GUILHERME PEREIRA COCATO ESTRUTURAÇÃO DAS CIDADES A PARTIR DO COMÉRCIO, DOS SERVIÇOS E DO CONSUMO: A AGLOMERAÇÃO URBANA DE LONDRINA - PR Presidente Prudente - SP 2022 GUILHERME PEREIRA COCATO ESTRUTURAÇÃO DAS CIDADES A PARTIR DO COMÉRCIO, DOS SERVIÇOS E DO CONSUMO: A AGLOMERAÇÃO URBANA DE LONDRINA - PR Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Geografia, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre, área de concentração Produção do Espaço Geográfico. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Encarnação Beltrão Sposito. Presidente Prudente - SP 2022 CERTIFICADO DE APROVAÇÃO Câmpus de Presidente Prudente UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA ESTRUTURAÇÃO DAS CIDADES A PARTIR DO COMÉRCIO E DO CONSUMO: A AGLOMERAÇÃO URBANA DE LONDRINA - PR TÍTULO DA DISSERTAÇÃO: AUTOR: GUILHERME PEREIRA COCATO ORIENTADORA: MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO Aprovado como parte das exigências para obtenção do Título de Mestre em Geografia, área: Produção do Espaço Geográfico pela Comissão Examinadora: Profa. Dra. MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO (Participaçao Virtual) FCT / UNESP/Presidente Prudente (SP) Prof. Dr. ARTHUR MAGON WHITACKER (Participaçao Virtual) Departamento de Geografia / Unesp/FCT - Câmpus de Presidente Prudente PROFESSOR DOUTOR WILLIAM RIBEIRO DA SILVA (Participaçao Virtual) Departamento de Geografia / UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Presidente Prudente, 13 de setembro de 2022 Faculdade de Ciências e Tecnologia - Câmpus de Presidente Prudente - Rua Roberto Simonsen, 305, 19060900, Presidente Prudente - São Paulo http://www.fct.unesp.br/pos-graduacao/--geografia/CNPJ: 48.031.918/0009-81. AGRADECIMENTOS A pesquisa da qual este texto é fruto foi realizada ao longo de anos e com a participação essencial de diversas pessoas e instituições, sem as quais ela não seria possível. O começo foi ainda na graduação em Geografia, na Universidade Estadual de Londrina, entre os anos de 2013 e 2020. Lá, destaco os Professores Edilson e Ricardo, meus orientadores durante a iniciação científica, o trabalho de conclusão de curso e a especialização em ensino, figuras extremamente competentes e comprometidas com o rigor do conhecimento geográfico e com o potencial de compreensão e de transformação da realidade que este proporciona. Esta dissertação é resultado da continuidade dada aos estudos em e acerca de Londrina e sua região de entorno. Desde que me mudei para essa cidade e a Geografia se tornou minha segunda casa, me senti acolhido e feliz, envolvido com a formação acadêmica que se iniciava e com a carreira profissional que para mim se apresentava. Continuo carregando esses sentimentos e, talvez por essa razão, quis retribuir de alguma forma com este trabalho. Dito isso, existem algumas pessoas que preciso citar e agradecer, pelas suas imensas contribuições e importância nessa caminhada. Com carinho, agradeço... À minha mãe, Marisa, e ao meu pai, Jorge, presentes em todas as fases e em todos os desafios da minha trajetória, fornecendo mais apoio e cuidado do que eu poderia imaginar. São os meus pilares. À Camila, minha companheira, que me suportou e me incentivou, principalmente nos momentos mais difíceis. Em anos de pandemia sanitária e isolamento social, sua presença e encorajamento foram fundamentais para que eu não perdesse a motivação e a perspectiva necessárias. Sem os três, este trabalho não existiria. Mais uma vez, todo o meu amor a vocês. À Professora Maria Encarnação, a Carminha, que, sem me conhecer, me aceitou e me orientou, demonstrando acreditar na minha capacidade e nas minhas ideias. Seu olhar minucioso e suas considerações precisas encontraram os elementos centrais para fazer deste estudo o que é hoje. Aos Professores Arthur e William, que aceitaram participar do exame de qualificação e da banca de defesa. Seus apontamentos e críticas foram imprescindíveis para o desenvolvimento e a correção do texto até a versão final. Ao Felipe, melhor e mais longínquo amigo, em tempo e espaço. Me acompanha há mais de 20 anos e, durante o mestrado, não foi diferente. Mesmo distantes, permanecemos próximos em mente e em coração. Nossas conversas dão mais significado à vida e a tornam mais leve. Aos amigos e às amigas de Londrina, que continuaram me preenchendo com o forte sentimento de pertencer a esse lugar. Afetuosamente, ao Douglas, à Paola e ao Alexandre. Aos amigos e às amigas de Presidente Prudente, que me acolheram e me incluíram em suas vidas, ainda que por breve tempo. Em especial à Carol, pesquisadora, militante e professora, com a qual muito aprendi ao longo da disciplina de Geocartografia. De maneira geral, aos professores e professoras, funcionários e funcionárias, colegas de estudo e de pesquisa – do GAsPERR, do Projeto Temático “FragUrb” e da revista Formação – e à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista, câmpus de Presidente Prudente, onde cursei disciplinas, participei de diversas atividades e tive toda a infraestrutura necessária. Às instituições de fomento à pesquisa acadêmica e científica pelo seu papel indispensável para que a minha dedicação pudesse ser integral e exclusiva, não somente neste trabalho, mas em todas as experiências que estão envolvidas no decorrer de uma pós-graduação. O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001. Agradeço pela bolsa fornecida desde o início do mestrado e da pesquisa, entre os meses de março e maio de 2020 (processo nº 88887.485720/2020-00), a partir do Programa de Excelência Acadêmica (PROEX). Agradeço ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela bolsa fornecida entre os meses de junho e agosto de 2020 (processo nº 133889/2020-3). Agradeço à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), pela bolsa e reserva técnica fornecidas entre os meses de setembro de 2020 e fevereiro de 2022 (processo nº 2020/03423-3), vinculadas ao Projeto Temático “FragUrb” (processo nº 2018/07701-8), que possibilitaram não somente o término da pesquisa, mas também a realização de trabalhos de campo e a aquisição de materiais permanentes que, após a utilização, ficaram à disposição da universidade. Toda pesquisa científica é produto da e para a coletividade. Assim, que tais instituições se fortaleçam e continuem a promover os financiamentos que dão incentivo e as bases materiais mínimas para a ciência brasileira. Para que esta seja autônoma e plural, engajada com a mudança do país em busca de um futuro melhor. “Eu sou apenas um rapaz latino-americano, Sem dinheiro no banco, sem parentes importantes, E vindo do interior. Mas sei que nada é divino” (BELCHIOR, 1976) “A consciência crítica educa o pesquisador para possuir a noção do seu trabalho como parte do trabalho social, e portanto sujeito às mesmas vicissitudes, às mesmas condições que afetam os demais trabalhadores” “O cientista não pode ser cético ou indiferente em relação ao seu trabalho [...]. O importante não está no simples ‘ganhar a vida’, mas na espécie de vida que ganha” (PINTO, 2020, p. 315-351) COCATO, Guilherme Pereira. Estruturação das cidades a partir do comércio, dos serviços e do consumo: a aglomeração urbana de Londrina – PR. 2022. 363 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, 2022. RESUMO No decorrer do processo de urbanização, as atividades econômicas vinculadas às esferas do comércio, dos serviços e do consumo sempre ocuparam papéis fundamentais para a vida urbana, compondo a estruturação das cidades em suas formas, processos e conteúdos. Esta dissertação tem como objetivo geral definir e analisar a aglomeração urbana de Londrina-PR, em sua atual fase de estruturação espacial, englobando o padrão de distribuição de estabelecimentos do comércio e de serviços, os processos espaciais em curso e as práticas e estratégias espaciais de citadinos e lojistas orientadas pelo consumo. Pela destacada presença dessas atividades, assim como pela centralidade exercida na rede urbana, foi delimitada a aglomeração urbana de Londrina, composta por sete cidades na região norte paranaense, escolhidas a partir de critérios como continuidade espacial de relações e deslocamentos interurbanos, continuidade e proximidade territorial entre os tecidos urbanos. Para alcançar o objetivo proposto, adotamos procedimentos metodológicos variados, de cunho quantitativo e qualitativo: unimos os dados do Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos (CNEFE) e as informações da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) para aferir o padrão de distribuição espacial dos estabelecimentos, que se apresentou multicêntrico e multicentralizado; para compreender a faceta empírica dessa distribuição, realizamos trabalhos de campo em localidades da área pesquisada; visando apreender os conteúdos referentes às práticas e estratégias espaciais de citadinos e lojistas, foram feitas entrevistas semiestruturadas. Reunindo os resultados obtidos, caracterizamos que a atual fase de estruturação espacial das cidades da aglomeração urbana de Londrina revela desigualdade socioespacial, a partir das esferas do comércio e do consumo, identificada pela existência de escalas geográficas distintas, construídas por intensas diferenciações nas práticas e estratégias espaciais, com alcances e possibilidades de realização díspares. Palavras-chave: consumo consuntivo; práticas espaciais; multicentralidade; escalas geográficas; aglomeração urbana de Londrina. COCATO, Guilherme Pereira. Structuring cities based on commerce, services and consumption: the urban agglomeration of Londrina – PR. 2022. 363 f. Dissertation (Master’s in Geography) – Faculty of Science and Technology, São Paulo State University, Presidente Prudente, 2022. ABSTRACT During the urbanization process, economic activities linked to the spheres of commerce, services and consumption have always played key roles in urban life, composing the structuring of cities in their forms, processes and contents. This dissertation has as general objective to define and analyze the urban agglomeration of Londrina-PR, in its current phase of spatial structuring, encompassing the distribution pattern of commercial and service establishments, the spatial processes in course and the consumer-oriented spatial practices and strategies of city dwellers and shopkeepers. Due to the prominent presence of these activities, as well as the centrality exercised in the urban network, the urban agglomeration of Londrina was delimited, consisting of seven cities in the northern region of Paraná, chosen based on criteria such as spatial continuity of interurban relations and displacements, continuity and territorial proximity among urban fabrics. To achieve the proposed objective, it was adopted a variety of methodological procedures, both quantitative and qualitative: we combined data from the National Registry of Addresses for Statistical Purposes (CNEFE) and information from the National Classification of Economic Activities (CNAE) to assess establishments' spatial distribution pattern, which were multicentric and multicentralized; to understand this distribution empirical facet, we carried out fieldwork in researched area localities; in order to understand contents referring to city dwellers and shopkeepers spatial practices and strategies, semi-structured interviews were carried out. Gathering the results obtained, we characterize that Londrina's urban agglomeration current phase of cities spatial structuring reveals socio-spatial inequality, from the spheres of commerce and consumption, identified by the existence of distinct geographic scales, built by intense differentiations in spatial practices and strategies, with different realization reaches and possibilities. Keywords: consumptive consumption; spatial practices; multicentrality; geographic scales; urban agglomeration of Londrina. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Estruturação da pesquisa ..................................................................................... 