RESSALVA Atendendo solicitação do(a) autor(a), o texto completo desta dissertação será disponibilizado somente a partir de 23/01/2020. CAROLINE SAUER GONÇALVES A MESA INCONFIDENTE: Produção e consumo de alimentos nas propriedades de conjurados mineiros ASSIS 2019 CAROLINE SAUER GONÇALVES A MESA INCONFIDENTE Produção e consumo de alimentos nas propriedades de conjurados mineiros Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências e Letras de Assis – UNESP – Universidade Estadual Paulista para obtenção do título de Mestra em História (Área de conhecimento: História e Sociedade) Orientador: Prof. Dr. André Figueiredo Rodrigues Bolsista:Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) – Processo nº 134247/2016-7 ASSIS 2019 AGRADECIMENTOS Tal qual o movimento de Conjuração empreendido em Minas, que foi resultado de pensamento e forças coletivas, assim também é este trabalho, coletivo, uma vez que não seria possível chegar a este resultado sem o apoio e o incentivo de inúmeras pessoas, que contribuíram direta e indiretamente. No tempo que idealizei e realizei esta pesquisa muitos foram aqueles que, de certa forma, colaboraram com o seu desenvolvimento. Deixo aqui registrado o meu mais sincero agradecimento a todos que me ajudaram nesta empreitada. Primeiramente, agradeço a Deus por ter me concedido saúde física e mental, força e disposição para superar todos os desafios que me foram apresentados desde a decisão de cursar o mestrado até a sua conclusão. A fé que tenho foi o combustível para manter minha disciplina, persistência e força para vencer toda a força negativa que me foi apresentada. Sem Ele nada disso seria possível. Agradeço imensamente aos meus pais Eliana e Luiz, a minha irmã Jessica, e a todos os meus familiares que me proporcionaram tranquilidade, conforto, apoio, incentivo e compreensão em todas as horas que precisei, muitas vezes me impedindo de desistir. E a todos os demais familiares que muito me compreenderam quando foi necessário que eu me ausentasse do seu convívio para que este trabalho pudesse acontecer. De maneira especial, agradeço ao meu orientador, Professor Doutor André Figueiredo Rodrigues, por, ainda, sem nem sequer me conhecer, ter acreditado em meu trabalho e em minha capacidade, e por me auxiliar no difícil processo de entrar e cursar o mestrado, por ter visto em mim algum potencial, pela incrível troca de experiências e aulas maravilhosas. Obrigada, mestre, por exigir de mim muito mais do que eu imaginava ser capaz de fazer. Manifesto aqui minha gratidão eterna por compartilhar sua sabedoria, o seu tempo e sua incomensurável experiência. A todos os meus professores, em especial a professora Maria de Lurdes Rondina Mandaliti, que me despertou todo o encanto pela História nos primórdios de minha iniciação na escola, aos professores Francisco Maia Neto e Alba Lucena Fernandes Gandia, por me mostrarem mais da História no Ensino Médio e, posteriormente, na graduação em História, ao professor Mestre Marcos Roberto Mantovani, que na graduação em Gastronomia, me despertou a paixão pela História da Alimentação, aos mestres que me acompanharam na graduação e especialização em História, em especial a Mestra Deize Denize Ponciano, Doutora Érica de Campos Visentini da Luz, Doutora Lorayne Garcia Ueoka, Doutor Ricardo Pires de Paula e ao meu orientador na especialização e grande incentivador para que eu cursasse o mestrado, Doutor Thiago Granja Belieiro, e, também, a todos os professores que tive no mestrado, em especial a Professora Doutora Lucia Helena Oliveira Silva, que me auxiliou em todo o meu caminho rumo a conclusão de mais esta etapa. A todos esses grandes mestres, e àqueles que por ventura possa ter esquecido de mencionar nominalmente, o meu mais sincero agradecimento por todo suporte, incentivo e por nunca perderem a fé em mim. Deixo aqui também o meu obrigado às professoras Doutora Juciene Ricarte Apolinário e Doutora Maria Aparecida de Menezes Borrego, pela ilustre presença em minha banca do Exame de Qualificação e pelos inúmeros ensinamentos e esclarecimentos que me deram com tanta atenção e carinho. Agradeço, também, a todos os meus amigos e colegas das graduações, especializações, do mestrado e da vida, que me deram horas maravilhosas de convívio, de risos, de aprendizado, de parceria e que eu levei para a vida, obrigada pela torcida e pelo incentivo sempre. Em especial aJesiane, pelas longas tardes na UNESP, pelos almoços inspiradores e pela amizade e o apoio de sempre! Aos meus colegas de trabalho da Escola Estadual Antonio Fioravante de Menezes, de Presidente Prudente, pela compreensão das ausências, pelas dicas e pelas inúmeras horas de risadas intermináveis, em especial aos professores e amigos Jessica, Josany, Lígia, Walmir, Jean, Andréa, Ana Cristina e Aline, que muito me ajudaram ainda que sem perceber. E aos meus alunos, que perdoaram as minhas ausências em decorrência da pesquisa, e que fizeram meus dias atribulados ter um pouco mais de leveza com seus abraços e sorrisos. Deixo também um agradecimento especial aos funcionários do Arquivo Histórico do Escritório Técnico II da 13ª SR/ Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), que me receberam muito bem e com muito carinho e disposição me auxiliaram em tudo o que precisei para efetuar minha pesquisa de campo. Aos funcionários da biblioteca da UNESP de Assis, bem como a própria UNESP e ao Programa de Pós-Graduação em História da Faculdade, que sempre me auxiliaram em tudo o que precisei com muito préstimo. Ofereço o meu muito obrigado aos membros da banca de defesa, Doutora Lucia Helena Oliveira Silva e Doutor Jorge Miklos, por me agraciarem com sua presença e com seus valiosos conselhos e incentivos. Finalmente, agradeço ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que fomentou esta pesquisa e possibilitou sua realização em dedicação integral, e ao PROAP-CAPES, juntamente com o departamento de pós-graduação da universidade, pelo auxílio financeiro que tanto ajudou na realização da pesquisa de campo. As ordens já são mandadas, já se apressam os meirinhos. Retiram das prateleiras porcelana, prata, vidro; puxam gavetas de mesas, remexem nos escaninhos; arregalam grandes olhos sobre vastos manuscritos. Não ficam lençóis nas camas, tudo é visto e revolvido. Nas caixas de mantimentos, contam cada grão de milho; arrolam bules sem asa, sem asa, tampa nem bico! Tantos mapas, tantos quadros com seus vidros e caixilhos... Tantas facas, tantos garfos, tantas meias, tantos cintos... (Romanceiro da Inconfidência – Cecília Meireles) GONÇALVES, Caroline Sauer. A mesa inconfidente: produção e consumo de alimentos nas propriedades de conjurados mineiros. 