UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS - RIO CLARO MATHEUS HENRIQUE GABRIEL DIVERSIDADE E TAXONOMIA DE ÁCAROS DE PENA (ARACHNIDA: ACARI: ASTIGMATA) EM AVES NO CAMPUS DA UNESP DE RIO CLARO Rio Claro 2019 CIÊNCIAS BIOLÓGICAS MATHEUS HENRIQUE GABRIEL DIVERSIDADE E TAXONOMIA DE ÁCAROS DE PENA (ARACHNIDA: ACARI: ASTIGMATA) EM AVES NO CAMPUS DA UNESP DE RIO CLARO Orientador: Prof. Dr. Fabio Rau Akashi Hernandes Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Câmpus de Rio Claro, para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Biológicas. Rio Claro 2019 G118d Gabriel, Matheus Henrique Diversidade e Taxonomia de Ácaros de Pena (Arachnida: Acari: Astigmata) em Aves no Campus da Unesp de Rio Claro / Matheus Henrique Gabriel. -- , 2019 36 p. : il., tabs., fotos Trabalho de conclusão de curso ( - ) - Universidade Estadual Paulista (Unesp), Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Araraquara, Orientador: Fábio Rau Akashi Hernandes 1. Ácaros de Penas. 2. Taxonomia. 3. Ectocomensais. 4. Diversidade. 5. Aves. I. Título. Sistema de geração automática de fichas catalográficas da Unesp. Biblioteca da Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Araraquara. Dados fornecidos pelo autor(a). Essa ficha não pode ser modificada. AGRADECIMENTOS À minha família por todo suporte e incentivo durantes todos esses anos, por me ajudarem na minha caminhada, em especial aos meus pais, Elisângela e Luís que mesmo longe estiverem presentes comigo todo tempo. Aos meus colegas de sala por todos esses anos juntos, mostrando que a experiência na universidade vai além de aulas, trabalhos em grupo, estudos para provas, viagens de campo. Aos meus colegas de basquete, pelos treinos, jogos, campeonatos, mas acima de tudo, pela amizade e pelo amor ao esporte. São momentos que serão guardados. Aos colegas do departamento de Zoologia, por todo ensinamento, pelos cafezinhos diários. Em especial aos professores que estiveram presentes durante minha iniciação científica, sempre me ajudando e me fazendo crescer. Agradeço ao Prof. Pizo e sua equipe, Fabio A.F. Jacomassa, Marcela Benavides Guzmán, Matheus Dourado e Carlos A. Gussoni, pelo auxílio nas coletas de campo, sempre me ajudando a coletar material. Aos meus amigos de laboratório: Luiz Gustavo que sempre me acompanhou e me ajudou do começo ao final, te desejo todo sucesso do mundo; Gustavo Ortiz, obrigado pela ajuda nas coletas e organização do material. Ao meu orientador Fábio, que tornou esse trabalho possível. Sou muito grato, tanto como profissional quanto pessoa. Obrigado por sempre estar disposto a ensinar, por compartilhar e me mostrar o quão incrível o mundo dos ácaros pode ser. E obrigado pelas conversas sobre ciência, indicações de bandas, basquete, viagens e pelos conselhos e amizade. Um agradecimento especial à Juliana, que sempre esteve comigo me apoiando, me incentivando, me fazendo crescer e olhar para a frente. Obrigado pelos puxões de orelha, pelos conselhos, pelo carinho. Sem você eu não chegaria onde eu cheguei. RESUMO Os ácaros de penas (Acari: Astigmata) constituem a fauna mais diversificada de artrópodes associados às penas das aves. Se alimentam de óleos e de pequenas partículas presas as penas, como esporos de fungos e pólens, sendo a interação ecológica com a ave hospedeira ainda incerta. São transmitidos geralmente entre hospedeiros da mesma espécie, por contato direto ainda no ninho ou durante a cópula, o que cria uma grande especificidade entre a ave e suas espécies de ácaros. O Campus da Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Rio Claro, SP possui uma rica avifauna, com cerca de 200 especies já registradas. O objetivo desse trabalho é amostrar a diversidade de ácaros de penas encontrados nesse campus universitário. As aves foram capturadas com redes de neblina em parceria com ornitólogos que realizam o anilhamento periódico das aves do Campus. Os resultados mostram a captura de 21 espécies de aves as quais apresentaram 32 espécies de ácaros, dos quais 19 são identificados ao nível de gênero e 13 ao nível específico. Esse trabalho além de contriubuir com o registro de ácaros de penas, também possibilitou a descrição de novas espécies a partir do material coletado no Campus, sendo fundamental ao estudo taxonômico em ácaros de penas. O Brasil apresenta uma rica avifauna que deve ser estudada, apresentando uma diversidade de espécies de ácaros de penas ainda desconhecidas e com alto potencial para novos estudos e novas descrições. Os resultados obtidos nesse trabalho contribuem com novos dados tanto voltados à biologia e taxonomia de ácaros de penas, como também o entendimento de sua relação com o hospedeiro. Palavras-chave: ácaros de penas, taxonomia, ectocomensais, diversidade, aves 5 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO: ............................................................................................ 8 2. OBJETIVO: ................................................................................................ 11 3. MATERIAIS E MÉTODOS ......................................................................... 11 3.1 Levantamento de dados ............................................................................. 