21 Figura 2 – Regiões geográficas do Paraná (2010) ................................................................. 45 Figura 3 – Cidades originadas a partir dos centros urbanos e patrimônios rurais criados durante o processo de colonização da CTNP no século XX .................................................. 47 Figura 4 – Localização das cidades pertencentes à aglomeração urbana de Londrina-PR ...... 50 Figura 5 – Continuidade e descontinuidade territorial na aglomeração urbana de Londrina (2021) .................................................................................................................................. 52 Figura 6 – Sistema rodoviário em parte da região norte paranaense (2020) ........................... 56 Figura 7 – Proximidade territorial entre as cidades da aglomeração urbana de Londrina e do entorno................................................................................................................................. 58 Figura 8 – Região de influência do arranjo populacional de Londrina-PR, delimitada pela REGIC (2018)...................................................................................................................... 74 Figura 9 – Concentrações de estabelecimentos para o consumo consuntivo na aglomeração urbana de Londrina-PR (2010) ............................................................................................. 82 Figura 10 – Graus de concentração dos estabelecimentos de consumo consuntivo na aglomeração urbana de Londrina-PR (2010) ........................................................................ 84 Figura 11 – Graus de concentração dos estabelecimentos de consumo consuntivo em Londrina-PR (2010) ............................................................................................................. 85 Figura 12 – Concentrações de estabelecimentos, pertencentes à divisão de comércio varejista da CNAE 2.0 (Códigos 5 a 12), na aglomeração urbana de Londrina-PR (2010) .................. 88 Figura 13 – Concentrações de estabelecimentos, pertencentes à divisão de alimentação da CNAE 2.0 (Código 13), na aglomeração urbana de Londrina-PR (2010) .............................. 89 Figura 14 – Concentrações de estabelecimentos, pertencentes à divisão de comércio e reparação de veículos automotores e motocicletas da CNAE 2.0 (Códigos 1 a 4), na aglomeração urbana de Londrina-PR (2010) ........................................................................ 90 Figura 15 – Concentrações de estabelecimentos, pertencentes à divisão de outras atividades de serviços pessoais da CNAE 2.0 (Código 16), na aglomeração urbana de Londrina-PR (2010) ............................................................................................................................................ 91 Figura 16 – Localização de elementos espaciais citados na aglomeração urbana e em Londrina-PR ...................................................................................................................... 114 Figura 17 – Evolução do tecido urbano de Londrina-PR (1930-2018)................................. 119 Figura 18 – Síntese do uso e ocupação do solo urbano de Londrina-PR (2021) ................... 121 Figura 19 – Relações entre as principais formas, processos espaciais e padrões de distribuição espacial abordados neste trabalho ....................................................................................... 140 Figura 20 – Distribuição espacial dos estabelecimentos de consumo consuntivo na aglomeração urbana de Londrina-PR (2010) ...................................................................... 143 Figura 21 – Distribuição espacial dos estabelecimentos dos Códigos 1 a 4, de comércio e reparação de veículos automotores e motocicletas, na aglomeração urbana de Londrina-PR (2010) ................................................................................................................................ 145 Figura 22 – Distribuição espacial dos estabelecimentos dos Códigos 5 a 12, de comércio varejista, na aglomeração urbana de Londrina-PR (2010) ................................................... 146 Figura 23 – Distribuição espacial dos estabelecimentos do Código 13, de serviços de alimentação, na aglomeração urbana de Londrina-PR (2010) ............................................. 147 Figura 24 – Distribuição espacial dos estabelecimentos dos Códigos 14 e 15, de reparação e manutenção de equipamentos eletrônicos e objetos pessoais, na aglomeração urbana de Londrina-PR (2010) ........................................................................................................... 148 Figura 25 – Distribuição espacial dos estabelecimentos do Código 16, de serviços pessoais, na aglomeração urbana de Londrina-PR (2010) ...................................................................... 149 Figura 26 – Distribuição espacial dos estabelecimentos de consumo consuntivo em Londrina- PR (2010) .......................................................................................................................... 154 Figura 27 – Graus de concentração dos estabelecimentos dos Códigos 1 a 4, de comércio e reparação de veículos automotores e motocicletas, em Londrina-PR (2010) ....................... 156 Figura 28 – Graus de concentração dos estabelecimentos dos Códigos 5 a 12, de comércio varejista, em Londrina-PR (2010) ...................................................................................... 157 Figura 29 – Graus de concentração dos estabelecimentos do Código 13, de serviços de alimentação, em Londrina-PR (2010) ................................................................................. 158 Figura 30 – Graus de concentração dos estabelecimentos do Código 16, de serviços pessoais, em Londrina-PR (2010) ..................................................................................................... 159 Figura 31 – Distribuição espacial dos estabelecimentos dos Códigos 1 a 4, de comércio e reparação de veículos automotores e motocicletas, em Londrina-PR (2010) ....................... 161 Figura 32 – Distribuição espacial dos estabelecimentos dos Códigos 5 a 12, de comércio varejista, em Londrina-PR (2010) ...................................................................................... 162 Figura 33 – Distribuição espacial dos estabelecimentos do Código 13, de serviços de alimentação, em Londrina-PR (2010) ................................................................................. 163 Figura 34 – Distribuição espacial dos estabelecimentos do Código 16, de serviços pessoais, em Londrina-PR (2010) ..................................................................................................... 164 Figura 35 – Áreas centrais identificadas em Londrina-PR (2021) ....................................... 169 Figura 36 – Localidades e áreas centrais de referência para a realização dos trabalhos de campo na aglomeração urbana de Londrina-PR (2021)....................................................... 181 Figura 37 – Residências das pessoas entrevistadas na aglomeração urbana de Londrina-PR (2021) ................................................................................................................................ 196 Figura 38 – Espaços e estabelecimentos preferenciais de consumo dos entrevistados na aglomeração urbana de Londrina-PR (2021) ...................................................................... 206 Figura 39 – Espaços e estabelecimentos comerciais e de serviços relacionados, frequentados por citadinos que residem em outras cidades da aglomeração urbana de Londrina-PR (2021) .......................................................................................................................................... 208 Figura 40 – Áreas que apresentam dificuldades para o consumo em estabelecimentos comerciais e de serviços relacionados em Londrina-PR (2021) .......................................... 215 Figura 41 – Espaços que os entrevistados gostariam de frequentar mais em Londrina-PR (2021) ................................................................................................................................ 228 Figura 42 – Origem do capital dos estabelecimentos de lojistas entrevistados na aglomeração urbana de Londrina-PR (2021) ........................................................................................... 243 Figura 43 – Origem e destino dos deslocamentos dos citadinos para o consumo consuntivo na aglomeração urbana de Londrina-PR (2021) ...................................................................... 257 Figura 44 – Avenida Rio de Janeiro, na localidade Apucarana 3 (2021) ............................. 273 Figura 45 – Rua Ponta Grossa, na localidade Apucarana 5 (2021) ...................................... 273 Figura 46 – Alcance espacial e concentração de estabelecimentos comerciais e de serviços relacionados nas áreas centrais identificadas em Apucarana, na aglomeração urbana de Londrina-PR (2021) ........................................................................................................... 275 Figura 47 – Rua Albatroz Real, na localidade Arapongas 3 (2021) ..................................... 277 Figura 48 – Avenida Arapongas, na localidade Arapongas 4 (2021) ................................... 277 Figura 49 – Rua Biguatinga, na localidade Arapongas 5 (2021).......................................... 278 Figura 50 – Alcance espacial e concentração de estabelecimentos comerciais e de serviços relacionados nas áreas centrais identificadas em Arapongas, na aglomeração urbana de Londrina-PR (2021) ........................................................................................................... 279 Figura 51 – Avenida Inglaterra, na localidade Cambé 1 (2021) .......................................... 281 Figura 52 – Avenida Antônio Ramineli, na localidade Cambé 2 (2021) .............................. 281 Figura 53 – Avenida José Afonso dos Santos, na localidade Cambé 3 (2021) ..................... 282 Figura 54 – Alcance espacial e concentração de estabelecimentos comerciais e de serviços relacionados nas áreas centrais identificadas em Cambé, na aglomeração urbana de Londrina- PR (2021) .......................................................................................................................... 283 Figura 55 – Avenida Santos Dumont, na localidade Ibiporã 2 (2021) ................................. 285 Figura 56 – Rua 19 de Dezembro, na localidade Ibiporã 3 (2021)....................................... 285 Figura 57 – Avenida Paraná, na localidade Ibiporã 4 (2021) ............................................... 286 Figura 58 – Avenida Senador Souza Naves, na localidade Ibiporã 5 (2021) ........................ 286 Figura 59 – Alcance espacial e concentração de estabelecimentos comerciais e de serviços relacionados nas áreas centrais identificadas em Ibiporã, na aglomeração urbana de Londrina- PR (2021) .......................................................................................................................... 288 Figura 60 – Rua Bahia, na localidade Jataizinho 2 (2021)................................................... 290 Figura 61 – Avenida Presidente Getúlio Vargas, na localidade Jataizinho 4 (2021) ............ 290 Figura 62 – Rua Carmela Dutra, na localidade Jataizinho 5 (2021) ..................................... 291 Figura 63 – Alcance espacial e concentração de estabelecimentos comerciais e de serviços relacionados nas áreas centrais identificadas em Jataizinho, na aglomeração urbana de Londrina-PR (2021) ........................................................................................................... 292 Figura 64 – Rua Saguaragi, na localidade Rolândia 1 (2021) .............................................. 294 Figura 65 – Avenida Presidente Getúlio Vargas, na localidade Rolândia 3 (2021) .............. 294 Figura 66 – Avenida Expedicionários, na localidade Rolândia 4 (2021) ............................. 