Pesq. agropec. bras., Brasília, v.46, n.11, p.1463-1470, nov. 2011
Épocas de poda e produtividade da mandioca
Eduardo Barreto Aguiar(1), Silvio José Bicudo(1), Felipe Curcelli(1), Priscila Gonzales Figueiredo(1)
e Simério Carlos Silva Cruz(2)
(1)Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agronômicas, Caixa Postal 237, CEP 18603‑970 Botucatu, SP.
E‑mail: aguiareb@msn.com, sjbicudo@fca.unesp.br, felipecurcelli@yahoo.com.br, priscila_figueiredo3@hotmail.com (2)Universidade Estadual
de Goiás, Rua São João, s/no, CEP 76194‑970 Palmeiras de Goiás, GO. E‑mail: simerio_cruz@hotmail.com
Resumo – O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito de diferentes épocas de poda no desenvolvimento,
na produção e na qualidade de raízes tuberosas de mandioca. Foram conduzidos dois experimentos, em duas
localidades do Estado de São Paulo: Botucatu, em área de solo argiloso, e São Manuel, em solo arenoso.
Os experimentos foram conduzidos de setembro de 2008 a junho de 2010, e a colheita foi feita após dois ciclos
vegetativos (22 meses). Utilizou-se o delineamento experimental de blocos ao acaso, com quatro repetições.
Foram avaliados dez tratamentos, nove épocas de poda espaçadas mensalmente, entre abril e dezembro, e
uma testemunha conduzida sem poda. As épocas de poda foram analisadas estatisticamente por contrastes
ortogonais, em comparação à testemunha, e por regressão. A poda da mandioca realizada no período de repouso
fisiológico não altera o teor de matéria seca e a produtividade de raízes tuberosas. No entanto, quando realizada
no final do primeiro ciclo ou após o início do segundo ciclo vegetativo, a poda reduz o teor de matéria seca e
a produtividade de raízes.
Termos para indexação: Manihot esculenta, práticas culturais, repouso fisiológico, teor de matéria seca.
Pruning dates and productivity of cassava
Abstract – The objective of this work was to assess different pruning dates on the development, production
and quality of cassava roots. Two experiments were carried out in two regions of the state of São Paulo, Brazil:
Botucatu, on clay soil, and São Manuel, on sandy soil. The experiments were carried out from September 2008
to June 2010, and harvest was done after two growing seasons (22 months). The experimental design was a
randomized block design, with four replicates. Ten treatments, nine monthly pruning dates, between April and
December, and a control cultivated without pruning were evaluated. Pruning dates were statistically analyzed
by orthogonal contrasts, in comparison to the control, and by regression. Cassava pruning during the rest period
does not alter dry matter content and root yield. However, when performed at the end of the first cycle or after
the start of the second cycle, pruning reduces dry matter content and root yield.
Index terms: Manihot esculenta, cultural practices, rest period, dry matter content.
Introdução
Por sua tolerância a diversos regimes pluviomé-
tricos, a altas temperaturas e a solos de baixa
fertilidade, a mandioca (Manihot esculenta Crantz) é
cultivada em praticamente todas as regiões de clima
tropical do mundo, principalmente nas regiões pouco
desenvolvidas e por pequenos agricultores (Howeler,
2002). A mandioca é a terceira fonte de calorias na
alimentação humana nos trópicos, depois do arroz e
do milho (Food and Agriculture Organization of the
United Nations, 2008). No Brasil e em outros países
da América Latina, da África e da Ásia, a mandioca
também é cultivada para a industrialização.
A principal característica que define a qualidade da
produção de raízes de mandioca para a indústria é o teor
de matéria seca (Lorenzi, 2003). O teor de matéria seca
apresenta correlação direta com o teor de amido (Borges
et al., 2002), matéria-prima extraída por fecularias,
fábricas de polvilho e indústrias de álcool de mandioca.
O teor de amido corresponde a aproximadamente 85%
do teor de matéria seca das raízes, e, por ser de difícil
determinação analítica, em termos práticos, é estimado
nas indústrias a partir do teor de matéria seca (Cereda
et al., 2003; Carvalho et al., 2007).
A época de colheita da mandioca é bastante ampla
e pode variar de 6 a 24 meses, dependendo do uso,
da cultivar, do clima da região, dos tratos culturais e
1464 E.B. Aguiar et al.
Pesq. agropec. bras., Brasília, v.46, n.11, p.1463-1470, nov. 2011
do mercado consumidor (Albuquerque et al., 2009).
