RESSALVA Atendendo solicitação da autora, o texto completo desta tese será disponibilizado somente a partir de 07/08/2022 Câmpus de São José do Rio Preto Ingrid Zanata Riguetto Heróis Efêmeros: Uma análise de Inferno Provisório, de Luiz Ruffato São José do Rio Preto 2020 Ingrid Zanata Riguetto Heróis Efêmeros: Uma análise de Inferno Provisório, de Luiz Ruffato Tese apresentada como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutora em Letras, junto ao Programa de Pós-Graduação em Letras, do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Câmpus de São José do Rio Preto. Orientador: Prof. Dr. Márcio Scheel São José do Rio Preto 2020 R572h Riguetto, Ingrid Zanata Heróis efêmeros: : uma análise de Inferno Provisório de Luiz Ruffato / Ingrid Zanata Riguetto. -- São José do Rio Preto, 2020 166 f. Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista (Unesp), Instituto de Biociências Letras e Ciências Exatas, São José do Rio Preto Orientador: Márcio Scheel 1. Literatura contemporânea brasileira. 2. Problematizações do gênero romanesco. 3. Espaço literário. 4. Relações entre a História e a Literatura. 5. Modernização do Brasil. I. Título. Sistema de geração automática de fichas catalográficas da Unesp. Biblioteca do Instituto de Biociências Letras e Ciências Exatas, São José do Rio Preto. Dados fornecidos pelo autor(a). Essa ficha não pode ser modificada. Ingrid Zanata Riguetto Heróis Efêmeros: Uma análise de Inferno Provisório, de Luiz Ruffato Tese apresentada como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutora em Letras, junto ao Programa de Pós-Graduação em Letras, do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Câmpus de São José do Rio Preto. Comissão Examinadora Prof. Dr. Márcio Scheel UNESP – Campus de São José do Rio Preto Orientador Prof. Dr. Fábio Lucas Pierini UEM – Maringá Prof a . Dr a . Rejane Cristina Rocha UFSCAR – São Carlos Prof. Dr. Arnaldo Franco Junior UNESP – Campus de São José do Rio Preto Prof. Dr. Orlando Nunes de Amorim UNESP – Campus de São José do Rio Preto São José do Rio Preto 07 de agosto de 2020 Dedico esta tese a Marilena e Antonio, meus pais. Agradecimentos Um doutoramento é uma transformação íntima e um exercício de resiliência. Nesse sentido, coloquei nestas páginas considerações de toda uma vida, de certa forma, questões que delinearam as minhas escolhas e que me levaram da História para a Literatura. No entanto, este trabalho não é individual, foi realizado a partir de um conjunto de reflexões que não existiriam sem a vivência da universidade. É assim que gradeço a UNESP, instituição que me proporcionou meios e infraestrutura para o acesso a esse conhecimento e a minha permanência na universidade – moradia, bolsas de ajuda financeira e bolsas de pesquisa. Agradeço ao professor Márcio Scheel pela orientação em todos esses anos. Agradeço aos professores das bancas de qualificação e defesa: Arnaldo Franco Junior, Fábio Pierini, Rejane Cristina Rocha, Orlando Nunes de Amorim. Agradeço ao professor Pablo Simpsom, coordenador das pós-graduação em Letras . Agradeço a todos os meus professores das graduações em História e Letras. Agradeço a minha família pela compreensão, amor e cuidado, que me fortalecem pelo meu caminho: a meus pais, Marilena e Antonio; a meus sobrinhos (Sophia, Gabriel, Fiorenzo e Amelie); a meus sogros, Sônia e Oswaldo. Agradeço a meu companheiro, Paulo, que, com o seu amor, com a sua companhia, contribuiu muito em todo esse processo. Agradeço aos amigos: Alessandra, Anderson, Dibo, Eloísa, Jean, Jhenifer, Josi, Jobíola, Mariana Rezende, Mariana, Maria Aparecida, Marcos, Monelise, Nathalia, Odair, Roberta, Rubens, Silvania. Agradeço aos alunos. O animal, de fato, vive de maneira a-histórica (unhistorich): ele está inteiramente absorvido pelo presente, tal como um número que se divide sem deixar resto; ele não sabe dissimular, não oculta nada e se mostra a cada segundo tal como é, por isso é necessariamente sincero. O homem, ao contrário, se defende contra a carga sempre mais esmagadora do passado, que o lança por terra ou o faz se curvar, que entrava a sua marcha como um tenebroso e invisível fardo. Ele pode ocasionalmente pretender negar este fardo e, no trato com os seus semelhantes, negá-lo de bom grado, a fim de despertar neles inveja. Mas ele se comove ao ver o rebanho no pasto, como se estivesse lembrando de um paraíso perdido, ou melhor de algo mais próximo e mais familiar, da criança que não tem ainda um passado para negar e que brinca, na sua feliz cegueira, entre as