© D an ie l P at ir e e Jo sé M at eu s V ie ir a unespciência dezembro de 2015 ∞ ano 7 ∞ número 70 APOLÔNIO E AZULÃO PROGRAMA INTERATIVO INFANTIL DA TV UNESP ENCICLOPÉDIA ILUMINISTA VERSÃO BRASILEIRA É A MAIS ABRANGENTE EDITADA FORA DA FRANÇA Síndrome de Williams UM MUNDO A DESVENDAR Produzir conteúdo, Compartilhar conhecimento. Editora Unesp, desde 1987 www.editoraunesp.com.br Emília Viotti da Costa investiga o passado para imaginar o futuro NOSSA HISTÓRIA Reunião de textos de uma das mais importantes historiadoras brasileiras provoca o leitor e permite pensar o Brasil de maneira profunda. Partindo do processo de independência do Brasil, os ensaios sobrevoam quase dois séculos de história, chegando à crise mundial do século XXI. Dos dilemas do neoliberalismo aos sucessos e fracassos do mercado centro-americano, da reforma universitária às re�exões sobre a crise mundial da última década, Viotti concentra sua atenção em setores sociais ausentes nas grandes narrativas históricas. Brasil - História, textos e contextos 352 páginas | R$ 58 Da Senzala à Colônia 570 páginas | R$ 69 Conheça também Da Monarquia à República 536 páginas | R$ 69 A abolição 144 páginas | R$ 37 A dialética invertida e outros ensaios 240 páginas | R$ 42 O Supremo Tribunal Federal 192 páginas | R$ 55 C M Y CM MY CY CMY K UNESPCIÊNCIA 3 Editorial Aprendizado profissional e humano A reportagem de capa da revista unespciência é resultado de quatro dias de acompanhamento dos eventos 1º International Workshop on Williams Syndro- me e 7º Encontro Brasileiro de Síndrome de Williams, em São Paulo, SP. A promoção foi da Associação Brasileira de Síndrome de Williams (ABSW), cujo diretor científico é Danilo Moretti-Ferreira, professor do Instituto de Bioci- ências da Unesp de Botucatu. Esta síndrome partilha algumas características com o autismo, apesar de as crianças que a apresentam possuírem uma facilidade de relacionamento interpessoal acima da média, sendo excepcionalmente simpáticas. A convivência com elas foi um aprendizado profissional e humano que procuramos relatar. Esta edição traz ainda reflexões sobre a profissão de professor, o periódico Rolling Stone, a guerra cambial en- tre EUA e China, a controvérsia na recomposição da mata ciliar, a polêmica sobre defensivos agrícolas, o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, a visão das sucuris na mídia e o projeto Apolônio e Azulão da TV Unesp. Há ainda um Dossiê sobre Afrodescentes e outro en- focando dois Prêmios Nobel. Outros assuntos são a pu- blicação pela Editora Unesp da Enciclopédia Iluminista de Diderot e d’Alembert, a arte e o design em Leonardo da Vinci, a exposição de aluno do Instituto de Artes da Unesp em Jacareí, SP, e a homenagem à professora e can- tora Martha Herr, falecida em outubro. Que esta edição, como as anteriores e as próximas le- vem você, companheiro de viagem, a ter o espírito alerta contra qualquer tipo de preconceito, como os que sofrem os portadores de Síndrome de Williams, e a ter o mesmo espírito elevado e competência da professora Martha. Governador Geraldo Alckmin Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação Márcio França UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Reitor Julio Cezar Durigan Vice-reitora Marilza Vieira Cunha Rudge Pró-reitor de Administração Carlos Antonio Gamero Pró-reitor de Pós-Graduação Eduardo Kokubun Pró-reitor de Graduação Laurence Duarte Colvara Pró-reitora de Extensão Universitária Mariângela Spotti Lopes Fujita Pró-reitora de Pesquisa Maria José Soares Mendes Giannini Secretária-geral Maria Dalva Silva Pagotto Chefe de Gabinete Roberval Daiton Vieira Assessor-chefe da Assessoria de Comunicação e Imprensa Oscar D’Ambrosio Presidente do Conselho Curador Mário Sérgio Vasconcelos Diretor-presidente Jézio Hernani Bomfim Gutierre Editor-executivo Túlio Kawata Superintendente administrativo e financeiro William de Souza Agostinho Diretor de redação Oscar D’Ambrosio Arte Hankô Design (Ricardo Miura) Assistente de arte Andréa Cardoso Colaboradores Cidinha da Silva, Ciro A. Rosolem, Edmar José Scaloppi, Gentil de Faria, Luna Borges Berrezo, Maria das Graças de Souza, Nara Silva M. Martins, Neide Marcondes de Faria, Oscar D’Ambrosio, Pedro Paulo Pimenta, Renato Xavier, Rumy Goto, Vanderlan da S. Bolzani, Vidal Haddad Júnior (texto); Daniel Patire, José Mateus Vieira (foto) Revisão Maria Luiza Simões Projeto gráfico Hankô Design (Ricardo Miura) Produção Mara Regina Marcato Apoio de internet Marcelo Carneiro da Silva Apoio administrativo Thiago Henrique Lúcio Endereço Rua Quirino de Andrade, 215, 4o andar, CEP 01049-010, São Paulo, SP. Tel. (11) 5627-0327. www.unespciencia.com.br revistaunespciencia@reitoria.unesp.br Impressão Coan Gráfica Tiragem 6 mil exemplares É autorizada a reprodução total ou parcial de textos e imagens desde que citada a fonte. Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da Universidade. EDUCAÇÃO Professores, alicerces para uma “pátria educadora” VANDERLAN DA S. BOLZANI LEITURA Enciclopédia Iluminista de Diderot e d’Alembert Organizada por PEDRO PAULO PIMENTA e MARIA DAS GRAÇAS DE SOUZA PESQUISA Pesquisa enfoca imprensa e música no Brasil ECONOMIA Guerra cambial? Dos Estados Unidos à China RENATO XAVIER SAÚDE Família Williams DANIEL PATIRE, MARISTELA GARMES e OSCAR D’AMBROSIO AGRONOMIA A controvérsia na recomposição da mata ciliar EDMAR JOSÉ SCALOPPI TELEVISÃO Programa infantil da TV Unesp inova com interatividade Sumário UNESPCIÊNCIA4 6 8 10 12 22 2626 34 DOSSIÊ AFRODESCENDENTES Musicalidades da Cultura Negra: perpetuação de identidade coletiva LUNA BORGES BERRUEZO Políticas públicas para o setor do livro, leitura, literatura e bibliotecas CIDINHA DA SILVA LEITURA Enciclopédia Iluminista de Diderot e d’Alembert Organizada por PEDRO PAULO PIMENTA e MARIA DAS GRAÇAS DE SOUZA DESIGN Mundo possível contemporâneo NARA SILVIA M. MARTINS e NEIDE MARCONDES DE FARIA ARTE E CULTURA Exposição Na Boca do Sol OSCAR D’AMBROSIO FOTO DO MÊS Homenagem – Martha Herr DANIEL PATIRE OPINIÃO Sobre sucuris na mídia VIDAL HADDAD JUNIOR AGRICULTURA Paracelsus e os venenos RUMY GOTO e CIRO A. ROSOLEM GEOGRAFIA Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar UNESPCIÊNCIA 5 36 44 47 48 50 24 30 DOSSIÊ NOBEL Um Nobel surpresa? GENTIL DE FARIA Nobel de Medicina de 2015 VANDERLAN DA S. BOLZANI 40 Educação e para a população em geral, que acredita se- rem os professores responsáveis pela educação extralar de seus filhos. A sociedade reconhe- ce os professores como os atores centrais do processo de aprendizado, condição essencial a qualquer indivíduo consciente de seu papel de cidadão. Assim, celebrar o dia do professor é uma forma de homenagear esses profissionais, de importância vital para o Brasil que almeja sobe- rania econômica e social, hoje cunhado Pátria Educadora. No entanto, as várias mudanças nos Ministérios da Educação e de Ciência, Tecnologia e Inovação, ocorridas nos últimos meses, agravadas pela retração econômica e subsequentes cortes de verbas na Capes e no CNPq, não nos dão muitos motivos para ce- N ão temos dúvida sobre a importância da educação como legado maior de uma nação livre e soberana. Logicamente, a exce- lência do sistema educacional é função de um esforço coletivo envolvendo todos os setores que compõem uma sociedade organizada: go- verno, setores públicos e privados, sociedade em geral. Obviamente que os atores principais deste processo são os professores, em todos os níveis de atuação – ensino fundamental, médio, técnico e universitário, altamente qua- lificados, valorizados e respeitados. A valorização e o reconhecimento daqueles que atuam no ensino fundamental e médio, especialmente, parecem óbvios para nós aca- dêmicos, para setores essenciais da sociedade que necessitam de profissionais qualificados EducadorEs lutam por um país mais humaNo E igualitário Professores, alicerces para uma “pátria educadora” © d o lla r p h o to c lu b UnesPCiênCia6 VaNdErlaN da silVa BolzaNi Educação lebrar neste dia tão significativo – o Dia do Professor. Nos países desenvolvidos, mesmo sendo afetados pelas crises globais atuais de toda a magnitude, o sistema educacional se mantém robusto, pela certeza de que só um sistema de educação sólido em todos os níveis é o caminho mais curto e eficaz para formar jovens bem qualificados, aptos a enfrentarem os desafios profissionais que o mundo global exige. Edu- cação fundamental de excelência é o primeiro ciclo de um processo longo e fascinante – o conhecimento humano. Não obstante os avanços alcançados nos últimos anos, ainda, não temos consolidado o sistema de educação nacional, essencial para o porvir social e econômico, especial- mente para alicerçar uma ciência, tecnologia e inovação de excelência. Neste dia, todos os professores devem, como celebração pelo seu dia, fazer uma vigília nacional pela Educação, Ciência, Tecnologia e Inovação. Avançamos, mas não temos ainda este sistema educacional almejado, portanto, qualquer retrocesso pode significar um colapso no que um país tem de mais edificante, a sua excelência educacional. Presenciamos melhorias substanciais na edu- cação com a criação da Capes, e, na pesquisa, com a criação do CNPq e das Fundações Es- taduais de Apoio à Pesquisa, tendo a Fapesp como iniciativa inspiradora nesta modalida- de. No entanto, em que pesem os expressivos avanços conquistados nos últimos anos, o país ainda enfrenta grandes obstáculos resultantes de nossas matrizes históricas e sociais. Entre eles, sem dúvida, o mais difícil de ultrapassar é o da educação no ensino fundamental e mé- dio, uma das nossas limitações e que restringe o avanço econômico e social, devido à falta de uma base educacional sólida em grande escala. Em momentos de crise econômica é im- perativo ousadia e sensibilidade política e institucional. O sistema de ensino brasileiro atual é um sério entrave ao desenvolvimento econômico que o Brasil demanda a curto e médio prazo. A falta de acesso à educação de qualidade para todos nos coloca em grande desvantagem em comparação aos países que, como nós, constituem o bloco dos chamados em desenvolvimento. Acredito que o dia de hoje pode ser um dia de reflexão sobre as dificuldades econômicas, políticas e institucionais vigentes, tangíveis aos nossos olhos, mas nada que não possa ser ad- ministrado a contento, se houver sensibilidade política dos Poderes Executivo e Legislativo. Como professores, a comemoração de hoje passa por sonhar que um dia ainda teremos a excelência do sistema de educação nacional em todos os Estados da federação. No dia 15 de outubro de 2014 escrevi o texto “Professores para o bem do Brasil”, publicado no Jornal da Ciência on-line, para homenagear os professores. O texto tratava da importân- cia de uma população educada para escolher seus representantes num processo eleitoral democrático. Hoje, após um ano, continuo acreditando que a melhor forma de comemorar o Dia do Professor é ampliando a discussão sobre a valorização profissional e o reconhecimento do trabalho de educadores mal remunerados, desestimulados e sem grandes perspectivas de melhoria da carreira em curto e médio prazo. Essa tarefa não é, seguramente, algo abstrato e impreciso. Ela passa concretamente por ações conjunturais mais ousadas, como revisão de grades curriculares, evasão escolar, condições de trabalho profissional, infraestrutura das es- colas e pela identificação da devida importân- cia que o professor tem nas ditas “sociedades do conhecimento”. Por fim, neste dia, meus cumprimentos a todos os mestres pelo seu dia. Que esta men- sagem seja portadora de esperança a todos os professores do Brasil que lutam por um país mais humano e igualitário. Vanderlan da Silva Bolzani é professora titular do Instituto de Química da Unesp e diretora da Agência Unesp de Inovação da Unesp. Este artigo foi publicado originalmente no Estadão Noite de 15 de outubro de 2015. Não oBstaNtE os aVaNços alcaNçados Nos últimos aNos, aiNda, Não tEmos coNsolidado o sistEma dE Educação NacioNal © d o lla r p h o to c lu b UnesPCiênCia 7 Pesquisa Esse período registra uma marcante movi- mentação jovem transnacional