UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA - UNESP CÂMPUS DE JABOTICABAL PERDAS DE NUTRIENTES E SEDIMENTOS POR EROSÃO E SEUS EFEITOS NA QUALIDADE DA ÁGUA Daniela Tolêdo de Paula Química 2015 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – UNESP CÂMPUS DE JABOTICABAL PERDAS DE NUTRIENTES E SEDIMENTOS POR EROSÃO E SEUS EFEITOS NA QUALIDADE DA ÁGUA Autora: Daniela Tolêdo de Paula Orientador: Prof. Dr. Marcílio Vieira Martins Filho Tese apresentada à Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias - UNESP, Câmpus de Jaboticabal, como parte das exigências para a obtenção do título de Doutora em Agronomia (Ciência do Solo) 2015 Paula, Daniela Tolêdo P324p Perdas de nutrientes e sedimentos por erosão e seus efeitos na qualidade da.... / Daniela Tolêdo de Paula. – Jaboticabal, 2015 v, 53 f. : il. ; 28 cm Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, 2015 Orientador: Marcilio Vieira Martins Filho Banca examinadora: Marcílio Vieira Martins Filho, Afonso Lopes, Fábio Olivieri de Nóbile, Rafael Montanari e José Renato Zanini Bibliografia 1. Cana-de-açúcar. 2. Latossolo-sistemas de preparo. Título. II. Jaboticabal-Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias. CDU 633.61:631.459 Ficha catalográfica elaborada pela Seção Técnica de Aquisição e Tratamento da Informação – Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação - UNESP, Câmpus de Jaboticabal. e-mail: dani_mestra@hotmail.com DADOS CURRICULARES DA AUTORA DANIELA TOLÊDO DE PAULA- Nascida em 25 de dezembro de 1977 em Frutal – MG, filha de Urbano José de Paula e Nicoleta Angela Tolêdo de Paula. Cursou Licenciatura em Química na Universidade Estadual de Londrina (UEL), concluído em 2000. Em 2001 ingressou no Mestrado em Química Analítica, área de concentração Eletroquímica e eletroanalítica, na Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Instituto de Química de Araraquara, finalizando em 2003. Iniciou o curso de Doutorado em Agronomia, na área de Ciência do Solo, em março de 2011, na Universidade Estadual Paulista (UNESP/FCAV). Desde 2001 é professora efetiva de Química no Estado de Minas Gerais. Desde 2010 é docente na Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). “Se quer viver uma vida feliz, amarre-se à uma meta, não às pessoas nem às coisas.” Albert Einstein A Deus, pelo dom da vida; Aos meus pais, pela educação, incentivo, apoio; e pelo carinho em todos os momentos de minha vida; Ao Marco Antônio, pelo apoio incondicional, compreensão, paciência; e por estar sempre ao meu lado; Aos meus irmãos, Grasiela e Rodrigo, pelo incentivo, confiança e pela amizade em todos os momentos. DEDICO A todos que contribuíram, direta ou indiretamente para a realização de mais uma vitória em minha vida. OFEREÇO AGRADECIMENTOS A Deus pela vida, serenidade, determinação na realização deste trabalho e por permitir a realização de mais um sonho. Ao professor e orientador Marcílio Vieira Martins Filho, meu reconhecimento e gratidão pela orientação exemplar, atenção, paciência e incentivo. À minha família pelo incentivo e apoio no decorrer desta etapa. À UNESP por me proporcionar esta oportunidade. Aos funcionários da seção de pós-graduação, por toda ajuda e disponibilidade. À Usina São Martinho, por disponibilizar a área experimental. A todos que direta ou indiretamente colaboraram para a realização deste sonho. i SUMÁRIO Página RESUMO.................................................................................................... ii ABSTRACT................................................................................................ iii LISTA DE FIGURAS.................................................................................. iv LISTA DE TABELAS.................................................................................. CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS............................................ 1.1 – Introdução e justificativa.............................................................. 1.1.1 – Nutrientes do solo................................................................... 1.1.2 – Erosão hídrica........................................................................ v 1 1 1 3 1.1.3 – Qualidade da água.................................................................. 4 1.1.4 – Controle dos processos erosivos............................................ 5 1.1.5 – Cultivo de cana-de-açúcar...................................................... 8 1.2 – Hipótese....................................................................................... 1.3 – Objetivos........................................................................................ 1.4 – Referências................................................................................... CAPÍTULO 2 – PERDAS DE ARGILA E FÓSFORO POR EROSÃO EM ENTRESSULCOS DE UM LATOSSOLO COM RESÍDUOS DE CANA– DE–AÇÚCAR.............................................................................................. Resumo.................................................................................................... 2.1 – Introdução....................................................................................... 2.2 – Material e métodos......................................................................... 2.3 – Resultados e discussão.................................................................. 2.3.1 – Erosão em entressulcos......................................................... 2.3.2 – Perdas de argila, fósforo disponível e adsorvido no sedimento................................................................................................... 2.4 – Conclusões..................................................................................... 2.5 – Referências.................................................................................... 10 10 11 16 16 17 19 24 24 27 30 31 ii CAPÍTULO 3 – ALTERAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA POR PERDAS DE MO E NUTRIENTES EM ÁREA DE CANA–DE–AÇÚCAR.................. Resumo.................................................................................................... 3.1 – Introdução....................................................................................... 3.2 – Material e métodos......................................................................... 3.3 – Resultados e discussão.................................................................. 3.3.1 – Concentração e perdas de nutrientes na água de enxurrada 3.3.2 – Qualidade da água da enxurrada........................................... 3.3.3 – Concentração e perda de MO e nutrientes no sedimento..... 3.4 – Conclusões..................................................................................... 3.5 – Referências..................................................................................... 34 34 35 37 43 43 46 48 51 52 ii PERDAS DE NUTRIENTES E SEDIMENTOS POR EROSÃO E SEUS EFEITOS NA QUALIDADE DA ÁGUA RESUMO – O preparo do solo, a ausência ou presença de cobertura vegetal, bem como a percentagem de cobertura presente no solo, podem influenciar nas quantidades de matéria orgânica e nutrientes perdidos pela erosão, consequentemente na conservação da qualidade do solo e da água. Pelo exposto, este estudo teve como objetivo avaliar as perdas de nutrientes por erosão e seus efeitos na qualidade da água, em área com cultivo de cana-de-açúcar nos sistemas de manejo convencional e conservacionista. No experimento 1 a área experimental localiza-se em Guariba – SP, em solo classificado como Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado num esquema fatorial, 5 tratamentos com palha de cana-de-açúcar e 3 repetições, totalizando 15 parcelas. Nos tratamentos, a palha foi manualmente distribuída em toda a superfície do solo, nas quantidades de 0; 0,157; 0,35; 0,515 e 0,7 kg, proporcionando coberturas de 0% (CS0), 25% (CS25), 50% (CS50), 75% (CS75) e 100% (CS100), respectivamente. As parcelas experimentais foram submetidas a chuvas simuladas com intensidades médias de 60 mm h-1, durante 65 minutos. Observou-se que com o aumento das perdas de solo por erosão em entressulcos, há incremento no teor de argila do sedimento erodido. Tal fato está diretamente ligado à maior ou menor cobertura oferecida ao solo. Há a necessidade da cobertura do solo mínima de 42% para que não haja taxa de enriquecimento (ER) do sedimento erodido, por fósforo (Psed e Pads) e argila. A área experimental do experimento 2 localiza-se em Pradópolis – SP, em um Latossolo Vermelho eutroférrico textura muito argilosa, a qual encontrava-se em época de renovação do cultivo de cana-de-açúcar. Foram utilizados três sistemas de preparo do solo. As parcelas experimentais foram submetidas a chuvas simuladas com intensidade média em torno de 65 mm h-1, durante 75 minutos. No preparo localizado, como há maior cobertura do solo, a perda de solo por erosão foi significativamente menor em relação aos preparos convencional e no reduzido. O tratamento convencional apresentou maiores perdas de MO, P, K, Ca e Mg no sedimento erodido. As concentrações de K e P na água da enxurrada podem ser consideradas críticas para fins de irrigação e início de eutrofização da água. PALAVRAS-CHAVE: cana-de-açúcar, latossolo, sistemas de preparo iii NUTRIENTS LOSSES AND SEDIMENTS FOR EROSION AND ITS EFFECTS ON WATER QUALITY ABSTRACT – The preparation of the soil, the presence or absence of vegetation, as well as the proportion of this cover soil can influence the quantities of organic matter and nutrients lost by erosion, hence the preservation of the quality of soil and water. For the above, this study aimed to evaluate nutrient losses by erosion and its effects on water quality in area with cane sugar cultivation us conventional and conservation tillage systems. In