balizas do passado e do futuro. (NIETZSCHE, 2015, p. 49- 50). RESUMO O nosso trabalho visa investigar as peculiaridades literárias que fazem da obra Inferno Provisório (2016), de Luiz Ruffato, um romance que busca problematizar os diversos sujeitos sociais que compõem e caracterizam a estrutura social brasileira em processo de modernização. Luiz Ruffato destaca em sua obra aspectos de uma realidade social profunda, figurando trabalhadores menores e mal remunerados, malandros, sujeitos à margem do sistema capitalista ou excluídos sociais, contudo por meio de uma linguagem fragmentária. Diante disso, a partir de sociólogos como José da Silva Martins, Florestan Fernandes, Antonio Candido, compreende-se como essas questões estabelecem-se na relação indivíduo/sociedade dentro do microcosmo de Inferno provisório (2016), para, a partir da análise das personagens, investigar como a obra concebe, por meio da literatura, o processo de modernização nacional, sobretudo a partir da imagem da cidade e de suas transformações. Para tanto, a fragmentação é articulada pelo movimento de permanência e ruptura, linha de leitura pela qual perceberemos não só os elos entre os capítulos, na formação do romance, mas também na composição temática, visto que o passado, tanto histórico como pessoal, assemelhado a uma onda, quebra no presente das personagens, determinando as suas ações. Logo, compreendemos Inferno Provisório (2016) como uma obra híbrida, entre o romance social e o histórico, chamada pelo próprio autor de catálogo de histórias, na qual são construídas personagens tipos, como apresentações próprias, em um plano temático, de um Brasil em modernização, ao mesmo tempo em que articula estruturalmente um movimento característico da construção da história brasileira: a incorporação das antigas estruturas discursivas, políticas e econômicas, às novas tendências impostas pelo capitalismo mundial. Palavras-chave: Espaço literário; Literatura contemporânea brasileira; Modernização do Brasil; Relações entre a História e a literatura. ABSTRACT Our study aims to investigate the literary peculiarities that make the literary work Inferno Provisório (2016), by Luiz Ruffato, a novel that seeks to represent fictionally the diverse social subjects that compose and characterize the Brazilian social structure in the process of modernization (1950-2003). According to Karl Eric Shøllhamer (2010), Luiz Ruffato gives continuity to realism, therefore, in his works he represents aspects of a deep social reality, re - elaborating them fictionally, giving rise to the figuration of smaller and underpaid workers, rascals, subjects outside the capitalist system or socially excluded, through fragmentary language. Therefore, from sociologists, such as José da Silva Martins, Florestan Fernandes, Antonio Candido, we understand how these issues are established in the individual/society relationship within the microcosm of Inferno Provisório (2016), in order to investigate, from the analysis of the characters, how the work represents the national modernization process, especially from the image of the city and its transformations. For this purpose, fragmentation is articulated by the movement of permanence and rupture, a line of reading through which we will perceive not only the links between the chapters in the formation of the novel, but also in the thematic composition, since the past, both historical and personal, which resembles a wave, breaks in the present of the characters, determining their actions. Therefore, Ruffato promotes a hybrid work, between the social and the historical novel, in which stereotyped characters, typical of a modernizing Brazil, are presented, while he structurally articulates a movement characteristic of the construction of Brazilian history: the incorporation of the old political and social structures to the new trends imposed by world capitalism. Keywords: Literary space; Contemporary brasilian literature; Modernization of Brazil; Relations between History and Literature. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 10 2. CAPÍTULO 1 – Um romance híbrido – O projeto Inferno Provisório .......................... 14 2.1. Diálogos sobre o romance histórico ............................................................................... 23 2.2. Romance modernista retomado ..................................................................................... 26 2.3. Por um ponto de vista histórico e social ........................................................................ 