2019. 153 f. Dissertação (Mestrado Acadêmico em História). Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Ciências e Letras, Assis, 2019. RESUMO Já se tornou possível através da historiografia recente saber que a Capitania de Minas Gerais não teve apenas a mineração como mantenedora da economia mineira colonial. A agricultura sempre esteve presente, mesmo que tímida e nos quintais das residências. A Comarca do Rio das Mortes foi a área onde a agricultura esteve mais presente durante o século XVIII. Naquela região, na serra da Mantiqueira residiam os três personagens aqui estudados: José de Resende Costa, Manuel Rodrigues da Costa e José Aires Gomes. Vasculhar as suas propriedades em busca de indícios agrícolas e alimentares é o objetivo desta dissertação. Dividida em quatro capítulo, buscamos de início apresentar uma breve análise da produção historiográfica concernente aos alimentos na História. Depois, passamos a analisar a produção de alimentos nas Minas Gerais do século XVIII, especialmente a produzida na Comarca do Rio das Mortes. Na sequência, estudamos a produção, a compra e a venda de alimentos nas propriedades dos inconfidentes selecionados. Por último, descrevemos as particularidades da vida material e sua conexão com a alimentação setecentista. Palavras-chave: Produção de alimentos; Minas Gerais – século XVIII; Comarca do Rio das Mortes,José Aires Gomes; José de Resende Costa; Manuel Rodrigues da Costa. GONÇALVES, Caroline Sauer. The inconfident table: production and consumption of food on the properties of conspirators of Minas Gerais. 2019. 153 f. Dissertation (Master‟s Degree in History). São Paulo State University (UNESP), Faculty of Sciences and Languages, Assis, 2019. ABSTRACT It has already become possible through recent historiography to know that the Captaincy of Minas Gerais did not only have mining as a maintainer of the colonial mining economy. Agriculture has always been present, even if shy and in the backyards of residences. The District of Rio das Mortes was the area where agriculture was most present during the 18th century. In that region, in the mountain of the Mantiqueira lived the three characters studied here: José de Resende Costa, Manuel Rodrigues da Costa and José Aires Gomes. To search their properties for agricultural and food evidence is the purpose of this dissertation. Divided into four chapters, we sought at the outset to present a brief analysis of the historiographical production concerning food in History. Then we began to analyze the production of food in the Minas Gerais of the eighteenth century, especially which produced in the District of Rio das Mortes. Next, we study the production, the purchase and the sale of food in the properties of the selected inconfidentes. Finally, we describe the particularities of the material life and its connection with eighteenth-century food. Keywords: Food production; Minas Gerais –eighteenth century; District of Rio das Mortes, José Aires Gomes; José de Resende Costa; Manuel Rodrigues da Costa. LISTA DE IMAGENS Mapa 1 – Capitania de Minas Gerais nos fins do período colonial..................40 Mapa 2 – Comarca do Rio das Mortes.............................................................41 Mapa 3 – Caminhos para Minas Gerais...........................................................57 Mapa 4 – Caminho da Bahia para as Minas....................................................59 Mapa 5 – Caminho Velho para as Minas.........................................................60 Mapa 6 – Caminho Novo para as Minas.........................................................61 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Equivalência das moedas coloniais..............................................103 Tabela 2 – Rendimentos da fazenda Borda do Campo, de José Aires Gomes (1791 a 1796)..................................................................................................105 Tabela 3 – Rendimentos das fazendas da Mantiqueira, do Confisco e do Engenho, de José Aires Gomes (1791 a 1796)...............................................106 Tabela 4 – Rendimentos totais das fazendas de José Aires Gomes (1791 a 1796)................................................................................................................107 Tabela 5 – Despesas de manutenção das propriedades de José Aires Gomes – Diário nº 1 (1791 a 1796).................................................................................108 Tabela 6 – Despesas de manutenção das propriedades de José Aires Gomes – Diário nº 2 a 8 (1791 a 1796)...........................................................................108 Tabela 7 – Móveis sequestrados nas residências de José Aires Gomes, José de Resende Costa e padre Manuel Rodrigues da Costa......................................119 Tabela 8 – Bens sequestrados nas residências de José Aires Gomes, José de Resende Costa e padre Manuel Rodrigues da Costa.....................................121 Tabela 9 – Rouparia e enxoval sequestrados nas residências de José Aires Gomes, José de Resende Costa e padre Manuel Rodrigues da Costa..........123 Tabela 10 – Bens de cozinha apreendidos nas residências de José Aires Gomes, José de Resende Costa e padre Manuel Rodrigues da Costa..........130 Tabela 11 – Bens de cozinha de José Aires Gomes.......................................132 SUMÁRIO INTRODUÇÃO...................................................................................................15 CAPÍTULO 1 Os alimentos na História: uma breve análise historiográfica.....................25 1.1 Aspectos historiográficos.............................................................................25 1.2 Aspectos antropológicos..............................................................................28 