Rev Bras Med Esporte _ Vol. 5, Nº 2 – Mar/Abr, 1999 47 ARTIGO ORIGINAL Lesões na dança: estudo transversal híbrido em academias da cidade de Bauru-SP Lia Geraldo Grego1, Henrique Luiz Monteiro2, Carlos Roberto Padovani3 e Aguinaldo Gonçalves4 M 1. Graduada em Educação Física; Professora de dança do Colégio Batista de Bauru. 2. Professor Doutor, Departamento de Educação Física Unesp, Campus Bauru. 3. Professor Titular, Departamento de Bioestatística, Unesp, Botucatu. 4. Professor Titular, Departamento de Ciências do Esporte, FEF/Unicamp. Endereço para correspondência: Henrique Luiz Monteiro Departamento de Educação Física, Faculdade de Ciências, Unesp, Campus de Bauru Av. Engº Luiz Edmundo Coube, s/nº Caixa Postal 473 17033-360 – Bauru, SP E-mail: heu@bauru.unesp.br vos de membros inferiores, com predominância de calos (47,03%) e bolhas (28,56%) nos pés. O balé clássico foi o estilo responsável pela maior parte das lesões; as mais expe- rientes e as estudantes foram as mais afetadas e o uso da sapa- tilha de ponta implicou risco elevado para ocorrência dos agra- vos observados nos pés. Palavras-chave: Dança. Lesões. Inquérito de morbidade referida. ABSTRACT Dance injuries: hybrid cross-study in dance schools in the City of Bauru – State of São Paulo The physical activities performed by dancers predispose to numerous injuries. The search for information about this mo- dality of lesion allowed the authors to verify the lack of inves- tigation on the issue. Thus, the purpose of this investigation was to point out the main dance injuries, trying to describe their distribution and characterization in their context, and to suggest preventive measures to the most frequent injuries. 122 female dancers were included in the study, aged between 8 and 30 years, from dance academies in the City of Bauru, State of São Paulo. Most of them were professional dancers (42%) or students (45%) with 3 to 11 years of practice (73%), classical ballet students (84%) and jazz (66%), and performed 4 to 8 weekly classes (70%), each class lasting 60 to 120 min- utes (89%). Data were recorded using referred morbidity in- quiry to obtain information on the injuries that had occurred in the previous year. Descriptive statistics was used to present the findings, showing absolute and corrected frequencies, and the rate of injuries. In analytic terms, the authors used Wil- coxon, Spearman and Kruskal-Wallis tests, for p < 0.05. Re- sults showed 53.27% with frequency of 1 to 6 acute injuries. They increase with age, concentrate on tegumental tissue (79.64%), and are related to variables such as age of begin- ning dancing and the use of point shoes. 97.48% are injuries in the lower limbs, mostly feet corns (47%) and blisters (28.56%). Classical ballet was responsible for most of the in- juries. They were more frequent on dancers and students, and the use of point shoes resulted in elevated risk of feet injuries. Key words: Dance. Injuries. Referred morbidity inquiry. RESUMO As atividades físicas praticadas pelos bailarinos predispõem- nos à ocorrência de inúmeros agravos. A busca por informa- ções sobre as lesões dessa modalidade permitiu constatar, em nosso meio, escassez de investigações sobre o assunto. Nesse sentido, o objetivo desta pesquisa foi apontar as principais lesões da dança, visando descrever sua distribuição e caracte- rização a partir de nossa realidade, bem como sugerir medi- das preventivas para os agravos de maior ocorrência. Para tanto, realizou-se estudo com 122 bailarinas na faixa etária de 8 a 30 anos, alocadas nas academias de dança da cidade de Bauru. Em sua maioria, eram membros do corpo de baile (42%) ou estudantes (45%), com 3 a 11 anos de prática (73%), alunas de balé clássico (84%) e jazz (66%) e participavam de 4 a 8 aulas semanais (70%), com duração de 60 a 120 minutos (89%). O procedimento para coleta de dados foi o inquérito de morbidade referida para obtenção de informações sobre os agravos ocorridos no período de um ano. A apresentação dos resultados deu-se sob a