza altruísta e passiva é muitas vezes vista com alguém vulnerável. 17.Rainha de Ouros do baralho Rider-Waite 18.Rainha de Copas do baralho Rider Waite 19.Rainha de Paus do baralho Rider Waite 20. Rainha de Espadas do baralho Rider Waite 17. 18. Para o naipe de paus ficaram as ques- tões de cunho espiritual. Enérgica e au- toconfiante a rainha de paus é detento- ra de emoções intensas. Seu arquétipo é denominado de hetaira, palavra gre- ga que significa acompanhante. É uma figura passional, que prioriza seus rela- cionamentos. De natureza intuitiva, se utiliza da sedução e seu poder de comu- nicação para atingir seus objetivos. Espadas é um naipe mental, ligado às batalhas interiores, sua simbologia está atrelada a intangibilidade rela- cionada ao elemento ar. Sua rainha é a Amazona, figura independente e au- daciosa, representação da sabedoria feminina, cujas preocupações são diri- gidas às próprias conquistas. Seus rela- cionamentos são impessoais, uma vez que suas ambições são prioridade pe- rante aos sentimentos de terceiros. De personalidade fria e calculista seu ra- ciocínio se distancia da subjetividade e a leva para soluções mais pragmáticas. 19. 20. 27 planejamento de coleção 21. Desenhos iniciais da coleção Para o projeto foram utilizadas somente as rainhas de copas e espadas como temática. Através delas foi explorada a relação antagônica entre o naipes, cujos simbolismo são complementares. Copas é o lado emocional e espadas o racional. A primeira é delicada, doce e sensível enquanto a segunda é fria, calculista e distante. Essa dicotomia serviu de base para a escolha de cores, formas e elementos aplicados na criação. Como previsto nos objetivos foram confeccionados dois vestidos, dois corsets, bor- dados e três peças de semijoias. Os dois vestidos representam as rainhas e junto com o corset são o elemento de coesão dos outros itens desenvolvidos, uma vez que o design de cada um deles determinou a criação do bordado e das semijoias. Nos croquis ficou evidente que os vestidos seriam específicos para cada naipe, en- quanto no bordado e nas semijoias misturariam elementos dos dois. O bordado foi apli- cado em somente uma das peças e por conta disso deveria conter características das duas rainhas, o mesmo nas semijoias porque poderiam ser utilizadas em composições com os dois vestidos sem ficarem destoantes. Em relação à cor quando se pensa em copas o vermelho sempre vem à mente, entretanto analisando diferentes baralhos de tarot o azul aparece como cor principal de ambas as rainhas. O cinza foi adicionado à paleta, para que tudo não ficasse monocro- mático e a escolha do ouro ao invés da prata foi feita porque no conjunto o metal prate- ado não teria tanto destaque quanto o dourado. O bordado é complementar às semijoias, justamente por isso os riscos repetem ele- mentos presentes nelas e a própria escolha de pedrarias, como as pérolas, cria uma uni- dade projetual entre os dois. Ele foi feito em tons de azul para se mesclar com o tecido, deixando o destaque ficar por conta do brilho das miçangas e da textura das linhas. O tipo de semijoias desenvolvida partiu de análise de retratos do século XVI, fo- ram escolhidas peças que são parte da moda vigente no período e melhor combinariam com a estética do projeto. O girdle belt foi a primeira semijoia definida, primeiro por ser característica do período e segundo, por ser utilizada na cintura, evidenciar o corset. O pingente é uma peça com uma gama variada de inspirações, com diferentes estilos que proporcionaram uma liberdade de criação maior. Os brincos surgem como item contemporâneo e não são fidedignos aos utilizados no período, visto que sua aparição em retratos é mais escassa em comparação com os outros dois itens de joalheria pesquisados, mas reproduzem o design visto nos pingentes e broches. 