UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DOCÊNCIA PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA LUIS GUSTAVO DA SILVA COSTA ESTRATÉGIAS DE ENSINO COLABORATIVO COMO UMA PROPOSTA DE ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO - AEE  BAURU 2021 LUIS GUSTAVO DA SILVA COSTA ESTRATÉGIAS DE ENSINO COLABORATIVO COMO UMA PROPOSTA DE ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO - AEE Dissertação apresentada como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre junto ao Programa de Pós- graduação em Docência para Educação Básica, da Faculdade de Ciências da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus de Bauru. Orientadora: Prof.ª Dra. Eliana Marques Zanata BAURU 2021                                                                                               C837e  Costa, Luis Gustavo da Silva  Estratégias de Ensino Colaborativo como uma proposta de  Atendimento Educacional Especializado ‐ AEE / Luis Gustavo da  Silva Costa. ‐‐ Bauru, 2021  190 p. : il., tabs., fotos    Dissertação (mestrado) ‐ Universidade Estadual Paulista (Unesp),  Faculdade de Ciências, Bauru  Orientadora: Eliana Marques Zanata  1. Ensino Colaborativo. 2. Co‐ensino. 3. Deficiência Intelectual. 4.  Ensino Fundamental. I. Título.                          DEDICATÓRIA A presente pesquisa é dedicada aos alunos Público-alvo da Educação Especial – PAEE – que tive o privilégio de conhecer durante a atuação como professor especialista em Educação Especial. Dentre os quais, destaco a doce, inteligente e amorosa aluna PAEE com Deficiência Intelectual e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, estrela maior dessa dissertação; ao seu lado, experiências, práticas construtivas de trabalho e aprendizagens foram alcançadas. Dedico esse trabalho à Doutora Eliana Marques Zanata, grande orientadora dessa pesquisa que, com seu jeito humano, humilde e amável, pôde me direcionar durante todo o curso, proporcionando aprendizados relevantes para meu crescimento acadêmico e também pessoal. Ela é um exemplo de vida, de lutas árduas, de amor ao próximo, de muita garra e dedicação: é um “anjo” que Deus colocou em meu caminho.                                                             AGRADECIMENTOS Agradeço, primeiramente, a Jeová Deus por me proporcionar esse momento de alegria e emoção, a saber, a realização de um sonho. Grato por Ele não me desamparar, dando-me sabedoria e a força necessária para vivenciar cada momento do curso. Deu-me fôlego de vida, foi tão misericordioso e amável, um Deus puro, fiel e verdadeiro. Enviou-me forças para conciliar os afazeres pessoais, o trabalho secular e a vida acadêmica. Agradeço à minha mãe, que me fortaleceu nos momentos mais difíceis da vida, incentivando meus estudos, incessantemente. Ela batalhou de modo árduo para pagar minha graduação, apoiando-me e dando o incentivo necessário para que eu nunca desistisse dos meus sonhos; parar jamais, sempre ir além. À minha família, meu porto seguro. Independentemente da distância e das circunstâncias, ela me move todos os dias. É herança de amor e carinho construído, moldada por nossa matriarca guerreira, nossa grande mãe. À minha esposa, por sua paciência e apoio sem medidas durante todo o curso. Mulher tão amável e dedicada e, acima de tudo, amiga. Entendeu minhas ausências, crises de estresse, ansiedades, noites sem dormir. Guerreira e parceira em todos os momentos. Ao meu eterno professor e amigo para a vida toda, Wagner Antônio Júnior. Ele me incentivou, apoiou, sanou minhas dúvidas, e ajudou-me ricamente com as suas orientações, sendo, assim, peça fundamental para minha carreira profissional. À diretora da instituição em que atuo como docente no Ensino Superior, Mariana Falcão Bormio. Durante a inscrição para o mestrado ela me orientou na organização dos documentos; suas dicas e apoio foram imprescindíveis. À minha professora da graduação e parceira de profissão, Eliane Moraes de Jesus Mani. Ela não mediu esforços no incentivo e nas dicas importantíssimas para que eu desenvolvesse o projeto. Por meio de seu nome, estendo minha gratidão às demais professoras da graduação. Às minhas especiais professoras da Educação Básica: Arlete Bergamaschi, Arminda Carolina Batista, Cristiane Marques de Sousa, Cristiane Barbosa, Dorsinda Padial, Fabiani Fernandes, Giovana Xavier de Almeida, Helena Gica Arantes, Mary Anne Tendolo Lascas, Nelly Zilioti Santos e Sonia Mendonça Domingues; professoras de grande gabarito que me incentivaram nos estudos por meio de um amor e carinho transcendentes por suas profissões. À professora da sala comum, Patrícia Martin Santi, grande contribuinte para realização dessa pesquisa. Ela aceitou, logo de início, com o coração aberto, a proposta, aprimorando seus conhecimentos sobre o assunto em questão, dando ênfase no trabalho colaborativo, e apresentando o melhor para todos os nossos alunos, incluindo nossa aluna PAEE. À Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Agudos, Estado de São Paulo, que, por diversas vezes, esteve pronta para me ouvir e me ajudar no que fosse possível, concernente ao curso de mestrado, com dedicação e assiduidade. Grato pelo carinho e apoio em minha carreira profissional. Em nome das minhas itinerantes Gabriela Hellinger e Cristiane Caldiéri de Oliveira, agradeço aos meus amigos(as) e colegas de trabalho de Educação Especial e supervisores, professores, coordenadores, diretores, secretárias, serventes e merendeiras do município paulista de Agudos. Vocês me apoiaram e me receberam de braços abertos nas escolas por onde passei, especialmente na escola em que a pesquisa foi desenvolvida. Aos ilustres professores Doutores Antonio Francisco Marques, Eli Vagner Francisco Rodrigues, Lourenço Magnoni Júnior, Regiani Aparecida Santos Zacarias e Vitor Machado, responsáveis pelas disciplinas que cursei no mestrado. Todos são professores dedicados e engajados, atenciosos em todos os momentos e prontos para esclarecer dúvidas. Certamente ofereceram o apoio necessário para minha formação profissional e pessoal. Às professoras Doutoras Lucélia Cardoso Cavalcante Rabelo e Thais Cristina Rodrigues Tezani, amáveis e, acima de tudo, humanas. Aceitaram abertamente o convite para compor a banca de mestrado; com as suas ricas experiências contribuíram para o delineamento final de minha dissertação. Deixo expresso aqui minha sincera admiração e carinho por cada uma delas. Aos meus novos amigos, pessoas brilhantes que conheci durante o mestrado, parceiros e apoiadores que se fortaleceram durante dois anos. Em especial ao “grupo de amigos Surtados no mestrado”: Eduardo Verdiani, Dina Feitosa, Aline Barbosa e Luiza Almeida; gratidão eterna por essa parceria. Agradeço imensamente a todos que, direta ou indiretamente, puderam me apoiar nessa trajetória tão sonhada. Grato pelos conselhos, estímulos, por acreditarem sempre no meu amor pela profissão e em minha constante busca por novas estratégias e práticas para os alunos. À minha orientadora, Doutora Eliana Marques Zanata, por ser tão paciente, humilde e carismática – um ser humano ímpar. Ela foi capaz de tornar minha caminhada acadêmica mais prazerosa possível. Ensinou-me a lidar com minha extrema ansiedade e medo, e a ser um profissional melhor, dialogando comigo sobre suas experiências profissionais, orientando-me com excelência. Por meio de sua didática motivadora, conseguiu me impulsionar para um maior engajamento pela Educação. Sou muito grato pelo privilégio de tê-la como orientadora nesse período. Certamente, me fez enxergar inúmeras possibilidades e práticas executáveis, visando minha excelência profissional e uma maior consciência quanto ao meu potencial. Ficam expressos o meu sincero carinho e eterna gratidão a todos!                APRESENTAÇÃO Começo essa apresentação com uma frase marcante do educador Paulo Freire, que me fez refletir e me instigou a querer aprender mais a fim de aprimorar as práticas educacionais: “ninguém começa a ser educador numa certa terça-feira às quatro horas da tarde. Ninguém nasce educador ou marcado para ser educador. A gente se faz educador, na prática e na reflexão sobre a prática” (FREIRE, 1991, p. 58). Lembro-me, como se fosse hoje, quando terminei o Ensino Médio. Nas últimas semanas de aulas, escutava pelos corredores da escola, amigos conversando sobre como seriam suas vidas após o término dos estudos. Alguns pensavam prosseguir os estudos em cursos de graduação, faculdades, cursos técnicos, enquanto outros sonhavam com um bom trabalho e em constituir uma linda família. Nesse período eu estava em uma nostalgia total, pois pairavam sobre mim pensamentos bons sobre a minha trajetória escolar e, assim como meus amigos, também almejava cursar uma graduação, no entanto, guardava em meu íntimo que apenas os alunos pertencentes a uma classe social mais elevada conseguiriam alcançar tal feito. No ano em que terminei o Ensino Médio não prestei provas dos vestibulares, mas realizei a prova do Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM, para testar meu desempenho escolar. Consegui uma excelente nota, e isso me deu forças para voltar a sonhar. Sendo assim, tracei algumas metas e objetivos, dentre os quais: ingressar no curso de Psicologia oferecido pela Universidade Estadual “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP, câmpus de Bauru; assim, o primeiro sonho seria ser psicólogo para depois ser pedagogo, concluindo a trajetória acadêmica com mestrado e doutorado. Após o ENEM, prestei o vestibular da UNESP, com vistas ao curso de psicologia, sendo aprovado na primeira fase. No entanto, a vida tomou outros rumos, e não dei continuidade ao processo seletivo, deixando de realizar a segunda e a última etapa. Assim, o sonho quanto à profissão de psicólogo foi deixado de lado. Felizmente, não desisti de ser pedagogo. Passados alguns meses do vestibular, minha mãe sentou-se comigo e tivemos uma longa conversa; o sonho dela era proporcionar aos filhos um bom estudo, sobretudo almejando a carreira acadêmica (curso superior). Ela sempre foi uma excelente diarista que batalhava e ainda batalha muito pelos seus seis filhos. Motivado por aquela conversa, comecei a cursar pedagogia em minha cidade natal, Agudos, situada no Estado de São Paulo. Minha mãe custeou todos os gastos financeiros da graduação. Enquanto isso, após o início do curso, ficava cada vez mais encantado pela arte de ensinar. Até que chegou o semestre da disciplina de Educação Especial, sendo que, de minha parte, foi amor à primeira vista. Apaixonei- me por essa área e pelos trabalhos realizados por professores especialistas. Nessa disciplina tive três grandes professoras que a partir de suas didáticas nessa modalidade de ensino transmitiram amor e paixão; são elas, atualmente Mestras e Doutoras: Eliane Morais de Jesus Mani, Liliane Campos Stumm e Tania Maria Garrido de Souza. Cursar pedagogia não foi fácil, como muitas pessoas afirmam. Foram longos anos de muita luta e dedicação, principalmente para a minha mãe que, arduamente, trabalhava em suas faxinas para manter as mensalidades do curso. Não tenho palavras para descrever o quanto ela foi essencial para meus estudos e formação, sendo meu espelho de força, foco e muita fé, uma grande guerreira e incentivadora. No ano de 2016, concluí o curso em pedagogia pela Faculdade de Agudos – FAAG. Foi um grande sonho realizado. A família ficou toda contente, minha mãe expressou seus sentimentos de que cumprira sua missão. Ainda que, até o momento, sou o primeiro e o único filho graduado, sonho, juntamente com minha mãe, com a formação acadêmica de todos os meus irmãos. Depois de receber o certificado de conclusão do curso em pedagogia, fiquei receoso de trocar um trabalho que me oferecia carteira registrada para atuar como professor, substituindo professores efetivos. Diante disso, comecei a lecionar somente no ano de 2017, enquanto que, ao mesmo