UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA UNIVERSIDAD DE MURCIA “Júlio de Mesquita Filho” Faculdade de Filosofia e Ciências Facultad de Comunicación y Documentación Programa de Pós-Graduação Departamento de Información y Documentación em Ciência da Informação _______________________________________________________________________________________________ TESE DE DOUTORADO O TRATAMENTO TEMÁTICO DA INFORMAÇÃO EM ABORDAGEM SOCIOCULTURAL Diretrizes para definição de política de indexação em bibliotecas universitárias PAULA REGINA DAL’ EVEDOVE _______________________________________________________________________________________________ MARÍLIA 2014 PAULA REGINA DAL’ EVEDOVE O TRATAMENTO TEMÁTICO DA INFORMAÇÃO EM ABORDAGEM SOCIOCULTURAL Diretrizes para definição de política de indexação em bibliotecas universitárias Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP/Campus de Marília, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutora em Ciência da Informação em Co-tutela com a Universidad de Murcia – Espanha. Área de Concentração: Informação, Tecnologia e Conhecimento. Linha de Pesquisa: Produção e Organização da Informação. Orientadora: Profa. Dra. Mariângela Spotti Lopes Fujita. Co-orientador: Prof. Dr. Isidoro Gil Leiva (Universidad de Murcia) Financiamento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) MARÍLIA 2014 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Dal’ Evedove, Paula Regina D136e O tratamento temático da informação em abordagem sociocultural: diretrizes para definição de política de indexação em bibliotecas universitárias / Paula Regina Dal’ Evedove. –– Marília, 2014. 266f.; 30cm. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) – Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, 2014. Orientadora: Profa. Dra. Mariângela Spotti Lopes Fujita Co-orientador: Prof. Dr. Isidoro Gil Leiva 1. Organização e Representação do Conhecimento. 2. Tratamento Temático da Informação. 3. Política de indexação. 4. Abordagem sociocultural. 5. Bibliotecas universitárias. I. Autor. II. Título. CDD 025.35 Ficha catalográfica elaborada pela autora. Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Certificado de Aprovação CERTIFICADO DE APROVAÇÃO Título: O tratamento temático da informação em abordagem sociocultural: diretrizes para definição de política de indexação em bibliotecas universitárias Autora: Paula Regina Dal’ Evedove Área de concentração: Informação, Tecnologia e Conhecimento Linha de Pesquisa: Produção e Organização da Informação Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP, como parte das exigências para a obtenção do Título de Doutora em Ciência da Informação em Co-tutela com a Universidad de Murcia - UM/Espanha pela seguinte Banca Examinadora: Profa. Dra. Mariângela Spotti Lopes Fujita (Orientadora) Departamento de Ciência da Informação Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP/Marília - SP Prof. Dr. Walter Moreira (Membro interno) Departamento de Ciência da Informação Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP/Marília - SP Profa. Dra. Brígida Maria Nogueira Cervantes (Membro externo) Departamento de Ciência da Informação Universidade Estadual de Londrina - UEL/Londrina - PR Profa. Dra. Marisa Brascher Basílio Medeiros (Membro externo) Departamento de Ciência da Informação Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC/Florianópolis - SC Prof. Dr. Isidoro Gil Leiva (Co-orientador) Departamento de Información y Documentación Universidad de Murcia - UM/Murcia - Espanha Marília, 23 de maio de 2014. Presidente da Banca Examinadora Profa. Dra. Mariângela Spotti Lopes Fujita Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Dedicatória Aos amores que dão sentido e beleza a tudo: Meu esposo Thiago, pelo estímulo constante e pela amizade, tornando os meus em Nossos Sonhos. Meu filho Thomas, o pedacinho do céu em minha vida que tem cheiro de felicidade. Caminhar junto a vocês por toda a eternidade é um privilégio! Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Agradecimentos AGRADECIMENTOS Estendo um agradecimento especial à minha família pelo amor e apoio constante. Pessoas amadas que me ensinaram que o caráter justo é mais valioso do que qualquer objeto material, conhecimento adquirido ou meta alcançada. À Profa. Dra. Mariângela Spotti Lopes Fujita por suas palavras de confiança, pelos ensinamentos, pelo acolhimento da pesquisa, por sua inesquecível generosidade e, principalmente, pelo exemplo de vida. Obrigada pelo prazer de ter sido sua orientanda nesta trajetória de quase uma década. Ao Prof. Dr. Isidoro Gil Leiva por conduzir a co-orientação desta Tese com respeito e disponibilidade. Em especial, pelo apoio prestado no período da realização desta pesquisa na Espanha. À Milena Polsinelli Rubi pelas ricas sugestões que enriqueceram a Tese na Banca de Qualificação e, sobretudo, pela amizade. Aos membros da Banca Examinadora pela contribuição sumamente enriquecedora para a finalização desta Tese. Aos docentes do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação pelos contributos científicos e pelas oportunidades de reflexão. Aos sujeitos participantes da pesquisa que colaboraram para a realização desta Tese, doando tempo e atenção para questões que contribuirão para a abertura de novos horizontes nas temáticas aqui trabalhadas. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, pelo financiamento desta pesquisa no Brasil e no exterior. Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Epígrafe “Com frequência, os vales profundos de nosso presente serão compreendidos somente quando nos lembrarmos deles do alto das montanhas de nossa experiência futura”. Dieter F. Uchdorf Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Resumo RESUMO Esta Tese tem por objeto de estudo o Tratamento Temático da Informação em abordagem sociocultural, contemplando os fundamentos teóricos e metodológicos da área de Organização e Representação do Conhecimento, as necessidades dos bibliotecários relativas ao cotidiano da profissão, bem como relativas à informação construída como prática social em contexto de bibliotecas universitárias. A proposta nesta pesquisa foi investigar as vertentes científica, profissional e de uso que compõem o Tratamento Temático da Informação em abordagem sociocultural, a fim de identificar os principais elementos cognitivos, culturais e sociais que devem respaldar a elaboração de uma política de indexação para bibliotecas universitárias. O objetivo geral foi contribuir com diretrizes para a definição de políticas de indexação para bibliotecas universitárias a partir: a) dos fundamentos teóricos e metodológicos do corpo de docentes da área de Organização e Representação do Conhecimento; b) do contexto sociocognitivo do bibliotecário; e c) características e princípios culturais dos usuários. Para tanto, no primeiro momento da pesquisa foram aplicados questionários com docentes que ministram disciplinas relacionadas à área de Organização e Representação do Conhecimento no âmbito do Tratamento Temático da Informação, bibliotecários indexadores que atuam em contexto de bibliotecas universitárias e usuários das respectivas bibliotecas universitárias. A aplicação dos questionários revelou a concepção dos atores sociais investigados sobre o cenário teórico-metodológico e prático-aplicado em que se encontra a política de indexação, cujos resultados, em conjunto com a exposição teórico-reflexiva, encaminharam a elaboração de diretrizes de orientação para definição de política de indexação para bibliotecas universitárias. Todas as diretrizes propostas foram estabelecidas com o objetivo de orientar sobre um determinado problema evidenciado nas discussões e resultados apresentados ao longo desta pesquisa. Com vistas à validação do material proposto, aplicou-se a técnica de Protocolo Verbal em Grupo com bibliotecários indexadores para verificar a pertinência das diretrizes de política de indexação para o contexto da biblioteca universitária e realizar adequações necessárias. Os resultados apontam a relevância da inclusão dessas diretrizes no contexto das bibliotecas universitárias, pois abrigam um conjunto de considerações reflexivas e de orientação a serem consideradas no momento da elaboração da política de indexação. Palavras-chave: Organização e Representação do Conhecimento. Tratamento Temático da Informação. Política de indexação. Abordagem sociocultural. Bibliotecas universitárias. Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Abstract ABSTRACT This thesis is to study the object Information Subject Treatment in sociocultural approach, considering the theoretical and methodological foundations of the field of Organization representation of knowledge, the needs of librarians regarding everyday work as well as information relating to the built as social practice in the context of university libraries. The purpose of this research was to investigate the scientific aspects, professional and use that compose the theme Information Subject Treatment on sociocultural approach in order to identify key cognitive, cultural and social elements that should support the development of Indexing policy to university libraries. The overall objective was to contribute to guidelines for the formulation of a indexing policy from university libraries: a) theoretical and methodological foundations of the teaching staff in the area of Organization and Knowledge Representation; b) social cognitive context of librarians and c) cultural principles and characteristics of users. For both, the first time of the survey questionnaires with teachers who teach subjects related to the area of Organization and Knowledge Representation within the Information Subject Treatment, librarians indexers who work in the context of university libraries and members of the academic libraries were applied. The questionnaires revealed the design of social actors investigated on the theoretical, methodological and practical-applied scenario in which it is the indexing policy, the results of which, together with the theoretical- reflective display, forwarded to draw up guidelines for orientation definition of indexing policy for university libraries. All proposed guidelines were established with the aim of guiding on a particular issue highlighted in the discussions and results presented throughout this research. With a view to validate the proposed material, we applied the technique of Verbal Protocol Group with professional indexers in order to verify the relevance of the guidelines indexing policy for the context of the university library and make the necessary adjustments. The results show the relevance of the inclusion of these guidelines in the context of university libraries, for housing a set of reflective considerations and guidance to be considered when drawing up the indexing policy. Keywords: Organization and Knowledge Representation. Information Subject Treatment. Indexing policy. Sociocultural approach. University libraries. Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Resumen RESUMEN El objeto de estudio es el tratamiento temático de la información desde uma perspectiva sociocultural, contemplando los fundamentos teóricos y metodológicos de la Organización y Representación del Conocimiento, las necesidades de los bibliotecarios sobre determinos procesos realizados, así como con respecto a la información elaborada como práctica social en el contexto de las bibliotecas universitarias. La propuesta en este estudio es investigar las vertientes científica, profesional y de uso del tratamiento temático de la información desde uma perspectiva sociocultural para identificar sus principales elementos cognitivos, culturales y sociales que deben conducir al desarrollo la política de indización en las bibliotecas universitarias. El objetivo general fue contribuir con directrices para la definición de una política de indización basadas a) fundamentos teóricos y metodológicos derivados del cuerpo de docentes de la Organización y Representación del Conocimiento; b) el contexto sociocognitivo del bibliotecario profesional; y c) características y principios culturales de los usuarios. En un primer momento se aplicaron cuestionarios a profesores que imparten materias relacionadas con la Organización y Representación del Conocimiento dentro del tratamiento temático de la información, indizadores bibliotecarios que trabajan en bibliotecas universitarias y a usuarios de ellas. La aplicación de los cuestionarios reveló el diseño de los actores sociales sobre los aspectos conceptuales y metodológicos de la política de indización, cuyos resultados, conjuntamente con análisis teóricos y reflexivos condujo a la elaboración de directrices para la configuración de una política de indización para bibliotecas universitarias. La evaluación de las propuestas se llevó a cabo a través de la metodología del protocolo verbal en grupo con indizadores profesionales para su revisión crítica y para realizar los ajustes necesarios. Entre los resultados cabe destacar la delimitación de ocho directrices que impregnan la preparación y el desarrollo de la política de indización. Entre las conclusiones cabe mencionar que la investigación de las vertientes científica, profesional y de uso del tratamiento temático de la información propicia la elaboración de una política de indización para bibliotecas universitarias que ofrecen sus productos y servicios informacionales. Además, el conjunto de directrices propuesto para la definición de la política de indización proporciona una relación más armónica entre "saber" y "hacer", cuando se trata de poner en práctica el proceso, con el fin de salvaguardar el objetivo de biblioteca universitaria como institución dirigida a la socialización del conocimiento. Palabras Clave: Organización y Representación del Conocimiento. Tratamiento Temático de la Información. Política de indización. Abordagen sociocultural. Bibliotecas universitarias. Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Lista de Ilustrações LISTA DE ILUSTRAÇÕES Quadro 1. Sistematização da pesquisa 41 Quadro 2. Fases da política de indexação 107 Quadro 3. Contrastes entre os paradigmas de pesquisa fenomenológico e normativo 123 Quadro 4. Universo para a coleta de dados por meio de questionários 132 Quadro 5. Universo para a coleta de dados por meio de questionário com bibliotecários indexadores 134 Quadro 6. Universo para a coleta de dados por meio de questionário com usuários 135 Quadro 7. Biblioteca universitária para aplicação do Protocolo Verbal em Grupo 137 Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Lista de Tabelas LISTA DE TABELAS Figura 1. Eixos da política de indexação 105 Tabela 1. Número de participantes da pesquisa 142 Tabela 2. Distribuição das respostas dos docentes por escala 175 Tabela 3. Distribuição das respostas dos profissionais por escala 184 Tabela 4. Distribuição das respostas dos usuários por escala 188 Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Lista de Abreviaturas e Siglas LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ANCIB Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da Informação BC Biblioteca Central BCCMN Biblioteca do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza BCCS Biblioteca Setorial do Centro de Ciências da Saúde BIMECC Biblioteca do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Cientifica. BIO Biblioteca de Biociências BSE Biblioteca Setorial de Educação CEP Comitê de Ética em Pesquisa CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico ENANCIB Encontro Nacional de Pesquisa Ciência da Informação IES Instituições de Ensino Superior ISKO International Society for Knowledge Organization LC Library of Congress MARC Marchine Readable Cataloging MCT Ministério da Ciência e Tecnologia PDSE Programa Institucional da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior PIBIC Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica PPGCI Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação PVG Protocolo Verbal em Grupo TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TTI Tratamento Temático da Informação Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Lista de Abreviaturas e Siglas UEL Universidade Estadual de Londrina UFES Universidade Federal do Espírito Santo UFPB Universidade Federal da Paraíba UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro UNESP Universidade Estadual Paulista UNICAMP Universidade Estadual de Campinas Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Sumário SUMÁRIO PRIMEIRA SEÇÃO 1 INTRODUÇÃO 15 1.1 Antecedentes 15 1.2 Delineamento da pesquisa 24 1.3 Apresentação das seções 41 SEGUNDA SEÇÃO 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 45 2.1 A informação como fenômeno social na organização e representação do conhecimento 46 2.1.1 O paradigma social no campo da informação 51 2.1.1.1 A relação entre informação e ação 58 2.1.2 A abordagem sociocultural no campo da informação 63 2.1.2.1 Propostas e efeitos discursivos 68 2.2 A organização e a representação da informação no espaço das bibliotecas universitárias 76 2.2.1 A dimensão temática da organização da informação 85 2.2.1.1 O processo de tratamento temático em bibliotecas universitárias 92 2.2.1.2 A política de indexação em perspectiva sociocultural 101 2.3 Síntese analítica 116 TERCEIRA SEÇÃO 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 119 3.1 Fundamentação metodológica 119 3.1.1 A perspectiva fenomenológica 121 3.2 Percurso metodológico 126 3.2.1 Caracterização do universo de pesquisa 131 3.3 Técnicas para a coleta de dados 138 3.3.1 Questionário 138 3.3.1.1 Estrutura do questionário 140 3.3.1.2 Procedimentos quanto à análise dos dados coletados com questionário 143 3.3.2 Protocolo Verbal: técnica introspectiva para coleta de dados 146 3.3.2.1 Protocolo Verbal em Grupo 149 QUARTA SEÇÃO 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 156 4.1 A política de indexação para bibliotecas universitárias na perspectiva dos atores sociais testados 156 Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Sumário 4.1.1 Perspectiva dos docentes 158 4.1.2 Perspectiva dos profissionais 176 4.1.3 Perspectiva dos usuários 188 4.2 Análise comparativa dos resultados 191 QUINTA SEÇÃO 5 PROPOSTA DE DIRETRIZES DE POLÍTICA DE INDEXAÇÃO PARA BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS 195 5.1 Proposição de novas diretrizes de política de indexação 195 5.2 Política de indexação para bibliotecas universitárias do ponto de vista da comunidade profissional 197 5.2.1 Apresentação e análise dos dados do Protocolo Verbal em Grupo 198 SEXTA SEÇÃO 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 211 6.1 Delineando as conclusões 211 6.2 Recomendações 216 CONSIDERACIONES FINALES 219 Conclusiones 219 Recomendaciones 223 REFERÊNCIAS 225 APÊNDICES Apêndice A. Cursos de formação em Biblioteconomia no Brasil 247 Apêndice B. Disciplinas relacionadas ao ensino do Tratamento Temático da Informação nos cursos de Biblioteconomia do Brasil 250 Apêndice C. Questionário para o docente 256 Apêndice D. Questionário para o profissional 258 Apêndice E. Questionário para o usuário 261 Apêndice F. Texto utilizado na aplicação do Protocolo Verbal em Grupo 262 ANEXOS Anexo A. Parecer científico do Comitê de Ética em Pesquisa 264 15 Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Seção 1 SEÇÃO 1 INTRODUÇÃO Esta seção introdutória comporta os antecedentes que sustentam a investigação e as principais motivações para a execução desta Tese de Doutorado. Neste caminhar, expõe-se a inserção do tema e do objeto no universo científico do campo da informação, seguido pelo problema de pesquisa e suas delimitações, bem como pelas hipóteses, objetivos e escolhas metodológicas adotadas. Após a explanação destes elementos descreve-se a estrutura do trabalho. 1.1 Antecedentes A presente Tese decorre de alguns anos de pesquisa no universo científico da Ciência da Informação e da Biblioteconomia, especificamente no âmbito da área de Organização e Representação do Conhecimento enquanto disciplina científica e social de reflexão e produção teórica (GARCÍA MARCO, 1995), confluente ao entendimento das problemáticas que envolvem o conhecimento registrado. Esses anos de pesquisa culminaram em um olhar mais atento para o complexo processo que envolve o Tratamento Temático da Informação, qualificado como núcleo ou matriz central da Ciência da Informação. Como resultado, optou-se em não se desvencilhar deste tema e, sim, constituir um caminho mais verticalizado em torno dos questionamentos decorrentes desses anos de pesquisa, sendo a busca do Doutorado em Ciência da Informação fruto deste processo. Em particular, esta trajetória de pesquisa científica sob a orientação da Profa. Dra. Mariângela Spotti Lopes Fujita originou-se com a execução de dois projetos de pesquisa (período de 2006 a 2008) no âmbito do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” 16 Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Seção 1 (UNESP/Campus de Marília) com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), sendo estes intitulados “Estratégias para o ensino de indexação: o uso do protocolo verbal interativo como recurso de aprendizagem de indexadores aprendizes” e “O estudo da cognição profissional pelo protocolo verbal de catalogadores de assunto em contexto de biblioteca universitária: uma abordagem sóciocognitiva pela análise de domínio”. Em especial, o segundo projeto contemplou a investigação dos aspectos subjetivos inerentes ao processo de tratamento temático da informação em contexto de bibliotecas universitárias pela abordagem sociocognitiva. Para tanto, iniciaram-se pesquisas interdisciplinares com as Ciências Cognitivas para melhor compreender o processo de conhecer do profissional da informação na qualidade de sujeito cognoscente1 que sofre influência do meio que o cerca e, muitas vezes, acaba por influenciar a atribuição de conceitos, em virtude da utilização do “bom senso” e desprendimento de diretrizes teórico- aplicadas dispostas pela literatura especializada. O referencial teórico analisado subsidiou a investigação da cognição de um grupo de profissionais bibliotecários pertencentes à Rede de Bibliotecas da UNESP e atuantes no processo de tratamento temático da informação. De modo geral, verificou-se que a qualidade dos produtos e serviços resultantes do processo de tratamento temático da informação não está relacionada apenas com questões subjetivas, ligadas “ao perigoso sabor do tradicional bom senso” (GUIMARÃES, 2003, p. 03), mas é fruto de uma junção de fatores advindos, dentre outros, pela eficiência ou não do serviço de referência e das condições administrativas envolvidas na biblioteca universitária, enquanto domínio informacional específico. Naturalmente, constatou-se que os produtos gerados no processo não se restringem a um único profissional, mas são fortemente influenciados pelo bibliotecário dirigente e bibliotecário de referência, os quais, de acordo com os resultados da pesquisa, não possuem uma nítida compreensão sobre as consequências de suas ações particulares desempenhadas no contexto institucional e, inevitavelmente, sobre a influência deste comportamento no resultado dos produtos informacionais gerados em contextos de bibliotecas universitárias (DAL’ EVEDOVE, 2007). 1 Nesta pesquisa o termo sujeito cognoscente é trabalhado no sentido de Habermas (1987) – o sujeito ativo, que constrói e, portanto, refere-se a um ser concreto, individual, do pensamento, com características e particularidades específicas, inserido em um contexto de atividade e significação. 