Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design Trabalho de Conclusão de Curso Bacharelado em Design Gráfico Isabela de Carvalho Fogaça Orientação por Profª. Drª. Cássia Letícia Carrara BAURU, Dezembro de 2024 Agradecimentos É com muita alegria que encerro mais uma etapa da minha vida, a qual sem dúvidas foi extremamente importante para meu desenvolvimento como ser humano e me proporcionou momentos incríveis e inesquecíveis. Primeiramente, gostaria de agradecer à minha família por me apoiar desde o início em seguir a carreira dos meus sonhos e por nunca me abandonar nos momentos mais difíceis. Obrigada ao Gabriel, meu primo, amigo e melhor amigo, por ter me incentivado a escolher o Design como rumo e estar presente em todo meu crescimento. Agradeço à querida professora Cássia por todos os ensinamentos preciosos durante a graduação, pelas ótimas conversas e por me ajudar no desenvolvimento deste trabalho. Sou muita grata por todos os amigos que viveram comigo todos esses anos e enriqueceram esta experiência, principalmente aos amados Anna, Ary, Bia, Ju, Lui e Leo. Um obrigada especial à Júlia e ao Diego, meus queridos que acompanharam de perto toda a luta durante esse processo e foram cruciais para me fazer seguir forte e não desistir. E por fim, um obrigada ainda mais especial à Amanda, minha irmã, por ter dado voz ao projeto. Resumo Este trabalho consiste na criação de uma obra audiovisual que aborda, de maneira pessoal e afetiva, a cidade de Pilar do Sul, onde cresci. Através da técnica de animação em mídias mistas, o projeto busca transformar memórias e experiências em narrativas visuais poéticas, utilizando gravações próprias e intervenções manuais, como desenhos e colagens. O processo criativo foi desenvolvido de forma experimental e adaptativa, explorando materiais e técnicas diversas, além de estabelecer um método prático de produção em massa de animações. A obra é acompanhada por versos e poesias originais, compostos em colaboração com minha irmã. Ao revisitar locais significativos e registrar o cotidiano da cidade, o projeto não apenas homenageia minhas raízes, mas também oferece uma perspectiva sensível e artística de Pilar do Sul. Palavras-chave: animação; mídias mistas; afetiva; experimentação; Abstract This work consists of the creation of an audiovisual piece that portrays, in a personal and emotional way, the city of Pilar do Sul, where I grew up. Through mixed media animation, the project seeks to transform memories and experiences into poetic visual narratives, using my own recordings and manual interventions such as drawings and collages. The creative process was developed experimentally and adaptively, exploring various materials and techniques, while establishing a practical method for mass-producing animations. The piece is accompanied by original verses and poetry, composed in collaboration with my sister. By revisiting meaningful places and capturing the everyday life of the city, the project not only pays tribute to my roots but also offers a sensitive and artistic perspective of Pilar do Sul. Keywords: animation; mixed media; affective; experimentation. Sumário Introdução Objetivos Metodologia Referencial Teóric Animação experimental e manua Memória afetiva e narrativa pessoal Referências Visuai Heaven and Earth Magi Saudad Artistas independentes Processos de produçã Planejamento e gravaçã Decupagem e impressã Animaçã Escaneamento de frame Ediçã Tutoria Resultado final Considerações sobre os processos de produção Conclusão Referências 09 13 16 18 19 21 22 23 24 25 28 29 33 35 36 37 39 40 41 45 46 Lista de Figuras Figuras 1 a 4 - Praça central e igreja matriz de Pilar do Sul na década de 1950 Figura 5 - Letreiro de Pilar do Sul Figura 6 - Portal de Pilar do Sul Figura 7 - Fenacistocópio Figura 8 - Praxinoscópio Figura 9 - Rotoscópio Figura 10 - Pervasive Animation Figura 11 - Animação Ortodoxa vs Experimental Figura 12 - Frame by Frame: a materialist aesthetics of animated cartoons Figura 13 - Heaven and Earth Magic Figura 14 - Saudade Figuras 15 a 17 - Perfil e publicações de Rapruesign Figuras 18 a 20 - Perfil e publicações