1.3 História da alimentação no Brasil.................................................................30 CAPÍTULO 2 A produção de alimentos em Minas Gerais..................................................36 2.1 A produção e o consumo de alimentos no contexto mineiro colonial..........36 2.2 A produção e o consumo de alimentos na Comarca do Rio das Mortes, na segunda metade do século XVIII.................................................................55 2.3 A produção e o consumo de alimentos na Comarca do Rio das Mortes, na segunda metade do século XVIII.................................................................71 CAPÍTULO 3 Produção, compra e venda de alimentos nas propriedades dos inconfidentes...................................................................................................86 3.1 As práticas agrícolas: a produção de alimentos nas fazendas dos inconfidentes.............................................................................................89 3.2 As práticas comerciais: compra e venda de alimentos das propriedades inconfidentes..............................................................................................101 3.3 Auguste de Saint-Hilaire visita o padre inconfidente Manuel Rodrigues da Costa na fazenda do Registro Velho (1821)..............................................112 CAPÍTULO 4 Vida material e hábitos de alimentação dos inconfidentes ......................115 4.1 Hábitos alimentares e o mobiliário inconfidente.........................................117 4.2 A cozinha inconfidente e seus utensílios...................................................127 4.3 Os hábitos alimentares e as práticas sociais à mesa: o que cozinhavam e como comiam os sediciosos mineiros.......................................................137 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................142 FONTES E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................147 1 Fontes...........................................................................................................147 2 Fontes impressas..........................................................................................147 3 Bibliografia.................................................................................................148 15 INTRODUÇÃO A alimentação de qualquer corpo social está sempre além do simples ato de ingerir alimentos. Ela se relaciona intrinsecamente com a imagem que esse grupo deseja passar de si. Assim sendo, as escolhas alimentares, bem como tudo aquilo que a ela se associa tem caráter determinante. Desde a escola dos Annales, com a ideia de trabalhar com a história do cotidiano, que a alimentação se tornou objeto das Ciências Humanas. Muitas pesquisas de peso foram feitas desde então, mas ainda existem algumas lacunas por preencher. Quando se trata de alimentação, é necessário estender o olhar para as relações de produção, consumo e comércio dos alimentos. Dessa maneira, este trabalho pretende realizar uma análise da agricultura de produção de alimentos em Minas Gerais colonial na segunda metade do século XVIII, em especial na Comarca do Rio das Mortes, onde residiam participantes importantes do movimento de ConjuraçãoMineira. Dentre todos esses homens, selecionamos para este estudo o coronel José Aires Gomes, o coronel José de Resende Costa e o padre Manuel Rodrigues da Costa, três conhecidos proprietário de terras na referida Comarca. Buscando-se avançar para além da historiografia já produzida, conforme trataremos no capítulo 1, a proposta desta dissertação de mestrado é investigar a produção de alimentos em Minas Gerais, as práticas alimentares e o mundo cotidiano da Comarca do Rio das Mortes, na segunda metade do século XVIII e início do século XIX, detendo-nos no estudo das peculiaridades das práticas sociais, consumo e produção de alimentos encontrados nas principais fazendas que pertenciam a três sediciosos envolvidos na Conjuração Mineira, José Aires Gomes, José de Resende Costa e o padre Manuel Rodrigues da Costa, com a finalidade de se conhecer a vida cotidiana, os hábitos alimentares e a mesa inconfidente. De certa maneira, nenhum estudo monográfico centrou esforços no mapeamento da vida cotidiana, da participação econômica e do dietário alimentar realizado nas propriedades desses três inconfidentes, tanto no que 16 diz respeito à alimentação do senhor quanto a de seus escravos. Poucas pesquisas também mapearam o comércio e a produção de alimentos na Comarca do Rio das Mortes, área escolhida para o estudo, na segunda metade do século XVIII e início do século XIX.1 Indo ao encontro da historiografia que analisou este período, o que se encontra são estudos baseados primordialmente em fontes oficiais e que pouco valorizam as atividades alimentares não voltadas para o abastecimento regional ou internacional. (MENEZES, 2000, p. 21) A dissertação tem por objetivo, portanto, avançar por trilhas não percorridas pela historiografia, ao valorizar outra tipologia de documentos, além dos registros oficiais, que são documentos relacionados à produção agrícola e pastoril que nos ficaram das fazendas de inconfidentes residentes na Comarca do Rio das Mortes no período da Conjuração Mineira, uma vez que estes registros foram apreendidos pela devassa aberta para se apurar o crime de lesa-majestade imputado aos personagens aqui elencados, por se envolveram na premeditada revolta que se pretendia ocorrer nos primeiros meses do ano de 1789. A partir do século XVIII, nas Minas Gerais colonial, se vivia o ciclo do ouro e, em decorrência da descoberta das jazidas minerais, seu território passou a ser rapidamente devassado, ocupado e explorado. Pessoas, das mais diversas regiões, dirigiram-se para as Minas, proporcionando um enorme afluxo populacional e a escassez de gêneros alimentícios, já precários ao atendimento humano ali instalado. Um dos principais motivos da escassez de alimentos era a distância que a capitania se encontrava das demais regiões produtoras de alimentos, como a Bahia, o Rio de Janeiro e São Paulo. Isto dificultava a chegada de mantimentos à região, e quando chegavam os preços eram exorbitantes, fazendo com que a população, em geral, não tivesse acesso a eles. Para se chegar ao território mineiro existiam três caminhos: um vindo pelo norte, da Bahia, circundando o rio São Francisco; um vindo da capitania de São Paulo, chamado de Caminho Velho e, outro, com origens no Rio de 1 Sobre o assunto existem variados estudos. Entre estes se destacam os escritos por: ZEMELLA, 1990; FRIEIRO, 1966. FURTADO, 1999; CARRARA, 2000; CHAVES, 1999; MENEZES, 2000; RODRIGUES, 2002;RODRIGUES, 2010. 