Ilustrações em Letterpress Por Marianne Kasai Yoshiyassu UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” Faculdade de Arquitetura Artes e Comunicação Departamento de Design Projeto de Conclusão de curso apresentado para obtenção do título de bacharelado em Design Gráfico, sob orientação da Profa Dra Fernanda Henriques Ilustrações em Letterpress Marianne Kasai Yoshiyassu Bauru 2015 Agradeço meus pais e irmã em primeiro lugar. Por sempre me amarem e acreditarem em mim e em tudo que sou capaz de alcançar. Sem eles este projeto não seria possível, e muito menos todo sentimento que coloquei nele. Agradeço, então, meus familiares que sempre foram a base de tudo na minha vida. Também agradeço muito meus amigos que sempre estiveram comigo em toda caminhada da faculdade e da minha vida. Aos meus amigos de infância Isabela Schmidt, Ana Luiza Leite, Micheli Atanazio, Gabriel Nunes, Rodrigo Frizzi e João Pedro Bannwart. Aos meus amigos de faculdade Angélica Porfirio Souza, Letícia Nakata, Marcos Takeshi Matsumoto, Daniela Brüno, Fernando Pastre Fertonani, Pedro Veneziano, Camila Gondo, Alberto Ribeiro da Rocha, Leandro Jammal, Guilherme Colosio, João Macedo, Aaron Dellafina Cintra de Almeida, Daniela Nóbrega, Paulo Kick, Victor Lira, Érico Santana, Jorge Neto, Saulo Pintar, Ricardo Olbrich, Ricardo Volpe, Guilherme Schneider, Lucas Yuji Honma, Caio Henrique do Rosário, Vitor Marchi, Lucas Ikeda, e tantos outros veteranos e calouros. Foi com eles que dividi tantos momentos, tantas emoções e tanto amor no caminho que trilhei até aqui. À república que morei com muitas meninas incríveis que sempre me ajudaram e apoiaram em tudo: Ana Carolina Toyama, Tatiana Aleixo, Milena Rosa, Michico Watanabe, Livia Ferrari D Àmico, Debora Enjiu, Raissa Struziatto, Mariana Handfest. Com elas aprendi muito sobre a vida, a faculdade e a nossa profissão, aprendi também o que é ter irmãs de coração. À Professora e orientadora Fernanda Henriques pela amizade, compreensão e paciência. Obrigada por tantas conversas, por sempre acreditar muito em mim e por tanto carinho. Ao Professor Milton Nakata pelo carinho e dedicação para comigo desde antes da faculdade. Obrigada por tudo que me ensinou desde 2010. À Professora Cassia Carrara que sempre se mostrou muito amiga e compreensiva. Obrigada pelas palavras de carinho e por todo ensinamento. À Professora Fátima Rocha que sempre foi uma amiga e sempre acreditou no meio jeito de escrever e na minha sensibilidade. Agradeço à Unesp por todas oportunidades que me ofereceu, entre elas Projeto Soma e Design Júnior, e o intercâmbio pelo Ciências sem Fronteiras. Ser parte deste mundo unespiano me fez uma pessoa melhor no âmbito pessoal e profissional. Cada memória que guardo deste lugar e com as pessoas que convivi e conheci estarão sempre guardadas nas melhores lembranças da minha vida. Obrigada por tudo! ....................................................................................... 8 ............................................................................................ 10 ....................................................................................................................................... 10 ............................................................................................................................... 10 ..................................................................................... 10 .................................................................................. 11 .......................................................... 11 ...................................................................................................... 14 ................................................................................................................ 15 ...................................................................................... 16 ...................................................... 17 .............................................................................................. 17 ........................................................................................................................ 18 ........................................................................................................................ 20 ................................................................................................................. 22 .............................................................................................................. 23 ............................................................................................ 24 .................................................................................. 24 .................................................................................................................... 26 ................................................................................................................................. 27 INTRODUÇÃO OBJETIVOS Geral Específico JUSTIFICATIVA O LETTERPRESS Breve história dos textos escritos aliados a imagens Produção em Letterpress Sistemas Híbridos Ilustração e Impressão Tipográfica REFERÊNCIAS E INSPIRAÇÕES Estúdio Carimbo Letterpress Studio on Fire Matt Scribner Alberto Cerriteño Jeopardy Magazine O PROJETO Sobre o livro: “As cidades invisíveis” Sobre o Projeto Escolhas ÍNDICE .................................................................... 28 .................................................................. 28 ...................................................................................................... 31 ...................................................... 33 ........................................................................................................ 36 .............................................................. 38 ..................................................................................................... 40 ................................................................. 42 ................................................................................................................... 45 .......................................................................... 46 ...................................................................................................................................... 46 ........................................................................................................................................ 46 ...................................................................................................................... 47 ............................................................................................................................... 48 .................................................... 50 ................................................................................................................... 50 ................................................................................................................................... 51 .................................................................. 61 .................................................... 62 PROCESSO DE CRIAÇÃO I. As cidades e a Memória/ As cidades Ocultas II. As cidades e o Desejo III. As cidades e os Símbolos/ As cidades e os Nomes IV. As cidades Delgadas V. As cidades e as Trocas/ As cidades Contínuas VI. As cidades e os Olhos VII. As cidade e os Mortos/ As cidades e o Céu VIII. Explicativo IDENTIDADE VISUAL Nome Logo Paleta de Cores Tipografia A IMPRESSÃO: PRODUTO FINAL Erros e Correções A visita CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 8 INTRODUÇÃO Desde pequena sempre fui uma criança sonhadora, que criava mundos, inventava histórias, personagens e suas aventuras. A garota que olhava pela janela do quarto e via um mundo a ser explorado. Tive oportunidades de desenvolver meu lado criativo por vários motivos, não apenas pela paixão pelo desenho, pela arte, mas também por conviver em uma escola em que a criatividade e o trabalho em grupo eram muito valorizados. Criei mundos diferentes e fiz partes de outros tantos através do desenho, da dança, da arte, da música. 