experiment 1 the experimental area is located in Guariba - SP, the same soil was classified as red-yellow dystrophic oxisol. The experimental design was completely randomized in a factorial design, 5 treatments with straw cane sugar and 3 repetitions, totaling 15 plots . In the treatments , the straw was manually distributed across the surface of the soil in amounts of 0 ; 0.157 ; 0.35; 0.515 and 0.7 kg , providing roofing 0% (CS0), 25% (CS25), 50% (CS50), 75% (CS75) and 100% (CS100), respectively. The experimental plots were subjected to simulated rain with average intensity of 60 mm h -1 for 65 minutes. It was observed that with increasing soil erosion losses in rill, there is an increase in clay content of the sediment. This fact is directly linked to greater or lesser coverage provided to the soil. There is the need for minimum ground cover of 42 % so there is no enrichment rate (ER) of the sediment eroded by Psed, Pads and clay. The experiment experimental area 2 is located in Pradópolis - SP, in a soil oxisol clayey, which was in time of renewal of cane sugar cultivation. Three tillage systems were used. The experimental plots were subjected to simulated rain with medium intensity around 65 mm h-1 for 75 minutes. In preparing located, as there is greater ground cover, soil loss is much lower than in conventional and reduced. Conventional treatment had higher losses of OM, P, K, Ca and Mg in the sediment. The concentrations of K and P in runoff water can be considered critical for purposes of irrigation and early eutrophication of water. KEYWORDS: sugarcane, oxisol, tillage systems iv LISTA DE FIGURAS Figura Página Capítulo 2 Figura 1 Taxa de erosão em entressulcos e da concentração de sedimentos em função da cobertura da superfície do solo por resíduos de cana-de-açúcar............................................. 24 Figura 2 Concentração de sedimentos em função do coeficiente de rugosidade de Manning........................................................... 25 Figura 3 Número de Froude em função da cobertura da superfície do solo por resíduos de cana-de-açúcar...................................... 26 Figura 4 Teor de argila no sedimento em função da perda de solo em entressulcos............................................................................ 27 Figura 5 Figura 6 Figura 7 Capítulo 3 Figura 1 Figura 2 Teor de argila no sedimento erodido em função da cobertura da superfície do solo.............................................. Concentração de Psed e Pads em função do teor de argila no sedimento erodido.................................................................. Taxas de enriquecimento do sedimento erodido em função da cobertura da superfície do solo por resíduos de cana-de- açúcar..................................................................................... Vista geral das parcelas para quantidade de perdas de solo, água, matéria orgânica e nutrientes por erosão hídrica, em três condições de sistemas de preparo do solo na cultura de cana-de-açúcar.................................................................. Simulador de chuva de hastes rotativas do tipo Swanson..... 27 28 29 38 40 v LISTA DE TABELAS Tabela Capítulo 2 Página Tabela 1 Atributos físicos e químicos do solo na profundidade 0 a 0,20 m................................................................................................. 19 Capítulo 3 Tabela 1 Atributos químicos do LVef......................................................... 37 Tabela 2 Cobertura por resíduos de palha de cana-de-açúcar, perdas de água e concentração de nutrientes na enxurrada em função do sistema de preparo do solo......................................................... 44 Tabela 3 Perdas de nutrientes na água da enxurrada............................... 45 Tabela 4 Atributos relativos à qualidade da água da enxurrada em função de três sistemas de preparo do solo para cultivo da cana-de-açúcar........................................................................... 46 Tabela 5 Concentração de sedimento, vazão da enxurrada e perdas de solo em função do sistema de preparo do solo........................... 48 Tabela 6 Tabela 7 Tabela 8 Concentração de MO e sedimentos no sedimento erodido........ Taxa de enriquecimento (ER) no sedimento erodido por MO, P, K, Ca e Mg em função do sistema de preparo do solo........... Perdas de matéria orgânica e nutrientes no sedimento erodido. 49 49 50 1 CAPÍTULO 1 – Considerações gerais 1.1 Introdução e justificativa 1.1.1 Nutrientes do solo O solo é um recurso natural (ROQUE et al., 2001) que é resultado da ação do clima, do relevo, do intemperismo, do tempo e dos organismos, sendo de suma importância na agricultura, uma vez que armazena água e nutrientes para o desenvolvimento dos vegetais. A disponibilidade de nutrientes no solo depende de diversos fatores (SALVADOR et al., 2011), tais como, capacidade do solo em disponibilizar nutrientes, quantidade de nutriente do solo que é disponibilizada para as plantas e da habilidade do solo de repor os nutrientes que a planta retira. Quanto maior a fertilidade do solo, maior será o tempo em que a concentração de nutriente será mantida. Na superfície do solo, há nutrientes alcalinos que podem substituir outros, tais como: K+ substitui o NH4 +, Ca²+, Mg²+ e Al³+. Além disso, há os nutrientes que são imprescindíveis, tais como carbono, nitrogênio, fósforo e enxofre, que são denominados de essenciais, pois funcionam como “vitaminas”, uma vez que, por fazerem parte do metabolismo da planta, são importantes para o seu desenvolvimento e contribuem para a fertilidade do solo. Os elementos essenciais são classificados em: 1) macronutrientes (carbono, oxigênio, hidrogênio, nitrogênio, enxofre, fósforo, potássio, cálcio e magnésio), que a planta necessita em grande quantidade, e, 2) micronutrientes, presente em pequenas quantidades na planta (ferro, manganês, boro, zinco, cobre, molibdênio e cloro) (VONADA e BORGES, 2011). Para que haja produtividade vegetal satisfatória, no solo deverá haver disponibilidade de N, P, K, Ca, Mg, S, Fe, Zn, Cu, Mn, B, Mo e Cl, caso contrário, a produção será limitada pelo nutriente menos disponível. O nitrogênio é considerado fator limitante, em vários sistemas de cultivo, por ser o elemento mais importante e mais requerido no controle do crescimento das plantas. A sua deficiência atrofia o 2 desenvolvimento da planta. Como a disponibilidade de nitrogênio para as plantas depende do material orgânico e das condições climáticas, elevado estoque de nitrogênio no solo não representa elevada disponibilidade às culturas, pois é necessário que o mesmo seja liberado na forma de minerais (NO3 - e NH4 +) para que a planta o absorva (POLETTO, 2004). Outro elemento essencial, desde o estágio inicial do desenvolvimento da planta, é o fósforo, sendo de suma relevância nos processos metabólicos, desenvolvendo papel importante na transferência de energia da célula, na respiração e na fotossíntese. O fósforo também faz parte da composição estrutural dos ácidos nucleicos de genes e cromossomos, bem como de muitas coenzimas, fosfoproteínas e fosfolipídeos. Além disso, é considerado o elemento limitante da eutrofização, cuja perda, pelo escoamento superficial, pode comprometer a qualidade da água (OLIVEIRA et al., 2010). O potássio, absorvido como íon cátion monovalente (K + ), é um nutriente que, na forma livre e em quantidade adequada, regula e participa de muitos processos essenciais como: controle da turgidez celular, fotossíntese, transpiração, abertura e fechamento de estômatos, absorção de água do solo, atividades enzimáticas, formação de amido e síntese proteica. A carência de potássio pode acarretar redu- ções no crescimento do vegetal (KANO et al., 2010). Ferreira (2012), ao realizar um estudo sobre os sintomas produzidos pela deficiência de macro e micronutrientes no milho híbrido, observou-se que as plantas com carência de potássio apresentaram diminuição acentuada no porte e, além disso, as folhas mais velhas desenvolveram necrose, a qual iniciou nas pontas e margens e evoluiu em direção à nervura central. Oliveira et al. (2011), ao avaliarem o desenvolvimento e concentração de nitrogênio, fósforo e potássio no tecido foliar da berinjela em função da salinidade, concluíram que a absorção de potássio pela berinjela foi maior do que de nitrogênio, entretanto, o aumento da salinidade minimizou a absorção de ambos. Devido à retirada da cobertura vegetal para implantação da agricultura, o solo fica desprotegido. Quando há incidência de chuva sobre este solo, as partículas podem desagregar, selando-o e dificultando a infiltração de água, facilitando o escoamento superficial (run off). Entretanto, há o arraste e suspensão das partículas 3 superficiais do solo desagregadas, onde estão presentes matéria orgânica e os nutrientes essenciais ao solo e para produção agrícola (SILVA et al., 2012). A degradação dos solos ocorre quando há a degeneração das suas características e dos atributos físicos, químicos e biológicos, comprometendo sua qualidade (ZUQUETTE et al., 2012). Essa degradação que é provocada por: práticas inadequadas de manejo agrícola, perdas e lixiviação de nutrientes, mudanças na estrutura, porosidade, permeabilidade e densidade do solo. 1.1.2 Erosão hídrica Erosão é um processo físico que consiste na desagregação e transporte das partículas do solo, pela água ou pelo vento, sendo o resultado do impacto sobre as propriedades físicas do solo, podendo degradar o meio ambiente (BERTONI e LOMBARDI NETO, 2010), pois afeta a estrutura do solo, levando os nutrientes e sais minerais existentes para as partes baixas do relevo. Alguns fatores como: características da chuva, declividade do terreno e a densidade do terreno, também responsáveis pela erosão, podendo provocar o