UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DOCÊNCIA PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA SARA JANE NOBOA CRIANDO SACIS: UMA PROPOSTA DE ENSINO-APRENDIZAGEM BASEADA NO FOLCLORE NACIONAL PARA OS ANOS INICIAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA BAURU 2024 SARA JANE NOBOA CRIANDO SACIS: uma proposta de ensino-aprendizagem baseada no folclore nacional para os anos iniciais da Educação Básica Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre à Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – Faculdade de Ciências, Campus de Bauru – Programa de Pós- graduação em Docência para a Educação Básica, sob orientação do Prof. Dr. Fábio Fernandes Villela BAURU 2024 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Câmpus de Bauru ATA DA DEFESA PÚBLICA DA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO DE SARA JANE NOBOA, DISCENTE DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DOCÊNCIA PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA, DA FACULDADE DE CIÊNCIAS - CÂMPUS DE BAURU. Aos 22 dias do mês de fevereiro do ano de 2024, às 19:00 horas, por meio de Videoconferência, realizou-se a defesa de DISSERTAÇÃO DE MESTRADO de SARA JANE NOBOA, intitulada "CRIANDO SACIS: UMA PROPOSTA DE ENSINO APRENDIZAGEM BASEADA NO FOLCLORE NACIONAL PARA OS ANOS INICIAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA." e produto educacional " VAMOS APRENDER COM OS SACIS? - EBOOK" . A Comissão Examinadora foi constituida pelos seguintes membros: Prof. Dr. FABIO FERNANDES VILLELA (Orientador(a) - Participação Virtual) do(a) Departamento de Educação / Instituto de Biociências Letras e Ciências Exatas de São José do Rio Preto, Profa. Dra. CLAUDIA MARIA CENEVIVA NIGRO (Participação Virtual) do(a) Departamento de Letras Modernas / Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas - Câmpus de São José do Rio Preto, Profa. Dra. ELIANA MARQUES ZANATA (Participação Virtual) do(a) Departamento de Educação / Universidade Estadual Paulista. Após a exposição pela mestranda e arguição pelos membros da Comissão Examinadora que participaram do ato, de forma presencial e/ou virtual, a discente recebeu o conceito final Aprovada. Nada mais havendo, foi lavrada a presente ata, que após lida e aprovada, foi assinada pelo(a) Presidente(a) da Comissão Examinadora. Prof. Dr. FABIO FERNANDES VILLELA Faculdade de Ciências - Câmpus de Bauru - Av. Engenheiro Edmundo Carrijo Coube, 14-01, 17033360, Bauru - São Paulo http://www.fc.unesp.br/posdocenciaCNPJ: 48. 031.918/0028-44. http://www.fc.unesp.br/posdocenciaCNPJ Dedico esta dissertação ao Professor Mestre Elieser Justino de Oliveira, responsável por me apresentar ao meu orientador e ao artista plástico, escritor e cuidador de Sacis, Jocelino Soares. AGRADECIMENTOS Deixo aqui registrado os meus agradecimentos às pessoas que fizeram parte deste processo de pesquisa, as quais foram essenciais para traçar este caminho cheio de desafios, conhecimentos e aprendizado: À minha família, aos meus pais, Maria da Graça e José Antônio Noboa, à minha irmã Simone Izabel Noboa e ao meu cunhado Fernando Pezarezi Senhorini: sem o apoio de vocês, desde o começo da minha jornada, nada disso seria possível. Muito obrigada por me ensinarem a persistir e a não desistir. Ao meu querido marido, Jocelino Soares, responsável por mudar a minha vida, principalmente por me ensinar a valorizar, a entender e a aprender mais sobre a cultura caipira, suas cores, encantos, causos, contos, crônicas e romances. Aos meus queridos filhos, Eduarda Noboa Nagata e Leonardo Noboa Nagata, que me fazem ter a esperança de que preciso todos os dias quando acordo, ensinando-me sobre a força do amor incondicional. À minha Tia Carmela Garçon, que me dá a força para continuar na minha profissão, que tanto aprecio, ensinando-me sobre a vida com suas experiências e vivências. Obrigada por tudo que já fez e faz por mim, por continuar a sonhar e a me fazer acreditar no mundo das ciências humanas com amor, aliás, com muito amor, pois foi a responsável por apresentar essa área a mim, como grande historiadora apaixonada que é. Ao meu eterno Mestre Elieser Justino de Oliveira, que me presenteou ao me apresentar ao artista plástico, escritor e cuidador de Sacis, Jocelino Soares, e ao meu orientador, pesquisador das causas caipiras. À UNESP, Câmpus de Bauru/SP, por abraçar a causa deste trabalho através do Programa Docência para a Educação Básica. Gratidão ao meu orientador Professor Doutor Fábio Fernandes Villela, por ter sido luz nesta pesquisa. Grata sou pela sua atenção, suporte, dedicação e entusiasmo. Obrigada por fazer este sonho se tornar real em minha vida, pela paciência nas reuniões, por me ensinar os caminhos, por me acalmar e, principalmente, por toda orientação, compartilhamento de material selecionado que muito contribuiu para o meu crescimento cultural, sempre com amor, dedicação e respeito pela Educação Básica no contexto acadêmico. Ao Mestre formador Rodrigo Azevedo, que me ajudou e ajuda, desde o início, com seus ensinamentos, exemplos e modelos. À professora Doutora Nidia Puig Vacare Tezine, minha madrinha, que orientou meus estudos em espanhol em tempo recorde para a aprovação no exame de proficiência. Obrigada por todas as orientações, dicas referentes ao mestrado profissional, pois suas experiências internacionais me ajudaram a buscar novos caminhos para a pesquisa. Ao professor Pérsio Marconi, que, gentilmente, realizou a primeira correção do texto e contribuiu para a escrita acadêmica. Ao doutor Romildo Sant’Anna, que durante a leitura e comentário do seu livro “A Moda é Viola”, em sua residência, em uma manhã de um sábado inesquecível, fez- me ter a certeza do quanto era valioso buscar, no folclore, a essência da cultura caipira. À doutora Renata Sbrogio, que embarcou comigo nesta aventura e oportunizou, com os seus conhecimentos de designer gráfico e seu profissionalismo, o suporte necessário para a elaboração do produto pedagógico para o mundo. Ao doutor Deodoro Moreira, que contribuiu significativamente para o formato, correção e edição do produto pedagógico final. À professora doutora Eliana Magrini Fochi, por ter me apresentado às Normas da ABNT. À professora doutora Patrícia Reis Buzzini por sua generosidade ao compartilhar modelos de escrita acadêmica no início do meu mestrado, que foram fundamentais para o desenvolvimento das minhas habilidades de pesquisa. Às professoras doutoras Cláudia Maria Ceneviva Nigro e Eliana Marques Zanata por participarem da banca de qualificação da minha dissertação. Suas valiosas sugestões foram cruciais para o aprimoramento do meu trabalho e desempenharam um papel fundamental na melhoria da qualidade do meu estudo. À professora doutora Maria Celeste Tommasello Ramos e ao professor doutor Vitor Machado por, gentilmente, aceitarem participar, como membros suplentes, da banca de qualificação da minha dissertação. Por fim, agradeço a todos que, de uma forma ou outra, ajudaram-me a realizar esta pesquisa, com o intuito de que o Saci-Pererê chegasse à Educação Básica. Gratidão por embarcarem comigo nesta jornada. Velho é o tema, mas tão velho como o folclore é o sol, e o sol é sempre novo, quando esparge sobre o céu silencioso o ouro e a púrpura de sua flama, nos deslumbramentos do amanhecer. José Sant’anna (1972, p. 5) NOBOA, Sara Jane. Criando sacis: Uma proposta de ensino-aprendizagem baseada no folclore nacional para os anos iniciais da Educação Básica. 2024. 110f. Dissertação (Mestre em Docência para Educação Básica) – Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Ciências, Bauru, 2024. RESUMO Este trabalho tem o objetivo de propor a criação de um material didático focado no folclore, com ênfase no personagem Saci-Pererê, evidenciando sua importância na história brasileira. O folclore, refletindo manifestações populares, crenças e valores, encontra no Saci-Pererê seu personagem mais emblemático e reconhecido. Nesse contexto, investigou-se a presença e o significado deste personagem em uma cidade do interior de São Paulo, analisando-se a cultura folclórica em uma escola para promover e valorizar o folclore nacional. A metodologia adotada foi qualitativa e bibliográfica, objetivando elucidar a trajetória do folclore brasileiro desde suas origens, destacando sua importância na composição da nossa cultura diversificada, influenciada por povos indígenas, africanos e europeus. No âmbito escolar, com as crianças da educação infantil, utilizou-se o livro “Vamos aprender com os Sacis?”, que se destaca por suas ricas ilustrações em aquarela, obra de Jocelino Soares. Os resultados indicam a significativa influência do folclore e do personagem Saci-Pererê na localidade estudada, bem como seu potencial pedagógico em auxiliar os alunos a compreenderem de maneira lúdica a cultura à qual pertencem, não apenas durante as celebrações do dia do folclore, mas ao longo de todo o ano letivo. Palavras-chave: Educação Infantil. Folclore Nacional. Saci-Pererê. Diversidades culturais. NOBOA, Sara Jane. Creating sacis: A teaching-learning proposal based on national folklore for the early years of Basic Education. 2024. 110p. Dissertation (Master in Teaching for Basic Education) – São Paulo State University (Unesp), School of Sciences, Bauru. ABSTRACT This work aims to propose the creation of didactic material focused on folklore, emphasizing the character Saci-Pererê, highlighting its importance in Brazilian history. Folklore, reflecting popular manifestations, beliefs, and values, finds in Saci-Pererê its most emblematic and recognized character. In this context, the presence and significance of this character were investigated in a town in the interior of São Paulo, analyzing the folk culture in a school to promote and value the national folklore. The methodology adopted was qualitative and bibliographic, aiming to elucidate the trajectory of Brazilian folklore from its origins, highlighting its importance in the composition of our diverse culture, influenced by indigenous, African, and European peoples. In the school context, with children from early childhood education, the book "Vamos aprender com os Sacis?" was used, notable for its rich watercolor illustrations by Jocelino Soares. The results indicate the significant influence of folklore and the character Saci-Pererê in the studied locality, as well as its pedagogical potential in assisting students to understand the culture to which they belong in a playful manner, not only during folklore day celebrations but throughout the entire school year. Keywords: Early Childhood Education. National Folklore. Saci-Perere. Cultural diversities. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Livros e periódicos sobre o Saci, entre eles Monteiro Lobato e Câmara Cascudo .................................................................................................................... 32 Figura 2 - Halloween versus Saci-Pererê .................................................................. 34 Figura 3 - Convite de festa de Halloween de escola infantil ...................................... 36 Figura 4 - A Turma do Pererê: 365 dias na Mata do Fundão .................................... 37 Figura 5 - Dia da Cultura Nacional ............................................................................ 67 Figura 6 - Em aquarela Saci brincando de esconde-esconde ................................... 69 Figura 7 - Em aquarela, Saci triste pelas queimadas na mata .................................. 69 Figura 8 - Em aquarela, Saci comendo frutas ........................................................... 70 Figura 9 - Em aquarela, Sacis indo para a escola ..................................................... 70 Figura 10 - Desenho do redemoinho do Saci ............................................................ 