de Isa Almeida Figuras 21 a 23 - Perfil e publicações de NoonGlow Figura 24- Planejamento de gravações pt.1 Figura 25 - Planejamento de gravações pt.2 Figura 26 - Planejamento de gravações pt.3 Figura 27 - Tratamento de cor Figura 28- Configuração de taxa de frames 10 11 11 19 19 19 19 20 21 23 24 25 26 27 30 31 32 33 33 Figura 29 - Exportação em JPEG Figura 30 - Montagem de pranchas de impressão Figuras 31 a 33 - Pintura e colagem de frames Figura 34 e 35 - Escaneamento de frames Figura 35 - Edição Figura 36 - Tutorial do processo de animação Figura 35 - PILAR 34 34 35 36 38 39 40 Este trabalho trata-se de um projeto muito especial, que vai abordar uma história de vida de maneira bastante pessoal e afetiva. Ao iniciar meu estudos na universidade, me deparei com um momento de grandes mudanças, tanto internas quanto externas, entre elas a mudança de cidade, para um lugar há 284 km de casa e da minha família, para um lugar significativamente grande no ponto de vista de alguém que cresceu a vida inteira em uma cidade de 28 mil habitantes. Pilar do Sul é uma cidade localizada no sudoeste do estado de São Paulo, na região metropolitana de Sorocaba. A maior parte de seu território municipal é destinada à zona rural e à agropecuária. Anteriormente habitada por Tupinambás, a cidade nasceu com a chegada dos tropeiros provenientes de Minas Gerais. Em 1865, o Tenente Antônio de Almeida Leite adquiriu uma fazenda onde as terras hoje correspondem ao centro da cidade; ele realizou uma doação para  que fosse erguida uma capela em homenagem ao santo que era devoto, Bom Jesus do Bom Fim, e em sua escritura dizia que ao redor da capela deveria formar-se um povoamento, e assim foi feito. 10 Figuras 1 a 4 - Praça central e igreja matriz de Pilar do Sul na década de 1950. Fonte: desconhecida. A origem do nome Pilar vem de duas histórias. A primeira do hábito tradicional dos tropeiros de piloar a carne de caça durante suas expedições para assim produzir a paçoca de carne, prato típico da cidade, não à toa há um grande pilão no portal da cidade. A segunda origem vem da grande devoção das famílias à Nossa Senhora do Pilar, imagem espanhola da Virgem Maria, que futuramente deu nome à segunda paróquia da cidade. Mesmo sendo pequena, Pilar carrega uma grande história, cheia de cultura e costumes, dos quais eu não imaginava que eu sentiria tanta falta ao me mudar. Me separar das minhas raízes não foi fácil, por muitas vezes durante a graduação e seus momentos difíceis, eu desejei que estivesse em casa, no meu refúgio de paz. Foi a partir disso que eu senti a necessidade de contar a história da minha vida em Pilar, de compartilhar com as pessoas um pouco do quão especial é essa cidade. 11 Figura 6 - Portal de Pilar do Sul. Fonte: desconhecida. Figura 5 - Letreiro de Pilar do Sul. Fonte: autora. Desde pequena, sempre gostei muito de arte e trabalhos manuais, de explorar diferentes materiais. Já um pouco mais crescida, comecei a me interessar pelo mundo digital e em como eu poderia explorar minha criatividade nele, bem como comecei a me encantar em registrar momentos com fotos e vídeos. Logo adolescente, eu já comecei a gravar vlogs amadores em casa, sempre muito determinada a explorar todas as ferramentas que estavam ao meu alcance, mesmo que limitadas – inclusive durante a pandemia, gravei séries de vlogs no TikTok, as quais denominei “tiktokmas”, adaptando a trend “vlogmas”, que antecede o Natal.  Tendo em vista o meu apreço pelo registro audiovisual e exploração de materiais nas artes visuais, decidi unir essas duas coisas neste projeto através da animação em mídias mistas, técnica esta que me permite fazer intervenções em vídeos gravados por mim, com uma variedade de cores, materiais, texturas, etc. Através da animação, transformarei memórias em narrativas visuais poéticas e afetivas. Para complementar este projeto, tive a honra de contar com a participação de minha irmã – Amanda Fogaça, 17 anos, cantora, escritora e compositora – na criação de versos de música e poesia para compor com as animações feitas por mim. Afinal, se há alguém que passou por todas essas vivências comigo, esse alguém foi ela. PILAR não é apenas uma obra audiovisual, mas a representação da vida de uma criança sonhadora e criativa, que sempre enxergou o mundo de um forma bonita como uma pintura, e que sempre deu sinais de que no futuro seria uma designer que exploraria novos horizontes através de sua arte e criatividade. 