LICENCIATURA PLENA EM PEDAGOGIA TAÍS HARUME AIASCIDA O IMPACTO DAS EMOÇÕES NO AMBIENTE ESCOLAR: BASEADO NA TEORIA DE HENRI WALLON DE PEDAGOGIA AFETIVA TAÍS HARUME AIASCIDA O IMPACTO DAS EMOÇÕES NO AMBIENTE ESCOLAR: BASEADO NA TEORIA DE HENRI WALLON DE PEDAGOGIA AFETIVA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto de Biociências – Câmpus de Rio Claro, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, para obtenção do grau de Licenciada em Pedagogia Orientador: Prof. Dr. César Donizetti Pereira Leite Coorientador: Prof. Me. Luana Priscila de Oliveira Rio Claro - SP 2023 TAIS HARUME AIASCIDA O IMPACTO DAS EMOÇÕES NO AMBIENTE ESCOLAR: BASEADO NA TEORIA DE HENRI WALLON DE PEDAGOGIA AFETIVA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto de Biociências – Câmpus de Rio Claro, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, para obtenção do grau de Licenciatura em Pedagogia. BANCA EXAMINADORA: Prof. Dr. César Donizetti Pereira Leite Prof. Me. Luana Priscila de Oliveira Prof. Dr. Abel Gustavo Garay Gonzalez Prof. Dr. Raquel Fontes Borghi Prof. Me. Ana Lucia Penteado Brandão Aprovado em: 5 de Junho de 2023 Assinatura do discente Assinatura do(a) coorientador(a) A minha família que sempre me lembrou que eu iria conseguir. AGRADECIMENTOS A Deus que me proporcionou a oportunidade de estudar em uma das melhores universidades do País, dando-me forças e sabedoria para continuar durante esses anos. A minha família pelo apoio prestado em todos esses anos de universidade, pelo afeto e carinho que mantiveram em mim durante esse período. A minha mãe a mulher mais forte e cheia de personalidades, ao meu pai o melhor homem que eu já conheci, agradeço todos os dias por ter a oportunidade de ter nascido filha de vocês. Ao meu irmão e melhor amigo que sempre me ajudou a achar uma luz nas minhas decisões e nunca me fez esquecer que sou capaz, ele é a minha base. Aos meus padrinhos que nunca mediram esforços para me manter confortável e feliz. A minha madrinha que sempre foi minha conselheira e fonte de inspiração. Aos meus amigos que o Movimento Escoteiro me trouxe, vocês me fizeram acreditar que devemos sempre fazer o bem sem olhar a quem. A minha família em Rio Claro, Republica Da Vinci que completam meus dias com alegria e amizade, obrigada pelas conversas no sofá, as risadas, os conselhos e principalmente por nunca me deixarem se sentir sozinha, vocês são a minha segunda minha família. Aos meus professores, que me ensinaram o que é educar, me incentivaram e contribuíram de uma forma promissora para o meu conhecimento acadêmico. Ao meu Orientador e minha Coorientadora que acreditaram no meu projeto e na minha escrita. A todos que ao passarem pela minha vida deixaram um pouco de si em mim, vocês me fizeram ser quem eu sou hoje. A educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem. Não pode temer o debate. A análise da realidade. Não pode fugir à discussão criadora, sob pena de ser uma farsa (FREIRE, 1999, p. 97) RESUMO Este trabalho estudou o impacto das emoções no ambiente escolar: baseado na teoria de Henri Wallon de Pedagogia Afetiva e em como as emoções contagiaram as crianças. Essa pesquisa teve como objetivo fazer uma análise bibliográfica sobre a relação professor- aluno e sua interferência no desenvolvimento das emoções. Fazendo uso da abordagem qualitativa baseada no aprofundamento da compreensão e a visão do teórico, a metodologia foi baseada em levantamentos bibliográficos sobre a vida e obras de Henri Wallon com ênfase em sua Teoria das emoções. Traz uma breve análise sobre a Base Nacional Comum Curricular e sua função de valorizar a dimensão afetiva da criança no ambiente escolar. Diante da pesquisa é concluído que a parte cognitiva e a parte afetiva são interligadas, e as emoções impactam o desenvolvimento pleno da criança, a mesma precisa estar em um ambiente acolhedor e amável onde a relação professor-aluno é a base fundamental. Palavras-chave: Henri Wallon, Relação professor-aluno, Emoção, Afetividade. ABSTRACT This study examined the impact of emotions in the school environment based on Henri Wallon's theory of Affective Pedagogy and how emotions affect children. The objective was to conduct a bibliographic analysis of the teacher-student relationship and its interference with emotional development. Using a qualitative approach, the methodology focused on bibliographic surveys of Henri Wallon's life and works, with an emphasis on his theory of emotions. The study includes a brief analysis of the National Common Curricular Base and its role in valuing the affective dimension of the child in the school environment. Based on the research, it is concluded that the cognitive and affective parts are interconnected, and emotions impact the full development of the child. The child needs to be in a warm and cozy environment where the teacher-student relationship is the fundamental basis. Keywords: Henri Wallon, Teacher-student relationship, Emotion, Affectivity. LISTA DE ABREVIATURAS ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas BNCC Base Nacional Comum Curricular IB Instituto de Biociências TCC Trabalho de Conclusão de Curso UNESP Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO…………………………………………………………………… 10 2 SOBRE O AUTOR………………………………………………………………. 12 3 TEORIA DA AFETIVIDADE…………………..…………………………………. 15 3.1 EMOÇÃO, SENTIMENTOS E PAIXÃO………………………………….......... 15 3.2 O CONCEITO DE EMOÇÃO………………………………………………… ... 17 4 RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E O PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM………………………………………………………………… 20 4.1 OS ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO NO AMBIENTE ESCOLAR…… 22 5 BNCC E A EDUCAÇÃO DAS EMOÇÕES ………………………..….……….. 26 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS…………………….……………………………….. 29 REFERENCIAS…………………………………………………….…………….. 