“Júlio de Mesquita Filho” Faculdade de Engenharia - Campus de Ilha Solteira Programa de Pós Graduação em Engenharia Elétrica Laboratório de Eletrônica de Potência - LEP Jurandir de Oliveira Soares Controle Digital Através de Dispositivo FPGA Aplicado a um Retificador Trifásico Híbrido Operando com Modulação por Histerese Variável Orientador: Prof. Dr. Carlos Alberto Canesin Tese submetida à Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira – FEIS/UNESP – como parte dos requisitos exigidos para a defesa de Doutorado. Ilha Solteira (SP), Dezembro de 2008. FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Seção Técnica de Aquisição e Tratamento da Informação Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação da UNESP - Ilha Solteira. Soares, Jurandir de Oliveira. S676c Controle digital através de dispositivo FPGA aplicado a um retificador trifásico híbri- do operando com modulação por histerese variável / Jurandir de Oliveira Soares. -- Ilha Solteira : [s.n.], 2008. 276 f. Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira, 2008 Orientador: Carlos Alberto Canesin Bibliografia: p. 234-240 1. Retificador híbrido. 2. Fator de potência. 3. Sistemas de controle digital. 4. Dispo- sitivo FPGA. 5. VHDL (Linguagem descritiva de hardware). A Deus e aos meus queridos Pais... AGRADECIMENTOS Ao professor Carlos Alberto Canesin por ter confiado a mim o desenvolvimento desta pesquisa e pela orientação competente e segura. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPQ, pela concessão da bolsa de estudos, propiciando-me tranqüilidade e segurança durante a realização do trabalho. Aos professores Falcondes José Mendes de Seixas (UNESP), Flávio Alessandro Serrão Gonçalves (UNESP), Luiz Carlos de Freitas (UFU) e João Batista Vieira Júnior (UFU), integrantes da comissão examinadora, pelas contribuições sugeridas para a versão final deste trabalho. Ao professor Falcondes José Mendes de Seixas pela atenção e empréstimo de equipamentos na fase de testes experimentais do protótipo implementado. Ao professor de graduação (UNIDERP/MS) e colega do Laboratório de Eletrônica de Potência (LEP/UNESP), Fausto Donizeti Dantas, in memoriam, e ao Renato Silvano Rossi, também colega do curso de pós-graduação da UNESP até o início do ano de 2005, pelo apoio nos momentos difíceis (inclusive suporte financeiro) durante o meu primeiro ano de doutorado. Aos demais colegas dos laboratórios LEP e Qualidade de Energia, e da pós-graduação, Guilherme de Azevedo e Melo, Castellane Silva Ferreira, Moacyr Aureliano Gomes de Brito, Flávio Alessandro Serrão Gonçalves, Rodrigo Nunes de Oliveira e Fábio Toshiaki Wakabayashi pela ajuda e sugestões, contribuindo de forma relevante para a realização do trabalho, também pela convivência e amizade. A toda a minha família pelo incentivo e apoio durante toda a minha formação, em especial aos meus pais: Sabino Corrêa Soares e Ilza Vieira de Oliveira Soares, pela vida, a educação sólida e por compreender a minha ausência. RESUMO O objetivo deste trabalho é a concepção de uma lógica de controle digital com modulação por histerese variável usando um dispositivo programável FPGA (Field Programmable Gate Array) e linguagem de descrição de hardware VHDL (Hardware Description Language), aplicada em um retificador trifásico híbrido para a obtenção do Fator de Potência (FP) de entrada quase unitário. O Retificador Trifásico Híbrido (RTH) é uma estrutura composta por um retificador a diodos de 6 pulsos e por três retificadores monofásicos SEPIC conectados em paralelo. O controle digital proposto é capaz de impor a forma de onda das correntes de entrada, obtendo- se Distorção Harmônica Total (DHT) reduzida e fator de potência (FP) quase unitário, sendo que nesta condição, os retificadores monofásicos SEPIC conduzirão no máximo 33% da potência ativa total. Além disso, o uso de FPGAs dará ao Retificador Híbrido Trifásico uma flexibilidade adicional na operação, podendo substituir vários sistemas de múltiplos pulsos convencionais e reduzir custos para o sistema de controle por eliminar a confecção de circuitos complexos de controle analógico, para os conversores chaveados. Neste trabalho, apresenta-se uma análise detalhada e metodologia de projeto para o Retificador Híbrido Trifásico (RTH) que possibilita relacionar o valor da DHT das correntes de entrada com os valores das potências média e aparente processadas pelas estruturas controlada e não-controlada, podendo-se prever o desempenho global do sistema. Serão apresentados detalhes sobre o funcionamento do código VHDL e da modulação por histerese variável empregada e, por fim, os resultados experimentais de um protótipo implementado para 3,0 kW. O código VHDL desenvolvido, associado à lógica de controle digital proposta, foi implementado através de um dispositivo FPGA da Xilinx – Spartan XC2S200E, módulo digilab-D2E, cujos sinais de controle gerados resultaram em correntes de entrada praticamente senoidais com um valor reduzido de DHT (entre 4,03% e 4,54%). A potência processada pelo retificador controlado corresponde a 32% da potência ativa total entregue à carga. Portanto, do ponto de vista da eficiência energética, tais características de operação tornam o retificador híbrido bastante atrativo comercialmente e recomendado para instalações industriais (potências médias e elevadas). Palavras chave – Controle digital, Dispositivo FPGA, Linguagem VHDL, Retificador Híbrido, Correção Ativa do Fator de Potência, Modulação por Histerese. ABSTRACT The objective of this work is the development of a digital control logic with variable hysteresis modulation using a FPGA (Field Programmable Gate Array) device and VHDL (Hardware Description Language), applied at a hybrid three-phase rectifier in order to obtain an almost unitary input power factor (PF). The hybrid three-phase rectifier is a structure composed by parallel SEPIC controlled single-phase rectifiers connected to each leg of a standard 6-pulses uncontrolled diode rectifier. The proposed digital control is capable to impose input current waveforms, resulting in a reduced THD (Total Harmonic Distortion) and almost unitary input power factor, being that in this operation condition the parallel SEPIC single-phase rectifiers will process only 33.0 % of total active power. Moreover, the use of FPGA will provide to hybrid three-phase rectifier an additional flexbility in its operation, making possible the replacement of same conventional systems of multiple pulses and reducing costs for the control system, through the elimination of complex analogical circuitry used in the controlled converters. In this work is presented a detailed analysis and design methodology to hybrid three- phase rectifier that establishes a relationship between the THD imposed to line input currents, with the average and apparent powers processed through controlled and uncontrolled structures, making possible to know previously the global system performance. It will be presented details about the operation of the VHDL code and variable hysteresis modulation proposed, and finally the experimental results from an implemented 3.0 kW prototype. The developed VHDL code, considering the proposed digital control logic, was implemented through a Xilinx’s FPGA device – Spartan XC2S200E, digilab-D2E module, whose generated control signals resulted in input currents with practically sinusoidal waveforms and reduced value of THD (among 4.03% and 4.54%). The processed power by controlled rectifier was only 32.0 % of the total active output power. Therefore, considering the point of view of energy efficiency, such characteristics of operation, making the proposed hybrid rectifier a solution economically viable for industrial installations. Keywords – Active Power-Factor Correction, Digital Control, FPGA Device, Hybrid Rectifier, Hysteresis Modulation. SUMÁRIO 1 – Introdução Geral ...................................................................................................11 1.1 – Parâmetros de Análise para as Estruturas Retificadoras ................................................ 12 1.1.1 – Ondulação (Ripple) da Tensão de Saída....................................................................... 12 1.1.2 – O Fator de Potência e a Distorção Harmônica Total .................................................... 13 1.1.3 – Fontes de Distorção Harmônica e seus Efeitos ............................................................ 15 1.2 – Classificação Topológica dos Retificadores Trifásicos com Correção do Fator de Potência .................................................................................................................................... 16 1.2.1 – Retificadores Trifásicos Não-Controlados com Correção do Fator de Potência.......... 17 1.2.2 – Retificadores Trifásicos Controlados com Correção do Fator de Potência ................. 31 1.2.3 – Retificadores Trifásicos Híbridos................................................................................. 37 1.3 – Motivação e Proposta para o Trabalho........................................................................... 44 1.3.1 – Controle por Corrente de Pico...................................................................................... 44 1.3.2 – Controle por Corrente Média........................................................................................ 46 1.3.3 – Controle por Histerese (Modulação por Limites de Corrente – MLC) ........................ 47 2 – Análise Quantitativa do Retificador Trifásico Híbrido com Correção do Fator de Potência (RTH) .......................................................................................................50 2.1 – Introdução........................................................................................................................ 50 2.2 – Descrição da Análise Quantitativa .................................................................................. 51 2.2.1 – Decomposição em Série de Fourier das Correntes de Entrada dos Retificadores Controlado e Não Controlado .................................................................................................. 63 2.2.2 – Análise das Potências Média e Aparente em Função de uma DHT Imposta para as Correntes de Entrada ................................................................................................................ 72 2.3 – Conclusões....................................................................................................................... 90 3 – Análise do Funcionamento e Projeto do Conversor SEPIC..............................91 3.1 – Introdução........................................................................................................................ 91 3.2 – Considerações e Simplificações da Análise .................................................................... 91 3.3 – Análise no Período da rede CA de Alimentação ............................................................. 92 3.3.1 – Os Valores de Pico de Entrada .................................................................................... 93 3.3.2 – Os Valores Eficazes de Entrada ................................................................................... 93 3.3.3 – Os Valores Médios de Entrada .................................................................................... 94 3.3.4 – Os Valores Médios de Saída ........................................................................................ 94 3.3.5 – Potência Ativa de Entrada e de Saída........................................................................... 96 3.4 – Análise do Conversor SEPIC1 no Período de Comutação............................................... 97 3.4.1 – Análise Qualitativa ....................................................................................................... 