Resumo A fitofisionomia de campo úmido integra-se ao bioma Cerrado quando próximo a nascentes e cursos d’água, e em áreas com lençol freático superficial. Devido às condições edáficas particulares que restringem e selecionam as espécies, esse ambiente apresenta uma flora bastante típica. O presente estudo objetivou listar as espécies de plantas vasculares registradas em área de campo úmido situada na Fazenda Pedra Vermelha, município de Analândia, estado de São Paulo, e comparar os resultados com outros de áreas campestres alagadas no Brasil. A área amostrada possui 5ha e está situada entre as coordenadas 22º7’50”–8’1”S e 47º46’40”–53”O, a 760–770 m de altitude. Foram realizados 18 expedições mensais de coleta, registrando-se 178 espécies em 121 gêneros e 62 famílias. Asteraceae (19 espécies), Cyperaceae (15), Poaceae (14), Melastomataceae (13), Xyridaceae e Eriocaulaceae (8) mostraram-se mais diversas. Uma provável espécie nova para Cyperaceae foi diagnosticada e sete espécies encontram-se listadas como em risco de extinção. A similaridade florística entre o campo úmido amostrado e as áreas usadas para comparação apresentou-se baixa. Os resultados obtidos comprovam uma riqueza florística significativa para o campo úmido da Fazenda Pedra Vermelha. Palavras-chave: campos úmidos, Cerrado, estado de São Paulo, estrato herbáceo, florística. Abstract The moist grassland phyto-physiognomy associates with the Cerrado biome near springs and streams, and in areas with shallow groundwater. This vegetation has a very typical flora, due the particular soil conditions that restrict and select species. The main objective of this study was to record the species of vascular plants in moist grassland in Fazenda Pedra Vermelha, at Analândia municipality, São Paulo, and to compare the floristic composition with other wetlands areas in Brazil. The area has 5ha and is located between the coordinates 22º07’50”–08’01”S and 47º46’40”–53”O, and at altitudes ranging from 760 to 770m. The floristic survey was carried along 18 months. A total of 178 species, 121 genera and 62 families were registered in the area. Asteraceae (19 species), Cyperaceae (15), Poaceae (14) Melastomaceae (13) Xyridaceae and Eriocaulaceae (8) were the richest families. A probable new species of Cyperaceae was diagnosed and seven endangered species were found. The floristic similarity between this sampled moist grassland and the compared areas was low. The results show a significant floristic richness of the moist grassland at the Fazenda Pedra Vermelha. Key words: moist grassland, Cerrado, São Paulo state, herbaceous layer, floristic. Flora vascular de uma área de campo úmido em Analândia, estado de São Paulo Vascular flora of moist grassland area in Analândia, state of São Paulo Naiara Lopes de Sousa1,2 & Julio Antonio Lombardi1 Rodriguésia 67(3): 539-552. 2016 http://rodriguesia.jbrj.gov.br DOI: 10.1590/2175-7860201667301 1 Universidade Estadual Paulista - UNESP, Depto. Botânica, Instituto de Biociências de Rio Claro, Av. 24-A 1515, 13506-900, Rio Claro, SP, Brasil. 2 Autor para correspondência: naiaralsbio@gmail.com Introdução Considerado um complexo vegetacional heterogêneo (Rizzini 1963), o bioma Cerrado é constituído basicamente por fisionomias vinculadas a solos bem drenados. Contudo, são vistas formações associadas a terrenos com excedente hídrico superficial, correspondendo aos ecossistemas de áreas úmidas, tais como os campos úmidos (Ribeiro & Walter 2008). As áreas campestres úmidas normalmente ocorrem em regiões planas próximas a nascentes, cursos d’água, em fundo de vales e em áreas com lençol freático superficial, geralmente entre matas de galeria e o cerrado sensu stricto, atuando como uma área de transição entre essas fitofisionomias (Eiten 1983; Tannus & Assis 2004; Munhoz & Felfili 2006b, 2007; Ribeiro & Walter 2008; Eugênio et al. 2011). 540 Sousa, N.L. & Lombardi, J.A. Rodriguésia 67(3): 539-552. 