17 Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Seção 1 Esta observação emergiu em um interesse pessoal por questões relacionadas à interação profissional entre os bibliotecários no contexto de bibliotecas universitárias para a execução da atividade de tratamento temático da informação, característica decisiva na definição do viés investigativo pelo qual a pesquisa de mestrado se debruçaria. Realizada no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI) da mesma universidade, a Dissertação de Mestrado defendida no ano de 2010 e intitulada “A perspectiva sóciocognitiva no tratamento temático da informação em bibliotecas universitárias: aspectos inerentes à percepção profissional”2 obteve amparo no seguinte questionamento de pesquisa: a partir do levantamento de interesse, grau de informações, atitudes, visões e conhecimentos dos profissionais bibliotecários ligados à atividade de tratamento temático da informação é possível obter subsídios que contribuam para uma sistematização do processo em contexto de bibliotecas universitárias que alie o ‘saber’ (aportes teóricos) e o ‘fazer’ (prática cotidiana), visando diminuir incoerências ou omissões e dar maior consistência para a criação de produtos informacionais? Em atenção a tal indagação, propôs-se realizar um estudo sociocognitivo da comunidade de aprendizagem3 que realiza o processo de tratamento temático da informação mediante interações no ambiente de trabalho, a fim de obter um diagnóstico da percepção profissional referente às etapas e produtos gerados no contexto de bibliotecas universitárias. Mais especificamente, o objetivo geral da pesquisa foi identificar a percepção profissional sobre o processo de tratamento temático da informação realizado no âmbito de bibliotecas universitárias, visando oferecer subsídios para a elaboração de uma política específica para a atividade de tratamento temático da informação realizada neste contexto informacional e que fosse condizente para a realização do processo pela perspectiva profissional. Para tanto, buscou-se, a partir da compreensão do movimento interdisciplinar na contemporaneidade, refletir a abordagem cognitiva na Ciência da Informação pela vertente das Ciências Cognitivas; compreender a abordagem temática no campo da 2 Pesquisa de Mestrado desenvolvida com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP (número do processo – 2008/51939-7). 3 O universo do estudo contemplou três bibliotecas universitárias públicas do estado de São Paulo, cujas metodologias aplicadas foram questionários e Protocolo Verbal em Grupo com um grupo de profissionais constituído por bibliotecários dirigentes, bibliotecários de referência e catalogadores de assunto. 18 Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Seção 1 informação para contextualizar o Tratamento Temático da Informação pela abordagem sociocognitiva; verificar por meio da percepção profissional o processo de tratamento temático da informação em contexto de bibliotecas universitárias; analisar as ações dos profissionais embasadas nos aportes teóricos e na prática cotidiana do processo inerente ao contexto institucional e interação social; e investigar por meio de comparações entre os aportes teóricos e a prática cotidiana da profissão a existência de uma uniformidade do processo no âmbito de bibliotecas universitárias. Dentre outros resultados, as análises das concepções dos profissionais bibliotecários investigados apontaram a política de indexação enquanto recurso prioritário para: a) propiciar diretrizes em nível teórico-metodológico sobre o processo de tratamento temático da informação e especificação de suas operações; b) subsidiar as ações profissionais dos bibliotecários na esfera do ‘saber’ e do ‘fazer’; c) preservar a perspectiva sociocognitiva do profissional, evidenciando suas visões holísticas e coletivísticas sobre a realidade do contexto de bibliotecas universitárias; d) contemplar os princípios, critérios e filosofias da comunidade usuária local; e e) contribuir para o desenvolvimento e aprimoramento das bibliotecas universitárias enquanto agências promotoras do saber. Tomando como base tais resultados e tendo em vista a necessidade de se considerar as relações humanas atuantes no processo de tratamento temático da informação realizado em contexto de bibliotecas universitárias, teve-se ampliado o interesse por questões cognitivas, sociais e culturais que cercam a vertente humana do Tratamento Temático da Informação na qualidade de elementos de relevo mais proeminentes, quando considerado o cunho social empregado ao campo da informação, abrindo portas para uma configuração mais ampla da realidade que cerca o seu universo investigativo. Nesse contexto, alguns questionamentos passaram a figurar em meio as inquietações que cercam o universo científico da área de Organização e Representação do Conhecimento na busca por uma consolidação científica e legitimação social, sendo estes:  De que forma e a partir de quais aspectos teóricos e metodológicos é possível circunscrever as ações subjetivas dos profissionais bibliotecários que atuam em processos de organização temática da informação? 19 Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Seção 1  Como atribuir valor e preservar a cultura particular dos domínios informacionais às informações construídas por meio de práticas sociais?  Quais aspectos cognitivos, sociais e culturais devem sustentar as políticas direcionadas ao processo de tratamento temático da informação no âmbito de domínios contemporâneos? Diante de tais problemáticas, considerou-se oportuna a elaboração de uma pesquisa que abarcasse, ao menos em parte, alguns dos aspectos cognitivos, culturais e sociais presentes no universo científico do Tratamento Temático da Informação atrelados às perspectivas técnicas e prática profissional. Outro aspecto importante a ser declarado é a carência de estudos que realizem menções ou busquem uma confluência direta entre todos os atores sociais ativos no estabelecimento, execução e resultado do processo de tratamento temático da informação realizado em contexto de bibliotecas universitárias. Em virtude dessa carência de esforços direcionados ao conjunto de relações entre os vários elementos e atores sociais ligados ao processo de tratamento temático da informação, e considerando tal construção investigativa de grande importância para o avanço de questões teóricas e técnicas no campo da informação, especificamente na área de Organização e Representação do Conhecimento, o foco inicial desta pesquisa assentava-se na investigação das diferentes vertentes que compõem o processo em abordagem sociocultural4, delimitadas aqui em: vertente científica composta pelos docentes que ministram disciplinas relacionadas à área de Organização e Representação do Conhecimento no âmbito do Tratamento Temático da Informação; vertente profissional constituída pelos profissionais bibliotecários indexadores5 que atuam em contexto de bibliotecas 4 Adota-se o termo sociocultural por ser mais apropriado quando se trata de uma perspectiva contemporânea e não outras grafias comumente encontradas na literatura científica, tais como sóciocultural ou sócio-cultural (WERTSCH, 1995). Autores como Shweder (1995) e Cole (1998) empregam o termo psicologia da cultura. 5 Para afastar-se de possíveis confusões terminológicas são utilizados nesta pesquisa os termos “indexação” e sua derivação “bibliotecário indexador” e não “catalogação de assunto” e sua derivação “catalogador de assunto”. Isto porque, a catalogação de assunto, termo adotado pela Declaração de Princípios Internacionais de Catalogação, realizada em 2003 na cidade de Frankfurt, compreende “a parte da catalogação que fornece cabeçalho de assunto/termos e/ou classificação” (IFLA MEETING OF EXPERTS ON AN INTERNATIONAL CATALOGUING CODE, 2008), sendo utilizado para orientações ao uso da lista de cabeçalhos de assunto da Library of Congress Subject Headings (LCSH) da 20 Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Seção 1 universitárias e realizam o processo; e vertente de uso formada pela comunidade usuária do referido domínio informacional. Contudo, em meio ao envolvimento com a literatura especializada do campo da informação, das reflexões e diálogos com a orientadora, das discussões e trabalhos desenvolvidos nas disciplinas cursadas no PPGCI da UNESP e, sobretudo, diante da pouca literatura sobre políticas destinadas ao processo de tratamento temático da informação, projetou-se os esforços desta pesquisa na busca por atrelar o foco inicial às indicações dos profissionais bibliotecários investigados na pesquisa de mestrado quanto da necessidade de diretrizes sobre o tratamento temático da informação realizado no contexto de bibliotecas universitárias, especificamente para a atividade de indexação com fins de representação documental. Tal abertura era necessária ao admitir-se que a natureza do processo de indexação, ainda que “[...] empírico e sujeito a uma aplicabilidade intuitiva demanda investigações científicas que se proponham a aprimorar o conhecimento profissional de quem o executa bem como os instrumentos, métodos e técnicas utilizados para tal” (FUJITA, 2013a, p. 9). Com efeito, o quadro investigativo foi delineado. Inserida na esfera da representação e recuperação da informação, a política de indexação6 constitui-se na formalização dos processos, procedimentos, instrumentos e filosofias institucionais, podendo ser entendida como a iniciativa de materializar em guias ou manuais os procedimentos adotados para o desenvolvimento da atividade de tratamento temático da informação (GIL LEIVA, 2008). Neste sentido, a adoção de políticas de indexação é uma ação necessária para o bom funcionamento do sistema, produzindo uma correspondência precisa entre as ações profissionais e a qualidade dos produtos e serviços Library of Congress (Estados Unidos) e no desenvolvimento de atividades de análise e representação temática da informação. Todavia, a International Federation of Library Associations and Institutions (IFLA) possui quatro seções, nomeadas por “Gerenciamento do Conhecimento, Bibliografia, Catalogação e Classificação e Indexação”, formadoras da Divisão IV – Controle Bibliográfico, com atribuições definidas no cumprimento de suas funções. Criada em 1981, a Seção de Classificação e Indexação (Classification and Indexing Section) visa apresentar métodos e promoção ao acesso por assuntos em catálogos, bibliografias e índices de todos os tipos de documentos, incluindo os eletrônicos. Sendo assim, o termo indexação de assunto refere-se ao processo de indexação para catalogação, ou seja, é caracterizado por representar o conteúdo do documento por meio de linguagens documentais alfabéticas para a geração de produtos documentais como os catálogos e as notações de classificação (BOCCATO, 2009). 6 Termo comumente adotado pela literatura especializada da área de Organização e Representação do Conhecimento. Lancaster (1968, p. 62) se referiu ao assunto como políticas de entrada de documento, constituindo-se como “[...] a política adotada a respeito do material indexado no sistema”. 