17 Janeiro e que levava às zonas minerais da atual circunscrição da cidade de Ouro Preto, conhecido como Caminho Novo. (RODRIGUES, 2008, p. 130) Em nossa pesquisa nos deteremos, especificamente, nesse último trajeto, pois é ao longo da região cortada por ele que as nossas três personagens têm as suas propriedades agrícolas e pastoris instaladas. O Caminho Novo, portanto, que ligava o Rio de Janeiro as Minas Gerais, passando pela Zona da Mata mineira, era percorrido em uma média de 45 dias de viagem, transformando-o, na época, no mais curto e rápido trajeto para se chegar ao interior da região mineratória. (GUIMARÃES; REIS, 2007, v. 1, p. 325) Era através dele que muitas pessoas entravam e saiam da capitania, assim como mantimentos e produtos chegavam, notadamente aqueles que a capitania, por si só, ainda não produzia. Com o desenrolar da exploração das riquezas minerais, o interesse pelo desenvolvimento de empresas agrícolas aumentou e, consequentemente, a concessão de sesmarias se intensificou. As grandes fazendas começaram a aparecer, notadamente ao longo do Caminho Novo, com o intuito de suprir a necessidade de gêneros básicos da população local. A alimentação do mineiro, aquele que residia tanto nas fazendas quanto nas cidades, era baseada no consumo de milho, couve, feijão, carnes (em especial a de porco), arroz, mandioca, queijos, frutas e cana-de-açúcar (para o fabrico de melado, rapadura e cachaça). São esses os principais alimentos produzidos nas fazendas que surgiram naquele período. (FRIEIRO, 1966, p. 57) Destaca-se, também, a produção de víveres realizada nos quintais, uma vez que era bastante comum e diversa. (ABDALA, 2007, p. 95) Em Minas, no referido período, não existia distinção da alimentação das camadas mais simples para as camadas mais abastadas. A produção que mais se sobressaia, por exemplo, era a do milho, que era consumido amplamente por todas as camadas populacionais e, inclusive, utilizado como alimento para os animais. (MENEZES, 2000, p. 111) Concomitantemente com o surgimento do Caminho Novo, as grandes fazendas começaram a aparecer. (RODRIGUES, 2002; RESENDE, 2009, p. 121-143) No avançar do Setecentos, a Comarca do Rio das Mortes, região onde residiam nossas personagens, destaca-se por ser, além de área exploratória de ouro, região com distinguida produção agropastoril, que 18 independeu da retração do vil metal vivenciada a partir de meados do século XVIII. Na região, por conseguinte, viu-se a possibilidade de se desenvolver uma agricultura em grande escala, o que fez com que personagens como os inconfidentes José Aires Gomes, José de Resende Costa e o padre Manuel Rodrigues da Costa, grandes proprietários de terras e produtores de alimentos, ali instalassem suas principais propriedades agrário-pastoris. (RODRIGUES, 2002, p. 137-143) É sobre a produção e o consumo de alimentos em suas fazendas que esta dissertação versará. A escolha por pesquisar a produção de alimentos e as práticas alimentares de Minas Gerais na metade do século XVIII e início do século XIX, através de José Aires Gomes, José de Resende Costa e padre Manuel Rodrigues da Costa e suas propriedades, se dá por serem eles importantes agentes da produção e da comercialização de alimentos na Comarca do Rio das Mortes.2 Esse fato se confirma com base em várias passagens da historiografia do período. Ainda se pode afirmar que a distância entre as áreas de extração do ouro e os centros de abastecimento de produtos agrícolas de primeira necessidade, notadamente nos primeiros anos de Minas Gerais, ocasionou problemas no provimento de alimentos, levando aquela sociedade a dar maior atenção à agricultura e à criação de gado bovino ao longo do século XVIII.3 Além da necessidade de subsistência, a agricultura supre as necessidades comerciais, uma vez que nas zonas de mineração o preço dos alimentos era elevado. Sobre essas necessidades, desde o século XVIII, estabeleceram-se fazendas com produções variadas, que uniam agricultura e criação de animais, e algumas ainda mantinham a extração do ouro.4 2 Notadamente os estudos realizados por Kenneth Maxwell e André Figueiredo Rodrigues permitem afirmar que os inconfidentes da Comarca do Rio das Mortes eram importantes agentes na produção e comercialização de alimentos. Conferir: MAXWELL, 1995; RODRIGUES, 2010. 3 Notícias sobre os descobridores e as crises de abastecimento que se abateram sobre Minas Gerais nos seus primeiros anos de existência estão indicados, por exemplo, no Códice Costa Matoso (1999 [edição de 1749]) e no tratado escrito por André João Antonil, Cultura e opulência do Brasil (1982 [edição de 1710]). 4 Coube a Miguel Costa Filho o pioneirismo ao nomear por “fazendas mistas” o consórcio entre a mineração do ouro e a agropecuária nas fazendas mineiras. Esta realidade, aliás, comum no século XVIII, desaparece progressivamente da paisagem econômica no avançar da centúria seguinte. Conferir: COSTA FILHO, 1963, p. 160-165; RODRIGUES, 2008, p. 131. 