Nas regiões brasileiras de clima tropical e temperado,
onde ocorrem períodos anuais bem definidos de seca
e ou de baixas temperaturas (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística, 2005), a mandioca industrial
normalmente é colhida entre 16 e 24 meses, após dois
ciclos vegetativos de desenvolvimento (Conceição,
1981; Lorenzi, 2003). A colheita nessa época é
altamente vantajosa, pois proporciona substancial
aumento na produção de raízes, em comparação
à produção obtida em apenas um ciclo vegetativo
(Lorenzi, 2003; El-Sharkawy, 2006; Sagrilo et al.,
2006). Entre o primeiro e o segundo ciclos vegetativos,
a mandioca passa por um período de repouso fisioló-
gico, caracterizado por paralização do crescimento
vegetativo, redução da atividade metabólica e desfolha
natural das plantas. Esse período ocorre na época
mais fria e ou seca do ano (Normanha & Pereira, 1962;
Conceição, 1981; Lorenzi, 2003; El-Sharkawy, 2006).
Parcela significativa do custo de produção da
cultura da mandioca pode ser atribuída ao controle das
plantas daninhas, que pode variar conforme as espécies
daninhas e as suas densidades populacionais, o sistema
de plantio e o método de controle. A mandioca é
considerada uma cultura de crescimento lento que
cobre insuficientemente o solo, o que a torna altamente
susceptível à competição com plantas daninhas. Além do
uso de herbicidas, a capina manual é uma prática cultural
muito utilizada, principalmente em pequenas áreas.
O conhecimento do período crítico de interferência
das plantas daninhas é fundamental para estabelecer
quando iniciar as capinas e qual o número de capinas a
serem realizadas (Albuquerque et al., 2008).
O surgimento de grandes áreas de mandioca para
o fornecimento de matéria-prima para a indústria
vem exigindo sistemas produtivos cada vez mais
eficientes, que permitam à cultura da mandioca melhor
competitividade com outras commodities (Aguiar,
2011). A poda da parte aérea da mandioca em grandes
áreas é uma prática cultural indispensável para o
controle das plantas infestantes com herbicidas, no
segundo ciclo, embora os resultados disponíveis na
literatura ainda sejam controversos (Takahashi, 1998;
Lorenzi, 2003; Peressin, 2010).
Diversos autores relatam que a prática da poda pode
causar redução na produção e no teor de amido das
raízes (Normanha & Pereira, 1962; Correia et al., 1973;
Oliveira et al., 2010). Outros ainda não observaram
diferenças significativas na produção de raízes, em
comparação a plantas podadas no período de repouso
fisiológico e a testemunhas sem poda (Conceição,
1981; Takahashi, 1998). Andrade (2010), demonstrou
que a poda pode proporcionar aumento na produção e
no teor de matéria seca das raízes de mandioca.
De acordo com Takahashi (1998) e Lorenzi (2003),
os efeitos da poda na produção de raízes de mandioca
podem variar, entre outros fatores, em função da época
de poda, do clima e da fertilidade do solo, o que justifica,
em parte, a dispersão dos resultados observados na
literatura.
O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito de
diferentes épocas de poda no desenvolvimento,
na produção e na qualidade de raízes tuberosas de
mandioca.
Material e Métodos
Dois experimentos similares foram conduzidos nos
Municípios de Botucatu e São Manuel, SP. O solo do
local de instalação dos experimentos, em Botucatu e
São Manuel é classificado como Nitossolo Vermelho
distroférrico estruturado, e como Latossolo Vermelho
distroférrico típico, respectivamente, (Santos et al.,
2006). O clima dos dois locais, segundo a classificação
de Köppen, é do tipo Cfa, temperado quente
(mesotérmico) úmido (Cunha & Martins, 2009).
A variedade de mandioca cultivada foi a IAC 14, de
amplo uso industrial na região Centro-Sul do Brasil.
Na Figura 1, estão descritas as temperaturas máximas
e mínimas e as precipitações mensais observadas em
Botucatu e São Manuel.
Ambos os experimentos foram implantados em
setembro de 2008, em blocos ao acaso, com quatro
repetições. As parcelas foram formadas por quatro
linhas de 12 plantas, com espaçamento de 1,00x0,80 m,
o que totalizou 12.500 plantas por hectare. Para as
avaliações, foram colhidas 20 plantas das duas linhas
centrais de cada parcela, tendo-se descartado as plantas
das extremidades das linhas.