forma de estatística descritiva, com distribuições de freqüência absoluta, relativa, corrigida e ra- zão de lesões. Em termos analíticos foram utilizados testes não paramétricos de Wilcoxon, Spearman e Kruskal-Wallis, para p < 0,05. Os resultados apontaram 53,27% das respon- dentes com freqüências entre 1 e 6 lesões agudas, que aumen- tam com a idade, concentram-se no plano tegumentar (79,46%) e estão associadas a variáveis como a idade em que começou a dançar e com o uso de sapatilha de ponta; 97,48% são agra- 48 Rev Bras Med Esporte _ Vol. 5, Nº 2 – Mar/Abr, 1999 INTRODUÇÃO Distinguindo bailarino de dançarino, Zonta1 conceitua este como “toda e qualquer pessoa que dança” e o primeiro como “aquele que se distingue dos demais por qualidades e apti- dões que o tornam um artista” e segue normas e regras da dança, com corpo adequadamente preparado, demonstrando expressividade e qualidades artísticas. Kerr et al.2 afirmam que o atleta e o bailarino têm muito em comum; defendem, inclusive, que o segundo apresenta todos os problemas de qualquer atleta vigoroso. De fato, embora a dança seja primariamente conhecida como disciplina estética, também requer enorme habilidade atléti- ca. Desse modo, tanto um quanto o outro estão predispostos a amplo espectro de lesões3. Para Miller et al.4, a habilidade de chutar uma bola de futebol, lançá-la ou arremessá-la numa cesta de basquetebol requer considerável coordenação, con- trole e força. Entretanto, a técnica exigida para saltar e com- pletar um ou dois giros de 360º no ar e cair em arabesque perfeito é semelhante, ou até exige mais do que em esportes como os mencionados acima. Além disso, levantar a parceira com o braço e sustentá-la sobre o ombro, na forma de “arco flutuante”, enquanto sorri em frente de inúmeras pessoas crí- ticas ao menor erro, requer grande força física. O bailarino, no sentido de criar aparência de graça e beleza, sobrecarrega as extremidades de modo não fisiológico, em posições não anatômicas, que lhes são potencialmente deletérias. Como se observa, a dança exige performance complexa com padrão preciso e controlado. O balé clássico, por exemplo, com movimentos realizados com o peso do corpo sobre a ponta dos pés, demanda esforços extras para manter a estabilidade dos membros inferiores, além de ampla mobilidade das arti- culações. O desempenho ótimo requer que todos os segmen- tos corporais estejam apropriadamente posicionados para su- portar a massa corporal e permitir o movimento. Se algo in- terferir na mobilidade normal da articulação ou em sua esta- bilidade, necessitar-se-á de compensações posturais e altera- ções de movimentos que podem ocasionar aumento do estres- se até em outras partes do organismo, resultando, desse modo, em lesões3. Para ter projeção sobre a magnitude do problema, vale men- cionar estudo empreendido por Solomon et al.5, com mem- bros do Boston Ballet: constataram 137 lesões em 70 bailari- nos, resultando 1,97 agravo por indivíduo. Os diagnósticos mais freqüentes foram distensões, luxações, tendinites e con- tusões, as quais representaram 75% dos registros. O tratamento custou à companhia montante de aproximadamente 250 mil dólares anuais. Na realidade, somente a partir do final da década de 70 os bailarinos começaram a procurar especialistas em medicina desportiva e ortopedistas. No passado, eles eram forçados a cuidar de si próprios, porque os médicos não estavam familia- rizados com as exigências físicas a que se submetiam os bai- larinos, nem com a própria psicologia destes. Muitos tiveram que ouvir “fique fora disto” ou, até pior, “não dance mais”, palavras que, para uma pessoa que dedica toda a sua existên- cia a essa atividade, resulta em grande impacto emocional, como se o seu projeto de vida terminasse naquele momento6. No entanto, Fitt6 afirma que essa realidade está mudando, devido ao crescente número de profissionais da área de saúde que compreendem que o bailarino está comprometido com a dança, como um atleta com o esporte e, por conseqüência, ambos recebem