12 Objetivo Geral Construir uma obra audiovisual que conte uma história vivida na cidade de Pilar do Sul numa perspectiva pessoal e afetiva, abordando memórias da minha infância e adolescência na cidade por meio de animações em mídias mistas. 14 Objetivos Específicos Relembrar e reconectar-me com as minhas origens, visitando locais marcantes da cidade e explorando memórias de infância Buscar registros audiovisuais históricos e culturais da cidade, bem como registros pessoais que representem as minhas lembranças Estudar a origem da animação experimental e identificar artistas relevantes nesse campo para embasar o projeto Planejar o roteiro das gravações e animações que irão compor a narrativa visual Retomar o hábito de registrar momentos cotidianos, explorando visualmente os locais antes de definir os melhores enquadramentos Desenvolver um método prático e eficiente para a produção das animações, considerando que mesmo uma animação curta, é um processo que exige muitas etapas, detalhes e horas de trabalho. 15 17 John Dewey (1934) já abordava a importância da experimentação e da experiência prática no desenvolvimento da arte, sendo a arte uma forma de experiência humana diretamente relacionada à vida cotidiana.  Dessa forma, este projeto tem como base uma metodologia adaptativa de experimentações, que se relaciona com os aspectos criativos e práticos das animações em mídias mistas. Não há um fluxo linear a ser seguido, mas sim um fluxo onde as experimentações foram cruciais para o desenvolvimento de um processo ideal de produção, não só explorando técnicas como também explorando materiais e mensagens. Primeiramente, a busca constante por referências foi muito significativa para inspirar ideias, sendo diariamente alimentada por conteúdos do gênero, visto que o bloqueio criativo foi um dos desafios enfrentados durante o processo. Depois disso, o planejamento de um roteiro simples de lugares e gravações foi uma base muito importante para me guiar, juntamente com os textos elaborados por minha irmã que contribuíram para agregar valor sentimental na obra. Com base nas experiências e ajustando conforme os erros e acertos, desenvolvi um método prático para a produção das animações. Este método consiste em Gravação dos locais escolhidos, Seleção dos melhores take Exportação de cada frame do víde Montagem de pranchas de impressã Pintura, desenho ou colagem em cada frame impress Escaneamento das imagen Montagem da sequência de frames Edição do vídeo A seguir, cada uma dessas etapas será detalhada. Animação experimental e manual A noção de movimento já era registrada há milhares de anos nas pinturas rupestres. Entretanto, foi a partir do século XIX que a animação moderna começou a ser desenvolvida, com o surgimento do fenacistocópio de Joseph Plateau (1832) e do praxinoscópio de Émile Reynaud (1892), que permitiram a projeção de imagens sequenciais. Mais a seguir, em 1915, surgiu a rotoscopia, criada por Max Fleischer. Essa técnica consistia em usar uma filmagem como base para traçar movimentos mais realistas, gerando animações mais fluidas. Em seu livro “Pervasive Animation”, Suzanne Buchan (2013) aborda a rotoscopia como uma técnica fundamental que influenciou na animação em mídias mistas, principalmente com a evolução das técnicas digitais, que permitiram novas formas de experimentação na animação. 