escoamento superficial (run off). Considerando o escoamento superficial, pode-se dizer que este inicia quando a intensidade de precipitação torna-se maior do que a taxa de infiltração da água no solo, ou quando a capacidade de retenção de água pela superfície do terreno for ultrapassada. O escoamento superficial carrega consigo sedimentos ricos em matéria orgânica e nutrientes essenciais ao solo, principalmente partículas pequenas, tais como: carbono orgânico do solo, fósforo, nitrogênio e argila, enriquecendo o sedimento erodido (HU et al., 2013). Como a maior declividade do terreno acarreta no aumento do volume e da velocidade da enxurrada e a redução da infiltração de água no solo, há intensificação da capacidade de transporte das partículas de solo pela enxurrada. Assim como sua capacidade em desagregar o solo, principalmente quando concentrada em sulcos direcionados no sentido da pendente do terreno. Desse modo, a declividade é um fator que influencia fortemente as perdas de água e solo por erosão hídrica (PINHEIRO et al., 2010). Quanto maior a intensidade e a frequência das precipitações pluviométricas, maior será o risco de ocorrência da erosão. Quando associadas às condições de 4 relevo movimentado, características físico-hídricas do solo adversas, uso e manejo inadequados do solo, maior será a probabilidade de erosão (SANTOS et al., 2010). A erodibilidade é outro fator de suma relevância na caracterização da perda de solo, pois, representa os processos que regulam a infiltração de água e sua resistência à desagregação e o transporte de partículas (MIQUELONI e BUENO, 2011). Além das partículas de solo em suspensão, são também transportados: sedimentos, fertilizantes, nutrientes, matéria orgânica, sementes e agroquímicos sendo responsáveis por causarem prejuízos diretos à produção agropecuária. Entretanto, acarretam problemas de assoreamento e poluição na rede hidrográfica, diminuindo a seção de vazão dos leitos dos rios e aumentando os riscos de cheias, o que compromete a perenidade dos cursos de água (SANTOS et al., 2010). 1.1.3 Qualidade da água De acordo com Agência Nacional de Águas - ANA e Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL, em 1997, dada à sua utilidade, a água é considerada um recurso finito e de grande valor econômico. Com a intensificação das atividades agrícolas, para garantir a produção agrícola, principalmente em área canavieira, há a necessidade de grande utilização de fertilizantes fosfatados e potássicos. Contudo, com o aumento dos níveis de nutrientes na superfície do solo e, consequentemente, das suas concentrações no escoamento superficial, há alteração, de forma significativa, da dinâmica dos ecossistemas naturais (MARTINS FILHO et al., 2009). Para O'Geen et al. (2010), as atividades agropecuárias, devido ao escoamento superficial produzido por elas, são as principais responsáveis pela poluição das águas, principalmente, quando associado a processos erosivos. Os sedimentos, arrastados durante a erosão, causam a poluição dos rios, bem como o assoreamento dos mesmos. Além disso, diminui a fertilidade do solo e provoca o acúmulo de resíduos e defensivos químicos, prejudicando a flora e a fauna aquática (RAMOS et al., 2012). Para manter a qualidade da água é necessário reduzir o fluxo de nutrientes para o rio, principalmente os oriundos da produção agrícola como o nitrogênio e o 5 fósforo. Pois, pelo escoamento superficial, esses elementos químicos são transportados para os cursos d’água enriquecendo o meio e favorecendo o crescimento excessivo de plantas aquáticas (ZANINI, 2009). Desse modo, a melhor alternativa é o controle efetivo dos fatores e processos que favorecem a erosão. 1.1.4 Controle dos processos erosivos A erosão, resultante das práticas deficientes de gestão do uso do solo, pode acarretar o aumento da carga de sedimentos nos rios, na medida em que solos e sedimentos são arrastados durante fortes e persistentes chuvas. O controle dos processos erosivos é fundamentado no controle do impacto das gotas de chuva, dentre os quais, a utilização de sistemas conservacionistas, com o manejo dos resíduos na superfície e o não-preparo do solo (TRUMAN et al., 2009). Com a presença de cobertura na superfície do solo as taxas de desagregação do solo são diminuídas e há intensificação da resistência devido ao aumento das forças viscosas e gravitacionais (CANTALICE et al., 2009). A matéria orgânica, por ter grande capacidade para absorver água, é considerada a principal proteção à ação da erosão causada pela água, importante na formação e na estabilidade das partículas do solo. Em solos onde há matéria orgânica, haverá maior infiltração de água, reduzindo a vulnerabilidade do solo à compactação, desse modo, a aeração e a umidade do mesmo serão maiores, deixando-o mais estruturado. O solo estruturado fica mais resistente à erosão, com melhor percolação de água por meio do perfil e com menos perdas (BRAGA, 2010). Assim sendo, os processos relacionados à matéria orgânica na química do solo são de suma importância para compreender a fertilidade e disponibilidade de nutrientes para as plantas (SILVA et al., 2012). Devido à relação entre matéria orgânica e atributos físicos, biológicos e químicos do solo, esta pode ser considerada como indicadora da capacidade produtiva do solo, sendo suma importância para sustentabilidade da agricultura. 6 Quanto maior o teor de matéria orgânica, melhor será a fertilidade do solo, uma vez que é considerada como fonte de nutrientes no solo (SOUZA, 2013), dentre esses nutrientes, destaca-se o fósforo, elemento essencial à produtividade do solo, para esse elemento, a MO é primordial porque aumenta a quantidade do mesmo no solo (RAMOS et al., 2010). A MO também tem a capacidade de reter outros nutrientes, como o potássio (K+), cálcio (Ca2+) e magnésio (Mg2+), atuando como reservatório de nitrogênio (N), fósforo (P) enxofre (S) e boro (B) (CHIODINI et al., 2013). A quantidade de MO é influenciada pela textura do solo, clima, umidade, microbiota do solo e condicionamento físico do solo (KHORRAMDEL et al., 2013). A escolha do sistema de plantio direto, por interferir na taxa de deposição e decomposição, minimiza as perdas de matéria orgânica (MO) no solo por decomposição, sendo relevante no estoque desta no solo (COSTA et al., 2013). Além de aumentar a taxa de MO, esse método de plantio, também promove incremento na concentração de potássio e fósforo no solo. Em práticas de manejo inadequadas, há a redução de MO, diminuindo a fertilidade do solo, pois além de reduzir as quantidades de nutrientes, afetam a capacidade de trocas de cátions (CTC) (FONTANA et al., 2011). Adotar sistemas de manejo conservacionistas, os quais mantêm a cobertura vegetal e seus resíduos sobre o solo, melhora a estrutura do mesmo, minimizando os efeitos provocados pelos processos erosivos (GUTH, 2010). Para Cardoso et al. (2012), a presença da cobertura vegetal viva ou morta acima da superfície do solo, intercepta o impacto das gotas d’água da chuva sobre o solo, protegendo-o. Por conseguinte, há a redução da formação do selo superficial e da desagregação do solo, preservando as propriedades físicas do solo, controlando as perdas por erosão de forma mais eficiente (PANACHUKI et al., 2011) Sousa et al. (2012) ao realizarem estudos utilizando palha de cana-de-açúcar na cobertura do solo observaram que ao aumentar a quantidade de palha, independentemente da posição da vertente ser topo, encosta ou sopé, as perdas de solo foram reduzidas, bem como a concentração de matéria orgânica e nutrientes no sedimento erodido. 7 Segundo Cardoso et al. (2012), o escoamento superficial e a erosão podem ser minimizados por plantas que possuem elevado índice de cobertura e alta produtividade em fitomassa. Thomazini et al. (2012), ao realizarem estudos avaliando perdas de solo, bem como água e nutrientes, em sistemas conservacionistas e convencionais da cultura de café no estado do Espírito Santo, observaram que essas perdas, foram superiores nos sistemas convencionais em comparação aos sistemas conservacionistas. Martins Filho et al. (2009) desenvolveram estudos utilizando diferentes condições de cobertura em área cultivada com cana-de-açúcar, mantendo a palhada na superfície do solo. Concluíram que as infiltrações de água no solo foram maiores nas áreas com 50% e 100% de cobertura por resíduos vegetais, pois, nestas percentagens, houve redução da erosão do solo de 68% e 89%, respectivamente, em relação ao solo descoberto. Sousa (2011), ao avaliar as perdas de solo, de matéria orgânica e de nutrientes, em área com a cultura de cana-de-açúcar, submetida à colheita mecanizada, utilizando parcelas com diferentes porcentagens de cobertura, por palhada de cana-de-açúcar, verificou que a perdas das condições analisadas no sedimento foram maiores nas parcelas com 0% e 25% de cobertura por palha de cana-de-açúcar. Já nas parcelas com 75% e 100% de cobertura por resíduos de palha de cana-de-açúcar, as perdas no sedimento erodido foram significativamente reduzidas, permitindo concluir ao utilizar acima de 50% da cobertura com palhada, na área estudada, as perdas de solo e de matéria orgânica são reduzidas, bem como a concentração de nutrientes no sedimento erodido. O sistema de plantio direto foi avaliado como alternativa na produção hortaliças e, quando comparado ao sistema convencional, no plantio direto houve menor perda de solo e de fósforo e potássio (SOUZA, 2013). Atucha et al. (2013) observaram que a cobertura vegetal nos pomares de abacate minimizou a erosão bem como outros impactos ambientais, reduzindo as perdas de nutrientes pelo escoamento superficial, as quais contribuíram com a diminuição da poluição da água . 