assistência médica de melhor qualidade. Em nações desenvolvidas observou-se crescente preocupação com as lesões na dança; grande quantidade de informações é diri- gida a esses artistas no sentido de ajudá-los a entender o con- dicionamento próprio e o uso efetivo do corpo. Dessa forma, a ciência do movimento humano tem-se unido com a arte para preparar bailarinos fortes, bem condicionados, com movimen- tos eficazes e seguros, ajudando, assim, a evitar lesões7. En- tretanto, Weiker e Clinic8 afirmam que a relação médico/bai- larino tem aumentado consideravelmente e, simultaneamen- te, registra-se crescimento exponencial de conhecimentos es- pecíficos relacionados com essa modalidade, embora ainda existam lacunas e debilidades a serem superadas. O bailarino lesionado é tão ansioso para voltar a sua prática quanto qualquer outro atleta, ainda mais se possuidor de bom nível técnico. Segundo Fitt6, eles são muito impacientes com o processo de cura e reabilitação. Alguns, imediatamente após a ocorrência de uma lesão, submetem-se a exercícios excessi- vos, correndo grande risco de agravar sua situação. A alta per- formance e a elevada capacidade de dançar com dor parecem ofuscar seu efeito imediato, porém, deveriam observar que se trata de informação importante. De modo geral, os profissionais da dança não utilizam a assistência disponível por duas razões: medo de perder sua posição na companhia e a crença, ainda hoje, de que os espe- cialistas da área de saúde não têm conhecimento adequado das necessidades psicológicas e físicas únicas dos bailarinos. Muitos vêem as lesões sérias como o fim inevitável de suas carreiras, não como situação temporária. Mesmo os que sa- bem da gravidade não querem deixar de treinar. Normalmen- te, eles não interrompem seus ensaios para o devido restabe- lecimento de um agravo, embora refiram freqüentes queixas de dor durante e após as aulas. Simplesmente, vivem e traba- lham com problemas crônicos. Devido ao grande número de bailarinos que não relatam seus agravos aos médicos, Kerr et al.2 definem tais lesões como “qualquer déficit físico que re- sulte em dor ou desconforto”, associado com um ou mais dos seguintes itens: i) interrupção da atividade, ii) efeitos negati- vos no treinamento ou performance, iii) suficiente distração para interferir com a concentração. A partir desse panorama e devido à carência de trabalhos sobre o tema em nosso meio, o presente estudo visou identifi- car as principais lesões causadas pela prática da dança, bem como descrever sua distribuição e caracterização. Rev Bras Med Esporte _ Vol. 5, Nº 2 – Mar/Abr, 1999 49 MATERIAL E MÉTODO População de estudo A presente pesquisa foi desenvolvida no município de Bau- ru, região Centro-Oeste do Estado de São Paulo, tendo como população-alvo as bailarinas de todas as academias de dança, as quais, após levantamento prévio, se distribuíram por dez estabelecimentos. Para efeito de estudo, foram selecionadas somente as turmas com o melhor nível técnico de cada escola. Desse modo, o número de respondentes do instrumento para coleta de dados foi de 122, com idades que variaram de 8 a 30 anos. A população investigada constituiu-se segundo os níveis técnicos, a saber: i) estudantes (45%); ii) membros do corpo de baile (42%); e iii) professoras, solistas, coreógrafas e pri- meira bailarina (13%). A maior parte das praticantes situava- se na faixa de 3 a 11 anos de treinamento (73%), freqüentan- do de 4 a 8 aulas semanais (70%), com sessões diárias varian- do entre 60 e 120min (89%). Os estilos de dança mais pratica- dos foram o balé clássico (84%) e o jazz (66%). A esse respei- to, cabe esclarecer que dois terços atuam em dois ou mais estilos. Instrumento para coleta de dados Para obtenção das informações referentes aos agravos cau- sados pela prática da dança, foi desenvolvido formulário a partir de diferentes autores. Desse modo, a caracterização das pessoas foi adaptada de trabalho publicado por Parnianpour et al.9, em que foram selecionadas informações relevantes, tais como: a