11 3.2 Coleta de ácaros ........................................................................................ 11 3.3 Triagem de ácaros ..................................................................................... 12 3.4 Identificação dos ácaros ............................................................................. 12 3.5 Catalogação dos ácaros ............................................................................. 13 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................. 14 Taxonomia........................................................................................................ 14 Superfamília Analgoidea Trouessart & Mégnin, 1884 ............................................ 15 Família Analgidae Trouessart & Mégnin, 1884 ................................................... 15 Subfamília Analginae Gaud & Atyeo, 1982 ..................................................... 15 Gênero Analges Nitzsch, 1818 ..................................................................... 15 Analges ticotico Pedroso & Hernandes, 2018 ........................................... 15 Analges turdinus (cf) Mironov, 1985 ......................................................... 15 Família Proctophyllodidae Trouessart & Mégnin, 1884 ...................................... 16 Subfamília Proctophyllodinae Trouessart & Mégnin, 1884 .............................. 16 Gênero Anisophyllodes Atyeo, 1967 ............................................................ 16 Anisophyllodes candango Hernandes Valim & Mironov, 2007 .................. 16 Gênero Nycteridocaulus Atyeo, 1966 ........................................................... 16 Nycteridocaulus laticlunis Atyeo, 1966 ...................................................... 16 Nycteridocaulus sp. 1. ............................................................................... 16 Nycteridocaulus sp. 2. ............................................................................... 17 Nycteridocaulus (cf) tyranni Atyeo, 1966 .................................................. 17 Gênero Proctophyllodes Robin, 1877........................................................... 17 Proctophyllodes thraupis Atyeo & Braasch, 1966 ..................................... 17 Proctophyllodes sp. 1. ............................................................................... 17 Proctophyllodes sp. 2. ............................................................................... 18 Subfamília Pterodectinae Park & Atyeo, 1971 ................................................. 18 Gênero Amerodectes Valim e Hernandes, 2010 .......................................... 18 Amerodectes turdinus (Berla, 1959) ......................................................... 18 6 Amerodectes pitangi Mironov, 2008 .......................................................... 18 Amerodectes sp. 1. ................................................................................... 19 Amerodectes sp. 2. ................................................................................... 19 Amerodectes sp. 3. ................................................................................... 19 Amerodectes sp. 4. ................................................................................... 19 Gênero Tyrannidectes Mironov, 2008 .......................................................... 20 Tyrannidectes amaurochalinus Hernandes e Valim, 2006 ........................ 20 Tyrannidectes sp. ...................................................................................... 20 Gênero Metapterodectes Mironov, 2008 ...................................................... 20 Metapterodectes furnarius Mironov, 2008 ................................................. 20 Metapterodectes saturninus Hernandes, 2017 ......................................... 21 Gênero Nanopterodectes Mironov, 2009 ..................................................... 21 Nanopterodectes formicivorae (cf) Mironov, 2008 .................................... 21 Gênero Allodectes Park & Atyeo, 1971 ........................................................ 21 Allodectes sp. ............................................................................................ 21 Família Troessartiidae Gaud, 1957 ................................................................. 22 Gênero Trouessartia Canestrini, 1899 ......................................................... 22 Trouessartia serrana Berla, 1959 .............................................................. 22 Trouessartia sp. ........................................................................................ 22 Superfamília Pterolichoidea Trouessart e Mégnin, 1884 .................................... 23 Família Falculiferidae Oudemans, 1905 .......................................................... 23 Gênero Falculifer Raillet, 1896 ..................................................................... 23 Falculifer sp. .............................................................................................. 23 Gênero Byersalges Atyeo & Winchell, 1984 ................................................. 23 Byersalges sp. .......................................................................................... 