21 Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Seção 1 informacionais oriundos do processo. Apesar de a literatura especializada discorrer sobre a importância da adoção de tais diretrizes, nas quais são explicitadas as escolhas técnico- administrativas do contexto de informação pelas quais os profissionais precisam se orientar em suas rotinas, considerando como variáveis o usuário e o acervo, Fujita (2012a) alerta sobre o desafio de aliá-las à prática cotidiana da profissão, mas assegura que esta associação se faz necessária para que haja conscientização sobre os elementos e as variáveis da política de indexação e os efeitos que estes causam na recuperação da informação. Segundo a autora, a política de indexação mostra-se imprescindível do ponto de vista gerencial e estratégico na medida em que tais diretrizes são “[...] norteadoras de princípios e critérios que servirão de guia na tomada de decisões para otimização do serviço e da racionalização dos processos” (FUJITA, 2012a, p. 17). Com base neste entendimento e, sobretudo, em virtude da relevância destas diretrizes no cenário que envolve o processo de tratamento temático da informação em contexto de bibliotecas universitárias, elencou-se a política de indexação como elemento constituinte desta Tese, considerando, no seu entorno, as questões humanas do processo de tratamento temático da informação. Mais precisamente, busca-se contribuir com novos subsídios que possam tornar a política de indexação um recurso passível de uso por parte do profissional bibliotecário ao serem contempladas e incorporadas as indicações e concepções teóricas; as especificidades da prática cotidiana da profissão relacionadas à atividade de tratamento temático da informação; e da realidade própria de cada domínio informacional, especificamente no que tange aos interesses informacionais de seus usuários. O diferencial frente a outros estudos que tenham como pano de fundo o tema política de indexação assenta-se na possibilidade de se conhecer os modos sociais de pensamento dos atores sociais testados, de modo a articular suas opiniões, impressões, comportamentos e interesses pessoais e coletivos na busca por diretrizes que atendam os interesses das vertentes científica, profissional e de uso. Neste sentido, acredita-se que esta pesquisa constitui uma contribuição possível para a observância de fenômenos que cercam o processo de tratamento temático da informação em bibliotecas universitárias, os quais estão inseridos no contexto real (profissional e acadêmico) da vida de cada ator social na condição de sujeito de pesquisa aqui investigado. Fato que torna premente considerar que os produtos e serviços 22 Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Seção 1 informacionais gerados a partir do processo de tratamento temático da informação não podem ser abandonados à espontaneidade da subjetividade ou “bom senso” profissional; alheios às necessidades informacionais dos usuários; ou mesmo apartados da literatura especializada da área de Organização e Representação do Conhecimento. De modo a executar tais indicações, o universo da pesquisa contemplou uma amostra de docentes da área de Organização e Representação do Conhecimento dos cursos de Biblioteconomia oferecidos por Instituições Públicas de Ensino Superior, bem como uma seleção de seis universidades públicas nacionais para a coleta de dados com profissionais bibliotecários indexadores e usuários de bibliotecas universitárias. Além do que foi aventado, esclarece-se que a coleta dos dados com diferentes atores sociais versou no entendimento de que a busca por distintos contextos informacionais e enfoques teóricos e metodológicos contribuiria para o aprofundamento da pesquisa. Nesse espírito, julgou-se uma oportunidade favorável e eficaz de se comparar realidades, contextos e conhecimentos da prática pedagógica e da composição do quadro teórico-científico do Tratamento Temático da Informação no Brasil e, também, para se conhecer a comunidade profissional ligada ao contexto de bibliotecas universitárias brasileiras de diferentes culturas, envolvendo os procedimentos pré-estabelecidos por cada instituição referente ao processo de tratamento temático da informação. A partir deste conjunto de elementos e problemáticas apresentadas que se projeta a presente pesquisa no âmbito do Tratamento Temático da Informação, considerando, sobretudo, os aspectos de fundamentação teórica e metodológica da área de Organização e Representação do Conhecimento; a ênfase na ação mediadora dos profissionais bibliotecários na condição de agentes informacionais; e a realidade própria do contexto de bibliotecas universitárias como forma de obtenção de subsídios para a elaboração de políticas de indexação na condição de diretrizes necessárias para que a biblioteca universitária, enquanto domínio informacional específico, alcance êxito no cumprimento de seus objetivos e missões, concatenados à satisfação dos interesses informacionais de seus usuários. Neste ponto, cabe colocar em relevo a importância da palavra “satisfação” ora empregada e usualmente aplicada no contexto acadêmico, científico e profissional do 23 Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Seção 1 campo da informação. Esta palavra desvela-se como sendo as tramas desta pesquisa, o fio condutor para o qual os objetivos se curvam. Isto porque, como lembra Carvalho (2004, p. 165), “[...] fica contraditório oferecer serviços e produtos para atender as necessidades informacionais de usuários que não são efetivamente conhecidos, nem em suas características minimalistas”. Reconhecer as necessidades informacionais dos usuários é um movimento que, num primeiro momento, se mostra infindável, demandando esforço e envolvimento. Porém, é a melhor alternativa para suprir deficiências, melhorar a qualidade dos produtos e serviços informacionais gerados a fim de ampliar o uso e, principalmente, reafirmar o papel das bibliotecas universitárias como provedoras da socialização do conhecimento. Em síntese, a ideia é de que: Precisamos abandonar a percepção e, mais do que a percepção, a prática de centrar a biblioteca em sua própria organização, de oferecer serviços e produtos já preparados e testados na perspectiva somente do bibliotecário, como algo imutável ou passível apenas de pequenas adaptações. Se pretendem atender às expectativas, às necessidades e aos desejos de seus usuários, ou seja, de reconhecê-los como elemento norteador de suas atividades, as [bibliotecas universitárias] precisam começar por mapear as características e demandas desses usuários, aceitando o ponto de vista deles como o que prevalece na definição da política de serviços e produtos (CARVALHO, 2004, p. 165). Ao que tange a teoria e a prática do processo de tratamento temático da informação, também focos de análise da pesquisa, o ponto de reflexão advém com as palavras cunhadas por Ortega y Gasset (2006, p. 13) quando de seu entendimento para com o fazer do profissional bibliotecário, ao afirmar que o homem é “[...] obrigado a desindividualizar-se, a não decidir suas ações exclusivamente do ponto de vista de sua pessoa, mas do ponto de vista coletivo, sob pena de ser um mau profissional [...]”. Tal pensamento é estendido nesta pesquisa aos docentes dos cursos de Biblioteconomia, considerando que estes são os responsáveis primeiros pela configuração de profissionais bibliotecários que tenham em sua composição habilidades e competências para atuarem com o ciclo da informação, da produção ao uso; mas que também possuam uma preocupação ímpar com questões ligadas aos dizeres “satisfação dos usuários”, para que a prática profissional esteja intrinsecamente atrelada ao processo de socialização do conhecimento. 24 Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Seção 1 Neste sentido, entende-se que esta pesquisa abarca questões-chave presentes no Tratamento Temático da Informação de dimensão teórico-conceitual e prático-aplicada, entrelaçadas por mudanças contínuas nos domínios informacionais específicos em meio à composição e recomposição da sociedade na contemporaneidade, discussões estas ainda dispersas, com entendimentos a consolidar. 1.2 Delineamento da pesquisa O processo científico leva ao acréscimo de conhecimentos e resulta na pluralidade de diversos pensamentos e hipóteses, cujos debates contraditórios constituem a mais segura fonte para resultados proveitosos. Como forma de transferência de conhecimentos entre campos e seus pares, o diálogo científico conduz as ciências a um processo de intercâmbio informacional, conceitual, teórico e metodológico, cujo benefício é uma visão mais ampla e adequada da realidade, que tantas vezes aparece fragmentada pelos meios de que o homem possui para conhecê-la. O debate é um componente essencial no processo de amadurecimento de qualquer ciência. No que tange ao campo da informação, observa-se que tal posicionamento de reflexão teórico-conceitual se mostra necessário, na medida em que este campo de conhecimento é permeado por dilemas básicos que envolvem a informação. Além disso, deve-se considerar que, enquanto fenômeno “irresoluto” e na qualidade de objeto de estudo central deste campo científico e profissional, onde estão entrecruzadas as trajetórias, tradições e particularidades da Documentação, Arquivologia, Biblioteconomia, Museologia e da Ciência da Informação “[...] como (sub/inter)campos simultaneamente parceiros, cooperativos, conflitantes, relativamente comuns e singulares” (MARQUES, 2011, p. 76), a informação é um objeto abrigador de diversas possibilidades e olhares investigativos, principalmente quando considerada a sua dimensão espacial em termos de contemporaneidade; característica esta que a torna extremamente dinâmica. Como consequência, a informação pode ser acessada e utilizada fora do seu contexto de criação, o que implica em sua recontextualização – processo constante e complexo. Tal processo, ainda que peculiar, imprime certas particularidades no campo da 25 Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Seção 1 informação. Em primeiro lugar, assume a premissa de que o conceito informação é relativo e prende-se a outros conceitos de igual complexidade. Diante de tal fato, contextualizar a informação enquanto fenômeno é o ponto central dos esforços contemporâneos. Em segundo lugar, conduzir o campo para a chamada “intersecção de saberes” incide no desmembramento de questões precípuas que permeiam o seu objeto de estudo e permanecem desvinculadas dos diálogos científicos. Em especial, as possibilidades teóricas e aplicáveis dirigidas à área de Organização e Representação do Conhecimento que contemplem aspectos práticos e científicos que perpassam o processo de tratamento temático da informação e seus desdobramentos. Em virtude das características ora elencadas, entende-se que a observação de aspectos cognitivos, culturais e sociais, relativizados, seja relevante para o campo da informação que agrupa disciplinas científicas que têm por objeto a gênese, organização, tratamento, comunicação, disponibilização e disseminação da informação. Isto porque seu objeto de estudo não deve ser apenas fisicamente observado, mas “historicamente construído”, pois para reconhecer, interpretar e transmitir significados cada sujeito cognoscente cria mecanismos informacionais (MORADO NASCIMENTO, 2006). Por tais razões, não se pode omitir neste campo as relações que as pessoas estabelecem com os conteúdos informativos e os processos de produção, organização, busca e uso da informação, pois sendo a informação um produto humano, o sujeito cognoscente não deve ser excluído do processo. Ao se considerar que o sujeito não é um ser isolado, mas vive socialmente e recebe influência de seu meio, o contexto de enunciação e interlocução deve ser evidenciado. Logo, no processo de conhecer com fins de organização e representação da informação o contexto, o sujeito cognoscente e a própria informação carecem de observações mais verticalizadas que integrem estes três elementos, como forma de ampliar os horizontes sobre o processo de tratamento temático da informação realizado em contexto de bibliotecas universitárias. A compreensão da informação no contexto da orientação social vale-se dos processos socioculturais envolvidos, uma vez que o valor informativo está inserido em um domínio específico. Autores como Hjørland e Albrechtsen (1995), Jacob e Shaw (1998) e 26 Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Seção 1 Ørom (2000) sustentam este pensamento e defendem a investigação dos