Universidade Estadual Paulista Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira Departamento de F́ısica e Qúımica Transporte quântico fracionário assistido por excitações de quasipart́ıcula do tipo Majorana-Ising José Eduardo Cardozo Sanches Ilha Solteira - SP Fevereiro de 2024 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira Departamento de F́ısica e Qúımica Programa de Pós-Graduação em Ciência dos Materiais Transporte quântico fracionário assistido por excitações de quasipart́ıcula do tipo Majorana-Ising José Eduardo Cardozo Sanches Orientador: Antonio Carlos Ferreira Seridonio Tese apresentada à Faculdade de Engenharia - UNESP - Campus de Ilha Solteira, para obtenção do t́ıtulo de Doutor em Ciência dos Materiais. Ilha Solteira - SP Fevereiro de 2024 Sanches Transporte quântico fracionário assistido por excitações de quasipartícula do tipo Majorana-IsingIlha Solteira2024 85 Sim Tese (doutorado)Ciências dos MateriaisFísica da Matéria CondensadaNão FICHA CATALOGRÁFICA Desenvolvido pelo Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação Sanches, José Eduardo Cardozo. Transporte quântico fracionário assistido por excitações de quasipartícula do tipo Majorana-Ising / José Eduardo Cardozo Sanches. -- Ilha Solteira: [s.n.], 2024 85 f. : il. Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira. Área de conhecimento: Física da Matéria Condensada , 2024 Orientador: Antonio Carlos Ferreira Seridonio Inclui bibliografia 1. Excitações de quasipartícula do tipo Majorana-Ising (MIQ). 2. Modos zero de Majorana (MZM). 3. Poor Man'S Majorana. S211t Impacto e relevância cient́ıfico-social Não é de hoje que as pesquisas envolvendo férmions de Majorana tem se destacado no ambi- ente cient́ıfico, espera-se que a detecção e aplicação dessas quasipart́ıculas possam ser um novo marco no desenvolvimento da ciência e tecnologia, partindo-se de sua premissa sem igual no que tange posśıveis aplicações ao campo emergente e extremamente almejado da computação quântica. O estudo e aplicação dos férmions de Majorana pode abarcar uma grande revolução, pois o desenvolvimento de computadores quânticos livres do efeito de decoerência, resisten- tes a falhas, capazes de realizar tarefas complexas e que sejam estáveis poderiam promover uma melhora significativa na compreensão de determinadas áreas da ciência e tecnologia, bem como a criptografia/descriptografia de informações, auxiliar no desenvolvimento de simulações complexas, alavancar o progresso na construção e aplicação de inteligências artificiais, entre outras. O entendimento e a busca por plataformas capazes de sustentar a emergência de férmions de Majorana se faz fundamental, partindo-se de suas possibilidades de aplicação. Dessa forma, nossos esforços em estudos teóricos buscam trazer um pouco de luz, por mais básica que seja a contribuição, ao entendimento do comportamento e de posśıveis formas de se detectar fémions de Majorana, bem como a compreensão de sua manifestação em sistemas de matéria conden- sada. 3 Agradecimentos Deixo aqui meus mais sinceros agradecimentos a todos que fizeram parte de minha jornada até aqui, especialmente para: Meus pais, José e Maria, por todo o carinho, pelos ensinamentos, pelas experiências com- partilhadas e por todo o apoio nos momentos mais complicados. A meu irmão, Adriano, que sempre apoiou minha jornada das mais diferentes formas, nunca foi alguém de dizer o que eu deveria ou não fazer, mas sempre deu suporte de uma forma ı́mpar. Meu orientador, Prof. Seridonio, por todo o conhecimento compartilhado, os incentivos, todas as ricas conversas e pela paciência em me orientar ao longo dessa jornada. Aos meus amigos de pesquisa Willian e Luana por todo o companheirismo e por todas as discussões e conhecimentos constrúıdos ao longo desse peŕıodo. Aos meus amigos Welinton (O Japa), Mizobata (Mizo), Eduardo (Kiwi) e Guilherme (Shen) pelas noites de jogos, por todas as conversas nos mais variados temas, por todo o suporte e também por todo o apoio nas crises e momentos dif́ıceis. A minha amiga Mariana pelas incontáveis e valiosas conversas, pelos ensinamentos e ques- tionamentos que desempenharam um papel importante nos últimos anos. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nı́vel Superior (CAPES) pelo aux́ılio financeiro que tornou posśıvel a realização desta tese e de outros trabalhos. 4 Não busques que os acontecimentos sejam como queres, mas queira que os acontecimentos sejam como são, com o que serás feliz. Epicteto 5 Resumo Em nosso estudo investigamos teoricamente a emergência das excitações de quasipart́ıculas do tipo Majorana-Ising (do inglês, MIQ: Majorana-Ising-type quasiparticle) por meio das pro- priedades espectrais de uma impureza quântica (do inglês, QI: quantum impurity). Tais ex- citações emergem em um sistema composto por uma QI flanqueada por um supercondutor topológico (do inglês, TSC: topological superconductor) finito e uma ponta spin-polarizada, com spin inteiro S. O acoplamento da ponta à QI é dado por uma interação de troca do tipo Ising. Em nosso sistema os modos zero de Majorana (do inglês, MZMs: Majorana zero modes), que emergem nas bordas do TSC unidimensional, estão superpostos e nós encontramos um regime em que o termo oriundo da interação de Ising é capaz de modular a localização de um estado ressonante e fracionalizado de MZM no śıtio da QI, o qual nomeamos de MIQ. A análise da condutância diferencial, decomposta nas componentes de tunelamento eletrônico e reflexões de Andreev, nos revelou a natureza fermiônica do estado MIQ como puramente eletrônica, a contribuição advinda dos processos de Andreev entre QI e os terminais metálicos se mostrou nula. Os estados de MIQ que descreveremos neste trabalho podem ser compreendidos como uma forma de manifestação dos chamados poor man’s Majoranas [Nature 614, 445 (2023)]. Palavras-chave: Excitações de quasipart́ıcula do tipo Majorana-Ising (MIQ), modos zero de Majorana (MZM) e poor man’s Majorana. 6 https://www.nature.com/articles/s41586-022-05585-1 Abstract In our study we theoretically investigate the emergence of the Majorana-Ising-Type quasi- particle (MIQ) excitation through the spectral properties of a quantum impurity (QI). Such excitations can arise in a system composed by the coupling between a finite topological super- conductor (TSC) and a spin-polarized tip, with integer spin S, flanking the QI. The coupling between the tip and the QI is given by an Ising-type exchange interaction. In our system the Majorana zero modes (MZMs), which emerge on the edges of the 1D TSC, are overlapped and we find a regime wherein the Ising term modulates the localization of a fractionalized and resonant MZM at the QI site, called by us MIQ. The analysis of the differential conductance, decomposed into the electronic tunneling and Andreev reflections components, revealed the fermionic nature of the MIQ state as purely electronic and a null contribution arising from the Andreev processes between the tip and the metallic leads. The MIQ state described in this work can be understood as a manifestation of the poor man’s Majoranas [Nature 614, 445 (2023)]. Keywords: Majorana-Ising-type quasiparticle (MIQ) excitation, Majorana zero mode (MZM) and poor man’s Majorana. 7 https://www.nature.com/articles/s41586-022-05585-1 https://www.nature.com/articles/s41586-022-05585-1 Lista de Figuras 1.1 Retrato do f́ısico italiano Ettore Majorana. Fonte: Ramón Aguado [1]. . . . . . 14 2.1 Representação esquemática da receita para a criação do nanofio de Kitaev. Na- nofio semicondutor (em azul), supercondutor s-wave e as designações para campo spin-órbita (BSO) e campo magnético (B). Os asteriscos em vermelho indicam os MZMs [15]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 2.2 Alexei Y. Kitaev. Professor no Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech - California Institute of Technology). Fonte: caltech.edu. . . . . . . . . . . . . . . 18 2.3 Representação esquemática do modelo de Kitaev para: (a) Fase trivial em que os fémions de Majorana (calotas azuis e vermelhas) se acoplam no mesmo śıtio [Eq. (2.7)] compondo um férmion regular. (b) Fase topológica na qual os férmions Majorana de śıtios vizinhos adjacentes se acoplam [Eq. (2.8)], isolando assim dois Majoranas nas bordas do sistema. O śıtio fermiônico não local [Eq. (2.9)] formado por γA,1 e γB,N , os dois Majoranas isolados na fase topológica, está representado em (c). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 2.4 Dispersão na energia para as quasipart́ıculas supercondutoras Ek com ∆ = t/2 (linhas cont́ınuas azuis) e dispersão para os elétrons na ausência da influência supercondutora ϵk com ∆ = 0 (linhas vermelhas tracejadas), obtidas a partir da Eq. (2.27) para o modelo de Kitaev considerando diferentes valores de potencial qúımico µ. A dispersão de Ek e ϵk apresentam gap quando µ < −t (a) e também para µ > t (f), gap esse que se fecha nos pontos k = 0 quando µ = −t e k = ±π para µ = t, painéis (b) e (e), respectivamente. Porém, quando |µ| < t a dispersão para ϵk apresenta uma caráter metálico enquanto tem-se a reabertura do gap para a dispersão Ek [5]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 8 https://pma.caltech.edu/people/alexei-kitaev 2.5 Painel da esquerda: Imagem de microscópio eletrônico de varredura do disposi- tivo utilizado por Mourik et. al. [15] em que um nanofio semicondutor de InSb (Indium antimonide - Antimoneto de ı́ndio) está em contato com um eletrodo metálico-normal (N) e supercondutor (S). Um campo magnético B é aplicado pa- ralelamente ao nanofio. Painel da direita: Condutância diferencial para múltiplos valores de B, as medidas foram efetuadas a uma temperatura de 50 mK. Um pico em V = 0 emerge para B entre ∼ 100 e ∼ 400mT, correspondendo a uma amplitude de G ∼ 0.05G0. Adaptado da Ref. [15]. . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 2.6 (a) Micrografia em cores falsas do dispositivo com um ponto quântico descrito pela circunferência tracejada. (b) o espectro do sistema em função da voltagem do ponto quântico Vdot para superposição finita entre os MBSs e (c) para o caso ideal, em que ambos os MBSs se encontram isolados nas bordas do nanofio. (d) condutância diferencial considerando um campo magnético B = 1 T que apresenta concordância com a predição estabelecida pelo painel (b). Adaptado a partir da Ref. [27]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 2.7 (Artigo retratado) (a) Micrografia em cores falsas do aparato experimental no painel superior e seu esquema no painel inferior. (b) Condutância diferencial dI/dV em função da voltagem V e do campo magnético B, apresentando a coalescência de dois estados ligados de Andreev (ABSs) em um pico de volta- gem zero (ZBP) quantizado com o aumento do valores de B, o painel inferior (com ćırculos vermelhos) apresenta um corte, do painel superior, para a V = 0. Adaptado de [29]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 9 2.8 O modelo mı́nimo de Kitaev. (a) Representação de dois pontos quânticos (circun- ferências tracejadas) que podem se acoplar diretamente, por meio de um termo do tipo hopping t, e via supercondutor com uma amplitude ∆, pela reflexão cru- zada de Andreev (do inglês, CAR: Crossed Andreev reflection). (b) Diagrama de energia da cadeia mı́nima de Kitaev, representando a ajustabilidade dos potenci- ais qúımicos nos QDs, µLD e µRD. (c) Ilustração do dispositivo e do circuito para efetuar as medições. A representação dos QDs é explicitada pelos potenciais tra- cejados sobre o nanofio InSb. (d) Microscopia eletrônica de varredura em cores falsas do dispositivo antes da fabricação dos terminais metálicos normais, a cor verde está indicando o nanofio semicondutor, em azul a representação do super- condutor e os QDs são representados pelas circunferências tracejadas. Adaptado da Ref. [31]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 2.9 Condutância diferencial para t = ∆ dada em função da voltagem e da variação da energia do QD da direita VRD. (a) e (b) dizem respeito a assinatura experimental obtida e a prevista pela teoria, respectivamente. Os perfis verticais ressonantes em voltagem zero paraGLL eGRR destacam a robustez dos poor man’s Majoranas contra perturbações locais. Adaptado da Ref. [31]. . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 3.1 Philip Warren Anderson (1923 - 2020) foi um f́ısico estadunidense e recebeu o premio Nobel de F́ısica em 1977. Fonte: nobelprize.org . . . . . . . . . . . . . . 33 3.2 Representação esquemática do modelo de Anderson com uma impureza magnética sob um hospedeiro metálico. A intensidade da hibridização impureza-hospedeiro é determinada pelo parâmetro V . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 10 https://www.nobelprize.org/prizes/physics/1977/anderson/facts/ 4.1 (a) Representação esquemática do dispositivo proposto, composto por uma ca- deia de átomos depositados sob uma matriz supercondutora do tipo s-wave capaz de induzir, por efeito de proximidade, a supercondutividade do tipo p-wave na cadeia. Uma das bordas do nanofio (cadeia de átomos) se acopla a uma impu- reza quântica (QI) que é lateralmente flanqueada por dois terminais metálicos e que também acopla-se a uma ponta spin-polarizada. (b) Visão lateralizada do sistema apresentado no painel (a), evidenciando o acoplamento da QI à ponta spin-polarizada, dado pela interação de troca do tipo Ising J , e aos terminais metálicos, dados por Γ. (c) Modelo efetivo do nanofio contendo MZMs nas bor- das (nanofio de Kitaev) que podem se superpor com uma amplitude εM e em que apenas γ1 se acopla a QI por λ1. (d) Modelo efetivo para o regime de estados ligados de Andreev obtido quando |λ1| ∼ |λ2|. (e) Descritos na base fermiônica os MZMs, γ1 e γ2, se comportam como um férmion não local f , cujo o ńıvel de energia é descrito por εM . O ńıvel de energia da QI é divido em 2S+1 ńıveis que vão de −J(S/2) até +J(S/2), já o hopping t e emparelhamento supercondutor ∆ são responsáveis pela troca de informação entre o śıtio f e a QI [10]. . . . . . 39 7.1 Representação esquemática do sistema proposto para se estudar as operações do tipo braiding obtidas por meio do desenvolvimento e estudo de funções de Green. Quatro nanofios de Majorana semi-infinitos nos quais consideramos ape- nas os Majoranas presentes em uma suas bordas, γ1,2,3,4. O acoplamento entre Majoranas adjacentes é dado por tM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80 7.2 Representação do sistema proposto para se estudar o modelo mı́nimo de Kitaev sob influência de um spin S que se acopla a uma das componentes do d́ımero por um termo do tipo Ising J . Os śıtios µL e µR podem ser decompostos nas componentes de Majorana γ1,2 e γ3,4, respectivamente, e se acoplam por meio de um hopping t e uma amplitude emparelhamento supercondutor ∆. . . . . . . . 81 11 Sumário 1 Introdução 14 2 Férmions de Majorana em F́ısica da Matéria Condensada 16 2.1 Modelo de Kitaev . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 2.2 Propriedades de Bulk . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 2.3 Detecção experimental de férmions de Majorana . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 3 Formalismo matemático 32 3.1 Modelo de Anderson de uma Impureza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 3.2 Funções de Green . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 3.3 Equação de Movimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 4 Modelo estudado 39 4.1 Hamiltoniano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 4.2 Densidade de estados da QI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 4.2.1 Sumário das GFs para a QI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 4.2.2 Spin up . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 4.2.3 Spin down . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 4.3 DOS para as quasipart́ıculas de Majorana da QI . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 4.3.1 Definindo as GFs de Majorana na QI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 4.4 Quasipart́ıculas de Majorana do śıtio f . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 5 Fractionalization of Majorana-Ising-type quasiparticle excitations 62 5.1 Artigo publicado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 6 Conclusões 78 12 7 Publicações e perspectivas futuras 79 13 Caṕıtulo 1 Introdução Figura 1.1: Retrato do f́ısico italiano Ettore Majorana. Fonte: Ramón Aguado [1]. No ano de 1937 o f́ısico italiano Ettore Majorana propôs uma solução alternativa, em termos de funções de onda reais, para a equação de Dirac. Essa repre- sentação possúıa implicações profundas, pois esse tipo de função de onda descreve part́ıculas que são suas próprias antipart́ıculas [1–3], diferentemente de elétrons e pósitrons. Em prinćıpio, a proposta de Ettore se res- tringia à F́ısica de altas energias e tinha como premissa propor que essas novas e exóticas part́ıculas poderiam ser/descrever os neutrinos [1, 3]. Essa proposta per- manece em estudo, como é o caso do decaimento beta duplo de neutrinos [4]. A busca por férmions de Majorana (do inglês, MFs - Majorana fermions) manteve-se restrita as áreas associadas à F́ısica de altas energias por talvez mais de 60 anos [1]. Porém, atualmente a busca por MFs em sistemas de matéria condensada está entre os tópicos mais atrativos da F́ısica, isso se deve ao grande potencial de aplicação dos MFs para o desenvolvimento de uma computação quântica topológica livre de decoerências e tolerante à falhas [5–9]. Em f́ısica da matéria condensada, os MFs não se manifestam como part́ıculas fundamentais, mas sim como excitações de quasipart́ıcula e satisfazem a propriedade de part́ıculas iguais suas próprias antipart́ıculas, como proposto por Ettore Majorana em 1937. Tais excitações podem 14 ser descritas, em linguagem de segunda quantização, pelos operadores Ψ = Ψ†. (1.1) Para que tal condição seja satisfeita, as excitações de Majorana não devem possuir massa, carga e sua energia é igual a zero. Motivados pela busca e entendimento do comportamento dos MFs em sistemas de matéria condensada, nesta tese vamos apresentar nossa contribuição para o desenvolvimento da área. Este trabalho está estruturado da seguinte maneira: 1. Caṕıtulo 2: Abordaremos uma breve introdução de como os férmions de Majorana podem emergir no contexto de f́ısica da matéria condensada, comentando sobre a engenharia de materiais necessária para dar origem a sistemas que contenham tais férmions, devido a raridade de materiais naturalmente capazes de tal feito. Apresentaremos também o modelo de Kitaev, seguido pelo cenário experimental envolvendo a busca por MFs. 2. Caṕıtulo 3: Apresentaremos o formalismo matemático que foi utilizado no desenvolvi- mento de nosso artigo [10], sumarizando o modelo de Anderson, uma vez que utilizamos Hamiltonianos semelhantes, as funções de Green e o formalismo da equação de movimento (EOM). 3. Caṕıtulo 4: Abordaremos os cálculos efetuados para a obtenção das funções de Green necessárias para determinação da densidade de estados tanto da impureza quântica quanto das quasipart́ıculas de Majorana. 4. Caṕıtulo 5: Apresentaremos o artigo publicado Fractionalization of Majorana-Ising-type quasiparticle excitations [Phys. Rev. B 107, 155144 (2023)], em que investigamos a posśıvel fracionalização de férmions de Majorana, bem como suas caracteŕıstica espec- trais e de transporte quântico em um sistema composto por um nanofio supercondutor topológico lateralmente acoplado a uma impureza quântica que é flanqueada por dois terminais metálicos e que também se acopla, por uma interação do tipo Ising, com uma ponta spin polarizada. 5. Caṕıtulo 6: Apresentaremos as conclusões. 15 https://journals.aps.org/prb/abstract/10.1103/PhysRevB.107.155144 Caṕıtulo 2 Férmions de Majorana em F́ısica da Matéria Condensada No contexto de F́ısica da Matéria Condensada, diferentemente da f́ısica de altas energias, os férmions de Majorana não emergem como part́ıculas fundamentais, como é o caso de elétrons em núcleos atômico, mas sim como excitações de quasipart́ıcula [1, 3, 5, 11]. Como proposto por Ettore Majorana, tais excitações satisfazem a relação de part́ıcula igual a sua própria antipart́ıcula e podem ser descritas em linguagem de segunda quantização pelos operadores Ψ = Ψ†. Seguindo a premissa de que tais excitações de Majorana satisfazem uma relação que es- tabelece a igualdade entre part́ıcula e buraco (os buracos são o análogo das antipart́ıculas no contexto de Matéria Condensada), os supercondutores se mostram como plataformas promis- soras para a emergência de tais excitações, uma vez que as quasipart́ıculas que descrevem esses materiais, os pares de Cooper, podem ser definidas como a superposição de elétrons e bura- cos [3]. A transformação de Bogoliubov é muito comum em estudos com supercondutores e estabelece uma relação entre as excitações de part́ıcula e buraco [3, 5]. Porém, os supercon- dutores convencionais do tipo s-wave não são o suficiente para a emergência das excitações de quasipart́ıcula de Majorana, uma vez que nestes supercondutores os pares de Cooper são formados por elétrons com spins opostos, violando assim a relação Ψ = Ψ†. Para fins de exem- plificação, os operadores em um supercondutor s-wave podem ser escritos como d = uc†↑ + vc↓ e d† = v∗c†↓ + u∗c↑, o que deixa claro que são dois operadores distintos [3]. Como declarado anteriormente um tipo diferente de supercondutividade se faz necessária para a emergência dos férmions de Majorana. Um supercondutor “spinless”, em que apenas uma 16 orientação de spin está presente nos elétrons do condensado supercondutor geraria a plataforma ideal. A caracteŕıstica spinless resulta em um supercondutor p-wave em uma dimensão [3,5,7, 11–14], como é o caso do modelo do fio de Kitaev (discutiremos mais adiante). Supercondutores p-wave são extremamente raros na natureza e devido a essa dificuldade, certa engenharia de materiais se faz necessária para gerar a supercondutividade p-wave partindo de sistemas mais simples e já conhecidos. Uma das receitas para se atingir este fim exige apenas três ingredientes simples, sendo eles: um supercondutor s-wave convencional, acoplamento spin- órbita (SOC - spin-orbit coupling) e a aplicação de um campo magnético externo [1,3,5,11,15]. Estes ingredientes podem ser organizados como apresenta a Fig. 2.1, onde se tem um nanofio semicondutor com forte acoplamento spin-órbita na superf́ıcie de um supercondutor s-wave para que, por efeito de proximidade, a supercondutividade seja induzida no nanofio. Figura 2.1: Representação es- quemática da receita para a criação do nanofio de Kitaev. Nanofio semi- condutor (em azul), supercondutor s-wave e as designações para campo spin-órbita (BSO) e campo magnético (B). Os asteriscos em vermelho indicam os MZMs [15]. O ingrediente final é a aplicação de um campo magnético paralelo ao nanofio e perpendicular ao SOC. A combinação desses ingredientes é capaz gerar a su- percondutividade p-wave e de levar o sistema à fase topológica em que os modos zero de Majorana (MZMs - Majorana zero modes) emergem. Um modelo importante para o desenvolvimento da área foi proposto em 2001, o chamado modelo de Ki- taev [12]. Esse desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento do trabalho que apresentaremos nesta tese, pois partimos da premissa da existência de um nanofio de Kitaev, já na fase topológica, em que dois MZMs estão isolados em suas bordas e analisamos o comportamento dessas excitações de quasipart́ıcula quando acopladas a diferentes sistemas, como discutiremos mais adiante. Em função da relevância do modelo de Kitaev, a próxima seção será dedicada a seu estudo. 