Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” UNESP Campus Jaboticabal Eduardo Fernandes Júnior Pegada de carbono e uso da terra da produção de bovinos em sistemas produtivos extensivo, intensivo e orgânico Jaboticabal 2019 i Eduardo Fernandes Júnior Pegada de carbono e uso da terra da produção de bovinos em sistemas produtivos extensivo, intensivo e orgânico Dissertação apresentada à Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, como exigência parcial para obtenção do grau de Mestre em Administração. Área de Concentração: Gestão de Organizações Agroindustriais Orientadora: Profa. Dra. Andreia Marize Rodrigues Rodrigues Cooorientador: Prof. Dr. Abmael da Silva Cardoso Jaboticabal 2019 F363p Fernandes Júnior, Eduardo Pegada de carbono e uso da terra da produção de bovinos em sistemas produtivos extensivo, intensivo e orgânico / Eduardo Fernandes Júnior. -- Jaboticabal, 2019 107 p. : il., tabs., fotos Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista (Unesp), Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Jaboticabal Orientadora: Andreia Marize Rodrigues Coorientador: Abmael da Silva Cardoso 1. Avaliação do ciclo de vida. 2. Criação orgânica. 3. Sistema Extensivo. 4. Sistema Intensivo. 5. bovinocultura. I. Título. Sistema de geração automática de fichas catalográficas da Unesp. Biblioteca da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Jaboticabal. Dados fornecidos pelo autor(a). Essa ficha não pode ser modificada. ii Dedicatória Dedico esse trabalho a minha família que sempre esteve ao meu lado, me dando todo suporte, pessoal, psicológico, as vezes financeiro, minha capacitação de base social e cultural que permitiram entrar na Faculdade de que tanto tenho orgulho, a FCAV, e posteriormente retornar em busca do título de Mestre, lhes devo a vida, o caráter, e tudo que tenho conquistado apoiado nessa grande base que são vocês, Família, amo vocês. Agradeço ao maior de todos, Deus, inigualável e fonte de toda minha fé, fé na vida, no aprendizado, no amor e de que penso que seguindo e zelando por ter sempre você junto de mim, me guiando, sendo onisciente e onipresente, sentido da vida. Ofereço a minha gratidão também a minha noiva, Amanda Cerqueira, pelas ajudas nos momentos difíceis, pelo reconhecimento, por estar ao longo dessa jornada de formação que tem tantos altos e baixos, não permitindo que eu perdesse o foco e continuasse sempre em busca desse sonho, por estar ao meu lado nas conquistas, nas quedas e nos auxílios na volta por cima, te amo. A minha Orientadora, Dra. Andréia Marize, pela parceria, pela atenção, pelo zelo, apesar da relação aluno e professor, as vezes esbarrar em discussões, nós resolvemos, e além de uma excelente professora, uma amiga, uma pessoa ímpar, que permitiu meu desenvolvimento na graduação e que pude reencontrar na pós, sempre pronta a ajudar, serei eternamente grato, de coração meu muito obrigado, lhe devo muito, e cresci após esse contato com a Dra, tanto no lado pessoal, humano, quanto no profissional, me fez entender que nem tudo é como eu quero, espero, que tudo tem sua hora, administrar a vida, os anseios, ansiedades, por isso, vai além da gratidão, é uma dívida como pessoa, a você Dra., meu muito, muito, muito obrigado. Agradeço também ao Prof. Dr Abmael da Silva Cardoso, grande especialista na área, que dedicou seu tempo e conhecimento em minha co-orientação, e encima da hora, serei eternamente grato, por nos ajudar ao norte dessa dissertação, em busca de um título que vai além do papel, um título de vida que carregarei para sempre, meu muito obrigado e eterna gratidão. iii Agradecimentos Agradeço à minha empresa pela disponibilidade de me liberar a essa jornada de capacitação que foi o programa de Mestrado de 2 anos, no qual permitiram livre acesso a idas e vindas desse processo, e saibam que esse título vai além do papel e tentarei usar de todo conhecimento adquirido ao longo do curso para meu dia-a-dia, e meu crescimento pessoal e profissional, ser usado a Modertech Assistência Técnica e Reforma CNC Ltda., leva-la ao seu crescimento exponencial e torna-la com a magnitude que ela deve ter. Meus sinceros agradecimentos a todos os professores doutores do programa de pós graduação da FCAV Unesp Jaboticabal, por todas as aulas, palestras, e por tudo que fizeram por mim e nós como turma, em termos de capacitação pessoal e profissional, meu muito obrigado. Agradeço ao Governo Estadual pela manutenção da integridade e da imagem da Unesp que tanto tenho orgulho de ser graduado e agora vislumbrando a título de Mestre em Administração, por esse ensino de primeiro mundo. iv Epígrafe “A persistência é o caminho do êxito”. Charles Chaplin “Minha energia é o desafio, minha motivação é o impossível, e é por isso que eu preciso ser, à força e a esmo, inabalável” Augusto Branco “O Homem é do tamanho dos seus sonhos” T. Hobbes v Resumo Objetivo: O objetivo geral deste trabalho consiste em realizar um estudo comparativo dos impactos ambientais em sistemas intensivo, extensivo, orgânico da produção de bovinos de corte no Brasil Central a partir da ferramenta de Análise do Ciclo de Vida (ACV). Metodologia/Procedimentos de Pesquisa: A pesquisa classifica-se como de abordagem quantitativa, utilizando de ferramentas padronizadas, e baseada em cálculos mediante planilha eletrônica. Quanto à sua natureza pode ser descrita como de natureza aplicada, com objetivos definidos que remetem à pesquisa exploratória e descritiva. O procedimento aplicado foi de pesquisa de referencial bibliográfico e posterior aplicação em cenários prototípicos. A ACV segue as normas preconizadas pela ISO 14040 e os cálculos através das equações propostas, pelo IPCC, sendo posteriormente calculados em planilha eletrônica. Resultados e Discussões: Mensurar os impactos ambientais nos diferentes sistemas produtivos da bovinocultura: extensivo, intensivo e orgânico, quantificando os gases do GEE e uso da terra mediante os resultados alcançados, e verificar quais dos sistemas é o menos impactante ao meio ambiente, em termos de produtividade comparativamente. Implicações Gerenciais: Os resultados a serem obtidos com a pesquisa podem auxiliar na tomada de decisão no processo de escolha do sistema a ser escolhido levando em consideração o aspecto da gestão ambiental, e possíveis diretrizes e normas futuras com relação a leis ambientais que possam atingir o setor. Conclusões e Limitações da Pesquisa: O sistema de produção de bovinos de forma orgânica resulta em menor impacto ambiental considerando a categoria de impacto pegada de carbono. Porém, necessita de maior área para produção. A baixa disponibilidade de dados realísticos dos sistemas de produção constitui-se em uma limitação da pesquisa. Originalidade: A originalidade da pesquisa está relacionada a baixa presença de estudos de ACV que tenham explorado a criação de gado orgânica no Brasil, comparando com as emissões de sistemas mais comuns, extensivo e intensivo. Palavras-chaves: ACV, Pegada de carbono, uso da terra, gado, sistema intensivo, sistema extensivo, criação orgânico. vi Abstract Purpose: The general objective of this work is to perform a comparative study of environmental impacts in intensive, extensive, organic systems using the Life Cycle Analysis (LCA) tool. Design/methodology: The research is classified as a quantitative approach, using standardized tools, and based on spreadsheet calculations. Its nature can be described as applied nature, with defined objectives that refer to the exploratory and descriptive research. The procedure applied was to search for bibliographic references and later to place them in prototypical scenarios. The ACV follows the standards recommended by ISO 14040 and the quantum application of the proposed formulas, by the IPCC, and are then calculated in a spreadsheet. Findings and Discussions: Measure the environmental impacts in the different productive systems of cattle breeding: extensive, intensive and organic, quantifying GHG and land use using the results achieved, and verify which of the systems is the least impacting the environment in terms of productivity comparatively. Management Implication: The results to be obtained with the research can help in decision to making in the process of choosing the system to be chosen taking into consideration the aspect of environmental management, and possible future guidelines and norms regarding environmental laws that can reach the sector. Conclusion and Research limitations: The organic production system of cattle results in a lower environmental impact considering the category of carbon footprint. However, it needs more area for production. The low availability of realistic production system data is a limitation of the research.Originality: The originality of the research is related to the low presence of LCA studies that have explored organic cattle breeding in Brazil, comparing with the most common, extensive and intensive systems emissions. Keywords: LCA, Carbon footprint, land scape, livestock, intensive system, extensive system, organic farming. vii Lista de Abreviaturas ABCV- Associação Brasileira de Ciclo de Vida ABNT-Associação Brasileira de Normas Técnicas ABPO- Associação Brasileira de Pecuária Orgânica ACV- Análise do ciclo de Vida APP- Área de Preservação Permanente ASPRANOR-Associação Brasileira de Produtores de Animais Orgânicos CH4- Gás Metano CO2- Dióxido de Carbono GA- Gestão Ambiental GCSV-Gestão da Cadeia de Suprimentos Verde GRI- Global Reporting Initiative ISO- International Organization for standardization IBD- Instituto Biodinâmico IBGE-Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IFOAM- Federação Internacional de Movimentos de Agricultura Orgânica INPE- Instituto Nacional de Pesquisa e Estatística MAPA-Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento NDC- Contribuições Nacionalmente Determinadas N2O-Óxido nitroso OAC-Organismos de Avaliação da Conformidade P&D- Pesquisa e Desenvolvimento SGA- Sistema de Gestão Ambiental SIOSRG- Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica USDA/NPO- Departamento de Agricultura dos Estados Unidos/Programa Nacional Orgânico viii Lista de Figuras Figura 1 - Representação de uma ACV do berço ao túmulo ................................................... 44 Figura 2 - Etapas de um estudo de Análise de Ciclo de vida .................................................. 45 Figura 3 – Etapas da pesquisa. ................................................................................................ 61 Figura 4 - Entradas e Saídas do processo produtivo................................................................ 68 Figura 5- Produção Arrobas por hectare..................................................................................74 ix Lista de Quadros Quadro 1 - Pontos fortes e fracos do sistema orgânico ........................................................... 34 Quadro 2 - Características da Pecuária Orgânica .................................................................... 36 Quadro 3 - Relação entre emissões diretas e indiretas de GEE durante a pecuária ................ 48 Quadro 4 - Mitigações dos GEE - Pegada de Carbono ........................................................... 59 x Lista de Tabelas Tabela 1 - Entradas e Saídas Anuais dos Sistemas de produção Extensivo, Intensivo e Orgânico ................................................................................................................................... 65 Tabela 2 - Ciclo de vida de produção de bovinos de corte ...................................................... 67 Tabela 3 - Fatores de emissões diretas de CH4 e N2O ............................................................. 70 Tabela 4 - Fatores de emissão de CO2 para os insumos utilizados na fazenda desde a produção até a entrega .............................................................................................................. 