idade da aluna; a idade em que começou a dançar; se houve interrupção da atividade; os estilos de dança praticados ao longo da carreira; a posição atual na academia; quando começou dançar na ponta; há quanto tempo treina esse funda- mento; e o número e a duração das aulas semanais. O proto- colo para registro das lesões agudas foi construído com base em dois trabalhos, destinados a obter dados de jogadores de voleibol10 e de atletas do judô11. No entanto, por se tratar de modalidade com características distintas da atividade esporti- va, foi criada página contendo três figuras com desenhos dos pés, cuja finalidade visou facilitar a identificação anatômica dos seguintes agravos: calos, bolhas e joanetes. Análise estatística Os resultados foram organizados sob a forma de estatística descritiva com: i) distribuições de freqüência absoluta, relati- va e corrigida; ii) razão de lesões, a qual se expressou pelo número de lesões/número de bailarinas12. Em termos analíti- cos foram utilizados os testes não-paramétricos de: i) Wilco- xon para comparação dos estilos de dança e planos; ii) de Spearman para verificar associação entre plano e segmento corporal com variáveis de interesse; e iii) de Kruskal-Wallis para observar possíveis diferenças no padrão de lesões entre os vários níveis técnicos dos membros das academias. Valo- res de odds ratio e respectivos intervalos de confiança foram utilizados para identificação do risco de agravos decorrente do uso de sapatilha de ponta. RESULTADOS A tabela 1 informa a distribuição de freqüência de bailari- nas investigadas, segundo número de lesões agudas sofridas no decorrer de um ano. Observou-se que 12,3% não tiveram nenhum tipo de agravo; entre os valores corrigidos, constata- se que os intervalos de uma a três lesões (32,7%) e de quatro a seis (20,56%) foram os que incluíram maior número de pes- soas. A distribuição das lesões segundo faixa etária é descrita na tabela 2. A tendência constatada foi de aumento dos agravos com o passar dos anos: bailarinas da faixa etária de 8 a 11 anos apresentaram 4,2 lesões por pessoa, enquanto as de 18 ou mais, 8,17, ou seja, quase duas vezes mais. A tabela 3 descreve o número de agravos e respectivos per- centuais segundo plano e total de lesões. Verificou-se que a maior parte dos agravos ocorre no plano tegumentar (79,46%), TABELA 2 Distribuição de freqüência das bailarinas estudadas, número de lesões ocorridas no período de um ano e razão de lesões, segundo faixa etária Faixa etária (anos) Nº de Nº de Razão de bailarinas lesões lesões(1) 18 a 11 117 171 14,18 12 a 14 146 281 16,11 15 a 17 130 234 17,80 18 ou + 129 237 18,17 Total 122 823 26,26 Nota: (1) Razão de lesões = número de lesões/número de bailarinas TABELA 1 Distribuição de freqüências do número de lesões agudas ocorridas no período de um ano Número de lesões Freqüências Absoluta Relativa Lesionadas Nenhuma 115 112,30 — 1 — 3 135 128,70 132,71 4 — 6 122 118,03 120,56 7 — 9 116 113,11 114,95 10 — 12 113 110,65 112,15 13 — 15 119 117,38 118,41 16 ou + 112 119,83 111,22 Total 122 100,00 100,00 50 Rev Bras Med Esporte _ Vol. 5, Nº 2 – Mar/Abr, 1999 sendo mais freqüentes os calos (59,17%) e as bolhas (35,93%). No plano musculoligamentar, as distensões (44,76%) são as mais comuns, seguidas das contusões (30,48%) e entorses (23,81%). No osteoarticular a freqüência mais elevada foi de joanete (76,56%). A tabela 4 apresenta os resultados do teste de correlação de Spearman para verificar associação entre os planos corporais e variáveis de interesse. As lesões de tegumento só não apre- sentaram significância estatística quanto ao número de apre- sentações; no musculoligamentar, evoluíram com a idade, com o tempo de treinamento e com o início do trabalho de ponta em idade precoce. Os agravos osteoarticulares estão relacio- nados com a idade da pessoa e com o tempo em que a bailari- na dançou na ponta. O número de agravos e os respectivos valores percentuais das bailarinas estudadas, distribuídos segundo região corpo- ral e plano, são descritos