UNESP UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “Júlio de Mesquita Filho” Instituto de Artes Programa Programa de Pós-Graduação em Artes Mestrado PROCESSOS DE CRIAÇÃO EM SALA DE AULA Experiências fenomenológicas como formas de “reaprender a ver o mundo” CLÁUDIA MARIA KRETZER RODRIGUEZ São Paulo 2011 UNESP UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “Júlio de Mesquita Filho” Instituto de Artes Programa Programa de Pós-Graduação em Artes Mestrado PROCESSOS DE CRIAÇÃO EM SALA DE AULA Experiências fenomenológicas como formas de “reaprender a ver o mundo” CLÁUDIA MARIA KRETZER RODRIGUEZ Dissertação submetida à UNESP como requisito exigido pelo Programa de Pós-Graduação em Artes, área de concentração em (Artes Visuais), linha de pesquisa (Processos e Procedimentos Artísticos), sob a orientação da Profa. Dra. Geralda Dalglish (Lalada), para a obtenção do título de Mestre em Artes. São Paulo 2011 Ficha catalográfica preparada pelo Serviço de Biblioteca e Documentação do Instituto de Artes da UNESP (Fabiana Colares CRB 8/7779) K92p Kretzer, Cláudia, (Maria Maria Kretzer Rodriguez), 1971- Processos de criação em sala de aula: experiências fenomenológicas como formas de “reaprender a ver o mundo” / Cláudia Maria Kretzer. - São Paulo, 2011. 227 f. ; il. + anexo Bibliografia Orientador: Profª. Drª. Geralda Dalglish (Lalada) Dissertação (Mestrado em Artes) – Universidade Estadual Paulista, Instituto de Artes, 2011. 1. Arte – educação. 2. Processo de criação. 3. Fenomenologia. I. Dalglish, Geralda. II. Universidade Estadual Paulista, Instituto de Artes. III. Título CDD – 707 Cláudia Maria Kretzer Rodriguez PROCESSOS DE CRIAÇÃO EM SALA DE AULA Experiências fenomenológicas como formas de “reaprender a ver o mundo” Dissertação submetida à UNESP como requisito exigido pelo Programa de Pós-Graduação em Artes, área de concentração em (Artes Visuais), linha de Pesquisa (Processos e Procedimentos Artísticos), sob a orientação da Profa. Dra. Geralda Dalglish (Lalada), para a obtenção do título de Mestre em Artes. _________________________________________________ Profa. Dra. Geralda M. F. S. Dalglish Presidente da banca examinadora _________________________________________________ Profa. Dra. Carmen S. G. Aranha. Banca Examinadora _________________________________________________ Prof. Dr. João Cardoso Palma Filho Banca Examinadora ___________________________________________________ Profa. Dra. Regina Stela Barcelos Machado Suplente ____________________________________________________ Profa. Dra. Luiza Helena da Silva Christov Suplente A Autora KRETZER, Cláudia. Processos de criação em sala de aula: experiências fenomenológicas como formas de “reaprender a ver o mundo”. 2011. 227 f. Dissertação (Mestrado) – Instituto de Artes, Universidade Estadual Paulista, São Paulo, 2011. A presente pesquisa caracterizou-se pela retomada de vivências mais poéticas e artísticas de toda uma trajetória na criação, tanto das produções artísticas como simultaneamente da busca do conhecimento significativo para o ensino da arte. Desse modo, o fazer e o ensino da arte habitaram o corpo da pesquisadora e tornaram-se vísceras. Assim, desagregá-las é tão difícil quanto classificá-las em grau de importância. Objetivo: compreender como se dá o conhecimento da arte na práxis pedagógica. Método: as bases teóricas e metodológicas da pesquisa foram sustentadas pela fenomenologia contemporânea de Maurice Merleau-Ponty, como a descrição, redução e reflexão na compreensão do que se está interrogando. A pesquisa foi aplicada a alunos das classes regulares do Ensino Fundamental no Ciclo I de uma escola da rede Estadual de Ensino de São Paulo. Conversas com Bachelard, Dewey, entre outros, também percorreram o caminho significativo da práxis pedagógica. Considerações: em meio ao processo de criação das crianças, percebeu-se que o entrelaçamento da matéria-visível-sensível com os exercícios de percepção e com a noção de um corpo, constituiu-se em uma importante chave para uma educação que pense o ser em sua totalidade, isto é, a relação de sua expressão com a atuação dentro da cultura. Palavras-Chave: Arte/Educação, experiências, significativo, matéria-visível- sensível, percepção, corpo. Grande Área: Letras – Linguística e Artes Área: Artes KRETZER, Cláudia, Creation processes in the classroom: phenomenological experiences as ways to “relearn how to see the world”. 2011. 227 f. Thesis (ma) – Instituto de Artes, Universidade Estadual Paulista, São Paulo, 2011. The present research is characterized as a resumption of poetic and artistic experiences of all the process of creation in both artistic productions and search of meaningful knowledge simultaneously, for the teaching of art. This way, the doing and teaching art dwelled the researcher’s body and soul. Thus, to unplease that is as difficult as to classify them in order of importance. Objective: to understand how to check the knowledge of art in the pedagogical praxis. Method: the theoretical and methodological basis of the research were sustained by the contemporary phenomenology of Maurice Merleau-Ponty, like the description, decrease and reflection of the comprehension of what is being questioned. The research was conducted to regular school students of Elementary School of a São Paulo State School, who are Studying in the first cycle. Talks with Bachelard, Dewey, among others, have also taken part of the meaningful way of the pedagogical praxis. Considerations: in the children’s creation process, the connection of the visible-sensitive material with the perception exercises and the concept of a body it has been noticed. This constitutes an important key for an education that thinks about the being in their totality, this is, the relation between their expression and role in the culture. Key words: art education, experiences, meaningful, visible-sensitive material, perception, body. Large subject – languages – linguistics and arts Area - arts KRETZER, Cláudia. Procesos de creación en el aula: experiencias fenomenológicas como formas de “reaprehender a ver el mundo”. 2011. 227 f. Disertación (Maestría) – Instituto de Artes, Universidad Estadual Paulista, São Paulo, 2011. La presente investigación se caracterizó, por la retomada de vivencias más poéticas y artísticas de toda una trayectoria en la creación, tanto de las producciones artísticas como simultáneamente de la búsqueda del conocimiento significativo a la enseñanza del arte. De este modo, el hacer y la enseñanza del arte habitaron el cuerpo de la investigadora y se convirtieron en vísceras. Así que disgregarlas es tan difícil cuanto clasificarlas en grado de importancia. Objetivo: Comprender como se verifica el conocimiento del arte en la praxis pedagógica. Método: Las bases teóricas y metodológicas de la pesquisa son sostenidas por la fenomenología contemporánea de Maurice Merleau-Ponty, como la descripción, reducción y reflexión en la comprensión de lo que se está interrogando. La investigación fue aplicada a alumnos de grupos de la Enseñanza Regular de Primaria, Ciclo I de una escuela de la red Estadual de Enseñanza de São Paulo. Conversaciones con Bachelard, Dewey, entre otros, también recurrieron el camino significativo de la praxis pedagógica. Consideraciones: Mientras se daba el proceso de creación de los niños, se percibió que el entrelazamiento de la materia-visible-invisible con los ejercicios de percepción y con la noción de un cuerpo, se constituyó en una importante clave para una educación que piense el ser en su totalidad, esto es, la relación de su expresión con la actuación dentro de la cultura. Palabras-Clave: Arte/Educación, experiencias, significativo, materia-visible- sensible, percepción, cuerpo. Grande Área: Letras – Lingüística y Artes Área: Artes As fotos sem identificação são da autora. Figura 1- A grande Árvore, 2007, Florianópolis ................................................... 37 Figura 2- Paul Cézanne, A montanha de Saint Victoire, 1904-1906, óleo sobre tela, 73 x 91 cm. Museu de Arte de Filadélfia – Estado Unidos da América Fonte: www.casthalia.com.br/a_mansao/obras/ cezanne_montanha.htm. Acesso em 19/06/2011 .................................. 58 Figura 3- Frans Krajcberg, Conjunto de esculturas, 1991, pigmento natural sobre raízes, cipó e caules de palmeira, 3.10cm de altura. Fonte: Catálogo Krajcberg – 1995 ......................................................... 61 Figura 4- Frans Krajcberg, Conjunto de Escultura, 1988, pigmento natural sobre troncos e raízes, calcinados aproximadamente, 3. 50 cm de altura. Fonte: Catálogo Krajcberg – 1995 ......................................................... 61 Figura 5- Cláudia Kretzer, Sem título, madeira e metal, 1997. 2. 03 x 2.27 x 0.99 m .............................................................................. 73 Figura 6- Detalhe do mangue em Florianópolis, 2002 ........................................ 74 Figura 7- Detalhe do mangue, 1997, Florianópolis ............................................. 76 Figura 8- Reflexo do mangue, 1997, Florianópolis .............................................. 78 Figura 9- Imagens do mangue, 1997, Florianópolis ............................................ 78 Figura 10- Cláudia Kretzer, Sem título, 1996, pigmento sobre madeira, 1,78 x 0,46 x 0,20 m ............................................................................... 79 Figura 11- Cláudia Kretzer, Etapas de construção da obra, 1996 ...................... 79 Figura 12- Cláudia Kretzer, Detalhe da peça, 1996 ............................................ 79 Figura 13- Cláudia Kretzer, Detalhe da construção da peça, 1996, Foto: Helton Mathias ............................................................................... 80 Figura 14- Cláudia Kretzer, Exposição da peça na Biblioteca,1996, CEART-UDESC ...................................................................................... 80 Figura 15- Encontro com a matéria-prima: Madeira, 1997 .................................. 81 Figura 16- Detalhe da matéria-prima, 1997, Florianópolis .................................. 81 Figura 17- Cláudia Kretzer, “Amputação”, 1997 Metal sobre madeira 1,94 x 0,76 x 0,35 m ......................................................... 82 Figura 18- O Metal: matéria-prima para escultura, 1997, Florianópolis .............. 82 Figura 19- Detalhe do metal encontrado, 1997, Florianópolis ............................. 82 Figura 20- Cláudia kretzer, “?Túnel”, 1997, Metal ,35 x 0,18m ........................... 83 Figura 21- Detalhe: humos do mangue, Florianópolis, 1997 ...................................... 84 Figura 22- Detalhe: raiz no mangue, Florianópolis, 1997 .................................... 84 Figura 23- Detalhe aproximado do mangue, Florianópolis, 2002 ............................... 85 Figura 24- Vista do mangue, Florianópolis, 1997 ................................................ 86 Figura 25- Detalhe do mangue, Florianópolis, 1997 ........................................... 86 Figura 26- Imagem aproximada do mangue, Florianópolis, 1997 ....................... 86 Figura 27- Imagem aproximada do húmos I, Florianópolis, 1997 ....................... 87 Figura 28- Encontro com a madeira para construção da obra, Florianópolis, 1997 ........................................................................................................ 89 Figura 29- Cláudia, Kretzer, Contato com a madeira, Florianópolis, 1997 .......... 89 Figura 30- Cláudia, Kretzer, Detalhe da Construção da peça, Florianópolis, 1997 Foto: Helton Mathias ............................................................................... 89 Figura 31- Cláudia Kretzer, Sem título, 1997, madeira e metal, 2.03 x 2.27 x 0,90 m ............................................................................... 90 Figura 32-33-34- Cláudia Kretzer, Sem título, detalhes da obra, 1997 ............... 