70 Tabela 5 - Fatores de Emissão para insumos utilizados dentro de uma fazenda de produção de bovinos de corte ........................................................................................................................ 71 Tabela 6 - Insumos utilizados dentro de uma fazenda de produção de bovinos de corte ........ 71 Tabela 7 - Número de animais abatidos, peso de carcaças e produção de carcaças para os Sistemas EXT, INT e ORG ...................................................................................................... 72 Tabela 8 - Área útil e uso da terra para a produção animal dos sistemas avaliados ................ 73 Tabela 9 - Emissão de CO2 (kg CO2/rebanho/ano) ................................................................. 76 Tabela 10 - Emissões de CH4 por cenário e fase ..................................................................... 78 Tabela 11 - Emissão de N2O em cada fase (kg de N2O) e kg de CO2 eq. ............................... 80 Tabela 12 - Emissão de CO2 por cenário ................................................................................. 81 Tabela 13 - CO2 eq. total por cenário ...................................................................................... 82 Tabela 14 - Pegada de Carbono ............................................................................................... 82 Tabela 15 - Área ocupada por cada rebanho nos três cenários ................................................ 85 Tabela 16 - Uso da Terra para cada sistema ............................................................................ 85 Tabela 17 - Composição de Rebanho e Produção Carcaça por cenários ................................. 88 11 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 13 1.1 Objetivos ......................................................................................................... 16 1.2 Justificativas .................................................................................................... 16 1.3 Estrutura do trabalho ....................................................................................... 20 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................................. 21 2.1 Pecuária de corte no Brasil .................................................................................. 21 2.2 Pecuária Orgânica ........................................................................................... 25 2.2.1 Carne Orgânica .......................................................................................... 28 2.3 Produção de bovinos de corte ......................................................................... 29 2.3.1 Gado de corte ............................................................................................. 29 2.4 Sistema de produção de bovinos de corte ....................................................... 31 2.4.1 Sistema Extensivo ...................................................................................... 32 2.4.2 Sistema Intensivo ....................................................................................... 33 2.4.3 Sistema Orgânico ....................................................................................... 33 2.5 Gestão Ambiental na pecuária ........................................................................ 38 2.5.1 SGA (Sistema de Gestão Ambiental) ........................................................ 40 2.6 ACV: Análise do Ciclo de Vida ..................................................................... 42 2.6.1 Nascimento ao abate (Cradle-to-grave) ..................................................... 46 2.6.2 Berço a porteira (Cradle-to-gate) ............................................................... 46 2.6.3 Portão ao portão (Gate-to-gate) ................................................................. 46 2.7 Análise de Ciclo de vida na Pecuária .............................................................. 47 2.8 Gases do Efeito Estufa provenientes da Pecuária e uso da terra..................... 48 2.8.1 Metano (CH4) ............................................................................................. 51 2.8.2 Óxido Nitroso (N2O) .................................................................................. 52 2.8.3 Dióxido de Carbono (CO2) ........................................................................ 52 2.9 Mitigação dos Gases do GEE e Pegada de Carbono....................................... 53 12 3. MATERIAS E MÉTODOS ............................................................................................ 61 3.1 Definição do objetivo e escopo ....................................................................... 62 3.2 Unidade funcional e alocação ......................................................................... 66 3.3 Limites do sistema .......................................................................................... 66 3.4 Inventário do ciclo de vida .............................................................................. 68 3.4.1 Cálculo das emissões ................................................................................. 69 3.4.2 Cálculo da produção de carcaça................................................................. 72 3.4.3 Cálculo do uso da terra .............................................................................. 72 3.5 Avaliação do Impacto do Ciclo de Vida (AICV) ........................................... 73 4. RESULTADOS ................................................................................................................ 75 4.1 Pegada de Carbono .............................................................................................. 75 4.1.1 Emissões de CO2 ........................................................................................ 75 4.2 Emissões de CH4 ............................................................................................. 77 4.3 Emissões de N2O ............................................................................................ 79 4.4 Emissão de CO2 fóssil ..................................................................................... 81 4.5 Total de CO2 eq. por cenário e Resultado da Pegada de Carbono .................. 82 4.1.7 Uso da Terra ..................................................................................................... 84 4.6 Produção de Carcaça ....................................................................................... 86 4.7 Implicações praticas do trabalho ..................................................................... 89 4.7.1 Implicações Gerenciais .............................................................................. 89 4.7.2 Âmbito Ambiental ..................................................................................... 90 4.7.3 Âmbito Produtivo ...................................................................................... 90 4.7.4 Âmbito da Gestão Ambiental .................................................................... 91 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 93 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 94 GLOSSÁRIO ........................................................................................................................ 105 13 1. INTRODUÇÃO A expressão econômica da pecuária é mundialmente reconhecida. Embora nas últimas décadas outras atividades tenham contribuído com maiores percentuais na economia, a produção animal se destaca pela expressiva participação social e política, sobretudo em países em desenvolvimento (EMBRAPA, 2009; FAO, 2011, RUGGIERI; CARDOSO, 2017). Esta relevância econômica se deve principalmente à crescente necessidade de maior produção de alimentos, fruto do crescimento acelerado da população mundial, sendo que a Organização das Nações Unidas estima que até o ano de 2050 a população chegue a 9,6 bilhões de habitantes, torna-se necessário o aumento da produção de alimentos e, mais especificamente, de carne, principal fonte de proteína para a humanidade (ONU, 2015; BORDONAL et al., 2018). Pesquisas realizadas trimestralmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) geram dados para realização das estatísticas relacionadas à produção de bovinos de corte com abrangência geográfica nacional. Neste sentido, estima-se o total de cabeças abatidas e o peso total das carcaças. Segundo relatório disponibilizado no segundo semestre de 2018 pelo órgão de pesquisa e estatística, no mês de junho o total de carcaças de bovinos abatidas, em toneladas, foi de 698.554, uma variação 9,5% maior quando comparado com o mesmo mês do ano de 2017. A porcentagem de aumento entre os trimestres de 2017 e 2018 foi sempre positiva no primeiro semestre, com exceção ao mês de maio. Tal fato demonstra o potencial de produção de gado de corte em campos brasileiros, ressaltando a importância dessa atividade na economia no país (IBGE, 2018). O sistema de produção na bovinocultura de corte é organizado de acordo com o ciclo de vida do animal, dos ciclos vegetais e das estratégias de criação do produtor. As principais fases podem ser divididas em cria, recria e engorda, estando envolvidos os períodos de cobertura, desmama, fase entre desmama e terminação e engorda dos animais. A última fase, relacionada à engorda, pode ser realizada com os animais confinados ou a pasto (QUADROS, 2005; EMBRAPA, 2007), dependendo da estação do ano, da disponibilidade de pasto (intensivo, extensivo e semiextensivo) e do tempo pretendido para o abate. Entretanto, faz-se relevante destacar que o manejo aplicado pelo produtor é capaz de surtir maiores efeitos e variáveis do que o tipo de sistema de produção (ALVES, 2007; YAN et al., 2011). Dentre os sistemas de produção, a pecuária é dita extensiva quando o gado é criado solto e se alimenta somente de pastagens, sendo tal sistema praticado em todo o país (EMBRAPA, 2005; REVISTA AGROPECUÁRIA, 2018). Neste sistema de produção o 14 bovino pode ser terminado em confinamento ou utilizando suplementos, o que pode auferir uma maior produtividade (CARDOSO, 2012, CARDOSO et al., 2016). Já a pecuária dita intensiva caracteriza-se pelo uso de insumos tais como suplementos, minerais, adubação de pastagens e controle zootécnico do rebanho. No sistema intensivo o bovino pode ser terminado em confinamento ou utilizando suplementos. No entanto, neste caso a maior produtividade pode ser alcançada pelo uso de mão de obra especializada, seja para controle ou monitoramento constante do gado (CARDOSO, 2012). O sistema orgânico, por sua vez, é semelhante ao extensivo, onde o gado alimenta-se da pastagem. No entanto, neste sistema não é permitido o uso de agrotóxicos no solo, medicamentos químicos e hormônios sintéticos. Além disso, prioriza-se a utilização dos recursos naturais e considera aspectos éticos nas relações sociais internas da propriedade e no trato com os animais, este sistema também pode ser utilizado o método intensivo de produção em alguma das fases do ciclo de vida (FIGUEIREDO; SOARES, 2012). Por outro lado, têm-se a dualidade entre produção pecuária e meio ambiente, visto que toda atividade humana é potencial geradora de impactos ambientais (IPCC, 2007). Dentre os principais impactos ambientais associados a esta atividade estão a alteração da biodiversidade, o desmatamento e a intensidade de emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE) expressa em CO2 equivalentes (pegada de carbono) (EMBRAPA,2018). Balbino et al. (2011) cita que os efeitos em sinergia entre a pecuária e o meio ambiente compreendem a adequação às normas ambientais e à viabilidade econômica da atividade. As interferências antrópicas mediante potencialização por necessidade de alimento acabam acelerando impactos ambientais, como as mudanças climáticas, por exemplo. No longo prazo, as consequências destes impactos poderão afetar cadeias produtivas do agronegócio, sendo importantes soluções para minimizá- los com vistas à redução dos efeitos em cadeias produtivas, como a da carne, por exemplo (MATIAS; AZEVEDO; MALAFAIA, 2014) No entanto, os impactos