29 3. CAPÍTULO 2 – Literatura e sociedade ........................................................................... 33 3.1. O conceito de pobreza .................................................................................................... 36 3.2. O pobre no romance brasileiro...................................................................................... 40 3.3. O romance de 30 e o Inferno Provisório ........................................................................ 48 4. CAPÍTULO 3 – O Brasil em modernização: o campo, a cidade e a favela .................. 66 4.1. O espaço na literatura .................................................................................................... 77 4.2. Inferno Provisório e o processo de modernização brasileira....................................... 81 5. CAPÍTULO 4 – Heróis efêmeros: O proletariado brasileiro em Inferno Provisório .. 93 5.1. O proprietário: o italiano, o português e o brasileiro ............................................... 102 5.1.1. O proletário: do italiano ao brasileiro ................................................................. 111 5.1.2. Os que se foram de Cataguases ............................................................................ 119 5.1.3. O Lumpemproletariado ........................................................................................ 126 5.2. Os pretos ........................................................................................................................ 133 5.3. A mulher ........................................................................................................................ 138 5.3.1. A submissa: a doente, a louca ............................................................................... 140 5.3.2. As putas .................................................................................................................. 145 5.3.3. As outras ................................................................................................................. 150 6. CONCLUSÃO ................................................................................................................. 158 REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 161 10 1. INTRODUÇÃO Este trabalho investiga as características de Inferno Provisório (2016), de Luiz Ruffato, as quais fazem dessa obra preocuda com grupos que surgiram dentro da estrutura social brasileira constituída pelo processo de modernização capitalista, entre meados do século XX até um passado recente. Estabelecendo como central o viés de classe social, a obra apresenta uma realidade socioeconômica profunda, com a figuração de trabalhadores mal remunerados, malandros, sujeitos à margem do sistema capitalista ou excluídos sociais, a partir de uma linguagem fragmentária, como, por exemplo, de construções inacabadas; do excesso ou da falta de pontuação; da mistura de tipos e tamanhos de fontes; e da constante presença do itálico e do negrito na expressão de pensamentos e falas. Essas personagens estão estreitamente relacionadas ao tempo e ao espaço em que estão situadas. Tais perspectivas – histórica e geográfica – fazem com que a obra seja envolvida por temporalidades, colocando um plano privado, o das personagens, vinculado a um plano histórico ou econômico, que, por sua vez, está associado ao um tempo maior, o da paisagem, de transformações nos espaços e ambientes da obra. Essas temporalidades entrelaçam-se, fornecendo profundidade histórica e geográfica à obra. Inferno Provisório (2016) conduz outro movimento: a permanência e a ruptura com o passado. Quanto ao tema, apresenta personagens tipos, assombradas por um passado pessoal e histórico, o que as impelem a espaços excludentes, psicológicos e físicos. Com relação à forma, a obra associa modos de escrita que almejam sentidos diferentes, ora elaborando descrições próximas às desenvolvidas pelo movimento realista, do século XIX, ora compondo uma linguagem experimentalista, envolvida por percepções fragmentárias da realidade. Esse movimento dialético funciona de modo a acomodar as diferentes (e até mesmo divergentes) estruturas, formando algo novo, porém sem que sejam estabelecidas transformações efetivas. Essa dinâmica assemelha-se a própria formação e consolidação do capitalismo no Brasil, que visando a manutenção dos privilégios de uma elite (ligada ao período colonial), tende a ajustar sistemas econômicos e de pensamentos, para evitar, assim, mudanças reais. O passado pessoal das