8 Bertol et al. (2011), ao avaliarem a concentração dos nutrientes: potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e cobre (Cu), na enxurrada provocada por chuvas simuladas, verificaram que o sistema de plantio direto contribui para melhorias no solo, aumentando a concentração de nutrientes, principalmente na superfície do solo. Entretanto, devido a este aumento, há perdas de nutrientes pela enxurrada, o que resulta em danos econômicos e ambientais. Estes autores concluíram que há a necessidade da adoção de práticas conservacionistas complementares para a contenção da enxurrada, dentre elas o terraceamento é uma opção viável. O terraceamento controla a erosão, diminuindo o comprimento do declive, pelo seccionamento das encostas. Assim sendo, quebram a velocidade da enxurrada, acumulando-a no canal do terraço facilitando a infiltração da água e sua permanência no solo. Como a dinâmica da enxurrada pode ser controlada pelos terraços, há a redução da perda de nutrientes das lavouras bem como da degradação dos recursos naturais água e solo, contribuindo positivamente para os aspectos econômicos e ambientais das propriedades rurais e, consequentemente, da sociedade. Uma forma de manter a qualidade da água é a preservação das matas ciliares, as quais são tolerantes a inundações periódicas e têm a capacidade de adaptação em terrenos com alto grau de declividade. A mata ciliar é de suma importância para a manutenção dos ecossistemas aquáticos, uma vez que auxilia na infiltração de água no solo, facilitando o abastecimento do lençol freático e conservando a qualidade da água. Além disso, dificulta o escoamento superficial de partículas e sedimentos responsáveis pela poluição e assoreamento dos recursos hídricos, fornece sombra, mantém a estabilidade térmica da água e ainda impede o impacto direto da chuva no solo, minimizando os processos erosivos (SALAMENE et al., 2011). 1.1.5 Cultivo da cana-de-açúcar No cenário econômico brasileiro a cana-de-açúcar Saccharum officinarum L.) exerce um papel de suma importância, uma vez que representa uma boa parcela dos lucros no setor agropecuário. Embora o Brasil tenha o clima propício e essa 9 cultura seja de boa adaptação no solo brasileiro (GROFF, 2010), é importante adotar algumas medidas durante o preparo do solo, plantio e colheita, para que haja aumento da produtividade e obtenção de produto de qualidade, bem como, a preservação do meio ambiente e uma lucratividade satisfatória (MENEGUETTI et al., 2010). Após a escolha da variedade da cana a ser cultivada, é essencial um estudo da área do plantio, pois, o clima, densidade, época do plantio, temperatura e disponibilidade de água e nutrientes no solo, assim como, suas características físicas, químicas e microbiológicas, interferem diretamente na qualidade da mesma (GROFF, 2010). Antes do plantio, é necessário fazer um planejamento da área a ser cultivada, dos métodos de manejo utilizados, do risco de erosão e dos nutrientes disponíveis no solo, pois o plantio é uma das etapas essenciais na condução de qualquer cultura e para alcançar a produtividade esperada. A produtividade da cana-de-açúcar, que é uma das principais atividades agrícolas do Brasil, também pode ser influenciada pelo tipo de colheita, a qual está deixando de ser efetuada de forma manual e com queima do canavial (cana queimada), sendo substituída pela colheita mecanizada e sem queima (cana crua). Na colheita de cana crua, há uma cobertura vegetal, denominada de palhada, a qual é formada devido às folhas, bainhas e ponteiros que são cortados, triturados e lançados sobre a superfície do solo. A palhada permanece sobre o solo em grande quantidade, promovendo modificações nos atributos físicos e químicos do solo por longo tempo (BARBIERE, 2011). Contudo, as perdas de MO e de nutrientes no sedimento erodido serão minimizadas (MARTINS FILHO et al., 2009). Uma das desvantagens da cana queimada é a contribuição para o efeito estufa. A cana queimada reduz consideravelmente a matéria seca e aumenta a concentração de gás carbônico na atmosfera, além disso, diminui o teor de matéria orgânica (PANOSSO et al., 2011). Garbiate et al. (2011), ao compararem as concentrações de sedimentos na enxurrada, resultantes da erosão entre sulcos, na colheita mecanizada de cana queimada e de cana crua, observaram que estas concentrações, assim como de 10 MO, P, K, Ca e Mg, foram superiores no sistema com colheita mecanizada de cana queimada. No sistema de cana queimada com o tráfego de máquinas, o solo fica mais suscetível à compactação, alterando de forma negativa a qualidade física do mesmo. Na colheita de cana crua, como os resíduos vegetais de colheita são distribuídos na superfície do solo, as perdas de nutrientes e de MO no sedimento são minimizadas. Além disso, o solo fica mais resistente à degradação física promovida pelo tráfego de máquinas na colheita mecanizada de cana. 1.2 Hipótese Os tratamentos de preparo do solo, a ausência ou presença de cobertura vegetal, bem como a percentagem de cobertura presente no solo, podem influenciar nas quantidades de matéria orgânica e nutrientes perdidos pela erosão, consequentemente na conservação da qualidade do solo e da água. 1.3 Objetivos 1) quantificar as perdas de argila, P solúvel e adsorvido por erosão em entressulcos influenciadas pela presença de resíduos de cana-de-açúcar na superfície do solo; 2) determinar o percentual mínimo de resíduos a serem mantidos sobre a superfície do solo para o não enriquecimento do sedimento erodido por argila e P solúvel e adsorvido; 3) avaliar a influência das perdas de nutrientes na qualidade da água. 11 1. 4 Referências ATUCHA, A.; MERWIN, I. A.; BROWN, M. G.; GARDIAZABAL, F.; MENA, F.; ADRIAZOLA, C.; LEHMANN, J. 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O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado num esquema fatorial, 5 tratamentos com palha de cana-de-açúcar e 3 repetições, totalizando 15 parcelas. Nos tratamentos, a palha foi manualmente distribuída em toda a superfície do solo, nas quantidades de 0; 0,157; 0,35; 0,515 e 0,7 kg, proporcionando coberturas de 0% (CS0), 25% (CS25), 50% (CS50), 75% (CS75) e 100% (CS100), respectivamente. A aplicação da palha foi realizada 2 horas antes da realização de chuva simulada e das avaliações de erosão e entressulcos. As parcelas experimentais foram submetidas a chuvas simuladas com intensidades médias de 60 mm h-1, durante 65 minutos. Verificaram-se relações lineares entre concentração de PSed, Pads e ArgSed no sedimento erodido. Para que não haja taxa de enriquecimento (ER) do sedimento erodido por Psed, Pads e argila, é necessária cobertura da superfície do solo (CS) mínima de 42%. PALAVRAS-CHAVE: nutrientes, qualidade do solo, manejo do solo 17 2.1 Introdução A erosão, que é um processo de desprendimento e arraste das partículas do solo ocasionado pela água ou pelo vento, inicia-se com o impacto produzido pelo salpico das gotas de chuva sobre a superfície do solo desprotegido e continua com a formação de enxurrada resultando em sulcos. Sendo os seus principais responsáveis: a intensidade pluviométrica, a topografia, o baixo teor de matéria orgânica do solo e o tipo de cobertura vegetal (GUIMARÃES et al., 2012). O uso de técnicas e práticas de cultivo inadequadas, alteração das condições hidrológicas, desmatamento (TERRANOVA et al., 2009), condições de relevo movimentado e características físico-hídricas adversas do solo (SANTOS et al., 2010) podem intensificar o fenômeno de erosão. O manejo inadequado do solo pode acelerar o processo erosivo, facilitando as perdas do solo, alterando as propriedades físicas do solo, minimizando a produtividade das culturas (SILVA et al., 2012a) O efeito do transporte de partículas do solo, com uma combinação dos processos erosivos, aumenta a variabilidade espacial das produções agrícolas, assim como o declínio global da capacidade produtiva do solo. Para que haja um equilíbrio entre a máxima retenção de água das chuvas, a velocidade de infiltração e a capacidade de armazenamento de água no solo, objetivando melhor qualidade do solo para o desenvolvimento de culturas, a adoção de manejo adequado do solo é de suma importância (CARVALHO, 2009). O sistema de manejo influencia no tamanho do sedimento arrastado pela enxurrada. O cultivo do solo com mobilização mecânica e a queima de resíduos vegetais aumentam a quantidade de sedimentos desagregados e disponíveis para o transporte pela enxurrada, modificam a distribuição de tamanho dos sedimentos presentes na enxurrada, normalmente, aumentam a quantidade de sedimentos grandes em relação aos pequenos. As taxas de erosão podem ser reduzidas, com o aumento da cobertura vegetal, uma vez que a presença de vegetação auxilia na retenção de água no solo e reduz a velocidade do escoamento superficial (REIS et al., 2012), visto que a 18 cobertura é fundamental na dissipação da energia cinética das gotas da chuva (GUTH, 2010). Os atributos químicos arrastados pela enxurrada podem ser reduzidos com a utilização da colheita mecanizada na cultura de cana-de-açúcar, isso ocorre porque, como neste sistema não há despalha pelo fogo, há a proteção dos resíduos que ficam na superfície após a colheita da cana (SOUSA et al., 2012). Um aspecto relevante é que, com a cobertura vegetal, as propriedades físicas do solo são preservadas, contudo, impede a ocorrência do selamento superficial, facilitando a infiltração de água no solo (PANACHUKI et al., 2011). No cultivo sem mobilização do solo, com manutenção de resíduos vegetais na superfície, há redução na quantidade de sedimentos, o que aumenta a proporção de sedimentos pequenos em relação aos grandes (BERTOL et al., 2010). A presença da cobertura vegetal reduz o impacto das gotas de chuva no solo (CARDOSO et al., 2012), evitando o desprendimento das partículas. Por conseguinte, minimiza os efeitos da erosão produzidos pela enxurrada, evitando o arraste de nutrientes para os rios, lagos e açudes, reduzindo a contaminação da água. A substituição de técnicas de cultivo convencionais por práticas conservacionistas, que mantêm resíduos vegetais sobre o solo, como acontece na colheita mecanizada da cana-de-açúcar, visa a melhor estruturação do solo, bem como, suas características físicas, químicas e biológicas. Desse modo, a cobertura por resíduos culturais e a rugosidade superficial constituem as condições físicas de superfície do solo mais importantes do ponto de vista de redução da erosão hídrica. No Brasil, em 2014, no contexto de produção de etanol de 2ª geração e cogeração de energia pelo uso da palha da cana-de-açúcar, há iminente preocupação com o quanto deixar de palha sobre a superfície do solo, para minimizar os efeitos adversos da erosão hídrica como as perdas de matéria orgânica e nutrientes. A hipótese do trabalho é que o manejo adequado do solo e a percentagem de cobertura vegetal influenciam na manutenção dos nutrientes e na conservação da qualidade do solo. O presente estudo teve como objetivos: a quantificação das perdas de argila, P solúvel e adsorvido por erosão em entressulcos influenciadas 19 pela presença de resíduos de cana-de-açúcar na superfície do solo e a determinação do percentual mínimo de resíduos a serem mantidos sobre a superfície do solo para o não enriquecimento do sedimento erodido por argila e P solúvel e adsorvido. 