30 10 1 INTRODUÇÃO Esse trabalho debruça-se sobre o impacto das emoções no ambiente escolar baseando-se na Teoria Walloniana da Pedagogia Afetiva. A problemática da pesquisa consiste em compreender e estudar as emoções das crianças no ambiente escolar, considerando que as emoções estão na origem da atividade intelectual.Para tanto como analisar tais questões no ambiente escolar de acordo com a teoria de Henri Wallon? Tendo como objetivo estudar a Teoria da Afetividade de Henri Wallon analisando as interferências na relação professor-aluno a partir dos textos acadêmicos, fez-se necessário compreender os processos das emoções e como eles têm afetado o desenvolvimento e a vida das crianças, mas especificamente no ambiente escolar. Ademais, refletir sobre as implicações das emoções na relação professor-aluno no contexto escolar. A abordagem metodológica utilizada para esse estudo é a pesquisa qualitativa que busca compreender as relações humanas, seus métodos não visam medir dados ou seguir um sistema numérico. Empregando uma abordagem subjetiva baseada no aprofundamento da compreensão e na visão do autor. [...]Os dados qualitativos consistem em descrições detalhadas de situações com o objetivo de compreender os indivíduos em seus próprios termos. Estes dados não são padronizáveis como os dados quantitativos, obrigando o pesquisador a ter flexibilidade e criatividade no momento de coletá-los e analisá-los. (GOLDENBERG, 2005, p.53) É importante frisar que a abordagem qualitativa considera todo o processo da pesquisa, desde o contexto empregado até os dados e seu significado. Dito isso, a metodologia será baseada na pesquisa bibliográfica. A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho desta natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. (GIL, 2008, p.50). Essa pesquisa, portanto, será realizada por meio do levantamento bibliográfico dos autores mais citados nos trabalhos científicos com ênfase na Teoria da Afetividade de Henri Wallon. 11 Utilizando o mecanismo do Google Acadêmico que possibilita a busca de matérias acadêmicos, engloba artigos científicos, teses, dissertações, livros, TCCs e a Biblioteca Eletrônica Científica Online (sciELO) uma ferramenta digital de livre acesso com um modelo cooperativo de periódicos científicos brasileiros, que tem o objetivo de democratizar o acesso a produção de conteúdo científicos, como artigos completos de revistas. Considerado a principal biblioteca digital da América Latina, é resultado de um projeto de pesquisa da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (FAPESP) e conta com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Com base nisso, o trabalho foi desenvolvido considerando a importância da Teoria da Afetividade na educação infantil na atualidade, organizado em seis partes: O capítulo dois faz uma apresentação do autor e suas principais contribuições para a educação, apresentando os estágios de desenvolvimento fundamentados em sua teoria. No capítulo três a tentativa é esclarecer o conceito de Afetividade, principal categoria de estudo do autor, e a diferenciação entre emoções, sentimentos e paixão. Em seguida, utilizando como ponto de partida um relato pessoal busca-se justificar a escolha do tema proposto e tecer contribuições a respeito da relação professor e aluno no processo de ensino aprendizagem. Na quinta seção é feito uma breve explicação sobre a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), um documento normativo de referência nacional que está presente nas instituições de ensino desde 2017, para compreender se este valoriza a dimensão afetiva e a afetividade que são fundamentadas pela Teoria de Henri Wallon. Por fim, estão as considerações finais do trabalho delineando a síntese do estudo a fim de responder o objetivo geral e os objetivos específicos. 12 2 SOBRE O AUTOR Henri Paul Hyacinthe Wallon nasceu na França, em 1879. Graduou-se em filosofia e medicina antes de chegar a cursar psicologia, essa trajetória trouxe profundas marcas para suas teorias. Seus estudos foram centrados no desenvolvimento infantil abordando questões cognitivas, afetivas e motoras. Ao se formar em Filosofia pela Escola Normal Superior em 1902, deu aulas da matéria no ensino secundário, como professor discordava dos métodos autoritários empregados dentro da sala de aula. Teve uma vida marcada por conflitos sociais e instabilidades políticas. Presenciou as duas guerras mundiais e viu de perto a ascensão do fascismo e as revoluções socialistas, sua posição política era clara, se alinhava com os intelectuais e políticos de esquerda, tendo se filiado ao Partido Comunista até o fim da vida. No decorrer de sua carreira percebeu no estudo da criança um meio para conhecer o psiquismo humano e assim surgiu o interesse pela infância e educação. Para ele, a psicologia e a pedagogia deveriam andar juntas, pois tem uma relação de contribuição recíproca. Assim, a pedagogia ofereceria campo de observação à psicologia, mas também questões para investigação. A psicologia, por sua vez, ao construir conhecimentos sobre o processo de desenvolvimento infantil ofereceria um importante instrumento para o aprimoramento da prática pedagógica. (GALVÃO, 1995, p. 23) Seu interesse pela educação o fez participar de diversos movimentos educacionais, como a Sociedade Francesa de Pedagogia que reunia pensadores em prol de trocas de experiências e reflexões. Escreveu muitos artigos sobre a educação e a interação professor- aluno. Com seus trabalhos referentes à educação é chamado para presidir o Plano Langevin-Wallon, um projeto de reforma de ensino, se tornando uma expressão real de seu engajamento pedagógico. Wallon encontra no materialismo dialético de Marx a referência metodológica para os estudos da criança, essa concepção permitiu compreender o desenvolvimento humano como um processo dialético marcado por descontinuidades, rupturas e crises, sendo assim, o desenvolvimento do pensamento infantil não ocorre de forma contínua. Fazendo uso da psicologia genética em que a criança é vista e entendida de forma completa, sendo 13 compreendida por todos os aspectos biológicos, afetivos, sociais e intelectuais. O estudo de Wallon tem como partida