UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA - UNESP
CÂMPUS DE JABOTICABAL
MANEJO DA PALHA EM CULTIVO DE CANA-DE-AÇÚCAR
AFETA A MOVIMENTAÇÃO DE ADULTOS DE
Sphenophorus levis (COLEOPTERA: CURCULIONIDAE)
Gabriela Franchini
Bióloga
2024
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA - UNESP
CÂMPUS DE JABOTICABAL
MANEJO DA PALHA EM CULTIVO DE CANA-DE-AÇÚCAR
AFETA A MOVIMENTAÇÃO DE ADULTOS DE
Sphenophorus levis (COLEOPTERA: CURCULIONIDAE)
Discente: Gabriela Franchini
Orientador: Prof. Dr. Odair Aparecido Fernandes
Dissertação apresentada à Faculdade
de Ciências Agrárias e Veterinárias –
Unesp, Câmpus de Jaboticabal, como
parte das exigências para a obtenção do
título de Mestre em Agronomia
(Entomologia Agrícola).
2024
DADOS CURRICULARES DA AUTORA
GABRIELA FRANCHINI– Nasceu em Jaboticabal-SP no dia 07 de outubro de
1996. Ingressou no curso de Ciências Biológicas, pela Universidade Estadual
Paulista Julio de Mesquita Filho – FCAV, em 2015. Estágiou por 2 anos no
laboratório de semestes florestais, auxiliando em atividades laboratoriais e
pesquisas de campo. Nesse período desenvolveu um trabalho de iniciação
científica com o estresse térmico, hidríco e salino em sementes de ipê amarelo
e o ipê branco. Graduou-se em 2019, obtento título de bacharel em ciências
biológicas. No mesmo ano reingressou no curso de ciências biológicas,
licenciatura. Estágiou por um ano no departamento de economia, administração
e educação, auxiliando professores da rede estadual de ensino no projeto
“eletivas”. Em 2021 recebeu o título de licenciatura em ciências biológicas. Em
2022 iniciou Mestrado em Agronomia (Entomologia Agrícola) na Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Faculdade de Ciências Agrárias e
Veterinárias - Câmpus de Jaboticabal.
“A ciência nunca resolve um problema sem criar pelo menos outros dez”.
George Bernard Shaw
AGRADECIMENTOS
Agradeço em primeiro lugar a Deus pelo dom da vida, por Nossa Senhora
Aparecida por me guiar sempre no melhor caminho.
À instituição FCAV-Unesp de Jaboticabal pela infraestrutura e
oportunidade concedida.
Ao Professor Odair Aparecido Fernandes pela orientação, apoio,
paciência e por todo ensinamento ao longo dessa jornada. Com certeza os
ensinamentos foram valiosos para minha vida profissional e pessoal.
Aos professores da pós-graduação por todo conhecimento transmitido.
Aos meus pais, pela educação, dedicação, apoio e confiança. Que um dia
eu possa retribuir a tudo isso.
À minha irmã Ana Beatriz, pelos conselhos e parceria sempre.
À minha noiva e companheira da vida Luana, que por todos esses anos
me deu o total apoio. Obrigada por todas as vezes em que pensei não ser capaz,
por ter sido a minha força e incentivo que precisava.
Aos amigos e parceiros do APECOLAB: João Rafael, Juliana, Vinicius,
Gustavo, Karine, Lara, Francis Laouru, Sabrina, Alex, Luiz Augusto, Álvaro,
Marina, Thaynara, Yasmin, Beliza e Gabriel. Obrigada pelo companheirismo,
apoio para realização das atividades e pelo conhecimento compartilhado ao
longo desses anos.
Ao CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico), pela concessão da bolsa de estudo.
À Usina São Martinho pela concessão de área e suporte com pessoal de
apoio para a realização dos trabalhos de campo.
Ao CEPENFITO – Centro de Pesquisa em Engenharia – Fitossanidade
em Cana-de-Açúcar (FAPESP Proc. 2017/25258-1). O presente trabalho foi
realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.
SUMÁRIO
RESUMO........................................................................................................................... i
ABSTRACT........................................................................................................................ ii
1.INTRODUÇÃO............................................................................................................... 1
2.REVISÃO DE LITERATURA........................................................................................... 3
2.1. Taxonomia e aspectos biológicos de Sphenophorus levis....................................... 3
2.2.Dinâmica populacional, dispersão e prejuízos causados por S. levis........................ 4
2.3. Monitoramento e Métodos de Controle.................................................................... 5
3. MATERIAL E MÉTODOS............................................................................................... 6
3.1. Obtenção e Manutanção dos adultos de Sphenophorus levis............................. 6
3.2. Marcação e avaliação da sobrevivência de adultos de Sphenophorus levis.............. 7
3.3. Movimentação de adultos de Sphenophorus levis a campo sob diferentes
condições de manejo de palha..........................................................................................
8
3.4. Liberação e recaptura dos Sphenophorus levis marcados...................................... 10
3.5.Análise dos dados...................................................................................................... 12
4.RESULTADOS................................................................................................................ 15
5.DISCUSSÃO.................................................................................................................. 28
6.CONCLUSÕES.............................................................................................................. 33
7.REFERÊNCIAS.............................................................................................................. 34
i
Manejo da palha em cultivo de cana-de-açúcar afeta a movimentação de
adultos de Sphenophorus levis (Coleoptera: Curculionidae)
Resumo- Com a eliminação da queimada para a colheita da cana-de-açúcar, a
palha é mantida sobre o solo. Todavia, considerando que a presença da palha
no campo afeta o comportamento do bicudo-da-cana, Sphenophorus levis Vaurie
(Coleoptera: Curculionidae), este trabalho teve como objetivo avaliar a
movimentação desse inseto sob diferentes condições de presença de palha.
Inicialmente foi realizada avaliação da taxa de sobrevivência associada à
marcação sob condições controladas e confirmou-se que a marcação não afeta
a longevidade dos insetos. Estudos de movimentação foram conduzidos em
áreas comerciais de cana-de-açúcar durante duas safras agrícolas. Na primeira
safra, um total de 2745 insetos foram marcados e liberados, enquanto na
segunda foram utilizados 450 insetos. Foram adotados três tratamentos: a) palha
em área total; b) remoção total da palha e c) enleiramento da palha entre as
linhas da cultura. A recaptura dos insetos foi realizada utilizando iscas atrativas
distribuídas radialmente a partir do ponto de liberação. Na primeira e segunda
safras foram recapturados 74 (2,7%) e 33 insetos (7,33%) insetos marcados,
respectivamente. A presença da palha no campo favoreceu a movimentação dos
adultos de S. levis, enquanto que a retirada total da palha ou o enleiramento na
entrelinha restringiu a dispersão dos adultos. Assim, a retirada da palha da linha
de cana pode ser considerada uma estratégia de manejo para o controle de S.
levis.
Palavras-chave: Dispersão, Comportamento de insetos, Manejo cultural,
Bicudo da cana-de-açúcar, Captura-marcação e recaptura.
ii
Straw management in sugarcane cultivation affects the movement of
adults of Sphenophorus levis (Coleoptera: Curculionidae)
Summary- With the elimination of burning for sugarcane harvesting, the straw is
left on the ground. However, considering that the presence of straw in the field
affects the behavior of the sugarcane weevil, Sphenophorus levis Vaurie
(Coleoptera: Curculionidae), this study aimed to evaluate the movement of this
insect under different straw presence conditions. Initially, survival rate
assessment associated with marking under controlled conditions was performed
and confirmed that marking does not affect the longevity of insects. Movement
studies were conducted in commercial sugarcane areas during two agricultural
seasons. In the first season, a total of 2745 insects were marked and released,
while 450 insects were used in the second season. Three treatments were
adopted: a) straw covering entire area; b) total straw removal; and c) straw
heaping between crop rows. Insect recapture was carried out using attractive
baits distributed radially from the release point. In the first and second seasons,
74 (2.7%) and 33 (7.33%) marked insects were recaptured, respectively. The
presence of straw in the field favored the movement of adult S. levis, while total
straw removal or heaping between rows restricted adult dispersion. Thus, straw
removal from sugarcane rows can be considered a management strategy for S.
levis control.