90 Figura 35- John Dewey (1859-1952) Fonte: http://4.bp.blogspot.com/_RfBoykOr7T0/Sn1waLEwOzI/ AAAAAAAABEU/ R6j4Qfx- yB0/s320/T051424A%5B1%5D.jpg. Acesso em 16/06 .................................................................................... 92 Figura 36- Experiência Completa de John Dewey, (1859-1920) ......................... 97 Figura 37- Merleau-Ponty (1908-1961) Fonte: http://static.infoescola.com/wp-content/uploads/2010/10/ Maurice-Merleau-Ponty.jpg. Acesso em 15/06/11 .................................. 99 Figura 38- Husserl (1859-1938) Fonte: http://www.iep.utm.edu/heidegge/. Acesso em 15/06/11 ............ 99 Figura 39- Heidegger (1889-1976) Fonte: http:// www.google.com.br/imgres?imgurl=http://lh4.ggpht.com/_ Om7F1rpPYqA/SfyJioRVKRI/AAAAAAAAB_8/p7i6vMs5WsQ/Heidegg er%255B1%255D.jpg&imgrefurl=http://blog.gilbertomirandajr.com.br/2 009/05/existencia-na-fenomenologia_02.html&usg=__ Q5J5DDoQOAFTyh2XtoEpuEnFclE=&h=512&w=348&sz=63&hl=pt- BR&start=70&zoom=1&itbs=1&tbnid=D4KV2TINTnLnJM:&tbnh= 131&tbnw=89&prev=/search%3Fq%3DFOTOS%2BMERLEAU- PONTY%26start%3D60%26hl%3Dpt-BR%26sa%3DN%26biw% 3D1003%26bih%3D588%26ndsp%3D20%26tbm%3Disch%26prmd% 3Divns&ei=B6z4Tb7cHJTAtge15My6Cg. Acesso em 15/06/11 ............. 99 Figura 40- Sartre (1905-1980) Fonte: http:// www.google.com.br/imgres?imgurl=http://lh4.ggpht.com/_ Om7F1rpPYqA/SfyJioRVKRI/AAAAAAAAB_8/p7i6vMs5WsQ/Heidegg er%255B1%255Djpg&imgrefurl=http://blog.gilbertomirandajr.com.br/20 09/05/existencia-na-fenomenologia_02.html&usg=__ Q5J5DDoQOAFTyh2XtoEpuEnFclE=&h=512&w=348&sz=63&hl=pt- BR&start=70&zoom=1&itbs=1&tbnid=D4KV2TINTnLnJM:&tbnh= 131&tbnw=89&prev=/search%3Fq%3DFOTOS%2BMERLEAU- PONTY%26start% 3D60%26hl%3Dpt-BR%26sa%3DN%26biw% 3D1003%26bih%3D588%26ndsp%3D20%26tbm%3Disch%26prmd% 3Divns&ei=B6z4Tb7cHJTAtge15My6Cg. Acesso em 15/06/11 ............. 99 Figura 41- Projeto: “Reaprender a Ver o Mundo”, 4ª série, 2009 ........................ 101 Figura 42- Sala Ambiente da Escola Estadual João Clímaco da Silva Kruse, São Paulo, 2011 ..................................................................................... 104 Figura 43- Merleau-Ponty, Fenomenologia da percepção .................................. 109 Figura 44- Projeto: A visão em Ângulos, 4ª série, 2007 ...................................... 116 Figura 45- Fachada da Escola Estadual Professor João Clímaco da Silva Kruse, São Paulo, 2009 Foto: Ana Lúcia A. Shimello ................................................................... 118 Figura 46- Detalhe da escola, 2009 Foto: Ana Lúcia A. Shimello ................................................................... 120 Figura 47- Quadra esportiva da escola, 2009 Foto Ana Lúcia A. Shimello .................................................................... 120 Figura 48- Perguntas dos alunos para o desenho 4ª série, 2009 ....................... 127 Figura 49- Exercício com a Linguagem Visual, 3ª série, 2007 ............................ 133 Figura 50- Desenho de observação, 3ª série, 2007 ............................................ 133 Figura 51-52- Exercício com o ponto físico, 3ª série, Massinha de modelar e argila, 2007 ............................................................................ 135 Figura 53- Exercício com o ponto gráfico, 4ª série, Canetinha, 2007 ................. 137 Figura 54- Exercício com a linha, 1ª série, palito, linha e lápis de cor, 2007 ...... 137 Figura 55- Construção das placas em argila, 4ª série, 2007 ............................... 137 Figura 56- Detalhes das placas em argila, 4ªsérie, 2007 .................................... 138 Figura 57- Placas de argila na cor natural, 4ª série, 2007 ................................... 138 Figura 58- Pigmentos com guache e cola sobre argila, 4ª série, 2007 ............... 138 Figuras 59-60- Exposição dos trabalhos ............................................................. 139 Figuras 61-62- Extração e experiências com Pigmentos naturais, 1ª série, 2007 .......................................................................................... 139 Figura 63- Exercício de observação de vários ângulos, 4ª série, 2007 ............... 140 Figura 64- Desenho de observação com carvão, 4ªsérie, 2007 .......................... 141 Figura 65- Cláudia Kretzer, “Percepção I”, 2007, Argila, 9.0 cm x 5.0 cm x 3.0 cm ........................................................................ 143 Figura 66- Cláudia Kretzer, “Percepção II”, 2007, Argila, 9.0 cm x 5.0 cm x 3.0 cm ........................................................................ 143 Figura 67- Cláudia Kretzer, “Percepção III”, 2007, Argila, 9.0 cm x 5.0 cm x 3.0 cm ........................................................................ 143 Figura 68- Cláudia Kretzer, Figura no espaço, 2007 ........................................... 143 Figuras 69-70- Projeto: família - Desenho de observação a partir da Fotografia, 4ª série 2008 ........................................................................ 144 145 Figuras 71-72- Projeto: família - Utilização de três técnicas: lápis de cor, massinha e canetinha, 4ª série, 2008 ..................................................... 146 Figuras 73-74- Projeto: família - Apresentação e leitura dos trabalhos, 4ª série, 2008 .......................................................................................... 146 Figura 75- Experiências vivenciadas no uso da cor, 3ª série, 2008 .................... 147 Figura 76- Vivências na escola, 3ª série, 2008 ................................................... 147 Figura 77- Criação de “pincel”, 3ª série, 2008 ..................................................... 147 Figura 78- Exposição dos trabalhos artísticos, 3ª série, 2008 ............................. 147 Figura 79- Projeto- O Som da Linha, 1ª série, 2008 ............................................ 148 Figura 80- Projeto- O Som da Linha: Exercício buscando som de objetos, 1ª série, 2008 .......................................................................................... 148 Figura 81- Projeto- O Som da Linha Exercício: Dançar as linhas, 1ª série, 2008 .......................................................................................... 148 Figura 82- Projeto- O Som da Linha: desenho de observação com as linhas, 1ª série, 2008 .......................................................................................... 148 Figuras 83-84- Apresentação do projeto: O Som da Linha na escola, 1ª série, 2008 .......................................................................................... 148 Figuras 85-86- Detalhes da apresentação do projeto: O Som da Linha na escola, 1ª série, 2008 ............................................................................. 149 Figuras 87-88- Projeto: A visão do Eu sobre o Outro, Exercícios de percepção e proporção de si e do outro, 4ª série, 2008 ......................... 149 Figuras 89-90- Projeto: A visão do Eu sobre o Outro, Exercícios de observação de si e do outro, 4ª série, 2008 ........................................... 150 Figuras 91-92- Projeto: O Mundo da leitura da Imagem-Leitura de Imagem baseado da colagem criada pelos alunos, 1ª série, 2008 ...................... 150 Figuras 93-94- Projeto: O Mundo da leitura da Imagem-Conto Infantil: O Macaco e a Velha, acesso também pela internet, 1ª série, 2008 ....... 151 Figuras 95-96: Projeto: O Mundo lúdico da narração, 2ª série, 2008 .................. 151 Figuras 97-98- O Mundo Lúdico da Narração, Etapas de elaboração e construção do livro, 3ª série, 2008 ......................................................... 152 Figura 99- O Mundo Lúdico da Narração, Etapa de degustar o sabor descrito pelo conto, 3ª série, 2008 ......................................................... 152 Figura 100- O Mundo Lúdico da Narração, Etapas de construção do livro, 3ª série, 2008 .......................................................................................... 152 Figuras 101-102- Etapas de construção do livro com base no conto: A formiga Aurélia (Regina Machado), 1ª série, 2009 ............................. 154 Figura 103- Representação do conto: A Formiga Aurélia, massinha, 1ª série, 2009 .......................................................................................... 155 Figura 104-Etapas da construção do livro, 1ª série, 2009 ................................... 155 Figura 105- Exercícios-Novos suportes, giz de lousa, 1ª série, 2009 ................. 155 Figura 106- Exercícios-Novos suportes, giz de lousa, 1ª série, 2009 ................. 155 Figura 107- Vivência e expressão plástica com base no conto, 1ª série, 2009 .......................................................................................... 156 Figura 108- Expressão plástica: papel crepom, 1ª série, 2009 ........................... 156 Figura 109- Expressão plástica com base no conto, uso de vários materiais, 1ª série, 2009 ......................................................................... 156 Figura 110- Recontar o conto, 1ª série, 2009 ...................................................... 156 Figuras 111-112- Recontar a história com base no som, 1ª série, 2008 ............. 157 Figura 113- Projeto: Eu- Outro no mundo, Etapas de exercício e Construção do rosto em placa de argila, 3ª série, 2009 ......................... 157 Figura 114- Projeto: Eu-Outro no mundo, Utilização das técnicas de colagem em argila 3ª série, 2009 ........................................................... 157 Figura 115- Projeto: Eu-Outro no mundo, Processos em gravura, Barbante e papelão, 3ª série, 2009 ........................................................ 158 Figura 116- Projeto: Eu-Outro no mundo, Técnica de impressão, guache Colorida, 3ª série, 2009 ............................................................. 158 Figura 117- Projeto: Eu-Outro no mundo, Construção do rosto em argila, 3ª série, 2009 .......................................................................................... 158 Figura 118- Projeto: Eu-Outro no mundo, Monitoramento da exposição, 3ª série, 2009 .......................................................................................... 158 Figuras 119-120- Projeto: Reaprender a ver o Mundo-Desenhos de percepção: objeto x Espaço x tempo, 4ª série, 2009 ............................. 159 Figura 121- Projeto: Reaprender a ver o Mundo-Desenhos de percepção, 4ª série, 2009 ....................................................................... 159 Figura 122- Projeto: Reaprender a ver o Mundo-Exposição dos trabalhos: “Reaprender a Ver o Mundo”, 2009 ....................................... 159 Figura 123- Projeto: Eu- Outro no mundo, Exercício: Percepção do outro, 3ª série, 2009 .......................................................................................... 164 Figura 124- Projeto: Eu- Outro no mundo, Utilização de medidas e proporções, 3ª série, 2009 ...................................................................... 164 Figuras 125-126- Projeto: Eu- Outro no mundo, Percepção do eu. Com auxílio do espelho, 3ª série, 2009 .................................................. 164 Figuras 127-128- Projeto: Eu- Outro no mundo, Relação do eu-outro com o mundo, 3ª série, 2009 .................................................................. 165 Figuras 129-130- Projeto: Eu- Outro no mundo, Desenhando formas da natureza e sua relação com seu corpo, 3ª série, 2009 ..................... 165 Figuras 131-132- Projeto: Eu- Outro no mundo, Desenho sobre grupos e etnias, 3ª série, 2009 ............................................................... 166 Figuras 133-134- Projeto: Eu- Outro no mundo Aulão: O Eu-Outro na História da Arte, 3ª série, 2009. Foto: Ângela Posse ................................................................................ 166 Figuras 135-136- Projeto: Eu- Outro no mundo, Exercícios de proporção e medidas com a massinha, 3ª série, 2009 ............................................ 167 Figuras 137-138- Projeto: Eu- Outro no mundo, Fabricação das estecas, 3ª série, 2009 .......................................................................................... 