ambientais da produção pecuária são distintos de acordo com o sistema de produção adotado. O sistema de produção extensivo, por exemplo, demanda uma maior quantidade de terra para a produção de carne, gerando pressão sobre a biodiversidade e áreas de floresta. Já no sistema intensivo, nota-se a utilização de elevadas quantidades de combustíveis fósseis que, por conseguinte, contribui para uma maior emissão de GEE. No sistema orgânico, por sua vez, o abate de animais com idade avançada leva a um aumento na produção de metano (CH4) (RUGGIERI, CARDOSO, 2017; SEEG, 2018). Neste sentido, algumas pesquisas têm sido realizadas visando avaliar os impactos ambientais e a sustentabilidade de atividades agropecuárias em diferentes países, mediante a 15 utilização de diferentes ferramentas (HAAS; WETTERICH; KÖPKE, 2001; OGINO et al., 2004; CASEY; HOLDEN, 2006; MONTEIRO, 2009; NEMECEK et al., 2016; NGUYEN et al., 2010; PRIMAVESI et al., 2012; SÉO et al., 2016). Uma das possíveis ferramentas de análise ambiental têm-se a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), desenvolvida e aprimorada desde o início da década de 1990 para avaliação de sistemas industriais e, mais recentemente, tem sido aplicada para sistemas agrícolas e agroalimentares, incluindo a pecuária tanto a de corte quanto a leiteira (ARSENAULT et al., 2009; BAUMANN; TILLMAN, 2004; MILÀI; De BAAN, 2015; NEMECEK et al., 2016; SÉO et al., 2016). A metodologia de ACV, regulamentada pelas normas ISO 14040 e 14044, trata-se de ferramenta que auxilia na análise para compilação de dados de um produto, cujo seu resultado de desempenho ambiental será avaliado posteriormente. No contexto agrícola, mais especificamente no sistema agroalimentar pecuarista, a ACV é uma ferramenta em potencial para a avaliação de várias categorias de impacto, dentre as quais pegada de carbono e uso da terra, mediante uso dos métodos mundialmente aceitos, como CML2002 e Impact World+ (MENDES, 2013). RUGGIERI e CARDOSO (2017) salientam que a ACV se constitui na ferramenta mais conhecida e utilizada para cálculo do balanço de carbono, permitindo a avaliação da pegada de carbono de um produto da agropecuária. Para o cálculo da pegada de carbono é necessária a estimativa dos três GEE, a saber: dióxido de carbono (CO2), gás metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) que, através de seu potencial de aquecimento global, são convertidos a CO2 equivalente, unidade funcional desta categoria de impacto. Todos estes três gases são emitidos na produção pecuária (PEREZ, 2008; BRONDANI, 2014; CRUZ, 2015, CARDOSO et al, 2016). Já o uso da terra, expresso em kg de carcaça por hectare, na atividade pecuária é diretamente afetado pela idade ao abate dos animais e pela taxa de lotação, variáveis estas dependentes do manejo das pastagens (VENTURIERI, 2010; CARDOSO, 2012, SEEG, 2018). Conforme SEEG (2018), para o cálculo das categorias de impactos pegada de carbono e uso da terra são necessários incluir métodos oficiais e confiáveis para a estimativa de todos os recursos do sistema de produção necessários para o cálculo, quais sejam: i) manejo da pastagem, ii) a lotação animal, iii) relação anima/ha, iv) genética animal, v) tempo de cria, recria e engorda, vi) idade ao abate, vii) tipos de pastagem e sua qualidade e viii) o carbono depositado no solo. Estas variáveis, no entanto, dependem do sistema de produção de gado adotado sendo, assim, diferentes para os sistemas extensivo, extensivo e orgânico. 16 Haja vista os diferentes impactos ambientais causados pelos três sistemas produtivos e a relevância econômica da pecuária de corte, este trabalho possui a seguinte questão de pesquisa: dentre os sistemas produtivos extensivo, intensivo e orgânico, qual o mais impactante do ponto de vista ambiental à luz das categorias de impacto pegada de carbono e uso da terra? A hipótese da presente pesquisa foi que o sistema de criação baseado em maior uso de insumos e suplementos (intensivo) é ambientalmente mais impactante. Da mesma forma, supôs-se que o sistema orgânico de pecuária de corte seja potencialmente mais poluente, devido à elevada idade ao abate, ou menos sustentável quando comparado aos sistemas intensivos e extensivos. 1.1 Objetivos Perante o contexto apresentado, o objetivo geral deste trabalho foi calcular a pegada de carbono e o uso da terra na produção de bovinos de corte entre sistemas extensivo, intensivo e orgânico. Para atender a este fim, teve-se como objetivos específicos: a) Realizar levantamento bibliográfico sobre os temas ACV, caracterização dos sistemas produtivos nos sistemas extensivo, intensivo e orgânico de produção de bovina e relação pecuária e meio ambiente; b) Descrever os três sistemas de produção: extensivo, intensivo e orgânico; c) Mapear as atividades e resíduos relacionados com a produção de gado nos três sistemas considerados; d) Levantar os índices zootécnicos dos sistemas estudados; e) Estimar os GEE dos 3 sistemas de produção bovina; f) Realizar inventário dos três processos produtivos; g) Calcular o uso da terra para cada sistema de produção avaliado. 1.2 Justificativas Este trabalho se justifica pela importância do setor de bovinocultura de corte no mundo. Esta relevância, por sua vez, pode ser explicada pelos números representativos do 17 Produto Interno Bruto (PIB) dos países que sediam sua produção e por ser um setor intimamente ligado à alimentação humana, uma necessidade fisiológica básica. Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), no ano de 2017 a exportação de carne bovina mundial movimentou o equivalente a US$ 44,4 bilhões. O Brasil, por sua vez, se constitui no maior exportador mundial de carne bovina sendo que, em 2018, o país exportou 2.025.000 toneladas métricas de carne bovina, seguido pelos países Índia (1.900.000 toneladas), Austrália (1.610.000) e Estados Unidos (1.372.000). Estes quatro países são responsáveis por mais da metade da carne exportada no mundo e somente o Brasil é responsável por 19,33% do total exportado. Dentre os líderes no ranking de exportações, o Brasil e a Índia são os únicos países com alto potencial de incrementar a produção; porém, os números indianos levam em consideração também a carne de búfala (carabeef). Deste modo, a exportação de bovino de corte é altamente relevante para o Brasil, representando cerca de 3% das exportações e um faturamento de aproximadamente 6,28 bilhões de dólares e, em termos de produto interno bruto, representa 6% do PIB brasileiro e, em termos do agronegócio, esse número significa 30%, com faturamento crescente em moeda de 500 bilhões de reais (EMBRAPA, 2017). Segundo dados do USDA (2017), em 2018 o rebanho mundial esteve em torno de 998,3 milhões de animais e o rebanho brasileiro foi estimado em 225 milhões de cabeças. No entanto, ao realizar o Censo Agropecuário 2017, o número de animais declarados pelos agropecuaristas foi de 172 milhões de animais, o que significa que a taxa de desfruto do rebanho brasileiro é maior. Aliado a isso, dados do CNA, em relatório de setembro de 2018, previam para o ano crescimento anual de 2% o crescimento da produção global na bovinocultura, chegando a 63 milhões de toneladas, isso em decorrência do aumento da produção principalmente nos EUA, Brasil, Austrália e Argentina, certificando que esta expressiva produção encontra-se em constante crescimento (REVISTA CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO BRASIL, 2018). Explicando esta estimativa de aumento de produção está a previsão do aumento da demanda por alimentos no mundo dada à maior procura por mantimentos em virtude do crescimento e enriquecimento da população (TILMAN et al, 2011). Entre os principais fatores que vêm proporcionando o crescimento do setor destaca-se a profissionalização do homem do campo através da busca por consultorias especializadas e o acompanhamento diário dos fatores que envolvem o setor do agronegócio no Brasil e no mundo. O agricultor está se profissionalizando e a grande maioria já consegue cuidar de seu negócio como uma empresa (CEPEA, 2005; EMBRAPA, 2014). 18 Tal segmento, no entanto, tem representativa importância na emissão de gases de efeito estufa (DICK; DA SILVA; DEWES, 2015; CERRI et al., 2016). Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (2018), o Brasil tem o potencial a se tornar o maior produtor de alimentos no mundo até 2040, com a capacidade de produzir o dobro de carne e o quádruplo de grãos e fibras. No entanto, visto que a pecuária é considerada um dos principais fatores de emissão de GEE, atrás apenas do setor de energia, a produção desses gases coloca o setor em observação e busca de melhores práticas visando à mitigação dessas emissões. Segundo o MCTI (2018) a pecuária corresponde a 33% desse total, tornando imprescindível a mensuração dos impactos ambientais com vistas à diminuição e, consequentemente, à uma produção mais sustentável. Segundo De Zen et al. (2008), além das emissões de gases efeito estufa, os principais problemas ambientais relativos à esta produção são a degradação dos habitats animais e sistemas ambientais, a degradação do solo, a poluição dos recursos hídricos, a subutilização dos recursos naturais (baixa concentração animal), sendo esta última considerada uma das principais externalidades negativas do setor. Assim, para o aumento de demanda há um aumento da necessidade de produção e o consequente aumento no uso de recursos, água, terra, energia e outros insumos, atrelado à necessidade da conservação dos ecossistemas globais (TEDESCHI et al, 2015). A busca cada vez mais por alimentos pautados no tripé da sustentabilidade tende a voltar a atenção dos consumidores sobre formas de produção de alimentos mais sustentáveis (BENAVIDES; TRINDADE, 2008). Desta maneira, analisar o ciclo de vida da pecuária de corte brasileira em diferentes sistemas produtivos faz-se relevante não só para qualificar e quantificar os potenciais impactos ambientais gerados (REBITZER et al., 2004), mas também para gerar informações e atender as necessidades dos consumidores. Desta forma, o ACV constitui-se de uma importante ferramenta no que tange ao conhecimento e à mensuração dos potenciais impactos causados na produção de um determinado produto. Sendo assim, a relevância desta pesquisa se pauta ainda na contribuição para geração de dados científicos ambientais na pecuária de corte em campo brasileiro, uma vez que os estudos de ACV nesta área ainda são escassos (RUVIARO et al., 2012, 2015). Corroborando com isso, Oliveira et al. (2014) e Tsang et al. (2016) destacam a importância de considerar que as emissões de GEE ainda foram pouco avaliadas no Brasil, enquanto pode-se notar que representa uma das prioridades em pesquisas internacionais. 