Keywords: Dispersion, Insect behavior, Cultural management, Sugarcane
weevil, Capture-mark-realease-recapture
1
1. INTRODUÇÃO
O Brasil lidera a produção mundial de cana-de-açúcar com
aproximadamente 677,6 de milhões toneladas na safra de 2023/24 (Conab
2024). O estado de São Paulo se destaca com 60% dessa produção,
crescimento de 23,0% em relação ao ciclo anterior (Unica, 2024). A cultura
possui alto valor econômico no Brasil e no mundo, devido sua utilização na
produção de açúcar, álcool e energia elétrica (Silva et al., 2014). Interessante
destacar que a cultura passou por uma transição gradual da colheita da cana
queimada para a colheita da cana crua, a partir da lei estadual n 11.241/2002, a
qual proíbe a queima do canavial pré-colheita (Ribeiro & Ficarelli, 2010). Com
isso, a queimada é proibida.
Dessa forma, com a colheita mecanizada, quantidades significativas de
palha são mantidas na superfície do solo em níveis que variam de 8-30 ton ha-1
(Ripoli & Ripoli, 2008; Carvalho et al., 2017), favorecendo alguns serviços
ecossistêmicos, como reciclagem de nutrientes e manutenção da umidade do
solo (Bordonal et al., 2018b). Apesar de favorecer o solo, a presença de palha
no campo fornece um microclima propício para sobrevivência de insetos pragas
(Dinardo-Miranda & Fracasso, 2013). Desse modo, o afastamento da palha para
a entrelinha de cana tem potencial de reduzir a incidência de determinadas
pragas de solo, uma vez que propicia o aumento na exposição solar na base das
plantas, com consequente redução da umidade do solo (Barbosa & Asmus,
2019). A remoção da palha, ainda, pode permitir a sua utilização como matéria-
prima na produção de bioenergia (Bordonal et al., 2018a).
O bicudo da cana-de-açúcar, Sphenophorus levis Vaurie (Coleoptera:
Curculionidae), é uma praga primária da cultura, que ganhou importância após
a implementação da colheita mecanizada de cana verde (Ribeiro & Ficarelli,
2010). Isso decorreu em função da eliminação da queimada no processo de
colheita, a qual funcionava como forma preventiva para redução da incidência
de pragas de solo na cultura da cana-de-açúcar (Dinardo-Miranda & Fracasso,
2013; Carvalho et al., 2017). Além do bicudo, outros estudos têm confirmado o
aumento da incidência de pragas de solo, como a cigarrinha-das-raízes,
Mahanarva fimbriolata (Stal) (Hemiptera: Cercopidae) em condições de solos
2
cobertos com a palhada quando comparado com áreas de queimada (Dinardo-
Miranda, 2002; Carbonari et al., 2020).
Os prejuízos causados por S. levis podem levar a perdas de produtividade
próximas a 30 t ha-1 (Casteliani et al., 2020), além de redução de rebrota após a
colheita. Os danos são causados principalmente pelas larvas que destroem o
rizoma das plantas, levando à morte de perfilhos, podendo, eventualmente, sob
elevadas infestações, matar a planta, bem como reduzir o estande e longevidade
do canavial, com elevado impacto sobre a produtividade (Precetti & Arrigoni,
1990; Almeida, 2005). As fêmeas depositam os ovos, individualmente, no interior
dos colmos, perfurando com a mandíbula os tecidos do rizoma abaixo do solo
(Degaspari et al., 1978).
O comportamento e aspectos biológicos desse inseto-praga ainda
precisam ser mais bem compreendidos e podem contribuir para o
estabelecimento das bases de seu manejo. Informações relacionadas ao
comportamento e dinâmica populacional de S. levis ainda necessitam maiores
esclarecimentos. Alguns estudos mostram que a dispersão de adultos de S. levis
é lenta, variando de 6 a 11 m por mês (Degaspari et al., 1987; Arthur et al., 1987),
porém nenhum estudo relacionou essa movimentação à influência da presença
da palha no campo. A vista do fato de que a palha pode ser um importante fator
que afeta o comportamento desse inseto, este trabalho teve como objetivo
avaliar a movimentação de adultos de S. levis sob diferentes condições de
presença de palha de cana-de-açúcar em condições de campo utilizando a
estratégia de captura-marcação-liberação-recaptura (Southwood, 1978).
3
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Taxonomia e aspectos biológicos de Sphenophorus levis
O gênero Sphenophorus de forma geral, ocorre em diversos continentes,
sendo que algumas espécies se alimentam de gramíneas. Na América do Sul
(provável centro de origem) há relatos de ocorrência de 75 espécies, sendo 14
dessas no Brasil. Na América do Norte foram identificadas 18 espécies,
enquanto apenas 6 são relatadas na África do Norte, Europa e Ásia. Em outras
regiões do Pacífico e África foram identificadas 26 espécies (Woodruff, 1966;
Vaurie, 1978; Barreto-Triana, 2009).
A espécie Sphenophorus levis Vaurie especificamente, é restrita da
América do Sul, sendo Brasil, Argentina e Paraguai os locais de ocorrência
(Vaurie, 1978). A espécie foi identificada inicialmente no Brasil em 1977, e foi
relatada como nova no ano seguinte na região de Piracicaba- SP (Vanin, 1988).
Dentre os estados de ocorrência do inseto-praga estão, São Paulo, Minas
Gerais, Santa Catarina e Paraná (Giometti, 2009). No estado de São Paulo, essa
estava presente em 52 municípios, envolvendo regiões de cultido de cana-de-
açúcar localizadas no Nordeste, Leste, Centro e Sul (Barreto-Triana, 2009). De
acordo com uma comunicação pessoal de Luiz Carlos Almeida em 2024,
atualmente a infestação da praga está bastante avançada nas diversas regiões
produtoras do estado de São Paulo1.
De acordo com Vaurie (1978), os adultos de S. levis apresentam
dimorfismo sexual, geralmente sendo as fêmeas maiores. Os machos possuem
a região ventral mais pilosa do que as femeas (Alencar, 2016b). Os adultos são
encontrados no solo, na base das touceiras, torrões e em restos vegetais. Seu
ciclo biológico é em torno de 173 dias, em condições laboratoriais. As fêmeas
possuem uma longevidade maior, com aproximadamente 175 dias, enquanto os
machos podem viver cerca de 170 dias (Degaspari et al., 1978). A postura é feita
individualmente na base das brotações, em que as fêmeas perfuram o rizoma
1 Almeida, L.C. (2024) (Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP, Júlio de Mesquita Filho -
Câmpus de Jaboticabal). Comunicação Pessoal.
4
com o auxílio do rostro (Casteliani, 2019). Elas podem ovipositar de 40 a 70 ovos,
sendo 75% na primeira metade de sua vida (Degaspari et al., 1978). Os ovos
possuem formato elíptico e uma coloração inicial branco-leitosa e à medida que
se aproxima da eclosão vai escurecendo. Após um período de incubação de 7 a
12 dias, as larvas eclodem e permanecem no colmo por um período médio de
35 a 60 dias. A fase de pupa dura em torno de 10 dias, com as pupas também
permanecendo dentro do colmo em uma câmara pupal feita de serragem fina
(Degaspari et al., 1978; Precetti & Arrigoni, 1990; Pinto et al., 2009).
2.2. Dinâmica populacional, dispersão e prejuízos causados por
Sphenophorus levis
A espécie S. levis ocorre durante todo o ano, porém picos de seus estágios
ocorrem em diferentes épocas. Os adultos, por exemplo, têm maior ocorrência
nos períodos chuvosos, com altos picos populacionais nos meses de fevereiro e
março. Por outro lado, o período de maior ocorrência das formas imaturas é em
períodos de menor índice pluviométrico (Degaspari et al., 1978; Izeppi, 2015).
