UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS E CIÊNCIAS EXATAS CÂMPUS DE RIO CLARO INFLUÊNCIA DA PETROGRAFIA SOBRE A ANISOTROPIA À TENSÃO DE COMPRESSÃO E DILATAÇÃO TÉRMICA DE ROCHAS ORNAMENTAIS Fabiano Cabañas Navarro Orientador: Prof. Dr. Antonio Carlos Artur Tese de Doutorado elaborada junto ao Programa de Pós-Graduação em Geologia Regional para obtenção do título de Doutor em Geologia Regional. Rio Claro, SP - maio de 2006 - 552 Navarro, Fabiano Cabañas N322i Influência da petrografia sobre a anisotropia à tensão de compressão e dilatação térmica de rochas ornamentais / Fabiano Cabañas Navarro. – Rio Claro : [s.n.], 2006 179 f. : il. gráfs., tabs., quadros Tese (doutorado) – Universidade Estadual Paulista, Instituto de Geociências e Ciências Exatas Orientador: Antonio Carlos Artur 1. Análise Petrográfica. 2. Rochas para revestimento. 3. Compressão uniaxial. 4. Dilatação térmica. 5. Anisotropia I. Título. Ficha Catalográfica elaborada pela STATI – Biblioteca da UNESP Campus de Rio Claro/SP Comissão Examinadora Antonio Carlos Artur (orientador) Antenor Braga Paraguassú José Eduardo Rodrigues Maria Heloisa Barros de Oliveira Frascá Peter Christian Hackspacher Rio Claro, 19 de maio de 2006. Resultado: APROVADO PROCESSIONE Furtive distanze Di mani in preghiera Processioni illuminate Quando il sole è muto Tu bambino scalzo Guardami Dammi la speranza Indicami l'avventura Della natura in festa Segna il minuto Della preghiera continua Abbracciami forte Per tenermi qui Grazia Geiger “Não há ciência pura e ciência aplicada, há ciência e aplicações da ciência”. Pasteur AGRADECIMENTOS A filosofia me ensinou que o efêmero é a regra na terceira dimensão, mas também ensinou que as marcas produzidas durante o conjunto de processos que se chama vida são eternas, por mais que o cérebro tente apagá-las jogando-as no esquecimento. Fecha-se, com a presente Tese, um ciclo de trabalho de onze anos, iniciado em 1995 com o Curso de Graduação em Geologia. Após esses intensos anos vividos na UNESP, dos quais dez aprendendo com as rochas ornamentais, me vejo no dever de rever alguns pontos de minha vida profissional. Talvez a parte de agradecimentos de um trabalho seja a mais importante, e não por menos, a mais difícil. Aqui pode-se cometer toda espécie de injustiça, se nos deixarmos trair pela memória ou pela nossa vaidade. Por reconhecer a importância das muitas pessoas que estiveram envolvidas direta ou indiretamente devo agradecer a todos, mesmo aos que por ventura não tenham sido citados. O primeiro agradecimento, sem dúvida, vai à minha família, Telma e Juan (e também o Nicolás que está chegando), que atuam como esteio máximo em todos os momentos das minhas empreitas, sempre apoiando como podem e compreendendo as situações em que me envolvo, com suas fortes exigências. Ao orientador, que ao longo dos anos transgrediu o status formal e tornou-se amigo e parceiro de trabalho, pela orientação sempre pronta, pelas críticas (sempre construtivas) e ensinamentos, especialmente em petrografia. Ao Dr. Celso Charuri, pelo exemplo de Vida e sobretudo pela Filosofia. Aos professores da UNESP Antenor Zanardo, Eberhard Wernick, Marcos Aurélio, Margarita Moreno e Tamar Galembeck pela prontidão para as discussões técnicas nas inúmeras vezes em que foram solicitados. Aos Profs. Peter C. Hackspacher e Luiz Simões e aos colegas de pós, Harrizon Lima de Almeida e Walter T. Oliveira