19 Figura 7 - Fenacistocópio. Fonte: Joseph Plateau (1832). Figura 8 - Praxinoscópio. Fonte: Émile Reynaud (1892) Figura 9 - Rotoscópio. Fonte: Max Fleischer (1915). Figura 10 - Pervasive Animation Fonte: Suzanne Buchan (2013). Segundo Paul Wells (1998), as animações podem ser divididas entre ortodoxas e experimentais, ou então transitar entre elas. A indústria cinematográfica, desde os primórdios, é responsável por ditar muitas regras que acabam por padronizar as animações e torná- las ortodoxas, além das linhas de produção massantes com uma enorme equipe, que distancia o artista da obra, a tornando cada vez mais impessoal. Em contrapartida, a animação experimental foge do ambiente comercial e oferece espaço para artistas independentes se expressarem por meio de trabalhos mais voltados à experimentação e abstração, como nos movimentos vanguardistas das artes plásticas. O autor ainda menciona a development animation, uma vez que grande parte das obras são heterogêneas e não 100% ortodoxas ou experimentais, mas sim uma combinação de ambas as abordagens, por vezes explorando pouco mais um dos lados, mas não totalmente. 20 Figura 11 - Animação Ortodoxa vs Experimental. Fonte: Paul Wells (1998), tradução de Marcos Buccini. Figura 12 - Frame by Frame: a materialist aesthetics of animated cartoons. Fonte: Hannah Frank (2019). Memória afetiva e narrativa visual Para Pierre Nora (1984), é muito importante que a memória coletiva seja preservada, uma vez que a transmissão espontânea dessas memórias contribuem para a identidade cultural e mantêm viva a lembrança de um lugar. Complementarmente, Hannah Frank (2019) explora em “Frame by Frame: A Materialist Aesthetics of Animated Cartoons”  como a animação pode servir como um potente meio de representar memórias coletivas e individuais e está intrinsecamente ligada ao trabalho manual e à abordagem artesanal aplicada em cada quadro, permitindo que os espectadores se conectem emocionalmente com as narrativas, o que é um dos principais objetivos deste projeto. Dessa forma, seguindo as ideias dos autores mencionados, PILAR dialoga entre a abstração e a configuração, a continuidade específica e não específica, as formas narrativa e interpretativa, os múltiplos estilos e, principalmente, a forte presença da artista. PILAR conta uma história individual mas que certamente também representa a vida de muitas outras pessoas conterrâneas, uma história para preservar a memória. 21 Heaven and Earth Magic (1962) Heaven and Earth Magic (1962) foi produzido por Harry Smith, famoso cineasta do século XX. O filme combina colagem e técnicas de animação artesanal, utilizando imagens extraídas de livros antigos e uma narrativa não-linear, permitindo que o espectador interpretasse a obra de maneira pessoal. Também explorou a relação entre a música, a pintura e a poesia, influenciando a percepção da animação como uma forma de arte multidimensional. 23 Figura 13- Heaven and Earth Magic. Fonte: Harry Smith (1962). Saudade (2012) Saudade (2012) é uma animação em mídias mistas realizada por Diego Akel em conjunto com os alunos do Projeto Educando o Olhar, na disciplina de Cinema de Animação, ministrada pelo animador em Fortaleza. A obra consiste em intervenções desenhadas em vídeos gravados pelos alunos em que eles representam o que significa saudade para eles. Para acessar o vídeo, clique aqui. 24 Figura 14- Saudade. Fonte: Diego Akel e Projeto Educando o Olhar (2012). https://youtu.be/QtJvUNeTAfA?si=rZWF2TDLGU0SoKgX Artistas independentes Assim como o vídeo que me inspirou a escolher as animações em mídias mistas como suporte para a história que eu gostaria de contar, a grande maioria das minhas referências foram artistas independentes que compartilham seus trabalhos nas redes sociais. Muitos deles, inclusive, ensinam seus métodos de animar e me ajudaram a desenvolver meu próprio método. Rapruesing Artista de Vancouver, minha primeira inspiração, de onde saiu a ideia do trabalho. Para acessar o perfil, clique aqui. 25 Figuras 15 a 17 - Perfil e publicações de Rapruesign. Fonte: Instagram @rapruesign. https://www.instagram.com/rapruesign/ Isa Almeida Artista brasileira, ensina vários tutoriais simplificados no seu perfil, além de utilizar a animação em mídias mistas em vários vídeos de outros conteúdos que ela produz, como o famoso “Arrume-se comigo”. Para acessar o perfil, clique aqui. 26 Figuras 18 a 20 - Perfil e publicações de Isa Almeida. Fonte: Instagram @isasalmeida. https://www.instagram.com/isasalmeida/ NoonGlow Outra artista que também pública vários tutoriais em seu canal no Youtube. Para acessar