97 3.4.2 – Análise Quantitativa ................................................................................................... 102 3.5 – Considerações Gerais sobre a Modulação por Histerese............................................... 109 3.6 – Análise Teórica da Modulação por Histerese Digital Proposta..................................... 112 3.7 – Balanço de Energia no SEPIC1...................................................................................... 116 3.8 – Refinamento das Equações para o Projeto do SEPIC1 ................................................. 119 3.8.1 – Conversor SEPIC1 Operando em um Período Genérico de Comutação Ts, com o parâmetro K < 2:..................................................................................................................... 119 3.8.2 – Conversor SEPIC1 Operando na Condição de Esforço máximo ................................ 124 3.9 – Conclusões..................................................................................................................... 129 4 – Metodologia de Projeto para o Retificador Trifásico Híbrido........................130 4.1 – Introdução...................................................................................................................... 130 4.2 – Projeto do Retificador não Controlado (Retif-1)........................................................... 131 4.3 – Projeto do Retificador Controlado (Retif-2).................................................................. 132 4.4 – Escolha do Ponto de Operação do Retificador Trifásico Híbrido ................................. 136 4.5 – Cálculo do Filtro de Saída do Retificador Não controlado ........................................... 141 4.5.1 – O Cálculo do Indutor de Saída .................................................................................. 142 4.5.2 – O Cálculo do Capacitor de Saída ............................................................................... 144 4.6 – Projeto dos Núcleos Magnéticos para os Indutores....................................................... 144 4.6.1 – Projeto dos Núcleos para os Indutores de Entrada e de Saída do SEPIC1.................. 145 4.6.2 – Projeto dos Núcleos dos Indutores de Saída do Retificador Não-controlado ............ 150 4.7 – Circuito Snubber para o Interruptor Principal do SEPIC1............................................. 157 4.8 – Cálculo Térmico dos Semicondutores........................................................................... 159 4.8.1 – Cálculo Térmico dos Semicondutores do Retificador Monofásico SEPIC1 .............. 160 4.8.2 – Cálculo Térmico dos Semicondutores do Retificador Trifásico Não-controlado ..... 164 4.9 – Perdas Totais no Retificador Trifásico Híbrido............................................................. 165 4.10 – Parâmetros Projetados para o Circuito do Retificador Trifásico Híbrido ................... 166 4.11 – Conclusões................................................................................................................... 168 5 – Controle Digital, Implementado Através de VHDL, para Imposição das Formas de Onda das Correntes de Entrada do Retificador Trifásico Híbrido...169 5.1 – Introdução...................................................................................................................... 169 5.2 – Aspectos Gerais da Lógica de Controle Proposta ......................................................... 169 5.2.1 – Circuito de Aquisição das Correntes ......................................................................... 172 5.2.2 – Circuito do Sensor de Tensão .................................................................................... 177 5.2.3 – Circuito do Sensor de Corrente ................................................................................. 178 5.2.4 – Circuito de Comando do SEPIC1 ............................................................................... 179 5.3 – Descrição do Código VHDL para a Obtenção dos Pulsos de Comando do SEPIC-1... 180 5.3.1 – Uma Visão Geral do Código VHDL Proposto ........................................................... 180 5.3.2 – Componente A: Protocolo de Aquisição de Correntes ............................................... 183 5.3.3 – Componente B: Geração da senóide de referência ..................................................... 185 5.3.4 – Componente C: Controle do Formato da Corrente de Referência para o SEPIC1 ..... 186 5.3.5 – Componente D: Geração da Corrente de Referência para o SEPIC1 ......................... 187 5.3.6 – Componente E: Modulador Histerese ....................................................................... 187 5.4 – Otimização da Estratégia de Controle ........................................................................... 190 5.4.1 – Filtro Digital ............................................................................................................... 194 5.5 – Acionamento do Retificador Trifásico Híbrido............................................................. 199 5.6 – Conclusões..................................................................................................................... 201 6 – Principais Resultados Experimentais para o Retificador Trifásico Híbrido (RTH)..........................................................................................................................202 6.1 – Introdução...................................................................................................................... 202 6.2 – Protótipo Implementado ................................................................................................ 202 6.3 – Principais Resultados Experimentais............................................................................. 209 6.4 – Análise do Rendimento ................................................................................................. 222 6.5 – Conclusões..................................................................................................................... 231 Conclusões Gerais......................................................................................................232 Referências .................................................................................................................234 APÊNDICE A - Dispositivos Lógicos Programáveis FPGA com Uso da Linguagem de Descrição de Hardware VHDL.......................................................241 APÊNDICE B - Código VHDL – Modulação por histerese ...............................252 11 CAPÍTULO 1 1 - Introdução Geral A partir de 1912, no início do século XX, alguns autores consideram como o início da história da eletrônica de potência, com o surgimento dos amplificadores magnéticos série e paralelo (referenciados na literatura como reatores saturáveis e desenvolvidos por E. F. W. Alexanderson da General Electric Company) [1]. O circuito resultante foi um conversor CA- CA bastante robusto e sem partes móveis, onde o controle do fluxo de potência da fonte para a carga era realizado através de uma corrente CC de pequena amplitude, injetada nos enrolamentos para variar a impedância dos reatores conectados entre a fonte de alimentação e a carga. Em 1916 já era possível processar 70 kW através do amplificador magnético o qual foi utilizado para estabelecer a primeira comunicação via rádio entre os Estados Unidos da América e o continente europeu. Na década de 20, do século XX, já se destacavam outros dispositivos estáticos para o controle do fluxo de potência (pesquisa iniciada por Lee DeForest, a partir de 1907), os tubos à vácuo (vacuum tubes) contendo mercúrio (Hg), cuja ignição era controlada externamente para criar o arco de mercúrio e estabelecer a conexão entre o cátodo e ânodo do dispositivo. Entretanto, uma maior eficiência no controle do arco de mercúrio só ocorreu a partir de 1933 (desenvolvido por Joseph Slepian, L. R. Ludwig e outros pesquisadores da Westinghouse), com o desenvolvimento dos retificadores controlados a arco de mercúrio (mercury-arc rectifier), os quais dominaram o mercado até por volta de 1950 [1]. Em 1948, possivelmente, ocorreu a maior revolução na história da engenharia elétrica com a invenção do transistor semicondutor. Posteriormente, entre os anos de 1950 e 1960, dispositivos de processamento de potência, como o diodo e o tiristor SCR (Silicon Controlled Rectifier – fabricado pela General Eletric) tornaram-se viáveis comercialmente e o primeiro retificador a diodos com capacidade de processar corrente maior do que 100 kA foi disponibilizado no mercado em 1960, sendo considerada uma evolução significativa da eletrônica de potência. Dez anos mais tarde o primeiro retificador controlado a tiristor com a capacidade de processar 100 kA também foi operacionalizado [1-4]. A partir daí, os retificadores ou conversores CA-CC (utilizando dispositivos eletrônicos para converter tensões e correntes alternadas (CA), em tensões e correntes contínuas (CC)), têm sido amplamente empregados em vários segmentos da indústria, como por exemplo: Suprimento ininterrupto de potência (UPSs - Uninterruptible Power Supplies), sistemas HVDC (High 12 Voltage Direct Current), sistemas de armazenamento de energia de baterias (BESSs - Battery Energy Storage Systems), fontes alternativas de energia, tais como sistemas fotovoltaicos (PVs – Photovoltaic Systems), suprimento de potência em sistemas de telecomunicações, acionamento elétrico e controle de velocidade de motores (ASDs – Adjustable-speed drives), etc. [5-7]. Uma observação importante é que, em aplicações industriais, a potência processada poderá atingir a ordem de grandeza de Mega Watts, portanto, os retificadores são estruturas trifásicas para tais potências, visando o equilíbrio de carga entre as fases do sistema elétrico. Assim, o escopo deste trabalho se restringe ao estudo dos retificadores trifásicos . 1.1 - Parâmetros de Análise para as Estruturas Retificadoras De um modo geral e, idealmente, o que se espera de um retificador trifásico é que suas características de entrada e de saída sejam as melhores possíveis, ou seja [8]: - A tensão de saída deverá ser estável e sem ondulação (ripple); - O fator de potência (FP) deverá ser unitário. Atendendo tais condições relacionadas acima, a tensão de barramento da rede de alimentação terá a sua forma de onda senoidal preservada, evitando-se os prejuízos inerentes de uma tensão distorcida às demais cargas conectadas neste barramento. 