UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS CÂMPUS DE JABOTICABAL RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR EM PRÁTICA VETERINÁRIA REALIZADO NA FAZENDA PERDIZES (SLC AGRÍCOLA), PORTO DOS GAÚCHOS - MT Caso de interesse: Suspeita de síndrome cólica em equino de lida Acadêmica: Giovanna Alfé Orientadora: Profª Drª Daniela Gomes da Silva Supervisor: Marcos Marinho Relatório do Estágio Curricular em Prática Veterinária apresentado à Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Câmpus de Jaboticabal, Unesp, para graduação em Medicina Veterinária JABOTICABAL – S.P. 2º SEMESTRE DE 2023 FICHA CATALOGRÁFICA CERTIFICADO DE APROVAÇÃO AGRADECIMENTOS Agradeço em primeiro lugar, a Deus pela minha vida e pelas pessoas maravilhosas que Ele colocou em meu caminho. Em especial, aos meus pais, Simone e Jorge por todo o apoio, suporte e acolhimento que me proporcionaram até hoje. À minha irmã Giulia, que sempre esteve ao meu lado e participou ativamente, ainda que distante, de todos esses anos de graduação. Às minhas tias, Sandra e Sueli, por todo o incentivo e por sempre acreditarem em mim. Sem meus familiares, nada disso teria sido possível. Agradeço às amizades que pude cultivar durante o curso, em especial cito Suzana, Cássia, Camila, Fabiana, Luiz Eduardo, Lucas e Diogo. Obrigada por sempre me ajudarem, apoiarem e dividirem comigo todo esse tempo. Tenho certeza de que ainda que distantes, nossa amizade persistirá. Agradeço à Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Unesp, câmpus de Jaboticabal, pelas oportunidades oferecidas durante a graduação, em especial à Universidade Aberta à Terceira Idade (Unati), à Semana de Ciência e Tecnologia Agropecuária (SECITAP) e ao Cursinho Ativo. Reconheço a importância dessas experiências em minha vida pessoal, profissional e acadêmica, me fornecendo uma nova visão de mundo. Agradeço à minha orientadora Profª Drª Daniela Gomes da Silva por todo o suporte, paciência e conhecimento repassado durante a graduação e por toda a execução desse trabalho. Agradeço à SLC Agrícola pela oportunidade de aperfeiçoamento profissional e por todo o acolhimento e suporte que me foram oferecidos. Nesse mesmo contexto, agradeço também aos funcionários Valdemir, José Maria e ao meu gestor Ervin por todo o conhecimento que me transmitiram e pela paciência em me ensinar. Ainda, agradeço aos meus companheiros de estágio, que tornaram todo o processo mais leve e divertido, em especial Viviane, Rafaela, João Pedro e Renan. i SUMÁRIO Página LISTA DE TABELAS...................................................................................... ii LISTA DE FIGURAS....................................................................................... iii RESUMO......................................................................................................... iv I – Relatório.................................................................................................... 1 1. Introdução................................................................................................... 1 2. Descrição do local de estágio..................................................................... 1 2.1 Rebanho bovino.................................................................................... 3 2.2 Infraestrutura – Setor da pecuária......................................................... 4 2.3 Equinos de trabalho............................................................................... 5 3. Descrição das atividades............................................................................ 6 4. Discussão das atividades desenvolvidas.................................................... 8 4.1 Manejo geral.......................................................................................... 8 4.2 Manejo sanitário..................................................................................... 11 4.3 Manejo nutricional.................................................................................. 11 4.4 Manejo reprodutivo................................................................................ 12 4.5 Gestão rural........................................................................................... 13 5. Considerações finais................................................................................... 14 II – Monografia............................................................................................... 15 1. Introdução................................................................................................... 15 2. Fatores pré-disponentes e diagnóstico....................................................... 15 3. Tratamento.................................................................................................. 16 4. Relato de caso............................................................................................ 16 5. Discussão.................................................................................................... 18 6. Conclusão................................................................................................... 19 7. Referências................................................................................................. 