19 Além disso, mediante pesquisa em bases de dados como Web of Science e Scopus entre os anos de 2007 a 2018 revelou a pequena quantidade de trabalhos que tenham o objetivo aqui proposto, quer seja o uso da ferramenta ACV na produção orgânica comparativo a outros tipos de sistemas de produção (HAAS et al., 2001). Por fim, para este estudo a escolha das categorias de impacto pegada de carbono e uso da terra se justifica por serem estas as categorias as consideradas em estudos anteriores as de maior impactos ambiental para o setor (CARDOSO, et al 2016). A pegada de carbono é uma metodologia que permite calcular as emissões de gases estufa mais adequadamente, pois todos os gases são convertidos em carbono equivalente, sendo que esses gases são emitidos na atmosfera durante o ciclo de vida de um produto, de processos ou de serviços, validando o uso da ferramenta de ACV. De acordo com Tsang et al. (2016) ela permite analisar os impactos na atmosfera e as mudanças climáticas provocadas pelo lançamento de gases de efeito estufa, sendo compatível com normas e protocolos como o GHG protocol, PAS2050, ISO14064 e principalmente o ISO14067 que especifica os princípios, dá orientações, requisitos a serem apurados, para comunicação da pegada de carbono (BURNS et al., 2016). O processo de uso do solo, ou também chamado de uso da terra, por sua vez, traz consequências para o aquecimento global e a biodiversidade. Este termo se refere a como a terra está sendo aproveitada. A demanda pelo uso da terra provocou a necessidade de órgãos de estudo a fim de obter informações mais precisas sobre a destinação da cobertura terrestre (IBGE, 2006; IBGE, 2016; SEEG, 2018). Neste sentido, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), permitiu que aumentasse o conhecimento sobre a real condição do país em termos de ocupação e verificar os impactos, posteriormente veio a surgir a terminologia hotspots, que são áreas em que a vegetação nativa está em processo de degradação intensificado, e estudos intensificados como áreas de geoprocessamento (DAVISON, 1986; VENTURIERI et al., 2010, IBGE, 2016; SEEG, 2018). Para Venturieri et al. (2010) tal geoprocessamento, permite quantificar, medir, e adaptar as mudanças do clima, a perda de biodiversidade, e outras consequências pelas alterações do uso da terra e a ocupação de sua cobertura. O geoprocessamento permite também verificarmos impactos que as mudanças do uso da terra afetam nas mudanças climáticas e divide as fontes de emissão dos GEE, inclui desmatamentos, queimadas como causadores de emissão resultados da variação do carbono do solo. A hipótese da presente pesquisa foi que o sistema de criação baseado em maior uso de insumos e suplementos (intensivo) é ambientalmente mais impactante. Da mesma forma, https://www.ecycle.com.br/component/content/article/35/3074-o-que-e-avaliacao-analise-ciclo-vida-produto-acv-ferramenta-metodologia-estudo-etapas-cadeia-produtiva-extracao-producao-embalagem-transporte-uso-deposicao-impactos-efeitos-riscos-poluicao-meio-ambiente-saude-sustentabilidade.html https://www.ecycle.com.br/component/content/article/63/3177-o-que-sao-mudancas-climaticas-diferencas-tempo-clima-aquecimento-global-era-do-gelo-efeito-estufa-desmatamento-industria-aumento-das-temperaturas-atividade-humana-politica-nacional-sobre-mudanca-do-clima.html https://www.ecycle.com.br/6215-efeito-estufa 20 supôs-se que o sistema orgânico de pecuária de corte seja potencialmente mais poluente, devido à elevada idade ao abate, ou menos sustentável quando comparado aos sistemas intensivos e extensivos. Por fim, justifica-se o estudo destes três sistemas considerados dada à inexistência de trabalhos comparativos entre estes sistemas produtivos no Brasil e ainda que evidenciem a pecuária orgânica como mais sustentável (ADEWALE et al., 2018). 1.3 Estrutura do trabalho Tendo em vista os objetivos propostos, o presente trabalho estrutura-se em 5 capítulos, a contar em esta introdução. O segundo capítulo consiste na apresentação de uma revisão teórica sobre os principais temas que darão suporte aos resultados e discussões, quais sejam: Pecuária, pecuária de corte, sistemas de produção, Gestão ambiental e sistemas, Análise do ciclo de Vida, Gases do Efeito estuda, Mitigação dos gases do GEE, descrevendo os principais, Metano (CH4), Oxido Nitroso (N2O) e Dióxido de Carbono (CO2), Pegada de Carbono e uso da terra. O terceiro capítulo descreve os matérias e métodos utilizados na pesquisa e as etapas metodológicas adotadas no trabalho. No quarto capítulo são apresentados os resultados e discussões traçadas e, por fim, no quinto que são realizadas as considerações finais permitidas pela análise dos dados levantados. 21 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Neste tópico levantou-se referencial bibliográfico em bases de dados como Scopus, Web of Sciencie, revistas cientificas, órgãos governamentais, e sites especializados para dar base ao estudo. Decidiu-se pela linha do macro ao micro, com a ideia de dar um panorama geral sobre a Pecuária mundial e, posteriormente nacional, o Gado de corte sendo estudado inicialmente de forma ampla, para posterior recorte na metodologia para a raça Nelore e suas respectivas cruzas; definição dos sistemas de produção divididos em três cenários prototípicos: intensivo, extensivo e orgânico, que são onde o gado passa por suas fases de vida dentro do seu ciclo até o Abate, o que justifica a ACV, pois tal processo engloba, cria, recria e engorda, para posterior abate, tendo esse o escopo do trabalho; trouxe a Gestão ambiental para tratar a questão de impactos gerados pelos sistemas, definiu-se a ferramenta utilizada, a ACV, fora e dentro da pecuária de corte, os GEE, o uso da terra e pegada de carbono e como mitigar os GEE na cadeia da pecuária de corte. 2.1 Pecuária de corte no Brasil A pecuária é uma das atividades de maior expressão econômica, política e social do país, seja na criação de animais para a comercialização ou na obtenção de matérias-primas, como carne, leite, couro, lã, entre outros IBGE (2006). Refere-a à arte e à indústria do tratamento e criação do gado IBGE (1999). A pecuária brasileira sempre teve como base a produção de carne bovina, em diferentes sistemas de produção, por isso é considerada como extremamente dinâmica (OLIVEIRA et al., 2008). A escolha sobre o tipo de sistema a ser escolhido vem envolvendo nos dias atuais a inovação através de pesquisa, ciência e tecnologia para aumento dos índices produtivos, e assim quantificar e chegar a maior sustentabilidade da cadeia (THORNTON, 2010) Os sistemas de produção de bovinos são predominantemente conduzido em sistemas agropastoris extensivos, com taxa de lotação e desempenho animal muito abaixo do potencial (IBGE, 2006) desta forma, implicam-se na possibilidade de redução das emissões de gases do efeito estufa pelo uso de sistemas de produção intensivos, mais tecnificados e 22 profissionalizados (ex. sistema com alta suplementação, integração lavoura-pecuária e confinamento) (CARDOSO et al., 2016). Segundo Relatório Anual publicado pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne, em 2017 o Brasil possuía cerca de 164,96 milhões de hectares destinados para pastagens (ABIEC, 2018). O rebanho brasileiro em 2017 era de aproximadamente 222 milhões de cabeças de gado de acordo com a ABIEC, com um abate de 39,2 milhões cabeças. No entanto, o censo agropecuário contou 172 milhões de animais (IBGE, 2018). Sendo que desse rebanho aproximadamente 90% é destinado a pecuária de corte para produção de carne (AMARAL et al., 2012). O Brasil em 2018 importou 240 cabeças de animais vivos e exportou 407.365 mil cabeças de animais vivos, desse total de rebanho de 222 milhões, segundo relatório da ABIEC, o peso médio de carcaça era de 247.66 kg, com desfrute real de 19.4%, desfrute aparente de 17.7% o rendimento médio de carcaça em números percentuais foi de 52.3 a 55% para 2018, tais números dentro de um cenário de 164.96 milhões de há de pasto, a uma taxa de ocupação de 1.34 cabeça por há, uma lotação de 0.94 UA/ha (ABIEC, 2018) Desse total apresentado no relatório da ABIEC, o percentual de 77.41% é in natura, 11.04% na forma industrializada, e 11.54% na forma de miúdos e outros, sendo que apresenta números como 93 países para in natura, 92 países industrializados e 78 países para miúdos. Desse montante a maior parte da exportação in natura se dá para Hong Kong,20%, China, 18%, Egito,12% e Rússia 11% (ABIEC, 2018). Em 2017 o agronegócio representou 22% do PIB total nacional, sendo que dessa porcentagem 31% correspondeu a pecuária (CEPEA, 2018; ABIEC, 2018), é notável a importância da pecuária no PIB brasileiro. O PIB brasileiro total no ano de 2017 foi de 6.56 trilhões, deste total 1.42 trilhões é oriundo do PIB da agricultura, e 0.43 trilhões correspondem ao PIB da agropecuária, ou seja, cerca de 31% do valor do PIB da agropecuária total, e mostra um crescimento constante dos números segundo relatório da ABIEC, onde em 2014 o PIB da pecuária era de 0.34 trilhões, ajudando a balança comercial brasileira(ABIEC, 2018). Segundo a Embrapa em um parecer técnico emitido em 2017, cita que em 2015 o Brasil se posicionou como o segundo maior consumidor (38,6 kg/habitante/ano) e o também segundo maior exportador (1,9 milhões toneladas equivalente carcaça) de carne bovina no mundo, tendo números de abate na ordem de 39 milhões de cabeça, o parecer técnico ainda aponta que cerca de 80% do consumo interno, e que o Brasil possui um parque industrial dos 23 mais capacitados do mundo, com capacidade de processamento de abate de quase 200 mil bovinos/dia (EMBRAPA, 2017). Dentro da economia brasileira, com relação a balança comercial, a exportação de carne bovina tem representado cerca de 3% das exportações, e uma receita de 6,28 bilhões de dólares e, representando 6% do PIB brasileiro ou 30% do PIB se pegarmos o Agronegócio, movimentando cifras de 500 bilhões de reais, que cresceu 45% nos últimos 5 anos (EMBRAPA, 2017). e gera aproximadamente sete milhões de empregos (IBGE, 2013) Segundo Cerri et al., (2009) e definições do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), a agropecuária é um dos principais responsáveis pela emissão de gases de efeito estufa (GEE) no Brasil, destarte metano (CH4) proveniente da fermentação entérica dos ruminantes e óxido nitroso (N2O) de sua adubação nitrogenada. Segundo dados de estimativas nacionais de 2017, realizadas pelo Sistema de Registro Nacional de Emissões (SIRENE), a emissão de gases pela agropecuária nos anos de 2014 e 2015 foi a maior desde 1990. Contudo, a agropecuária foi superada pelo setor de energia como maior contribuinte para emissões brasileiras. O aumento no total emitido dos GEE, especialmente o dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O), refere-se ao balanço desses gases, ou seja, balanço de entradas e saídas dos mesmos, e influenciando na energia proveniente da radia solar do sistema terra-atmosfera, podendo gerar aumento da temperatura planetária, afetando o degelo glacial, aumento do nível dos mares, e outros fatores ambientais, como ilha de calor, regime das chuvas, influenciando assim diretamente na fauna e flora (CHAVES et al,2017) Estima-se que a participação da agropecuária no total de CH4 emitido seja de 270.267,5 (63,1%) CO2 equivalentes GWP 1995 (Gg), enquanto a de N2O seja de 158.267,4 (36,9%). A medida em GWP foi determinada como a métrica usual do Potencial de Aquecimento Global (Global Warming Potential – GWP), onde cada gás possui seu valor correspondente. Tais dados tornam-se ainda mais relevantes considerando o compromisso voluntário firmado pelo Brasil para a redução das emissões (Art. 12 da Lei no 12.187/2009) até o ano de 2020. Os gases acima mencionados são considerados no cálculo das emissões de GEE pela determinação do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC). Isso porque, em atividades agropecuárias, o dióxido de carbono (CO2) é emitido através do cultivo dos solos e pela utilização de energia fóssil em processos agrícolas, incluindo-se a associada aos insumos, rações, fertilizantes, inseticidas entre outros, segundo Cardoso (2012). O gás metano (CH4) é emitido através da fermentação entérica dos ruminantes e em menor escala pelas fezes dos 24 animais e é considerado o gás de maior potencial de impacto ambiental. Finalmente, o óxido nitroso (N2O) é emitido, em sua maior parte, pelo processo de adubação nitrogenada e através das fezes e excreção metabólica dos animais como a urina, além de ser liberado pela aplicação de fertilizantes sintéticos e estercos nas lavouras ou pastagens (IPCC, 2006, 2018; MODERNEL et al., 2013) Segundo o SEEG (2018) a bovinocultura de corte no Brasil é uma das principais responsáveis pelo crescimento da fronteira agropecuária, e considerado a principal fonte de emissão de GEE do segmento, correspondendo a 69% das suas emissões totais. As pastagens produtivas podem manter altos estoques de C no solo (MAIA et al., 2009 apud CARDOSO, 2012) quando produtivas ou diminuir os estoques quando estas áreas estão em situação de degradadas, e que a oferta de forragem de melhor qualidade faz com que haja uma redução do tempo do bovino para atingir peso para o seu abate, implicando assim em reduções de emissões do gás metano (CH4) por unidade de produto (PEDREIRA et al., 2004). Contudo, uma alimentação com dieta mais rica em proteínas implica em maior excreção de nitrogênio, que tem efeito nas emissões de (N2O) (CERRI et al., 2009). Segundo Cardoso (2012) deve-se levar em consideração que a manutenção da produtividade de um sistema requer maiores entradas de energia de origem fóssil utilizadas em insumos, máquinas, implementos e instalações que são os inputs do processo. Em função das muitas variáveis envolvidas, o ajuste do sistema de produção para maior eficiência ambiental tem sido feito por modelagem e análise de cenários (p. ex. GOUVELLO, 2010) apud CARDOSO (2012). Como resultado da necessidade de produção de alimento, e em consonância a sustentabilidade da produção de áreas agrícolas, vem sendo exigido o aumento da eficiência dos sistemas de produção visando diminuir o conflito entre, a expansão da produção agrícola e a conservação de biodiversidade (STRASSBURG, et al., 2014). Uma das Ações de Mitigação Nacionalmente Apropriadas (iNDC) para permitir o desenvolvimento da pecuária brasileira com mitigação de gases de efeito estufa é a recuperação de pastagens (BRASIL, 2010). Desta forma, o processo de mitigação dos gases do efeito estufa está relacionado com a recuperação das áreas usadas no processo de pastagem, mediante intensificação dos sistemas de produção, possibilitando maior eficiência, que quer dizer em aumentar o número de produção por unidade de área, acompanhado da diminuição dos impactos ambientais, ambos atrelados ao melhor ganho financeiro decorrente destes, chegando no contexto global de sustentabilidade e preocupação com o triple botton line, econômico, social e ambiental. 