1.1.1 – Ondulação da Tensão de Saída A qualidade da tensão de saída poderá ser avaliada através do fator de forma (FF). O fator de forma é definido de acordo com a equação (1.1). Omd Oef V VFF � (1.1) Onde: VOef : Valor eficaz da tensão de saída do retificador; VOmd : Valor médio da tensão de saída do retificador. Sendo: � �dt.tv. T 1V T 0 OOmd �� (1.2) � �dt.tv. T 1V T 0 2 OOef �� (1.3) 13 Onde: vO(t) : Valor instantâneo da tensão de saída do retificador; T : Período da tensão vO(t). A amplitude do ripple da tensão de saída está relacionada com a presença de componentes harmônicas as quais são computadas no cálculo do valor eficaz, através da equação (1.3). Numa situação ideal (inexistência de ripple), o fator de forma (FF) é igual a um, ou seja, VOmd= VOef. 1.1.2 – Fator de Potência e a Distorção Harmônica Total O Fator de potência (FP) é um parâmetro de qualidade definido como a relação das potências média (P) e aparente (S), entregues a uma carga ou dispositivo. No caso específico de um retificador, trata-se das potências média e aparente fornecidas pela rede de alimentação, vistas pela sua entrada [8-9]. Na seqüência, tem-se a equação genérica para o cálculo do Fator de Potência, independente das formas de onda dos sinais de tensão e corrente envolvidas, contanto que sejam periódicos. � � � � efef T 0 I.V dtti.tv. T 1 S PFP � �� (1.4) Sendo que: � � � � � n 1n nn mdmd T 0 cos. 2 I.VI.Vdtti.tv. T 1P ���� �� � � (1.5) � � �� 1n 2 n2 mdef 2 VVV (1.6) � � �� 1n 2 n2 mdef 2 III (1.7) Onde: n : Ordem harmônica; �n : Ângulo de defasagem entre as componentes de tensão e corrente em uma ordem harmônica “n”; T : Período da componente fundamental da tensão de entrada; Vmd : Valor médio da tensão de entrada; Imd : Valor médio da corrente de entrada; v(t) :Valor instantâneo da tensão de entrada; 14 i(t) : Valor instantâneo da corrente de entrada; Vef : Valor eficaz da tensão de entrada; Ief : Valor eficaz da corrente de entrada; Vn : Valor de pico da componente harmônica da tensão de entrada para uma ordem harmônica “n”; In : Valor de pico da componente harmônica da corrente de entrada para uma ordem harmônica “n”. Considerando que a tensão de entrada seja puramente senoidal, o valor médio (Vmd) e as componentes harmônicas de ordem n>1 são nulas. Portanto, as equações (1.5) e (1.6), são simplificadas conforme (1.8) e (1.9): � � � � � �1 11 T 0 cos. 2 I.Vdtti.tv. T 1P ��� � (1.8) 2 VV 1 ef � (1.9) Onde: �1 : Ângulo de defasagem entre as componentes fundamentais da tensão e da corrente de entrada; cos(�1) : Fator de deslocamento angular para a componente fundamental; I1 : Valor de pico da componente fundamental da corrente de entrada; V1 : Valor de pico da componente fundamental da tensão de entrada. Na seqüência, define-se um dos parâmetros mais importantes para a análise da qualidade das tensões ou de correntes nos barramentos de alimentação, a DHT (Distorção Harmônica Total). A DHT da corrente é a relação entre a soma quadrática das componentes harmônicas da corrente pela componente fundamental (I1). 1 2n 2 n I I DHT � �� (1.10) Substituindo-se as equações (1.7), (1.8) e (1.9) em (1.4), obtém-se a equação para o cálculo do fator de potência, considerando-se a tensão de entrada puramente senoidal: � � � �2 1 DHT1 cosFP � � � (1.11) Sendo que: 15 � �2DHT1 1Harmônica Distorção deFator � � (1.12) 1.1.3 – Fontes de Distorção Harmônica e seus Efeitos Um dos temas principais, discutido dentro do assunto “Qualidade de Energia” nos últimos anos, tem sido a presença de componentes harmônicas nos barramentos de alimentação das cargas. Tal fato deve-se principalmente ao conteúdo harmônico (DHT) elevado da corrente drenada por cargas (equipamentos) de natureza não-linear. Na seqüência apresentam-se algumas fontes de distorção harmônica [9]: 1) Retificadores controlados, ou não, com carga R-L e indutância de comutação: - Resultam em distorção da tensão de alimentação nos instantes de comutação; - Indesejável queda de tensão média na carga devido à indutância de comutação. 2) Retificadores com filtro capacitivo (Monofásicos ou trifásicos): - Corrente de entrada de forma impulsiva com elevada DHT, e, em conseqüência, reduzido FP. 3) Reatores controlados a Tiristores (RCT): - Presença de harmônicas ímpares de corrente, com amplitude dependente de � (ângulo de disparo); 4) Fornos a arco (Por exemplo, na produção de aços): - Harmônicas são imprevisíveis (Harmônicas pares, ímpares e fracionárias), sendo 2ª e 7ª predominantes. A presença de componentes harmônicas no sistema elétrico causa efeitos indesejáveis, resultando em prejuízos tanto para as concessionárias de distribuição de energia elétrica, quanto para os consumidores. Dentre estes efeitos, alguns são discutidos a seguir [9]: ��Aumento das perdas no ferro e no cobre (efeito pelicular) nos enrolamentos dos transformadores, motores e geradores, com subseqüentes incrementos nas temperaturas e maiores solicitações dos isolamentos, comprometendo o rendimento e a vida útil desses equipamentos; ��Alterações de torques (5ª, 11ª, 17ª, etc., harmônicas) e o surgimento de oscilações mecânicas (5ª e 7ª harmônicas no estator e 6ª no rotor) em motores e geradores; ��Erros de leitura em medidores de energia elétrica (kWh) do tipo indução, devido a torques positivos ou negativos; 16 ��Funcionamento inadequado de dispositivos eletrônicos de medição, cujas operações dependem da qualidade das formas de onda das tensões e correntes; ��Possibilidade de ressonâncias em capacitores podendo resultar em níveis excessivos de tensão e/ou corrente. Além disso, tem-se o aumento de perdas devido à resistência série equivalente, causando a elevação de temperatura e a redução da vida útil do componente; ��Aumento das perdas nos cabos de alimentação, devido à elevação dos valores eficazes da corrente e também devido ao aumento da resistividade do condutor, causado pelo efeito pelicular. 1.2 - Classificação Topológica dos Retificadores Trifásicos com Correção do Fator de Potência Considerando-se as características de reduzidos FPs dos retificadores convencionais com filtros capacitivos (C), ou, filtros indutivo-capacitivo (LC), na saída dos mesmos, nas últimas duas décadas diversas estruturas foram desenvolvidas e propostas para a redução das DHTs das correntes drenadas das fontes de alimentação em corrente alternada. Do ponto de vista de topologia de retificadores com correção do fator de potência, geralmente são encontrados na literatura dois grupos: Os controlados ou ativos e os não controlados ou passivos, sendo constituídos da seguinte maneira [6, 7 e 10]: - Retificadores não controlados ou passivos: Estes retificadores empregam interruptores não controlados, como diodos, e elementos reativos, tais como, capacitores, indutores e arranjos especiais de transformadores ou de autotransformadores, possibilitando a correção do fator de potência e oferecendo confiabilidade e robustez para a estrutura. No entanto, não possibilitam a regulação da tensão de saída e, além disso, para aplicações com isolação galvânica (usando transformadores) podem resultar em estruturas volumosas, pesadas e de custo elevado. As estruturas que utilizam autotransformadores resultam em menor peso e volume, porém não-isoladas; - Retificadores controlados ou ativos: Este grupo utiliza-se de interruptores ativos para o seu funcionamento, tais como MOSFETs, IGBTs, GTOs e SCRs. Dentre estas topologias controladas, encontram-se os retificadores PWM, os quais operam com freqüências elevadas de comutação. A grande maioria dos retificadores PWM consegue impor um fator de potência elevado, com redução de peso e volume e possibilitam a regulação da tensão de 17 saída; entretanto, algumas estruturas impõem também complexidade no circuito e aumento de custos. Buscando conciliar as vantagens dos retificadores não controlados e dos controlados PWM com elevado fator de potência, foram desenvolvidos os denominados “retificadores híbridos”, aplicados na indústria (potências médias e elevadas) [10]. Essa idéia é enfatizada através de um diagrama simples, apresentado na Figura 1.1. Classificação Topológica dos Retificadores Trifásicos com Correção do FP ControladosNão controlados Híbridos Figura 1.1 – Classificação topológica de retificadores trifásicos com correção do fator de potência. Na seqüência serão apresentadas algumas estruturas pertencentes a cada um dos três grupos, destacando-se suas principais vantagens e desvantagens. 1.2.1 - Retificadores Trifásicos Não-Controlados com Correção do Fator de Potência Tradicionalmente, os retificadores trifásicos são desenvolvidos usando ponte de diodos e/ou tiristores para proporcionar o controle de potência, respectivamente. Neste contexto, encontra-se a ponte completa de diodos, a ponte mista de diodos e tiristores e ponte completa de tiristores, sendo as duas primeiras configurações unidirecionais em potência e a terceira bidirecional em potência, porém unidirecional em corrente [8]. Os retificadores trifásicos com ponte de diodos, por sua simplicidade e baixo custo, são bastante populares em algumas aplicações industriais e rurais, onde um link e/ou barramento CC intermediário proporciona energia para outros circuitos. Na Figura 1.2 o retificador trifásico convencional, a diodos, denominado Ponte de Graetz, com filtro capacitivo na saída é apresentado, admitindo-se as tensões de linha (alimentação) equilibradas e senoidais. Neste circuito, a corrente de entrada tem a forma de pulsos estreitos de amplitude elevada, ocorrendo dois pulsos durante cada semiciclo da tensão de entrada, conforme exemplo de operação mostrado na Figura 1.3. 18 D1 D3 D5 D2 D4 D6 Vb(t) Vc(t) CO RO Va(t) N ia(t) Figura 1.2 – Retificador trifásico em ponte de Graetz, com filtro capacitivo na saída. 200V -200V 830ms 835ms 840ms 0 -100V 100V 845ms 850ms DHT=156% FP=0,54 va(t) ia(t) Figura 1.3 – Detalhe da tensão e corrente de entrada em uma fase do circuito da Figura 1.2. Apesar dessa estrutura possuir vantagens, tais como: Robustez, peso reduzido, simplicidade de funcionamento e baixo custo, a DHT da corrente é bastante elevada e o fator de potência bastante reduzido. Além disso, para processar potência elevada, as correntes de entrada atingem valores de pico elevados, aumentando-se os esforços nos interruptores (diodos) por valores de pico e por valores eficazes de corrente, sendo portanto tecnicamente inviável. Devido ao crescimento das aplicações dos retificadores trifásicos, causando a distorção na tensão de barramento ou nos pontos de acoplamento de carga, foram estabelecidas normas internacionais, tais como a IEC 61000-3-2, a IEC 61000-3-4 e IEEE 519, restringindo-se a injeção de correntes harmônicas nas redes de alimentação, por parte destes equipamentos [11-13]. Neste contexto, pesquisadores atuantes na área de eletrônica de potência têm buscado ao longo dos anos desenvolver técnicas de filtragem capazes de eliminar ou minimizar as componentes harmônicas das correntes características dos retificadores trifásicos. Considerando-se a necessidade de corrigir o fator de potência, reduzindo-se as taxas de 19 distorção harmônica das correntes de entrada das estruturas retificadoras, inicialmente não controladas, são apresentadas a seguir algumas alternativas para estes circuitos. 1.2.1.1 – Retificador Trifásico a Diodos com Filtro Capacitivo e Indutores de Linha Com o objetivo de atenuar a derivada das correntes de entrada do retificador trifásico convencional e reduzir tanto os valores de pico quanto o ripple da corrente de saída, empregam-se indutores na entrada em série com as fontes de alimentação, sendo um em cada fase, conforme Figura 1.4 [8 e 14]. Com isso, as formas de onda das correntes de entrada adquirem um formato mais senoidal, reduzindo-se a DHT e conseqüentemente melhorando- se o fator de potência. D1 D3 D5 D2 D4 D6 Vb(t) Vc(t) CO RO Va(t) N La Lb Lc ia(t) Figura 1.4 – Retificador trifásico a diodo com filtro capacitivo e indutores de linha. 200V -200V 830ms 835ms 840ms 0 -100V 100V 845ms 850ms DHT=30% FP=0,92 va(t) ia(t) Figura 1.5 – Detalhe da tensão e corrente de entrada em uma fase no circuito da figura 1.4. Usualmente, a freqüência de corte desse filtro está em uma freqüência abaixo da 5ª harmônica. Entretanto, é interessante investigar a possibilidade deste filtro entrar em ressonância com outros elementos do circuito, o que seria indesejável, pois aumentaria a DHT [15]. No entanto, muitas vezes a estrutura não atende as normas internacionais, principalmente para potências elevadas. 20 1.2.1.2 – Retificador Trifásico a Diodos com Filtro Capacitivo e Indutivo do lado CC Um outro modo bastante conhecido na literatura de se fazer a correção passiva é utilizar um filtro indutivo na saída junto com o filtro capacitivo, mostrado através da Figura 1.6 [8]. A DHT também é reduzida e o fator de potência é elevado (comparando-se com a estrutura apresentada na Figura 1.2) conforme Figura 1.7. D1 D3 D5 D2 D4 D6 Vb(t) Vc(t) CO RO Va(t) N LO ia(t) iLO(t) Figura 1.6 – Retificador trifásico a diodo com filtro capacitivo e indutivo. 