influenciada pela contracultura, cujo ideário difundido circulava via música, livros e publicações. Também po- demos identificar neste momento histórico, o desenvolvimento do mercado de bens simbólicos no Brasil, impulsionando tanto a indústria fono- gráfica, que atravessava um período de expansão e afirmação, como o mercado editorial de pu- blicações periódicas, também em crescimento. É nesse contexto que Rolling Stone chega às bancas, destinada ao público jovem e com per- fil de revista especializada, que tratava em seu conteúdo de informações e notícias da movimen- tação em torno de rock, MPB e contracultura. C leber Sberni Junior defendeu, na Facul- dade de Ciências Humanas e Sociais (FCHS) da Unesp, em Franca, a pesquisa de doutorado em História Imprensa e música no Brasil: Rock, MPB e contracultura no periódico Rolling Stone – 1972. O presente texto teve por intuito estudar a revista Rolling Stone, editada no Brasil entre dezembro de 1971 e janeiro de 1973. Especi- ficamente, procurou-se, ao longo do trabalho, analisar a forma como a revista integrou a cena do rock carioca do início da década de setenta, ao promover e registrar a atividade de artistas, colaborando para a difusão do rock produzido por aqui. Estudo é sobrE MPb E ContraCultura no PEriódiCo rolling stonE Pesquisa enfoca imprensa e música no Brasil © w w w .m em o ri al d ad em o cr ac ia .c o m .b r 1 UnesPCiênCia8 Pesquisa De fato, os gêneros predominantes em suas páginas são o rock internacional, o rock pro- duzido no Brasil e a MPB de influência tro- picalista. Em sua breve existência, 36 edições foram comercializadas em bancas de jornal, e como veículo a revista possuiu um alcance de circulação nacional, prestando-se a fornecer informações sobre o panorama geral da cena musical, através de artigos, entrevistas e re- senhas de discos. Os textos publicados na revista apontam para aproximações entre o rock e a MPB. Fi- ca evidente como a publicação, ao longo de suas edições, procurou dar visibilidade a uma movimentação de grupos de rock iniciantes e artistas que compartilhavam da valorização da contracultura e do diálogo com o rock. Pode-se também afirmar que a revista faz parte da cena musical que ela mesma ajudava a fomentar, evocando momentos, valorizando experiências e eventos musicais, reclamando espaço para o rock e as bandas integrantes da cena. Ou seja, Rolling Stone se prestou a consolidar um circuito musical para o rock, atuando na construção de um público para esse gênero no país. Comissão Examinadora Tânia da Costa Garcia – Orientadora José Adriano Fenerick – FCHS/Unesp/Franca Fabiana Lopes da Cunha – Unesp/Ourinhos Márcia Regina Tosta Dias – UNIFESP Frederico Oliveira Coelho – PUC/Rio © w w w .m em o ri al d ad em o cr ac ia .c o m .b r 1 Clube da Esquina surgiu da grande amizade entre Milton Nascimento, e os irmãos Borges (Marilton, Márcio e Lô) 2 Secos & Molhados se tornaram um dos maiores fenômenos da música popular brasileira 3 Tropicália foi um movimento musical que reunia compositores como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Torquato Neto, Capinam, Rogério Duprat e a revolucionária banda de rock “Os Mutantes” 4 Raul Seixas foi um dos pioneiros do rock brasileiro2 3 4 rolling stonE ChEgou às banCas dEstinada ao PúbliCo jovEM E CoM PErfil dE rEvista EsPECializada UnesPCiênCia 9 Economia A “guerra cambial” foi alertada, em 2010, pelo ex-ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, para descrever as oscilações bruscas das moedas norte-americana e chinesa. Àquela altura, estávamos vivendo um momento em que desvalorizar moedas vinha tornando-se estratégia global para enfrentar a crise financei- ra. A expressão “guerra cambial”, rejeitada pelo FMI, agora volta à tona com o temor sobre a de- saceleração da economia chinesa. Se voltarmos alguns anos, especificamente ao ápice da crise financeira internacional (2008-9), é possível notar que a tática de desvalorizar o câmbio foi usada por diversos países – inclusive os Esta- dos Unidos e o Japão – para se livrar da crise. Em 2008-9, os Estados Unidos foram os primeiros a adotarem o afrouxamento quanti- tativo. O abrandamento da política monetária O pApEl dAs pOlíticAs cAmbiAis Está intimAmEntE ligAdO às pOlíticAs quE EstimulAm O crEscimEntO dA dEmAndA intErnA E dAs ExpOrtAçõEs Guerra cambial? Dos Estados Unidos à China norte-americana causou uma forte expansão monetária, somada à taxa de juros baixa e ao enfraquecimento do dólar. Como consequên- cia, sentimos a valorização da moeda brasileira e a redução das nossas exportações, uma vez que o dólar mais barato é sinônimo de produto nacional mais caro no exterior. Como resposta, diversos governos intervieram no mercado de câmbio, caracterizando o momento de estratégia global como uma “guerra cambial”. O governo japonês, por exemplo, interferiu no mercado de câmbio como não fazia desde 2004, em um esforço para reduzir o valor do iene em relação ao dólar. No Brasil, o governo impôs controles de capital e ameaçou uma intervenção direta, a fim de suprimir a nova apreciação do real (que àquela altura estava próximo a 1,70 real em relação ao dólar). Outros países como, por UnEspCiênCia10 rEnAtO xAviEr Economia exemplo, a Coreia do Sul, Taiwan e a Tailândia adotaram medidas semelhantes em resposta aos grandes influxos de capital. Na Europa, críticas foram feitas à estratégia de flexibilização quanti- tativa norte-americana, como medida projetada para orientar a taxa de câmbio do dólar artifi- cialmente para baixo com a ajuda de altíssimas quantidades de moeda impressa pelo Federal Reserve (o BC dos EUA). Em 2010, o governo alemão afirmava a falta de coerência “quando os norte-americanos acusam a China de mani- pulação cambial e, em seguida, orientam a taxa de câmbio do dólar artificialmente baixa com a ajuda do seu Banco Central”. Em 2015, o temor do mercado em relação às ações do governo chinês é exatamente o mesmo que ocorria em 2008-9 em relação aos Estados Unidos. Em ambos os casos, a falta de harmonia macroeconômica é considerada uma das principais causas a gerar distorções. Além disso, a excessiva proteção do mercado doméstico, recorrente em períodos de crise, pode, em última instância, afetar o comércio internacional. Embora os Estados Unidos acusem os chi- neses de “manipuladores de moeda”, a liqui- dez internacional causada pelo Banco Central norte-americano, lá atrás na crise financeira dos sub primes, também causou distorções e protegeu as empresas nacionais. Portanto, tanto nos Estados Unidos quanto na China, o papel das políticas cambiais está intimamente ligado às políticas que estimulam o crescimento da demanda interna e das exportações. No Brasil o sinal de alerta está ligado, apesar da latente vulnerabilidade da nossa economia. Renato Xavier é pesquisador do Programa de Pós- -Graduação San Tiago Dantas (Unesp, Unicamp e PUC – SP) em Relações Internacionais (RI) e integra o NEAI – Núcleo de Estudos e Análises Internacionais. Este artigo foi publicado originalmente no Estadão Noite de 27 de agosto de 2015. © d o lla p h o to c lu b UnEspCiênCia 11 Saúde EvEnto quE diScutE SíndromE rara rEúnE maiS dE 500 participantES Família Williams UnespCiênCia12 daniEl patirE, mariStEla GarmES E oScar d’ambroSio Saúde a Síndrome de Williams é uma desordem genética do cromossomo 7 que atinge crianças de ambos os sexos e que pode levar a diversos problemas de desenvolvimento. De 30 de outubro a 2 de novembro, a ABSW – As- sociação Brasileira de Síndrome de Williams realizou o 7º Encontro Nacional da Síndrome de Williams e o 1º Workshop Internacional de Síndrome de Williams. Danilo Moretti Ferreira, professor do Ins- tituto de Biociências da Unesp de Botucatu, é presidente dos eventos, que tiveram mais de 500 inscritos do Brasil, da Espanha e do Paraguai. “Pais, associações, profissionais de saúde e pesquisadores, entre outros interes- sados no tema, puderam compartilhar expe- riências”, disse. A doença, que também é conhecida como Síndrome de Williams-Beuren, ganhou esse nome graças aos médicos que primeiro a des- creveram: o neozelandês J.C.P. Williams (1961) e o alemão A. J. Beuren (1962). Sua taxa de incidência é de aproximadamente uma a cada 20 mil pessoas em todo o mundo. UnespCiênCia 13 © d an ie l p at ir e e Jo sé m at eu s v ie ir a Saúde palEStraS Na conferência de abertura, dia 30 de outubro, Children with Williams Syndrome: Patterns and Developmental Trajectories, Carollyn B. Mervis, do Dept. of Psychological & Brain Sciences University of Louisville, Louisville, KY – USA, ressaltou a independência entre linguagem e cognição. Apontou que entre as dificuldades dos portadores estão o desen- volvimento da habilidade de desenhar, usar preposições, conjunções complexas e manter conversas. “Por outro lado, apresentam grande sociabilidade e habilidade musical”, contou. Cérebro e Cognição na Síndrome de Willia- ms: dos determinantes neuroanatómicos e cog- nitivos à prática clínica foi o tema de Adriana da Conceição Soares Sampaio, da Escola de Psicologia, Universidade do Minho, Braga, Portugal. “A desordem genética que origina a síndrome leva geralmente a problemas cardio- vasculares e renais, podendo causar também o desenvolvimento irregular do cérebro”, explicou. Em The importance of cross-syndrome comparisons of development for a deeper un- derstanding of Williams syndrome, Dagmara Dimitriou, Director do LILAS Lab: Lifespan Learning & Sleep Lab Department of Psycho- logy and Human Development, Institute of Education – University College London, Uni- ted Kingdom, destacou que a infância é um período de grandes mudanças para todas as crianças. “Para aquelas que têm a Síndrome, há o desenvolvimento de certas característi- cas como a obsessão por objetos, mas há va- riações de pessoa para pessoa. Como nada é estático em biologia e psicologia, comparar os SW com portadores de outras síndromes é cientificamente muito importante, na bus- ca de semelhanças e diferenças”, esclareceu. How Music Can Benefit Verbal Memory in Williams Syndrome foi o tema de Melissa K. Jungers e Marilee A. Martens, do Department of Psychology, Nisonger Center The Ohio State University Columbus, OH – USA. Além de relatar como ocorre a relação de adultos, mú- sicos, não músicos e crianças com a música, mostrou como o ambiente é fundamental para desenvolver a habilidade de portadores de SW Mesa de abertura no evento, presidido pelo professor Danilo Moretti Ferreira, do Instituto de Biociências da Unesp de Botucatu UnespCiênCia14 daniEl patirE, mariStEla GarmES E oScar d’ambroSio © d an ie l p at ir e e Jo sé m at eu s v ie ir a Saúde com a música. “É preciso estudar como a mú- sica é absorvida pela nossa mente”, afirmou Melissa. “É ótimo compartilhar esses estudos das mais variadas formas”, completou Marilee. Cardiovascular Disease in Williams Syndro- me: What Everyone Needs to Know foi o tema da apresentação de R. Thomas Collins, II, do Arkansas Children’s Hospital The Division of Cardiology Little Rock, AR – USA. O pesqui- sador lembrou que 80% dos SW apresentam anormalidades cardiológicas. “É uma ques- tão crucial para os pais desde o nascimento. Por isso, é necessário realizar mais pesquisas e divulgar e discutir o que vem sendo feito”, declarou. A palestra Sleep, the Achilles’ Heel of brain development, de Ilona Kovács, do Department of General Psychology Peter Pazmany Catholic University (PPCU), Budapest, Hungria, encer- rou o primeiro dia de atividades. Ela fez uma analogia com a cerâmica, mostrando como é necessário formar os portadores da melhor maneira possível desde cedo para que não “quebrem” e destacou a importância do sono 1 Carollyn B. Mervis, da University of Louisville, EUA: trajetórias de desenvolvimento de portadores da Síndrome 2 Abraham Urbon Pinto, da Asociación Síndrome de Williams de Cantabria, Espanha: atividades realizadas em parceria 3 Chong Kim, do Instituto da Criança da Faculdade de Medicina da USP: da descoberta às pesquisas atuais 1 2 3 UnespCiênCia 15 © d an ie l p at ir e e Jo sé m at eu s v ie ir a Saúde na forma de consolidar a aprendizagem. “Os SW têm sono irregular e isso prejudica