25 2.2 Pecuária Orgânica A nomenclatura “agricultura e pecuária orgânica” foi um termo encontrado pelos precursores da Soil Association, criada em 1946, para não utilização do termo biológico- dinâmico traduzido da língua alemã, ou “biodinâmico” na língua inglesa, por motivos culturais/linguísticos, e também devido ao estigma do nazismo naquela época (SCOFIELD, 1986; RAUPP, 2000). A produção orgânica no Brasil iniciou-se na década de 1970, porém seu aumento se deu somente na década de 1980, e a partir desse momento em 1999, a Instrução Normativa (IN) nº 7 (Anexo A), do Ministério da Agricultura estabeleceu algumas normas de produção, processos de certificação e orientação aos órgãos colegiados (CAMARGO, 2004). Com mercados cada vez mais competitivos a busca pela eficiência da produtividade, e pelos movimentos sociais em torno de bem estar animal, mas também de alimentação mais saudável, se busca as melhores práticas de gestão da cadeia pecuária, objetivando um produto que seja ao mesmo tempo competitivo em termos de qualidade e preço, custo-benefício, melhorando a gestão dos recursos e assim uma produção mais sustentável (OLIVEIRA et al., 2014). Conforme Matias, Azevedo e Malafaia (2014), citam que a busca pela sustentabilidade, é alcançada quando se ultrapassa barreiras negativas resultantes do ônus de uma produção da bovinocultura, ainda que a maior parte extensiva, e tradicional e através da bovinocultura de corte orgânica, uma eficiência econômica, avaliadas em termos socioambientais e não somente em termos de produção animal em número de cabeças. Para Ferber e colaboradores (2009) a escolha do gado para a propriedade é de fundamental importância, pois neste momento será determinando o sucesso ou insucesso do empreendimento. A relação genética do rebanho, manejo adotado e ambiente do local de criação, deve ser a mais harmônica possível. Conforme Santos (2005), os sistemas de produção da pecuária de corte orgânico, está baseado em uma visão holística, dentro de princípios e parâmetros de sistemas agro sustentáveis, cujo preocupação central esta: o ambiental e o social, sendo o objetivo uma produção que mantenha o equilíbrio ecológico, com a satisfação e atendimento de necessidades humanas de maneira direta ou indireta. 26 Segundo Torres e demais pesquisadores (2011) produtos orgânicos vêm criando lugar de destaque no mercado nacional e internacional, em especial nos Estados Unidos e na Europa e, em um crescimento moderado, no Brasil. O sistema de produção orgânica no Brasil segue as diretrizes e normas da IFOAM (Federação 1512, PRODUÇÃO DE CARNE ORGÂNICA, Artigo 137, Volume 08 Número 03. p.1509-1508, Maio/Junho 2011, Internacional de Movimentos da Agricultura Orgânica) e pelo regulamento da Comunidade Europeia (CE) (TORRE, et al., 2011). Os sistemas de produção de carne orgânica brasileira, é mundialmente reconhecido pela sua boa origem, credibilidade no processo, desde o campo, ao processamento e posterior distribuição, ao longo da cadeia, seja para o mercado interno ou externo (CARRIJO, ROCHA, 2002) Sendo na biotecnologia onde teve o seu momento de ruptura, pois, a produção de alimentos foi elevada e inovada, e o processo aplicado ao cultivo no campo e na criação de animais de maneira a melhorar a eficiência, agregando valores sociais, éticos e econômicos, além de ajudar combater a escassez de alimentos (MORO, GUIVANT, 2006) Segundo a WWF Brazil, o manejo orgânico visa a produção, atrelada a economia e seu desenvolvimento e produtivo que não polua, não impacte o meio ambiente e que seja viável ao homem. A pecuária bovina de corte orgânica tem como objetivo uma produção que vise o balanço positivo ecológico englobando os componentes produtivos, social e ambientalmente responsável, a partir do seguimento de normas estabelecidas pelas instituições certificadoras desse processo (WWF, 2019). Para Pila (2013) a criação do boi orgânico está baseada em pastos que produzam sem defensivos agrícolas esses sem (herbicidas e inseticidas) ou adubos químicos e o tratamento de doenças são feitos com homeopatia e fitoterapia, exceto no caso da vacinação contra febre aftosa e brucelose, que são obrigatórias pelas entidades regulamentadoras fitossanitárias (onde há incidência de raiva, a vacinação é aceita). Conforme Ferber e colaboradores (2009) os cuidados com a alimentação do gado orgânico, devem atender às necessidades nutricionais em suas várias fases de desenvolvimento, ao invés de explorar somente a maximização da produção e sua alimentação mediante força, para engorda mais rápida é proibida. Sendo pastagem, nativa ou cultivada, base alimentar de sistemas de produção de carne orgânica. A alimentação dos bovinos deve ser de alimentos produzidos organicamente, de preferência na própria unidade de produtiva, caso haja necessidade de outras fazendas que sigam a mesma diretriz orgânica. Sendo a alimentação dos mamíferos jovens deverá ser 27 baseada somente no leite natural, e de preferência o leite materno, por um período mínimo estipulado. Os sistemas de criação para os animais herbívoros devem ser baseados no máximo do uso de pastagem, de acordo com a disponibilidade de pastagem nos diferentes períodos do ano (FIGUEIREDO, 2002). Segundo o Instituto Biodinâmico são 26 fazendas no final de 2018, aproximadamente 131 mil hectares em pastagens e cerca de 99 mil cabeças de gado, que seguem a diretriz e podem ser chamados de sistemas orgânicos registrados. Os projetos são certificados e acompanhados pelo Instituto Biodinâmico (IBD), que segundo eles, somente Mato grosso (MT) e Mato Grosso do Sul (MS) produzem atualmente. Para Pila (2013) o Instituto de Certificação Biodinâmico (IBD) é o certificador do Brasil em processos de credenciamento validados pela Federação Internacional de Movimentos de Agricultura Orgânica (IFOAM), e ISO 65, sendo o selo Demeter que identifica os produtos biodinâmicos mundialmente e q USDA/NOP (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos/Programa Nacional Orgânico, sigla em inglês), que valida esse certificado. Segundo a WWF Brazil, desde julho de 2003 o programa “Pantanal para Sempre” vem fomentando a pecuária orgânica certificada como alternativa de produção sustentável para a região, de MT e MS. Sendo que essas ações são realizadas em parcerias com órgãos nesses dois estados, Associação Brasileira de Pecuária Orgânica (ABPO) no MS, e Associação Brasileira de Produtores de Animais Orgânicos (ASPRANOR) no MT. Conforme a Associação Brasileira de Pecuária Orgânica - ABPO (ABPO, 2010) os animais devem ser colocados em grandes extensões de pastagens nativas, preconizando a saúde e bem estar do animal, e devem ser tratados somente com medicamentos homeopáticos e fitoterápicos, pautando-se nas seguintes orientações: para que consigam obter o Selo “ORGÂNICO INSTITUTO BIODINÂMICO” a ingestão máxima de alimentos convencionais, não ultrapassar 10% do total da matéria seca durante todo o ano. O fornecimento de alimentos não orgânicos em alguns períodos pode ser concentrado, haja visto não ultrapassem 25% do total ingerido no dia, e 10%, em média, ao ano. Segundo Torres et al., (2011) a utilização de tortas de oleaginosas, farelos, polpas de cacau ou citros, só será permitido desde que seja certa a origem e respeite as diretrizes da regulamentação (sem contaminação com agrotóxicos e resíduos de solventes) e de que não sejam alimentos transgênicos. Nesse tipo de criação, o gado orgânico é rastreado desde seu nascimento até o abate, um dos tipos de recorte do sistema de Avaliação ou Análise do ciclo de vida, fazendo uso de: 28 registros de peso, alimentação sem agrotóxicos, vacinas, entre outras informações, em fichas por gado individualmente, segundo a WWF Brazil. Sendo que o cuidado principal está na alimentação dos animais que é observada com especial atenção. Além do sistema de pastagem, outros insumos que compõem o cardápio do gado orgânico como suplementação alimentar com grãos e rações isentas de organismos transgênicos. De acordo com a WWF Brazil, a parceria entre eles e o segmento da pecuária orgânica do Mato Grosso do Sul, ABPO, deu um grande passo para a criação do protocolo interno de processos produtivos orgânicos e responsabilidade socioambiental, lançado em 2009. Sendo suas principais inovações: criação de auditorias internas para fiscalizar e controlar de maneira periódicas as fazendas orgânicas, além das visitas anuais para validação do segmentos das normas e diretrizes, proibido de se desenvolver qualquer atividade de carvoaria interno a essas propriedades, o aporte e apoio no auxílio à criação de um corredor ecológico das fazendas orgânicas, através da conectividade de Reservas Legais e Áreas de Preservação Permanente (APPs), e do incentivo ao P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) de novas técnicas complementares, homeopáticas e fitoterápicas, em busca de um manejo sanitário sustentável. 2.2.1 Carne Orgânica Segundo Carrijo e Rocha (2002) os alimentos orgânicos vêm apresentando crescimento de demanda por uma série de considerações, como o fato de agregar qualidade aos produtos e oferecerem maior segurança alimentar. Tal procura está relacionada ao maior controle fitossanitário no sistema produtivo, reduzindo a incerteza sobre contaminações por substâncias tóxicas, provenientes do campo em sistemas convencionais pautados na utilização de agrotóxicos. O potencial cancerígeno de certas substâncias atraí cada vez mais a atenção dos consumidores preocupados com os impactos a saúde humana e animal. A carne orgânica é um tipo de carne, produzida a partir de um sistema produtivo ambientalmente correto, socialmente justo e economicamente viável, ou seja, chamado desenvolvimento sustentável (WWF, 2017). Ainda segundo esse, esse tipo de sistema produtivo passa por auditorias e processos de certificação o que garante que a carne é produzida da maneira mais natural, isenta de resíduos químicos e com preocupação socioambiental. Segundo (PILA, 2013), a definição de carne orgânica é: uma carne cuja produção é feita a partir de um sistema produtivo ambientalmente correto, socialmente interessante e economicamente viável. 