2016 Devido às condições edáficas particulares dos campos úmidos, esses ambientes possuem flora bastante típica (Munhoz & Felfili 2008). A absorção de nutrientes se torna comprometida pelo estado de alagamento do solo, o que seleciona e restringe o número de espécies com adaptações morfofisiológicas tolerantes a essas condições abióticas e que conseguem persistir na comunidade (Ivanauskas et al. 1997; Amorim & Batalha 2006). Apesar de serem considerados sistemas conservatórios de água, essas fisionomias atualmente apresentam-se ameaçadas, principalmente no que diz respeito à preservação dos aquíferos (Reatto et al. 1998). Devido à prática de drenagem para o uso agrícola, o nível dos lençóis freáticos vem sofrendo rebaixamento, sendo contaminados pelo uso indiscriminado de pesticidas e fertilizantes, e pelo despejo de esgotos (Meirelles et al. 2006), além dos distúrbios causados na vegetação original devido à significativa presença de plantas invasoras, causando a diminuição da riqueza florísticas nos campos úmidos (Batalha 1997). Ainda que Kier et al. (2005) tenham afirmado que as áreas úmidas estão entre as fitofisionomias menos inventariadas do mundo, nos últimos anos, observa-se um interesse e consequente aumento dos estudos sobre a composição da vegetação (Batalha 1997; Araújo et al. 2002; Tannus & Assis 2004; Linsingen et al. 2006; Munhoz & Felfili 2006a, 2007; Rezende 2007; Tannus 2007; Amaral 2008), motivados pela grande riqueza florística, bem como pela ocorrência restrita destas formações quando associadas ao Cerrado, e pelas transformações que a paisagem vem passando devido às intensas ações antrópicas. Com isso, essa contribuição tem como objetivo ampliar o conhecimento sobre as áreas campestres alagadas através do inventário das espécies ocorrentes no campo úmido situado na Fazenda Pedra Vermelha, Analândia, estado de São Paulo, e analisar comparativamente outras áreas de campos úmidos inventariados no Brasil. Materiais e Métodos O campo úmido estudado compreende 5 hectares localizados na Fazenda Pedra Vermelha (FPV) no município de Analândia, estado de São Paulo, entre as coordenadas 22º7’50”–8’1”S e 47º46’40”–53”O, a 760–770 m de altitude sobre o nível do mar. O clima da região é do tipo tropical de altitude - Cwa que, segundo Köppen possui temperaturas médias entre 18o e 23oC, com verões quentes e chuvosos e uma estação seca no inverno, podendo ocorrer geadas esporádicas. Baseado na classificação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa (2006) o solo da área é tido como organossolo por apresentar coloração escura, acúmulo de restos vegetais em decomposição, e por encontrar-se associado a superfície com pouca drenagem, com consequente alagamento. Situado na porção sudoeste da propriedade, onde há um predomínio de vegetação de Cerrado, o campo úmido encontra-se delimitado a nordeste por plantação de eucalipto, e pela presença de matas de galeria inundáveis no entorno dos ribeirões do Feijão e Quebra Canela a sudeste e a oeste, respectivamente, os quais, juntamente com o lençol freático superficial, influenciam diretamente no nível de umidade do solo, principalmente na estação chuvosa, onde o alagamento apresenta-se maior quando comparado com a estação seca (Fig. 1). Para o levantamento florístico no campo úmido da Fazenda Pedra Vermelha foram realizadas 18 expedições de coleta mensais, através de caminhadas aleatórias ao longo da área a partir da estrada de acesso (Filgueiras et al. 1994). O material botânico foi preparado segundo técnicas usuais de herborização, conforme proposto por Fidalgo & Bononi (1984). As exsicatas foram incorporadas ao Herbário Rioclarense (HRCB) do Instituto de Biociências de Rio Claro da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. As identificações taxonômicas foram feitas por meio de literatura especializada e chaves de identificação, bem como por comparação mediante consultas a herbários, e por determinação de especialistas em diferentes grupos taxonômicos. A classificação dos espécimes segue o modelo proposto pelo Angiosperm Phylogeny Group (APG) III (2009) para o reconhecimento das famílias de angiospermas, enquanto que aquela das Lycophytas e Monilophytas estão baseadas, respectivamente, em Kramer & Tryon (1990) e Smith et al. (2006). As espécies foram classificadas quanto aos tipos de hábitos (herbáceo, subarbustivo, arbustivo, arbóreo e trepador) como definidos em Gonçalves & Lorenzi (2011). Quanto á similaridade florística, utilizou-se o índice de Sorensen para comparar as diferentes áreas de campo úmido já inventariadas (Mueller- Dombois & Ellemberg 1974). A sinonimia dos táxons foi conferida através de Prado et al. (2015) e BFG (2015). Flora campo úmido Analândia Rodriguésia 67(3): 539-552. 