a sua formação sensorial e motora. Ter consciência disso, buscar melhorar os hábitos de sono e utilizar técnicas alternativas, como ioga, são caminhos que devem ser buscados”, finalizou. Dia 2 de novembro, na sua Conferência de Encerramento, intitulada Qual o Futuro e Pers- pectivas para a Síndrome de Williams?, Chong Kim, do Instituto da Criança da FM – USP, especialista em Genética Humana e Médica e Genética Clínica, fez uma síntese da Sídro- me desde a sua descoberta até as pesquisas atuais. Além de ressaltar o comportamento amigável e a aptidão musical, como fatores positivos, e cardiopatia, como grande risco à vida dos SW, aconselhou medidas periódicas de pressão como forma de prevenir a hipertensão precoce. Também destacou a importância da formação de equipes multidisciplinares para lidar com a doença, formadas por psicólogos, fisioterapeutas e fonoaudiólogos. “Meus dois sonhos são a criação de um centro de doenças genéticas e a formação de uma Banda Musical com pessoas com SW”, declarou. No dia do encerramento, houve ainda depoi- mentos dentro da temática Eu Tenho a Síndrome de Williams. Num deles, Victoria Schneider, do Espírito Santo, 17 anos, declarou que já sofreu, como muitos que têm a Síndrome, preconceito e bullying. “Quem faz isso não tem coração. Ser diferente é ser totalmente normal. Diferença não é defeito”, alertou. Encontro dE aSSociaÇÕES Encontro Internacional das Associações de Síndrome de Williams e núcleos brasileiros Dia 31 de outubro, nas Faculdades Oswal- do Cruz, ocorreu o Encontro Internacional das Associações de Síndrome de Williams e núcleos brasileiros. Sob coordenação geral de Silvia Franco e Luis Valamede, houve breves apresentações de grupos da Espanha, Pará, Es- pírito Santo, Paraná, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Brasília, Goiás, Bahia e Rio de Janeiro. Tesoureiro da Asociación Síndrome de 4 5 4 Durante o evento houve atendimento e exames a portadores da Síndrome 5 Oficinas foram muito importantes para pais, cuidadores e pesquisadores 6 Victoria Schneider fez depoimento contra bullying e preconceito UnespCiênCia16 daniEl patirE, mariStEla GarmES E oScar d’ambroSio Saúde Williams de Cantabria, Espanha, Abraham Ur- bon Pinto relatou que as atividades começaram em 2010 com cinco famílias. Hoje são 10. O principal objetivo, além de apoiar as pessoas com a Síndrome, é divulgar a sua existência. Contou ainda as atividades realizadas em par- ceria com diversas universidades do seu país e de Portugal, destacando aulas filmadas em que os pais podem conhecer melhor os pon- to fortes e fracos de seus filhos. “Batalhamos muito para conseguir recursos, por meio de doações espontâneas e eventos”, disse. Ligia Lopes, da Associação Paraense de Síndrome de Williams, de Castanhal, PA, fez um histórico de suas dificuldades e das associadas para conseguir diagnóstico e aten- dimento. Em 2014, um encontro regional reu- niu 200 pessoas de 15 cidades. “Mas temos ainda muito a fazer para tornar a Síndrome mais divulgada, o que ajudaria na obtenção de recursos”, comentou. Do Espírito Santo, Ana Maria Schneider Feitoza e Antonia Alzira de Almeida narraram suas experiências como mães de pessoas com a Síndrome. Reforçaram a necessidade de os familiares se encontrarem para conhecer melhor as forças e fraquezas dos seus filhos. “A inclusão precisa ser construída; e as Asso- ciações regularizadas e consolidadas são um caminho para isso”, afirmou Alzira. Luciane Brito, do Paraná, relatou que hoje os encontros locais reúnem 43 famílias. Ela argumentou que a entrada de jovens com SW no mercado de trabalho ainda é uma barreira devido ao preconceito e à falta de informação dos empregadores. “A deficiência não é dos nossos filhos, mas da sociedade. Precisamos nos organizar mais, pois uma pessoa tem voz, mas não o direito a voto em questões públicas comportamEnto amiGávEl E aptidão muSical convivEm com riSco dE cardiopatiaS E hipErtEnSão prEcocE 6 UnespCiênCia 17 © d an ie l p at ir e e Jo sé m at eu s v ie ir a Saúde Durante o Encontro, houve oficinas para crianças e apresentações musicais UnespCiênCia18 daniEl patirE, mariStEla GarmES E oScar d’ambroSio © d an ie l p at ir e e Jo sé m at eu s v ie ir a Saúde que uma Associação ganha ao ser reconheci- da”, alertou. Do Estado de Minas Gerais, Márcia Nóbre- ga Resende contou as parcerias estabelecidas com a Universidade Federal de Minas Gerais, inclusive com os pais de pessoas com SW dando cursos na instituição para que alunos e professores se sintam motivados a estudar mais a Síndrome. “Como a doença é rara, somente divulgando a sua existência será possível es- timular pesquisadores a conhecê-la cada vez mais cientificamente”, acredita. “Essa união é essencial”, enfatizou Ana Rosa de Carvalho Silva, de Itaberaba, BA. cErimÔnia dE abErtura Representando o governador Geraldo Alckmin e a secretária dos Direitos da Pessoa com De- ficiência, Linamara Battistella, Cid Torquato, secretário adjunto da pasta, ressaltou, na aber- tura do evento, dia 30 de outubro, em São Pau- lo, SP, a importância desse tipo de evento para discutir e dar visibilidade a questões envolvendo as mais variadas deficiências. “Este tipo de ini- ciativa merece todo tipo de apoio”, comentou. Carolina Lourenço Reis Quedas, mestre em Distúrbios do Desenvolvimento e Técnica do Núcleo de Apoio Pedagógico da Secretaria de Educação, representou o secretário Herman Ja- cobus Cornelis Voorwald, e enfatizou a impor- tância das atividades a serem desenvolvidas por quatro dias. “Trata-se de um evento de grande importância para discutir a deficiência”, disse. Maria Cristina Trigueiro Veloz Teixeira re- presentou o reitor da Universidade Presbite- riana Mackenzie, Benedito Guimarães Aguiar Neto. Ela é uma das coordenadoras gerais das Oficinas para Pais e Familiares. “Discutir com os pais e mães, tirar dúvidas e trazer conheci- mentos científicos foram os pontos altos destes quatro dias”, afirmou. Washington Rocha, presidente da ABSW, mencionou os esforços da comissão organiza- dora do evento e manifestou a certeza de que as palestras e oficinas são muito importantes para os pais e mães de pessoas com a Síndro- me. “Trata-se de um esforço muito grande, mas que vale a pena”, disse. Uma das fundadoras da ABSW, Jô Nunes mencionou o trabalho incessante das mães de portadores da Síndrome. “O importante é nunca desistir, falando com universidades e autoridades para conseguir melhores con- dições de diagnóstico, atendimento e de vida para nossos filhos”, lembrou. Vice-presidente do evento e coordenado- ra geral das Oficinas para Pais e Familiares, Adriana Buher reiterou seu contentamento em participar da cerimônia. “É um momento muito importante que reúne pesquisadores internacionais, palestrantes nacionais e ati- vidades dedicadas às associações de pais de Williams”, relatou. Silvana Nascimento, tesoureira da ABSW, falou como fundadora da Associação e in- tegrante do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência do Município de São Paulo. “Nestes dias é possível divulgar pesquisas e conhecer melhor diversos aspectos da Síndro- me. Isso é fundamental para todos os pais e mães”, declarou. O evento teve apoio de Fapesp, Capes, Olym- pus, Lexel, Unesp, Universidade Presbiteriana Mackenzie e Sociedade Brasileira de Genética. oFicinaS Dia 1º de novembro, sob coordenação da Dra. Adriana Buher e de Maria Cristina Trigueiro Veloz Teixeira, ocorreram Oficinas para Pais e Familiares. Foram realizadas nove atividades. Sexualidade foi o tema do Dr. Renê Schu- bert, psicólogo clínico e psicanalista de São Paulo/SP. Ele ressaltou a importância da edu- cação sexual como forma de coibir tentativas de abuso sexual e lembrou que pessoas com necessidades especiais têm sexualidade, que as dúvidas devem ser discutidas com os pais, durantE quatro diaS, houvE diScuSSão com paiS E mãES, oportunidadES dE tirar dúvidaS E divulGaÇão dE conhEcimEntoS ciEntíFicoS UnespCiênCia 19 © d an ie l p at ir e e Jo sé m at eu s v ie ir a Saúde entre as crianças e com a sociedade. “Muitas vezes é o pai que acha que uma pergunta não deve ser respondida ou simplesmente se omite. Essa atitude pode ter consequências negati- vas”, afirmou. No mesmo horário, houve ainda oficinas da enfermeira Zenilda Martins, que atua na Associação dos Familiares, Amigos e Portadores de Doenças Graves, e de Genética e Aconselhamento Genético, da Dra. Rachel Honjo, do Instituto da Criança – FM/USP, especialista em genética médica e pediatria. O assunto Odontologia foi desenvolvido pela Profa. Dra. Marina Helena Cury Gallottini, da Faculdade de Odontologia da USP, que atende pacientes e desenvolve pesquisas no Centro de Atendimento a Pacientes Especiais da instituição. “Em pessoas com SW, altera- ções da forma, número e posição dos dentes são frequentes, sendo comum, por questões genéticas, um quadro de dentes espaçados e menores”, comentou. Educação, pela professora SOBRE A SÍNDROME DE WILLIAMS A Síndrome de Williams é uma rara desordem genética frequente- mente não diagnosticada. Não é transmitida geneticamente. Não tem causas ambientais, médicas ou influência de fatores psicossociais. Tem impacto sobre diversas áreas do desenvolvimento, incluindo a cognitiva, a comportamental e a motora. Estima-se que uma em cada 20.000 crianças nasça com SW. Foi descrita pela primeira vez em 1960 por um médico neoze- landês, Dr. J. C. P. Williams, quando verificou que um grupo de pacientes pediátricos possuía sintomas parecidos, problemas cardio- vasculares, rostos com características semelhantes, atraso mental moderado, dificuldade para ler, escrever e efetuar operações mate- máticas. Alguns possuíam extraordinário talento musical com alta noção de ritmo. Afeta tanto homens como mulheres. Pode ocorrer em qualquer lugar do mundo e em qualquer grupo étnico. A maioria das crianças têm grandes dificuldades de alimentação no primeiro ano de vida, incluindo vômitos e recusa de alimen- tação, podem mostrar grande irritação e chorar excessivamente. Geralmente apresentam uma face característica (descrita como a de um duende): nariz pequeno e empinado, cabelo encaracolado, lábios cheios, dentes pequenos, sorriso frequente. A incidência de pessoas com Síndrome de Williams no Brasil é de uma a cada 7.500 nascimentos. O Censo 2010 apontou que dos 145.623.910 habitantes no Brasil, há 19.417 pessoas com Síndro- me de Williams. Por se tratar de uma doença rara e pela falta de conhecimento dos profissionais, o diagnóstico acaba sendo tardio e muitas vezes acaba nem sendo feito. Esses números evidenciam a dimensão quantitativa do fenômeno da falta de divulgação e ca- pacitação de profissionais no Brasil. Os aspectos e consequências sociais, psicológicas e econômicas extrapolam esses números. A percepção de que as questões das pes- soas com Síndrome de Williams no país precisam ser consideradas em todas as políticas sociais e econômicas é assumida por gran- de parte dos governantes em nosso país. A sociedade e o governo brasileiros têm consciência de que a construção de uma sociedade democrática e inclusiva depende de que o segmento deste público seja considerado como parte integrante da cidadania brasileira. UNESpCIêNCIA20 Saúde Dalva Alves Santana, da Prefeitura Municipal de São Paulo; e Emoção e Comportamento, pela Dra. Iara Léda Brandão de Almeida Pereira, neurologista, e Dra. Patrícia Gouveia Ferraz, psiquiatra, foram outros tópicos debatidos. A Cardiologia foi tratada pelo Dr. Bruno Vo- gas Lomba Tavares, de Petrópolis/RJ. “É muito importante que os pais busquem orientação adequada e pesquisem muito para poder levar informações para os médicos de seus filhos, pois a maioria dos profissionais não conhece as doenças raras. No caso de pessoas com SW, devido à questão genética, a ausência de elastina pode levar a ter vasos menos flexíveis, gerando quadros de estenose (estreitamento) da região da aorta e de pressão alta que, se não houver o devido acompanhamento, podem le- var a óbito”, registrou. Adriana Buher e Maria Cristina Trigueiro Veloz Teixeira realizaram ainda ampla discussão com pais e familiares sobre a Síndrome; e o assunto Qualidade de