Jr. pelo apoio com os métodos de análise textural em platina universal e raios X, e pelas discussões sobre a interpretação dos dados obtidos. Também ao Samuel Nunes Ferreira pela colaboração com a bibliografia sobre a maravilhosa geologia da região de Candeias, MG. Aos técnicos da UNESP Adilson José Rossini e Nelson Pereira Lunardi Jr. pela indispensável contribuição para o preparo de corpos-de-prova e lâminas delgadas, respectivamente, indispensáveis ao desenvolvimento do trabalho. A galera da PTS pelo convívio e pela amizade que perdura após os “anos de trovão”. Ao Prof. Dr. Siegfried Siegesmund (Georg-August-Universität, Alemanha), cujo contato ocorreu graças ao Prof. Peter, pelos artigos fornecidos e pela decisiva influência na linha de pesquisa desenvolvida. Aos colegas do IPT, Eduardo Quitete, Mirian Cruxen, Priscila M. Leal e Mariana Zuquim, pelo apoio e incentivo especialmente na fase final. Também ao Fábio Conrado pelas verificações da dilatação na “hora H”. À Heloísa Frascá pela preciosa revisão e pelos extensos diálogos sobre o comportamento das rochas quando em uso. A todas as empresas visitadas em São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Paraíba e Rio Grande do Norte que contribuíram com apoio aos trabalhos de campo e em alguns casos com a remessa de amostras para o laboratório: Betogran Mineração, Braminas, Caldas Gran, Cava Brasil, Cláudio Holanda Mineração, Da Paz, Emigran, Emon, Enagran, Fuji Granitos, Gêmeos Engenharia Ltda., Gramacap, Gramazini, Granita, Granasa/Granservice, Gutimpex, Mineração Coto, Mineração Lavra dos Verdes, Mineração Santa Clara, Moredo Granitos, Pedreira São Bento de Araraquara, Poli Granitos, Skala Granitos e Mármores, Somibrás e também à Brasvit pelo envio de amostras do Quartzito Imperial Blue. Agradeço também a Maria do Carmo Rodrigues Medeiros, a Nininha, da SUDEMA (Superintendência de Administração do Meio Ambiente) e a José Soares de Brito, da CDRM (Companhia de Desenvolvimento de Recursos Minerais da Paraíba), pelo apoio e acompanhamento nas etapas de campo na Paraíba e Rio Grande do Norte. À FAPESP pela bolsa concedida através do processo 02/03363-2. Talvez o grande mistério que nos faz executar obras dispendiosas como teses seja o prazer de chegar ao final e pensar que se começasse novamente faria tudo de novo e melhor... i SUMÁRIO Índice ……………………………….……………………….…………….…………… ii Índice de Figuras ………………………………………………………………………. iv Índice de Tabelas …………………………………………………………………….… viii Resumo ………………………………………………………………………………… x Abstract ………………………………………………………………………………... xi 1. Introdução ………………………………………………………….…..…………… 1 2. Métodos de Trabalho ……………………….………………….………….………… 4 3. Considerações Gerais do Setor de Rochas Ornamentais e para Revestimento .….…. 20 4. Propriedades Tecnológicas das Rochas Ornamentais …………….………………… 25 5. Materiais Estudados ………………………………………………………………… 33 6. Caracterização Petrográfica ………………………………………………………… 51 7. Microfissuramento e Alteração Mineral ………………………………………….… 96 8. Orientação Cristalográfica Preferencial ………….……………………….………… 110 9. Caracterização Tecnológica ……………………….………….………………….…. 122 10. Integração dos Dados Petrográficos e Tecnológicos ……………………………… 141 11. Conclusões e Recomendações ……………………………….…….……….……… 164 12. Referências Bibliográficas ………………………………………………………… 166 ANEXOS I e II ii ÍNDICE 1. Introdução ………………………………………………………….…..