17 2.1 Modelo de Kitaev Figura 2.2: Alexei Y. Kitaev. Professor no Instituto de Tecno- logia da Califórnia (Caltech - Ca- lifornia Institute of Technology). Fonte: caltech.edu. O modelo proposto em 2001 por Alexei Kitaev, também conhecido como Kitaev toy model [3,5,12], consiste de uma cadeia linear unidimensional de śıtios fermiônicos com su- percondutividade do tipo p-wave. O modelo consiste na análise do chamado regime trivial, em que não há MZMs, e do regime topológico no qual os MZMs emergem como estados isolados nas bordas do sistema. O Hamiltoniano tight-binding para elétrons spinless que descreve o modelo pode ser escrito da seguinte forma H = −µ ∑ x c†xcx − 1 2 N−1∑ x (tc†xcx+1 +∆cxcx+1 +H.c.), (2.1) sendo µ o potencial qúımico associado a ocupação de cada śıtio, t é o termo de hopping entre śıtios vizinhos adjacentes e ∆ a amplitude de emparelhamento supercondutor do tipo p-wave. Os operadores c†x e cx descrevem a criação e aniquilação, respectivamente, de elétrons no śıtio x e obedecem as relações de anticomutação fermiônicas [cj, cx]+ = [c†j, c † x]+ = 0 e [cj, c † x]+ = δjx. Para entendermos como as propriedade associadas à fase/regime não-trivial (topológica) podem emergir em um sistema como o proposto por Kitaev é fundamental reescrevermos a Eq. (2.1) na base de operadores de Majorana, em que cada operador fermiônico é decomposto em duas componentes de Majorana segundo as relações cx = 1 2 (γB,x + iγA,x) (2.2) e c†x = 1 2 (γB,x − iγA,x), (2.3) em que γA,x e γB,x obedecem a relação γα = γ†α, que assegura a condição de Majorana, cuja part́ıcula é igual a sua própria antipart́ıcula. Dessa forma, intuitivamente, os férmions de Ma- jorana podem ser interpretados como “estados de meio férmion regular”, uma vez que cada operador fermiônico usual pode ser reformulado pela combinação de dois operadores de Majo- 18 https://pma.caltech.edu/people/alexei-kitaev rana [5]. Tais operadores respeitam também as relações [γαx, γα′j]+ = 2δxjδαα′ e γ2αx = γ†αxγαx = 1. (2.4) Dessa forma, tendo os operadores fermiônicos [Eqs. (2.2) e (2.3)] definidos em suas compo- nentes de Majorana, é posśıvel reescrever o Hamiltoniano Eq. (2.1) como: H = −µ 4 ∑ x (γB,xγB,x + iγB,xγA,x − iγA,xγB,x + γA,xγA,x) − i t 4 ∑ x (γB,xγA,x+1 − γA,xγB,x+1) + i ∆ 4 ∑ x (γB,xγA,x+1 + γA,xγB,x+1), (2.5) em que podemos utilizar as relação estabelecidas pela Eq. (2.4). Assim, o Hamiltoniano assume a forma H = −µ 2 N∑ x=1 (1 + iγB,xγA,x)− i 4 N−1∑ x=1 [(t+∆)γB,xγA,x+1 + (∆− t)γA,xγB,x+1]. (2.6) Consideremos agora dois casos limites para o Hamiltoniano Eq. (2.6), associado à proposta de Kitaev [12]. Sendo que o primeiro deles corresponde a t = ∆ = 0 e µ ̸= 0, nesse regime o segundo termo do Hamiltoniano desaparece, ou seja, H = −µ 2 N∑ x=1 (1 + iγB,xγA,x), (2.7) descrevendo assim o caso trivial. Note que apenas o termo de potencial qúımico se faz presente e é descrito por operadores de Majorana que emparelham-se no mesmo śıtio x, como apresentado na Fig. 2.3(a), sendo que µ é a energia necessária para que tal śıtio seja populado. Para descrever o segundo caso limite assumimos µ = 0 e t = ∆ ̸= 0, obtendo H = −it 2 N−1∑ x=1 γB,xγA,x+1, (2.8) que descreve a fase topológica do modelo. Como podemos notar os operadores de Majorana acoplam-se apenas entre śıtios vizinhos adjacentes, como exibido pela Fig. 2.3(b). A carac- 19 γA,1 a) Fase Trivial γB,1 γA,2 γB,2 γA,3 γB,3 γA,N-1 γB,N-1 γA,N γB,N γA,1 γB,1 γA,1 γB,N γA,2 γB,2 γA,3 γB,3 γA,N-1 γB,N-1 γA,N γB,N b) Fase Topológica c) Sítio não-local f f Figura 2.3: Representação esquemática do modelo de Kitaev para: (a) Fase trivial em que os fémions de Majorana (calotas azuis e vermelhas) se acoplam no mesmo śıtio [Eq. (2.7)] com- pondo um férmion regular. (b) Fase topológica na qual os férmions Majorana de śıtios vizinhos adjacentes se acoplam [Eq. (2.8)], isolando assim dois Majoranas nas bordas do sistema. O śıtio fermiônico não local [Eq. (2.9)] formado por γA,1 e γB,N , os dois Majoranas isolados na fase topológica, está representado em (c). teŕıstica principal da fase topológica se dá pelo fato de que os férmions de Majorana γA,1 e γB,N nas bordas da cadeia de Kitaev não são descritos pelo Hamiltoniano [Eq. (2.8)], ou seja, estão isolados nas bordas do sistema e, consequentemente, temos as relações [H, γA,1] = 0 e [H, γB,N ] = 0. Os dois férmions de Majorana isolados nas bordas do sistema, também chamados de estados ligados de Majorana (MBS - Majorana bound states), podem ser reescritos dando origem a um estado fermiônico descrito como f = 1 2 (γA,1 + iγB,N). (2.9) O operador fermiônico f é considerado não local, uma vez que os MBSs que o compõem estão espacialmente separados [Fig. 2.3(c)]. Na próxima seção analisaremos as propriedades de Bulk do modelo unidimensional de Kitaev e como esse se comporta para distintos valores de potencial qúımico µ, termo de hopping t e amplitude de emparelhamento supercondutor ∆ (p-wave). 2.2 Propriedades de Bulk Nesta seção vamos investigar as propriedades de Bulk do modelo de Kitaev, para isso consi- deraremos a análise do sistema no espaço dos momentos k com condições periódicas de contorno para a cadeia unidimensional [1, 3, 5, 11]. Para obtermos o Hamiltoniano Eq. (2.1) no espaço 20 dos momentos utilizaremos a transformada de Fourier, reescrevendo assim os operadores dos śıtios da cadeia em operadores dependentes do momento por meio das relações [16]: cx = 1√ N ∑ k e−ikxack (2.10) e c†x = 1√ N ∑ k eikxac†k, (2.11) sendo a o parâmetro de rede. Seguindo tais definições reescreveremos os termos da Eq. (2.1), sendo o primeiro deles N∑ x=1 c†xcx = N∑ x=1 1√ N ∑ k eikxac†k 1√ N ∑ k′ e−ik′xack′ = N∑ x=1 1 N ∑ kk′ ei(k−k′)xac†kck′ = ∑ kk′ c†kck′ N∑ x=1 1 N ei(k−k′)xa = ∑ kk′ c†kck′δkk′ = ∑ k c†kck, (2.12) em que podemos reconhecer a definição da delta de Kronecker δkk′ = N∑ x=1 1 N ei(k−k′)xa =    0, se k ̸= k′ 1, se k = k′ . (2.13) Façamos o mesmo para os termos de hopping e emparelhamento supercondutor da Eq. (2.1), respectivamente, N−1∑ x=1 c†xcx+1 = N−1∑ x=1 1√ N ∑ k eikxac†k 1√ N ∑ k′ e−ik′(x+1)ack′ = N−1∑ x=1 1 N ∑ kk′ eikxae−ik′(x+1)ac†kck′ = ∑ kk′ e−ik′ac†kck′ N−1∑ x=1 1 N ei(k−k′)xa = ∑ kk′ e−ik′ac†kck′δkk′ = ∑ k e−ikac†kck, (2.14) 21 N−1∑ x=1 c†x+1cx = N−1∑ x=1 1√ N ∑ k eik(x+1)ac†k 1√ N ∑ k′ e−ik′xack′ = N−1∑ x=1 1 N ∑ kk′ eik(x+1)ae−ik′xac†kck′ = ∑ kk′ eikac†kck′ N−1∑ x=1 1 N ei(k−k′)xa = ∑ kk′ eikac†kck′δkk′ = ∑ k eikac†kck (2.15) e N−1∑ x=1 cxcx+1 = N−1∑ x=1 1√ N ∑ k e−ikxack 1√ N ∑ k′ e−ik′(x+1)ack′ = N−1∑ x=1 1 N ∑ kk′ e−ikxae−ik′xae−ik′ackck′ = ∑ kk′ e−ik′ackck′ N−1∑ x=1 1 N e−i(k+k′)xa = ∑ kk′ e−ik′ackck′δk,−k′ = ∑ k eikackc−k = ∑ k e−ikac−kck, (2.16) de forma análoga obtemos o Hermitiano conjugado N−1∑ x=1 c†xc † x+1 = ∑ k eikac†kc † −k. (2.17) Dessa forma o Hamiltoniano de Kitaev no espaço dos momentos torna-se: H = −µ ∑ k c†kck − 1 2 ∑ k t(e−ikac†kck + eikac†kck) − 1 2 ∑ k ∆(e−ikac−kck + eikac†kc † −k) = ∑ k (−µ− t cos(ka))c†kck − ∆ 2 ∑ k (e−ikac−kck + eikac†kc † −k) = ∑ k εkc † kck − ∆ 2 ∑ k (e−ikac−kck + eikac†kc † −k), (2.18) sendo εk = −µ− t cos(ka) o termo de energia cinética. O Hamiltoniano pode ser escrito em um formato mais compacto utilizado o formalismo de Bogoliubov-de Gennes (BdG) [3,5], que pode ser obtido fazendo-se uso das propriedades de anticomutação ([cα, c † α′ ]+ = cαc † α′ + c†α′cα = δαα′). 22 Sendo assim, façamos ∑ k εkc † kck = 1 2 ∑ k (εkc † kck + εkc † kck) = 1 2 ∑ k (εkc † kck + εk(1− ckc † k)) = 1 2 ∑ k (εkc † kck − ε−kc−kc † −k) + 1 2 ∑ k εk, (2.19) ∑ k e−ikac−kck = 1 2 ∑ k (e−ikac−kck + e−ikac−kck) = 1 2 ∑ k (e−ikac−kck − e−ikackc−k) = 1 2 ∑ k (e−ikac−kck − eikac−kck) = 1 2 ∑ k c−kck(e −ika − eika) = − ∑ k i sin(ka)c−kck (2.20) e ∑ k eikac†kc † −k = 1 2 ∑ k (eikac†kc † −k + eikac†kc † −k) = 1 2 ∑ k (eikac†kc † −k − eikac†−kc † k) = 1 2 ∑ k (eikac†kc † −k − e−ikac†kc † −k) = ∑ k i sin(ka)c†kc † −k. (2.21) Assim, o Hamiltoniano assume a forma: H = 1 2 ∑ k (εkc † kck − ε−kc−kc † −k)− ∆ 2 ∑ k i sin(ka)c−kck + ∆ 2 ∑ k i sin(ka)c†kc † −k + 1 2 ∑ k εk = 1 2 ∑ k (εkc † kck − ε−kc−kc † −k) + 1 2 ∑ k ∆kc−kck + 1 2 ∑ k ∆∗ kc † kc † −k + 1 2 ∑ k εk = 1 2 ∑ k (εkc † kck − ε−kc−kc † −k +∆kc−kck +∆∗ kc † kc † −k) + 1 2 ∑ k εk, (2.22) 23 em que ∆k = −i∆sin(ka) é a energia renormalizada que descreve o emparelhamento super- condutor oriunda da transformada de Fourier. De maneira equivalente, a Eq. (2.22) pode ser descrita no formalismo matricial (omitindo o termo constante), H = 1 2 ∑ k ( c†k c−k )   εk ∆∗ k ∆k −ε−k     ck c†−k   . (2.23) Em sistemas supercondutores, é natural definirmos os espinores de Nambu Ψ† k = ( c†k c−k ) e Ψk =   ck c†−k   [16]. Dessa maneira podemos escrever H = 1 2 ∑ k ψ† kHBdGψk, (2.24) sendo que HBdG =   εk ∆∗ k ∆k −ε−k   (2.25) é o Hamiltoniano BdG. Os ńıveis de energia Ek são essenciais, já que almejamos analisar as propriedades do Bulk, e são dados pela solução da equação |HBdG − E(k)I| = 0, (2.26) em que I é a matriz identidade 2 × 2 e E(k) são as autoenergias associadas ao Hamiltoniano BdG. A solução da expressão gera duas bandas de dispersão [5] E(k)± = ± √ ε2k + |∆k|2 = ± √ (µ+ t cos(ka))2 +∆2 sin2(ka), (2.27) em que os ńıveis positivos e negativos de energia correspondem os estados de part́ıcula e buraco, respectivamente. A Figura 2.4 mostra a dispersão na energia Ek para as quasipart́ıculas supercondutoras (linhas cont́ınuas azuis), com ∆ = t/2, e a dispersão para os elétrons sem influência da su- percondutividade ϵk (linhas tracejadas vermelhas), quando ∆ = 0, para diferentes valores de 24 E /t E /t E /t k k a) b) c) d) e) f) Figura 2.4: Dispersão na energia para as quasipart́ıculas supercondutoras Ek com ∆ = t/2 (linhas cont́ınuas azuis) e dispersão para os elétrons na ausência da influência supercondutora ϵk com ∆ = 0 (linhas vermelhas tracejadas), obtidas a partir da Eq. (2.27) para o modelo de Kitaev considerando diferentes valores de potencial qúımico µ. A dispersão de Ek e ϵk apresentam gap quando µ < −t (a) e também para µ > t (f), gap esse que se fecha nos pontos k = 0 quando µ = −t e k = ±π para µ = t, painéis (b) e (e), respectivamente. Porém, quando |µ| < t a dispersão para ϵk apresenta uma caráter metálico enquanto tem-se a reabertura do gap para a dispersão Ek [5]. 25 potencial qúımico µ, considerando o parâmetro de rede a = 1 e a amplitude de hopping t = 1. O painel (a) da Fig. 2.4 apresenta tanto ϵk quanto Ek, ambos com perfis semelhantes, exibindo gap para µ < −t. A mesma semelhança se faz presente quando µ > t [Fig. 2.4(f)], em que am- bas as dispersões, ϵk e Ek, novamente apresentam gap. Sendo assim, o sistema será dotado de gap quando |µ| > t. De acordo com a Eq. (2.27), o sistema terá seu gap fechado quando os dois termos da raiz forem simultaneamente iguais a zero, sendo assim, quando |∆k| = ∆sin(ka) = 0 e isso acontece para k = 0 e k = ±π, já o termo de energia cinética ϵk = −µ− t cos(ka) é zero quando k coincide com o momento de Fermi kF , ϵk(kF ) = 0, então −µ − t cos(kFa) = 0 [5]. Dessa forma, o gap para ambas as dispersões ϵk (linhas vermelhas) e Ek (linhas azuis) se fecha com k = 0,±π, quando µ = −t e para µ = t, como mostram os painéis Fig. 2.4(b) e (e), respectivamente. Para o regime em que |µ| < t, apresentado em Fig. 2.4(c) e (d), ambas as dispersões eletrônica e supercondutora se comportam de forma diferente. Nesse intervalo a dispersão eletrônica ϵk não possui gap, exibindo assim um comportamento metálico, cujo momento de Fermi kF pode ser extráıdo a partir da relação t cos(kFa) = −µ [5]. Por outro lado, a dispersão das quasipart́ıculas supercondutoras Ek é definida por um gap finito. No que tange a dispersão associada à Ek, o valor µ = ±t separa dois regimes qualitativa- mente distintos, sendo o primeiro relativo ao chamado regime de emparelhamento forte, quando |µ| > t, e o segundo ao regime de emparelhamento fraco, para |µ| < t. É importante desta- car que a transição de um regime para o outro envolve necessariamente o fechamento do gap (quando µ = ±t) e que é essa transição que atribui ao sistema caracteŕısticas topológicas, em que os MBSs não locais emergem como modos de energia zero no regime de emparelhamento fraco [1, 3, 5]. 