a própria criança. É contra a natureza tratar a criança fragmentariamente. Em cada idade, ela constitui um conjunto indissociável e original. Na sucessão de suas idades, ela é a única e mesmo ser em curso de metamorfoses. Feita de contrastes e de conflitos, a sua unidade será por isso ainda mais suscetível de desenvolvimento e de novidade. (WALLON, 2007, p. 198). Acredita que os estágios dependem do meio em que estão inseridos. O estágio impulsivo-emocional que vai do nascimento até o primeiro ano, é regido pela emoção e pela relação da criança com o meio em que vive, tendo forte ligação com a mãe. O estágio sensório- motor vai do primeiro ano de vida até o terceiro, a criança começa a explorar o meio, aprende a andar e o mundo começa a tornar-se menor para ela, a linguagem surge trazendo relações cognitivas para o meio como a inteligência e a exploração espacial. Já no estágio do personalismo, que vai dos três aos seis anos, começa a se formar a personalidade da criança por meio das interações sociais e das relações afetivas, período da negação e imitação. O estágio categorial surge por volta dos seis anos e vai até o início da adolescência, onde a criança já sabe o que deseja, assim ocorrendo importantes avanços na inteligência. E por último o estágio da adolescência ou puberdade, que surge após os doze anos, impõe a necessidade de se encontrar e a auto afirmação, é um período conturbado devido às modificações corporais e a sexualidade. Cada estágio complementa o anterior e é recarregado de fases energéticas, como períodos mais intensos seguidos de outros sociáveis, a afetividade está presente desde o começo da vida, no primeiro estágio de uma maneira impulsiva, no próximo é expressada pela linguagem e pouco a pouco vai se tornando mais racional. O estudo das emoções é exemplar para demonstrar a utilidade da dialética como método de análise para a psicologia. Manifestação de 14 natureza paradoxal, a emoção encontra-se na origem da consciência, operando a passagem do mundo orgânico para o social, do plano fisiológico para o psíquico. (GALVÃO, 1995, p.57). 15 3 TEORIA DA AFETIVIDADE A afetividade tem uma origem biológica de sensibilidades internas específicas que são responsáveis pela atividade do nosso organismo. Em conjunto com outros fatores ligados ao exterior é possível provocar sentimentos e emoções que estão presentes no dia a dia, como, alegria, raiva e tristeza. Dentro dos estágios de desenvolvimento propostos por Wallon a Afetividade está mais presente nos estágios de personalismo (de 3 a 6 anos) e na puberdade e adolescência (a partir dos 11 anos). Isso porque nesses estágios o movimento é para dentro de si, para a compreensão pessoal (centrípeto). Tem uma forma extensa, cresce organicamente e cria um meio social. A afetividade, nesta perspectiva, não é apenas uma das dimensões da pessoa: ela é também uma fase do desenvolvimento, a mais arcaica. O ser humano foi, logo que saiu da vida puramente orgânica, um ser afetivo. Da afetividade diferenciou-se, lentamente, a vida racional. Portanto, no início da vida, afetividade e inteligência estão sincreticamente misturadas, com o predomínio da primeira. A sua diferenciação logo se inicia, mas a reciprocidade entre os dois desenvolvimentos se mantém de tal forma que as aquisições de cada uma repercutem sobre a outra permanentemente [...] isso significa que a afetividade depende, para evoluir, de conquistas realizadas no plano da inteligência, e vice-versa (DANTAS, 1992, p.90). Existem três momentos resultantes de fatos orgânicos e sociais que são localizados no período de desenvolvimento, são eles: a emoção, os sentimentos e a paixão. Assim como o pensamento, essas manifestações estão presentes durante toda a vida e passam por mudanças do sincrético para o diferencial, do todo para as partes. 3.1 EMOÇÃO, SENTIMENTOS E PAIXÃO A emoção é a primeira expressão da afetividade, um estado afetivo, comportando sensações de bem-estar ou mal-estar que tem um começo preciso, é sempre ligado a um objeto específico e tem duração breve, incluindo ativação orgânica. É a expressão corporal da afetividade, o exterior, o jeito como o corpo lida perante o ato, sua amostra motora. Sendo também reações musculares, cada emoção provoca um padrão corporal no corpo, no inconsciente ela provoca comandos, como reflexos corporais, como tem sentido orgânico não é controlada pela razão. 16 [...] a coesão de reações, atitudes e sentimentos, que as emoções são capazes de realizar em um grupo, explica o papel que elas devem ter desempenhado nos primeiros tempos das sociedades humanas: ainda hoje são as emoções que criam um público, que animam uma multidão, por uma espécie de consentimento geral que escapa ao controle de cada um. Elas suscitam arrebatamentos coletivos capazes de escandalizar, por vezes, a razão individual. (WALLON,1986, p. 146). Como é um fator contagioso coletivo e individual, pode gerar participação e propor momentos de sociabilidade. Fator essencial para o desenvolvimento intelectual das crianças, pois movimenta diversas sensibilidades: sensibilidade proprioceptiva, interoceptiva e extrovertida, ou seja, as sensibilidades musculares, viscerais e externas. Comprovando que a criança ajusta-se e sensibiliza-se com o meio. Os sentimentos são mais próximos do cognitivo, onde a pessoa mantém uma expressão representativa, se diferem das emoções, pois não mantém reações imediatas perante as situações. Podem ser reprimidos em diversas situações, sendo mais facilmente controlados e manipulados principalmente na fase adulta onde a sociedade dita comportamentos adequados para determinada situação. A paixão é a dominação da emoção, é vista em sentimentos de controle como ciúmes e posse por alguém, é demonstrada por meio de exigências. É muito romantizada na sociedade é descrita como ato de amor. Ela aparece em estágios mais avançados onde a percepção do outro e de si mesma está mais madura. O comportamento do aluno perante as emoções altera a dinâmica da classe, pois a emoção por mais passageira que seja é contagiosa. As emoções são a exteriorização da afetividade [...] nelas que assentam os exercícios gregários, que são uma forma primitiva de comunhão e de comunidade. As relações que elas tornam possíveis afinam os seus meios de expressão, e fazem deles instrumentos de sociabilidade cada vez mais especializados (WALLON, 1975, p.143). É papel do professor saber lidar com essa dinâmica com sabedoria e experiência, não negligenciando as diferenças, mas sim sabendo que convergências são essenciais para o processo de ensino aprendizagem dos alunos, com base em entender a si e o outro. 