23 Família Gabuciniidae Gaud & Atyeo, 1974 ...................................................... 24 Gênero Hieracolichus Gaud & Atyeo, 1974 .................................................. 24 Hieracolichus sp. ....................................................................................... 24 Gênero Paragabucinia Gaud & Atyeo, 1975 ................................................ 24 Paragabucinia brasiliensis Hernandes, 2014 ............................................ 24 Família Kramerellidae Gaud & Mouchet, 1961 ................................................ 24 Gênero Dermonoton Gaud & Mouchet, 1959 ............................................... 24 Dermonoton sp. ........................................................................................ 24 Discussão ......................................................................................................... 25 7 5. CONCLUSÃO ............................................................................................ 29 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ......................................................... 30 7. ANEXOS .................................................................................................... 33 8 1. INTRODUÇÃO: Ácaros de pena são os mais diversos e abundantes ectosimbiontes encontrados nas aves pertencentes ao filo Arthropoda, classe Arachnida, subclasse Acari, ordem Acariformes, subordem Astigmata. Estão presentes em diversas partes da plumagem, principalmente nas penas de voo, nas penas de cobertura das asas, corpo e por vezes, na pele e cálamo do hospedeiro. Existem cerca de 55.000 espécies de ácaros (KRANTZ e WALTER, 2009), sendo aproximadamente 2.400 espécies de ácaros de pena conhecidos em todo o mundo, associadas em todas as ordens de aves (MIRONOV, 2003). Pertencentes à subordem Astigmata, são agrupados em duas superfamílias: Analgoidea e Pterolichoidea, com cerca de 30 famílias atualmente incluídas em cada uma delas (GAUD e ATYEO, 1996; DABERT e MIRONOV, 1999). Ainda incerta a relação ecológica com a ave hospederia, sabe-se que se alimentam de óleos e de pequenas partículas presas as penas, como esporos de fungos e pólens. São transmitidos geralmente entre hospedeiros da mesma espécie, por contato direto ainda no ninho ou durante a cópula, o que cria uma grande especificidade entre a ave e suas espécies de ácaros. (GAUD e ATYEO, 1996; PROCTOR, 2003). Sendo assim, cada ordem de aves possui sua acarofauna específica (DABERT e MIRONOV, 1999). Os ácaros de penas chamam a atenção pela sua diversidade e adaptação morfológica. O corpo desse grupo apresenta duas regiões o gnatossoma e idiossoma. A começar pela diferenciação sexual, salvo poucas exceções, machos e fêmeas da mesma espécie possuem idiossomas similares na região posterior das pernas (GAUD e ATYEO, 1996). Entre machos e fêmeas, a diferença primordial para fins de discernimento é a presença de discos adanais (“ventosas”) nos machos e ausência nas fêmeas. Esta estrutura auxilia o macho a fixar-se na fêmea durante a cópula. Os adornos morfológicos ainda vão desde pouca à total esclerotização dos escudos do idiossoma e presença ou ausência de estrias, além da presença de setas e cerdas (GAUD e ATYEO, 1996). No hospedeiro, esses simbiontes ocorrem nas mais diversas regiões da plumagem, de acordo com suas adaptações morfológicas e, segundo Dabert e Mironov (1999), há quatro principais grupos de ácaros de penas de acordo com seus 9 microhabitats: 1) ácaros dermícolas, presentes tanto abaixo quanto na superfície da epiderme das aves; 2) ácaros calamícolas, encontrados no interior dos cálamos das penas de voo e cauda; 3) ácaros de penas, que vivem nas superfícies ou ventral ou dorsal das penas de voo e cauda e nos “corredores” formados entre as barbas dessas penas (“vane mites”); 4) ácaros plumícolas, presentes nas penas de contorno que recobrem o corpo do hospedeiro (plumas). Ainda podem ser encontrados em locais peculiares tais como as narinas (GAUD e ATYEO, 1996). Essa especificidade parasito-hospedeiro, variando de família à espécie, possibilita visualizar os processos de evolução paralela entre grupos, sendo a co- especiação de parasitos em seus hospedeiros, o principal fator evolutivo de ácaros de penas, dadas as adaptações à plumagem em que se encontram e suas adaptações morfológicas (DABERT e MIRONOV, 1999; DABERT, 2004). Pode-se dizer então, que cada grupo de ave possui sua específica acarofauna, permitindo estabelecer uma relação co-evolutiva entre parasito e hospedeiro e assim, traçar a história evolutiva de ambos os grupos (DABERT, 2004). Essas adaptações são prova de que a estrutura do substrato bem como a aerodinâmica desses artrópodes estão vinculadas. Mesmo vivendo em cálamos, nas plumas ou na superfície corpórea do hospedeiro, ainda assim ácaros de penas são hábeis a se moverem livremente em seu habitat com pouca ou nenhuma interferência do ar (PROCTOR, 2003). Somente ácaros da superfamília Analgoidea habitam os 4 ambientes, enquanto os ácaros pertencentes à superfamília Pterolichoidea são apenas encontrados no cálamo e penas da asa e cauda (DABERT e MIRONOV, 1999). Sabe-se que ácaros de penas são comensais, se alimentando de óleo das glândulas do uropígeo, de fungos, pólen e de material similar (PROCTOR e OWENS, 