200V -200V 830ms 835ms 840ms 0 -100V 100V 845ms 850ms DHT=30,2% FP=0,96 va(t) ia(t) Figura 1.7 – Detalhe da tensão e corrente de entrada em uma fase no circuito da Figura 1.6. A justificativa para que o fator de potência desta estrutura seja um pouco mais elevado do que no caso anterior (filtro indutivo na entrada e capacitivo na saída) é devido ao fato de que neste caso (filtro indutivo e capacitivo na saída) não há defasagem entre as componentes fundamentais da tensão e corrente de entrada. Os três retificadores trifásicos apresentados nas Figuras 1.2, 1,4 e 1,6 são conhecidos como retificadores de “seis pulsos” devido ao fato da forma de onda da tensão CC de saída da ponte retificadora possuir seis pulsos em um período da tensão senoidal de entrada. Portanto, o ripple da tensão CC de saída v6p(t) possui uma freqüência fundamental correspondente a seis vezes a freqüência da tensão senoidal de entrada va(t), conforme destacado na Figura 1.8. 21 400V -400V 0 4,167ms 8,33ms 0 -200V 200V 12,5ms 16,67ms va(t) v6p(t) Figura 1.8 – Detalhe da tensão de entrada em uma fase e da tensão retificada no lado CC. As componentes harmônicas de magnitudes significativas, geradas pelas correntes de entrada CA destas três estruturas (conforme Figuras 1.3, 1.5 e 1.7), são as seguintes: 1ª, 5ª, 7ª, 11ª, 13ª, etc. Estas harmônicas são denominadas “ímpares não triplas”. Já a saída CC deverá conter as harmônicas triplas, pares, e de ordem zero, sendo: 0, 6ª, 12ª, 18ª, etc. Observa-se que as demais componentes harmônicas existem, porém de magnitudes bastante reduzidas e, portanto de pouca influência na DHT. Considerando a hipótese de que o retificador com filtro indutivo e capacitivo na saída (Figura 1.6) possua um indutor com indutância de valor suficientemente grande, pode-se desprezar a existência de ripple na corrente de saída CC, desconsiderando-se a existência de harmônicas triplas e pares. Isto resulta em um retificador trifásico de seis pulsos com uma fonte de corrente na saída, mostrado na Figura 1.9, e, portanto, uma corrente de entrada idealizada e isenta de ripple conforme Figura 1.10. D1 D3 D5 D2 D4 D6 Vb(t) Vc(t) IO Va(t) N ia(t) v6p(t) + - Figura 1.9 – Retificador trifásico a diodo com uma fonte de corrente na saída. 22 200V -200V 835ms 840ms 0 -100V 100V 845ms 850ms va(t) ia(t) 830ms Figura 1.10 – Detalhe da tensão e corrente de entrada em uma fase no circuito da Figura 1.9. Desse modo, decompondo-se a corrente de linha de entrada ia(t), visualizada na Figura 1.10, em série de Fourier, obtém-se a equação (1.13), contemplando-se apenas as componentes harmônicas ímpares não triplas. Portanto, pode-se estabelecer que o retificador trifásico de seis pulsos insere na rede de alimentação componentes harmônicos de ordens n=6.q±1 e amplitudes (valor percentual) In/I1=1/n, onde o índice “q” é uma variável inteira maior do zero (q=1,2,3,4,..). � � � �t.�.nsen. 3 �.nsen. 2 �.nsen.i. �.n 4ti LO ..1,5,7,11,.n a � � � � � � � �� � � (1.13) Sendo que: rf..2� �� (1.14) Onde: ia(t) : Valor instantâneo da corrente de entrada do retificador, na fase “a”; fr : Freqüência da componente fundamental das tensões da rede de alimentação; � : Freqüência angular da componente fundamental das tensões da rede de alimentação; ILO : Valor médio da corrente através do indutor de filtro de saída LO. Em uma análise mais rigorosa, na existência de ripple na corrente CC de saída, o cálculo exato destas amplitudes requer que seja considerado o ripple da corrente CC de saída refletido na corrente CA de entrada [15-16]. Deste modo, a amplitude da 5ª harmônica tende a ser aumentada em até 20%, enquanto que as amplitudes harmônicas de maior ordem tendem a decrescer. Além disso, harmônicas de freqüências e ordens não características são encontradas, tipicamente menores do que a 5ª harmônica, por exemplo, a 3ª harmônica que causa a saturação do núcleo de transformadores. Outros fatores que podem influenciar na magnitude das componentes harmônicas são as derivadas de subida e descida das correntes de 23 entrada, decorrentes dos intervalos de comutação entre os diodos da ponte retificadora trifásica. Na seqüência, apresentam-se as principais vantagens e desvantagens das estruturas mostradas nas Figuras 1.4 e 1.6, com filtros indutivos na entrada ou na saída, com relação aos retificadores controlados ou ativos: Principais vantagens: ��Simplicidade no projeto devido à ausência de malha de controle, resultando em uma estrutura de baixo custo e robusta; ��Obtém-se um elevado fator de potência com um mínimo de alteração na estrutura original do retificador. Principais desvantagens: ��Volume elevado dos filtros devido à operação em baixa freqüência (freqüência da rede). Adicionalmente, no caso do indutor de filtro de saída (Figura 1.6), este deverá ser de dimensões bem elevadas para suportar toda a corrente de carga, sem que ocorra a saturação do núcleo. ��Não possibilita a regulação da tensão de saída; ��Valores da DHT ainda elevados, podendo não atender às normas internacionais, principalmente para aplicações industriais. Portanto, permanecendo a necessidade de redução da DHT das correntes de entrada dos retificadores trifásicos, foram desenvolvidas as técnicas de multipulsos, discutidas a seguir [7]. 1.2.1.3 – Retificador Trifásico a Diodos de Múltiplos Pulsos O método de multipulsos é caracterizado pelo uso de múltiplos retificadores alimentando uma carga em comum ou cargas independentes [7 e 17]. Tradicionalmente, esses conversores são conectados através de transformadores de defasagem de modo que as harmônicas geradas por um retificador sejam canceladas pelas harmônicas produzidas pelo outro retificador. Os sistemas multipulsos possuem duas grandes vantagens, encontradas simultaneamente, quais sejam: 1) Redução das componentes harmônicas das correntes CA de entrada; 2) Redução do ripple da tensão de saída CC. Uma aplicação convencional utilizada para a redução das harmônicas dos retificadores trifásicos é a conexão série ou paralela das saídas dos retificadores de seis pulsos, com o uso de transformadores com defasagens, constituindo retificadores de múltiplos pulsos. 24 A construção de um retificador de 12 pulsos, utilizando a conexão série das saídas de dois retificadores de seis pulsos, é mostrada através da Figura 1.11 [8]. Y - Y - Y 1 : n T5 T5 T6 T6 T4T4 ia2(t) vb(t) vc(t) va(t) 3 : n 0º +30º a c b ica iab T2 T3 T1 T2 T3 T1 ia1(t) C C A2 B A a b c A B N CO carg a LO Io+ - ia(t) Figura 1.11 – Retificador trifásico de 12 pulsos, conexão série. A defasagem de 30º provocada pelo transformador �-Y produz uma corrente ia2(t), a qual, quando somada com ia1(t), elimina as componentes 5ª, 7ª, 17ª, 19ª, etc., harmônicas, resultando na corrente ia(t), conforme Figura 1.12. n.IO.(1+2/ )3 n.IO. 1 3 ia1(t) n.IO -n.IO ia2(t) ia(t) n.IO.(1+1/ )3 0º 30º 60º 90º 120º 150º 180º 210º 240º 270º 300º 330º 360º �t �t �t -n.IO. 1 3 -n.IO. 2 3 n.IO. 2 3 n.IO. 1 3 Conexão Y-Y Conexão -Y DHT = 14% Figura 1.12 – Formas de onda das correntes de entrada do Retificador Trifásico de 12 pulsos, conexão série. 25 Na conexão série de retificadores trifásicos os semicondutores deverão suportar grandes esforços de tensão. Já a conexão das saídas dos retificadores em paralelo, a mais utilizada, serve para aplicações onde são requeridos grandes esforços de corrente [17]. Através da Figura 1.13 é mostrado um exemplo desta estrutura. - Y 1 : n CO carg a T5 T5 T6 T6 T4T4 ia2(t) vb(t) vc(t) 3 : n 0º +30º a c b C A B T2 T3 T1 a T2 T3 T1 A B C c b - N LO Transformador de interfase va(t) + - + - Io 2 Io 2 Io Figura 1.13 – Retificador trifásico de 12 pulsos, conexão paralela. Nesta aplicação, na pré-existência de harmônicas na tensão de alimentação, por exemplo, a 5ª harmônica, os transformadores defasadores alteram as fases dessas componentes harmônicas, podendo ampliar os seus efeitos indesejáveis no sistema, como por exemplo, o desequilíbrio da tensão CC de saída. Um desequilíbrio pré-existente nas tensões de entrada ou um desequilíbrio de impedâncias do transformador, também leva ao desequilíbrio da tensão CC de saída. A ocorrência destes fenômenos em conjunto ou de forma isolada, pode causar um desequilíbrio significativo entre as correntes CC de saída das pontes retificadoras, e reintroduzir componentes harmônicas de seis pulsos nas correntes de linha CA. Além disso, impõe-se um esforço adicional de corrente para as pontes retificadoras. Este problema é minimizado utilizando-se a conexão de transformadores de interfase (IPT – Inter-Phase Transformer) para absorver as diferenças instantâneas entre as tensões das saídas CC dos dois retificadores e para que a defasagem de 120° seja mantida na condução dos semicondutores, conforme Figura 1.13. Os transformadores de interfase atuam com eficácia na absorção de diferenças instantâneas de tensão, porém não conseguem absorver diferenças médias de tensão. O projeto do transformador de interfase envolve uma certa complexidade e não há restrição inerente à quantidade de conversores a serem conectados em paralelo e, além disso, podem também ser aplicados para sistemas não isolados (autotransformadores) [17]. 26 A tensão CC de saída do retificador de 12 pulsos possui uma freqüência fundamental que corresponde a doze vezes a freqüência fundamental da tensão senoidal de entrada e insere na rede de alimentação componentes harmônicas de ordens k.12±1 [8 e 17]. Considerando-se a variável “n” como sendo o índice harmônico, onde n=k.12±1, as amplitudes das harmônicas variam inversamente proporcional a “n” (1\n). Analogamente ao retificador de 12 pulsos, um retificador de 18 pulsos pode ser construído usando três retificadores de seis pulsos em ponte, sendo três circuitos transformadores com defasagem de 0º, +20º e –20, resultando em uma DHT em torno de 8,0% para as correntes de entrada. Já um retificador de 24 pulsos requer o uso de quatro retificadores trifásicos de seis pulsos, alimentados por tensões defasadas de 0º, +15º, -15º e 30º, reduzindo a DHT das correntes de entrada para 3,0% em média. Estas defasagens podem ser obtidas através de arranjos mais complexos de transformadores, conhecidos como ziguezague (Z), polígono (P), etc., podendo proporcionar qualquer defasagem desejada, melhorando-se cada vez mais o fator de potência. A seguir, através da Figura 1.14, é mostrado um retificador de 18 pulsos, cuja conexão �/P-�-P apresenta um secundário conectado em � em fase com o primário e os outros dois, conectados em polígono, com ângulos de +20º e –20º, em relação ao primário. 0º +20º -20º vb(t) vc(t) N va(t) CO carg a LO Io+ - ia(t) ia1(t) ia2(t) ia3(t) Figura 1.14 – Retificador trifásico de 18 pulsos, conexão �/P-�-P e saídas conectadas em série. 