O plantio foi realizado com manivas de 20 cm,
dispostas nos sulcos de plantio a 10 cm de profundidade.
A adubação nos dois experimentos foi a mesma
realizada no sulco de plantio, com 200 kg ha-1 da fórmula
N-P-K (8-28-16) + 0,5% de Zn, calculada segundo as
recomendações para o Estado de São Paulo (Raij et al.,
1996), e conforme análise de solo (Tabela 1).
Épocas de poda e produtividade da mandioca 1465
Pesq. agropec. bras., Brasília, v.46, n.11, p.1463-1470, nov. 2011
Foram avaliados, em cada experimento, dez
tratamentos: nove épocas de poda e uma testemunha
conduzida sem poda. As épocas de poda foram
espaçadas mensalmente, de abril a dezembro de 2009,
e distribuídas entre o primeiro e o segundo ciclo
vegetativo.
O controle das plantas daninhas no primeiro ciclo
foi realizado com aplicação de herbicida formulado à
base de ametrina + clomazone (300 + 200 g L-1 de i.a.),
em pós-plantio, antes da emergência da mandioca.
Em dezembro de 2008 e março de 2009, foram
realizadas duas capinas manuais. Durante o segundo
ciclo e após a poda, o controle das plantas daninhas foi
realizado com capinas manuais sempre que necessário.
Não houve ocorrência significativa de pragas ou
doenças.
A poda da parte aérea foi realizada manualmente,
com facão, 10 cm acima do nível do solo (Lorenzi,
2003). Toda a parte aérea podada foi retirada da área
experimental para facilitar os demais tratos culturais.
A colheita foi realizada manualmente em junho de
2010, 22 meses após o plantio, após a descompactação
do solo com subsolador de mandioca (afofador).
Os parâmetros avaliados foram: número médio de
raízes por planta, massa média de matéria seca de
raízes (quilogramas por raiz), teor de matéria seca de
raízes (percentagem) e produtividade de matéria seca
de raízes (Mg ha-1).
O número médio de raízes por planta foi obtido pela
divisão do número total de raízes colhidas pelo número
de plantas de cada parcela (20 plantas).
Para a determinação do teor de matéria seca das
raízes, separaram-se dez raízes, aleatoriamente,
em cada parcela, que foram picadas em máquina de
raspa de mandioca. Desse montante, foram retiradas
amostras homogêneas de aproximadamente 400 g de
peso fresco, que foram secas em estufa com circulação
de ar forçado a 60ºC até peso constante. A partir da
diferença entre a massa fresca e seca das amostras,
obteve-se o teor de matéria seca (Aguiar, 2011).
A produtividade de matéria seca de raízes (Mg ha-1)
foi estimada a partir do teor de matéria seca e da
produtividade de raízes frescas por parcela.
A massa média de matéria seca de raízes (quilogramas
por raiz) foi determinada pela divisão da massa de
Figura 1. Temperaturas máximas, mínimas e precipitações
pluviais mensais observadas de setembro de 2008 a julho de
2010, em Botucatu, SP (A), e em São Manuel, SP (B).
Tabela 1. Analises dos atributos químicos (0–20 cm) e
granulométricos (20–40 cm) do solo nas áreas experimentais
de Botucatu, SP, e São Manuel, SP, em 2008.
Atributo Botucatu São Manuel
pH em CaCl2 5,0 6,0
MO (g dm-3) 21 8
P (resina) (mg dm-3) 15 22
Al3+ (mmolc dm-3) 0 -
H+Al (mmolc dm-3) 44 14
K (mmolc dm-3) 2,9 2,3
Ca (mmolc dm-3) 30 24
Mg (mmolc dm-3) 13 9
SB (mmolc dm-3) 46 35
CTC (mmolc dm-3) 90 49
V (%) 52 71
B (mg dm-3) 0,38 0,23
Cu (mg dm-3) 10,5 0,8
Mn (mg dm-3) 79,4 17,1
Zn (mg dm-3) 1,7 1
Fe (mg dm-3) 16 10
Areia (g kg-1) 217 823
Silte (g kg-1) 567 124
Argila (g kg-1) 216 53
Textura Argilosa Arenosa
1466 E.B. Aguiar et al.
Pesq. agropec. bras., Brasília, v.46, n.11, p.1463-1470, nov. 2011
matéria seca de raízes (quilogramas) pelo número de
raízes colhidas em cada parcela.