295 Figura 67 – Alcance espacial e concentração de estabelecimentos comerciais e de serviços relacionados nas áreas centrais identificadas em Rolândia, na aglomeração urbana de Londrina-PR (2021) ........................................................................................................... 296 Figura 68 – Rua Serra da Graciosa, na localidade Londrina 1 (2021) .................................. 298 Figura 69 – Avenida Saul Elkind, na localidade Londrina 4 (2021) .................................... 298 Figura 70 – Avenida Duque de Caxias, na localidade Londrina 6 (2021) ............................ 299 Figura 71 – Avenida São João, na localidade Londrina 7 (2021) ........................................ 299 Figura 72 – Rua Guaporé, na localidade Londrina 8 (2021) ................................................ 300 Figura 73 – Avenida Maringá, na localidade Londrina 9 (2021) ......................................... 300 Figura 74 – Alcance espacial e concentração de estabelecimentos comerciais e de serviços relacionados nas áreas centrais identificadas em Londrina, em sua aglomeração urbana (2021) .......................................................................................................................................... 302 Figura 75 – Avenida Madre Leônia Milito, na localidade Londrina 10 (2021) .................... 313 Figura 76 – Estruturação atualizada da pesquisa ................................................................. 320 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Quantidade de aeronaves que chegaram e partiram do Aeroporto Gov. José Richa em Londrina-PR (2010 a 2020) ............................................................................................ 40 Gráfico 2 – Quantidade de passageiros que passaram pelo Aeroporto Gov. José Richa em Londrina-PR (2010 a 2020) .................................................................................................. 40 Gráfico 3 – Quantidade de toneladas de cargas que passaram pelo Aeroporto Gov. José Richa em Londrina-PR (2010 a 2020) ............................................................................................ 41 Gráfico 4 – Totais de passageiros que transitaram pelo Terminal Rodoviário de Londrina (2016 a 2020) ....................................................................................................................... 61 Gráfico 5 – Totais de ônibus que transitaram pelo Terminal Rodoviário de Londrina (2016 a 2020) ................................................................................................................................... 61 Gráfico 6 – Distribuição de percentuais de passageiros por tipos de viagens registradas no Terminal Rodoviário de Londrina (2016 a 2020) .................................................................. 64 Gráfico 7 – Distribuição de percentuais de ônibus por tipos de viagens registradas no Terminal Rodoviário de Londrina (2016 a 2020) .................................................................. 64 Gráfico 8 – Empregados por estabelecimento, da divisão “Comércio e Reparação de Veículos Automotores e Motocicletas” (Códigos 1 a 4), nas cidades da aglomeração urbana de Londrina (2020) ................................................................................................................. 265 Gráfico 9 – Empregados por estabelecimento, da divisão “Comércio Varejista” (Códigos 5 a 12), nas cidades da aglomeração urbana de Londrina (2020) .............................................. 266 Gráfico 10 – Empregados por estabelecimento, de serviços de alimentação (Código 13), nas cidades da aglomeração urbana de Londrina (2020) ........................................................... 267 Gráfico 11 – Empregados por estabelecimento, de serviços de reparação e manutenção de equipamentos e objetos pessoais (Códigos 14 e 15), nas cidades da aglomeração urbana de Londrina (2020) ................................................................................................................. 268 Gráfico 12 – Empregados por estabelecimento, de outros serviços pessoais (Código 16), nas cidades da aglomeração urbana de Londrina (2020) ........................................................... 269 Gráfico 13 – Empregados por estabelecimento, das atividades comerciais e de serviços relacionados ao consumo consuntivo (Códigos 1 a 16), nas cidades da aglomeração urbana de Londrina (2020) ................................................................................................................. 270 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Grupos de atividades econômicas selecionadas a partir da CNAE 2.0 ................ 33 Quadro 2 – Proximidade territorial entre as cidades da aglomeração urbana de Londrina-PR, verificada por meio de luzes noturnas (2022) ....................................................................... 59 Quadro 3 – Passageiros por tipos de viagens registradas no Terminal Rodoviário de Londrina (2016 a 2020) ....................................................................................................................... 62 Quadro 4 – Ônibus por tipos de viagens registradas no Terminal Rodoviário de Londrina (2016 a 2020) ....................................................................................................................... 63 Quadro 5 – Quantidades de estabelecimentos identificados nas cidades da aglomeração urbana de Londrina, a partir dos códigos definidos para os grupos enfocados do CNEFE (2010) ..... 79 Quadro 6 – Áreas centrais de Londrina, com suas respectivas qualidades de centralidade para as escalas da cidade e da aglomeração urbana (2021) ......................................................... 166 Quadro 7 – Localidades escolhidas para trabalhos de campo, pelo destaque na concentração de estabelecimentos de consumo consuntivo (2010) ........................................................... 178 Quadro 8 – Aferição das concentrações de estabelecimentos de consumo consuntivo na aglomeração urbana de Londrina, pelos dados do CNEFE (2010) e por trabalhos de campo (2021), diferenciados em grupos de atividades econômicas da CNAE 2.0 (códigos 1 a 16) 184 Quadro 9 – Pessoas entrevistadas na aglomeração urbana de Londrina-PR (2021) .............. 194 Quadro 10 – Estabelecimentos comerciais e de serviços relacionados mais frequentados para consumo, de acordo com as entrevistas .............................................................................. 204 Quadro 11 – Caracterização das empresas com representantes entrevistados na aglomeração urbana de Londrina-PR (2021) ........................................................................................... 240 Quadro 12 – Caracterização socioespacial e apreensão dos graus de circulação dos citadinos nos locais de trabalhos de campo na aglomeração urbana de Londrina (2021) .................... 246 Quadro 13 – Alcance espacial das práticas de consumo consuntivo, de acordo com lojistas da aglomeração urbana de Londrina-PR (2021) ...................................................................... 253 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ACIL Associação Comercial e Industrial de Londrina ACL Associação Comercial de Londrina AGEPAR Companhia de Água e Esgotos do Paraná BM Banco Mundial BNH Banco Nacional de Habitação CEMPRE Cadastro Central de Empresas CIIU Classificación Industrial Internacional Uniforme CMNP Companhia Melhoramentos do Norte do Paraná CNAE Classificação Nacional de Atividades Econômicas CNEFE Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos CNPJ Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica COHAB Companhia de Habitação CONCLA Comissão Nacional de Classificação COPEL Companhia Paranaense de Energia Elétrica CTNP Companhia de Terras do Norte do Paraná DER Departamento de Estradas de Rodagem EMATER Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária EUA Estados Unidos da América FAPESP Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo FMI Fundo Monetário Internacional FNEM Fórum Nacional de Entidades Metropolitanas GPS Global Positioning System IAPAR Instituto Agronômico do Paraná IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDR Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná INSS Instituto Nacional do Seguro Social IPARDES Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social MPEs Micro e pequenas empresas PIB Produto Interno Bruto RAIS Relação Anual de Informações Sociais REGIC Regiões de Influência das Cidades RM Região Metropolitana RML Região Metropolitana de Londrina SANEPAR Companhia de Saneamento do Paraná SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SERCOMTEL Companhia Municipal de Telecomunicações de Londrina SFH Sistema Financeiro de Habitação TELEPAR Companhia de Telecomunicações do Paraná TRL Terminal Rodoviário de Londrina UEL Universidade Estadual de Londrina UNOPAR Universidade Norte do Paraná UTFPR Universidade Tecnológica Federal do Paraná SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 18 1.1 O PAPEL DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO................................................. 23 1.2 O RECORTE ESPACIAL: A AGLOMERAÇÃO URBANA DE LONDRINA... 26 1.3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS........................................................... 28 2 A AGLOMERAÇÃO URBANA DE LONDRINA: CONTEÚDOS E POSSIBILIDADES DE ANÁLISE..................................................................... 38 2.1 LONDRINA ATUAL: CENTRO METROPOLITANO, CIDADE MÉDIA OU OUTRA COISA?.................................................................................................... 38 2.2 AGLOMERAÇÃO URBANA DE LONDRINA: PRIMEIRA APROXIMAÇÃO................................................................................................... 44 2.3 AS CIDADES DA AGLOMERAÇÃO URBANA E A CENTRALIDADE DE LONDRINA............................................................................................................ 66 2.4 DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DO COMÉRCIO E DOS SERVIÇOS NA AGLOMERAÇÃO URBANA DE LONDRINA................................................... 77 3 A PRODUÇÃO DAS CIDADES SOB O CAPITALISMO: ESPAÇOS DE COMÉRCIO E DE CONSUMO......................................................................... 94 3.1 O ESPAÇO E SUA PRODUÇÃO.......................................................................... 94 3.2 CIDADES, CAPITALISMO E PROCESSO DE URBANIZAÇÃO..................... 98 3.3 URBANIZAÇÃO BRASILEIRA E AGLOMERAÇÃO URBANA DE LONDRINA: EVOLUÇÃO E COMPLEXIFICAÇÃO......................................... 103 3.4 COMÉRCIO E SERVIÇOS NAS CIDADES........................................................ 123 4 FORMAS E PROCESSOS ESPACIAIS URBANOS: OS ESTABELECIMENTOS E SEU PADRÃO DE DISTRIBUIÇÃO.................. 131 4.1 ÁREAS CENTRAIS, CENTRALIDADE E PROCESSOS ESPACIAIS.............. 131 4.2 CONCENTRAÇÃO E CENTRALIZAÇÃO.......................................................... 135 4.3 DESCENTRALIZAÇÃO E A FORMAÇÃO DE PADRÕES MULTICÊNTRICOS E DA MULTICENTRALIDADE....................................... 138 4.4 O PADRÃO MULTICÊNTRICO NA AGLOMERAÇÃO URBANA DE LONDRINA............................................................................................................ 141 4.5 O PADRÃO MULTICÊNTRICO EM LONDRINA.............................................. 152 4.6 A PROVA REAL (OU GEOGRÁFICA)............................................................... 177 5 DESLOCAMENTOS PARA O CONSUMO: PRÁTICAS E ESTRATÉGIAS ESPACIAIS NA AGLOMERAÇÃO URBANA DE LONDRINA........................................................................................................... 189 5.1 DESLOCAMENTOS PARA O CONSUMO A PARTIR DOS CITADINOS: PRÁTICAS ESPACIAIS E MOBILIDADE URBANA........................................ 189 5.2 DESLOCAMENTOS PARA O CONSUMO A PARTIR DOS LOJISTAS: ESTRATÉGIAS ESPACIAIS................................................................................ 