2000). Porém, muitos ácaros calamícolas se alimentam da medula do cálamo, podendo causar danos às penas (DUBININ, 1951; GAUD e ATYEO, 1996). Pode ocorrer de um hospedeiro apresentar diferentes grupos de ácaros habitando mais de um de seus microhabitats. Exemplo disso é o Bico-de-lacre (Estrilda astrild Linnaeus, 1758), onde encontram-se ácaros nas penas de asa e cauda (Montesauria e Trouessartia), ácaros plumícolas (Onychalges) e ácaros dermícolas 10 (Paddacoptes e Neocheyletiella). Além do mais, um único hospedeiro dessa espécie apresentou 8 espécies de ácaros e mesmo depois dessa ave africana ser introduzida no Brasil durante o reinado de Dom Pedro I (1822 – 1831), sua acarofauna mantém- se a mesma sem representantes Neotropicais (HERNANDES E OCONNOR, 2017) O Brasil é um dos países mais ricos com relação à avifauna com quase 2000 espécies registradas, das quais 56% são pertencentes à ordem Passeriformes e 44% distribuídos entre as demais ordens. Sabe-se que a quantidade de aves registradas com ácaros de penas soma menos de 12,4% desse total, sendo apenas cerca de 218 espécies descritas e/ou registradas no país, das quais 58 são de Passeriformes e 126 nas demais ordens (VALIM et al., 2011). Esses dados demonstram a importância em se estudar a taxonomia desse grupo. O Brasil apresenta uma rica avifauna que deve ser estudada, possibilitando o registro e descrição de novas espécies de ácaros de penas para colaboração de novos dados tanto voltados à biologia desse grupo quanto à taxonomia e entendimento de sua relação com o hospedeiro. 11 2. OBJETIVO: O presente projeto teve como objetivo coletar e identificar a diversidade de ácaros de penas em aves comumente encontradas no Campus da Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Rio Claro – SP, visando complementar o conhecimento taxonômico de ácaros da região e suas associações com hospedeiros. 3. MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 Levantamento de dados O projeto se desenvolveu durante o período de setembro de 2013 a setembro de 2015. Durante esse período, foi realizado um levantamento visual das espécies presentes no campus universitário. Foram realizadas anotações das aves comumente avistadas durante maior parte do dia, as quais foram identificadas com o auxílio de guias de campo, como Guia de Campo Avis Brasilis - Avifauna Brasileira (Sigrist 2013), com o auxílio dos ornitólogos presentes nas atividades de campo e conferência no CBRO (Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos), uma lista para catalogação da avifauna brasileira. Ainda, foi analisado material coletado anteriormente a data do projeto e que estava armazenado em microtúbulos contendo etanol 70% juntamente com as penas. Aves encontradas mortas tiveram seu material coletado por meio de lavagem dos indivíduos, extração por filtro e triagem. 3.2 Coleta de ácaros Foram montados pontos para coletas durante a manhã com redes ornitológicas para captura das aves e coleta dos ácaros. As redes foram abertas antes do nascer do sol, esperando-se capturar uma maior quantidade de aves durante as primeiras horas do dia, período no qual a atividade de forrageio é maior. Para a abertura das redes de neblina foram utilizadas hastes, cordas e estacas. As redes foram armadas em locais com baixa incidência de luz, a fim de evitar o desvio das aves ao avistarem as redes e aumentar a eficácia da coleta. As aves capturadas foram cuidadosamente retiradas da rede pelos ornitólogos presentes em campo, e em seguida foi realizada uma análise visual das penas. As penas foram posicionadas 12 contra o sol para visualizar aquelas com maior número de ácaros e facilitar sua retirada. Eram coletadas rêmiges (penas de voo da região das asas) direita e esquerda, e rectrizes (penas de voo da região da cauda), uma ou duas penas. As penas coletadas foram armazenadas em um saco individualizado (ziplock), evitando contaminação do material. Foi efetuada a identificação da ave em campo pelos ornitólogos presentes com auxílio dos guias de campo (Guia de Campo Avis Brasilis – Avifauna Brasileira – 3ª Edição 2013) e, em seguida, a ave foi solta em seu habitat. 3.3 Triagem de ácaros As triagens das penas foram executadas com amparo de uma lupa em laboratório. Os ácaros recolhidos foram colocados em microtúbulos contendo etanol 70%, para posterior tratamento em ácido láctico 30%, aquecidos em estufa a 50ºC, durante aproximadamente 24 horas. As triagens iniciais foram realizadas em lupa Leica M165C. Esse procedimento possibilita que os apêndices dos ácaros se distendam e seu corpo seja clarificado, assim, facilitando a montagem das lâminas e resultando em um melhor posicionamento do ácaro para visualização de estruturas morfológicas e sua identificação específica. Foi padronizada a fixação de um ácaro por lâmina em meio Hoyer (KRANTZ e WALTER, 2009) para facilitar a identificação e organização das amostras. As lâminas foram deixadas em estufa por 5 dias para secagem e, então, foram vedadas com verniz, etiquetadas (identificação da ave à direita e do ácaro à esquerda) e armazenadas na coleção de ácaros de penas do Departamento de Zoologia da UNESP de Rio Claro. 