29 De acordo com a WWF Brazil (2017), em termos de aparência, ou aspecto físico e visual, as carnes são idênticas, o que as diferencia são o sistema produtivo que lhe darão a origem. Isso traz a questão tão em alta ultimamente da não utilização de produtos químicos potenciais prejudiciais à saúde, já que a mesma usa medicamentos naturais, homeopáticos e fitoterápicos, são vacinados e criados em pastos sem uso de defensivos agrícolas. Para Pila (2013) a principal diferença entre à carne tradicional e a orgânica é o modo de produção. Conforme com Luchiari Filho (2006), em se tratar de carne bovina, o termo qualidade, que é subjetivo, é definido através: a) de rendimento de carcaça e composição: proporção de carne magra e gordura e o tamanho e a forma dos músculos; b) aparência e características tecnológicas empregadas: a cor e textura da gordura da carne, quantidade de marmorização do seu tecido magro, cor e capacidade de retenção de água e composição química do músculo; c) palatabilidade: textura, maciez, sabor, suculência e aroma; d) integridade do produto: qualidade nutricional, segurança química e biológica; e) qualidade ética: questões de saúde animal. Por serem criadas com alto grau de certificação, esse tipo de sistema, do ponto de vista de impactos ambientais torna-se muito interessante, mas ainda sem levar em conta, a questão produtividade, mas sim aspectos legais e sócio responsáveis. Essa certificação se dá: todo alimento orgânico comercializado no Brasil deve ser reconhecido pelo Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica (SisOrg), gerido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), sendo o MAPA também credencia os Organismos de Avaliação da Conformidade (OAC), que são responsáveis pela fiscalização e certificação agropecuária, de processamento, de produtos extrativistas, orgânicos e biodinâmicos (PILA,2013). Segundo a WWF Brazil (2017), ela ainda é pouco consumida, em sua maior parte vem sendo produzida nos últimos 10 anos, e além disso, em decorrência do cuidado maior, processos de certificação, e quantidades de animais por há, fazem com que o custo de produção dentro desse sistema seja mais caro que nos outros sistemas mais tradicionais, e assim o repasse de custo o consumidor fica dificultoso. 2.3 Produção de bovinos de corte 2.3.1 Gado de corte 30 O Brasil é o segundo maior produtor de carne bovina do mundo, cerca de 23% do total mundial, se isolar os números de carebeef, carne de búfala, indiano, e contabilizar somente gado, torna-se o maior produtor de carne bovina do mundo, e o maior exportador da categoria, com 16% do total, em termos de rebanho, seguido de Índia, China, EUA respectivamente. (ABIEC,2018). No Brasil as espécies mais comuns de gado de corte são: Nelore, Angus, Brahman, Brangus e Tabapuã (COIMMA, 2018). De acordo com levantamento realizado pelo CAGED (Cadastro Geral dos Empregados e Desempregados) a pecuária gerou 353.725 vagas de trabalho com carteira assinada em 2017, representando também um aumento de 0,4% em relação aos postos de trabalhos criados em 2016, tendo assim um saldo de empregos positivo, ou seja, a quantidade de vagas abertas superou as vagas encerradas. Somente em 2017 a pecuária de corte movimentou cerca de 523,25 bilhões de reais. Tal valor representa um crescimento de 3,6% comparado ao faturamento do ano anterior (ABIEC, 2018). Desse valor total movimentado, temos: 48.67 bilhões de reais oriundos de serviços e insumos, incluindo: embalagem, energia elétrica, EPI’s insumos para operação, serviços prestados, fretes, administrativo, atividade indiretas da pecuária, 124.68 bilhões de reais do faturamento de frigoríficos, que incluem venda de carne no mercado interno, exportações de carne, cerca de 19396.9 milhões de reais couro no mercado interno, cerca de 3192.20 milhões de reais, sebo e outros subprodutos, já 15.93 bilhões de reais são frutos de insumos e serviços de varejo e 175.93 bilhões de Receitas do Varejo total, que incluem a venda de carne no varejo e outros (ABIEC,2018). Estima-se que o valor total de impostos e contribuições do setor no ano de 2017 tenha sido de 81416.9 milhões de reais e tenha totalizado um valor de 29264.1 milhões de reais em salários externos criados (ABIEC,2018). Segundo relatório da ABIEC de 2017, o faturamento total da pecuária brasileira foi de R$ 96.04 bilhões de reais, e R$ 61.12 bilhões de reais de insumos e serviços para a produção pecuária. Destes números temos: Nutrição R$ 10357.6 milhões de reais, protocolos, matérias e sêmen R$ 525 milhões, Sanidade animal cerca de R$ 2 milhões, Combustíveis e energia, um total de R$ 6857.9 milhões, R$ 10410.50 milhões de reais com fertilizantes, defensivos e sementes, dentre outros, como maquinários e equipamentos para trabalho, benfeitorias, salários e encargos também contribuem com esse número, chegando a um total de 61.12 bilhões de insumos e serviços para produção pecuária, números indiretos.(ABIEC,2018). 31 Com relação ao número de R$ 96.04 bilhões do faturamento total da pecuária, temos: Gado abatido: R$ 75041.7 milhões, Machos: R$ 49451.8 milhões, Fêmeas: R$ 25590.0 milhões, com relação a Animais de reposição: 17582.6 milhões, as exportações de gado em pé, totalizaram R$ 883.8 milhões de reais, animais para melhoramento R$ 2378.1 milhões de reais, e exportação de sêmen cerca de R$ 7.3 milhões de reais, são alguns dos números apresentados(ABIEC,2018) Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2017 foram abatidas cerca de 39 milhões de cabeças de gado em todo o território nacional, onde 8 estados brasileiros (MT, MS, GO, SP, MG, PA, RO e RS) representam 77,6% dos abates nacionais (IBGE, 2018). Estima-se que o Brasil em 2018 possuía mais de 220,0 milhões de cabeças de gado (MAPA, 2018). No segundo trimestre houve um amento de 4% do abate comparado ao mesmo trimestre de 2017. Logo, acredita-se que o abate seja maior que o registrado em 2017 (IBGE, 2018). De acordo com projeções realizadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) acredita-se que a produção de carne bovina em 2018 seja de aproximadamente 10 milhões toneladas, onde o Brasil pode consumir até 8 milhões toneladas e o restante será destinado às exportações (MAPA, 2018). Entre uma das principais atividades da economia brasileira, o Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo. No final de 2017, o rebanho brasileiro era de mais de 218 milhões de cabeças de gado. Esse número é maior do que contingente populacional brasileiro, que passou para 207 milhões de habitantes, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). 2.4 Sistema de produção de bovinos de corte Existem diferentes métodos de realização da atividade pecuária, onde a pecuária extensiva (pasto) e a intensiva (confinamento) são os de maior destaque e utilização. Atualmente a pecuária orgânica apresenta grande destaque, devido à preocupação dos consumidores em adquirir produtos sustentáveis, com menor adição de produtos químicos em sus obtenção. 32 A seguir serão apresentados os três tipos de sistemas produtivos de gado de corte, extensivo, intensivo e orgânico. 2.4.1 Sistema Extensivo A pecuária é dita extensiva quando o gado é criado solto e se alimenta somente de pastagens, tais sistemas são praticados em todo o país (EMBRAPA, 2005; REVISTA AGROPECUÁRIA, 2018). Estima-se que 90% da produção nacional da pecuária de corte é realizada através dos sistemas do tipo extensivo, entretanto, nesse tipo de sistema os produtores muitas vezes possuem gastos com suplementação animal, já que muitas vezes são necessárias uma suplementação mineral no pasto para que o gado tenha uma boa nutrição e os impactos não atingem somente a pecuária bovina mas também o setor agrícola como um todo, este envolvido na produção de biocombustíveis, fibras, alimentos e outros produtos de interesse do ser humano, que são usados na bovinocultura direta ou indiretamente (EMBRAPA, 2005; GUIMARÃES JÚNIOR, INACIO et al., 2018). Esse tipo de sistema de produção de gado muitas vezes acarreta a degradação do solo, visto que o animal se alimenta da pastagem natural da terra. Estima-se que 80% do solo do Brasil Central estão em algum estado de degradação (Peron e Evangelista, 2003). As pastagens quando degradas não fornecem forragem suficiente para o ganho de peso do gado, o que afeta sua produtividade e prejudica os estoques de carbono (C) acima e abaixo do solo (BRAZ et al., 2013). Os solos degradados ainda apresentam compactação, erosão, acidez e menor disponibilidade de água (CERRI et al., 2004; BERCHIELLI, MESSANA, CANESIN, 2012). Inicialmente o gado era abatido em torno de quatro anos e meio, porém com os avanços na pecuária e na genética animal (BECKER, 1996 apud INACIO et al., 2018), esse tempo diminuiu para cerca de três anos (450 kg de peso vivo). Já na pecuária de confinamento o abate ocorre após 100 dias depois da recria (cerca de 1,5 a 2 anos) (GOMES et al., 2015). Uma das desvantagens do sistema extensivo é a baixa produtividade durante as épocas de seca, visto que ocorre limitações nas produções de forragens que seriam o alimento do gado, assim a idade para o abate torna-se acima dos 3 anos e o gado apresenta um menor peso (ALENCAR, 2003). 33 Diversão forragens são adotadas no território nacional, onde a Brachiaria é a mais utilizada, uma vez que apresenta boa adaptabilidade, possui bons níveis de matéria-seca e valor nutricional e boa taxa de crescimento mesmo nos períodos de maiores secas (SOUZA, DUTRA, 1991 apud INACIO et al., 2018). 2.4.2 Sistema Intensivo É dito sistema intensivo quando o gado é criado em confinamento, entretanto para maior produtividade, torna-se necessário o uso de mão de obra especializada, seja para controle ou monitoramento constante do gado. Neste modelo, estão os maiores investimentos e avanços tecnológicos do setor, como os programas genéticos e boas práticas de manejo. A vantagem da pecuária em confinamento é que não são necessárias grandes áreas de pastagens para sua execução. Além disso, estudos indicam que as emissões dos gases do efeito estufa são menores quando comparadas ao método extensivo (PETERS et al., 2010; PELLETIER et al., 2010; NGUYEN et al., 2010). Diferente da pecuária extensiva onde o gado alimenta-se da pastagem do solo, na pecuária em confinamento o gado se alimenta no cocho, assim há uma dieta própria para ganho de peso vivo (INÁCIO et al., 2018). Dois métodos são adotados na pecuária intensiva, são eles: baby beef (confinamento de recria e engorda) e confinamento de acabamento e terminação. No sistema de confinamento de recria e engorda o gado é confinado logo após a desmama, nesse tipo de produção o animal apresenta um ganho de peso médio diário de 800 a 1000g, estando apto para o abate dentro de 18 a 20 meses (MARTIN, 1999 apud INACIO et al., 2018). Segundo a Embrapa o peso mínimo para o animal ser levado a confinamento deve ser de 320 kg independente de sua idade, já que quanto mais tempo o gado leva em confinamento para atingir o peso ideal (em torno de 450 kg) há maiores gastos com energia e alimentação. No sistema de confinamento de acabamento e terminação o gado é confinado já com 300 a 400 kg de peso vivo, ou seja, somente nos meses finais, tendo uma idade de abate de aproximadamente três anos, semelhante ao sistema extensivo (MARTIN, 1999 apud INACIO et al., 2018). 