9 Ao entrar na UNESP, deparei-me com um universo totalmente novo: o ambiente e pessoas eram além do que eu imaginava enquanto vivia nos limites da minha cidade. Jeitos variados, pensamentos, pessoas. Design e arte, design vs. arte. Conheci e aprendi a lidar com pessoas únicas que pensam e têm jeitos múltiplos. Tive oportunidades de fazer parte de projetos, aprender a pensar e ver o mundo de outra forma, seja no contexto do Design, seja fora dele. Eu cresci, a minha mente se abriu, meus horizontes se expandiram. Conheci pessoas, culturas, modos de vida diversos. Como se cada indivíduo e/ou lugar fosse uma ilha, com todas suas particularidades e características únicas, mas ao mesmo tempo iguais. Por decisões tomadas, escolhas feitas ou destino traçado, trilhei por caminhos que me trouxeram até aqui no dia de hoje. Um dia, durante o período da procura incessante sobre o tema para o tcc, decidi ler o livro “As cidades invisíveis” do autor Italo Calvino. Fiquei fascinada e maravilhada, mas confesso, não entendi muito bem o que o autor quis dizer. Continuei a busca. Por semanas, meses. E enfim, voltei ao livro. Li novamente, li análises e mais análises, e então (acho que) consegui entender. Diretamente ou indiretamente, “As cidades invisíveis”, contou-me sobre 55 lugares variados, e/ou 55 lugares iguais. Contou-me sobre a vida e sobre o mundo. Eu entendi o que quis entender, guardei informações que quis guardar, e deletei as que quis deletar. Eu entendi o que ele queria me contar, mas ao mesmo tempo ouvia o que eu mesmo queria me dizer. Italo Calvino falou sobre muito em poucas palavras. Ele me contou sobre ele e sobre mim. Ele me disse que o mundo está cheio de erros, que os homens se deixam levar por desejos, sensações e sentimentos mundanos. Mas também me disse que havia esperança , e que sempre há. Nas entrelinhas, eu li um pouco da minha história de vida, e também nas “entrelinhas” deste meu projeto ilustrado, você pode ler sobre a minha história, mas também pode ler a sua. Assim espero. Dessa forma, o meu projeto de conclusão de curso consiste em uma série de ilustrações abstratas que são baseadas e inspiradas no livro “As Cidades Invisíveis” , de Italo Calvino. Além de representar de forma abstrata os temas abordados no livro de Calvino, também conto sobre minha visão de tais temas e sobre minha visão sobre o mundo. Assim, a partir do livro e de devaneios pessoais, foram criadas 7 ilustrações que foram impressas no método Letterpress. Cada ilustração é referente a um ou dois temas que se opõem um ao outro ou se completam. Como um projeto gráfico experimental, que tem um pouco de mim e um pouco do autor, convido você, meu leitor e público, a entender o processo de criação de cada peça, e também um pouco mais sobre os devaneios citados e as conversas que tive com o autor durante meu processo criativo. 10 OBJETIVO JUSTIFICATIVA Ilustração sempre foi uma área do Design que me interessei, diretamente ou indiretamente. Por meio de cursos que fiz no período da faculdade, pude iniciar meus estudos e entender mais sobre como representar pensamentos, emoções e sentimentos pela linguagem gráfica e também em projetos experimentais. Neste projeto, tento aprender mais sobre a ilustração e sua aplicação voltada para a impressão em Letterpress. GERAL O objetivo principal é representar graficamente temas inspirados no livro “As cidades invisíveis” de Italo Calvino. Através de um projeto experimental, utilizando uma linguagem gráfica abstrata, poderei contar também um pouco da minha história de vida e dos meus devaneios, sonhos e pensamentos. Assim, o Design se mostra capaz de SER, TOCAR, SENTIR, INSPIRAR . O Design e a Arte se unem ao ponto de se tornarem coexistentes, mas também dependentes. Este projeto tem como objetivo inspirar o público, observadores, artistas e designers, chamá-los para ser parte deste mundo. ESPECÍFICO Promover a prática e o aperfeiçoamento de ilustrações vetoriais; Experimentar um sistema de impressão pouco usual, mas rico em história, o letterpress; Divulgar o resultado do trabalho em ambiente acadêmico e posteriormente, em ambiente digital, tornando-o acessível ao publico geral e promovendo a mescla entre os processos físicos e digitais. 11 O LETTERPRESS Segundo alguns historiadores, os egípcios foram um dos primeiros que produziram os manuscritos ilustrados, em que palavras e figuras se combinavam para comunicar informações. O Livro dos Mortos inovou a representação gráfica combinada aos textos escritos dentro de um suporte maleável: é um papiro fúnebre que contém ritos e feitiços para ajudar as pessoas falecidas em sua jornada pelo submundo. Tal livro foi, no entanto, a terceira fase na evolução dos textos funerários dos egípcios. A primeira foi os textos das pirâmides, escritos hieroglíficos nas paredes e passagens das construções que incluíam mitos, hinos e preces. Os textos de ataúdes foram os sucessores desta fase. Todas as superfícies do ataúde de madeira e/ou sarcófago eram cobertos por escritos e ilustrados por imagens das posses para uso no além. Também chamado de Capítulos ao Sair à Luz, O Livros dos Mortos serviu de influência para os manuscritos gregos e romanos. Fig. 1 (acima) Livro dos mortos Fig. 2 (abaixo) Manuscritos Iluminados, Manuscritos Casa Real número 9. BREVE HISTÓRIA DOS TEXTOS ESCRITOS ALIADOS A IMAGENS 12 Fig. 3 - Xilogravuras do século XVI ilustrando a produção da xilogravura. Na Antiguidade Clássica originou-se os manuscritos iluminados, livros escritos à mão com detalhes em folhas de ouro, que produziam uma vibrante luminosidade. Segundo Meggs(2009, p.64), “ A ilustração e a ornamentação não eram mera decoração. Os líderes monásticos tinham consciência do valor educacional das figuras e da capacidade do ornamento para criar nuanças místicas e espirituais. A maioria dos manuscritos iluminados era pequena o bastante para caber num alforje. Essa portabilidade possibilitava a transmissão de conhecimento e ideias de uma região para outra e de um período para outro. A produção de manuscritos durante o curso de mil anos da era medieval criou um vasto repertório de formas gráficas, leiautes de página, estilos de ilustração e letras, e técnicas. [...] Algumas das mais distintas escolas de produção de manuscritos podem ser classificadas como grandes inovadoras do design gráfico.” Xilogravura é uma técnica de impressão que se originou na Ásia e é feita a partir de uma superfície de madeira em relevo. As primeiras manifestações, desta impressão na Europa, foram em baralhos e estampas de imagens religiosas. “Os baralhos foram as primeiras peças impressas a passar para uma cultura iletrada, fazendo delas a mais antiga manifestação europeia da capacidade de democratização da impressão.[...] Como esses baralhos introduziam as massas no reconhecimento de símbolos, sequenciamento e dedução lógica, seu valor intrínseco transcendia a diversão lógica” (MEGGS, 2009, p. 92). As estampas de santo foram as primeiras impressões xilográficas destinadas à comunicação. Depois dessas, evoluíram para livros tabulares ou xilografados, “volumes ilustrados feitos de entalhes em madeira com temas religiosos e texto breve”. (MEGGS, 2009, p92) Este era usado para instruir analfabetos sobre a religião. Em sua maioria, continham de 30-50 folhas. Alguns livros eram coloridos à mão e, às vezes, usavam estênceis para aplicar cor em tecidos, cartas de jogo e xilogravuras. 13 Por volta de 1445, Johhanes Gutenberg criou a prensa tipográfica. Esse sistema de impressão utilizava matrizes esculpidas em punção de aço cobertas por cobre. O molde de tipos usado para forjar as letras individuais foi a chave para a invenção de Gutenberg. Assim a Tipografia é, segundo Meggs (2009, p.90), “o termo para a impressão com pedaços de metal ou madeira independentes, móveis e reutilizáveis, cada um dos quais com uma letra em alto relevo em uma de suas faces”. O primeiro livro tipográfico chamado de ‘Bíblia de 42 linhas’ foi o resultado de longos anos de produção, 10 anos para a primeira impressão e mais 20 para imprimir todo o livro. É considerado “um dos mais belos exemplares da arte da impressão”. (MEGGS, 2009, p100) A dimensão de suas páginas é de 30 x 45 cm, tem duas colunas de tipos e uma margem de 2,9 cm entre elas. As primeiras 9 páginas tem 40 linhas por coluna, a décima tem 41 linhas e a partir desta possui 42 linhas por coluna. A obra contém, no total, 1282 páginas e é dividida em dois volumes. A invenção da impressão tipográfica revolucionou a história da produção gráfica, pois aumentou a escala de reprodução, permitiu diagramar páginas e revisar textos para correções, além de potencializar a conexão entre as pessoas e abrir novos horizontes para o design gráfico. “A invenção da tipografia pode ser classificada ao lado da criação da escrita como um dos avanços mais importantes da civilização. [...] a impressão tipográfica permitiu a produção econômica e múltipla da comunicação alfabética. O conhecimento se disseminou rapidamente e a alfabetização aumentou em decorrência dessa notável invenção” (MEGGS, 2009 p. 90,91). As matrizes físicas criadas para essa prensa tipográfica são conservadas até os dias de hoje. Na atualidade, o estilo retrô serve de inspiração para muitos jovens designers, e uma das técnicas mais utilizadas é a chamada Letterpress. Fig. 4 (acima) - Prensa de Gutenberg Fig. 5 (esquerda) - Bíblia de 42 linhas 14 PRODUÇÃO EM LETTERPRESS Letterpress (ou Contemporary Letterpress) é uma técnica de impressão por relevo que utiliza clichês elaborados por imagens digitais feitas em computadores. A matriz que antes era de metal, hoje é feita por um fotopolímero que, de acordo com Marcelo Pinheiro (dono do estúdio Carimbo Letterpress), é um processo menos tóxico. Segundo Rivers (2012, p.10) essa placa pode ser criada a partir de um arquivo digital; o desenho e/ou texto é refletido em negativo num filme térmico e com ela se expõe uma placa de fotopolímero sensível à luz ultravioleta. Essa luz aglutina os polímeros e endurece a imagem em negativo; a parte da prancha que não foi exposta é retirada com água e permanece apenas a forma endurecida em relevo do texto ou imagem. As pranchas são aderidas a uma base e ,então, são entintadas. As tintas para impressão tipográfica têm características diferentes das impressões digitais ou offset. Existem vários tipos de