2.2 Material e Métodos A área de estudo localiza-se no nordeste do Estado de São Paulo, no Município de Guariba. As coordenadas geográficas foram 21º 19’ de latitude sul e 48º 13’ de longitude oeste, com altitude média de 640 m. O clima da região, segundo a classificação de Köppen, é do tipo mesotérmico com inverno seco (Aw), com precipitação média de 1.400 mm. As chuvas são concentradas no período de novembro a fevereiro. A vegetação natural é constituída por floresta tropical subcaducifólia. O solo da área foi classificada como Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico, com valor de saturação por base (V%) 26% na profundidade de 0,6-0,8 m (LVAd) (EMBRAPA, 2013) sob cultivo de cana-de-açúcar. Os valores dos principais atributos físicos e químicos são apresentados na Tabela 1. Tabela 1. Atributos físicos e químicos do solo na profundidade 0 a 0,2 m. Argila Silte Areia pH MO P (resina) P(ads) K Ca Mg Al H+Al SB CTC V ------------ % ---------- CaCl2 g kg-1 mg dm-3 mg dm-3 ----------------------- mmolc dm-3 ---------------------- % 63 7 30 5 23 47 385 2 32 9 1 35 43 79 63 ads = adsorvido. Utilizou-se uma vertente caracterizada pelas seguintes posições: topo, meia encosta e sopé, cabe ressaltar que a área apresentava um histórico de mais de 20 anos consecutivos com cultivo de cana-de-açúcar. A cobertura vegetal na área, na época da realização deste trabalho, foi constituída por resíduos de cana-de-açúcar, mantidos sobre a superfície, após a colheita mecânica da cultura. 20 As parcelas experimentais foram nas seguintes dimensões: 0,5 m de largura por 1 m de comprimento, com área total de 0,5 m2. Para determinação do processo de erosão em entressulcos, foram utilizadas parcelas delimitadas com chapas metálicas nas suas laterais e na parte superior e na extremidade inferior, por uma calha convergente para saída de 0,1 m de diâmetro. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado num esquema fatorial, 5 tratamentos com palha de cana-de-açúcar e 3 repetições, totalizando 15 parcelas. Nos tratamentos, a palha foi manualmente distribuída em toda a superfície do solo, nas quantidades de 0; 0,157; 0,35; 0,515 e 0,7 kg, proporcionando coberturas de 0% (CS0), 25% (CS25), 50% (CS50), 75% (CS75) e 100% (CS100), respectivamente. As percentagens de coberturas por palha de cana foram determinadas analisando-se imagens fotográficas das parcelas experimentais com o programa SisCob (EMBRAPA, 2010). As parcelas testemunhas foram consideradas aquelas sem cobertura por palha (CS0). Para chegar ao valor de 100% de cobertura, pesaram-se várias amostras em áreas de 1 m2 de palha após a colheita e determinou-se a média das amostras. A aplicação da palha foi realizada 2 horas antes da realização de chuva simulada e das avaliações de erosão e entressulcos. As parcelas experimentais foram submetidas a chuvas simuladas com intensidades médias de 60 mm h-1, durante 65 minutos. Utilizou-se um simulador de chuva de hastes rotativas do tipo Swanson, com bicos Veejet 80-100, previamente calibrado e nivelado no terreno, como descrito por Martins Filho et al. (2009). Trinta e três pluviômetros, alinhados no sentido do declive, na área de ação do simulador de chuvas, foram utilizados para determinar as intensidades das precipitações produzidas pelo simulador, nas áreas ocupadas pelas parcelas experimentais. 21 Amostragens para medidas de vazões dos escoamentos superficiais e das concentrações de sedimentos foram realizadas no quinto minuto após o início da enxurrada e, a partir daí, a cada cinco minutos. As amostras foram coletadas em recipientes de plástico com capacidade de 1 L, cronometrando-se o tempo de coleta. Logo após as coletas, os recipientes foram fechados e conduzidos ao laboratório, para quantificação da concentração de sedimentos e volume de solução e, consequente, determinação das taxas de perdas de solo e água. Os volumes de solução coletados foram avaliados gravimetricamente, em balança com precisão de 0,01 g. Em seguida, as amostras deixadas em repouso por 24 horas para a deposição dos sedimentos. Após o período de repouso de 24 horas, o sobrenadante foi filtrado. Posteriormente, submetido à análise para determinação de P, K, Ca e Mg, seguindo método da EMBRAPA (1979). O material decantado foi levado à estufa a 60 °C até secagem completa. Após secagem, as amostras foram pesadas, determinando-se o peso do sedimento de cada uma. A concentração de sedimentos foi obtida considerando-se o volume da solução, a densidade da água e do sedimento na solução. Cada um dos volumes de solução obtida foi dividido pelo tempo de coleta, obtendo-se a vazão de enxurrada em cada intervalo de coleta. Uma vez quantificado o sedimento erodido em kg s-1 e a vazão em m3 s-1, para cada amostragem realizada, as taxas de erosão (A) e de enxurrada (R) foram determinadas dividindo-se cada um dos valores obtidos pela área de cada parcela. As amostras deformadas foram coletadas nas bordaduras das parcelas entressulcos, com o auxílio de um trado, na profundidade de 0 - 0,15 m, para determinação da umidade do solo. A umidade do solo foi determinada gravimetricamente, a partir de amostras coletadas no campo. No laboratório, as amostras foram pesadas e secas em estufa sob circulação forçada, a 105 °C, por 24 horas, e pesadas novamente. A umidade gravimétrica foi expressa em g g-1 e, posteriormente, convertida em m3 m-3, utilizando-se da densidade do solo. 22 A velocidade do escoamento superficial foi obtida pela medição do tempo gasto para um corante (azul de metileno a 0,25%) percorrer uma distância conhecida na parcela experimental. Tais medidas foram feitas a cada cinco minutos, durante o tempo de duração das chuvas simuladas. A velocidade determinada como descrito é considerada como a velocidade máxima do escoamento. Estabeleceu-se a velocidade média do escoamento conforme Silva et al. (2012b), a qual é dada pelo produto da velocidade máxima por um fator de ajuste α=2/3. A velocidade média do escoamento (v) foi determinada, para os tratamentos com 25%, 50%, 75% e 100% de cobertura, a partir do ajuste de v em função da vazão (Q) obtida nas parcelas sem cobertura, conforme descrito por KNAPEN et al. (2008). Para a caracterização química do solo e do sedimento erodido, o cálcio, o magnésio, o potássio e o fósforo foram extraídos pelo método da resina trocadora de íons (RAIJ et al., 1987). O carbono orgânico (C%) foi determinado seguindo metodologia da EMBRAPA (1979). O pH foi determinado potenciometricamente em solução de CaCl2 0,01 M. Os resultados de adsorção de P foram obtidos de acordo com o método descrito por Casagrande e Camargo (1997). A concentração de 100 mg L-1 de fósforo foi adicionada a amostras de solos. A quantidade de P adsorvido foi calculada subtraindo-se o valor determinado em solução do valor total adicionado. Os resultados foram submetidos à análise da variância segundo o delineamento inteiramente casualizado. Para as comparações múltiplas das médias, utilizou-se o teste de Duncan a 5%. Análises estatísticas e de regressões foram obtidas com o programa Statistica (STATSOFT, 1994). As taxas de desagregação do solo em entressulcos (Di, kg m-2 s-1) foram determinadas conforme equação 2.1: tA ms i D (2.1) 23 em que, ms = massa de solo desagregado (kg); t é o tempo de coleta (s), e A é a área da parcela (m2). As perdas totais de solo foram determinadas pela equação 2.2: PS = A t)C(Q n 1i ii  (2.2) em que, PS é a perda total de solo em entressulcos (kg m-2); Qi é a vazão (L s-1); Ci é a concentração de sedimentos (kg L-1); t é o intervalo entre as coletas (300 s); A é a área da parcela (m2), e n é o número total de amostras coletadas. Para a avaliação de algumas características hidráulicas do escoamento superficial em entressulcos foi medida a temperatura da água de escoamento. Para obter o número de Froude (Fr), foi utilizada a seguinte expressão: gh vFr  (2.3) em que, g é a aceleração da gravidade (m s-2), e h é a altura da lâmina d’água (m). A rugosidade hidráulica ao escoamento superficial foi obtida determinando-se o coeficiente de rugosidade de Manning: 1/22/3SRh v 1n  (2.4) em que, Rh é o raio hidráulico (m), e S e a razão de inclinação do declive (m m-1). 