As larvas têm o seu primeiro pico no mês de dezembro e o segundo (com maior
intensidade) entre os meses de junho e julho (Precetti & Arrigoni, 1990). Essa
dinâmica pode variar com a temperatura e umidade relativa do ar (Alencar,
2016a). Uma umidade relativa maior aumenta a longevidade, consequentemente
aumentando a fecundidade e velocidade de desenvolvimento dos insetos
(Silveira Neto et al., 1976).
O bicudo da cana-de-açúcar possui hábito noturno, com pouca ou restrita
capacidade de voo, mesmo apresentando asas. Com isso, o principal meio de
dispersão é pelo caminhamento (Barreto-Triana, 2009). A capacidade de
dispersão da espécie é baixa. Degaspari et al. (1987) observaram uma dispersão
no campo de 6,6 m a 11 m por mês, enquanto que no mesmo ano Arthur et al.
(1987), em seus estudos, observaram que os machos possuem uma dispersão
maior do que as fêmeas, percorrendo 24,7 contra 9,12 m, respectivamente, no
período de três semanas. Apesar dessa lenta dispersão, acredita-se que a
5
disseminação da praga ocorre principalmente por meio do transporte de mudas
em caminhões (Dinardo-Miranda, 2000).
O bicudo da cana-de-açúcar é uma das pragas principais da cultura, que
ganhou importância nos últimos anos, por conta da proibição da queima no
processo de colheita, visto que a queimada era considerada uma forma
preventiva para redução da incidência de pragas de solo na cultura da cana-de-
açúcar (Dinardo-Miranda & Fracasso, 2013). Os prejuízos causados por esse
inseto-praga podem atingir 30 t ha-1 (Casteliani et al., 2020). Os danos são
causados principalmente pela sua fase imatura, uma vez que as larvas destroem
as touceiras, levando à morte do perfilho e sob elevadas infestações de insetos
essas acabam morrendo, diminuindo a longevidade e produtividade do canavial
(Precetti e Arrigoni, 1990; Almeida, 2005).
2.3. Monitoramento e Métodos de Controle
O monitoramento é feito de duas maneiras, através do levantamento
populacional de larvas e pupas ou da fase adulta. Esse último é realizado por
meio de armadilhas atrativas tóxicas, formada por iscas confeccionadas a partir
de colmos (30cm) de cana-de-açúcar seccionados longitudinalmente (Precetti &
Teran, 1983). Essas iscas são imersas em inseticidas químicos por 24 horas e
colocadas na base das touceiras e cobertas por palha de cana, sendo renovadas
a cada 20 dias (Almeida, 2005). O levantamento populacional das larvas e pupas
é feito através de trincheiras (0,5 m X 0,5 m X 0,3 m) em dois pontos por hectare,
coletando as formas biológicas encontradas (Almeida et al., 2008).
O nível de controle para esse inseto ainda é incerto na literatura, porém
Casteliani et al. (2020) estimaram as perdas na produção e a intensidade de
ataque de S. levis, sendo 1% de perda a cada 1% de rizoma atacado pela praga.
Os valores para o nível de dano econômico para para esse inseto-praga em
relação ao controle químico é de 5,93% de rizomas atacados para culturas de
sequeiro e 4,85% em culturas irrigadas. Já para o controle biológico com o fungo
Beauveria bassiana (Bals.) Vuill os números são 4,1% e 3,4% de rizomas
6
atacados em culturas de sequeiro e irrigadas, respectivamente (Xavier et al.,
2024).
Entre os métodos de controle, destacam-se o controle químico, controle
biológico e controle cultural. O controle químico do bicudo-da-cana inclui o uso
de inseticidas sintéticos, aplicados em dois momentos chave: durante o plantio,
diretamente no sulco, e no corte da soqueira, onde o inseticida é inserido em
sulcos de 5 a 10 cm de profundidade criados pelo disco de corte do equipamento
(Precetti e Arrigoni, 1990; Leite et al., 2005; Evangelista et al., 2017). Outra forma
de controle químico é o uso de iscas tóxicas com inseticidas para combater
insetos adultos no campo, uma prática comum nas décadas de 1980 e 1990,
mas caiu em devido ao alto custo de mão-de-obra, sendo hoje restrita a viveiros
de mudas e monitoramento da praga (Girón-Pérez et al., 2009; Pavlu, 2012).
Para o controle, controle biológico de S. levis, fungos entomopatogênicos, como
Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae, são os principais agentes,
atuando de forma semelhante a inseticidas de contato ao infectar o inseto pelo
tegumento (Gallo et al., 2002; LI, 2010; Giometti, 2011; Batista Filho, 2016; Xiao
et al., 2012). O controle cultural é uma das medidas mais recomendadas para o
controle do bicudo. Essa medida consiste na destruição das soqueiras utilizando
o Eliminador Mecânico de Soqueira (EMS) em áreas afetadas durante a reforma
do canavial (Precetti & Arrigoni, 1990). Essa prática visa impedir que os adultos
ataquem os novos brotos em formação e deve ser realizada preferencialmente
durante o pico populacional das fases imaturas, de junho a setembro, para expor
larvas e pupas presentes no solo a possíveis predadores (Precetti & Arrigoni,
1990; Dinardo-Miranda, 2005; Almeia, 2020).
3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1 Obtenção e Manutanção dos adultos de Sphenophorus levis
Adultos de S. levis foram coletados em áreas comerciais de cana-de-
açúcar infestadas na região de Jaboticabal e Guariba, SP, por meio de iscas
7
atrativas, devido à dificuldade de criação desses insetos em laboratório. As iscas
atrativas consistiram em toletes de cana-de-açúcar, seccionados
longitudinalmente com aproximadamente 30 cm de comprimento. Foram
utilizadas 4 iscas por ponto de coleta e elas foram colocadas lado a lado com a
face cortada voltada para baixo na base das plantas e cobertas com palha,
conforme sugerido por Precetti & Teran (1983). As iscas foram distribuídas ao
longo de duas linhas de cultivo distanciadas 6 m, mantendo-se espaçamento de
10 m entre iscas. Foram adotadas 45 iscas que foram substituídas
semanalmente. As iscas foram vistoriadas duas vezes por semana e os insetos
atraídos foram transferidos para recipientes plásticos (1 L de capacidade)
contendo uma porção de solo e pedaço de isca de cana-de-açúcar (10 cm de
comprimento) para manutenção e transporte até o laboratório. As coletas foram
realizadas no período de setembro a dezembro de 2022 (1a. safra) e em
fevereiro de 2024 (2a. safra).
No laboratório, os insetos foram separados por sexo (Degaspari et al.,
1987; Alencar, 2016b), contados e transferidos para caixas plásticas
transparentes (40 x 20 cm) contendo uma porção de solo (camada de 3 cm),
sobre a qual foi mantido um tolete de 10 cm cortado longitudinamente e disposto
com a face cortada para baixo, para alimentação dos insetos e postura das
fêmeas. Foram mantidos 50 casais de S. levis por caixa plástica, que
permaneceram em sala climatizada (27±1 ºC, 60±5 % UR e fotoperíodo de 0:24
h D:N), conforme sugerido por Degaspari et al. (1987).
3.2. Marcação e avaliação da sobrevivência de adultos de S. levis
Adultos de S. levis coletados no campo (item 3.1) foram utilizados para
avaliação da taxa de sobrevivência associada às marcações em condições
controladas. No laboratório, foram separados por sexo (Degaspari, 1978) e
alocados aleatoriamente para os tratamentos (técnicas de marcação). Os insetos
foram limpos com o auxílio de um pincel de cerdas finas, para retirada de terra e
outras impurezas que poderiam estar presentes no pronoto e nos élitros.
8
Etiquetas quadradas (3 x 3 mm) confeccionadas em papel A4,
devidamente numeradas e coloridas foram plastificadas e coladas no pronoto
dos insetos adultos, utilizando cola instantânea (MULTBOND®, 3M) (Butler et
al., 2012). Após a marcação, os insetos foram mantidos em placas de Petri (100
mm de diâmetro x 20 mm) para secagem em temperatura ambiente por 10 min
(Figura 1). Os insetos marcados foram transferidos para caixas plásticas
transparentes, idênticas àquelas utilizadas para manutenção. Um grupo controle
de insetos não teve nenhum tipo de marcação, mas foram manuseados para
garantir as mesmas condições de manipulação do grupo marcado (Butler et al.,
2012). As caixas plásticas contendo os insetos permaneceram em sala
climatizada (27 ± 1 ºC, 60 ± 5 % de UR e fotoperíodo de 0:24 h D:N), conforme
proposto por Degaspari et al. (1987) (Figura 1).