2016 541 Resultados e Discussão Foram encontradas 178 espécies (Tab. 1) para o campo úmido da FPV, as quais estão distribuídas em 121 gêneros e 62 famílias, sendo 85% delas pertencentes ao grupo das Angiospermas (53 famílias), 13% ao das Monilófitas (8) e 2% das Licófitas (1). Famílias como Asteraceae (19 espécies), Cyperaceae (15), Poaceae (14), Melastomataceae (13), Xyridaceae e Eriocaulaceae (8) apresentaram- se com o maior número de espécies, totalizando 43% da riqueza registrada. As mesmas têm sido apontadas como as mais representativas nos estudos sobre a flora de áreas alagadas no Brasil, apesar de não estarem restritas a esse tipo de ambiente, visto que Asteraceae, Poaceae e Melastomataceae também estão entre aquelas mais diversas para o bioma Cerrado (Mendonça et al. 2008). Os gêneros de grande importância quantitativa são representados por Xyris (8 espécies), Rhynchospora (7), Utricularia (6) e Ocotea (4). Destes, Xyris e Rhynchospora também se destacaram nos levantamentos florísticos de regiões campestres úmidas. A cobertura herbácea densa da área está representada por 63,5% das espécies coletadas. Acima deste estrato observam-se indivíduos arbustivos e subarbustivos que, juntos, equivalem Figura 1 – Mapa da localização do campo úmido em relação à Fazenda Pedra Vermelha, situada no município de Analândia, São Paulo. Figure 1 – Location’s map of the moist grassland relative to Fazenda Pedra Vermelha, located in the municipality of Analândia, Sao Paulo. 542 Sousa, N.L. & Lombardi, J.A. Rodriguésia 67(3): 539-552. 2016 Família / Espécie Hábito Número do coletor ALISMATACEAE Echinodorus paniculatus Micheli Herbáceo N.L.S. 303 APIACEAE Eryngium ebracteatum Lam. Herbáceo N.L.S. 306 APOCYNACEAE Mandevilla scabra (Hoffmanns. ex Roem. & Schult.) K.Schum. Trepador N.L.S. 298 Mandevilla tenuifolia (J.C.Mikan) Woodson Herbáceo N.L.S. 289 Oxypetalum pachygynum Decne. Trepador N.L.S. 341 Peplonia axillaris (Vell.) Fontella & Rapini Trepador J.A.L. 9314 AQUIFOLIACEAE Ilex affinis Gardner Arbóreo N.L.S. 235 Ilex brasiliensis (Spreng.) Loes. Arbóreo N.L.S. 253 ARACEAE Xanthosoma striatipes (K.Koch & C.D.Bouché) Madison Herbáceo N.L.S. 304 ASTERACEAE Achyrocline alata (Kunth) DC. Herbáceo J.A.L. 9245 Acilepidopsis echitifolia (Mart. ex DC.) H.Rob. Herbáceo J.A.L. 9210 Ageratum conyzoides L. Herbáceo J.A.L. 9273 Ageratum fastigiatum (Gardner) R.M.King & H.Rob. Arbustivo J.A.L. 9291 Baccharis dracunculifolia DC. Arbustivo N.L.S. 320 Baccharis junciformis DC. Herbáceo J.A.L. 9222 Baccharis singularis (Vell.) G.M.Barroso Arbustivo J.A.L. 9199 Chromolaena odorata (L.) R.M.King & H.Rob. Arbustivo J.A.L. 9201 Clibadium armani (Balb.) Sch.Bip. ex O.E.Schulz Arbustivo N.L.S. 249 Elephantopus palustris Gardner Herbáceo J.A.L. 9246 Emilia sonchifolia (L.) DC. ex Wight Herbáceo J.A.L. 9254 Gochnatia pulchra Cabrera Arbustivo J.A.L. 9265 Heterocondylus cf. pumilus (Gardner) R.M.King & H.Rob. Herbáceo N.L.S. 273 Heterocondylus vitalbae (DC.) R.M.King & H.Rob. Arbustivo J.A.L. 9251 Jungia floribunda Less. Herbáceo J.A.L. 9264 Lessingianthus glabratus (Less.) H.Rob. Herbáceo J.A.L. 9197 Mikania micrantha Kunth Trepador J.A.L. 9261 Verbesina sordescens DC. Arbustivo J.A.L. 9255 Vernonanthura cf. westiniana (Less.) H.Rob. Arbustivo J.A.L. 9198 BEGONIACEAE Begonia cucullata Willd. Herbáceo J.A.L. 9221 BIGNONIACEAE Tabela 1 – Lista das espécies coletadas no campo úmido da Fazenda Pedra Vermelha, Analândia, São Paulo indicando para cada espécie a família a qual pertence, o hábito e o número do coletor. Table 1 – List of species collected in moist grassland in Fazenda Pedra Vermelha, Analândia, São Paulo indicating the species, the family, the habit and the number of collector. Flora campo úmido Analândia Rodriguésia 67(3): 539-552. 2016 543 Família / Espécie Hábito Número do coletor Jacaranda caroba (Vell.) DC. Arbustivo N.L.S. 347 BLECHNACEAE Blechnum brasiliense Desv. Herbáceo J.A.L. 9321 Blechnum schomburgkii (Klotzsch) C.Chr. Herbáceo J.A.L. 9290 CAMPANULACEAE Lobelia exaltata Pohl Herbáceo J.A.L. 9208 Siphocampylus sulfureus E. Wimm. Herbáceo N.L.S. 297 CARDIOPTERIDACEAE Citronella gongonha (Mart.) R.A.Howard Arbóreo N.L.S. 236 CLUSICACEAE Clusia criuva Cambess. Arbóreo N.L.S. 299 COMMELINACEAE Commelina diffusa Burm.f. Herbáceo J.A.L. 9220 CYATHEACEAE Cyathea atrovirens (Langsd. & Fisch.) Domin Herbáceo J.A.L. 9214 Cyathea delgadii Sternb. Herbáceo J.A.L. 9213 CYPERACEAE Cyperus cf. distans L. Herbáceo N.L.S. 315 Cyperus haspan L. Herbáceo J.A.L. 9206 Cyperus cf. luzulae (L.) Retz. Herbáceo J.A.L. 9293 Eleocharis minima Kunth Herbáceo N.L.S. 338 Eleocharis sp. 1 Herbáceo N.L.S. 337 Rhynchospora albiceps Kunth Herbáceo N.L.S. 263 Rhynchospora corymbosa (L.) Britton Herbáceo J.A.L. 9297 Rhynchospora emaciata (Nees) Boeckeler Herbáceo N.L.S. 319, Rhynchospora globosa (Kunth) Roem. & Schult. Herbáceo N.L.S. 264 Rhynchospora aff. marisculus Lindl. & Nees Herbáceo N.L.S. 33 Rhynchospora aff. rugosa (Vahl) Gale Herbáceo N.L.S. 238 Scleria latifolia Sw. Herbáceo J.A.L. 9318 Scleria scabra Willd. Herbáceo J.A.L. 9250 Sp. nov. ined. Herbáceo J.A.L. 9275 DIOSCOREACEAE Dioscorea hassleriana Chodat Trepador J.A.L. 9217 DROSERACEAE Drosera communis A.St.