O efeito de época de poda foi analisado
estatisticamente por contrastes ortogonais, em
comparação à testemunha sem poda, no total de nove
contrastes avaliados em cada local (Nogueira, 2004,
2007), e por análise de regressão (Pimentel-Gomes &
Garcia, 2002).
Os contrastes ortogonais entre as épocas de poda e
a testemunha correspondem a variáveis qualitativas.
A comparação entre as épocas de poda foi realizada
quantitativamente por regressão, o que permite
identificar o melhor período para a prática da poda
entre as épocas avaliadas (Pimentel-Gomes & Garcia,
2002; Nogueira, 2007).
Para a análise estatística dos contrastes ortogonais,
foi utilizado o programa Statistical Analysis System
(SAS 9.0), por meio dos comandos “proc glm” e
“contrast” (Nogueira, 2004, 2007). Para as análises de
regressão e a determinação dos respectivos coeficientes
de determinação (R2), foram utilizados os programas
Curvexpert 1.4 (Hyams, 2010) e Origin 6.0 (Deschenes
& Vanden, 2000).
Resultados e Discussão
Nos dois experimentos, as menores temperaturas
e precipitações pluviais foram registradas de maio a
julho de 2009, quando ocorreu o período de repouso
fisiológico (Figura 1).
O número médio de raízes por planta nas diferentes
épocas de poda avaliadas não diferiu significativamente
da testemunha sem poda, por análise dos contrastes
ortogonais, em Botucatu e São Manuel (Tabela 2).
Resultados semelhantes foram observados por
Takahashi (1998). Pelas análises de regressão não
houve efeito significativo entre as épocas de poda e
o número de raízes, (Figura 2). Em média, o número
de raízes por planta observado em Botucatu foi de
6,93 raízes por planta e, em São Manuel, de 6,35 raízes
por planta. O número de raízes por planta é definido
até aproximadamente 120 dias após o plantio (Lorenzi,
2003; Alves, 2006), período que antecedeu todas as
épocas de poda avaliadas, o que justifica a ausência de
efeito no número médio de raízes por planta.
Em São Manuel, as podas realizadas entre setembro
e dezembro e em abril, proporcionaram redução da
massa média de matéria seca de raízes, em comparação
à testemunha (Tabela 2). Em Botucatu, houve redução
significativa da massa média de matéria seca de raízes
somente para a poda realizada em outubro. As podas
realizadas de maio a agosto, em ambos os locais, não
alteraram de modo significativo a massa média de
matéria seca de raízes. Entre maio e julho,
foram observadas as melhores épocas de poda,
independentemente do local (Figura 2). As podas
realizadas em abril e a partir de agosto provocaram
redução na massa média de matéria seca de raízes em
Botucatu e São Manuel. Portanto, as melhores épocas
de poda foram observadas no período de repouso
fisiológico, em concordância com Lorenzi (2003),
Andrade (2010) e Peressin (2010).
Com relação ao teor de matéria seca, as podas
realizadas a partir de outubro, em Botucatu, e a partir
de setembro, em São Manuel, reduziram significativa-
mente os teores de matéria seca das raízes, em
comparação à testemunha sem poda (Tabela 3). Pela
análise de regressão, para as podas realizadas entre
abril e agosto, os teores de matéria seca das raízes
mantiveram-se altos e praticamente constantes, com
média de 40,90%, em Botucatu, e de 45,95% em
São Manuel (Figura 3). No entanto, para as podas
realizadas a partir do mês de setembro, houve redução
nos teores de matéria seca das raízes, para 36,12%, em
Botucatu, e para 41,29%, em São Manuel, com a poda
em dezembro.
Tabela 2. Número de raízes por planta e massa de matéria
seca de raízes da variedade de mandioca IAC 14 colhida
com dois ciclos vegetativos, 22 meses após o plantio, em
Botucatu, SP, e São Manuel, SP, com diferentes épocas de
poda.
Época de poda No de raízes
por planta
Massa de matéria seca
de raízes (kg por raiz)
Botucatu São Manuel Botucatu São Manuel
Abril 6,83ns 6,00ns 0,127ns 0,231*
Maio 7,30ns 5,40ns 0,145ns 0,256ns
Junho 7,18ns 6,03ns 0,141ns 0,268ns
Julho 7,13ns 5,93ns 0,152ns 0,244ns
Agosto 7,45ns 5,98ns 0,124ns 0,277ns
Setembro 6,33ns 5,88ns 0,128ns 0,218*
Outubro 7,38ns 6,58ns 0,096* 0,195**
Novembro 7,58ns 5,90ns 0,109ns 0,197**
Dezembro 5,75ns 5,40ns 0,129ns 0,196**
Testemunha (sem poda) 6,93 6,35 0,139 0,292
CV (%) 16,87 18,59 21,31 17,62
nsMédias não diferem significativamente da testemunha pelo método dos
contrastes ortogonais. * e **Médias diferem significativamente da teste-
munha pelo método dos contrastes ortogonais, a 5 e 1% de probabilidade,
respectivamente.