Figura. 1. Manutenção e marcação de Sphenophorus levis. a) Caixas plásticas
contendo os insetos permaneceram em sala climatizada; b) Detalhe da etiqueta
plástica com cor e numeração; c) Adultos de S. levis marcados com etiquetas
plásticas com diferentes cores e numerações.
Foi adotado o delineamento experimental inteiramente casualizado com 2
tratamentos (marcado e controle) com três repetições de 30 casais marcados
por caixa plástica (unidade amostral). Os insetos foram observados diariamente
para constatação de mortalidade. A morte foi confirmada pela observação da
reação dos adultos após serem tocados com pincel de cerdas finas nas suas
antenas. Os insetos considerados mortos foram retirados da caixa plástica e
eliminados.
a b c
9
3.3. Movimentação de adultos de Sphenophorus levis a campo sob
diferentes condições de manejo de palha
A movimentação de S. levis sob diferentes condições de campo foi
avaliada por meio da liberação e recaptura de machos e fêmeas do bicudo
previamente marcados em duas safras (2022/2023 e 2023/2024). Para a
marcação dos insetos utilizou-se metodologia descrita no item anterior 3.2.
O primeiro ano de estudo (ensaio 1) em campo foi conduzido em área
comercial de cana-de-açúcar, variedade CT 022994, 3º corte, na região de
Ribeirão Preto, SP. Cada parcela apresentava 25 x 18 m (450 m2), contendo 12
linhas no espaçamento de 1,5 m. As plantas apresentaram altura que variou de
1 m, no início, à 2 m, no final do experimento, considerando medida da base da
planta até o ápice da folha mais alta (Machado et al., 2009). O ensaio 2 foi
também realizado em área comercial de cana-de-açúcar, variedade CT 022994,
3º corte, na região de Ribeirão Preto, SP. Nesta ocasião, cada parcela
apresentava 33 x 33 m (1089 m2), contendo 21 linhas no espaçamento de 1,5 m.
As plantas apresentaram altura média de 2 metros de comprimento, no início do
experimento considerando medida da base da planta até o ápice da folha mais
alta (Machado et al., 2009). Ainda, houve a avaliação da quantidade de palha na
área no início e final do experimento com o auxílio de um gabarito quadrado de
1 x 1 m de comprimento, adotando-se 4 pontos aleatórios na área do estudo.
Ambas as áreas foram conduzidas conforme práticas agrícolas
convencionais até o início do experimento, com aplicação de vinhaça localizada
(20.000 L/ha). Essa aplicação foi realizada 60 dias antes do início do
experimento. Realizou-se a distribuição dos tratamentos seguindo o
delineamento de blocos casualisados. Foram adotados três tratamentos: a)
palha em área total; b) enleiramento da palha entre as linhas da cultura e c)
remoção total da palha (Figura 2). O processo de enleiramento envolveu a
remoção da palha das linhas de cana, deslocando-a para a entrelinha a uma
distância de 20 cm.
10
Figura 2. Estratégias de manejo de palha adotadas no experimento: A) palha em
área total (controle); B) palha enleirada na entrelinha e C) remoção total da palha
total.
3.4. Liberação e recaptura dos adultos de Sphenophorus levis
marcados
Os adultos de S. levis foram marcados 24 horas antes de cada liberação.
Os insetos foram transportados para o local de estudo em caixas plásticas dentro
de uma caixa de isopor. Uma vez no local do ensaio, as caixas plásticas
contendo os insetos foram abertas e mantidas invertidas no centro de cada
parcela (ponto de liberação; Figura 3) por 5 min, para aclimatação dos insetos.
Após esse período, as caixas foram retiradas e os indivíduos liberados para se
movimentarem.
Figura 3. Representação de uma parcela no campo representado por um ponto
central (C) e iscas atrativas distribuídas em raios (quadrados amarelos).
A B C
11
Ensaio 1 (1ª. safra)
Foram realizadas cinco liberações, sendo liberados cinco insetos por
parcela em 6 de janeiro de 2023 (11h30); 50 insetos em 16 de janeiro de 2023
(9 h); 100 insetos em 24 de janeiro de 2023 (10h30); 100 insetos em 31 de janeiro
de 2023 (8h30) e 50 insetos em 7 de março de 2023 (8h50). Com isso, foram
liberados 2745 insetos num período de 55 dias. A marcação (item 3.2) permitiu
a identificação de cada inseto, tratamento, repetição e data de liberação. Essas
quantidades representam a coleta no período. Assim, a liberação foi feita com
insetos mantidos em média 15 dias no laboratório.
A recaptura dos insetos foi realizada utilizando 24 iscas atrativas por
parcela, conforme sugerido por Degaspari et al. (1978). Essas iscas foram
distribuídas em grades de 3,0 e 4,5 m de distância do ponto de liberação (Figura
3). Após 24 dias, a distância das iscas foi ampliada para 6 m, mantendo também
as duas distâncias anteriores. Essas distâncias foram baseadas nos estudos de
dispersão utilizado por Degaspari (1978). As iscas foram avaliadas e
substituídas semanalmente. Todos os insetos marcados tiveram a localização
registrada para determinação da dispersão. Após isso, os insetos eram
recolocados no mesmo ponto onde haviam sido coletados, e as iscas eram
retiradadas. O período de avaliação do estudo foi estabelecido com base na
observação de que após três dias consecutivos de avaliação, não foram mais
realizadas coletas de insetos. Esse critério foi adotado como indicador de
estabilidade nas populações de insetos estudadas.
Ensaio 2 (2ª. safra)
Nesse estudo foi realizada uma liberação de 50 insetos por parcela no dia
09 de fevereiro (9:00 horas), totalizando 450 insetos. Esse número foi devido à
baixa captura de insetos no campo na época. A recaptura dos insetos foi
realizada utilizando 35 iscas atrativas por parcela. Essas iscas foram distribuídas
em novamente em grandes, porém agora de 1,5; 3,0; 4,5 e 6,0 m de distância
do ponto de liberação. Essas distâncias foram escolhidas a partir do primeiro ano
12
de estudo, onde alguns insetos alcançaram a extremidade das parcelas. O
período de avaliação do estudo foi de 30 dias. O métodos de avaliação e critério
aderido para determinar o período de avaliação foi o mesmo adotado para o ano
1.
3.5. Análise dos dados
A eficácia da marcação foi avaliada através da comparação da proporção
de adultos sobreviventes entre os tratamentos no teste preliminar. Esse processo
foi conduzido empregando a metodologia de Kaplan Meier com o PROC
LIFETEST (SAS Institute, 2023). Os dados de sobrevivência entre os dois grupos
testados (marcado e controle) foram submetidos à análises estatísticas
utilizando o teste de Wilcoxon e Log-rank.
Os dados da relação entre a distância percorrida pelos adultos de S. levis
nos diferentes tratamentos nos dois anos de estudo foram submetidos aos testes
de Shapiro-Wilk para normalidade e Bartlett para homoscedasticidade. As
médias foram comparadas pelo teste Tukey ao nível de 5% de probabilidade
para ambos os anos de estudo. Logo após, os dados foram ajustados em uma
curva de decaimento exponencial crescente (Fritz, 2014) cuja fórmula adaptada
Y= C (1-e -kt)), em que:
C: constante positiva que representa o valor máximo ou limite superior
que a função pode atingir;
t: tempo ou período em que observa a mudança (dias);
k: constante positiva que controla a taxa de decaimento exponencial.
Quanto maior o valor de k, mais rápida será a queda da função;
e: base do logaritmo natural.