personagens as oprimem com lembranças que as impossibilitam de agir no presente. Da mesma forma, essas personagens são produtos do descaso histórico do Estado com a população pobre, que configurou uma modernização violenta e autoritária. Logo, a obra pode ser lida como uma alegoria do próprio Brasil, mostrando a realidade 11 brasileira dentro de uma perspectiva crítica ajustada à imagem contemporânea de Brasil afirmada nas últimas duas décadas. Dessa maneira, esta pesquisa pensa o modo como as personagens, situações e espaços de Inferno Provisório (2016), de Luiz Ruffato, articulam-se, tendo como base a teoria da narrativa, as Ciências Sociais e a História. Analisa, também, como estão estruturados na obra elementos da política, cultura e mentalidade brasileira em processo de modernização capitalista. Para tanto, esta tese está dividida em quatro capítulos: “Um romance híbrido: o projeto Inferno Provisório”, “Literatura e sociedade”; “Brasil em modernização: o campo, a cidade e a favela” e “Heróis efêmeros: a formação e a identidade do proletariado brasileiro”. No primeiro, são expostas as estruturas que compreendemos transpassar a obra Inferno Provisório (2016). É assim que a entendemos como um romance híbrido entre o romance social e o histórico (o que é chamado pelo autor de “catálogo de histórias”), principalmente por narrar um período vasto da história do Brasil, por meio de personagens tipos de grupos sociais – cujas histórias particulares, articuladas a do prórprio Brasil, dão sequência e ligam os capítulos. Utilizamos em sua elaboração: O romance histórico (2011) de Georg Lukács ; “O romance histórico ainda é possível” (2007) de Fredric Jameson; “Trajetos de uma forma literária” (2007) de Perry Anderson e O romance social brasileiro de Benjamin Abdala Junior (1993). No segundo capítulo, compreendemos a importância, as relações e os limites estabelecidos entre a literatura e a sociedade. Além disso, investigamos, a partir de uma perspectiva histórica, as representações do trabalhador livre e pobre no romance brasileiro, detendo-nos aos períodos realista/naturalista e ao romance de 30, por serem os que reúnem autores que se dedicam mais declaradamente a compreender o Brasil. Uma hipótese desta pesquisa está na relação de Inferno Provisório (2016) com o romance de 30, principalmente devido à compreensão das estruturas de nossa sociedade por meio de uma linguagem fragmentária. Para a elaboração desse capítulo, foram lidas as seguintes obras de Antonio Candido: Literatura e Sociedade (2000), “Direito à literatura” (2004), Iniciação à Literatura Brasileira (2015). Além desse importante crítico: História Concisa da Literatura Brasileira (2002) de Alfredo Bosi; Uma história do romance de 30 (2015) de Luís Bueno; Sociologia e sociedade no Brasil (1975) de Otávio Ianni; Genealogia da moral: uma polêmica (1998) de Friedrich Nietzsche; A perspectiva da liberdade (2010) de Amartia Sen; A ascensão do romance: Estudos sobre Defoe, Richardson e Fielding (2010) de 12 Ian Watt; Capitalismo tardio e sociabilidade moderna (1998) de João Manuel Cardoso Mello e Fernando A. Novais. No terceiro capítulo compreendemos o modo como a obra Inferno Provisório (2016) apresenta a transição do Brasil rural para o urbano e a consequente exclusão espacial da população vulnerável em becos, bairros pobres e favelas (tanto de Cataguases como das metrópoles de São Paulo e do Rio de Janeiro). A primeira parte desse capítulo dá ênfase na construção dos espaços articulados e desarticulados a partir dessa modernização. O “espaço” e o “tempo” são, portanto, propriedades importantes para a construção de Inferno Provisório (2016), tanto na forma – por seu realismo fragmentário na apreensão da materialidade do período e por organizar e relacionar diferentes tempos literários, como o individual ou o histórico – como no tema, por mostrar as consequências da modernização capitalista à população pobre e marginalizada brasileira. Logo, a obra expressa o espaço em processo de constante desagregação – a migração do campo para a cidade e a consequente constituição dos bairros periféricos nas cidades brasileiras. Utilizamos, para isso, as seguintes obras: Darcy Ribeiro, O povo brasileiro: a formação do sentido do Brasil (1995); Eric Hobsbawm, Era dos Extremos: o breve século XX: 1914-1991 (1995); Gilberto Freyre, Casa Grande & Senzala: formação da família brasileira a partir do regime patriarcal (2003); Jessé Souza, “Gilberto Freyre e a singularidade cultural Brasileira” (2001); Maria Cristina Cortez