87 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Respostas das docentes Débora e Silvana, respectivamente ................ 83 Quadro 2 - Respostas das docentes Celina e Silvana, respectivamente .................. 83 Quadro 3 - Respostas das docentes Fernanda e Silvana, respectivamente ............. 84 Quadro 4 - Respostas das docentes Kananda e Silvana, respectivamente .............. 84 Quadro 5 - Comentários dos alunos “Vocês conhecem o Saci-Pererê?” .................. 85 Quadro 6 - Comentários dos alunos “Vocês conhecem o Saci-Pererê? ................... 85 Quadro 7 - Comentários dos alunos “O que o Saci está fazendo nessa imagem?” .. 86 Quadro 8 - Comentários dos alunos “O que o Saci está fazendo nessa imagem?” .. 86 Quadro 9 - Comentários dos alunos “O que o Saci está fazendo nessa imagem?” .. 86 Quadro 10 - Comentários dos alunos “O que o Saci está fazendo nessa imagem?” 87 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 14 Capítulo 1: O FOLCLORE BRASILEIRO E SEU IMPACTO NO ENSINO ESCOLAR .................................................................................................................................. 21 1.1 Folclore: sua importância e relevância no ensino ............................................ 21 1.2 Saci-Pererê: personagem folclórico das regiões brasileiras ............................ 29 1.3 O ensino da arte, cultura e folclore nacional sobre o olhar dos documentos oficiais .................................................................................................................... 40 CAPÍTULO 2: A FUNDAMENTAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO: CONHECENDO O SACI .......................................................................................................................... 46 2.1 A ausência de materiais didáticos à luz da Lei nº 11.645/08 e dos Parâmetros Curriculares Nacionais ........................................................................................... 46 2.2 Diversidades culturais e a restauração do material didático no ambiente escolar ............................................................................................................................... 50 2.3 As consequências de não possuir conteúdos didáticos sobre a cultura folclórica ............................................................................................................................... 54 CAPÍTULO 3: VAMOS APRENDER COM SACIS? ................................................. 57 3.1 Procedimentos Metodológicos ......................................................................... 57 3.2 Delineamento do Produto ................................................................................ 63 3.3 Instrumentos de coleta de dados ..................................................................... 68 3.4 Procedimento de apresentação dos resultados ............................................... 71 CAPÍTULO 4: APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ...................... 82 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 89 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 91 APÊNDICE A – Etapa 1: Cronograma para pesquisa ............................................... 95 APÊNDICE B – Etapa 3: Autorização dos pais e/ou responsáveis ........................... 99 APÊNDICE C – Etapa 6: Desenhos dos alunos mediante interpretações do material de pesquisa ............................................................................................................. 104 APÊNDICE D – E-book do livro didático Vamos aprender com os sacis? .............. 110 14 INTRODUÇÃO Nesta introdução, antes de apresentar as partes que compõem a presente dissertação, é narrada a experiência acadêmica e docente da pesquisadora que realizou este trabalho, visto que, nela encontra-se a justificativa de sua realização. A pesquisadora nasceu em uma família de professoras de Educação Básica, assim como de gestora de escola. Durante a infância, recorda-se de sua mãe, levando-a para a “Escola Estadual Zuleika Ferreira da Costa Aguiar”, onde sua única responsabilidade era estudar, enquanto a mãe lecionava. Depois, quando terminava o período de estudo, bastava esperá-la no interior do carro para voltarem para casa. Estava acostumada com a rotina, assim, era no fusca bege que almoçava, brincava de casinha e fazia as tarefas em uma cartilha chamada “Caminho Suave”. Estudava no período da manhã e ficava na escola até o outro período aguardando a mãe. É desta maneira que se recorda do ensino fundamental. Posteriormente, já maior, foi para outra escola estadual, chamada “Stefan Zweig”, que se tratava de uma instituição grande para o seu tamanho. Ainda hoje, lembra-se das grandes escadarias dessa escola. Sendo assim, por estar no Segundo Ciclo do ensino fundamental, sua mãe apenas a levava e, na saída, ela a esperava voltar na biblioteca da escola. No entanto, com o tempo, aprendeu que caminhando reto na Rua Solidônio Leite, em algum momento, iria encontrar com sua mãe vindo e, se continuasse reto, chegaria à Rua Augusto Fetzer, rua de sua casa. Foi a aluna que carregava uma espécie de maleta pesada cheia de livros e cadernos, além de uma bolsa pendurada no ombro com cadernos menores e estojos com lápis de todos os tipos e cores, com borracha na ponta, canetas pequenas de flores coloridas, uma caixa com 36 lápis de cor, agenda e uma lancheira. Para mais, mal sabia que sua jornada estava só começando, pois, ela e sua família mudaram-se para Ribeirão Pires, lá, estudou na “Escola Estadual Vila Suíça”, onde concluiu o ensino fundamental e voltou para São Paulo, vindo a prestar o “Vestibulinho” da época, no qual obteve êxito ao entrar no curso de Magistério da “Escola Estadual Mário Marques de Oliveira”. Desse modo, realizou seus estágios em uma escola particular, em que, por consequência, foi contratada mais tarde para substituir uma professora que mudou para a Europa. Hoje, essa escola é o grande “Colégio Brasiliense”. 15 Assim, o curso de Magistério foi concluído em 1989, ano em que seus pais decidiram mudar para o interior do estado e em que Paulo Freire se tornou Secretário Municipal de Educação da Cidade de São Paulo. No interior, iniciou seus estudos universitários na Faculdade de Educação, Ciências e Artes Dom Bosco de Monte Aprazível no curso de Estudos Sociais. Sua vida de docente de escola pública iniciou-se nos anos de 1990. Lembra-se da primeira escola rural onde lecionou, chamada “Fazenda Coqueiros”, entre União Paulista e Macaubal, em que ela e seus alunos ficavam com cheiro de fumaça, pois não existia energia elétrica e a “merenda” era “esquentada” em um fogão à lenha feito em uma cozinha na direção da porta de sua sala de aula “multisseriada”; o banheiro era uma “casinha” de buraco com um cheiro também inesquecível, bem próximo a sua sala de aula. Lembra-se também de suas inúmeras aulas de substituição em várias cidades como Poloni, Monte Aprazível, distrito de Junqueira e Itaiúba, Macaubal, Nhandeara, Sebastianópolis, Nipoã e União Paulista. Recorda-se das inúmeras caronas e de como era difícil “pegar aula” e ser professora eventual no ensino fundamental no início dos anos 90, pois as classes eram superlotadas e as professoras efetivas “donas das cadeiras” pouco faltavam. Nesta época, foi aprovada em um Concurso Público Estadual, começou a ter mais pontos e, consequentemente, períodos maiores de aulas começam a surgir para aulas livres em escolas estaduais. Nesse período, recorda-se da entrevista para a espécie de “Escola Padrão” em União Paulista, onde havia uma sala livre e o diretor era o “Senhor Feijão”. Foi a professora aprovada na época e, para a sua alegria, durante o ano letivo inteiro, as aulas estavam garantidas. Como morava em Poloni e havia outras professoras de Poloni e Monte Aprazível, até as caronas eram mais fáceis. Era o dia inteiro na escola trabalhando e, durante a noite, na faculdade. Ir à faculdade era uma grande aventura, já que ia com um ônibus de estudantes que saía de União Paulista, passava em Junqueira e em Poloni para, assim, deixar os alunos em Monte Aprazível, seguindo para São José do Rio Preto, levando outros estudantes para os mais variados cursos em diferentes faculdades. Quando as aulas terminavam, o ônibus voltava para pegá-los. Saíam às 23h da aula, desciam a rua e esperavam até o início da madrugada na Praça São João, no centro de Monte Aprazível. Era assim todos os dias da semana, com chuva, frio ou calor. 16 Durante esse percurso, aproveitava para estudar, outras vezes, corrigir tarefas dos alunos ou preparar as atividades para o mimeógrafo. Lembra-se das apostilas que fazia, eram os livros de alfabetização, como espécies de manuais. Para os alunos, existiam as cartilhas, que gosta de relacionar à cartilha “Caminho Suave” que era usada em sua época e de livros semelhantes de alfabetização de diferentes editoras, dos quais tiravam modelos para fazer os cadernos de seus alunos e as lições na lousa. Cabe destacar que a escola era organizada em ciclos, constituída em uma versão aparentemente progressista e outra conservadora. Portanto, estavam vivendo o momento da implementação de programas específicos de alfabetização, como o ciclo básico de alfabetização do Estado de São Paulo, assim, aprendiam sobre aspectos teóricos referentes à escola em ciclos em cursos oferecidos pelas Diretorias de Ensino, chamados Programa de Educação Continuada (PEC), que abrangiam aspectos pedagógicos, sociológicos, históricos, psicológicos e filosóficos relacionados à organização e ao conteúdo da escola em ciclos. Existiam ainda, os cursos e formações oferecidos pelas Diretorias de Ensino, denominados Cursos de Extensão Cultural. No ano de 1991, realizou, na APAE de Ribeirão Pires, seu primeiro curso específico em Educação Especial para trabalhar com pessoas com deficiência Intelectual: “Curso de Aperfeiçoamento na Área da Deficiência Mental e Múltipla”. Quando começou a dar aula para pessoas com deficiência, não existiam laudos tão específicos como os de hoje, as crianças eram diagnosticadas, geralmente, por não aprenderem a ler e a escrever e por “terem algum tipo de deficiência”, descritas em receituários médicos ou laudos nem sempre conclusivos. Sua primeira turma de pessoas com deficiência foi na “Escola Estadual Feliciano Sales Cunha”, no segundo andar. A sala foi montada com tudo que havia de mais moderno na época em recursos pedagógicos, como jogos de madeira e encaixes de EVA, mas a ausência de um material didático específico sempre foi o seu maior desafio durante sua trajetória pedagógica e até hoje. Em 1994, tornou-se dekassegui1. No Japão, trabalhou em fábricas de diferentes segmentos como têxteis, de eletrônicos e de automotivos. Sempre observava as crianças indo às escolas, nas quais ficava evidente o respeito em relação à escola e à comunidade. Por meio dessa observação e de sua vivência no 1 A palavra dekassegui significa trabalhador estrangeiro. 