Um cálculo de velocidade média foi feito em relação a distância percorrida
e o período de monitoramento dos insetos para cada tratamento, e as médias
foram comparadas pelo teste Tukey ao nível de 5% de probabilidade. Os dados
13
foram processados usando a linguagem de programação Python, com a
biblioteca SciPy, versão 2023 (Python Software Fundation, 2023).
A partir do compilado dos dados realizados nos dois ensaios, foi avaliada
a influência dos tratamentos em relação à movimentação dos adultos de S. levis.
Para representação gráfica foram analisados 6 modelos (Tabela 2), dentre os
quais foi selecionado o que melhor se ajustou. Para tanto, adotou-se o critério
de Informação de Akaike Corrigida (AICc), uma vez que o número amostral das
análises foi pequeno, em conjunto com o teste de qualidade de ajuste (Proença-
Ferreira, 2023). A seleção do modelo levou em consideração o menor valor de
AICc, nível de significância de qui-dradrado maior ou igual 0,05, e o ajuste visual
da curva (Proença-Ferreira, 2023). A influência do sexo também foi avaliada
utilizando os mesmos modelos. Os dados foram processados usando a
linguagem de programação R, com o pacote de software dispfit R.
Em seguida, modelos de regressão lineares generalizados (GLM) foram
empregados para verificar o efeito dos tratamentos e distância percorrida em
relação à taxa de recaptura de adultos de S. levis no campo . Os modelos foram
ajustados considerando uma função polinomial de segundo grau para distância.
Este ajuste foi confirmado através de qualidade de ajuste através do comando
“anova()”. Os modelos foram ajustados utilizando distribuição binomial negativa
pelo pacote “MASS”. A normalidade e homogeneidade da variância dos erros do
modelo foram checados pelo pacote DHARMa. Os dados foram processados
usando a linguagem de programação R (2024.04.2) (R Core Team, 2024).
14
Tabela 1. Distribuições do pacote de software dispfit R. Para cada kernel, são
apresentados o K L ( r ) “kernel de localização de dispersão” e o K D ( r ) “kernel
de densidade de dispersão” usado por dispfit para ajustar os dados fornecidos,
juntamente com suas propriedades gerais. Nas saídas do pacote, os
parâmetros a e b são sempre chamados de Parâmetro 1 e Parâmetro 2,
respectivamente. r é a distância de dispersão (Clark et al., 1999 ; Forbes et al.,
2011; Nathan et al., 2012; Proença-Ferreria, 2023).
Função KL (r) KD (r) Propriedades
Exponencial
1
2𝜋
𝑎2
𝑒
−
𝑟
𝑎
𝑟
𝑎2
𝑒
−
𝑟
𝑎
Caracterizado por um
único
parâmetro, a, onde a = γ ,
ou seja, o parâmetro da
escala exponencial.
Gamma
𝑟
𝑎2
𝑒
−
𝑟
𝑎
1
𝑎𝑏
𝑟(𝑏)
𝑟𝑏−1
𝑒
−
𝑟
𝑎
Definido para todos os
valores positivos de a e b .
Tem uma cauda
semelhante a exponencial
e é igual à distribuição
exponencial quando b = 2.
Log-Normal
𝑏
𝑎𝑏 𝑟𝑏−1𝑒−(
𝑟
𝑎
)
1
√2𝜋
𝑏 𝑟
𝑒−
log
(
𝑟
𝑎
)
2
2𝑏2
Definido por todos os
valores positivos de a e b.
Rayleigh
1
𝜋
𝑎2
𝑒
−(
𝑟
𝑎
)
2
2𝜋
𝑎2
𝑒
−(
𝑟
𝑎
)
2
Caracterizado por um
único parâmetro, a , onde
𝑎 = 𝜎√2, sendo σ o desvio
padrão da distribuição
normal isotrópica bivariada
Wald
√𝑏
√8𝑥3𝑟5
𝑒
−
𝑏(𝑟−𝑎)2
2𝑎2𝑟
1
√2𝜋
𝑏 𝑟
𝑒−
log
(
𝑟
𝑎
)
2
2𝑏2
Também denominada
distribuição gaussiana
inversa, é definida para
todos os valores positivos
de a e b .
Weibull
√𝑏
√8𝑥3𝑟5
𝑒
−
𝑏(𝑟−𝑎)2
2𝑎2𝑟
𝑏
𝑎𝑏 𝑟𝑏−1𝑒−(
𝑟
𝑎
)
Definido para todos os
valores positivos de a e b .
Tem uma cauda
semelhante a exponencial
e é igual à distribuição
exponencial quando b = 2.
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S157495412300047X#bb0085
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S157495412300047X#bb0200
15
4.RESULTADOS
4.1 Avaliação da marcação sobre a sobrevivência de adultos de
Sphenophorus levis
A marcação com etiquetas não afetou a taxa de sobrevivência dos insetos
(teste log-rank χ2 = 0,7589; gl = 1; P = 0,3837 e Wilcoxon (χ2 = 2,92; gl = 1; P =
0,0874). As etiquetas permaneceram intactas em 73,8 ± 2,9 % dos indivíduos
marcados até 130 dias (Figura 3). A longevidade dos insetos, previamente
capturados a campo e, portanto, sem informação do tempo de vida, atingiu 130
dias.
Figura. 4. Curvas de sobrevivência de adultos de Sphenophorus levis sem
marcação (azul) e marcados com etiquetas no dorso (vermelho).
0,4
0,6
0,8
1,0
Ta
xa
d
e
so
b
re
vi
vê
n
ci
a
0,2
0,0
16
4.1.1. Movimentação de adultos de Sphenophorus levis em diferentes
manejos de palha
No primeiro ano de estudo do total de 2745 insetos liberados, 74 deles
(2,7 %) foram recapturados, sendo que apenas um inseto foi recapturado duas
vezes. Dentre os insetos recapturados, cinco (0,18 %) foram confirmados como
insetos marcados, mas, todavia, as etiquetas apresentaram algum desgaste que
não permitiu confirmar a numeração do inseto. No segundo ano do total de 450
insetos liberados, 33 deles (7,33%) foram recapturados e dentre eles nenhum
apresentou desgaste na marcação. No primeiro ano de estudo, a maioria dos
insetos (82,4 %), independente do tratamento, foi recapturada nos primeiros 11
dias após a liberação. Após esse período, as recapturas ocorreram apenas em
áreas com cobertura total de palha (Figura 5a). No segundo ano, houve
recaptura até o vigésimo quinto dia, independente do tratamento (Figura 5b).
A quantidade de palha presente no campo no início e ao final dos ensaios
foram de 2,5 kg/m2 e 0,81 kg/m2, respectivamente, na safra 2022/2023. Na safra
2023/2024, os valores registrados foram de 2,7 kg/m2 no início e 0,84 kg/m2 ao
término do experimento.
17
a
b
Figura 5. Distância percorrida pelos adultos de S. levis marcados ao longo do
tempo sob condições de palha em área total (verde), enleiramento da palha
(vermelho) e sem palha (azul), no primeiro ano (a) e segundo ano (b) de estudo.
A presença da palha no campo influenciou a movimentação dos adultos
de S. levis nos dois anos de estudo (Ano 1: F= 3,910, gl = 2, P= 0,024, Ano 2:
F= 4,5933, gl = 2, P= 0,040). No primeiro ano de estudo, nas áreas onde houve
a retirada total da palha verificou-se que os adultos caminharam uma distância
menor que em áreas com presença total da palha ou aquelas em que a palha foi
enleirada. Os resultados indicam que não houve diferença significativa (F= 4,49;
gl= 1 p= 0,1013) na distância percorrida pelos adultos de S. levis numa
comparação entre os dois anos (Tabela 2).