238 6 ESTRUTURAÇÃO DAS CIDADES, COMÉRCIO E CONSUMO: PADRÃO MULTICÊNTRICO, ESCALAS GEOGRÁFICAS E DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL.............................................................. 260 6.1 CARACTERIZAÇÃO DAS ÁREAS CENTRAIS E DA MULTICENTRALIDADE..................................................................................... 260 6.2 PRÁTICAS E ESTRATÉGIAS ESPACIAIS: A CONSTRUÇÃO DE ESCALAS GEOGRÁFICAS.................................................................................. 304 6.3 ESTRUTURAÇÃO DAS CIDADES E DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL. 311 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................... 322 REFERÊNCIAS.................................................................................................... 329 APÊNDICE A – Mapa de referência.................................................................. 352 APÊNDICE B – Roteiro de entrevista I.............................................................. 353 APÊNDICE C – Roteiro de entrevista II............................................................ 356 APÊNDICE D – Roteiro de entrevista III.......................................................... 359 APÊNDICE E – Termo de consentimento.......................................................... 362 APÊNDICE F – Acesso aos registros fotográficos............................................. 363 18 1 INTRODUÇÃO A partir da segunda metade do século XX, o aumento de trabalhadores e trabalhadoras em atividades econômicas não diretamente ligadas à produção de mercadorias, frequentemente chamadas de improdutivas, indicou um ganho de importância para as atividades comerciais e de serviços, além de representar a consolidação do processo de diversificação econômica e locacional (GEORGE, 1979). Isto se acompanhou de impactos no padrão de distribuição espacial dos estabelecimentos pertencentes a esses ramos econômicos e potencializou transformações em seu funcionamento. No entanto, a relevância das atividades comerciais e de serviços vem de longa data, especialmente nos espaços urbanos. As trocas comerciais representaram e ainda representam uma esfera indispensável para a reprodução social. Nas cidades, o seu papel se destaca ainda mais, pela garantia do fornecimento de serviços e bens de consumo essenciais, provenientes de diferentes localidades, para pessoas não envolvidas na confecção desses bens e, portanto, apartadas da garantia das condições mínimas para a própria subsistência. Ademais, são as trocas comerciais que constituem o que Harvey (2013) denomina de “mundo de aparência” no cotidiano do sistema capitalista. São os fenômenos imediatamente aparentes e mais visíveis de uma das etapas de realização das mercadorias em lucro, satisfazendo as necessidades das pessoas, artificialmente fomentadas ou não, para o consumo. Ao consumo corriqueiro, realizado no comércio de bens e serviços mais próximos, como os de alimentação e conserto de objetos, damos o nome de consumo consuntivo. Este será de maior importância para nós ao longo da pesquisa. Com o processo de Revolução Industrial, aumentaram, diversificaram-se e se intensificaram as formas de comercialização de bens e serviços, ampliando-se as possibilidades de realização das mercadorias produzidas, também em crescente expansão. Paralelamente, cresceram em quantidade e em diferentes qualidades os tipos de estabelecimentos comerciais e de serviços relacionados, concentrando-se nas cidades, onde puderam atrair mais consumidores que também ali se instalavam em grande número. Nas últimas décadas, pelos processos interligados de reestruturação econômica e urbana (SPOSITO; SPOSITO, 2012), com a passagem entre regimes de acumulação capitalista e a transformação da expansão urbana predominante do modelo compacto para o disperso, há a ocorrência de mudanças no padrão de distribuição dos estabelecimentos e das formas urbanas em geral, já verificado por diferentes autores e autoras nas últimas décadas, para a realidade 19 brasileira (WHITACKER, 2003; 2017a; 2017b; 2018; SILVA, 2004; 2006; 2013; 2017a; 2017b; SPOSITO, 2004b; 2010; SANTOS, 2008a; BEIDACK; FRESCA, 2011; FRESCA, 2013; MELARA; SILVA, 2018; PEREIRA, 2018). Dado o papel fundamental exercido pelo comércio e pelos serviços relacionados para a manutenção do modo de vida urbano, e pelas transformações recentes ocorridas nos espaços urbanos, vinculadas às esferas do comércio e do consumo, decidimos por investigar como essas esferas da vida humana participam da estruturação espacial das cidades, particularmente as pertencentes à aglomeração urbana de Londrina-PR. Essa área, composta por sete cidades, detalhadas mais à frente, foi escolhida por comportar presença marcante de atividades e estabelecimentos comerciais e de serviços relacionados, fato aferido por pesquisa anterior (COCATO, 2019). Então, buscamos compreender o impacto das atividades vinculadas ao comércio e ao consumo consuntivo, na estruturação das cidades, pela não tão simples razão de que as formas, processos e conteúdos dessa estruturação influenciam direta e fortemente nas possibilidades de consumo e de mobilidade dos citadinos, gerando hierarquizações e desigualdades (SPOSITO, 2011), pela crescente diferenciação na participação destes na produção e na apreensão do espaço em que vivem. Portanto, chegamos na seguinte problemática: Como as esferas do comércio e do consumo, lidas a partir do conjunto de formas urbanas – representadas pelo padrão de distribuição espacial de estabelecimentos –, de processos, práticas e estratégias espaciais, participam e influenciam na estruturação das cidades da aglomeração urbana de Londrina? Encaramos a análise das formas, processos e conteúdos das práticas e estratégias espaciais como Moudon (1997), para quem a compreensão destas passa pelas dimensões histórica e processual, como condições fundamentais. Assim, traçamos o objetivo geral da pesquisa, desmembrado em três objetivos específicos, que foram alcançados a partir de discussões que consideraram os processos históricos e geográficos de formação, evolução e transformação de cada um dos temas enfocados. Esses serão traços marcantes em todos os capítulos deste trabalho. O objetivo geral é: ▪ Definir e analisar a aglomeração urbana de Londrina, em sua atual fase de estruturação espacial, a partir das esferas do comércio e do consumo, englobando os estabelecimentos e seu padrão de distribuição espacial, os processos espaciais em curso e os conteúdos das práticas e estratégias espaciais de citadinos e lojistas. Os objetivos específicos são: 20 ▪ 1º: Definir o recorte espacial da aglomeração urbana de Londrina, considerando a bibliografia pertinente e outras definições e caracterizações das mesmas cidades enfocadas; ▪ 2º: Analisar a aglomeração urbana de Londrina pelas perspectivas da distribuição espacial dos estabelecimentos, dos processos espaciais em curso e dos conteúdos das práticas e estratégias espaciais de citadinos e lojistas do comércio e de serviços relacionados; ▪ 3º: Sintetizar os resultados obtidos, buscando caracterizar a atual fase de estruturação espacial das cidades da aglomeração urbana de Londrina, a partir das esferas do comércio e do consumo. Para que os objetivos propostos fossem cumpridos, selecionados uma gama variada de procedimentos metodológicos, que serão detalhados adiante. Resumidamente, além da consulta bibliográfica a estudos e documentos pertinentes, escolhemos trabalhar com os dados censitários de endereços provenientes do Censo Nacional de 2010, o último disponível até 2022, reunidos no banco do Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos (CNEFE), para aferir o padrão de distribuição espacial dos estabelecimentos. Estes foram selecionados a partir das definições da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE 2.0), pelos grupos que definimos como de consumo consuntivo. Para a confirmação da exatidão dos dados, optamos pela realização de trabalhos de campo na área da pesquisa, no ano de 2021. Entre os principais processos espaciais enfocados, em curso na distribuição espacial dos estabelecimentos, estão os de centralização, descentralização, concentração e dispersão. Por meio destes, analisamos qual é o padrão dominante de distribuição e como esse se estabelece. No tocante aos conteúdos das práticas e estratégias espaciais, preferimos as entrevistas com citadinos e lojistas, também em 2021, buscando apreender os detalhes dos deslocamentos para o comércio e para o consumo na aglomeração urbana de Londrina. De maneira geral, o nosso fio condutor e objetivo final é traçar uma síntese, considerando todos os elementos destacados, de qual é e como se caracteriza a atual fase de estruturação espacial das cidades da aglomeração urbana de Londrina, a partir das esferas do comércio e do consumo. Para que fique mais didático e sirva de guia para o leitor, expomos os principais elementos dessa apresentação inicial do trabalho, no formato de esquema ou mapa conceitual (Figura 1), abarcando a problemática, o objetivo geral, as metodologias e a área de estudo, assim como as conexões entre eles, ainda que simplificadamente. 21 Figura 1 – Estruturação da pesquisa. Elaboração: Guilherme Pereira Cocato. Em termos de organização do trabalho, no Capítulo 2 apresentamos as cidades que compõem a aglomeração urbana de Londrina e as discussões acerca das possibilidades de definição da área escolhida. Justificamos a delimitação diferenciada do nosso recorte, em comparação com outras existentes, dando ênfase aos fatores que mais pesaram nessa decisão. Detalhamos algumas das atividades econômicas presentes em cada uma das sete cidades e iniciamos a exposição e o debate sobre o padrão de distribuição espacial identificado para os estabelecimentos comerciais e de serviços relacionados, com uso de gráficos, quadros e figuras 22 (mapas). Neste capítulo, abordamos o primeiro objetivo específico e passamos para as proposições do segundo. No Capítulo 3, aprofundamos a discussão sobre alguns conceitos e temas tratados na pesquisa, com ênfase para o processo de urbanização brasileiro, a formação e o desenvolvimento histórico e geográfico das cidades da aglomeração urbana de Londrina. Nele, traçamos o panorama geral da área em que iniciamos a pesquisa e aplicamos as metodologias escolhidas. Também realçamos a pertinência das atividades comerciais e de serviços no cenário urbano nacional. No Capítulo 4, damos continuidade à fundamentação teórica necessária para que os diferentes temas e conceitos sejam manuseados e desenvolvidos da maneira mais pertinente à problemática e aos objetivos propostos, em particular os processos espaciais, a partir da identificação de suas correspondências empíricas na aglomeração urbana. Na segunda parte do capítulo, retomamos à análise do padrão aferido de distribuição espacial dos estabelecimentos, na aglomeração urbana e em Londrina, culminando nos trabalhos de campo e nas informações por eles gerados. Todas as discussões amparadas, extensamente, pelo uso de representações cartográficas. Consideramos essa alternância e mescla de debates teórico-metodológicos e empíricos, a partir de análises da área estudada e dos resultados metodológicos, extremamente positivos, pela sua potência em reunir e entrelaçar conceitos e conteúdos que, na realidade, são indissociáveis, enquanto totalidade. Para a melhor compreensão da pesquisa, procuramos trilhar esse caminho, sempre que possível. No Capítulo 5, tratamos das informações geradas pela realização das entrevistas com citadinos e lojistas, dando corpo à questão dos conteúdos das práticas e estratégias espaciais para o comércio e para o consumo. Apresentamos e descrevemos, de maneira minuciosa, os resultados obtidos, concluindo o segundo objetivo específico, que foi cumprido pelos debates construídos desde o Capítulo 2. O Capítulo 6 reúne os temas e conceitos abordados ao longo da pesquisa e apresenta uma síntese dos resultados alcançados pelas diversas metodologias utilizadas. Sua essência traz uma análise, ao mesmo tempo geral e detalhada, com base: no padrão de distribuição espacial identificado pelas representações cartográficas dos dados da junção