167 Figura 139- Projeto: Eu- Outro no mundo, Estecas, materiais diversos, 3ª série, 2009 .......................................................................................... 168 Figura 140- Projeto: Eu- Outro no mundo, Exercício com a “barbotina”, 3ª série, 2009 .......................................................................................... 168 Figura 141- Projeto: Eu- Outro no mundo, Uso da “ranhura”, 3ª série, 2009 ...... 168 Figura 142- Projeto: Eu- Outro no mundo, Realização de “vincos”, 3ª série, 2009 .......................................................................................... 169 Figura 143- Projeto: Eu- Outro no mundo, Orientação da professora, 3ª série, 2009. Foto de Sônia C. N. de Souza ........................................ 169 Figura 144- Projeto: Eu- Outro no mundo, Realização do rosto, utilizando a técnica de placa em argila, 3ª série, 2009 ........................................... 169 Figura 145- Projeto: Eu- Outro no mundo, Aplicação da técnica de colagem, 3ª série, 2009 .......................................................................................... 169 Figura 146- Projeto: Eu- Outro no mundo, Multiplicidade de etnias: rostos sobre a placa em argila, 3ª série, 2009 .................................................. 169 Figura 147-148- Projeto: Eu- Outro no mundo, Exercício com carimbo, barbante, guache, papelão e caixa de fósforo, 3ª série, 2009 ............... 170 Figura 149- Projeto: Eu- Outro no mundo, Apresentação da Xilogravura, 3ª série, 2009. Foto de Jaqueline Alves Macor ...................................... 170 Figura 150- Projeto: Eu- Outro no mundo, Pesquisa sobre gravura na sala de informática, 3ª série, 2009 ................................................................. 170 Figuras 151-152- Projeto: Eu- Outro no mundo, Contorno do rosto com barbante, 3ª série, 2009 ......................................................................... 171 Figura 153- Projeto: Eu- Outro no mundo, Impressão com guache, 3ª série, 2009 .......................................................................................... 171 Figura 154- Projeto: Eu- Outro no mundo, Parte da exposição, 3ª série, 2009 .......................................................................................... 171 Figura 155- Projeto: Eu- Outro no mundo, Exposição das produções artísticas dos alunos no pátio da escola, 3ª série, 2009 ......................... 172 Figura 156- Projeto: Eu- Outro no mundo, Detalhe da exposição, 3ª série, 2009 .......................................................................................... 173 Figura 157- Projeto: Eu- Outro no mundo, Atividade cultural na escola, 3ª série, 2009 .......................................................................................... 173 Figura 158- Projeto: Eu- Outro no mundo, Relação apreciativa com a técnica, tema 3ª série, 2009 ................................................................... 173 Figura 159- Projeto: Eu- Outro no mundo, Exercícios de percepção, após o monitoramento, 3ª série, 2009 .................................................... 173 Figuras 160-161- Experiências com argila, 4ª série, 2007 .................................. 184 Figuras 162-163- Projeto: Eu-Outro no Mundo, 3ª série, 2009 ........................... 185 Figura 164- Construção de estecas, 3 ª série, 2009, Palito de madeira, clips e epox ............................................................................................. 185 Figura 165- Construção da técnica de gravura, 3ª série, 2009, papelão e barbante .................................................................................................. 185 Figuras 166-167- Projeto: A Visão de Ângulos, 4ª série, 2007 ........................... 187 Figuras 168-169- Projeto: Reaprender a ver o Mundo, 4ª série, 2009 ................ 187 Figuras 170-171- A relação dos objetos com o corpo, 2009 ............................... 191 ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas CEART Centro de Artes CERET Clube Esportivo Recreativo Educativo do Trabalhador IA Instituto de Artes LAT Licenciatura Arte-Teatro LDB Lei de Diretrizes e Bases PEB I Professor de Educação Básica I (Ensino Fundamental I – 1º Ano ao 5º Ano) PEB II Professor de Educação Básica II (Ensino Fundamental II – 6º Ano ao 9º Ano e Ensino Médio) PET Parque Esportivo do Trabalhador SEESP Secretaria de Educação Especial TGD Transtornos Globais de Desenvolvimento TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UDESC Universidade do Estado de Santa Catarina UNESP Universidade Estadual Paulista USP Universidade de São Paulo APRESENTAÇÃO ................................................................................. 20 INTRODUÇÃO ....................................................................................... 28 CAPÍTULO I ........................................................................................... 37 MAURICE MERLEAU-PONTY E A ARTE ....................................... 37 O Encontro com a fenomenologia de Maurice Merleau-Ponty ......... 38 Fenomenologia ........................................................................... 38 Visão ........................................................................................... 45 Corpo/Visão ................................................................................ 48 A criação: o caminho do mundo percebido como expressão em Paul Cézanne e Frans Kracjeberg ................................................... 55 A criança e o desenho infantil em Merleau-Ponty ............................ 64 CAPÍTULO II .......................................................................................... 73 EXPERIÊNCIAS VIVIDAS COMO FORMAS DE “REAPRENDER A VER O MUNDO” .......................................................................... 73 Aonde tudo parece ter começado: ensaio artístico da autora .......... 74 Experiências contemporâneas no ensino da arte: John Dewey e Merleau-Ponty .................................................................................. 91 CAPÍTULO III ......................................................................................... 101 METODOLOGIA E PERCURSOS ................................................... 101 Questão norteadora .......................................................................... 102 Objetivos da pesquisa ...................................................................... 103 Local do estudo ................................................................................ 103 Sujeitos ............................................................................................. 105 Métodos e procedimentos ................................................................ 106 Registros .......................................................................................... 111 Compreensão do processo .............................................................. 113 Aspectos éticos ................................................................................ 114 CAPÍTULO IV ......................................................................................... 116 O ENCONTRO COM A PAISAGEM: COMPREENSÃO DAS EXPERIÊNCIAS VIVIDAS ............................................................... 116 Identificação e caracterização da unidade escolar .......................... 116 Recursos físicos ......................................................................... 118 Comunidade local ....................................................................... 121 Corpo discente ............................................................................ 122 Dados estatísticos dos alunos .................................................... 123 Desenhando o percurso: descrição dos projetos - uma tentativa de visualizar o todo da pesquisa ........................................................... 126 Projeto: O Eu-Outro no Mundo ......................................................... 162 Objetivos ..................................................................................... 163 Objetivo Geral ............................................................................. 163 Objetivo específico ..................................................................... 163 Descrição do Projeto .................................................................. 163 CONSIDERAÇÕES ................................................................................ 176 COMPREENSÃO DE UM CAMINHO .............................................. 176 REFERÊNCIAS ...................................................................................... 194 ANEXOS ................................................................................................ 210 ANEXO 1 - Planilha da relação de alunos em 2007 ........................ 210 ANEXO 2 - Planilha da relação de alunos em 2008 ........................ 211 ANEXO 3 - Planilha da relação de alunos em 2009 ........................ 212 ANEXO 4 - Planilha da relação de alunos em 2010 ........................ 213 ANEXO 5 - Planilha da relação total de alunos entre 2007 e 2010 . 214 ANEXO 6 - Modelo de autorização dos pais ................................... 215 ANEXO 7 - Autorização da Diretoria de Ensino – Leste 5 .............. 216 ANEXO 8 - Ata de reuniões com os alunos .................................... 217 ANEXO 9 - Relatos de alunos ......................................................... 223 Esta pesquisa caracteriza-se como a retomada de vivências mais poéticas e artísticas de toda uma trajetória na criação, tanto das produções artísticas como simultaneamente da busca do conhecimento significativo para o ensino da arte. O fazer e o ensino da arte habitaram meu corpo e tornaram- se vísceras. Assim, desagregá-las é tão difícil como classificá-las em grau de importância. A presente investigação é fruto de pesquisas dentro e fora do ambiente escolar, com alunos regulares do Ciclo I do ensino público do Estado de São Paulo. Pressupõe propostas que possibilitem aproximar-se da essência do homem no mundo. Sou professora e atuo como Arte/Educadora há 19 anos nos Ensinos Fundamental e Médio. Destes, 8 anos foram dedicados ao ensino público em Santa Catarina e 11 anos em São Paulo. Durante minha trajetória acadêmica, destaco o curso de especialização em Arte-Terapia pela Universidade São Judas Tadeu (2002), a graduação Bacharelado em Artes Plásticas – Escultura, pela Universidade do Estado de Santa Catarina (1999) e a graduação em Educação Artística – Licenciatura pela Universidade do Estado de Santa Catarina (1992), como importantes fundamentos para a atual pesquisa. Neste sentido, durante o curso de Bacharelado em Escultura1, em especial, no qual ocorreu o encontro com a fenomenologia de Maurice Merleau-Ponty2, que se tornou “carne”. Sua dialética propõe um entrelaçamento do eu-mundo, sujeito-objeto, corpo-alma... Em meio a meu processo criativo, refleti sobre minhas relações com o mundo, imagens que se tornavam visíveis e que faziam parte de minha experiência de vida. Essas imagens desvelaram-me e com base das leituras de Maurice Merleau-Ponty tenho até hoje buscado a essência, coisas que me ligam a este mundo percebido. O processo criativo3, como fonte de um pensar vivo4, sempre foi um de meus questionamentos, reflexões e experiências vividas em meu percurso. Neste sentido, interrogava como propor em sala de aula, aos meus alunos, uma práxis significativa. Esta inquietação levou-me a buscar pesquisas que desvelassem a compreensão do que é significativo, porém, ao investigar em livros, 1 Graduação, oferecida pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) no Centro de Artes (CEART), curso iniciado em 1997 e finalizado em 1999. 