na tabela 5. Observa-se que nos mem- bros inferiores ocorreram 97,48% de todas as lesões relatadas no estudo, sendo mais freqüentes os calos (47,03%), bolhas (28,56%) e joanetes (5,96%), nos pés. Na coxa as distensões foram as mais freqüentes (4,87%). A tabela 6 apresenta os resultados do teste de correlação de Spearman para avaliar possíveis associações entre segmento corporal e variáveis de interesse. Nesse caso observou-se que, para as lesões do tronco, a idade da bailarina e a idade em que começou a dançar expressaram significância estatística. Para os dos membros superiores o aumento da idade resultou em maior número de agravos. Nos inferiores, com exceção do número de apresentações, todas as demais variáveis mostra- ram-se relacionadas com as lesões aí ocorridas. A comparação dos estilos de dança segundo plano/segmento corporal é apresentada na tabela 7. Os resultados do teste de Wilcoxon revelaram que as praticantes de balé clássico apre- sentaram maior número de agravos, tanto no plano tegumen- TABELA 3 Número de agravos e respectivos valores percentuais segundo plano e total de lesões Plano Natureza de lesão Nº de agravos % de agravos % total Tegumentar 654 100% 79,46 Calo 387 59,17 47,02 Bolha 235 35,93 28,55 Abrasão 26 3,98 3,16 Corte 6 0,92 0,73 Musculoligamentar 105 100% 12,76 Distensão 47 44,76 5,71 Contusão 32 30,48 3,89 Entorse 25 23,81 3,04 Lesão de ligamento 1 0,95 0,12 Osteoarticular 64 100% 7,78 Joanete 49 76,56 5,95 Luxação 5 7,81 0,61 Subluxação 4 6,25 0,49 Fratura 3 4,69 0,37 Lesão de menisco 2 3,13 0,24 Ruptura do tendão 1 1,56 0,12 Total 823 100 TABELA 4 Correlação de Spearman para associação entre planos e variáveis de interesse Variável Planos Tegumentar Musculoligamentar Osteoarticular Idade 0,22 (p < 0,05) 0,15 (p < 0,05) 0,21 (p < 0,05) Idade em que começou a dançar –0,16 (p < 0,05) –0,04 (p > 0,05) –0,14 (p > 0,05) Idade em que iniciou o treinamento na ponta 0,29 (p < 0,05) 0,26 (p < 0,05) –0,01 (p > 0,05) Tempo em que treinou na ponta 0,62 (p < 0,05) 0,07 (p > 0,05) 0,21 (p < 0,05) Interrupção de treinamento 0,32 (p < 0,05) 0,20 (p < 0,05) 0,12 (p > 0,05) Nº de apresentações por ano 0,07 (p > 0,05) –0,07 (p > 0,05) 0,12 (p > 0,05) Rev Bras Med Esporte _ Vol. 5, Nº 2 – Mar/Abr, 1999 51 TABELA 5 Número de agravos e respectivos valores percentuais, segundo segmento, região corporal e tipo de lesão Segmento corporal Região corporal Tipo de lesão Nº de agravos % de agravos Tronco/cabeça Coluna 3 0,36 Contusão 2 0,24 Fratura 1 0,12 Ombro 5 0,61 Abrasão 3 0,36 Contusão 1 0,12 Entorse 1 0,12 Queixo Abrasão 1 0,12 Corte 1 0,12 Membros superiores Antebraço 4 0,48 Abrasão 1 0,12 Contusão 2 0,24 Fratura 1 0,12 Braço 4 0,48 Abrasão 1 0,12 Contusão 3 0,36 Mãos 3 0,36 Corte 2 0,24 Entorse 1 0,12 Membros inferiores Coxa 47 5,71 Abrasão 2 0,24 Contusão 3 0,36 Corte 1 0,12 Distensão 40 4,87 Entorse 1 0,12 Joelho 29 3,53 Abrasão 8 0,98 Contusão 16 1,95 Lesão de ligamento 1 0,12 Lesão de menisco 2 0,24 Ruptura de tendão 1 0,12 Subluxação 1 0,12 Pé 706 85,81 Abrasão 8 0,98 Bolha 235 28,56 Calo 387 47,03 Contusão 3 0,36 Corte 2 0,24 Distensão 2 0,24 Entorse 12 1,47 Fratura 1 0,12 Joanete 49 5,96 Luxação 5 0,60 Subluxação 2 0,24 Perna 6 0,73 Abrasão 2 0,24 Distensão 4 0,49 Quadril 3 0,36 Contusão 2 0,24 Distensão 1 0,12 Tornozelo 11 1,34 Entorse 10 1,22 Subluxação 1 0,12 Total 823 100,00 52 Rev Bras Med Esporte _ Vol. 5, Nº 2 – Mar/Abr, 1999 TABELA 6 Correlação de Spearman para associação entre segmento corporal e variáveis de interesse Variável Segmento corporal Membros Tronco/cabeça Membros superiores inferiores Idade 0,25 (p < 0,05) 0,27 (p < 0,05) 0,23 (p < 0,05) Idade em que começou a dança 0,11 (p > 0,05) 0,18 (p < 0,05) –0,19 (p < 0,05) Idade em que iniciou o treinamento na ponta –0,02 (p > 0,05) 0,11 (p > 0,05) 0,33 (p < 0,05) Tempo em que treinou na ponta 0,14 (p > 0,05) 0,10 (p > 0,05) 0,62 (p < 0,05) Interrupção de treinamento 0,13 (p > 0,05) –0,08 (p > 0,05) 0,34 (p < 0,05) Nº de apresentações 0,14 (p > 0,05) –0,08 (p > 0,05) 0,06 (p > 