27 A técnica multipulsos, apesar da grande robustez, isolamento galvânico (entre a fonte de alimentação e a carga) e a possibilidade do atendimento às normas reguladoras oferecida por estas estruturas, tem a sua aplicação prejudicada devido aos seguintes fatores [6, 10 e 17]: ��O transformador processa toda a potência entregue à carga na freqüência da rede de alimentação, resultando em uma estrutura com volume e peso elevados; ��A tensão de saída retificada não é regulada; ��A necessidade de transformadores de interfase (IPT – Inter-Phase Transformer) para absorver as diferenças instantâneas entre as saídas CC dos retificadores, para conexões da saída em paralelo. Não havendo a necessidade de isolação galvânica, constam na literatura duas técnicas bastante difundidas que tornaram as aplicações dos conversores de múltiplos pulsos mais atrativas, devido à redução da potência processada através dos transformadores e a conseqüente redução de volume e peso global do retificador, são elas: 1) O conversor LIT (Line Interphase Transformer) [6, 18 e 19], é uma espécie de autotransformador composto de três transformadores monofásicos, cuja disposição dos seus enrolamentos resultam em dois sistemas trifásicos no secundário do autotransformador e defasados de 30º, sendo originalmente aplicado para um retificador trifásico de 12-pulsos [17], conforme Figura 1.15. XL XL XLva(t) vb(t) vc(t) i1 ib ia Wc Wa Wb + vO - C A R G A Figura 1.15 – Conversor LIT (Line Interphase Transformer). Os indutores de entrada, conectados em série entre a fonte de alimentação e o LIT, são projetados para eliminar harmônicas de até a 11ª ordem e, além disso, possibilitam uma redução maior das amplitudes das harmônicas de ordens mais elevadas, o que é vantajoso, comparando-se com o retificador trifásico de 12-pulsos convencional. Isto resulta em uma 28 DHT menor do que 6% [19]. Contudo, esta técnica apesar de simples e bastante aplicada no meio industrial, apresenta alguns problemas que podem ser relacionados a seguir [20]: ��Tensão CC de saída é não-regulada e o seu valor médio é reduzido, em torno de 1,25 vezes o valor eficaz da tensão de fase de entrada, dificultando muitas aplicações; ��Para garantir uma DHT reduzida para as correntes de entrada, é necessário elevar o valor das indutâncias na entrada, o que causa um acréscimo do Fator de Deslocamento (FD), dificultando ainda mais a regulação da tensão de saída em função da variação da carga. Vários trabalhos foram desenvolvidos posteriormente buscando sanar os problemas destacados acima [20-23]. Em [21], os indutores de entrada foram substituídos por um indutor na saída, minimizando o Fator de deslocamento e melhorando a regulação da tensão de saída. Entretanto, tem-se a desvantagem do acréscimo da DHT para 14%. Já em [20, 22 e 23], inseriu-se entre a saída dos retificadores em paralelo e a carga, um conversor CC boost em cascata operando no modo descontínuo e com uma freqüência elevada e constante. Dentre as vantagens obtidas, destacam-se aqui o controle da tensão de saída e a redução de volume dos elementos magnéticos de entrada por estarem operando na freqüência de comutação do conversor boost. 2) Conexões diferenciais [17], são autotransformadores com os enrolamentos do primário dispostos geralmente na forma � ou Y. Os enrolamentos do secundário são provenientes da combinação das bobinas do primário (� ou Y) com outras bobinas adicionais, especialmente arranjadas no núcleo, resultando conversores usualmente de 12 e 18 pulsos. Uma forma convencional de uso de autotransformador em sistemas multipulsos é a conexão �-diferencial plana de 12 pulsos [24], mostrada através da Figura 1.16. CO carg a ia(t) vb(t) vc(t) va(t) 0º +30º a N a"a' b' b"c' c" c b ib(t) ic(t) ic'(t) ib'(t) ia'(t) ic"(t) ib"(t) ia"(t) Io Io 2 Io 2 + - - + La Lb Lc Figura 1.16 – Retificador trifásico de 12 pulsos, conexão �-diferencial plana. 29 Esta conexão processa apenas 18% da potência total entregue à carga, caracterizando- se uma vantagem em relação às conexões isoladas �-Y que processam 100% da potência total entregue a carga. Neste mesmo trabalho [24], os autores desenvolveram um retificador trifásico de 18 pulsos utilizando novamente a conexão �-diferencial plana processando apenas 16% da potência total de carga. A eficiência do conversor apresentado na Figura 1.16, foi melhorada modificando-se a disposição dos enrolamentos do secundário da conexão �- diferencial [25], resultando em um retificador de 12 pulsos, cuja potência processada pelo autotransformador em forma de polígono modificado (Figura 1.17) corresponde à 10,1% da potência total entrega à carga, resultando em uma corrente de entrada com uma DHT de 11,3%. CO carg a ia(t) vb(t) vc(t) va(t) 0º +30º a N a"a' b' b" c' c" c b ib (t) ic(t) i c'(t) ib '(t) ia' (t) ic"(t) ib"(t) ia"(t) + - - + iO(t) 2 iO(t) 2 iO(t) vO(t) + - Figura 1.17 – Retificador trifásico de 12 pulsos, conexão �-diferencial (polígono). Uma desvantagem do uso das conexões diferenciais é a necessidade do emprego de dois transformadores de interfase, sendo um conectado na polaridade positiva e o outro na polaridade negativa do barramento CC de saída do retificador, no intuito de garantir a operação quase independente de cada ponte retificadora. Além disso, por ser um sistema não isolado, a tensão a ser suportada pelos transformadores de interfase torna-se mais elevada, comparando-se com as conexões isoladas, resultando em um aumento de volume e peso [17]. Um problema adicional que afeta as estruturas multipulsos em geral é o fato de que os transformadores de interfase nem sempre são capazes de equilibrar as tensões no lado CC de cada retificador, mediante um desequilíbrio de impedâncias do transformador, harmônicas pré-existentes e desequilíbrios nas tensões de entrada. As harmônicas pré-existentes podem ser não triplas, como 5ª, 7ª, etc., ou triplas, como 3ª, 6ª, 9ª, etc. Se o sistema trifásico for equilibrado, as harmônicas triplas estão em fase e são denominadas “componentes de seqüência zero”. Para eliminar ou reduzir as amplitudes das componentes harmônicas de 30 seqüência zero, foram desenvolvidos os transformadores bloqueadores de seqüência zero (ZSBT – Zero-Sequence Blocking Transformer) [17]. Os ZSBTs podem ser inseridos no lado CA, entre os transformadores de entrada e as pontes retificadoras trifásicas, ou no lado CC, entre as saídas das pontes retificadoras e a carga. A idéia básica da construção destes elementos é que todos os condutores que entram (fases: “a”, “b” e “c”) ou que saem (positivo e negativo) de cada ponte retificadora devem ser enrolados paralelamente em um núcleo e no mesmo sentido, criando uma impedância elevada para componentes de seqüência zero. No trabalho apresentado em [26] os autores tomaram como base o retificador de 12 pulsos (conexão �-diferencial plana), desenvolvido por [24] e mostrado na Figura 1.16, melhorando o seu desempenho com o emprego de dois bloqueadores de seqüência zero no lado CC, sendo um para cada ponte retificadora. Os ZSBTs contribuem também para assegurar a independência de operação de cada ponte retificadora e garantir que as correntes de saída para a carga sejam equivalentes. Assim, com a inserção dos dois ZSBTs, foi possível eliminar o transformador de interfase conectado no lado negativo da carga, mantendo-se apenas um conectado no lado positivo da carga. Foi proposto também neste trabalho [26] uma modificação no transformador de interfase (IPT – Inter-Phase Transformer) inserindo-se um diodo em derivação com cada enrolamento do núcleo (do transformador de interfase), de modo que o cátodo de ambos os dispositivos estejam conectados no mesmo ponto (lado positivo da carga). Além disso, a quantidade de espiras de cada enrolamento (positivo e negativo) do transformador de interfase são variáveis, ajustados através de taps, sendo possível ajustar o IPT para que resulte no cancelamento das harmônicas de 5ª, 7ª, 1ª, 13ª, 17ª e 19ª ordem e, portanto, para que se obtenha uma corrente de entrada com 24 pulsos e uma DTH igual a 3,4%, sem alterações significativas no circuito, conforme mostrado na Figura 1.18. CO ia(t) +15º -15º a N a"a' b' b"c' c" c b ib(t) ic(t) ic'(t) ib'(t) ia'(t) ic"(t) ib"(t) ia"(t) Io + - - + La Lb Lc vb(t) vc(t) va(t) carg a ZSBT ZSBT Transformador de interfase Figura 1.18 – Retificador trifásico de 24 pulsos, conexão �-diferencial plana, com bloqueador de seqüência zero. 31 Esta técnica é conhecida como “multiplicação de pulsos”, caracterizando-se uma tendência interessante da evolução dos conversores multipulsos [7]. Foi verificado experimentalmente para esta estrutura que cada elemento ZSBT, o autotransformador e o IPT processam respectivamente 3,7%, 23% e 1,65% da potência total. Uma outra alternativa bastante aplicada para a filtragem de harmônicas em conversores multipulsos são os Reatores Bloqueadores de Harmônicas (HBR – Harmonic Blocking Reator), inseridos em cada fase entre o secundário do transformador e a respectiva ponte retificadora. O “reator bloqueador de harmônicas” é uma evolução dos “transformadores bloqueadores de seqüência zero”, pois consegue bloquear simultaneamente certas harmônicas de seqüências positiva, negativa e zero [17]. A essência desta técnica é criar uma interdependência entre as correntes de entrada por fase (defasadas de 30º) de cada ponte retificadora, de maneira que o fluxo das componentes fundamentais de cada corrente seja nulo e o fluxo das demais componentes harmônicas (5ª e 7ª por exemplo) resulte em uma impedância elevada de modo que as mesmas sejam suficientemente atenuadas [27-28]. Uma estrutura interessante é o conversor de 18 pulsos constituído de uma conexão Y- diferencial usando um autotransformador [29-30], cuja potência por ele processada é de 22% da potência nominal da carga. Este conversor é composto por três retificadores trifásicos não controlados conectados em paralelo e possui um Fator de Potência (FP) e DHT de 0,99 e 8,8%, respectivamente. Nesta estrutura, para evitar o uso de transformadores de interfase, foram conectados na saída de cada retificador trifásico um conversor boost, com controle apropriado, possibilitando equilibrar as correntes de saída de cada retificador e ainda regular a tensão de saída. Embora as técnicas (conexões diferenciais) abordadas neste tópico resultem em estruturas com volume e peso reduzidos e uma corrente de entrada com uma qualidade melhor do que as estruturas de multipulsos convencionais, possibilitando o atendimento às normas internacionais para níveis de potência mais elevados, estas estruturas não possibilitam o controle pleno da DHT das correntes de entrada. Neste contexto, em função das limitações das estruturas não controladas, surgem os retificadores controlados, a serem analisados a seguir. 1.2.2 – Retificadores Trifásicos Controlados com Correção do Fator de Potência As primeiras estruturas retificadoras controladas eram compostas de elementos tiristores, conforme Figura 1.19, operando em baixas freqüências, porém apresentando elevada robustez e confiabilidade, apesar de um leve aumento da complexidade e custos 32 devido ao circuito de comando de gate. A distorção harmônica das correntes de entrada torna-se maior do que aquela dos retificadores não controlados, entretanto, pode-se regular a tensão de saída. Devido à confiabilidade, simplicidade e eficiência, o retificador trifásico a tiristor é comumente utilizado nos dias atuais para potência bastante elevadas. Entretanto, quando se deseja um barramento CC de saída, a estrutura também apresentará elevados conteúdos harmônicos nas correntes de entrada, um aumento do fator de deslocamento e reduzido fator de potência, não atendendo às normas internacionais. T1 T3 T5 T2 T4 T6 vb(t) vc(t) va(t) IOVO + - N Figura 1.19 – Retificador trifásico a tiristor (Ponte totalmente controlada). Portanto, as mesmas técnicas apresentadas para os retificadores não controlados, para elevar o fator de potência da estrutura, foram aplicadas para os retificadores à tiristores [7]. Em [31], os autores propuseram uma pequena modificação no conversor de 12 pulsos, destacado anteriormente na Figura 1.13, onde além da ponte retificadora totalmente controlada foram inseridos pequenos indutores na entrada (lado CA) e um transformador de interfase no lado CC, conforme estrutura mostrada na Figura 1.20. - Y 1 : n CO carg a T5 T5 T6 T6 T4T4 ia2(t) vb(t) vc(t) 3 : n 0º - 30º a c b C A B T2 T3 T1 a T2 T3 T1 A B C c b - N LO va(t) + - + - Io 2 Io 2 Io L=0,5 mH Transformador de interfase Figura 1.20 – Retificador trifásico de 12 pulsos a tiristor, com transformador de interfase. 33 O transformador de interfase (de menor volume e peso do que os convencionais) tem a finalidade de tornar as correntes de saída de ambos os retificadores com um formato triangular e operando no modo de condução crítico (MCC). Com uma defasagem de operação adequada imposta para ambas as pontes retificadoras é obtida uma DHT de até 1,0 % nas correntes de entrada (equivale à um retificador de 36 pulsos), mas não se consegue manter a DHT para grandes variações de carga, uma vez que as correntes de saída deixam de operar no modo de condução crítico. Com o surgimento dos transistores de potência, os tiristores começaram a ser substituídos, proporcionando-se a operação dos mesmos em freqüências mais elevadas, reduzindo-se volume, peso e custo destas estruturas. Surge então o conceito de retificador trifásico PWM [6 e 10], a ser analisado a seguir. 