CNEFE/CNAE; nos processos espaciais em curso; e nas escalas geográficas construídas pelas práticas e estratégias espaciais de citadinos e lojistas, apreendidas desde os conteúdos produzidos pelas entrevistas e pelos trabalhos de campo. Sua conclusão está na caracterização da atual fase de estruturação 23 espacial das cidades da aglomeração urbana de Londrina, a partir das esferas do comércio e do consumo. Portanto, atingindo o terceiro objetivo específico. Antes de nela adentrarmos, entendemos que a análise empreendida neste texto tem grande potencial de explicação e de detalhamento das esferas do comércio e do consumo nas cidades da aglomeração urbana de Londrina. Analisamos como os estabelecimentos se distribuem espacialmente, como as práticas e estratégias espaciais de consumo se realizam e quais as consequências disso para a estruturação das cidades da área estudada. Entretanto, apesar dos aspectos positivos gerados com os resultados e as análises, reconhecemos as dificuldades encontradas ao longo das etapas de planejamento, execução e finalização desta. Enfrentamos, além das limitações materiais, de tempo e de cunho pessoal, os impactos da pandemia de covid-19 entre os anos de 2020 e 2022, precisamente o período do mestrado do qual esta dissertação é fruto. Ocorreram mudanças nas datas dos trabalhos de campo e na realização das entrevistas com os citadinos, que passaram para o ambiente virtual e remoto. Dessa forma, foram superadas barreiras e imposições de diversos tipos, para as quais recorremos às adaptações metodológicas e na rotina de trabalho. Mais do que nunca, a flexibilidade e a resiliência têm sido instrumentos recorrentes para a pesquisa científica e acadêmica, no Brasil e no mundo. Agora, serão aprofundados elementos centrais do trabalho, que atravessam toda a pesquisa, como: o método de orientação do trabalho intelectual, que influencia em nossa abordagem teórico-metodológica e política; a área de estudo e as cidades que a compõem; e os procedimentos metodológicos adotados. 1.1 O PAPEL DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO O mestrado é etapa fundamental na vida acadêmica e na formação de qualquer pesquisador(a) que escolha trilhar esse caminho. Durante mais de dois anos, acumulei experiências de trabalho, dedicação, enfrentamento a desafios e amadurecimento pessoal e intelectual. O curso de disciplinas, a participação em eventos, a publicação de estudos e a convivência nos espaços da universidade foram duramente afetados pela pandemia de covid- 19, entre os anos de 2020 e 2022, fazendo com que boa parte dessa vivência tenha sido realizada à distância, transitando entre as cidades Londrina-PR, Umuarama-PR e Presidente Prudente- SP. Apesar disso, encarei como responsabilidade ética, individual e coletiva, colocar o máximo de esforço, criatividade e capacidade argumentativa na elaboração desta dissertação. 24 É com muito orgulho que a apresento ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da FCT/UNESP, mas também a todas e todos que por ela se interessarem e com ela se depararem ao longo dos anos. Encontrarão parte de mim, aqui, registrada em determinado tempo-espaço. Como pesquisador em formação, entendo a importância da pesquisa científica, rigorosa, embasada e preocupada em compreender a realidade em que vivemos. Assim, considero indispensável a abertura deste trabalho com alguns apontamentos iniciais sobre a pertinência e os objetivos do conhecimento social e historicamente construído, especialmente, na esperança de que um mundo melhor seja gerado a partir dele. São premissas que me amparei para o desenvolvimento deste estudo e que continuarei carregando para o resto da vida. Primeiramente, esta pesquisa ampara-se na compreensão de que o conhecimento, de acordo com Pinto (2020), é uma propriedade da materialidade, que atinge sua forma máxima na investigação científica, pautada pela aplicação de um método. A ciência é a investigação metódica e organizada sobre a realidade, sendo eminentemente um processo histórico e cumulativo ao longo das gerações, marcado por rupturas, em uma progressão não linear. O ser metódico se caracteriza por existirem regras para a exploração da realidade, que consequentemente afetarão os resultados, definindo-os a partir de certa perspectiva teórica. O trabalho intelectual que visa a produção do conhecimento científico se volta à interpretação do mundo, tendo como ponto de partida a realidade. Porém, essa interpretação é uma etapa indispensável para o abandono de atitudes mistificadoras na vida cotidiana e para o avanço das possibilidades reais de transformação da realidade (CARLOS, 1999). As teorias que provêm do trabalho intelectual oferecem um vocabulário, um repertório de conceitos pelos quais a interpretação pode ser expressa e levada em frente (TURRA NETO, 2013). Apesar de ser uma interpretação teórico-metodológica do mundo, o trabalho intelectual pode ser transformador. Para isso, toda atitude intelectual e científica precisa ser radical, crítica e totalizadora. Radical para ir à origem dos fenômenos, “[...] agarrar a coisa pela raiz” (MARX, 2010, p. 151). Crítica para estabelecer critérios adequados à análise e totalizadora para inserir o objeto de estudo no contexto do qual é parte, sem podar as interrelações inerentes à sua constituição (SPOSITO, 2003). Segundo Carlos (2015), as atitudes crítica e radical, fundamentais para a pesquisa científica, têm nos estudos urbanos campo fértil para a construção de um projeto de sociedade centrado nas possibilidades diversas de uma humanidade emancipada da mercantilização exacerbada e da busca desenfreada pela acumulação. Na atualidade, o processo de urbanização e as cidades não são meros objetos de estudo, mas sim produtos desse mundo das mercadorias. 25 Para escapar dessa noção limitadora, precificada, da vida e do espaço, é preciso elucidar os mecanismos de atuação do capital nas cidades, tratadas primordialmente como espaços de valorização. Ao compreendermos como estamos submetidos à ordem da classe burguesa nos processos de produção e reprodução social, podemos entender a profundidade da desigualdade, da exploração e da arbitrariedade desse sistema (NATAL, 2015). Desse modo, é possível desmistificar, desalienar e desnaturalizar o processo atual de produção do espaço urbano, tendo em conta que é uma ação promovida por agentes sociais concretos com interesses historicamente determinados. Nesse momento, com a plena consciência dessas circunstâncias, será possível avançar da crítica teórica para a práxis – no sentido da décima primeira tese de Marx à Feuerbach: “Os filósofos apenas interpretaram o mundo de diferentes maneiras; o que importa é transformá-lo” (MARX; ENGELS, 2007, p. 535) –, na medida em que a cidade é gradativamente assimilada como espaço de atuação social transformadora e, portanto, de revolução. Por ser o local de excelência do desenvolvimento capitalista, onde se encontram as melhores condições materiais para tal (SPOSITO, 1997), o espaço urbano é igualmente o lócus da luta de classes, em que a classe subordinada pode buscar usos distintos dos interesses dominantes (STOTZ; NATAL, 2015). Para que esse horizonte seja vislumbrado e se torne mais palpável, o trabalho científico e intelectual possibilita análises e considerações que não podem ser ignoradas. O método é o guia que permite com que o trabalho científico caminhe nessa trilha, de maneira organizada e consistente, sem perder de vista o potencial transformador da atividade, a partir de uma perspectiva teórica intencionalmente escolhida pelo pesquisador. Fornece as ferramentas intelectuais para o agente saber que sabe, porque sabe e como sabe (PINTO, 2020). Não é estático, mas varia no tempo e no espaço de acordo com os fenômenos, dinâmicas e processos investigados, e com o desenvolvimento estrutural da sociedade e das suas formas de produção. Genericamente, existem três métodos distintos e filosoficamente coerentes para serem empregados (SPOSITO, 2003): o hipotético-dedutivo, o dialético e o fenomenológico. O primeiro é marcado pelos processos de indução e dedução do pensamento, com predominância da lógica formal. O fenomenológico se volta para o protagonismo dos fenômenos e da sua percepção a partir das experiências vividas pelos sujeitos. O dialético coloca sua essência na contradição inerente aos fenômenos, no movimento que coloca os conteúdos ora em oposição, ora em complemento. Na abordagem dialética, preferida neste estudo e no posicionamento intelectual dos autores escolhidos ao longo da discussão apresentada, os objetos se transformam em processos 26 quantitativos e qualitativos ao longo da história, assumindo novas formas e funções que possuem correspondências na realidade material. Além disso, uma postura dialética implica em assumir a relação complexa entre sujeito e objeto de estudo, pela mútua influência exercida no ato da pesquisa. A partir do materialismo histórico dos escritos de Karl Marx e Friedrich Engels e da tradição marxista posterior, a atitude dialética crítica e transformadora perante o mundo se torna imprescindível. É importante lembrar que, para Marx, a crítica da alienação não é um fim em si mesma, mas tem como objetivo abrir caminho para uma revolução radical (BOTTOMORE, 1988). Santos (2008a) acrescenta que a lógica dialética, desde o pensamento marxista, abarca a continuidade e a descontinuidade, a estagnação e a transformação dos elementos humanos em um plano de maior profundidade, em que a estabilidade está em permanente disputa com as contradições. São, portanto, em nossa visão, o método e a postura de investigação mais adequados para dar conta da complexidade socioespacial da realidade material e imaterial, em sua dinâmica de constante modificação. Particularmente, nos enfoques escolhidos ora para a escala das cidades, ora para o conjunto interurbano formado pela aglomeração urbana de Londrina, entendemos que o pensamento dialético tem muito a contribuir com a pesquisa, pois, como afirma Pinto (2020, p. 24), “[...] não tem sentido perguntar pelo que logicamente vem primeiro, se o todo ou a parte, mas apenas indagar qual dessas categorias, na análise epistemológica, e sob que ângulo particular, tem a primazia”. Nesse sentido, transitaremos com frequência entre escalas de investigação definidas por nós, enquanto pesquisadores, e escalas geográficas apreendidas a partir das práticas e estratégias espaciais dos citadinos e lojistas. São posturas e premissas, intelectuais, científicas e profissionais, que usamos como orientação ao longo deste texto. Esperamos que sejam reconhecíveis e contribuam para a elaboração de um trabalho pertinente, comprometido com a realidade e com as suas possibilidades de transformação. Feita essa explicação, passaremos agora para o recorte espacial escolhido e os procedimentos metodológicos utilizados. 