pigmentos, porém as mais populares são as solúveis em água com base de borracha ou soja. Podem ser usadas direto da lata ou misturadas para criar cores diferentes. Além disso, uma colher de sopa é suficiente para imprimir mil cartões de visita (Rivers, 2012, p. 17). O mais surpreendente sobre essas tintas é a sua pigmentação, visto que é uma tinta de base transparente que permite uma mistura de cores ao sobrepor dois pigmentos, obtendo um terceiro. Dessa forma, uma vez aplicada a tinta nas devidas matrizes, estas são pressionadas contra o suporte sob uma determinada pressão. Assim é feito o registro da imagem e também o chamado relevo seco no papel. Umas das prensas mais populares e mais utilizadas na atualidade é a Heidelberg Windmill. Muitos afirmam que as pranchas de fotopolímero nunca alcançarão a qualidade das de metal, porém elas funcionam muito bem e são muito mais acessíveis, tornando essa opção a preferida da maioria dos profissionais que trabalham com esse tipo de impressão. (Rivers, 2012, p. 10). Fig. 6 - Heidelberg Windmill Fig. 8 - Impressão com tipos móveis Fig. 7 - Impressão no Estúdio Carimbo Letterpress 15 Fig. 9 - Ilustração digital e aquarelas de Rahaf Dk Albab SISTEMAS HÍBRIDOS Atualmente, com os processos digitais, é possível combinar facilmente textos com imagens em programas e editoração cada vez mais eficientes. A escolha da tipografia passou de uma tarefa complicada e disponível somente para especialistas para um uso mais democrático onde qualquer pessoa, independente de ser designer ou ter conhecimentos tipográficos, pode, em um clique mesclar textos com imagens. Segundo Andrade et al. (2014, p. 207) “é possível verificar as mudanças ocorridas na comunicação dentro do universo da imagem – a cada novo sistema, novas possibilidades (e impossibilidades) de composições são iniciadas e descartadas.” O computador é capaz de projetar um ambiente virtual e imaterial, permite gerenciar ferramentas e informações entre dimensões. Sua utilização possibilita “unir ou suprimir ferramentas de impressão abreviando o tempo de trabalho assim como oferece ao designer a faculdade de manipular imagens e textos e a previsão da impressão final para disponibilizá-la em diferentes mídias” (GADOTI; HENRIQUES, 2012, p. 10). O diálogo existente atualmente entre técnicas antigas e mecanizadas com as digitais geram projetos contemporâneos com diversos resultados diferentes. A possibilidade de falhas e erros nos processos de impressões manuais diminuíram muito devido ao uso de meios digitais. Agora é possível simular falhas propositais. Dessa forma o espaço digital não inibiu as formas de impressões antigas, mas as complementou. A tecnologia e desenvolvimento trouxe consigo a melhoria das prensas de impressão, novos materiais para matrizes e até o aprimoramento de tintas. Então, os problemas técnicos são resolvidos com mais facilidade e agilidade. “O que chamamos de “hibridização” refere-se à união das características de ambos os fluxos de trabalho, digital e analógico, o que confere uma espontaneidade advinda da experimentação e da busca por novas soluções” (GADOTI; HENRIQUES, 2012, p. 12). Segundo MEGGS (2009, p. 9), o design gráfico contemporâneo, apesar de ser em grande parte definido pela tecnologia, ainda possui fortes ligações com o artesanato e estética do passado. As possibilidades que os computadores e seus softwares oferecem para os designers são as mais variadas possíveis. A chamada hibridização entre diversas técnicas, artesanais e/ou digitais, é um dos recursos utilizados neste presente trabalho. Este trabalho de tcc foi desenvolvido pensando em romper com os limites entre gráfico e digital, pois mescla ambos processos. Foi inicialmente desenvolvido em software digital, illustrator, para depois gerar matrizes físicas, ser impresso em sistema artesanal e, ao final, ser disponibilizado em ambiente físico e virtual também, em sites. 16 ILUSTRAÇÃO E IMPRESSÃO TIPOGRÁFICA No processo de impressão tipográfica, o primeiro passo é criar um desenho. Muitas peças impressas com esta técnica são exclusivamente tipográficas, porém grande parte dos materiais atuais incluem ilustrações. Para serem impressas desta forma, as ilustrações finais devem estar em formato digital. Pode-se criá-las manualmente, mas depois deverão ser escaneadas e alteradas para a forma digital. Depois disso, a ilustração será separada por cores. Cada cor terá uma matriz diferente, pois em cada base utiliza-se uma cor apenas. Com a devida separação de cor, a ilustração (ou parte dela) se converte em preto e branco e se transfere para uma prancha pronta para impressão através do processo com fotopolímero, já citado anteriormente. Dessa forma, originam-se as matrizes em quantidades que dependem do número de cores. Por exemplo, se a ilustração é em preto e azul, dois clichês serão produzidos, e na impressão um será equivalente ao da cor azul e o outro ao da preta. Fig. 10 - Ilustração I e sua conversão em preto e branco - separação por cor. Fig. 11 - Ilustração II e sua conversão em preto e branco - separação por cor. 17 REFERÊNCIAS E INSPIRAÇÕES ESTÚDIO CARIMBO LETTERPRESS O Carimbo Letterpress é um estúdio especializado em impressão em letterpress com sede em São Paulo. Fundado pelos designers Érico Padrão e Marcelo Pinheiro, o estúdio produz trabalhos de alta qualidade que destacam a beleza, relevo e textura única que só é possível obter pelo uso de máquinas de letterpress. Já realizaram diferentes projetos como convites, cartões de visitas, tags, cartazes e projetos especiais como o Bolandeira. Fig. 14 - kit do Projeto Bolandeira Fig. 13 - postal explicativo do Projeto Bolandeira Fig. 12 - 6 postais do Projeto Bolandeira 18 STUDIO ON FIRE Studio on Fire é um dos melhores estúdios especializados em impressão Letterpress. Com sede em Minneapolis, (Minnesota) a equipe é louca por papel e tinta e seus trabalhos são constantemente publicados em blogs e websites de design, revistas e premiações. Além do letterpress, o estúdio oferece outros serviços como hot stamping, gravação, coloração das bordas, faca especial e encadernação manual. Fig. 15 - Convites do Casamento de Ruth & Micah, design de Adam Ramerth Fig. 16 - Materiais do Casamento de Ruth & Micah, design de Adam Ramerth 19 Fig. 17 - Cartaz Sunshine Fig. 18 - Detalhes do cartaz Sunshine 20 ALBERTO CERRITEÑO Alberto Cerriteño é designer e ilustrador mexicano que mora em Portland por aproximadamente 4 anos. Tira suas inspirações de desenhos alternativos, bonecos de vinil urbanos (urban vynil toys), e do movimento pop surrealista. O designer já desenvolveu suas próprias técnicas e estilo, e tem sempre presente, em seus trabalhos clássicos, toques de influências artísticas mexicanas. Nota-se tal influência devido ao uso de texturas ricas e padronagens decorativas. Já trabalhou em muitas agências como Diretor de Arte e em diversas áreas como publicidade, impressão, instalação, interação e trabalhos educacionais. No entanto, na atualidade trabalha como artista independente. Fig. 19 - The Enamorated Whale 21 Fig. 21 - Impressão de The Enamorated Whale Fig. 20 - Clichê de metal de The Enamorated Whale 22 JEOPARDY MAGAZINE Jeopardy Magazine é uma publicação anual de artes da Universidade Ocidental de Washington (Western Washington University) que mostra os trabalhos únicos e criativos de seus alunos. Em 2012 foi lançada a edição número 48, a qual foi dirigida por Catherine Dimalla em colaboração com Erik Fenner (Editor-Chefe). Seu design foi criado com base em uma aparência atemporal, que usava estética histórica em conjunto com métodos de produções modernas. Além disso, inspiraram-se em elementos da cultura Maya, como, por exemplo, o uso da cor dourada como um elemento simbólico dessa cultura. O dourado marca o ano da publicação, mas também sugere a existência de um tesouro no interior do projeto: o talento criativo. Fig. 22 - Revista Jeopardy no 48 Fig. 23 - Revista Jeopardy no 48 Detalhes 23 Fig. 24 - Detalhes do Cartaz do AIGA 100 Show MATT SCRIBNER Matt Scribner, também conhecido como Scrib é designer e ilustrador americano. Atualmente mora em Salt Lake City, Utah, e trabalha como diretor Visual em The Rock Church, além de ser designer gráfico na empresa O.co. Seus trabalhos envolvem ilustrações vetoriais, branding e tipografia. Fig. 25 - Cartaz do AIGA 100 Show 24 SOBRE O LIVRO: “AS CIDADES INVISÍVEIS” Italo Calvino foi um dos escritores italianos mais reconhecidos e influentes do século XX. Em 1972, publicou o livro “As cidades invisíveis” que retrata uma realidade exagerada e utópica. “As cidades Invisíveis” é uma narrativa fascinante que acontece durante o século XIII e descreve cidades que pertencem ao reino de Kublai Kan, imperador dos mongóis. São descritas/ contadas por Marco Polo, “o maior viajante de todos os tempos”. Tais personagens realmente existiram e têm na história esses mesmos títulos e nomes. Marco Polo é um Italiano de Veneza que viajou para a China e prestou serviços de embaixador por 17 anos para o imperador dos Mongóis, Kublai Khan. Calvino conta sua história no mesmo contexto e sobre as mesmas pessoas, mas numa realidade pessoal e imaginária. Tendo conquistado muitas terras, mas impossibilitado de sair para conhecê-las, Khan manda Marco nessa