2 Maurice Merleau-Ponty (1908-1961), escritor e filósofo, líder do pensamento fenomenológico na França, nasceu em 14 de março de 1908, em Rochefort, e faleceu em 4 de maio de 1961, em Paris2. Estuda na Escola Normal Superior, onde mantém contato com a filosofia de Husserl e com o existencialismo e gradua-se em 1931 em filosofia. Em 1945, obtém o título de doutor com a tese Fenomenologia da Percepção. Durante toda a década de 1950, Merleau-Ponty trabalha numa ‘ontologia pré-reflexiva’ ou ‘selvagem’, destinada a rever e superar a fenomenologia. Após sua morte, Claude Lefort fica responsável pela publicação dos importantes manuscritos: O visível e o Invisível (1964), A prosa do mundo (1969), e os volumes que reúnem seus cursos ministrados na Sorbonne e no Collège France. 3 Processo criativo para Jung (1991, p. 71), “consiste numa ativação inconsciente do arquétipo (manifestações da energia psíquica que se torna visível, nos sonhos, imagens, fantasias, delírios e alucinações. Estes são temas típicos presentes nos mitos e na literatura universal), uma elaboração e formalização na obra acabada”. Já para Ostrower (2001, p. 10), o processo de criação ocorre no âmbito da intuição. Para ela, o homem cria porque precisa; ele se desenvolve como ser humano, equilibrado, ordenado, “dando forma e criando”. Para Zamboni (2006, p.34), é uma série de ordenações que visa a um resultado. Neste processo criativo, “existe uma dinâmica intensa de trocas muito rápidas entre intuitivo e racional”. 4 Pensar vivo é um termo utilizado pela autora com intuito de dinamizar o pensamento, ou seja, o pensamento de inacabado. Experiências vividas unidas à percepção e ao pensamento que nos apontam um devir. dissertações, teses e sites, constatei que existem poucas experiências fenomenológicas no ensino da arte com crianças. Na Escola Estadual Professor João Clímaco da Silva Kruse, pertencente à Diretoria Regional de Ensino – Leste 5 de São Paulo, onde iniciei o processo de investigação sobre como se dá o conhecimento significativo da arte na práxis pedagógica. Após 7 anos de finalização do curso de bacharelado, no ensino do Ciclo I encontro um campo fértil para investigar tais inquietações. O público-alvo constitui-se de crianças do Ensino Fundamental I com idades entre 6 e 12 anos, bem como alunos de inclusão5 com idades entre 8 e 16 anos. Neste momento, é importante abrir um parênteses para compreender qual o sentido da palavra significado para a pesquisa. Dentre as várias definições que serão descritas posteriormente, gostaria de destacar a de Merleau-Ponty (2006a): para ele, a criação é o acesso às experiências vividas, que são convertidas em conhecimento significativo. Na criação temos a experiência do que somos. Portanto, o sentido está na relação das coisas, na relação das essências: percepção e pensamento. Ambas desvelam o ser, o que há de primordial, pois estrutura como se dá sua relação com o mundo. 5 Para a Secretaria de Educação Especial (Seesp), Alunos de inclusão: são aqueles com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e com altas habilidades/superdotação. Para apoiar os sistemas de ensino, a Secretaria desenvolve os Programas de Formação Continuada de Professores na Educação Especial - presencialmente e a distância -, Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais, Programa Escola Acessível (adequação de prédios escolares para a acessibilidade), Programa BPC na Escola e Programa Educação Inclusiva: Direito à Diversidade, que forma gestores e educadores para o desenvolvimento de sistemas educacionais inclusivos. (http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=288&Itemid=824) em 9/10/2010). Assim, pautada no autor, tendo como ponto de partida o processo de criação em sala de aula, proporciono experiências artísticas que façam sentido. Em meados de 2006, essas inquietações levaram-me a realizar uma observação mais intencionalizada sobre o processo significativo do ensino e aprendizagem da arte. Posteriormente, entre 2007 e 2009, com o objetivo de explorar mais intensamente este tema, faço uso de alguns recursos para registrar as atividades realizadas, buscando dar visibilidade ao processo de observação. Para tanto, utilizo o registro audiovisual, como a fotografia, filmagens e gravações, bem como o relato por escrito das crianças e suas produções artísticas, dentre estas, o desenho e a modelagem. Para garantir o sigilo dos nomes das crianças quanto à descrição de seus relatos, passei a nomeá-las com nome de flores, tanto às meninas como aos meninos. Em 2010, para buscar a compreensão do “todo” vivido, não realizo registros audiovisuais, busco refletir as ações entrelaçando teoria e prática artística. Estes estudos exploratórios e descritivos foram os alicerces para toda a elaboração e construção do projeto de pesquisa para o Mestrado que segue as normas da ABNT. A pesquisa é norteada pela fenomenologia de Maurice Merleau- Ponty, que passa a ser além do método, a sustentação teórica para se chegar e transitar na práxis pedagógica. Convidados, como Gaston Bachelard, John Dewey, Fayga Ostrower, Rudolf Arnheim nos acompanharão, assim como outros autores que trabalham pela via dos “pensares fenomenológicos”, em busca de compreender como se dá o conhecimento significativo da arte na práxis pedagógica. Cenário A fenomenologia nasceu na segunda metade do século XIX, por volta de 1850, provém do termo grego Phainomenon, conforme Joel Martins e Maria Bicudo (2006), significa aquilo que se mostra em si mesmo, o manifesto e logos, como sendo o discurso esclarecedor. Assim, fenomenologia quer dizer discurso esclarecedor a respeito daquilo que se mostra por si mesmo. Para o pesquisador Joel Martins, a fenomenologia procura enfocar o fenômeno “entendido como o que se manifesta em seus modos de aparecer, olhando-o em sua totalidade, de maneira direta, sem a intervenção de conceitos prévios que o definam e sem basear-se em um quadro teórico prévio que enquadre as explicações sobre o visto” (MARTINS, BICUDO, 2006, p. 16). A convicção de Merleau-Ponty de que os problemas da filosofia são submetidos a compreender a percepção, ou seja, que reaprendamos a ver o mundo vem de seu interesse na leitura fenomenológica de Husserl. Fenomenologia para Merleau-Ponty, é a volta às operações concretas do sujeito, pois procura examinar a experiência humana, o modo de pensar, algo a ser experienciado e relacionado com o ser que a vivencia, ou seja, “ir às coisas mesmas”6 ao primordial, à essência. Para Merleau-Ponty (2006a), a fenomenologia só é acessível com o método fenomenológico, cuja descrição consiste em descrever a experiência no espaço-tempo vivido; a redução fenomenológica ou redução que consiste em perceber o eu-outro na experiência vivida, selecionando com base em certo afastamento, quais partes da descrição são essenciais; e, a reflexão ou 6 Ir às “coisas mesmas” para Merleau-Ponty (2004b), que dizer buscar o significado das coisas pela vivência, onde não há separação de alma e corpo, onde não há conceitos já predefinidos. compreensão, é uma tentativa de especificar o significativo da experiência baseada na descrição e na redução. A fenomenologia só é acessível a um método fenomenológico. (...) Trata-se de descrever, não de explicar nem de analisar. (...) A melhor fórmula da redução é sem dúvida aquela que lhe dava Eugen Fink, o assistente de Husserl, quando falava de uma ‘admiração’ diante do mundo. A reflexão não se retira do mundo em direção à unidade da consciência enquanto fundamento do mundo; ela toma distância para ver brotar as transcendências, ela distende os fios intencionais que nos ligam ao mundo para fazê-los aparecer, ela só é consciência do mundo porque o revela como estranho e paradoxal. (MERLEAU-PONTY, 2006a, p. 2-10). Durante toda a observação que envolveu a pesquisa, o contato com a matéria foi fundamental ao processo de criação. É pela matéria que damos visibilidade ao pensamento. Portanto, o primeiro momento da investigação foi promover o acesso com a qualidade e a variedade de técnicas e materiais. Contudo, elejo a matéria como matéria-visível- sensível, pois não a sinto apenas como um suporte plástico à materialização do processo criativo, mas, como um “prolongamento”, um entrelaçamento do próprio corpo como dirá Merleau-Ponty (2004b), com a matéria, que dialoga e, que na qual o corpo, como também ressaltaria Bachelard (2001), necessita da matéria, naquele momento para poder se expressar de maneira única e significativamente consigo mesmo. Para Merleau-Ponty (2006a), o visível é o que se apreende com os olhos e o sensível é o que se percebe pelos sentidos. Neste momento, infiro com o filósofo, concebendo a matéria como sendo, matéria-visível-sensível. Unida a este prolongamento de expressão, temos a percepção, que é dada pela experiência vivida. É pela percepção que retomamos a fonte de nossa existência no mundo – seu significado. Desta forma, está ligada a uma visão do todo, a um conjunto visual que envolve olhar o objeto e perdê-lo no fundo, mas ao mesmo tempo ver o objeto em meio a seu fundo, isto é, uma “visão do conjunto”. Assim, a visão de conjunto envolve tanto o que se olha como quem o olha. Portanto, os olhos como órgãos fazem com que eu veja com vários olhares, várias perspectivas. O olhar com o corpo identifica algo que conheço. A percepção (...) é o fundo sobre o qual todos os atos se destacam e ela é pressuposta por eles. O mundo não é um objeto do qual possuo comigo a lei de constituição; ele é o meio natural e o campo de todos os meus pensamentos e de todas as minhas percepções explícitas. A verdade não ‘habita’ apenas o ‘homem interior’, ou, antes, não existe homem interior, o homem está no mundo, é no mundo que ele se conhece. (MERLEAU- PONTY, 2006a, p. 6). Nessa perspectiva, Merleau-Ponty (2004b) aponta que a percepção é constituída por um corpo reflexivo, isto é, que percebe e é percebido, que ao olhar vê-se, é esta totalidade de eu-mundo que o filósofo nos mostra. Trata-se de um corpo móvel que faz parte do mundo visível, onde posso dirigi-lo, é em meio dele que reconheço as coisas e reconheço-me. Apoiada nesse modo de pensar, nas experiências artísticas das crianças e em seus relatos, percebi que o entrelaçamento da matéria- visível-sensível ao corpo e à percepção no processo de criação, se apresentou como formas inesgotáveis de investigação do conhecimento significativo. A filosofia atual de Maurice Merleau-Ponty, pilar desta pesquisa destina-se a rever e superar alguns conceitos da fenomenologia, ampliando o sentido dialético da relação do homem com o mundo (eu- mundo). O autor citado traz o corpo, como forma de compreensão de mundo e, por isso, interroga a visão. Procura buscar as coisas em seu estado primordial, ou seja, aprender a ver em meio às suas experiências vividas e não por modelos ou conceitos preestabelecidos. É um aprender por um entrelaçamento do eu-mundo, sujeito-objeto como parte integrante do ser, “e o mundo é feito do estofo mesmo do corpo” (MERLEAU- PONTY, 2004b, p. 17). Merleau-Ponty busca a unidade do corpo e do mundo, ou seja, do homem como um corpo atual que desvela o ser na profundidade de mundo. Há uma identificação do corpo com o mundo. Ele olha tudo e a si mesmo; ao olhar, olha-se; ao tocar, toca-se, é o amadurecimento de uma visão, “um entrelaçamento de visão e de movimento”. Ele quer nos apontar para esta unidade do olho e do espírito. São meus olhos que me levam ao meu e ao ser dos outros. Pelo corpo, o homem faz do mundo um prolongamento de si. Não somos a junção de duas partes, matéria e espírito são um todo, corpo e espírito, como atuais no mundo. As experiências vividas são vias de acesso à arte. Na arte, refletimos nossa expressão – uma criação em que não há separação de interior-exterior, vidente-visível. A Arte celebra o “enigma da visibilidade” (p. 20). Para Merleau-Ponty, o espaço é o contato a partir de mim, vivo-o por dentro, estou englobado nele é, portanto, o lugar onde habita a alma. Não há visão sem pensamento, nem pensamento sem corpo. O Corpo é para alma seu espaço natal e a matriz de qualquer outro espaço existente. Assim a visão se desdobra: há a