Vida foi enfocado sob coordenação do Prof. Dr. Luiz Renato Rodrigues Carreiro, da Uni- versidade Presbiteriana Mackenzie. Houve ainda a oficina de Fonoaudiologia, com Natalia Freitas Rossi, da Unesp de Ma- rília, que focou a problemática da hiperacusia, que consiste na tolerância reduzida a sons, como buzinas, fogos de artifício ou liquidi- ficador, e explicou o papel do fonoaudiólogo na avaliação, diagnóstico e intervenção. “A dificuldade de sucção, mastigação e controle de saliva também são questões importantes que podem ser tratadas em nossa área, assim como a capacidade de narrar histórias, com es- tímulos como ler histórias e, ao mesmo tempo, mostrar as imagens”, exemplificou. Família e o Indivíduo com SW foi o debate coordenado por Jô Nunes, Presidente de Honra da ABSW; e Estimulação Funcional e Autonomia foi o assunto desenvolvido por Priscila Jardim Ci- nalle, fisioterapeuta. Informações: . Comissão organizadora do evento foi homenageada UnespCiênCia 21 © d an ie l p at ir e e Jo sé m at eu s v ie ir a Agronomia dade existente no solo, e da porosidade que favorece o caminhamento descendente da água no perfil. Quanto maior essa porosidade, maior a quantidade de água infiltrada. A forma como a vegetação afeta o processo de infiltra- ção é decisiva sobre sua eficácia na reposição de água que deverá abastecer os mananciais. Do ponto de vista exclusivo da infiltração, parece não haver dúvidas de que a vegetação rasteira, tipicamente constituída por gramíneas, com o sistema radicular fasciculado, ativo ou decomposto, deve proporcionar caminhos muito mais numerosos e eficazes para a infiltração do que uma vegetação arbórea, com suas es- cassas e volumosas raízes axiais ou pivotan- tes. O crescimento dessas raízes exerce uma força de compressão, que deverá resultar em diferentes graus de compactação, reduzindo a porosidade natural existente no solo. Outro aspecto, diretamente associado à quan- U ma prática, em geral, recomendada para proteger e, assim, assegurar a perenização dos mananciais hídricos consiste na reposição da vegetação arbórea nas áreas de entorno dos mananciais, uma prática conhecida como “re- composição da mata ciliar”. A denominação “mata” implica na presença predominante de uma vegetação arbórea, constituída, preferen- cialmente, por espécies adaptadas ao habitat considerado. Assim, a recomposição incorpora todas as providências necessárias para repovoar aquele espaço reconhecidamente degradado. Para assegurar a perenização dos mananciais, é indispensável promover a recarga hídrica no solo, através do processo de infiltração. Portanto, torna-se oportuno promover uma análise compa- rativa entre o potencial de infiltração associado à vegetação que recobre o espaço a ser recomposto. O processo de infiltração da água no solo manifesta-se em função da condição de umi- Para assegurar a Perenização dos mananciais, é indisPensável Promover a recarga hídrica no solo, através do Processo de infiltração a controvérsia na recomposição da mata ciliar unesPciência22 EdmAr José scAloppi © J o e m ab el /W ik im ed ia c o m m o n s Agronomia tidade de água infiltrada, refere-se ao tempo de oportunidade para infiltração. Novamente, a presença da vegetação rasteira dificulta o escoamento superficial, aumentando a opor- tunidade para a água infiltrar-se. Certamente, este processo será menos significativo em po- voamentos arbóreos, uma vez que as árvores encontram-se razoavelmente espaçadas, além de limitar o crescimento da vegetação rasteira. Um sistema radicular axial ou pivotante po- de aprofundar-se a consideráveis distâncias no perfil do solo, enquanto as raízes fasciculadas de uma vegetação rasteira raramente ultra- passam 30 ou 40 cm de profundidade. Assim, as árvores conseguem extrair água a maiores profundidades, mantendo ativo o processo de transpiração, o que deve reduzir a água no sub- solo. Por outro lado, quando ocorre uma redu- ção sazonal no teor de umidade nas camadas superficiais do solo, a vegetação rasteira entra em repouso vegetativo até a próxima estação chuvosa, preservando, portanto, a água exis- tente nas camadas mais profundas do perfil. Por essas razões, talvez fosse mais sensato, em um processo de recomposição da “vegetação ciliar”, apenas isolar as áreas de entorno dos ma- nanciais, para permitir a recomposição natural e espontânea das espécies vegetais, rasteiras, ar- bustivas e arbóreas, já adaptadas àquele habitat, sem interferência humana. Em locais extrema- mente degradados, onde a recuperação natural pode ser dificultada, poderá haver a necessidade de intervenção, para proporcionar as condições necessárias à sua desejável recomposição. A formA como A vEgEtAção AfEtA o procEsso dE infiltrAção é dEcisivA sobrE sUA EficáciA nA rEposição dE ágUA qUE dEvErá AbAstEcEr os mAnAnciAis unesPciência 23 Edmar José Scaloppi é professor da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp, Câmpus de Botucatu, SP. Este artigo foi publicado originalmente no Estadão Noite de 19 de agosto de 2015. Agricultura em altas doses, podem ser estimulantes em doses muito baixas. Isto se chama Hormese, mas este é um outro assunto. Tem-se constatado níveis acima do desejado de alguns ingredientes ativos nos seres humanos. Será que alguém já pensou que esse aumento poderia estar relacionado com a dengue? As pessoas passam os inseticidas em quartos fe- chados, e até no corpo, diretamente, porque não querem ser atacadas pelos mosquitos. O pesticida, no caso, como é protetor, não é tido como veneno. É usado diretamente no corpo, nas crianças, nos adultos, e quem sabe até no cachorrinho, de uma forma exagerada. Se o índice de câncer está aumentando em função do consumo de hortaliças e frutas su- postamente fora dos padrões, isto quer dizer que o nosso índice de consumo destes produtos está aumentando? A OMS recomenda consu- mirmos ao menos 400 g/dia de frutas e horta- É incrível como muitas pessoas, e a mídia em geral, tratam como venenos... os de- fensivos agrícolas. Será que os antibióticos, os medicamentos que tomamos quando necessá- rio, seriam também venenos? Afinal, o que é um veneno? Paracelsus (ou Aureolus Philippus Theophrastus Bombastus Von Hohenheim – que viveu entre 1493 e 1541), tido por muitos como o pai da toxicologia, lançou o conceito de que o veneno depende da dose. Ou seja, tudo é veneno e não é veneno, dependendo da dose. Assim, qualquer elemento tóxico é seguro em baixas doses. O fato é que este é o caso dos produtos farmacêuticos, e também dos pesticidas. Por exemplo, atualmente se discute a questão do sal na mesa dos restaurantes. O sal também, em dose elevada, é veneno, bem como o açúcar em doses elevadas, porque pode matar. Mais ainda, algumas substâncias, embora tóxicas Quando usados na dose correta, os defensivos agrícolas são inócuos ao ser humano Paracelsus e os venenos unesPciência24 Rumy Goto e CiRo A. Rosolem Agricultura nado de defensivos agrícolas é crime. É bom lembrar, ainda, que quando usados na dose correta os defensivos agrícolas são inócuos ao ser humano. Lembra do Paracelsus? A grande verdade, que encontra resistên- cia em sua divulgação, pois o pecado é mais interessante que a virtude, é que a produção de hortaliças no Brasil tem utilizado cada vez mais as boas práticas agrícolas, para produzir mais e melhor, com qualidade para atender a nossa população. Afinal, ainda precisamos consumir muito mais hortaliças do que con- sumimos atualmente. tudo É veneno e não É veneno, dependendo dA dose. Assim, quAlqueR elemento tóxiCo É seGuRo em bAixAs doses liças, ou mais ou menos 150 kg/ano/per capita. No entanto, consumimos somente 40 a 42 kg por ano, isso na Região Sul/Sudeste, que dirá na Norte/Nordeste, onde o consumo é muito baixo, 16 kg. Na Itália se consomem cerca de 160 kg, nos EUA 99 kg e em Israel 73 kg. Um pesquisador do INCA (Instituto Nacional do Câncer) relatou que o consumo de hortaliças e frutas de boa procedência é um excelente mé- todo preventivo de combate ao câncer. É lamentável a total desinformação que existe e persiste. Desde o pequeno produtor até, e principalmente, o consumidor. Infeliz- mente os órgãos responsáveis pela divulgação, esclarecimento da população não têm tido a responsabilidade de construir bons artigos, reportagens com qualidade jornalística séria. Normalmente as reportagens exploram os pontos negativos da produção de hortaliças e frutas. É bom lembrar que o uso indiscrimi- © d o lla r p h o to unesPciência 25 Rumy Goto e Ciro A. Rosolem são professores da Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA) da Unesp de Botucatu. Televisão © D iv u lg aç ão UnespCiênCia26 Televisão A zulão é uma criatura azul carismática e agitada, de grandes sobrancelhas e olhar curioso. Um dia ele visita o laboratório de um antigo professor de seu pai, o cientis- ta Apolônio. A partir daí, tem início uma sé- rie de episódios divertidos e educativos onde aprender se torna pura diversão. E a proposta de Apolônio e Azulão – novo programa infantil da TV Unesp – é justamente essa: fazer com que as crianças aprendam brincando. A estreia foi dia 12 de outubro. O público- -alvo são as crianças entre 7 e 9 anos de ida- de. A primeira temporada terá 12 episódios, com duração de 15 minutos. Apolônio e Azulão mistura manipulação de bonecos e animação. No laboratório do Apo- lônio, os personagens vivem situações que vão aguçar a curiosidade do Azulão. São dúvidas muito frequentes entre as crianças: como fun- cionam as câmeras fotográficas? Como nasce uma planta? O que são as fases da Lua? Como viviam os dinossauros? E o Apolônio responde a todas elas, de maneira bem didática e rica- mente ilustrada. Além de se divertirem assistindo às aven- turas de Apolônio e Azulão, as crianças tam- bém vão poder interagir com o programa por meio do controle remoto da televisão. Cada episódio tem um momento “game”, em que é possível ajudar os personagens a resolver um problema. Utilizando botões do controle remoto, é possível encaixar peças, capturar objetos, selecionar respostas, ligar coisas. Pa- ra interagir é necessário que o televisor seja digital do tipo DTVi – com o padrão Ginga de interatividade – ou possua um conversor para esse tipo de conteúdo. Mas, e se a TV não possuir o sistema? Não tem problema, os roteiros foram construídos de modo que o fluxo da narrativa não seja interrompido na hora dos jogos e as crianças se divirtam mes- mo sem utilizar a interatividade. É a primeira vez que um programa infantil seriado para televisão aberta é inteiramente planejado e produzido em Bauru. Todo o con- teúdo foi feito por funcionários e colaboradores da TV Unesp, desde a concepção, passando por roteiros, confecção e manipulação dos CRIANÇAS APRENDEM E SE DIVERTEM COM APOLÔNIO E AZULÃO programa infantil da TV Unesp inova com interatividade © D iv u lg aç ão UnespCiênCia 27 Televisão bonecos, dublagem dos personagens, cená- rio, animações, música e programação para interatividade. Os bonecos dos personagens Apolônio e Azulão foram criados pelo estudante de De- sign da Unesp Mateus Russolo. Azulão é um misto de gente com boneco de pelúcia. Suas sobrancelhas largas e peludas enfatizam o olhar curioso, característico de crianças na faixa dos 7 aos 9 anos. Já Apolônio é um velhinho sábio e simpático, de fala doce e paciente. A inspi- ração veio de programas que utilizam com su- cesso a manipulação de bonecos na televisão, como os Muppets e Vila Sésamo. “Acho que, como designer, o desafio era fazer com que os bonecos despertassem nas crianças esse desejo de querer saber mais sobre as coisas. Foi um projeto que chegou pequeno à TV e com a ajuda de todos ele cresceu para chegar nesse resultado”, afirma Mateus. Já os roteiros foram elaborados pela produtora de conteúdo Tathiana Saqueto. Os programas seguem basicamente três etapas: uma intro- dução ao tema, a partir da dúvida de Azulão; a resposta do professor Apolônio; e, por fim, a recapitulação. Cada episódio continua tam- bém na internet, onde há um aprofundamento do tema com jogos. “Todos os roteiros foram analisados por uma equipe de pedagogos e pro- dutores para garantir que a criança, ao assistir ou