Wissenbach, “Da escravidão à liberdade: dimensão de uma privacidade possível” (1998); Nicolau Sevcenko, “O prelúdio republicano, astúcias da ordem e ilusões do progresso” (1998); Nelson Werneck Sodré, Desenvolvimento brasileiro e luta pela Cultura Nacional (2010); Loïc Wacquant, Os condenados da cidade: estudos sobre marginalidade avançada (2001). Por meio dessas obras, compreendemos as mudanças pelas quais o Brasil passou a partir de um intenso processo de êxodo rural, em meados do século XX, com a imigração acelerada do campo para a cidade, e a posterior imigração dessas pequenas e médias cidades para o Rio de Janeiro e São Paulo. No quarto capítulo, analisamos as mentalidades e os trajetos da migração italiana para o Brasil, visando entender as motivações que fizeram esses sujeitos partirem da Europa para o Brasil, e, sobretudo, permanecerem na nova terra, estabelecendo novas relações. Tal questão é importante considerando que esses italianos e seus descendentes formaram parte considerável da mão de obra livre e assalariada no Brasil. Para a assimilação do modo como esse trabalhador transmigra de colono para pequeno proprietário rural e para proletário utilizamos: 13 Claudio Batalha, “Identidade de classe operária no Brasil” (1880 – 1920); José Martins Souza, O cativeiro da terra (2018) e Roberto Gambini, “Corações partidos no porto de Gênova”, (2016). No último capítulo entendemos as estruturas que consolidam a identidade daqueles que se compreendem como brasileiros, concepções muito atreladas a um discurso violento que visa sempre a manutenção de privilégios aos grupos mais abastados. Logo, entendemos os grupos oprimidos como transpassados pelas contradições formadas das incongruências entre “o que se diz” e “o que se é”, pois, apesar de pobres, esses grupos assumem para si, como molduras para a leitura do mundo, do “outro” e de si mesmos, estruturas de pensamento que não lhes são favoráveis. Para entendimento dessa peculiaridade existente em ser brasileiro, utilizamos a obra O mito fundador e sociedade autoritária (2000) de Marilena Chauí. No entendimento da literatura contemporânea, assim como de Luiz Ruffato e da obra Inferno Provisório (2016), buscamos o auxílio das seguintes obras e autores: Giorgio Agambem, O que é o contemporâneo e outros ensaios (2009); Danielle Corpas – “Romance em pedaços: (os sobreviventes)” (2008), “De boas intenções o Inferno está cheio” (2009) e O “romance relâmpago de Luiz Ruffato: um projeto literário-político em tempos pós-utópicos” (2007); Giovana Ferreira Dealtry, “A história a contrapelo em Inferno Provisório, de Luiz Ruffato” (2009); Roberto Schwarz, Os pobres na literatura brasileira (1983); Karl Erik Schøllhammer, Ficção brasileira contemporânea (2009). Por fim, utilizamos outras obras que não estão explicitadas nesta introdução. Além disso, o nosso trabalho atua no campo literário, não sendo objetivo desta tese discutir detidamente acerca de aspectos históricos e sociológicos. Utilizaremos amplamente desses campos para apoiar a nossa leitura e compreensão de Inferno Provisório (2016). Nosso estudo compreende o modo como Luiz Ruffato escreve a contemporaneidade a partir de construções literárias que leem os espaços e a sociedade brasileira em processo de formação e consolidação capitalista. 158 6. CONCLUSÃO Compreendemos a obra Inferno Provisório (2016) de Luiz Ruffato a partir de estruturas específicas da sociedade brasileira, que se colocam entre a permanência e a ruptura com o passado (em um movimento dialético, no qual as estruturas de um passado colonial preservam-se nas entranhas da sociedade brasileira). Há, portanto, em Ruffato, um passado, tanto pessoal como público, sempre presente. Esse passado é colocado sobre as suas personagens conduzindo-as, definindo-as e limitando-as – resumindo-as a alguns traços de suas personalidades e mostrando, com isso, o quanto os discursos do “outro” (formado pela elite/Estado/capital) oprimem o indivíduo pela sua classe, raça e gênero. A obra, assim, enfatiza questões de classe, visto que a pobreza, opressão e a violência são categorias que transpassam e ligam a maioria das personagens e os espaços da obra. São, assim, personagens tipos, com pouca voz, figurações literárias de grupos que surgiram a partir do deslocamento das massas, primeiro, do campo para a cidade, em meados do século XX e, depois – a partir da década de 1970 –, das pequenas e médias cidades para as metrópoles do Rio de Janeiro e São Paulo. Esses movimentos afirmaram-se por meio da entrada em terras