o perfil, clique aqui. 27 Figuras 21 a 23 - Perfil e publicações de NoonGlow. Fonte: Instagram @noon.glow. https://www.instagram.com/noon.glow/ Planejamento e gravação Como já mencionado, meu processo ao longo do projeto não foi linear, ou seja, algumas etapas eram realizadas simultaneamente ou por vezes recapituladas, como por exemplo: buscar referências ou voltar a regravar alguns lugares, mesmo com o processo de edição já em andamento. Apesar disso, um planejamento inicial foi extremamente importante para me ajudar a saber por onde começar. Não cheguei a fazer um roteiro convencional, uma vez que a técnica utilizada aborda a experimentação, e de certa forma o improviso, mas ter uma lista dos lugares que eu gostaria de gravar e a ordem que eu pensava ser interessante no vídeo final, me ajudaram bastante a me organizar entre as etapas ocorrendo simultaneamente. Além de anotar os lugares a serem gravados, também escrevi algumas mensagens que eu gostaria de transmitir com aquelas cenas e, eventualmente, ideias de enquadramento e animações que por ventura surgiram durante essa etapa As gravações foram realizadas com a câmera principal do iPhone 11 de 12 megapixels na configuração 4K em 24fps, com o auxílio de um suporte comum para estabilizar o celular durante a filmagem. As gravações eram realizadas ao mesmo tempo que as pesquisas e animações também eram. Além de algumas precisarem ser refeitas, outras precisaram ser adiadas por conta da disponibilidade e do clima. Devido a isso, o planejamento se tornou ainda mais importante, para que eu tivesse um controle do que já havia sido gravado e o que ainda estava pendente. 29 30Figura 24 - Planejamento de gravações pt.1. Fonte: autora. 31 Figura 25 - Planejamento de gravações pt.2. Fonte: autora. 32 Figura 26 - Planejamento de gravações pt.3. Fonte: autora. Decupagem e impressão Após a gravação e a seleção dos vídeos que seriam utilizados, começa o processo de animação em si. A técnica de animação em mídias mista trata-se de uma animação frame a frame feita manualmente, quase como um stop motion, porém com a utilização de um vídeo gravado.  Para imprimir o vídeo, foi necessário exportar cada frame no formato JPEG. Primeiramente, fiz um tratamento simples de cor no Adobe Premiere, ajustando exposição, saturação, contraste, etc., e aplicando uma lut, que seria um filtro de cor. Após isso, reduzi a taxa de frame da sequência para 12 frames por segundo, para dar um maior aspecto de animação frame a frame e também para diminuir o trabalho na etapa seguinte de pintura. Uma coisa que me ajudou foi deixar cada vídeo com uma duração exata de segundo “cheios”, o que tornou mais fácil o cálculo de frames e de folhas utilizadas na impressão. 33 Figura 27 - Tratamento de cor. Fonte: autora. Figura 28 - Configuração de taxa de frames. Fonte: autora. 34 Depois de cada frame exportado, montei as pranchas de impressão no Adobe Illustrator com 4 frames por folha e imprimi todas elas em folha sulfite A4 na qualidade normal da impressora (HP Smart Tank 584). Figura 29 - Exportação em JPEG. Fonte: autora. Figura 30 - Montagem de pranchas de impresão. Fonte: autora. Animação A parte de animar posso afirmar que é a mais desafiadora, porém a mais satisfatória também. Não existe regra nesse caso, você pode planejar antes o que vai querer animar, mas também pode ir direto à mão na massa e simplesmente começar a rabiscar, afinal, esta técnica é sobretudo muito experimental. O que eu mais usei para desenhar foi o giz pastel seco, mas também apostei bastante nas colagens, além de utilizar lápis de cor e tinta guache. 35 Figuras 31 a 33 - Pintura e colagem de frames. Fonte: autora. Escaneamento de frames Esta com certeza foi a etapa mais tranquila do processo. Não há muito o que explicar, basta utilizar o aplicativo de scanner da sua impressora, ajustar a definição e o tipo de arquivo a exportar – eu utilizei 300 ppi e JPEG – e digitalizar todas as folhas pintadas. Caso você não tenha acesso a um scanner propriamente dito, é possível utilizar aplicativos no celular, como CamScanner, ou então tirar fotos com a câmera mesmo. 