-Hil. Herbáceo N.L.S. 312 ERICACEAE Agarista chlorantha (Cham.) G.Don Arbustivo N.L.S. 259 Gaylussacia brasiliensis (Spreng.) Meisn. Arbustivo J.A.L. 9278 Gaylussacia pseudogaultheria Cham. & Schltdl. Arbustivo N.L.S. 246 ERIOCAULACEAE Actinocephalus polyanthus (Bong.) Sano Herbáceo N.L.S. 305 544 Sousa, N.L. & Lombardi, J.A. Rodriguésia 67(3): 539-552. 2016 Família / Espécie Hábito Número do coletor Comanthera xeranthemoides (Bong.) L.R.Parra & A.M.Giuletti Herbáceo N.L.S. 262 Eriocaulon elichrysoides Bong. Herbáceo N.L.S. 255 Paepalanthus flaccidus (Bong.) Kunth Herbáceo J.A.L. 9232 Paepalanthus aff. planifolius (Bong.) Körn. Herbáceo N.L.S. 358 Syngonanthus caulescens (Poir.) Ruhland Herbáceo N.L.S. 245 Syngonanthus densiflorus (Körn.) Ruhland Herbáceo J.A.L. 9234 Syngonanthus helminthorrhizus (Mart. ex Körn.) Ruhland Herbáceo J.A.L. 9233 ERYTHROXYLACEAE Erythroxylum cuneifolium (Mart.) O.E.Schulz Arbustivo N.L.S. 327 EUPHORBIACEAE Croton cf. gracilipes Baill. Arbóreo J.A.L. 9215 FABACEAE Aeschynomene sensitiva Sw. Herbáceo J.A.L. 9316 Chamaecrista cathartica (Mart.) H.S.Irwin & Barneby Arbustivo N.L.S. 342 Chamaecrista rotundifolia (Pers.) Greene Herbáceo N.L.S. 318 Senna pendula (Humb. & Bompl. ex Willd. ) H.S. Irwin & Barneby Arbustivo J.A.L. 9306 GENTIANACEAE Chelonanthus alatus (Aubl.) Pulle Herbáceo J.A.L. 9240 Helia oblongifolia Mart. Herbáceo N.L.S. 284 Schultesia aptera Cham. Herbáceo J.A.L. 9239 Schultesia gracilis Mart. Herbáceo J.A.L. 9284 GESNERIACEAE Sinningia elatior (Kunth) Chautems Herbáceo N.L.S. 279 GLEICHENIACEAE Dicranopteris flexuosa (Schrad.) Underw. Herbáceo J.A.L. 9209 HYPERICACEAE Hypericum brasiliense Choisy Herbáceo J.A.L. 9307 IRIDACEAE Sisyrinchium vaginatum Spreng. Herbáceo N.L.S. 242 Iridaceae Indeterminada 1 Herbáceo N.L.S. 293 LAMIACEAE Hyptis caespitosa A.St.-Hil. ex Benth. Herbáceo N.L.S. 336 Hyptis pulchella Briq. Herbáceo N.L.S. 333 Hyptis sp. 1 Arbustivo J.A.L. 9272 LAURACEAE Ocotea lancifolia (Schott) Mez Arbóreo N.L.S. 354 Ocotea pulchella (Nees & Mart.) Mez Arbóreo N.L.S. 280 Ocotea tristis (Nees & Mart.) Mez Arbustivo J.A.L. 9298 Ocotea velloziana (Meisn.) Mez Arbóreo N.L.S. 352 Persea venosa Nees & Mart. Arbóreo J.A.L. 9271 LENTIBULARIACEAE Flora campo úmido Analândia Rodriguésia 67(3): 539-552. 2016 545 Família / Espécie Hábito Número do coletor Utricularia nana A.St.-Hil. & Girard Herbáceo N.L.S. 314 Utricularia nervosa G.Weber ex Benj. Herbáceo N.L.S. 267 Utricularia praelonga A.St.-Hil. & Girard Herbáceo N.L.S. 272 Utricularia tricolor A.St.-Hil. Herbáceo N.L.S. 269 Utricularia triloba Benj. Herbáceo N.L.S. 326 Utricularia sp.1 Herbáceo N.L.S. 286 LORANTHACEAE Struthanthus marginatus (Desr.) Blume Arbustivo N.L.S. 349 LYCOPODIACEAE Palhinhaea cernua (L.) Franco & Vasc. Herbáceo N.L.S. 344 LYGODIACEAE Lygodium volubile Sw. Trepador J.A.L. 9203 MALPIGHIACEAE Byrsonima intermedia A.Juss. Arbustivo J.A.L. 9302 Heteropterys umbellata A.Juss. Arbustivo N.L.S. 288 MALVACEAE Byttneria palustris Cristóbal Subarbustivo N.L.S. 292 MELASTOMATACEAE Acisanthera quadrata Pers. Subarbustivo N.L.S. 290 Cambessedesia hilariana (Kunth) DC. Herbáceo N.L.S. 283 Leandra polystachya (Naudin) Cogn. Arbustivo J.A.L. 9224 Macairea radula (Bonpl.) DC. Arbustivo J.A.L. 9228 Miconia chamissois Naudin Arbóreo N.L.S. 350 Miconia theizans (Bonpl.) Cogn. Arbustivo J.A.L. 9252 Microlepis oleifolia (DC.) Triana Arbustivo J.A.L. 9223 Rhynchanthera ursina Naudin Arbustivo J.A.L. 9229 Rhynchanthera verbenoides Cham. Herbáceo J.A.L. 9281 Tibouchina gracilis (Bonpl.) Cogn. Herbáceo J.A.L. 9309 Tibouchina herbacea (DC.) Cogn. Herbáceo J.A.L. 9226 Tibouchina ursina (Cham.) Cogn. Arbustivo J.A.L. 9227 Trembleya parviflora (D.Don) Cogn. Arbustivo N.L.S. 346 MELIACEAE Guarea macrophylla Vahl Arbóreo N.L.S. 248 MYRTACEAE (Sobra, M. - UFSJ) Myrcia hartwegiana (O.Berg) Kiaersk. Arbóreo J.A.L. 9267 Myrcia laruotteana Cambess. Arbóreo N.L.S. 265 OCHNACEAE Ouratea spectabilis (Mart.) Engl. Arbustivo J.A.L. 9304 Sauvagesia racemosa A.St.-Hil. Herbáceo N.L.S. 300 ONAGRACEAE Ludwigia nervosa (Poir.) H.Hara Arbustivo J.A.L. 9230 546 Sousa, N.L. & Lombardi, J.A. Rodriguésia 67(3): 539-552. 