interagir, tenha o raciocínio estimulado e um aprendizado divertido”, explica Tathiana. A partir dos roteiros, foram desenvolvidas as animações e aplicações interativas. O processo envolveu os departamentos de Videografismo e Tecnologia da Informação. A possibilidade de criar e testar as aplica- ções interativas no projeto “Apolônio e Azu- lão” foi resultado do projeto Ginga BR.Labs, do Ministério das Comunicações, dentro do Programa de Estímulo ao Desenvolvimento do Padrão Nacional de Interatividade da Te- levisão Digital Brasileira – Programa Ginga Brasil. A TV Unesp está entre as 10 emisso- ras públicas brasileiras contempladas no edi- tal que previa a implantação de conteúdos e aplicações interativas. “A criança de hoje é PROGRAMA AJUDA A SUPRIR A CARÊNCIA DE AÇÕES VOLTADAS PARA O PÚBLICO INFANTIL NA TELEVISÃO ABERTA © D iv u lg aç ão UnespCiênCia28 Televisão muito mais ativa, já quer jogar, usa os tablets e smartphones. Então tivemos a preocupação de fazer um produto que seja mais condizente com essa realidade”, afirma o programador de interatividade Fábio Cardoso. Dar vida aos roteiros e aplicações interativas foi o trabalho do departamento de Videogra- fismo. Renato Quirino assina o desenho dos personagens, Vinicius Tavares, a animação e Lucas Azevedo, a cenografia. “O maior desa- fio foi conciliar a produção desse conteúdo, que normalmente fica a cargo de grandes es- túdios, com os programas que já produzimos normalmente para a grade da TV Unesp. Exigiu muita organização e dedicação dos profissio- nais”, afirma Lucas, que também é supervisor do departamento. Apolônio e Azulão conta também com trilha musical original. “A música foi concebida de modo que as letras variem conforme a curio- sidade do dia, mantendo-se o mesmo refrão, fácil e divertido. A ideia é que a criança se fa- miliarize com o tema a cada vez que assistir ao programa”, diz Ricardo Polettini, compositor, arranjador e intérprete, ao lado da vocalista Letícia Fernandes. Para a diretora da TV Unesp, Ana Silvia SERVIÇO Toda segunda às 12h30. Reapresentações às quartas, 11h30 e às sextas, 14h45. A TV Unesp pode ser assistida pela internet (www.tv.unesp. br). Em Bauru, a programação pode ser vista em sinal aberto pelo canal 45 UHF e 46.1 digital, e na NET no canal 18. Médola, a produção de um programa como Apolônio e Azulão ajuda a suprir a carência de programas voltados para o público infantil na televisão aberta. “É um programa interativo, que tem um formato próprio e uma estrutu- ra narrativa. Normalmente essas produções estão nos grandes centros, e isso é inovador para uma cidade do interior. É uma produção necessária em função da carência que se tem hoje de programação para o público infantil na TV aberta, além de ser um projeto muito original.” © D iv u lg aç ão UnespCiênCia 29 Dossiê Afrodescendentes Representação de Iemanjá no candomblé do Ile Ase Ijino Ilu Orossi: a de azul, Assabá. © W ik im ed ia C o m m o n s UnespCiênCia30 Dossiê Afrodescendentes MusiCAliDADes DA CulturA NegrA: perpetuAção De iDeNtiDADe ColetivA Luna Borges Berruezo o s aspectos culturais afro-brasileiros consolidaram as práticas religiosas ao longo da presença negra nas américas. a mu- sicalidade, seja ela presente nas manifestações populares, aparentemente com fundamentação religiosa, ou não, formou a base da identidade musical reconhecida como brasileira. Há de se reconhecer que o candomblé formado no contexto histórico brasileiro não é sustentado pelas mesmas estruturas sociais das etnias africanas, até porque a diversidade cultural e linguística que aqui chegou não possibilitaria encontrar um padrão ou modelo único para esta disseminação, seja nos cultos religiosos ou expressões culturais de matriz africana, banto ou iorubanos. a perpetuação da transmissão oral tem seu lugar na contemporaneidade e a ancestralidade está presente na memória dos iniciados nas casas religiosas de matriz africana. a dimen- são do indivíduo e da coletividade está imersa no processo de transmissão pautado na ora- lidade, na miscigenação e no trânsito, tanto físico como simbólico e cultural, que possui permanências, transformações e contempo- Campos simbólicos e políticas públicas em discussão raneidades, como é o caso da população de matriz cultural negra no Brasil. a presença dos cultos de matriz da nação banto no Brasil não teve sua importância histo- ricamente reconhecida – considerando a mas- siva presença em terras brasileiras dos povos de origem banto durante todo o processo dias- pório de migração forçada que data do século XV (1) ao XIX. segundo as documentações e relatos orais dos terreiros fundados na Bahia, que datam do final do século XX, o Terreiro Tumbensi (início do século XX), o Terreiro do Bate Folha ou Mansu Banduquenqué (1916) e unzo Tumba Junsara (1919) são as casas banto mais antigas fundadas no Brasil. o conhecimento dos cultos aos ancestrais africanos, assim como o reconhecimento da língua banto e dos dialetos quimbundo e qui- congo fazem-se necessários, à medida que o estudo das sonoridades de matriz africana implica também o contato e o conhecimen- to dos pontos cantados de tradição banto no que se refere às suas narrativas e simbologias culturais. estas configuram as mitologias, os elos de ancestralidade, o culto e a cosmologia à natureza, como também remetem a con- textos geográficos e territoriais do continente africano, que constituem a história da cultura negra brasileira. o instrumento e a música passam a ter uma Luna Borges Berruezo é formada em Ciências Sociais (Bacharelado e Licenciatura) pela Universidade Federal de São Paulo – Unifesp e atualmente cursa a Pós-graduação Especialização em Políticas de Promoção da Igualdade Racial na Escola, pela Unifesp e a Uniafro.© W ik im ed ia C o m m o n s UnespCiênCia 31 Dossiê Afrodescendentes importância fundamental que é reconhecida pela comunidade. a centralidade que ocupa a música ritual interliga sua ligação a dança constante, que antecede o transe que levará ao contato com os antepassados e divindades. Por isto, o ngoma é a comunicação e é no contexto ritual que é manifestada. a sonoridade ganha parâmetros além dos métodos musicais, exerce uma função, tem um determinado uso e um contexto adquirido através de um processo de aprendizagem, baseado na observação e convivência. É por meio da sonoridade ritu- alística (ritmo, canto das cantigas sagradas e toque do ngoma) que se propicia o transe aos iniciados para o contato com as divindades e forças da natureza (Inkisses, Voduns, orixás, entre outras cosmogonias). gostaria de destacar, portanto, três elemen- tos que considero relevantes sobre o processo de transmissão nas culturas afro-brasileiras: I) Memória simbólica, relação entre o acervo de práticas rituais e o uso de seus significantes; II) organização de Hierarquias e funções, lugar da experiência prática de transmissão dos saberes; III) Perpetuação dos saberes pe- la oralidade, que estabelece a ligação entre o indivíduo e a formação da coletividade. a diáspora negra no Brasil é o trânsito e deslocamento musical. a música está pre- sente e com ela os demais elementos cultu- rais que se fundem integralmente, a religião está contida e o indivíduo encontra seu lugar na religiosidade ao estabelecer o elo entre a ancestralidade que lhe pertence. e daí, faz parte de uma coletividade, uma comunidade em comum existência, que prevê linhagens rituais, redes de descendência, campos sim- bólicos, enfim, que transbordam à existência como um todo. o indivíduo está integrado, seu pertencimento cultural o transforma em comunidade, a comunidade cultural negra. polítiCAs públiCAs pArA o setor Do livro, leiturA, literAturA e biblioteCAs CIdInHa da sILVa N o ano de 2014 organizamos a obra Afri- canidades e relações raciais: insumos pa- ra políticas públicas na área do livro, leitura, literatura e bibliotecas no Brasil, um alentado diagnóstico da realidade sociocultural do setor LLLB, pelas dimensões de raça e africanida- des, a partir do pensamento de 48 mulheres e homens, predominantemente negros e jovens, considerando os desafios da encruzilhada do combate ao racismo e da formação do leitor- -literário (1). a obra está estruturada em oito capítulos temáticos introduzidos pelos conceitos básicos que costuram todo o livro, de maneira direta ou não, e que posicionam a linguagem como campo tensionado pela disputa de poder en- tre diferentes correntes de pensamento e de compreensão do mundo. são eles: africanida- des, bibliodiversidade, cultura negra, favela, letramento, literatura afro-brasileira, literatura periférica, oralitura, periferia, quilombos ur- banos, racismo institucional, relações raciais. a seguir, 37 narrativas são organizadas em oito capítulos. Intentamos, como vem sendo feito nos Planos setoriais de Cultura, de um lado, detectar fragilidades, obstáculos e desa- fios por superar, e de outro, salientar oportu- nidades, vocações e potencialidades a serem trabalhadas no campo LLLB. o livro apresenta um conjunto de ideias, experiências, reflexões, análises críticas e, também, conceitos sobre materiais concretos e simbólicos (livro e bibliotecas, literatura e leitura), ainda insuficientemente explorados, pesquisados e compreendidos. a questão se torna mais aguda ao conside- rarmos que faltam o olhar e a presença explora- tória e analítica de mulheres e homens negros sobre o tema LLLB. a questão se aprofundará ainda mais caso o olhar de mulheres e homens negros seja convocado a se debruçar sobre as possibilidades de políticas públicas para o campo (1) “A irmandade do rosário dos pretos das portas do Carmo (...) foi formalmente instituída no ano de 1685.(...) Como vimos, esta irmandade, assim como a maioria de suas congêneres, surgiu no século Xvii.” ver o formidável trabalho de pesquisa de regiNAlDo, lucilene. os rosários dos angolas: irmandades negras, experiências escravas e identidades africanas na bahia setecentista. tese de Doutorado, unicamp (Departamento de História). Campinas, 2005. A DiásporA NegrA No brAsil é o trâNsito e DesloCAMeNto MusiCAl © D iv u lg aç ão UnespCiênCia32 Dossiê Afrodescendentes LLLB, orientadas pelas dimensões de africani- dades e relações raciais em sua gênese. Políticas que considerem a necessidade de combater o racismo, a discriminação racial, o racismo ins- titucional e seus efeitos, sem perder de vista, nem por um minuto, a formação de um leitor literário que tenha acesso ao direito humano de ler literaturas africanas e afro-brasileiras. Construir este livro foi um mergulho em rio de potencialidades inexploradas. Para manter o fôlego nesse empreendimento ambicioso, con- tamos com a capacidade respiratória plena e o coração pulsante de 48 autores – 23 mulheres e 25 homens – que fizeram conosco a travessia. destes, 42% são jovens pensadores; contamos nesta obra com 20 autoras e autores entre 25 e 40 anos. É bom ter o frescor da juventude ombreado ao conhecimento e experiência dos mais velhos, alternando o bastão, como se faz no nado de revezamento. a partir desta publicação, propomos um diálogo do mais alto nível com o Plano nacio- nal do Livro e Leitura, em vigor desde 2006; com os planos municipais do livro e leitura já concretizados e com aqueles (a maioria) ainda em processo de elaboração; com a dLLLB e demais secretarias vinculadas ao Ministério da Cultura bem como aos outros ministérios; com o Colegiado setorial do Livro, Leitura e Literaturas; com o Programa Mais Cultura; com os projetos de lei afeitos ao campo LLLB; com o Programa Leitura Para Todos; com a rede Brasil de Bibliotecas Comunitárias, ou- tras redes autônomas de bibliotecas públicas, escolares e/ou temáticas brasileiras; com a Frente Parlamentar em defesa do Livro no Congresso nacional; com as Frentes simila- res existentes em assembleias Legislativas e Câmaras Municipais dispersas pelo território nacional; com a Lei orgânica dos municípios; com os órgãos executivos específicos ligados às questões da comunidade negra; com a socie- dade civil como um todo, mas, especialmente, com as organizações negras, as instâncias de arte, cultura e educação, assim como com os Pontos de Cultura dedicados