tempo, cursava a pós- graduação em Educação Especial e Educação Inclusiva, na qual fiquei exatamente um ano como professor substituto na Educação Infantil, no Ensino Fundamental e na Educação Especial. Já no início de 2018, terminei a pós-graduação em Educação Especial e Educação Inclusiva e, em julho daquele ano fui selecionado em um processo seletivo oferecido pela prefeitura do município de Agudos a fim de lecionar como professor especialista na área da Educação Especial. Desde então, passei a ter mais contatos, experiências e vivências com os alunos Público-alvo de Educação Especial – PAEE. Perante esse desafio e privilégio, um grande amor nasceu em meu coração, a ponto de diariamente inovar e melhorar as minhas práticas pedagógicas, assim como cativar ao máximo os alunos, estimulá-los e motivá-los ao aprendizado, e isto de acordo com seus limites e suas capacidades. Inscrevi-me, no meu primeiro ano como professor especialista em Educação Especial, no Congresso Municipal de Educação para concorrer ao prêmio Educador do Ano de 2018, seleção entre os professores do meu município. Para isso, desenvolvi um projeto de alfabetização de um aluno com Deficiência Intelectual, matriculado nos anos iniciais do Ensino Fundamental e que não sabia ler nem escrever. Em quatro meses o aluno PAEE saiu da fase pré-silábica da escrita e entrou em transição na fase silábica alfabética com a fase alfabética da escrita, dentre outros avanços significativos. Por ser um grande feito na aprendizagem, fui premiado, para a minha surpresa, com o primeiro lugar, condecorado como Educador do Ano na modalidade Educação Especial. Fui tomado por uma emoção imensurável ao ver meus familiares contagiados de alegria e satisfação pelo feito, e por um sentimento de estar no caminho certo e fazendo o certo, buscando sempre o melhor, com muita dedicação. Nesse mesmo ano, os professores especialistas de Educação Especial e itinerantes de Educação Especial, assim como os coordenadores, participaram de uma formação com as Doutoras Eliana Marques Zanata e Eliane Morais de Jesus Mani. Também estive presente, contemplando a magia da temática envolvida – o Ensino Colaborativo –, lugar da união repleta de maestria entre teoria e prática. Esse treinamento me deixou pensativo e curioso, pois percebi que haviam vestígios em minhas estratégias de ensino com o que foi ensinado ali. Diante disso, quis saber mais sobre essas estratégias e busquei, dia após dia, informações, visando um aprimoramento. Decidi, então, prestar o processo seletivo para ingresso no mestrado profissional. Já havia pensado em concorrer a uma vaga no mestrado no ano de 2017, mas não me sentia preparado, considerando meu início de carreira como educador, dedicando-me também, no mesmo ano, a um novo empreendimento. Diante desse contexto, refleti muito e pensei em me organizar e avançar nos estudos no ano seguinte. Após uma formação cheia de estratégias de ensino, citada há pouco, e diante da minha inquietação, decidi me inscrever para o mestrado, tendo traçado em minha mente dois caminhos de pesquisa que gostaria de defender na dissertação. Comecei a buscar mais informações sobre o mestrado profissional. Pesquisei sobre a temática que gostaria de defender e, em diversos momentos, conversei sobre o sonho de fazer mestrado com os professores da escola em que trabalhava, com os professores da faculdade em que me formei e com a minha família. Recebi total apoio de todos, muitos conselhos, estímulos e motivação para seguir em frente. Fiz a inscrição para o processo seletivo com muita fé. Confiei em Deus, orei muito, pois naquele ano decidi, com aperto no coração, encerrar o meu empreendimento a fim de ser selecionado para o mestrado. Meu desejo era me dedicar, tendo em vista concluir os dois anos de curso com a maior bagagem de conhecimento possível. Prestei a primeira fase do mestrado e saí incomodado da prova, acreditando que não tinha produzido uma redação adequada. Apesar de ter ficado um pouco confuso, também estava confiante, pois me lembrei das minhas professoras de Língua Portuguesa do Ensino Médio, a saber, Arlete Bergamaschi, Cristiane Marques e Helena Gica Arantes. Elas sempre me elogiavam durante as atividades de redação na escola, e tinham uma excelente didática que cativava o aprendiz. Ressalto aqui também Tuca Flores, professora de língua portuguesa na graduação; durante as aulas, era rígida com as atividades, conhecimentos teóricos e práticas, todos transmitidos com total segurança. Às professoras citadas, minha sincera gratidão. A segunda fase do processo seletivo para o mestrado foi bem conturbada, pois implicava em providenciar documentos, escrever o projeto e organizar o Currículo Lattes, tudo muito novo para mim. Mesmo assim, não desisti, mas busquei ajuda e deixei tudo organizado e de acordo com o que foi pedido aos candidatos. Não foi fácil, achei que não conseguiria, mas com as instruções, dicas e apoio da diretora Mariana Falcão Bormio, do meu eterno orientador de graduação e pós- graduação, Wagner Antônio Junior, e das professoras Eliane Mani, Tania Garrido, Renata Biem, Helena Arantes e Fabiana Zanella, da Faculdade de Agudos, e da colega de profissão Deise Santana, consegui superar as minhas expectativas. Nesse período, foram praticamente quase três semanas sem dormir, muitas vezes nem sequer me alimentando corretamente. Estive com foco total nos artigos, livros, vídeos, publicações e muitas conversas e dúvidas sanadas com o meu amigo Wagner, a fim de manter a documentação em ordem e o projeto de pesquisa pronto para ser entregue no prazo estipulado. No último dia do prazo de entrega, ainda faltavam alguns documentos, mas corri contra o tempo, deixando tudo organizado. Emprestei o carro da minha amiga de trabalho, professora Margareth Zamora, que também estava na seletiva para o mestrado, e consegui, nos últimos minutos, encaminhar tudo o que foi exigido. Deixo aqui registrado minha eterna gratidão à Margareth, por sua confiança e apoio. Nesse mesmo dia tirei uma foto da Secretaria da Pós-graduação da UNESP, olhei para o céu e pedi a Jeová Deus que fosse feita sua vontade. Não contive tamanha emoção, pois estava perto de colocar em prática mais um objetivo traçado em minha vida. Consegui ser aprovado na segunda fase, fiquei com o coração acelerado, a emoção era imensa, sonhando e com muito medo da terceira fase. Esperei inquietamente, uma ansiedade que não cabia em mim. Desde o início estava sempre conversando com as pessoas mais próximas e com a minha família sobre esse dia, e recebi muitos conselhos e um grande incentivo carregado de boas energias e positividade. Chegou o grande dia da terceira fase do processo seletivo para o mestrado: o dia da arguição. Minha esposa, que sempre me dava forças para acreditar no meu sonho, esteve me acompanhando. Ela foi dirigindo o carro até a faculdade, enquanto tentava acalmar meus neurônios e minha ansiedade. Estava um dia muito caloroso, e eu vestia uma camisa social – eu estava quase “derretendo” de calor. Comecei a lembrar das orientadoras que indiquei, pois não conhecia cada uma delas profundamente, mas somente tinha conhecimento de seus trabalhos publicados e das palestras que eu havia assistido. No final das contas, pensava que não seria aprovado na arguição, e o nervosismo aumentou. Para minha surpresa, fui o primeiro a ser chamado para a arguição. No local estavam presentes as professoras Doutoras Eliana Marques Zanata e Vera Lúcia Messias Fialho Capellini. Foram minutos de um bom diálogo, mas que, para mim, pareceu uma eternidade. Sai da sala arrasado, preocupado com uma palavra que havia mencionado, achando, então, que jamais me escolheriam para o mestrado por conta disso. No entanto, assim como em todos os momentos de apreensão e insegurança, orei a Jeová Deus e novamente entreguei tudo nas suas mãos. Não tenho palavras para descrever a real sensação de quando me deparei com a lista de aprovados e lá constava o meu nome. Fiquei arrepiado, pulei, esmurrei o chão, chorei, gritei, comuniquei primeiramente a minha mãe, fiquei totalmente “fora do ar”, levando algum tempo para acreditar que, de fato, tinha conseguido a aprovação no tão sonhado mestrado. Ingressei no mestrado, e afirmo que foram dias de muitas lutas e conquistas. Cursar as disciplinas, conciliando-as com o trabalho, fazer pesquisas e mais pesquisas, escrever, realizar leituras e mais leituras, mês após mês debruçado nas pesquisas em busca de entendimento e de fazer o melhor. Foram dois anos de muito aprendizado, de uma vida acadêmica bem aproveitada, pois tudo foi novo em minha vida e quis aproveitar ao máximo. Conheci profissionais brilhantes que, assim como eu, estão sempre em busca da realização de seus sonhos e de uma educação melhor, em busca de mais conhecimentos, de novas estratégias e didáticas. Tive a oportunidade de ter professores extremamente engajados e dedicados em sua atuação, cheios de amor pela profissão e otimistas por um país que pode, sim, apresentar uma boa qualidade de vida e uma educação suficientemente igualitária para todos, desde que a mudança parta do nosso dia a dia em sala de aula, enquanto profissionais transformadores e com o devido reconhecimento e valorização por parte do sistema que nos governa. Além de conhecer inúmeras pessoas e ampliar os meus conhecimentos, o mestrado profissional me proporcionou a realização de mais sonhos e conquistas. Durante o curso, debruçado nos estudos, busquei levar os conhecimentos adquiridos para a escola, transformando-os em práticas executáveis. No primeiro ano de mestrado, pude me inscrever novamente para o Educador do Ano (referente ao ano de 2019) de meu município. Apresentei a minha prática docente no Congresso Municipal de Educação a partir de um projeto conectado com a temática e as práticas que estudava e que estavam sendo elaboradas na dissertação e também seriam aplicadas na sala de aula em que atuava como professor especialista de Educação Especial, juntamente com a professora de sala comum. O objetivo seria alfabetizar a aluna Público-alvo da Educação Especial - PAEE. Novamente, com uma alegria imensa, consegui o segundo lugar como Educador do Ano 2019, na modalidade professor especialista de Educação Especial. Foi um reconhecimento profissional sem igual. Ainda em 2019, fui convidado para lecionar no Ensino Superior, e no ano seguinte, para coordenar o curso de pedagogia, algo que me trouxe uma felicidade imensurável. Aceitei o desafio com total convicção; seria docente e coordenador no Ensino Superior da Faculdade em que me formei como pedagogo. Deste modo, vivenciei cada dia como uma nova descoberta, novos aprendizados e muito amor pela profissão. Ainda no ano de 2019, passei entre os 25 primeiros colocados no concurso para professor Especialista de Educação Especial do município paulista de Bauru. Também prestei seis processos seletivos e fui bem colocado em todos eles. Estou sem palavras para descrever o quanto o curso de mestrado profissional oferecido pela UNESP, câmpus de Bauru, contribuiu para a minha formação pessoal, intelectual e, certamente, na minha caminhada como educador. Confesso que ao escrever essa apresentação, por diversos momentos meus olhos se encheram de lágrimas. Em alguns trechos, pude me arrepiar de alegria e emoção. Passei a enxergar muitas batalhas por detrás de tudo, contexto de constante dedicação, e com diversas pessoas que torceram por mim. Passei a acreditar mais em minha pessoa e em meu potencial profissional. Mais uma vez sou muito grato a Jeová Deus e às pessoas que fizeram parte de todo esse processo, do meu sonho. Grato a Jeová Deus por cuidar de minha saúde física e emocional, e também da minha família, da minha orientadora, das professoras da banca e de seus familiares, dos meus amigos e de tantos outros, muitos, sabendo que vida está constantemente em mudança e não sabemos se conseguiremos atingir