2016 Família / Espécie Hábito Número do coletor Ludwigia tomentosa (Cambess.) H.Hara Arbustivo N.L.S. 251 ORCHIDACEAE Cleistes aff. montana Gardner Herbáceo N.L.S. 268 Ionopsis utricularioides (Sw.) Lindl. Herbáceo N.L.S. 260 Prescottia aff. oligantha (Sw.) Lindl. Herbáceo N.L.S. 351 Rodriguezia decora (Lem.) Rchb.f. Herbáceo N.L.S. 252 OSMUNDACEAE Osmunda regalis L. Herbáceo J.A.L. 9320 Osmundastrum cinnamomeum (L.) C.Presl Herbáceo J.A.L. 9313 PHYLLANTHACEAE Phyllanthus stipulatus (Raf.) G.L.Webster Herbáceo N.L.S. 296 PIPERACEAE Piper fuligineum (Kunth) Steud. Arbustivo N.L.S. 234 POACEAE (Viana, P. - MPEG) Andropogon bicornis L. Herbáceo J.A.L. 9308 Andropogon virgatus Desv. Herbáceo J.A.L. 9200 Andropogon sp. 1 Herbáceo N.L.S. 281 Anthaenantia lanata (Kunth) Benth. Herbáceo N.L.S. 282 Dichanthelium surrectum (Chase ex Zuloaga & Morrone) Zuloaga Herbáceo J.A.L. 9207 Eriochrysis cayennensis P.Beauv. Herbáceo J.A.L. 9310 Eriochrysis holcoides (Nees) Kuhlm. Herbáceo J.A.L. 9247 Luziola bahiensis (Steud.) Hitchc. Herbáceo J.A.L. 9315 Otachyrium versicolor (Döll) Henrard Herbáceo N.L.S. 325 Paspalum cordatum Hack. Herbáceo N.L.S. 321 Saccharum asperum (Nees) Steud. Herbáceo N.L.S. 241 Saccharum villosum Steud. Herbáceo J.A.L. 9204 Trichanthecium parvifolium (Lam.) Zuloaga & Morrone Herbáceo J.A.L. 9216 Poaceae Indeterminada 1 Herbáceo N.L.S. 339 POLYGALACEAE Polygala sabulosa A.W.Benn. Herbáceo N.L.S. 243 POLYGONACEAE Polygonum meisnerianum Cham. & Schltdl. Herbáceo J.A.L. 9305 Polygonum rubricaule Cham. Herbáceo J.A.L. 9303 POLYPODIACEAE Pleopeltis pleopeltifolia (Raddi) Alston Herbáceo N.L.S. 356 Serpocaulon vacillans (Link) A.R.Sm. Herbáceo N.L.S. 239 PRIMULACEAE Cybianthus densicomus Mart. Arbustivo J.A.L. 9317 Myrsine guianensis (Aubl.) Kuntze Arbóreo N.L.S. 322 PTERIDACEAE Doryopteris lomariacea Klotzsch Herbáceo J.A.L. 9212 Flora campo úmido Analândia Rodriguésia 67(3): 539-552. 2016 547 Família / Espécie Hábito Número do coletor RHAMNACEAE Rhamnus sphaerosperma Sw. Arbóreo N.L.S. 244 ROSACEAE Prunus myrtifolia (L.) Urb. Arbóreo N.L.S. 257 RUBIACEAE Borreria multiflora (DC.) Bacigalupo & E.L.Cabral Herbáceo J.A.L. 9253 Coccocypselum aureum (Spreng.) Cham. & Schltdl. Herbáceo N.L.S. 247 Galianthe valerianoides (Cham. & Schltdl.) E.L.Cabral Herbáceo N.L.S. 295 Galium equisetoides (Cham. & Schltdl.) Standl. Herbáceo N.L.S. 261 Galium hypocarpium (L.) Endl. ex Griseb. Herbáceo N.L.S. 248 Posoqueria latifolia (Rudge) Schult. Arbóreo N.L.S. 250 Psychotria tenerior (Cham.) Mull.Arg. Arbustivo N.L.S. 287 SIPARUNACEAE Siparuna brasiliensis (Spreng.) A.DC. Arbustivo J.A.L. 9292 SMILACACEAE Smilax polyantha Griseb. Trepadeira N.L.S. 270 SOLANACEAE Schwenckia curviflora Benth. Herbáceo N.L.S. 311 Solanum paniculatum L. Arbustivo N.L.S. 271 SYMPLOCACEAE Symplocos sp. 1 Arbóreo N.L.S. 330 THELYPTERIDACEAE Thelypteris rivularioides (Fée) Abbiatti Herbáceo N.L.S. 323 THYMELAEACEAE Daphnopsis racemosa Griseb. Arbóreo N.L.S. 258 URTICACEAE Cecropia pachystachya Trécul Arbóreo J.A.L. 9202 WINTERACEAE Drimys brasiliensis Miers Arbóreo J.A.L. 9279 XYRIDACEAE Xyris fallax Malme Herbáceo J.A.L. 9235 Xyris laxifolia Mart. Herbáceo N.L.S. 275 Xyris rigida Kunth Herbáceo N.L.S. 254 Xyris savanensis Miq. Herbáceo N.L.S. 285 Xyris schizachne Mart. Herbáceo N.L.S. 294 Xyris stenocephala Malme Herbáceo N.L.S. 277 Xyris tenella Kunth Herbáceo N.L.S. 291 Xyris tortula Mart. Herbáceo N.L.S. 278 548 Sousa, N.L. & Lombardi, J.A. Rodriguésia 67(3): 539-552. 2016 a 20%, além de indivíduos arbóreos de pequeno porte com 12,5% dos táxons. A proporção do número de espécies do componente herbáceo- subarbustivo em relação ao arbustivo-arbóreo foi de aproximadamente 2:1. Também registrou-se a presença de uma arbustiva hemiparasita da família Loranthaceae, e de espécies de hábito escandente, pertencentes às famílias Apocynaceae, Asteraceae, Dioscoreaceae, Lygodiaceae e Smilacaceae, que corresponde a 4% das espécies . Constatou-se a ocorrência de cinco espécies listadas nas categorias de avaliações de risco de extinção para o estado de São Paulo de acordo com Lista Vermelha da Flora de São Paulo (Mamede et al. 2007), incluindo Echinodorus paniculatus, Mandevilla tenuifolia, Rhynchanthera ursina, R. verbenoides, e Galium equisetoides; e outras duas para a flora brasileira, baseado na Lista Vermelha da Flora do Brasil (Martinelli & Moraes 2013): Schwenckia curviflora e Xyris rigida. Entre as principais causas que as enquadram como ameaçadas pode-se citar a fragmentação dos habitats causadas pelas devastações ambientais; o fato de serem espécies típicas do bioma Cerrado o qual é considerado uma das 25 áreas prioritárias para a conservação, os chamados hotspots mundiais (Myers et al. 2000); a sua distribuição restrita; e/ou a ausência de