2.3 Detecção experimental de férmions de Majorana Esta seção terá como objetivo apresentar um pouco do avanço experimental no que concerne a detecção de férmions de Majorana. Daremos mais ênfase a experimentos associados a nanofios e modelos análogos ao sistema proposto por Kitaev, discutido na seção 2.1, pois estes estão mais diretamente relacionados aos trabalhos desenvolvidos ao longo de meu doutorado e ao escopo desta tese. A primeira afirmação da observação experimental de férmions de Majorana foi realizado 26 Figura 2.5: Painel da esquerda: Imagem de microscópio eletrônico de varredura do dispo- sitivo utilizado por Mourik et. al. [15] em que um nanofio semicondutor de InSb (Indium antimonide - Antimoneto de ı́ndio) está em contato com um eletrodo metálico-normal (N) e supercondutor (S). Um campo magnético B é aplicado paralelamente ao nanofio. Painel da direita: Condutância diferencial para múltiplos valores de B, as medidas foram efetuadas a uma temperatura de 50 mK. Um pico em V = 0 emerge para B entre ∼ 100 e ∼ 400mT, correspondendo a uma amplitude de G ∼ 0.05G0. Adaptado da Ref. [15]. em 2012 por Mourik et.al. [15]. O dispositivo utilizado pelos pesquisadores é apresentado pelo lado esquerdo da Fig. 2.5 em que um nanofio semicondutor de InSb (Indium antimonide - Antimoneto de ı́ndio) com forte SOC é colocado entre dois eletrodos, um metálico-normal (N) e um supercondutor (S), sob a ação de um campo magnético (B) paralelo ao nanofio. O painel direito da Fig. 2.5 fornece a condutância diferencial dI/dV (2e2/h), em unidades do quantum de condutância G0 = 2e2/h. Para um valor de B = 0, tem-se a emergência de dois picos em V = ±250µeV (indicados pelas setas verdes) denotando as bordas do gap supercondutor induzido no nanofio de InSb em função do efeito de proximidade com o eletrodo S. Quando o valor de B aplicado se encontra entre ∼ 100 e ∼ 400 mT um pico em V = 0 pode ser observado nos perfis de condutância, o que poderia sugerir a emergência de um MBS no nanofio. Vale destacar que outras realizações experimentais, como nas Refs. [17–20], detectaram assinaturas semelhantes. Os resultados obtidos, embora promissores, não são congruentes com a assinatura de con- dutância esperada em experimentos envolvendo MFs. A amplitude obtida pelos pesquisado- res no experimento foi G ∼ 0.05G0, que é muito menor em relação a previsão teórica de G0 = 2e2/h [15]. Apesar de promissora, essa assinatura em energia zero não é uma evidência definitiva da detecção de um MBS, uma vez que outros fenômenos podem dar origem a assinatu- ras próximas ou em zero imitando os MBSs, como é o caso de desordem [21], efeito Kondo [22], estados de Andreev [23–26]. 27 Uma segunda geração de experimentos envolveu a fabricação de sistemas h́ıbridos [27, 28], com o crescimento epitaxial do supercondutor Al (alumı́nio) sobre a matriz do nanofio semi- condutor de InAs (arseneto de ı́ndio), como apresentado pela Fig. 2.6(a), adaptada a partir da Ref. [27] de 2018. (a) (d)(c) (b) Figura 2.6: (a) Micrografia em cores falsas do dispositivo com um ponto quântico descrito pela circunferência tracejada. (b) o espectro do sistema em função da voltagem do ponto quântico Vdot para superposição finita entre os MBSs e (c) para o caso ideal, em que ambos os MBSs se encontram isolados nas bordas do nanofio. (d) condutância diferencial considerando um campo magnético B = 1 T que apresenta concordância com a predição estabelecida pelo painel (b). Adaptado a partir da Ref. [27]. O experimento Fig. 2.6(a) também considerou um ponto quântico (do inglês, QD: Quantum dot) nativo (descrito pela circunferência tracejada em branco) na borda do nanofio semicondutor com a finalidade de se obter caracteŕısticas detalhadas de transporte quântico em um sistema contendo MBSs. Os painéis (b) e (c) apresentam os perfis espectrais em função da voltagem do QD para a condição em que há uma superposição finita e para o caso em que ambos os MBSs estão perfeitamente separados nas bordas do nanofio, respectivamente. Na Fig. 2.6(d) tem-se a assinatura experimental obtida da condutância diferencial para B = 1 T, em que pode-se notar uma significativa concordância com a predição estabelecida pelo painel (b), havendo assim uma superposição finita entre os MBSs no nanofio. No artigo experimental Quantized Majorana conductance [29], também publicado em 2018 (porém retratado), os autores afirmavam ter detectado um platô quantizado na condutância G = 2e2/h em voltagem zero, o que seria a assinatura ideal de MBSs. O arranjo experimental 28 é apresentado na Fig. 2.7(a), em que se tem um sistema h́ıbrido, composto por um nanofio semicondutor de InSb parcialmente coberto com uma fina casca supercondutora de Al. Figura 2.7: (Artigo retratado) (a) Micrografia em cores falsas do aparato experimental no painel superior e seu esquema no painel inferior. (b) Condutância diferencial dI/dV em função da voltagem V e do campo magnético B, apresentando a coalescência de dois estados ligados de Andreev (ABSs) em um pico de voltagem zero (ZBP) quantizado com o aumento do valores de B, o painel inferior (com ćırculos vermelhos) apresenta um corte, do painel superior, para a V = 0. Adaptado de [29]. A Figura 2.7(b) apresenta a condutância diferencial dI/dV , em unidades do quantum 2e2/h, em função da voltagem V e do campo magnético B. É posśıvel identificar que os dois estados ligados de Andreev (do inglês, ABS: Andreev bound state), inicialmente em V ∼ ±0.2 meV para B = 0, se fundem com o aumento de B, dando origem a um pico de voltagem zero (do inglês, ZBP: zero-bias peak) robusto. Essa robustez do ZBP é consistente com a assinatura teórica esperada para Majoranas. O painel inferior (com ćırculos vermelhos) mostra que tal robusteza se faz presente quandoB ∼ 0.74−0.92 T, para V = 0 meV, cuja altura alcança o valor quantizado 2e2/h. Porém, para a infelicidade da comunidade cient́ıfica, o artigo foi retratado em 2021, pois varias inconsistências foram encontradas por Sergey Frolov e Vincent Mourik entre os dados “crus”obtidos a partir dos experimentos e os valores apresentados no artigo publicado, como destacado na nota de retratação [30]. Em tal nota, os autores evidenciam que a altura do platô, após a revisão, sofreu uma alteração de 8%, acima do valor G = 2e2/h, não mais apresentando a assinatura ideal almejada em experimentos de detecção de MFs [29,30]. Uma outra proposta para se explorar experimentalmente sistemas que podem manifestar excitações de Majorana, mais precisamente, neste caso, os chamados poor man’s Majoranas, foi apresentada em 2023 pela Ref. [31], em que os autores exploraram o chamado modelo mı́nimo 29 de Kitaev. a) b) c) d) Figura 2.8: O modelo mı́nimo de Kitaev. (a) Representação de dois pontos quânticos (cir- cunferências tracejadas) que podem se acoplar diretamente, por meio de um termo do tipo hopping t, e via supercondutor com uma amplitude ∆, pela reflexão cruzada de Andreev (do inglês, CAR: Crossed Andreev reflection). (b) Diagrama de energia da cadeia mı́nima de Kitaev, representando a ajustabilidade dos potenciais qúımicos nos QDs, µLD e µRD. (c) Ilustração do dispositivo e do circuito para efetuar as medições. A representação dos QDs é explicitada pelos potenciais tracejados sobre o nanofio InSb. (d) Microscopia eletrônica de varredura em cores falsas do dispositivo antes da fabricação dos terminais metálicos normais, a cor verde está indicando o nanofio semicondutor, em azul a representação do supercondutor e os QDs são representados pelas circunferências tracejadas. Adaptado da Ref. [31]. Tais excitações foram inicialmente propostas por Flensberg (2012), Ref. [9], que as nomeou de poor man’s Majorana bound states, uma vez que esses estados não são topologicamente prote- gidos, porém compartilham caracteŕısticas de MBSs que podem emergir em sistemas de super- condutividade topológica. A Figura 2.8(a) apresenta um esquema do chamado modelo mı́nimo de Kitaev composto por um supercondutor convencional (retângulo azul) flanqueado por dois QDS (circunferências tracejadas). Os QDs trocam informação por um termo de hopping t e um termo oriundo do acoplamento supercondutor ∆. A Fig. 2.8(b) exibe uma representação do diagrama de energia do sistema em que o potencial qúımico de ambos os QDs, µLD e µRD, podem ser ajustados. O painel (c), da mesma figura, apresenta uma representação esquemática do dispositivo experimental, cuja microscopia eletrônica de varredura é destacada no painel (d), em que os QD novamente são descritos pelas circunferências tracejadas [31]. Uma caracteŕıstica relevante de tal sistema está associada a sua montagem discreta e 30 ajustável, experimentalmente falando, e a concordância entre experimento e teoria [31]. Isso se deve ao fato de o modelo mı́nimo de Kitaev excluir problemas mais amplos [31–36], como a de- sordem, que se fazem presentes em elaborações experimentais que buscam desenvolver nanofios de Kitaev topológicos e longos o suficiente para se isolar os MBSs em suas bordas. a) b) Figura 2.9: Condutância diferencial para t = ∆ dada em função da voltagem e da variação da energia do QD da direita VRD. (a) e (b) dizem respeito a assinatura experimental obtida e a prevista pela teoria, respectivamente. Os perfis verticais ressonantes em voltagem zero para GLL e GRR destacam a robustez dos poor man’s Majoranas contra perturbações locais. Adaptado da Ref. [31]. A Fig. 2.9 mostra a coerência entre os resultados experimentais obtidos para a condutância diferencial em unidades do quantum 2e2/h [painel (a)] e a análise teórica dessa mesma quanti- dade [painel (b)]. Os autores chamam atenção para as assinaturas verticais em voltagem zero que aparecem tanto para GLL quanto na GRR, sendo as assinaturas para o QD da esquerda (left) e direita (right), respectivamente, destacando que tais perfis persistem mesmo quando o poten- cial de um dos QDs se afasta de zero. Essa observação experimental é de grade importância e destaca a robustez dos nomeados poor man’s Majoranas contra perturbações locais [9, 31]. 31 Caṕıtulo 3 Formalismo matemático Neste caṕıtulo apresentaremos o formalismo matemático necessário para obtenção da chama densidade de estados (do inglês, DOS: Density of states) que pode ser extráıda a partir da expressão DOS = − 1 π Im[GR Ψ;Ψ†(ω)] = − 1 π Im[⟨⟨Ψ;Ψ†⟩⟩]. (3.1) A partir dessa quantidade analisaremos o comportamento eletrônico dos sistemas estudados e, vale destacar também que, a DOS é proporcional a condutância diferencial, DOS ∝ dI/dV . Para obtermos a Eq. (3.1) estudaremos modelos análogos ao de Anderson, utilizando o for- malismo das funções de Green, cuja evolução temporal de seus operadores será efetuada por meio da técnica da equação de movimento (do inglês, EOM: Equation of motion) [16], como apresentaremos a seguir. 