292828 vestuário . vestido de espadas O intuito no vestido espadas foi criar uma peça que tivesse ca- racterísticas de uma armadura. É o mais pesado dos dois, para simular a sensação de limitação de uma vestimenta metálica. As linhas estruturadas do peitilho se assemelham a uma couraça, e a escolha do crepe pasquale cinza proporcionou à peça maior rigidez, remetendo a matéria prima das armaduras. Enquanto o corset de couro azul foi inspirado nos protetores de flanco. Como o vestido não foi pensado sozinho e sim em compo- sição com o corset e com as semijoias, seu design tem linhas mais clean, já que o vestuário foi o plano de fundo para a se- mijoia utilizada na cintura. Nele o bordado ficou como coadjuvante, sendo um comple- mento para as mangas. Foram aplicadas pérolas parecidas com as utilizadas nas semijoias. O diferencial fica nos detalhes de mo- delagem, as mangas boca de sino não são unidas nos ombros e caem formando dobras de tecido, e o corset recebeu babados na parte superior que criam um ponto focal na cintura. 22. Albert Lynch, 1903, Jeanne d’Arc, Revista Figaro Ilustre 23. Vestido Alexander McQueen Resort 2019 24. William Scrots, 1546, Elizabeth I when a Princess, Windsor Castle 22. referências 23. 24. 313030 vestuário . vestido de copas Enquanto o vestido de espadas foi pensado para ser mais estruturado e pesado o de copas é uma peça fluida e esvoa- çante. Confeccionado em cetim peach e organza azul, tecido transparente com caimento mais leve, o vestido de copas traz características do vestuário da aristocracia inglesa do século XVI, como a gola alta, as mangas bufantes acompanhadas do corpete com decote quadrado. O exagero da indumentária elisabetana serviu de fon- te de inspiração para este vestido. O intuito era transmitir o excesso de informação visual da moda do período através da mistura de bordados em pedraria com as semijoias em con- traste com a textura dos tecidos. A princípio toda a saia teria padrões de arabescos bordados, mas optou-se por utilizar desenhos mais voltados para ilustra- ções ao invés de riscos meramente ornamentais. O dorso do ves- tido recebeu muitos detalhes, nele estão o corpete em couro e o pingente, as mangas e a saia ficaram muito lisas, faltando ele- mentos, como solução o bordado foi adicionado à esses pontos estratégicos para balancear a composição. 25. Artista Desconhecido, Mulher desconhecida anteriormente conhecida como Maria I da Escócia, 1860, National Portrait Gallery 26. Vestido Alexander McQueen Resort 2019 Vestido Alexander McQueen Ready to Wear Outono/Inverno 2014 27. Vestido Alexander McQueen Pre Fall 2012 25. referências 26. 27. 3332 croqui vestido de espadas 29. croqui vestido de copas 30. 353434 bordado . cisne Seguindo a moda Elizabetana de usar ani- mais e seres fantásticos nas artes finas, o cis- ne foi incorporado ao projeto. A ideia veio a partir do baralho Wild Unknown (figura 30), no qual as cartas de corte são substituídas por animais que mais se assemelham às ca- racterísticas de cada naipe. Nele o cisne re- presenta copas, dada sua natureza etérea, delicada e sua beleza. 30. 31. 30. Naipe de copas do tarot Wild Unknown 31.Página do manuscrito De Natura Animalium, escrito entre 1550 e 1569 32.Vitral da janela da igreja de São Bartolomeu em Nettlebed, Oxfordshire 33. Hans Maler, 1524, Portrait of Maria Welzer, Akade- mie der bildenden Künste 32. 33. referências 373636 coração e espada escrita 34. Originalmente, no tarot italiano, copas é representada por um cálice (Figura 34), po- rém ficou mundialmente conhecida pelo naipe de coração através do baralho de jogos francês (Figura 35), que simplificou o design das cartas e consequentemente facilitou seu processo de impressão. Enquanto isso para o naipe de espadas o tarot manteve como símbolo a arma homô- nima e o baralho francês foi estilizado como a ponta de um pique, uma espécie de lança comum no arsenal do país. Por opção estética optou-se por utilizar o coração ao invés do cálice, e para espa- das seguir a estética do tarot italiano. A barra do vestido azul recebeu uma fai- xa bordada com o texto R. di Coppe e R. di Spade ( rainha de copas e rainha de espa- das em italiano) como as inscrições das cartas do baralho Soprafino (Figura 35), para simular o layout da carta de tarot. 