20 ii LISTA DE TABELAS Página Tabela 1. Atividades acompanhadas e/ou desenvolvidas, de acordo com a área de conhecimento, e carga horária dedicada a cada atividade, na Fazenda Perdizes (SLC Agrícola), Porto dos Gaúchos – MT, no período de 07 de agosto a 25 de novembro de 2023....................................................... 6 Tabela 2. Casuística, em bovinos de corte, registrada durante o período de estágio curricular em prática veterinária, na Fazenda Perdizes (SLC Agrícola), Porto dos Gaúchos – MT, no período de 07 de agosto a 25 de novembro de 2023......................................................................................... 8 iii LISTA DE FIGURAS Página Figura 1. Rebanho bovino da Fazenda Perdizes (SLC Agrícola), Porto dos Gaúchos - MT................................................................................................. 3 Figura 2. Sistema de terminação intensiva a pasto (TIP).............................. 4 Figura 3. Curral utilizado para as atividades diárias ..................................... 4 Figura 4. Áreas de alimentação com sombreamento artificial....................... 5 Figura 5. Atividades acompanhadas e/ou desenvolvidas, de acordo com a área de conhecimento, e carga horária dedicada a cada atividade, na Fazenda Perdizes (SLC Agrícola), Porto dos Gaúchos – MT, no período de 07 de agosto a 25 de novembro de 2023, em porcentagem.......................... 7 Figura 6. Equino utilizado no manejo dos bovinos de corte................................................................................................................ 17 iv RESUMO O presente relatório busca descrever e discutir as principais atividades acompanhadas ou desenvolvidas durante o estágio curricular em prática veterinária, realizado no período de 07 de agosto a 25 de novembro de 2023, na Fazenda Perdizes, localizada no município de Porto dos Gaúchos, estado de Mato Grosso, pertencente ao grupo SLC Agrícola, sob a orientação acadêmica da Profª Drª Daniela Gomes da Silva e supervisão do zootecnista Marcos Marinho. Nesse período, foram desenvolvidas atividades práticas na área de bovinocultura de corte, relacionadas ao manejo do rebanho em geral, especialmente voltadas ao manejo sanitário e nutricional, aliadas a estratégias de gestão rural. O caso de interesse tratava-se de uma suspeita de síndrome cólica em um equino utilizado na lida diária para manejo dos bovinos, o qual veio a óbito durante o período da realização do estágio. Palavras-chave: bovinos, gestão rural, manejo, nutrição, pecuária de corte, síndrome cólica, equinos 1 I. RELATÓRIO 1. Introdução Este relatório refere-se às atividades desenvolvidas pela discente Giovanna Alfé, graduanda do 10º período do curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV) da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), câmpus de Jaboticabal, sob orientação da Profª Drª Daniela Gomes da Silva. O estágio em prática veterinária foi realizado na área de gestão e produção de bovinos de corte, na Fazenda Perdizes, localizada no município de Porto dos Gaúchos, estado de Mato Grosso, pertencente ao grupo SLC Agrícola. O estágio foi realizado entre o período de 07 de agosto a 25 de novembro de 2023, perfazendo um total de 630 horas. As atividades realizadas incluíram acompanhamento e auxílio no manejo sanitário dos animais, com foco em higiene no combate a doenças e parasitas que podem comprometer a saúde do rebanho, auxílio e acompanhamento do planejamento e administração das atividades de produção bovina, e auxílio e acompanhamento do manejo nutricional dos animais, com foco na formulação, fornecimento e balanceamento da dieta. 2. Descrição do local de estágio O estágio foi realizado na Fazenda Perdizes, localizada na Rodovia MT 220, Km 110, no município de Porto dos Gaúchos, estado de Mato Grosso. O local é uma das 22 unidades do grupo SLC Agrícola, que tem como foco a produção de algodão, milho e soja, além da criação de gado no modelo integração lavoura-pecuária (ILP). Além disso, também comercializa sementes de soja e algodão sob a marca SLC Sementes. A SLC Agrícola é a maior empresa agrícola de capital aberto no Brasil, fundada em 1977, inicialmente como produtora de tratores. É uma das primeiras empresas do agronegócio a ter ações negociadas na Bolsa de Valores (SLCE3) e no ano de 2021 formalizou sua política de desmatamento zero. A Fazenda Perdizes foi adquirida no ano de 2012 e, antes da aquisição, operava na produção de grãos e com atividades de pecuária. Após o grupo assumir 2 a unidade, foram realizadas várias melhorias de infraestrutura, com foco no plantio de algodão, soja e milho safrinha. A pecuária de corte foi introduzida na unidade há aproximadamente três anos e faz parte do projeto de integração-lavoura. A propriedade possui aproximadamente 29 mil ha de área própria, sendo 27 mil ha destinados ao plantio, 110 ha destinados à pesquisa e 308 ha destinados à produção de gado de corte. Uma vez que a fazenda tinha como principal atividade a cultura de grãos, as gramíneas forrageiras eram utilizadas para melhorar a cobertura do solo em sistema de plantio direto, além de, na entressafra, servirem como alimentação para os bovinos. As fazendas que adotam a rotação lavoura-pasto como estratégia de produção agrícola podem se beneficiar da melhor estabilidade