32 3.1 Modelo de Anderson de uma Impureza Figura 3.1: Philip Warren Anderson (1923 - 2020) foi um f́ısico estaduni- dense e recebeu o premio Nobel de F́ısica em 1977. Fonte: nobelprize.org O conhecido e bem estabelecido modelo de Ander- son foi desenvolvido em 1961 por Philip Warren An- derson. Esse é um dos primeiros modelos na matéria condensada a considerar sistemas f́ısicos com correlação de muitos corpos. O modelo de Anderson de uma im- pureza (do inglês, SIAM: Single Impurity Anderson Model) está esquematizado na Fig. 3.2. Esse modelo estuda a forma com que uma impureza magnética in- terage com uma matriz metálica (não magnética), ou seja, a maneira com que é estabelecida a formação de momentos magnéticos em matrizes metálicas devido a sua dopagem por impurezas com momentos magnéticos bem definidos [16,37]. A Fig. 3.2 é uma representação esquemática do mo- delo de Anderson de uma única impureza, cujo Hamil- toniano pode ser escrito como [37]: HSIAM = Hhost +Himp +Hhib, (3.2) em que o primeiro termo representa o hospedeiro metálico, o gás de elétrons não interagente, e é dado por Hhost = ∑ σk εσkc † σkcσk, (3.3) sendo c†σk(cσk) o operador de criação (aniquilação) de elétrons com spin σ e número de onda k para uma dada energia εσk. O termo da impureza é Himp = ∑ σ ϵdσndσ + Und↑nd↓, (3.4) em que ndσ = d†σdσ é o operador número para elétrons com spin σ e energia ϵdσ, descrevendo uma impureza de um único ńıvel. A amplitude U está associada a correlação entre os elétrons 33 https://www.nobelprize.org/prizes/physics/1977/anderson/facts/ da impureza com spins contrários, nd↑ e nd↓ são os operadores número para os spins up e down, respectivamente. V Figura 3.2: Representação es- quemática do modelo de Anderson com uma impureza magnética sob um hospedeiro metálico. A intensidade da hibridização impureza-hospedeiro é determinada pelo parâmetro V . Havendo uma superposição/hibridização dos esta- dos da impureza e do hospedeiro, esses dois sistemas po- dem trocar elétrons e essa troca é descrita pelo último termo da Eq. (3.2), Hhib = ∑ σk V (d†σcσk +H.c.), (3.5) com amplitude de hibridização dada por V . Apesar de sua simplicidade, o modelo de Anderson é empregado para descrever uma ampla variedade de sistemas cor- relacionados na F́ısica da Matéria Condensada. Esse modelo é fundamental, pois empregamos uma versão análoga no desenvolvimento do trabalho que apresentaremos nos próximos caṕıtulos. 3.2 Funções de Green O formalismo de funções de Green (do inglês, GFs: Green’s functions), desenvolvido por George Green (1793 - 1842), é amplamente utilizado no estudo de equações diferenciais or- dinárias e parciais em muitos ramos da Matemática e F́ısica. Na Mecânica Quântica, as GFs podem ser empregadas como ferramentas para se resolver equações de Schrödinger, obtendo os autovalores de um determinado Hamiltoniano sob ação de um potencial externo [16]. As GFs são também conhecidas como propagadores, uma vez que associam a evolução temporal de um operador relacionado a uma dada posição e tempo iniciais para outros valores de tempo e espaço [16, 38]. No campo da F́ısica de Muitos Corpos as GFs possibilitam o estudo do espalhamento de part́ıculas, sistemas fora do equiĺıbrio, Mecânica Estat́ıstica, entre outros. Nos estudos que apresentaremos mais adiante, as GFs desempenharão um papel fundamental, pois, por serem funções de correlação, elas permitem a obtenção de quantidades como a densidade de estados que está no cerne de nossos resultados. Existem diversos tipos de GFs, porém faremos uso 34 apenas da função de Green retardada no equiĺıbrio [16,38], que pode ser escrita na forma GR σ (r, t; r’, t ′) = − i ℏ θ(t− t′)Z−1 e ∑ n e−βEn⟨n|[Ψσ(r, t),Ψ † σ(r’, t ′)]+|n⟩, (3.6) em que θ(t − t′) é a função degrau (ou Heaviside); Z = Tr{e−βH} é a função de partição do sistema, sendo que Tr simboliza o traço e β = 1/(kBT ) com a constante de Boltzmann kB, H é o Hamiltoniano do sistema em estudo. ⟨...⟩ descreve a média térmica sobre a operação de anticomutação [..., ...]+ (também descrita por {..., ...}) dos operadores Ψ† σ(r’, t ′) e Ψσ(r, t), que representam, respectivamente, a criação de uma part́ıcula com spin σ na posição r’ no instante t′ seguida de sua destruição em um ponto diferente de espaço r e tempo t. Nesse ponto, podemos evidenciar a caracteŕıstica de propagador da função de Green, descrita por meio da evolução temporal dos operadores [38]. A função de Green expressa pela Eq. (3.6) pertence ao domı́nio do tempo, ou seja, é função de t e t′, porém a DOS, apresentada no ińıcio deste caṕıtulo, é obtida a partir da uma GF no domı́nio da energia [Eq. (3.1) - note que não há dependência espacial, pois a DOS é obtida localmente]. Sendo assim, a transformada de Fourier para transitar do domı́nio do tempo para o da energia torna-se fundamental e tal procedimento será abordado por meio da técnica da equação de movimento (EOM). 3.3 Equação de Movimento Nesta seção abordaremos a técnica da EOM a partir da qual estudaremos a evolução tem- poral dos operadores e consequentemente a dinâmica das GFs [38]. Consideremos então, para fins de exemplificação, uma função de Green retardada, como a apresentada na Seção 3.2. Por simplicidade a dependência espacial r’ será omitida e vamos considerar t′ = 0. Dessa forma, temos a GF GR ηiηj (t, 0) = − i ℏ θ (t− 0)Z−1 e ∑ n e−βEn 〈 n ∣∣∣∣ [ ηi (t) , η † j (0) ] + ∣∣∣∣n 〉 . (3.7) 35 Façamos a derivada da função GR com respeito ao tempo t, ∂ ∂t GR ηiηj (t, 0) = − i ℏ [ ∂ ∂t θ (t− 0) ] Z−1 e ∑ n e−βEn 〈 n ∣∣∣∣ [ ηi (t) , η † j (0) ] + ∣∣∣∣n 〉 − i ℏ θ (t− 0)Z−1 e ∑ n e−βEn 〈 n ∣∣∣∣ [( ∂ ∂t ηi (t) ) , η†j (0) ] + ∣∣∣∣n 〉 , (3.8) lembrando que derivada da função degrau corresponde a uma função delta de Dirac, ∂ ∂t θ(t−0) = δ (t− 0). Para estudarmos a evolução temporal do operador ηi (t) façamos uso da equação de Heisenberg, descrita por iℏ ∂ ∂t ηi (t) = [ηi,H] ∂ ∂t ηi (t) = − i ℏ [ηi,H] . (3.9) Sendo assim, a Eq. (3.8) torna-se ∂ ∂t GR ηiηj (t, 0) = − i ℏ δ (t− 0)Z−1 e ∑ n e−βEn 〈 n ∣∣∣∣ [ ηi (t) , η † j (0) ] + ∣∣∣∣n 〉 − i ℏ θ (t− 0)Z−1 e ∑ n e−βEn 〈 n ∣∣∣∣ [ − i ℏ [ηi,H] , η†j (0) ] + ∣∣∣∣n 〉 = − i ℏ δ (t− 0)Z−1 e ∑ n e−βEn 〈 n ∣∣∣∣ [ ηi (t) , η † j (0) ] + ∣∣∣∣n 〉 − ( − i ℏ ) i ℏ θ (t− 0)Z−1 e ∑ n e−βEn 〈 n ∣∣∣∣ [ [ηi,H] , η†j (0) ] + ∣∣∣∣n 〉 , (3.10) podemos reescrever, reconhecendo a GF descrita pelo último termo GR [ηi,H]ηj (t, 0) = − i ℏ θ (t− 0)Z−1 e ∑ n e−βEn 〈 n ∣∣∣∣ [ [ηi,H] , η†j (0) ] + ∣∣∣∣n 〉 , (3.11) dessa forma ∂ ∂t GR ηiηj (t, 0) = − i ℏ δ (t− 0)Z−1 e ∑ n e−βEn 〈 n ∣∣∣∣ [ ηi (t) , η † j (0) ] + ∣∣∣∣n 〉 − i ℏ GR [ηi,H]ηj (t, 0) . (3.12) Vamos aplicar agora a transformada de Fourier para levar a GF do domı́nio do tempo para 36 o da energia. Tal transformada é descrita por G̃R ΨiΨj ( ω+ ) = ∫ +∞ −∞ dtGR ΨiΨj (t) e i ℏω +t, (3.13) na qual a frequência espectral ω+ → (ω + iη+), sendo que η+ → 0+ é fundamental para que a expressão convirja nos limites. Multipliquemos agora a Eq. (3.12) por e i ℏω +t e integremos no intervalo de −∞ à +∞ ∫ +∞ −∞ dt ∂ ∂t GR ηiηj (t, 0) e i ℏω +t = − i ℏ ∫ +∞ −∞ dtδ (t− 0)Z−1 e ∑ n e−βEn 〈 n ∣∣∣∣ [ ηi (t) , η † j (0) ] + ∣∣∣∣n 〉 e i ℏω +t + ( − i ℏ )∫ +∞ −∞ dtGR [ηi,H]ηj (t, 0) e i ℏω +t. (3.14) Vamos utilizar o método da integração por partes, considerando u = e i ℏω +t implicando em du = i ℏω +e i ℏω +tdt e considerando dv = ∂ ∂t GR ηiηj (t, 0) dt, o que resulta em v = GR ηiηj (t, 0). Assim, pelo método de integração por partes ∫ b a udv = [uv]ba − ∫ b a vdu, temos ∫ +∞ −∞ dt ∂ ∂t GR ηiηj (t, 0) e i ℏω +t = [ e i ℏω +tGR ηiηj (t, 0) ]+∞ −∞ − ∫ +∞ −∞ GR ηiηj (t, 0) i ℏ ω+e i ℏω +tdt = [ e i ℏω +(+∞)GR ηiηj (+∞)− e i ℏω +(−∞)GR ηiηj (−∞) ] + ( − i ℏ ) ω+ ∫ +∞ −∞ GR ηiηj (t, 0) e i ℏω +tdt = [ e i ℏ (ω+iη)(+∞)GR ηiηj (+∞)− e i ℏ (ω+iη)(−∞)GR ηiηj (−∞) ] + ( − i ℏ ) ω+ ∫ +∞ −∞ GR ηiηj (t, 0) e i ℏω +tdt = − i ℏ ω+ ∫ +∞ −∞ GR ηiηj (t, 0) e i ℏω +tdt. (3.15) Por meio da Eq. (3.13), o resultado para a esquerda da Eq. (3.14) fica como ∫ +∞ −∞ dt ∂ ∂t GR ηiηj (t, 0) e i ℏω +t = − i ℏ ω+G̃R ηiηj ( ω+ ) . (3.16) Dessa forma, tendo a Eq. (3.16) e utilizando a propriedade da delta de Dirac ∫ +∞ −∞ δ (t− t0) f (t) dt = f (t0), a Eq. (3.14) assume a forma ω+G̃R ηiηj ( ω+ ) = ⟨[ηi (0) , η†j (0)]+⟩+ G̃R [ηi,H]ηj ( ω+ ) . (3.17) 37 De forma resumida, a EOM pode gerar um série de novas funções de Green. Como vimos, o cálculo da função G̃R ηiηj (ω) gera uma nova GF G̃R [ηi,H]ηj (ω) que ao ser calculada dará origem a novas GFs. Em alguns casos, o número de equações que surgirão a partir de uma única GF tende a ser infinito, isso se dá tipicamente quando o Hamiltoniano possui termos de ordem superior a dois, ou seja, não é quadrático. Em tais casos a utilização de aproximações, como a aproximação de Hubbard I [39], se faz necessária a fim de tornar o sistema solúvel, porém cuidados devem ser tomados para que nenhuma informação f́ısica relevante seja perdida no processo. A Eq. (3.17) também pode ser escrita na chamada notação de Zubarev [40], assumindo a forma ω+⟨⟨ηi; η†j⟩⟩ = ⟨[ηi, η†j ]+⟩+ ⟨⟨[ηi,H]; η†j⟩⟩. (3.18) Sendo essa uma notação mais compacta, optamos por sua utilização no desenvolvimento cálculos que apresentaremos no Caṕıtulo 4. Uma caracteŕıstica interessante que pode ser notada pelas Eqs. (3.17) e (3.18) é que a dinâmica das funções de Green é estabelecida pelo Hamiltoniano do sistema. 38 Caṕıtulo 4 Modelo estudado Neste caṕıtulo apresentaremos o desenvolvimento anaĺıtico para a obtenção das funções de Green relacionadas ao sistema apresentado pela Fig. 4.1. Spin polarized tip Spin-texture s-wave superconductor Fe wire Quantum Impurity a) S Metallic Surface λ1 γMIQ Source b) J Γ Γ Drain Sz sz λ2 γ1 γ2 εM λ1 λ2 γA γB |λ1|~|λ2| ABS regime d) γ1 γ2 εM c) λ1 λ2=0γMIQ e) fΔ t εM J(S/2) -J(S/2) Figura 4.1: (a) Representação esquemática do dispositivo proposto, composto por uma cadeia de átomos depositados sob uma matriz supercondutora do tipo s-wave capaz de induzir, por efeito de proximidade, a supercondutividade do tipo p-wave na cadeia. Uma das bordas do nanofio (cadeia de átomos) se acopla a uma impureza quântica (QI) que é lateralmente flan- queada por dois terminais metálicos e que também acopla-se a uma ponta spin-polarizada. (b) Visão lateralizada do sistema apresentado no painel (a), evidenciando o acoplamento da QI à ponta spin-polarizada, dado pela interação de troca do tipo Ising J , e aos terminais metálicos, dados por Γ. (c) Modelo efetivo do nanofio contendo MZMs nas bordas (nanofio de Kitaev) que podem se superpor com uma amplitude εM e em que apenas γ1 se acopla a QI por λ1. (d) Modelo efetivo para o regime de estados ligados de Andreev obtido quando |λ1| ∼ |λ2|. (e) Descritos na base fermiônica os MZMs, γ1 e γ2, se comportam como um férmion não local f , cujo o ńıvel de energia é descrito por εM . O ńıvel de energia da QI é divido em 2S + 1 ńıveis que vão de −J(S/2) até +J(S/2), já o hopping t e emparelhamento supercondutor ∆ são responsáveis pela troca de informação entre o śıtio f e a QI [10]. 39 4.1 Hamiltoniano O Hamiltoniano, análogo ao modelo de Anderson [37], associado ao sistema apresentado pela Fig. 4.1 é escrito da seguindo maneira: H = ∑ αkσ εαkc † αkσcαkσ + ∑ σ εσd † σdσ + V ∑ αkσ ( c†αkσdσ +H.c. ) + JszSz + HMZM , (4.1) em que o operador c†αkσ(cαkσ) descreve a criação (aniquilação) de um elétron com momento k, spin σ e energia εαk no terminal metálico α = [source, drain]. O operador d†σ(dσ) está associado aos elétrons no śıtio da impureza quântica (QI), cuja energia εσ é descrita por spin. V descreve a amplitude de acoplamento entre a QI e os terminais metálicos, enquanto que interação da QI à ponta spin-polarizada é dada por um termo de troca do tipo Ising J . O termo do Hamiltoniano, Eq. (4.1), envolvendo a interação J possúı as componentes sz e Sz, sendo a primeira referente à QI, com s = 1/2, e a segunda está associada a descrição da ponta spin-polarizada. Esse termo pode ser escrito considerando sz = 1 2 ∑ σ σnσ, sendo nσ = d†σdσ, e Sz = ∑ mmY mm = ∑ mm|m⟩⟨m| com m = [−S,−S +1, ..., S − 1, S]. Dessa forma, cada canal de spin na QI adquire uma estrutura de multińıvel, cujo número de ńıveis é dado por 2S + 1. O último termo da equação Eq. (4.1) está associado à emergência dos MZMs e é escrito como HMZM = iεMγ1γ2 + λ1 ( d↑ − d†↑ ) γ1 + λ2 ( d↑ + d†↑ ) γ2, (4.2) sendo εM o parâmetro de superposição entre os MZMs isolados nas bordas do nanofio, γ1 e γ2. Os parâmetros λ1 e λ2 acoplam o canal de spin up da QI aos MZMs γ1 e γ2, respectivamente. Note que o canal de spin down está desacoplado do nanofio de Majorana. Por fins de simplicidade, no desenvolvimentos dos cálculos faremos uso das relações que associam um MZM à uma combinação linear de part́ıcula e buraco, como discutido no Caṕıtulo 2. Sendo assim, vamos considerar γ1 = 1√ 2 (f †+f) e γ2 = i√ 2 (f †−f). Consideremos também as parametrizações λ1 = (∆ + t)/ √ 2 e λ2 = i(∆− t)/ √ 2. Com esses termos, a Eq. (4.2) assume a forma HMZM = εM(f †f − 1 2 ) + td↑f † + tfd†↑ +∆f †d†↑ +∆d↑f, (4.3) 40 em que os MZMs dão origem a um férmion regular não local f , cujo ńıvel de energia e dado por εM , t descreve o hopping e ∆ representa a energia de formação do par de Copper, originando um sistema análogo ao apresentado pelas Refs. [9] e [31], o que possibilita o aparecimento dos poor man’s Majoranas. Dessa forma, a Eq. (4.1) pode ser reescrita como H = ∑ αkσ εαkc † αkσcαkσ + ∑ σ εσd † σdσ + V ∑ αkσ ( c†αkσdσ +H.c. ) + J 2 ∑ m mn↑Y mm − J 2 ∑ m mn↓Y mm + εM(f †f − 1 2 ) + (td↑f † +∆d↑f +H.c.). (4.4) Tendo a Eq. (4.4), podemos definir as densidades de estados do sistema performando a EOM sobre as funções de Green [16,38], como discutiremos na próxima seção. 