o que almejamos. Iniciei o ano de 2020 cheio de ideais e planos, sonhos e metas, mas, de repente, veio a pandemia do vírus covid-19, e todas as rotas foram mudadas, caminhos foram modificados, estradas apagadas, vidas ceifadas. O ano de 2020 foi de muitas lutas emocionais, orações e adaptações, porém, capaz de forçar a humanidade a sair da zona de conforto, fazendo-nos repensar as rotas, refazer as metas, enfrentar os desafios e enxergar as oportunidades a fim de que sonhos e oportunidades não desapareçam. Meu incentivo é que sejamos gratos à vida todos os dias, sejamos humanos em todas as relações, empáticos, solidários, altruístas e dados ao amor ao próximo. Se hoje estamos vivos, devemos agradecer, fazendo o bem sem olhar a quem, sabendo que a transformação de vidas está em nossas mãos. Assim, que sejamos educadores conscientes e agentes de transformação para um mundo melhor. A partir desses pensamentos, vivências e práticas docentes, surgiu a escolha da temática da presente pesquisa, estando diretamente relacionada à minha carreira profissional, enquanto professor especialista de Educação Especial e pedagogo, num período total de três anos. Durante todo esse tempo, desenvolvi um trabalho diferenciado, e após buscas por novas estratégias me deparei com o Ensino Colaborativo, algo que eu já realizava parcialmente sem ter conhecimento total de sua prática. Aprimorei meus conhecimentos e desenvolvi esse trabalho, junto com a equipe escolar que mantenho contato atualmente, buscando proporcionar um caminho mais prático e significativo para os alunos PAEE. Desse modo, sigo na busca daquilo que é significativo no desenvolvimento humano e na construção dos conhecimentos, ressaltando a pluralidade nas potencialidades dos alunos, a fim de propiciar-lhes protagonismo, defender seus direitos e dar-lhes um pertencimento social na condição de sujeitos históricos. Se o espaço escolar é construído e constituído no cotidiano por diversas culturas, como um ambiente plural, então isso precisa ser priorizado pelo professor, seja ele especialista de Educação Especial ou de sala comum, atendendo todas as necessidades de forma igualitária e de grande importância aos alunos de forma geral, com deficiência, PAEE ou não. O âmbito significativo deve ser direito de todos!               Não nascemos detentores do conhecimento e nem morreremos detentores do mesmo. Nascemos aprendizes e partiremos como aprendizes. Aprender a ser e aprender a conviver, é um ato de humanização, é ação e reação, é consciência e ressignificação. Em linhas talvez tortuosas e com extremos significados, aqui descrevo minhas reflexões e experiências na educação. Longas páginas de algo novo experimentado nas escritas da minha dissertação. Luis Gustavo da Silva Costa1   1 Epígrafe escrita pelo Autor (2020). COSTA, Luis Gustavo da Silva. Estratégias de Ensino Colaborativo como uma proposta de Atendimento Educacional Especializado - AEE. Orientadora: Eliana Marques Zanata. 2021. 190f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual Paulista “Júlio Mesquita” – Faculdade de Ciências, Campus de Bauru – Programa de Pós-graduação em Docência para a Educação Básica. UNESP, Bauru, 2021. RESUMO Essa pesquisa tem como objetivo analisar a aplicação e o estudo de estratégias de Ensino Colaborativo como uma proposta de Atendimento Educacional Especializado – AEE, a partir dos aportes teóricos da temática em questão e das percepções e concepções dos envolvidos. A pesquisa foi desenvolvida nos anos iniciais do Ensino Fundamental em uma escola pública municipal, de um município de pequeno porte do interior do Estado de São Paulo, apoiada em uma metodologia de abordagem qualitativa, com característica de pesquisa ação participante. Participaram do estudo uma aluna com Deficiência Intelectual e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, os 27 alunos da sala de aula, a professora de sala comum e o professor especialista de Educação Especial. Caracterizaram-se como instrumentos de coleta de dados: duas entrevistas semiestruturadas com a professora de sala comum, antes e depois do início da intervenção; diário de campo com o registro das práticas elaboradas e analisadas, e registros do desenvolvimento da aluna Público- alvo da Educação Especial – PAEE –, foco da pesquisa. Os resultados apontaram que as estratégias de Ensino Colaborativo beneficiaram não só a aluna, mas também os demais alunos da sala. Estes obtiveram grandes avanços na alfabetização: a aluna que estava bem aquém dos demais, na fase pré-silábica da escrita no início da pesquisa, progrediu para a fase silábica alfabética e, ao final da coleta de dados, oscilou com a fase alfabética da escrita. Constatamos, então, resultados significativos em relação ao desenvolvimento integral humano, como autonomia, comunicação, socialização e inclusão escolar efetiva. Na análise das entrevistas junto à professora da sala comum foi revelada que, no início, ela desconhecia as estratégias de Ensino Colaborativo; entretanto, aceitou abertamente trabalhar em parceria e buscou a compreensão e o entendimento das estratégias como algo efetivamente promissor para o ensino-aprendizagem de todos os alunos em sala de aula e, principalmente, para a inclusão da aluna PAEE. Ao final, foi identificada a satisfação da professora em trabalhar de modo colaborativo; ela enfatizou que foi uma experiência enriquecedora e que acredita no Ensino Colaborativo como estratégia assertiva para a inclusão e avanços pedagógicos dos alunos com ou sem deficiência no ambiente escolar. O produto educacional (caixa de jogos) desenvolvido a partir das observações e intervenções acerca das dificuldades apresentadas pela aluna com deficiência, em apoio às estratégias adotadas, auxiliou no processo de alfabetização de Língua Portuguesa e Matemática, oportunizando a construção dos conhecimentos da aluna, de modo lúdico e prazeroso, corroborando, assim, para os avanços em sua alfabetização e concomitantemente com as estratégias de Ensino Colaborativo, em prol da inclusão escolar. Palavras-chave: Ensino Colaborativo. Co-ensino. Deficiência Intelectual. Ensino fundamental.     COSTA, Luis Gustavo da Silva. Collaborative Teaching Strategies as a proposal for Specialized Educational Service - AEE. Advisor: Eliana Marques Zanata. 2021. 190f. Dissertation (Master's) – Universidade Estadual Paulista “Júlio Mesquita” – Faculty of Sciences, Bauru Campus – Graduate Program in Teaching for Basic Education. UNESP, Bauru, 2021. ABSTRACT This research aims to analyze an application and study Collaborative Education as a proposal for Specialized Educational Service - AEE, based on the theoretical contributions of the subject in question and the perceptions and conceptions of those involved. The research was developed in the early years of elementary school in a municipal public school, in a small municipality in the interior of the State of São Paulo, supported by a qualitative approach methodology, with a participatory research characteristic. Participated in the study a student with Intellectual Disability and Attention Deficit Hyperactivity Disorder, the 27 students in the classroom, the common room teacher and the specialist teacher of Special Education. Characterized as instruments of data collection: two interviews semi-structured with the teacher of common room, before and after the beginning of the intervention; field diary with the record of the practices elaborated and analyzed, and records of the development of the student Target Audience of Special Education - PAEE -, focus of the research. The results showed that the Collaborative Teaching strategies benefited not only the student, but also the other students in the class. These achieved great advances in literacy: the student who was well below the others, in the pre-syllabic phase of writing at the beginning of the research, progressed to the alphabetical syllabic phase and, at the end of the data collection, fluctuated with the alphabetic phase of writing . We found, then, a result in relation to integral human development, such as autonomy, communication, socialization and effective school inclusion. In the analysis of the interviews with the teacher of the common room, it was revealed that, at the beginning, she was unaware of the Collaborative Teaching strategies; however, she openly accepted to work in partnership and seek understanding of the strategies as something promising for the teaching-learning of all students in the classroom and, mainly, for the inclusion of the student PAEE. At the end, the teacher´s job satisfaction was identified in a collaborative way; she emphasized that it was an enriching experience and that she believes in Collaborative Teaching as an assertive strategy for the inclusion and pedagogical advances of students with or without disabilities in the school environment. The educational product (box of games) developed from the observations and interventions about the difficulties presented by the student with a disability, in support of the adopted strategies, helped in the process of literacy in Portuguese and Mathematics, allowing the construction of the student's knowledge, in a way playful and pleasurable, thus corroborating the advances in their literacy and concomitantly with the Collaborative Teaching strategies, in favor of school inclusion.   Keywords: Collaborative Teaching. Co-teaching. Intellectual Disability. Elementary School.         LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Infográfico com os marcos e bases legais da Educação Especial dos séculos XIX ao XXI .................................................................................................... 34 Figura 2 – Gráfico sobre artigos nacionais, por ano de publicação ........................... 40 Figura 3 – Elementos necessários para a colaboração ............................................. 54 Figura 4 – Dez fatores principais do Co-ensino ......................................................... 56 Figura 5 – Estágios de colaboração .......................................................................... 58 Figura 6 – Propostas de arranjos a partir do Co-ensino ............................................ 64 Figura 7 – Etapas processuais para implementação e efetivação do Ensino Colaborativo/inclusão ................................................................................................ 67 Figura 8 – Três pilares para a promoção da inclusão ............................................... 90 Figura 9 – Foto do Condomínio do comportamento .................................................. 95 Figura 10 – Foto do Calendário do comportamento .................................................. 97 Figura 11 – Fotos dos alunos no Cantinho da leitura ................................................ 98 Figura 12 – Fotos da elaboração e apresentação do trabalho ................................ 100 Figura 13 – Arranjos de organização da sala de aula ............................................. 101 Figura 14 – Tipos de avaliação ............................................................................... 103 Figura 15 – Calendário adaptado ............................................................................ 113 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Nomes das bases de dados utilizadas ................................................... 39 Quadro 2 – Ordem dos descritores/palavras-chave utilizadas nas buscas das bases de dados ................................................................................................................... 40 Quadro 3 – Produções encontradas na BDTD .......................................................... 41 Quadro 4 – Produções encontradas na CAPES e SciELO ....................................... 46 Quadro 5 – Descrição das habilidades dos professores ........................................... 