17 país, obteve uma boa experiência de vida e uma bela trajetória profissional. Assim, um dos seus sonhos era trabalhar em uma escola brasileira no Japão, o qual veio a realizar-se anos depois, período em que pode aprender com mais intensidade sobre a necessidade da elaboração de um material didático específico sobre assuntos pertinentes à cultura brasileira. Em 2007, novamente no Brasil, após a realização de novos cursos em nível de Pós-Graduação na área de História, Cultura e Sociedade, uma nova experiência profissional surgiu na Prefeitura de Poloni, como Assessora de Cultura e Turismo, em que conseguiu acesso a novos cursos de Preservação de Patrimônio Cultural Material e Imaterial, Museologia, Acervo Cultural, Turismo Rural, Turismo Pedagógico, Elaboração de Projetos Culturais pelo Proac, Organização de Acervos Municipais, Oficinas Culturais das mais diversas modalidades como Música, Teatro e Cinema, entre outros. Em 2011, foi aprovada no concurso público na Prefeitura de Monte Aprazível para o cargo de Docente na Educação Básica, no Cargo de Professora na Educação Infantil e, novamente, a elaboração de material didático específico se tornou presente em sua prática profissional. Desse modo, trabalhar no Japão permitiu que a pesquisadora observasse como as crianças japonesas valorizavam ir à escola, com sede de estudar, referenciando a relação entre os estudantes, a escola e a comunidade. Por consequência, ela entendeu, anos mais tarde, a necessidade de elaborar um material didático específico sobre assuntos pertinentes da cultura brasileira, isso porque, no Japão, as crianças tinham orgulho da sua cultura, conheciam todos os personagens de seu país. Assim, trabalhar com elementos da cultura regional e valorizar aspectos referentes ao regionalismo, a maneira de ser e de viver do caipira, do povo do noroeste paulista, concentrou-se como um dos aspectos do seu objeto de trabalho, de pesquisa e estudo, na certeza de que tais elementos precisam ser trazidos, valorizados e trabalhados na escola com práticas pedagógicas das mais variadas vertentes. Uma nova aprovação em concurso público na Prefeitura de São José do Rio Preto para o cargo de docente na educação básica em 2019, e, em 2021, a aprovação como aluna regular do Mestrado Profissional da Unesp em Bauru concretizou a oportunidade da realização do sonho da elaboração do produto pedagógico como resultado da pesquisa e com foco em tais objetivos, com conteúdo específico para cada página do livro paradidático. 18 Além disso, uma outra oportunidade para a implementação de elementos para a pesquisa surgiu em 2022, quando a pesquisadora estava no cargo de Diretora de Escola em Substituição, momento em que pôde conhecer a Secretaria Municipal de Educação de São José do Rio Preto. Desse modo, os mencionados elementos para a pesquisa efetiva do Projeto de Mestrado se tornaram possíveis dentro da rede, já que os elementos abordados na pesquisa são projetos pedagógicos já existentes nela, tais como alimentação saudável, brasilidades, brincadeiras, hábitos de higiene, inclusão, ecologia, preservação ambiental, música, entre outros. Desse modo, esta pesquisa foi concebida com o objetivo de contribuir para o ensino do folclore nacional, destacando a importância de abordar a figura do Saci na educação básica. Assim, esse enfoque visa valorizar um aspecto cultural significativo que merece atenção. No desenvolvimento deste estudo, diversos aspectos relacionados ao Saci foram investigados, revelando-se a existência de um amplo grupo de pessoas, em todo o Brasil, dedicadas a essa temática. Entre os pesquisadores engajados neste campo, destaca-se Jocelino Soares, escritor e artista plástico que tem explorado o tema do Saci em suas obras e artigos publicados em jornais do interior de São Paulo. Soares, autor de "O Criador de Sacis" (2014), é reconhecido por suas narrativas e, durante as celebrações folclóricas, é frequentemente convidado por escolas, tanto de sua cidade quanto de outras, para compartilhar suas histórias. Além disso, Soares ilustrou materiais pedagógicos, buscando com suas narrativas valorizar a cultura caipira e perpetuar os causos transmitidos de geração em geração. Mouzar Benedito, outro pesquisador de destaque, contribuiu com informações valiosas sobre a história do Saci. De acordo com Benedito, o Saci passa sete anos incubando em um gomo de taquara, um tipo de bambu, e após o nascimento, dedica- se a pregar peças por 77 anos. Após esse período, não morre, mas transforma-se em orelha-de-pau, um cogumelo que cresce em troncos de árvores. Benedito, autor de 23 livros e sócio-fundador da Sociedade dos Observadores de Saci (Sosaci), com sede em São Luiz do Paraitinga (SP), ressalta a diversidade cultural do Saci, enfatizando que cartunistas de renome no Brasil e no exterior se deleitam em representá-lo, o que reforça a ideia de sua pluralidade. Esse aspecto é particularmente relevante para o ambiente escolar, onde o multiculturalismo e a diversidade são temas centrais. 19 Margareth Marinho, reconhecida sacióloga, percorreu o Brasil, participou de congressos e realizou extensas pesquisas que culminaram na publicação do "Dossiê Saci" (2007). Para Marinho, o Saci simboliza o folclore brasileiro em sua forma mais autêntica, refletindo as particularidades de cada região onde é conhecido. Portanto, o trabalho desses autores constitui a base desta pesquisa, que almeja trazer para a sala de aula essa figura emblemática do folclore brasileiro. Com base em todo o exposto, este trabalho tem o objetivo de suprir uma lacuna no ensino, ao propor a criação um material didático sobre o folclore, mais especificamente sobre o personagem Saci-Pererê, demonstrando o quão a temática faz parte da história brasileira, considerando que se trata de manifestações populares de povos, suas crenças e valores. Para tanto, este trabalho foi organizado da seguinte forma: no capítulo 1, chamado “O folclore brasileiro e seu impacto no ensino escolar”, demonstramos a importância e relevância do folclore no ensino. Destacamos que o folclore é baseado em manifestações populares com elementos artísticos produzidos pelo povo e destinados ao povo. Mencionamos, ainda nesse capítulo, os diferentes povos que fizeram parte da história do Brasil, bem como do folclore brasileiro, sendo eles os povos originários, isto é, os indígenas, os africanos e europeus. Em seguida, ainda no capítulo 1, discorremos sobre o Saci-Pererê, mais especificamente, sobre suas características e as regiões brasileiras que mais o abordam e que são influenciadas por ele. No capítulo 2, chamado “A fundamentação do material didático: conhecendo o saci”, ressaltamos a ausência de materiais didáticos que se adequem à Lei nº 11.645/2008 (Brasil, 2008) e aos Parâmetros Curriculares Nacionais (Brasil, 1997). Demos foco às mudanças desses documentos oficiais desde o ano de 1996, para que fosse possível analisar as alterações e, até mesmo, a evolução nos dispositivos que pautam as regras brasileiras da Educação. No capítulo 3, descrevemos a metodologia de pesquisa adotado, bem como os procedimentos éticos, o delineamento da pesquisa e do produto, os instrumentos de coleta e, por fim, os procedimentos de apresentação dos resultados. No capítulo 4, apresentamos o resultado da pesquisa realizada na escola localizada em um município do interior do estado de São Paulo. Diante disso, foi necessário entender a metodologia de projetos na Educação Infantil, a fim de 20 conhecer o cotidiano escolar do professor e do aluno, ou seja, a preparação dos dois lados foi essencial para entender a realidade e obter o primeiro contato com o tema. Assim, procuramos, por meio da pesquisa, saber a realidade das crianças na escola e o seu conhecimento sobre o folclore e o Saci-Pererê, utilizando o material didático com desenhos em aquarela, em que o personagem está tendo diversas vivências parecidas com o que as crianças fazem no seu dia a dia. Nesse sentido, o capítulo 4 foi dividido em diversas etapas, com base em um cronograma iniciado com a elaboração do livro “Vamos aprender com os Sacis". Por fim, nas Considerações Finais, finalizamos o trabalho tecendo algumas considerações sobre o desenvolvimento da pesquisa e seus resultados. 21 CAPÍTULO 1: O FOLCLORE BRASILEIRO E SEU IMPACTO NO ENSINO ESCOLAR Neste capítulo, apresentamos a fundamentação teórica que deu embasamento para o desenvolvimento deste trabalho. Na seção 1.1, abordamos a definição e significado do folclore, destacando sua importância como um conjunto de elementos culturais transmitidos de geração em geração, que revelam a cultura espontânea de uma comunidade. Na seção seguinte, 1.2, discorremos sobre o Saci-Pererê e sua importância nas diversas regiões do Brasil, destacando a ampla popularidade do Saci e sua presença nas lendas brasileiras, enfatizando sua caracterização como um menino negro de uma perna só, com um gorro vermelho na cabeça e um cachimbo na boca. Em seguida, na seção 1.3, tratamos do ensino da arte, da cultura e do folclore nacional com base em documentos oficiais, destacando a importância do folclore e da cultura nacional como parte do patrimônio cultural de uma nação, protegido legalmente pela Constituição Federal de 1988. No final desta seção, retomamos o objetivo da presente pesquisa, que é desenvolver um método de ensino- aprendizagem que integre o folclore nacional de forma transversal ao currículo escolar, ao longo do ano, em vez de apenas em datas específicas. Isso ressalta nossa intenção de contribuir para a educação infantil de maneira mais abrangente e contínua. 1.1 Folclore: sua importância e relevância no ensino Pode-se afirmar que o folclore é o agregador das manifestações populares de um determinado povo. Na sua essência, um conjunto de elementos artísticos produzidos pelo próprio povo e destinado ao povo, transmitido de geração para geração, que oferece a oportunidade de conhecer a cultura espontânea de determinada coletividade, sua psicologia, seu comportamento, seus costumes e suas crenças. Para tanto, torna-se necessário, inicialmente, saber o que não é o folclore, porque tendem a interpretá-lo como tudo que é exótico, pitoresco, falso e banal (Almeida, 1963). Basicamente, a palavra “folclore” veio a ser estudada em 22 de agosto de 1846, criada, inicialmente, como “FOLK-LORE”, traduzido como “saber tradicional do povo”, 22 tal significado se deu por meio das pesquisas do arqueólogo inglês William John Thoms, o qual se utilizava da coletânea de contos, lendas, provérbios, mitos, adivinhas, canções, dizeres populares e narrativas oralmente nas chamadas “Antiguidades Populares”. Todavia, é cabível ressaltar que William era mais um estudioso do que artista, uma vez que não era um ser que se interessava perdidamente pela expressão musical ou por artes performativas, percebe-se, então, que por longos 80 anos “lore” foi objeto de simplificações históricas, tendo elo apenas com as tradições, mais especificamente, como sinônimo de danças (Farias, 2011). Em suma, Farias (2011, p.30) destaca que esta associação de significado não é exata e o detalhe da inexatidão faz toda a diferença por “lore” deve entende-se [sic] o estudo das lendas, usos e tradições, sabedoria e literatura popular, acumulados por aprendizagens ou pela experiência. É uma expressão longa para um significado, por isso tem sido condensado em “sabedoria do povo”, o que parece mais prático [...] mas não poderemos esquecer que o “ore” é, antes de mais, o estudo ou conhecimento da sabedoria do povo. (Farias, 2011, p.30) Por conseguinte, ocorre que o conceito do folclore está além do que o destacado anteriormente, isto porque, ele tem como principal fundamento a sabedoria popular, que permite expressar o modo de pensar, sentir e agir de um povo, usualmente por transmissão oral e pela imitação. Essa noção é construída historicamente, sendo que varia ao longo do tempo (Pereira; Prado, 2000). Segundo Lima (1952) O Folclore não estuda a cultura integral de um povo, mas somente a chamada cultura popular. A cultura daqueles grupos sociais ou coletividades rurais e mesmo urbanas, que sentem, pensam, agem e reagem com a melhor e maior espontaneidade, sem que a isso sejam levados de maneira direta, por influência do pensamento erudito, que é difundido pelas escolas, academias, faculdades, igrejas e instituições sectárias em geral. (Lima, 1952, s.p.) É perceptível que Lima (1952) traz um conceito mais rústico do folclore, a fim de demonstrar a importância de aprendê-lo como realmente é, não o maquiando como algumas instituições buscam fazer. O modo de conceituar o folclore é relevante para a sua história, pois é uma maneira de valorizá-lo, buscando passar aquilo que verdadeiramente é para as crianças da Educação Infantil. Como consequência, 23 compreender o folclore se faz necessário, uma vez que leva a entender as crenças e valores de um grupo social. Sendo