4.2 Densidade de estados da QI Podemos expressar a funções de Green da QI da seguinte maneira G̃R dσdσ (ω) = ⟨⟨dσ; d†σ⟩⟩ e devido a presença da ponta spin-polarizada temos ⟨⟨dσ; d†σ⟩⟩ = ∑ m⟨⟨dσY mm; d†σ⟩⟩, com Y mm = |m⟩⟨m|. Como apresentamos na Seção 3.3, utilizaremos a notação simplificada de Zubarev [Eq. (3.18)]. Dessa forma, ω+⟨⟨dσY mm; d†σ⟩⟩ = ⟨ [ dσY mm, d†σ ] + ⟩+ ⟨⟨[dσY mm,H] ; d†σ⟩⟩, (4.5) sendo o anticomutador ⟨ [ dσY mm, d†σ ] + ⟩ = ⟨Y mm⟩ e o comutador [dσY mm,H] = [ dσY mm, ∑ αkσ′ εαkc † αkσ′cαkσ′ ] + [ dσY mm, V ∑ αkσ′ ( c†αkσ′dσ′ + d†σ′cαkσ′ )] + [dσY mm, (ε↑n↑ + ε↓n↓)] + [ dσY mm, J 2 ∑ m′ m′n↑Y m′m′ ] + [ dσY mm, ( −J 2 ∑ m′ m′n↓Y m′m′ )] + [dσY mm,HMZM ] . 41 Desenvolvendo as operações de comutação separadamente, obtemos [ dσY mm, ∑ kασ′ εkαc † kασ′ckασ′ ] = ∑ kασ′ εkα [ dσY mm, c†kασ′ckασ′ ] = ∑ kασ′ εkα ( dσY mmc†kασ′ckασ′ − c†kασ′ckασ′dσY mm ) = ∑ kασ′ εkα ( −c†kασ′dσckασ′Y mm − c†kασ′ckασ′dσY mm ) = ∑ kασ′ εkα ( c†kασ′ckασ′dσY mm − c†kασ′ckασ′dσY mm ) = 0. (4.6) Para o comutador que relaciona dσ e o termo associado à hibridização V [ dσY mm, V ∑ αkσ′ ( c†αkσ′dσ′ + d†σ′cαkσ′ )] = V ∑ kσ′ [ dσY mm, ( c†αkσ′dσ′ + d†σ′cαkσ′ )] = V ∑ α kσ′ [( dσY mmc†αkσ′dσ′ − c†αkσ′dσ′dσY mm ) + ( dσY mmd†σ′cαkσ′ − d†σ′cαkσ′dσY mm )] = V ∑ αkσ′ [( dσc † αkσ′dσ′Y mm − c†αkσ′dσ′dσY mm ) + ( dσd † σ′cαkσ′Y mm − d†σ′cαkσ′dσY mm )] = V ∑ αkσ′ [( c†αkσ′dσ′dσY mm − c†αkσ′dσ′dσY mm ) + (( δσσ′ − d†σ′dσ ) cαkσ′Y mm − d†σ′cαkσ′dσY mm )] = V ∑ αkσ′ ( δσσ′cαkσ′Y mm − d†σ′dσcαkσ′Y mm − d†σ′cαkσ′dσY mm ) = V ∑ αkσ′ ( δσσ′cαkσ′Y mm + d†σ′cαkσ′dσY mm − d†σ′cαkσ′dσY mm ) = V ∑ αk cαkσY mm. (4.7) Para a comutação com os termos associados aos canais de spin da QI. [dσY mm, (ε↑n↑ + ε↓n↓)] = [ dσY mm, ( ε↑d † ↑d↑ + ε↓d † ↓d↓ )] 42 = [ ε↑ ( dσY mmd†↑d↑ − d†↑d↑dσY mm ) + ε↓ ( dσY mmd†↓d↓ − d†↓d↓dσY mm )] = [ ε↑ ( dσd † ↑d↑Y mm − d†↑d↑dσY mm ) + ε↓ ( dσd † ↓d↓Y mm − d†↓d↓dσY mm )] = [ ε↑ (( δσ↑ − d†↑dσ ) d↑Y mm − d†↑d↑dσY mm ) + ε↓ (( δσ↓ − d†↓dσ ) d↓Y mm − d†↓d↓dσY mm )] = [ ε↑ ( δσ↑d↑Y mm − d†↑dσd↑Y mm − d†↑d↑dσY mm ) + ε↓ ( δσ↓d↓Y mm − d†↓dσd↓Y mm − d†↓d↓dσY mm )] = [ ε↑ ( δσ↑d↑Y mm + d†↑d↑dσY mm − d†↑d↑dσY mm ) + ε↓ ( δσ↓d↓Y mm + d†↓d↓dσY mm − d†↓d↓dσY mm )] = [ε↑d↑Y mmδσ↑ + ε↓d↓Y mmδσ↓] . (4.8) A comutação de dσ com o termo vinculado a interação de troca J , [ dσY mm, J 2 ∑ m′ m′n↑Y m′m′ ] = J 2 ∑ m′ m′ [ dσY mm, d†↑d↑Y m′m′ ] = J 2 ∑ m′ m′ ( dσY mmd†↑d↑Y m′m′ − d†↑d↑Y m′m′ dσY mm ) = J 2 ∑ m′ m′ ( dσd † ↑d↑ ( δmm′Y mm′ ) − d†↑d↑dσ ( δm′mY m′m )) = J 2 ∑ m′ m′ ( dσd † ↑d↑ ( δmm′Y mm′ ) − d†↑d↑dσ ( δm′mY mm′ )) = J 2 ∑ m′ m′ (( δσ↑ − d†↑dσ ) d↑ ( δmm′Y mm′ ) − d†↑d↑dσ ( δm′mY m′m )) = J 2 ∑ m′ m′ ( δσ↑d↑ ( δmm′Y mm′ ) − d†↑dσd↑ ( δmm′Y mm′ ) − d†↑d↑dσ ( δm′mY m′m )) = J 2 ∑ m′ m′ ( δσ↑d↑ ( δmm′Y mm′ ) + d†↑d↑dσ ( δmm′Y mm′ ) − d†↑d↑dσ ( δm′mY m′m )) = J 2 ( δσ↑d↑ (∑ m′ m′δmm′Y mm′ ) + d†↑d↑dσ (∑ m′ m′δmm′Y mm′ ) − d†↑d↑dσ (∑ m′ m′δm′mY m′m )) = J 2 ( δσ↑d↑mY mm + d†↑d↑dσ (mY mm)− d†↑d↑dσ (mY mm) ) = J 2 d↑mY mmδσ↑, (4.9) de maneira análoga obtemos [ dσY mm, ( −J 2 ∑ m′ m′n↓Y m′m′)] = −J 2 d↓mY mmδσ↓ 1. 1Podemos calcular os termos associados a ponta spin-polarizada por meio da regra do produto: Y abY cd = |a⟩⟨b||c⟩⟨d| = δbcY ad. 43 Agora, para os termos associados aos MZMs [dσY mm,HMZM ] = [ dσY mm, εMf †f ] + [ dσY mm, td↑f †]+ [ dσY mm,∆f †d†↑ ] + [ dσY mm, tfd†↑ ] + [dσY mm,∆d↑f ] , (4.10) temos: [ dσY mm, εMf †f ] = 0, [ dσY mm, td↑f †] = 0 e [dσY mm,∆d↑f ] = 0. Os comutadores diferentes de zero são [ dσY mm,∆f †d†↑ ] = ∆ ( dσY mmf †d†↑ − f †d†↑dσY mm ) = ∆ ( dσf †d†↑Y mm − f †d†↑dσY mm ) = ∆ ( −f †dσd † ↑Y mm − f †d†↑dσY mm ) = ∆ ( −f † ( δσ↑ − d†↑dσ ) Y mm − f †d†↑dσY mm ) = ∆ ( −f †Y mmδσ↑ + f †d†↑dσY mm − f †d†↑dσY mm ) = −∆f †Y mmδσ↑ (4.11) e [ dσY mm, tfd†↑ ] = t ( dσY mmfd†↑ − fd†↑dσY mm ) = t ( dσfd † ↑Y mm − fd†↑dσY mm ) = t ( −fdσd†↑Y mm − fd†↑dσY mm ) = t ( −f ( δσ↑ − d†↑dσ ) Y mm − fd†↑dσY mm ) = t ( −fY mmδσ↑ + fd†↑dσY mm − fd†↑dσY mm ) = −tfY mmδσ↑. (4.12) Com os comutadores calculados, a função de Green Eq. (4.5), é reescrita como ω+⟨⟨dσY mm; d†σ⟩⟩ = ⟨Y mm⟩+ V ∑ αk ⟨⟨cαkσY mm; d†σ⟩⟩+ ε↑δσ↑⟨⟨d↑Y mm; d†σ⟩⟩ + ε↓δσ↓⟨⟨d↓Y mm; d†σ⟩⟩+ Jm 2 δσ↑⟨⟨d↑Y mm; d†σ⟩⟩ − Jm 2 δσ↓⟨⟨d↓Y mm; d†σ⟩⟩ − ∆δσ↑⟨⟨f †Y mm; d†σ⟩⟩ − tδσ↑⟨⟨fY mm; d†σ⟩⟩. (4.13) A partir de agora vamos definir as funções de Green que associam a QI ao śıtio fermiônico não 44 local f composto pelos MZMs, ⟨⟨f †Y mm; d†σ⟩⟩ e ⟨⟨fY mm; d†σ⟩⟩, seguindo o mesmo procedimento. Temos então a função ω+⟨⟨f †Y mm; d†σ⟩⟩ = ���������:0 ⟨ [ f †Y mm, d†σ ] + ⟩+ ⟨⟨ [ f †Y mm,H ] ; d†σ⟩⟩ = ⟨⟨ [ f †Y mm,H ] ; d†σ⟩⟩, (4.14) calculemos agora os comutadores [ f †Y mm,H ] = ��������������:0[ f †Y mm, ∑ αkσ εαkc † αkσcαkσ ] + ������������������:0[ f †Y mm, V ∑ αkσ ( c†αkσdσ +H.c. )] + �������������:0[ f †Y mm, (ε↑n↑ + ε↓n↓) ] + ���������������:0[ f †Y mm, J 2 ∑ m′ m′n↑Y m′m′ ] + ����������������:0[ f †Y mm,−J 2 ∑ m′ m′n↓Y m′m′ ] + [ f †Y mm, εMf †f ] + ���������:0[ f †Y mm, td↑f †] + [ f †Y mm, tfd†↑ ] + ����������:0[ f †Y mm,∆f †d†↑ ] + [ f †Y mm,∆d↑f ] . (4.15) Temos então, [ f †Y mm, εMf †f ] = εM ( f †Y mmf †f − f †ff †Y mm ) = εM ( f †f †fY mm − f †ff †Y mm ) = εM ( −f †f †fY mm − f †ff †Y mm ) = εM ( −f † (1− ff †)Y mm − f †ff †Y mm ) = εM ( −f †Y mm + f †ff †Y mm − f †ff †Y mm ) = −εMf †Y mm, (4.16) 45 [ f †Y mm, tfd†↑ ] = t ( f †Y mmfd†↑ − fd†↑f †Y mm ) = t ( f †fd†↑Y mm − fd†↑f †Y mm ) = t (( 1− ff †) d†↑Y mm − fd†↑f †Y mm ) = t ( d†↑Y mm − ff †d†↑Y mm − fd†↑f †Y mm ) = t ( d†↑Y mm + fd†↑f †Y mm − fd†↑f †Y mm ) = td†↑Y mm (4.17) e [ f †Y mm,∆d↑f ] = ∆ ( f †Y mmd↑f − d↑ff †Y mm ) = ∆ ( f †d↑fY mm − d↑ff †Y mm ) = ∆ ( −d↑f †fY mm − d↑ff †Y mm ) = ∆ ( −d↑ ( 1− ff †)Y mm − d↑ff †Y mm ) = ∆ ( −d↑Y mm + d↑ff †Y mm − d↑ff †Y mm ) = −∆d↑Y mm. (4.18) A função de Green, Eq. (4.14), torna-se ( ω+ + εM ) ⟨⟨f †Y mm; d†σ⟩⟩ = t⟨⟨d†↑Y mm; d†σ⟩⟩ −∆⟨⟨d↑Y mm; d†σ⟩⟩. (4.19) Agora, calculemos ⟨⟨fY mm; d†σ⟩⟩. ω+⟨⟨fY mm; d†σ⟩⟩ = ���������:0 ⟨ [ fY mm, d†σ ] + ⟩+ ⟨⟨[fY mm,H] ; d†σ⟩⟩ = ⟨⟨[fY mm,H] ; d†σ⟩⟩, (4.20) em que o comutador do operador f com o Hamiltoniano H resulta nos termos [fY mm,H] = [ fY mm, εMf †f ] + [ fY mm, td↑f †]+ [ fY mm,∆f †d†↑ ] , (4.21) 46 sendo que [ fY mm, εMf †f ] = εM ( fY mmf †f − f †ffY mm ) = εM ( ff †fY mm − f †ffY mm ) = εM (( 1− f †f ) fY mm − f †ffY mm ) = εM ( fY mm − f †ffY mm − f †ffY mm ) = εM ( fY mm + f †ffY mm − f †ffY mm ) = εMfY mm, (4.22) [ fY mm, t ( d↑f † + fd†↑ )] = t [( fY mmd↑f † − d↑f †fY mm ) + ( fY mmfd†↑ − fd†↑fY mm )] = t [( fd↑f †Y mm − d↑f †fY mm ) + ( ffd†↑Y mm − fd†↑fY mm )] = t [( −d↑ff †Y mm − d↑f †fY mm ) + ( fd†↑fY mm − fd†↑fY mm )] = t ( −d↑ ( 1− f †f ) Y mm − d↑f †fY mm ) = t ( −d↑Y mm + d↑f †fY mm − d↑f †fY mm ) = −td↑Y mm, (4.23) [ fY mm,∆ ( f †d†↑ + d↑f )] = ∆ [( fY mmf †d†↑ − f †d†↑fY mm ) + (fY mmd↑f − d↑ffY mm) ] = ∆ [( ff †d†↑Y mm − f †d†↑fY mm ) + (fd↑fY mm − d↑ffY mm) ] = ∆ [(( 1− f †f ) d†↑Y mm − f †d†↑fY mm ) + (d↑ffY mm − d↑ffY mm) ] = ∆ ( d†↑Y mm − f †fd†↑Y mm − f †d†↑fY mm ) = ∆ ( d†↑Y mm + f †d†↑fY mm − f †d†↑fY mm ) = ∆d†↑Y mm, (4.24) a Eq. (4.20) torna-se ( ω+ − εM ) ⟨⟨fY mm; d†σ⟩⟩ = −t⟨⟨d↑Y mm; d†σ⟩⟩+∆⟨⟨d†↑Y mm; d†σ⟩⟩. (4.25) 47 Para darmos continuidade, calculemos agora a função de Green anômala da QI, ⟨⟨d†↑Y mm; d†σ⟩⟩. ω+⟨⟨d†↑Y mm; d†σ⟩⟩ = ⟨ [ d†↑Y mm, d†σ ] + ⟩+ ⟨⟨ [ d†↑Y mm,H ] ; d†σ⟩⟩ = ⟨⟨ [ d†↑Y mm,H ] ; d†σ⟩⟩ (4.26) cujo comutador, já eliminando os termos iguais a zero, é dado por: [ d†↑Y mm,H ] = [ d†↑Y mm, V ∑ αkσ ( c†αkσdσ +H.c. )] + [ d†↑Y mm, J 2 ∑ m′ m′n↑Y m′m′ ] + [ d†↑Y mm, ε↑n↑ + ε↓n↓ ] + [ d†↑Y mm, td↑f † ] + [ d†↑Y mm,∆d↑f ] . (4.27) Calculando os comutadores, obtemos [ d†↑Y mm, V ∑ αkσ ( c†αkσdσ +� ���d†σcαkσ )] = V ∑ αkσ [ d†↑Y mm, c†αkσdσ ] = V ∑ αkσ ( d†↑Y mmc†αkσdσ − c†αkσdσd † ↑Y mm ) = V ∑ αkσ ( d†↑c † αkσdσY mm − c†αkσdσd † ↑Y mm ) = V ∑ αkσ ( −c†αkσ ( δ↑σ − dσd † ↑ ) Y mm − c†αkσdσd † ↑Y mm ) = V ∑ αkσ ( −c†αkσδ↑σY mm + c†αkσdσd † ↑Y mm − c†αkσdσd † ↑Y mm ) = −V ∑ αk c†αk↑Y mm, (4.28) [ d†↑Y mm, (ε↑n↑ +���ε↓n↓) ] = ε↑ ( d†↑Y mmn↑ − n↑d † ↑Y mm ) = ε↑ ( d†↑Y mmd†↑d↑ − d†↑d↑d † ↑Y mm ) = ε↑ ( −d†↑d†↑d↑Y mm − d†↑d↑d † ↑Y mm ) = ε↑ ( −d†↑ ( 1− d↑d † ↑ ) Y mm − d†↑d↑d † ↑Y mm ) = ε↑ ( −d†↑Y mm + d†↑d↑d † ↑Y mm − d†↑d↑d † ↑Y mm ) = ε↑ ( −d†↑Y mm + d†↑d↑d † ↑Y mm − d†↑d↑d † ↑Y mm ) = −ε↑d†↑Y mm, (4.29) 48 [ d†↑Y mm, J 2 ∑ m′ m′n↑Y m′m′ ] = J 2 ∑ m′ m′ ( d†↑Y mmd†↑d↑Y m′m′ − d†↑d↑Y m′m′ d†↑Y mm ) = J 2 ∑ m′ m′ ( d†↑d † ↑d↑Y mmY m′m′ − d†↑d↑d † ↑Y m′m′ Y mm ) = J 2 ∑ m′ m′ ( −d†↑d†↑d↑ ( δmm′Y mm′ ) − d†↑d↑d † ↑ ( δm′mY m′m )) = J 2 ∑ m′ m′ ( −d†↑ ( 1− d↑d † ↑ )( δmm′Y mm′ ) − d†↑d↑d † ↑ ( δm′mY m′m )) = J 2 ∑ m′ m′ ( −d†↑ ( δmm′Y mm′ ) + d†↑d↑d † ↑ ( δmm′Y mm′ ) − d†↑d↑d † ↑ ( δm′mY m′m )) = J 2 ( −d†↑ (∑ m′ m′δmm′Y mm′ ) + d†↑d↑d † ↑ (∑ m′ m′δmm′Y mm′ ) − d†↑d↑d † ↑ (∑ m′ m′δm′mY m′m )) = J 2 ( −d†↑ (mY mm) + d†↑d↑d † ↑ (mY mm)− d†↑d↑d † ↑ (mY mm) ) = −J 2 md†↑Y mm, (4.30) [ d†↑Y mm, t ( d↑f † + � �fd†↑ )] = t [( d†↑Y mmd↑f † − d↑f †d†↑Y mm )] = t [( d†↑d↑f †Y mm − d↑f †d†↑Y mm )] = t [(( 1− d↑d † ↑ ) f †Y mm − d↑f †d†↑Y mm )] = t ( f †Y mm − d↑d † ↑f †Y mm − d↑f †d†↑Y mm ) = t ( f †Y mm + d↑f †d†↑Y mm − d↑f †d†↑Y mm ) = tf †Y mm, (4.31) [ d†↑Y mm,∆ ( � ��f †d†↑ + d↑f )] = ∆ [( d†↑Y mmd↑f − d↑fd † ↑Y mm )] = ∆ [( d†↑d↑fY mm − d↑fd † ↑Y mm )] = ∆ [(( 1− d↑d † ↑ ) fY mm − d↑fd † ↑Y mm )] = ∆ ( fY mm − d↑d † ↑fY mm − d↑fd † ↑Y mm ) = ∆ ( fY mm + d↑fd † ↑Y mm − d↑fd † ↑Y mm ) = ∆fY mm. (4.32) 49 Dessa maneira, a função de Green anômala assume a forma ( ω+ + ε↑ + Jm 2 ) ⟨⟨d†↑Y mm; d†σ⟩⟩ = −V ∑ αk ⟨⟨c†αk↑Y mm; d†σ⟩⟩ + t⟨⟨f †Y mm; d†σ⟩⟩+∆⟨⟨fY mm; d†σ⟩⟩. (4.33) Agora precisamos determinar as duas últimas funções de Green, ⟨⟨c†αk↑Y mm; d†σ⟩⟩ e ⟨⟨cαkσY mm; d†σ⟩⟩, para fechar o sistema de funções. Iniciemos com ω+⟨⟨c†αkσY mm; d†σ⟩⟩ = ����������:0 ⟨ [ c†αkσY mm, d†σ ] + ⟩+ ⟨⟨ [ c†αkσY mm,H ] ; d†σ⟩⟩ = ⟨⟨ [ c†αkσY mm,H ] ; d†σ⟩⟩. (4.34) O comutador irá gerar apenas dois termos, pois a comutação entre c†αkσ e os demais termos do Hamiltoniano [Eq. (4.4)] será zero. [ c†αkσY mm,H ] = [ c†αkσY mm, ∑ α′k′σ′ εαk′c † α′k′σ′cα′k′σ′ ] + [ c†αkσY mm, V ∑ α′k′σ′ ( �����c†α′k′σ′dσ′ + d†σ′cα′k′σ′ )] , (4.35) sendo assim, temos [ c†αkσY mm, ∑ α′k′σ′ εk′c † α′k′σ′cα′k′σ′ ] = (4.36) = ∑ α′k′σ′ εα′k′ [ c†αkσY mmc†α′k′σ′cα′k′σ′ − c†α′k′σ′cα′k′σ′c†αkσY mm ] = ∑ α′k′σ′ εα′k′ [ −c†α′k′σ′c † αkσcα′k′σ′Y mm − c†α′k′σ′cα′k′σ′c†αkσY mm ] = ∑ α′k′σ′ εα′k′ [ −c†α′k′σ′ ( δαα′δkk′δσσ′ − cα′k′σ′c†αkσ ) Y mm − c†α′k′σ′cα′k′σ′c†αkσY mm ] = ∑ α′k′σ′ εα′k′ [ −c†α′k′σ′δαα′δkk′δσσ′Y mm + c†α′k′σ′cα′k′σ′c†αkσY mm − c†α′k′σ′cα′k′σ′c†αkσY mm ] = − ∑ α′k′σ′ εα′k′c † α′k′σ′δαα′δkk′δσσ′Y mm = −εαkc†αkσY mm (4.37) 50 e [ c†αkσY mm, V ∑ α′k′σ′ ( �����c†α′k′σ′dσ′ + d†σ′cα′k′σ′ )] = = V ∑ α′k′σ′ [ c†αkσY mmd†σ′cα′k′σ′ − d†σ′cα′k′σ′c†αkσY mm ] = V ∑ α′k′σ′ [ −d†σ′ ( δαα′δkk′δσσ′ − cα′k′σ′c†αkσ ) Y mm − d†σ′cα′k′σ′c†αkσY mm ] = V ∑ α′k′σ′ [ −d†σ′δαα′δkk′δσσ′Y mm + d†σ′cα′k′σ′c†αkσY mm − d†σ′cα′k′σ′c†αkσY mm ] = −V ∑ α′k′σ′ d†σ′Y mmδαα′δkk′δσσ′ = −V d†σY mm. (4.38) Dessa forma, substituindo os comutadores na Eq. (4.34), obtemos ⟨⟨c†αkσY mm; d†σ⟩⟩ = − V (ω+ + εαk) ⟨⟨d†σY mm; d†σ⟩⟩. (4.39) E agora vamos definir ⟨⟨cαkσY mm; d†σ⟩⟩, ω+⟨⟨cαkσY mm; d†σ⟩⟩ = ����������:0 ⟨ [ cαkσY mm, d†σ ] + ⟩+ ⟨⟨[cαkσY mm,H] ; d†σ⟩⟩ = ⟨⟨[cαkσY mm,H] ; d†σ⟩⟩, (4.40) em que o comutador é [cαkσY mm,H] = [ cαkσY mm, ∑ α′k′σ′ εα′k′c † α′k′σ′cα′k′σ′ ] + [ cαkσY mm, V ∑ α′k′σ′ ( c†α′k′σ′dσ′ +�����d†σ′cα′k′σ′ )] , (4.41) assim, [ cαkσY mm, ∑ α′k′σ′ εα′k′c † α′k′σ′cα′k′σ′ ] = 51 = ∑ α′k′σ′ εα′k′ [ cαkσY mmc†α′k′σ′cα′k′σ′ − c†α′k′σ′cα′k′σ′cαkσY mm ] = ∑ α′k′σ′ εα′k′ [( δαα′δkk′δσσ′ − c†α′k′σ′cαkσ ) cα′k′σ′Y mm − c†α′k′σ′cα′k′σ′cα′kσY mm ] = ∑ α′k′σ′ εα′k′ [ δαα′δkk′δσσ′cα′k′σ′Y mm − c†α′k′σ′cαkσcα′k′σ′Y mm − c†α′k′σ′cα′k′σ′cαkσY mm ] = ∑ α′k′σ′ εα′k′ [ δαα′δkk′δσσ′cα′k′σ′Y mm + c†α′k′σ′cα′k′σ′cαkσY mm − c†α′k′σ′cα′k′σ′cα′kσY mm ] = ∑ α′k′σ′ εα′k′δαα′δkk′δσσ′cα′k′σ′Y mm = εαkcαkσY mm (4.42) e para [ cαkσY mm, V ∑ α′k′σ′ ( c†α′k′σ′dσ′ +�����d†σ′cα′k′σ′ )] = = V ∑ α′k′σ′ [ cαkσY mmc†α′k′σ′dσ′ − c†α′k′σ′dσ′cαkσY mm ] = V ∑ α′k′σ′ [ cαkσc † α′k′σ′dσ′Y mm − c†α′k′σ′dσ′cαkσY mm ] = V ∑ α′k′σ′ [( δαα′δkk′δσσ′ − c†α′k′σ′cαkσ ) dσ′Y mm − c†α′k′σ′dσ′cαkσY mm ] = V ∑ α′k′σ′ [ δαα′δkk′δσσ′dσ′Y mm − c†α′k′σ′cαkσdσ′Y mm − c†α′k′σ′dσ′cαkσY mm ] = V ∑ α′k′σ′ [ δαα′δkk′δσσ′dσ′Y mm + c†α′k′σ′dσ′cαkσY mm − c†α′k′σ′dσ′cαkσY mm ] = V ∑ α′k′σ′ dσ′Y mmδαα′δkk′δσσ′ = V dσY mm. (4.43) Substituindo o resultado dos comutadores na Eq. (4.40), temos que ⟨⟨cαkσY mm; d†σ⟩⟩ = V (ω+ − εαk) ⟨⟨dσY mm; d†σ⟩⟩. (4.44) Tendo as Eqs. (4.44) e (4.39) podemos substitúı-las nas Eqs. (4.13) e (4.33), respectiva- 52 mente. Obtendo assim as GFs: ( ω+ − ∑ αk V 2 (ω+ − εαk) ) ⟨⟨dσY mm; d†σ⟩⟩ = ⟨Y mm⟩+ ε↑δσ↑⟨⟨d↑Y mm; d†σ⟩⟩+ ε↓δσ↓⟨⟨d↓Y mm; d†σ⟩⟩ + Jm 2 δσ↑⟨⟨d↑Y mm; d†σ⟩⟩ − Jm 2 δσ↓⟨⟨d↓Y mm; d†σ⟩⟩ − ∆δσ↑⟨⟨f †Y mm; d†σ⟩⟩ − tδσ↑⟨⟨fY mm; d†σ⟩⟩ (4.45) e ( ω+ + ε↑ + Jm 2 ) ⟨⟨d†↑Y mm; d†σ⟩⟩ = ∑ αk V 2 (ω+ + εαk) ⟨⟨d†σY mm; d†σ⟩⟩ + t⟨⟨f †Y mm; d†σ⟩⟩+∆⟨⟨fY mm; d†σ⟩⟩. (4.46) Para simplificar as equações vamos considerar o parâmetro de Anderson iΓ = ∑ αk V 2/(ω++ εαk) e a média ⟨Y mm⟩ = 1/(2S + 1). Sendo assim, temos ( ω+ + iΓ ) ⟨⟨dσY mm; d†σ⟩⟩ = 1 2S + 1 + ε↑δσ↑⟨⟨d↑Y mm; d†σ⟩⟩+ ε↓δσ↓⟨⟨d↓Y mm; d†σ⟩⟩ + Jm 2 δσ↑⟨⟨d↑Y mm; d†σ⟩⟩ − Jm 2 δσ↓⟨⟨d↓Y mm; d†σ⟩⟩ − ∆δσ↑⟨⟨f †Y mm; d†σ⟩⟩ − tδσ↑⟨⟨fY mm; d†σ⟩⟩ (4.47) e ( ω+ + ε↑ + Jm 2 ) ⟨⟨d†↑Y mm; d†σ⟩⟩ = −iΓ⟨⟨d†σY mm; d†σ⟩⟩ + t⟨⟨f †Y mm; d†σ⟩⟩+∆⟨⟨fY mm; d†σ⟩⟩. (4.48) 4.2.1 Sumário das GFs para a QI Até o momento determinamos as GFs principais para determinar-se a DOS da QI. Temos então as funções: ( ω+ + iΓ ) ⟨⟨dσY mm; d†σ⟩⟩ = 1 2S + 1 + ε↑δσ↑⟨⟨d↑Y mm; d†σ⟩⟩+ ε↓δσ↓⟨⟨d↓Y mm; d†σ⟩⟩ + Jm 2 δσ↑⟨⟨d↑Y mm; d†σ⟩⟩ − Jm 2 δσ↓⟨⟨d↓Y mm; d†σ⟩⟩ − ∆δσ↑⟨⟨f †Y mm; d†σ⟩⟩ − tδσ↑⟨⟨fY mm; d†σ⟩⟩ (4.49) 53 ( ω+ + ε↑ + Jm 2 ) ⟨⟨d†↑Y mm; d†σ⟩⟩ = −iΓ⟨⟨d†σY mm; d†σ⟩⟩ + t⟨⟨f †Y mm; d†σ⟩⟩+∆⟨⟨fY mm; d†σ⟩⟩. (4.50) ( ω+ + εM ) ⟨⟨f †Y mm; d†σ⟩⟩ = t⟨⟨d†↑Y mm; d†σ⟩⟩ −∆⟨⟨d↑Y mm; d†σ⟩⟩ (4.51) e ( ω+ − εM ) ⟨⟨fY mm; d†σ⟩⟩ = −t⟨⟨d↑Y mm; d†σ⟩⟩+∆⟨⟨d†↑Y mm; d†σ⟩⟩. (4.52) 4.2.2 Spin up Nesta subseção vamos considerar σ =↑. Apenas para esse canal de spin a QI se acopla ao nanofio contendo os MZMs. Sendo assim, temos as GFs ( ω+ − ε↑ − Jm 2 + iΓ ) ⟨⟨d↑Y mm; d†↑⟩⟩ = 1 (2S + 1) −∆⟨⟨f †Y mm; d†↑⟩⟩ − t⟨⟨fY mm; d†↑⟩⟩, (4.53) ( ω+ + ε↑ + Jm 2 + iΓ ) ⟨⟨d†↑Y mm; d†↑⟩⟩ = t⟨⟨f †Y mm; d†↑⟩⟩+∆⟨⟨fY mm; d†↑⟩⟩, (4.54) ⟨⟨f †Y mm; d†↑⟩⟩ = t (ω+ + εM) ⟨⟨d†↑Y mm; d†↑⟩⟩ − ∆ (ω+ + εM) ⟨⟨d↑Y mm; d†↑⟩⟩ (4.55) e ⟨⟨fY mm; d†↑⟩⟩ = − t (ω+ − εM) ⟨⟨d↑Y mm; d†↑⟩⟩+ ∆ (ω+ − εM) ⟨⟨d†↑Y mm; d†↑⟩⟩. (4.56) Substituindo as Eqs. (4.55) e (4.56) na Eq. (4.53), obtemos ( ω+ − ε↑ − Jm 2 + iΓ−K+ ) ⟨⟨d↑Y mm; d†↑⟩⟩ = 1 (2S + 1) − 2t∆KMFs⟨⟨d†↑Y mm; d†↑⟩⟩, (4.57) 54 lembrando que ω+ = ω + iη+ e considerando os termos K+ = (ω + iη+) (∆2 + t2) + εM (t2 −∆2) ω2 − ε2M + 2iωη+ − (η+)2 (4.58) e KMFs = (ω + iη+) ω2 − ε2M + 2iωη+ − (η+)2 . (4.59) Agora substituindo as Eqs. (4.55) e (4.56) na Eq. (4.54) para obtermos a função anômala da QI. ⟨⟨d†↑Y mm; d†↑⟩⟩ = − 2t∆KMFs( ω+ + ε↑ + Jm 2 + iΓ−K− )⟨⟨d↑Y mm; d†↑⟩⟩, (4.60) sendo o termo K− = (ω + iη+) (t2 +∆2)− εM (t2 −∆2) ω2 − ε2M + 2iωη+ − (η+)2 . (4.61) Substituindo a Eq. (4.60) na Eq. (4.57), temos que ⟨⟨d↑Y mm; d†↑⟩⟩ = 1 (2S + 1) 1( ω+ − ε↑ − Jm 2 + iΓ− Σ+m MFs ) , (4.62) na qual Σ+m MFs = K+ + (2t∆)2KMFsK̃m corresponde a auto-energia de correção devido ao acoplamento com o nanofio de Kitaev e a ponta spin-polarizada. Considerando também o termo K̃m = KMFs( ω+ + ε↑ + Jm 2 + iΓ−K− ) . (4.63) No ińıcio da Seção 4.2, destacamos que G̃R dσd † σ (ω) = ⟨⟨dσ; d†σ⟩⟩ = ∑ m⟨⟨dσY mm; d†σ⟩⟩, porém para facilitar os calculos não carregamos a notação ∑ m, mas ela é fundamental. Desta forma, a GF para o canal de spin up da QI que é o único acoplado aos MZMs é definida como: G̃R d↑d † ↑ = ∑ m ⟨⟨d↑Y mm; d†↑⟩⟩ = 1 (2S + 1) ∑ m 1( ω+ − ε↑ − Jm 2 + iΓ− Σ+m MFs ) . (4.64) 55 4.2.3 Spin down Consideremos agora σ =↓ para a Eq. (4.49). Como comentado anteriormente, este canal de spin não se acopla aos MZMs. ( ω+ + iΓ ) ⟨⟨d↓Y mm; d†↓⟩⟩ = 1 2S + 1 + ε↓⟨⟨d↓Y mm; d†↓⟩⟩ − Jm 2 ⟨⟨d↓Y mm; d†↓⟩⟩ (4.65) ⟨⟨d↓Y mm; d†↓⟩⟩ = 1 2S + 1 1( ω+ − ε↓ + Jm 2 + iΓ ) . (4.66) Lembrando que G̃R dσd † σ (ω) = ⟨⟨dσ; d†σ⟩⟩ = ∑ m⟨⟨dσY mm; d†σ⟩⟩, logo G̃R d↓d † ↓ (ω) = ∑ m ⟨⟨d↓Y mm; d†↓⟩⟩ = 1 (2S + 1) ∑ m 1( ω+ − ε↓ + Jm 2 + iΓ ) , (4.67) sendo que para o termo de spin down temos apenas a renormalização devido a presença da ponta spin-polarizada, não há termo algum que associe a Majoranas, como pode ser evidenciado pelo denominador da expressão. Agora possúımos as GFs necessárias para mapear a densidade de estados da impureza quântica [Eqs. (4.64) e (4.67)] por meio da parte imaginárias das GFs, como vimos no Caṕıtulo 3. Tais equações foram exploradas e gráficos foram gerados a partir de programação usando a linguagem Python. Esses resultados serão devidamente discutidos no Caṕıtulo 5. 4.3 DOS para as quasipart́ıculas de Majorana da QI Com as equações obtidas na Seção 4.2 podemos obter o comportamento espectral da QI sob a influência da ponta spin-polarizada e dos MZMs. Porém, com o objetivo de entender como os MFs que compõem a QI se comportam, nesta seção iremos decompor a QI (śıtio d) em suas componentes de Majorana, d↑ = (γA + iγB)/ √ 2 (faremos isso apenas para o canal de spin up). Para realizar tal feito, vamos considerar as seguintes combinações: γA = 1√ 2 (d†↑ + d↑) (4.68) e γB = i√ 2 (d†↑ − d↑). (4.69) 56 Sendo que as DOSs para tais quasipart́ıculas de Majorana são obtidas a partir da Eq. (3.1) e podem ser escritas da seguinte forma DOSγA = − 1 π Im[⟨⟨γA; γA⟩⟩] (4.70) e DOSγB = − 1 π Im[⟨⟨γB; γB⟩⟩]. (4.71) Como podemos evidenciar a partir das Eqs. (4.70) e (4.71) devemos determinar as funções de Green dos Majoranas. Com o objetivo de facilitar o entendimento faremos uso da GF Eq. (3.7), no domı́nio do tempo, desta forma temos GR γAγA (t, 0) = − i ℏ θ (t)Z−1 e ∑ n e−βEn 〈 n ∣∣∣∣ [ γA (t) , γ†A (0) ] + ∣∣∣∣n 〉 (4.72) e GR γBγB (t, 0) = − i ℏ θ (t)Z−1 e ∑ n e−βEn 〈 n ∣∣∣∣ [ γB (t) , γ†B (0) ] + ∣∣∣∣n 〉 . (4.73) 4.3.1 Definindo as GFs de Majorana na QI Para definir as GFs vamos substituir nas Eqs. (4.72) e (4.73) os operadores de Majorana por suas definições na base fermiônica, Eqs. (4.68) e (4.69), e calcular os anticomutadores. Para γA (lembrando que γA = γ†A), [ γA (t) , γ†A (0) ] + = [ 1√ 2 ( d†↑(t) + d↑(t) ) , 1√ 2 ( d†↑(0) + d↑(0) )] + = 1√ 2 ( d†↑(t) + d↑(t) ) 1√ 2 ( d†↑(0) + d↑(0) ) + 1√ 2 ( d†↑(0) + d↑(0) ) 1√ 2 ( d†↑(t) + d↑(t) ) = 1 2 ( d†↑(t)d † ↑(0) + d†↑(t)d↑(0) + d↑(t)d † ↑(0) + d↑(t)d↑(0) ) + 1 2 ( d†↑(0)d † ↑(t) + d†↑(0)d↑(t) + d↑(0)d † ↑(t) + d↑(0)d↑(t) ) = 1 2 [( d†↑(t)d † ↑(0) + d†↑(0)d † ↑(t) ) + ( d†↑(t)d↑(0) + d†↑(0)d↑(t) )] + 1 2 [( d↑(t)d † ↑(0) + d↑(0)d † ↑(t) ) + (d↑(t)d↑(0) + d↑(0)d↑(t)) ] 57 [ γA (t) , γ†A (0) ] + = 1 2 ([ d†↑(t), d † ↑(0) ] + + [ d†↑(t), d↑(0) ] + ) + 1 2 ([ d↑(t), d † ↑(0) ] + + [d↑(t), d↑(0)]+ ) , (4.74) substituindo na Eq. (4.72), obtemos GR γAγA (t) = 1 2 (− i ℏ )θ (t)Z−1 e ∑ n e−βEn 〈 n ∣∣∣∣ [ d†↑(t), d↑(0) ] + ∣∣∣∣n 〉 + 1 2 (− i ℏ )θ (t)Z−1 e ∑ n e−βEn 〈 n ∣∣∣∣ [ d↑(t), d † ↑(0) ] + ∣∣∣∣n 〉 + 1 2 (− i ℏ )θ (t)Z−1 e ∑ n e−βEn 〈 n ∣∣∣∣ [ d†↑(t), d † ↑(0) ] + ∣∣∣∣n 〉 + 1 2 (− i ℏ )θ (t)Z−1 e ∑ n e−βEn 〈 n ∣∣[d↑(t), d↑(0)]+ ∣∣n 〉 , (4.75) tal expressão pode ser escrita na notação de Zubarev [40], como apresentado no Caṕıtulo 3, assumindo a seguinte forma: ⟨⟨γA; γA⟩⟩ = 1 2 [ ⟨⟨d†↑; d†↑⟩⟩+ ⟨⟨d†↑; d↑⟩⟩+ ⟨⟨d↑; d†↑⟩⟩+ ⟨⟨d↑; d↑⟩⟩ ] . (4.76) Analogamente, temos γB. ⟨⟨γB; γB⟩⟩ = 1 2 [ −⟨⟨d†↑; d†↑⟩⟩+ ⟨⟨d†↑; d↑⟩⟩+ ⟨⟨d↑; d†↑⟩⟩ − ⟨⟨d↑d↑⟩⟩ ] . (4.77) Na Seção 4.2 obtivemos a GF G̃R d↑d † ↑ (ω) = ⟨⟨d↑; d†↑⟩⟩ = ∑ m⟨⟨d↑Y mm; d†↑⟩⟩, utilizando a mesma metodologia podemos obter as demais GFs eletrônicas que dão origem as quantidades ⟨⟨γA; γA⟩⟩ e ⟨⟨γB; γB⟩⟩. Sendo elas, G̃R d†↑d † ↑ (ω) = ∑ m ⟨⟨d†↑Y mm; d†↑⟩⟩ = − 1 (2S + 1) ∑ m 2t∆Km( ω+ + ε↑ + Jm 2 + iΓ− Σ−m MFs ) , (4.78) G̃R d†↑d↑ (ω) = ∑ m ⟨⟨d†↑Y mm; d↑⟩⟩ = 1 (2S + 1) ∑ m 1( ω+ + ε↑ + Jm 2 + iΓ− Σ−m MFs ) (4.79) 58 e G̃R d↑d↑(ω) = ∑ m ⟨⟨d↑Y mm; d↑⟩⟩ = − 1 (2S + 1) ∑ m 2∆tK̃m( ω+ − ε↑ − Jm 2 + iΓ− Σ+m MFs ) , (4.80) em que temos a auto-energia Σ−m MFs = K− + (2t∆)2KMFsKm e também o termo Km = KMFs( ω+ − ε↑ − Jm 2 + iΓ−K+ ) , (4.81) os demais termos K+, KMFs, K− e K̃m já foram definidos e são expressos pelas Eqs. (4.58), (4.59), (4.61) e (4.63), respectivamente. Uma caracteŕıstica interessante das GFs anômalas, G̃R d†↑d † ↑ (ω) e G̃R d↑d↑(ω), é sua dependência com os termos de hopping t e emparelhamento super- condutor ∆, tais funções não existiriam caso não houvesse acoplamento com o supercondutor topológico que hospeda os MZMs. Possuindo as Eqs. (4.64), (4.78), (4.79) e (4.80) podemos definir as DOSs das excitações de quasipart́ıcula associadas as componentes de Majorana da QI para o canal de spin up, Eqs. (4.76) e (4.77). Como discutiremos no Caṕıtulos 5, essas quantidades serão fundamentais para definirmos a fracionalização das excitações de Majorana, definindo assim a nossa quasipart́ıcula do tipo Majorana-Ising, γMIQ (do inglês, MIQ: Majorana-Ising-type quasiparticle). 4.4 Quasipart́ıculas de Majorana do śıtio f Na Seção 4.3 analisamos as excitações de Majorana que compõem a QI, nesta seção faremos um estudo semelhante, porém direcionado ao śıtio fermiônico não-local f que é composto pela combinação linear dos dois MZMs isolados nas bordas do nanofio de Kitaev [Fig. 4.1(c) e (f)], f = (γ1 + iγ2)/ √ 2. As componentes de Majorana são dadas por γ1 = 1√ 2 (f † + f) e γ1 = i√ 2 (f † − f). (4.82) A partir de tais definições almejamos obter, assim como na Seção 4.3, as DOSs para as com- ponentes de Majorana dadas aqui por: DOSγ1 = − 1 π Im[⟨⟨γ1; γ1⟩⟩] (4.83) 59 e DOSγ2 = − 1 π Im[⟨⟨γ2; γ2⟩⟩], (4.84) cujas funções de Green, assim como para ⟨⟨γA; γA⟩⟩ e ⟨⟨γB; γB⟩⟩, são dadas por ⟨⟨γ1; γ1⟩⟩ = 1 2 [ ⟨⟨f †; f †⟩⟩+ ⟨⟨f †; f⟩⟩+ ⟨⟨f ; f †⟩⟩+ ⟨⟨f ; f⟩⟩ ] , (4.85) e ⟨⟨γ2; γ2⟩⟩ = 1 2 [ −⟨⟨f †; f †⟩⟩+ ⟨⟨f †; f⟩⟩+ ⟨⟨f ; f †⟩⟩ − ⟨⟨f ; f⟩⟩ ] . (4.86) Desenvolvendo a metodologia apresentada no Caṕıtulo 3, assim como feito na Seção 4.3, somos capazes de obter as funções de Green que compõem as Eqs. (4.85) e (4.86). Neste ponto, devido à semelhança com a Seção 4.2, iremos mitigar a apresentação do desenvolvimento anaĺıtico e partiremos para as equações finais. Lembrando que, devido a influência da ponta spin-polarizada G̃R ff†(ω) = ⟨⟨f ; f †⟩⟩ =∑m⟨⟨fY mm; f †⟩⟩. Sendo assim, para o śıtio não local f , obtemos as GFs G̃R ff†(ω) = ∑ m ⟨⟨fY mm; f †⟩⟩ = 1 (2S + 1) ∑ m 1 (ω+ − εM − Σ+M) , (4.87) G̃R f†f†(ω) = ∑ m ⟨⟨f †Y mm; f †⟩⟩ = 1 (2S + 1) ∑ m 2∆tK−M (ω+ + εM − Σ−M) , (4.88) G̃R f†f (ω) = ∑ m ⟨⟨f †Y mm; f⟩⟩ = 1 (2S + 1) ∑ m 1 (ω+ + εM − Σ−M) (4.89) e G̃R ff (ω) = ∑ m ⟨⟨fY mm; f⟩⟩ = 1 (2S + 1) ∑ m 2∆tK+M (ω+ − εM − Σ+M) , (4.90) em que Σ+M = K+ C + (2∆t)2KDK+M e Σ−M = K− C + (2∆t)2KDK−M são as auto-energias oriundas da interação do śıtio f com a QI que está acoplada à ponta spin-polarizada e também 60 aos terminais metálicos. As demais quantidades são: K+M = KD( ω+ + εM −K− C ) , (4.91) K−M = KD( ω+ − εM −K+ C ) , (4.92) KD = (ω + iη+) + iΓ (ω + iΓ + iη+)2 − ε2↑ − Jm [ ε↑ + Jm 4 ] , (4.93) K+ C = [ (ω + iη+) (t2 +∆2) + ε↑ (t 2 −∆2) + Jm 2 (t2 −∆2) + iΓ (t2 +∆2) (ω + iΓ + iη+)2 − ε2↑ − Jm [ ε↑ + Jm 4 ] ] (4.94) e K− C = [ (ω + iη+) (t2 +∆2)− ε↑ (t 2 −∆2)− Jm 2 (t2 −∆2) + iΓ (t2 +∆2) (ω + iΓ + iη+)2 − ε2↑ − Jm [ ε↑ + Jm 4 ] ] . (4.95) Com o conjunto de