3.4 Identificação dos ácaros As lâminas previamente fixadas foram examinadas em microscópio Leica DM3000 com contraste de fase e aumento 40x. Foi realizada a identificação do ácaro por meio de chaves taxonômicas dicotômicas propostas por Gaud e Atyeo (1996), seguindo-se a identificação específica da literatura para cada táxon. 13 3.5 Catalogação dos ácaros A identificação do ácaro é feita a partir do menor nível taxonômico possível. As etiquetas utilizadas para identificação e catalogação do material examinado apresentam informações sobre: a quantidade de ácaros presentes na lâmina (machos, fêmeas e ninfas) e sua espécie; identificação do hospedeiro (espécie, ordem, família); localidade da coleta com data e coordenadas geográficas; nome do coletor do hospedeiro; e se houver, número de registro da ave. Exemplo: Nycteridocaulus laticlunis Atyeo, 1966 Material examinado em Pitangus sulphuratus (Linnaeus, 1766) (Passeriformes: Tyrannidae), anilha M19337. Coletado em DEMAC, UNESP, Rio Claro, SP, Brasil, coordenadas 22º24'S/47º33'W, em 15.VIII.2014, por M.H. Gabriel. 14 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Taxonomia Foram analisadas 21 espécies de aves de 16 famílias e 6 ordens (Tabela 1), sendo que a maioria (15 espécies) das aves capturadas pertence à ordem Passeriformes. Tabela 1: Relação das aves analisadas e identificação dos ácaros associados. 15 Superfamília Analgoidea Trouessart e Mégnin, 1884 Família Analgidae Trouessart e Mégnin, 1884 Subfamília Analginae Gaud e Atyeo, 1982 Gênero Analges Nitzsch, 1818 Analges ticotico Pedroso e Hernandes, 2018 Material examinado contendo 13 machos, 15 fêmeas e 1 imaturo em Zonotrichia capensis (Statius Muller, 1776) (Passeriformes: Passerelidae), anilha F06811. Coletado em Jardim Experimental, UNESP, Rio Claro, SP, Brasil, coordenadas 22º23'S/47º32'W, em 21.VIII.2014, por M. H. Gabriel. Analges turdinus (cf) Mironov, 1985 Material examinado contendo 1 macho e 8 fêmeas em Elaenia flavogaster (Thunberg, 1822) (Passeriformes: Tyrannidae), anilha D109863. Coletado em DEMAC, UNESP, Rio Claro, SP, Brasil, coordenadas 22º24'S/47º33'W, em 24.X.2013, por M. B. Guzmán. Material examinado contendo 11 machos, 5 fêmeas e 3 imaturos em Turdus leucomelas (Vieillot, 1818) (Passeriformes: Turdidae). Coletado em UNESP, Rio Claro, SP, Brasil, coordenadas 22º24'S/47º33'W, em 29.III.2013, por F.A.F. Jacomassa. 16 Família Proctophyllodidae Trouessart e Mégnin, 1884 Subfamília Proctophyllodinae Trouessart e Mégnin, 1884 Gênero Anisophyllodes Atyeo, 1967 Anisophyllodes candango Hernandes Valim e Mironov, 2007 Material examinado em Elaenia flavogaster (Thunberg, 1822) (Passeriformes: Tyrannidae), anilha D109863. Coletado em DEMAC, UNESP, Rio Claro, SP, Brasil, coordenadas 22º24'S/47º33'W, em 24.X.2013, por M. B. Guzmán. Gênero Nycteridocaulus Atyeo, 1966 Nycteridocaulus laticlunis Atyeo, 1966 Material examinado em Pitangus sulphuratus (Linnaeus, 1766) (Passeriformes: Tyrannidae), anilha M19337. Coletado em DEMAC, UNESP, Rio Claro, SP, Brasil, coordenadas 22º24'S/47º33'W, em 15.VIII.2014, por M.H. Gabriel. Nycteridocaulus sp. 1. Material examinado contendo 3 fêmeas em Lepidocolaptes angustirostris (Vieillot, 1818) (Passeriformes: Dendrocolaptidae), anilha E535924. Coletado em em DEMAC, UNESP, Rio Claro, SP, Brasil, coordenadas 22º24'S/47º33'W, em 28.VIII.2013, por F.A. Hernandes. 17 Nycteridocaulus sp. 2. Material examinado contendo 45 machos em 1 imaturo em Antilophia galeata (Lichtenstein, 1823) (Passeriformes: Pipridae). Coletado em DEMAC, UNESP, Rio Claro, SP, Brasil, coordenadas 22º24'S/47º33'W, em 19.III.2014, por F.A. Hernandes. Nycteridocaulus (cf) tyranni Atyeo, 1966 Material examinado contendo 25 machos, 28 fêmeas e 1 imaturo em Tolmomyias sulphurescens (Spix, 1825) (Passeriformes: Rhynchocyclidae). Coletado em UNESP, Rio Claro, SP, Brasil, coordenadas 22º24'S/47º33'W, em 2.IV.2014, por F.A. Hernandes. Gênero Proctophyllodes Robin, 1877 Proctophyllodes thraupis Atyeo e Braasch, 1966 Material examinado em Tangara sayaca (Linnaeus, 1766) (Passeriformes: Thraupidae). Coletado em UNESP, Rio Claro, SP, Brasil, coordenadas 22º24'S/47º33'W, em 13.IX.2012, por F.A. Hernandes. Proctophyllodes sp. 1. Material examinado contendo 15 machos e 15 fêmeas em Turdus amaurochalinus (Cabanis, 1850) (Passeriformes: Turdidae), anilha H110735. Coletado em UNESP, Rio Claro, SP, Brasil, coordenadas 22º24'S/47º33'W, em 23.VIII.2013, por F.A. Hernandes. 18 Proctophyllodes sp. 2. Material examinado contendo 1 fêmea em Turdus leucomelas (Vieillot, 1818) (Passeriformes: Turdidae). Coletado em UNESP, Rio Claro, SP, Brasil, coordenadas 22º24'S/47º33'W, em 29.III.2013, por F.A.F. Jacomassa. Subfamília Pterodectinae Park e Atyeo, 1971 Gênero Amerodectes Valim e Hernandes, 2010 Amerodectes turdinus (Berla, 1959) Material examinado em Elaenia flavogaster (Thunberg, 1822) (Passeriformes: Tyrannidae), anilha D109863. Coletado em DEMAC, UNESP, Rio Claro, SP, Brasil, coordenadas 22º24'S/47º33'W, em 24.X.2013, por M. B. Guzmán. Material examinado contendo 2 machos, 2 fêmeas e 1 imaturo em Turdus leucomelas (Vieillot, 1818) (Passeriformes: Turdidae). Coletado em UNESP, Rio Claro, SP, Brasil, coordenadas 22º24'S/47º33'W, em 13.IX.2012, por F.A. Hernandes. Amerodectes pitangi Mironov, 2008 Material examinado contendo 3 machos e 3 fêmeas em Pitangus sulphuratus (Linnaeus, 1766) (Passeriformes: Tyrannidae), anilha M19337. Coletado em DEMAC, UNESP, Rio Claro, SP, Brasil, coordenadas 22º24'S/47º33'W, em 15.VIII.2014, por M.H. Gabriel. 