de produção de forragem para alimentar o rebanho durante o ano todo. No período das chuvas, as pastagens são mais produtivas, em virtude da melhoria da fertilidade do solo pelas lavouras. No período da seca, além da palhada e dos subprodutos de colheita, os pastos recém-estabelecidos permanecem verdes e com qualidade e quantidade para conferir ganho de peso ao invés de perda de peso dos animais, comum neste período do ano, na maioria das fazendas da região do Cerrado. A unidade contava ainda com um escritório, no qual eram realizadas as atividades organizacionais e administrativas da propriedade, sendo essas relacionadas a áreas específicas como a pecuária ou a produção agrícola, além da gestão dos colaboradores que era executada pela equipe de recursos humanos. A sede social era composta pelo refeitório, onde eram oferecidas três refeições ao dia a todos os colaboradores, pelos alojamentos para moradia de todos os contratados e pela área de lazer com quadra de futebol, vôlei e um local para compra e consumo de alimentos e bebidas. Havia também uma sala de inclusão digital, na qual eram disponibilizados computadores para uso comum. No geral, a propriedade contava com cerca de 300 colaboradores, incluindo aqueles com contrato fixo, os safristas, que prestavam serviços por períodos curtos e determinados, e prestadores de serviço de empresas terceirizadas, como motoristas, eletrecistas e cozinheiros. A área de atuação dos colaboradores era dividida em seis setores: o setor da manutenção era responsável pela assistência a todas as máquinas agrícolas utilizadas, sendo uma das áreas mais importantes da propriedade; o setor do armazém era responsável pela estocagem nos silos, além 3 da distribuição dos insumos a outros setores; a área de produção agrícola estava relacionada aos afazeres na lavoura, incluindo atividades de plantio, aplicação de defensivos agrícolas e colheita; o setor da pesquisa estava relacionado a atividades de testes de produtos, máquinas e viabilidade do solo; o setor da pecuária atuava na produção de bovinos de corte no modelo integração lavoura-pecuária; o setor da algodoeira era responsável pelo beneficiamento do algodão produzido na unidade e em outras localidades. Cada área contava com um estagiário de nível superior, totalizando seis estagiários na unidade. 2.1 Rebanho bovino O rebanho bovino da Fazenda Perdizes era constituído por aproximadamente 2.700 animais (Figura 1), contemplando machos de até 24 meses de idade, 208 fêmeas e 85 bezerros, sendo o sistema de produção oficial apenas de engorda. Assim, o número de cabeças foi bastante variável ao longo do período, sendo o fluxo de entrada e saída dos animais dependente das vendas e da disponibilidade dos bovinos no mercado para compra. O padrão racial da propriedade era constituído predominantemente pela raça zebuína Nelore, mas também era possível encontrar animais de raças europeias como Aberdeen Angus. Em função da composição racial do rebanho, notava-se diferenças fenotípicas de temperamento entre os animais, fator que influenciava a facilidade ou dificuldade de manejo. Embora a criação de gado fosse a principal atividade pecuária, havia também a criação de ovinos em menor escala e sem fins comerciais. Figura 1. Rebanho bovino da Fazenda Perdizes (SLC Agrícola), Porto dos Gaúchos - MT. 4 2.2 Infraestrutura – Setor da pecuária A unidade contava com 17 piquetes utilizados no sistema de terminação intensiva a pasto (TIP) (Figura 2) e um curral bem conservado (Figura 3), com tronco de contenção e balança integrada. O curral era o principal local das atividades e onde também eram armazenados produtos de uso frequente, como medicamentos e antissépticos, e itens utilizados para contenção e identificação dos animais, como imobilizadores nasais e brincos. Figura 2. Sistema de terminação intensiva a pasto (TIP). Figura 3. Curral utilizado para as atividades diárias. 5 A propriedade também possuía um trator e um vagão misturador, com capacidade para 11 toneladas e com balança acoplada, para fazer a pesagem de ingredientes, mistura e distribuição das dietas em cada piquete, de acordo com a densidade de animais. Além disso, a propriedade contava também com um triturador de alta vasão utilizado na moagem do milho, o qual era transportado até o vagão com o auxílio de um uma pá-carregadeira. Ainda, a propriedade adotava várias práticas de bem-estar animal, como o curral com cantos arredondados e áreas de sombreamento natural e artificial, bastante procurada pelos animais, especialmente nas horas mais quentes do dia, amenizando significativamente o estresse térmico causado pelas altas temperaturas, que em alguns dias chegava a 43ºC. As áreas de alimentação dos piquetes maiores também possuíam sombra artificial com telhamento (Figura 4), que proporcionava proteção solar e contribuia para dissipação térmica dos animais. Figura 4. Áreas de alimentação com sombreamento artificial. 2.3 Equinos de trabalho No início das atividades, a propriedade contava com uma tropa composta por sete equinos que eram utilizados para as atividades de manejo do gado, como rodeio do rebanho, troca de piquetes e deslocamento geral na área. A idade dos animais variava de 10 a 15 anos. A dieta fornecida aos equinos era composta por ração, pasto com grama batatais (Paspalum notatum) e capim gordura (Melinis minutiflora), e sal mineral à vontade. 