Épocas de poda e produtividade da mandioca 1467
Pesq. agropec. bras., Brasília, v.46, n.11, p.1463-1470, nov. 2011
De acordo com diversos autores, a poda pode
causar redução nos teores de matéria seca das raízes
(Normanha & Pereira, 1962; Correia et al., 1973;
Oliveira et al., 2010). Entretanto, conforme os dados
obtidos, variações significativas nos teores de matéria
seca das raízes dependem da época em que a poda é
realizada. Observou-se redução nos teores de matéria
seca das raízes nas podas realizadas a partir de agosto,
em decorrência do consumo de carboidratos por novas
brotações, no início do segundo ciclo vegetativo,
extraídos com a retirada tardia da parte aérea (Normanha
& Pereira, 1962; Conceição 1981; Lorenzi, 2003).
Assim, quanto mais tardia for a poda, menor será o
período para reposição dessas reservas no segundo
ciclo e maior a extração de assimilados das raízes pela
retirada da parte aérea, com as novas brotações em
pleno desenvolvimento. Os resultados observados no
presente trabalho estão de acordo com Andrade (2010),
que também observou redução nos teores de matéria
seca das raízes com as podas realizadas após o início
do segundo ciclo.
Quanto à produtividade de matéria seca de raízes,
nos tratamentos em que as podas foram realizadas a
partir de setembro, houve redução significativa da
produtividade de matéria seca de raízes, em Botucatu
e São Manuel (Tabela 3). Observou-se também,
em ambos os locais, que a poda realizada em abril
reduziu a produtividade de matéria seca de raízes, em
comparação à testemunha. Contudo, as podas realizadas
no período de repouso fisiológico, entre maio e agosto,
em Botucatu, e de junho a agosto, em São Manuel,
não alteraram significativamente a produtividade de
matéria seca de raízes.
Em Botucatu, a maior estimativa de produtividade
de matéria seca de raízes nas podas realizadas de
maio a julho foi, em média, de 12,10 Mg ha-1. Em
São Manuel, nas podas realizadas de maio a agosto, a
média foi de 18,64 Mg ha-1 (Figura 3). Para as épocas
de poda realizadas a partir de setembro, houve redução
na produtividade de matéria seca de raízes, que atingiu
valores estimados de 8,33 Mg ha-1, em Botucatu,
e de 11,67 Mg ha-1 em São Manuel, com a poda em
Figura 2. Número de raízes por planta e massa média de
matéria seca de raízes, da variedade de mandioca IAC 14,
colhida com dois ciclos vegetativos, 22 meses após o plantio,
em função das épocas de poda avaliadas em Botucatu, SP, e
em São Manuel, SP.
Tabela 3. Teor e produtividade de matéria seca de raízes
da variedade de mandioca IAC 14 colhida com dois ciclos
vegetativos, 22 meses após o plantio, em Botucatu, SP, e São
Manuel, SP, cultivada com diferentes épocas de poda.
Época de poda Teor (%) Produtividade (Mg ha-1)
Botucatu São Manuel Botucatu São Manuel
Abril 39,94ns 46,12ns 10,37* 17,19*
Maio 42,80ns 45,13ns 13,16ns 17,36*
Junho 40,93ns 46,69ns 12,45ns 20,04ns
Julho 41,42ns 46,54ns 13,17ns 17,79*
Agosto 40,86ns 46,27ns 11,48ns 19,79ns
Setembro 39,50ns 43,84* 9,54** 16,12**
Outubro 35,01** 43,18** 8,74** 15,96**
Novembro 37,11* 42,98** 10,10* 11,75**
Dezembro 37,60* 41,42** 9,28** 12,79**
Testemunha (sem poda) 41,39 45,81 12,69 23,59
CV (%) 6,13 2,45 14,70 22,52
nsMédias não diferem significativamente da testemunha pelo método dos
contrastes ortogonais. * e **Médias diferem significativamente da teste-
munha pelo método dos contrastes ortogonais, a 5 e 1% de probabilidade,
respectivamente.