visão sobre a qual reflito, não posso pensá-la de outro modo senão como pensamento, inspeção do Espírito, julgamento, leitura de signos. E há visão que se efetua, pensamento honorário ou instituído, esmagado num corpo seu, visão da qual não se pode ter idéia senão exercendo-a, que introduz, entre o espaço e o pensamento, a ordem autônoma do composto da alma e de corpo. O enigma da visão não é eliminado: é transferido do “pensamento de ver” à visão em ato. (MERLEAU-PONTY, 2004b, p. 31). Desta forma, diz Merleau-Ponty minha percepção é dada em um espaço baseado em mim. Eu o vivo por dentro, estou englobado nele. O mundo está a meu redor e eu estou em meio às coisas, faço parte delas. Neste sentido, o filósofo chama nossa atenção para algo importante, ou seja, darmos conta que fazemos parte da paisagem, que sou um ser integrante desta “circunvizinhança”, que dialogo com este mundo percebido e que, simultaneamente, está entrelaçado em mim. Desse modo, não há história separada de nossas vivências. Toda nossa ação e todo o conhecimento são feitos por um processo de experiências vividas. Pautados nessa reflexão, podemos dizer que estas experiências constituem-se em um aspecto fundamental para a educação, bem como para qualquer área do conhecimento. Trata-se de uma necessidade emergente de modificação das condições humanas na sociedade. Em meio a esta paisagem artística e pedagógica, deparada por um universo complexo, que é o ensino e aprendizagem da arte, avistei um campo infindável de reflexões, indagações, relações e assimilações, nos quais sinto que as relações eu-mundo impulsionam-me. Nessa perspectiva, o objetivo desta pesquisa é investigar como se dá o conhecimento significativo da arte na práxis pedagógica! Tal expressão amplia a necessidade de investigar situações de experimentações teórico-artísticas que provoquem ressonâncias e colaborem para o conhecimento da arte. Assim sendo, durante os 4 anos e meio de pesquisa (meados de 2006-2010) com crianças entre 6 a 18 anos das classes regulares da Escola Estadual Professor João Clímaco da Silva Kruse, a intenção foi possibilitar a esses alunos experiências que fizessem sentido, tornando-as significativas, tanto para compreensão da arte, de si e de mundo. Neste sentido, cabe lembrar que, para compreender o significado do fenômeno foi utilizado o método fenomenológico da descrição, redução e reflexão7, como forma de reflexão. Antes que pareça ao leitor um método de pesquisa elaborado para o ensino e aprendizagem da arte, trata-se em uma proposta pedagógica que visa experienciar com base no processo de criação vivências significativas para o conhecimento da arte. 7 Método que será abordado no subcapítulo: Metodologia e percursos. A pesquisa parte do ensaio das experiências artísticas da autora, entrelaçada à prática pedagógica, para juntos “reaprender a ver o mundo”8. Apoiada nesta investigação, busco caminhos que me mostrem como se dá o conhecimento significativo da arte. Neste sentido, as reflexões em meio às práticas pedagógicas proporcionaram formas, modos de viver, experienciar e perceber ações, buscando “novos rumos” e reflexões a respeito dos processos e procedimentos em artes. Durante a leitura desta pesquisa, gostaria de esclarecer ao leitor que o sentido da palavra experiência foi ampliado em outro autor, cuja importância para educação foi promover o vínculo entre pensar e agir. O encontro com John Dewey estruturou alguns pensamentos surgidos durante a investigação. John Dewey (1985) propõe aprender, fazendo com a experiência em um processo continuo. Para Dewey, a experiência está implícita no próprio processo de vida, na relação do eu e do mundo em condições de resistência e conflito, implicados na qualidade de uma experiência. Esta qualidade dependerá da relação de como observamos, pensamos, desejamos e alcançamos de uma experiência. Assim, uma experiência será completa quando houver a união do pensamento (consciência), o estético (percepção) e a emoção (sentimento). Apesar das concepções de Dewey e Merleau-Ponty serem bem distintas, percebe-se nesses teóricos um movimento de buscar significação e “verdades” do ser com o mundo, pautadas nas experiências. Dewey qualifica uma experiência, entrelaçando para tanto, o pensamento, a prática e o emocional, no que irá chamar de experiência completa. 8“Reaprender a ver o mundo” é o termo utilizado por Maurice Merleau-Ponty que, de certa forma, traduz sua filosofia. Merleau-Ponty aponta o corpo atual, como forma de nos relacionar e compreendermos o mundo, a si e a arte, por meio de nossas experiências vividas. Portanto, as experiências vividas de Merleau-Ponty e a experiência completa de Dewey são passagens do mundo percebido para o mundo do conhecimento. Dessa acepção, como será a passagem do mundo percebido da criança para o mundo do conhecimento? Merleau-Ponty (2006b) propõe-se a “reconstruir” uma “psicologia dinâmica móvel” da criança. Busca compreender a construção do mundo da criança, sua constituição como “ser-no-mundo” em um campo corporal e em sua expressão. Para o autor, o desvelar da significação e da “representação da imagem” ocorreu em meio ao horizonte de sua história, de sua cultura e da percepção de mundo. Neste sentido, o desenho infantil é a “representação” do mundo onde a criança vive, porém, conforme o filósofo, esta representação nunca será considerada como uma cópia do mundo que se apresenta à criança, mas, como um ensaio de expressão. Na experiência vivida de Merleau-Ponty, na qual a criança representa o mundo em forma de um ensaio da expressão e por meio da experiência completa de Dewey, gostaria de reportar-me também, entre outros autores, a Gaston Bachelard, filósofo que desvela a magia da matéria. Para Bachelard (2001), a matéria nos instrui, revelando nossas próprias forças em um diálogo acasalador. Manejar materiais diversos e bem individualizados auxiliam no processo de aquisição de tipos individualizados de flexibilidade e decisão. Desse modo, na relação de teoria-prática artística, exercito meu olhar. Não se aprende ver em alguns dias, talvez nem em alguns anos, mas, no exercício contínuo de ver o mundo percebido. Só se aprende vendo, só se percebe experienciando o mundo onde vivemos. Neste exercício de um de vir a ser, onde o fazer tornou-se gesto, traz-me o visível, experienciamos e vivemos fatos significativos. É entre esta paisagem que venho desenhando meu pensamento. Dessa forma, a pesquisa está dividida da seguinte forma: no Capítulo I: MAURICE MERLEAU-PONTY E A ARTE em: O Encontro com a fenomenologia de Maurice Merleau-Ponty, temendo o obscuramento do leitor quanto à proposta fenomenológica de Maurice Merleau-Ponty que norteia esta pesquisa, ofereço um encontro com as relações eu-mundo, sujeito-objeto essenciais à compreensão visual de mundo e que fundam as reflexões das experiências vividas, propostas pela investigação. Merleau-Ponty procura correlacionar a busca primordial de ir às coisas mesmas, comparada ao gesto do artista em transformar sua percepção de mundo, ou seja, sua compreensão visual de mundo em expressão artística. Como forma de situar o contato do ser-mundo no tecido do percebido, teço um paralelo de Paul Cézanne e o artista contemporâneo Frans Kracjberg em: A criação: o caminho do mundo percebido como expressão em Paul Cézanne e Frans Krajcberg. Dessas acepções, refletirão questões sobre os códigos da criação que unem as duas essências: percepção e pensamento, dando origem à obra. Partindo desta ideia, entro em: A criança e o desenho infantil em Merleau-Ponty. Procuro estabelecer conexões com o universo infantil. Este tópico busca compreender um conjunto de dados implicando a expressão da criança. Dessa perspectiva, Merleau-Ponty (2006b) reflete questões fundamentais do mundo da criança, sua constituição como “ser- no-mundo” em um campo corporal e o reflexo em sua expressão – o desenho infantil. Para Merleau-Ponty, o desenho infantil é um ensaio de expressões coextensivas com o mundo, ou seja, uma criação histórica social. No Capítulo II: EXPERIÊNCIAS VIVIDAS COMO FORMAS DE “REAPRENDER A VER O MUNDO”, após refletir as vivências da infância, esclareço como tudo começou em: Aonde tudo parece ter começado: ensaio artístico da autora. A pesquisa é fruto do prolongamento de um fazer poético e artístico da autora com uma necessidade atual de mudar a condição humana. Pautada no ensaio das experiências artísticas, aprofundo uma reflexão fenomenológica. Assim sendo, descrevo o processo de criação como forma de deflagrar a imbricação do visível- vidente e seus reflexos posteriores na práxis pedagógica. Ressalto em: Experiências contemporâneas no ensino da Arte: John Dewey e Merleau- Ponty, um movimento, apesar de suas distinções entre Merleau-Ponty e Dewey, retomar o significado do ser com o mundo em meio à experiência. Neste sentido, busco compreender as experiências propostas em sala de aula. Para Dewey, uma experiência deve ser completa, ou seja, o entrelaçamento da experiência de pensamento (consciência), experiência prática (fazer/percepção) e a experiência emocional (sentimento), isto é, o que qualifica a experiência vivida. Já para Merleau-Ponty, a compreensão do eu-mundo se dá em meio às experiências vividas por um corpo reflexivo. Para que o leitor compreenda toda a metodologia adotada nesta pesquisa, ofereço o Capítulo III: METODOLOGIA E PERCURSOS. Abro um instante, para descrever todo o processo de investigação, desde a Questão norteadora, Objetivos da pesquisa, Local de estudo, Sujeitos, Método e procedimentos utilizados, os Registros, parte da Compreensão do processo e os aspectos éticos que foram respeitados. Com o mapa dos percursos em mãos, utilizo a metodologia fenomenológica para deflagrar características comuns, buscando generalidades e não generalizações nas experiências vividas. Seguindo este pensamento, no Capítulo IV: ENCONTRO COM A PAISAGEM: COMPREENSÃO DAS EXPERIÊNCIAS VIVIDAS procuro compreender o fenômeno. Todo o capítulo visa à reflexão dos dados obtidos. Apoiados no processo de descrição, serão retomados os 4 anos de registros relacionando os exercícios artísticos com a teoria. Esta fusão aponta para o entrelaçamento da matéria-visível-sensível, o corpo e a percepção, como aspectos importantes para decifrar o objeto de estudo. Nesta acepção, torna-se preciso a Identificação e caracterização da unidade escolar, que constitui um momento de explanação do contexto político-social da escola e os recursos físicos onde a escola se insere. Recupera dados estatísticos da relação quantitativa de alunos por série, durante os anos de efetiva investigação. Esses dados nos oferecem uma visão panorâmica dos alunos envolvidos na pesquisa. Com a frase de Merleau-Ponty (2004b, p. 15), “É a totalidade de uma pintura que significa o mundo através dela, não cada uma de suas pequenas partes isoladamente”, sinto a necessidade de vislumbrar o todo da pesquisa. Desta forma: Desenhando o percurso: descrição dos projetos – uma tentativa de visualizar o todo do projeto, proporciona ao leitor uma aproximação com os projetos desenvolvidos, as influências e os questionamentos provocados pela imbricação teórico-artística. Após esta visão do todo, descrevo um dos 16 projetos. O projeto Eu-Outro no Mundo9, realizado, em 2009, com alunos da 3ª série (8-9 anos), contempla todo um processo de amadurecimento e de investigação. Neste sentido, pela descrição procuro dar a visibilidade de uma experiência, até chegar à reflexão e “compreensão de um caminho”. Realizei esta pesquisa acreditando que os pensamentos e aspectos articulados aqui, estruturassem novas formas de ver, desvelar e acessar códigos que auxiliassem no conhecimento significativo para o ensino da arte, de si e do mundo. Em meio a este campo, um caminho apresentou-se, não que eu já o conhecesse ou que se fez parecer, mas um caminho pelo qual tive a curiosidade de trilhar e descobrir por meio de experiências, aonde posso, devo, preciso e quero chegar. “Caminante no