novos registros de coleta, como assim diagnosticado para Schwenckia curviflora. Essa é uma espécie exclusiva de áreas úmidas e brejosas do sul e sudeste do Brasil que nos últimos 30 anos foi registrada em apenas 3 coletas. No estado de São Paulo, a última foi realizada em 1933 (Martinelli & Moraes 2013), sendo a presente coleta do campo úmido da FPV o quarto e mais recente registro da espécie. Para o campo úmido da FPV, uma aparente espécie nova não descrita da família Cyperaceae foi registrada (M. Alves, comunicação pessoal). Eriochrysis holcoides aparece como um novo registro para o estado de São Paulo, de acordo com Checklist das Spermatophytas do Estado de São Paulo, (Wanderley et al. 2011) e com BFG (2015). Esses resul tados demonstram para o conhecimento da distribuição das espécies a importância de inventários criteriosos que evidenciam espécies não descritas, em extinção e novos registros, fenômenos particularmente frequentes em florística de áreas negligenciadas como os campos úmidos. Para Amaral (2008), muitas espécies presentes nessas formações, ou sua ocorrência ali, podem estar desconhecidas devido à escassez de informações. A presença de alguns táxons com habitats de ocorrência restritos podem atuar como indicadora de áreas úmidas, tais como Rhynchospora albiceps, R. globosa, R. rugosa e Syngonanthus densiflorus encontradas somente em áreas de campo úmido e em veredas sobre solos hidromórficos (Munhoz et al. 2008; Munhoz & Felfili 2008). Já outros, como Emilia sonchifolia e Andropogon bicornis, por serem vistas em áreas campestres alagadas antropizadas são consideradas por Guimarães et al. (2002), e Munhoz & Felfili (2007) como invasoras dessas formações. A variação sazonal entre uma estação seca e outra chuvosa é um fenômeno característico do bioma Cerrado. Na área amostrada, essa variação climática foi visivelmente observada influenciando a composição florística. A presença de algumas espécies foi registrada somente ao longo do período de estiagem, a exemplo de Eriocaulon elichrysoides, evidenciando que algumas espécies podem brotar em condições de seca, quando há redução do sombreamento e do alagamento do solo, talvez aproveitando a diminuição da competição para se desenvolverem (Munhoz & Felfili 2008). Por outro lado, outras aparentam ser mais sensíveis a estas variações, como é o caso de Drosera communis, a qual foi observada em um período muito limitado, apenas no mês de janeiro, e representada por um indivíduo. Em ambientes onde as condições ambientais e do solo são variáveis e interferem diretamente no ciclo reprodutivo das espécies que os colonizam, como nas formações do Cerrado, observa-se a relevância e a necessidade de aplicar períodos de amostragem maiores do que um ano nos levantamentos florísticos, buscando uma maior eficiência da coleta de táxons crípticos. A fisionomia do campo úmido amostrado tem como característica a formação de touceiras emaranhadas de espécies com folhas filiformes ou estreitas, pertencentes principalmente às famílias Cyperaceae, Poaceae e Xyridaceae, por entre as quais indivíduos de espécies herbáceas- subarbustivas conseguem transpor e expor as inflorescências e/ou infrutescências através de longos escapos. Algumas são capazes de se estabelecerem entre touceiras, no interior dos ‘tuneis’ formados pelas folhas que se curvam para baixo criando um ambiente com pouca luminosidade e maior umidade. Ao longo da área, indivíduos arbóreos mostraram-se reunidos principalmente em pequenas “ilhas” levemente elevadas em relação ao terreno circundante, onde se observa uma redução no grau de umidade do solo. Flora campo úmido Analândia Rodriguésia 67(3): 539-552. 2016 549 Segundo Guimarães e colaboradores (2002), essa diferença na estrutura e na composição de espécies entre ou dentro de ambientes úmidos pode ser uma consequência das alterações no nível do lenço freático. Em meio ao campo úmido da Fazenda Pedra Vermelha, tal fato tem, possivelmente, permitido a instalação de um número significativo de indivíduos arbóreo- arbustivos (12,5% das espécies registradas). Em ambientes alagados, o estabelecimento do estrato arbóreo-arbustivo é limitado pelas condições de umidade do solo, que acabam influenciando negativamente a germinação e a permanência de plantas de grande porte (Munhoz & Felfili 2007; Brito et al. 2008; Ribeiro & Walter 2008). São relativamente poucas as espécies arbóreas tropicais que desenvolveram mecanismos adaptativos que permitem sua sobrevivência nas condições anaeróbicas causadas pelo alagamento. Em se tratando de áreas de campo