54 Quadro 6 – Descrição e definição dos princípios básicos do trabalho colaborativo .. 55 Quadro 7 – Descrição e definição dos fatores para o sucesso do Co-ensino ........... 57 Quadro 8 – Breve revisão da literatura com base nos estudos de Lago (2014) ........ 61 Quadro 9 – Descrição do perfil dos alunos PAEE da escola local de pesquisa ........ 72 Quadro 10 – Descrição do perfil dos participantes .................................................... 73 Quadro 11 – Fotos dos jogos criados ........................................................................ 81 Quadro 12 – Características e objetivos do condomínio para aluna PAEE e alunos da sala ....................................................................................................................... 96 Quadro 13 – Imagens das ações e registros presentes no diário de campo ........... 108 Quadro 14 – Relatos de alguns desafios enfrentados ............................................. 111 Quadro 15 – Sondagem inicial e final da leitura e escrita ....................................... 114 Quadro 16 – Sondagem dos números .................................................................... 115 Quadro 17 – Avanços na organização, na escrita e nos cuidados com o caderno escolar ..................................................................................................................... 116 Quadro 18 – Sondagens do desenho ...................................................................... 117 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AEE Atendimento Educacional Especializado BDTD Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível superior CCS Construcionista, Contextualizada e Significativa CEP Comitê de Ética em Pesquisas CID Código Internacional de Doenças CF Constituição Federal CNE Conselho Nacional de Educação CNS Conselho Nacional de Saúde DDR Desmistificar para Disseminar e Ramificar ECA Estatuto da Criança e do Adolescente HTPC Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo IBC Instituto Benjamin Constant IDEB Índice de Desenvolvimento da Educação Básica INES Instituto Nacional da Educação de Surdos LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional OPQD Olhar para; Observar que; Ouvir de; PAEE Público-alvo da Educação Especial PEI Plano de Ensino Individualizado RRR Ressignificação, Reestruturação e Rastreamento SciELO Scientific Electronic Library Online SRM Sala de Recursos Multifuncionais UEMS Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul UFES Universidade Federal do Espírito Santo UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro UFSCar Universidade Federal de São Carlos UFSM Universidade Federal de Santa Maria UNESP Universidade Estadual Paulista TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TALE Termo de Assentimento Livre e Esclarecido SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 26 1 BREVE HISTÓRICO E BASES LEGAIS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL ................ 33 1.1 Síntese dos marcos históricos da Educação Especial ............................... 33 1.2 Atendimento Educacional Especializado – AEE ......................................... 35 2 O QUE DIZEM AS PESQUISAS SOBRE ENSINO COLABORATIVO ................. 39 3 AS PRÁTICAS DE ENSINO COLABORATIVO NO CONTEXTO DO ENSINO FUNDAMENTAL ....................................................................................................... 50 3.1 O Público-alvo da Educação Especial e o Co-ensino ................................. 59 3.2 As estratégias de Co-ensino para o AEE ..................................................... 60 4 MÉTODO ................................................................................................................ 70 4.1 Tipo de pesquisa ............................................................................................ 70 4.2 Local da pesquisa .......................................................................................... 71 4.3 Participantes ................................................................................................... 73 4.4 Procedimentos éticos .................................................................................... 74 4.5 Instrumentos e procedimentos para a coleta de dados ............................. 74 5 DELINEAMENTO DO PRODUTO ......................................................................... 76 5.1 Título do produto ........................................................................................... 76 5.2 Descrição do produto .................................................................................... 76 5.3 Diagnóstico do local ...................................................................................... 77 5.4 Contexto de ensino e Público-alvo ............................................................... 77 5.5 Possibilidades de alteração do contexto ..................................................... 78 5.6 Objetivos do produto ..................................................................................... 79 5.6.1 Objetivo geral ............................................................................................. 79 5.6.2 Objetivos específicos ................................................................................. 79 5.7 Desenvolvimento do produto ........................................................................ 79 6 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ..................................... 84 6.1 Processo colaborativo ................................................................................... 84 6.1.1 Entrevista com a professora da sala comum ............................................. 84 6.1.2 Inclusão da aluna PAEE nas atividades e organização do trabalho colaborativo ........................................................................................................ 88 6.1.3 Registros presentes no diário de campo .................................................. 106 6.2 Desempenho da aluna PAEE ...................................................................... 112 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 120 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 127 ANEXO A – Comprovante de envio do projeto ao Comitê de Ética ................. 142 ANEXO B – Parecer do Comitê de Ética .............................................................. 143 ANEXO C – Ata do Exame Geral de Qualificação ............................................... 146 APÊNDICE A – Carta de pedido de autorização para aplicação de pesquisa em unidade escolar .................................................................................................... 147 APÊNDICE B – Termo de Consentimento e Autorização de Pesquisa ............. 149 APÊNDICE C – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido .......................... 150 APÊNDICE D – Termo de Assentimento Livre e Esclarecido ............................ 152 APÊNDICE E – Termo de Consentimento para a professora de sala comum .. 155 APÊNDICE F – Questionário de identificação pessoal e profissional .............. 157 APÊNDICE G – Roteiro de entrevista semiestruturada inicial ........................... 159 APÊNDICE H – Roteiro de entrevista semiestruturada final .............................. 165 APÊNDICE I – Ficha de avaliação inicial e final .................................................. 169 APÊNDICE J – Fragmento do diário de campo dos componentes de ensino . 171 APÊNDICE K – Modelo de relatório das observações e avaliações iniciais .... 176 APÊNDICE L – Modelo da ficha das planilhas diárias de acompanhamento das práticas docentes com os alunos PAEE ............................................................. 177 APÊNDICE M – Organizações da sala de aula .................................................... 178 APÊNDICE N – Realizações de atividades com materiais concretos ............... 180 APÊNDICE O – Condomínio do comportamento, calendário adaptado junto ao cantinho da leitura ................................................................................................ 180 APÊNDICE P – Calendário adaptado ................................................................... 181 APÊNDICE Q – Elaboração do trabalho e apresentação nas salas de aula da escola sobre o Ensino Colaborativo e como estava aprendendo/aplicação dos jogos ....................................................................................................................... 182 APÊNDICE R – Participação ativa nas atividades, na socialização, na interação e na autonomia ...................................................................................................... 184 APÊNDICE S – Fotos de atividades na qual é possível constatar os avanços na escrita ..................................................................................................................... 185 APÊNDICE T – Fotos de algumas atividades com a Turma da Mônica, paixão da aluna PAEE ............................................................................................................ 186 APÊNDICE U – Fotos coladas no caderno da aluna PAEE sobre o projeto desenvolvido por meio da pesquisa de Mestrado na qual o professor especialista de Educação Especial participou do Prêmio Educador do Ano no município e foi premiado em 2° lugar como melhor educador do ano em Educação Especial ................................................................................................ 188 26 INTRODUÇÃO A educação tem a incumbência de atender as demandas de todos os alunos, sem exceção, visando implantar diversos meios e estratégias de ensino para que a aprendizagem seja igualitária, equitativa e significativa no ambiente escolar. Quando falamos de uma educação para todos, promovemos um diálogo aberto sobre inclusão escolar, tema ainda latente no século XXI, em especial quando se trata de alunos com deficiências matriculados nas escolas regulares, algo que está crescendo atualmente. Não é de hoje que as discussões acerca da Inclusão Escolar/Educação Especial e dos direitos das pessoas com Deficiência vêm sendo tratadas, assunto delicado e necessário, ainda debatido por muitos. As lutas pelos direitos das pessoas com deficiência tiveram início no século XIX, com a criação de instituições para pessoas com deficiência. No ano de 1854 surgiu a instituição imperial Instituto dos Meninos Cegos, atual Instituto Benjamin Constant – IBC; em 1857, o Instituto dos Surdos Mudos, hoje denominado Instituto Nacional da Educação de Surdos – INES (JANUZZI, 2006); nessa mesma perspectiva de atendimento às pessoas com deficiência, em 1926, surgiu o Instituto Pestalozzi, especializado no atendimento às pessoas com deficiência mental; somente em 1945 foi criado, por Helena Antipoff, o primeiro Atendimento Educacional Especializado – AEE. No decorrer dos anos seguintes, foram surgindo novos debates e lutas pela Inclusão, pelos direitos das pessoas com deficiência, como a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 – CF/1988 – que, em seu artigo 3º, inciso IV, reconhece as crianças e os adolescentes como cidadãos de direitos, com o objetivo de “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (BRASIL, 1988). Define ainda, no artigo 205, a educação como um direito de todos, e no artigo 206, inciso I, estabelece a “igualdade de condições de acesso e permanência na escola” garantindo no artigo 208, como dever do Estado, a oferta do atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino” para os alunos PAEE (BRASIL, 1988).2   2 Durante toda pesquisa utilizaremos o termo Público-alvo da Educação Especial – PAEE, como referência aos alunos com deficiência, dentre as quais, especialmente uma aluna com Deficiência Intelectual – DI – e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade – TDAH. 27 Os grandes avanços nas leis, nos