1.2 O RECORTE ESPACIAL: A AGLOMERAÇÃO URBANA DE LONDRINA Pelo fato de não ser possível estudar uma cidade de maneira isolada, pois nenhuma delas existe sem trocar bens, serviços e informações com o ambiente externo (MIYAZAKI, 2008), a unidade de estudo mais próxima da totalidade da realidade concreta é a da rede urbana 27 (SANTOS, 1996), quando se tem como objetivo apreender os papeis que uma ou mais cidades desempenham. Existe uma rede urbana quando, no mínimo, são satisfeitas as condições de: haver uma economia de mercado com produções negociadas por equivalentes ou por outras produções que advêm de localidades mais afastadas em termos de escalas locais e regionais; existirem pontos fixos no território onde as transações econômicas são realizadas e existirem articulações entre esses pontos, geralmente materializados enquanto centros urbanos (CORRÊA, 1989). Em conjunto, esses elementos formam um contexto favorável ao estabelecimento de uma divisão territorial do trabalho, no plano técnico e econômico, e à diferenciação entre os centros urbanos, já que as produções que são trocadas nesse ou naquele local possuem diferenças em suas quantidades e qualidades. Pelas mesmas razões, auxiliam na formação de uma hierarquia entre os centros urbanos. Nesse sentido, optamos, como área de estudo, por um conjunto de cidades que representam uma pequena amostra da rede urbana brasileira. São as cidades que compõem a chamada aglomeração urbana de Londrina no norte paranaense, nominalmente: Apucarana, Arapongas, Cambé, Ibiporã, Jataizinho, Londrina e Rolândia. É um novo recorte proposto a partir de análises geográficas, considerando fatores espaciais e territoriais. Como trataremos adiante, apesar de já existirem recortes intermunicipais definidos para a região do norte do Paraná, como as Regiões de Influência das Cidades (IBGE, 2020c), os Arranjos Populacionais (IBGE, 2016) e as Regiões Metropolitanas (PARANÁ, 1998), as sete cidades da aglomeração urbana de Londrina foram escolhidas priorizando certos aspectos pertinentes aos objetivos deste trabalho, como a continuidade e a proximidade territorial entre os centros urbanos, fruto de particularidades de suas formações históricas, e a continuidade espacial desenvolvida e, ainda, existente entre essas cidades. Enquanto a continuidade espacial expressa as relações e os deslocamentos interurbanos, a continuidade e a proximidade territorial remetem à junção ou à aproximação entre os tecidos urbanos. A observação conjunta desses elementos nos amparou na seleção das sete cidades mencionadas, que se destacaram, em relação às cidades no entorno, na proximidade e na continuidade territorial, resultado do processo de colonização pela Companhia de Terras do Norte do Paraná (CTNP) e do desenvolvimento das atividades econômicas associadas à produção cafeeira e, posteriormente, às atividades industriais, comerciais e de serviços concentradas em Apucarana, Arapongas, Cambé, Ibiporã, Londrina e Rolândia. Na sequência, entraremos nos distintos procedimentos metodológicos utilizados ao longo da pesquisa, de cunho quantitativo e qualitativo, valendo-nos de uma apresentação inicial 28 das metodologias e ações realizadas de acordo com cada fonte de dados e objetivo proposto. Ressaltamos que as discussões metodológicas serão retomadas mais à frente, conforme forem necessárias ao serem abordados temas, conceitos e procedimentos específicos. 1.3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Entre os numerosos temas que compõem os estudos urbanos, é de interesse nessa pesquisa o acesso dos citadinos1 aos espaços e bens de consumo e, particularmente, às atividades comerciais e de determinados serviços a elas associados. Como afirmam Sposito e Sposito (2020), são necessários estudos que unam o debate teórico com a apreensão empírica dos elementos da estruturação urbana e das cidades. Além disso, o peso e a importância que o comércio e determinadas atividades de serviços tiveram para a formação, o desenvolvimento e a estruturação, em âmbitos socioeconômico e espacial, de Londrina e algumas cidades próximas, justificam o enfoque dado a elas. Dessa maneira, a partir das propostas do Projeto Temático “Fragmentação socioespacial e urbanização brasileira: escalas, vetores, ritmos, formas e conteúdos (FragUrb)” (SPOSITO, 2018), enfocamos as dimensões empíricas do consumir e do circular na aglomeração urbana de Londrina, contemplando os planos analíticos que discutem: os centros, a centralidade e a mobilidade urbana; e as práticas espaciais dos citadinos, orientadas ao consumo consuntivo2. Para a Ciência Geográfica, em uma pesquisa científica, importa responder as questões de por que um fenômeno acontece, de quais formas, quando e onde (SPOSITO, 2003). Tendo a orientação do método dialético para a apreensão da realidade, resta delimitar as metodologias que serão utilizadas para atingir os objetivos definidos. Turra Neto (2013) explica que a metodologia é o processo de produção do conhecimento, englobando os procedimentos operacionais da pesquisa. O que a define é a problemática escolhida, que circunscreverá quais 1 Sujeitos que produzem, usam e habitam as cidades foram nomeados de diferentes formas ao longo da história. Entre os mais comuns estão os termos habitante, citadino, cidadão e usuário. Segundo Pereira (2018), habitante é o termo que destaca a relação com o ato de habitar tanto a casa como a cidade. Citadino revela uma relação mais abrangente do indivíduo com a chamada cultura urbana, enquanto cidadão indica a posse de direitos e deveres políticos. Já usuário remete aos serviços oferecidos na cidade pelo poder público ou pela esfera privada. Considerando todas as nomenclaturas, prefere-se citadino, por não limitar a designação do sujeito urbano a uma ou outra esfera da vida, assim como não o atar automaticamente a direitos ou serviços. 2 Resumidamente, ao consumo dos produtos e serviços considerados essenciais no cotidiano da vida urbana moderna, dá-se o nome de consumo consuntivo (SANTOS, 2013). 29 fontes e técnicas são mais adequadas para a coleta ou produção de dados e informações visando uma finalidade específica. Neste estudo, optamos por metodologias diversas, pensando no suprimento do maior número de informações e dados possíveis de serem utilizados, dadas as limitações materiais e temporais da pesquisa. Na construção teórica e argumentativa, foram consultadas e usadas obras de literatura especializada que fossem compatíveis com a perspectiva dialética. No trabalho de coleta e tratamento de dados e informações atinentes à área estudada, foram selecionadas fontes de dados quantitativos e qualitativos para a criação de um banco de dados (CNEFE/CNAE) e de materiais cartográficos. Já no trabalho de produção de informações, foram aplicadas as técnicas de entrevistas – com agentes bem-informados e citadinos – e trabalhos de campo em localidades pertinentes. Grande parte dos resultados obtidos com o banco de dados CNEFE/CNAE, com os trabalhos de campo e as entrevistas realizadas estão demonstrados e discutidos ao longo do trabalho. Os registros fotográficos das localidades visitadas, na íntegra, estão disponíveis para acesso no Apêndice F. Portanto, unem-se: 1. Dados quantificáveis, como é o caso da elaboração de um banco de dados CNEFE/CNAE e de produtos cartográficos de síntese, representando a distribuição espacial dos estabelecimentos comerciais e de alguns tipos de serviços, para que possam ser analisadas as suas estratégias locacionais e os processos espaciais de concentração e desconcentração em andamento na área estudada; 2. Informações qualitativas, obtidas junto aos citadinos e agentes bem-informados por meio de entrevistas e da realização de trabalhos de campo para observações, registros e adequações pertinentes aos materiais anteriores, bem como para a aferição dos processos espaciais de centralização e descentralização. O Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos (CNEFE) é uma ferramenta do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), produto do Censo Demográfico Nacional de 2010, que possibilita condensar diferentes informações acerca do endereço de cada estabelecimento no país. As mais importantes para o processo de geocodificação são: código do estado da federação; código do município; código do distrito censitário; código do subdistrito censitário; código do setor censitário; se o estabelecimento é rural ou urbano; logradouro (com número); bairro; coordenadas geográficas (presente numa pequena parcela dos estabelecimentos); nome fantasia do estabelecimento; código postal e uma classificação do endereço como domicílio particular (01), domicílio coletivo (02), estabelecimento agropecuário (03), estabelecimento de ensino (04), estabelecimento de saúde (05), estabelecimento de outras finalidades (06) e edificação em construção (07). 30 Já a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) é o modelo oficial de classificação dos tipos de atividades econômicas no Brasil, adotado pelo Sistema Estatístico Nacional e compartilhado com a Administração Pública, empresas, entidades variadas e quaisquer sujeitos interessados. É uma forma de “[...] prover uma base padronizada para a coleta, análise e disseminação das estatísticas relativas à atividade econômica” (IBGE, 2020b, p. 11). Sua principal finalidade está em organizar e padronizar as unidades econômicas de acordo com o tipo de atividade que desenvolvem, com os insumos e as tecnologias utilizadas, e/ou com as mercadorias ou serviços ofertados. Seus níveis de classificação partem de menor para um maior detalhamento. A CNAE foi criada em 1994, por meio de um processo de revisão das classificações de atividades econômicas existentes. Foi resultado de uma tentativa de síntese e padronização dessas definições, para usos diversos em âmbito nacional ou internacional. Desde a sua origem, é gerida pela Comissão Nacional de Classificação (CONCLA), que estabelece normas e códigos utilizados na CNAE. Em 2007, ocorreu uma revisão na classificação, que resultou na CNAE versão 2.0, utilizada neste estudo. Esta revisão teve como principal objetivo atualizar a classificação nacional de atividades econômicas em conjunto com alterações realizadas na versão 4 da Classificación Industrial Internacional Uniforme de todas las Actividades Económicas (CIIU/ISIC), com as quais possui compatibilidade. A CIIU/ISIC foi adotada pelas Nações Unidas em 1948, sendo utilizada como padrão internacional para modelos de classificações nacionais de estatísticas econômicas (IBGE, 2020b). A partir da revisão de 2007, a estrutura hierárquica da CNAE 2.0 passou a compreender cinco níveis de detalhamento, com as respectivas quantidades: seções (21), divisões (87), grupos (285), classes (673) e subclasses (1.301). O nível de subclasses é para consulta exclusiva da Administração Pública. Cada um dos níveis possui códigos específicos e sequenciais que possibilitam traçar as relações de pertencimento de um ao outro, partindo de um dígito no nível de seção, até sete dígitos no nível de subclasse (IBGE, 2020b). Por meio de uma análise detalhada da estrutura e definições de atividades econômicas presentes na CNAE 2.0 (IBGE, 2020a), delimitaram-se os grupos relevantes ao consumo consuntivo, cotidiano às práticas espaciais urbanas, tanto das atividades comerciais, quanto de alguns tipos de serviços que também envolvem a comercialização de bens e o seu conserto e/ou manutenção. Opta-se pelo nível de grupos, pois o detalhamento é suficiente para os propósitos deste trabalho, também considerando o tempo disponível para a execução da pesquisa. 31 O consumo consuntivo é formado por atividades diversas nos ramos comercial e de serviços, que se subdividem em outros segmentos, muitos dos quais não serão abordados aqui3. Dentro da grande e diversa gama de atividades de consumo que permeiam o cotidiano dos citadinos, escolhemos enfocar os estabelecimentos que executam atividades comerciais finais, de bens de consumo, e alguns serviços relacionados a elas, que envolvem a comercialização dos mesmos bens (casos de bares e restaurantes), mas oferecem a prestação de serviços adicionais, como as possibilidades de atendimento e consumo no local. Ademais, consideramos como partes do consumo consuntivo os serviços que cercam os comércios de bens e serviços, casos de estabelecimentos que realizam reparações, manutenções e limpezas corriqueiras nos produtos comercializados pelas empresas dos segmentos mencionados anteriormente. Dentre outras razões, decidimos por tais escolhas – e acabamos por impor, conscientemente, limitações ao trabalho – pela maior facilidade em se diferenciar os estabelecimentos comerciais e de certos serviços relacionados nas definições disponíveis no conjunto de dados do CNEFE. Além da dificuldade promovida pela falta de padronização e complementação das informações, soma-se a de se diferenciar os estabelecimentos públicos e privados, que mereceriam tratamentos diferentes, especialmente ao se trabalhar com atividades educacionais, de saúde, de cultura e de lazer. Nesse sentido, pela classificação da CNAE 2.0, foram selecionados os grupos de atividades de três diferentes seções: Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (código G); Alojamento e alimentação (código I) e Outras atividades de serviços (código S). A seção G abarca as atividades de compra e venda de mercadorias, sem transformação significativa. Inclui também a manutenção e reparação de veículos automotores (IBGE, 2020a). Nela, o comércio de mercadorias se divide nos segmentos atacadista e varejista. Enquanto o comércio atacadista se notabiliza por ser uma etapa intermediária da distribuição de mercadorias, o “[...] comércio varejista revende mercadorias novas e usadas, sem transformação, principalmente ao público em geral, para consumo ou uso pessoal e doméstico” (IBGE, 2020a, p. 217). Na definição da CNAE 2.0, as unidades comerciais que revendem tanto para empresas quanto para o público em geral também são classificadas como varejistas. É uma atividade comercial final, presente no cotidiano da quase totalidade dos moradores das cidades. 