limpo úmido, é possível registrar a total ausência de espécies arbóreas, como foi observado para a Fazenda da Máquina, no município de Itirapina, São Paulo (Tannus & Assis 2004). Para o campo úmido da FPV, sabe-se que desde a década de 80 a área encontra-se isolada da ação do fogo. Este longo período de ausência de queimadas também pode atuar como um fator favorável à instalação das espécies lenhosas (Oliveira-Filho & Ratter 2002). No Cerrado, as áreas campestres são mantidas por queimadas frequentes, que são capazes de alterar a estrutura original da vegetação, reduzindo a densidade do estrato arbóreo, mais sensível à presença do fogo (Coutinho 1978; Ratter et al. 1997; Munhoz & Felfili 2006b). Além disso, por encontrar-se inserida em uma região de transição entre remanescente de cerrado e de mata de galeria, essas fitofisionomias podem estar exercendo uma forte influência quanto à manutenção e à composição das espécies arbóreas. O que sugere a ocorrência de uma substituição gradativa de espécies no campo úmido da FPV, visto que o aumento progressivo desses indivíduos supostamente vem causando um sombreamento das herbáceas e um consequente declínio da abundância das mesmas, de forma a permitir a futura instalação sucessional de uma estrutura florestal (Scholes & Archer 1997) se as condições do solo se alterarem. No campo úmido da FPV, a presença de um gênero predominantemente arbóreo (Ocotea) dentre aqueles com o maior número de espécies registradas pode ser vista como um indício dessa sucessão de estratos. Tannus (2007) também observou esse fenômeno no campo úmido da Estação Ecológica de Itirapina, e afirmou que a instauração de espécies típicas de florestas paludosas e de galeria, como Miconia chamissois, M. theaezans, Ilex affinis, Drimys brasiliensis, Cecropia pachystachya, Cyathea atrovirens e C. delgadii, pode ser considerado um indicativo da fase inicial desse processo. Diante das possíveis evidências da instalação sucessional de uma estrutura florestal no campo úmido da FPV, salienta-se a necessidade de estudos a longo prazo sobre a dinâmica florística da área a fim de verificar-se, ou não, a presença desta substituição de estratos. Apesar da sua pequena extensão, a área apresentou um relevante número de espécies coletadas, indicando uma expressiva riqueza florística quando comparada a outros levantamentos em formações campestres alagadas associadas ao bioma Cerrado: 64 espécies em um campo úmido do Parque Estadual do Cerrado, em Jaguariaíva, estado do Paraná (Linsingen et al. 2006); 207 espécies para o campo limpo úmido em Alto Paraíso de Goiás (Munhoz & Felfili 2006a); 197 (Munhoz & Felfili 2007) e 299 (Amaral 2008) espécies para a Fazenda Água Limpa no Distrito Federal, 136 espécies em campos limpos úmidos associados a veredas no Parque Estadual de Jalapão em Tocantins (Rezende 2007); 526 espécies em quatro comunidades de veredas em Minas Gerais, no município de Uberlândia (Araújo et al. 2002). No estado de São Paulo, registraram-se para o município de Itirapina 114 espécies em área particular (Tannus & Assis 2004), 167 espécies na Estação Ecológica de Itirapina (Tannus 2007) e 189 espécies na Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Itararé (Tannus 2007); e para a Área de Relevante Interesse Ecológico Cerrado Pé-de-Gigante, em Santa Rita do Passa Quatro, listou-se 150 espécies (Batalha 1997). De acordo com o índice de Sorensen, observou-se uma similaridade florística baixa entre o campo úmido amostrado e as áreas campestres alagadas no Brasil (Tab. 2). Esse resultado é visto mesmo entre localidades pouco distantes, como ocorre entre a Fazenda da Máquina (Tannus & Assis 2004), a Estação Ecológica de Itirapina (Tannus 2007) e a Fazenda Pedra Vermelha, visto que o município de Itirapina, encontra-se a 23km de Analândia. Ainda assim, as composições florísticas destas áreas foram as que mais se assemelharam ao campo úmido amostrado, por apresentarem os maiores valores de índice. 550 Sousa, N.L. & Lombardi, J.A. Rodriguésia 67(3): 539-552. 