6 3. Descrição das atividades De forma geral, as atividades desenvolvidas foram relacionadas a práticas de manejo na bovinocultura de corte e gestão rural, como acompanhamento e auxílio no manejo sanitário dos animais, com foco em higiene no combate a doenças e controle de parasitas que podem comprometer a saúde do rebanho, auxílio e acompanhamento do planejamento e administração das atividades de produção bovina e do manejo nutricional dos animais, com foco na formulação, fornecimento e balanceamento da dieta (Tabela 1 e Figura 5). Tabela 1. Atividades acompanhadas e/ou desenvolvidas, de acordo com a área de conhecimento, e carga horária dedicada a cada atividade, na Fazenda Perdizes (SLC Agrícola), Porto dos Gaúchos – MT, no período de 07 de agosto a 25 de novembro de 2023. Atividades Número de horas Manejo Geral 170 Manejo Sanitário 56 Manejo Nutricional 224 Manejo Reprodutivo 20 Gestão Rural 160 Total 630 7 Figura 5. Atividades acompanhadas e/ou desenvolvidas, de acordo com a área de conhecimento, e carga horária dedicada a cada atividade, na Fazenda Perdizes (SLC Agrícola), Porto dos Gaúchos – MT, no período de 07 de agosto a 25 de novembro de 2023, em porcentagem. Durante o período de estágio foram registrados 39 casos de ferimentos na região da orelha com infecção secundária devido a miíases, 26 casos de lesões nos chifres, 25 casos de ferimentos nos membros anteriores e posteriores, seis óbitos ocorridos no momento de embarque até o frigorífico, quatro óbitos de origem desconhecida, quatro casos de laminite e dois partos distócicos (Tabela 2). Um provável caso de síndrome cólica foi observado em um equino de trabalho da propriedade e será discutido posteriormente no relato do caso de interesse. 8 Tabela 2. Casuística, em bovinos de corte, registrada durante o período de estágio curricular em prática veterinária, na Fazenda Perdizes (SLC Agrícola), Porto dos Gaúchos – MT, no período de 07 de agosto a 25 de novembro de 2023. Casos clínicos Número de casos Lesões de orelha 39 Lesões nos chifres 26 Lesões de membros posteriores 16 Lesões de membros anteriores 09 Óbitos durante o embarque ao frigorífico 06 Óbitos de origem desconhecida 04 Laminite 04 Partos distócicos 02 Total 106 4. Discussão das atividades desenvolvidas Como a propriedade não contava com a presença diária de um médico veterinário, a maioria dos procedimentos e intervenções foram realizados pelos vaqueiros responsáveis pelo manejo dos animais. Esse fator dificultava a realização de diagnósticos precisos e tratamentos coerentes, e refletia negativamente na saúde geral do rebanho. Embora o conhecimento empírico dos colaboradores fosse significativo, nem sempre os procedimentos foram realizados da maneira correta, fator que colocava em risco o animal e também o próprio trabalhador. 4.1 Manejo geral Todos os dias, a equipe de manejo, composta pelos vaqueiros e pela estagiária, realizava a observação do rebanho em cada piquete, em busca de animais machucados ou doentes, óbitos, acidentes com cercas ou mistura de lotes. Após a identificação da necessidade de tratamento, o animal era laçado, amarrado e levado em uma pá carregadeira até o piquete de descanso, onde ficavam os animais acometidos por algum problema. Ainda com o animal laçado e amarrado, eram 9 realizados os primeiros cuidados, como a limpeza de feridas e a aplicação de medicamentos anti-inflamatórios e antibióticos. Durante a inspeção do rebanho na rotina diária, era frequente a ocorrência de lesões na região da orelha, especialmente no local de colocação do brinco de identificação. Embora a orientação fosse para que a brincagem fosse realizada na área central da orelha entre as duas nervuras, nem sempre isso era feito. Para o manejo diário, também era utilizado um equino por período, manhã ou tarde, a fim de evitar esforço excessivo. Na troca de período, o animal era substituído por outro que estava no piquete e que não tinha ido à lida no dia anterior. Antes de se iniciar o arreamento do equino, era feita uma inspeção visual de sua condição geral, em busca de alguma lesão, especialmente de pisaduras de cernelha (escaras de compressão), que ocorriam com certa frequência. O casco também era inspecionado com atenção, em busca de lesões podais que pudessem comprometer a saúde e o trabalho do animal. Verificava-se também as condições do arreio e da manta no encilhamento do cavalo. Ao fim da jornada, o equino era banhado e devolvido ao piquete. Na véspera do embarque ao frigorífico, os lotes mais pesados eram direcionados até o piquete de apoio, localizado próximo ao curral, a fim de facilitar o manejo no dia seguinte. A equipe também fazia a inspeção das condições do tronco de contenção, da balança e das porteiras do curral, que ocasionalmente precisavam de manutenção. No dia do embarque, os animais eram levados aos piquetes do curral e passados no tronco para a pesagem, onde era feita a separação dos refugos e dos bovinos que seriam enviados ao abate. O peso mínimo para saída dos animais era de 570 kg. Utilizavam-se bandeiras para a condução do gado no embarque, entretanto, o bastão elétrico também era utilizado, a depender da relutância e do temperamento do animal. Na