1.2.2.1 – Retificadores Trifásicos PWM As técnicas de retificação ativa são as mais promissoras do ponto de vista da qualidade de energia, podendo-se obter fator de potência elevado e DHT reduzida. Estas estruturas são comuns em aplicações de médias potências, mas não são viáveis em aplicações de correntes elevadas devido ao custo efetivo dos componentes eletrônicos utilizados. Em aplicações onde o peso e volume são fatores decisivos, estruturas com correção ativa do fator de potência são empregadas, mas a complexidade e custos obtidos são significantemente aumentados. O desenvolvimento de estratégias de comutação suave e o projeto de uma disposição ótima dos componentes são os desafios preponderantes para que estas topologias sejam aplicadas em potências elevadas. Na Figura 1.21 é mostrado um retificador trifásico PWM tipo Boost, destinado a suprir cargas do tipo inversor VSI, onde o retificador trifásico PWM pode impor, sob determinadas ações de controle, reduzidas distorções harmônicas para as correntes de entrada e elevado fator de potência para a estrutura [5-6]. CO RO vb(t) vc(t) va(t) La Lb Lc S3 S4 S5 S6 S1 S2 N Figura 1.21 – Retificador trifásico PWM, operando em quatro quadrantes. 34 As técnicas de modelagem e controle aplicadas aos retificadores trifásicos PWM estão divididas em linear e não-linear. Dentre as técnicas lineares, as mais populares são aquelas cujo controle está baseada nas correntes reais de entrada, e aquelas onde o controle é baseado na Transformação de Park. Quanto às técnicas de controle não-lineares, destacam-se: Controle por Histerese, Controle por Modo Deslizante, Controle por Redes Neurais, Lógica Fuzzy, etc. As técnicas de controle lineares, citadas anteriormente, foram exploradas em um retificador trifásico PWM (cuja estrutura é a mesma apresentada na Figura 1.21, entretanto utilizando-se MOSFETs) de três maneiras distintas [32], comentadas a seguir: 1) Controle das correntes reais de entrada (Controle por Valores Médios): É um controle clássico bastante utilizado em retificadores monofásicos, onde o controlador atua diretamente sobre as corrente senoidais de entrada e pode ser implementado tanto na forma analógica como digital; 2) Controle das correntes d-q baseado na Transformação de Park: Nesta técnica, ao invés de atuar diretamente sobre as variáveis senoidais de entrada, o controlador atua sobre as variáveis contínuas id e iq obtidas da Transformação de Park, simplificando o controle, o qual deverá ser implementado preferencialmente na forma digital; 3) Controle de correntes sem sensores (Sensorless) baseado na Transformação de Park: É considerada uma nova técnica de controle para retificadores PWM, na qual as correntes de entrada não são monitoradas. As variáveis id e iq são geradas através de modelagem, tornando o controle simples e de custo reduzido, sendo implementado também de forma digital. Uma das estratégias mais preferidas no emprego da modulação PWM destas estruturas é a modulação por vetores espaciais (SVM – Space Vector Modulation). O seu princípio básico de funcionamento consiste em determinar uma seqüência de vetores que resulte em uma corrente senoidal na entrada. Cada vetor representa um estado topológico da estrutura, sendo que cada estado topológico é resultante de uma combinação específica dos estados (ON, OFF) de cada interruptor controlado [33-34]. Utilizando-se da Transformação de Park, citada em [32], os mesmos autores apresentaram em [34], de uma forma bastante didática, o emprego da modulação Space-Vector PWM em um retificador trifásico bidirecional. Em [35], a modulação Space-Vector PWM também foi aplicada no controle de um retificador trifásico unidirecional com três interruptores ativos, conforme Figura 1.22. Este retificador, além de alimentar uma determinada carga, opera simultaneamente como um filtro ativo 35 paralelo, especifico para eliminar as harmônicas geradas por um retificador convencional de seis pulsos. Entretanto, é necessária condição especial de operação (Corrente de carga deverá ter um valor mínimo especificado em projeto), tendo em vista a característica de fluxo unidirecional de corrente desta estrutura. Cdc va(t) L S1 vb(t) vc(t) L L C C C carg a DO Ldc iconA irecA idcS2 S3 Figura 1.22 – Retificador trifásico PWM, unidirecional em corrente. As estruturas unidirecionais em corrente são caracterizadas por empregar uma quantidade menor de interruptores controlados e uma quantidade maior de interruptores não- controlados. Em contrapartida, as estruturas bidirecionais em corrente empregam geralmente uma quantidade maior de interruptores controlados e uma quantidade menor de interruptores não-controlados, entretanto, possuem uma flexibilidade maior na correção do Fator de Potência. Com o objetivo de se reduzir os custos dos retificadores trifásicos PWM, principalmente para as aplicações unidirecionais, retificadores trifásicos não controlados, a diodos, são freqüentemente cascateados com conversores reguladores CC-CC PWM, compondo um retificador controlado, conforme discussão do tópico seguinte. 1.2.2.2 - Retificadores Trifásicos Não-Controlados Associados em Cascata com Conversores CC -CC Esta técnica resulta em menor peso e volume dos elementos magnéticos, devido sua freqüência elevada de operação. Com os avanços tecnológicos dos interruptores, em particular os IGBTs (Insulated gate bipolar transistor), foi possível estender o uso destas topologias em aplicações industriais. Na Figura 1.23 tem-se um retificador trifásico a diodos acoplado a um conversor CC-CC PWM boost, operando no modo de condução contínua, com filtro indutivo e capacitivo na entrada. 36 D 1 D 3 D 5 D 2 D 4 D 6 CO RO Lb Cc Sp Dp La2 Vb(t) Vc(t) Va(t) La1 Lb2Lb1 Lc2Lc1 C b C a Boost Figura 1.23 – Retificador não controlado associado a conversor CC-CC PWM Boost. Obviamente, existe também a possibilidade da operação do conversor CC-CC PWM boost no modo de condução descontínua, porém, este modo de operação se limita para aplicações não industriais, devido principalmente aos picos de corrente, aumentando-se os esforços nos interruptores, e ao surgimento de interferência eletromagnética (IEM) associada aos níveis elevados de di/dt . A grande vantagem dessa estrutura, operando em condução contínua, é a DHT reduzida para as correntes de entrada e o fator de potência elevado, atendendo-se plenamente as normas internacionais e, além disso, possibilita regular a tensão CC de saída. Observa-se adicionalmente que os filtros indutivos de entrada (La2, Lb2 e Lc2) poderão ser deslocados para o lado CC, reduzindo-se o volume destes elementos magnéticos e os custos da estrutura, conforme Figura 1.24, sendo possível a operação do conversor Boost no modo de condução contínua, e, o controle da corrente de entrada, impondo-se Distorção Harmônica Total reduzida e fator de potência elevado [6 e 36]. D1 D3 D5 D2 D4 D6 CO RO Cc Sp Dp Lin Vb(t) Vc(t) Va(t) La1 Lb1 Lc1 CbCa Boost Figura 1.24 – Retificador não controlado associado a conversor CC-CC PWM Boost, filtro no lado CC. 37 Entretanto, uma vez que a potência processada pelo retificador não controlado é também processada pelo conversor boost, a eficiência da estrutura é comprometida, principalmente para aplicações em potências elevadas (industriais). Portanto, em função da redução da eficiência e considerando-se que a confiabilidade da estrutura também se reduz, para aplicações industriais é proposto o conceito de retificadores trifásicos híbridos. 1.2.3 – Retificadores Trifásicos Híbridos Os retificadores híbridos são constituídos de um retificador não controlado e um retificador controlado PWM, conforme exemplo na Figura 1.25. O retificador não-controlado opera em baixa freqüência e conduz a maior parte da potência ativa entregue para a carga. Enquanto isso, o retificador controlado PWM processa uma pequena parte da potência, operando em freqüência elevada. O grande atrativo desta estrutura é a combinação da robustez e eficiência do retificador não controlado, com a imposição da corrente de entrada com reduzida DHT, através do controle adequado do retificador controlado PWM. Observa-se que o retificador híbrido não pode ser classificado como um filtro ativo, pelo fato do retificador PWM ativo processar uma pequena parte da potência ativa total e nunca processar apenas potência reativa. D1 D3 D5 D2 D4 D6 Vb(t) Vc(t) CO RO Va(t) N LO Retificador Trifásico PWM Retificador não controlado Figura 1.25 – Retificador trifásico híbrido. 38 O grande desafio em compor um retificador híbrido é obter uma estrutura capaz de garantir simultaneamente as seguintes características: ��Fator de potência elevado; ��DHT reduzida das correntes de entrada; ��Regulação da tensão de saída; ��Confiabilidade elevada (robustez); ��Rendimento elevado; ��Simplicidade de operação e controle; ��Níveis reduzidos de interferência eletromagnética. A bidirecionalidade em corrente (característica importante em um retificador trifásico híbrido com correção do Fator de Potência) depende exclusivamente do retificador trifásico controlado, ou seja, se este é bidirecional em corrente (Comentado anteriormente no tópico 1.2.2.1). Em [10], foi desenvolvido um retificador trifásico híbrido unidirecional em corrente, composto de um retificador de 6-pulsos convencional com um conversor boost em cascata para o controle da tensão de saída, e um retificador trifásico PWM unidirecional conectado em paralelo para impor a corrente de entrada com formato senoidal. Para isso, cada uma das estruturas (controlada e não-controlada) processa 50% da potência total entregue à carga. Posteriormente, em uma outra aplicação desta mesma estrutura [37], os autores consideraram a hipótese do retificador controlado processar apenas 33% da potência total entrega à carga. Neste caso, devido o retificador controlado ser unidirecional em corrente, a forma de onda da corrente na entrada deixa de ser senoidal (DHT>0), mas com possibilidade de atender às normas reguladoras IEC, tornando-se uma forma de operação vantajosa e viável. Já para os retificadores híbridos bidirecionais, as correntes de entrada serão sempre senoidais. O que é interessante analisar neste caso é a flexibilidade de se impor os valores de potência aparente processada e de potência média entregue à carga pela estrutura controlada, mantendo uma DHT quase nula. Como exemplo, foi proposto em [38] um retificador híbrido bidirecional, apresentado na Figura 1.26, cujo ponto de operação escolhido resultou para o retificador controlado uma potência aparente com valor de 30% da potência aparente total processada e potência média de 10% da potência média total entrega à carga. No entanto, a complexidade no controle tende a aumentar devido à maior quantidade de interruptores controlados. 39 CO va(t) Lf1 S1 vb(t) vc(t) Sb S2 S3 S4 S5 S6 Lf2 Lf3 Lb1 Lb2 i1(t) i2(t) i3(t) Dr1 Dr2 Dr3 Dr4 Dr5 Dr6 D4 D5 D6 D1 D2 D3 i1b(t) i2b(t) i3b(t) iOa(t) iOb(t) Db2 Db1 iO(t) carg a Figura 1.26 – Retificador trifásico híbrido bidirecional em corrente com conversor boost na saída. Os dois trabalhos a serem abordados na seqüência, apesar de não se enquadrarem totalmente dentro das definições de retificadores híbridos mencionadas anteriormente, são conversores híbridos e sinalizam uma tendência importante que é a associação de estruturas diversas (como por exemplo: Retificadores controlados, inversores, filtros ativos, etc.) com o intuito de melhorar o desempenho da estrutura como um todo. O retificador trifásico híbrido a ser discutido na seqüência [39], mostrado na Figura 1.27, possui uma aplicação interessante que é a supressão de IEM (Interferência Eletromagnética). É constituído de dois retificadores trifásicos controlados conectados em paralelo, sendo um denominado “Retificador Principal” e o outro “Retificador Auxiliar”. O retificador principal processa toda a potência ativa entregue à carga e opera com freqüência de comutação constante (PWM) de 1,2kHz. Retificador principal (maior potência, menor frequência) R ed e de a lim en ta çã o C A tr ifá si ca 3,41 mH CO RO Retificador auxiliar (menor potência, frequência elevada) 1,0 mH 1,2 kHz Figura 1.27 – Retificador trifásico PWM, para redução de interferência eletromagnética. 