19 Amerodectes sp. 1. Material examinado contendo 1 fêmea em Pitangus sulphuratus (Linnaeus, 1766) (Passeriformes: Tyrannidae), anilha H110719. Coletado em Jardim Experimental, UNESP, Rio Claro, SP, Brasil, coordenadas 22º23'S/47º32'W, em 26.III.2014, por F.A. Hernandes. Amerodectes sp. 2. Material examinado em Tangara sayaca (Linnaeus, 1766) (Passeriformes: Thraupidae). Coletado em UNESP, Rio Claro, SP, Brasil, coordenadas 22º24'S/47º33'W, em 13.IX.2012, por F.A. Hernandes. Amerodectes sp. 3. Material examinado em Coereba flaveola (Linnaeus, 1758) (Passeriformes: Thraupidae), anilha C64507. Coletado em UNESP, Rio Claro, SP, Brasil, coordenadas 22º24'S/47º33'W, em 13.IX.2012, por F.A. Hernandes. Amerodectes sp. 4. Material examinado contendo 2 machos em Coryphospingus cucullatus (Statius Muller, 1776) (Passeriformes: Thraupidae), anilha D109875. Coletado em DEMAC, UNESP, Rio Claro, SP, Brasil, coordenadas 22º24'S/47º33'W, em 28.VIII.2013, por F.A. Hernandes. 20 Gênero Tyrannidectes Mironov, 2008 Tyrannidectes amaurochalinus Hernandes e Valim, 2006 Material examinado em Turdus leucomelas (Vieillot, 1818) (Passeriformes: Turdidae). Coletado em UNESP, Rio Claro, SP, Brasil, coordenadas 22º24'S/47º33'W, em 13.IX.2012, por F.A. Hernandes. Tyrannidectes sp. Material examinado contendo 2 fêmeas em Lepidocolaptes angustirostris (Vieillot, 1818) (Passeriformes: Dendrocolaptidae), anilha E535924. Coletado em em DEMAC, UNESP, Rio Claro, SP, Brasil, coordenadas 22º24'S/47º33'W, em 28.VIII.2013, por F.A. Hernandes. Gênero Metapterodectes Mironov, 2008 Metapterodectes furnarius Mironov, 2008 Material examinado contendo 3 machos, 22 fêmeas e 1 imaturo em Furnarius rufus (Gmelin, 1788) (Passeriformes: Furnariidae), anilha G59536. Coletado em DEMAC, UNESP, Rio Claro, SP, Brasil, coordenadas 22º24'S/47º33'W, em 24.X.2013, por F.A. Hernandes. 21 Metapterodectes saturninus Hernandes, 2017 Material examinado em Mimus saturninus (Lichtenstein, 1823) (Passeriformes: Mimidae), anilha M19382. Coletado em UNESP, Rio Claro, SP, Brasil, coordenadas 22º24'S/47º33'W, em 13.IX.2012, por F.A. Hernandes. Gênero Nanopterodectes Mironov, 2009 Nanopterodectes formicivorae (cf) Mironov, 2008 Material examinado contendo 11 machos e 8 fêmeas em Thamnophilus caerulescens (Vieillot, 1816) (Passeriformes: Thamnophilidae), anilha E135152. Coletado em DEMAC, UNESP, Rio Claro, SP, Brasil, coordenadas 22º24'S/47º33'W, em 28.VIII.2013, por F.A. Hernandes. Gênero Allodectes Park e Atyeo, 1971 Allodectes sp. Material examinado contendo 11 fêmeas em Eupetomena macroura (Gmelin, 1788) (Apodiformes: Trochilidae). Coletado em DEMAC, UNESP, Rio Claro, SP, Brasil, coordenadas 22º24'S/47º33'W, em 03.IV.2014, por F.A. Hernandes. 22 Família Troessartiidae Gaud, 1957 Gênero Trouessartia Canestrini, 1899 Trouessartia serrana Berla, 1959 Material examinado contendo 4 fêmeas em Turdus leucomelas (Vieillot, 1818) (Passeriformes: Turdidae), anilha H74198. Coletado em UNESP, Rio Claro, SP, Brasil, coordenadas 22º24'S/47º33'W, em 23.VIII.2014, por F.A. Hernandes. Material examinado contendo 2 fêmeas em Turdus leucomelas (Vieillot, 1818) (Passeriformes: Turdidae), anilha H110729. Coletado em UNESP, Rio Claro, SP, Brasil, coordenadas 22º24'S/47º33'W, em 31.VII.2013, por F. A. Hernandes. Material examinado contendo 5 fêmeas em Turdus amaurochalinus (Cabanis, 1850) (Passeriformes: Turdidae). Coletado em UNESP, Rio Claro, SP, Brasil, coordenadas 22º24'S/47º33'W, em 13.IX.2012, por F.A. Hernandes. Trouessartia sp. Material examinado contendo 1 macho, 6 fêmeas e 1 imaturo Coryphospingus cucullatus (Statius Muller, 1776) (Passeriformes: Thraupidae), anilha D109875. Coletado em DEMAC, UNESP, Rio Claro, SP, Brasil, coordenadas 22º24'S/47º33'W, em 28.VIII.2013, por F.A. Hernandes. 23 Superfamília Pterolichoidea Trouessart e Mégnin, 1884 Família Falculiferidae Oudemans, 1905 Gênero Falculifer Raillet, 1896 Falculifer sp. Material examinado contendo 2 fêmeas em Zenaida auriculata (Des Murs, 1847) (Columbiformes: Columbidae), anilha M1933428. Coletado em DEMAC, UNESP, Rio Claro, SP, Brasil, coordenadas 22º24'S/47º33'W, em 28.VIII.2013, por F.A. Hernandes. Gênero Byersalges Atyeo e Winchell, 1984 Byersalges sp. Material examinado contendo 10 fêmeas em Columbina talpacoti (Temminck, 1810) (Columbiformes: Columbidae), anilha H110713. Coletado em UNESP, Rio Claro, SP, Brasil, coordenadas 22º24'S/47º33'W em 16.IV.2013, por M.B. Guzmán. 24 Família Gabuciniidae Gaud e Atyeo, 1974 Gênero Hieracolichus Gaud e Atyeo, 1974 Hieracolichus sp. Material examinado contendo 19 machos, 24 fêmeas e 9 imaturos em Caracara plancus (Miller, 1777) (Falconiformes: Falconidae), encontrado morto. Coletado em UNESP, Rio Claro, SP, Brasil, coordenadas 22º24'S/47º33'W em 22.IV.2013, por F.A. Hernandes. Gênero Paragabucinia Gaud e Atyeo, 1975 Paragabucinia brasiliensis Hernandes, 2014 Material examinado contendo 23 imaturos em Hydropsalis parvula (Gould, 1837) (Caprimulgioformes: Caprimulgidae). Coletado em UNESP, Rio Claro, SP, Brasil, coordenadas 22º24'S/47º33'W, por F.A.F Jacomassa. Família Kramerellidae Gaud e Mouchet, 1961 Gênero Dermonoton Gaud e Mouchet, 1959 Dermonoton sp. Material examinado contendo 33 machos, 41 fêmeas e 6 imaturos em Megascops choliba (Vieillot, 1817) (Strigiformes: Strigidae), encontrado morto. Coletado em UNESP, Rio Claro, SP, Brasil, coordenadas 22º24'S/47º33'W em 22.IV.2013, por L.G.A. Pedroso. 