finalização do embarque, anotava-se o tempo de jejum e o horário da pesagem e, antes da saída, a carga era conferida, verificando se a quantidade embarcada estava correta e se havia algum animal incapacitado de seguir viagem. O embarque dos animais para o frigorífico era realizado preferencialmente no período da manhã, a fim de se minimizar os efeitos do estresse térmico. Todavia, ainda assim foram registrados seis óbitos durante a condução dos lotes até o curral e embarque no caminhão de transporte. Nesse trajeto, os animais eram levados do 10 piquete em que estavam até o curral para serem embarcados. Porém, além de muitas vezes tratar-se de percursos longos, o clima quente da região e o manejo dos funcionários eram fatores que tornavam o caminho significativamente estressante aos bovinos. Durante os desembarques dos animais recém adquiridos de outras propriedades e que eram destinados ao piquetes para engorda, os bovinos deixavam o caminhão e seguiam em direção ao piquete de apoio. Eram banhados, por meio de pulverização, a fim de se evitar o estresse térmico, e ali permaneciam até o dia seguinte, com disponibilidade de água e pasto. No dia subsequente era feito o primeiro manejo na propriedade, que consistia na pesagem, colocação de brincos, cadastro dos animais, aplicação de vacinas e antiparasitários, e tratamento de possíveis lesões em decorrência do transporte e do manejo de embarque a que eles eram submetidos. Em seguida, os animais eram tocados e conduzidos até o piquete correspondente. Os piquetes eram organizados de acordo com os lotes de peso dos animais, a fim de facilitar o manejo. De forma geral, era comum a observação de lesões e traumas provocados por brigas, devido a mistura de animais de difentes origens, e lesões podais e nos membros anteriores e posteriores, tanto nos animais recém chegados quanto nos animais que já estavam na propriedade, possivelmente relacionadas ao temperamento das raças e à manutenção de algumas práticas de manejo tradicional. Nesses casos, o tratamento adotado consistia na aplicação de oxitetraciclina na dose de 20 mg/Kg, por via intramuscular (IM). Como terapia anti-inflamatória e analgésica, utilizava-se flunixin meglumine, na dose de 1,1 mg/Kg, também por via IM. Durante o período de estágio, 42 animais receberam esse tratamento. Pôde-se perceber que os animais que foram pouco manejados ao longo do período em que permaneceram na fazenda apresentavam temperamento mais agressivo e maior resistência ao processo de condução até o curral, tronco de conteção e caminhão de transporte. Da mesma forma, apresentaram maior ocorrência de ferimentos nas regiões de cabeça e membros anteriores e posteriores, em função da agitação e resistência durante a passagem pelo tronco de contenção. Aqueles que apresentavam total relutância eram laçados e conduzidos manualmente ao veículo de transporte. 11 4.2 Manejo sanitário Ao chegarem à propriedade, todos os bovinos eram vacinados, vermifugados e identificados. As vacinas aplicadas forneciam proteção contra o carbúnculo sintomático, gangrena gasosa, enterotoxemia, edema maligno, tétano e botulismo (Exell 10®), além da raiva (Raivet®) e brucelose (somente fêmeas). No estado do Mato Grosso a vacina contra a febre aftosa não é mais obrigatória, portanto, ela não foi aplicada nos animais. Para o controle de endo e ectoparasitas, utilizava-se produtos injetáveis à base de moxidectina e produtos à base de piretróides e organofosforados, aplicados via pour on. De forma geral, era comum a observação da ocorrência de lesões podais e nos membros anteriores e posteriores dos animais recém chegados à propriedade, possivelmente em função do transporte e do manejo de embarque a que eles eram submetidos. 4.3 Manejo nutricional A dieta de alto grão, oferecida aos bovinos nos cochos, era composta por milho, caroço de algodão, briquete e resíduos de soja e milho. Além dos ingredientes energéticos, também era fornecido, juntamente à ração, o núcleo (Salus Nutrição Animal® e Tecnobeef®), cuja finalidade era o atendimento das exigências nutricionais dos animais, a mineralização e o tamponamento do ambiente ruminal. Na entrada dos animais no confinamento com alto grão, adotava-se um período de adaptação dos animais à nova dieta. A água disponibilizada para os animais era proveniente de poços artesianos e fornecida em bebedouros de concreto. De maneira geral, os animais recebiam alimentação dividida em quatro fornecimentos diários, sendo dois no período da manhã e dois no período da tarde. Antes do fornecimento do primeiro trato realizava-se a leitura visual dos cochos, na qual era possível observar a quantidade e as características das sobras. Por meio desses resultados, era possível realizar ajustes no fornecimento da dieta. Entretanto, haja vista que o fornecimento do trato era condicionado às situações climáticas e operacionais da propriedade, nem sempre era possível a realização dos quatro tratos diários. 12 Devido à sua composição e ao seu alto poder higroscópico, o núcleo era rapidamente perecível sob condições de chuva ou umidade elevada. Dessa forma, em dias chuvosos, poucas horas após o fornecimento, o alimento já se encontrava com odor ácido e era rejeitado pelos animais. Além disso, a umidade elevada facilitava a deterioração das matérias-primas, tornando o alimento com uma menor palatabilidade. O calor excessivo também afetava negativamente o consumo dos animais. 