hay camino, el camino se hace al andar” 10. Antonio Machado 9 Projeto finalista no XI Prêmio Arte na escola Cidadã, São Paulo, 2010; que será descrito no capítulo IV. 10 Caminhante, não existe caminho, o caminho se faz ao andar. LAPIERRE, Nicole. Planos entrelaçados. In: Edgar Morin em foco. São Paulo: Cortez, 2008, p.14. MAURICE MERLEAU-PONTY E A ARTE Figura 1: A grande árvore, Florianópolis, 2007 Fenomenologia Por meio de uma ciência da experiência, a fenomenologia procura interrogar a experiência humana, o modo de pensar, algo a ser vivenciado e relacionado com o ser que experiência. (...) A experiência, emprega necessariamente uma forma de reflexão e esta reflexão deve incluir a possibilidade de observar as coisas como elas se manifestam na sua pureza original, e deixar-se guiar, exclusivamente por elas (MARTINS, DICHTCHEKENIAM, 1984, p. 79). A fenomenologia quer colocar-se “num há prévio”, em contato com o mundo, pegar o primordial, assim como faz o pintor, que não produz conceituações antecipadas, mas as vivencia na origem e no espanto da vida. Com base na fenomenologia, Merleau-Ponty (1991) propõe reaprender a ver o mundo. É por meio de meu olhar perceptivo que acontece a revelação do mundo sensível. O olhar transcende novas significações (significância). Assim: “(...) eu estou na resistência das coisas circundantes, na minha dependência do ambiente, das necessidades mais elementares do qual preciso para viver e sobreviver” (MARTINS, DICHTCHEKENIAM, 1984, p. 43-44). A convicção de Merleau-Ponty de que os problemas da filosofia são submetidos à compreensão da percepção, ou seja, que “reaprendamos a ver o mundo”; vem de seu interesse na leitura fenomenológica de Husserl. A fenomenologia, para Merleau-Ponty, está estruturada às voltas com as operações concretas do sujeito, pois procura examinar a experiência humana, o modo de pensar, algo a ser experienciado e relacionado com o ser que a vivencia, ou seja, “ir às coisas mesmas”, ao primordial, à essência. A fenomenologia propõe a "volta às coisas mesmas", exige sair deste mundo constituído reflexivamente, representado de modo conceitual com uma visão empírica, que modela o objeto em função do método, para retomar, resgatar esta volta a um compromisso mais originário. Pois, para a fenomenologia, antes do científico e cultural, está um viver que se abre ao conhecimento. Nesse sentido, a fenomenologia é a volta às operações concretas do sujeito; não prioriza, mas, sim, indissocia o sujeito-objeto na própria estrutura da vivência e experiência. Para Merleau-Ponty (2006a), o mundo de nossas experiências com as dos outros faz uma unidade pela retomada de nossas experiências passadas nas vivências presentes, e das experiências dos outros nas nossas, é o que irá chamar de “redução fenomenológica”. A fenomenologia, conforme Merleau-Ponty (2006a), estuda as essências, como por exemplo, a essência da percepção (mundo + imaginação) e da consciência (pensamento). Para o filósofo, a fenomenologia só é acessível a um método fenomenológico. Este prioriza a descrição, a redução e a reflexão como trajetórias qualitativas de interrogar o ser no mundo, visando a compreender as essências dos fenômenos. O objetivo da Descrição é descrever a natureza das experiências vividas, as relações do sujeito e o mundo. A Redução Fenomenológica é selecionar quais partes da descrição serão consideradas essenciais ao processo de reflexão. Para isto, precisa de um afastamento para melhor transcender e compreender, levando em consideração a engrenagem entre as experiências, que serão refletidas sob a perspectiva do observador (Para si – minha visão sobre eu mesma e a visão do outro sobre ele mesmo) e a do outro (Para o Outro – minha visão sobre o outro e a visão do outro sobre o eu). Já a Reflexão, é o atributo que procura explicar o significado, o que é essencial ao fenômeno. Portanto, o método fenomenológico parte da descrição e redução, como formas de se aproximar da compreensão dos significados. A fenomenologia, inserindo o corpo como “presente”, participando do conhecimento, pretende “habitar o mundo, defrontar-se com o mundo atual” (MARTINS, DICHTCHEKENIAM, 1984, p. 45). A tarefa da fenomenologia (1984) é "revelar este mundo vivido antes "de ser significado”. Antes dos conceitos que temos dele, precisamos reaprender a ver o mundo. Ver o mundo como nossa história, nossas ações, percepções e decisões. Merleau-Ponry toma como ponto de partida o fenômeno do comportamento e nele a percepção, ou seja, o contato com o mundo de nossas experimentações. O mundo, afirma Ricoer citado por Joel Martins, Dichtchekeniam, é o [...] horizonte mais concreto de nossa existência. [...] é ao nível da percepção que se destaca esse horizonte único de nossa vida de homem. A percepção é a matriz comum de todas as atitudes. É no mundo percebido, no mundo que envolve minha existência carnal, que se erguem os laboratórios e se realizam os cálculos do sábio, as casas, as bibliotecas, os museus e as igrejas (MARTINS, DICHTCHEKENIAM, 1984, p. 67). Conforme os autores (1984, p. 58-59), o mundo como foi citado anteriormente, deixa de ser algo solitário, o homem está no mundo e é nele que se conhece. Assim, a fenomenologia é um constante recomeçar, está sempre em estado de aspiração. Podemos compreender isso se considerarmos que a fenomenologia ‘se deixa praticar e reconhecer como estilo, se deixa reconhecer como movimento’ e, além disso, se entendermos que é ‘em nós mesmos que encontraremos a unidade da fenomenologia e seu verdadeiro sentido’. [...] eu não sou o resultado do entrelaçamento de causalidades múltiplas que determinam meu corpo ou meu psiquismo [...] tudo o que sei a respeito do mundo, mesmo pela ciência, eu sei a partir de uma visão minha ou de uma experiência de mundo sem a qual os símbolos da ciência não significariam nada. (MARTINS, DICHTCHEKENIAM, 1984, p. 61). Enfim, ver fenomenologicamente significa compreender as coisas-que- se-doam-à-experiência. Ver atentamente não só os objetos concretos que nos rodeiam, mas, os que também se produzem diante da própria experiência, formas, as mais diversas, objetos percebidos por meio dos sentidos imaginados, lembrados, etc. Concentrar-se no campo da experiência pura presente em um processo de descrição, sendo necessário delimitar o campo. "Husserl apela para que os fenomenólogos vejam não as particularidades, mas que mergulhem nos aspectos essenciais (nas essências) dos fenômenos” (MARTINS, DICHTCHEKENIAM, 1984, p. 61). Merleau-Ponty foi o discípulo mais autêntico da filosofia husseliana que manifestou com vigor as qualidades primordiais: "a perplexidade diante do mundo e o anseio constante em reaprender a ver este mundo" (MARTINS, DICHTCHEKENIAM, 1984, p. 67). A volta “às coisas mesmas”. Husserl deseja a volta para o mundo prévio, antes das transformações feitas pela ciência e pela filosofia. Para Merleau-Ponty (2004b, p. 16 ) deve-se não mais analisar as coisas, mas, sim, descrevê-las, para buscar a compreensão e reflexão. Falar poeticamente da visão de um corpo operante e atual em que deve existir o entrelaçamento “da visão (corpo) e do movimento. Este movimento não é uma decisão do espírito, mas, "a sequência natural e o amadurecimento de uma visão”. É na arte e, notadamente, na pintura que Merleau-Ponty vê esta fusão espontânea entre o mundo vidente e o visível. O pintor, diz Merleau- Ponty, tem carência de revelação. Revelação deste mundo em contato com ele. Dá seu corpo a este desejo, seus olhos e suas mãos dão a ver, a fazer, pois só se aprende fazendo, se fazendo e se vê vendo. [...] Ele aí está, forte ou fraco na vida, porém soberano incontestável na sua ruminação do mundo, sem outra ‘técnica’ senão a que seus olhos e suas mãos oferecem à força de ver, à força de pintar, obstinados em tirar deste mundo, onde soam os escândalos e as glórias da história[...]” (MERLEAU-PONTY, 2004b, p. 15). Merleau-Ponty (1991, p. 67) via na fenomenologia a tarefa de "revelar o mistério do mundo e o mistério da razão”. A obra de arte, no enfoque fenomenológico, é entendida como revelação. Uma aparição, que vem a nós, pois nos suscita algo porque vamos a ela. O mundo sem a consciência não é nada e vice-versa. Uma consciência desperta e disposta (imaginante) dá vida à obra. A obra de arte tem seu próprio ser, mas, para que este ser adquira significação espiritual é preciso que se dê uma consciência que o perceba esteticamente e o vivencie. Portanto, para o acesso a uma expressão fenomenológica, é necessário voltarmos a nós e aos modos pelos quais percebemos e nos comportamos ante a realidade. Investigar o "como" daquilo que se mostra por si mesmo, envolve ir à coisa mesma. Faz-se preciso o envolvimento, o exercitar-se, buscar e experimentar todas as possibilidades geradoras da realidade. Desse modo o campo da percepção consiste no envolvimento de um foco ou núcleo de figura e na margem de objetos copercebidos (objetos conjuntamente percebidos, como paredes, cadeiras e mesas). A fenomenologia caracteriza-se por lidar com aquilo que deve ser tomado para ser experienciado. Começa com as observações dirigidas ao campo dos fenômenos experienciais possíveis. Faz-se o processo de conhecimento das partes em um todo, para então, perceber que em cada parte há um todo. O mundo é aquilo mesmo que nós nos representamos, não como homens ou como sujeitos empíricos, mas enquanto somos todos uma única luz e enquanto participamos do Uno sem dividi-lo. (MERLEAU-PONTY, 2006a, p.8). Para entender a fenomenologia, temos de nos colocar na prática, ou melhor no mundo, vendo, aprendendo, ensinando e fazendo esta experiência vivida, buscando estabelecer uma nova perspectiva para ver as coisas. Quando abandonamos um método conhecido e familiar deparamo-no com o desconhecido. Torna-se necessária uma nova linguagem para compreender o que é “novo”, ou seja, novas atribuições são dadas, para que possamos entender as coisas, torná-las desveladas, até o que está embaçado torne-se linguagem e os significados adquiram maior significância. No livro Signos (1991, p. 45) Merleau-Ponty trata desta vivência dirigida à linguagem. Para compreendê-la, "basta que nos deixemos envolver por sua vida, por seu movimento de diferenciação e de articulação, por sua gesticulação eloquente”. E isto não é diferente ao pintor. "Diz-se, geralmente que o pintor nos atinge através do mundo tácito das cores e das linhas, dirige-se a um poder de decifração informulado em nós que, justamente, só controlaremos depois de tê-lo exercido cegamente, depois de ter amado a obra”. A realidade é tudo que está aí. O sujeito envolvido é a soma da realidade, que é dada e já está lá, mas, que pode ser transformada pelo sujeito. A correlação sujeito-mundo poderia conceber o esforço pela retomada reflexiva da vivência, como forma de comprometimento. Partindo das questões refletidas por Maurice Merleau-Ponty que, em minhas experiências vividas, encontro a ideia de mundo percebido como possibilidade de retomar a fonte de nossa existência no mundo, ou seja, ir às coisas mesmas11. Buscar o sentido e o significado das coisas do mundo da percepção, como modo de reconhecer e reconhecer-se no mundo do conhecimento. A atribuição de significado conforme Merleau-Ponty é dada por nossa percepção no mundo, ou seja, nossa percepção dos objetos em meio às coisas, ao espaço, à relação com o outro e à nossa correlação corporal com o mundo que experienciamos. Nossa percepção diz Merleau-Ponty (2006a, p. 103), “chega a objetos, e o objeto, uma vez 11 No Capítulo II, realizo um ensaio sobre meu processo de criação, articulando arte-experiência vivida. constituído, parece como razão de todas as experiências que dele tivemos ou que deles poderíamos ter”. Para Merleau-Ponty, construímos nossa percepção com o percebido, ou seja, pela consciência de algo12. Percepção para Merleau- Ponty (2006a, p. 06), “não é uma ciência de mundo, não é nem mesmo um ato, uma tomada de posição deliberada; ela é o fundo sobre o qual todos