25 Discussão Foram registradas 32 espécies de ácaros, sendo 19 delas identificadas em nível de gênero e 13 até o nível específico. Proctophyllodes thraupis (Atyeo e Braasch, 1966) descrito em Thraupis abbas (Deppe, 1830) no México, foi pela primeira vez registrado no Brasil, em Tangara sayaca (Linnaeus, 1766). Dentre as 21 espécies de aves registradas, 15 são pertencentes à ordem Passeriformes e 6, distribuídas entre as demais ordens, sendo: 1 espécie em Strigiformes (Megascops choliba (Vieillot, 1817), 1 espécie em Apodiformes (Eupetomena macroura (Gmelin, 1788), 1 espécie em Caprimulgiformes (Hydropsalis parvula (Gould, 1837), 1 espécie em Falconiformes (Caracara plancus (Miller, 1777) e 2 em Columbiformes (Columbina talpacoti (Temminck, 1810) e Zenaida auriculata (Des Murs, 1847). Foi registrada pela primeira vez no campus universitário a espécie Antilophia galeata (Lichtenstein, 1823) (Passeriformes: Pipridae), sendo listada no banco de dados do Internet Bird Collection (IBC). Dentre todas as espécies de aves, somente uma não apresentou ácaro, Troglodytes musculus (Naumann, 1823) (Passeriformes: Troglodytidae). Duas espécies de aves tiveram seus ácaros de penas registradas pela primeira vez no Brasil: Lepdocolates angutirostris (Vieillot, 1818) e Hydropsalis parvula (Gould, 1833). O material coletado em Hydropsalis parvula, possibilitou a descrição de uma nova espécie (HERNANDES 2014), Paragabucinia brasiliensis. Este registro é de grande relevância para o estudo taxonômico, uma vez que pouco se conhece sobre ácaros de penas associados à Caprimulgiformes no Brasil (HERNADES, 2014). De todas as espécies de ácaros de penas registrados, 27 estão agrupadas dentro da superfamília Analgoidea e 5 dentro da superfamília Pterolichoidea. Pode-se notar que a família mais abundante entre todas é a família Proctophyllodidae, com 21 espécies representantes, das quais 9 são identificadas até o nível específico e 12 ao nível de gênero. Representando a superfamília Pterolichoidea, há representantes das famílias Falculiferidae e Gabuciniidae, sendo cada umas destas famílias 26 representadas por 2 espécies cada e Kramerellidae, com apenas 1 espécie representante. Segundo Mironov (2012), ácaros do gênero Proctophyllodes são distribuídos predominantemente em aves dentro da ordem Passeriformes, tendo representantes até então, em 35 famílias. Estes dados auxiliam demonstrar o maior número de registros de ácaros na superfamília Analgoidea, uma vez que a maioria dos registros são de aves da ordem Passeriformes (15 espécies). O levantamento apresentou um número total de 5 espécies do gênero Amerodectes, sendo dessas 2 à nível específico (Amerodectes pitangi (Mironov, 2008) e Amerodectes turdinus (Berla, 1959) e 3 à nível de gênero (Amerodectes sp. 1, Amerodectes sp. 2 e Amerodectes sp. 3). A maioria das espécies de aves que apresentam o gênero Amerodectes são das famílias Thraupidae, Tyrannidae e Turdidae, com 3, 2 e 1 representantes em cada família, respectivamente. O segundo gênero com maior número de espécies foi o gênero Nicteridocaulus, com 4 espécies, das quais 2 são à nível específico (Nycteridocaulus laticlunis (Atyeo, 1966) e Nycteridocaulus tyranni (cf) (Atyeo, 1966) e 2 à nível de gênero (Nycteridocaulus sp. 1 e Nycteridocaulus sp. 2). Na família Trouessartidae foram registradas 2 espécies: Trouessartia serrana (Berla, 1959) em Turdus leucomelas (Vieillot, 1818) e Turdus amaurochalinus (Cabanis, 1850), apresentando somente representantes fêmeas do material coletado e Trouessartia sp. em Coryphospingus cucullatus (Statius Muller, 1776). A ave Coryphospingus cucullatus apresentou ácaros da família Proctophyllodidae, com indivíduos de Amerodectes sp. 4. Indivíduos examinados em Zonotrichia capensis (Statius Muller, 1776), único representante da família Passerellidae, possibilitaram a descrição de uma nova espécie por Pedroso e Hernandes (2018): Analges ticotico (Analgidae). Outra espécie em Analgidae, Analges cf. turdinus (Mironov, 1985) foi registrada em Elaenia flavogaster (Thunberg, 1822) e em Turdus leucomelas (Vieillot, 1818). Ainda em Elaenia flavogaster, foi registrado Anisophyllodes candango (Hernandes, Valim e Mironov, 2007) e Amerodectes turdinus (Berla, 1959). Sendo 27 assim, esta ave da família Tyrannidae apresenta ácaros tanto da família Analgidae quanto representantes de Proctophyllodidae. Dentre todas as aves, a espécie com representantes mais diversos foi Turdus leucomelas, com registro de ácaros de pena de 3 famílias. Em Analgidae, Analges cf. turdinus (Mironov, 1985); em Proctophyllodidae há 3 espécies diferentes: Amerodectes turdinus, Proctophyllodes sp. 2 e Tyrannidectes amaurochalinus; em Trouessartidae há uma única espécie, Trouessartia serrana. Outro individuo coletado que possibilitou a descrição de uma nova espécie foi Mimus saturninus (Lichtenstein, 1823), sendo descrita Metapterodectes saturninus por Hernandes (2017). Um importante registro para