A distância máxima percorrida pelos adultos de S.levis, no primeiro e no segundo
ano de estudo foi de 6,70 m e 6,0 m, respectivamente, em áreas com palha total,
4,50 m em ambos os anos nas áreas com remoção total da palha e 6,36 m e
3,00 m, respectivamente, em áreas onde houve o enleiramento da palha. Não
18
houve diferença significativa na velocidade média percorrida pelos insetos nos
diferentes tratamentos (Ano 1: F= 0,03, gl = 2, P= 0,973, Ano 2: F: 1,848, gl=2,
P=0,163). Porém houve diferença numa comparação entre os dois anos
tratamentos (F= 20,41; gl= 1 p= 0,0107)
A partir do compilado dos dados, os modelos que permitiram melhores
ajuste dos dados foram selecionados seguindo critérios de AICc estabelecidos
(Tabela 3). O gráfico evidência a densidade de probabilidade, ou seja, a
probalidade de maior recaptura de adultos de S. levis em determinadas
distâncias em relação aos tratamentos adotados. Em áreas onde foi realizada a
remoção total da palha a movimentação foi mais restrita quando comparada com
áreas com palha total ou onde a palha foi eneleirada na linha de cana. Ainda, a
densidade de probabilidade de recaptura nessas áreas foi maior entre 1,5 e 3
metros (Figura 6a). Por outro lado, nas áreas com palha total e onde foi realizado
o enleiramento, a probabilidade de recaptura de adultos de S. levis foi evidente
em todas as distâncias observadas (Figura 6a). A distribuição de frequência com
os dados observados em relação ao número de S. levis recapturados nos
diferentes tratamentos pode ser observada na Figura 6b, onde mais uma vez se
observa que, em áreas com remoção total da palha, a mobilidade foi mais restrita
em comparação com os demais tratamentos. Uma análise de regressão com
modelos polinomiais de segunda ordem, foi resumida na tabela 4. Esses
resultados indicam a influencia do manejo da palha na movimentação dos
Tabela 2. Distância média e velocidade média (± EPM) percorrida por adultos de S. levis em
diferentes condições de campo nos dois anos de estudos1.
Ano 1 Ano 2
Tratamento n2 Distância (m) Velocidade
média(m/dia)
n2 Distância
(m)
Velocidade
média(m/dia)
Palha em
área total
29 4,01 ± 1,28 aA 0,62 ± 0,29Aa 14 3,32 ± 1,33 Aa 0,185± 0,107Ab
Enleiramento
16 3,73 ± 1,48 aA 0,68 ± 0,340Aa 12 2,14 ± 0,80 Aa 0,135± 0,067Ab
Remoção
total da palha
16 3,00 ± 0,53 bB 0,66 ± 0,342Aa 7 1,97 ± 1,11 Bb 0,421± 0,322Ab
1 Médias seguidas de mesma letra minúscula na coluna e maiúscula na linha (para a mesma variável
nos dois anos) não diferem significativamente pelo teste Tukey (P > 0,05).
2 Número de adultos de S. levis recapturados.
19
adultos de S.levis, principalmente quando a palha é removida totalmente do
campo.
20
Tabela 3. Comparação dos índices de seleção de modelos fornecidos pelo pacote de software dispfit R, calculados para os tratamentos palha em área
total, palha enleirada e remoção total de palha.
Tratamentos Modelo AIC
Delta
AIC AICc
Delta
AICc BIC
Delta
BIC Valor de qui²
Significancia
qui²
Valor de K-
S Significancia K-S
Palha em
área total
Exponential 578,317 29,19607 578,391 29,04373 580,3423 27,17072 13,41380075 0,00942128 0,277472527 0,033051554
Gamma 549,1209 0 549,3473 0 553,1716 0 10,43627907 0,015199442 0,200549451 0,150124836
Log-Normal 551,6812 2,560273 551,9076 2,560273 555,7319 2,560273 10,27184411 0,016391236 0,251347709 0,034302346
Rayleigh* 558,5975 9,476599 558,6716 9,324258 560,6228 7,451247 7,728377187 0,102050379 0,233766234 0,083284697
Weibull 549,8119 0,690964 550,0383 0,690964 553,8626 0,690964 11,52035772 0,009220545 0,218944099 0,112341586
Exponential 223,246 5,311646 223,4365 5,311646 224,3815 5,311646 1,680446317 0,431614194 0,28115942 0,323389588
Gamma 218,5478 0,613494 219,1478 1,023018 220,8188 1,748989 5,22247265 0,022296826 0,248792271 0,406604723
Palha
enleirada Log-Normal 218,8927 0,958345 219,4927 1,367868 221,1637 2,093839 7,006179497 0,008122884 0,241847826 0,478300214
Rayleigh* 217,9343 0 218,1248 0 219,0698 0 1,597731041 0,449839008 0,248792271 0,406604723
Weibull 219,0163 1,081991 219,6163 1,491514 221,2873 2,217485 4,367360087 0,036633704 0,251716247 0,378789195
Exponential 244,6632 14,41589 244,817 14,08974 245,9954 13,08369 15,69614731 0,000390503 0,607142857 0,000656711
Gamma 230,4392 0,191887 230,9192 0,191887 233,1036 0,191887 8,053386238 0,004541868 0,392857143 0,02782805
Remoção
total Log-Normal 230,6979 0,450663 231,1779 0,450663 233,3623 0,450663 6,924033691 0,008504493 0,392857143 0,030145453
Rayleigh 234,7331 4,485825 234,8869 4,159671 236,0653 3,153621 10,47334801 0,005317915 0,392857143 0,030145453
Weibull* 230,9058 0,65849 231,3858 0,65849 233,5702 0,65849 11,2772394 0,000784631 0,392857143 0,018882308
*KS: teste de duas amostras de Kolmogorov-Smirnov.
* Modelos escolhidos seguindo critério de AICC.
𝛥 Delta
BIC: Critério de Informação Bayesiano
21
Figura 6. Distância percorrida por adultos de S. levis em diferentes condições de
presença da palha em cana-de-açúcar; a) Relação da densidade de
probabilidade de recaptura baseado no ajuste de modelos AICc; b) número de
adultos de S.levis recapturados. Área sombreada representa o intervalo de
confiança.
20
b
25
30
15
10
1,5 6,0
5
N
⁰
d
e
a
d
u
lt
o
s
d
e
S
.
le
v
is
r
e
c
a
p
tu
ra
d
o
s
Distância do ponto de liberação (m)
3,0 4,5
20
0,4
0,5
D
e
n
s
id
a
d
e
d
e
p
ro
b
a
b
ili
d
a
d
e
0,3
0,2
0,1
1,5 6,0
Distância do ponto de liberação (m)
3,0 4,5
a
22
Tabela 4. Análise de regressão polinomial da associação entre os tratamentos em
relação à taxa de recaptura no campo de adultos de S. levis marcados.
Preditores
Índice de taxa de
incidência
IC p
Polinomial (distância)1 0.36 0.05 – 2.55 0.289
Polinomial (distância)2 0.25 0.04 – 1.53 0.137
Palha Total Referência
Palha Enleirada * polinomial
(distância)1
0.65 0.02 – 17.55 0.801
Palha Enleirada * polinomial
(distância)2
4.19 0.14 – 111.02 0.397
Palha Enleirada 0.55 0.29 – 1.00 0.054
Remoção Total 0.12 ** 0.02 – 0.47 0.006
Remoção Total * polinomial
(distância)1
0.00 ** 0.00 – 0.00 0.002
Remoção Total * polinomial
(distância)2
0.00 * 0.00 – 0.07 0.011
Observações 28
R2 Nagelkerke 0.707
Polinomial (distância)1 representa o termo linear
Polinomial (distância)2 representa o termo quadrático
* p<0.05 ** p<0.01 *** p<0.001
23
Os resultados mostram uma associação significativa entre áreas com
remoção total da palha e a direção do caminhamento dos insetos na linha de
cana. Em áreas com palha total, 66,6 ± 7,3 % (48) dos adultos de S. levis foram
recapturados em linhas de cultivo paralelas à linha na qual haviam sido liberados,
enquanto que em áreas onde foi realizada a remoção total da palha, a maioria
(65 ± 9,9 %) dos insetos foram recapturados na mesma linha onde foram
liberados. Este foi o mesmo comportamento observado nas áreas com
enleiramento da palha (Tabela 5).
Os modelos ajustados para machos e fêmeas de S.levis seguindo o
critério de AICc são apresentados na Tabela 6 e 7. Como observado na Figura
Tabela 5. Análise do modelo de regressão binomial negativo avaliando efeito
do manejo da palha no campo em relação a direção do caminhamento de
adultos de S. levis.