viagem através de 55 cidades, para que assim possa enxergá-las pelos olhos do viajante. “Não se sabe se Kublai Khan acredita em tudo o que diz Marco Polo quando este lhe descreve as cidades visitadas em suas missões diplomáticas, mas o imperador dos tártaros certamente continua a ouvir o jovem veneziano com maior curiosidade e atenção do que a qualquer outro de seus enviados ou exploradores” (CALVINO, 2003, p. 9). No livro, as 55 cidades são separadas em 11 tipos: As cidades e a memória As cidades e o desejo As cidades e os símbolos As cidades delgadas As cidades e as trocas As cidades e os olhos As cidades e o nome As cidades e os mortos As cidades e o céu As cidades contínuas As cidades ocultas Cada grupo contém 5 cidades e estas são apresentadas de forma embaralhada. O autor interliga as cidades por um fio tênue que se organiza em torno dos 11 tipos existentes. Para cada tema, sempre haverá uma questão central que permeia suas respectivas cidades. E ainda assim, cada cidade lida e/ou sofre consequências de maneiras diferentes. Ainda assim, cada uma existe por si só, permitindo ao leitor caminhar livremente por entre as cidades. O autor separa as cidades nesses grupos, ligando-as por um fio tênue de acordo com seu tema. Cada uma delas independe da outra, sendo que o leitor pode caminhar livremente por entre as cidades. O PROJETO 25 Tais cidades são separadas dessa forma por apresentarem pontos em comum, a existência dos tipos de cidade se baseia nos temas em que são separados. Entre as descrições aparecem conversas de Marco Polo e do imperador Klan. As conversas servem como mediadoras para compreensão do que foi descrito, ou seja, como Klan vai digerindo o que lhe é contado, e como Marco parece tirar as cidades de sua cabeça/imaginação ao invés de sua memória. Cada cidade é descrita como se fosse um lugar imaginário, e sempre com nome de mulher: Isidora, Maurilia, Doroteia, Olivia, Isaura, Ercilia, Leonia. Apesar de se percorrer continentes, os trajetos são desconhecidos, só se sabe sobre a chegada e a partida da cidade. Existem dois pontos de vista sobre as cidades: o ponto de vista do viajante e dos moradores. Para o primeiro, as cidades e as situações que se deparam são efêmeras, nada vira um hábito para ele. Já para os últimos, tudo que está inserido na cidade (cada rua, cada calha, cada detalhe, cada situação normal ou/e anormal) faz parte de seus costumes, seu ritmo de vida. As aventuras que Marco descreve entram em um mundo fantástico e imaginário em que se encontram desejos e sentimentos contraditórios e reprimidos “Das inúmeras cidades imagináveis, devem-se excluir aquelas em que os elementos se juntam sem um fio condutor, sem um código interno, uma perspectiva, um discurso. E uma cidade igual a um sonho: tudo o que pode ser imaginado pode ser sonhado, mas mesmo o mais inesperado dos sonhos é um quebra cabeça que esconde um desejo, ou então o seu oposto, um medo. As cidades, como os sonhos, são construídas por desejos e medos, ainda que o fio condutor de seu discurso seja secreto, que as suas regras sejam absurdas, as suas perspectivas enganosas, e que todas as coisas escondam uma outra coisa” (CALVINO, 2003, p. 44). Italo Calvino utiliza de metáforas para passar as mensagens que deseja. Ele insere o leitor em um tipo de labirinto de símbolos e sensações; chama-os a sempre buscar por algo novo, a renovar os pensamentos e a forma de ver o mundo. Dessa forma, para conseguir ler a narrativa e entender tais cidades é preciso ter uma “estratégia do olhar”. Phillippe Daros comenta sobre esse procedimento de escrita de Calvino e diz que esta propicia o leitor a desvendar os mistérios da narrativa, cada mundo oculto e microscópico, pois os olhos comuns só conseguem enxergar a aparência, o superficial. Cada cidade é única, mas ao mesmo tempo, serve como modelo de todas. As cidades que Calvino descreve são, então, arquétipos. “-Resta uma que você jamais menciona. Marco Polo abaixou a cabeça. -Veneza – disse o Khan. Marco sorriu. - E de que outra cidade imagina que eu estava falando? O imperador não se afetou. -No entanto, você nunca citou o seu nome. E Polo: -Todas as vezes que descrevo uma cidade digo algo a respeito de Veneza. -Quando pergunto das outras cidades, quero que você me fale a respeito delas. E de Veneza quando pergunto a respeito de Veneza -Para distinguir as qualidades das outras cidades, devo partir de uma primeira que permanece implícita. No meu caso, trata-se de Veneza” (CALVINO, 2003, p. 82). O próprio Italo Calvino se refere ao livro “As cidades invisíveis” de tal forma: 26 “Se meu livro As cidades invisíveis continua sendo para mim aquele em que penso haver dito mais coisas, será talvez porque tenha conseguido concentrar em um único símbolo todas as minhas reflexões, experiências e conjeturas.” A linguagem e recursos que o autor deste livro utiliza não apenas fazem com que os leitores se desloquem da sua realidade para o mundo imaginário, mas também que o público consiga preencher cada detalhe descrito com um pouco de suas próprias experiências, memórias e sonhos. “Mas o que Kublai considerava valioso em todos os fatos e noticias referidos por seu inarticulado informante era o espaço que restava em torno deles, um vazio não preenchido por palavras. As descrições das cidades visitadas por Marco Polo tinham esse dom: era possível percorre-las com o pensamento, era possível se perder, parar para tomar um ar fresco ou ir embora rapidamente” (CALVINO, 2003, p. 41). A obra incentiva a criação e inspira seus leitores a preencherem as “cidades” com um pouco de si mesmos. SOBRE O PROJETO Ler o livro “As cidades invisíveis” e analisá-lo foi para mim um processo de reflexão sobre a vida e sobre mim mesma. Cada cidade, em que adentrei, fez-me mudar um pouco mais. Assim, como uma viagem que mostra novos horizontes, culturas e estilos de vida, as cidades de Italo Calvino me mostraram um mundo novo e imaginário, cheio de mistérios. Apesar de todo mundo fantástico que o autor narra, interessei-me pelos “espaços em branco” que ele propõe. Pessoalmente, tais espaços foram um convite para interação. Os espaços em que pude inserir um pouco de mim na história, em cada detalhe, em cada caminho trilhado. Foram eles que me inspiraram na criação deste projeto. Li o livro como um todo e também analisei os conjuntos de cidades separadamente. Percebi o que as ligavam, o que as faziam diferentes/desconectavam. Reservei um tempo para pensar sobre seu tema, seus símbolos, seus significados no contexto da obra e fora dela. Além disso, também fiz uma análise pessoal relacionada aos tipos de cidades. Minhas memórias, meus pensamentos, desejos, medos, frustrações. Foi também uma viagem dentro de mim mesma. De certa forma, senti que foi um processo de superação e de transição. Ao passar de um grupo ao outro, sentia como se tivesse seguindo em frente e deixando uma fase da vida para trás, como rever o filme da minha vida pouco a pouco. A obra de Italo Calvino chama o público a interagir, a entrar no mundo imaginário em que está inserido e a não apenas ser parte dele, mas interagir com ele. Eu escolhi interagir em forma de ilustrações que, como produto final, serão impressas em letterpress. Meu projeto consiste, então, na criação de 7 ilustrações inspiradas em um ou mais temas de cidades. Portanto, escolhi separar os temas da seguinte forma: I. As cidades e a memória/ As cidades ocultas II. As cidades e o desejo III. As cidades e os símbolos/ As cidades e o nome IV. As cidades delgadas V. As cidades e as trocas/ As cidades contínuas VI. As cidades e os olhos VII. As cidades e os mortos/ As cidades e o céu 27 A relação entre os tipos de cidade foi feita por diferentes associações. Alguns dos conjuntos de cidades são o oposto de outro - como por exemplo “As cidades e o céu” e “As cidades e os mortos” – ; outros são como a extensão de sua dupla, como em “A cidade e a memória” e “As cidades ocultas”. Também existe o caso do primeiro ser a consequência do segundo, ou seu estado exagerado, como por exemplo: “As cidades e as trocas” e “As cidades contínuas”. Entretanto, muitas vezes ao representá-los, um conjunto se sobressaiu mais que o outro. As ilustrações representam o meu mundo em contato com o que Italo Calvino escreveu em “As cidades invisíveis”. No entanto, não as criei para transmitir ao público deste trabalho exatamente como vejo o mundo ou minhas histórias de vida. Assim como Calvino, meus anseios, relacionados a este projeto, são de que o observador possa entrar no meu mundo, mas também que possa ser chamado a criar e/ou sonhar dentro dele. Tendo dito isto, enfatizo que as ilustrações e suas explicações serão apenas didáticas. Dessa maneira, espero que meu trabalho consiga inspirar o seu público a ponto de adentrá- lo ao mundo subjetivo, que criei, e instigá-lo a criar também. Que surjam mais viagens ideais, fantasiosas e emocionantes como a que li e que escrevi/criei. ESCOLHAS Escolhi fazer ilustrações em letterpress como produto final do meu projeto de conclusão de curso. Quis unir a minha paixão por papel e meu interesse pela ilustração em um só projeto. Dessa forma, depois de definir o produto final, comecei a criar as ilustrações e a definir suas especificações. Apesar de ter lido