4.4 Manejo reprodutivo Embora a propriedade trabalhasse apenas com o sistema de engorda, o rebanho era composto por cerca de 208 fêmeas, entre elas 35 novilhas, 126 vacas e 47 bezerras. Em função da alta circulação de pessoas nos piquetes, eventualmente, os colchetes e porteiras acabavam permanecendo abertos e ocorria a mistura de lotes de machos e fêmeas. Ao início do estágio, cerca de 28 fêmeas estavam prenhes. Para a confirmação da gestação, utilizavam-se apenas métodos observativos a procura de sinais como edema vulvar, relaxamento dos ligamentos pélvicos com afundamento da garupa, caminhar diferente, urgência miccional e aumento do volume mamário, sendo todas essas alterações observadas apenas próximas ao parto. Na maioria das vezes, o parto ocorria de forma natural e sem intercorrências. Entretanto, foi observada a ocorrência de dois partos distócicos, no qual as vacas já estavam há mais de seis horas fazendo esforços para expulsão dos fetos sem sucesso. Em ambos os casos, as fêmeas apresentram sinais de desconforto e de elevação da base da cauda. Como medida de intervenção, foi necessário fazer a retirada manual dos bezerros, amarrando-os em uma corda e puxando-os pelos cascos. Nos dois casos, a estática fetal estava correta, porém os fetos eram significativamente grandes, oriundos do cruzamento acidental entre fêmea da raça Aberdeen Angus e macho da raça Nelore. 13 4.5 Gestão rural A organização, execução e controle das atividades de pecuária eram realizadas por uma equipe composta por um coordenador geral, um zootecnista, vaqueiros, auxiliares de serviços gerais e operadores agrícolas, subdividindo as atividades em setores, sendo a equipe responsável pela manutenção das cercas e colchetes, a equipe responsável pelo manejo geral dos animais e a equipe responsável pelo manejo nutricional dos animais. Para o controle do rebanho e das atividades eram utilizados alguns softwares de gestão agropecuária, como Multbovinos® e Texas®, nos quais podiam-se controlar fatores desde a quantidade de ração que estava sendo produzida até informações individuais dos animais como óbitos e nascimentos. A propriedade também utilizava o SISBOV, sistema oficial de identificação individual de bovinos e búfalos, possibilitando o rastreamento do animal desde o nascimento até seu abate. Além do brinco SISBOV, era utilizado um brinco colorido, de acordo com o lote a que o animal pertencia, e um brinco eletrônico para identificação interna nos registros da propriedade. Durante o período de estágio foi realizada uma auditoria de estoque do rebanho, com o objetivo de realizar a contagem e pesagem dos animais da propriedade. Nesse processo foram encontradas algumas falhas, como a inexistência de alguns animais no rebanho, mistura de lotes e óbitos que não foram contabilizados no sistema. Os animais também foram reagrupados em lotes mais homogêneos, de acordo com os pesos, a fim de se ter um melhor controle do ganho médio diário (GMD), assim como da quantidade de ração ingerida, além de facilitar futuros embarques para o frigorífico. Os principais problemas observados durante o estágio foram a falta de mão- de-obra qualificada para a execução dos serviços na propriedade, haja vista que a maioria dos colaboradores do setor possuíam contratos temporários e pouca experiência na área, e a falta de um programa de manutenção preventiva do maquinário agrícola (tratores e vagões), que resultava em problemas mecânicos frequentes, prejudicando o fornecimento da alimentação aos animais. 14 5. Considerações finais Em muitos casos, as propriedades de pecuária de corte não possuem a presença diária de um médico veterinário, fator que pode levar a perdas econômicas importantes em função da demora no atendimento e da realização incorreta de procedimentos, diagnósticos e tratamentos. De forma geral, os procedimentos ambulatoriais que foram realizados a campo, representaram um grande desafio na propriedade, em vista das condições ambientais, muito diferentes do ambiente hospitalar controlado, exigindo, portanto, adaptabilidade do profissional responsável e de toda a equipe envolvida. Pôde-se perceber a importância de um médico veterinário na propriedade, cuidando não somente do âmbito clínico e cirúrgico, mas também capacitando os colaboradores, estabelecendo e corrigindo as práticas de manejo e bem-estar animal e organizando as atividades na gestão rural. Nesse sentido, a vivência do estágio curricular na Fazenda Perdizes possibilitou o aprendizado em várias áreas de conhecimento, principalmente relacionadas ao manejo dos animais e ao funcionamento geral de uma propriedade. Além disso, a realização do estágio fora do estado de São Paulo possibilitou o contato com outras culturas e a convivência com pessoas de diferentes regiões e também foi um fator que oportunizou um significativo crescimento pessoal. Por fim, foram pontuadas algumas mudanças ou melhorias na propriedade, como a presença mais frequente de um médico veterinário nas atividades diárias, o manejo mais assíduo de todo o rebanho, correções no manejo alimentar dos equinos de lida, e o oferecimento de treinamentos aos funcionários que envolvam questões básicas de manejo e tratamento de feridas. 