3 Casos dos estabelecimentos pertencentes às Seções de Informação e Comunicação; Atividades Financeiras, de Seguros e Serviços Relacionados; Educação; Saúde Humana e Serviços Sociais; Artes, Cultura, Esporte e Recreação; e Serviços Domésticos. 32 Portanto, opta-se pelas atividades que se encaixem como varejistas (divisão 47) e pelos serviços de reparação em veículos automotores e motocicletas (divisão 45), que também se caracterizam como uma necessidade constante no modo de vida urbano moderno, marcado pelo rápido deslocamento em automóveis motorizados. Na seção I, optamos por um grupo pertencente ao segmento da Alimentação (divisão 56). Na seção S, foram escolhidos os grupos de outras atividades de serviços, como a Reparação e manutenção de equipamentos de informática e comunicação e de objetos pessoais e domésticos (divisão 95) e Outras atividades de serviços pessoais (divisão 96). Esta última engloba estabelecimentos como lavanderias, tinturarias, cabeleireiros, funerárias e outros serviços menores. O Quadro 1 traz os grupos selecionados, bem como as divisões e seções a que pertencem. Também acompanham os códigos de cada classificação, determinados pela CNAE 2.0. As atividades de alimentação, manutenção de equipamentos e objetos domésticos, e de outros serviços pessoais – assim como as atividades varejistas, de comércio e reparação de automóveis –, referem-se à comercialização de bens de consumo mais ou menos imediatos, assim como proporcionam serviços de reparação e manutenção para eles. Portanto, encaixam- se nos tipos de atividades econômicas consideradas como centrais para este trabalho, que visa identificar as dinâmicas de estruturação das cidades da aglomeração urbana de Londrina, tanto pela ótica da distribuição espacial de estabelecimentos, quanto das práticas espaciais de consumo consuntivo orientadas para o comércio e alguns serviços relacionados. 33 Quadro 1 – Grupos de atividades econômicas selecionadas a partir da CNAE 2.0. Seções Divisões Grupos G – Comércio; Reparação de veículos automotores e motocicletas 45 – Comércio e reparação de veículos automotores e motocicletas 45.1 - Comércio de veículos automotores 45.2 - Manutenção e reparação de veículos automotores 45.3 - Comércio de peças e acessórios para veículos automotores 45.4 - Comércio, manutenção e reparação de motocicletas, peças e acessórios 47 – Comércio varejista 47.1 - Comércio varejista não-especializado 47.2 - Comércio varejista de produtos alimentícios, bebidas e fumo 47.3 - Comércio varejista de combustíveis para veículos automotores 47.4 - Comércio varejista de material de construção 47.5 - Comércio varejista de equipamentos de informática e comunicação; equipamentos e artigos de uso doméstico 47.6 - Comércio varejista de artigos culturais, recreativos e esportivos 47.7 - Comércio varejista de produtos farmacêuticos, perfumaria e cosméticos e artigos médicos, ópticos e ortopédicos 47.8 - Comércio varejista de produtos novos não especificados anteriormente e de produtos usados I – Alojamento e alimentação 56 - Alimentação 56.1 - Restaurantes e outros serviços de alimentação e bebidas S – Outras atividades de serviços 95 – Reparação e manutenção de equipamentos de informática e comunicação e de objetos pessoais e domésticos 95.1 - Reparação e manutenção de equipamentos de informática e comunicação 95.2 - Reparação e manutenção de objetos e equipamentos pessoais e domésticos 96 – Outras atividades de serviços pessoais 96.0 - Outras atividades de serviços pessoais Fonte: IBGE (2020a). Elaboração: Guilherme Pereira Cocato. 34 Na fase de operacionalização dos dados, foi feito o download dos arquivos do CNEFE (IBGE, 2010), referentes aos subdistritos censitários dos municípios da aglomeração urbana de Londrina. A partir do layout básico fornecido pelo IBGE (2010), foram definidas manualmente as quebras de colunas com os comprimentos adequados para cada informação, de forma que os arquivos pudessem ser editados no software Excel, do pacote Office 2019. Como primeiro ato de filtragem dos dados, foram eliminados os cadastros de endereços que se referiam a domicílios particulares e coletivos, estabelecimentos agropecuários, estabelecimentos de ensino, estabelecimentos de saúde e edificações em construção. Assim, restaram os endereços condizentes com a classificação: “estabelecimentos de outras finalidades” (06). Em seguida, foram selecionados somente os cadastros correspondentes às descrições dos grupos da CNAE 2.0 (IBGE, 2020a), classificando-os de acordo com as respectivas definições das atividades econômicas de cada grupo escolhido. Assim, comparavelmente ao trabalho de Battistam (2015), utilizou-se a classificação CNAE para classificar os estabelecimentos contidos no banco de dados CNEFE, criando o banco de dados CNEFE/CNAE. Durante essa etapa, é importante salientar que o processo de seleção de alguns endereços em detrimento de outros se deu pela avaliação crítica do autor, considerando que as descrições das atividades econômicas no CNEFE nem sempre são suficientes para a identificação do estabelecimento (cadastro com erros ortográficos, palavras incompletas e/ou termos genéricos). Portanto, foram selecionados e classificados os estabelecimentos sobre os quais não restaram dúvidas acerca da descrição disponível. Também é relevante ressaltar que os processos de edição e de tabulação dos dados do CNEFE abarcaram numerosas tarefas, automáticas e manuais, como a complementação de códigos para a identificação dos setores censitários, a eliminação de cadastros rurais, a verificação de elementos duplicados (frente e fundos dos estabelecimentos) e a quantificação de endereços em seus respectivos grupos e setores, de acordo com a classificação econômica adotada. De forma a facilitar a operacionalização dos dados, foram definidos códigos próprios à pesquisa, para cada grupo selecionado a partir da CNAE 2.0. São eles: ▪ Código 1: Comércio de veículos automotores; ▪ Código 2: Manutenção e reparação de veículos automotores; ▪ Código 3: Comércio de peças e acessórios para veículos automotores; 35 ▪ Código 4: Comércio, manutenção e reparação de motocicletas, peças e acessórios; ▪ Código 5: Comércio varejista não-especializado; ▪ Código 6: Comércio varejista de produtos alimentícios, bebidas e fumo; ▪ Código 7: Comércio varejista de combustíveis para veículos automotores; ▪ Código 8: Comércio varejista de material de construção; ▪ Código 9: Comércio varejista de equipamentos de informática e comunicação, equipamentos e artigos de uso doméstico; ▪ Código 10: Comércio varejista de artigos culturais, recreativos e esportivos; ▪ Código 11: Comércio varejista de produtos farmacêuticos, perfumaria e cosméticos e artigos médicos, ópticos e ortopédicos; ▪ Código 12: Comércio varejista de produtos novos não especificados anteriormente e de produtos usados; ▪ Código 13: Restaurantes e outros serviços de alimentação e bebidas; ▪ Código 14: Reparação e manutenção de equipamentos de informática e comunicação; ▪ Código 15: Reparação e manutenção de objetos e equipamentos pessoais e domésticos; ▪ Código 16: Outras atividades de serviços pessoais. No campo dos procedimentos qualitativos, Zusman (2011) considera o trabalho de campo como prática determinante para a aquisição de autonomia institucional e epistemológica da Geografia, por possibilitar a investigação e o detalhamento das áreas-objetos de estudo. É uma técnica pensada desde o início do trabalho teórico, pois seu planejamento e objetivos estão em sintonia direta com as atividades executadas anteriormente. A importância em se unir as metodologias de cunho mais numérico às entrevistas e aos trabalhos de campo está na superação da “visão de sobrevoo” apontada como frequente por Souza (2007) na Geografia. Essa visão toma os objetos e fenômenos de longe, genérica e distanciadamente, por dados e medições que procuram sintetizar uma dimensão da realidade para sua melhor apreensão. Apesar de proporcionar uma noção de totalidade e conjunto, a exclusividade no seu uso barra as vozes e práticas espaciais dos sujeitos que participam e produzem a dinâmica enfocada. A superação da “visão de sobrevoo” não significa ignorar os benefícios dessa abordagem, bem como do rigor metodológico que deve existir para que a pesquisa científica não se submeta ao senso comum ou a alguma ideologia de maneira não intencional. A sua superação representa o estabelecimento de um diálogo crítico com mais de uma escala geográfica e com os sujeitos que as permeiam, não caindo nem em “objetivismos” ou “subjetivismos” reducionistas e desnecessários (SOUZA, 2007). 36 É um passo na direção do que Turra Neto (2013) chama de ciência dialógica e ciência modesta. A primeira composta pelo processo do diálogo entre o pesquisador e os sujeitos pesquisados, enquanto a segunda abre espaço para a aceitação dos limites da pesquisa e da autoridade científica como algo absoluto. Na visão desse autor, a ciência contemporânea deve assumir a sua falibilidade e as dificuldades em se compreender cenários cada vez mais complexos. Entretanto, não deve renunciar ao rigor metodológico e da formulação teórica, somando-os à validação empírica do conhecimento no mergulho em direção à realidade. É nesse sentido que se opta pela junção de metodologias quantitativas, de caráter estatístico, com as técnicas qualitativas que possibilitam um olhar mais aprofundado sobre os sujeitos e o espaço- objeto. Nesse contexto, a técnica de entrevista viabiliza o levantamento e a produção de informações úteis à pesquisa, como os detalhes das ações sociais, dos deslocamentos espaciais realizados e do tempo desprendido para determinadas atividades (AGUIAR, 2010). Portanto, visando compreender como as práticas espaciais de consumo – particularmente o consumo consuntivo – dão-se na aglomeração urbana de Londrina a partir dos sujeitos que as executam no cotidiano, optamos pelo uso de entrevistas para coleta de informações dos citadinos. Também foram realizadas entrevistas com agentes bem-informados, que podem dar uma apreensão dos fenômenos a partir de uma posição privilegiada em termos de conhecimento e vivência. De acordo com Colognese e Mélo (1998), a entrevista como técnica de pesquisa social objetiva apreender informações sobre o comportamento e a consciência dos sujeitos investigados a partir de uma interação social dialógica. No nosso caso, optamos por roteiros de entrevista semiestruturados, em que a maioria das perguntas foram formuladas com antecedência, o que possibilita certa flexibilidade para novas questões que surgirem no momento. Utilizando os exemplos de roteiros elaborados por Pereira (2018), na categoria de agentes bem-informados, foram preparados roteiros de entrevistas para um representante da Associação Comercial e Industrial de Londrina (ACIL) e para lojistas de estabelecimentos comerciais e de serviços cujas atividades pertençam à esfera do consumo consuntivo aqui definido. Para os citadinos, foi produzido um roteiro de entrevista, também baseado em Pereira (2018), buscando obter informações acerca das práticas espaciais de consumo e da mobilidade urbana envolvidas nessa ação. Para as entrevistas, foram definidas amostras de 20 citadinos, em 4 perfis diferentes (considerando