aspectos coletivos do contexto cultural e social no processamento da informação. Isto porque, ao enfocar problemas o campo da informação não deve centrar seus esforços de maneira reducionista, abordando a informação apenas de forma dualista (CHOO, 1998). Reconhecidamente, este posicionamento crítico ganha força e, como alternativa, os referidos autores propõem considerar os processos informacionais como dependentes do contexto. Neste panorama, alguns dos estudos dedicados ao usuário e sistemas de informação pecam ao possuírem uma visão compartimentada, ou seja, exercem um bojo de tentativas de identificar e resumir elementos que os influenciam apenas na esfera individual. A este respeito, Miksa (1992) acentua que o campo da informação concede uma ínfima atenção aos aspectos sociais da informação. Complementando o exposto, tem-se a visão de Saracevic (1999) para o qual os estudos empreendidos neste campo científico devem integrar as várias manifestações e comportamentos do fenômeno informação (análise da informação) e, paralelamente, reconhecer os comportamentos, efeitos e as interfaces dentro de um contexto de dimensões sociais. Morado Nascimento (2006, p. 29) aponta que ao ser retomado o sentido ontológico do conceito de informação, passa-se a considerar que a informação é historicamente construída por “[...] sujeitos que criam mecanismos informacionais próprios (percepção, memória, imagem, etc.) para reconhecer, interpretar e transmitir significados”. Ao agir diante da informação, o sujeito atesta que não se trata apenas de uma ‘coisa’ causal ou natural que deve ser fisicamente observada, mas, sim, historicamente construída – contextualizada –, visto que é ela, a informação, que ‘dá forma a alguma coisa’ (MORADO NASCIMENTO, 2006, p. 29). Com efeito, considera-se oportuno compreender a informação construída como prática social, especificamente em se tratando do processamento da informação, uma vez que as estruturas de conhecimento precisam ser explicadas a partir do contexto social do sujeito cognoscente. Hjørland (2002) atesta que a realidade é entendida pelo sujeito conhecedor de domínios específicos e formada pelo contexto histórico e cultural, propiciando-lhe a capacidade de perceber a realidade e todos os seus fatores inerentes. Para o referido autor, a informação deve ser sociologicamente observada por meio do estudo das estruturas 27 Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Seção 1 informacionais pertencentes às comunidades discursivas7 que organizam as práticas informacionais no campo da informação (HJØRLAND, 2000). Fujita (2007, p. 403) sustenta esta questão ao expor que “o ponto básico das análises é que o processo de conhecimento individual é socialmente condicionado e, nesse sentido, é preciso ter o estudo do contexto sóciocultural do processo de informação”. Diante disto e da prerrogativa de que o campo da informação atue como um campo científico e profissional direcionado à resolução de problemas informacionais, considera-se proveitoso que os estudos dedicados aos aspectos teórico-procedimentais da organização e representação da informação também sejam trabalhados pela perspectiva sociocognitiva do sujeito cognoscente e ampliada para a esfera sociocultural do domínio informacional. Este posicionamento baseia-se no entendimento de que toda a ação humana fica destituída de significado quando não incluída em um sistema cultural de atividade (OLIVEIRA, 1993). Sobre isto, Cole (1998, p. 130) assinala que, pela perspectiva da abordagem sociocultural, a atividade humana “[...] é entendida como dotada de um sistema de significação que é permanentemente construído e transformado pelo próprio grupo cultural”. Em geral, as pesquisas em abordagem sociocultural investigam tarefas construídas no contexto dos diferentes grupos sociais testados. Nesta, cultura e cognição são componentes indissociáveis de um processo, cuja investigação deve ser necessariamente contextualizada (VYGOTSKY, 1991). Instanciada em diferentes domínios e passível de análise nos seus pormenores, a abordagem sociocultural é norteada pelos princípios de análise institucional; análise interpessoal do contexto social; e conceito de mediação (VYGOTSKY, 1991). O nível institucional de análise é regido pela história cultural do grupo, o qual organiza os instrumentos e as práticas nas quais se insere uma determinada atividade. O segundo nível, análise interpessoal, seria o contexto de interação social do sujeito com os membros do grupo, considerando-se os instrumentos e práticas sedimentadas pelo próprio grupo em 7 Segundo Swales (1990) as comunidades discursivas podem ser classificadas como um grupo de atores que atuam comunicativamente a partir de um tópico de referência ou de um conjunto restrito deles, mediante propósitos compartilhados para uma determinada atividade. Salienta-se que as comunidades discursivas não são entidades autônomas, mas distintas construções sociais compreendidas por atores sincronizados em pensamento, linguagem e conhecimento, constituintes da sociedade e concatenados às dimensões históricas, culturais e sociais mais amplas (MORADO NASCIMENTO, 2006). 28 Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Seção 1 análise. Por fim, o conceito de mediação recebe um papel importante nesta composição, pois a abordagem sociocultural enfatiza que toda ação humana é mediada por diferentes formas de mediação – instrumentos, signos, práticas culturais –, as quais são carregadas de significação cultural. Logo, o papel dos mediadores decorre do uso, construção e transformação pelo grupo social, uma vez que “a alteração provocada pelo homem sobre a natureza altera a própria natureza do homem” (VYGOTSKY, 1991, p. 62). Em face de tais conjecturas, considera-se relevante a inserção de estudos na área de Organização e Representação do Conhecimento cujo enfoque esteja direcionado para as ações que os sujeitos cognoscentes, na condição de atores sociais, desempenham em suas próprias culturas. No que tange ao universo científico do Tratamento Temático da Informação, cujos esforços são direcionados ao desenvolvimento teórico-conceitual e prático-aplicado dos fluxos informacionais a partir de seus processos, produtos e instrumentos, este foco investigativo mostra-se oportuno. Este posicionamento é fruto dos resultados obtidos na pesquisa de mestrado, os quais revelaram a carência de investigações sobre o Tratamento Temático da Informação que integre todos os atores ativos no estabelecimento, desenvolvimento e resultado do processo em domínios informacionais específicos. Isto é, tem-se um número inexpressível de pesquisas que abarquem o pensamento, conhecimento, necessidades e características próprias dos atores sociais que permeiam, direta ou indiretamente, o processo de tratamento temático da informação realizado em contexto de bibliotecas universitárias. Desse modo, a vertente humana do processo de tratamento temático da informação ainda não é totalmente contemplada por meio de estudos que integrem as vertentes científica, profissional e de uso, perpassando desde a concepção teórica e prática profissional até os interesses dos usuários de bibliotecas universitárias, valendo-se, principalmente, do caráter interdisciplinar do “produto informação”. Ademais, tem-se ampliada a necessidade de investigações desta natureza quando se admite que, na grande maioria das vezes, o entendimento de que os profissionais bibliotecários devam estar comprometidos com o usuário e seu respectivo contexto nem sempre passa de uma opinião consolidada para uma ação contínua. Tal afirmativa advém da constatação de que este é um discurso acadêmico, sedimentado em concepções teóricas descentralizadas da prática profissional, pois não se verifica uma correspondência direta e 29 Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Seção 1 linear entre a atitude anunciada e o comportamento assumido nas ações desempenhadas no cotidiano da profissão pelos bibliotecários (DAL’ EVEDOVE, 2010). Notadamente, porque as variâncias na compreensão (perspectiva subjetiva) em virtude do contexto social (relações cotidianas) aparecem. Como forma de amenizar esta situação, entende-se que a informação deva ser configurada como um fenômeno da ordem cultural (MORADO NASCIMENTO, 2006). González de Gómez (1990, p. 118) aponta que “o sistema institucional de informação só pode negar sua origem social, sua interligação com processos comunicacionais cognitivos, na medida em que já nasce [...] de uma referência substantiva a um contexto específico sóciocultural [...]”. Do contrário, acredita-se que observar a origem social dos contextos em que a informação é tratada, organizada e disponibilizada é fator preeminente nos estudos dedicados à área de Organização e Representação do Conhecimento. Deve-se considerar, também, que a interpretação de um conceito científico é delimitada pela realidade construída socialmente. Por esta razão, se compreende um conceito científico de acordo com o domínio de conhecimento, ou seja, a interpretação humana atuante em um dado contexto social. Devido à criação de signos, significados e elaboração de conceitos, os seres humanos buscam tornar inteligível a realidade que os cerca. Mediante diferentes perspectivas de mundo, criamos valores, desejos e fantasias que constituem as subjetividades geradas por nossas experiências e expectativas. Em um trabalho de análise e reflexão no espaço da subjetividade somos capazes de observar e compreender o mundo a nossa volta e, a partir da nossa própria perspectiva, interpretar os objetos de análise para a construção do conhecimento (GOMES, 2000). Neste sentido, a necessidade informacional de cada cultura é fator condicionante para delinear, com maior precisão e objetividade, diretrizes, métodos e manuais destinados ao aprimoramento do processo de tratamento temático da informação em contexto de bibliotecas universitárias. Desse modo, reafirma-se o posicionamento de que os estudos que possuam como foco investigativo o Tratamento Temático da Informação sejam ampliados e, para tanto, considerados os diferentes atores sociais que integram tal atividade, de modo a primar pela garantia cultural dos saberes. Esta perspectiva baseia-se em Beghtol (2002) ao evidenciar que a “garantia cultural” significa que todo e qualquer tipo de sistema de 30 Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Seção 1 organização e/ou representação da informação e do conhecimento passa a ser considerado apropriado e útil para os sujeitos, em alguma cultura, no momento em que toma como base as suposições, valores e predisposições daquela mesma cultura. É proveitoso salientar que no atual processo de cientificidade vivido pelo campo da informação, delinear as características e as variáveis do processamento da informação por meio da abordagem sociocultural é um movimento necessário, pois este diálogo científico serve de pano de fundo útil para investigar, com maior propriedade, o processo de tratamento temático da informação e propor diretrizes para a elaboração de políticas de indexação para o contexto de bibliotecas universitárias. Este enunciado assenta-se na ênfase inicial de que todo comportamento humano deve ser entendido de modo relacional, em relação ao seu contexto (COLE, 1995; 1998). Além disso, deve-se considerar que os profissionais bibliotecários realizam a atividade de tratamento temático da informação em domínios informacionais permeados por processos e ações humanas que se constituem na cultura. Paralelamente, as opiniões e observações dos atores sociais que permeiam os processos informacionais devem ser consideradas; e estes vistos como sujeitos cognoscentes que interagem, compreendem e interpretam o seu meio, ao mesmo tempo em que compartilham os conhecimentos adquiridos com uma comunidade de intérpretes (PINTO, 