24 2.3 Resultados e Discussão 2.3.1 Erosão em Entressulcos Na Figura 1 é possível observar a influência da cobertura do solo por resíduos de cana-de-açúcar em superfície na taxa de erosão (a) e na concentração de sedimentos em entressulcos (b). a b Figura 1. Taxa de erosão em entressulcos e da concentração de sedimentos em função da cobertura da superfície do solo por resíduos de cana-de-açúcar: a) erosão em entressulcos; b) concentração de sedimentos do solo na água da enxurrada. A análise da Figura 1a permitiu observar que a cobertura da superfície do solo promoveu um decréscimo exponencial significativo tanto da taxa de erosão em entressulcos que, com 100% de cobertura houve decréscimo de até 99,2% em relação à ausência de cobertura, quanto da concentração de sedimentos (Figura 1b). Com 100% de cobertura, havia 0,25 g de sedimentos do solo sendo transportados por litro de enxurrada, enquanto no solo descoberto eram arrastados 9,03 g L-1. Quando 50% de palha foram mantidos na superfície do solo, a Di foi reduzida em 91,4% quando comparada ao valor para o solo desnudo. Estes resultados são superiores aos verificados por Silva et al. (2012b) para erosão em entressulcos, na 0 25 50 75 100 Cobertura da superfície do solo, CS, % 0.00000 0.00001 0.00002 0.00003 0.00004 0.00005 0.00006 0.00007 0.00008 T ax a d e e ro sã o e m e n tr e ss u lc o s, D i, k g m -2 s -1 Di = 0,000050 e-0,049089 CS R2 = 0,90** 0 25 50 75 100 Cobertura da superfície do solo, CS, % 0 2 4 6 8 10 12 14 C o n ce n tr aç ã o d e se d im e n to s, C , g L -1 C= 9,034485 e-0,035747 CS R2 = 0,74** 25 presença de 50% de cobertura por resíduos de cana-de-açúcar, que relataram 85% de redução de Di nesta condição. Quanto à redução das concentrações de sedimento diminuírem com o aumento da cobertura da superfície do solo com palha de cana-de-açúcar, estas são concordantes com resultados obtidos por Sousa et al. (2012). Com o aumento da cobertura do solo, houve um proporcional aumento na resistência ao escoamento devido à rugosidade superficial reduzindo a concentração de sedimentos (Figura 2), aumentando as forças viscosas e as relacionadas à gravidade, diminuindo o número de Froude (Figura 3), como observado por CANTALICE et al. (2009). Figura 2. Concentração de sedimentos em função do coeficiente de rugosidade de Manning. 0.02 0.04 0.06 0.08 0.10 0.12 0.14 Coeficiente de rugosidade de Manning, n 0 2 4 6 8 10 12 14 16 C o n ce n tr aç ão d e se d im en to s, C , g L -1 C = 25,7482 e-32,688 n R2 = 0,81** 26 Figura 3. Número de Froude em função da cobertura da superfície do solo por resíduos de cana-de-açúcar. Estes resultados corroboraram com os obtidos por Martins Filho et al. (2009), que desenvolveram estudos utilizando diferentes condições de cobertura em área cultivada com cana-de-açúcar, mantendo a palhada na superfície do solo, e concluíram que, ao utilizar cobertura da superfície do solo, a erosão do solo foi reduzida em relação ao solo descoberto. A efetividade da cobertura do solo na redução da erosão foi também observada por Sousa et al. (2012). Ao avaliarem as perdas de solo, de matéria orgânica e de nutrientes, em área com a cultura de cana-de-açúcar, submetida à colheita mecanizada, utilizando parcelas com diferentes porcentagens de cobertura, por palha de cana-de-açúcar, verificaram que nas parcelas com 75% e 100% de cobertura por resíduos de palha de cana-de-açúcar, as perdas no sedimento erodido foram significativamente reduzidas. Concluíram que, ao utilizar acima de 50% da cobertura com palha, na área estudada, as perdas de solo e de matéria orgânica foram reduzidas, assim como a concentração de nutrientes no sedimento erodido. A influência da cobertura vegetal na taxa de erosão foi também estudada por Atucha et al. (2013) que observaram que a cobertura vegetal nos pomares de abacate minimizou a erosão bem como outros impactos ambientais, reduzindo as perdas de nutrientes pelo escoamento superficial. 0 20 40 60 80 100 120 Cobertura da superfície do solo, CS, % 0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 N ú m er o d e F ro u d e, F r Fr = 0,516659 e-0,01586 CS R2 = 0,86** 27 2.3.2 Perdas de argila, fósforo disponível e adsorvido no sedimento Na Figura 4 observou-se um incremento no teor de argila do sedimento erodido com o aumento das perdas de solo por erosão em entressulcos. Tal fato está diretamente ligado à maior ou menor cobertura oferecida ao solo, o que pode ser compreendido pelos resultados expressos na Figura 5. Figura 4. Teor de argila no sedimento em função da perda de solo em entressulcos. Figura 5. Teor de argila no sedimento erodido em função da cobertura da superfície do solo. 0.00 0.04 0.08 0.12 0.16 0.20 0.24 Perda de solo em entressulcos, PS, kg m-2 30 40 50 60 70 80 90 100 110 T eo r d e ar g il a n o s e d im en to e ro d id o , A rg S e d , % ArgSed = 49,9319 + 212,333 PS R2 = 0,71** 0 25 50 75 100 Cobertura da superfície do solo, CS, % 30 40 50 60 70 80 90 100 Te or d e ar gi la d o se di m en to , A rg Se d, % ArgSed = 87,37 e-0,0079 CS R2 = 0,96** 28 Na Figura 6, verificou-se que a quantidade de fósforo disponível e adsorvido ao sedimento erodido aumenta linearmente com o aumento do teor de argila presente no sedimento. As taxas de enriquecimento do sedimento erodido por fósforo e argila são, provavelmente, consequências de uma forte erosão seletiva, que transporta preferencialmente as partículas de menor diâmetro e de baixa densidade, o que é comum em processos erosivos em entressulcos (MARTINS FILHO et al., 2009). Contudo, estão relacionados com o enriquecimento do sedimento erodido por finas frações de baixa densidade como silte, argila, fósforo, nitrogênio e carbono orgânico do solo (HU et al., 2013). O enriquecimento por fósforo nos sedimentos em entressulcos, pode ser atribuído à associação do fósforo com as mais finas frações do solo, que são preferencialmente arrastadas (KUHN et al., 2012). a b Figura 6. Concentração de Psed e de Pads em função teor de argila no sedimento: a) concentração de fósforo disponível; b) concentração de fósforo adsorvido. A ER nas Figuras 7a e 7b é a relação entre a concentração de P solúvel e P adsorvido no sedimento erodido e no solo original (Tabela 1). Quando ER é maior que 1 significa que o sedimento se encontra enriquecido por matéria orgânica ou nutrientes do solo ( MARTINS FILHO et al., 2009). Para Silva et al. (2012b), as taxas de enriquecimento maiores do que 1 indicam que a concentração no sedimento erodido foi maior do que no solo original, 30 40 50 60 70 80 90 100 Teor de argila no sedimento, ArgSed, % 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 600 C o n ce n tr aç ão d e fó sf o ro a d so rv id o , P a d s, m g d m -3 Pads = -104,3056 + 5,9102 ArgSed R 2 = 0,82** 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Teor de argila no sedimento erodido, ArgSed, % 0 10 20 30 40 50 60 70 C o n c e n tr a ç ã o d e f ó sf o ro , P S e d , m g d m -3 PSed = -14,7125 + 0,7856 ArgSed R 2 = 0,91** a 29 caracterizando a seletividade de arraste de material no processo da erosão em entressulcos. Há o transporte principalmente das partículas mais finas, das frações mais reativas do solo e, consequentemente, com maior capacidade de carrear carbono orgânico e nutrientes. a b Figura 7. Taxas de enriquecimento do sedimento erodido em função da cobertura da superfície do solo por resíduos de cana-de-açúcar: a) fósforo disponível (ERP) e b) fósforo adsorvido (ERPads). Considerando-se as taxas de enriquecimento (ER) do sedimento erodido por PSed e Pads (Figura 7a e 7b), foi possível verificar a necessidade de cobertura do solo (CS) mínima de 18% e 10%, para que ER fosse igual a 1, ou seja, para não haver enriquecimento do sedimento erodido com fósforo disponível e adsorvido, respectivamente. Tais coberturas, contudo, não garantem a ausência de enriquecimento do sedimento com argila e/ou outros nutrientes em teores capazes de conduzir a uma ER ≤ 1. Além disso, elas são inferiores ao determinado por Silva et al. (2012b), os quais avaliaram para ERP ≤ 1 haver a necessidade de uma CS ≥ 25%. No caso específico da taxa de enriquecimento do sedimento por argila (ERArg), em função da cobertura da superfície do solo por resíduos de cana-de- açúcar, obteve-se a seguinte relação linear: ERArg = 1,39021 e-0,00788 CS (R2 = 0,95**). Deste modo, para uma ERArg ≤ 1 será necessário uma CS ≥ 42%. 0 25 50 75 100 Cobertura da superfície do solo, CS, % 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 1.8 T ax a d e e n ri q u ec im en to p o r fó sf o ro , E R P ERP = 1,29828 e-0,01426 CS R2 = 0,83** 0 25 50 75 100 Cobertura da superfície do solo, CS, % 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 T ax a d e en ri q u ec im en to p o r fó sf o ro a d so rv id o , E R P a d s ERPads = 1,13699 e-0,01274 CS R2 = 0,89** 30 2.4 Conclusões As perdas de argila e fósforo disponível e adsorvido no sedimento erodido diminuem com o aumento da cobertura da superfície do solo. Há relações lineares entre as concentrações de fósforo (mg dm-3) e o teor de argila (ArgSed, %) no sedimento erodido. São necessárias coberturas de superfície do solo (CS) mínimas de 42% para que não haja taxa de enriquecimento (ER) do sedimento erodido, por fósforo disponível e adsorvido e argila. 31 2.5 Referências ATUCHA, A.; MERWIN, I. A.; BROWN, M. G.; GARDIAZABAL, F.; MENA, F.; ADRIAZOLA, C.; LEHMANN, J. Soil erosion, runoff and nutrient losses in an avocado (Persea Americana Mill) hillside orchard under different groundcover management systems. Plant Soil, Dordrecht, v. 368, n. 1-2, p. 393-406, 2013. BERTOL, I.; VÁZQUEZ, E. V.; GONZÁLEZ, A. P.; COGO, N. P.; LUCIANO, R. V.; FABIAN, E. L. Sedimentos transportados pela enxurrada em eventos de erosão hídrica em um Nitossolo Háplico. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, MG, v. 34, n. 1, p. 245-252, 2010. CANTALICE, J. R. B.; BEZERRA, S. A.; OLIVEIRA, O.; MELO, R. O. Hidráulica e taxas de erosão em entressulcos sob diferentes declividade e doses de cobertura morta. Revista Caatinga, Mossoró, v. 22, n. 2, p. 68-74, 2009. CARDOSO, D. 