34. Cartas de corte da edição especial do baralho Da- mes de France, publicado por J. M. Simon 35. Cartas de corte do baralho Serravalle-Sesi, publica- do por Fratelli Avondo 36. Detalhe manto de Cristo Rei: Jan Van Eyck, 1430-1432,Retábulo de Gante, Catedral de São Bavão 37.Detalhe manto de João Batista: Jan Van Eyck, 1430-1432,Retábulo de Gante, Catedral de São Bavão 35. 36. 37. referências 3938 sketches 38. Sketches do bordado reg. di coppe reg. di spade 39. Vetor do bordado de coração 40. Vetor do bordado de cisne 40 joias Parure (Figura 1) é uma palavra francesa usada para se referir ao jogo de joias combinando, populares entre a nobreza. Nele a gema, a cravação, o estilo e os ornamentos são repetidos nas di- ferentes peças, criando assim, uma unidade visual. Compostos por um broche, um anel, uma pulseira, um par de brincos e um colar, podem conter, em conjuntos mais luxuosos mais de dezes- seis peças, incluindo tiaras e diademas. O projeto foi feito semelhante à um demi-parure (Figura 2), uma versão mais simples com somente três peças. Dentre as opções disponíveis foram escolhidos um pingente, um girdle belt e um par de brincos. 42. Parure 41. William Segar, cerca de 1585, The Ermine Portrait of Elizabeth I of England, Hatfield House 4342 pingente Pingentes eram peças versáteis, vastamente exploradas tanto no vestuário feminino quan- to no masculino. Podiam ser utilizadas em co- lares, presos nos vestidos, cabelos e chapéus . Como a maioria da ourivesaria que permeia o universo Tudor, tendiam a ser joias exageradas feitas em ouro, com acabamento em esmalte e aplicação de gemas lapidadas e pérolas. 43. Pingente The Pelican in her Piety 44. Nicholas Hilliard, 1576-78, Elizabeth I, Família Rothschild 45. Anthonis Mor, 1554, Mary Tudor, Queen of England, Second Wife of Phillip II, Museu do Prado referências 4544 sketches 46. Sketches do pingente ilustração 47. Ilustração do pingente 4746 Os girdle belts são cintos de cadeias longas utilizadas ao redor da cintura. Como as outras joias da época, eram peças rebuscadas, nas quais inclusive as correntes eram ornamenta- das e cravadas com pedras preciosas. Além do uso por questões estéticas também eram fun- cionais,visto que na ponta costumava-se pen- durar missais, incensários e outros amuletos. girdle belt 48. Girdle Belt, 1500-1600 49. Autor desconhecido, início da década de 1570, Portrait of a Tudor Lady in a Rich Costume, Burghley Collection 50. Artista Desconhecido, século XVI, Mary Tudor, Museums Sheffield referências 4948 sketches 51. Sketches do girdle belt 51. Ilustração do girdle belt 5150 Os penteados, o uso de chapéu e de rufo acabam por esconder as orelhas, tornando a representação de brincos nos retratos me- nos recorrente que outros adornos. Apesar de utilizados durante a renascen- ça, são peças simples e discretas, normal- mente feitas com pérolas ou pingentes em formato de gota,que passam despercebidos no exagero da ornamentação no vestuário. brincos 53. Brinco Dolce & Gabanna 54.Marcus Gheeraerts, 1600-1602, Elizabeth I Rainbow Portrait, Hatfield House 55.William Larkin, cerca de 1618, Anne, Countess of Pembroke (Lady Anne Clifford), National Portrait Gallery referências 5352 sketches 56.Sketches do brinco ilustração 57. Ilustração do brinco 54 58. Detalhe do render do pingente render 5756 59. Render pingente 60. Render girdle belt 5958 61. Render brinco 61 produção do vestuário 62. Tecidos utilizados os tecidos A escolha dos tecidos foi influenciada pelas características formais de cada peça de roupa. Os corsets precisavam de te- cidos mais rijos e estruturados e por isso foram feitos em um couro sintético também chamado de napa (Figura 63). Para o vestido de espadas a intenção era utilizar um tecido que tivesse um tom metalizado e fosse mais pesado, mas não fosse tão brilhante como um tafetá ou cetim. A melhor escolha foi o crepe pasquale (Figura 64) que é um tecido com uma tra- ma fechada e tem o brilho mais sutil. O vestido azul foi pensado para ser armado e esvoaçante a or- ganza (Figura 65) foi a que melhor se encaixou nos requisitos de tecido leve, fino e transparente. Para o forro foi utilizado o cetim peach (Figura 66) que é mais discreto do que suas outras versões. crepe pasqualecouro sintético organza cetim peach 63. 