0,05) TABELA 7 Teste de Wilcoxon para comparação dos estilos de dança, segundo plano/segmento corporal Plano/segmento corporal Estilo de dança Balé Jazz Espanhola Tegumentar 4,03 (p < 0,05) 1,82 (p < 0,05) 0,73 (p > 0,05) Musculoligamentar 1,63 (p < 0,05) 0,57 (p > 0,05) 2,82 (p < 0,05) Osteoarticular 0,01 (p > 0,05) 0,79 (p > 0,05) 0,32 (p > 0,05) Membro superior 1,29 (p > 0,05) 1,56 (p > 0,05) 0,18 (p > 0,05) Tronco 0,18 (p > 0,05) 1,07 (p > 0,05) 0,82 (p > 0,05) Membro inferior 3,94 (p < 0,05) 1,48 (p > 0,05) 1,17 (p > 0,05) TABELA 8 Mediana das lesões e resultado do teste estatístico de Kruskal-Wallis para a comparação das posições na academia Plano/segmento Posição na academia Resultado do teste Estudante Corpo de baile Outros1 Tegumentar 5,0 b 2,0 a 19,0 c 16,13 (p < 0,05) Musculoligamentar 1,0 a 1,0 a 10,0 a 1,24 (p > 0,05) Osteoarticular 0,0 a 0,0 a 10,0 a 1,86 (p > 0,05) Membro superior 0,0 a 0,0 a 10,0 a 1,82 (p > 0,05) Tronco 0,0 a 0,0 a 10,0 a 0,61 (p > 0,05) Membro inferior 6,0 b 3,0 a 10,0 c 14,60 (p < 0,05) Nota: (1) compreendem as funções de solista, primeira bailarina, professora e coreógrafa. tar quanto no musculoligamentar, com maior concentração em membros inferio- res. As de jazz e dança espanhola distin- guem-se com significância somente no plano tegumentar e musculoligamentar, respectivamente, sem predominância para segmento corporal específico. A tabela 8 informa os resultados do tes- te de Kruskal-Wallis para comparação das lesões por posições na academia, segun- do plano/segmento. Verificou-se que as bailarinas que ocupam outras posições nas academias possuem freqüências de lesões significativamente superiores no plano tegumentar, com elevada concentração nos membros inferiores. As estudantes, em relação ao corpo de baile, também apresentaram comportamento semelhan- te. A tabela 9 informa a distribuição de freqüência e os valores de odds ratio (OR) e respectivos intervalos de confiança das principais lesões que acometem os baila- rinos. As pessoas que utilizam sapatilha de ponta apresentaram maior probabili- dade de desenvolver: calos (OR = 4,93); bolhas (OR = 2,60); joanetes (OR = 2,90) e lesões agudas (OR = 2,64). DISCUSSÃO Nos resultados da presente investigação, observou-se que na faixa etária 8 a 11 anos ocorreram 4,18 lesões por pessoa. De fato, Howse13 afirma que na vida do bailarino é grande a pressão para alcançar um objetivo e, desse modo, o início dos treinamentos tem-se dado precocemente. Isso se agrava, tam- bém, pela grande exigência dos pais ou mesmo de professo- res, cujo maior desejo é ter alunos bem sucedidos. Por esse motivo, danos graves ou seqüelas irrecuperáveis podem ocor- rer por ensino inadequado, ou utilização de técnicas impró- prias, que o estudante pode desenvolver na tentativa de alcan- çar um movimento ou posição desejada. No entanto, não há razão para as crianças não participarem de aulas de dança, mas é incumbência do professor garantir que demandas fora da realidade não sejam exigidas. Uma abordagem ortopédica deveria ser feita por especialista que tenha experiência na dan- ça. Os próprios professores teriam que trabalhar com os alu- nos do ponto de vista anatômico, podendo determinar e dis- cernir a dificuldade encontrada por cada um. Segundo Weineck14, tanto crianças quanto adolescentes se encontram em fase de crescimento, quando surgem grandes Rev Bras Med Esporte _ Vol. 5, Nº 2 – Mar/Abr, 1999 53 balé, com sua posição única de ponta de pé, requer esforços extras para manter a estabilidade dos pés, tornozelos e pernas. A performance ideal exige que todos os membros estejam po- sicionados de forma adequada para suportar o peso do corpo e permitir o movimento. Se algo interferir na mobilidade nor- mal da articulação ou na estabilidade, o organismo necessita- rá de compensações posturais e alterações de movimento que podem levar a aumento de estresse ou, até mesmo, sobrecarga em outras partes do corpo, que podem resultar em lesão. De fato, Miller et al.4 acrescentam que o artista, no sentido de criar graça