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Geomorphology, Amsterdam, v. 112, n. 3-4, p. 228-245, 2009. 34 CAPÍTULO 3 – Perdas de matéria orgânica e nutrientes em área de cana-de- açúcar e seus efeitos na qualidade da água RESUMO – Este trabalho teve como objetivo a quantificação do teor matéria orgânica, sedimentos e nutrientes transportados pela erosão hídrica, bem como seus efeitos na qualidade da água em área de renovação do cultivo de cana-de- açúcar. A área experimental localiza-se no município de Pradópolis – SP. O solo da área foi classificado como Latossolo Vermelho eutroférrico textura muito argilosa. A quantificação das perdas de solo e água por erosão, sob condições de chuva artificial, foi realizada em três condições de sistemas de preparo do solo (convencional, reduzido e localizado) para cultivo de cana-de-açúcar. O experimento foi conduzido num delineamento experimental inteiramente casualizado (DIC) com: 3 sistemas de preparo e 4 repetições, totalizando 12 parcelas. Verificou-se que a presença de resíduos de cana-de-açúcar reduz as perdas MO, P e K. As concentrações de K e P na água da enxurrada podem ser consideradas críticas para fins de irrigação e início de eutrofização da água. O maior valor de turbidez da água da enxurrada foi obtido para o cultivo convencional (PC). Considerando a razão de saturação por sódio (RAS), condutividade elétrica (CE), demanda bioquímica de oxigênio (DBO5), turbidez e pH é possível afirmar que a água proveniente da enxurrada, devido a processo de erosão em entressulcos, enquadra-se nos limites da Resolução Conama no 375/2005 para corpos de água doce de Classe I. Palavras–chave: enxurrada, preparo do solo, sedimento 35 3.1 Introdução A desagregação dos agregados de solo em frações menores faz com que estas, ao se acomodarem junto à superfície, obstruam os poros, resultando em baixos valores de infiltração, facilitando o transporte de solo pela enxurrada. Devido à quebra da estrutura do solo, por meio do escoamento superficial (run off), há o arraste de nutrientes, matéria orgânica e microrganismos (LOBATO et al., 2009). A erosão hídrica, por ser seletiva, preferencialmente transporta os sedimentos de menor diâmetro e de baixa densidade, constituídos, sobretudo de coloides minerais e orgânicos (GUTH, 2010). O transporte das partículas, normalmente, é provocado pelo escoamento superficial da água. A deposição das partículas culmina nos corpos de água, acarretando o assoreamento dos leitos dos rios. Como a perda de nutrientes está relacionada com sua quantidade no solo, a qual é influenciada pelo manejo adequado ou não, os rios podem receber grandes quantidades de nutrientes, principalmente, em regiões de solos desprotegidos. Juntamente com as partículas arrastadas pela enxurrada, durante o escoamento superficial ou em outros processos erosivos, os nutrientes presentes na superfície do solo são perdidos das áreas agrícolas e atuarão como contaminantes da água. A produção de sedimentos pela erosão hídrica dos solos tem provocado muita preocupação em relação à gestão do uso do solo e da água. O escoamento superficial acarreta problemas de assoreamento e poluição na rede hidrográfica, reduzindo a seção de vazão dos leitos dos rios e aumentando os riscos de cheias, o que compromete a perenidade dos cursos de água (SANTOS et al., 2010). Além disso, prejudica a qualidade da água, alterando a vida aquática, pois há a redução da concentração de O2 na água, caracterizando um fenômeno denominado eutrofização (CABRAL et al., 2010). A eutrofização ocasiona a proliferação de macrófitas aquáticas e algas que podem produzir substâncias tóxicas nocivas à saúde, alterando a qualidade da água (BARRETO et al., 2013). A eutrofização também acarreta aumento do seu nível de turbidez, o qual é atribuído principalmente às partículas sólidas em suspensão, que diminuem a 36 claridade e reduzem a transmissão da luz no meio. Esse fenômeno pode também ser provocado por plâncton, algas, e o aporte de sedimentos minerais e orgânicos, resultantes do processo de erosão ou adição de despejos domésticos ou industriais (QUIMIOAMBIENTAL, 2011). Considerando que a qualidade da água é de extrema importância para infinitas aplicações industriais, afetando diretamente a economia brasileira, é necessário desenvolver processos que reduzam os impactos ambientais na água e no solo. Os métodos de prevenção da erosão têm como princípio evitar o impacto das gotas da chuva com o solo, minimizando o escoamento superficial, propiciando condições para a infiltração de água no solo. Segundo Gonçalves e Moraes (2012), a semeadura direta, além de melhorar a estrutura do solo, facilita a infiltração de água no solo, por ser constituída de cavidades e canais biológicos, denominados de bioporos, que exercem a atividade biológica. Em geral, com o controle da erosão, o solo fica mais estruturado, como a estrutura do solo tem efeito pronunciado na retenção, infiltração, armazenamento de água e na permeabilidade no solo, há redução do escoamento superficial, e, consequentemente, redução da poluição e contaminação dos cursos de água, melhorando a qualidade da água. O presente estudo teve como hipótese que o tratamento utilizado no preparo do solo influencia diretamente na diminuição do teor de matéria orgânica e nutrientes pela enxurrada, alterando a qualidade da água. O objetivo deste trabalho foi a quantificação do teor de matéria orgânica, sedimentos e nutrientes transportados pela erosão hídrica e determinar a influência destes na qualidade da água em solo sob cultivo de cana-de-açúcar. 37 3.2 Material e Métodos A área de estudo localiza-se no nordeste do Estado de São Paulo, no município de Pradópolis - SP. As coordenadas geográficas são 21o19’ de latitude sul e 48º06’ de longitude oeste, com altitude média de 530 m. O clima da região, segundo a classificação de Köeppen, é do tipo mesotérmico com inverno seco (Cwa), precipitação média de 1.300 mm e chuvas concentradas no período de novembro a fevereiro. A vegetação natural era constituída por floresta tropical subcaducifólia, e relevo predominantemente suave ondulado, com declividades médias de 4%. A área experimental está sob cultivo de cana-de-açúcar há mais de 30 anos, e 15 anos de colheita mecanizada sem queima. Desse modo, a cobertura vegetal da área, na época da realização deste trabalho, foi constituída por resíduos de cana-de- açúcar, os quais foram mantidos sobre a superfície após a colheita mecânica da cultura. O solo da área foi classificado como Latossolo Vermelho eutroférrico textura muito argilosa (LVef) (EMBRAPA, 1999), cujos valores dos principais atributos químicos são apresentados na Tabela 1. Tabela 1. Atributos químicos do LVef. Profundidade MO P K Ca Mg M g kg-1 mg dm-3 mmolc dm-3 mmolc dm-3 mmolc dm-3 0,0-0,20 28,3 140,3 0,8 24,3 6,0 A quantificação das perdas de solo e água por erosão, sob condições de chuva artificial, foi realizada em três sistemas de preparo do solo para cultivo de cana-de-açúcar (Figura 1) como descrito por Marcari (2010): O preparo de solo convencional (PC), para a cultura da cana-de-açúcar, foi realizado após a destruição das soqueiras por grade aradora. Este equipamento realizou o arranque e destruição da touceira. Em seguida usou-se uma grade niveladora para que o nível do terreno fosse minimizado, posteriormente foi realizada uma operação de aração profunda (0,5 m) com arado de aivecas, revolvendo as camadas do solo e incorporando o material orgânico (palhada) ao 38 solo. Posteriormente, a grade niveladora foi novamente utilizada para corrigir o micro relevo do solo, pulverizando a sua camada superior. Preparo Convencional (PC) Preparo Reduzido (PR) Preparo Localizado (PL) Figura 1. Vista geral de parcelas para quantificação de perdas de solo, água, matéria orgânica e nutrientes por erosão hídrica, em três condições de sistemas de preparo do solo, no cultivo de cana-de-açúcar. Fotos: Martins Filho (2010). O preparo de solo reduzido (PR), para a cultura da cana-de-açúcar, foi realizado após a destruição das soqueiras pelo eliminador mecânico, que arrancou e picou a touceira da cana-de-açúcar, provocando uma pequena mobilização de solo somente na linha da cana. Já que a destruição mecânica com o uso do eliminador provocou ondulações no nível do terreno, foi necessário o uso da grade intermediária, para que o nível do terreno fosse minimizado e favorecesse a próxima operação, sem que houvesse a pulverização do solo. Em seguida foi realizada uma operação de subsolagem em área total com hastes espaçadas em 0,5 m e a 0,45 m de profundidade, trabalhando com diferencial de 45 graus em relação a linha de cana existente, para que não ocorresse uma parada do equipamento por obstrução ocasionada pelos restos vegetais. Nesta modalidade de preparo, parte dos restos culturais permaneceu na superfície do solo. O preparo de solo localizado (PL) para a cultura da cana-de-açúcar foi realizado após a destruição das soqueiras pelo eliminador mecânico. Em seguida foi usada a grade intermediária, e a operação de subsolagem ocorreu no sentido das linhas, com hastes espaçadas em 0,5 m e 0,45 m de profundidade em metade da área, ou seja, a cada 1,5 m duas hastes. A cada passagem da barra porta ferramenta com quatro hastes, duas linhas foram preparadas. Nesta modalidade de preparo, em metade da área não ocorre mobilização do solo, então não ocorre a 39 parada do equipamento por obstrução de restos vegetais que também permanecem em parte na superfície do solo e auxiliam na redução dos efeitos da erosão. O experimento foi conduzido num delineamento experimental inteiramente casualizado (DIC) com: 3 sistemas de preparo e 4 repetições, totalizando 12 parcelas. Parcelas experimentais, com 3,5 m de largura e 11 m de comprimento, com área total de 38,5 m2, foram delimitadas com chapas metálicas nas laterais e parte superior, e por calhas coletoras metálicas em seus limites inferiores. As calhas coletoras, com 3,5 m de largura, convergiam para uma saída lateral de 0,065 m de diâmetro. Amostras de enxurrada foram coletadas nestas calhas para quantificar as perdas de solo e água. Todas as parcelas foram alinhadas no sentido da declividade do terreno, a qual, em média, foi de 0,034 m m-1. O preparo do solo também foi realizado em contorno cortando o sentido do declive. As parcelas experimentais foram submetidas a chuvas simuladas com intensidade média em torno de 65 mm h-1 (I), durante 75 minutos. Utilizou-se, para realizar as referidas precipitações, um simulador de chuvas de hastes rotativas do tipo Swanson (Figura 2), com bicos Veejet 80-100, previamente calibrado e nivelado no terreno, como proposto por Swanson (1965). Trinta e seis pluviômetros, alinhados na direção do declive, na área de ação do simulador de chuvas, como descrito por Martins Filho et al. (2009), foram utilizados para determinar as intensidades das precipitações produzidas pelo simulador, nas áreas ocupadas pelas parcelas experimentais. 