…………… 1 1.1. Apresentação do Tema ………………………………………………………… 1 1.2. Objetivos ………………………………………………………………………. 3 2. Métodos de Trabalho ……………………….………………….………….………… 4 2.1. Revisão Bibliográfica …………………….…….…………..……………..…… 4 2.2. Seleção e Coleta de amostras ………….………..…….…….……………….… 5 2.3. Sistema de Referência para Anisotropia …………………..…….……….….… 5 2.4. Caracterização Petrográfica ………………………………………….………… 6 2.4.1. Quantificação do Microfissuramento e da Área Alterada …………….… 8 2.5. Orientação Cristalográfica Preferencial …………………….………….……… 9 2.6. Ensaios Tecnológicos …….…………….………..….…………………………. 12 2.6.1. Rotina para Obtenção dos Dados Petrográficos e Tecnológicos ….….…. 13 2.6.2. Determinação dos Índices Físicos e da Velocidade de Ondas Ultra- sônicas Longitudinais …………………………………………………….……. 13 2.6.3. Coeficiente de Dilatação Térmica Linear ………………………….……. 16 2.6.4. Resistência à Compressão Uniaxial ………………….…………….…… 18 2.7. Tratamento dos Dados …………….……………....…………………………… 19 3. Considerações Gerais do Setor de Rochas Ornamentais e para Revestimento .….…. 20 4. Revisão Conceitual …………………………………………………….……………. 25 5. Materiais Estudados ………………………………………………………………… 33 5.1. Rochas Selecionadas ………………………………………………….….….… 33 5.2. Localização e Contexto Geológico das Rochas Selecionadas ………………… 35 5.2.1. Rochas do Estado de São Paulo ………………………………………… 35 5.2.2. Rochas do Estado de Minas Gerais …………………….…….…………. 40 5.2.3. Rochas do Estado do Espírito Santo ……..…………….…….…………. 45 5.2.4. Rocha do Estado da Bahia ….…….……...……………………………… 47 5.2.5. Rocha do Estado da Paraíba …………………….……………………… 48 iii 6. Caracterização Petrográfica ………………………………………………………… 51 6.1. Rochas Carbonáticas …………………………………….………….……….… 53 6.2. Rochas Quartzosas ………………….…….…..…….…………………………. 55 6.3. Rochas Feldspáticas …………………………………………………………… 60 6.4. Rochas Quartzo-Feldspáticas ………………………….………………………. 69 7. Microfissuramento e Alteração Mineral ………………………………………….… 96 8. Orientação Cristalográfica Preferencial ………….……………………….………… 110 8.1. Rochas Carbonáticas …………………………………….………….……….… 110 8.2. Rochas Quartzosas ………………….…….…..…….…………………………. 110 8.3. Rochas Feldspáticas …………………………………………………………… 114 8.4. Rochas Quartzo-Feldspáticas ………………………….………………………. 114 9. Caracterização Tecnológica ……………………….………….………………….…. 122 9.1. Coeficiente de Dilatação Térmica Linear ….….….…………………………… 122 9.2. Resistência à Compressão Uniaxial …………………………………………… 130 10. Integração dos Dados Petrográficos e Tecnológicos ……………………………… 141 10.1. Anisotropia do Coeficiente de Dilatação Térmica Linear ….….….…….……. 142 10.2. Anisotropia da Resistência à Compressão Uniaxial …………….……….…… 152 10.3. Comentários Adicionais ……………………………………………………… 161 11. Conclusões e Recomendações …………………………………………………… 164 12. Referências Bibliográficas ………………………………………………………… 166 ANEXO I: Dados de Dilatação Térmica, Índices Físicos e Velocidade de Ondas Ultra-sônicas Longitudinais ANEXO II: Dados de Resistência à Compressão Uniaxial, Índices Físicos e Velocidade de Ondas Ultra-sônicas Longitudinais iv ÍNDICE DE FIGURAS Figura 2.1: Sistema de coordenadas xyz. A) referência aos elementos de anisotropia macroscopicamente visíveis foliação e lineação mineral e B) correspondência com a denominação informal ………………………………………………………………… 6 Figura 2.2: Tipos de contatos minerais considerados para avaliação qualitativa ….….. 