2005). Como já observado ao longo das ponderações apresentadas, existe uma vertente humana no processo de tratamento temático da informação, a qual é repleta de cultura, isto é, cercada por características e peculiaridades específicas do meio ao qual o sujeito cognoscente está atrelado. Desta maneira, é notória a relevância de pesquisas na área de Organização e Representação do Conhecimento que examinem questões de natureza cognitiva, cultural e social que permeiam o processamento da informação mediante a observação das particularidades advindas da vertente humana do processo. Nesta linha interpretativa, acredita-se que tal vertente humana seja composta por atores sociais atuantes no âmbito científico, profissional e de uso do processo de tratamento temático da informação realizado em contexto de bibliotecas universitárias. Sendo assim, institui-se para a presente pesquisa o panorama de que estes atores sociais sejam docentes que, na qualidade de pesquisadores e teóricos, se debruçam em pesquisas e investigações científicas para fomentar a área do Tratamento Temático da Informação; profissionais bibliotecários 31 Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Seção 1 que realizam o processo no cotidiano do contexto de bibliotecas universitárias e; adicionalmente, usuários, para os quais são destinados os produtos e serviços informacionais gerados e que, naturalmente, refletem e julgam a qualidade e eficiência dos mesmos. Em atenção ao exposto, compreende-se que o alcance de produtos e serviços gerados no processo de tratamento temático da informação que abarquem tais características e que, em rigor, atendam as necessidades informacionais dos usuários, relaciona-se diretamente à prática de atrelar os fundamentos da área de Organização e Representação do Conhecimento às especificidades da prática cotidiana da profissão, e ambas, por sua vez, serem retratadas em instrumentos e diretrizes de trabalho que reflitam as especificidades próprias do contexto de bibliotecas universitárias. Esta é a postura assumida nesta pesquisa, para a qual tais indicações podem ser asseguradas com a adoção de políticas de indexação que reflitam a vertente humana do processo de tratamento temático da informação realizado em contexto de bibliotecas universitárias. Em outras palavras, políticas de indexação que considerem os fundamentos teóricos e metodológicos, a prática cotidiana da profissão e a realidade específica do domínio informacional para o qual se destinam. Tal posicionamento é sustentado, dentre outros, com a perspectiva de Rubi (2008) de que a indicação de diretrizes ou a própria elaboração de políticas de indexação deve ser representada por uma filosofia que traduza os objetivos da biblioteca universitária e sirva de guia para os profissionais na realização do processo, auxiliando-os para a tomada de decisões. Adicionalmente, considera-se que qualquer instrumento de trabalho no âmbito de bibliotecas universitárias que sirva de orientação para a prática profissional necessita refletir as especificidades e particularidades do ambiente de trabalho e os interesses da comunidade usuária a qual se destina. Tomando como base o cenário apresentado até aqui, esclarece-se que o intuito desta pesquisa é combinar os referenciais teórico-metodológicos que compõem o universo científico do Tratamento Temático da Informação e aliá-los à praxe da comunidade profissional e aos interesses informacionais dos usuários para, então, obter subsídios consistentes e representativos para a caracterização de políticas de indexação para o contexto de bibliotecas universitárias brasileiras que disponibilizem seus produtos e serviços 32 Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Seção 1 informacionais por meio de catálogos coletivos online. De modo mais incisivo, busca-se uma compreensão mais profunda sobre os aspectos de ordem cognitiva, cultural e social que permeiam o processo de tratamento temático da informação realizado em domínios informacionais específicos e que, de modo explícito ou latente, estão presentes em sua composição teórico-metodológica e prático-aplicada. Seguramente, esta meta demanda atenção aos discursos individuais e coletivos dos atores sociais ligados à composição e recomposição do processo de tratamento temático da informação em contexto de bibliotecas universitárias. Neste momento, é favorável registrar que as pesquisas destinadas ao tema “política de indexação” vem sendo paulatinamente trabalhadas desde a década de 1985 no campo da informação, quando Marília Vidigal Carneiro projeta as primeiras diretrizes para o estabelecimento de uma política de indexação, tomando-se como base os principais elementos envolvidos no planejamento de um sistema de recuperação de informações e, a pouca literatura especializada que, segundo a própria autora era “bastante esparsa” (CARNEIRO, 1985). Tal cenário não mudou muito desde então e as pesquisas relacionadas ao tema ainda são limitadas, podendo-se citar em âmbito nacional os estudos de Albuquerque, Autran e Ramalho (2011); Albuquerque e Pereira (2007); Boccato (2012); Cervantes, Rubi, Fujita (2008); Dal’ Evedove (2011); Dal’ Evedove e Fujita (2013); Fujita et. al. (2006a; 2006b e 2007); Fujita (2012a; 2012b e 2012c); Fujita e Gil Leiva (2009; 2010 e 2012); Fujita e Rubi (2006a; 2006b; 2006c e 2007); Fujita, Rubi e Boccato (2009); Gonçalves, Fujita e Rubi (2006); Guimarães (2004); Kochani, Boccato e Rubi (2011); Lopes (2006); Lousada et al. (2011); Neves e Galvino (2010); Redígolo et al. (2012); Rubi (2004; 2008; 2010; 2012a e 2012b); Rubi et al. (2007); Rubi e Fujita (2003a; 2003b; 2006; 2007 e 2010); Rubi, Fujita e Boccato (2012a e 2012b) e Silva e Santos (2012), que em sua grande maioria fazem menção ao trabalho de Carneiro (1985) e buscam a sua maneira e dentro dos seus escopos investigativos contribuírem com referenciais que sirvam de orientação para a definição de diretrizes que norteiem a atividade de indexação. Neste cenário, destacam-se os estudos de Rubi (2008) que apresentou uma proposta de diretrizes para elaboração de política de indexação para a construção de catálogos cooperativos em bibliotecas universitárias, a partir da abordagem sociocognitiva com bibliotecários e usuários inseridos no contexto da biblioteca e perspectiva conceitual 33 Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Seção 1 dos aspectos teóricos que envolvem a indexação e a catalogação de assunto; e o de Fujita e Gil Leiva (2012) que ofereceram uma rica contribuição à área de Organização e Representação do Conhecimento a partir da organização e publicação do livro intitulado “Política de Indexação” que aborda aspectos teóricos, metodológicos e pedagógicos dos conhecimentos teóricos sobre o tema. No entanto, tais estudos deixam em aberto questões relativas à perspectiva humana do processo de tratamento temático da informação a partir da integração das vertentes científica, profissional e de uso, foco este até então não trabalhado. Justamente por não abordarem questões desta natureza, restringindo-se aos aspectos organizacionais, estruturais, metodológicos e pedagógicos que envolvem a política de indexação, comumente na perspectiva profissional e de usuários, é que outras propostas merecem ser examinadas na tentativa de contribuir com diferentes entendimentos e lançar luz a novas possibilidades de se trabalhar com este eixo investigativo. Tendo como pano de fundo o estado da questão ora apresentado, formula-se a seguinte pergunta de investigação: é possível investigar aspectos cognitivos, culturais e sociais que envolvem os atores sociais ativos no estabelecimento, desenvolvimento e resultado da atividade de tratamento temático da informação e, assim, obter diretrizes para a definição de políticas de indexação para bibliotecas universitárias que reflitam a vertente humana do processo? A partir deste questionamento, tem-se como problema de investigação a necessidade de elaboração de uma política de indexação que considere os fundamentos teóricos e metodológicos da área de Organização e Representação do Conhecimento, que atenda às necessidades profissionais e colabore com o processo de mudanças contínuas no fazer cotidiano da profissão, bem como reflita a realidade própria do domínio informacional, a fim de preservar os valores, crenças e predisposições específicas da comunidade usuária, isto é, que sustente e ampare a informação construída como prática social em contexto de bibliotecas universitárias. Destarte, consideram-se como premissas da pesquisa:  O Tratamento Temático da Informação é permeado por aspectos cognitivos, culturais e sociais decorrentes das relações humanas atuantes no processo; 34 Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Seção 1  As interlocuções das vertentes científica, profissional e de uso são uma maneira eficaz de se conjugar os discursos da comunidade científica do campo da informação à prática cotidiana da profissão em contexto de bibliotecas universitárias;  O contexto sociocultural que envolve o processo de tratamento temático da informação deve ser investigado em razão do processo de conhecimento individual ser socialmente condicionado (FUJITA, 2007);  Os pressupostos da abordagem sociocultural podem contribuir para esclarecer e evidenciar aspectos importantes que permeiam as concepções de natureza teórico- aplicada do processo de tratamento temático da informação e, assim, propiciar subsídios consistentes para a elaboração de política de indexação para o contexto de bibliotecas universitárias;  Algumas incoerências cometidas durante o processo de tratamento temático da informação são resultantes da ausência de políticas e manuais próprios para o contexto de bibliotecas universitárias que sirvam como diretrizes para o trabalho do profissional e, sobretudo, como instrumento para a sua formação em serviço (RUBI, 2008);  A opinião dos atores sociais que compõem o Tratamento Temático da Informação é fundamental para a elaboração de diretrizes de política de indexação que sejam atuais e condizentes com o contexto de bibliotecas universitárias (DAL’ EVEDOVE, 2010); e  A política de indexação é apropriada e útil para o contexto de bibliotecas universitárias quando reflete os fundamentos teórico-metodológicos da área de Organização e Representação do Conhecimento, considera o processo de conhecer do profissional bibliotecário enquanto sujeito cognoscente e contribui para a preservação da cultura subjacente da comunidade usuária nos serviços e produtos informacionais gerados. Sob este enfoque, a hipótese é de que a investigação das vertentes científica, profissional e de uso do Tratamento Temático da Informação propicia a identificação de 35 Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Seção 1 elementos de ordem cognitiva, cultural e social que devem subsidiar a elaboração de políticas de indexação para o contexto de bibliotecas universitárias que disponibilizem seus produtos e serviços informacionais por meio de catálogos coletivos online. Considerando o que foi aventado, os esforços desta pesquisa concentram-se na seguinte tese: a política de indexação deve refletir o conjunto de ideias, valorações, atitudes e conceitos8 peculiares dos atores sociais que compõem o Tratamento Temático da Informação no campo dos acontecimentos discursivos. Acredita-se que a partir deste foco investigativo poder-se-á elaborar, implantar e avaliar, com maior propriedade, diretrizes que sejam atuais e coerentes com os princípios teóricos e metodológicos da área de Organização e Representação do Conhecimento, com a prática cotidiana da profissão e com a realidade específica do contexto de bibliotecas universitárias. Essa enorme tarefa não poderá ser realizada a menos que, sob uma vigência coletiva, os fenômenos, manifestações e entendimentos que cercam o processo de tratamento temático da informação sejam observados a partir da percepção dos atores sociais que compõem esse universo, uma vez que esta atividade ou é objeto de estudo, ou é foco de interesse de cada grupo social estabelecido aqui. Neste sentido, a proposta é investigar as vertentes científica, profissional e de uso do Tratamento Temático da Informação em abordagem sociocultural, a fim de identificar elementos cognitivos, culturais e sociais que devam respaldar a definição de uma política de indexação que propicie amparo teórico e procedimental à prática profissional e, ao mesmo tempo, assegure a garantia cultural às informações construídas como prática social em domínios informacionais específicos. Tal delimitação decorre do entendimento de que existem variáveis que são mais promissoras do que outras, seja por razões teóricas e/ou de experiência prévia, ou ainda, por razões práticas que envolvem a pesquisa. Neste ponto, cabe expor o pensamento de Günther (2006, p. 203) para justificar tal delimitação, pois, conforme o próprio autor: 8 Laville & Dionne (1999, p. 91) definem conceito como sendo “[...] uma categoria que estabelece um caso geral a partir de um conjunto de casos particulares aparentados por suas características essenciais”. Portanto, os conceitos são representações mentais para distinguir uma realidade da outra diante das mútuas compreensões existentes. 