64. 65. 66. 63. Detalhe tecido crepe pasquale 64. Detalhe tecido couro sintético 65.Detalhe tecido organza 66. Detalhe tecido cetim peach 6362 corset A modelagem do corset foi inspirada nos espartilhos tradi- cionais, mas simplificado, porque o foco não era ser uma peça de sustentação. O molde foi feito em moulage, técnica em que é modelado direto no manequim, agilizando o processo. As duas peças foram mandadas para a costureira, porque o couro sintético exige uma costura mais precisa, por ser um tecido mais plástico e sem tramas (Figura 67). No corset com babados na cintura foi necessário engomar o tecido, pois o couro é um material com caimento pesado que não se manteria para cima. Foi feita uma mistura de amido de milho e água que ao secar enrijeceu o tecido (Figura 68). 67. Detalhe de costura do couro sintético 68. Detalhe do forro após a aplicação da mistura para engomar vestidos Ambas as peças seguiram uma ordem de desenvolvimento, começando pelo molde, na maior parte feito em modelagem plana, em que peça de roupa é desenvolvida bidimen- sionalmente. Depois a marcação desse molde no tecido e o corte (Figura 69). Para que o te- cido não saia do lugar durante a costura ele é alfinetado e alinhavado (figura 70). O único processo mecânico é feito na máquina de cos- tura doméstica que uniu os pedaços da peça e foi responsável pelo acabamento. O vestido de copas foi o mais delicado de se confeccionar, pois a organza é um teci- do fino que estraga facilmente. O problema começa durante o corte, a trama das bordas começa abrir, o que exigiu que fosse passa- da uma costura em ziguezague por todas as margens para conter o tecido de se desfa- zer durante o manuseio, a qual também foi utilizada nos acabamentos de barra. Na costura o grande problema foi a tensão do fio. Um tecido como o algodão cru permite uma costura resistente com a máquina configurada numa tensão quatro (Figura 71). Na organza foi utilizada a zero com o tamanho do ponto no mínimo, por- que a tensão menor deixa os pontos muito largos e frouxos (Figura 72). O vestido espadas, em contrapartida foi mais simples de ser confeccionado, o cre- pe pasqualli é mais encorpado e tem uma trama mais fechada pode ser costurado com a tensão em quatro sem maiores di- ficuldades. O foco ficou nas mangas (Figu- ra 73) com modelagem feita em moulage, como nas peças em couro sintético, já que a técnica permitiu o desenvolvimento mais prático das dobras no tecido, cujo obtenção seria mais complexa se feita no papel. O acabamento da barra e das mangas foi feito à mão, como na alfaiataria, para esconder as marcas de costura (Figura 74). 69. Molde organizado sobre o tecido 70. Pedaços do vestido azul cortados, prontos para alinhavar 64 71.Teste de tensão de linha quatro aplicada ao algodão cru 72. Teste de tensão de linha quatro aplicada à organza 73. Mangas antes de costurar no vestido 74. Detalhes da costura da manga produção do bordado 75. Materiais usados no bordado 6766 materiais No bordado foi utilizado um mix de ma- teriais, como tudo praticamente seguiu a mesma cor do tecido o foco foram as textu- ras. Foi utilizada a meada comum de algo- dão, miçangas, vidrilhos com brilho furta cor e pérolas em formato pera. A linha metálica é muito seca e fica frouxa enquanto a linha de poliéster se adapta bem ao tecido. A solução foi utilizar a meada, fei- ta de algodão, comum no artesanato, que se adaptou bem ao tecido fino. O bordado manual foi feito nas mangas, em uma mistura de meada, miçangas e vi- drilhos. Para a obtenção de uma textura de penas o corpo do cisne foi preenchido com ponto matiz (Figura 78)enquanto suas asas foram feitas em ponto corrente (Figura 79). Ao contrário do cisne em que as pedrarias deram pontos de brilho à peça, no coração elas foram utilizadas como preenchimento. Com a necessidade de agilizar o pro- cesso, o bordado da barra do vestido