direitos3 e na educação de pessoas com deficiência começaram a partir do ano de 1990, iniciado com a Conferência Jomtien na Tailândia. Nela foi estabelecido um plano de ação para satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem, sendo aprovado pela Declaração Mundial sobre Educação para Todos que fixou a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Em seu artigo 54, é prescrito que o dever do Estado é assegurar à criança e ao adolescente o atendimento educacional especializado, incluindo a deficiência, e isto preferencialmente na rede regular de ensino. No ano de 1994, a Declaração de Salamanca, marco histórico crucial para a Educação Especial e Inclusiva, estabeleceu o direito da Educação para Todos, (crianças, jovens e adultos com deficiências dentro do sistema regular de ensino), impondo políticas legais, práticas e princípios na área da Educação Especial. Desse modo, a Educação Especial sofreu reestruturações e, por meio dos serviços prestados às sociedades, promoveu a visibilidade socioeducacional para pessoas com deficiência, escolas, professores e locais públicos e privados, promovendo mudanças, desde o acolhimento às reestruturações arquitetônicas. O processo de inclusão não diz respeito somente à matrícula de crianças com deficiências nas escolas, mas reflete no acolhimento de todas as crianças em idade escolar, incluindo os alunos PAEE. Exige-se, assim, reestruturações arquitetônicas, profissionais qualificados, atendimento educacional especializado e recursos apropriados. Segundo Glat e Blanco (2009, p. 33): [...] o sucesso da Política de Educação Inclusiva depende da continuidade da existência dessa rede de suportes especializados, incluindo a formação inicial e continuada de professores especialistas nos diferentes tipos de necessidades especiais e níveis de ensino. Dessa forma, adaptações são necessárias na busca por tornar o ambiente escolar inclusivo, oportunizando a construção do conhecimento de maneira   3 Rabelo (2012, p.22) cita bases legais que asseguram os direitos das pessoas com deficiência: Constituição Federal do Brasil, 1988; Estatuto da Criança e do Adolescente, 1990; Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 9.394/96; Lei Nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000; Decreto nº 3.956/2001; Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, 2001; Plano Nacional de Educação, 2001; Resolução CNE/CP nº 1/2002, Lei nº 10.436/02; Decreto Nº 5.296 de 2 de Dezembro de 2004; Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, 2008; Decreto Nº 6.571, de 17 de setembro de 2008; Decreto Nº 6.949, de 25 de agosto de 2009; Resolução Nº 4, de 2 de outubro de 2009. 28 significativa aos alunos PAEE, para efetivar uma educação de qualidade, igualitária e equânime. Diante dos desafios históricos pela garantia de direitos, em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDBEN 9394/96, adotou o princípio da educação inclusiva, oportunizando a todos os alunos com deficiência a matrícula na rede regular de ensino. Nela, a Educação Especial é definida como modalidade de ensino que se efetiva por meio do oferecimento de Atendimento Educacional Especializado – AEE. Em 1999, ocorreu a Convenção da Guatemala, tendo o Brasil como signatário, visando à eliminação de todas as formas de discriminação contra pessoas com deficiência, e a integração delas na sociedade. Nesse mesmo ano, é aprovada no Brasil a Política Nacional para Integração da Pessoa com Deficiência, que definiu a Educação Especial como uma modalidade transversal a todos os níveis e seguimentos de ensino, enfatizando, assim, a atuação complementar da Educação Especial no ensino regular. Da década de 2000 até os dias atuais, as políticas têm se centrado no atendimento educacional e no acolhimento social das pessoas com deficiência, propostos por meio de decretos, leis e diretrizes curriculares, especificamente no que concerne à Educação Especial, sendo este um caminhar que parte da integração em busca da inclusão das pessoas com deficiência. Esse percurso está embasado na oferta e promoção de acessibilidade, organização dos sistemas de ensino, eliminação de todas as formas de discriminação, formação de professores, entre outras ações e políticas inclusivas. De acordo com a Lei n° 10.098, de dezembro de 2000, LDBEN 9.394/96, as escolas têm o dever de oportunizar um ensino de qualidade, estruturas arquitetônicas acessíveis, profissionais qualificados, AEE complementar ou suplementar e Sala de Recursos Multifuncionais, frequentemente em desuso, segundo professores e responsáveis pelas escolas. Considerando as primeiras ações em busca de se construir um espaço inclusivo, Sassaki (2003) expressou que a inclusão escolar só se efetiva na adequação do sistema educacional, ofertando acesso a toda diversidade de alunos, no acolhimento e preparo de cada um deles, oportunizando, assim, um ensino de qualidade, por meio das respostas relacionadas às capacidades, 29 potencialidades, habilidades e necessidades específicas de cada aluno. Em sua afirmativa, As escolas passam a serem chamadas inclusivas no momento em que decidem aprender com os alunos o que deve ser eliminado, modificado, substituído ou acrescentado nas seis áreas de acessibilidade (arquitetônica, atitudinal, comunicacional, metodológica, instrumental, programática) a fim de que cada aluno possa aprender pelo seu estilo de aprendizagem e com o uso de todas as suas múltiplas inteligências (SASSAKI, 2003, p.15). Além do mais, os professores têm incessantemente buscado formações relacionadas às práticas de inclusão, ações e estratégias pedagógicas que possam viabilizar o trabalho docente e promover, de fato, a inclusão, dentro das condições que cada escola oferece e respeitando a particularidade dos alunos (MACHADO; ALMEIDA, 2014). Ainda assim, eles enfrentam desafios e inseguranças profissionais nessa área de atuação, mesmo após as formações continuadas (CAPELLINI; MENDES, 2004). A presente pesquisa busca uma didática válida e executável, levantando discussões teóricas e práticas sobre o trabalho docente do professor especialista de Educação Especial juntamente com a professora de sala comum. Realizamos nosso estudo em um município de pequeno porte do interior de São Paulo, destacando o modelo de trabalho colaborativo com alunos PAEE. Dentre os sujeitos pesquisados, focamos especificamente em uma aluna com Deficiência Intelectual e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade – TDAH4 –, matriculada nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Desdobramos, então, um trabalho colaborativo que visa não somente o desenvolvimento dos alunos PAEE, mas também de todos (LAGO, 2009), com intervenções pontuais dos professores – um deles especialista de Educação Especial, e outro professor de sala comum – , em busca de estratégias, troca de saberes e compartilhamento de ideias e funções (ARAÚJO; ALMEIDA, 2014).   4 TDAH é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Em geral, o TDAH começa na infância e pode persistir na vida adulta. Pode contribuir para a baixa autoestima, relacionamentos problemáticos e dificuldades de adaptação na escola e/ou no trabalho. Os sintomas incluem falta de atenção e hiperatividade; quanto ao comportamento, agressão, excitabilidade, hiperatividade, impulsividade, inquietação, irritabilidade ou falta de moderação. Na cognição: dificuldade de concentração, esquecimento ou falta de atenção; no que diz respeito ao humor, ansiedade, excitação ou raiva. Também é comum sintomas como depressão ou dificuldade de aprendizagem (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO DÉFICIT DE ATENÇÃO, [201-]; KANOMATA; COSTA, 2016). 30 O Ensino Colaborativo é um modelo de trabalho que vem sendo proposto/apresentado e implantado em poucos sistemas educacionais no Brasil e não se caracteriza como método, mas como uma estratégia promissora ao processo de inclusão escolar dos alunos PAEE (CAPELLINI, 2004; MENDES, VILARONGA, ZANATA, 2004; MENDES, 2006, 2007; FONTES, 2009; ALMEIDA; MACHADO, 2010; ALMEIDA, TOYODA, 2011; CAPELLINI; MENDES, RABELO, 2012; ZERBATO, 2014). Por ser uma estratégia de trabalho docente que prioriza a colaboração, quanto às parcerias entre os agentes educacionais, assim como o envolvimento e o engajamento de todos no ambiente escolar, o Ensino Colaborativo busca promover a inclusão, o acesso, a permanência e a construção do conhecimento em um processo de ensino-aprendizado significativo para os alunos PAEE. O Co-ensino, em suas características pontuais, configura-se como um trabalho de bidocência, numa parceria entre professor especialista de Educação Especial e professor de sala comum, ambos dividindo e compartilhando suas responsabilidades dentro da sala de aula, trabalhando em parceria com planejamentos, execuções didáticas e enfrentamento dos desafios e entraves do processo educacional em colaboração, além do foco na promoção da inclusão dos alunos PAEE (WOOD, 1998). Desse modo, nossa aproximação com o tema a partir da experiência vivida como professor especialista de Educação Especial, suscitaram algumas questões que serviram para orientar a investigação: como as estratégias de Ensino Colaborativo e o uso de jogos podem contribuir para o avanço da aluna PAEE e efetivar sua inclusão escolar? Para nos aproximar da reflexão crítica do problema de pesquisa, buscamos compreender a importância da temática em estudo e a partir de contexto de atuação. No intuito de uma observação envolvendo “atenção e presença” e o registro para análises e coleta de dados (FREIRE, 1996), achamos necessário articular e incentivar nossa “curiosidade” para, assim, gerar as inquietações sobre a temática. Justificamos essa proposta: a maior parte dos professores de sala comum e especialistas da Educação Especial não conhecem o Ensino Colaborativo; e os programas de formação continuada que fazem essa abordagem ainda são escassos. Consequentemente, os professores não têm acesso a essa modalidade, desconhecendo, então, suas possibilidades e resultados positivos, 31 tanto para os alunos PAEE quanto para os demais alunos da sala de aula. Destarte, queremos que os resultados de nosso estudo contribuam com essa prática colaborativa. Além do mais, a partir da reflexão, avaliação, compreensão e implementação das relações teóricas e práticas envolvidas no Ensino Colaborativo, objetivamos apontar dados que comprovem essas estratégias como instrumentos capazes de contribuir e ampliar o repertório dos professores, atender as necessidades individuais e coletivas dos alunos e dos profissionais de educação, aprimorando, assim, as práticas docentes desses últimos. A presente pesquisa tem como objetivo geral analisar a aplicação e o estudo das estratégias de Ensino Colaborativo e jogos como uma proposta de AEE com foco na alfabetização inicial de Língua Portuguesa e Matemática da aluna PAEE. Quanto aos objetivos específicos, citamos: a) a implementação de estratégias de Ensino Colaborativo; b) analisar como se desenvolvem as práticas de uma professora de sala comum e do pesquisador em ações de Ensino Colaborativo; c) a criação e aplicação dos jogos (produto educacional criado com a síntese de intervenções). Deste modo, a proposta é auxiliar e avaliar o desenvolvimento da aluna PAEE em seu processo de alfabetização inicial, e isto a partir da aplicação dos jogos e das estratégias de Ensino Colaborativo a serem adotadas. A pesquisa está estruturada em seis capítulos. No primeiro capítulo faremos uma breve revisão dos marcos históricos e bases legais da Educação Especial entre os séculos XIX e XXI, e do Atendimento Educacional Especializado. Propomos, assim, uma abordagem menos romantizada e mais atitudinal, a fim de fixar as raízes dos direitos das pessoas com deficiência, apresentando a trajetória árdua encontrada nos documentos oficiais legais sistematizados em um infográfico, fase que as pessoas com deficiência ainda vivenciam, e uma breve discussão e apresentação dos AEE existentes nos dias atuais. Sabemos, no entanto, que a Educação Especial ainda é um assunto invisibilizado, pouco discutido em diversas esferas. O processo de inclusão e sua efetivação não dependem somente dos decretos e leis, mas também da forma direta da sociedade como um todo, desde as esferas políticas governamentais até os sistemas educacionais, englobando toda a comunidade escolar, diretores, professores, funcionários e famílias (RABELO, 2012). 