19 Nas fazendas da Comarca do Rio das Mortes, devido ao seu posicionamento ao longo do Caminho Novo, a produção agrícola que realizavam e as ligações que possuíam com áreas externas à capitania mineira, notadamente o Rio de Janeiro, não se sofreu com os percalços da retração mineratória.5 A produção agrícola dessas propriedades caracterizou-se pela diversificação. Grandes propriedades, como as pertencentes aos inconfidentes José Aires Gomes, José de Resende Costa e padre Manuel Rodrigues da Costa, nossas personagens, tinham produções variadas, desde lavras auríferas até engenhos, plantações de milho, feijão, arroz e trigo, explorações pecuárias, canaviais, cafezais, entre outras culturas. Estes grandes senhores de terras, com suas “propriedades rurais horizontalmente integradas”, eram “particularmente capazes de absorver o choque das transformações ocorridas após a exaustão do ouro aluvial.” As suas propriedades tinham “capacidade para corresponderem tanto ao estímulo recebido da economia interna, quanto do amplo comércio exterior que fluía pelo Caminho Novo, que ligava a região aurífera mineira ao Rio de Janeiro.” (RODRIGUES, 2010, p. 133) Neste universo, os inconfidentes a serem estudados apresentavam-se como proprietários de grandes quantidades de escravos, pois foi o braço negro forçado a matriz de trabalho dominante em suas lavras e atividades agropastoris.6 Estudo recente informa que foi por meio da mineração que estes senhores escravistas conseguiram “amealhar seus maiores rendimentos, apesar de eles estarem inseridos na principal região produtora de grãos, leguminosas, cana-de-açúcar e aguardente, e de criação de bois, muares e porcos de Minas Gerais.” Com perfil econômico tradicional, eles são muito mais mineradores do que agricultores, apesar de diversificarem alguns de seus negócios, seus grandes planteis necessitavam do abastecimento alimentar 5 Nesta perspectiva, vale a ressalva que a agricultura na região Sul de Minas Gerais surgiu da possibilidade de abastecer o Rio de Janeiro que, ao longo do século XVIII, “foi se tornando cada vez mais um mercado emergente, beneficiado pela condição de porto mais importante para a região das Minas”. In: RODRIGUES, 2010, p. 133. 6 Em 1791, a devassa da Inconfidência apreendeu ao padre Manuel Rodrigues da Costa 2 escravos, a José Aires Gomes 133 cativos e a José de Resende Costa 31 negros. Na Comarca do Rio das Mortes, por exemplo, outros inconfidentes também tiveram escravos sequestrados, como Inácio José de Alvarenga Peixoto com 134 negros, Francisco Antônio de Oliveira Lopes com 74, padre Carlos Correia de Toledo com 31 cativos e Luiz Vaz de Toledo Piza com 37 mancípios. Conferir: RODRIGUES, 2010, p. 169. 20 produzido em suas próprias roças e, também, da compra de alimentos no mercado colonial, em níveis local e regional. (RODRIGUES, 2010, p. 175) Assim, sem perder de vista esta circunstância e sem esquecer que nossas personagens são proprietários escravistas, cabe também a esta pesquisa observar a alimentação que cabia aos cativos que residiam e serviam nas propriedades dos inconfidentes a serem estudados. Acerca da alimentação dos escravos, sabe-se que era extremamente pobre e que não havia variedade, mesmo eles exercendo suas atividades em fazendas abastadas e com roças de produção variada de alimentos. (RODRIGUES, 2010, p. 133) Para dar base bibliográfica à pesquisa, nos reportamos aos livros “clássicos” e aos autores que trabalharam com a historiografia mineira colonial, bem como com relatos de viajantes que passaram pela Comarca do Rio das Mortes, em meados do século XVIII e princípios do século XIX. Para isto, analisaremos obras ligadas às recentes abordagens historiográficas concernentes à agricultura de subsistência e à constituição do mercado de abastecimento interno locais, articulados aos demais mercados regionais naquela referida época. (ZEMELLA, 1990; FRIEIRO, 1966; FURTADO, 1999; CARRARA, 2007; CHAVES, 1999; MENEZES, 2000; RODRIGUES, 2002; 2010) Embora a historiografia sobre a economia mineira colonial seja vasta, ela pouco abrangeu, especificamente, as fazendas dos inconfidentes e a sua produção e consumo alimentar. Destacam-se a dissertação de mestrado (1998) e a tese de doutorado (2002) de André Figueiredo Rodrigues, que mapeou e quantificou a produção agrícola para mostrar a riqueza proporcionada por este segmento econômico frente aos demais bens apreendidos pela Coroa portuguesa. (RODRIGUES, 1998; 2010) No que diz respeito a esta dissertação, a nossa dissertação avançará ao já pesquisado trazendo à luz, uma explanação acerca da cultura material que envolvia o cotidiano dessas personagens, observando seus bens e chegando as práticas alimentares de fato, ou seja, o que consumiam para além do que produzido e o que compravam e vendiam de alimentos. Em relação aos seus escravos, o que comiam? Isso nos coloca pouco a frente dos autores citados anteriormente, porque mesmo dividindo o mesmo espaço físico e compactuando da mesma organização social ao rastrear o consumo e a 21 produção de alimentos nas propriedades dos três inconfidentes selecionados, saímos da análise generalista empreendida até então e avançamos rumo às estruturas mínimas da vida econômico-social do produtor de alimentos. Para se chegar a esse fim, os meios de pesquisa utilizadosserão a análise de documentos, citados com mais detalhes no próximo tópico, e que ainda não foram analisados com essa visão que se apresenta aqui no parágrafo acima. A pesquisa documental será fundamental para a realização dessa análise. Para dar o subsídio teórico necessário à esta dissertação, a pesquisa foi cumprida de duas maneiras: documental e bibliográfica. À pesquisa documental soma-se a pesquisa bibliográfica. Aliás, a historiografia que se apresenta sobre Minas Gerais colonial é vasta e tem se ampliado cada vez mais. As escolhas de nosso estudo tratam da economia mineira além da mineração, direcionando-se sentido à agricultura de subsistência e o mercado de abastecimento interno e às características dietárias da alimentação colonial em Minas Gerais. Concernentes à comida dos mineiros, o livro Feijão, angu e couve: ensaio sobrea comida dos mineiros, de Eduardo Frieiro (1966), é o primeiro texto publicado sobreos hábitos alimentares e costumes dos habitantes de Minas Gerais. Seu estudo percorre cronologia que vai desde o descobrimento das Minas até a década de 1960, utilizando textos de viajantes estrangeiros, historiadores e ensaístas que escreveram sobre a região e sobre o Brasil de maneira mais ampla. A seleção empreendida pelo autor permite-nos conhecer e recuperar a fome, a escassez de alimentos, o abastecimento precário agravado pelo pequeno número de plantações devido à concentração de braços na mineração, que vivia, então, seus melhores dias, pelo menos até meados do século XVIII. No geral, parte-se do princípio de que a alimentação do mineiro colonial era bastante simples, marcada pela privação de gêneros de