36 Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Seção 1 [...] limitar o número de variáveis estudadas numa determinada pesquisa não implica que as demais variáveis sejam necessariamente consideradas improcedentes – uma boa pesquisa sempre está aberta ao surgimento de novas variáveis e a explicações alternativas do cenário considerado no início da investigação. Portanto, a partir da referida proposição, o objetivo geral da pesquisa é contribuir com diretrizes para a definição de políticas de indexação para o contexto de bibliotecas universitárias brasileiras a partir do delineamento do Tratamento Temático da Informação no campo dos acontecimentos discursivos: a) fundamentos teóricos e metodológicos do corpo de docentes da área de Organização e Representação do Conhecimento; b) o contexto sociocognitivo do bibliotecário indexador; e c) características e princípios culturais dos usuários. Neste enquadramento, a pesquisa orientou-se pela persecução interligada dos seguintes objetivos específicos: 1. Evidenciar a abordagem sociocultural frente aos paradigmas contemporâneos do campo da informação a fim de compreender a informação construída como prática social; 2. Contextualizar o processo de tratamento temático da informação em bibliotecas universitárias a fim de aprofundar questões de política de indexação sob a ótica da abordagem sociocultural; 3. Verificar, por meio da aplicação de questionários, se as ações desempenhadas pelas vertentes científica e profissional possibilitam a realização do processo de tratamento temático da informação em bibliotecas universitárias pela perspectiva da garantia cultural na vertente do uso; 4. Delinear diretrizes de política de indexação para bibliotecas universitárias brasileiras com base na perspectiva dos docentes da área de Organização e Representação do Conhecimento, bibliotecários indexadores e usuários de bibliotecas universitárias; e 5. Avaliar metodologicamente as diretrizes propostas mediante aplicação do Protocolo Verbal em Grupo com profissionais bibliotecários indexadores. 37 Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Seção 1 A escolha da biblioteca universitária como universo investigativo decorre deste ser um contexto multidimensional e multicultural e, assim, consistir-se em um ambiente social muito significativo para a organização e representação da informação e do conhecimento. Enquanto sistemas de informação de especialidades múltiplas, estas organizações possuem suas próprias definições e procedimentos para a tomada de decisões estratégicas, conforme explana Boccato (2009, p. 26): [...] a biblioteca universitária é a responsável pela gestão das informações e dos documentos que integram seus acervos, desenvolvendo e mantendo, por meio das tecnologias de organização e representação do conhecimento, instrumentos, técnicas e sistemas de recuperação da informação que facilitam o acesso ao conhecimento produzido pela Universidade, num processo contínuo de geração e socialização do saber em contextos de áreas científicas especializadas. Relativo aos sistemas de informação, Varela e Barbosa (2012) assinalam que os artefatos de informação – representados nesta pesquisa pelo catálogo coletivo online de bibliotecas universitárias – estão em constante mudança, principalmente no que tange aos modelos de comunicação, a exemplo da plataforma web 2.0. Para as autoras supracitadas, este novo cenário exige interpretação e compreensão clara do diálogo entre os diferentes atores sociais que produzem, usam e geram a informação, em virtude das possibilidades variadas de acesso e intercâmbio de informação e, lembram que, diante desta realidade, as bibliotecas adotam uma linha de gestão cuja abordagem é centrada no usuário. Portanto, toda e qualquer atitude assumida pela biblioteca universitária deve ter como ponto de partida os interesses e expectativas da comunidade onde está inserida. Assim, os catálogos coletivos online de bibliotecas universitárias, enquanto formas contemporâneas de coleta de dados, sistematização e disseminação dos conteúdos documentais para a recuperação da informação por comunidades usuárias locais e/ou remotas, rejeitando limites geográficos e culturais, precisam refletir os serviços e produtos desenvolvidos e prestados com qualidade e rapidez, bem como serem pertinentes e compatíveis com os interesses informacionais de sua clientela. Neste ponto, julga-se pertinente esclarecer que inquietações e questionamentos, interrogações e necessidades reflexivas impulsionam o caminhar de qualquer ciência na busca por novos resultados, sempre parciais porque não se findam, ao contrário, deixam 38 Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Seção 1 flancos abertos pelos quais “[...] as novidades e os pensares diferenciados penetram, impondo ou persuadindo, pela evidência, lógica e coerência dos argumentos, formas inovadoras de olhar o objeto, o fenômeno analisado” (ALMEIDA JÚNIOR, 2009, p. 91). Entre os questionamentos que permeiam o universo de qualquer campo de conhecimento alguns se sobressaem e, por isso, são postos como prioritários, pois implicam mudança de direcionamento no olhar com vistas a preencher as entrelinhas que, constantemente, teimam em permanecer abertas, vazias. Debruçando-se no terreno do campo da informação muitas questões e problemáticas são postas e vistas, por todos, a olho nu. Dentre estas, abraça-se nesta pesquisa uma questão ímpar no campo da informação – a relação entre informação e ação no contexto dos processos informacionais. O intuito maior é, portanto, adentrar nas entrelinhas que envolvem a informação no âmbito de sua relação mais estreita com os aspectos cognitivos, culturais e sociais que tangenciam o campo da informação, como base determinante para a elaboração de concepções teóricas e metodológicas do processo de tratamento temático da informação que acondicionem a prática profissional e versem no estabelecimento de produtos e serviços informacionais que vão ao encontro com os interesses informacionais dos usuários de bibliotecas universitárias. Para tanto, toma-se como base a importância de estudos acerca do Tratamento Temático da Informação em bibliotecas universitárias e a sistematização desta atividade mediante uma política de indexação. À luz de problemáticas dessa ordem, defende-se que o sujeito e o objeto de estudo no contexto científico não devem ser separados, dispostos como elementos difusos, ímpares. Sob este olhar e similarmente frente às questões socioinformacionais que tem acompanhado o campo da informação e suas disciplinas constitutivas, atrela-se uma preocupação epistemológica, sob o ponto de vista prático e tecnicista, a uma contextualização filosófica aos temários aqui estipulados para investigação. Neste sentido, o desenvolvimento desta pesquisa no campo da informação se justifica não apenas pelo seu caráter original e pela carência de estudos que considerem todos os atores sociais que compõem a vertente humana do processo de tratamento temático da informação, mas, também, diante da necessidade de diretrizes que integrem teoria e prática profissional para que as políticas de indexação se tornem operacionalizáveis em contexto de bibliotecas 39 Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Seção 1 universitárias. Ademais, a oportunidade de expandir limites e aprofundar as abordagens existentes neste campo científico e profissional é outro elemento motivador. Quanto ao enquadramento metodológico desta pesquisa, elencou-se um conjunto de métodos que abarcassem de forma coerente os objetivos traçados. Contribuindo para a situação sobredita, a pesquisa constou de uma exposição da literatura científica, com vistas à familiarização com os temários investigados por meio de um diálogo expositivo-reflexivo dentro de um universo de teorias e pressupostos especializados do campo da informação sob um enfoque multidisciplinar; com destaque para as concepções teóricas produzidas pela área de Organização e Representação do Conhecimento. Esta etapa contemplou uma pesquisa bibliográfica como recurso de apoio para a comprovação ou não das hipóteses aqui defendidas diante dos dados coletados junto aos sujeitos de pesquisa. Para tanto, os métodos escolhidos foram o questionário e a técnica de Protocolo Verbal. No primeiro momento, foram aplicados três questionários elaborados para cada vertente investigada nesta pesquisa, cujo escopo foi identificar a percepção dos atores sociais testados quanto da congruência entre a literatura especializada da área frente às exigências e necessidades específicas da comunidade profissional. A operacionalização desses instrumentos de coleta de dados visa identificar as opiniões, conhecimentos e pontos de vista dos atores sociais que compõem as vertentes científica, profissional e de uso do processo de tratamento temático da informação para identificar pontos e aspectos relevantes a serem considerados na composição de diretrizes que visem a caracterização de uma política de indexação aplicada em bibliotecas universitárias que tenham sistemas de informação informatizados. Por sua vez, o Protocolo Verbal na modalidade de Protocolo Verbal em Grupo (PVG) foi elencado para a pesquisa como forma de contribuir para a observância por parte da comunidade profissional dos aspectos congruentes e divergentes contidos nas diretrizes elaboradas a partir das análises comparativas dos resultados obtidos com a aplicação dos questionários. Portanto, a aplicação desta técnica introspectiva de coleta de dados ocorreu com um grupo de bibliotecários indexadores que compuseram a vertente profissional a fim de analisarem os pontos propostos nas diretrizes elaboradas. A análise qualitativa dos dados obtidos ficou a cargo da Análise de Conteúdo como forma de obter a fruição da realidade dos dados coletados mediante a concepção dos atores sociais testados. 