7 Figura 2.3: Seqüência da quantificação do microfissuramento e da porcentagem de área alterada com o programa computacional Leica Q500Win©, utilizado neste trabalho ………………………………………………………………………………… 10 Figura 2.4: Microscópio Leinz equipado com platina universal utilizado para medida da orientação cristalográfica preferencial das rochas estudadas. A) vista geral B) detalhe …………………………………………………………………………………. 11 Figura 2.5: Orientação ótica de cristais de feldspatos potássicos e plagioclásios .….…. 12 Figura 2.6: Fluxograma dos ensaios realizados …………………………….……….… 14 Figura 4.1: Relação entre eixos óticos (na, nß, n?) e cristalográficos (a, b e c) e Vp calculada (?) para quartzo (A), plagioclásio (B), hornblenda (C), moscovita e biotita (D) 28 Figura 4.2: Relação entre eixos óticos (na, nß, n?) e cristalográficos (a, b, c) e condutividade térmica calculada (?) para quartzo (A), plagioclásio (B) e moscovita (C) . 28 Figura 4.3: Esquema dos principais tipos de defeitos planares em agregados cristalinos naturais ………………………………………………………………….……….…….… 30 Figura 4.4: Projeção estereográfica (diagrama de igual área) de eixos c de grãos de quartzo e sua relação com a foliação (S) e lineação (L) ……………………….……… 31 Figura 5.1: Principais unidades litoestruturais do embasamento cristalino e centros de mineração de rochas ornamentais do Estado de São Paulo (ARTUR et al., 2004), com localização das amostras coletadas …………………………………………………… 36 Figura 5.2: Aspectos gerais da lavra das rochas Azul Fantástico (A), Preto Piracaia (B), Vermelho Bragança (C), Preto Apiaí (D), Vermelho Capão Bonito (E), Rosa Itupeva (F) e Arenito Silicificado (G) ………….……………………………………… 37 Figura 5.3: Esboço do contexto geológico das amostras coletadas nos Centros Produtores de Rochas Ornamentais Ouro Preto, Candeias e Caldas do Estado de Minas Gerais (modificado de COMIG, 1999) ………………………………………… 41 Figura 5.4: Aspectos gerais das lavras dos tipos Quartzito Ouro Preto (A), Verde Camacho (B), Verde Candeias (C), Verde Maritaca (D), Jacarandá Rosado (E), Marrom Café Imperial (F) e Marrom Caldas (G) …………………………….………. 44 Figura 5.5: Esboço geológico do Estado do Espírito Santo (modificado de IPT, 1993) com a localização aproximada das amostras coletadas …………….………….…….… 46 Figura 5.6: Lavras dos mármores Cintilante Mesclado e Extra (A) e do granito Preto São Gabriel (B) ………………………………………………….………. 46 Figura 5.7: Contexto geológico da amostra Imperial Blue. (Mapa geológico de parte da Serra do Espinhaço setentrional, Bahia. (Modificado de Schobbenhaus, 1996) ……… 47 Figura 5.8: Lavra do quartzito Imperial Blue em Oliveira dos Brejinhos, BA ………………… 48 Figura 5.9: Contexto geológico da amostra Azul Sucuru (modificado de CPRM, 2000) ……… 49 v Figura 5.10: Aspecto geral da jazida do granito Azul Sucuru ………………………………… 50 Figura 6.1: Agrupamento das rochas selecionadas com base em critérios mineralógicos e genéticos, e atributos estruturais e texturais ………………………… 51 Figura 6.2: Classificação das rochas feldspáticas e quartzo-feldspáticas estudadas no diagrama QAP ………………………………………………………………………… 52 Figura 6.3: Aspectos macro e microscópico (polarizadores paralelos) dos mármores Cintilante Mesclado (CM) e Extra (EX) ……………………………………………… 54 Figura 6.4: Aspectos macroscópico e microscópico com polarizadores cruzados das rochas Arenito Silicificado, Imperial Blue e Quartzito Ouro Preto …………………… 57 Figura 6.5: Aspectos macroscópico e microscópico com polarizadores cruzados das rochas Marrom Café Imperial (MCF), Marrom Caldas (MCD), Preto Apiaí (PA) e Preto Piracaia (PP) …………………………………………………………………………… 63 Figura 6.6: Aspectos macroscópico e microscópico com polarizadores cruzados das rochas Azul Fantástico (AF), Azul Sucuru (AZS), Jacarandá Rosado (JR) e Kashimir (KA) .