brasileiras dos produtos materiais e ideológicos, de um processo de modernização afirmado para o desenvolvimento das regiões centrais capitalistas (países europeus, Estados Unidos e Japão). O Brasil, portanto, coloca-se de forma inapropriada e rápida em um capitalismo que em nada mudou a sua condição, visto que aprofundou a sua estruturação como nação exportadora de produtos primários. É assim que se desenvolve aqui no Brasil uma elite antiquada, presa a um passado colonial e, que detém propriedades, dinheiro e poder, impedindo o país de desenvolver-se verdadeiramente enquanto nação capitalista. Há, portanto, no Brasil, um passado que se coloca no presente, sendo constante em nossa realidade. É possível perceber esse passado observando, por exemplo, nas próprias relações sociais, contradições existentes entre uma realidade socioeconômica de opressão aos pobres e a divulgação de discursos alinhados, em maior ou menor grau, a um(a) elite/Estado/capital. Em Inferno Provisório (2016), o passado também se coloca como uma onda sobre o presente, inundando-o de estruturas de pensamentos ligadas ao colonialismo, e impedindo transformações socioeconômicas reais às personagens. São, assim, personagens 159 não autônomas, pois entendidas, levadas e dominadas pela sua classe, como se o pobre fosse determinado pela sua condição/capacidade para o trabalho. Para isso, compreendemos a obra de Ruffato como transpassada por diversas temporalidades que vão de um plano pessoal – o das personagens – para um plano histórico – o do Brasil de meados do século XX até 2002 (um período considerado como o da modernização capitalista do Brasil). Além disso, é possível entender na obra o plano temporal da paisagem – uma temporalidade difícil de ser percebida, pois contada em milênios – conduzida por dinâmicas naturais, como a das enchentes de um rio ou a das estações do ano. Essas temporalidades interpõem-se e fazem surgir um universo amplo, dinamizado por infernos particulares, muito atrelados aos sofrimentos decorrentes da violência própria dessa modernidade contraditória que violenta o pobre, limitando-o a espaços marginalizados, tanto íntimos, quanto públicos. Ruffato liga em Inferno Provisório (2016) a origem do proletariado brasileiro à dispersão da população do campo para as cidades, mostrando a realidade de um projeto de modernização que se colocava sobre o Brasil a partir de um intenso processo de êxodo rural, urbanização e industrialização. População essa, principalmente, de imigrantes italianos, negros e mestiços, que passam a formar as periferias das cidades. Essa população marginalizada, no entanto, assume para si o discurso de um “outro”, formado pela confluência de princípios ligados ao Estado/capital, o que faz dela também oprimida discursivamente, pois, compreende como “verdade/realidade” o discurso de um grupo que não lhe condiz. São as personagens de Rufatto (2016), portanto, grupos não autônomos, pois, principalmente diante das carências materiais, são conduzidas por um “outro”, norteado por um discurso violento e autoritário, ligado ainda a um colonialismo escravista, próprio da nossa fundação. Deve-se esclarecer que a leitura proposta dá-se a partir do formato assumido por Inferno Provisório (2016), como uma obra única, visto que o projeto inicial do autor configurava-se em 5 obras que foram publicadas de 2005 a 2013, sendo a disposição de personagens, histórias e capítulos diferentes nessas suas duas propostas, o que interfere em sua leitura. Nesse formato conciso publicado em 2016, as histórias dessas personagens assumem a forma de um “catálogo de histórias”, como colocado pelo próprio autor, sendo as personagens, espaço e a leitura ficcional da dinâmica da História brasileira, os elos que unem os capítulos. É assim que entendemos a obra de Luiz Ruffato como um romance híbrido, entre o romance social e histórico: como social, por narrar o plano temporal das personagens, assumindo as suas realidades, materiais e psicológicas, como objeto crítico e de denúncia 160 social, e como histórico, por compreender um processo longo, o de modernização capitalista, no qual o Brasil é inserido e insere-se, promovendo uma perspectiva histórica e espacial às personagens. Isto posto, esperamos que essa leitura de Inferno Provisório (2016) possa contribuir para um maior entendimento da obra. 161 REFERÊNCIAS ANDERSON, Perry. Trajetos de uma forma literária. Revista Novos Estudos CEBRAP, São Paulo, n. 77, p. 185-203, mar. 2007. 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