32 No segundo capítulo, por sua vez, iremos propor uma abordagem teórica com relação às pesquisas dos últimos cinco anos sobre Ensino Colaborativo. Buscaremos aqui certas bases de dados de conhecimento da população acadêmica, para trilharmos alguns caminhos e discussões teóricas acerca da temática desta pesquisa. Já no terceiro capítulo, mencionaremos e registraremos as práticas de Ensino Colaborativo no contexto do Ensino Fundamental, baseando-se em pesquisas que abordam essas práticas de ensino, validando-as. No quarto capítulo, descreveremos os métodos utilizados na pesquisa como a caracterização dos participantes, os procedimentos de apresentação e discussão dos resultados, o local de pesquisa, o delineamento da própria pesquisa, os instrumentos de coleta de dados, assim como as etapas e as práticas executadas. No quinto capítulo, apresentaremos o delineamento do produto educacional, o diagnóstico local, o contexto de ensino e o Público-alvo, as propostas de alteração do contexto de pesquisa, os objetivos e as metodologias do produto, a descrição teórica e a prática do produto educacional criado e validado durante a realização da pesquisa. No sexto capítulo, avaliaremos os resultados obtidos por meio do estudo acerca da base teórica utilizada na composição da dissertação, em conexão com a ação participante do pesquisador/professor especialista de Educação Especial ao trabalhar voluntariamente junto à professora de sala comum, fazendo uso da estratégia de Ensino Colaborativo na promoção da inclusão e na alfabetização de Língua Portuguesa e Matemática da aluna com Deficiência Intelectual e Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, assim como no processo de ensino- aprendizagem de maneira efetiva e significativa, promovendo igualdade/equidade e compatibilidade de oportunidades. Revelam-se, nos resultados obtidos, os avanços significativos da aluna PAEE no processo de ensino-aprendizagem na alfabetização de Língua Portuguesa e Matemática. Por fim, nas considerações finais ofereceremos descrições claras e objetivas a partir dos resultados encontrados durante o estudo, possibilitando uma visão ampla e assertiva da estratégia de Ensino Colaborativo, inteiramente nova em nosso país e auspiciosa para a efetivação do processo de inclusão dos alunos PAEE na rede regular de ensino. 33 1 BREVE HISTÓRICO E BASES LEGAIS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL 1.1 Síntese dos marcos históricos da Educação Especial Faremos nesse capítulo um levantamento sobre a trajetória dos marcos históricos e bases legais da Educação Especial. Alguns deles já foram citados na introdução do trabalho, mas agora serão descritos e virão acompanhados de mais informações. Por meio da Figura 15 visualizamos os avanços e as conquistas em prol dos direitos das pessoas com deficiências, destacando-se a inclusão.   5 Infográfico com os marcos e bases legais da Educação Especial dos séculos XIX ao XXI. Fonte: Elaborado pelo autor com base nas legislações e documentos oficiais (2020). 34                                     35 A partir dos marcos históricos e bases legais da Educação Especial, provenientes de um contexto repleto de debates e lutas pelos direitos das pessoas com deficiências, é que foi possível alcançar o que vivenciamos atualmente, mas que ainda precisa ser muito discutido e aperfeiçoado, algo que requer entendimento dos conceitos e leis que abarcam a Educação Especial e Inclusiva (MENDES, 2010). 1.2 Atendimento Educacional Especializado – AEE O Atendimento Educacional Especializado no Brasil teve início no século XIX. Nesse período, as instituições privadas assistiam as pessoas com deficiências de modo segregado ou exclusivista por meio dos atendimentos clínicos. A partir dos avanços do contexto social e político da Educação Especial é que surge o primeiro AEE. Isso ocorre no ano de 1945 com a Sociedade Pestalozzi, criada por Helena Antipoff, com AEE para pessoas superdotadas. Ao longo dos séculos surgiram novas nomenclaturas para as pessoas com deficiências, novos modelos de atendimentos e entendimentos sobre a Educação Especial e Inclusiva. No ano de 1996, estabeleceram-se as Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN, Lei nº 9.394/96, na qual em seu capítulo V, artigo 58, reconhece a Educação Especial como modalidade de ensino. Em 2013 e 2018 a LDBEN passou por revisões e atualizações. De acordo com a Lei nº 9.394/96, Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial; 2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular; 3º A oferta de educação especial, nos termos do caput deste artigo, tem início na educação infantil e estende-se ao longo da vida, observados o inciso III do art. 4º e o parágrafo único do art. 60 desta Lei (BRASIL, 1996). 36 Segundo a LDBEN, notemos que o AEE passa a ocorrer nas unidades regulares de ensino, enquanto que nas instituições ou clínicas privadas apenas quando necessário, ou seja, a partir das necessidades específicas dos alunos PAEE. A Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988) assegura o direito à educação das pessoas com deficiências em classes comuns perante o AEE complementar ou suplementar, realizado na Sala de Recursos Multifuncionais. Todavia, na época ainda existiam os centros de atendimentos especializados. Em 2007, o AEE ganha destaque no Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE – que, em um de seus eixos, preconiza a implantação das salas de recursos multifuncionais. Seguindo essa linha, em 2009, o Conselho Nacional de Educação – CNE, publica a Resolução CNE/CEB de 04/2009, que institui as Diretrizes Operacionais para o AEE na Educação Básica, fazendo determinações sobre o PAEE, e reafirmando o atendimento de forma suplementar ou complementar com a institucionalização no projeto político pedagógico da escola. Vimos até aqui marcos referenciais sobre o AEE. Agora passaremos a compreender e a conhecer os modelos de AEE existentes no Brasil, preconizados nas leis. Primeiramente, temos o AEE, atendimento oferecido na rede regular de ensino aos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. Segundo palavras de Kassar e Rebelo (2011), com a publicação do CENESP/BRASIL, de 1986, O atendimento educacional especializado é apresentado como meio pelo qual o aluno com deficiência possa atingir o pleno desenvolvimento de suas potencialidades e assim seja integrado. Esse atendimento é necessário para que se atinjam os objetivos propostos e sua ausência impossibilitaria alcançá-los. Reconhece-se, portanto, que os alunos considerados deficientes devam receber um atendimento educacional que seja diferenciado (KASSAR; REBELO, 2011, p.7). Neste sentido, as autoras apresentam características do AEE com base em documentos legais, 37 [...] “o atendimento educacional especializado consiste na utilização de métodos, técnicas, recursos e procedimentos didáticos desenvolvidos nas diferentes modalidades de atendimento por pessoal devidamente qualificado” (BRASIL, 1986, art. 6°, grifo nosso). De acordo com o documento, constituem-se modalidades de atendimento educacional: a classe comum (com apoio pedagógico especializado), classe comum com apoio de sala de recursos, classe comum com apoio de professor itinerante, classe especial, escola especial, centro de educação precoce, serviço de atendimento psicopedagógico, oficina pedagógica e escola empresa (BRASIL, 1986, art. 7°). Ainda, o atendimento educacional especializado deve organizar-se de forma integrada a ações médico- psicossociais e assistenciais “visando um atendimento global e diferenciado” (BRASIL, 1986, art. 8°), como já disposto na Portaria 186/78 (BRASIL, 1978, art. 23, I) (KASSAR; REBELO, 2011 p. 7). Deste modo, com a LDBEN 9.394/96, o parecer CNE/CEB n. 17/2001, e outros documentos acerca da Educação Especial, compreendem que a AEE possibilita aos alunos PAEE acesso igualitário à educação de qualidade, acessibilidade, recursos pedagógicos adaptados, supervisão e orientação de um professor especialista de Educação Especial, além do professor de sala comum, que deve atendê-los de acordo com suas especificidades, visando à inclusão, a quebra de barreiras. Não é um atendimento de reforço escolar, mas sim um atendimento que possibilite aos alunos o acesso ao conhecimento, contribuindo para que esse conhecimento aconteça por meio de recursos pedagógicos que auxiliem os alunos dentro de seus limites, capacidades e características individuais. Por exemplo, a acessibilidade às tecnologias, a tecnologia assistiva, materiais adaptados, braile, ensino de LIBRAS, comunicação alternativa etc. (SEESP/MEC, 2008). Quanto à Sala de Recursos Multifuncionais – SRM, salas existentes dentro das escolas de rede regular de ensino, nas quais se realizam os AEE, temos: Art. 5º O AEE é realizado, prioritariamente, na Sala de Recursos Multifuncionais da própria escola ou em outra escola de ensino regular, no turno inverso da escolarização, não sendo substitutivo às classes comuns, podendo ser realizado, também, em centro de Atendimento Educacional Especializado da rede pública ou de instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas com a Secretaria de Educação ou órgão equivalente dos Estados, Distrito Federal ou dos Municípios (BRASIL, 2009 apud. KASSAR; REBELO, 2011 p.13). 38 De acordo com este documento, o AEE deve ocorrer prioritariamente na Sala de Recursos Multifuncionais, que possui, além dos recursos pedagógicos adaptados, estrutura acessível, mobiliários, equipamentos etc.; todos com acessibilidade. Os professores que realizam o AEE na SRM são profissionais qualificados, formados em pedagogia com habilitação em Educação Especial e Inclusiva. Caso não tenham habilitação em pedagogia, cursaram a pós-graduação em Educação Especial e Inclusiva, habilitando-os no uso da SRM. Os encontros da AEE acontecem no período do contraturno escolar. Pra além do AEE e SRM, serviços de apoio aqui apresentados, na atualidade surgiram novas estratégias de ensino, consideradas como AEE, ou serviços de apoio especializado em muitas discussões acadêmicas e práticas docentes, no contexto escolar. Nesse sentido, apresentamos em nossa pesquisa a estratégia de Ensino Colaborativo, recentemente reconhecida por estudiosos como estratégia de ensino promotora da inclusão e da efetividade da escolarização dos alunos PAEE no Brasil. No capítulo seguinte apresentaremos estudos baseados nas práticas, conhecimentos, discussões e reflexões sobre a temática em estudo. Assim, abordaremos o que as pesquisas apresentam como contribuições e práticas norteadoras sobre Ensino Colaborativo, a partir do levantamento do estudo da arte realizado em importantes bases de dados utilizadas no meio acadêmico. 