……………………………………………………………………….…….……. 71 Figura 6.7: Aspectos macroscópico e microscópico com polarizadores cruzados das rochas das rochas Preto São Gabriel (PSG), Rosa Itupeva (RI), Verde Camacho (VCM) e Verde Candeias (VCD) ………………………………..….………….……… 73 Figura 6.8: Aspectos macroscópico e microscópico com polarizadores cruzados das rochas das rochas Verde Maritaca (VM), Verde Veneciano (VV), Vermelho Bragança (VB) e Vermelho Capão Bonito (VCB) ………………………….………..……..……. 75 Figura 7.1: Detalhe de óxidos e hidróxidos de ferro presentes no Arenito Silicificado, à esquerda, e no quartzito Imperial Blue, à direita (Polarizadores paralelos) …………. 97 Figura 7.2: Feições de dissolução para os mármores Cintilante Mesclado, à esquerda, e Extra, à direita (Polarizadores paralelos) …………………………………………… 97 Figura 7.3: Histograma de porcentagem de área alterada para as rochas estudadas (média para três seções) ……………………………………………………………… 100 Figura 7.4: Detalhe da alteração de feldspatos nas rochas Marrom Caldas (A), Marrom Café Imperial (B), Azul Sucuru, (C), Kashimir (D); Rosa Itupeva (E), Vermelho Bragança Paulista (F), Vermelho Capão Bonito (G) e Verde Candeias (H). A, B e C com polarizadores paralelos; D, E, F, G e H com polarizadores cruzados.…. 101 Figura 7.5: Intensidade de microfissuras (barras) e comprimento médio de microfissuras (linha) das rochas estudadas. (média de três seções delgadas) …………. 102 Figura 7.6: Correlação entre o coeficiente de variação do comprimento (CVc) e o comprimento médio de microfissuras (Mc) para as rochas estudadas ………………… 102 Figura 7.7: Relação entre porcentagem de área alterada (Aw) e coeficiente de variação do comprimento médio de microfissuras (CVc) para as rochas estudadas .…. 104 Figura 7.8: Relação entre comprimento médio de microfissuras (Mc) e intensidade de microfissuras (Mi) para as rochas estudadas. A dimensão das esferas representa a área alterada (valor em porcentagem) ……………………………………………………… 105 Figura 7.9: Gráfico de regressão linear para dados de porcentagem mineral e intensidade de microfissuras (Mi). (As rochas carbonáticas não foram consideras) … 106 Figura 7.10: Gráfico de regressão linear para dados de porcentagem mineral e porcentagem de área alterada (Aw). (As rochas carbonáticas não foram consideras) … 106 vi Figura 7.11: Blocos-diagramas da distribuição espacial relativa ao sistema xyz das principais famílias de microfissuras para as rochas carbonáticas, quartzosas e feldspáticas estudadas. ………………………………………………………………… 108 Figura 7.12: Blocos-diagramas da distribuição espacial relativa ao sistema xyz das principais famílias de microfissuras das rochas quartzo-feldspáticas estudadas ……… 109 Figura 8.1: Diagramas de pólo de eixos c de dolomita para os mármores Cintilante Mesclado (coluna A) e Extra (coluna B). Diagrama de igual-área, projeção no hemisfério inferior ………………………………………………………….…….….… 111 Figura 8.2: Fotomicrografia do quartzito IB evidenciando o acamamento sedimentar (bandamento textural - S0) e a foliação metamórfica S1 ………………………………. 112 Figura 8.3: Diagramas de pólo de eixos c de quartzo para as rochas quartzosas estudadas Imperial Blue (coluna A) e Quartzito Ouro Preto (coluna B). Diagrama de igual-área, projeção no hemisfério inferior ……………………………………………. 