15 II. MONOGRAFIA SÍNDROME CÓLICA EQUINA 1. Introdução Por possuir peculiaridades anatômicas em seu aparelho digestório, a espécie equina (Equus caballus) apresenta predisposição a alterações morfofisiológicas graves, responsáveis por sinais de dores abdominais intensas, conhecidas como cólica ou abdômen agudo (MENDES; PEIRÓ, 2020). As dores que aparecem, de maneira geral, ocorrem devido a um aumento de pressão na luz intestinal, de alteração de posicionamento das alças (que podem levar a um aumento de pressão secundária ou trações), contrações espásticas ou de alterações inflamatórias do tubo digestivo. Essas situações anormais, podem do ponto de vista patogênico, ser causadas por uma inibição da passagem intestinal (obstruções) ou fermentações indesejadas (gases, ácido ou toxinas) (FAGLIARI; SILVA; 2002). Uma vez que o diagnóstico da enfermidade é bem complexo, é necessário fazer uma boa anamnese, para que ocorra uma conduta rápida e adequada da enfermidade, para isso é necessário saber as alterações morfofisiológicas que ocorrem no sistema digestório dos equinos (FEITOSA, 2020). Assim, esse trabalho tem como objetivo relatar um caso de suspeita de cólica equina em um equino de trabalho da Fazenda Perdizes (SLC Agrícola), Porto dos Gaúchos - MT. 2. Fatores pré-disponentes e diagnóstico Sabe-se que o equino é um dos animais mais sensíveis à alteração na rotina ambiental ou alimentar. Situações nas quais existe a privação de água, estresse associado ao transporte, alterações de dieta, alimentação de má qualidade, como silagem deteriorada e capim elefante picado além do ponto de corte ideal, ingestão de corpos estranhos, aerofagia, sablose, excesso de esforço, enterólitos, vermes e infecções, dentre outros, podem levar à ocorrência de cólica (RAINERI; STIVARI, 2015; GARBER; HASTIE; MURRAY, 2020). 16 O exame clínico geral do equino é de suma importância para auxiliar no diagnóstico e na decisão do tratamento conservativo ou cirúrgico. A hipomotilidade ou ausência de motilidade associado a outros achados no exame físico poderá ser sugestiva de um quadro de torção e/ou encarceramento intestinal (AUER; STICK, 2012). A palpação transretal é, na maioria das vezes, decisiva para o diagnóstico da síndrome cólica, portanto, no encarceramento de intestino delgado e na torção de cólon maior, devido à sua distenção, é possível realizar este tipo de diagnóstico (MARSHALL; BLIKSLAGER, 2012). 3. Tratamento O tratamento da cólica equina consiste no emprego de um conjunto de meios químicos, físicos e biológicos com finalidades de curar, atenuar ou abreviar a doença (SILVA, 2009). Na maioria dos casos, a fluidoterapia é a primeira medida terapêutica a ser adotada para o tratamento do animal (THOMASSIAN, 2005). A sondagem nasogástrica é um meio importante de diagnóstico e também de tratamento, principalmente nos casos de encarceramento de intestino delgado com dilatação gástrica devido ao refluxo enterogástrico, prevenindo a ruptura do órgão (AUER; STICK, 2012). Segundo Pedrosa (2008), a analgesia é muito importante pois alivia o desconforto do paciente, minimiza o efeito inibitório da dor sobre a motilidade gastrointestinal, possibilita a execução de um exame físico mais cuidadoso, e reduz a probabilidade do animal se ferir. No entanto, a sua administração tem que ser cautelosa, pois pode mascarar os sinais clínicos de progressão da lesão. 4. Relato de caso No dia 25 de outubro de 2023, um equino pertencente à tropa da Fazenda Perdizes começou a apresentar sinais aparentes de cólica. Tratava-se de um equino, macho, não castrado, da raça Árabe, de aproximadamente 12 anos de 17 idade, 450 kg de peso, e que era utilizado na lida da propriedade para as atividades de manejo do gado de corte (Figura 6). Figura 6. Equino utilizado no manejo dos bovinos de corte. O trabalho de lida deste equino iniciou-se às 7:00 horas da manhã e se encerrou por volta das 9:30 horas, pois era dia de embarque dos bovinos para o transporte até o frigorífico. Assim que o animal foi colocado em repouso no curral, ele começou a apresentar sinais de inquietação, seguido por movimentos de rolamento no chão e alterações na postura, com os membros estendidos. O coordenador, que estava presente no local, ligou para o funcionário que havia feito a ronda no curral pouco antes da jornada começar, e, como ele não estava habituado com o manejo dos animais, ele confirmou que viu os cochos vazios e os encheu de ração (aproximadamente três baldes). Porém, só havia dois cavalos no piquete. Como não havia médico veterinário presente no local naquele momento, a inspeção física foi realizada pelos vaqueiros e pela estagiária, na qual notou-se que o equino apresentava apatia, mucosas hiperêmicas, movimentos intestinais ausentes e frequência cardíaca de 52 bpm. Assim, com base na anamnese e nos sinais clínicos, a suspeita clínica foi a ocorrência de um quadro de síndrome cólica equina. 