17 3.2 O CONCEITO DE EMOÇÃO Existem duas tendências dentro das teorias clássicas sobre emoções, a primeira abordagem acredita que as emoções são tumultuadas e inconstantes, onde tem efeito negativo na atividade intelectual, situações em que a emoção assume o controle e deixa seu lado racional para trás. Podendo fazer uma situação em cadeia em que uma emoção transparece a outra e assim contagiar uma segunda pessoa, observe o seguinte exemplo: Uma mulher acorda atrasada para o trabalho, ao ligar o carro percebe que esqueceu de colocar gasolina, imersa pela raiva e pelo atraso decide por ir de bicicleta, porém ao entrar em uma rua na contramão acaba por ter que desviar de um carro que estava na direção correta da rua, a mudança brusca de direção faz seu equilíbrio ficar comprometido e logo ela cai no chão. Consumida pela raiva, grita com o senhor que estava dirigindo o carro, acusando-o pelo acidente. O senhor, indignado com as acusações, não fica quieto e grita com ela em resposta. Ou seja, a emoção da raiva da mulher junto a acusação injusta ao senhor faz surgir uma piora na situação contagiando uma segunda pessoa. A segunda tendência faz destaque em como as emoções podem ativar diversas reações, que geram uma descarga de adrenalina ou aumento de glicose no sangue. As emoções causam reações energéticas no corpo proporcionadas por ações. Como por exemplo: Uma mulher vê seu filho em uma situação perigosa, ela está do outro lado da rua conversando com uma vizinha e percebe que seu filho pequeno saiu do quintal de sua casa e está prestes a atravessar a rua movimentada. Cercada pelo sentimento de medo sai correndo atrás de seu filho para o mesmo não se machucar, percorrendo uma distância grande em um tempo que não conseguiria correr em uma situação normal. Seu sentimento de medo fez com que ela salvasse seu filho, tendo um efeito ativador em que a emoção disponibiliza energia para prestar o socorro. O estudo das emoções é exemplar para demonstrar a utilidade da dialética como método de análise para a psicologia. Manifestação de natureza paradoxal, a emoção encontra-se na origem da 18 consciência, operando a passagem do mundo orgânico para o social, do plano fisiológico para o psíquico. (GALVÃO, 1995, p.57) Wallon considera que essas tendências da teoria clássica tentam classificar as emoções e as colocar em uma sequência lógica, sua teoria é subjacente a essas, pois busca compreendê-las por meio de análises genéticas. Contrariando a visão das teorias clássicas, defende que as emoções são reações organizadas e que se exercem sob o comando do sistema nervoso central. O fato de contarem com centros próprios de comando, situados na região subcortical, indica que possuem uma utilidade; caso fossem desnecessárias não mais teriam centros nervosos responsáveis pela sua regulação. (GALVÃO, 1995, p. 59) As emoções estão sempre ligadas a alterações corporais e variações no funcionamento neurovegetativo, como respiração acelerada, choro, aumento de batimentos cardíacos e também em expressões corporais e faciais. Cada emoção age de maneira diferente no corpo humano, essas características são visíveis a olhos nus, podendo causar em quem está por perto um caráter contagioso: emoções individuais contagiam as emoções coletivas. Não é possível decidir ter uma emoção, elas são incontroláveis e podem surgir como um impedimento de atividades intelectuais, em um ambiente escolar uma criança ao ficar muito cansada pode chorar e gritar até ter a atenção das pessoas que a cercam, ela não conhece outra maneira sem ser o choro para chamar a atenção de um adulto, por isso é necessário que elas aprendam desde crianças a expressar suas emoções. A afetividade está presente no processo de desenvolvimento da personalidade das crianças desde o período em que elas nascem. A criança está sujeita a diversos estímulos à sua volta, o meio social afeta a evolução mental, pois se junta com o meio orgânico, seu desenvolvimento acontece a todo instante e em diferentes lugares. O ambiente familiar é o principal meio social que a criança vive, sendo seguido pela escola que é o segundo espaço inserido na vida da criança. Mantém uma estrutura para seu desenvolvimento e aprendizagem, um lugar criado para a criança, que proporciona interações sociais como ter amigos e colegas de classe que tenham a mesma faixa etária, falam a mesma língua e comunicam-se de maneiras similares. Muitas vezes até adentrar ao ambiente escolar a criança teve majoritariamente contato somente com adultos, o que de certa maneira traz 19 consequências para o seu desenvolvimento. Ressalto que essas consequências não são maléficas, mas que estar em um ambiente com crianças de sua mesma idade proporciona vivências diferentes. Para ter um pleno desenvolvimento a criança precisa estar em um ambiente em que ela se sinta confortável, um local acolhedor e amável. Onde ela possa criar relações com as pessoas a sua volta, seus colegas e seus professores, é preciso ter um olhar atento a ela nesses momentos de criação de laços para que assim ela desenvolva a parte cognitiva e a afetiva, já que ambas desenvolvem-se em conjunto. Wallon diz em sua teoria da psicogênese da pessoa completa que é fundamental olhar a criança por inteiro, analisando suas relações pessoais e com o próximo para assim conseguir compreendê-la de maneira integral. 