subsistência, caracterizada pela baixa quantidade de proteínas e pelo consumo de milho e de mandioca nos períodos de maior dificuldade econômica, o que acabou por se constituir no principal sustento daquela população. (FRIEIRO, 1966, p. 31- 35) 22 Ao contrário do tão propagado princípio de que a economia mineira se geria apenas pela mineração do ouro, a agricultura e, principalmente, a agricultura de subsistência, ganharam destaques na historiografia. Por exemplo, os trabalhos de José Newton Coelho Meneses e Angelo Alves Carrara apresentaram o universo rural de Minas Gerais como o universo socioeconômico dos séculos XVIII e XIX. José Newton Coelho Meneses, em O continente rústico: abastecimentoalimentar nas Minas Gerais setecentistas analisa o abastecimento alimentar na comarcado Serro Frio, por meio de inventários post-mortem, testamentos e Atas da Câmara, chegando à conclusão de que a região pesquisada não sofreu problemas no abastecimento de gêneros alimentícios ao longo do século XVIII, pois na região se produzia e consumia alimentos, de forma a suprir suas necessidades. A região colonial de Minas também comercializava alimentos com outros locais. Segundo estudo realizado por Mafalda Zemella, O abastecimento da capitania deMinas Gerais no século XVIII, o primeiro a explorar o assunto, a região das MinasGerais fez emergirem algumas correntes de abastecimento ligadas a outros pontos da América portuguesa, como São Paulo, Bahia e Rio de Janeiro, onde cada uma dessas regiões conseguiu oferecer gêneros diferentes daqueles que o território mineiro dispunha. Seu estudo analisa os mercados abastecedores, para descobrir como os produtos chegavam às Minas Gerais, de que maneira eles eram distribuídos pelo território e, ainda, como eram consumidos, até o momento em que Minas se torna um território autossuficiente e exportador. Cláudia Maria das Graças Chaves com seu Perfeitos negociantes: mercadoresdas Minas setecentistas, também merece destaque, ao estudar a atuação dos tropeiros emostrar de que maneira eles realizavam o transporte de mercadorias, inclusive de gêneros alimentícios, entre diversas partes da América portuguesa e Minas Gerais, bem como a possibilidade da existência de um mercado interno que possibilitava a circulação de produtos importados e produzidos no próprio território. Júnia Furtado, com Homens de negócio: a interiorização da metrópole e docomércio nas Minas setecentistas mostra como era realizado o comércio entre osgrandes homens de negócio, ao informar como ocorriam as trocas 23 comerciais de alto padrão nas Minas Gerais, entre 1712 e 1744, transmitindo a noção de classe social dentro da colônia, destoando-se da produção bibliográfica, uma vez que a maior parte dos trabalhos traz apenas o comércio simples e de subsistência. Estes estudos compõem a base bibliográfica fundamental (e inicial) da pesquisa, ao nos possibilitar a compreensão dos cenários econômicos e sociais existentes em Minas Gerais colonial. As abordagens mais recentes nos trazem uma visão mais objetiva do funcionamento das unidades econômicas e produtivas mineiras como um todo, e não apenas alguns setores. Pois bem, se Minas Gerais apresenta economia diversificada e não apenas ligada ao setor minerador, mantendo respeitável comércio com outras províncias da América portuguesa, além de possuir destacável produção agrícola de subsistência, necessita-se, portanto, ampliar esse debate, especificando alguns dos personagens que fizeram com que essa realidade existisse, mapeando-se restritivamente suas práticas comerciais e de consumo de alimentos, além das práticas sociais do alimento na mesa inconfidente. Assim, o cotidiano material focado na alimentação desses personagens será detalhado, e nesse universo – a segunda metade do século XVIII e início do século XIX – servirá como exemplo para se mapear a produção, o consumo e as práticas sociais relacionadas ao alimento produzido e circulado na Comarca do Rio das Mortes, uma vez que as personagens escolhidas estão entre as pessoas mais importantes e destacadas da sociedade setecentista mineira, além de, também, estarem envolvidas com os demais membros da plutocracia e com proprietários rurais e exploradores de ouro do local, conforme André Figueiredo Rodrigues fez em seu estudo sobre José Aires Gomes. (RODRIGUES, 2002) Seu espaço relacional será comparado com o de outros inconfidentes do mesmo local, como, por exemplo, Alvarenga Peixoto, já amplamente estudado por André Figueiredo Rodrigues em A fortuna dos inconfidentes: caminhos e descaminhos dos bens de conjurados mineiros (1760-1850), e mesmo com proprietários envolvidos no abastecimento alimentar, identificáveis a partir de listas de despesas encontradas em inventários diversos de pessoas da Comarca do Rio das Mortes, em localidades próximas das fazendas dos 24 proprietários inconfidentes a serem estudados, e nos autos de sequestros de bens inconfidentes.7 Quanto aos capítulos, a estrutura se deu de maneira que o capítulo inicial discorrerá sobre a historiografia concernente à produção de alimentos e alimentação na História. Na sequência, no segundo capítulo, abordaremos a produção de alimentos na Capitania de Minas Gerais, durante o período colonial, mais especificamente na segunda metade do século XVIII. Ainda neste capítulo, chegamos à Comarca do Rio das Mortes, onde as nossas três personagens – José Aires Gomes, José de Resende Costa e padre Manuel Rodrigues da Costa residiam e tinham as suas propriedades, que lhes foram sequestrados pelos seus envolvimentos no movimento sediciosa da Inconfidência Mineira, de 1788-1789. Neste capítulo serão trabalhados os inventários pesquisados no Arquivo Histórico do IPHAN, em São João del-Rei, de maneira a construir um perfil de como era a produção agrícola e o consumo de alimentos na serra da Mantiqueira. Noterceiro capítulo iremos discutir a produção, a compra e a venda de gêneros alimentícios nas propriedades dos três inconfidentes selecionados, nomeados anteriormente, contextualizando-se as práticas agrícolas ali encontradas com a realidade de produção e comércio empreendida na Comarca do Rio das Mortes naquele instante temporal. Por fim, no quarto capitulo se apresenta análise detida das particularidades da vida material e dos hábitos cotidianos daqueles inconfidentes. Através do sequestro de seus bens, empreendido pela Devassa da Inconfidência Mineira, será possível traçar seus perfis econômicos ealimentar. Tendo em vista os seus bens relacionados à cozinha, é possível perceber como eles se alimentavam, proporcionando conhecer a mesa inconfidente. 