foi pro- duzido em uma máquina de bordar. Nela o risco, neste caso o texto, é passado por um software específico que converteu a tipo- grafia escolhida em um formato de arquivo compatível com a máquina. Para finalizar o texto digitalizado foi bordado no espaço de tecido que estava fixo no bastidor. processos Como o foco do bordado era o vestido azul, no cinza foram adicionadas algumas pérolas em formato de pera nas mangas, somente por questões estéticas (Figura 76). No vestido azul foram feitos bordados com uma variedade de materiais. A dificuldade de trabalhar com a organza foi maior, pois a linha utilizada no urdume é mais delicada, fazendo com que a tensão do fio deforme o caimento do tecido e também deixe o ponto com formato diferente do usual. Inicialmente seria aplicado um fio cha- mado rabo de rato para simular o borda- do de linha, mas como o risco era muito pequeno o resultado ficou grosseiro. A segunda opção foi utilizar linha comum junto com fio metálico, porém eles se comportam de maneiras diferentes. 78. Ponto matiz 79. Ponto corrente 76. 77. 80. 81. 76. Detalhe da manga bordada com pérolas 77. Bordado do cisne em andamento 80. Bordado do coração em andamento 81. Faixa de cetim peach bordada em máquina 69 produção das joias 82. Resto das árvores depois da fundição e barras de latão materias BRONZE Em semijoias e bijuterias, para reduzir o custo de produção, metais menos nobres são utilizados na fundição e posterior- mente passam por um banho de ouro. Dentre os mais comuns se encontram o cobre, o latão, o bronze e a prata . Neste caso foi utilizado o bronze, uma liga metálica de cobre e estanho. ZIRCÔNIAS Na cravação das jóias foram usadas zircônias cúbicas (Figu- ra 83) , gemas criadas em laboratório através da fusão entre pó e dióxido de zircônia. Muito parecidas aos diamantes à olho nu, acabaram se tornando uma opção mais barata à pedra pre- ciosa, fato que explica sua popularidade na semijoia. Ela também simula pedras coloridas, já que a adição de óxidos em sua produção altera a coloração do material crista- lino. No projeto foram usadas as azuis, cor de safira, lapidadas no formato carre. PÉROLA Como alternativa às pérolas naturais foram utilizadas as péro- las Shell (Figura 83), produzidas sinteticamente em vidro, porce- lana ou resina. Seu diferencial é o acabamento em pó de madre- pérola que lhe confere um aspecto mais próximo ao das naturais. Na base do brinco foi usada a meia pérola, também sinté- tica, porém mais simples, são núcleos de plástico, revestidos com camadas de tinta perolada e verniz. 83. Zircônias e pérolas usadas na cravação 7170 modelagem Para a criação do modelo 3D foi usado o Matrix (Figura 84), um software de modelagem 3D que conta com ferramentas específicas para o desenvolvimento de joias. Nele o modelo é criado com todas as medidas e detalhes finais, pois é a partir desse protótipo que a peça final é produzida. A superfície da peça é formada por uma malha triangular, que durante a modelagem pode apresentar triângulos soltos, inver- tidos ou duplicados que passam despercebidos no fechamento do arquivo. Antes da preparação do modelo para a prototipagem ele precisa ser checado em um software chamado Magics que é responsável pela reparação de malha (Figura 85). 84. Printscreen da interface do Matrix 85. Printscreen da interface do Magics impressão do prototótipo Para a criação do protótipo (Figura 86) foi utilizada a im- pressão 3D, mais especificamente, a estereolitografia, método popular na fabricação de semijoias, devido a sua precisão nos detalhes. Nela, uma resina fotossensível, é exposta a um laser que irá solidificá-la. O feixe de raios ultravioleta é direcionado à bandeja e ao atingir a resina solidifica a primeira camada. A plataforma móvel na qual a bandeja esta colocada é rebaixada após o pro- cessamento de cada seção, construindo assim camada sobre camada. Finalizado o protótipo ele passa pela limpeza em solução química para eliminar o excesso de material e é exposto nova- mente à luz UV para o processo final de cura. 86. Protótipos em resina 7372 molde A partir do protótipo em resina é feito um molde em borracha vulcanizada (Figura 87). O material recobre o modelo para passar por um processo de aquecimento. Depois do endurecimento, causado pelo aumento da temperatura, a borracha é aberta e o espaço onde antes estava o protótipo se torna a matriz para a semijoia(Figura 88). Posteriormente, a cera derretida é injetada no molde através de pressão, para a ob- tenção de uma cópia da peça final. 