assim, é a forma pela qual se conhece o acervo cultural da sociedade em questão, logo, é de suma importância que a criança venha a aprender as músicas, lendas, crendices do passado e presente de um determinado povo. Ademais, a cultura folclórica permite imergir no crescimento das crianças, isso porque não as deixam esquecer os costumes, artes, técnicas, lendas, mitos, provérbios e adivinhações, a fim de que possam pensar, entender, sentir, agir como o povo a que pertencem, dando continuidade a uma geração, sem perder seus valores culturais. Sendo assim, é perceptível que o folclore é rico em personagens com diversas características e, se bem trabalhado no ensino escolar, torna possível destacá-las às crianças para que possam entender as diferenças existentes em uma sociedade, auxiliando-as a verem os hábitos e costumes do povo a que pertencem, sem perder nenhum vínculo entre os seus. Destaca-se que a cultura traz a tradição como ideia, seja de conhecimentos e habilidades passados de geração em geração. No presente estudo, é de suma importância observar a cultura como laica ou religiosa, masculina ou feminina, de pena e espada, “[...] trabalhar com a ideia de tradição libera os historiadores culturais da suposição de unidade ou homogeneidade de uma ‘era’” (Burke, 2005, p.39). À vista disso, o folclore vai além da diversão. “[...] Não se trata de ensinar folclore, mas de usá-lo onde se fizer oportuno, para que sua riqueza seja destilada na sensibilidade das novas gerações, nutrindo-as e energizando-as [...]” (Zanini, 2000, p. 168). Nesse sentido, há uma imensidão de maneiras de usar o folclore, ensinando cultura, arte, amor, responsabilidades, sustentabilidade, diferenças entre as pessoas, respeito, sendo didático às crianças, sem ser um encargo a elas. Entende-se, atualmente, que a cultura possui múltiplos sentidos, são eles vistos em diversas circunstâncias, tais como cultura da corte, cultura do absolutismo, cultura da imprensa, cultura do protesto, cultura do segredo, cultura da polidez, cultura do mérito. Logo, é correto deduzir que a história cultural alcança sonhos, comidas, emoções, viagem, memória, gesto, exames, humor, entre outros (BiasI, 2008). De acordo com Biasi (2008), a cultura é responsável por transmitir uma parte integrante e ativa que envolve a produção e criação de significados, além dos sujeitos, posto isso, é imprescindível compreender que a transmissão da cultura é cheia de significados do que se vive. Para mais, a cultura permite não apenas tomar o 24 conhecimento, mas também se aprofundar nas riquezas deixadas pelo passado, por meio de conceitos, uma vez que a cultura é uma metamorfose. Importa ressaltar que o folclore, para ser bem analisado, precisa ser incorporado à vida da comunidade. Logo, é essencial o aprendizado dele em cada região, pois, geralmente, o folclore está ligado ao passado como um museu velho, sem nenhuma perspectiva de acrescentar conhecimento ou melhoria na vida da comunidade, porém, é de suma importância substituir esse pensamento para analisá- lo com outro aspecto, isto é, por meio de fatos sociológicos que, de certa forma, estejam imersos em um grupo social, isto porque: É um complexo de gestos, em que cada grupo representa seu papel e que se completa na festa coletiva. Onde as condições de vida são muito duras, onde a estrutura social apresenta-se sob a fórmula de uma aglomeração de famílias e, não, da colaboração de grupos funcionais; onde a rarefação da população ou dos recursos se acentua e o homem sente-se esmagado pelo meio que o cerca – as tradições populares acabam por se estiolar e desaparecer (Bastide, 1951, p.23) À vista disso, o folclore surge de uma junção coletiva urbana e rural, sendo correto trazer à baila que a parte rural é um prolongamento da urbana, uma vez que se tem as fazendas e os sítios, que nada mais eram do que locais de encontro dos proprietários agrícolas e dos agregados que moravam junto a eles. Assim, nota-se que o folclore está ligado à existência de grupos institucionalizados, que lhe servem de base e o encarnam, como porque a cidade, com seus grupos de profissões artesanais, cada qual com suas tradições, suas danças e seus jogos (a chegança dos pescadores, os cateretês dos cuteleiros, os mouriscos dos alfaiates, bundús das quitandeiras...), fornecem às tradições uma estrutura institucionalidade (Bastide, 1951, p.23) Nesse sentido, Villela (2016, p. 333) afirma que o conhecimento tradicional é definido como o conjunto de saberes e saber-fazer a respeito do mundo natural, sobrenatural, transmitido oralmente de geração em geração. Para muitas dessas sociedades, sobretudo para as indígenas, existe uma interligação orgânica entre o mundo natural, o sobrenatural e a organização social. Nesse sentido, para estas, não existe uma classificação dualista, uma linha divisória rígida entre o natural e o social, mas sim um continuum entre ambos. 25 Desse modo, observa-se que o folclore brasileiro não traz uma terminologia exata do seu significado, pois suas influências vêm de diversas regiões do país, ou seja, com diversos grupos sociais, sendo assim, é possível se deparar com uma mesma dança, todavia, com nome diferente, por exemplo, o batuque, jongo, samba rural, coco e chegança dos marujos (Bastide, 1971). Segundo Biasi (2008), os folcloristas brasileiros têm entendido o termo cultura como sinônimo do folclore, isso porque a cultura também é vista como uma expressão do pensar, agir, reagir, sentir dentro da sociedade. Em outras palavras, a autora acrescenta que a Carta do Folclore Brasileiro, em 1951, orientou o termo folclore em terras brasilienses, desta forma, o folclore brasileiro pode ser visto como uma cultura popular em que se encontra um “[...] conjunto de criações culturais de uma comunidade, baseado nas suas tradições expressas individual ou coletivamente, representativo de sua identidade social” (Biasi, 2008, p.33). Assim, compreende-se que o folclore no Brasil não é cristalizado, o que faz dele uma riqueza ímpar, cheio de histórias, brincadeiras, danças, festas, ritmos, cantigas e outros elementos. Sua temática, personagens, contos e lendas permitem que trechos e traços da história nacional sejam apreciados em suas singularidades, apesar do folclore brasileiro não estar registrado em documentos como está o folclore europeu, isso não significa que houve ausência de realidade histórica, exemplo disso são as danças dramáticas, que têm influências marcantes no folclore atual, embora tenham sido introduzidas no Brasil bem mais tarde (Bastide, 1971). O Brasil é caracterizado, em sua origem, pela mistura de vários povos (africanos, europeus e os originários), cujos usos e costumes se entrelaçam ao longo da história brasileira. É bem verdade que a formação cultural brasileira é construída por essas três culturas, sendo que, quando analisadas isoladamente, são diversificadas em suas condições, em razão das subculturas delas próprias (Rabaçal, 1967). Esse processo não se deu sem percalços, uma vez que, em muitas ocasiões, os povos autóctones se viram sob a pressão da aculturação que, segundo Bosi (2001), seria forçar esse povo a adaptar-se tecnologicamente a um determinado padrão, entendido como superior. Todavia, apesar das imposições postas pelos portugueses em modificar a cultura de forma material e espiritual, os indígenas brasileiros sempre lutaram para manter vivas suas origens culturais e são os responsáveis pelas primeiras manifestações folclóricas genuinamente brasileiras. Exemplo claro disso são as 26 lendas que são ouvidas até hoje, as quais são heranças dos povos originários, transmitidas oralmente (Pereira; Prado, 2000). Por consequência, os portugueses não podiam contar com a mão-de-obra dos indígenas, recorrendo à escravidão negra, “transplantando para o nosso país, africanos igualmente representativos de diferentes níveis de cultura” (Rabaçal, 1967, p.3). Sendo assim, a história do folclore brasileiro também tem elo com o povo negro (Bosi, 2001). Manter as tradições culturais vivas era uma questão muito importante para os negros que aqui chegaram, isto porque, a dança e a música eram os meios pelos quais eles, povos africanos, recordavam suas tradições e, com isso, preservavam parte de sua cultura. As cerimônias de funerais eram também momentos em que os escravos cultuavam suas tradições. Buscar maneiras de preservar as raízes culturais foi uma forma sábia dos negros resistirem e manterem viva sua cultura. Muito daquilo que há de belo no folclore brasileiro é fruto da resistência do povo negro. Em suma, até hoje, muitas das práticas, costumes, palavras usadas, entre outras manifestações da cultura, têm origem nos povos originários e naqueles vindos da África e Europa. Em síntese O folclore brasileiro é, basicamente, o produto do encontro dessas três correntes. É o produto da aglutinação, num efervescente caldeamento reinterpretativo, de traços e complexos dessas culturas, originando não só manifestações especificamente nacionais, como também regionais e locais (Rabaçal, 1967, p.3) Assim, existe a literatura oral, também conhecida como a mitografia, a qual é uma influência indígena no folclore brasileiro. Tal mitografia é responsável, por meio do grupo Tupí-Guarani, por acrescentar, no populário, o Guarací, Jací e Perudá ou Rudá. Em português, elas significam, respectivamente, o sol, a lua e o deus do amor. Cada um desses traz consigo personagens folclóricos, por exemplo, o Saci-Pererê, o Boitatá, a Matinta Pereira e o Curupira, que são descendentes de Jací (Rabaçal, 1967). Existem elementos do folclore relativo às superstições, às crendices, aos sonhos e aos santos, nos quais destacam que os estudos sociológicos de fenômenos mágicos são realizados nos agrupamentos naturais ou primitivos, mas são deixados à margem nas sociedades contemporâneas. Sendo assim, Fernandes (1961) propôs uma contribuição científica ao estudo dos fenômenos mágicos nas sociedades modernas 27 a ideia básica dessa representação parece ser a de que existem "mistérios no mundo", os quais o homem deve conhecer e dominar na medida do possível, procurando utilizá-los em seu próprio proveito. As coisas e os seres não são o que parecem ser ou o que aparentemente percebemos: existem elementos não aparentes, imateriais, que caracterizam essencialmente os seres e as coisas e é nestes elementos que se baseia toda a mágica, a adivinhação etc. (Fernandes, 1961, p. 341) Contudo, tal riqueza cultural, pela qual o Brasil é conhecido mundialmente, é pouco utilizada nas salas de aula e, por diversas vezes, é desprezada ou simplesmente substituída por manifestações culturais de outros países. É de suma importância transmitir às crianças o folclore regional que lhes pertencem, para que não seja assunto desconhecido entre elas, bem como não seja algo que cause medo, mas que seja tomado de magia. No contexto da Educação Infantil, estudar com as crianças o folclore nacional possibilita a contribuição para trabalhar elementos da cultura regional, o que é pouco explorado no ambiente escolar. Considera-se muito importante valorizar, com as crianças, trabalhos relativos ao folclore da região em que a escola pertence, já que todos os lugares têm folclore e é parte integrante da personalidade cultural. Ao lado da cultura erudita, dirigida e cosmopolita de cada um de nós, há também a cultura folclórica, a qual se recebe por meio espontâneo pelos semelhantes, isto é, no grupo em que se nasce e convive. Desta forma, antes de conhecer acerca do folclore de outras regiões do país, faz-se necessário compreender o folclore local, a fim de que a criança tenha sede de aprender de maneira intensa e prazerosa o referido assunto. Logo, é notável que a atividade da criança não se limita à passiva incorporação de elementos da cultura, mas a criança confirma sua singularidade atribuindo sentidos à sua experiência por meio de diferentes linguagens, como meio para o seu desenvolvimento em diversos aspectos (afetivos, cognitivos, motores e sociais). É notável que, mesmo ao analisar o trabalho em Escolas Estaduais no Brasil na Educação Infantil, no Ensino Fundamental e no Ensino Médio, assim como buscando na memória de todos os quais passaram pelo ensino aprendizagem na Educação Básica, não é visto um material didático acerca da cultura e arte para compreender o folclore brasileiro não somente nos dias do folclore, mas o ano todo, de maneira multidisciplinar contextualizada. 