várias análises sobre o livro “As cidades Invisiveis”, a que mais me baseei para a criação do meu trabalho foi a do site vitruvius.com.br, de um artigo escrito por Evandro Ziggiatti Monteiro, em Janeiro de 2009 1. Este site foi de grande ajuda para a compreensão dos grupos de cidades e também como um ponto inicial para meus próprios devaneios. Ao início de cada explicação sobre as ilustrações, descrevo um pouco sobre a análise tirada deste website. As ilustrações foram impressas em tamanho 13 x 20 cm, em duas cores (Pantone Solid Uncoated: azul 3155U e dourado 871U) Decidi imprimir pelo estúdio Carimbo Letterpress, uma oficina que serviu de inspiração pelos projetos que cria e/ou imprimiu. Marcelo e Érico, donos e fundadores do Carimbo desde o começo, foram atenciosos e pacientes para comigo . Durante o processo de criação das ilustrações mantive o contato com os designers para saber o que era viável ou não. E, então, davam-me dicas de como deveria criar as ilustrações e a melhor forma para tal. Transformei 11 tipos de cidades em 7 ilustrações. Escolhi tal número pois esse simboliza um ciclo: existem 7 dias da semana, 7 cores do arco-íris, as 7 maravilhas do mundo, as 7 notas musicais, as 7 artes, os 7 pecados capitas. Como este trabalho simboliza o final de um ciclo da minha vida - o ciclo da faculdade - escolhi criar 7 ilustrações. Apesar de elaborar 7 diferentes ilustrações, na verdade foram feitos 8 impressos. Este oitavo é apenas uma explicação do projeto, com os devidos nomes e títulos, referência ao livro inspirado “As cidades invisíveis”, com adição de informações técnicas. As ilustrações foram, dessa forma, impressas em uma Heidelberg Windmill, em papel Bamboo, 400g/m2. Cada uma delas foi impressa em uma tiragem de 50 exemplares, sendo no total 400 impressos. Para envolver os grupo de 8, criei uma cinta na cor dourada, com o logo do projeto em baixo relevo. 1 http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/08.085/3050, acesso em 16 de agosto de 2015 28 I. AS CIDADES E A MEMÓRIA/ AS CIDADES OCULTAS No livro “As cidades invisíveis”, os capítulos referentes a “As cidades e a memória” destacam o tempo passado como elemento central das histórias. Diomira, Isidora, Zaíra, Zora e Maurília completam o ciclo das cidades que não se desprenderam de seu passado, seja ele bom ou não. De certa forma, esse grupo aborda a relação entre tempo e espaço, como estão diretamente ligados. O futuro é planejado e sonhado de acordo com idealizações adquiridas no passado. Assim, o que resta são memórias, recordações do que já foram. “A cidade se embebe como uma esponja dessa onda que reflui das recordações e se dilata. Uma descrição de Zaíra como é atualmente deveria conter todo o passado de Zaíra. Mas a cidade não conta o seu passado, ela o contém como as linhas da mão” (CALVINO, 2003, p. 14,15). Na cidade de Zora, o autor fala sobre a consequência de viver por memórias: “Foi inútil a minha viagem para visitar a cidade: obrigada a permanecer imóvel e imutável para facilitar a memorização, Zora definhou, desfez-se e sumiu. Foi esquecida pelo mundo” (CALVINO, 2003, p. 20). Segundo Evandro Ziggiatti Monteiro2 , cada grupo de cidades contém um encantamento e/ ou uma armadilha. No grupo de cidades relacionadas à memória, “o encantamento prossegue no encontro com o passado como se ele fosse sempre melhor que o presente e uma inspiração para o futuro. A armadilha está na decepção de que o passado não permanece melhor ou nunca foi, e no seu esquecimento.” Por outro lado, “As cidades ocultas” atuam como um espelho de “As cidades e a memória”. O grupo de cidades formadas por Olinda, Raissa, Marósia, Teodora e Berenice retratam lugares complexos, como a natureza humana. Os contos são descritos de tal forma que não é percebido qual é o mais complexo: o espaço ou as pessoas que o habitam. A dualidade está presente em cada cidade, sendo uma característica própria desse grupo. Raissa, por exemplo, é a cidade feliz e a infeliz, que se opõe porém coexistem: “Em Raissa, cidade triste, também corre um fio invisível que, por um instante, liga um ser vivo ao outro e se desfaz, depois volta a se entender entre pontos em movimento desenhando rapidamente novas figuras de modo que a cada segundo a cidade infeliz contém uma cidade feliz que nem mesmo sabe que existe” (CALVINO, 2003, p. 135). PROCESSO DE CRIAÇÃO 2 http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/08.085/3050, acesso em 16 de agosto de 2015 29Fig. 26 - Ilustração I “As cidades e a memória/ As cidades ocultas” 30 Assim, enquanto que em “As cidades e a memória”, o autor se refere ao passado e futuro como mundos diferentes, em “As cidades ocultas” é mostrado uma série de possibilidades para esses universos variados e dúbios. Para mim, viver entre a referência de dois mundos é natural: vivo entre a realidade e os sonhos, o impossível e o possível; e assim como na obra, vivo sim entre o passado e o futuro. Sempre existirá um ponto de referência para descobrir o ponto de partida e o ponto de chegada (em outras palavras, de onde vim e para onde vou). O próximo passo, ou o anterior, são tantos parâmetros como incertezas, é uma via de mão dupla. No entanto, o passado pode servir como base para o futuro, no sentido de correção dos erros, para um amadurecimento e crescimento interno. A partir do conteúdo desse conjunto de cidades, leituras e reflexões, criei a minha ilustração com base nos conceitos de memórias, tempo e espaço. O elemento central foi inspirado em uma rosa dos ventos, a qual faz alusão a temática de lugar/espaço. Essa pode apontar para duas ‘viagens’ diferentes, representadas nas figuras em lados opostos (parte superior e inferior). Cada uma delas tem a mesma forma geral, porém suas partes interiores são diferentes. Além do mais, podem ser vistas como reflexos uma da outra, mundos que se opõem. “O tempo e a memória incorporam-se numa só entidade, são como os dois lados de uma medalha. É por mais óbvio que, sem o tempo, a memória também não pode existir. A memória, porém, é algo tão complexo que nenhuma relação de todos os seus atributos seria capaz de definir a totalidade das impressões através das quais ela nos afeta” (TARKOVSKI, 1998, p. 64). Fig. 27 - Detalhes da Ilustração I “As cidades e a memória/ As cidades ocultas” 31 II. AS CIDADES E O DESEJO “As cidades e o desejo” são construídas pelas cidades de Dorotéia, Anastácia, Despina, Fedora e Zobeide. Cada uma delas possui uma vontade própria, em que os sentidos são apurados pelo que se sonha e deseja. Além disso, segundo Monteiro 3 essas cidades representam as contradições do espírito humano, o homem é destinado a existir simultaneamente entre a ordem e o caos. “No atlas do seu império, ó grande Khan, devem constar tanto a grande Fedora de pedra quanto as pequenas Fedoras das esferas de vidro. Não porque sejam igualmente reais, mas porque são todas supostas. Uma reúne o que é considerado necessário, mas ainda não o é; as outras, o que se imagina possível e um minuto mais tarde deixa de sê-lo” (CALVINO, 2003, p. 32,33). Em algumas cidades, os desejos são uma armadilha para a existência humana, pois a diversão se confunde e/ou se mistura com escravidão (somos escravos de nossos desejos): “Os recém-chegados não compreendiam o que atraía essas pessoas a Zobeide, uma cidade feia, uma armadilha” (CALVINO, 2003, p. 46). “Anastácia, cidade enganosa, tem um poder, que às vezes se diz maligno e outras vezes benigno: se você trabalha oito horas por dia como minerador de ágatas ônix crisóprasos, a fadiga que dá forma aos seus desejos toma dos desejos a sua forma, e você acha que está se divertindo em Anastácia quando não passa de seu escravo” (CALVINO, 2003, p.16). Então, em meus pensamentos sobre o tema, os desejos existem dentro do ser humano involuntariamente, e às vezes são inconscientes. Sejam eles da natureza que for (inocentes, banais, carnais), o homem vive medindo suas vontades, balanceando o que é necessário ou não, viável ou não. Vive-se em um emaranhado de escolhas e nos inúmeros caminhos criados por elas, um labirinto sem começo e fim. Dessa forma, o tema escolhido para desenvolver a segunda ilustração é o labirinto. Uma rede de passagens em que o principal é a busca por seus desejos, sonhos, vontades. Portas se abrem e se fecham (oportunidades e frustrações), e assim percorre-se entre sentimentos, sentidos e aspirações. Um jogo que envolve escolhas e que não existe o certo ou o errado, apenas a causa e o efeito. 