36 Figuras 34 e 35 - Escaneamento de frames. Fonte: autora. Edição No Premiere foi onde eu transformei as fotos pintadas em vídeo novamente. Primeiramente, criei um arquivo em 1920x1080 px, depois ajustei a taxa de frame para 12 frames por segundo, parte bastante importante para gerar o efeito desejado. Após importar todas as folhas escaneadas para o arquivo, o método que eu desenvolvi para tornar o processo mais rápido foi Cortar 4 frames de cada folha na linha do tempo com a ferramenta fatiar (C) e deletar o restante Ajustar para enquadrar cada frame da folha usando as ferramentas de zoom e posição Fazer ajustes mínimos de cor como saturação, exposição, contraste, etc. Importar o vídeo original e desvincular seu áudio para utilizar apenas ele com a animação. Com algumas animações finalizadas, iniciei o processo de junção das cenas e construção do vídeo final. Nessa etapa, eu pude explorar funções no software de edição que permitem replicar os efeitos da animação artesanal em certas transições e ao incorporar fotos antigas dos lugares representados. A trilha sonora base foi retirada de um banco de sons chamado Envato, sendo o nome da música “Space Ukulele” por Pulse_Sound. Por fim, a narração da história foi realizada por minha irmã Amanda Fogaça a partir de um texto escrito por ela própria. 37 38 Figura 36 - Edição. Fonte: autora. Figura 37 - Tutorial do processo de animação. Fonte: autora. Tutorial Para ilustrar melhor visualmente todas as etapas do processo de Decupagem à Edição, eu fiz um pequeno tutorial em vídeo para posteriormente ser postado em minhas redes sociais. Para acessar o vídeo, clique aqui. 39 https://drive.google.com/file/d/1E2M86zPnSwRLf1pvAgN9a8X-VHPMqnXL/view?usp=drive_link Resultado Final Ao final, a animação PILAR ficou com a duração de 2 minutos e 13 segundos. Portanto, pode-se considerar que, a partir de cálculos simples e arredondados, mais de 1400 frames foram animados manualmente e artesanalmente, considerando a taxa de 12 fps e que alguns segundos do vídeo são de transições com imagens feitas diretamente do software de edição de vídeo. Para acessar o vídeo, clique aqui. 40 Figura 38 - PILAR. Fonte: autora. https://drive.google.com/file/d/1hw6i-e2RyEkPj_cbjWiEMRPXBNpslBVL/view?usp=sharing Considero importante finalizar este relatório com um depoimento de como foi a minha experiência realizando este trabalho de animação em mídias mistas, para que futuramente outras pessoas que eventualmente se interessem pela técnica possam seguir dicas baseadas nos meus erros e acertos. Ficou claro que o processo não é simples e por vezes pode se tornar cansativo, no entanto, há certas questões que podem agilizar o trabalho. Nesse sentido, a seguir deixo as minhas recomendações: Não há necessidade tanto de imprimir quanto de escanear na qualidade máxima. Escolher essa opção pode causar uma diferença de 10 minutos para menos de 1 minuto por folha, o que se torna muito crucial quando tratamos de curto prazo. De qualquer maneira vai haver “perda de qualidade” no processo, e escrevo isso entre aspas porque a intenção de fato não é atingir uma qualidade de filmagem de cinema, mas sim demonstrar as características “falhas” de um trabalho manual e artesanal. O tamanho dos frames impressos, e consequentemente a quantidade de frames por folha, vai depender do que se quer fazer na animação. Eu pensava que se fossem impressos frames muito pequenos haveria problema de definição na hora de recortá-los no vídeo, porém isso pode ser facilmente resolvido na hora de selecionar a definição no scanner. Se você pretende fazer intervenções mais abstratas, “rabiscadas”, 9 frames por folha A4 pode sim funcionar; no entanto, se a ideia é fazer desenhos minimamente detalhados – minimamente no sentido de formas básicas mesmo, que simbolizam algo figurativo – o tamanho que eu considero mais interessante é no mínimo 4 frames por folha A4. 1. 2. 