113 Figura 8.4: Esquema geral da orientação cristalográfica preferencial (OCP) do feldspato potássico para as rochas feldspáticas Marrom Café Imperial (linha A) e Marrom Caldas (linha B) ……………………………………………………………… 115 Figura 8.5: Esquema geral da orientação cristalográfica preferencial (OCP) plagioclásio para as rochas feldspáticas Preto Apiaí (linha A) e Preto Piracaia (linha B) …………… 116 Figura 8.6: Diagramas de pólo de eixos c de quartzo para as rochas quartzo- feldspáticas Azul Fantástico (linha A), Azul Sucuru (linha B) e Jacarandá Rosado (linha C). Diagrama de igual-área, projeção no hemisfério inferior ….….……….…… 117 Figura 8.7: Diagramas de pólo de eixos c de quartzo para as rochas quartzo- feldspáticas Kashimir (linha A), Preto São Gabriel (linha B) e Rosa Itupeva (linha C). Diagrama de igual-área, projeção no hemisfério inferior ……………………………….. 118 Figura 8.8: Diagramas de pólo de eixos c de quartzo para as rochas quartzo- feldspáticas Vermelho Bragança (linha A), Vermelho Capão Bonito (linha B) e Verde Camacho (linha C). Diagrama de igual-área, projeção no hemisfério inferior ….….…. 119 Figura 8.9: Diagramas de pólo de eixos c de quartzo para as rochas quartzo- feldspáticas Verde Candeias (linha A), Verde Maritaca (linha B) e Verde Veneciano (linha C). Diagrama de igual-área, projeção no hemisfério inferior ….…….…….…… 120 Figura 8.10: Superfície serrada do granito Rosa Itupeva (RI) após ensaio de coloração seletiva de feldspatos. A linha azul marca o sentido geral da foliação de fluxo e as linhas vermelhas marcam a orientação do eixo c do feldspato potássico. Notar o quartzo em posição intersticial ………………………………………………………… 121 Figura 9.1: Valores de coeficiente de dilatação térmica linear (ß) máximo, médio e mínimo para os grupos litológicos estudados …………………………………………. 125 Figura 9.2: Média (ß – barras) e anisotropia do coeficiente de dilatação térmica linear (Aß - linha) para as rochas estudadas …………………………………………………. 125 Figura 9.3: Histograma dos coeficientes de dilatação térmica lineares (ß) obtidos. Valores médios entre parênteses e anisotropia entre colchetes. Siglas conforme Tabela 5.1 ……… 126 Figura 9.4: Correlação entre coeficiente de dilatação térmica linear (ß) e porosidade aparente (?) para cada grupo de rochas estudado …………………….……….…….… 127 Figura 9.5: Correlação entre os valores médios de coeficiente de dilatação térmica linear (ß) e porosidade aparente (?) para as rochas estudadas (exceto amostra AS) .…. 128 vii Figura 9.6: Correlação entre coeficiente de dilatação térmica linear (ß) e velocidade de propagação de ondas ultra-sônicas longitudinais (Vp) obtidos nos corpos-de-prova nas condições seca e saturada em água, antes do ensaio de dilatação …………….…. 128 Figura 9.7: Gráfico mostrando a variação da velocidade de ondas longitudinais (Vp) durante o ensaio de dilatação térmica para os grupos estudados (parte superior) e esquema geral do comportamento observado ……………………………………….… 129 Figura 9.8: Valores médios de tensão à compressão (s ) em estado seco e saturado e de velocidade de ondas ultra-sônicas (Vp) e para os grupos estudados ……………….…. 134 Figura 9.9: Correlação entre tensão à compressão uniaxial (s ) e velocidade de ondas ultra-sônicas longitudinais (Vp) para amostras na condição seca e saturada .………… 135 Figura 9.10: Correlação entre velocidade de ondas ultra-sônicas longitudinais (Vp) e porosidade (?) ……………………………………………………………………….