40 Figura 2. Simulador de chuva de hastes rotativas do tipo Swanson. Amostragens para medidas de vazões dos escoamentos superficiais e das concentrações de sedimentos foram realizadas no quinto minuto após o início da enxurrada e, a partir daí, a cada cinco minutos. As amostras foram coletadas em recipientes de vidro com capacidade de 1 L, cronometrando-se o tempo de coleta. Logo após as coletas, os recipientes foram fechados e conduzidos ao laboratório para a quantificação da concentração de sedimentos e volume de solução, e consequente determinação das taxas de perdas de solo e água. Os volumes de solução coletados foram avaliados gravimetricamente, em balança com resolução de 0,01 g. Em seguida, as amostras foram deixadas em repouso por 24 horas para a deposição de sedimentos. Após o período de repouso de 24 horas, as amostras foram levadas à estufa a 105 oC até secagem completa. Após secagem, as amostras foram pesadas, determinando-se o peso de sedimento de cada uma. A concentração de sedimentos foi obtida considerando-se o volume da solução, a densidade da água e do sedimento na solução, conforme descrito por Vanoni (1975). As perdas totais de solo foram determinadas como: 41 PS = A t)C(Q n 1i ii  (3.1) em que, PS é a perda total de solo em entressulcos (kg m-2); Q é a vazão (L s-1); C é a concentração de sedimentos (kg L-1); t é o intervalo entre as coletas (300 s); A é a área da parcela (m2), e n é o número total de amostras coletadas. Os valores de PS foram normalizados para o valor de intensidade de chuva planejado de 65 mm h-1, tal que: PSin = PSi 2 o p I I         (3.2) em que, PSin são as perdas do solo por erosão normalizadas (kg m-2); PSi são as taxas de erosão observadas (kg m-2); Ip é a intensidade de chuva planejada (mm h-1) e Io é a intensidade de chuva observada (mm h-1). Nas análises químicas do solo, o cálcio, o magnésio, o potássio e o fósforo foram extraídos pelo método da resina trocadora de íons (RAIJ et al., 1987). O carbono orgânico foi determinado seguindo metodologia da EMBRAPA (1979). O pH foi determinado potenciometricamente em solução de CaCl2 0,01 M. A água foi analisada seguindo a metodologia descrita por Catani e Paiva Neto (1949). A determinação do potássio e do sódio foi por espectrofotometria de chama, leitura direta da amostra. Cálcio e magnésio por espectrofotometria de absorção atômica. Os volumes de solução coletados foram avaliados gravimetricamente, em balança com resolução de 0,01 g e, em seguida, as amostras foram agitadas. O sobrenadante foi coletado (200 mL) em garrafa plástica e encaminhado para análise. Para as análises das perdas de nutrientes, 20 mL da suspensão da enxurrada foram pipetados para tubos de digestão e evaporados até 5 mL em blocos de digestão. 42 A solução resultante sofreu ataque com uma mistura de HNO3 e HClO4. Neste extrato, foram determinados teores de P e K total, por fotometria de chama, e Ca e Mg total, por espectrofotometria de absorção atômica. A demanda bioquímica de oxigênio (DBO5 ) foi determinada como descrito por Eaton et al. (2005). O pH e a condutividade elétrica foram medidos a partir das amostras de enxurrada “in-situ”, utilizando-se um peagâmetro e um condutivímetro, de acordo com Eaton et al. (2005). A turbidez da água da enxurrada foi avaliada com um Turbidímetro digital Polilab/AP-1000 com limite de detecção de 0,1 NTU. Com os valores obtidos para Ca, Mg e Na, quantificaram-se os valores RAS de acordo com a equação 3.3. RAS = Na / [(Ca + Mg) / 2] ½ (3.3) em que, RAS = Razão de Adsorção de Sódio; Na = Concentração de sódio em mmolc L-1; Ca = Concentração de cálcio em mmolc L-1; Mg = Concentração de magnésio em mmolc L-1. O restante das amostras iniciais foi deixado em repouso por 24 horas para a deposição dos sedimentos. Após o período de repouso de 24 horas, o material decantado foi levado à estufa a 60° C até secagem completa. Após secagem, as amostras foram pesadas, determinando-se o peso do sedimento de cada uma. A concentração de sedimentos foi obtida considerando-se o volume da solução, a densidade da água e do sedimento na solução. Cada um dos volumes de solução foi dividido pelo tempo de coleta, obtendo-se a vazão de enxurrada em cada intervalo de coleta e a taxa de descarga de enxurrada. O teor de matéria orgânica e nutrientes no sedimento erodido foram determinados como descrito por Martins Filho et al. (2009). A análise granulométrica do solo foi realizada pelo método da pipeta, utilizando uma solução de NaOH 0,1 N como dispersante químico e agitação em alta rotação (12.000 rpm). As frações granulométricas foram separadas com base na classificação proposta pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. 43 Os resultados foram submetidos à análise da variância, segundo um DIC, sendo que, para as comparações múltiplas das médias, utilizou-se o teste de Duncan, a 5%. Análises de regressão também foram conduzidas entre taxa de infiltração de água e tempo de duração, e perdas de solo e porcentagem de cobertura por resíduos. Todos os resultados das análises estatísticas foram obtidos com o programa Statistica (STATSOFT, 1994). 3.3 Resultados e discussão 3.3.1 Concentrações e perdas de nutrientes na água da enxurrada Observa-se na Tabela 2 que o aumento da presença de resíduos remanescentes na superfície do solo não reduziu as perdas de água, o que não concorda com trabalhos de Lichner et al. (2011) e Silva et al. (2012). Estes autores avaliaram o efeito dos resíduos culturais mantidos sobre a superfície do solo no controle da erosão hídrica do solo. Já no contexto do presente trabalho, considerou- se também o efeito dos sistemas de preparo do solo. É notório o aumento das perdas de água com os sistemas PR e PL. Tal fato pode ser explicado pela intensa mecanização dos canaviais, com consequente aumento no tráfego de rodados sobre o solo, o que reduz a infiltração de água e aumenta o escoamento superficial. Este aspecto fica bem evidente nos sistemas PR e PL, mesmo com significativa diferença de percentagem de cobertura por palha entre eles e destes em relação ao PC, no qual houve menor perda de água. A menor mobilização para preparo do solo nos sistemas PR e PL, mantém provavelmente áreas com maior resistência mecânica e com menor porosidade em decorrência de tráfego intenso durante o cultivo de cana-de-açúcar. 44 Tabela 2. Cobertura por resíduos de palha de cana-de-açúcar, perdas de água (Págua) e concentrações de nutrientes na enxurrada em função do sistema de preparo do solo. Tratamento Cob Págua P K Ca Mg Na % L ha-1 mg L-1 mg L-1 mg L-1 mg L-1 mg L-1 PC 5,4 c 22.906 b 0,02 c 5,1 a 3,7 a 2,2 a 2,1 a PR 22,8 b 162.100 a 0,03 b 5,2 a 3,2 a 1,8 a 0,6 a PL 44,8 a 161.900 a 0,05 a 5,5 a 3,2 a 1,8 a 1,0 a PC – preparo convencional; PR – preparo reduzido; PL – preparo localizado; Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo Teste de Duncan a 5%. Em todos os sistemas de preparo as concentrações de P na água da enxurrada foram baixas (Tabela 2). Os resultados obtidos apresentaram a mesma ordem de grandeza dos apresentados por Bertol et al. (2004) em Nitossolo Háplico em sistemas de manejo (solo sem cultivo, preparo convencional, semeadura direta) no cultivo de feijão e milho. Além de serem concordantes também com valores de Farias (2013) obtidos em Latossolo Vermelho Amarelo distrófico, com resíduos de cana-de-açúcar em superfície. Observou-se que a maior concentração de P ocorreu com PL. Isto pode ser explicado pelo manejo com a manutenção da palha após a colheita, a qual em parte mineralizou disponibilizando P para o transporte pela enxurrada e, também, pela aplicação de adubo fosfatado na superfície do solo. Tais resultados também são corroborados pelos de Bertol et al. (2004) e Farias (2013). As concentrações de P na água da enxurrada excedeu, segundo critérios da USEPA (2011), o nível crítico de P total de 0,025 mg L-1 nos sistemas PR e PL, para efeitos de eutrofização. É conhecido, segundo Klein e Agne (2012), que as transferências de P pelo escoamento superficial ocorrem devido a vários fatores, dentre eles o principal é a água que pode transportar materiais orgânicos, inorgânicos e partículas em suspensão. As concentrações de K, Ca e Mg na água da enxurrada não apresentaram diferenças significativas entre os níveis de cobertura do solo por resíduos de cana-de-açúcar. Esses resultados são concordantes com os obtidos por Farias (2013). Quanto ao potássio, esses resultados divergem de Bertol et al. (2004), que, ao estudarem concentração e a perda de K na água de enxurrada, obtiveram valores 45 decrescentes à medida