20 4 RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E O PROCESSO DE ENSINO- APRENDIZAGEM O processo de ensino-aprendizagem necessita ter como base a confiança, confiar na capacidade do aluno para que o mesmo aprenda o que está sendo exposto, não duvidando ou diminuindo seu conhecimento prévio. Ao ensinar ocorre um aprendizado em que o aluno e o professor são beneficiados, assim promovendo o desenvolvimento de ambos. Os sentimentos e emoções variam de intensidade e frequência de acordo com o contexto que está sendo vivenciado, trazendo uma diminuição ou aumento repentino, tendo isso em mente estes estão presentes em todos os momentos da vida, sendo a base para lidar com as atividades. Na relação professor aluno, o professor tem o papel de ser o mediador do conhecimento, a forma como ele mantém relações com o aluno refletem no aluno como um todo, nas relações do aluno com o conhecimento e em suas relações com os colegas de sala. O aluno traz consigo na aprendizagem a busca da escola em diversos momentos, como estudo e lazer e com isso tem sua própria personalidade e característica de acordo com seu próprio desenvolvimento com o meio, traz consigo saberes, medos, culpa e dúvidas que foram construídos de maneira ímpar, esses saberes são estabelecidos em sua própria existência. É próprio da habilidade de ser professor enxergar o aluno em sua totalidade, ou seja, enxergar tudo o que o aluno é, não somente o que ele mostra ser. As dimensões afetiva-cognitiva-motora são interligadas de formas integradas. É importante ressaltar que existe uma ligação que afeta ambos, o professor afeta o aluno e vice-versa, sendo assim o contexto está interligado a ambos. Quando não ocorre uma satisfação em suas necessidades é gerado uma dificuldade que afeta todo o ensino-aprendizagem. Vemos essas necessidades como as afetivas, cognitivas e motoras. Gerando uma série de circunstâncias, no professor é notado pelo descompromisso e insatisfação; já no aluno é perceptível na criação de dificuldades no aprendizado. 21 Mas especificamente, as emoções interferem totalmente no ensino- aprendizagem, tomemos a cena como exemplo: Uma professora. Um aluno não diagnosticado. Sintomas de diversas síndromes ligadas a qualquer negativa: NÃO! Quanto a ele, era extremamente inteligente e sistemático, queria que as coisas fossem absolutamente do jeito dele, desde guardar brinquedos a determinar brincadeiras, ao mesmo tempo que era carinhoso precisava ser protagonista.O não cumprimento de suas vontades, àquelas já pré-estabelecidas, gerava um descontrole. Sim, ele ficava violento com tudo e com todos. Crianças até com os adultos. NÃO! Apertos, mordidas, empurrões, chutes, arranhões. Um cotidiano violento disparado por um brinquedo tomado, um jogo perdido, qualquer negativa: NÃO! Automaticamente transformava-se em outra criança. Interessante. Curioso. Reversível. Como lidar com isso? Ao passo que recebia uma palavra de carinho, um abraço, um olhar com atenção, era como se nada tivesse acontecido (Cena real). Em sentido geral, portanto, [a emoção] é possível descrevê-la como potencialmente anárquica e explosiva, imprevisível, e por isso assustadora. Está aí a razão pela qual é tão raramente enfrentada pela reflexão pedagógica (DANTAS,1992, p.88). As emoções possuem características específicas que as distinguem de outras manifestações da afetividade. São sempre acompanhadas de alterações orgânicas, como aceleração dos batimentos cardíacos, mudanças no ritmo da respiração, dificuldade na digestão, secura na boca. Além dessas variações no funcionamento neurovegetativo, perceptíveis para quem as vive, as emoções provocam alterações na mímica facial, na postura, na forma como são executados os gestos (GALVÃO, 1995, p.61). A emoção e a raiva movem os seres humanos, não só elas como a frustração funcionam como uma bomba relógio que pode explodir a qualquer momento, liberando as mais diversas emoções. O descontrole emocional interfere constantemente em nossas crianças, as fazem perder o chão, elas não sabem o que sentir, como sentir e principalmente o porquê estão sentindo isso. Como cobrar delas algo que elas não conhecem? Cabe ao ambiente escolar proporcionar uma educação das emoções? Crianças violentas são realmente violentas? Ou são somente crianças que não sabem se expressar? O que é afetividade no ambiente escolar? O que são os sentimentos? O que são as emoções e o que podemos fazer para aprender a lidar com elas? 22 4.1 OS ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO NO AMBIENTE ESCOLAR O meio social é um dos fatores principais em que a Teoria de psicanálise é baseada, Wallon por meio de sua teoria consegue criar métodos para entender esse processo de interação professor e aluno. O processo ensino-aprendizagem é um elemento fundamental para os professores, trazendo a afetividade como via fundamental para a elaboração plena de sua eficácia. A insatisfação das necessidades afetivas, cognitivas e motoras traz prejuízos tanto para os alunos quanto para os professores em diferentes momentos. Como citado, nos alunos ela gera dificuldades de aprendizagem e nos professores traz danos emocionais e psicológicos influenciando sua saúde. Wallon considera os estágios um sistema completo, e suas configurações mantém os componentes que constituem a pessoa, ou seja, cada um interliga a ‘pessoa completa’ que o vive. No ponto de vista afetivo o primeiro estágio que é o sensório-motor necessita de respostas corporais, como abraços, dando este suporte se permite que a criança vivencie o momento como um todo, vivencie o lugar onde está, mesmo sendo um neném esse ato a ajuda a familiarizar-se com o meio em que está inserida. O processo de ensino-aprendizagem necessita de respostas corporais e epidérmicos, por conta disso é tão fundamental que exista uma ligação da criança com seu cuidador, pois isso enfatiza a interação com o meio, com si mesmo e com o outro e assim a criança se sente inserida no ambiente, dando início no seu processo de diferenciação. O segundo estágio o sensório-motor e projetivo com a criança na idade entre 1 a 3 anos já é possível compreender a fala, onde a criança começa a analisar o mundo exterior, ela se volta para o externo com indagações e questionamentos. O professor nesse caso tem o papel de trazer atividades onde todas as crianças possam explorar o exterior, para isso é necessário um espaço onde todos possam participar em conjunto, o lado afetivo é de extrema importância porque de maneira gradativa é construída uma relação professor-aluno onde é oferecido uma gama de diversidades e situações levando a criança a responder suas próprias indagações assim facilitando o conhecimento com o mundo exterior. 