40 Com isso, pode-se corrigir o fator de potência na entrada e ainda controlar a tensão de saída para potências mais elevadas sem grandes variações (di/dt) de corrente. O retificador auxiliar por sua vez processa potência muito menor do que aquela processada pelo retificador principal e utiliza a modulação por histerese com uma freqüência de comutação bastante elevada. Deste modo, minimiza-se o ripple de baixa freqüência (1,2kHz), resultando em um retificador trifásico híbrido PWM, com correntes de entrada praticamente senoidais, com uma freqüência de comutação de 10 kHz e níveis reduzidos de IEM. No trabalho analisado em [40] foi proposto um inversor trifásico híbrido composto por um inversor trifásico de corrente (CSI – Current Source Inverter) e um inversor trifásico de tensão (VSI – Voltage Source Inverter), com as saídas de ambos conectadas em paralelo com a carga (motor de indução trifásico), conforme mostrado na Figura 1.28. Retificador controlado L M Inversor principal Inversor auxiliar +- Figura 1.28 – Inversor trifásico híbrido. O inversor trifásico de corrente (alimentado por um retificador controlado com saída em corrente) é denominado “inversor principal” e processa a maior parte da potência ativa entregue à carga, sendo destacadas a seguir algumas características desta estrutura. ��Possibilita a transferência bidirecional da potência elétrica; ��Responde rapidamente ao comando de mudança de fase da corrente de saída; ��O circuito de potência é mais simples e robusto do que o VSI, devido a ausência do diodo de roda livre e a proteção natural de sobrecorrente inerente da indutância elevada na saída do retificador (com malha de controle de corrente). Entretanto, o valor elevado desta indutância resulta para o inversor CSI em uma resposta lenta ao comando de mudança de amplitude da corrente de saída; 41 ��A forma de onda da corrente de saída é quadrada (possui o mesmo formato da corrente de entrada de um retificador convencional de 6 pulsos – Figura 1.10) e com a mesma freqüência da componente fundamental da corrente entregue à carga, portanto com níveis reduzidos de IEM e de perdas de comutação. Em contrapartida, possui DHT de 30%, predominando componentes harmônicas de ordens menores. O inversor trifásico de tensão (VSI) ocupa a função de “inversor auxiliar” e processa a menor parte da potência ativa entregue à carga (ou somente potência reativa), sendo listadas a seguir algumas de suas características de funcionamento: ��Possibilita uma variação ampla da amplitude e freqüência da tensão de saída; ��Responde rapidamente ao comando de mudança de fase e de amplitude da tensão de saída; ��No entanto, esta estrutura é penalizada devido às perdas elevadas de comutação e IEM, que são problemas inerentes da operação em freqüências elevadas. A técnica de controle aplicada para o inversor trifásico híbrido é linear (utiliza-se as componentes d-q obtidas da transformação de Park) e a modulação empregada é o Space- Vector. Portanto, dentre as vantagens do inversor trifásico híbrido em relação aos inversores trifásicos CSI e VSI operando individualmente, destacam-se as seguintes: ��A mudança rápida de amplitude da corrente de saída, proporcionada pelo inversor VSI; ��Redução das perdas de comutação e de IEM, uma vez que o inversor CSI processa a maior parte da potência ativa entregue à carga; ��Redução das harmônicas de ordens menores nas correntes de saída realizada pelo inversor VSI, resultando em correntes com o formato praticamente senoidal. Nas três estruturas subseqüentes [41-43], o retificador controlado PWM é unidirecional em corrente e é constituído de três retificadores monofásicos SEPIC e Boost. Tais retificadores híbridos são capazes de prover fator de potência elevado e distorção harmônica reduzida nas correntes de entrada. Estas estruturas são compostas por um retificador trifásico convencional de seis pulsos (Ponte de Graetz), com filtro indutivo na saída e a conexão paralela de retificadores monofásicos SEPIC [41] ou Boost [42-43], em cada fase do retificador, conforme Figuras 1.29 e 1.30. Estas topologias resultam em estruturas capazes de programar a forma de onda da corrente de entrada, proporcionando condições para a obtenção de fator de potência elevado e Distorção Harmônica Total reduzida nas correntes de entrada do retificador, tendo sido 42 denominados “Retificadores Trifásicos Híbridos com correção do fator de potência (Three- Phase PFC-HPR – Three-Phase Power-Factor-Correction Hybrid Power Rectifier )”. As estruturas das Figuras 1.29 e 1.30 foram desenvolvidas com a finalidade de se obter uma corrente de entrada de qualidade elevada sem o uso de transformadores defasadores em grupos de retificadores, os quais apesar da robustez da estrutura, tornam todo o conjunto volumoso e pesado, além de outras desvantagens já mencionadas anteriormente, tais como, a necessidade de se utilizar transformadores de interfase (com complexidade de projeto), em grande parte das aplicações, e filtros para compensar componentes harmônicas de tensão pré- existentes em sistemas desbalanceados [17]. D1 D3 D5 D2 D4 D6 CO RO LO1 LO2 D7 D8 D9 L1 L2 S1 C2 C1 D10 L3 D11 D13 D14 D15 D16 D17 L4 L5 S2 C4 C3 D18 L6 D11 D19 D20 D21 D22 D23 L7 L8 S3 C6 C5 D24 L9 D25 D26 D27 Vb(t) Vc(t) Va(t) N ia(t) ib(t) ic(t) ic1(t) ib1(t) ia1(t) ic2(t) ib2(t) ia2(t) i1(t) i2(t) i3(t) iRetif-1(t) iRetif-2(t) vO(t) Retif-1 iO(t) iO(t)=iRetif-1(t)+iRetif-2(t) Retif-2 Figura 1.29 – Retificador Híbrido Trifásico com correção do fator de potência (PFC-HPR), com retificadores controlados SEPIC. 43 D1 D3 D5 D2 D4 D6 CO RO LO Vb(t) Vc(t) Va(t) N ia(t) ib(t) ic(t) ic1(t) ib1(t) ia1(t) ic2(t) ib2(t) ia2(t) iRetif-1(t) iRetif-2(t) vO(t) Retif-1 iO(t) iO(t)=iRetif-1(t)+iRetif-2(t) D11 i1(t) D7 D8 D9 L1 S1 D10 1 : 1 D12 i2(t) D13 D14 D15 L2 S2 D16 1 : 1 D13 i3(t) D17 D18 D19 L3 S3 D20 1 : 1 Retif-2 Figura 1.30 – Retificador Híbrido Trifásico com correção do fator de potência (PFC-HPR), com retificadores controlados Boost. A lógica de controle (analógico) dos Retificadores Híbridos Trifásicos (PFC-HPR) é apresentada em [41-42], os quais operam com pulsos PWM e processam uma pequena fração da potência total. Cada retificador monofásico (SEPIC ou Boost) é sincronizado com a respectiva fase e opera de maneira independente dos demais. Em uma análise global, estes conversores comportam-se como uma fonte de corrente controlada utilizando uma estratégia bastante simples. Impõe-se uma corrente de referência para os conversores SEPIC, ou Boost, de maneira que as correntes drenadas por estes conversores, quando somadas com as correntes drenadas pelo retificador de seis pulsos convencional, resultem em uma corrente mais próxima da senoidal em cada fase da rede de alimentação e, conseqüentemente, reduzindo a DHT e elevando o fator de potência. Desse modo, manipulando-se o formato da corrente de referência de cada SEPIC, ou Boost, pode-se obter a corrente de entrada com 12, 44 18, 24 pulsos ou mais, inclusive com a possibilidade de se obter fator de potência unitário. No intuito de se comprovar a eficiência dessa estrutura, os autores implementaram um protótipo do retificador híbrido, operando como retificador trifásico de 12 pulsos, para potência de 3,0 kW, em [41] e 6,0 kW em [42]. Recentemente, a mesma estrutura explorada em [42] (Figura 1.32) foi implementada para potência de 2,8 kW, impondo-se uma forma de onda senoidal na entrada através de controle digital e com o uso de microcontrolador, sendo os resultados experimentais preliminares já publicados [43]. 1.3 - Motivação e Proposta para o Trabalho Considerando o retificador proposto da Figura 1.29, operando com corrente de entrada de “q.6±1” pulsos, dependendo do valor do índice “q” e do valor da potência nominal de saída processada, o conteúdo harmônico ainda existente nas correntes de entrada (por exemplo, ia(�.t)), para algumas ordens harmônicas, pode não obedecer os limites estabelecidos pelas normas, como por exemplo a IEC61000-3-2 e IEC61000-3-4. Além disso, a técnica de controle analógico proposta pelos autores [41] resulta em circuitos analógicos envolvendo uma certa complexidade, dificultando a imposição de uma corrente de entrada senoidal e impedindo a desejada programação da DHT para as correntes de entrada. Neste contexto, objetivando atender plenamente os limites estabelecidos pelas normas internacionais IEC/IEEE, para a corrente de linha de entrada, propõe-se neste trabalho de tese, uma técnica de controle digital modificada para o circuito apresentado na Figura 1.29 (Retificadores monofásicos SEPIC), oferecendo uma maior flexibilidade na implementação, capaz de impor a corrente de entrada dos conversores controlados (por exemplo, ia2(�.t)), resultando em um fator de potência quase unitário e reduzida potência ativa processada pelo retificador controlado, permitindo ainda ampla programação da desejada DHT das correntes drenadas da rede de alimentação em corrente alternada. Considerando a independência de operação de cada retificador monofásico SEPIC, analisaram-se três técnicas de controle clássico aplicadas na correção ativa do Fator de Potência em estruturas monofásicas operando no modo de condução contínua [44], sendo uma delas posteriormente escolhida para compor a técnica de controle digital proposta. 1.3.1 - Controle por Corrente de Pico O esquema básico do controle por corrente de pico é mostrado na Figura 1.31, utilizando o conversor boost como exemplo. O interruptor controlado é comandado para a 45 condução através de um sinal de “clock” operando em freqüência constante, e é comandado para o bloqueio através de um sinal “reset” sempre que a soma da rampa externa com a corrente através do interruptor controlado atingir o valor da corrente de referência. L + 1 K1 vi(t) D1 i(t) D2 D3 D4 + vg - D S CL RL + vL - + - Rampa externa Q R S Clock + - Vref z=x.y x y Referência senoidal Multiplicador Regulador de tensão IL Figura 1.31 – Esquema do controle por corrente de pico aplicado ao conversor boost. Algumas vantagens e desvantagens desta técnica estão destacadas a seguir: ��Vantagens: - Freqüência de comutação constante; - Não necessita de compensador de corrente; - Constitui-se um verdadeiro limitador de corrente para o interruptor. ��Desvantagens: - Presença de oscilações sub-harmônicas na corrente monitorada para razão cíclica maior do que 50%, sendo necessária uma rampa de compensação; - Acréscimo da distorção harmônica na corrente de entrada para uma tensão de entrada mais elevada e/ou carga reduzida, sendo este problema piorado na presença da rampa de compensação; - Não possibilita o controle do ripple da corrente monitorada em regime transitório, para a operação no modo de condução contínua (MCC). 46 - O controle é mais susceptível aos ruídos de comutação. A freqüência de resposta do controle é elevada (o controle atua sempre no bloqueio do interruptor). 