3 http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/08.085/3050, acesso em 16 de agosto de 2015 Fig. 28 - Detalhes da Ilustração II “As cidades e os desejos” 32 Fig. 29 - Ilustração II “As cidades e os desejos” 33 III. AS CIDADES E OS SÍMBOLOS/ AS CIDADES E O NOME As cidades de “As cidades e os símbolos”, como o próprio nome já diz, são formadas por seus símbolos, signos que envolvem não apenas seus moradores, mas também, seus visitantes. Em seu grupo, encontram-se as cidades de Tamara, Zirma, Zoé, Ipássia e Olivia. Os lugares descritos são carregados de simbologias, não apenas em sua forma física. Por este motivo, essas cidades tem uma linguagem visual que traz consigo a possibilidade do engodo, de se passar por algo que não é, ou de dissimular dinâmicas e ocultar outras. “O olhar percorre as ruas como se fossem páginas escritas: a cidade diz tudo o que você deve pensar, faz você repetir o discurso, e, enquanto você acredita estar visitando Tamara, não faz nada além de registrar os nomes com os quais ela define a si própria e todas as suas partes. Como é realmente a cidade sob esse carregado invólucro de símbolos, o que contém e o que esconde, ao se sair de Tamara é impossível saber” (CALVINO, 2003, p. 18). Outro ponto sobre tais cidades é que cada observador que passa por ela e absorve os símbolos a enxerga de uma maneira diferente. “Assim – dizem alguns – confirma-se a hipótese de que cada pessoa tem em mente uma cidade feita exclusivamente de diferenças, uma cidade sem figuras e sem forma, preenchida pelas cidades particulares” (CALVINO, 2003, p. 34). Já as cidades de Aglaura, Leandra, Pirra, Clarisse e Irene formam o conjunto de “As cidades e os nomes”. Nelas, a identidade de cada uma é definida por uma característica diferente, seja pelo próprio nome, pela essência de seus habitantes, pelas suas origens, ou pelo fator de mudança constante. Todas elas se definem de acordo com tais qualidades, porém ao mesmo tempo pode ser uma busca pela identidade verdadeira para, então, seguir seus cursos de vida/poder continuar suas vidas em paz. Assim, unindo os temas abordados pelos dois conjuntos de cidade, percebi a relação entre a questão das simbologias com a identidade. Como a busca pela identidade é rodeada de símbolos e signos que envolvem o ser humano a todo instante. Porém, existe a identidade verdadeira, a essência do ser e a mostrada para o mundo exterior. Essas são duas visões diferentes dos significados que são dados para cada palavra, expressão e ação. Portanto, com base nesses pensamentos e análises, a ilustração referente a tal conjunto representa a busca pela identidade e os símbolos que as envolve. O elemento central foi inspirado em um espelho. Fazendo alusão à obra de Lewis Carroll “Alice através do espelho e o que ela encontrou por lá”, existe o mundo de dentro do espelho e o de fora. O primeiro não tem lógica, é puramente emocional, um universo do avesso; já o segundo é racional e estável, o mundo real. Dessa forma, mostro o espelho como forma de simbolizar o indivíduo. O que se passa em seu interior não se sabe, porém vive cercado de muitos símbolos, que podem ser ou não sua real identidade. Tais símbolos estão em volta do suposto espelho na ilustração; tem diferentes formatos e detalhes, e estão voltados para o centro, fazendo com que o olhar siga o sentido de fora para dentro ou vice-e-versa. 34 Fig. 30 - Ilustração III “As cidades e os símbolos/ As cidades e o nome” 35Fig. 32 - Detalhes da Ilustração III “As cidades e os símbolos/ As cidades e o nome” Fig. 31 - Detalhes da Ilustração III “As cidades e os símbolos/ As cidades e o nome” 36 IV. AS CIDADES DELGADAS “As Cidades Delgadas” descreve cidades que buscam se descolar da terra, são procuras coletivas para transcender a superfície do planeta: Isaura esta acima de um profundo lago subterrâneo, Zenóbia está sobre palafitas em um lago seco, Armila é feita de encanamentos, Sofrônia é feita por duas meias cidades: a leve (fixa) e a pesada(provisória), já Otávia é uma cidade teia-de-aranha, que fica no abismo pendurada para baixo. “Ignoro se Armila é dessa maneira por ser inacabada ou demolida, se por trás dela existe um feitiço ou um mero capricho. O fato é que não há paredes, nem telhados, nem pavimentos: não há nada que faça com que se pareça com uma cidade, exceto os encanamentos de água, que sobem verticalmente nos lugares em que deveria haver casas e ramificam-se onde deveria haver andares: uma floresta de tubos que terminam em torneiras” (CALVINO, 2003,p. 49). Porém, essas cidades são de certa forma fracas, pois não se sabe ao certo se vão se sustentar nessas estruturas incomparáveis. “Suspensa sobre o abismo, a vida dos habitantes de Otávia é menos incerta que a de outras cidades. Sabem que a rede não resistirá mais que isso” (CALVINO, 2003, p. 71). Desse modo, para desenvolver a ilustração, resolvi falar sobre a fraqueza. Inspirada pelos pontos de crochê, a minha ilustração lembra uma malha rendada. Apesar de parecer frágil e delicado, o crochê se torna forte com o uso devido da linha, formando pontos e tramas. A figura tem elementos pequenos e com muitos detalhes, linhas finas que vão se tornando pontos (olhando de dentro para fora). Quero mostrar algo que, apesar de fraco, sustenta-se. Os detalhes são tantos que a figura geral se sustenta, ficando forte; no entanto, se um elemento se romper tudo se rompe. Fig. 33 - Detalhes da Ilustração IV “As cidades delgadas” 37Fig. 34 - Ilustração IV “As cidades delgadas” 38 V. AS CIDADES E AS TROCAS/ AS CIDADES CONTÍNUAS Em “As Cidades e as Trocas”, Italo Calvino conta sobre cidades que sofrem mudanças(transformações) ou que movem de lugar (circulação). É um conflito entre a rotina e a mudança. As cidades que pertencem a este conjunto são: Eufêmia, Cloé, Eutrópia, Ercilia e Esmeraldina. A que mais me chamou a atenção foi Ercília, que constrói fios que estabelecem os tipos de relações nas cidades (fios de cores diferentes). Quando se cansam ou a cidade fica muito cheia de fios, eles se movem, e começam do zero de novo. “Deste modo, viajando-se no território de Ercília, depara-se com as ruinas de cidades abandonadas, sem as muralhas que não duram, sem os ossos dos mortos que rolam com o vento: teias de aranha de relações intricadas à procura de uma forma” (CALVINO, 2003, p. 72). Por outro lado, as “As Cidades Continuas” são formadas por Leônia, Trude, Procópia, Cecilia, Pentesiléia. Elas falam sobre casos extremos de cidade, a metrópole ou megalópole. Ela é como uma consequência exagerada de “As Cidades e as Trocas”. “Desse modo, você prossegue, passando de uma periferia para a outra, e chega a hora de partir de Pentesiléia. Você pergunta sobre a estrada para sair da cidade; volta a percorrer a fileira de subúrbios espalhados como um pigmento leitoso; vem a noite; iluminam-se as janelas, ora mais ralas, ora mais densas. [...] fora de Pentesiléia existe um lado de fora? Ou, por mais que você se afaste da cidade, nada faz além de passar de um limbo para o outro sem conseguir sair dali?” (CALVINO, 2003, p. 143). Assim, um conjunto de cidade é a extensão da outra. “As cidades e as trocas” mostra o movimento dentro da cidade, seja pela circulação ou transformação. Já “As cidades continuas” mostra um movimento exagerado dessas, que buscam o crescimento sem a preocupação com as consequências. Portanto, para a criação da peça gráfica para essas cidades, dialogo com os temas de lugares e transformações. Esta é a única ilustração inspirada em cidades; baseei-me em mapas de cidades, que passam por 3 diferentes estados/condições. Represento tais diferenças pela mudança de cores e com a adição de alguns detalhes, porém todos contém a mesma forma básica. Fig. 35 - Detalhes da Ilustração V “As cidades as Trocas/ As cidades Contínuas” 39Fig. 36 - Ilustração V “As cidades as Trocas/ As cidades Contínuas” 40 VI. AS CIDADES E OS OLHOS No livro “As cidades e os olhos” fala sobre a visão individual e os possíveis enganos. Valdrada, Zemrude, Bauci, Fílide e Moriana são cidades contempladas de acordo com um referencial. O olhar volta-se para uma determinada parte da cidade, ou uma determinada característica: umas destacam as profundezas das cidades, outras o céu, as visões individuais. “ Não se pode dizer que um aspecto da cidade seja mais verdadeiro do que o outro, porém ouve-se falar da Zemrude de cima sobretudo por parte de quem se recorda dela ao penetrar na Zemrude de baixo [...]. Cedo ou tarde chega o dia em que abaixamos o olhar para os tubos dos beirais e não conseguimos mais distingui-los das calçadas. O caso inverso não é impossível, mas é mais raro: por isso, continuamos a andar pelas ruas de Zemrude com os olhos que agora escavam até as adegas, os alicerces, os poços” (CALVINO, 2003, p. 64). Ainda, apresenta diferentes pontos de vistas. Em Fílide, por exemplo, o olhar que o viajante tem em relação à cidade é diferente da visão de seus habitantes. “Em todos os pontos, a cidade oferece surpresas para os olhos [...] Sucede, no entanto, de permanecer em Filide e passar ali o resto dos dias. A cidade logo se desbota, apagam-se os florões, as estátuas sobre as mísulas, as cúpulas. [...] Todo resto da cidade é invisível. Fílide é um espaço em que os percursos sãos traçados entre pontos suspensos no vazio” (CALVINO, 2003, p. 85, 86). A visão, no sentido literal, é um dos sentidos que faz o ser humano capaz de ver o mundo ao seu redor. No entanto, cada um tem uma maneira de pensar diferente, e consequentemente, uma maneira de ver esse mundo de forma singular. O ponto de vista muda de acordo com os sonhos, os objetivos, os sentimentos de um indivíduo. Esse é um aspecto imutável da existência humana. Dessa maneira, esta ilustração representa o foco e o ponto de vista. Em determinadas situações, foca-se muito em apenas um ponto e/ou detalhe, e o conjunto fica esquecido. Criei a ilustração de forma que a visão do expectador é guiada para um ponto (elemento central), que faz a alusão sobre o conceito para este produto gráfico. Os elementos em azul acabam