Contagem
Preditores
Índice de taxa de
incidência
IC p
Direção: Linha 0.35 0.11 – 1.12 0.074
Palha Total Referência
Palha Enleirada Direção:
Linha
6.55 0.98 – 45.15 0.053
Palha Enleirada 0.24 * 0.06 – 0.99 0.044
Remoção Total 0.24 * 0.06 – 0.89 0.032
Remoção Total Direção:
Linha
7.17 * 1.17 – 45.01 0.033
Observações 44
R2 Nagelkerke 0.226
“Palha Total”- tomado como referência
* p<0.05 ** p<0.01 *** p<0.001
24
5, os adultos de S.levis se movimentaram mais nos primeiros dias após a
liberação. Quando comparamos essa movimentação entre machos e femêas
esse padrão se repete, ou seja a probabilidade de recaptura de S. levis nos
primeiros dias é maior, para ambos os sexos. Em contrapartida, em áreas onde
foi realizado o enleiramento da palha, a probabilidade de encontrar machos de
S.levis por um período mais longo, foi maior do que em relação as femêas e aos
demais tratamentos (Figura 7a). Em áreas com palha total a probalidade de
recaptura das fêmeas foi a mesma em todas as distâncias encontradas, por outro
lado, no mesmo tratamento a probabilidade de encontrar machos foi maior na
distância de 3 metros. Entretando em áreas com remoção total da palha, a
probalidade de encontrar machos e femeas foi similiar (Figura 7b).
25
Tabela 6. Modelos que melhor se ajustaram segundo o critério de AICC para densidade de probalidade de machos e fêmeas de S.levis em relação
a distância percorrida para os tratamentos: palha em área total, palha enleirada e remoção total de palha.
Tratamentos Sexo Modelo AIC
𝜟
AIC
AICc
𝜟
AICc
BIC
𝜟
BIC
Valor
de qui²
Significancia
qui²
Valor de
K-S
Significancia
K-S
Palha total
Macho Gamma 332,05 0 332,42 0 335,16 0 3,94 0,2672 0,233 0,2135
Fêmea Log-Normal 333,43 1,38 333,81 1,38 336,54 1,38 4,63 0,2008 0,242 0,1936
Palha enleirada
Macho Weibull 333,53 1,48 333,91 1,48 336,65 1,48 4,89 0,1799 0,225 0,2505
Fêmea Rayleigh 345,62 13,57 345,74 13,32 347,18 12,01 5,38 0,2500 0,397 0,0036
Remoção total
Macho Weibull 333,53 1,48 333,91 1,48 336,65 1,48 4,89 0,1799 0,225 0,2505
Fêmea Weibull 333,53 1,48 333,91 1,48 336,65 1,48 4,89 0,1799 0,225 0,2505
*KS: teste de duas amostras de Kolmogorov-Smirnov.
𝛥 Delta
BIC: Critério de Informação Bayesiano
26
Tabela 7. Modelos que melhor se ajustaram segundo o critério de AICC para densidade de probalidade de machos e fêmeas de S.levis em
relação aos dias após a liberação para os tratamentos: palha em área total, palha enleirada e remoção total de palha.
Tratamentos Sexo Modelo AIC
𝜟
AIC
AICc
𝜟
AICc
BIC 𝜟 BIC
Valor
de
qui²
Significância
qui²
Valor de
K-S
Significância
K-S
Palha total
Macho Wald 536,89 3,27 537,27 3,52 540,00 4,82 14,04 0,0028 0,2700 0,1177
Fêmea Exponential 533,62 0 533,74 0 533,17 0 4,63 0,2008 0,2000 0,3653
Palha enleirada
Macho Exponential 533,62 0 533,74 0 533,17 0 4,63 0,2008 0,2000 0,3653
Fêmea Exponential 533,62 0 533,74 0 533,17 0 4,63 0,2008 0,2000 0,3653
Remoção total
Macho Exponential 533,62 0 533,74 0 533,17 0 4,63 0,2008 0,2000 0,3653
Fêmea Exponential 533,62 0 533,74 0 533,17 0 4,63 0,2008 0,2000 0,36535
*KS: teste de duas amostras de Kolmogorov-Smirnov.
𝛥 Delta
BIC: Critério de Informação Bayesiano
27
a
b
Figura 7. Machos e fêmeas de S. levis recapturados nos dois anos de estudo. a)
Densidade em relação à distância percorrida; b) densidade em relação aos dias
após a liberação nos seguintes tratamentos: Palha total (verde), Enleiramento
(vermelho) e sem palha (azul). Área sombreada representa o intervalo de
confiança.
28
5. DISCUSSÃO
O uso de etiquetas plásticas não influenciou na sobrevivência dos adultos
de S. levis. Com isso, trata-se de técnica de marcação ideal para estudos de
biologia, dinâmica populacional, comportamento e dispersão de insetos,
conforme apontado por Hagler & Jackson (2001). De forma semelhante ao
estudo, Buttler et al. (2012) também não constataram diferença na sobrevivência
de Nicrophorus americanos Oliver (Coleoptera: Silphidae) marcados com
etiquetas. Ainda, estes autores verificaram que a taxa de retenção das
marcações foi de 75,5% após duas semanas. Em nosso estudo, as marcações
permaneceram intactas por mais de 18 semanas.
A permanência das marcações nos indivíduos é de extrema importância
em estudos de recaptura para estimar a dinâmica de populações, uma vez que
a ausência ou perda dessas marcações impede a confirmação da
movimentação, pois não permite diferenciar os insetos marcados daqueles
selvagens presentes na natureza. Além da permanência, o tipo de marcação e
o local onde essas marcações são feitas não podem afetar o comportamento dos
insetos (Southwood e Henderson, 2000, Araujo et al, 2022). Optou-se por fixar
as etiquetas no pronoto dos adultos de S. levis, uma vez que Buttler et al. (2012)
observaram em seus estudos que etiquetas coladas na base do élitro, tendem
acumular terra, o que pode interferir no voo ou em outros comportamentos. A
marcação utilizando etiquetas é viável para estudos de marcação de S. levis,
mas o material utilizado poderá ser aprimorado, pois algumas etiquetas ficaram
desgastadas, provavellmente pela umidade decorrente do período de chuvas,
durante o qual os ensaios foram conduzidos.
Os adultos de S. levis percorreram distâncias maiores em áreas onde não
houve o manejo da palha ou em que houve o enleiramento. Portanto a presença
da palha no campo influenciou a movimentação desses insetos comparados com
áreas onde a retirada da palha foi total. Nessas áreas a taxa de recaptura foi
maior e por um período mais longo. Desde a implantação da colheita mecanizada
verde há uma extensa deposição de palha no campo (Carvalho et al., 2017).
29
Dinardo-Miranda (2002) e Dinardo-Miranda & Fracasso (2013) avaliaram o efeito
a presença de palha no campo juntamente com a ausência do fogo ao
aparecimento de pragas na cultura da cana-de-açúcar. A presença da palhada
no campo fornece um microclima propício em relação à umidade e aos
nutrientes, além de proteção contra eventuais predadores (De Castro et al.,
2019). Estudos com o moleque da bananeira, Cosmopolites sordidus (Germar)
(Coleoptera: Curculionidae), mostraram maior recaptura de insetos nas
localidades com cobertura na entrelinha em plantações de bananeira quando
comparadas com áreas sem cobertura (Vinatier et al., 2010).
A presença da palha enleirada na entrelinha de cana não pareceu limitar
o deslocamento do bicudo da cana-de-açúcar. Pelo contrário, a presença da
palha nessa entrelinha pode ter atuado como ambiente favorável para proteção
do inseto. Este comportamento pode ser interpretado como uma estratégia de
busca de condições adequadas por parte dos insetos, assim como observado
em áreas com palha total (Vinatier et al., 2010; De Castro et al., 2019). O
enleiramento da palha, um tipo de manejo feito após a colheita que vem sendo
adotado por diversas usinas e produtores, consiste no afastamento da palha da
linha de cana para respectiva entrelinha (Sá et al., 2015). O objetivo desta
estratégia é aumentar a incidência de luz solar na soqueira, evitando a
proliferação de pragas de solo como, principamente, a cigarrinha-das-raízes
(Concenço & Leme Filho, 2017).