e beleza, força as extremidades de forma não fisio- lógica, em posições não anatômicas, que são extremamente prejudiciais. Corroborando com as informações obtidas no presente es- tudo, Micheli15 afirma que as lesões em membros inferiores são as mais freqüentes e os agravos no quadril e costas, os mais sérios e difíceis de tratar; podem, inclusive, encerrar uma promissora carreira. Muitas dessas lesões são previsíveis, prin- cipalmente se atenção especial for dirigida para o reconheci- mento precoce do problema. Os cuidados devem ser direcio- nados logo no começo, não importando se se dança balé clás- sico, moderno ou jazz. As lesões do tecido tegumentar, que inclui calos e bolhas, foram as de maior ocorrência na população investigada e, de modo geral, estão associadas com o uso da sapatilha de ponta. Woodall et al.16 comentam que os bailarinos profissionais gas- tam muitas horas semanais para aperfeiçoar suas técnicas e performance. As atividades praticadas e os tipos de calçados utilizados provocam estresses e tensões nos pés, podendo cau- sar lesões debilitantes, como os calos e as bolhas. Para evitá- los, os professores devem verificar se as sapatilhas dos alunos se ajustam bem, podendo aconselhar a melhor a ser usada. Outro agravo comum, no caso, é a formação de joanete. Na presente pesquisa observou-se que a ocorrência desse agravo foi de 49 lesões, o que correspondeu a 76,56% de todas as lesões osteoarticulares. Segundo Ambré e Nilsson17, é impor- tante a proteção do hálux e das articulações metatarsofalan- geais nos que dançam na ponta. Dançar com essas articula- ções rígidas provoca considerável tensão no pé e tornozelo, criando posição doentia que causa dor e conseqüente prejuízo à postura do bailarino. Dijk et al.18 examinaram 19 bailarinas profissionais com idade entre 50 e 70 anos, as quais foram comparadas com grupo controle. Todas as mulheres estudadas passaram por triagem histórico-médica, exame clínico e radiografias das ar- ticulações. Os dados foram avaliados independentemente por dois técnicos, os quais constataram ocorrência significativa de joanete. Por outro lado, estudo empreendido por Einarsdóttir et al.19 analisou as radiografias de 63 participantes em atividade do Balé Sueco, sendo 42 mulheres com idades entre 16 e 42 anos e 21 homens entre 16 e 43. Comparou tais resultados com 38 bailarinos afastados do Balé Escandinavo, dos quais 24 eram mulheres de 44 a 79 anos e 14 homens entre 44 e 78 anos. Ambos os pés de cada participante da pesquisa foram radio- grafados e a angulação do joanete foi medida por dois radio- logistas. Observaram esse agravo, sem evidência de aumento na angulação quando comparado com a população normal feminina. Concluíram que o balé clássico não contribui para aumentar a angulação do joanete, tanto em mulheres quanto em homens. A lesão musculoligamentar mais freqüente foi a distensão (47) e, entre estas, 40 ocorreram na coxa. Uma das prováveis causas para esse quadro é a falta de aquecimento prévio. How- se13, abordando especificamente a dança, afirma que o mús- culo aquecido é mais elástico, sendo capaz de atuar de forma rítmica e ordenada. Ele pode contrair-se com maior eficiência e também relaxar mais rápido e completamente. Em movi- mentos com velocidade o relaxamento é fator vital no decrés- cimo da ocorrência de rupturas em grupos musculares anta- gônicos. Aquecimento correto deve levar no mínimo 15 mi- nutos de exercícios progressivos e gradualmente vigorosos. Todos os grupos musculares requeridos para dança devem ser envolvidos. Verificou-se na investigação em questão que as mais expe- rientes possuem freqüências de lesões significativamente su- periores em relação às estudantes e ao corpo de baile. De fato, para Jacob20, os agravos mais sérios ocorrem em profissio- TABELA 9 Distribuição de freqüência absoluta e relativa, valores de odds ratio (OR) e intervalos de confiança (IC) dos principais agravos/natureza que acometem bailarinos Agravos/natureza Condição OR (IC) Com sapatilha Sem sapatilha de ponta de