18 Foi feita então uma ligação para o hospital veterinário mais próximo, que ficava cerca de 130 quilômetros da propriedade, mas, como o atendimento era realizado somente mediante a agendamento prévio, o hospital veterinário só poderia receber o animal no final da tarde. O coordenador optou por não levar o equino até o local alegando que o custo com o transporte e com o tratamento ultrapassaria o valor de compra do animal. Assim, foi solicitado apenas o atendimento de um médico veterinário autônomo, porém, como ele estava muito distante da propriedade, as orientações foram passadas por telefone. Com muita relutância os vaqueiros iniciaram a reposição hidroeletrolítica com solução poli-iônica isotônica de Ringer lactato que foi indicada pelo veterinário, na velocidade de 10 mL/kg/h, pois, de acordo com os eles, a quantidade era exagerada. Como terapia analgésica foi utilizado flunixin meglumine na dose de 1,1 mg/kg, por via IM. Os vaqueiros fizeram, por conta própria, a administração de oxitetraciclina, na dose de 20 mg/kg, por via IM. O animal foi colocado a caminhar, e, algumas horas após as medicações, apresentou micção e defecação normais. Após essa intervenção, a frequência cardíaca do animal diminuiu para 40 bpm, e os sinais de inquietação também diminuíram significativamente. Ao final do dia, o equino apresentava um quadro aparentemente estável e foi mantido isolado no curral, com acesso à água e pouca quantidade de ração (mesmo com a recomendação da suspensão total da oferta de concentrado), mas sem acesso ao pasto. O animal ficou em observação até às 18 horas, horário em que se encerrava a jornada de trabalho dos colaboradores. Apesar da melhora aparente no período da tarde, durante a madrugada o animal veio à óbito. O médico veterinário que havia sido solicitado no dia anterior conseguiu chegar na propriedade apenas no dia seguinte, após o óbito do animal, e o coordenador optou por não realizar uma necrópsia para fins investigativos. 5. Discussão O presente relato demonstra a importância do atendimento realizado por profissional habilitado (médico veterinário) em casos de síndrome cólica aguda, além do manejo alimentar correto dos animais. De acordo com Castro et al. (2016), muitos 19 dos equinos de tração, competição e esporte apresentaram alterações fisiopatológicas favoráveis aos altos índices de cólica, como excesso de trabalho, falta de manejo higiênico-sanitário e manejo alimentar adequado. A cólica pode variar de um distúrbio passageiro a um episódio complexo e de difícil resolução e constitui-se a doença mais comum e grave para estes animais, sendo a causa de morte mais importante em equinos no mundo (DI FILIPPO et al., 2012). Nesse caso, a ausência do médico veterinário na propriedade influenciou negativamente o prognóstico do animal, pois além de atrasar o diagnóstico e o início do tratamento, as recomendações passadas por telefone pelo profissional não foram totalmente seguidas. Pode-se dizer que o atendimento precoce, a interpretação precisa do quadro clínico e o estabelecimento do tratamento adequado (clínico ou cirúrgico) seriam de grande importância para evitar complicações e até mesmo a morte do animal. As causas da cólica são variáveis e o tratamento pode ser desde analgesia e lavagem gástrica simples até cirurgias complexas, nas quais a abertura e/ou enterotomia e enteroanastomose são realizadas. Além do diagnóstico precoce, o monitoramento frequente do animal, de hora em hora, também é de extrema importância (CAMPELO; PICCININ; 2008; BARBOZA, 2016; FREEMAN, 2018), o que também não foi realizado neste caso. 6. Conclusão A presença de um médico veterinário em propriedades de gado de corte mostrou-se imprescindível para um atendimento rápido e eficiente, a fim de se evitar não só as perdas relacionadas ao rebanho bovino, mas também a de outros animais da propriedade, como os da tropa de equinos utilizados na lida diária. Além disso, a realização de exames para auxílio e confirmação do diagnóstico, juntamente com um tratamento condizente com a causa e progressão do quadro clínico, são fatores essenciais e que influenciam significativamente o prognóstico da doença. Em situações a campo, essas condições são difíceis de serem contempladas, em vista de fatores logísticos, como a distância das propriedades até os centros de atendimento, fatores culturais, como a relutância em solicitar um médico veterinário, e fatores financeiros, como o alto custo de atendimento e tratamento, ultrapassando 20 muitas vezes o valor comercial do animal. O caso acompanhado é um exemplo disso, em que se careceu de atendimento rápido e eficiente e de manejo adequado do animal. 7. Referências AUER, J. A.; STICK, J. A. Equine Surgery. 4th ed. St. Louis: Elsevier, 2012. p. 402- 475. BARBOZA, E. D. P. Síndrome cólica. Eqquality Clínica e Cirurgia de Equinos. 2016. Disponível em: . Acesso em: 19 nov. 2023. CAMPELO; J.; PICCININ, A. Cólica equina. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária, v. 6, n. 10, p. 1-6, 2008. CASTRO, M. L.; ARAUJO, F. F.; SILVA, J. R.; LASKOSKI, M .R.; VILANI, R. G. D. C.; DORNBUSCH, P. T. Incidência de síndrome cólica ocasionadas por corpos estranhos em cavalos carroceiros de Curitiba. Archives of Veterinary Science, v. 21, n. 3, p. 77-81, 2016. DI FILIPPO, P. A.; ALVES, A. E.; HERMETO, L.C.; SANTANA, A. E. Indicadores bioquímicos séricos e do líquido peritoneal de equinos submetidos à obstrução intestinal. Ciência Animal Brasileira, v. 13, n. 4, p. 504-511, 2012. https://doi.org/10.5216/cab.v13i4.14105. 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