ao LLLB. Final- mente, estamos preparados para dialogar com os sujeitos fundantes de todo esse processo, ou seja, escritoras e escritores, leitoras e leitores negros e periféricos. Cidinha da Silva é prosadora e dramaturga. Tem vários títulos publicados, entre eles, Racismo no Brasil e afetos correlatos (Conversê Edições, 2013, crônicas). Possui centenas de crônicas, ensaios e artigos de opinião publicados na WEB, em portais, blogues profissionais diversos e principalmente no blog pessoal e na Fanpage . Atuou como gestora de cultura na Fundação Cultural Palmares (FCP), onde concebeu e realizou este Africanidades e relações raciais. É doutoranda do Programa de Difusão do Conhecimento/ UFBA. (1) resenha recente sobre a obra pode ser lida no portal literAFro da uFMg: . Imagem da capa de Africanidades e relações raciais: insumos para políticas públicas na área do livro, leitura, literatura e bibliotecas no Brasil. © D iv u lg aç ão UnespCiênCia 33 Leitura já propunham construir uma grande rede de informações que abarcasse e ligasse todos os campos do conhecimento humano a partir de uma estrutura racional. Foram traduzidos 298 verbetes, abarcando textos de 37 autores, como Diderot, d’Alembert, Jaucourt, Voltaire, Turgot e Rousseau, em um trabalho de seleção que privilegiou não só a qualidade de argumentação, mas também a literária. E das cerca de 600 imagens primoro- samente desenhadas da edição original, nesta estão reproduzidas 173. Como resultado, os volumes ficam livres de inevitáveis anacronismos, mas oferecem material mais do que suficiente para tornar acessível ao leitor brasileiro a obra que colocou o homem no centro do processo de obtenção do conhecimento, impulsionando a ciência, a filosofia e a razão para os patamares que co- nhecemos hoje. Se com isso eles forneceram as bases para a reinvenção do Ocidente desde o Iluminismo, podem muito bem fornecer a inspiração para novamente enfrentarmos a tarefa de repensar o mundo. P ode-se pensar na Enciclopédia, ou Dicio- nário razoado das ciências, das artes e dos ofícios, lançamento da Editora Unesp, como um objeto de desejo intelectual que enriquece qualquer biblioteca. E o tem sido desde junho de 1751, um best-seller longevo e símbolo do saber. Sendo a base do Iluminismo, também se constitui em fonte de consulta valiosa pa- ra compreender como o primado da razão e do progresso associado ao trabalho sucedeu ao domínio religioso e monárquico. Mas este monumento da civilização ocidental é igual- mente um documento moderno, que pode servir de inspiração para discutir as formas de organização do conhecimento na Era da informação digital. Neste sentido, esta edição em cinco volu- mes, a mais abrangente versão fora da Fran- ça, surge justamente quando o pensamento racional é ameaçado por perspectivas dogmá- ticas que se propagam em um mundo cada vez mais fragmentado. Pois se hoje a comu- nicação trafega por sistemas digitais interco- nectados, os enciclopedistas do século XVIII Enciclopédia Iluminista de Diderot e d’Alembert VErsão brAsIlEIrA é A mAIs AbrAngEntE já EDItADA forA DA frAnçA Filósofos Iluministas reunidos no salão de madame Geoffrin. Óleo sobre tela de Anicet- -Charles Lemonnier, 1812. Museu Nacional do Castelo de Malmaison, Rueil-Malmaison/França UnEspCIênCIA34 Leitura SOBRE OS ORGANIZADORES Pedro Paulo Pimenta é graduado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (1994), mestre (1997) e doutor (2002) pela mesma instituição, onde leciona desde 2005. Dedica- -se a estudos na área de Filosofia Moderna, com especial ênfase em autores do século XVIII. Maria das Graças de Souza possui graduação em Filosofia pela Universidade de São Paulo (1971), mestrado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (1983) e doutorado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (1990). Livre-docente em 1999, é atualmente professora titular da Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase em História da Filosofia e Política, atuando principalmente nos seguintes temas: filosofia moderna, iluminismo, renascença, história, política. Enciclopédia – 5 volumes, Autores: Jean le Rond d’Alembert e Denis Diderot Organizadores: Pedro Paulo Pimenta e Maria das Graças de Souza Tradução: Fúlvia Moretto, Editora Unesp Preço de cada volume: R$ 78,00 Volume 1 Discurso preliminar e outros textos, 350 p. Volume 2 O sistema dos conhecimentos, 413 p. Volume 3 Ciências da natureza, 348 p. Volume 4 Política, 374 p. Volume 5 Sociedade e artes, 399 p. UnEspCIênCIA 35 Enciclopédia Discurso preliminar e sobrE A obrA Em junho de 1751, Diderot e d’Alembert apresentavam ao mundo o primeiro volu- me da Enciclopédia, ou Dicionário razoa- do das ciências, das artes e dos ofícios. Os últimos de seus 28 volumes saíram em 1772. Nesse ínterim, ocorreram diversas polêmicas, conflitos com nobres e reli- giosos e censura, já que a obra era uma declaração clara de um espírito indepen- dente, que tirava a primazia da teologia para colocar a razão e a ciência em seu lugar e afirmava os valores da burguesia (trabalho, liberdade e progresso) frente à autoridade da monarquia. Enfim, uma grande ameaça à religião e à ordem polí- tica do Antigo Regime. Buscando resumir todo o conhecimento humano disponível até então, o projeto reuniu os principais pensadores franceses da época. A dificuldade enfrentada por Diderot, além de organizar esse material, foi colocar lado a lado personalidades de temperamentos fortes e muitas vezes que se combatiam entre si, como era o caso de Rousseau e Voltaire. Na obra original, os verbetes estão arranjados em uma simples ordem alfa- bética, que foi mantida na edição em por- tuguês, mas acrescentando uma divisão temática, que se reproduz nos volumes: 1. Discurso preliminar e outros textos, onde se contextualiza e se apresenta o projeto intelectual da Enciclopédia; 2. O sistema dos conhecimentos, em cujos verbetes filosóficos se manifesta a nova concepção de mundo e uma postura que se opõe a todo fanatismo; 3. Ciências da natureza, um registro acurado do conhecimento de Física, Matemática, Química e História Natural da época; 4. Política, que, mais do que um manifes- to da emergente burguesia, questiona as forças históricas e reafirma o movimento pela liberdade; 5. Sociedade e artes, que permite obser- var os modos como uma dada sociedade se manifesta. Design © D an ie l P at ir e UnespCiênCia36 Nara Silvia M. MartiNS e NeiDe MarcoNDeS De Faria Design DeSeNhoS e ProjetoS elaboraDoS Por leoNarDo Da viNci Mundo possível contemporâneo c umpre aqui uma reflexão: Leonardo da Vinci, nos séculos XV e XVI, ajui- zou e estudou, estipulando, em seu produto gráfico, projetos, desenhos, planejamentos e invenção de novas formas, reservando espa- ços para as gerações futuras. Seriam mundos possíveis futuros? elos com a multiplicidade contemporânea? A concretização hermenêutica desta propos- ta deu origem a esta interpretação. Leonardo da Vinci, considerado o gênio da Renascen- ça, além de pinturas deixou um repertório de cerca de 13 mil páginas de notas e desenhos, que combinam arte e tecnologia. Seu complexo tratado sobre pintura, Trattato della Pittura, compreende reflexões e teorias sobre proporções, métodos de desenho e uso das cores, estudos sobre geometria, sombra e luz, chiaroscuro, escritos ainda no final do século XV. O artista não conseguiu documentar e or- ganizar suas descobertas de modo sistemáti- co. Séculos depois de sua morte, os eruditos estudaram seus famosos cadernos, que foram organizados em coletâneas, conhecidos por Códice Atlântico, Coletânea de Windsor, Có- dice Arundel, Códice Foster, Códice de Madrid e Manuscrito B, entre outros. Estas coletâneas© D an ie l P at ir e ProFeSSoreS Da UNeSP coMeNtaM legaDo De leoNarDo entre novembro de 2014 e maio de 2015, parte do acervo do Museo Nazionale della Scienza e della tecnologia leonardo da vinci (MUSt), em Milão, na itália, desembarcou no brasil, na galeria de arte do Sesi-SP, no centro cultural Fiesp – ruth cardoso. a exposição interativa “leonardo Da vinci: a natureza da invenção”, uma parceria do Serviço Social da indústria de São Paulo (Sesi-SP) e da Universcience (organização francesa criada em 2010 a partir da fusão da cidade da ciência e da indústria e do Palácio da Descoberta de Paris), reuniu mais de 40 peças e dez instalações interativas que marcaram e representam a trajetória de um dos maiores gênios que a humanidade conheceu. Para homenagear leonardo, a assessoria de comunicação e imprensa da Unesp convidou diversos docentes, de várias áreas do conhecimento, para prestarem seus depoimentos na exposição. o material está disponível em: . UnespCiênCia 37 Desenhos e obras de maquinarias, engrenagens e projetos constituem uma memória do futuro Design desenhos originais e montagem dos objetos. Na mostra estavam presentes quarenta mo- delos artesanais inspirados em fragmentos de estudos, que revelavam o lado mais inventivo de Leonardo da Vinci, os projetos possuem princípios artísticos unidos a interesses cien- tíficos. A exposição também teve por subtítulo A sua obra é um presente para a Humanidade. Alguns exemplos dentre os desenhos e ob- jetos montados: – Canhão Naval (Coletânea de Windsor) > em que Leonardo propõe guarnecer batéis com plataformas giratórias munidas de fileiras de canhões destinados a afundar os navios inimigos; – Carro Ceifador (Códice de Madrid) > o de- senho de Leonardo mostra um carro puxado por cavalos e dotado de foices rotatórias, mo- vidas por um engenhoso mecanismo de trans- missão diretamente ligado ao movimento das rodas do carro; – Estudo de asa unida (Códice Atlântico) > apresentam grande variedade de assuntos, como óptica, astronomia, geometria, cosmo- logia, hidráulica. Referidos Códices contêm inúmeros desenhos de máquinas para voar, máquinas de guerra, projetos para canaliza- ção de pântanos, projetos para a construção de palácios e de estradas, estudo para armas de guerra, estudos para escadas de assalto a fortalezas, estudos para roda dentada, pro- jetos de interligação de canais hidráulicos, entre outros. Estudar parte dos desenhos e inventos de Leonardo é percebê-los e colocá- -los na perspectiva dos mais recentes avanços da ciência moderna. A exposição que teve por título Leonardo da Vinci no D&D – Decoração & Designer Center e por subtítulo Dentro da Mente de Leonardo da Vinci, que aconteceu como even- to nos meses de outubro e novembro de 2015, em São Paulo, contou com a apresentação de Códices, descrição dos objetos, cópias dos UnespCiênCia38 Nara Silvia M. MartiNS e NeiDe MarcoNDeS De Faria Design © D an ie l P at ir e após observações sobre a anatomia das aves, Leonardo projeta uma asa inteiriça similar à dos morcegos, recoberta por um pano esticado sobre armação de madeira e juncos; – Máquina de caminhar sobre a água (Códice Atlântico) > em meio ao desenho de Leonar- do está um instrumento, que se parece com enormes esquis, que deveria possibilitar ao homem flutuar na água, valendo-se da ajuda de bastões; – Ponte arqueada (Códice Atlântico) > trata-se de uma ponte leve e forte, construída de mo- do rápido com material de pequenos troncos e amarras robustas. Ponte de fácil transporte para objetivos militares, ela possibilitava a travessia de rios, com deslocamentos rápidos de tropas. Levantadas as preocupações para as in- terpretações dos objetos de arte, do design, das formas da arquitetura, a lógica modal foi neste presente trabalho considerada, refletida e estudada como instrumento para a interpre- Para Saber MaiS caPra, Fritjok. a ciência de leonardo da vinci. São Paulo: cultrix, 2007. clarK, Kennethy. leonardo da vinci. rio de janeiro: ediouro, 2001. este texto é uma síntese da pesquisa arte e Design em Mundo Possível contemporâneo: instigante ousadia. Desenhos e projetos elaborados por leonardo da vinci; realizada anteriormente. tação de obras gráficas de Leonardo da Vinci (séculos XV e XVI); permitiu constatar que o artista elaborou repertório de desenhos e obras de maquinarias, engrenagens, projetos naquele seu mundo real, que se constituiu em memória do futuro. Nara Silvia M. Martins é doutora em Arquitetura pela USP. . Neide