Em áreas onde houve a remoção total da palha (~ cultura no limpo), os
insetos percorreram distâncias menores. Nesse contexto, é possível notar uma
movimentação restrita. A medida que retirou a palha do campo, criou-se uma
limitação para esses insetos se movimentarem, consequentemente a distancia
percorrida foi menor em áreas com remoção total da palha. Essa baixa
movimentação pode estar associada ao fato de que a retirada da palha permite
alta exposição à luminosidade e altas temperaturas nas linhas de cana (Dinardo-
Miranda & Fracasso, 2013). Além disso, os insetos podem estar sujeitos a maior
risco de mortalidade, pois passam mais tempo procurando um habitat adequado,
conforme também observado por Vinetier (2011) em seus estudos com C.
sordidus. Em contrapartida, indivíduos em habitats com baixo risco, podem
reduzir sua movimentação e permanecer por mais tempo nesses locais. A
30
remoção da palha poderia ser uma prática agrícola interessante, pois além de
desfavorecer a movimentação de pragas de solo, pode ser utilizada como
matéria-prima na produção de bioenergia (Lisboa et al., 2018). Todavia, há
implicações negativas relacionadas com os serviços ecossistêmicos do solo, tais
como redução de material orgânico e da fertilidade, que, consequentemente,
podem afetar o crescimento das plantas e produtividade (Bordonal et al., 2018a).
O tamanho das plantas pode influenciar a movimentação de adultos de
S.levis. No início do primeiro ano de estudo, as plantas estavam baixas, não
permitindo o total sombreamento das entrelinhas; mas ao final, as plantas
atingiram cerca de 2 m de altura e apresentaram maior sombreamento. No
segundo ano, desde a liberação dos insetos já era observado o sombreamento
nas entrelinhas. Ferreira (2022), em seu estudo preliminar observou que adultos
de S. levis se afastavam na presença de uma fonte de luz, movendo-se em
direção a locais escuros. Esse fator, chamado de fototaxia negativa, pode
explicar um período de maior de recaptura dos adultos de S. levis em áreas com
total remoção da palha no segundo ano de estudo.
Os adultos de S. levis apresentam alta atividade logo após a liberação,
muito possivelmente, pela necessidade de busca de um microclima adequado
para o desenvolvimento e mesmo pela competição. Esse tipo de movimento é
chamado de subdifuso e não difuso, ou seja, alta atividade dos insetos logo após
a liberação. Vinetier (2010), em seu estudo observou movimento semelhante
com o moleque-da-bananeira. Este autor considera que o movimento dos insetos
dificilmente será aleatório, e sim em busca de recursos como alimento, abrigo,
baixa luminosidade e local de oviposição. Assim, nas áreas onde não houve a
retirada da palha ou houve o enleiramento, esse fato pode estar relacionado à
capacidade dos adultos em encontrar um habitar adequado para possibilitar o
seu desenvolvimento. Isso reforça a hipótese de que a disponibilidade de
recursos e abrigo pode ser o principal fator do seu movimento, conforme também
confirmado para C. sordidus e Hylobius warreni Wood (Coleoptera:
Curculionidae) por Vinetier (2010) e Machial et al. (2012), respectivamente.
Foi observado um aumento da distância percorrida pelos adultos de S.
levis com o passar do tempo, que reflete a movimentação do inseto no
agroecossistema. Além da busca de recurso alimentar ou acasalamento, essa
31
movimentação pode também estar associada à competição intraespecífica pois,
à medida que a densidade populacional aumenta, os recursos vão se tornando
mais escassos, levando os indivíduos a procurarem locais menos povoados
(Krebs 1998; Neves et al., 2003). Indivíduos de C. sordidus se moviam mais
quando a densidade local era baixa (Vinatier, 2011). Comportamento semelhante
foi observado para o gorgulho-do-pinheiro, Hylobius abietis (Linnaeus, 1758)
(Coleoptera: Curculionidae), eles tendem a se agregar nas fases inicias de
colonização, dispersando-se aleatoriamente em seguida e, por fim, assumem
uma distribuição regular no espaço (He & Alfaro, 1997). Com isso pode-se inferir
que em áreas com remoção total da palha a competição entre os indivíduos é
maior, pois além de não ser um ambiente adequado, os recursos são limitados.
A direção do caminhamento de adultos de S. levis foi afetada pela
remoção total da palha no campo. Observou-se uma orientação dos insetos para
habitats mais favoráveis para sua sobrevivência. Assim, nesse caso, há uma
associação da presença da palha como um estímulo para os insetos
atravessarem e se dispersarem mais na área de cultivo. Os habitats, de maneira
geral, apresentam padrões de organização, o qual podem ser mais favoráveis à
presença dos insetos. Vinatier et al. (2010) e Vinatier (2011), em seus estudos
com o moleque-da-bananeira, observaram diferença na seleção de habitats em
relação a sua heterogeneidade. Portanto, infere-se que qualquer alteração na
disposição da palha no campo pode provocar mudanças no padrão de
movimentação dos adultos de S. levis.
O padrão de movimento dos insetos pode ser tendencioso quanto ao
sexo. As áreas com palha total pareceu ser mais propícia para as fêmeas, pois
em todas as distâncias teve a probabilidade de serem recapturasdas. Negro et
al. (2008), estudando padrões de movimentação de Carabus olympiae
(Coleoptera: Carabidae), observaram que os machos se moviam por mais tempo
e seguiam caminhos mais complexos para diminuir o tempo à busca de
parceiros. Esse padrão foi observado nos machos em áreas com o enleiramento
da palha na entrelinha. Para o moleque-da-bananeira, Vinatier (2011) não
observou efeito do sexo na movimentação. Assumindo que no campo a
densidade de machos e fêmeas liberados foi a mesma, uma diferença na
movimentação pode ser consequência da competição por recursos, alimentação,
32
no caso das fêmeas locais de oviposição ou por parceiros nos machos
(Albrectsen & Nachman, 2001; Szyszko, 2004; Carval et al., 2015).
A dispersão dos adultos de S. levis parece ser limitada e lenta. Os insetos
apresentaram baixa movimentação como inicialmente previsto, porém com
diferenças nas distâncias percorridas entre os tratamentos envolvendo manejo
de palha. Resultados semelhantes foram encontrados por Arthur et al. (1987)
para S. levis, embora estes autores não tenham avaliado o efeito sob diferentes
condições de presença de palha de cana-de-açúcar na movimentação desses
insetos.
Esse trabalho representa um dos primeiros estudos com objetivo de
avaliar o efeito de diferentes condições de presença de palha de cana-de-açúcar
no campo sobre a movimentação de adultos de S. levis. Os resultados
mostraram que a presença da palha influência nessa movimentação, podendo o
inseto percorrer maiores distâncias quando estão protegidos pela palhada.
Portanto, a retirada da palha da linha de cana pode ser considerada uma
estratégia de manejo a ser implementada visando o controle de S. levis, uma vez
que os insetos se mantém na linha de cultivo. Isso pode ser importante para a
aplicação de produtos (químicos e biológicos) aumentando a eficácia de
controle. Entretanto, há a necessidade de mais pesquisas a respeito da
quantidade de palha recomendável que deveria ser retirada dos campos, pois,
uma combinação equilibrada poderá ajudar na elaboração e otimização de
estratégias de manejo e, possíveis ferramentas de controle para o bicudo da
cana-de-açúcar e, consequentemente promover uma produção de cana mais
rentável e sustentável.
33
6. CONCLUSÕES
• Marcação com etiquetas plastificadas não afeta a sobrevivência e o
comportamento de adultos de S. levis em condições de campo e
laboratório.
• A presença da palha favorece a movimentação de S. levis em cana-de-
açúcar.
• A remoção da palha pode ser uma estratégia para reduzir a infestação da
praga a campo.
34
7. REFERÊNCIAS
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