40 Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Seção 1 A referida teia metodológica contribuiu para desvelar alguns dos aspectos particulares dos atores sociais aqui investigados, conhecer suas especificidades e articular suas relações, considerando-se que a política de indexação deve representar todas as vertentes humanas que permeiam o processo de tratamento temático da informação realizado em contexto de bibliotecas universitárias. Apesar do exposto, entende-se que uma teoria científica fornece soluções temporárias para os problemas que enfrenta, podendo esta ser refutada no momento em que uma nova teoria responda de forma mais coerente o problema suscitado. Neste sentido, vale esclarecer que, em meio ao caos do determinismo e das incertezas que assolam os conhecimentos científicos, podem existir outras formas de raciocínio e métodos científicos empregados que tenham o intuito de ampliar as possibilidades investigativas do objeto de estudo e obtenção de respostas para o problema aqui proposto, uma vez que a ciência não é fruto de um roteiro cuja criação seja totalmente prenunciada. Ainda assim, espera-se que as reflexões e resultados tecidos aqui possibilitem ao profissional bibliotecário reconhecer a importância da atividade de tratamento temático da informação no cenário da biblioteca universitária enquanto contexto dinâmico de geração e promoção da informação e do conhecimento. De resto, almeja-se que as reflexões oriundas da presente pesquisa sejam um contributo valioso para apontar novos aspectos sobre o universo científico do Tratamento Temático da Informação e, principalmente, com avanços necessários à construção de políticas de indexação para o contexto de bibliotecas universitárias, em conformidade com os objetivos da linha de pesquisa “Produção e Organização da Informação”9 do PPGCI da UNESP/Campus de Marília. 9 A prática investigativa do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação no eixo temático “Produção e Organização da Informação” considera a informação registrada e institucionalizada como insumo básico para a construção do conhecimento no universo científico da Ciência da Informação. De acordo com a ementa da referida linha de pesquisa, o seu foco investigativo visa à execução de referenciais teóricos e aplicados, de natureza interdisciplinar, acerca da produção e da organização da informação. Sendo assim, a pesquisa se insere no espectro temático da linha ao abordar o tratamento temático da informação e buscar contribuir, no contexto prático-aplicado, com a sistematização do processo em contexto de bibliotecas universitárias a partir da caracterização de diretrizes para a elaboração de políticas de indexação. 41 Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Seção 1 1.3 Apresentação das seções Quanto à estrutura descritiva desta pesquisa, cabe mencionar que, além desta parte introdutória que comporta alguns conceitos centrais, a presente Tese se desdobra em outras cinco seções de cunho teórico-metodológico, a fim de apresentar o estado da arte sobre a temática e obter a comprovação ou não das hipóteses aqui defendidas. Para favorecer um melhor aproveitamento e compreensão da estrutura completa da pesquisa, segue-se uma descrição que alia os objetivos específicos traçados às respectivas seções que dão forma a esta Tese, para melhor explicitar a integração e coerência de sua delimitação a partir do problema, proposição e objetivos, a saber: Quadro 1: Sistematização da pesquisa ESTRUTURA DELIMITAÇÃO Seção 1 Problema: necessidade de elaboração de uma política de indexação que considere os fundamentos teóricos e metodológicos da área de Organização e Representação do Conhecimento, que atenda às necessidades profissionais e colabore com o processo de mudanças contínuas nos fazeres cotidiano da profissão, bem como reflita a realidade própria do domínio informacional, a fim de preservar os valores, crenças e predisposições específicas da comunidade usuária, isto é, que sustente e ampare a informação construída como prática social em contexto de bibliotecas universitárias. Proposição: investigar as vertentes científica, profissional e de uso do Tratamento Temático da Informação em abordagem sociocultural, a fim de identificar elementos cognitivos, culturais e sociais que devam respaldar a definição de uma política de indexação que propicie amparo teórico e procedimental à prática profissional e, ao mesmo tempo, assegure a garantia cultural às informações construídas como prática social em domínios informacionais específicos. Objetivo geral: contribuir com diretrizes para a definição de políticas de indexação para o contexto de bibliotecas universitárias brasileiras a partir do delineamento do Tratamento Temático da Informação no campo dos acontecimentos discursivos: a) fundamentos teóricos e metodológicos do corpo de docentes da área de Organização e Representação do Conhecimento; b) o contexto sociocognitivo do bibliotecário indexador; e c) características e princípios culturais dos usuários. Seção 2 Objetivo específico 1: Evidenciar a abordagem sociocultural frente aos paradigmas contemporâneos do campo da informação a fim de compreender a informação construída como prática social; e Objetivo específico 2: Contextualizar o processo de tratamento temático da informação em bibliotecas universitárias a fim de aprofundar questões de política de indexação sob a ótica da abordagem sociocultural. Título: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 42 Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Seção 1 Seção 3 Título: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Seção 4 Objetivo específico 3: Verificar, por meio da aplicação de questionários, se as ações desempenhadas pelas vertentes científica e profissional possibilitam a realização do processo de tratamento temático da informação em bibliotecas universitárias pela perspectiva da garantia cultural na vertente do uso; Título: RESULTADOS E DISCUSSÃO Seção 5 Objetivo específico 4: Delinear diretrizes de política de indexação para bibliotecas universitárias brasileiras com base na perspectiva dos docentes da área de Organização e Representação do Conhecimento, bibliotecários indexadores e usuários de bibliotecas universitárias; Objetivo específico 5: Avaliar metodologicamente as diretrizes propostas mediante aplicação de Protocolo Verbal em Grupo com profissionais bibliotecários indexadores. Título: PROPOSTA DE DIRETRIZES DE POLÍTICA DE INDEXAÇÃO PARA BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS Seção 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Fonte: Elaboração própria. A Seção 2 – Fundamentação teórica – contempla os objetivos específicos um e dois, os quais são direcionados à configuração dos temários abordados de modo a entrecruzar diferentes abordagens, mediante a exposição de várias definições e conceitos no campo da informação e em campos científicos correlatos, valendo-se do contributo do trabalho interdisciplinar no universo das ciências. Destarte, apresenta o referencial teórico adotado para subsidiar a investigação proposta, sendo articuladas as seguintes discussões: a) a abordagem sociocultural, a partir da perspectiva de campos correlatos, a fim de delinear a sua inserção na base epistemológica do campo da informação como contributo ao entendimento da relação linear entre informação e ação. Parte-se, portanto, de um exame reflexivo da informação enquanto elemento produzido socialmente por sujeitos cognoscentes, construções estas estabelecidas na esfera individual e coletiva. Em tempos de contemporaneidade, trabalha-se com o paradigma social no campo da informação para a compreensão da informação como fenômeno de ordem social e cultural e dos muitos e variados aspectos a ele associados e; b) contextualização sobre as atividades de organização e representação da informação no espaço das bibliotecas universitárias enquanto domínios informacionais específicos por meio de uma análise reflexiva, conceitual e operacional amparada pelos subsídios da área de Organização e Representação do Conhecimento, bem 43 Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Seção 1 como é pontuado o processo de tratamento temático da informação realizado em contexto de bibliotecas universitárias. Neste universo, os limites desta seção estão na própria visão panorâmica de discussões sobre política de indexação para bibliotecas universitárias, com base nos estudos realizados sobre a temática e seus contributos prático-aplicados em abordagem sociocultural. A Seção 3 – Procedimentos metodológicos – apresenta de forma minuciosa os métodos empregados para a coleta e tratamento dos dados coletados com os sujeitos de pesquisa. Portanto, esta parte é composta por uma caracterização geral do corpus de pesquisa em que foram descritos os pormenores das opções metodológicas empregadas, sendo disposto o detalhamento dos procedimentos teóricos e operacionais utilizados para a execução desta investigação; dos instrumentos e da técnica de coleta de dados selecionados; a articulação das estratégias qualitativas para análise e apresentação dos resultados de cunho procedimental; bem como descritas as potencialidades e limitações da abordagem metodológica adotada para levar a cabo a sua parte operacional. A Seção 4 – Resultados e discussão – esboça os dados coletados por meio dos questionários aplicados com docentes, profissionais e usuários, os quais foram analisados e discutidos à luz do referencial teórico trabalhado nesta pesquisa. Segue-se, aqui, como estratégia de estudo, uma análise comparativa dos resultados obtidos como forma de identificar os principais elementos a serem considerados na caracterização de diretrizes de política de indexação para bibliotecas universitárias. De posse das análises dos questionários e dos resultados oriundos das respectivas vertentes trabalhadas nesta pesquisa, a Seção 5 – Proposta de diretrizes de política de indexação para bibliotecas universitárias – comporta as diretrizes para definição de política de indexação para bibliotecas universitárias brasileiras frente aos enfoques dos fundamentos teóricos e metodológicos da área de Organização e Representação do Conhecimento, da ação mediadora dos profissionais e do uso pela comunidade de domínios informacionais específicos. Esta seção também comporta a transcrição e análise dos dados provenientes da técnica do Protocolo Verbal em Grupo aplicada com um grupo de bibliotecários indexadores mediante uma exposição direta das diretrizes estabelecidas em seção anterior, como forma de aperfeiçoar o material elaborado. Portanto, nesta etapa 44 Universidade Estadual Paulista / Universidad de Murcia Seção 1 foram avaliadas metodologicamente as diretrizes delineadas a partir da análise conjunta dos resultados advindos com a aplicação dos questionários. Concomitantemente, salienta-se que esta etapa da pesquisa foi bastante proveitosa, uma vez que as políticas de indexação são materiais de trabalho destinados aos profissionais bibliotecários, atuando como ponte entre as orientações teóricas e as necessidades e objetivos da prática cotidiana da profissão. Sendo assim, as discussões sociais encabeçadas aqui objetivaram verificar a relevância destas diretrizes a partir do ponto de vista destes atores sociais, tomando-se como base a prática cotidiana da profissão e o contexto de bibliotecas universitárias. A Seção 6 – Considerações Finais – entrecruza a fundamentação teórica apresentada para a compreensão dos temários abordados e os principais contributos e observações advindos desse trabalho expositivo-reflexivo para amparar o estabelecimento de diretrizes destinadas à definição de uma política de indexação para o contexto de bibliotecas universitárias. Ademais, tecem-se alguns pontos sobre os resultados adquiridos com a parte operacional da pesquisa mediante a investigação do processo de tratamento temático da informação em abordagem sociocultural para a definição de diretrizes de política de indexação. Traz, efetivamente, a síntese obtida a partir das etapas realizadas na pesquisa e respostas para alguns dos problemas aqui apresentados. Adicionalmente, revela um tracejo de possibilidades investigativas decorrente desta pesquisa que podem ser exploradas em estudos futuros no campo da informação. Por fim, expõem-se o corpo de Referências que balizaram bibliograficamente a pesquisa e os Apêndices e Anexos util