2.4.3 Sistema Orgânico 34 A pecuária em meio orgânico é semelhante à extensiva, nela o gado alimenta-se da pastagem, entretanto não é permitido o uso de agrotóxicos no solo, medicamentos químicos e hormônios sintéticos. Além disso, prioriza-se a utilização dos recursos naturais e considera aspectos éticos nas relações sociais internas da propriedade e no trato com os animais (FIGUEIREDO, SOARES, 2012). Segundo estudo realizado por pesquisadores da Embrapa somente 13,8 mil cabeças de gado são abatidas anualmente em sistema orgânico (FIGUEIREDO, SOARES, 2012). A carne produzida em sistema orgânico é vendida por um preço maior que os modos convencionais de produção (extensivo e intensivo), porém há uma redução nos custos, devido os menores gastos com medicamentos, ração e suplementação do solo, logo pode acarretar maior lucro (SOARES, NEVES, CARVALHO, 2012). Segundo Carrijo e Rocha (2002) os alimentos orgânicos vêm tendo crescimento de procura mundialmente, por uma série de fatores, como agregar qualidade aos produtos, e por oferecerem maior segurança alimentar pelos maiores controle fitossanitários aos seus consumidores, reduzindo-lhes a incerteza sobre contaminações por substâncias tóxicas, pelo não uso de agrotóxicos ou também chamados defensivos agrícolas por outros, por fatores de ordem cancerígenas ou que possam por provocar qualquer tipo de impacto a saúde, seja do animal, ou do consumidor. Através do Quadro 1 serão expostos pontos fortes e fracos do sistema orgânico. Quadro 1 - Pontos fortes e fracos do sistema orgânico Pontos Fortes Pontos Fracos A pastagem orgânica é a base da alimentação dos bovinos. É utilizado o pastejo diferido e não é permitida a lotação e nem a degradação do meio ambiente para a formação das pastagens. A alimentação dos animais é livre de produtos químicos. As propriedades devem dispor de infraestrutura mínima para ser convertida ao manejo orgânico. Análises devem ser realizadas, e muitas delas impossibilitam a implantação do projeto orgânico, o que restringe o número de propriedades que poderiam atender o mercado consumidor. O tratamento de doenças e parasitas é realizado de forma preventiva. Medicamentos alopáticos e antibióticos A falta de excedente agrícola orgânico no país, que serve de suplementação alimentar no período da seca, é um problema sério 35 Pontos Fortes Pontos Fracos sintetizados são utilizados em último caso, sob a responsabilidade dos veterinários. As vacinas de calendário são realizadas regularmente, como a da febre aftosa. para os bovinos em manejo orgânico, pois os referidos animais não podem consumir suplementos alimentares vindos de lavouras convencionais. A rastreabilidade dos animais é um acompanhamento que tem seu início desde o nascimento do animal, ou de sua entrada na unidade certificada, até o consumidor final. A falta de informações claras enfraquece os conceitos de produtos orgânicos junto aos consumidores, e muitos deles ainda não sabem o que é a carne orgânica. A certificação é um selo de qualidade que oferece procedimentos e padrões básicos aos criadores, que devem ser rigorosamente respeitados e seguidos e que permitem ao consumidor a segurança de estar consumindo uma carne certificada por uma empresa séria e conceituada. O mercado para o boi orgânico é muito restrito. Seu preço é mais caro em função da menor produtividade; devido à proibição de insumos modernos (que agridem o meio ambiente) e o custo da certificação, que onera ainda mais a produção. Fonte: Adaptado de PINEYRUA (2006); LUCATI (2009) A carne orgânica é um tipo de carne, produzida a partir de um sistema produtivo ambientalmente correto, socialmente justo e economicamente viável, ou seja, chamado desenvolvimento sustentável (WWF Brazil, 2017). Ainda segundo esse, esse tipo de sistema produtivo passa por auditorias e processos de certificação o que garante que a carne é produzida da maneira mais natural, isenta de resíduos químicos e com preocupação socioambiental. Segundo Pila (2013) a definição de carne orgânica é: uma carne cuja produção é feita a partir de um sistema produtivo ambientalmente correto, socialmente interessante e economicamente viável. De acordo com a WWF Brazil (2017), em termos de aparência, ou aspecto físico e visual, as carnes são idênticas, o que as diferencia são o sistema produtivo que lhe darão a origem. As características desse sistema estão aprontadas no Quadro 2 que segue. Quadro 1 - Continuação. Pontos fortes e fracos do sistema orgânico 36 Quadro 2 - Características da Pecuária Orgânica Características Pecuária Orgânica Manejo O bem-estar do animal e a preservação do meio ambiente são prioridade. Atenção especial às pessoas envolvidas no processo. Reprodução Monta natural. Inseminação artificial. Transferência de embriões é proibida. Pastagem Pastagens naturais. Lotação de animais é planejada. Proibido o uso de produtos químicos. Utilização de recursos naturais renováveis. Pastejo diferido. Suplementação Alimentar Ensilagem, fenação, obedecendo às normas orgânicas de produção. Permitidos 10% de forragem convencional, desde que livre de agentes químicos. Ureia é proibida. Alimentação forçada é proibida. Hormônios Proibida a utilização de hormônios. Aspectos Sanitários Preocupação com a prevenção. Medicamentos homeopáticos. Medicamentos químicos em último caso. Antibióticos são proibidos. Vacinas de calendário. Rastreabilidade O acompanhamento do rebanho tem início desde seu nascimento, ou entrada do animal na unidade certificada, até o consumidor final. Certificação O produto orgânico só recebe esta classificação se possuir o selo de certificação. Já existem certificadoras conceituadas. Garante confiança e segurança ao consumidor. 37 Características Pecuária Orgânica Instalações Devem atender às necessidades dos bovinos, visando seu bem-estar e minimizando ao máximo seu estresse. Devem fazer parte de propriedades certificadas. Transporte e Abate A distância até o local de abate deve ser a mais próxima possível. O abate deve ser realizado em frigorífico credenciado, seguindo normas específicas Fonte: Adaptado de PINEYRUA (2006); LUCATI (2009) Segundo Pila (2013) isso traz a questão tão em alta ultimamente da não utilização de produtos químicos potenciais prejudiciais à saúde, já que a mesma usa medicamentos naturais, homeopáticos e fitoterápicos, são vacinados e criados em pastos sem uso de defensivos agrícolas. Para Pila (2013) a principal diferença entre à carne tradicional e a orgânica é o modo de produção. Conforme Luchiari Filho (2006), em se tratar de carne bovina, o termo qualidade, que é subjetivo, é definido através: a) de rendimento de carcaça e composição: proporção de carne magra e gordura e o tamanho e a forma dos músculos; b) aparência e características tecnológicas empregadas: a cor e textura da gordura da carne, quantidade de marmorização do seu tecido magro, cor e capacidade de retenção de água e composição química do músculo; c) palatabilidade: textura, maciez, sabor, suculência e aroma; d) integridade do produto: qualidade nutricional, segurança química e biológica; e) qualidade ética: questões de saúde animal. Por serem criadas com alto grau de certificação, esse tipo de sistema, do ponto de vista de impactos ambientais torna-se muito interessante, mas ainda sem levar em conta, a questão produtividade, porém, os aspectos legais e sócio responsáveis. Essa certificação se dá: todo alimento orgânico comercializado no Brasil deve ser reconhecido pelo Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica (SisOrg), gerido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), sendo o MAPA também credencia os Organismos de Avaliação da Conformidade (OAC), que são responsáveis pela fiscalização e certificação agropecuária, de processamento, de produtos extrativistas, orgânicos e biodinâmicos (PILA, 2013). Quadro 2 - Continuação. Características da Pecuária Orgânica 38 Segundo a WWF Brazil (2017), ela ainda é pouco consumida, em sua maior parte vem sendo produzida nos últimos 10 anos, e além disso, em decorrência do cuidado maior, processos de certificação, e quantidades de animais por há, fazem com que o custo de produção dentro desse sistema seja mais caro que nos outros sistemas mais tradicionais, e assim o repasse de custo o consumidor fica dificultoso. 2.5 Gestão Ambiental na pecuária Devido a conscientização mundial sobre os impactos ambientais que os processos industriais e produtos ocasionam no meio ambiente, cada vez mais as empresas estão buscando formas de desenvolver processos ou produtos mais sustentáveis, o que poderia ocasionar um menor impacto ambiental ao meio ambiente, este pode ser definido como: “tudo o que envolve e cerca os seres vivos” conforme Barbieri (2016). Impacto ambiental, pode ser definido como qualquer alteração induzida por atividade antrópica, esta deve ser entendida como a alteração de um parâmetro definido e que este seja extrapolado ao longo do tempo, conforme Adissi e Almeida Neto (2013,). Sendo para Moreira (2014) impacto é qualquer alteração ao meio ambiente, positiva ou negativa, que gere alguma transformação no meio ambiente. Em diferentes setores industriais, as etapas produtivas têm reflexos diferentes no meio ambiente, seja para o uso dos recursos ou destinação de resíduos no meio ambiente (RODRIGUES et al., 2009), frente a este contexto iremos destacar a gestão ambiental incialmente de maneira geral e posteriormente na bovinocultura. Os autores McCloskey e Maddock, (1994) definem gestão ambiental como um conjunto de ajustes e planejamentos da estrutura, dos sistemas e das atividades da empresa a fim de estabelecer um determinado tipo de posicionamento face à variável ambiental. A Gestão Ambiental visa organizar estas atividades humanas, para que estas originem o menor impacto ambiental possível sobre o meio em que está inserido, reduzindo os danos para este. Esta organização vai desde a escolha das melhores técnicas até o cumprimento da legislação, e a alocação correta de recursos humanos e financeiros (BRUNS, 2006), sendo que a maneira com que os recursos são alocados, extraídos e posteriormente devolvidos, gera impactos ao meio ambiente, e quando não se há controle são emitidos ao ar, solo e água de maneira que gere impactos negativos (BARBIERI, 2016). 39 Dias (2012) aponta que a perspectiva sustentável, no âmbito empresarial, é realizada através do conceito triple bottom line. Este conceito, também conhecido como os 3Ps (People, Planet and Profit), é promovido por empresas como GRI (Global Reporting Initiative). Esses produtos devem estar de acordo com a Lei Ambiental vigente no país, além de considerar seu impacto social, onde muitas vezes essas medidas podem ser utilizadas como uma plataforma de marketing. Tais esforços também se tornam necessários na pecuária. Um dos principais problemas ambientais advindos da pecuária é sua elevada emissão do gás metano, apontado como um dos principais causadores do aquecimento global (ROTZ, 2017; CARDOSO, 2012; MITLOEHNER, PLACE, 2012). Espera-se que a demanda global por produtos pecuários aumente 70% até 2050 (Opio et al., 2013), ressaltando a importância de minimizar os impactos ambientais incorridos durante a produção pecuária. Estudos indicam que a produção de carne em todo o mundo deve sofrer um aumento de pelo menos 53%, enquanto na indústria de lácteos esse aumento possa ser de 48% (THORNTON et al., 2010). Além dos impactos ambientais já citados, estima-se que o gado consome cerca de 35% das culturas agrícolas em todo o mundo, logo a pecuária compete diretamente com a produção de alimentos, tornando-se necessária a gestão dos sistemas de produção tanto para reduzir os impactos ambientais, quanto para garantir a segurança alimentar (FLORINDO et al., 2017). Logo o grande desafio da pecuária é adequar sua produção para que atenda a demanda interna e externa, sem interferir na sustentabilidade ambiental. A busca pela pecuária sustentável está cada vez mais presente nos dias atuais com o intuito de minimizar as perdas, tanto em produtividade quanto ambiental, para isso são necessários esforços para melhorar a qualidade das pastagens, realizar melhoramento genético do gado, afim de aumentar sua produtividade, controlar ou combater as pragas e doenças dos animais e realizar os aproveitamentos dos resíduos gerados (VERSCHI, BARROS, RAMOS, 2010). 