39 2 O QUE DIZEM AS PESQUISAS SOBRE ENSINO COLABORATIVO Realizaremos aqui um levantamento do estado da arte em produções científicas acerca da temática escolhida em nossa pesquisa, e isso por meio de bases de dados voltadas para a divulgação do conhecimento científico. Limitamos nossa busca nas produções dos últimos cinco anos, a partir de dois descritores – Deficiência Intelectual e Ensino Fundamental –, e de duas palavras-chave – Ensino Colaborativo e Co-ensino. As bases de dados utilizadas estão descritas no Quadro 1: Quadro 1 – Nomes das bases de dados utilizadas Sigla Significado BDTD Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações CAPES Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior SciELO Scientific Electronic Library Online Fonte: Elaborado pelo Autor (2020). Escolhidas as bases de dados descritas no Quadro 1, as buscas foram realizadas de maneira metódica e efetiva, seguindo as afirmativas de Berwanger, Suzumura, Buehler e Oliveira (2007), de que toda revisão de literatura deve ser feita sistematicamente de maneira que identifique diversos estudos relevantes publicados sobre o tema escolhido, sendo de qualidade metodológica. Para que isso aconteça, é necessária a busca em diferentes bases de dados. A pesquisa foi realizada a partir dos seguintes descritores e palavras-chave: Deficiência Intelectual x Ensino Fundamental x Ensino Colaborativo x Co-ensino. Consideramos apenas artigos, teses e dissertações que continham características pontuais da temática em estudo, caracterizados como pesquisas. Foram excluídos os estudos de resenhas, livros e ensaios teóricos, visando uma busca efetiva em nossa pesquisa. Na realização de buscas avançadas na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações – BDTD, utilizamos os descritores e as palavras-chave representados no Quadro 2. 40 Quadro 2 – Ordem dos descritores/palavras-chave utilizadas nas buscas das bases de dados 1 Ensino Colaborativo x Ensino Fundamental x Deficiência Intelectual x Co-ensino 2 Co-ensino x Ensino Colaborativo x Deficiência Intelectual 3 Ensino Colaborativo x Ensino Fundamental x Deficiência Intelectual 4 Co-ensino x Deficiência Intelectual x Ensino Fundamental Fonte: Elaborado pelo Autor (2020). Nessa base de dados foram encontrados 18 trabalhos, dentre os quais, considerando seus títulos e resumos, apenas nove foram selecionados para leituras e revisões, pois estavam de acordo com a temática em estudo. Na base de dados SciELO não obtivemos registros de trabalhos nos cinco últimos anos, sendo que a busca foi realizada com os mesmos descritores e palavras-chave do Quadro 2. Frente à negativa de resultados, foi realizada uma nova busca com Co-ensino x Deficiência Intelectual, sendo que nenhum registro foi encontrado. Quanto à busca Ensino Colaborativo x Deficiência Intelectual, descobrimos apenas um trabalho relacionada à temática. Quanto aos descritores Deficiência Intelectual x Ensino Fundamental, conseguimos nove artigos que versam sobre a inclusão e a Deficiência Intelectual, mas nenhum deles discorria sobre a temática de nosso estudo. No Portal de Periódicos CAPES utilizamos os mesmos descritores e palavras-chave empregados na base de dados SciELO, resultando em 135 trabalhos acadêmicos e, dentre eles, somente seis tratavam sobre a temática em estudo. Na sequência, a Figura 2 demonstra a quantidade de publicações encontradas, e seus respectivos anos, selecionados das três bases de dados: Figura 2 – Gráfico sobre artigos nacionais, por ano de publicação Fonte: Elaborado pelo Autor (2020). 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 2015 2016 2017 2018 2019 CAPES SciELO BDTD 41 Os trabalhos selecionados são caracterizados como pesquisas – artigos, teses e dissertações –, e estão ligados à Educação Especial e Inclusiva, podendo colaborar diretamente com nosso tema de estudo, a saber, as estratégias de Ensino colaborativo no processo de alfabetização da aluna PAEE com Deficiência Intelectual e Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, conforme descrito nos Quadros 3 e 4. O Quadro 3 apresenta em ordem cronológica as pesquisas encontradas na base de dados Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações – BDTD, organizadas do seguinte modo: título, ano, autor(a), instituição e categoria. Quadro 3 – Produções encontradas na BDTD Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações – BDTD Título Ano Autor(a) Instituição Categoria Prática Pedagógica aos educandos com Deficiência Intelectual numa escola de Ensino Fundamental com alto IDEB 2015 PORTA, Wilma Carin Silva  UFSCar Dissertação Calcanhar de Aquiles: a avaliação do aluno com Deficiência Intelectual no contexto escolar 2015 AGUIAR, Ana Marta Bianchi   UFES Tese Deficiência Intelectual e ensino- aprendizagem: aproximação entre ensino comum e Salas de Recursos Multifuncionais 2016 MOSCARDINI, Saulo Fantato  UNESP Tese Ensino Colaborativo e desenvolvimento da abordagem construcionista contextualizada e significativa na perspectiva da inclusão. 2016 ROCHA, Naiara Chierici UNESP Dissertação Ensino Colaborativo na educação infantil para favorecer o desenvolvimento da criança com Deficiência Intelectual 2016 MENDES, Melina Thais da Silva UFSCar Dissertação Trabalho Docente na inclusão escolar de alunos com diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista/Deficiência Intelectual e Síndrome de Edwards 2017 VALLADÃO, Helen Malta UFES Dissertação O trabalho Docente articulado como concepção teórico-prática para Educação Especial 2018 HONNEF, Cláucia UFSM Tese Gestão Escolar, docência e tecnologia digital: trabalho colaborativo para o ensino de alunos com Deficiência Intelectual 2019 NEGRIM, Márcia Regina Corrêa UNESP Dissertação Concepção do professor do ensino regular sobre a inclusão de alunos com Deficiência Intelectual 2019 NUNES, Vera Lucia Mendonça UNESP Dissertação Fonte: Elaborado pelo Autor (2020).  42 Porta (2015) analisou as práticas pedagógicas inclusivas de professores atuantes nos anos iniciais do Ensino Fundamental, em conexão com as potencialidades e as práticas docentes executadas pelos professores. Tais práticas têm o foco nos alunos PAEE com Deficiência Intelectual no cotidiano escolar, no qual constatou a complexidade do processo de inclusão escolar desses alunos e, principalmente, do processo de ensino-aprendizagem dos alunos com Deficiência Intelectual. Apontou que a escola enfrenta desafios quanto ao atendimento de forma correta e adequada às necessidades dos alunos PAEE. Mesmo sendo uma escola com alto Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB, o processo de inclusão demonstrou ser falho, apresentou lacunas atitudinais, pedagógicas e na formação dos profissionais. Ainda se fazia presente o trabalho docente tradicional, isto é, o professor como detentor do conhecimento, enquanto os alunos como passivos, mero receptores da informação. Deste modo, as necessidades dos alunos com Deficiência Intelectual não foram atendidas. A pesquisadora ainda apontou os anseios e as dificuldades dos professores, que expressaram sentir falta de formação continuada no ambiente escolar, de práticas pedagógicas para atuação com alunos PAEE e da falta de parceria entre professor especialista de Educação Especial e professor de sala comum. Aguiar (2015), por sua vez, refletiu sobre as práticas de avaliação presentes no contexto escolar com professores que atuam no Ensino Fundamental e professores especialistas da Sala de Recursos Multifuncionais, discorrendo sobre os problemas enfrentados não apenas pelos alunos com Deficiência Intelectual, mas também pelos alunos sem deficiência. Para isso, pautou-se nas teorias de Levi Vygotsky, que contribuiu para o processo de escolarização e de mudanças no ambiente escolar envolvendo todos os sujeitos. A pesquisadora revelou existir uma necessidade de discussões e práticas de formação continuada junto aos profissionais da educação quanto à avaliação educacional. Assim, os professores apresentam dificuldades e obstáculos no atendimento dos alunos com Deficiência Intelectual, dificultando a avaliação, o planejamento e a verificação de rendimentos dos alunos PAEE. Aguiar (2015) também mostrou haver uma forte valorização do laudo clínico, um processo de avaliação classificatório e um modelo de professor como detentor do conhecimento, conformado ao ensino tradicional. Desse modo, o processo de avaliação realizado pelos professores não teria conexão satisfatória 43 com os pensamentos e os modos de intervenção adequados com os alunos. Sem dúvida alguma, tais obstáculos, dificuldades e lacunas impedirão a construção de uma aprendizagem significativa pelos alunos. Observamos que o trabalho de colaboração adotado na pesquisa citada possibilitou articular ações entre os profissionais da escola interessados na promoção da inclusão e o direito do aluno com Deficiência Intelectual em aprender no interior da rede regular de ensino. Moscardini (2016) propôs uma análise sobre como são e como estão estruturadas as práticas pedagógicas dos professores de sala comum e das professoras especialistas de Sala de Recursos Multifuncionais que, em seu quadro de alunos, possuem em sala de aula alunos com Deficiência Intelectual. Averiguou as causas existentes no ambiente escolar que ocasionam o distanciamento entre esses profissionais, impedindo e dificultando o trabalho colaborativo. Sua pesquisa apontou que as práticas docentes se pautam em conteúdos acadêmicos, mas que tomam certos rumos diferentes: o professor de AEE, por exemplo, assume total responsabilidade pelo processo de ensino dos alunos PAEE, atendendo-os com práticas pedagógicas de reforço escolar para desenvolver as habilidades dos alunos no contexto do ensino de uma sala regular; por outro lado, os professores de sala comum não assumem a responsabilidade de ensino para com os alunos PAEE, deixando de auxiliar os alunos no pertencimento ao ambiente escolar, limitando o processo de construção de conhecimento entre os alunos. A conclusão do trabalho mostra que o que está prescrito nos documentos legais difere totalmente da prática, desde o modo de organização das escolas e das formas de ensino em promover a inclusão, até a inexistência de um trabalho colaborativo que vise à parceria entre professores de sala comum e especialistas das salas de recursos multifuncionais. Certamente, isso tudo inviabiliza o processo de inclusão escolar e o processo de ensino- aprendizagem dos alunos com Deficiência Intelectual. Rocha (2016) realizou uma abordagem construcionista, contextualizada e significativa – CCS, com foco na análise e articulação do professor de Matemática com o professor especialista de Educação Especial, na implantação da estratégia de Ensino Colaborativo em apoio à inclusão escolar. A partir da análise das articulações de trabalho entre os professores, do planejamento das atividades, da interação e participação dos alunos e da implantação do Ensino Colaborativo, o pesquisador identificou os deságios surgidos no decorrer do trabalho docente 44 colaborativo no ambiente escolar, assim como suas possibilidades. Foi aludido que as abordagens CCS, a metodologia de projetos e a estratégia de Ensino Colaborativo possibilitam a promoção da inclusão, e contribui para o desenvolvimento de uma prática docente inclusiva que oportuniza aos alunos PAEE, e aos demais alunos, participação na construção do conhecimento, no desenvolvimento pessoal e na autonomia, em prol de uma aprendizagem significativa. No estudo de Mendes (2016), foi descrito e analisado o processo de intervenção dos professores de classe comum e especialista de Educação Especial antes e depois da formação em estratégia de Ensino Colaborativo e adaptações de atividades. Foi observado como se dava a prática pedagógica desses professores com os alunos com Deficiência Intelectual, a partir das barreiras e das capacidades dos professores. A pesquisa mostrou que são necessárias mais formações continuadas acerca da estratégia de Ensino Colaborativo e adaptações de atividades para o entendimento, a compreensão e a atuação dos professores, a fim de oportunizar aos alunos com Deficiência Intelectual práticas pedagógicas que atendam suas necessidades e particularidades, assim como um planejamento conjunto entre o professor especialista de Educação Especial e o professor de sala comum. Foi comprovado que o Ensino Colaborativo e a adaptação favorecem uma melhor interação e participação dos alunos nas atividades, beneficiando o desenvolvimento do aluno com Deficiência Intelectual. Valladão (2017) analisou dilemas existentes