o estudo taxonômico de ácaros de penas que foi coletado por M.H. Gabriel e posteriormente analisado por Hernandes com novas descrições em 2017, foi Estrilda astrild (Passeriformes: Estrildidae) (Linnaeus, 1758) – encontrado morto no Campus. A ave apresentou 8 espécies de ácaros de penas das quais, 5 já eram espécies de ácaros conhecidas - Trouessartia minuscula Gaud & Mouchet, 1958, Trouessartia estrildae Gaud & Mouchet, 1958 (Trouessartiidae), Onychalges pachyspathus Gaud, 1968 (Pyroglyphidae), Paddacoptes paddae (Fain, 1964) (Dermationidae) e Neocheyletiella megaphallos (Lawrence, 1959) (Cheyletidae) – e outras 3 novas foram descritas - Montesauria caravela, M. conquistador (Proctophyllodidae) e Trouessartia transatlantica (HERNANDES E OCONNOR, 2017). Este registro tem uma alta relevância pela quantidade de espécies de ácaros de penas registrados em um único hospedeiro, pela diversidade de famílias registradas, havendo representantes de 5 diferentes famílias de ácaros de penas. Sendo o primeiro registro da região Neotropical, todas as espécies encontradas em Estrilda astrild fazem parte da acarofauna do Velho Mundo (HERNANDES E OCONNOR, 2017). Esta informação corrobora a coevolução parasito-hospedeiro uma vez que tais dados estreitam a especificidade entre ambos. Este trabalho contribuiu para a coleta e registro de materiais novos para a Ciência, uma vez que o estudo sobre ácaros de penas ainda é pouco conhecido, principalmente no Brasil. Assim, o levantamento desses dados auxilia o registro principalmente na região Neotropical, local com maior incidência de aves, o que 28 possibilita coletar dados para trabalhos taxonômicos. Também auxilia no entendimento da interação entre ave e ácaro, compreendendo melhor a relação entre esses grupos, bem como auxilia no estudo evolutivo de ambos. É de suma importância a taxonomia baseada em morfologia como ferramenta no auxílio de estudos filogenéticos. 29 5. CONCLUSÃO Representando cerca de 10% das aves do Campus, a quantidade de ácaros registrados é altamente relevante, demonstrando o potencial que estudos na área podem atribuir à taxonomia, contribuindo não apenas para a descrição de novas espécies de ácaros de penas, o que é essencial, mas também para a catalogação de novos registros de aves, como o registro de Antilophia galeata. Vale ressaltar o registro em Estrild astrild com 8 espécies de ácaros, sendo 3 novas espécies, mas mantendo as espécies nativas do Velho Mundo – sendo registradas pela primeira vez no Brasil, além das aves com seus ácaros de penas registradas pela primeira vez em território brasileiro (Lepdocolates angutirostris e Hydropsalis parvula) e de duas novas espécies descritas a partir do material coletado (Analges ticotico e Metapterodectes saturninus). É notório a maior quantidade de registros de aves da ordem Passeriformes (e consequentemente um maior registro de ácaros da superfamília Analgoidea, família Proctophyllodidae) sobre as demais ordens, visto a metodologia de captura das mesmas bem como o tipo de habitat. Este estudo é uma contribuição mútua à taxonomia de ácaros de penas e à taxonomia de aves, levantando dados para estudos de coevolução. Há muitas espécies de ácaros de penas ainda não identificadas que provavelmente representem novas espécies, contribuindo cada vez mais para o estudo dessa área. O Brasil apresenta uma rica avifauna que deve ser estudada, apresentando uma diversidade de espécies de ácaros de penas ainda desconhecidas e com alto potencial para novos estudos e novas descrições. Assim, se faz necessária a formação e atuação de novos taxonomistas e a associação e orientação de ornitólogos de campo, uma vez que estes são essenciais ao trabalho dos acarologistas, principalmente na coleta de material. Tal colaboração permitirá a ambos o melhor entendimento sobre a ecologia e biologia de ambos os grupos, bem como a interação ave-ácaro e sua taxonomia. 30 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ATYEO, W. T. "A new genus and six new species of feather mites primarily from Tyranni (Acarina: Proctophyllodidae)." Journal of the Kansas Entomological Society (1966): 481 - 492. ATYEO, W. T.; BRAASCH, N. L. "The Feather Mite Genus Proctophyllodes (Sarcoptiformes: Proctopbyllodidae)." (1966). ATYEO, W. T. "Two new feather mite genera with polymorphic males (Analgoidea: Proctophyllodidae)." Journal of the Kansas Entomological Society (1967): 465 - 471. ATYEO, W. T.; WINCHELL, E. J. "Byersalges, a new genus of falculiferid feather mite and host-parasite records for El Salvador." Journal of the Kansas Entomological Society (1984): 456 - 459. BERLA, H. F. "Analgesoidea neotropicais. IV. Sôbre algumas espécies novas ou pouco conhecidas de acarinos plumícolas." 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ANEXOS Lista de figuras 1 2 3 4 8 7 6 5 34 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 35 1-2 Anisophyllodes candango ♀♂; 3-4 Byersalges talpacoti ♀♂; 5-6 Paragabucinia brasiliensis ♂♀; 7-8 Trouessartia latiducta ♀♂; 9-10 Amerodectes turdinus ♀♂; 11-12 Analges turdinus ♀♂; 13-14 Dermonoton sp. ♀♂; 15 Falculifer leptotilae ♂; 16-17 Hieracolichus sp ♀♂; 18-19 Metapterodectes furnariae ♀♂; 20-21 Nycteridocaulus laticlunis ♀♂; 22-23 Proctophyllodes thraupis ♂♀. 21 22 23