28 O folclore contribui tanto para o processo de aprendizagem dos alunos quanto para a conscientização de que o respeito à diversidade cultural é necessário. Explorar o folclore com as crianças é um dos primeiros passos para valorizar a cultura brasileira, ou seja, fazer com que haja uma busca por diversas manifestações de beleza, arte e enraizamento, que é a essência da sabedoria popular. É válido ressaltar que o folclore infantil traz um processo de integração do indivíduo à sociedade e, portanto, merece uma atenção mais que especial, com tempo para tratar de uma socialização bem elaborada com grupos infantis, isto é, “é a educação da criança, entre as crianças e pelas crianças” (Fernandes, 1961, p. 176) que se gera a cultura. Assim, torna-se extremamente importante a criança vir a compreender o mundo e a si mesma, testando as significações que constrói, modificando-as continuamente em cada interação, seja com outro ser humano, seja com objetos. Noutro sentido, desde o ensino infantil, não só irá se apropriar de uma cultura, como também o faz de um modo próprio construindo cultura por sua vez (Brasil, 2013). É preciso mencionar o trabalho relacionado ao folclore de Villela (2018) intitulado: “Cultura ambiental na educação do campo trabalhando com paisagem, saberes tradicionais e música folk com a juventude do território caipira”. Nesse projeto, desenvolvido em 2016 no âmbito dos Núcleos de Ensino da Unesp, o autor elabora músicas “folk” contemporâneas que tenham alguma relação com as temáticas executadas no projeto. O projeto procurou desenvolver ações de inclusão produtiva e de agricultura familiar, com vistas à participação da juventude rural e fortalecimento das suas organizações econômicas, contribuindo para a inclusão produtiva e para o desenvolvimento sustentável e solidário do território, nesse caso, o “território caipira”. Ainda no que diz respeito ao folclore, mas com foco na cultura caipira, Villela (2016) pesquisou a cultura ambiental no território caipira do Noroeste Paulista (SP) por meio do projeto de ensino-pesquisa-extensão intitulado “Cultura ambiental no território caipira: história e saberes tradicionais das mulheres do noroeste paulista” que teve por objetivo trabalhar com a cultura ambiental do noroeste paulista do ponto de vista do seu desenvolvimento sustentável. O foco desse projeto residiu no estudo do "território caipira" como uma construção social e uma manifestação da identidade cultural na região noroeste do estado de São Paulo. Os objetivos gerais visaram compreender a história e os conhecimentos tradicionais das mulheres que habitam o "território caipira", com uma ênfase específica na Educação de Jovens e Adultos (EJA), particularmente nas mulheres dessa região. As razões que motivam esse 29 projeto incluem a promoção da inclusão produtiva das mulheres e o fortalecimento das redes socioeconômicas ligadas à agricultura familiar nos territórios rurais, além das diversas oportunidades para impulsionar a inclusão produtiva das mulheres no contexto do "território caipira". Os resultados incluíram a integração de conhecimentos de diversas áreas, a promoção de valores renovados, o incentivo a ações coletivas e o aumento dos níveis de escolaridade, que se associa a uma maior qualificação social e profissional, permitindo novas formas de aprendizado. Destacamos ainda o trabalho de Madeira e Villela (2021), em que os autores trabalharam com músicas folclóricas com o objetivo de compreender as inter-relações entre a sociedade contemporânea e o fenômeno do preconceito, especialmente, o racial em alunos da Universidade Aberta à Terceira Idade (UNATI) da Unesp de São José do Rio Preto. A temática afro-brasileira foi trabalhada por meio de músicas como jongos, ijexás e sambas atuais. O projeto teve como objetivo o enfrentamento ao preconceito racial, através do desenvolvimento de círculos de cultura, possibilitando uma formação diferenciada aos participantes do projeto. Na seção seguinte, argumentaremos sobre a relevância da personagem Saci- pererê. 1.2 Saci-Pererê: personagem folclórico das regiões brasileiras Saci-Pererê é um personagem conhecido e famoso em todo o território brasileiro, segundo Rabaçal (1967) é impossível não ter ouvido falar do mencionado personagem É o mais conhecido de todos os mitos, que corre o Brasil de norte a sul, de leste a oeste, em uma perna só, ostentando um barrete vermelho na cabeça e um cachimbo apagado na boca, e que dotado de espírito jocoso, se diverte criando dificuldades domésticas e espavorindo [sic] os viandantes nos caminhos solitários. (Rabaçal, 1967, p.9) É inegável que o Saci é um dos principais símbolos do folclore brasileiro, principalmente, para as crianças, ele se constitui em uma das lendas mais conhecidas. Segundo o relato de Pereira e Prado (2000) A lenda de que o Saci é um negrinho de uma perna só, muito esperto e malandrinho, é muito antiga. Ela diz que o Saci-Pererê nasce de um 30 gomo de taquara numa moita de bambu onde esteve guardado por sete anos. Depois desse tempo, ele sai pelo mundo afora, fazendo suas traquinagens e vive durante setenta e sete anos. Durante o dia só aparece para fazer rodamoinhos quando há ventania. O resto do tempo fica escondido na moita e de lá só sai de noitinha para aprontar estripulias (Pereira; Prado, 2000, p. 25) Assim, a lenda de que Saci-Pererê aproveita a vida fazendo travessuras, aparecendo em rodamoinhos, sendo feliz à sua maneira, bem como vivendo em moitas, saindo apenas para aprontar e fazer traquinagens é de conhecimento de todos. Além disso, é um senso comum aprender que Saci somente prega suas peripécias sem se importar, contudo, deve-se tomar cuidado ao entendê-lo dessa maneira, isso porque, muitas vezes, existe preconceito em relação ao personagem. Logo, é imprescindível ter carinho com ele e passar às crianças tal sentimento, tendo em vista que Saci-Pererê também ensina como viver, como cuidar da natureza, como se alimentar, ser responsável e ter um futuro desenvolvido socialmente. Como aponta Sant’Anna (2020) Tudo acontece no Brasil, quase sempre na região caipira, no tempo presente ou num passado vivo nas recordações. Claro, a partir desse espaço-tempo acontecem as idealizações e transfigurações da realidade tornada outra vez viva como matéria fingida da arte. Espelha o sentimento do povo, no que lhe possa excitar a imaginação (Sant’anna, 2020, p. 182) Segundo o autor, o folclore brasileiro acontece, na maioria das vezes, na região caipira, na qual não se deixam morrer suas memórias, fazendo com que elas vivam no presente com o povo e, por consequência, deparam-se com as idealizações e transfigurações, inovações que a sociedade, ao avançar, traz como arte. Sendo, nada mais e nada menos, do que um sentimento para aflorar a imaginação de quem conta. Estudando e analisando os escritos e participando de palestras e encontros com o Livre Docente Romildo Sant’Anna, bem como com o Jocelino Soares, o amor e valorização pela cultura caipira aprendida e compreendida com eles faz com que essa pesquisa se fundamentasse, principalmente, em elementos que fazem parte da cultura do noroeste paulista, efetivamente trazendo para a sala de aula as vivências e especificidades da região e do lugar onde a escola está situada. É importante também evidenciar que as experiências, trocas de saberes e valorização da identidade cultural do noroeste paulista se fundamentam como 31 elementos presentes nas interações e brincadeiras, como vetores norteadores para essa pesquisa, fundamentando e valorizando esses assuntos dentro da Educação Infantil, considerando ainda a participação do contexto familiar, da comunidade e dos elementos culturais vivos e presentes como eixos estruturantes, ou seja, o folclore está constituído em tudo, faz parte da cultura caipira, das músicas, das brincadeiras, das comidas, da maneira de festejar, de ser e de aprender. O folclore da região do noroeste paulista, do Brasil e do Mundo é vivo, não importa onde esteja a criança que está aprendendo, se ela for brasileira ou de outra nacionalidade e existir de fato pesquisas e aprendizagens sobre o folclore brasileiro, o Saci, em algum momento, irá aparecer e é nesse contexto que a oportunidade de aprendizagens significativas e interdisciplinares poderá acontecer. O Saci é sempre muito querido pelas crianças e considerar esses aspectos no contexto multidisciplinar é realmente a proposta dessa pesquisa, fundamentando-se e estruturando-se em todas essas questões que serão abordadas para que, de fato, a valorização da identidade nacional brasileira seja reconhecida e potencializada mundialmente. Assim, na região de São José do Rio Preto, o Saci é uma figura notória e cultuada, pois encontram-se diversos autores que escrevem a respeito desse ser e são conhecidos como os “Cuidadores de Saci”. Existem também os Sacisólogos2, que nada mais são do que estudiosos sobre assuntos relacionados ao Saci Pererê; a Saciação de Amigos e Criadores Interioranos de Saci, criada em 2002; e artistas plásticos e artesãos especialistas, chamados de “Criadores de Sacis”. O Bloco do Saci, que é tradicional na cidade, completou dezesseis anos em 2020, possui página na internet e no Facebook e é formado por pessoas que se organizam para festejar o Carnaval, sendo o ponto de encontro o Mercado Municipal de São José do Rio Preto, do estado de São Paulo. Necessário acrescentar que, nesta cidade, há uma escola municipal denominada “Saci Pererê”. Saber como Saci Pererê se apresentava é de extrema importância na presente pesquisa, posto que ele é dotado de especialidades que atingem a diversidade, abraçando a todos com pluralidade. Desse modo, o Saci Pererê tem pele negra, tem apenas uma perna, tem agilidade e usa suspensório e gorro vermelhos, esse último 2 Em 1917, quando o escritor Monteiro Lobato (1882 – 1948) fez uma ampla pesquisa para entender melhor a figura do Saci, ele chamou os interessados no tema de “Sacisólogos. (Paiva, 2008). 