idade, gênero, trabalho, escolaridade e local de residência), e 14 lojistas, também 37 com distintos perfis de estabelecimentos e origens de capital, em todas as cidades da aglomeração urbana de Londrina. Finalmente, chamamos a atenção para a combinação singular das metodologias utilizadas ao longo desta dissertação. Não são ferramentas e técnicas de pesquisa recentes ou pouco utilizadas, considerando a divulgação do CNEFE, com dados ainda de 2010, a quantidade de publicações o utilizando e a extensa tradição das entrevistas e dos trabalhos de campo em pesquisas científicas de numerosas áreas. No entanto, a aplicação e a análise conjunta dos resultados desses procedimentos metodológicos nos possibilitam compreender a distribuição espacial de formas urbanas, os processos espaciais em curso e os deslocamentos sociais em mais de uma escala. Em nosso caso, foram as escalas da cidade e da aglomeração urbana. Também nos possibilitam maior amplitude de contato e entendimento das dinâmicas e fenômenos que compõem os espaços urbanos e participam da sua estruturação, não deixando a análise restrita à localização das formas – correndo risco de recair em algo estático, que diminua o peso das ações e das relações entre citadinos, agentes urbanos e instituições – ou às percepções dos indivíduos que vivenciam as práticas abordadas. Quando corretamente operacionalizados, tanto a manipulação de dados censitários do CNEFE, quanto as entrevistas e os trabalhos de campo, abrem campo para a interpretação de como as condições de determinadas posições no espaço afetam e são afetadas pelas práticas cotidianas dos citadinos. Em outras palavras, os diferentes caminhos de investigação aqui trilhados retratam distintos ângulos das esferas da vida urbana ligadas ao comércio, aos serviços e ao consumo. Dimensões imbricadas que, de certa forma, são inseparáveis em uma análise empírica. De maneira renovada, esta pesquisa tem o potencial de, por meio dos seus procedimentos metodológicos, representar e detalhar como ocorrem as permanências e transformações na área de estudo, captando localização e movimento, contribuindo para a elaboração da síntese acerca da atual fase de estruturação espacial das cidades. Adentraremos na sequência no corpo do trabalho, passando por uma caracterização da área de estudo, a aglomeração urbana de Londrina, como conjunto socioespacialmente integrado. 38 2 A AGLOMERAÇÃO URBANA DE LONDRINA: CONTEÚDOS E POSSIBILIDADES DE ANÁLISE Neste capítulo, serão abordados os recortes espaciais de Londrina, na escala da cidade, e da aglomeração urbana centralizada por ela, em nível interurbano. Abordaremos o primeiro objetivo específico, buscando definir as cidades que compõem a aglomeração urbana de Londrina, considerando a bibliografia pertinente e outros recortes espaciais da mesma área de estudo. Serão discutidas as nomenclaturas que envolvem o debate de caracterização de Londrina e das cidades em sua região de entorno, procurando evidenciar a adequação de uma ou outra de acordo com os elementos empíricos que se apresentam na realidade desse território. Parte desses elementos são os dados de atividades econômicas existentes em cada cidade da aglomeração, envolvendo, inclusive, o panorama geral da presença e distribuição espacial dos estabelecimentos de consumo consuntivo. Dessa forma, iniciaremos a apresentação do padrão aferido de distribuição espacial dos estabelecimentos. Ademais, serão apresentados os argumentos que justificam a definição do conjunto de sete cidades como aglomeração urbana de Londrina, considerando os deslocamentos espaciais dos citadinos e as relações socioeconômicas que partem de diferentes pontos e transpassam esse recorte, conferindo continuidade espacial mesmo com as descontinuidades territoriais entre os tecidos urbanos e os ambientes construídos. 2.1 LONDRINA ATUAL: CENTRO METROPOLITANO, CIDADE MÉDIA OU OUTRA COISA? Para tratar da área de estudo desta pesquisa, é imprescindível abordarmos uma discussão que se desenvolve por décadas sobre as maneiras de se caracterizar, nomear e definir Londrina e as cidades de seu entorno no âmbito da rede urbana brasileira. De acordo com a Lei Estadual Complementar n. 81 de 1998, acrescida pelas Leis Complementares n. 86, 91, 129, 144, 147, 157 e 165 (PARANÁ, 1998; 2000; 2002; 2010; 2012a; 2012b; 2013a; 2013b), foi instituída a Região Metropolitana de Londrina (RML), que hoje é formada por um total de 25 municípios. No entanto, como afirmam Cunha (2005) e Silva (2006; 2013), a RML não se materializa de fato, pois sua região de influência é relativamente próxima e a intensidade de suas articulações socioeconômicas – bem como do poder decisório que dela parte – não condizem com o porte de uma metrópole. Portanto, Londrina seria mais bem caracterizada 39 como uma cidade que desempenha intermediações entre metrópoles, como Curitiba e São Paulo, e cidades menores que compõem a sua aglomeração urbana. De certa maneira, a mudança constitucional de 1988 que possibilitou que os estados da federação pudessem delimitar suas regiões metropolitanas banalizou esses atos, tornando-os prevalentemente políticos e não embasados em estudos e observações empíricas no território em questão. Atualmente, de acordo com o Fórum Nacional de Entidades Metropolitanas (FNEM) existem no Paraná oito regiões metropolitanas (RMs) instituídas oficialmente: Apucarana, com 23 municípios; Campo Mourão, com 24 municípios; Cascavel, com 23 municípios; Curitiba, com 29 municípios; Londrina, com 25 municípios; Maringá, com 26 municípios; Toledo, com 18 municípios e Umuarama, com 24 municípios (FNEM, 2021). Com exceção das RMs de Curitiba, Londrina e Maringá, criadas na década de 1990 e se tratando das maiores cidades do estado, as outras foram instituídas nos últimos dez anos. Apucarana, Campo Mourão, Toledo e Umuarama são cidades que, isoladamente, nem sequer superam os 150.000 habitantes (IBGE, 2021). De maneira geral, somente a RM de Curitiba possui os requisitos necessários para ser considerada como tal. As outras unidades territoriais foram definidas visando a concentração de poder político nas cidades polos pela formação de comitês e comissões de acompanhamento e administração que são passíveis de recebimento de verba estadual. Não são concretizados, de forma evidente, os objetivos de organização, planejamento e integração de serviços, infraestruturas e “[...] funções públicas de interesse comum” (BRASIL, 1988, Art. 25). Diante disso, Silva (2006) recomenda que seja atribuído o termo de cidade média à Londrina, pelo seu papel de mediação e articulação entre escalas na rede urbana brasileira. É uma localidade que possui grande centralidade funcional de comércios e serviços para sua região de influência próxima, mas que, em uma escala mais abrangente, estabelece vínculos socioeconômicos com pontos específicos do território nacional, limitados às metrópoles que comandam a rede urbana nas Regiões Sul e Sudeste do país. A REGIC (IBGE, 2020c) aponta que nas conexões externas, para além da sua região de influência, Londrina possui laços estáveis (de subordinação) com Curitiba, São Paulo e, em menor grau, Florianópolis. Esse panorama é ilustrado pelos números de movimentações no Aeroporto Governador José Richa em Londrina (Gráficos 1, 2 e 3), de aeronaves (pousos e decolagens), de passageiros e de cargas, em relação aos destinos mais frequentes. 40 Gráfico 1 – Quantidade de aeronaves que chegaram e partiram do Aeroporto Gov. José Richa em Londrina-PR (2010 a 2020). Fonte: INFRAERO (2021). Elaboração: Guilherme Pereira Cocato. Gráfico 2 – Quantidade de passageiros que passaram pelo Aeroporto Gov. José Richa em Londrina-PR (2010 a 2020). Fonte: INFRAERO (2021). 25.964 29.500 34.508 30.808 27.749 26.149 24.371 22.250 22.979 20.202 12.945 0 5.000 10.000 15.000 20.000 25.000 30.000 35.000 40.000 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 Aeronaves (pousos e decolagens) 732.433 961.876 1.098.848 1.051.157 1.131.995 1.057.163 920.782 880.429 977.254 1.016.863 336.114 0 200.000 400.000 600.000 800.000 1.000.000 1.200.000 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 Passageiros 41 Elaboração: Guilherme Pereira Cocato. Gráfico 3 – Quantidade de toneladas de cargas que passaram pelo Aeroporto Gov. José Richa em Londrina-PR (2010 a 2020). Fonte: INFRAERO (2021). Elaboração: Guilherme Pereira Cocato. Destacamos que, principalmente os números de pousos e decolagens e de passageiros sofrem quedas significativas entre os anos de 2012 e 2019, com alguns sinais de recuperação no caso do total de passageiros. São dados que representam parte do impacto pela instabilidade e depois crise política e econômica que atingiu o país nesse período, influenciadas, dentre outros aspectos, pela queda do protagonismo brasileiro na exportação de commodities no mercado internacional, pela substituição de governos progressistas na América Latina (SVAMPA, 2019) – tendo no Brasil o impeachment da presidente Dilma Rousseff como exemplo –, e por um maior alinhamento com políticas neoliberais de ajuste estrutural a partir dos anos de 2015 e 2016. Juntos, esses fatores causaram um aumento da desigualdade socioeconômica e maior empobrecimento da população, consequentemente afetando o poder de consumo. Já as quedas bruscas entre 2019 e 2020 são devidas à pandemia de covid-19, que afetou grandemente o setor de transporte aéreo pelas necessidades sanitárias de distanciamento e isolamento social. Apesar de os números totais de circulação no Aeroporto de Londrina serem significativos, os pontos de destino e de origem das aeronaves se resumem às cidades de São 1.456 1.827 1.790 1.836 1.859 1.897 1.716 1.789 1.803 1.864 655 0 200 400 600 800 1.000 1.200 1.400 1.600 1.800 2.000 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 Cargas (T) 42 Paulo, Campinas e Curitiba (AZUL, 2020; GOL, 2021; LATAM, 2021). Eventualmente o Rio de Janeiro (GOL, 2021). Portanto, para que as conexões de passageiros e cargas se efetivem com outros locais, dentro e fora das fronteiras nacionais, devem passar por esses centros de comando da rede urbana. É importante ressaltar que, nos números de pousos e decolagens, também estão inclusas as viagens particulares e não regulares das companhias aéreas que operam em Londrina. Então, são dados que indicam a intermediação que a cidade exerce, concentrando e centralizando atividades e decisões numa escala próxima para conectá-las com centros de maior poder decisório, que se caracterizam como pontos de convergência para o fluxo de mercadorias e o deslocamento de pessoas. Levando em consideração essa condição intermediária, o mesmo autor (SILVA, 2013) afirma que, nos últimos anos, a cidade tem recebido novas funções, presenciado mudanças nos padrões de consumo e alcançado bens e serviços de maior complexidade. Desse modo, a classificação de cidade média, nos dias atuais, seria insuficiente para retratar a realidade. Em um contexto de transição, Londrina poderia ser designada como “cidade intermediadora de padrão complexo”: Explica-se: intermediadora, e não apenas intermediária, pelo caráter intensivo de relações externas e fluxos relacionados, pois ela também apresenta o comando de importantes papéis; de padrão complexo, devido à sua divisão territorial do trabalho interna, de considerável complexidade, e à presença de investimentos que até recentemente, no Brasil, eram exclusividade das áreas metropolitanas (SILVA, 2013, p. 327). Entendemos, então, que a mudança de terminologia e classificação de Londrina proposta por Silva (2013) se deve, principalmente, a um aumento na complexidade de relações, fluxos, divisão do trabalho e presença de atividades especializadas que, de certo modo, já estavam no espaço da cidade. Porém, por mais que as formas e funções se complexifiquem internamente à cidade, o reflexo disso nas relações externas e interurbanas ainda não se materializa significativamente. Defendemos que Londrina possui sim uma posição de destaque na escala regional da rede urbana, além de comandar o processo de concentração de estabelecimentos e atividades socioeconômi