87. Moldes em borracha junto com maquinário 88. Interior da borracha de uma das peças cera perdida e fundição As peças em cera são fixadas em diversas hastes que forma- rão uma estrutura chamada “árvore” (Figura 89) .Essa árvore é então mergulhada em um tanque de aço no qual é derramado um material semelhante ao gesso. Após o seu endurecimento a estrutura será aquecida em for- nos de alta temperatura, que farão com que a cera derreta, por isso o nome de fundição por cera perdida. Para finalizar o metal é injetado no espaço negativo, formando a peça final e o gesso é removido com jatos de água. Antes de ir para o banho o modelo é lixado para remover possíveis rebarbas ou pontos salientes. 89. Modelos em cera fixados na árvore 7574 cravação Considerada uma das etapas de acabamento, a cravação é a fixação da gema na es- trutura metálica. Na joalheria artesanal, em ouro, os furos são feitos manualmente com brocas e as garras são soldadas posteriormente, entretanto a impressão 3D permitiu que ambos fossem desenvolvidos durante a modelagem, agilizando o processo (Figura 90). Na cravação com garras, a pedra “dorme” no encaixe feito na caixa enquanto as garras são dobradas nas laterais fixando-a no lugar. Na microcravação, as zircônias são colocadas muito próximas uma das outras e uma garra é utilizada para cravar mais de uma pedra (Figura 91). 90. Detalhes dos furos nas caixas 91. Peças cravadas banho A peça que está em latão, a liga base, passa por uma gal- vanoplastia, também chamada de banho de ouro, que irá lhe conferir brilho e aspecto de joia. A primeira etapa é o desengraxante eletrolítico, um método de limpeza por corrente elétrica, em que os resíduos são re- movidos para evitar manchas e melhorar a aderência do ouro. Finalizado o processo uma primeira camada de banho, de co- bre alcalino, é adicionado para corrigir as imperfeições, dei- xando a superfície uniforme. A próxima camada de banho é de cobre ácido, que é o início da adição de brilho. No banho principal de ouro, uma quantidade maior de me- tal nobre é depositada, conferindo alto brilho à semijoia. Na cor final uma outra camada de ouro é adicionada para corri- gir variações de tonalidade ao longo da peça e por fim a peça recebe uma última camada de proteção, na qual ela é imersa em uma espécie de verniz que criará uma película incolor, que preservará o banho, lhe conferindo maior durabilidade. acabamento Na etapa final a semijoia é polida para eliminar os riscos e re- alçar o brilho. É utilizada uma escova sintética que gira em alta rotação desgastando a superfície metálica até deixá-la uniforme. 7776 erros Dentre as peças de joalheria já era esperado problemas com o pingente de cisne, por- que sua modelagem é mais orgânica e durante a criação foi o mais complexo de se finali- zar. No fechamento do arquivo no Magics, por problemas nas paredes, o vão da parte de baixo, feito para aliviar o material, foi preenchido tornando a peça maciça (Figura 92). Como o pingente seria um componente do brinco ele tinha que ser oco, pois o brinco montado tem que ficar o mais leve possível. A modelagem do cisne foi refeita, seu comprimento reduzido e as asas que a princípio eram maciças também receberam um rebaixo na parte de trás. No planejamento inicial do corset a intenção era costurar o tecido dobrado, mas seria necessário o uso de uma máquina industrial, a solução foi aplicar uma fita de viés de algodão contornando toda a peça, para esconder as marcas de corte (Figura 93) 92. Modelo no Magics 93. Acabamento em viés conclusão Me aprofundar na pesquisa histórica acerca das artes finas