….… 135 Figura 9.11: Correlação entre velocidade de ondas longitudinais (Vp) e resistência à compressão uniaxial (s ) nas condições seca e saturada para cada grupo de rocha estudado ……………………………………………………………….……….………. 136 Figura 9.12: Anisotropia da resistência à compressão uniaxial (As ) para corpos-de- prova na condição seca (coluna cheia) e saturada em água (coluna com hachura) …… 139 Figura 9.13: Anisotropia da velocidade de ondas ultra-sônicas (AVp) para corpos-de- prova na condição seca (coluna cheia) e saturada em água (coluna com hachura) …… 139 Figura 9.14: Correlação entre os coeficientes de enfraquecimento da tensão pela água (Ks ) e de incremento do Vp (KVp) …………………………………….……….……… 140 Figura 10.1: Gráfico de análise discriminante para as rochas estudadas, considerando as variáveis dilatação térmica, Vp e porosidade ……………………………………… 143 Figura 10.2: Regressão linear entre coeficiente de dilatação térmica (ß) e porcentagens de quartzo e feldspato. (valores médios as rochas silicáticas estudadas) .. 144 Figura 10.3: Regressão linear entre coeficiente de dilatação térmica (ß) e somatória das porcentagens de quartzo e biotita (? QzBt) e somatória das porcentagens de feldspato potássico e plagioclásio (? FKPl), considerando todas rochas silicáticas .…. 144 Figura 10.4:Regressão linear entre coeficiente de dilatação térmica (ß), intensidade de microfissuras (Mi) e comprimento médio de microfissuras (Mc). (valores médios para cada rocha estudada) ………………………………………………….……….…….… 145 Figura 10.5: Regressão linear entre coeficiente de dilatação térmica (ß) e porcentagem de área alterada (Aw). (valores médios para cada rocha estudada) …………………… 145 Figura 10.6: Sistema de microfissuras (setas vermelhas) observável no plano xz dos dolomita mármores Cintilante Mesclado - CM (esquerda) e Extra - EX (direita). (Polarizadores paralelos) ……………………………………………………… 146 Figura 10.7: Regressão linear entre anisotropia do coeficiente de dilatação térmica (Aß) e intensidade de microfissuras (Mi) para todas as rochas silicáticas (à esquerda) e para as rochas quartzo-feldspáticas (à direita) ……………………………………… 146 Figura 10.8: Regressão linear entre anisotropia do coeficiente de dilatação térmica (Aß) e intensidade de microfissuras (Mi) para as rochas com predomínio de granulação fina a média-fina (acima) e média a grossa (abaixo) ……………………… 148 Figura 10.9: Evidência da descontinuidade planar pela foliação (observada no plano xz) dos quartzitos Imperial Blue - IB (esquerda) e Quartzito Ouro Preto - QOP (direita). (Polarizadores cruzados) ………………………………………….……….… 149 viii Figura 10.10: Contatos serrilhados e côncavo-convexos (esquerda) e microfissuramento em fenocristal de quartzo (direta) do granito Vermelho Bragança - VB. (Polarizadores cruzados) ………………………….…….………………………… 151 Figura 10.11: Análise discriminante para as rochas estudadas, considerando as variáveis resistência à compressão na condição seca, Vp e porosidade. A) Agrupamento por grupo litológico; B) Agrupamento por eixos de anisotropia do sistema de referência xyz; C) Agrupamento por classe de granulação; D) Agrupamento por granulação relativa ………………………….