23 O terceiro estágio se chama personalismo, entre os 3 e os 6 anos, nele as crianças estão à procura do seu próprio eu, onde a identificação está mais forte, momento em que ela entende a diferença entre ela e os adultos. A oposição principalmente pelo adulto está em evidência durante esse estágio, no processo de ensino aprendizagem é necessário ser oferecidas coisas lúdicas que atraiam a atenção da criança, onde seja permitido que ela se expresse e perceba que está inserida em um meio. Ou seja, as diferenças do meio possibilitam que a criança ganhe visibilidade para si mesma. O olhar para fora remete um olhar para dentro. O quarto estágio denomina-se como categorial, na idade de 6 a 11 anos, onde começa uma maior diferenciação entre o eu e o mundo exterior, o sujeito explora de maneira mais plena o mundo externo e o físico. Nesta fase a criança está no processo de alfabetização, vivenciando o período escolar e mantém um contato diário com os colegas de classe. É o período em que a aprendizagem se torna predominante na sua vida, onde a expressão de ideias surge com maior clareza, o processo de aprendizagem é fundamental para o desenvolvimento do aluno, fortalecendo o que ele já sabe e ensinando o que ele precisa aprender. O quinto e último estágio é o da adolescência e puberdade que mantém-se após os 11 anos, é a busca da identidade, a exploração de si mesmo a procura de sua autonomia, sendo espalhado pelo convívio social de pessoas adultas, é uma procura constante ao eu interior. Lembra o processo de personalismo, onde a aprendizagem ocorre por meio dos questionamentos e oposições, porém ocorre com uma maturidade. Esse estágio diz sobre a busca de respostas internas de perguntas que descrevem quem ser ou quem não ser, o que sentir, o por que sentir. A busca de si, a afetividade assim como nos estágios anteriores é uma facilitadora do processo de ensino-aprendizagem. A psicogenética walloniana contrapõe-se às concepções que veem no desenvolvimento uma linearidade, e o encaram como simples adição de sistemas progressivamente mais complexos que resultam da reorganização de elementos presentes desde o início. Para Wallon, a passagem de um a outro estágio não é uma simples ampliação, mas uma reformulação. Com frequência, instala-se, nos momentos de passagem, uma crise que pode afetar visivelmente a conduta da criança (GALVÃO, 1995, p.41). 24 Assim acredita Wallon em sua teoria que todo indivíduo passa por todos esses estágios de uma maneira plena e completa, compreendendo a si e o mundo. As transformações das emoções, em que cada estágio constitui ensinamento para cada um individualmente. Em suma, para a afetividade é necessário que existam limites que auxiliam o processo de ensino-aprendizagem, assim auxiliando o convívio. Esses limites são importantes para que haja uma troca significativa, onde é necessário entender o lado de ambos, do aluno e do professor. Ser adulto significa saber equilibrar o olhar para si e o olhar para o outro, é ter desenvolvido uma consciência moral onde se tem uma melhor visão sobre a vida sabendo assim construir um melhor acolhimento para os alunos. A Teoria de desenvolvimento de Henri Wallon nos auxilia na compreensão central do processo de desenvolvimento dos seres humanos, desde o nascimento até a fase adulta. Gera um pensamento amplo que auxilia o professor a compreender o aluno de maneira plena, observando as suas possibilidades dentro do processo de ensino-aprendizagem e fornecendo meios para com o pensamento de como a educação de maneira planejada cria momentos que tendem a favorecer o processo, gerando a aprendizagem de novas ideias. Esta descreve sobre cada estágio de desenvolvimento e a medida em que os professores se ajustam e testam, observando e identificando cada etapa é possível fazer uma melhor orientação para atividades específicas e produtivas em sala de aula para seus alunos. É essencial que ocorra os testes de como desenvolver as atividades da melhor maneira, observando o melhor resultado para o processo de ensino-aprendizagem do aluno. Trazendo para o professor a sensibilidade de adequar-se às demandas e desejos do aluno, desenvolvendo uma linha horizontal de ensino. Fazendo com que a teoria de desenvolvimento encontre três frentes que se complementam: a previsão à rotina, a compreensão e questionamento sobre a prática e a autonomia perante a ação. Para Wallon em sua teoria de psicogenética as funções principais são sobre a integração, que se dividem em dois sentidos: Integração organismo-meio e Integração Cognitiva-afetiva- motora. A Integração organismo-meio deduz por meio do panorama da psicogenética que o desenvolvimento ocorre no contexto, no qual ela está inserida, ou seja, a partir da interação da criança com o meio social em que ela está vivendo, com os fatores 25 orgânicos e socioculturais. Assim os estudos das crianças demanda do estudo do meio em que ela se desenvolve. “É o tipo de relação que o organismo tem com o meio que manterá as relações ao nível de mecanismos fisiológicos ou que os fará passar ao do psiquismo” (WALLON, 1975, p.54). Já a Integração afetiva-cognitiva-motora é referente a interdependência entre esses três campos funcionais: a afetividade, a cognição e o ato motor; esses explicam de maneira clara sobre a pessoa. O afetivo é a capacidade de sermos afetados e de se afetar interna e externamente, é a função responsável pelas emoções. O cognitivo