perdendo o foco, já os em dourado ganham mais destaque. Porém, a figura geral é mais importante que a central. Além disso, na parte central, criei linhas entrelaçadas, como se o olhar ficasse, ali, aprisionado. Fig. 37 - Detalhes da Ilustração VI “As cidades e os Olhos” 41Fig. 38 - Ilustração VI “As cidades e os Olhos” 42 VII. AS CIDADES E OS MORTOS/ AS CIDADES E O CÉU As cidades de Melânia, Adelma, Eusápia, Argia, Laudônia fazem parte do conjunto de cidades de “As cidades e os mortos”. Esse grupo refere-se à morte em diversas formas diferentes: seja ela literal, enfatizando o campo santo(cemitério), ou o ciclo da vida. Ainda, o ciclo aparece como elemento estruturador das cidades, o motivo pelo qual essas ainda se movimentam. “A população de Melânia se renova: os dialogadores morrem um após o outro, entretanto nascem aqueles que assumiram os seus lugares no diálogo, uns num papel, uns em outro. Quando alguém muda de papel ou abandona a praça para sempre ou entra nela pela primeira vez, verificam-se mudanças em cadeia, até que todos os papéis sejam novamente distribuídos” (CALVINO, 2003, p. 76). “‘Talvez Adelma seja a cidade a que se chega morrendo e na qual cada um reencontra as pessoas que conheceu. E sinal de que eu também estou morto’. Também pensei: ‘E sinal de que o além não é feliz’” (CALVINO, 2003, p. 90). Um exemplo de cidade que se referem ao cemitério/campo santo é Argia, cidade ‘soterrada’: “ O que distingue Argia das outras cidade é que no lugar de ar existe terra. As ruas são completamente aterradas, os quartos são cheio de argila ate o teto, sobre as escadas pousam outras escadas em negativo, sobre os telhados das casas premem camadas de terreno rochoso como céus enevoados” (CALVINO, 2003, p. 116). Contudo, “As cidades e o céu” mostra cidades que buscam a permanência transcendental, e um ideal de perfeição. Eudóxia, Bersabeia, Tecla, Perínzia e Ândria formam essa série que, em oposição a “As cidades e os mortos”, “buscam elevar-se do solo” 4. São cidades idealizadas, histórias utópicas em que as dinâmicas funcionam de forma irracional. Uma das que mais me interessou foi Eudóxia, uma cidade que tem como um reflexo um tapete. Foi perguntado a um oráculo sobre a relação entre eles, e o segundo, o tapete, foi considerado divino, como um mapa do universo. Porém, com o desenrolar da história, conta-se que há a possibilidade de uma confusão: “Há muito tempo os profetas tinham certeza de que o harmônico desenho do tapete era de feitura divina; interpretou-se o oráculo nesse sentido, sem dar espaço para controvérsias. Mas da mesma maneira pode-se chegar à conclusão oposta: que o verdadeiro mapa do universo seja a cidade de Eudóxia” (CALVINO, 2003, p. 92). 4 http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/08.085/3050, acesso em 16 de agosto de 2015 Fig. 39 - Detalhes da Ilustração VII “As cidades e os mortos/ As cidades e o céu” 43Fig. 40 - Ilustração VII “As cidades e os mortos/ As cidades e o céu” 44 Além disso, esse conjunto apresenta o fascínio por novas ideias, as quais são evidenciadas como eternamente belas até serem corrompidas pelo tempo. “- A correspondência entre a nossa cidade e o céu é tão perfeita – responderam - , que cada mudança em Ândria comporta alguma novidade nas estrelas. [...] Cada mudança implica uma cadeia de outras mudanças, tanto em Andria como nas estrelas: a cidade e o céu nunca permanecem iguais” (CALVINO, 2003, p. 137). Assim, esses dois grupos de cidades se opõem e se completam ao mesmo tempo. Enquanto um fala sobre o ciclo de vida, com ênfase na morte, o outro realça a transcendência, a vida após a morte, o divino. Para a última ilustração, quis retratar sobre o divino, o sagrado. O fato de transcender depois da morte. Independente de religiões, o homem sempre está em busca de sua origem e seu destino final, e na maioria das vezes busca por algo maior que ele mesmo. A forma central da ilustração foi criada com base na geometria sacra (sacred geometry). Esse tipo de geometria é muito usada na construção de estruturas religiosas, como igrejas, templos, mosteiros, altares, sacrários; além de estarem presentes na arquitetura romana e grega e na antiga Índia, Egito e catedrais medievais europeia. Os símbolos e significados religiosos são descritos por certas formas geométricas e suas proporções.5 Além disso, muitos filósofos e cientistas acreditam que o universo foi construído com bases na geometria. Logo, também me inspirei por mapas do universo, constelações para criação do fundo. Inconscientemente, sua forma geral tem aparência de um tapete. Do mesmo modo que em Eudóxia, pode ser a representação do pensamento sobre o divino e/ou apenas uma obra humana. 5 https://en.wikipedia.org/wiki/Sacred_geometry, acesso em 18 de Agosto de 2015. Fig. 41 - Detalhes da Ilustração VII “As cidades e os mortos/ As cidades e o céu” 45 VIII. EXPLICATIVO Para explicar todo o projeto, criei mais este impresso, o qual contém meu nome para indicar a autoria, Universidade e Professora orientadora. Adicionei um pequeno texto explicando que se trata de um projeto de conclusão de curso e qual o tema principal. Além disso, contém informações tecnicas da impressão. Fig. 42 - Ilustração VIII “Explicativo) 46 IDENTIDADE VISUAL NOME O nome do projeto está diretamente conectado à “A cidades e o céu”. Evandro Ziggiatti Monteiro 6 discute sobre este conjunto de cidades: “Mas sua presença no livro é fundamental. Em meio a tantas dimensões imperfeitas – e horripilantes – do urbano, as cidades e o céu trazem o fascínio do novo, das reformas e das ideias que se apresentam como eternamente belas – até que a realidade e o tempo as gastem – e retornemos aos inescapáveis ciclos. Cheios de visões, mas sem ilusões, somos (arquitetos/urbanistas) chamados a assumir nosso papel como uma pequena peça das Cidades invisíveis: a de projetar para elas olhando para o alto, para o projeto das estrelas.” Assim, meu projeto ganhou seu nome, e se chama Stellarum (estrelas em latim). Chamo o público, do meu projeto, a criar e mergulhar nesse mundo subjetivo que criei. LOGO O símbolo do logotipo evoca a forma geral de um observatório, local em que se observa e estuda eventos terrestres e celestes.7 Como já descrito anteriormente, meu objetivo pessoal é de convidar as pessoas a entrarem e fazerem parte da minha viagem, ‘olharem para o alto’ para o projeto das estrelas. Então o logo direciona o olhar de dentro do semicírculo para fora e para cima. No titulo foi utilizado a tipografia Caviar Dreams, com uma leve arredodada nas pontas. 6 http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/08.085/3050, acesso em 16 de agosto de 2015 7 https://pt.wikipedia.org/wiki/Observat%C3%B3rio acesso em 1 de Agosto de 2015 Fig. 43 -Logotipo de Stellarum Fig. 44 - Detalhes da Tipografia utilizada no logotipo 47 PALETA DE CORES Para as impressões em letterpres, foram utilizadas as cores em Pantone Solid Uncoated. Para a impressão do relatório, foi utilizado os CMYKs respectivos dos pantones. Pantone Solid Uncoated 3155U C 88 M 47 Y 44 K 16 Pantone Solid Uncoated 871U (Dourado) C 32 M 36 Y 63 K 3 48 TIPOGRAFIA A tipografia utilizada para os Títulos no relatório é a Caviar Dreams: Caviar Dreams ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ abcdefghijklmnopqrstuvwxyz 1234567890 . , : ; ! ? @ # $ % & * ^ ‘ ’ “ ” < > / \ ( ) [ ] { } Caviar Dreams Italic ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ abcdefghijklmnopqrstuvwxyz 1234567890 . , : ; ! ? @ # $ % & * ^ ‘ ’ “ ” < > / \ ( ) [ ] { } Caviar Dreams Bold ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ abcdefghijklmnopqrstuvwxyz 1234567890 . , : ; ! ? @ # $ % & * ^ ‘ ’ “ ” < > / \ ( ) [ ] { } Caviar Dreams Bold Italic ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ abcdefghijklmnopqrstuvwxyz 1234567890 . , : ; ! ? @ # $ % & * ^ ‘ ’ “ ” < > / \ ( ) [ ] { } 49 A tipografia utilizada no texto e subtítulos do relatório foi a Adobe Garamond Pro: Adobe Garamond Pro Regular ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ abcdefghijklmnopqrstuvwxyz 1234567890 . , : ; ! ? @ # $ % & * ^ ‘ ’ “ ” < > / \ ( ) [ ] { } Adobe Garamond Pro Italic ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ abcdefghijklmnopqrstuvwxyz 1234567890 . , : ; ! ? @ # $ % & * ^ ‘ ’ “ ” < > / \ ( ) [ ] { } Adobe Garamond Pro Bold ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ abcdefghijklmnopqrstuvwxyz 1234567890 . , : ; ! ? @ # $ % & * ^ ‘ ’ “ ” < > / \ ( ) [ ] { } Adobe Garamond Pro Bold Italic ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ abcdefghijklmnopqrstuvwxyz 1234567890 . , : ; ! ? @ # $ % & * ^ ‘ ’ “ ” < > / \ ( ) [ ] { } 50 ERROS E CORREÇÕES A parte final do projeto é a impressão tipográfica das ilustrações. Entretanto, passei por algumas dificuldades técnicas, erros de arquivo que deveriam ser corrigidos, o que atrasou a impressão. Os arquivos digitais devem ser criados no software Illustrator e o arquivo final é, assim, digital (formato .pdf ou .ai). No processo de criação das ilustrações tive que tomar cuidado com alguns detalhes como a espessura das linhas que utlizava (mínimo de 0.25pt) e o tamanho dos círculos. Foram elementos que usei muito em todas as ilustrações, e que sempre apareciam em detalhes muito pequenos. Outro ponto