funções de Green obtidas para o śıtio f somos capazes de determinar a dinâmica das componentes de Majorana que compõem tal férmion não local. Bem como compreender a forma com a qual o sistema é renormalizado pelas auto-energias oriundas do acoplamento à QI. 61 Caṕıtulo 5 Fractionalization of Majorana-Ising-type quasiparticle excitations J. E. Sanches, L. T. Lustosa, L. S. Ricco, I. A. Shelykh, M. de Souza, M. S. Figueira, and A. C. Seridonio, Phys. Rev. B 107, 155144 – Published 26 April 2023. Neste caṕıtulo exploraremos os resultados obtidos a partir das simulações realizadas com base nos cálculos apresentados no Caṕıtulo 4, utilizando Python como linguagem de pro- gramação para obtenção das curvas. No estudo desenvolvido ao longo desta tese exploramos as propriedades espectrais de uma impureza quântica (QI) flanqueada por um supercondutor topológico (TSC) unidimensional finito, que possui MZMs em suas bordas, e por uma ponta spin-polarizada de spin S variável. A ponta se acopla à QI por um termo de troca do tipo Ising, J . Descobrimos que nesse sistema há a possibilidade de fracionalização de MZMs regulares, até então não explorada pela literatura. Um regime contraintuitivo, capaz de localizar um MZM fracionado no ńıvel da QI, emerge quando definimos um valor espećıfico para J e S, a esse estado ressonante emergente atribúımos o nome de quasipart́ıcula do tipo Majorana-Ising (MIQ). Consequentemente, encontramos que o peso espectral desse estado MIQ é a metade de um MZM e se manifesta com caracteŕısticas ressonantes. Para a condição em que há a emergência da MIQ um efeito interessante se manifesta na condutância diferencial. Essa quantidade possui um valor equivalente a metade da condutância para um MZM genúıno e se mostra puramente eletrônica, ou seja, a contribuição das reflexões 62 https://journals.aps.org/prb/abstract/10.1103/PhysRevB.107.155144 de Andreev é igual a zero entre os terminais metálicos e a QI. Por outro lado, para um sistema ideal, ou seja, um nanofio de Kitaev grande o suficiente, em que apenas um dos MZMs se acopla com a QI e no qual não há uma superposição finita entre eles, a condutância através da QI é equivalente a um MZM completo e manifesta contribuição de condutâncias eletrônicas e de reflexões de Andreev em pé de igualdade. Levando-se em consideração esses aspectos, podemos afirmar que as excitações de MIQ são uma forma de manifestação dos poor man’s Majorana. Em śıntese, propomos um modelo que apresenta, do ponto de vista experimental, uma forma mais realista para se explorar as propriedades e a emergência de férmions de Majorana. Sistema esse, que por ser finito, se assemelha ao chamado modelo mı́nimo de Kitaev que vem desempenhando um papel importante no contexto experimental e a partir do qual os poor man’s Majoranas podem emergir. 5.1 Artigo publicado 63 Fractionalization of Majorana-Ising-type quasiparticle excitations J.E. Sanches,1, ∗ L.T. Lustosa,1 L.S. Ricco,2 I.A. Shelykh,2, 3 M. de Souza,4 M.S. Figueira,5 and A.C. Seridonio1, † 1São Paulo State University (Unesp), School of Engineering, Department of Physics and Chemistry, 15385-000, Ilha Solteira-SP, Brazil 2Science Institute, University of Iceland, Dunhagi-3, IS-107, Reykjavik, Iceland 3Abrikosov Center for Theoretical Physics, MIPT, Dolgoprudnyi, Moscow Region 141701, Russia 4São Paulo State University (Unesp), IGCE, Department of Physics, 13506-970, Rio Claro-SP, Brazil 5Instituto de F́ısica, Universidade Federal Fluminense, 24210-340, Niterói, Rio de Janeiro, Brazil We theoretically investigate the spectral properties of a quantum impurity (QI) hosting the here proposed Majorana-Ising-type quasiparticle (MIQ) excitation. It arises from the coupling between a finite topological superconductor (TSC) based on a chain of magnetic adatoms-superconducting hybrid system and an integer large spin S flanking the QI. Noteworthy, the spin S couples to the QI via the Ising-type exchange interaction. As the Majorana zero-modes (MZMs) at the edges of the TSC chain are overlapped, we counterintuitively find a regime wherein the Ising term modulates the localization of a fractionalized and resonant MZM at the QI site. Interestingly enough, the fermionic nature of this state is revealed as purely of electron tunneling-type and most astonishingly, it has the Andreev conductance completely null in its birth. Therefore, we find that a resonant edge state appears as a zero-mode and discuss it in terms of a poor man’s Majorana[Nature 614, 445 (2023)]. I. INTRODUCTION Majorana fermions are peculiar particles equal to their own antiparticles described by real solutions of the Dirac equation[1]. In condensed matter Physics, such fermions rise as quasiparticle excitations usually quoted as Majo- rana zero-modes (MZMs), which are found attached to the boundaries of topological superconductors (TSCs)[2– 31]. Astonishingly, since the theoretical Kitaev seminal proposal of p-wave superconductivity[32], MZMs are no- tably coveted due to their attribution as building-blocks for the highly pursued fault-tolerant topological quantum computing. Thereafter, in the last years, such excitations have received astounding focus from both communities working with quantum science and technology. Interestingly enough, theoretical predictions point out that the fractional zero-bias peak (ZBP) in transport evaluations through quantum dots, which is given by the conductance GTotal(0) = e2 2h [2–4], could have its ori- gin from both the system topological nontrivial regime, where two MZMs emerge spatially far apart at the edges of a TSC[3, 4], as well as in the corresponding trivial, which could exhibit, for instance, Andreev bound states (ABSs)[33, 34]. In this regard, we highlight Ref.[35], which by treating the TSC within the theoretical frame- work of the Oreg-Lutchyn Hamiltonian[9], allows a de- tailed and systematic analysis on the formation of MZMs versus ABSs issue. In parallel, effective models[3, 33, 36], despite their simplifications, are used to capture, with a quite good accuracy, the corresponding low-energy Physics encoded by models such as that in Ref.[9] and the Kitaev Hamiltonian[32]. Back to the issue of the topological nontrivial regime, not less important, once an ordinary fermion can be ∗ corresponding author: jose.sanches@unesp.br † corresponding author: antonio.seridonio@unesp.br decomposed into two MZMs, is the amplitude 1/2 in GTotal(0), the hallmark of the fractionalization of the quantum of conductance e2 h , thus giving rise to the con- cept of fractionalized electronic zero-frequency spectral weight, which indeed reveals, the MZM “half-fermionic” nature[4]. This aforementioned fingerprint is expected to show up in engineered platforms that combine con- ventional s-wave superconductivity and spin-texture [see Refs.[37–39] and Fig.1(a)]. As aftermath, the p-wave su- perconductivity becomes feasible, thus allowing the ex- perimental realization of the spinless Kitaev wire, which is indeed, a TSC in 1D[7, 25, 27, 32, 40–43]. For such an accomplishment, we highlight two practical recipes based on the Oreg-Lutchyn proposal[9], which have the following ingredients: (i) a semiconducting nanowire, with strong spin-orbit coupling (SOC) and under a mag- netic field, should be deposited on top of an s-wave superconductor[25, 29–31, 40, 41, 44] or (ii) a linear chain of magnetic adatoms with exchange interactions should be hosted by an s-wave superconductor with strong SOC[13, 18, 37–39, 45–51]. In both the situa- tions, the s-wave superconductors with singlet Cooper pairing lead to the so-called superconducting proximity effect, which is pivotal to carry forward the supercon- ducting (SC) character into such manufactured Kitaev wires. Thus, the Zeeman field from the previous recipes (i) and (ii), together with the magnified SOC from such quantum materials, establish a synergy that stabilizes the system spin-texture. Consequently, the triplet Cooper pairing for the p-wave superconductivity, as well. Particularly in the topological nontrivial regime of such setups, these Majorana quasiparticle excitations emerge ideally, i.e., as MZMs decoupled from each other and lo- calized on the boundaries of the TSC. Due to this decou- pling from their environment, MZMs are regarded robust against perturbations, once they are topologically pro- tected by the SC gap. Thus, MZMs become promising candidates for a quantum computing free of the decoher- ar X iv :2 30 1. 03 50 7v 2 [ co nd -m at .s up r- co n] 1 1 D ec 2 02 3 2 Spin polarized tip Spin-texture s-wave superconductor Fe wire Quantum Impurity a) S Metallic Surface λ1 γMIQ Source b) J Γ Γ Drain Sz sz λ2 γ1 γ2 εM λ1 λ2 γA γB |λ1|~|λ2| ABS regime d) γ1 γ2 εM c) λ1 λ2=0γMIQ e) fΔ t εM J(S/2) -J(S/2) Figure 1. (a) Proposed device expected to show a Majorana- Ising-type quasiparticle (MIQ) excitation γMIQ localized at the quantum impurity (QI) site. The γMIQ leads to a zero- bias conductance peak GMIQ(0) = e2 4h due to the QI placed between source and drain leads, but the total conductance is still GTotal(0) = e2 2h . This occurs once a genuine electron tun- neling process is present and there is a complete lack of local Andreev reflection. It can be performed by considering the QI simultaneously coupled to a spin-polarized tip with an inte- ger large spin S via an Ising-type exchange interaction J and with the hopping terms λ1(2) (being λ2 = 0 for this case) to a helical spin-texture chain hosted by an s-wave superconduc- tor. (b) Side view of panel (a) wherein the QI-lead coupling Γ and Ising-type exchange interaction J for the spin-polarized tip and QI appear highlighted. (c) Pictorial scheme of panel (b), which effectively consists of a topological superconductor (TSC), where ϵM represents the overlap between the Majo- rana zero-modes (MZMs) γ1 and γ2 at edges, while the QI shows the MIQ γMIQ. The spatial distributions of the wave functions for the MZMs and QI are also illustrated. The fac- tor 1 4 in GMIQ has correspondence to the 1 4 from the volume for the sphere depicted to represent the quasiparticle γMIQ, in contrast to the ratio 1 2 for the typical volume of the MZMs γ1 and γ2. (d) Andreev bound state (ABS) regime, obtained from the effective model with |λ1| ∼ |λ2|[33]. (e) These MZMs mimic a delocalized fermionic site f, wherein ϵM plays the role of its energy level, while the QI has 2S+1 levels ranging from −J(S/2) to +J(S/2). In this scenario, such quantum dots constitute a Kitaev dimer, i.e., with hopping t and pairing △ of the p-wave Cooper pair split into the QI and f orbitals. ence phenomenon[52, 53]. However, perfectly far apart MZMs are hypothetical objects, since they are reliable solely in infinite-size systems and in real experiments, the quantum wires are finite. As a result, these end MZMs within a finite length overlap with each other and in- evitably, a fermionic mode with a finite energy emerges instead. To overcome the aforementioned challenge, in this work, we find as route the fractionalization of ordinary MZMs, in particular, those found at a quantum impu- rity (QI) site coupled to one edge of a finite TSC in 1D. To this end, we should take into account the Ising exchange interaction between an integer large spin and such a QI. This setup corresponds to Figs.1(a) and (b), and it contains the ordinary MZMs γ1 and γ2 placed at the edges of a short TSC wire. To better understand our findings, we propose to view the MZMs as sketched in Fig.1(c), where these objects appear symbolized by calottes (half-spheres). We clarify that the employment of such a pictorial representation for the MZMs aims to explain diagrammatically the electron fractionalization into them, as well as the MZM fractionalization itself here observed. These calottes belong to a delocalized sphere cut in half, with each part placed at the TSC edges. This cartoon is very u