32 lhe permite acesso a poderes especiais, como correr mais rápido que todos. A imagem do Saci, como descrita, segue representada na Figura 1: Figura 1 - Livros e periódicos sobre o Saci, entre eles Monteiro Lobato e Câmara Cascudo Fonte: Compilação de Jocelino Soares É bem verdade que existem diversas histórias sobre o Saci, sendo umas verdades e outras nem tanto. Todavia, é importante conhecer bem e saber como se portar com ele, a fim de trazer o respeito para esse ser e demonstrar que tal personagem não é um mito qualquer. Para mais, é preciso compreender que o Saci possui características como de um ser humano, ou seja, é brincalhão, esperto, sabedor de tudo das florestas brasileiras e, além disso, protetor delas. Ao aprofundar no conhecimento sobre Saci, é imprescindível saber que o Saci “[...] nasce em um bambuzal de taqueruçu, uma planta nativa do Brasil. É aquele bambu mais grosso, conhecido como bambu-gigante, bambu-rei ou bambu-brasil. Ficam sete sacizinhos em cada gomo do bambu” (Marinho, 2019, p.3). Ademais, é fundamental entender que o Saci também tem sua tipologia e para sua identificação é preciso analisar o seu comportamento. Sendo assim, o primeiro deles é o Saci-Pererê, aquele que esconde os objetos para observar as pessoas procurar, nota-se que é sua diversão, bem como dá assobios agudos intermináveis. O segundo deles é o Saci-saçurá, que ama dar risadas de qualquer coisa, contagiando a todos que o escuta. Por fim, o terceiro é o Saci-trique, que tem um diferencial, uma 33 vez que é um menino branco, de uma perna só que gosta de dar sustos (Marinho, 2019). É no interior do estado de São Paulo, que se encontra a cidade de Botucatu, considerada a capital nacional do Saci e onde se localiza a Associação Nacional de Criadores de Saci (ANCS), que tem como intuito principal divulgar essa figura folclórica; e São Luiz do Paraitinga, onde foi criada a Sociedade dos Observadores de Saci (SOSACI), com o objetivo de valorizar a cultura popular brasileira, incentivando o desenvolvimento de projetos que promovam a sua difusão, por meio dessas instituições que se pode, por exemplo, aprender mais sobre o Saci e até mesmo saber como escapar dele e conhecer das suas curiosidades, tais como Durante o dia, principalmente, nunca olhe para um Saci sem tampar um olho! [...] Saci fica em gestação no gomo desse bambu durante sete anos e espera uma noite de tempestade para nascer. Para escapar de qualquer Saci: 1º Você deve atravessar um córrego ou riacho. Como o Saci é um ser encantado, ele não atravessa água. Não encontrando um córrego ou riacho, vá para a segunda dica! 2º Pegue um pedaço de corda e dê vários nós. Jogue atrás de você. O Saci vai pegar a corda e desatar cada nó. Pacientemente. Se esquecer da corda, terceira dica! 3º Pegue um dente de alho e peça à sua mãe para costurar um saquinho com ele dentro. Amarre um cordão no saquinho e pendure- se no pescoço. Alho espanta Saci! (Marinho, 2019, p.6) É notável o quanto o conhecimento acerca do Saci é fundamental na história brasileira, não à toa tem-se o Dia do Saci, destinado a eventos culturais, programas e celebrações que valorizem o folclore, a cultura e as tradições brasileiras, a qual foi instituído pelo projeto de lei federal nº 2.762, de 2003, aprovado pelo Congresso Nacional em agosto de 2004. Isto porque, veio à baila uma forte influência do Halloween, um tradicional evento celebrado em países norte-americanos por crianças e jovens que também é comemorado no mesmo dia, todavia, a problemática está na importância da valorização, com exageros na cultura estrangeira, esquecendo dos símbolos nacionais, como ilustrado na Figura 2 a seguir: 34 Figura 2 - Halloween versus Saci-Pererê Fonte: Correio Brasiliense (2021). Desta maneira, o jeito encontrado foi criar o Dia do Saci, a fim de ajudar a valorizar o folclore nacional e conscientizar a população que seu país, outrossim, é rico em variedade cultural (Correio Brasiliense, 2021). Importa trazer à tona a explicação da Lei nº 2.479, de 2003: A data escolhida, 31 de outubro, dia em que se festeja o Halloween, “Dia das Bruxas”, nos Estados Unidos, parece-nos pertinente. A comemoração do Halloween no Brasil – como tantas outras celebrações da cultura norte-americana de forte apelo comercial – tem atraído cada vez maior número de jovens e crianças. Criar, na mesma data, o “Dia do Saci” é, portanto, uma forma de se oferecer à juventude brasileira a alternativa de festejar as manifestações de sua própria cultura (Brasil, 2003, p. 7). Ainda na Lei nº 2.479, de 2003 (Brasil, 20023, p. 5-7), encontra-se uma justificativa sobre a citada lei no que diz respeito ao Saci-pererê: 35 No dia 25 de janeiro de 1917, reinava no Brasil o Dr. Wenceslau Braz, quando foi aberto inquérito sobre o Saci, para tirar a limpo o que de positivo havia na memória da nossa gente sobre o perneta. O "Estadinho", apelido popular da edição vespertina do "Estado de São Paulo" inaugurou naquele dia uma série de estudos sobre o Saci, chamando todos a colaborar. Com o apoio da Fundação Banco do Brasil e da Empresa Odebrecht, foi lançada a Edição facsimilar, Monteiro Lobato 1998, sob Licença de Monteiro Lobato Licenciamentos, o livro "O Sacy Perêrê, Resultado de um Inquérito". Recentemente, foi criada, em São Luiz do Paraitinga (SP), a Sociedade dos Observadores de Saci - SOSACI que, na sua Carta de Princípios, conclama a reunião de todos "os interessados em valorizar e difundir a tradição oral, a cultura popular e infantil, os mitos e as lendas brasileiras". "A Turma do Pererê", lançada em 1959, conquistou várias gerações e era um símbolo da brasilidade, como o próprio Saci. Assim, como Monteiro Lobato fizera no passado, ressalta a SOSACI, o Pererê de Ziraldo encarnou a resistência à invasão predatória da indústria cultural e dos estrangeirismos. "(...) Nascido da mitologia indígena, passando por uma mutação africana e outra européia, quando ganhou o gorro vermelho, o Saci reflete a nossa miscigenação e é uma síntese da cultura brasileira". "Das nossas criações populares a mais original é o Sacy-pêrêrê. Não há menino que em dia de vento não arregale o olho para um rodamoinho de poeira e não "veja" nelle, com os olhos da sugestão, o moleque de uma perna só". (...) "Não tem maus bofes, o sacy. O que quer é divertir-se à custa do caboclo e quebrar a vida monótona do sertão. Vive em permanente diabrura - o que é natural num diabinho - a pregar peças no bicho homem. Basta um nó bem dado, num cabo de buçá, para que o moleque fique preso, a gemer "sugigado". Porque então, se é assim facil, porque não se livra dele, d`uma vez, o caboclo, conservando o nó sempre apertado? Altos segredos da psycologia sertaneja... Ao enfurecimento do homem succede logo o dó; o caboclo começa a sentir falta d`alguma coisa; o mato parece-lhe triste, a noite muito vazia, os animais nostalgicos da correria noturna". (Como surgiu o Sacy em São Paulo, em O Sacy- Perêrê Resultado de um Inquérito) "Foi nesses sertões inesquecíveis que ouvi mil vezes a descripção do Sacy-Perêrê, que era o calmante ministrado por mamãe às crianças quando á sahida da senhora elles se punham a choramingar". (O primeiro depoimento, em O Sacy- Perêrê Resultado de um Inquérito) "O Sacy era assim. (...) Embaraçava a crina e a cauda dos cavallos. (...) Não me metia medo, não. (...) Não, não tinha medo do Sacy. Agora, das histórias de "sombrações", que contava o Zé Camillo, oficial de Justiça... Histórias de arrepiar!" (Segundo depoimento, O Sacy-Perêrê Resultado de um Inquérito) ‘Aqui das nossas banda exeste muito desse sogeitinho; é verdade, elle existe e aparece as veis pr'a gente (...)’ (Depoimento de Manoel da Barroca, em O Sacy-Perêrê Resultado de um Inquérito). "Sou adepto do saci. 100% nacional, não é chato, não toca campanhia, não pede doces e não fala inglês. Nem precisa! Para ilustrar o dispositivo legal citado, trazemos, a seguir, a Figura 3 em que há um convite Halloween de uma escola que busca incorporar o folclore na comemoração desta data: 36 Figura 3 - Convite de festa de Halloween de escola infantil Fonte: Escola municipal do interior paulista Um dos maiores fundamentos desse debate cultural em relação ao dispositivo citado foi exaltar a todos que não deixaram morrer o folclore. Assim, não se pode falar de Saci sem citar Monteiro Lobato, autor da coleção O Sítio do Pica-Pau Amarelo, trabalho que, de fato, deu brilho à literatura infanto-juvenil brasileira, principalmente pela ampla difusão, pois além de publicadas em livros, as histórias do famoso sítio foram adaptadas para o teatro, a televisão e o cinema. A obra contém vários personagens folclóricos – dentre eles, o Saci -, figuras que ganharam visibilidade em razão do sucesso alcançado com a divulgação das aventuras dos netos de Dona Benta3. Segundo Queiroz (1995), a migração do Saci do mundo caipira para o mundo urbano se deu por parte pelo escritor Monteiro Lobato, que, por sua vez, entendia que as tradições mais originais dos brasileiros estavam sendo esquecidas, pois foram substituídos por elementos culturais de europeus, de norte-americanos, de imigrantes italianos, de espanhóis e de japoneses no Brasil, sofrendo forte descaracterização na 3 A despeito da contribuição de Lobato para a Literatura brasileira, é preciso deixar explícito que seu nome é reconhecidamente associado ao racismo (Cf. Ribeiro, 2015). Conferir também os trabalhos de enfrentamento ao racismo e que desconstroem o pensamento racista presente em Lobato: Villela (2013 e 2015, entre outros). 37 cultura do país. Não à toa, ao analisar o Saci de Monteiro Lobato, é perceptível que o personagem era uma figura heroica, buscando preservar o caráter de menino travesso, com uma origem anormal e equilibrado entre ações boas e más, “era simultaneamente astuto e tolo e dispunha de poderes mágicos” (Queiroz, 1995, p.146). Para Souza e Veloso (2017), outro fato que explica a contínua popularidade do Saci foi a publicação, em 1960, da revista Turma do Pererê, obra do respeitável e conhecidíssimo cartunista mineiro, Ziraldo. Figura 4 - A Turma do Pererê: 365 dias na Mata do Fundão Fonte: Ziraldo (2007) Na revista colorida, o Saci foi representado como um menininho negro, de uma perna só, gorro vermelho e cachimbo na boca Essa caracterização marcou profundamente o imaginário popular e, a partir de então, quando se fala em folclore brasileiro, em literatura infanto-juvenil e, especificamente, em saci, automaticamente a memória é transportada para a imagem idealizada por Ziraldo (Souza; Veloso, 2017, p. 2) 38 O Saci é conhecido em quase todas as regiões do Brasil. Recebe a denominação de saci-ave ou sem-fim, no Nordeste. Nesse caso, é descrito como um ser maligno, que confunde os caminhos dos viajantes. No Norte, esse personagem associa-se ao mito português Matinta-Pereira, sendo representada por uma velha ou velho de uma perna só, que emite um canto agourento, semelhante ao de uma ave. De modo que dizem que o tal som era tão assustador que intimidava as crianças e atrapalhava o sono das pessoas que, aterrorizadas, acabavam por prometer ao Matinta-Pereira uma prenda, a fim de se verem livres da ameaça. Segundo a lenda, um dia depois da promessa, uma velha, que apareceria pedindo esmolas, seria, na verdade, a ave cobrando o que havia sido prometido (Souza; Veloso, 2017). Apesar da lenda mencionada, a intenção do estudo é tirar qualquer preconceito já criado em cima do Saci-Pererê como um ser maligno, uma vez notável que tal personagem tem mais a acrescentar no aprendizado das crianças. Porém, não é interessante esquecer as lendas que dão início a tudo que o envolve, isso porque, faz parte da história passada. Assim como diversas histórias do personagem folclórico, diversos autores se permitem apontar diferentes origens ou influências em sua composição, uma vez que afirmam que ele seja um verdadeiro amálgama de influências indígenas, africanas e portuguesas, sendo considerado como marca de “[...] um momento importante, uma encruzilhada da nossa [brasileira] viagem histórica. O Saci é talvez um símbolo” (Amaral, 1948, p.44). No mesmo sentido, conclui Araújo (1964, p.416) que Saci é um “mito síntese” com três raças geradoras da “alma nacional”, ou seja, ambos os autores entendem que Saci é um produto de fusão de diferentes origens. Entretanto, é imprescindível deixar esquecer que, no folclore, há influências fortes entre três etnias, são elas os indígenas, os negros e os brancos, em que entre elas, até hoje, tentam conviver em igualdade de condições, porém sem sucesso, não por falta de tentativa, mas pela falta de conscientização e reparação histórica. Além disso, é muito debatido acerca do compartilhamento de seus respectivos patrimônios culturais. De certa forma, existem narrativas sobre o Saci que expressam problemáticas que jamais devem ser esquecidas, considerando que houve uma sociedade hierarquizada, multirracial, com um passado marcado por escravidão e uma imensa desigualdade social. Diante do exposto, deve-se permitir diversos pontos de partidas 39 quanto a entender o complexo que é visualizar cada história do Saci, uma vez que Fernandes (1960) compreende que tal mito é um produto da “africanização” de um duende ameríndio, por consequência demonstra a reação do negro sobre os elementos dos folclores ibéricos e indígenas