os atos se destacam e ela é pressuposta por eles”. Assim, a percepção versa sobre as relações do ser com o mundo. Relações de comunicação com o todo, com o cenário visual entrelaçado a nossa percepção, pois, para Merleau-Ponty (2006a), o algo percebido está em meio a outras coisas que fazem parte do campo visual a que pertenço. Na experiência perceptiva, há uma camada de impressões, estas surgem com a percepção e estão carregadas de sentidos. Desta maneira, construímos nossa percepção de e com o percebido, isto significa dizer que a percepção é a relação de algo vivido, experienciado, em meio ao campo visual. O campo visual para o Merleau-Ponty, é este meio singular no qual as noções contraditórias se entrecruzam porque os objetos – as retas de Muller-Lyer – não estão postos ali no terreno do ser, em que uma comparação seria possível, mas são apreendido cada um em seu contexto particular, como se não pertencessem ao mesmo universo (MERLEAU-PONTY, 2006a, p. 27). Visão O visível é o que se apreende com os olhos, e o sensível é o que se percebe pelos sentidos, e é em meio ao visível-sensível que buscamos 12 Consciência é sempre consciência de algo (MERLEAU-PONTY, 2006a, p. 06). compreender o sentir (consciência/percepção). Assim, “e é este domínio pré-objetivo que precisamos explorar em nós mesmos se queremos compreender o sentir” (MERLEAU-PONTY, 2006a, p. 34). Neste sentido, o filósofo aponta uma relação do olhar e da visão, mas, ao mesmo tempo, há algumas especificidades. Os olhos como órgãos fazem com que eu veja. O olhar identifica algo que conheço. Ver um objeto é ou possuí-lo à margem do campo visual e poder fixá-lo, ou então corresponder efetivamente a essa solicitação, fixando-o. Quando eu o fixo, ancoro-me nele, mas esta ‘parada’ do olhar é apenas uma modalidade de seu movimento: continuo no interior de um objeto a exploração que, há pouco, sobrevoava-os a todos, com um único movimento fecho a paisagem e abro o objeto (MERLEAU-PONTY, 2006a, p. 104). Olhar o objeto é perceber a figura e perdê-lo no fundo, ou seja, a circunvizinhança, porém para olhar esse objeto é preciso também percebê-lo nesta profundidade. Por isso, um depende do outro. É a construção da totalidade, objeto-mundo, sujeito-objeto, eu-mundo. Mesmo se eu nada soubesse de cones e de bastonetes, conceberia que é necessário adormecer a circunvizinhança para ver melhor o objeto, e perder em fundo o que se ganha em figura, porque olhar o objeto é entranhar-se nele, e porque os objetos formam um sistema em que um não pode se mostrar sem esconder outros (MERLEAU-PONTY, 2006a, p. 104). Ver um objeto é vê-lo em um sistema em que se dispõem outros objetos, apoiado nesse determinado campo visual irá garantir o atributo ao objeto visto. Não é um objeto apreendido em uma única visão, mas tudo aquilo que vemos dele com os outros. Portanto, o objeto é visto de todos os tempos, todas as partes e pelo mesmo meio, que é a estrutura do horizonte. É interessante compreender que a noção de horizonte para Merleau-Ponty (2006a, p. 105), “é aquilo que assegura a identidade do objeto no decorrer da exploração, é o correlativo da potência próxima que meu olhar conserva sobre os objetos que acaba de percorrer e que já tem sobre os novos detalhes que vai descobrir”. Assim, é pelo órgão olho que se dá a visão, é nesta correlação objeto-horizonte13 que percebemos os objetos do mundo e com base na coexistência do eu-mundo, desenvolvemos nosso campo de conhecimento. Contudo, o objeto possui uma infinidade de perspectivas, desencadeando uma “visão com mil olhares”. Dessa forma, o objeto é visto em um horizonte de experiências vividas. Portanto, a visão do objeto nos faz ultrapassar os limites de nossa experiência efetiva, que se aniquila em um ser estranho, de forma que para terminar crê extrair dele tudo aquilo que ela nos ensina. É este êxtase da experiência que faz com que toda percepção seja percepção de algo. (MERLEAU-PONTY, 2006a, p. 108). Neste sentido, poderíamos nos reportar a Paul Cézanne citado por Merleau-Ponty (2004b) e suas inúmeras pinturas: A montanha de Saint Victoire. Nelas, o artista curva-se em meio à natureza e, por experiências longas, as desenha e pinta várias vezes com “vários olhares”. Merleau-Ponty aponta que não temos a visão total de um objeto. Meu olhar vê um fragmento da paisagem, porém todas estão ali, isto é o que o filósofo chama de “Visão de conjunto”. 13 Objeto-horizonte para Merleau-Ponty, quer dizer, perspectiva (2006a, p. 105). (...) não identifico o objeto detalhado que agora tenho com aquele sobre o qual meu olhar há pouco deslizava, comparando expressamente estes detalhes com uma recordação da primeira visão de conjunto. Quando em um filme, a câmera se dirige a um objeto e aproxima-se dele para apresentá-lo a nós em primeiro plano, podemos muito bem lembrar-nos de que se trata do cinzeiro ou da mão de um personagem, nós não o identificamos efetivamente. Isso ocorre porque a tela não tem horizontes (MERLEAU-PONTY, 2006a, p. 104). Ver é entrar em um universo de objetos e sujeitos que se mostram. Olhar um objeto é “vir habitá-lo e dali apreender todas as coisas segundo a face que elas voltam para ele” (MERLEAU-PONTY, 2004b, p. 105). Portanto, continua o filósofo, posso ver um objeto a partir do mundo a seu redor, que nos é apreendido como coexistente. Esta penetração dos objetos se dá por “todos” os lados e, por uma infinidade de olhares que se “entrecruzam em sua profundeza e não deixam nada escondido”. Então, o objeto é visto a partir de todos os tempos, de todas as partes e pelo mesmo meio. Corpo/Visão Merleau-Ponty diz que a percepção é constituída por um corpo, um corpo atual, um corpo reflexível. Uma das grandes contribuições do autor para a filosofia atual é trazer o corpo, como corpo atual no mundo que percebe e é percebido. Trata-se de um corpo móvel que faz parte do mundo visível, onde posso dirigi-lo, pois é no meio do mundo que me reconheço como corpo reflexível. O enigma consiste em meu corpo ser ao mesmo tempo vidente e visível. Ele, que olha todas as coisas, pode também se olhar, e reconhecer no que vê então o ‘outro lado’ de seu poder vidente. Ele se vê vidente, ele se toca tocante, é visível para si mesmo. É um si, não por transparência, como o pensamento, que só pensa seja o que for assimilando-o, constituindo-o, transformando-o em pensamento – mas um si por confusão, por narcisismo, inerência daquele que vê ao que ele vê, daquele que toca ao que ele toca, do senciente ao sentido – um si que é tomado portanto entre as coisas, que tem uma face e um dorso, um passado e um futuro (MERLEAU-PONTY, 2004b, p. 17). Desta forma, continua Merleau-Ponty, meu corpo móvel e visível faz parte das coisas do mundo, “está preso no tecido do mundo, e sua coesão é a de uma coisa”. Isto significa dizer que “a visão é tomada ou se faz do meio das coisas, lá onde persiste, como a água-mãe no cristal, a indivisão do senciente e do sentido” (MERLEAU-PONTY, 2004b, p. 17). Merleau-Ponty (2004b, p. 33) interroga a visão. Procura desvelar que ciência secreta é esta a do artista, ou seja, buscar as coisas em seu estado primordial, na vivência das coisas tornando visível o vidente com base em sua expressão e sua forma de percepção de mundo. “Ora, essa filosofia por fazer é a que anima o pintor, não quando exprime opiniões sobre o mundo, mas no instante em que sua visão se faz gesto, quando, dirá Cézanne, ele ‘pensa por meio da pintura’”. Afinal que gesto é este? É com meu olhar no corpo que percebo as coisas, que as transformo, e elas me transformam. É com a operação expressiva de meu corpo, iniciada pela percepção, que se amplifica na arte o campo das significações. Assim, como me instalo no mundo com meu corpo em movimento, instalo-me em vidas que não são minhas, torno- me responsável, suscito uma vida universal. "E, da mesma forma que a operação do corpo, a das palavras ou das pinturas me permanece obscura: as palavras, os traços, as cores que me exprimem saem de mim como os meus gestos são-me arrancados pelo que quero dizer com os meus gestos pelo que quero fazer” (MERLEAU-PONTY, 1991, p. 79). Os gestos transformam-se em obras nos quais é indiscritível sua contemplação. Só a vivência dará sua dimensão. Neste sentido, Derrida, Bergstein expressam exemplarmente o seguinte: Não descreverei portanto um quadro de Van Gogh depois de Van Gogh, mas direi que Van Gogh é pintor porque ele recolheu a natureza, que ele como que a retranspirou e fez suar, que fez jorrar em feixes sobre suas telas, em braçadas como que monumentais de cor, secular trituração de elementos, a temível pressão elementar de apóstrofes, estrias vírgulas, barras cujos aspectos naturais não se pode mais acreditar, depoisdele, que não sejam feitos (DERRIDA, BERGSTEIN, 1998, p. 39). Merleau-Ponty recusa toda a cristalização da obra em sistema acabado e fechado. No livro citado, Signos (1991), o filósofo cita Malraux que diz: "uma obra feita não é necessariamente acabada e uma obra acabada não é necessariamente feita” (MERLEAU-PONTY, 1991, p. 52). A obra consumada é a que convida o espectador a recomeçar o gesto, a recriá-la. Tornar-se meio universal de compreender e fazer compreender, de ver e dar a ver, é esta maneira de "habitar o mundo”, que o artista interpretará e passará à obra. Enfim, uma ação, uma visão, descentraliza e reagrupa os objetos no mundo do artista. Para Merleau-Ponty (2004b), a arte não é uma imitação nem uma fabricação, conforme os desejos do instinto ou gosto estético, é tão somente uma operação da expressão que dá a visibilidade e o porvir ao que se está por fazer. Por sua vez, Merleau-Ponty (2004b, p. 15) cita que um quadro não revela todo visível, mas o interior de um ser que o criou, assim, questiona “qual é, pois, essa ciência secreta que ele [pintor] possui ou que busca?” O pintor vive na fascinação. Suas ações mais próprias – gestos, os traços de que só ele é capaz, e que serão revelação para outros, porque não têm as mesmas carências que ele – parecem-lhe emanar das coisas mesmas, como o desenho das constelações. Entre ele o visível, os papéis inevitavelmente se invertem. Por isso tantos pintores disseram que as coisas os olham [...] (MERLEAU-PONTY, 2004b, p. 21-22). Cézanne, citado por Merleau-Ponty (2004b), afirma que percebemos coisas, entendemo-nos a seu respeito, ancoramo-nos nelas e é sobre este pedestal de “natureza” que o objeto da ciência deveria ser vivenciado, pois o objeto da ciência está nas coisas do mundo: átomo e elétrons, que são estruturas deste “mundo vivido-por-mim-carne-e- espírito”. Os pintores, conforme Merleau-Ponty, fazem uma espécie de ciência secreta que levam artistas, como Van Gogh e Cézanne a irem mais longe. Cézanne escreveu a seu amigo Émile Zola, em outubro de 1866, comentando sobre sua pintura com base na natureza. Mas, veja, todos os quadros feitos no interior, dentro do ateliê, nunca serão tão bons quanto às coisas feitas ao ar livre. Representando cenas do exterior, os contrastes das figuras no espaço são espantosos, e a paisagem é magnífica. Vejo coisas maravilhosas, e é preciso que eu ma determine a só fazer coisas ao ar livre. Já lhe falei de uma tela que vou tentar, representando Marion e Valabrégue partindo em direção ao motivo (a paisagem é claro). – O esboço que Guillemet achou e que fiz a partir do natural supera e faz parecer ruim todo o resto. Acredito que todos os quadros dos velhos mestres que representam coisas ao ar livre tenham sido feitos de imaginação, pois não me parecem ter o aspecto verdadeiro, e sobretudo original, que a natureza oferece (CHIPP, 1996, p. 13). Para Merleau-Ponty, o enigma é meu corpo reflexivo buscar nas experiências vividas o sentido que damos às coisas do mundo, é mostrar um mundo “novo” repleto de significações. E com um olhar descobridor que vai “às coisas mesmas”, em que há um entrelaçamento entre olhar e olhado, tocar e tocado, em uma imbricação onde não se sabe quem é o tocado e quem é o tocante. Neste sentido, o olhar