ponta Agudos 71 0,74 14 0,52 2,64 (1,09-6,37)1 Calos 69 0,71 18 0,33 4,93 (1,90-12,82) Bolhas 53 0,51 16 0,29 2,60 (0,94-7,22)1 Joanete 29 0,30 13 0,13 2,90 (0,80-10,48) mudanças físicas, psicológicas e psicossociais que acarretam conseqüências para a atividade corporal e para a capacidade de suportar car- gas. A criança e/ou adolescente estão muito mais expostos ao perigo dos danos causados pela sobrecarga de trabalho corporal que os adultos. Como mencionado anteriormente, a maior freqüência dos agravos ocorreu nos membros inferiores (97,48%). De modo mais específi- co, o balé clássico foi o estilo responsável pela maioria agravos no plano tegumentar, os quais foram mais freqüentes nos membros inferio- res. A esse respeito, Macintyre3 comenta que o 54 Rev Bras Med Esporte _ Vol. 5, Nº 2 – Mar/Abr, 1999 nais, os quais submetem seus corpos a grande desgaste. Lien- derback et al.21 afirmam que o esquema de treinamento diário dessas pessoas é muito intenso e aumenta por ocasião das apre- sentações. Eles comprovaram que há elevação constante da freqüência cardíaca na temporada, se comparada com outros períodos: participam de aulas, ensaiam e representam por lon- gas horas todos os dias e, constantemente, em condições ad- versas. Apresentações oficiais os induzem a ignorar lesões menos graves e respectivos tratamentos. Ainda, a ansiedade de um espetáculo pode estimulá-los a ir muito além de suas capacidades. De acordo com Jacob20, a grande maioria con- corda que o “show deve continuar”, não importando muito as conseqüências. Um exemplo de risco para ocorrência de agravos é o que descreve Kelly22, quando o bailarino levanta sua parceira e realiza o movimento com as costas hiperestendidas, curvan- do-se à frente e girando simultaneamente; ao longo do tempo, isso se torna hábito inapropriado e inseguro, fazendo com que o risco de lesões aumente muito. Michelli15 também comenta o uso de sapatilhas mal desenhadas e da alteração brusca no volume, intensidade e tempo de treinamento. Observamos neste estudo que as estudantes apresentaram maior freqüência de agravos se compararmos com as perten- centes ao corpo de baile. Uma possível hipótese explicativa para esse resultado pode ser atribuída ao fato de a maioria das estudantes se encontrar em fase do estirão de crescimento, que pode ser considerado um fator de risco adicional, que leva a desequilíbrios dramáticos e estiramentos de grupos muscu- lares que podem estar-se desenvolvendo muito rapidamente15. Outra observação importante é a pressão exercida pelos pais e professores para que as crianças dêem início aos treinamen- tos precocemente, com um único objetivo: que elas se tornem grandes artistas, não importando os meios e as conseqüen- cias13. A ocorrência de agravos em um bailarino geralmente não é resultado de aspecto isolado. Geralmente, vários são os fato- res de risco que podem estar associados à lesão. Verificou-se que as bailarinas que utilizam sapatilha de ponta têm maior probalidade de lesionar-se do que aquelas que não as utilizam. A esse propósito, Zeca23 afirma que a sobrecarga necessária para manter-se na ponta corresponde a, aproxima- damente, uma vez e meia o peso do corpo, gerando um torque muito elevado para a permanência nessa posição. Concluiu, ainda, que é desaconselhável o uso desse calçado em crianças ou mesmo em adultos que não possuem preparo adequado da musculatura envolvida. AGRADECIMENTO Este artigo contou com a colaboração técnica do médico Rogério Vitiver Soares de Souza. REFERÊNCIAS 1. Zonta AFZ. Do dançarino ao bailarino: metamorfoses de um papel so- cial. Dissertação (mestrado em Artes), Faculdade de Ciências, Facul- dade Estadual Paulista, Bauru, 1994:73p. 2. Kerr G, Krasnow D, Mainwaring L. The nature of dance injuries. Me- dical Problems of Performing Artists 1992;3:25-9. 3. Macintyre J. Kinetic chain dysfunction in ballet injuries. Medical Pro- blems of Performing Artists 1994;6:39-42. 4. Miller HH, Schneider HJ, Bronson JL, McLain D. 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