importante é que, assim como deveria tomar cuidado com detalhes, o mesmo se aplica para áreas muito grande com cores chapadas. Isto porque na impressão dessas áreas com apenas uma cor pode ocorrer algumas falhas: a tinta pode não aderir totalmente e igualmente em todo o plano. Portanto, os elementos deveriam ser nem tão pequenos e nem tão extensos. A ilustração inteira deve estar em apenas duas cores pois uma vez terminadas, a equipe do estúdio Carimbo Letterpress iria separá-la em duas pranchas, cada uma para uma cor. Assim, não poderia existir nenhuma forma em branco (imitando papel) - caso quisesse uma área em branco, deveria seguir cortando as formas para que mostrassem o fundo - e nada em clipping mask (quando a forma de um objeto cobre a de uma artwork, de modo que apenas a área dentro da primeira forma apareça). Depois de enviar todas as artes finais para o estúdio, a equipe analisa ilustração por ilustração, em cada uma verifica linha por linha (espessura) e cada detalhe; depois disso eles separam por cor e “soldam” todas as partes (transformam tudo em curvas e depois unem as possíveis áreas). Como o meu projeto tem muitos detalhes, esse processo demorou mais de uma semana para sua finalização. Em seguida, enviam de volta para mim, para minha aprovação. E, então, encaminham para a produção dos clichês (matrizes feitas em fotopolímero). Tal etapa também levou mais uma semana para sua produção devido à complexidade das ilustrações. Depois disso, as matrizes voltam para o estúdio, onde as impressões são realizadas. A IMPRESSÃO: PRODUTO FINAL 51 A VISITA Foi feita uma visita ao estúdio para fotografar a impressão do projeto Stellarum. Combinei com Marcelo e Érico de visitar o estudio Carimbo Letterpress e ,então, fui com meus amigos Marcos Takeshi Matsumoto, Daniela Bruno, Guilherme Colosio que me acompanharam e ajudaram a registrar o processo de impressão em Letterpress. Fig. 46 - Papeis prontos para a impressão Fig. 45 - Detalhe da prensa Heidelberg Windmill do Estúdio Carimbo Letterpress 52 Fig. 48 - Prensa pronta para impressão Fig. 47 - Clichê de fotopolímero 53Fig. 50 - Rolos da prensa com tinta azul Fig. 49 - Mistura da tinta azul 54 Fig. 51 - Érico e Marcelo regulando a máquina para impressão 55Fig. 53 - Impressão da cor azul da ilustração “As cidades e o céu/ As cidades e os mortos” Fig. 52 - Imprimindo na cor azul 56 Fig. 55 - Detalhe da Heidelberg Windmill do Estúdio Carimbo Letterpress Fig. 54 - Marcelo limpando a prensa para troca de cor 57Fig. 57 - Érico analizando o registro das impressões com conta fio Fig. 56 - Marcelo e Érico analizando o registro das impressões 58 Fig. 59 - Prensa Heidelberg Windmill com cor dourada Fig. 58 - Colocando a cor dourada na prensa 59Fig. 61 - Impresso com duas cores (azul e dourado) Fig. 60 - Impresso com uma cor (azul) 60 61 A finalização deste projeto traz consigo uma mistura de sentimentos, pois é a conclusão de uma fase muito importante da minha vida: o período de faculdade. Sinto-me feliz por concluir esse trabalho, afinal me empenhei por meses nele esperando ansiosamente que chegasse ao final. Agora que cheguei a esse ponto, olho para trás e percebo que o mais importante não foi ter chegado até aqui (apesar de isto ser muito significativo), mas foi meu caminho até aqui. Foi um processo de aprendizagem desde minha entrada na faculdade até a sua conclusão. Tenho certeza de que todas as pessoas que conheci, todas as aulas e professores que tive, trabalhos que fizemos, intercâmbio, projetos de extensão, tudo isso me fez ser capaz de entregar e finalizar este projeto de uma forma satisfatória. Não só pude aperfeiçoar a minha técnica em ilustração em termos de composição e criação, mas também pude criar de maneira livre e pessoal. Além de tudo, acredito que foi uma etapa de autoconhecimento. Aprendi muito sobre meu jeito de pensar e de me expressar através do design e da arte; tentei entender e controlar minhas ansiedades e minhas indecisões; perdi-me e me encontrei (muitas vezes); pude enfrentar o passado, sonhar com o futuro, e entender aspectos da minha história e do que quero ser daqui para frente. Sei que esse processo de aprendizagem não termina por aqui, é apenas o começo de uma carreira que quero muito seguir. Sou muito feliz por ter chegado neste momento e ter a satisfação de apresentar este trabalho como o símbolo do término dos meus anos de faculdade. Nesse projeto, contei sobre a minha história e minhas viagens por meio da ilustração. E, agora, convido você a contar a sua também. CONSIDERAÇÕES FINAIS 62 LIVROS: ANDRADE et al. Ensaios em Design – Praticas interdisciplinares. Bauru: Canal6 Editora, 2014 CALVINO, Italo. As cidades invisíveis. Tradução de Diogo Mainardi. São Paulo: Companhia das letras, 2003 MEGGS, Philip B. História do design gráfco. São Paulo: Cosac & Naify, 2009. RIVERS, Charlotte. Nueva impressión tipográfica. Tradução de Ángel Domínguez. Barcelona: Editora Gustavo Gili, 2012 TARKOVSKI, Andrei. Esculpir o tempo. Tradução: Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes. 1998. ARTIGOS: GADOTI, M; HENRIQUES, F. Impressões Híbridas: as influências dos sistemas de impressão analógicos no design gráfico contemporâneo. Iniciação Cientifica - Faculdade de Arquitetura Artes e Comunicação, Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”, Bauru. 2012 WEBSITES Alberto Cerriteño, disponível em: Acesso em 12/08/2015 Brainstorm 9. Uma breve historia da ilustração, disponível em: Acesso em: 17/08/2015 Bolandeira, disponível em: Acesso em 28/07/2015 Conceito.de . Conceito de ilustração, disponível em: Acesso em 17/08/2015 ESTUDIO CARIMBO LETTERPRESS, disponível em: Acesso em 17/08/2015 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 63 Eu vejo tudo e não morro por Raphael Schmitz. Uma breve historia da ilustração, disponível em: Acesso em 17/08/2015 Gráfica. 10 consejos para saber cómo diseñar para letterpress, disponível em: Acesso em 17/08/2015 Info Escola. As cidades invisíveis. Disponível em: Acesso em 13/08/2015 Matt Scribner. Portfolio, disponível em: Acesso em 12/08/2015 Passei na Web. As cidades invisíveis, de Italo Calvino, disponível em: Acesso em 13/08/2015 Resenhas online. Cidades invisiveis visitadas. Uma leitura de Italo Calvino para compreender a paisagem urbana, disponível em: Acesso em: 20/08/2015 Studio on Fire, disponível em: Acesso em 13/08/2015 Underconsideration. Jeopardy no48, disponível em:< http://www.underconsideration.com/ fpo/archives/2012/12/jeopardy-magazine-1.php> Acesso em 13/08/2015 Wikipedia. Sacred Geometry, disponível em: Acesso em 17/08/2015 Wikipedia. Marco Polo, disponível em: Acesso em 17/08/2015 64 LISTA DE IMAGENS: Figura 1: http://naslinhasdavida.blogspot.com.br/search/label/Especiais Figura 2: http://www.vgesa.com/facsimile-codex-privileges_valencia.htm Figura 3: http://rdesignergrafica.blogspot.com.br/ Figura 4: http://www.cardquali.com/e-tipografia/ Figura 5: http://www.glyptodont.com/demo_online/hexa2012/glyptodon/clase01/index.htm Figura 6: http://www.carimboletterpress.com.br/#anchor-u6290 Figura 7: http://www.carimboletterpress.com.br/#anchor-u6290 Figura 8: http://www.carimboletterpress.com.br/#anchor-u6290 Figura 9: http://estou-sem.blogspot.com.br/2013/10/designs-digitais-e-aquarelas-nas.html Figura 10, 11: Acervo pessoal Figura 12, 13, 14: http://cargocollective.com/bolandeira/ Figura 15, 16 : http://www.studioonfire.com/we-print-posts/ruth-micah-wedding/ Figura 17, 18: http://www.studioonfire.com/we-design-posts/sunshine-poster/ Figura 19, 20, 21: http://cargocollective.com/acerriteno/enamored-whale Figura 22, 23: http://www.underconsideration.com/fpo/archives/2012/12/jeopardy-magazine-1.php Figura 24, 25: https://dribbble.com/shots/1546155-AIGA-100-Show-Poster Figura 26 - 44: Acervo Pessoal Figura 45 - 58: Fotos por Guilherme Colosio Figura 59: Foto por Marianne Yoshiyassu Figura 60, 61: Fotos por Daniela Brüno “Eu falo, falo - diz Marco -, mas quem me ouve retém somente as palavras que deseja. Uma é a descrição do mundo à qual você empresta a sua bondosa atenção, outra é a que correrá os campanários de descarregadores e gondoleiros às margens do canal diante da minha casa no dia do meu retorno, outra ainda a que poderia ditar em idade avançada se fosse aprisionado por piratas genoveses e colocado aos ferros na mesma cela de um escriba de romances de aventuras. Quem comanda a narração não é a voz: é o ouvido.” Sobre o relatório Formato Tipografia Papel Impressão e Acabamento Inprima soluções gráficas Unidade Nove de Julho - ITAIM www.inprima.com.br (11) 3167 1263 21x28 cm Caviar Dreams Adobe Garamond Pro Couche fosco 150g/m2 (miolo) Couche fosco 300g/m2 (capa) (CALVINO, 2003, p. 123). Esse projeto consiste em uma série de 7 ilustrações criadas com base no livro “As Cidades Invisíveis” de Italo Calvino e impressas pelo método Letterpress. Numa mistura de conceitos retirados do livro com experiências e pensamentos pessoais, surgiu esse projeto gráfico-experimental. Esse projeto consiste em uma série de 7 ilustrações criadas com base no livro “As Cidades Invisíveis” de Italo Calvino e impressas pelo método Letterpress. Numa mistura de conceitos retirados do livro com experiências e pensamentos pessoais, surgiu esse projeto gráfico-experimental.