do artista não é apenas uma visão empírica do mundo exterior, mas a possibilidade de dar visibilidade ao que foi sentido, ao significado que esta visão proporcionou- lhe. O autor cita (2004b, p. 16), “Imerso no visível por seu corpo, ele próprio visível, o vidente não se apropria do que vê; apenas se aproxima dele pelo olhar, se abre ao mundo”. O artista está em sintonia, em comunhão com a vivência do mundo e com os outros, por isso identifica- se, reconhece e busca se conhecer. A paisagem diz Cézanne apud Merleau-Ponty (2004b, p. 133), “pensa em mim, e eu sou a sua consciência”. Ao se expressar, o artista compreende a formalidade aparente do objeto e presentifica uma “outra realidade”, um mundo a ser visto. O enigma consiste em meu corpo ser ao mesmo tempo vidente e visível. Ele, que olha todas as coisas, pode também se olhar, e se reconhecer no que vê então o ‘outro lado’ de seu poder vidente. Ele se vê vidente, ele se toca tocante, é visível e sensível para si mesmo. É um si, não por transparência, como o pensamento, que só pensa seja o que for assimilando-o, constituindo-o, transformando-o em pensamento – mas um si por confusão, por narcisismo, inerência daquele que vê ao que ele vê, daquele que toca ao que ele toca, do senciente ao sentido – um si que é tomado portanto entre as coisas, que tem uma face e um dorso, um passado e um futuro... (MERLEAU-PONTY, 2004b, p. 17). Meu corpo não está aquém ou além das coisas, meu corpo está no meio, faz parte do todo visível. Portanto, meu corpo é móvel, reforça o filósofo (2004b), vê e faz parte desse mundo visível. A visão depende do movimento de meu corpo. Portanto, só vemos o que se olha, ou seja, somos parte de um todo, de um mesmo ser, que, ao olhar, olha-se e, ao tocar, é tocado. É, portanto, um amadurecimento da visão. (...) esse corpo atual que digo meu, a sentinela que se posta silenciosamente sob minhas palavras e sob meus atos. E preciso que, com meu corpo despertem os corpos associados, os ‘outros’, que não são meus congêneres, como diz a zoologia, mas que me assediam, que eu assedio, com quem eu assedio um só ser atual, presente, como jamais animal assediou os de sua espécie, seu território ou seu meio (MERLEAU-PONTY, 2004b, p. 14- 15). O corpo atual, do qual Merleau-Ponty vem falando, não é matéria unicamente, mas é como um todo, ou seja, um corpo que pensa, que se vê no mundo e que vê as coisas; um corpo reflexivo. Deságua, pouco a pouco, na noção de uma consciência perceptiva solidária com o corpo (nível sensível), como corpo vivido, maneira pela qual nos instalamos no mundo (consciência representativa, que é a continuidade mais intelectual deste mundo). Portanto, o enigma consiste em um corpo humano que está no mundo, ao mesmo tempo, vidente e visível, entre o tateante e o tocado, entre um olho e outro, uma mão e outra. É um “entrelaçamento” do “senciente-sensível”, “e o mundo é feito do estofo mesmo do corpo” (MERLEAU-PONTY, 2004b, p. 17). Eu-mundo, objeto-sujeito, como partes integrantes do mesmo ser. O que está lá no mundo, está aqui no corpo, na alma. Este “mundo-de-minha-vida”, em que há a transfiguração em criação aos olhos, é o prosseguimento do mundo da percepção, “é o humos de todos os meus atos, o solo de todas as minhas atitudes, a camada primordial, anterior a toda multiplicidade cultural” (MARTINS, DICHTCHEKENIAM, 1984, p. 68). Somos um todo, corpo e espírito, como atuais no mundo. Corpo e espírito como meio de expressão. Toda nossa ação e todo o conhecimento se fazem por um processo de experiências vividas. Toda a história individual ou coletiva avança obliquamente para aquilo que queremos dizer, a fonte espontânea de nossa expressão. É nesta dialética interior-exterior, visível-invisível, forma-conteúdo, corpo-alma que Merleau-Ponty vê na arte, o acesso ao Ser. Vejamos como Merleau-Ponty concebe o ver, o pensar, o sentir na criação, ou seja, em meio às experiências vividas. Ao contemplarmos uma obra de arte, sentimos ou deveríamos sentir, de acordo com Merleau-Ponty, que não estamos diante de meras representações, isto porque, ao realizá-las, o artista deixou-se traspassar pelo mundo, acolheu esse mundo e nos devolveu por meio de formas intencionadas. É como se o ato do conhecimento do mundo fosse em meio à natureza. Para Merleau-Ponty (2000, p. 04) a natureza é o primordial, “é um objeto enigmático, um objeto que não é inteiramente objeto; ela não está inteiramente diante de nós. É o nosso solo, não aquilo que está diante, mas o que nos sustenta”. Desta forma, Merleau-Ponty (2004a), cita que o mundo percebido não é um conjunto de coisas naturais somente, mas, a arte da música, dos quadros, livros o que será chamado de ‘mundo cultural’. Durante a construção da expressão, estamos ligados sem concessões ao que nós expressamos – nossa história cultural. Cada movimento de nossa vontade e pensamento toma impulso em nossas vivências de mundo, isto é, na relação com as coisas, com o outro. Não há história separada de nossas vivências. “É certo que a vida não explica a obra, mas é certo também que elas se comunicam. A verdade é que essa obra por fazer exigia essa vida” (MERLEAU-PONTY, 2004b, p. 136). Portanto, podemos expressar o que somos e somos aquilo que vivemos. O pintor com seus olhos e suas mãos dá força de ver, pintar e transformar o mundo, porque faz de toda sua existência uma relação “atual” com o mundo. Ele se move prestando atenção às formas, vivendo e experienciando o mundo a sua volta, não por meio de conceitos preestabelecidos, mas, de descobertas conquistadas em sua vivência de mundo. “Essência e existência, imaginário e real, visível e invisível, a pintura confunde todas as nossas categorias ao desdobrar seu universo onírico de essências carnais, de semelhanças eficazes, de significações mudas” (MERLEAU-PONTY, 2004b, p. 23). Assim, as imagens elaboradas pelos artistas são, como cita Merleau-Ponty (2004b, p. 135), “advento”, um vir a ser daquilo que antes não existia, uma promessa infinita de “acontecimentos”. O artista desvela um mundo nunca visto. Um mundo eternamente “novo”. “Um pintor como Cézanne, um artista, um filósofo devem não apenas criar e exprimir uma idéia, mas ainda despertar as experiências que a enraizarão nas outras consciências. Se a obra é bem sucedida, ela tem o estranho poder de ensinar-se ela mesma”. O artista relaciona-se com um mundo da "sensação-revelação", ou seja, as aparências perceptivas que nos ligam à vida cotidiana. Inaugura um mundo suprarreal cheio de sentido. Portanto, a obra não é feita para ser vista, mas indica um mundo por ser visto. Nesse sentido, Bergson apud Ribon14 salientará que, para a "dupla abertura" do Ser ao homem e do homem ao Ser, funda uma comunidade dos homens da qual se pode observar uma prefiguração no desinteresse e na universalidade do juízo estético, dando um sentido à obra, que se projeta em nós. A obra não precisa de uma contextualização para ser compreendida, como citou anteriormente Merleau-Ponty, ela é criada para nos levar a habitar o mundo. Habitar por um caminhar de meu corpo 14 RIBON, Michel. A Arte e a natureza. São Paulo: Papirus, 1991, p. 131. móvel, o que olho e vejo, o que toca e toca-me, são percepções do meu corpo. Ao contemplarmos uma obra, lançamos um novo olhar sobre o mundo onde vivemos. A arte revela o "real, desenvolve-o, ilumina-o, recria-o, e sua luz pródiga, por nossa vez, incita-nos a recriá-lo” (RIBON, 1991, p. 131). Conforme Alfonso Quintás, A formação humana se realiza através de encontro. As leis deste jogo criador que é o encontro resplandecem de forma modelar na experiência estética. Esta experiência não se reduz a uma mera efusividade sentimental: constitui um modo de rigorosa criatividade. A experiência da contemplação da obra nos leva a estabelecer com a realidade "modos de unidade insuspeitavelmente profundos com certas realidades (QUINTÁS, 1993, p. 18). No mundo onde estamos, onde emergem as formas da natureza e da vida do espírito, reservado de significados inesgotáveis a serem descobertos, que a obra viverá para sempre. Curvando-se diante da obra perfeita da natureza, surge a inspiração, a dedicação, o motivo das pinturas de Cézanne. O contato primeiro a uma ótica visual desperta em Cézanne uma nova forma de olhar. Transpassa o que é visto, vai além do que a visão imediata vê. Nele, percebe-se também pelas sensações a união entre as coisas: Sujeito-Objeto, Corpo-Alma, Olho-Espírito, ou seja, a totalidade. Figura 2: Paul Cézanne, A montanha de Saint Victoire, 1904-1906, óleo sobre tela, 73 x 91 cm Conforme Merleau-Ponty, Cézanne quer pintar a matéria tomando forma, a ordem nascendo por uma organização espontânea em que haja o entrelaçamento entre as coisas percebidas e a ordem das ideias e da ciência. Diz Cézanne: "a arte é uma apercepção pessoal. Coloco esta apercepção na sensação e peço a inteligência organizá-la em obra” (MERLEAU-PONTY, 2004b, p. 128). A sensação forte da natureza é a "base necessária para sua concepção de arte, e sobre a qual repousa a grandeza e a beleza da obra futura” (CHIIP, 1996, p. 15), que se adquire por uma experiência e vivência longas. Cézanne fala: "é preciso aprender a ver por si mesmo"(CHIIP, 1996, p. 10), isto é Frequentem bons lugares, ou seja: Frequentem o Louvre. Mas, depois de ver os grandes mestres que lá repousam, é preciso sair depressa e vivificar em si mesmo, em contato com a natureza, os instintos, as sensações de arte que residem em nós”(CHIIP, 1996, p. 15). Assim, o sentido que Cézanne dará às coisas e aos rostos será o próprio mundo real, como ele aparecia, tais quais como os via e que pediam para assim serem pintados. Isto é o que Paul Klee diz: "a arte não reproduz o visível, mas torna visível” (CHIIP, 1998, p. 38). Para ele, o mundo objetivo, ou seja, aquele onde estamos inseridos, que nos rodeia, não é o único possível a se representar, pois existem outros "latentes". Vemos uma busca do artista na conciliação entre as coisas, e é com seu olhar descobridor e por meio de um corpo reflexível que transpassa o visível, que se conhece o invisível e retorna-se, por mutação, em obra ao visível novamente. O deslocamento do olhar proporcionado por meu corpo desperta a visão de um olhar que se faz no meio das coisas. Abre-se um campo enorme de possibilidades, experimentações e formas de expressão "vivenciadas-por-mim”. Há um entrelaçamento, uma metamorfose, um sistema de trocas entre "o mundo visível e o mundo dos meus projetos motores” (MERLEAU-PONTY, 2004b, p. 16). A experiência de nosso corpo (suas relações) e a propagação das relações com o mundo, com as coisas, com os outros, são partes totais do mesmo ser. É assim que Merleau-Ponty (2004b, p. 20) fala que está no mundo com suas características inerentes, pessoais, que se entrelaçam com o mundo. A pintura, diz o filósofo “jamais celebra outro enigma senão o da visibilidade”. Quando estamos em contato com a natureza, há uma troca de olhares que suscitam, complementam, transformam-se em puro êxtase. O artista tem uma força ativa não apenas vista, mas vivenciada. É esta maneira de estar no mundo que ele usará para dialogar com a matéria. Com este pensamento, chegamos ao sul da Bahia e volto a encontrar o Poeta dos Vestígios15, Frans Krajcberg. Por sua exaltação à natureza, completo envolvimento e familiaridade com este mundo rico de formas, texturas, poética, Krajcberg quer denunciar a destruição. Sua obra é uma reflexão sobre a destruição da natureza. Ele diz: "não quero fazer arte, eu quero mostrar minha revolta. Suas esculturas são consequências desse contato com as queimadas que acontecem por todo o Brasil. A matéria-prima é a madeira desprezada, que é encontrada por Krajcberg e transforma”16 Moore comenta aspectos da escultura que se assemelham a Krajcberg: Para mim, importa que haja uma conexão com o passado, conexão que julgo necessária porque a arte é a mesma na diferenciação das coisas com elementos quais a sucata, os elementos encontrados aos pedaços... A arte moderna abriu par