me fez entender que os tópicos que eu gostava dentro do design, não eram só “coisas bonitas”, com função me- ramente estética, na verdade, o bordado e a joalheria são meios de se expressar através do ato de adornar o próprio corpo. Dotados de um discurso visual são parte da criação identitária de uma cultura e ao longo do processo de evolução da humanidade foram importantes artefatos que ajudaram a construir a trajetória humana. No tocante à produção, unir os processos industriais com manualidades enriqueceu esse projeto. A tecnologia está aqui para facilitar, mas também é importante que ela seja acompanhada do artesanal. Foi ótimo contar com ferramentas que possibilitaram realizar os objetivos dentro do cronograma, mas também foi muito bom poder produzir manualmente detalhes e acabamentos que tornaram o Artisan único. Foi crucial para mim como profissional entender que design não se faz sozinho, que as pessoas contribuem de diferentes maneiras para concretizar suas ideias e que elas são necessárias para o projeto acontecer. Esta é uma das facetas mais incríveis do de- sign e é o que me faz me interessar mais pela área. O Artisan é o meu último projeto da graduação eu fiz questão de trabalhar com o que eu genuinamente gosto, de mesclar os meus amores e as minhas inquietações como fu- tura designer. O bordado, a ourivesaria e a costura são atividades que sempre estiveram presentes na minha casa e que foi natural eu me encaminhar para esses nichos. Assim sendo cada detalhe aqui produzido é um pedaço da colcha de retalhos que cria a minha identidade como profissional. 7978 índice de figuras Figura 01. | p. 9 Fonte : https://www.npg.org.uk/collections/search/portrait/mw02070/Queen-Elizabeth-I Figura 02. e 03|p. 11 e 13 Fonte: https://www.npg.org.uk/research/programmes/making-art-in-tudor-britain/the- -phoenix-and-the-pelican-two-portraits-of-elizabeth-i-c.1575.php Figura 04. |p. 14 e 15 Fonte: https://www.metmuseum.org/toah/works-of-art/64.101.1284/ Figura 05. |p.14 Fonte: https://www.metmuseum.org/art/collection/search/466660 Figura 06. | p.15 Fonte : http://www.gutenberg.org/files/17585/17585-h/17585-h.htm Figura 07 |p. 16 Fonte: https://www.npg.org.uk/research/programmes/making-art-in-tudor-britain/the- -phoenix-and-the-pelican-two-portraits-of-elizabeth-i-c.1575.php Figura 08. |p. 17 Fonte:https://www.rijksmuseum.nl/en/collection/BK-17052 Figura 09. |p.7 Fonte: https://www.rijksmuseum.nl/en/collection/BK-17069 Figura 10. | p.18 Fonte : https://labyrinthos.co/products/golden-thread-tarot-deck-cards Figura 11 |p.19 Fonte: https://www.wopc.co.uk/italy/visconti Figura 12. |p. 20 Fonte: https://www.tarot-de-marseille-heritage.com/galerie_tarots_historiques.html Figura 13. |p.20 Fonte: https://www.wopc.co.uk/tarot/index Figura 14. |p.21 Fonte: https://divinationandfortunetelling.com/articles/how-to-buy-tarot-cards Figura 15. |p.22 Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/The_High_Priestess#/media/File:RWS_Tarot_02_ High_Priestess.jpg Figura 16. | p.23 Fonte: https://divinationandfortunetelling.com/articles/how-to-buy-tarot-cards Figura 17.|p.24 Fonte: https://labyrinthos.co/blogs/tarot-card-meanings-list/queen-of-pentacles-meaning- -tarot-card-meanings Figura 18. |p.24 Fonte: https://labyrinthos.co/blogs/tarot-card-meanings-list/queen-of-cups-meaning-tarot- -card-meanings Figura 19. | p.25 Fonte : https://labyrinthos.co/blogs/tarot-card-meanings-list/queen-of-wands-meaning-ta- rot-card-meanings Figura 20.|p.25 Fonte: https://labyrinthos.co/blogs/tarot-card-meanings-list/queen-of-swords-meaning-ta- rot-card-meanings Figura 21.|p.26 Fonte: Acervo de Rafaella Lucera Figura 22. |p.28 Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Albert_Lynch_-_Jeanne_d%27Arc.jpg Figura 23. | p.29 Fonte: https://www.vogue.com/fashion-shows/resort-2019/alexander-mcqueen/slideshow/ collection#22 Figura 24.|p.29 Fonte: https://www.rct.uk/collection/404444/elizabeth-i-when-a-princess Figura 25.|p.30 Fonte: https://www.npg.org.uk/collections/search/portrait/mw04279/Unk- nown-woman-formerly-known-as-Mary-Queen-of-Scots?LinkID=mp02996&role=sit&r- No=4 Figura 26.