1.3.2 - Controle por Corrente Média Nesta técnica de controle, mostrada na Figura 1.32, a corrente de entrada é monitorada e posteriormente filtrada pelo compensador de corrente para finalmente ser comparada com o sinal dente de serra, gerando os pulsos PWM para comandar o interruptor principal. Além disso, o compensador de corrente tende a reduzir o erro entre a corrente média de entrada e a referência gerada pela lógica de multiplicação. L 1 K1 vi(t) D1 i(t) D2 D3 D4 + vg - D S CL RL + vL - Modulador PWM + - Vref z=x.y x y Referência senoidal Multiplicador Regulador de tensão Regulador de corrente RS IL Figura 1.32 – Esquema do controle por corrente média aplicado ao conversor boost. Na seqüência, são discutidas algumas vantagens e desvantagens desta técnica. ��Vantagens: - Freqüência de comutação constante; - Não necessita de rampa de compensação; - O controle é menos susceptível aos ruídos de comutação, devido à filtragem da corrente de entrada; - A forma de onda da corrente de entrada possui uma melhor qualidade do que 47 aquela verificada para o controle por corrente de pico, tendo em vista que perto do cruzamento por zero da tensão de entrada, a razão cíclica se aproxima do valor unitário minimizando o tempo morto da corrente de entrada. ��Desvantagens: - A necessidade de um compensador de corrente. 1.3.3 - Controle por Histerese variável (Modulação por Limites de Corrente – MLC) No controle por histerese, são estabelecidos os limites máximo e mínimo da corrente, fazendo-se a comutação do interruptor controlado em função de tais limites extremos, conforme exemplificado através da Figura 1.33. L 1 K1 vi(t) D1 i(t) D2 D3 D4 + vg - D S CL RL + vL - + - Vref z=x.y x y Referência senoidal Multiplicador Regulador de tensão Q IL Ip,ref IV,ref R S FF Figura 1.33 – Esquema do controle por histerese variável aplicado ao conversor boost. Nesta técnica de controle, o interruptor é comandado para a condução quando a corrente através do indutor atinge um valor menor do que o limite (referência) inferior, e por outro lado, é comandado para o bloqueio quando a corrente através do indutor se torna maior do que o limite (referência) superior. Assim, o valor instantâneo da corrente, em regime, é mantido dentro dos limites estabelecidos e o conversor comporta-se como uma fonte de corrente. Tanto a freqüência quanto à largura de pulso (razão cíclica) são variáveis, 48 dependendo dos parâmetros do circuito e dos limites impostos (Largura da banda de histerese). A seguir, são comentadas as principais vantagens e desvantagens desta técnica. ��Vantagens: - Não necessita de compensador de corrente; - Não necessita de rampa de compensação; - A forma de onda da corrente de entrada possui uma distorção reduzida, em relação ao sinal de referência; - Proporciona uma resposta dinâmica melhor do que as técnicas “Controle por Corrente de Pico” e “Controle por Corrente Média”, devido aos atrasos intrínsecos da modulação PWM e tempo de resposta do compensador de corrente; - Possibilita o controle do ripple da corrente monitorada mesmo em regime transitório, pelo fato da largura da banda de histerese ser independente das grandezas do circuito. ��Desvantagens: - Freqüência de comutação variável; - O controle usa a informação instantânea da corrente monitorada, portanto, é mais susceptível aos ruídos de comutação. Dentre as três técnicas analisadas, optou-se pelo “Controle por Histerese”, considerando-se além de suas vantagens, a simplicidade e facilidade de implementação. Quanto às desvantagens destacadas, existem técnicas utilizadas em controle digital que possibilitam minimizar a variação da freqüência de comutação e a susceptibilidade do controle aos ruídos de comutação [45-46]. Finalmente, para a implementação da técnica de controle digital proposta, aplicando- se a modulação por histerese, utilizar-se-á um dispositivo programável FPGA e linguagem VHDL, devido suas características de flexibilidade e de processamento concorrente, possibilitando executar todos os procedimentos de controle de forma simultânea. Neste sentido, o objetivo principal deste trabalho é o aprimoramento e a implementação digital da lógica de controle do Retificador Híbrido Trifásico com Correção do Fator de Potência (PCF-HPR), apresentado em [41], através do uso da Linguagem de descrição de Hardware VHDL (Hardware Description Language), e a apresentação dos resultados experimentais. Neste contexto, a apresentação deste trabalho segue a seguinte estrutura: 49 1) No capítulo 1, é apresentada uma revisão bibliográfica básica, no intuito de situar o trabalho no contexto geral; 2) No capítulo 2, é apresentado com um pouco mais de detalhe o Retificador Trifásico Híbrido com Correção do Fator de Potência (PCF-HPR) com retificadores controlados SEPIC, através da análise quantitativa, relacionando a DHT imposta para as correntes de entrada com as potências aparente e média processadas pelo retificador controlado, não- controlado e híbrido; 3) No capítulo 3, são apresentadas as análises qualitativa e quantitativa do retificador monofásico SEPIC que compõe o retificador trifásico híbrido, considerando a técnica de modulação por histerese aplicada; 4) No capítulo 4, é apresentada a metodologia de projeto para o Retificador Híbrido Trifásico com Correção do Fator de Potência; 5) No capítulo 5, são apresentados em detalhes os circuitos, de ataque, condicionamento e aquisição de sinais e o funcionamento do código VHDL desenvolvido para a implementação do controle digital em FPGA; 6) No capítulo 6, são apresentados os resultados experimentais e análises. 7) No capítulo 7, são apresentadas as conclusões finais e as propostas de continuidade da pesquisa. 50 CAPÍTULO 2 2 - Análise Quantitativa do Retificador Trifásico Híbrido com Correção do Fator de Potência (RTH) 2.1 - Introdução Neste capítulo apresenta-se a análise quantitativa do Retificador Híbrido Trifásico, com correção do Fator de Potência (RTH). O objetivo desta análise é conhecer o valor eficaz das correntes de entrada e o valor médio da tensão e das correntes de saída, bem como as potências média e aparente processadas através de cada estrutura retificadora, controlada e não-controlada e, conseqüentemente, o Fator de Potência (FP), mediante uma DHT (Distorção Harmônica Total) imposta para as correntes de entrada, através de uma lógica de controle apropriada para o retificador controlado, considerando-se o circuito apresentado na Figura 2.1. D1 D3 D5 D2 D4 D6 CO RO LO1 LO2 N Retif-1 Conversor CC-CC Conversor CC-CC Conversor CC-CC N Retif-2 � ��.tva � ��.tia � ��.tia1 � ��.tib1� ��.tvb � ��.tvc � ��.tic � ��.tib � ��.tic2 � ��.tic1 � ��.tia2 � ��.tib2 � ��.tic2 � ��.tib2 � ��.tia2 � ��.tvO � ��.tiO � ��.ti 1-Retif � ��.ti 2-Retif � ��.tva � ��.tvb � ��.tvc � ��.tim1 � ��.tim1 � ��.tim2 � ��.tim2 � ��.tim3 � ��.tim3 Figura 2.1 – Retificador Trifásico Híbrido com correção do fator de potência (RTH). 51 2.2 – Descrição da Análise Quantitativa De acordo com a Figura 2.1, observa-se que a análise é genérica, válida para qualquer conversor CC-CC, com possibilidade de corrente contínua na entrada, para a composição do retificador controlado (Retif-2), incluindo os conversores SEPIC ou Boost, já discutidos no Capítulo 1 [41-43]. Entretanto, observa-se que para aplicação dos conversores retificadores Boost, adequada adaptação entre os valores de projeto da tensão de entrada e da tensão média na carga deverá existir (por exemplo, com o uso de transformadores associados aos retificadores Boost). Portanto, as equações que descrevem o funcionamento do conversor SEPIC não serão discutidas nesta análise. Além disso, pressupõe-se que as indutâncias de saída (LO1 e LO2) do retificador não controlado (Retif-1) possuam valores elevados, de modo que o ripple da corrente de saída iRetif-1(�.t) possa ser desprezado. Considera-se inicialmente a inexistência do retificador 2, e, o retificador convencional de seis pulsos, cujas tensões e correntes em cada fase, na entrada, possuem as seguintes formas de onda teóricas, defasadas de 120º, conforme Figura 2.2. 0º 30º 60º 90º 120º 150º 180º 210º 240º 270º 300º 330º 360º t t t IRetif-1= IO IRetif-1= IO IRetif-1= IO � ��.tvb � ��.tva � ��.tva � ��.tia � ��.tib � ��.tic Figura 2.2 – Formas de onda de tensão e corrente na entrada do Retificador Híbrido (RTH) operando como um retificador convencional de seis pulsos (Retificador 2 inoperante). 52 Conforme as formas de onda do retificador convencional de seis pulsos, (Figura 2.2), a corrente média (IRetif-1) de saída do Retif-1 é igual à corrente média total (IO) na carga, (IRetif-1=IO). No entanto, para compor uma corrente de entrada senoidal, cada retificador monofásico SEPIC, pertencente ao Retif-2, deverá conduzir uma parcela da corrente de entrada, de sua respectiva fase, diretamente para a carga e de maneira apropriada. Como exemplo, através da Figura 2.3 visualiza-se a corrente de entrada ia(�.t) da fase “a”, com a composição de duas parcelas ia1(�.t) e ia2(�.t), representando o funcionamento do circuito mostrado na Figura 2.1. t t t t 0º 30º 60º 90º 120º 150º 180º 210º 240º 270º 300º 330º 360º t t IRetif-1 IRetif-1 t t IRetif-1 t � ��.tia � ��.tib � ��.tic1 � ��.tic2 � ��.tic � ��.tib2 � ��.tia2 � ��.tia1 � ��.tib1 Figura 2.3 – Formas de onda das correntes na entrada do Retificador Híbrido (RTH), impostas como sendo senoidais através do controle adequado do Retif-2. 53 Desta maneira, a corrente média na carga (IO) passa a ser composta pela soma das correntes médias de saída de cada retificador, ou seja: IO=IRetif-1+IRetif-2. Para facilitar a compreensão da análise, o circuito do Retificador Trifásico Híbrido com correção do Fator de Potência (RTH) é mostrado novamente, através da Figura 2.4, entretanto, relacionando os valores médios e eficazes das grandezas envolvidas. D1 D3 D5 D2 D4 D6 CO RO LO1 LO2 N Retif-1 Conversor SEPIC Conversor SEPIC Conversor SEPIC N Retif-2 Vaef VO IO Iaef Vbef Vcef Ibef Icef Ia1ef Ib1ef Ic1ef Ia2ef Ib2ef Ic2ef Im3 Im2 Im1 IRetif-2IRetif-1 Vaef Vbef Vcef Figura 2.4 – Retificador Híbrido Trifásico com Correção do Fator de Potência (RTH). Onde: Vaef, Vbef e Vcef: Valor eficaz da tensão de entrada, nas fases “a”, “b” e “c”; Iaef, Ibef e Icef: Valor eficaz da corrente de entrada, nas fases “a”, “b” e “c”; Ia1ef, Ib1ef e Ic1ef: Valor eficaz da corrente de entrada do retificador não-controlado, nas fases “a”, “b” e “c”; 54 Ia2ef, Ib2ef e Ic2ef: Valor eficaz da corrente de entrada do retificador controlado, nas fases “a”, “b” e “c”; Im1, Im2 e Im3: Valor médio da corrente de saída do retificador controlado, nas fases “a”, “b” e “c”; IRetif-1: Valor médio da corrente de saída do retificador não controlado (Retif-1); IRetif-2: Valor médio da corrente de saída do retificador controlado (Retif-2); IO: Valor médio da corrente de saída através da carga; VO: Valor médio da tensão de saída sobre a carga; P: Valor médio da potência entregue à carga (Potência ativa); Pin: Valor médio da potência requerida da fonte de alimentação; S: Valor da potência aparente requerida da fonte de alimentação; �: Rendimento do retificador trifásico híbrido. Considerando-se um rendimento de valor “�” para o retificador trifásico híbrido, obtém-se uma relação entre as potências de entrada (Pin) e saída (P), dada através da equação (2.1): � PPin � (2.1) Sendo que: � � � � � � � � � � � �� � � �� ��� T 0 ccbbaain t.�d.t.�.it.�vt.�.it.�vt.�.it.�v. T 1P (2.2) O 2 O OO R V I.VP �� (2.3) Onde: T : Período da rede em segundos; RO: Valor da resistência na carga; � : Freqüência angular das tensões de entrada, em rd/s. A potência aparente de entrada é dada pela equação (2.4): efefefefefef ccbbaa I.VI.VI.VS ��� (2.4) Para simplificar a análise, será considerado que as tensões de alimentação possuem um formato senoidal e estão equilibradas. Portanto: efefefef cba VVVV ��� (2.5) 55 efefefef cba IIII ��� (2.6) Assim, as equações (2.2), (2.4), (2.5) e (2.6) são reescritas em função de suas componentes harmônicas, conforme definições apresentadas no capítulo 1: � �1ef(1)efin cos.I.3.VP �� (2.7) efef I.V.3S � (2.8) 2 V V 1 ef � (2.9) � � �� 1n 2 n2 mdef 2 III (2.10) Onde: �1 : Ângulo de defasagem entre as componentes fundamentais da tensão e da corrente de entrada; Imd : Valor médio da corrente de entrada; Vef : Valor eficaz da tensão de entrada monofásica do retificador trifásico híbrido; Ief : Valor eficaz da corrente de entrada monof