é um conjunto de funções que permite a compreensão do conhecimento seja por meio de representações ou ideias, é a capacidade de aprender, o ato de conhecer. E o ato motor diz respeito a: 1. movimentação do corpo e suas reações; 2. coordenação motora desenvolvimento corporal lateralidade; 3. tempo e espaço. Assim como os apoios para expressar seus sentimentos. A pessoa é a integração dos conjuntos. Em uma escola onde a afetividade é levada em consideração, provavelmente será possível formar cidadãos capazes de lidar com seus sentimentos, com suas frustrações, com os “nãos”, tendo em vista que para que isso aconteça é necessário que haja uma relação de cumplicidade e respeito mútuo entre professor e aluno. (MENDES, p.12,2019) Para que isso ocorra é necessário que o professor esteja preparado para lidar com conflitos emocionais de maneira a priorizar os alunos. Tratando-os como ‘seres humanos completos’ que merecem ter o preparo para lidar com seus sentimentos. A relação professora-aluno quando disposta a entender seus atos é um benefício usado a favor, mas que pode gerar danos irreversíveis a vida dos alunos, é criado vínculos afetivos baseados na figura do professor e em sua relação de ensino aprendizagem. A escola por muitos é vista como um ambiente seguro, muito mais frequentada que seu próprio lar. Deve ser o lugar onde a criança se sente mais confortável em mostrar seu interior e onde ela compreende o mundo a sua volta, não é um ambiente onde é transmitido somente o conteúdo é o lugar que contribui de maneira plena para o desenvolvimento do aluno. Um ambiente feito para as crianças, um direito delas e um dever de o Estado ser responsável para deixar esse espaço o mais saudável possível para seu desenvolvimento. 26 5 BNCC E A EDUCAÇÃO DAS EMOÇÕES A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento normativo de referência nacional para os currículos da rede pública e privada das instituições escolares. A Base foi homologada em 2017 na Educação Infantil e no Ensino Fundamental e em 2018 para o Ensino Médio, sendo implementada em todo o território nacional e tendo sua integração total e imediata nas instituições. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica, de modo a que tenham assegurados seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento, em conformidade com o que preceitua o Plano Nacional de Educação (PNE). Este documento normativo aplica-se exclusivamente à educação escolar, tal como a define o § 1º do Artigo 1º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996), e está orientado pelos princípios éticos, políticos e estéticos que visam à formação humana integral e à construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva, como fundamentado nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica. (DCN). (MEC, 2017, p.9). A mesma tem como objetivo a democratização do aprendizado, o tornando igualitário, contendo a consciência da diversidade e da desigualdade que existe no Brasil em relação ao ensino, propõe uma base para assegurar que todos tenham uma educação completa e de qualidade. Os sistemas de ensino utilizam do documento para basear o currículo, observando as aprendizagens fundamentais e as competências propostas, fazendo uso das mesmas de maneira obrigatória. A Educação Infantil é a primeira etapa da educação básica, sendo obrigatória para crianças de 4 a 5 anos de idade, é a base fundamental para o início da vida da criança e o seu desenvolvimento. Por ter um alcance nacional a BNCC apresenta mudanças estruturais para todo o sistema de ensino aprendizagem, tornando-se um guia para as instituições escolares. Contudo não pode haver uma limitação a este documento, é necessário adicioná-los à elaboração dos currículos que constituem os princípios dos conhecimentos da educação. A base mantém um foco na educação integral do sujeito fazendo com que exista um paralelo com a dimensão afetividade, 27 fundamentada no desenvolvimento socioemocional dos alunos. Como mostra os trechos: Respeitar e expressar sentimentos e emoções, atuando com progressiva autonomia emocional”. (DCN). (MEC, 2017, p.51). Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional,reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas e com a pressão do grupo”. (DCN). (MEC, 2017, p.10). Ao observar as interações e brincadeiras entre as crianças e delas com os adultos, é possível identificar, por exemplo, a expressão dos afetos, a mediação das frustrações, a resolução de conflitos e a regulação das emoções”. (DCN). (MEC, 2017, p.33). Na educação infantil devem ser assegurados seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento, são eles: conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se. Eles fazem uma articulação com diferentes áreas do conhecimento as integrando por meio dos chamados cinco campos de experiência: O eu, o outro e o nós; Corpo, gestos e movimentos; Traços, sons, cores e formas; Escuta, fala, pensamento e imaginação; Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações. Esses âmbitos devem ser trabalhados na educação infantil tendo o foco no desenvolvimento do sujeito. Dentro de cada campo é feito uma divisão etária, chamada de objetivos de aprendizagem e desenvolvimento: Bebês (0 a 1 ano e 6 meses), Crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses à 3 anos e 11 meses, Crianças pequenas (4 anos à 5 anos e 11 meses). Portanto, na Educação Infantil, o quadro de cada campo de experiências se organiza em três colunas – relativas aos grupos por faixa etária –, nas quais estão detalhados os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento. Em cada linha da coluna, os objetivos definidos para os diferentes grupos referem-se a um mesmo aspecto do campo de experiências (DCN). (MEC, 2017, p.26). Essas formas de organização curricular visam a aplicação dos conhecimentos necessários para as crianças de até 6 anos, com um método mais lúdico e cativante, não devem ser analisadas de maneira individual. Os campos de experiência não são tratados como áreas