no ambiente escolar no que diz respeito ao processo de inclusão dos alunos PAEE, e apresentou os desafios e as possibilidades do trabalho docente em sala comum nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Mostrou a relevância de se conhecer a organização e o processo de ensino-aprendizagem vivenciados pelos alunos e professores, concentrando-se em temas como inclusão, divisões e partilhas de responsabilidades entre os professores, avaliações feitas e aplicadas aos alunos PAEE, a fim de proporcionar, de modo colaborativo, práticas docentes significativas para a promoção da inclusão e atendimento adequado, assim como qualidade aos alunos com Deficiência Intelectual, Transtorno do Espectro Autista e Síndrome de Edwards. Foi constatado que as práticas de colaboração carecem de transformações. O processo de inclusão escolar tem sua complexidade, mas é 45 imprescindível entendimento e compreensão para que se garanta o acesso e a permanência no ambiente escolar, bem como que se tenha claro o sentimento de pertencimento e participação do aluno PAEE na rede regular de ensino comum, visando seu aprendizado e convivência. Desse modo, o Ensino Colaborativo é uma estratégia promissora para promover a inclusão e proporcionar um melhor desempenho escolar e desenvolvimento dos alunos PAEE. Para isso, as formações continuadas e a aplicabilidade efetiva das legislações que abarcam a Educação Especial e a Inclusão são fundamentais. Honnef (2018), por seu turno, resguardou o Trabalho Docente Articulado como modo imperioso que visa o sucesso do processo de ensino-aprendizagem dos alunos PAEE na rede regular de ensino, primando pela realização do AEE e SRM dentro da sala de aula comum. Concluiu que, para o Trabalho Docente Articulado acontecer, é necessária a colaboração entre os profissionais do entorno escolar, de modo voluntário e dialógico. O trabalho docente articulado, segundo consta na pesquisa, possibilitou avanços significativos para os alunos com Deficiência Intelectual e aos profissionais envolvidos; esses alunos obtiveram melhora no entendimento e na apropriação dos conhecimentos e conteúdos transmitidos, no desempenho, na participação e atenção nas atividades, algo que contribuiu para a interação e a socialização daqueles alunos com os demais. Dentre os percalços citados, aparecem o tempo, a comunicação, a falta de recursos, a infraestrutura, a disciplina etc.; ainda assim, o trabalho docente articulado trouxe benefícios para todos os sujeitos do entorno escolar. Negrim (2019) pesquisou o trabalho colaborativo realizado entre a gestão escolar e a atuação dos professores no ensino dos alunos com Deficiência Intelectual por meio de um jogo digital. A implementação do Ensino Colaborativo por meio das articulações entre as práticas da gestão escolar e as práticas docentes, no processo de aquisição da leitura e escrita do aluno com Deficiência Intelectual com o jogo digital, torna o processo de desenvolvimento e de ensino- aprendizagem do aluno PAEE mais estimulante, motivador e significativo. A partir do trabalho colaborativo, das articulações e do jogo digital como recurso pedagógico, obtiveram-se avanços significativos no desenvolvimento da leitura e da escrita do aluno com Deficiência Intelectual. Comprovou-se, então, que o trabalho articulado e colaborativo aprimora todo o processo de ensino e 46 desenvolvimento de todos os alunos, tornando-os protagonistas no processo de construção do conhecimento com uma efetiva educação de qualidade. O estudo de Nunes (2019) identificou as ideias positivas e negativas referentes à inclusão dos alunos com Deficiência Intelectual no ensino regular comum, por meio de relatos professores que atuam nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Apesar de um número maior de concepções positivas acerca do tema, concepções negativas também foram apontadas pelos professores, dentre as quais, a presença de visões tradicionais que inviabilizam a promoção da inclusão e a aprendizagem significativa dos alunos PAEE, a ideia de que o aluno não aprenderá devido à deficiência, a falta de formação continuada e o despreparo dos profissionais de educação que, ao receber os alunos PAEE na escola, não tem subsídios para atendê-los adequadamente, com qualidade. O Quadro 4 apresenta as pesquisas encontradas nas bases de dados CAPES e SciELO, no período de 2015 a 2019, organizadas como se segue: título, ano, autor(a), instituição e periódico. Ao realizarmos a busca encontramos diversos trabalhos sobre Ensino Colaborativo, mas em outros contextos escolares, como na Educação Infantil, e que não seriam aproveitados em nosso estudo. Quadro 4 – Produções encontradas na CAPES e SciELO Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES Scientific Eletronic Library Online – SciELO Título Ano Autor(a) Instituição Periódico Práticas de professores frente ao aluno com Deficiência Intelectual em classe regular 2015 SANTOS, Teresa Cristina Coelho dos; MARTINS, Lúcia de Araújo Ramos. UFRN Revista Brasileira de Educação Especial A bidocência como uma proposta Inclusiva 2016 PINHEIRO, Vanessa Cabral da Silva; MASCARO; Cristina Angélica de Aquino Carvalho. UFRJ Journal of Research in Special Educational Needs Consultoria Colaborativa: estratégias para o ensino de leitura e escrita 2016 BENITEZ, Priscila; DOMENICONI, Camila. UFSCar Revista Psicologia: teoria e prática O processo de inclusão de uma aluna Deficiente Intelectual em uma escola comum do Ensino Fundamental I 2016 MORGADO, Camila Lourenço; FISCARELLI, Silvio Henrique. UNESP Revista Ibero- Americana de Estudos em Educação As (re)ações dos professores regentes e o auxiliar pedagógico especializado (APE) na escolarização do estudante com deficiência 2017 FRANCO, Lucimar de Lima; NERES, Celia Correa. UEMS Revista Periferia/Educação Cultura & Comunicação PPGECC/UERJ 47 Construção mediada e colaborativa de instrumentos de avaliação da aprendizagem na escola inclusiva 2018 MELLO, Alessandra de Fátima Giacomet; HOSTINS, Regina Célia Linhares. UFSM Revista Educação Especial Fonte: Elaborado pelo Autor (2020).  Santos e Martins (2015) apresentam resultados a partir da investigação realizada das práticas pedagógicas de professores que atuam nos anos iniciais do Ensino Fundamental e que têm em sala de aula alunos com Deficiência Intelectual. Apontam que as práticas docentes eram pautadas na pedagogia tradicional, apoiada em uma educação bancária, conforme a perspectiva freiriana, sem estratégias e dinâmicas de ensino que favoreçam o processo de ensino- aprendizagem dos alunos com Deficiência Intelectual. Ressaltam que a formação continuada de professores é necessária, devendo contemplar temáticas voltadas à inclusão e às práticas pedagógicas inclusivas. A existência de parceria entre professores da Sala de Recursos Multifuncionais com os professores de sala comum e suas respectivas famílias ganham destaque. O estudo de Pinheiro e Mascaro (2016) é sobre o processo de inclusão de alunos com Deficiência Intelectual na rede regular de ensino por meio do trabalho colaborativo e Co-ensino ou, como descrito pelas autoras, bidocência, que é a parceria entre os professores de sala comum e de especialistas de Educação Especial. Os resultados indicam que o trabalho colaborativo possibilitou avanços significativos no desenvolvimento da autonomia, do comportamento e também das competências socioemocionais dos alunos com Deficiência Intelectual. Benitez e Domeniconi (2016) apresentaram a prática de consultoria colaborativa, realizada pelo psicólogo escolar, como uma ação promissora importante para a articulação e o auxílio dos professores no processo de ensino de leitura e escrita dos alunos com Deficiência Intelectual e Transtorno do Espectro Autista. Por meio de uma análise avaliativa da qualidade da consultoria colaborativa aplicada aos professores de sala comum e aos especialistas de Educação Especial, evidenciaram que a atuação do psicólogo junto com os profissionais de educação proporciona avanços. Deste modo, o psicólogo poderia promover consultoria colaborativa. Morgado e Fiscarelli (2016), por sua vez, verificaram as visões dos professores que atuam nos anos iniciais do Ensino Fundamental e que possuem 48 alunos com Deficiência Intelectual em sala de aula, considerando temas como o processo de inclusão – a inclusão escolar –, as particularidades e as necessidades dos alunos, as legislações, a atuação docente, a relação familiar, a compreensão e o entendimento do processo de aprendizagem do aluno com Deficiência Intelectual, o apoio da gestão etc. Constataram que a Educação Especial teve muitos avanços nas legislações e no ambiente escolar, porém ainda apresenta precariedade, falhas na promoção à inclusão e no ensino de qualidade. Franco e Neres (2017) refletiram sobre a atuação dos professores na sala de aula comum e dos professores especialistas de Educação Especial no processo de inclusão de um aluno com Deficiência Intelectual. Os resultados dessa pesquisa apontaram que as atuações desses profissionais não são conjuntas, e que os professores de sala comum não se consideram responsáveis pelo ensino do aluno com Deficiência Intelectual. Ainda que estes últimos profissionais tenham consciência da necessidade de adaptação de conteúdo, deixam de fazer, não promovendo a participação do aluno PAEE. Mello e Hostins (2018) trataram sobre a importância da construção de instrumentos de avaliação de forma mediada e articulada entre professores de ensino comum e do AEE. Elas notaram que as lacunas existentes nas práticas docentes no processo de inclusão de alunos PAEE mostram que as práticas de avaliação têm sido distintas e desconectadas das necessidades dos alunos com Deficiência Intelectual. Constatamos, então, a partir do levantamento de estudos acerca do Ensino Colaborativo, significativa escassez de pesquisas e de ações docentes voltadas à efetivação da inclusão escolar e da escolarização dos alunos com Deficiência Intelectual. Identificamos lacunas, anseios e dificuldades enfrentadas pelos profissionais na atuação com os alunos PAEE, assim como desconhecimento da estratégia de Ensino Colaborativo, sucintamente apresentado nas pesquisas encontradas, escassez de formações continuadas e mais, especificamente, abordagens e ações docentes com implementações das estratégias de Ensino Colaborativo. No próximo capítulo apresentaremos práticas de Ensino Colaborativo, baseando-nos em autores pioneiros no Brasil sobre tais estratégias. Tais estudos estão de acordo com as discussões apresentadas até aqui, também com as ações docentes implementadas pelo pesquisador e pela professora de sala comum. 49 Discorreremos sobre essas práticas no contexto do Ensino Fundamental, a partir de aportes teóricos validados e significativos que serviram de base para a composição da presente pesquisa e das ações docentes adotadas durante sua elaboração. 50 3 AS PRÁTICAS DE ENSINO COLABORATIVO NO CONTEXTO DO ENSINO FUNDAMENTAL   Atualmente, profissionais de diversas áreas têm buscado novas estratégias e meios para estimular, motivar e capacitar às pessoas no trabalho e no aprendizado. Quando tratamos de educação não é diferente, principalmente no que se refere à inclusão; trata-se aqui de profissionais da educação engajados e de professores especialistas de Educação Especial que buscam constantemente refletir e inovar suas práticas e estratégias de ensino para que a aprendizagem dos alunos PAEE se torne significativa, atendendo as particularidades de cada um deles. No entanto, antes mesmo de compreendermos o que são as estratégias de Ensino Colaborativo, é necessário conhecermos a atuação dos professores, tanto dos especialistas de Educação Especial quanto dos professores de sala comum. O termo “docência” pode ser definido a partir da Resolução CNE/CP nº 1, de 15 de maio de 2006, que instituiu Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, no â