40 2.5.1 SGA (Sistema de Gestão Ambiental) Os autores McCloskey e Maddock, (1994) definem gestão ambiental como um conjunto de ajustes e planejamentos da estrutura, dos sistemas e das atividades da empresa a fim de estabelecer um determinado tipo de posicionamento face à variável ambiental. A Gestão Ambiental visa organizar estas atividades humanas, para que estas originem o menor impacto ambiental possível sobre o meio em que está inserido, reduzindo os danos para este. Esta organização vai desde a escolha das melhores técnicas até o cumprimento da legislação, e a alocação correta de recursos humanos e financeiros (BRUNS, 2006). Barbieri (2006) conceitua a gestão ambiental como sendo um conjunto de diretrizes e outras atividades administrativas, financeiras e operacionais, como por exemplo, planejamento, direção, controles e alocação dos recursos, que são realizados com o objetivo de se obter efeitos positivos sobre o meio ambiente- entendido como tudo o que envolve ou cerca os seres vivos-, reduzindo, eliminando ou evitando danos ou problemas que são causados pela ação humana, chamada também de ação antrópica. A incorporação da dimensão ambiental na empresa recebe o nome de gestão ambiental (BACKER, 2002) Para tal, vem se desenvolvendo métodos, formas de pesquisa para análise de tal tema, que apesar de recente se comparado a outros vem ganhando corpo e importância à medida que a sociedade vem cobrando das empresas maior reatividade, que elas sejam proativas ao meio ambiente, e não que busque soluções após ter acontecido o impacto ambiental, conforme Matias el al. (2014). Sistema de Gestão Ambiental (SGA) é uma estrutura organizacional que permite à empresa avaliar e controlar os impactos ambientais de suas atividades, produtos ou serviços. O gerenciamento ambiental ou ecológico, ou somente gestão ambiental, envolve a passagem do pensamento mecanicista para o sistema sistêmico. Um aspecto essencial dessa mudança é que a percepção do mundo como máquina cede lugar à percepção do mundo como sistema vivo (ANDRADE, 2000). Um Sistema de Gestão Ambiental nas empresas pode ser entendido como um processo de administração e gerenciamento, que tem ênfase no desenvolvimento sustentável, ou seja, resolver as questões de caráter ambiental ou prevenir possíveis consequências negativas relacionadas aos processos de produção das empresas, e essa empresa se preocupe além de https://pt.wikipedia.org/wiki/Impacto_ambiental 41 resultados financeiros, mas também em seu balanço de sustentabilidade (Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)). De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) a gestão ambiental pode ser definida como uma parte de um sistema de gerenciamento que envolve toda a estrutura corporativa da empresa, as suas responsabilidades, ações, práticas, procedimentos, processos fabris e de serviços, e recursos para aplicação, elaboração, fabricação, revisões e manutenção da política ambiental empresarial. O objetivo é que o impacto ambiental das atividades econômicas das empresas seja reduzido ao máximo e seus impactos sejam cada vez menores. Desta forma, a norma ISO 14001, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) é a responsável por regulamentar o sistema, e verificar sua eficácia e normatiza-la segundos critérios básicos para se ter um sistema de gestão ambiental, estabelecendo os requisitos de implementação e operação; é importante salientar, ainda, que este modelo sustentável de gerenciamento está fundamentado em cinco princípios que as empresas devem gerenciar para ter um SGA bem definido e que tenha impactos positivos na organização: 1. Conhecer a forma com que suas ações devem ser realizadas, assegurando o comprometimento com o SGA e definindo uma política ambiental e que ela seja incorporada à cultura organizacional; 2. Elaborar um plano de ação, ou seja, qual o comportamento da empresa em todas as situações no tocante aos impactos gerados por ela, voltado ao atendimento dos requisitos dessa política ambiental; 3. Assegurar que se tenha as condições necessárias para o cumprimento dos objetivos e metas ambientais na empresa e implementar as ferramentas de sustentação necessárias; 4. Realizar avaliações qualitativas e quantitativas periódicas de conformidade ambiental da empresa, para verificar se o sistema está correndo bem e a empresa realmente está fazendo uso das suas políticas e impactos dela na organização como um todo; 5. Revisar e aperfeiçoar a política ambiental sempre, pois ela pode ficar obsoleta, verificar também os objetivos e metas e as ações implementadas para assegurar a melhoria contínua do desempenho ambiental da empresa, pois a cada ano, novas normas são criadas, novos processos fabris, e assim, sempre devem estar em conformidade com as normas ambientais, legais e da política organizacional atuais. http://www.abnt.org.br/m3.asp?cod_pagina=1006 42 Assim, o SGA ajuda a organização a definir, implementar, manter e melhorar estratégias proativas para identificar e resolver os impactos ambientais negativos que potenciem os impactos positivos, decorrentes das atividades da organização O primeiro ponto que deve ser levado em consideração na gestão ambiental no meio agropecuário é a sustentabilidade do processo. Quando comparada a pecuária brasileira atual à pecuária de 40 anos atrás, nota-se um grande salto na produção e mercado da carne bovina (GESTÃO AGROPECUÁRIA, 2018). Nas últimas décadas o rebanho brasileiro mais do que dobrou, onde sua produção não era capaz de atender o mercado interno de carne bovina, já hoje é possível atender essa demanda, além de exportar uma parte da produção. Além disso, em algumas áreas do território nacional houve uma diminuição das pastagens, mantendo sua alta produtividade (EMBRAPA, 2016; GESTÃO AGROPECUÁRIA, 2018). Esses avanços foram possíveis através da modernização tecnológica dos sistemas produtivos e da organização da cadeia de produção, através da gestão ambiental. 2.6 ACV: Análise do Ciclo de Vida A Análise ou Avaliação do Ciclo de Vida, da sigla ACV (do inglês Life Cycle Assessment - LCA), é uma das ferramentas mais modernas no que tange a gestão ambiental estratégica, já que contribui com informações importantes para a tomada de decisão. Em alguns países europeus esse tipo de análise é chamado de ecobalance (TSANG et al, 2016). Segundo RUGGIERI e CARDOSO (2017), a ACV é a ferramenta mais conhecida para avaliar a pegada de carbono, onde se computam as emissões e os sequestros dos processos para verificar o balanço de carbono durante o ciclo de vida do produto. Através da utilização da análise de ciclo de vida é possível determinar o impacto ambiental de um produto desde a identificação até a quantificação da energia necessária e das matérias-primas utilizadas na obtenção de um produto (MITLOEHNER, PLACE, 2012, TALAMINI, CLAUDINO, 2013). Para isso são avaliadas as emissões de gases no meio ambiente, ou liberação de resíduos no ar, solo e água. 43 De acordo com TSANG (2016) a ACV é uma gestão ambiental que pode ser utilizada para avaliar os impactos ambientais e humanos de um determinado produto ou serviço. A análise de ciclo de vida é uma metodologia recente, porém há relatos de estudos semelhantes ao realizado na ACV que datam dos anos 80, naquela época deram início os primeiros trabalhos que abordavam os impactos ambientais de produtos. A ACV propriamente dita ganhou destaque mundial a partir nos anos 90 (BRONDANI, 2014). Antes disso, em 1995 a empresa Coca-Cola realizou um estudo com o objetivo de produzir embalagens de refrigerante com melhor desempenho ambiental. Nesse estudo quando avaliados o uso dos recursos naturais e finalmente suas emissões, tal técnica ficou conhecida como REPA - Resource and Environmental Profile Analysis (CRUZ, 2015). A metodologia ACV é regulamentada pelas normas ISO 14040 e 14044, abrangendo as técnicas de avaliação ambientais, seja no desempenho ambiental, auditoria, impactos e riscos, porém não inclui os aspectos econômicos ou sociais de um produto ou serviço, logo a avaliação dos impactos sociais e dos custos do ciclo de vida (Life Cycle Costing - LCC) estão fundamentadas nos conceitos e princípios do Guia do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) e da Sociedade de Toxicologia e Química Ambiental (SETAC), respectivamente. A ABNT NBR ISO 14040 aborda os princípios da Análise de ciclo de vida e a estruturação dessa análise. Já a ISO 14044 apresenta os requisitos necessários da avaliação com algumas sugestões e orientações para execução da análise. Por fim, a ISO 14049 apresenta exemplos ilustrativos de como aplicar as normas anteriores (ISO, 2012). Segundo a ISO, segue a série de Normas para ACV, onde estão norteiam o que a empresa deve fazer, seus direitos e deveres no tocante a essa análise. -ISO 14040 – Princípios gerais (1997) -ISO 14041 – Definição do objetivo e escopo e ICV (1998) -ISO 14042 – AI CV (2000) ISO 14043 – Interpretação (2000) -ISO 14040 – Princípios gerais (2006) -ISO 14044 – Requerimentos e diretrizes (2006) Com a ACV é possível determinar as fases críticas de um produto ou processo de forma geral, possibilitando com que as organizações avaliem a sustentabilidade de seus 44 produtos, serviços e ações verificando seus impactos ao longo de seus ciclos de vida (CRUZ, 2015; BRONDANI, 2014; PEREZ, 2008). Nesse tipo de análise são contabilizados todos os consumos de recursos, materiais, até as emissões de gases para o meio ambiente, seja na extração das matérias-primas, durante os processos de manufatura fabris, na fase de uso pelos consumidores ou ainda em seu descarte, quando este vira resíduo (BRONDANI, 2014; PELLETIER, et al., 2010). Muitas vezes esse processo, especificamente na produção animal, é chamado de “nascimento ao abate” (ISO 14040), conforme pode ser observado na Figura 1. Especificamente na produção animal do nascimento ao abate. Figura 1 - Representação de uma ACV do berço ao túmulo Fonte: Modificado de ICCA (2018) Com esse tipo de análise é possível determinar tantos os aspectos positivos como os negativos de um determinado produto ou processo (ICCA). Segundo a ISO 14040 a ACV é uma metodologia utilizada para avaliar os aspectos ambientais e possíveis impactos associados a um produto ou processo. Onde essa análise é realizada através de quatro principais etapas (Figura 2):  Definição dos objetivos e escopo; 45  Compilação de um inventário de entradas e saídas de um sistema de produto;  Avaliação dos potenciais impactos ambientais associado a essas entradas e saídas;  Interpretação dos resultados da Análise de Inventário e das fases de avaliação de impacto em relação aos objetivos do estudo. Figura 2 - Etapas de um estudo de Análise de Ciclo de vida Fonte: ABNT NBR ISO 14040 (2009) A etapa de compilação do inventário é uma das mais importantes, já que ela irá definir o objetivo do estudo, onde em seguida será realizada a coleta de dados. Após a avaliação e interpretação dos dados gerados é possível definir em quais pontos são necessários maiores estudos, seja para propor melhorias ou realizar um planejamento estratégico. Existem três tipos de sistemas que podem ser empregados na análise de ciclo de vida de um produto, são eles: 1. Cradle-to-grave: a partir da extração das matérias-primas, até seu uso e descarte final na forma de resíduo, também conhecido como do “nascimento ao abate”; 46 2. Cradle-to-gate: onde serão abordados todos os impactos desde a extração da matéria-prima até o portão da fábrica; 3. Gate-to-Gate: a partir de um ponto definido ao longo do ciclo de vida (por exemplo, quando as matérias-primas são recebidas no local de fabricação) a um segundo ponto definido ao longo do ciclo de vida (por exemplo, quando um produto acabado é entregue a um usuário final). 2.6.1 Nascimento ao abate (Cradle-to-grave) Nessa técnica são contabilizadas todas as entradas, ou seja, a energia gasta no processo, os insumos, água e nutrientes, para em seguida quantificar-se as saídas, seja o produto obtido, ou até mesmo coprodutos gerados, resíduos e emissões de gases para o ambiente (NARAYANASWAMY, 2004; TSANG, SONNEMANN, BASSINI, 2016). 2.6.2 Berço a porteira (Cradle-to-gate) Assim como na técnica do “berço ao túmulo”, são avaliadas todas as entradas do processo, porém a análise termina no portão de fábrica, não levando em consideração a disposição final do produto. 2.6.3 Portão ao portão (Gate-to-gate) Nesse tipo de metodologia normalmente são abordados somente o processo de manufatura do produto. O consumo de energia do processo porta-a-porta é uma métrica importante para a sustentabilidade, pois afeta os custos e o impacto ambiental. Nesse tipo de análise apenas poucas informações do processo estão disponíveis nas