e mostram que, relativamente ao folclore branco, há uma transferência das piores situações para o negro, que passa para um plano que poderíamos considerar inferior. (Fernandes, 1960, p. 345 - 348) Em síntese, uma prática pedagógica que aborde o tema do Saci Pererê permite que as crianças conheçam esse personagem tão importante e significativo, e, por meio dele, possam ter despertada a curiosidade sobre a cultura local e nacional, além de melhor compreender a realidade em que estão inseridas, especialmente no que diz respeito ao sentido da existência em comunidade. Portanto, é de suma importância tratar o Saci para que não haja, na nova geração, relatos preconceituosos do passado ou uma caracterização física do personagem como deformado, o “Saci Pererê” como personagem adquiriu formas definidas, considerando-se que ele já fazia parte do folclore brasileiro, sem que suas características tivessem sido definidas ainda, e fundamentado na imaginação e construção de Lobato, o Saci-Pererê definiu-se como símbolo nacional que desde então vem se perpetuando por décadas. Segundo Coelho (1993, p. 151.) Pode-se dizer que, para o homem primitivo, a criação dos mitos foi uma necessidade religiosa. Para o homem moderno, a interpretação de tais mitos resultou, inicialmente, de uma necessidade científica, porque neles está a raiz de cada cultura e até de cada história particular. Ainda de acordo com Coelho (1993), o Saci-Pererê é indiscutivelmente um dos ícones mais representativos do folclore brasileiro, destacando-se como um símbolo magistral da identidade nacional. Sua importância reside na habilidade de incorporar de forma marcante as influências das culturas indígenas e africanas, que desempenharam papéis fundamentais na formação da cultura, raça e diversidade do povo brasileiro. O autor também discute que a representação icônica do Saci feita por Ziraldo deixou uma marca profunda na imaginação popular, pois, quando se menciona o folclore brasileiro, a literatura infanto-juvenil e, especificamente, o Saci, a nossa mente, automaticamente, evoca a imagem desse menino negro de uma perna só, tal como caracterizado por Ziraldo. 40 1.3 O ensino da arte, cultura e folclore nacional sobre o olhar dos documentos oficiais As crenças e lendas que fazem parte do folclore, assim como as tradições e os costumes, são bens imateriais que compõem o patrimônio cultural de uma nação. No Brasil, tais valores estão juridicamente protegidos pelo texto constitucional promulgado em 1988. Ao analisar precisamente a Constituição Federal de 1988, é perceptível o valor que ela dá à cultura nacional, isso porque, o seu artigo 23, III e V dispõe que Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: III – proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos; V – proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, à ciência, à tecnologia, à pesquisa e à inovação. A prioridade da Carta Magna em relação à cultura e à arte está em toda sua extensão, entregando uma responsabilidade para sociedade e para o Estado brasileiro, visto que, são direitos presentes na Declaração Universal de Direitos Humanos, tratado assinado pelo Brasil. Ademais, segundo Machado (2007) os direitos culturais são parte integrante dos direitos humanos, cuja história remonta à Revolução Francesa e à sua Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), que sustentou serem os indivíduos portadores de direitos inerentes à pessoa humana, tais como direito à vida e à liberdade. (Machado, 2007) Nesse sentido, é de grande valia trazer à tona o artigo 215 da Constituição Federal de 1988 Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais. §1º O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional (Brasil, 1988) 41 Considerando que o folclore nacional está englobado na cultura, como supramencionado, ele também auxilia na aprendizagem das crianças ajudando-as a entender o povo a que pertence, logo, não é errado afirmar que o Estado deva ensinar ao público infantil sobre culturas populares, indígenas, afro-brasileiras, ou, até mesmo, frisar acerca das regiões caipiras do país. Importa tanto o ensinamento sobre o folclore devido às tradições que ela é rica, aos personagens carregados de características que fazem as crianças compreenderem sobre o povo afro-brasileiro, a fim de valorizarem e respeitarem, para avançar em uma sociedade mais igualitária. Assim sendo, é fato que a cultura está no modo de vida de uma nação, pois, por meio dela, encontram-se o desenvolvimento mental, subjetivo, espiritual, que permitem a todos uma manifestação artística, portanto, um legado que fica para aqueles que estão crescendo no meio da população (Barros, 2007). Isto posto, o folclore marca gerações e gerações, falar sobre Saci Pererê e Sítio do Pica Pau Amarelo com um familiar é lembrar sobre amor, alegria, lazer e aprendizado, sem nenhum pesar. À vista do que prega a maior lei deste país, criaram uma resolução baseada nessa seara para proteger a cultura e arte, seja ela nacional ou local, isto é, a preocupação em manter a cultura como bem maior da sociedade fez com que surgissem documentos oficiais para ensino e aprendizagem com as crianças, uma vez que elas são o futuro do Brasil. Partindo disso, tem-se a Resolução nº 5, de 17 de dezembro de 2009, a qual fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. De modo geral, tal resolução importa devido ao avanço que se teve após a Constituição Federal de 1988, nela é possível saber que a educação infantil é um direito da criança, com idade de 0 a 5 anos, ao ensino. Por conseguinte, em consonância com a Carta Magna, o artigo 3º da Resolução nº 5 de 2009 afirma que: Art. 3º O currículo da Educação Infantil é concebido como um conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico, de modo a promover o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5 anos de idade. Ao analisar o dispositivo, é patente que o Estado se preocupou em entrosar o que as crianças já sabem com suas experiências e fazê-las conhecer mais do 42 patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico nas escolas. Sendo assim, as propostas pedagógicas devem ser focadas na criança, tendo em vista que ela é um indivíduo de direitos, que está a todo momento construindo sua identidade pessoal e coletiva, ou seja, aprendendo a ser um cidadão de forma lúdica, conhecendo a si mesmo, bem como aprendendo a viver em sociedade. Desta forma, a criança brinca, observa, aprende, fantasia, deseja, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a população, que nada mais é do que produzir cultura (Brasil, 2009). A magnitude da mencionada resolução faz entrar no aspecto da política cultural, significando que todos têm direito à cultura. Todavia, existe uma divisão social das classes, deste modo, uma manifestação de diferenças, que permitem que a população, em seu pleno direito a exercer a cultura, possa se comunicar, trocar experiências, criar outras novas formas de cultura (Chauí, 2006). Assim, as experiências que a fase infantil fornece são relevantes, uma vez que todas vivem em ambientes diversos, contudo, as propostas pedagógicas devem se atentar a respeitar os seguintes princípios, conforme o artigo 6º da Resolução nº 5, de 2009 menciona Art. 6º As propostas pedagógicas de Educação Infantil devem respeitar os seguintes princípios: I – Éticos: da autonomia, da responsabilidade, da solidariedade e do respeito ao bem comum, ao meio ambiente e às diferentes culturas, identidades e singularidades. II – Políticos: dos direitos de cidadania, do exercício da criticidade e do respeito à ordem democrática. III – Estéticos: da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade e da liberdade de expressão nas diferentes manifestações artísticas e culturais (Brasil, 2009) O que se percebe no artigo mencionado é que as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil devem ser pautadas nesses princípios, a fim de avançar na nova política, em que se encontra uma produção científica e movimentos sociais com qualidade, em razão de que possam, desta maneira, usar como estratégia o estímulo ao diálogo, como menciona o Ministério da Educação – MEC (2009) ao estimular o diálogo entre os elementos culturais de grupos marginalizados e a ciência, a tecnologia e a cultura dominantes, articulando necessidades locais e a ordem global, chamando a atenção para uma maior sensibilidade para o diverso e o plural, entre o relativismo e o universalismo (Brasil, 2009b). 43 Portanto, não é somente aplicar as propostas pedagógicas na Educação Infantil, mas também ter como garantia um cumprimento da função sociopolítica e pedagógica. Nesse sentido, a priorização das convivências entre as crianças e adultos implica amplo conhecimento e saber sobre diferentes naturezas; além de promover oportunidades igualitárias sobre a educação em diferentes classes sociais referentes à acessibilidade cultural e a possibilidades de vivência; ademais, estar envolvidos com a sociabilidade e subjetividade, vindo a comprometer com a ludicidade, a democracia, a sustentabilidade do planeta e procurar romper com as relações de dominação etária, socioeconômica, étnico-racial, de gênero, regional, linguística e religiosa (Brasil, 2009). Ao observar mais profundamente o disposto na Resolução, nota-se que o Ministério da Educação articulou para que houvesse um objetivo central, qual seja “[...] garantir à criança acesso a processos de apropriação, renovação e articulação de conhecimentos e aprendizagens de diferentes linguagens, assim como o direito à proteção, à saúde, à liberdade, à confiança, ao respeito, à dignidade, à brincadeira” (Brasil, 2009), e, principalmente, que haja interação com outras crianças. Atenta-se, portanto, ao período de vida que envolve a Educação Infantil e que está fortemente ligado a aspectos de aquisições, por exemplo, a marcha, o controle esfincteriano, a fala, a capacidade de imaginar e fazer de conta, usar linguagens diferentes. Há quem pensa que tais aquisições são somente constituições biologicamente determinadas, daí vem o engano, pois a arte de memorizar poemas, representar uma paisagem por meio de desenho, diferenciar cores, chorar ou consolar a criança quando chora envolve o amadurecimento, assim como produz relações culturais e históricas com o universo material e social. Assim, o artigo 8º (Brasil, 2009), traz consigo os incisos que implicam na importância de se obter uma proposta pedagógica em uma educação com integralidade; seja indivisível nas dimensões expressivo-motora, afetiva, cognitiva, linguística, ética, estética e sociocultural da criança; com participação, diálogo entre as famílias e o cotidiano delas, além do respeito e valorização da organização; estabelecendo uma relação entre a comunidade local, dando prioridade à gestão democrática e os saberes da mesma comunidade; e, por fim, reforçam, nos incisos VIII e IX, o quão relevante é a criança vir a se apropriar da história cultural dos povos originários, afrodescendentes, asiáticos, europeus e de outros países da América, 44 pois é dessa maneira que o reconhecimento acontece, assim como a valorização, o respeito, a interação, o combate ao racismo e a discriminação. Ademais, manter a comunidade local em consonância deve ser sempre uma prioridade, ainda o artigo 8º, §3º se preocupou em trazer § 3º - As propostas pedagógicas da Educação Infantil das crianças filhas de agricultores familiares, extrativistas, pescadores artesanais, ribeirinhos, assentados e acampados da reforma agrária, quilombolas, caiçaras, povos da floresta, devem: I - reconhecer os modos próprios de vida no campo como fundamentais para a constituição da identidade das crianças moradoras em territórios rurais; II - ter vinculação inerente à realidade dessas populações, suas culturas, tradições e identidades, assim como a práticas ambientalmente sustentáveis; III - flexibilizar, se necessário, calendário, rotinas e atividades respeitando as diferenças quanto à atividade econômica dessas populações; IV - valorizar e evidenciar os saberes e o papel dessas populações na produção de conhecimentos sobre o mundo e sobre o ambiente natural; V - prever a oferta de brinquedos e equipamentos que respeitem as características ambientais e socioculturais da comunidade (BRASIL, 2009) Portanto, pode-se afirmar que a Educação Infantil vista com o olhar do direito, da cultura, da arte e do folclore nacional quer manter a vivência de todas as crianças, sem deixá-las esquecer de onde vieram, mostrando o valor e o respeito de onde vivem. Faz-se importante mencionar também que um dos objetivos desta pesquisa será a alteração da atual Lei Municipal nº 9.292, de 24 de junho de 2004, que institui o Dia Municipal do Saci Pererê, que passará a ser comemorado no dia 31 de outubro, nas escolas de ensino fundamental do Município. Assim, para a Educação Básica, essa será a mudança proposta com a realização dessa pesquisa: Prefeito Edinho Araújo, do Município de São José do Rio Preto, Estado de São Paulo, usando das atribuições que lhe são conferidas por Lei, faz saber que a Câmara Municipal aprovou e ele sanciona e promulga a seguinte Lei: Art. 1º Fica instituído o Dia Municipal do Saci Pererê, que será comemorado no dia 31 de outubro, nas escolas de ensino fundamental do Município. Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. Prefeitura Municipal de São José do Rio Preto, 24 de junho de 2.004. 45 Tal dispositivo não pode ser simplesmente uma folha de papel com diretrizes para serem seguidas, mas que vez ou outra são esquecidas. Razão pela qual devem as crianças ter, por meio de proposta curricular da Educação Infantil, interatividades e brincadeiras que possam lhes dar experiências, tais como: conhecimento de si e do mundo através de sentidos sensoriais, expressivas, corporais, para que elas possam aprender sobre individualidade, respeito pelos ritmos e desejos; que possam ter domínio sobre as linguagens, gêneros e formas de expressão, bem como interagir com linguagem oral, escrita, recriar relações quantitativas, medidas e espaço temporais, aumentar a confiança de estar em grupo, ter autonomia sobre cuidado pessoal, organização, saúde e bem-estar. Além disso, a relação das crianças com o mundo físico e social, como o tempo e a natureza, provocam a curiosidade, a exploração, o encantamento, o questionamento, assim como as envolvem nas diversas manifestações de música, artes plásticas, gráficas, cinema, fotografia, dança, teatro, poesia e literatura. No mesmo sentido, a proposta curricular deve promover, nas crianças, um cuidado com a preservação, trazendo conhecimento da biodiversidade e sustentabilidade da vida na Terra, a fim de que possam compreender o não desperdício de recursos naturais por meio da conscientização. Ademais, que as crianças possam interagir com as tradições culturais brasileiras (Brasil, 2009). Em suma, essas são as Diretrizes para melhor elaborar uma proposta pedagógica buscando o melhor para o Ensino Infantil. Todavia, não cabe somente aos professores, e sim a todo conjunto que inclui o Ministério da Educação, ou seja, usar de suas atribuições para implementar tais Diretrizes. Partindo desse pressuposto, o objetivo da presente pesquisa é desenvolver um método de ensino-aprendizagem que faça parte efetivamente do currículo escolar, vindo a trabalhar, de maneira transversal, por meio da Cultura Regional, ao focar no Folclore Nacional na Educação Básica durante o ano todo, e não apenas no Dia do Folclore, que é celebrado em agosto, ou no Dia do Saci, em outubro. 46 CAPÍTULO 2: A FUNDAMENTAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO: CONHECENDO O SACI Neste capítulo, na seção 2.1, discutimos a ausência de materiais didáticos em conformidade com a Lei nº 11.645/08 (Brasil, 2008) e os Parâmetros Curriculares Nacionais (Brasil, 1997), destacando a necessidade de materiais que estimulem o interesse das crianças pela diversidade cultural e levem a aprendizagem para além da sala de aula, quebrando barreiras de preconceito, promovendo inclusão e abordando questões como acessibilidade, meio ambiente e alimentação saudável. Na seção 2.2, abordamos a importância de promover a diversidade cultural no ambiente escolar através da restauração do material didático e enfatizamos que a restauração é a resposta para manter vivas as diversidades culturais afro-brasileiras, indígenas e caipiras, em conformidade com a Lei de Diretrizes e Bases, alterada pela Lei nº 11.645/08 (Brasil, 2008), e os Parâmetros Curriculares Nacionais (Brasil, 1997). Na última seção do Capítulo 2, abordamos as consequências da ausência de conteúdos didáticos sobre a cultura folclórica, focando na importância do currículo escolar como uma ferramenta para entender as implicações da falta de material didático relacionado ao folclore nacional. Concluímos a seção argumentando que os estudos sobre o folclore não se limitam à veneração, mas também têm um valor educacional significativo. As atividades folclóricas não apenas proporcionam diversão, mas também moldam o comportamento e as atitudes das pessoas, influenciando-as na participação em sistemas de ideias, valores e sentimentos ligados à cultura. 2.1 A ausência de materiais didáticos à luz da Lei nº 11.645/08 e dos Parâmetros Curriculares Nacionais A criação da Lei nº 10.639/03, a qual veio para alterar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB nº 9.394/96 tratava assuntos referentes à História e à Cultura Afro-Brasileira, além disso, mostrava como esses conteúdos deviam ser ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística, de Literatura e Histórias brasileiras. Todavia, a referida Lei nº 10.639/03 (Brasil, 2003) perdeu alguns de seus efeitos na seara do Direito da Educação, entrando em vigência a Lei nº 11.645/08 (Brasil, 2008), que trouxe a obrigatoriedade do estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena em seu artigo 26-A 47 Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena. §1º O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil (BRASIL, 2008) Logo, o que se nota ao analisar a mencionada lei, é que ela veio para mostrar a diversidade que existe dentro da escola, isso porque, no ambiente escolar, há uma vivência de etnias, sendo que essas têm o direito de ouvir e estudar acerca da história e cultura afro-brasileira e indígena, mostrar o quão elas influenciam nas vidas cotidianas, o respeito que elas merecem ter e o dever de ser valorizadas no meio em que vivem. Partindo desse pressuposto, na seção anterior, compreendeu-se a importância do folclore nacional no ensino infantil, sendo uma base para as crianças entenderem como é formada a cultura do país, ensiná-las o valor das vivências brasileiras. Nesse sentido, nesta seção, é analisado os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) em relação à diversidade no ambiente escolar acerca da cultura afro-brasileira, dos indígenas, dos caipiras, bem como demonstrado que com os materiais assertivos pode-se inserir as crianças no processo de inclusão social. Sendo assim, resta entender como não se pode dar pouca importância ao folclore nacional, pelo contrário, deve-se ressaltar o seu papel e de seus personagens para as crianças no ensino infantil, em principal o Saci-Pererê, pois é ele quem dará o norte para ensinar a diversidade dentro das escolas, da identificação, inclusão e aprendizado. Ademais, é válido citar que a Lei nº 11.645/08 (Brasil, 2008) veio como uma luz para a diversidade cultural brasileira nos conteúdos escolares, tendo em vista a obrigatoriedade que foi imposta. Ao observar a letra do dispositivo, pode-se dizer sem dúvidas que tal ato é uma ação afirmativa, que nada mais é, segundo Bergaman (apud Moehlecke, 2002, p. 7) planejar e atuar no sentido de promover a representação de certos tipos de pessoas aquelas pertencentes a grupos que têm sido subordinados ou excluídos em determinados empregos ou escolas. É 48 uma companhia de seguros tomando decisões para romper com sua tradição de promover a posições executivas unicamente homens brancos. É a comissão de admissão da Universidade da Califórnia em Berkeley buscando elevar o número de negros nas classes iniciais [...]. Ações Afirmativas podem ser um programa formal e escrito, um plano envolvendo múltiplas partes e com funcionários dele encarregados, ou pode ser a atividade de um empresário que consultou sua consciência e decidiu fazer as coisas de uma maneira diferente. Em razão disso, as ações afirmativas estão voltadas para a área social, ou seja, é a busca por promover e dar voz aqueles que são excluídos, ou que são vistos como subordinados apenas, ou que não alcançam certa profissão por falta de oportunidade e preconceitos. Outrossim, as ações vieram como instrumentos para dar acesso a lugares executivos que, notadamente, somente são preenchidos por homens brancos. Desta forma, abrir a porta para a cultura afro-brasileira e indígenas nos materiais didáticos é agir de acordo com a jurisdição brasileira, é mostrar que importa ver o conhecimento chegar às escolas como estrutura para as crianças. Contudo, não basta somente a iniciativa do Estado em trazer programas formais e escritos, é necessário obter ações que impactam o ensino infantil. Ocorre que é essencial que os estudos sejam focados em assimilar a diversidade cultural para que todo o aprendizado ultrapasse as salas de aula e rompam as barreiras do preconceito, da inclusão, da acessibilidade, do meio ambiente, da alimentação saudável, entre outros. Isso porque, quando se trata de educação, o Estado tem como responsabilidade fiscalizar, rever e redimensionar a matéria, em busca de solução para problemas inerentes a modelos uniformizados que desrespeitam as diferenças ou que não são capazes de atender e respeitar um novo sistema educativo com mais complexidade. Pode-se trazer à tona como bons exemplos de transformações a necessidade de recuperar o estado caótico econômico e social após a Segunda Guerra Mundial, visto que foi preciso reanalisar as tradições da educação e redefinições de aprendizagem no currículo, considerando que a educação tem profunda influência naqueles que a consomem (Aires, 2013). Todavia, não basta somente saber ler, escrever e contar, introduzir novas ciências/disciplinas curriculares não deve ser generalizada desta maneira, é preciso conhecer o caminho a ser perseguido, o objetivo final e o impacto que causa na vida dos educandos e educadores como um todo (Aires, 2013). Para mais, 49 [...] O papel da Escola deverá assim ultrapassar a instrução ampliando-se na formação geradora de uma educação abrangente e integradora na sociedade. Impõe-se assim, uma relação com o contexto e com a comunidade e a necessidade de uma autonomia potenciadora da atuação dos professores como agentes ativos na conceção do currículo (Aires, 2013, p.37) Portanto, tais ações surgem como uma alavanca ao grupo de negros e indígenas, usando de motivação para que todos possam conhecer as suas histórias, culturas e diversidade, tendo como consequência a inclusão social. Para tanto, como trabalhar de forma didática sem ser maçante e tedioso, fazendo as crianças terem sede de aprender sobre a diversidade cultural e levá-las consigo para a vida toda com o sentimento de pertencimento e orgulho? A resposta para a referida pergunta leva aos pensamentos mais inquietantes, que acreditam na possibilidade de criação de um material didático com ensinamentos acerca da diversidade cultural afro-brasileira, das maneiras e vivências desses grupos. Todavia há necessidade de que este material didático instigue as crianças a compreender o folclore nacional com seus personagens, trazendo a inclusão social e a responsabilidade com a natureza. Permitir-se-á ir além, e mencionar que, no ensino escolar, pouco se diz do folclore além das datas em que se comemora, s