2016 Tabela 2 – Similaridade florística entre áreas campestres alagadas com o campo úmido da Fazenda Pedra Vermelha, Analândia, São Paulo. ISS: índice de similaridade de Sorensen. *Estudo florístico realizado em parcelas. **Ausência de informação sobre o tamanho da área amostrada. ***Desconsiderou as Lycofitas e Monilófitas. Table 2 – Floristic similarity between wetlands areas and the moist grassland in Fazenda Pedra Vermelha, Analândia, São Paulo. ISS: Sorensen similarity index. * Floristic study carried out in plots. ** Without information about the size of the sampled area. *** Studies that discounted the Lycofitas and Monilófitas. Local de estudo Área (ha) Te m p o d e coleta (meses) N ú m e ro de espécie Número de espécie em comum (ISS) % Referência ARIE Cerrado Pé-de-Gigante (Santa Rita do Passa Quatro - SP) 7 23 150 21 12,80 Batalha 1997*** Estação Ecológica do Panga - área 1 (Uberlândia - MG) 5 24 218 31 15,57 Araújo et al. 2002 Estação Ecológica do Panga - área 2 (Uberlândia - MG) 12 24 242 38 17,61 Araújo et al. 2002 Reserva Vegetal do Clube Caça e Pesca Itororó (Uberlândia - MG) 45 24 307 41 16,49 Araújo et al. 2002 Margem da estrada de Campo Florido (Uberlândia - MG) 8 24 266 35 15,31 Araújo et al. 2002 Fazenda da Máquina (Itirapina - SP) 67 46 124 41 27,15 Tannus & Assis 2004 O Parque Estadual do Cerrado (Jaguariaíva - PR) 24,70 28 64 16 13,22 Linsingen et al. 2006*** Fazenda Água Fria (Alto do Paraíso - GO) 21 14 207 21 10,90 Munhoz e Felfili (2006a) Fazenda Água Limpa (Distrito Federal) 16 18 197 20 10, 66 Munhoz e Felfili 2007 Parque Estadual do Jalapão (Tocantins) - 24 136 11 6,41 Rezende 2007 Estação Ecológica de Itirapina (Itirapina - SP) 56 36 167 57 33,04 Tannus 2007* Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Itararé (Itararé - SP) - 12 89 35 26,21 Tannus 2007** Fazenda Água Limpa (Distrito Federal) 16 12 221 34 16,79 Amaral (2008) Fazenda Pedra Vermelha (Analândia - SP) 5 18 178 - - Presente estudo Quando comparado o tamanho da área amostral versus a riqueza de espécies, observa- se que o campo úmido da Fazenda da Máquina (Tannus & Assis 2004), da Estação Ecológica de Itirapina (Tannus 2007) e do Parque Estadual do Cerrado (Linsingen et al. 2006) possuem área significativamente maior em relação à área do campo úmido amostrado, contudo relatam a presença de um número menor de espécies. Esses resultados reforçam o conceito estabelecido por Odum (2001), que, embora ocorrente com frequência, nem sempre há uma proporção direta entre o aumento do número de espécie e o aumento da área amostrada. Para Moreira et al. (2015), as fisionomias de campo úmido e vereda situadas no Brasil Central possuem uma forte similaridade estrutural e florística, principalmente em relação ao estrato herbáceo. Contudo, em se tratando de áreas localizadas no sudeste brasileiro, baseado no Índice de Sorensen entre a área campestre alagada da Fazenda Pedra Vermelha, São Paulo e as quatro veredas situadas no município de Uberlândia, Minas Gerais (Araújo et al. 2002), não foi possível observar-se a existência de uma significativa similaridade florística entre essas formações. Esse resultado permite propor uma investigação aprofunda e detalhada sobre a flora dessas, e de outras áreas campestres alagadas da região Sudeste, a fim de verificar-se, assim como no Brasil Central, é possível diagnosticar uma afinidade florística entre elas. Flora campo úmido Analândia Rodriguésia 67(3): 539-552. 2016 551 Fundamentado nos resultados obtidos através da listagem das espécies ocorrentes no campo úmido da FPV, consta-se o quão pouco se conhece sobre a composição florística e estrutura das formações alagadas. Ressalta-se a relevância e a necessidade de multiplicação de investigações sobre a flora dessas áreas negligenciadas. Além disso, torna-se evidente a importância de se manter o atual status de conservação do campo úmido amostrado, a fim de proteger as espécies ameaçadas, bem como conservar os recursos hídricos e edáficos, além de proporcionar e facilitar meios e incentivos para atividades de pesquisa científica, estudos e monitoramento ambiental. Agradecimentos À Fapesp, a bolsa de Mestrado concedida a NLS (processo 2012/12772-5). Ao MCT/CNPq/ MEC/CAPES/PROTAX (processo 562240/2010- 1), e ao CNPq, a bolsa de produtividade (processo 300240/2009-0), os dois últimos concedidos a JAL. Aos especialistas que auxiliaram na identificação de espécies e aos proprietários da Fazenda Pedra Vermelha. Referências Amaral, A.G. 2008. Mudanças estruturais e florística do estrato herbáceo-arbustivo em um campo sujo e campo limpo úmido na fazenda Água Limpa - DF após um período de sete anos. Dissertação de Mestrado. Universidade de Brasília, Brasília. 180p. Amorim, P.K. & Batalha, M.A. 2006. Soil characteristics of a hyperseasonal cerrado compared to a seasonal cerrado and a floodplain grassland: implications for plant community structure. Brazilian Journal of Biology 66: 661-670. Angiosperm Phylogeny Group (APG). 2009. An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants: APG III. 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