7 No Arquivo Histórico da 13ª Seção Técnica do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em São João del-Rei, Minas Gerais, foi possível pesquisar os inventários de moradores de várias paragens da Comarca do Rio das Mortes, entre elas pessoas que se relacionaram – por exemplo, economicamente – com os sediciosos envolvidos na Conjuração Mineira. Especificamente para este caso, utilizaremos como exemplo analítico, as ações empreendidas por José Newton Coelho Meneses em sua análise dos inventários do acervo cartorial da Casa de Borba Gato, em Sabará, correspondentes ao período 1730-1741, em um total de 69 processos, na qual investigou o abastecimento alimentar nas Minas Gerais do século XVIII. Conferir: MENEZES, 2010. 142 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho teve como objetivo realizar uma análise da alimentação e da agricultura praticadas em Minas Gerais, na segunda metade do século XVIII, dando especial atenção à Comarca do Rio das Mortes, região próspera no que tange á alimentação e por ser local de residência de muitos dos fervorosos participantes do movimento de conjura mineira. Tendo em vista a importância da referida Comarca na produção agrícola mineira, e sabendo que a grande maioria, senão todos, os participantes do movimento contra a Coroa, eram grandes proprietários de fazendas produtoras de alimentos, surgiu-nos a possibilidade de uma análise mais detida de sua vida material e sua produção. Essa análise nos trouxe à luz a grande responsabilidade desses homens no abastecimento da Comarca do Rio das Mortes e até de outras partes da Capitania. Devido á categoria da pesquisa, apenas três conjurados foram analisados: José Aires Gomes, coronel e “potentado da Mantiqueira”17, José de Resende Costa, também coronel, e Manuel Rodrigues da Costa, efetivo membro do clero conjurado. Ao longo de toda a pesquisa foi possível concluir que a alimentação mineira colonial era basicamente formada por milho, mandioca, feijão, arroz, couve, carne suína e galinha, bem como seus preparos derivados, juntamente com algumas frutas, especialmente as cítricas, e que a Comarca do Rio das Mortes era a maior produtora desses alimentos. De maneira mais específica, concluímos que, indiscutivelmente, o milho foi o gênero mais cultivado em todo o território mineiro durante o século XVIII. Não era de costume do mineiro o grande consumo de carnes, mas a carne suína era a predileta. A carne bovina não era muito consumida, peixe quase não era mencionado e a galinha estava presente, mas apenas nas mesas mais abastadas. 17 Termo usado para definir José Aires Gomes segundo sua posição econômica e social de destaque na Comarca do Rio das Mortes, usado por André Figueiredo Rodrigues em sua dissertação de mestrado. Conferir: RODRIGUES, 2002. 143 Com o plantio da canadeaçúcar, além do fabrico da cachaça, era produzido o açúcar, ainda não refinado, que era empregado sempre em grande quantidade nos doces mineiros, especialmente compotas e geleias de frutas. As bebidas quase não são citadas ao longo do trabalho, por conta de que não era comum o consumo delas. Algumas pessoas consumiam o suco dos frutos das “árvores de espinhos” que plantavam em seus quintais, ou seja, laranjada e limonada. Dentre as bebidas alcoólicas, sem dúvida, a cachaça é a mais consumida. Há, ainda, aqueles que consomem vinho, mas apenas os mais ricos, já que era necessário importá-los. Em algumas casas havia o consumo do licor de frutas. De modo geral, foi possível afirmar que o mineiro era sóbrio em seu modo de comer. Não praticava muitas refeições ao longo do dia. A maioria comia com as mãos, exceto nossas personagens, que tinham predileção por comer com seus talheres. Através dos inventários arrolados para este trabalho, todos os moradores da Comarca do Rio das Mortes produziam o suficiente para sua subsistência. Seus objetos apresentam claramente a influência européia naquela região, uma vez que a população da colônia se mostrava muito resistente a qualquer tipo de adaptação às condições de vida das populações brasileiras nativas. Nesses inventários obtivemos a confirmação do alto consumo de determinados produtos e de que essa sociedade que se apresenta era essencialmente agrária. Há aqueles que se dedicavam ao comércio, mas esta atividade ainda era tímida se comparada à agricultura, uma vez que 65% dos inventários eram de proprietários rurais. Assim sendo, empreendeu-se em parte desta pesquisa uma análise breve da alimentação oferecida a estes escravos, uma vez que trabalhavam nas maiores empresas produtoras de alimentos. Em suma, observou-se que a alimentação destes era pobre, apenas lhes era oferecido o indispensável para que se mantivessem vivos e ativos para o trabalho. Algumas vezes conseguiam algumas frutas que apanhavam nas árvores das fazendas. Seu alimento primordial era o angu, cozido apenas com água e sem sal, e, em alguns casos, comiam também milho e farinha de mandioca. 