|p.31 Fonte: https://www.vogue.co.uk/shows/autumn-winter-2014-ready-to-wear/alexander-mc- queen/details Figura 27. |p.31 Fonte: https://www.vogue.com/fashion-shows/pre-fall-2012/alexander-mcqueen/sli- deshow/collection#21 Figura 28 e 29. | p.32 e 33 Fonte : Acervo de Rafaella Lucera Figura 30. | p.34 e 35 Fonte :https://shamanicdrumm.wordpress.com/tag/wild-unknown-tarot/ 8180 Figura 31.|p.34 Fonte: https://www.bl.uk/catalogues/illuminatedmanuscripts/ILLUMIN.ASP?Size=mid&IllID=23693 Figura 32. |p.35 Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Nettlebed_StBartholomew_window_ ChancelNorth_pelican.jpg Figura 33.| p.35 Fonte :https://www.wga.hu/html_m/m/maler/welzer2.html Figura 34.|p.36 e 37 Fonte: https://www.wopc.co.uk/france/france-cartes/dames-de-france Figura 35. |p.37 Fonte: https://www.wopc.co.uk/italy/serravalle-sesia-tarot Figura 36 e 37. | p.36 e 37 Fonte :https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/8c/Lamgods_open.jpg Figura 38, 39 e 40 .| p.38 e 39 Fonte : Acervo de Rafaella Lucera Figura 41.|p.40 Fonte: https://www.rct.uk/collection/themes/publications/ancient-and-modern-gems-and-jewels/ parure-with-necklace-brooch-and Figura 42.|p.41 Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Elizabeth1England.jpg Figura 43. |p.42 Fonte: http://collections.vam.ac.uk/item/O72012/the-pelican-in-her-piety-pendant-unk- nown/ Figura 44. | p.42 Fonte :https://www.apollo-magazine.com/a-radical-new-look-at-the-greatest-of-elizabethan-artists/ Figura 45.|p.43 Fonte: https://www.museodelprado.es/en/the-collection/art-work/mary-tudor-queen-of-england-se- cond-wife-of-philip/aef6ebc4-081a-44e6-974d-6c24aef95fc4?fbclid=IwAR1evBZ3yWTXDznP2_i2Kys- sUS2t3CqiEaEOSryVzY0lbK8E5T-J9L0l5PI Figura 46 e 47. |p.44 e 45 Fonte: Acervo de Rafaella Lucera Figura 48.| p.46 Fonte : https://collections.vam.ac.uk/item/O115439/girdle-unknown/ Figura 49.|p.46 Fonte:https://collections.burghley.co.uk/collection/portrait-of-a-tudor-lady-in-a-rich-cos- tume-flemish-school-early-1570s/ Figura 50.|p.47 Fonte: http://www.artuk.org/artworks/mary-tudor-15161558-72442 Figura 51 e 52. |p.48 e 49 Fonte: Acervo de Rafaella Lucera Figura 53.| p.50 Fonte: https://store.dolcegabbana.com/en/women/accessories/bijoux/bijoux-gold-158059226621027. html?keeplocale=true&Country=FR&utm_source=LS&utm_medium=AFF&utm_campaign=Lys- t+UK%2FEU&utm_content=gcdL%2FATRVoE&utm_term=15&ranMID=42394&ranEAID=gcdL%2FA- TRVoE&ranSiteID=gcdL_ATRVoE-lao2GEn7Mppcz2pflh3Neg Figura 54.|p.50 Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/c/cf/Elizabeth_I_Rainbow_Por- trait.jpg/696px-Elizabeth_I_Rainbow_Portrait.jpg Figura 55. |p.51 Fonte: https://www.npg.org.uk/collections/search/portrait/mw235435/Anne-Countess-of- -Pembroke-Lady-Anne-Clifford Figura 56 e 57.| p.52 e 53 Fonte: Acervo de Rafaella Lucera Figura 58.| p.54 Fonte : Acervo de Rafaella Lucera Figura 59 e 60.|p.56 e 57 Fonte: Acervo de Rafaella Lucera Figura 61.|p.58 e 59 Fonte: Acervo de Rafaella Lucera Figura 62. |p.60 Fonte: Acervo de Rafaella Lucera Figura 63, 64, 65, 66. |p.61 Fonte: Acervo de Rafaella Lucera Figura 67 e 68.|p.62 Fonte: Acervo de Rafaella Lucera Figura 69 e70.|p.63 Fonte: Acervo de Rafaella Lucera Figura 71, 72, 73 e74. |p.64 Fonte: Acervo de Rafaella Lucera Figura 75. |p.65 Fonte: Acervo de Rafaella Lucera 8382 Figura 76 e 77. |p.67 Fonte: Acervo de Rafaella Lucera Figura 78. |p. 66 Fonte: http://arteartesanatoemimos.blogspot.com/2009/09/ponto-matiz.html Figura 79. |p.66 Fonte: https://pontocruzlaurinha.blogspot.com/p/ponto-haste-ponto-margarida-ponto.html?m=1 Figura 80 e 81. |p.67 Fonte: Acervo de Rafaella Lucera Figura 82. |p.68 Fonte: https://braveman.com.br/blogs/brvmn-blog/fundicao Figura 83. |p.69 Fonte: Acervo de Rafaella Lucera Figura 84, 85 e 86. |p.70 e 71 Fonte: Acervo de Rafaella Lucera Figura 87,88,89. |p.72 e 73 Fonte: Acervo de Rafaella Lucera Figura 90 e 91. |p.76 Fonte: Acervo de Rafaella Lucera refêrencias 3DILLA. 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