1468 E.B. Aguiar et al.
Pesq. agropec. bras., Brasília, v.46, n.11, p.1463-1470, nov. 2011
dezembro. A poda anterior ao período de repouso
fisiológico, realizada em abril, também provocou
redução significativa na produtividade de matéria
seca de raízes, tendo atingido valores estimados de
11,62 Mg ha-1, em Botucatu, e de 16,86 Mg ha-1 em
São Manuel.
As maiores produtividades de matéria seca de raízes
observadas em Botucatu e em São Manuel, para as podas
realizadas no período de repouso fisiológico, estão de
acordo com Lorenzi (2003), Andrade (2010) e Peressin
(2010), que recomendam a poda como prática cultural
nesse período. No entanto, esses resultados discordam
de Correia et al. (1973), que observaram redução
na produtividade de raízes com a poda realizada no
período de repouso fisiológico, e de Takahashi (1998),
que observou redução na produtividade de matéria seca
de raízes, no mesmo período, em julho. Os resultados,
expressos nas análises de regressão, são indicativos
da redução do teor de matéria seca das raízes, com a
antecipação da poda em abril e com o atraso a partir de
agosto, em ambos os locais (Figura 3).
A redução na produtividade de matéria seca de raízes
com as podas realizadas a partir de setembro pode ser
explicada pela redução na massa média e nos teores
de matéria seca de raízes (Tabela 3), bem como pela
extração de reservas, mobilizadas das raízes para a parte
aérea, com sua retirada após o início das brotações no
segundo ciclo vegetativo (Aguiar, 2011). Quanto mais
tardia for a poda, maior será a extração, em virtude
da mobilização de reservas para as novas brotações,
e menor o período de tempo para o desenvolvimento
da parte aérea e para o acúmulo de assimilados nas
raízes, no segundo ciclo vegetativo. Esses resultados
corroboram resultados obtidos por Andrade (2010),
que relatou redução na produtividade de raízes com a
poda realizada após o período de repouso fisiológico.
Assim, a análise de regressão indica que, em ambos os
locais, a época ideal para a poda é entre junho e julho,
no período de repouso fisiológico, quando se observou
maior produtividade de matéria seca e peso médio de
raízes.
De acordo com Lorenzi (2003), para o melhor con-
trole das plantas infestantes no segundo ciclo vegetativo,
em muitos casos, a poda pode ser retardada para o
melhor efeito dos herbicidas. Entretanto, os resultados
obtidos em ambos locais, quanto à testemunha sem
poda (Tabela 3) e nas análises de regressão (Figura 3),
são indicativos de que o atraso da poda pode provocar
redução significativa na produtividade e no teor de
matéria seca das raízes.
Ao se considerar os efeitos supressivos das
plantas daninhas no segundo ciclo vegetativo e que o
controle com herbicidas exige, via de regra, a poda do
mandiocal (Lorenzi, 2003; Peressin, 2010), conforme
os resultados obtidos no presente trabalho, a poda deve
ser recomendada no período de repouso fisiológico.
Conclusões
1. A poda da mandioca realizada no período de
repouso fisiológico não altera a massa média, o teor de
matéria seca e a produtividade de raízes tuberosas.
Figura 3. Teor e produtividade de matéria seca de raízes
da variedade de mandioca IAC 14 colhida com dois ciclos
vegetativos, 22 meses após o plantio, em função das épocas
de poda avaliadas em Botucatu, SP, e em São Manuel, SP.
Épocas de poda e produtividade da mandioca 1469
Pesq. agropec. bras., Brasília, v.46, n.11, p.1463-1470, nov. 2011
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2. A poda da mandioca realizada no final do primeiro
ciclo ou após o início do segundo ciclo vegetativo reduz
significativamente a massa média, o teor de matéria
seca e a produtividade de raízes tuberosas.
3. A poda da mandioca, nas épocas avaliadas, não
altera o número médio de raízes por planta.
Agradecimentos
À Faculdade de Ciências Agronômicas da
Universidade Estadual Paulista, pela disponibilização
das áreas experimentais, infraestrutura e apoio na
realização dos experimentos; à Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, pelo
apoio financeiro; e à professora Maria Cristina Stolf
Nogueira, da Escola Superior de Agricultura Luiz de
Queiroz, da Universidade de São Paulo, pela orientação
e pelo auxílio nas análises estatísticas.
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Recebido em 28 de maio de 2011 e aprovado em 31 de outubro de 2011