Marcondes de Faria é professora titular em História e Teoria da Arte pela Unesp. . UnespCiênCia 39 Dossiê Nobel o resultado da escolha do prêmio Nobel de Literatura deste ano pode represen- tar uma grande surpresa para a maioria dos leitores brasileiros. Mas para o público ledor americano e europeu a ganhadora é bastante conhecida, pois teve obras traduzidas para diversos idiomas, como russo, inglês, francês, alemão, espanhol, vietnamita, búlgaro, chinês, finlandês, romeno, checo, húngaro, japonês, sueco e até português de Portugal. Svetlana Alexievich é ucraniana nascida em 1948 e criada num vilarejo do interior da Bielorrússia. Na juventude vai para a capi- tal – Minsk – onde se forma em jornalismo. Sua obra literária nutre-se bastante da sua atividade de jornalista e repórter. É autora de poemas, ensaios, contos e novelas e até de peças de teatro. Sua obra principal, com a qual terá seu nome permanente na história da literatura universal, é o impressionante relato Oração de Chernobyl. Crônica do futuro, em tradução literal, publicada em Moscou em 1997. Pouco tempo depois já estava traduzida em dezenas de idiomas. A tradução para o francês com o título La supplication: Tchernobyl, chroniques du monde après l’Apocalypse, de autoria de Gala Ackerman e Pierre Lorrain, alcançou enorme sucesso e despertou o interesse para as demais traduções. A tradução para o inglês, com o título Voices from Chernobyl: The Oral History of a Nuclear Disaster, da autoria de Keith Gessen, foi publi- cada simultaneamente nos Estados Unidos e no Reino Unido, serviu de mediadora para a versão em outros idiomas. Em espanhol, foi traduzida por Ricardo San Vicente, lançada no início de 2015 em brochura e na versão kindle, com o nome Voces de Chernóbil – crónica del futuro. Em abril deste ano saiu a tradução para o português de Portugal, feita por António Pescada, publicada pela Porto Editora, com o para o pÚblico americaNo e europeu a gaNHaDora É basTaNTe coNHeciDa, pois TeVe obras TraDuziDas para DiVersos iDiomas Um Nobel surpresa? UNespCiêNCia40 geNTil De Faria Dossiê Nobel curioso título O fim do homem soviético – um tempo de desencanto. Com esse título, os edi- tores portugueses ampliaram a interpretação do romance como se ele incluísse também o colapso da União Soviética, ocorrido em 1991. A explosão nuclear ocorrida numa fábrica de Chernobyl em 26 de abril de 1986, preci- samente à 1h23:58, sobretudo suas terríveis consequências para milhões de pessoas, é o as- sunto central da narrativa. Svetlana entrevistou mais de uma centena de pessoas durante três anos para compor um pungente documento humano em que usa a primeira pessoa. Ela dá voz ao entrevistado, o que estabelece um vínculo profundo com o leitor, que fica preso ao livro até a última página. A primeira entrevista é com uma mulher que havia perdido o bebê e o marido, bombei- ro que primeiro tentou salvar as vítimas. Ela estava grávida, quando ouviu a notícia. Seu relato em tom emocional cativa o leitor, desde o início: “Eu não sei sobre o que deveria falar... Da morte ou do amor? Tanto faz... Sobre o que devo falar? Éramos jovens recém-casados. Na rua, dávamos as mãos, mesmo se fôssemos a uma loja...” Eu dizia a ele: “eu te amo”. O Prólogo, significativamente intitulado “Uma voz solitária”, traz a epígrafe: “Somos ar, não terra”, do escritor e filósofo Merab Mamardashivili (1930-1990), considerado o Socrátes russo, que contrasta a fragilidade da condição humana e a indiferença e insensibi- lidade das autoridades soviéticas. Até hoje os efeitos da catástrofe ainda são sentidos pela população abandonada. Svetlana, nas inúmeras entrevistas que con- cedeu, enfatiza, talvez com algum exagero, que o que aconteceu em Chernobyl é muito pior do que os Gulags e o Holocausto. Para ela, a história de Chernobyl ainda está sendo escrita. “Este é um enigma para o século 21”, conclui. Gentil de Faria é professor titular de literatura comparada na Unesp de São José do Rio Preto. Este artigo foi publicado originalmente na Folha de S. Paulo de 8 de outubro de 2015. Acesse: . Nobel de Literatura: ucraniana Svetlana Alexievich é autora de poemas, ensaios, contos, novelas e peças de teatro UNespCiêNCia 41 Dossiê Nobel vados; William C. Campbell, parasitologista, pesquisador emérito na Universidade de Drew, Madison – EUA; e Satoshi Omura, químico bio-orgânico, professor na Universidade de Kitasato, Japão, pelas pesquisas sobre aver- mectina, produto natural da classe das lactonas macrocíclicas e derivados sintéticos, produzidas pela fermentação de Streptomyces avermitilis, bactéria da classe dos actinomycetos, é uma excelente demonstração do reconhecimento da Academia Sueca para a pesquisa destes cientistas, diferente daquelas a que, em ge- ral, é concedido um Nobel. O fato interessa muito à ciência feita no Brasil, e em especial aos pesquisadores que fazem investigação em química de produtos naturais, farmacologia e medicina, cuja ten- Q uando li as primeiras notícias sobre os laureados com o Nobel de Medicina 2015, não pude conter a emoção e a alegria pela informação extraordinária – Os produtos naturais e os medicamentos planejados para o tratamento de doenças negligenciadas foram as pesquisas premiadas com a maior premiação mundial já outorgada a um cientista. O Nobel de Medicina 2015, concedido aos cientistas: Youyou Tu, química farmacêutica e médica, professora da Universidade do Cen- tro de Ciências Médicas da Universidade de Pequim, em Beijing, pelas suas investigações sobre a Artemisia annua (Asteraceae), planta medicinal milenar chinesa, e as propriedades antimaláricas da artemisinina (qinghaosu), uma lactona sesquiterpênica e de seus deri- TribuTo à Química De proDuTos NaTurais e às pesQuisas sobre DoeNças NegligeNciaDas Nobel de Medicina de 2015 © D o lla r p h o to c lu b UNespCiêNCia42 VaNDerlaN Da s. bolzaNi Dossiê Nobel dência natural é acompanhar as tendências do mundo central. Semana passada publiquei um texto sobre o ranking de classificação de 192 universi- dades brasileiras (RUF Folha), enfatizando a questão do papel da pesquisa fundamental de excelência e da inovação, em geral medida pelos produtos que poderão ser originados do conhecimento de pesquisa. A premiação deste ano nos leva a refletir, por exemplo, sobre o estado-da-arte das pes- quisas de bioprospecção de produtos naturais e sobre a diversidade químico-biológica da megabiodiversidade brasileira, considerada um laboratório altamente sofisticado de pro- dutos naturais, fonte valiosa de fármacos e de outros bioprodutos para o bem-estar humano. Um olhar sobre as trajetórias acadêmicas dos três agraciados demonstra que, mesmo sem os holofotes habituais aos cientistas des- tacados para serem prêmios Nobel (os atuais ganhadores têm índice h em torno de 30), su- as pesquisas revelam importância científica e social e, ao mesmo tempo, unem o encanto e a beleza da química de produtos naturais ao sonho da descoberta de medicamentos para a saúde humana, sem muito interesse das grandes indústrias farmacêuticas, por se tratar de fármacos para doenças negligencia- das, em geral pouco rentáveis. As investigações mostram uma vida de de- dicação destes cientistas ao desenvolvimento de novos medicamentos para combater malá- ria e outras verminoses que acometem mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo, especialmente as populações carentes dos países pobres, com altas taxas de mortalidade de crianças. Doenças causadas por parasitas acompanham a espécie humana por milênios, constituem um grave problema de saúde glo- bal e representam, hoje, um enorme desafio para a melhoraria da saúde das populações que vivem nas regiões com alta concentração de pobreza, que, com a globalização e ciclos migratórios intensos, torna-se, portanto, um problema sério para o mundo central. Mais extraordinário ainda do Nobel de Me- dicina 2015 é colocar no cenário mais ambi- cionado da academia mundial a química de produtos naturais. A artemisinina e a aver- mectina são as estrelas do momento, mas são apenas dois exemplos da imensa diversidade da química da natureza, uma fonte inesgotável de inspiração acadêmica e tecnológica para a criação humana. Os metabólitos secundá- rios, ou produtos naturais, se destacam pela incomensurável contribuição que têm dado aos avanços da síntese orgânica moderna e da química medicinal, cujas aplicações infinitas marcaram definitivamente a história da huma- nidade, com destaque para os medicamentos, materiais de higiene, cosméticos, defensivos agrícolas, fragrâncias. Sem contabilizar os tradicionais exemplos de substâncias que marcaram a história humana, como morfina, reserpina, codeína, quinina, vincristina, vimblastina e os nossos curares, há evidência de que 77% dos fármacos anti- bacterianos são produtos naturais ou deriva- dos semissintéticos. Similarmente, 53% dos medicamentos anticancerígenos, 80% dos antivirais e 100% dos imunossupressores têm alguma origem ou inspiração nos produtos naturais de plantas, organismos marinhos, microrganismos e insetos. Que os produtos naturais avermectina e artemisinina sejam moléculas carreadoras de estímulos e incentivos às pesquisas com produtos naturais no país, em especial para as novas gerações de cientistas, tendo em conta nossa imensa biodiversidade e a vo- cação histórica de eminentes cientistas que criaram a química de produtos naturais mo- derna do Brasil. O que falta então para que novos fármacos antimaláricos e antiparasitários mais eficazes e menos tóxicos sejam descobertos da nossa biodiversidade? Eis a questão! Vanderlan da S. Bolzani é professora titular do Instituto de Química da Unesp de Araraquara e diretora da Agência Unesp de Inovação. Este artigo foi publicado originalmente no Jornal da Ciência de 6 de outubro de 2015. prêmio coloca No ceNário mais ambicioNaDo Da acaDemia muNDial a Química De proDuTos NaTurais © D o lla r p h o to c lu b UNespCiêNCia 43 Arte e cultura ferências do artista, o músico, maestro e ar- ranjador Arthur Verocai, que em 1972 lançou um álbum memorável, que continha a música de mesmo nome. O elemento essencial da proposta está no mastro. Trata-se de um elemento que remete à infância do artista, nascido em Jacareí, e introduzido pela família em festas religiosas e populares. Em ambas, a verticalidade se faz presente. Comum nas devoções rurais, muitas vezes com um santo no topo, como nas festas juninas, o mastro também aparece em procissões e inclusive no pau de sebo, que não deixa de ser uma metáfora do processo de ascensão. No alto das esculturas, porém, o artista instala dois espelhos, que passam a sacralizar a própria paisagem do entorno, refletida num jogo arbitrário regido pela luz e pelo movimento da Terra em torno do Sol. Dentro do Museu, há sete mastros dispostos B runo Brito, aluno do curso de Artes Vi- suais do Instituto de Artes da Unesp, em São Paulo, SP, realizou a exposição Na boca do sol de 26 de setembro a 31 de outubro no Museu de Antropologia do Vale do Paraíba, em Jacareí, SP. Na Boca do Sol traz discussões sobre a apro- priação do espaço em várias dimensões, três internas ao Museu de Antropologia do Vale do Paraíba, em Jacareí, e mais quatro exter- nas, que envolvem o município como um todo. Estabelece-se assim uma série de elos entre aquilo que de fato se vê e aquilo que é possí- vel, pela nossa imaginação, ver. O título aponta justamente para um local abstrato, não existente, um lugar ermo, uma coordenada geográfica qualquer, imaginária, que tanto pode ser o próprio Museu como os locais de instalação dos quatro mastros no município. O nome provém de uma das re- Aluno do InstItuto de Artes reAlIzA mostrA em JAcAreí, sP Exposição Na Boca do Sol UNESpCiêNCia44 oscAr d’AmBrosIo Arte e cultura em linha reta, sugerindo um caminho a ser percorrido, sendo que cada um deles, em sua dimensão vertical, como elemento simbólico, e horizontal, pela condução do olhar que pro- picia, indica uma direção que se articula com o todo do projeto.Dialoga, assim, com seus trabalhos anteriores, onde hastes, tanto em ambientes de praia como em colinas, apontam para procedimentos e métodos da engenharia