isoladas, e oferecem uma gama de oportunidades para que os professores possam trabalhar de maneira integrada e consigam olhar a criança por 28 completo, como seres únicos. Se tornando uma inovação da organização do currículo escolar, fazendo com que os professores saiam de suas zonas de conforto e se adequem a métodos contínuos de interdisciplinaridades. A lógica disciplinar e artificial de estruturar o conhecimento é substituída pela valorização de práticas educativas pautadas em experiências concretas da vida cotidiana das crianças, que valorizam seus saberes inatos e adquiridos na relação com o outro – adultos e crianças. Cada verbo, que se repete nos Campos, provoca o educador a pensar e estruturar o seu trabalho a partir de uma concepção de criança que age, cria e produz cultura, o oposto da imagem de criança receptora. Além e acima de tudo, coloca no centro do projeto educativo, o fazer e o agir da criança passiva e espectadora do adulto, marcantes nas pedagogias tradicionais (FREITAS,2020,p.264) Henri Wallon em sua teoria acredita que o desenvolvimento ocorre de maneira integrada, o sujeito se desenvolve gradualmente com o meio social com seus aspectos motor, cognitivo e afetivo. Sendo fundamental que exista um processo de ensino aprendizagem que opera por meio de um olhar completo da criança. Em um sistema de ensino antes baseado na pedagogia tradicional que tinha o foco no cognitivo, a Base vem com a função de valorizar a dimensão afetiva e os sentimentos das crianças. Um objetivo árduo é compreender essa dimensão em um ambiente escolar majoritariamente cognitivo. A teoria de Wallon se mantém cada vez mais atual e necessária para a formação de professores e a BNCC fundamenta isso, a base na educação infantil mantém em seu método a aplicação de maneira integral dos campos de experiência. 29 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS A escolha de Henri Wallon para me iluminar nesse processo foi natural, seus estudos sobre a afetividade no ensino aprendizagem me trouxeram clareza aos pensamentos. Sua teoria sanou dúvidas e anseios que mantive nos anos de graduação, acredito que além de respostas pude encontrar meios para me auxiliar durante os próximos passos de minha carreira. O estudo dessa problemática é de extrema importância, pois a sociedade já demonstra há anos que a educação tradicional não é a única ou a melhor opção para todos os casos de ensino. É notável o quanto ambientes escolares podem ser desestimulantes, os alunos não se enxergam dentro da escola, cresce o número de alunos que precisam de consultas psicológicas por razão de estresse e ansiedade. A educação tradicional põe o aluno em seu limite, questões emocionais estão cada vez mais presentes no dia a dia dos alunos. O ensino não pode ser baseado em uma fórmula em que todos os alunos são iguais e aprendem da mesma maneira. É necessária uma educação que enxergue o aluno como ser completo e único. Para isso é preciso de professores que entendam e compreendam o aluno como ser único e que suas aulas e suas falas tem interferências na vida das crianças. O estudo da afetividade traz um elemento estimulante para a aprendizagem, e é extremamente necessário para a atividade de ensinar. O ensino e a aprendizagem são movidos pelas emoções e desejos, tendo uma relação favorável para condições afetivas no ambiente escolar. A compreensão sobre as condutas individuais é uma fonte de inspiração para as escolas, pois fala da importância do professor para a formação do ser humano, baseado em críticas ao ensino tradicional, onde o professor enxerga o aluno por completo, para além do desenvolvimento intelectual, se deve buscar o desenvolvimento pessoal. A função do professor deve ser confiar na capacidade do aluno e lembrar que ao ensinar está promovendo a capacidade de outro indivíduo. Saber se expressar e se comunicar com os alunos da melhor forma possível e sempre lembrar das diferenças que existem em todos. Para isso é necessário ter como base a teoria das emoções e a Pedagogia Afetiva de Wallon para assim entender como lidar com os impactos das emoções no ambiente escolar. Analisando a BNCC nota-se a importância da linguagem afetiva e seu auxílio na aprendizagem da criança, que contribui para o desenvolvimento da relação com o 30 outro e consigo mesmo, como ser social que mantém uma interação com o meio que está inserido. O ato de brincar está na primeira etapa educacional da criança onde acontece o ampliamento das experiências emocionais, mantém presente a esfera emocional e possibilita a criança a começar a entender suas emoções. Para contribuir para o aprimoramento da dimensão afetiva é necessário tornar o processo pessoal e significativo criando uma ligação com o sujeito. A criança precisa explorar para conseguir compreender as emoções e sentimentos, se expressar é um método onde ocorre o reconhecimento, o processo interno que visa o aperfeiçoamento emocional faz com que a criança perceba que seus sentimentos e pensamentos fazem parte de si mesma. Resulta na importância de enxergar a criança como ela é, um ser completo, que tem em sua essência diferentes linguagens afetivas. 31 REFERÊNCIAS BRASIL. Base Nacional Comum Curricular: Educação Infantil e Ensino Fundamental. Brasília: MEC/ Secretaria de Educação Básica, 2017. DANTAS, Heloysa. Afetividade e a construção do sujeito na psicogenética de Wallon. In: LA TAILLE, Y., DANTAS, H., OLIVEIRA, M. K. Piaget, Vygotsky e Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus Editorial, 1992 FERREIRA, A. L.; ACIOLY-RÉGNIER, N. M. Contribuições de Henri Wallon à relação cognição e afetividade na educação. Revista Educar. Editora UFPR, Curitiba/PR, n. 36, p. 21-38, 2010. FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 23ª ed. Rio de Janeiro/RJ: Paz e Terra, 1999. FREITAS, N. A. O.; ALMEIDA, N. M. C. B. de; TALAMONI, A. C. B. Educação infantil na base nacional comum curricular: pressupostos epistemológicos em Piaget, Vygotsky e Wallon. 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