144 Essas características se repetiram na análise das propriedades das nossas três personagens. Aires Gomes, Resende Costa e o padre Manuel Rodrigues da Costa eram todos proprietários de grandes fazendas com grandes quantidades de escravos. Dentre os três, Aires Gomes era o maior possuidor de herdades. A característica básica dessas propriedades era o caráter misto da sua produção. Todas elas produziam os gêneros básicos concernentes à alimentação do mineiro colonial. A produção era suficiente para alimentarem a si mesmo e seus familiares, aos cativos, aos animais e demais dependentes, e ainda era possível comercializar o excedente. O comércio de gêneros alimentícios, ou os chamados “molhados”, apareceu com a mineração e continuou mesmo após a atividade agrícola se tornar a base econômica da Comarca do Rio das Mortes. Assim sendo, fazer parte da lucrativa rede de abastecimento desta Comarca era fundamental para nossas personagens. Nas fazendas de José Aires Gomes, a produção era amplamente comercializada, obtendo rendimentos significativos. A fazenda da Laje, de Resende Costa, lhe rendia quantidade significativa de réis a venda de cana-de- açúcar e milho, e na fazenda do Registro Velho, onde residia o padre Manuel Rodrigues da Costa, o comércio era menor. É crível que o clérigo obtinha rendimentos de seu oficio de usurário, mas, tempos depois, quando da visita de Saint-Hilaire a sua fazenda, o mesmo já era proprietário de uma venda. Após concluirmos que nossas três personagens foram parte fundamental na produção, no comércio e no abastecimento alimentar da Comarca do Rio das Mortes, com a documentação de que dispúnhamos foi possível conhecer o modo de vida desses homens, adentrando suas residências, determinando até mesmo como seriam seus costumes alimentares. Notamos que, quanto ao mobiliário, as suas residências não eram abarrotadas. Havia poucos itens, mais essenciais ao seu cotidiano. Eram indispensáveis os baús, as mesas, os catres e os tamboretes. Possuíam quantidade significativa de roupas de cama e mesa, e quase nenhuma roupa de banho, apenas toalhas de mão. Quanto às roupas de vestir, esses homens possuíam quantidades expressivas, desde as mais simples até 145 vestimentas militares ornamentadas com costuras com fios de ouro. E o padre ainda possuía as vestimentas especificas de seu oficio de clérigo. Com base nos bens encontrados nas suas residências, foi possível concluir que ambos possuíam uma vida material confortável. Quanto a suas cozinhas, foi possível afirmar que eles eram donos de cozinhas bem aparelhadas para cozinhar todos os gêneros básicos da alimentação da colônia, os quais certamente consumiam diariamente. Assim, observando a quantidade e a variedade de utensílios de suas cozinhas, foi possível determinar, também, que a mesa desses senhores se caracterizou pela fartura e pelo sortimento dos gêneros, inclusive os que eram importados da metrópole, e que todos prezavam pelas boas maneiras à mesa, o que se comprova pelo uso de talheres. Este trabalho se torna importante, mesmo já havendo trabalhos que tenham mapeado a vida material, cotidiana e o dietário alimentar dos inconfidentes, bem como o comércio e a produção de alimentos da Comarca do Rio das Mortes na segunda metade do século XVIII, mas não com o viés antropológico e histórico das raízes de uma história da alimentação que está em produção. Nosso estudo traz análises para o campo da cultura material e da história da alimentação. Em primeiro lugar, rompemos com a supremacia de determinados tipos de fontes, que não valorizam as atividades agrícolas locais e especificas. Essas informações apenas são encontradas em fontes como testamentos e inventários pessoais, que deram base a esta pesquisa. Em segundo lugar, era essencial levantar novas discussões acerca da produção agrícola e do comércio de gêneros alimentícios de Minas Gerais, uma vez que, ao longo de mais de vinte anos se pensou que toda a economia mineira era atribuída à atividade mineral, negligenciando a forte presença da agricultura. Mesmo assim, este trabalho ainda apresenta limites a serem avançados em pesquisas futuras. Este trabalho pode, e deve, ser ampliado com um estudo mais detido de toda a vida material e cotidiana dos demais participantes do movimento de conjura mineira, sendo possível traçar com ainda mais certeza o perfil econômico e social desses homens, inserindo-os na economia colonial mineira. 146 Após a conclusão do trabalho, ainda chegamos a alguns questionamentos que não conseguimos responder. Partindo dos assuntos tratados no último capítulo, podemos nos questionar sobre a cozinha enquanto uma narrativa de vida. Há possibilidade de se criar discussões acerca da alimentação cotidiana, sobre o que ela é e o imaginário que ela causa. A alimentação dos escravos merece um estudo a parte. Há a possibilidade de se explorar a relação de alimentação dos escravos e dos senhores, o comércio empreendido por escravos, especialmente aqueles que residiam em quilombos. A cozinha regional que é abordada tangencialmente neste trabalho pode ser mais questionada, gerando uma discussão acerca de sua relação com ser ou não uma cozinha autêntica. Esses questionamentos e indagações poderão ser respondidos em futuras pesquisas. Assim sendo, concluímos, em consonância com a bibliografia utilizada neste trabalho, que a agricultura teve importância igual ou até maior na economia da Capitania de Minas Gerais na segunda metade do século XVIII. Dentro desse cenário, as propriedades agrícolas de maior destaque na Comarca do Rio das Mortes foram as de José Aires Gomes, José de Resende Costa e do padre Manuel Rodrigues da Costa. Todas elas produziam alimentos em quantidade expressiva para se manterem e estabelecer um comércio rentável na referida Comarca. Com base nos sequestros dos seus bens e nos inventários arrolados foi possível tecer um breve panorama da vida cotidiana e material da Comarca do Rio das Mortes, em especial dessas figuras ilustres, e, ainda, mapear como era sua alimentação e seus hábitos à mesa, indo além da visão econômica apenas, e trazendo novas abordagens. 147 FONTES E REFERÊCIAS BIBLIOGRÁFICAS FONTES Arquivo Histórico do Escritório Técnico II da 13ª SR/Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) de Minas Gerais/São João Del Rei = Inventários do 1º e 2º Ofícios e Juízo de Órfãos Número das caixas e ano dos inventários: 30(1763/1789/1796/1760), 33(1768), 42(1787/1792/1799), 58(1784), 70(1783), 89(1774), 94(1787/1798/1793), 100(1771/1782/1788/1790/1796), 149(1749), 200(1752), 232(1747), 240(1782), 265(1801), 300(1770/1772/1772/1778/1778/1784/1794/1796), 304(1743), 316(1766/1783), 336(1744/1790/1795), 348(1726), 362(1797), 366(1777), 385(1771), 388(1768), 390(1726/1790/1796/1797/1736), 421(1776), 429(1748), 439(1746), 454(1799/1725/1766), 463(1772/1775/1789/1789/1798), 474(1758/1777/1799), 475(1772), 503(1785), 504(1744), 524(1745), 527(1749), 534(1767), 542(1781), 558(1774/1796), 559(1744), 568(1758), 569(1777), 573(1781), 589(1746/1755/1760), 595(1742), 620(1773), C-20(1769), C-48(1729/1757). 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