42 Dependendo da folha e da impressora, e até mesmo do seu monitor, a diferença de cor na impressão pode ser muito grande. Já aconteceu de eu tratar o vídeo antes de exportar os frames e ao imprimir sair muito saturado. Nesse caso, recomendo fazer o tratamento de cor na hora de editar a animação em si, até mesmo para economizar tinta da impressora. Esta técnica definitivamente te dá uma grande liberdade na escolha de materiais, não à toa o nome “mídias mistas”. No entanto, considerando o tamanho do projeto, imagina-se que em trabalhos maiores, a escolha seja por papeis mais baratos, como o sulfite, que foi o meu caso. Nessa situação, canetas e marcadores não funcionam muito bem quando o objetivo é pigmentação; lápis de cor são bastante úteis, bem como tinta guache, mas ainda assim possuem uma pigmentação média; o que mais se adequou ao papel foi o giz pastel – eu usei o seco, mas acredito que o oleoso também funcione. 3. 4. 43 Não há necessidade de recortar frame a frame para depois juntá-los no software de edição de vídeo. Na primeira animação que eu fiz, passei horas selecionando cada frame com a ferramenta laço do Photoshop, copiando e colando em um outro arquivo no formato 16:9, para depois exportar um por um, adicionar um por um no Premiere e mudar a duração para 1 frame cada. Já na segunda animação, eu descobri que poderia reduzir consideravelmente esse processo partindo direto para o Premiere depois de escanear. De 60 frames, eu reduzi para 15 folhas, depois era só cortar 4 frames na linha do tempo com a ferramenta fatiar (C), excluir o restante e aí mexer no zoom e posição de cada frame. Eu sofri muito com bloqueio criativo para definir o que eu ia desenhar/pintar/colar, que conversasse com o vídeo gravado. Cheguei a passar dias fazendo a primeira animação no Procreate antes de passar no papel, o que de fato ajuda, e vez ou outra eu ainda utilizei para testar um esboço e ver se fazia sentido, mas a real é que não precisa gastar todo esse tempo se a sua intenção é fazer no papel. Tudo bem testar, mas vai de cara, sem medo, rabisca, pinta, cola, escreve, não tem regra, pensa no sentimento, na “vibe” que aquele vídeo te passa e EXPERIMENTA, e essa é a chave, esta técnica está sobretudo relacionada à arte experimental. 5. 6. 44 Conclusão Durante a graduação, as matérias pelas quais mais me interessei foram oficina gráfica e imagens animadas, então fico muito feliz e satisfeita em poder aplicar os conhecimentos dessas aulas em meu projeto. Reconheço que gostaria de ter aproveitado com mais calma o tempo para aperfeiçoar o resultado e também ter explorado mais materiais e papéis diferentes. Além disso, algo que sempre abordei durante as apresentações de projeto, e que ainda continuo apreciando, é o ato de projetar, de fazer design, e desfrutar cada simples etapa, isso sem dúvida é o que eu quero levar para minha vida profissional. Gosto muito de animação e certamente pretendo continuar pesquisando e me desenvolvendo na área, inclusive me aperfeiçoando nas técnicas manuais, compartilhando meus processos e representando outros lugares importantes para mim além de Pilar. Por fim, finalizo este trabalho de conclusão de curso extremamente realizada e agradecida pela oportunidade de compartilhar um pouco da minha história durante esses quatro anos e neste projeto, além de honrada em poder aprender tantas coisas com os profissionais incríveis por quem eu tive o privilégio de ser ensinada. Espero um dia poder também ser referência assim como meus professores e minhas inspirações. 45 Referências BUCCINI, M. O ortodoxo e o experimental no cinema de animação. Universidade Federal de Pernambuco, 2017. BUCHAN, S. Pervasive animation. [s.l.] New York ; London Routledge Taylor & Francis Group, 2013. DEWEY, J. Art as experience. New-York: Minton, Balch And Co., (S.D, 1934). FRANK, H.; MORGAN, D.; GUNNING, T. Frame by frame: a materialist aesthetics of animated cartoons. Oakland, California: University of California Press, 2019. NOGUEIRA, J.L. Genealogia de uma cidade: Pilar do Sul. Itapetininga, 2014. NORA, P. Les Lieux de Mémoire / II, La Nation. Tome 3, La Gloire, les mots. Paris: Gallimard, 1993. SILVA, H. L. R. D. Rotoscopia e movimento: as diferentes maneiras de se aplicar a técnica de animação. Universidade Federal de Pernambuco, Caruaru, 2017. WELLS, P. Understanding animation. [s.l.] London Routledge, 1998. 46