civil, da arquitetura, topografia e agrimensura. No entanto, a proposta de Brito não gera dados exatos, mas propõe formas próprias e poéticas de ler a paisagem, revelando seus as- pectos topográficos, atmosféricos e biológicos. Gera, assim, uma reflexão sobre a lógica e a dinâmica do local. Nesse aspecto, esclarecendo esse processo de criação e essa poética que se aproxima da ciência, um vídeo, na sala anexa, mostra a jornada e toda a mobilização huma- na necessária para se materializar a obra. A música Caboclo, de Verocai, interage com esse universo do trabalho dos homens no campo, mergulhados na imensidão do espaço, “des- cendo do horizonte”, “deitados na paisagem”, “passeando pela luz”. Há, ainda, uma sala escura e silenciosa, com a taipa de pilão exposta, onde dois eucaliptos formam uma espécie de cruz. A disposição pode sugerir direções aleatórias, mas também indiciar as localidades dos mastros instalados no território da cidade. A música Velho Parente, de Verocai, traz outras leituras com o verso “os filhos não dormiram ao lado da velha cruz”, atribuindo um caráter fúnebre à instalação, potencializado pelo livro que escora uma das hastes: Como Era Verde Meu Vale. Fora da exposição, os quatro mastros estão instalados nas direções: norte, sul, leste e oes- te, formando um estratégico quadrilátero que tem o Museu como centro. Espelhos no topo de cada mastro e o livre movimento ao ritmo de ventos e brisas reforçam o dinamismo da arte e seu infinito refletir. Essa relação dos mastros com as intempéries já foi explorada pelo artista em outras oportunidades, num exercício permanente de lidar com mutações, seja no ciclo de vida de uma obra, nas surpre- sas que o viver proporciona ou na visualização dos espaços como uma atmosfera do pensar. A música O Mapa, de Verocai, desperta essa concepção de que a própria cidade se torna o trabalho, sua paisagem, seu terreno e seus logradouros: “A praça, o povo, a fé. O campo, a bola, o café. E nada vai bem ou vai mal. Que mapa estão os meus pés?”. O artista fala de sua cidade usando-a de fato. Dessa maneira, é instaurado um diálogo de memórias entre a natureza, o ser humano e a interação entre ambos, seja pelo fazer ou pelo pensar. Evidencia-se ainda mais aqui a relação do artista com os ambientes em que transita, não apenas como observador, já que seu trabalho é justamente o de interferir neles de maneira criativa, aprendendo com seus ní- veis, desníveis e eternas metamorfoses. O conjunto de 11 mastros, o vídeo e a cruz constitui um amplo mecanismo capaz de des- locar o público para fora do museu, e vice- -versa, direcionando o observador dos mastros externos para o centro do quadrante, a própria exposição. Pode-se pensar, assim, tanto nas infinitas possibilidades de diálogo da arte com seu entorno, como nas do artista com a cidade e nas de cada indivíduo com as percepções que a exposição propicia. Sete mastros dispostos em linha reta sugerem um caminho a ser percorrido © d iv u lg aç ão UNESpCiêNCia 45 Arte e cultura NA BOCA DO SOL na minha cidade do interior tudo que chegou, chegou de trem minha mãe olhava pra estação e vendo viagens dentro de mim desenhou no ventre mais um irmão na minha cidade do interior Pra quem mora lá, o céu é lá lembro da manhã na boca do sol Vou da avenida à estação com medo dos pais ou por solidão toda a minha vida eu vi passar no brilho dos trilhos de um trem Que me vem e parte toda manhã engolindo túneis que a gente tem e a preguiça não deixou fechar na minha cidade do interior Perto da manhã, na boca do sol Pra quem mora lá, o céu é lá CABOCLO caboclo quando sai Acorda o sol pela manhã Planta algodão Planta nuvens pelo chão À noite, quando volta traz estrelas num bornal cofres do sertão Que semeia no quintal descendo do horizonte ele tira seu chapéu olhando um olho d’água Que cuspia para o céu deitado na paisagem na folhagem enrolou Pés de uma manhã Passeando pela luz o vento no seu rosto sopra leve, tira o sol como tira o pó de um velho paletó e pondo os pés na lama seu sapato feito só de barro pra ser gasto Quando então pisar na grama VELHO PARENTE o velho parente dormindo em paz tomou uma barca mudou-se de cais Guardado na arca com velhos jornais Fechado à chave dormido demais os filhos não dormiram Ao lado da velha cruz Fecharam o cofre guardando a luz Guardaram-se o sono brincaram em paz os ratos roeram os canaviais roeram o verde em partes iguais os filhos não dormiram esperando pelos demais os filhos não dormiram Ao lado da velha cruz O MAPA depois de sonhar no sofá Pescar minhas contas sem fim se nada vai bem ou vai mal Que mapa estão os meus pés? A praça, o povo, a fé o campo, a bola, o café e nada vai bem ou vai mal Que mapa estão os meus pés? A gente, o porto, o cais o medo, a vida, o revés e nada vai bem ou vai mal Que mapa estão os meus pés? A gente, o porto, o cais o medo, a vida, o revés e nada vai bem ou vai mal Que mapa estão os meus pés? letras de Arthur Verocai,do álbum Arthur Verocai, 1972 © F o to r ep ro d u çã o UNESpCiêNCia46 oscAr d’AmBrosIo Geografia Mesmo assim, constatou-se o baixo volu- me de recursos direcionado aos produtores assentados. Esses trabalhadores apresentam dificuldades para acessarem os recursos do Pronaf, devido aos baixos rendimentos obti- dos nos lotes, à reduzida inserção na economia formal e à baixa organização social. Para os produtores assentados nos municí- pios de Caiuá e Teodoro Sampaio, o crédito agrícola garante o financiamento da produção e a realização dos primeiros investimentos, que possibilitam a estruturação das unidades produtivas e, consequentemente, a ampliação da renda obtida a partir da exploração dos lotes. Essa renda é revertida na compra de produtos dos mais variados tipos no mercado local, sobretudo aqueles ligados à agricultu- ra. Entretanto, parte dos assentados não tem saldado as parcelas do Pronaf devido à baixa produção e às dificuldades de comercialização dos produtos agrícolas. J ânio Gomes do Carmo apresentou, em abril, a dissertação de mestrado O PRO- NAF nos municípios de Caiuá e Teodoro Sam- paio – SP na Unesp de Presidente Prudente. O objetivo principal da pesquisa foi analisar o papel exercido pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pro- naf) nos assentamentos rurais dos municípios de Teodoro Sampaio e Caiuá. O reconheci- mento oficial dos agricultores familiares pelos órgãos oficiais ocorreu nos anos 1990, sendo direcionados recursos federais a essa categoria. A participação dos movimentos sociais foi de extrema importância para o reconhecimen- to de tais agricultores e para a efetivação do Pronaf. O referido programa tem possibilita- do o acesso a recursos destinados ao custeio das safras e a realização de investimentos a juros acessíveis, propiciando melhorias na produção agrícola e na condição de vida das famílias assentadas. Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar Pesquisa enfoca PRonaf em cidades Paulistas Orientador: Antonio Nivaldo Hespanhol Membros da banca: Elpídio Serra e Celso Donizete Locatel Contato do pesquisador Jânio Gomes do Carmo: . © d o lla r P h o to c lu b UNesPCiêNCiA 47 Daniel patire Foto do mês UnespCiênCia48 Foto do mês UnespCiênCia 49 HOMENAGEM a professora Martha Herr, do instituto de artes (ia) da Unesp, faleceu dia 31 de outubro, em decorrência de complicações de um câncer. Houve uma celebração da vida dela dia 2 de novembro, em sua residência. Quem quisesse homenageá-la foi convidado a levar memórias, boas vibrações, sorrisos, histórias engraçadas, músicas ou algo que trouxesse uma lembrança dela. Dia 22 de setembro, durante a abertura da terceira edição do encontro internacional sobre expressão Vocal na performance Musical – VOX 2015, no auditório do instituto, Martha havia recebido homenagens por sua carreira de intérprete musical e pela de pesquisadora e professora de Canto. a professora do instituto de artes (ia), Câmpus de São paulo, ganhou flores, uma placa com honrarias, e muitos depoimentos de agradecimento como profissional e pessoa de colegas, amigos e alunos, da Unesp, da USp e da Unicamp. norte-americana de nascença, ela interpretou peças de música clássica e popular pelo mundo afora. no Brasil, lecionou canto na USp, e, desde 1987, foi professora do ia. em 2001, por sua iniciativa, se estabelece o curso de pós-Graduação em Canto no instituto. e criou, em 2006, o grupo de pesquisa eVpn (expressão Vocal na performance Musical). É também idealizadora do VOX, junto com pesquisadores e professores das outras universidades estaduais públicas paulistas. Como intérprete, participou de concertos e óperas e realizou gravações no Brasil, nos estados Unidos e na europa, como solista e integrante de vários conjuntos de música brasileira e de música contemporânea, como rio Cello ensemble, Mestres Cantores de São paulo e Grupo novo Horizonte. recebeu, em 1998, o prêmio Carlos Gomes, da Secretaria de Cultura do estado de São paulo, e foi nomeada pela associação paulista de Críticos de arte (apCa) Cantora do ano em 1990. em 2005, participou da primeira produção brasileira de O anel dos nibelungos de richard Wagner, durante o iX Festival amazonas de Ópera. em 2006, participou na estreia mundial da ópera Olga, de Jorge antunes, no teatro Municipal de São paulo, no papel título – Olga Benário. Opinião S ucuris são grandes serpentes da família Boidea, que necessitam de animais de pequeno e médio porte para se alimentarem. Elas não predam presas de grande envergadu- ra, sendo documentados ataques com ingestão a bezerros, cervos, porcos e cães e raríssimos ataques a seres humanos, com NENHUMA prova de ingestão (o que provavelmente não ocorre), embora em teoria estas cobras possam devorar uma criança. No ano passado, tivemos uma polêmica devido ao apresentador de um canal de pro- gramas sobre a Natureza que anunciou que seria engolido por uma sucuri. Obviamente, não conseguiu que a cobra fizesse o que ele prometeu. Rechaçado pelas críticas recebidas inclusive nos EUA, desapareceu da mídia (pelo menos com este tema). Porém, no programa Fantástico da rede Glo- bo do dia 27/9, as sucuris foram abordadas novamente por uma matéria extraída justa- mente de um desses canais. Nesse dia, foram exibidas imagens do ataque de uma sucuri, que na verdade corresponde a uma mordida em um policial no cumprimento de seu de- ver de captura da serpente (e que aconteceu vários anos atrás), ao mesmo tempo em que perguntava qual seria a melhor forma de se livrar desta mordida para que a vítima não se tornasse “ração de sucuri”. Frases assim po- dem “satanizar” o bicho sem razão para tal... Existem campanhas e esforços no sentido de que a população não mate estas cobras, praticamente inofensivas se não provocadas e que são prejudicadas por estas visões. Embora seja possível entender o fascínio que despertam na população e a necessidade de audiência de um programa de variedades, reportagens deste teor são questionáveis e necessitam de melhor assessoria científica de profissionais que estudam os hábitos da serpente. Sucuris não devoram humanos, atacam muito rara- mente e a imensa maioria dos ataques está ligada a situações de provocação. A sua pre- servação já é um problema sem que se passe a falsa imagem de devoradora de homens... Sobre sucuris na mídia Vidal Haddad Junior é professor da Faculdade de Medicina da Unesp em Botucatu. © W ik im ed ia C o m m o n s © G u i G o m es ARTIGO COMENTA REPORTAGEM DO PROGRAMA FANTÁSTICO DA TV GLOBO VIDAL HADDAD JUNIOR UNESPCIÊNCIA50 © W ik im ed ia C o m m o n s VIDAL HADDAD JUNIOR Produzir conteúdo, Compartilhar conhecimento. Editora Unesp, desde 1987 www.editoraunesp.com.br Diderot e D´Alembert Monumento da civilização Ocidental, versão brasileira da Enciclopédia Iluminista é a mais abrangente já editada fora da França. Organizada por Pedro Paulo Pimenta & Maria das Graças de Souza A Enciclopédia, que simboliza um dos maiores e mais complexos projetos editoriais da história, ganha sua mais abrangente tradução já feita em português. Volume I Traz o plano da coleção e apresentações, inclusive as originais. 352 págs., R$ 78 Volume II Aborda o sistema dos conhecimentos, com ver