……………………… 154 Figura 10.12: Fotomicrografias (polarizadores cruzados) de algumas das rochas quartzo-feldspáticas estudadas representando o aumento da resistência à compressão em função da diminuição da granulação e do aumento do imbricamento mineral. As está em amarelo (A) …………………………………………………………………… 156 Figura 10.13: Anisotropia da resistência (em condição seca) para as rochas silicáticas de granulação fina e média-fina (acima) e granulação média a grossa (abaixo) ……… 159 Figura 10.14: Fotomicrografias em lupa petrográfica (polarizadores cruzados) mostrando a fraca orientação mineral preferencial do tipo Kashimir – KA (à esquerda) e a foliação pouco evidente do tipo Preto São Gabriel – PSG (à direita) ……..…….… 160 Figura 10.15: Fotomicrografias em lupa petrográfica (polarizadores cruzados) evidenciando a baixa orientação preferencial mineral no tipo Azul Fantástico – AF (à esquerda) e a foliação do tipo Jacarandá Rosado – JR (à direita) ……………………... 161 Figura 10.16: Representação esquemática de algumas informações petrográficas (mineralogia essencial, granulação relativa e estruturas presentes) dos grupos de rochas estudadas e das anisotropias do coeficiente de dilatação térmica linear, entre ( ), e da resistência à compressão na condição seca, entre [ ]. As siglas das amostras estão na Tabela 5.1 ………………………………….………….……………………… 163 ÍNDICE DE TABELAS Tabela 3.1: Distribuição da produção de rochas ornamentais por regiões e estados brasileiros em 2004 ………………………………………………………………….… 22 Tabela 4.1: Anisotropia à velocidade de ondas ultra-sônicas longitudinais de alguns minerais formadores de rochas ………………………………………………………… 27 Tabela 5.1: Tipos litológicos selecionados e estudados neste trabalho …………….…. 34 Tabela 6.1: Síntese de descrição petrográfica para as rochas carbonáticas analisadas ... 53 Tabela 6.2: Síntese de descrição petrográfica para as rochas quartzosas analisadas ….. 56 Tabela 6.3: Síntese de descrição petrográfica para as rochas feldspáticas analisadas … 61 Tabela 6.4A: Síntese de descrição petrográfica para as rochas quartzo-feldspáticas analisadas ……………………………………………………………………………… 70 Tabela 6.4B: Síntese de descrição petrográfica para as rochas quartzo-feldspáticas analisadas (continuação) ……………………………………………………………… 72 Tabela 6.4C: Síntese de descrição petrográfica para as rochas quartzo-feldspáticas 74 ix analisadas (continuação) ……………………………………………………………… Tabela 7.1: Parâmetros adotados para classificação do microfissuramento e da alteração mineral, com base nos valores médios obtidos para o conjunto de rochas estudadas ……………………………………………………………………………….. 96 Tabela 7.2: Síntese dos dados de microfissuramento e alteração mineral para as rochas carbonáticas, quartzosas e feldspáticas estudadas …………………………… 98 Tabela 7.3: Síntese dos dados de microfissuramento e alteração mineral para as rochas quartzo-feldspáticas estudadas ………………………………………………… 99 Tabela 9.1: Dados de velocidade de ondas longitudinais nas condições seca e saturada, antes e após o ensaio de dilatação, coeficiente de dilatação térmica linear e porosidade aparente, para as rochas carbonáticas, feldspáticas e quartzosas estudadas . 123 Tabela 9.2: Dados de velocidade de ondas longitudinais nas condições seca e saturada, antes e após o ensaio de dilatação, coeficiente de dilatação térmica linear e porosidade aparente, para as rochas quartzo-feldspáticas estudadas …………….…… 124 Tabela 9.3: Tensão à compressão uniaxial (s ), velocidade de propagação de ondas ultra-sônicas longitudinais (Vp) e porosidade aparente (?) para as rochas carbonáticas e quartzosas estudadas nas condições seca e saturada em água ………………………. 130 Tabela 9.4: Tensão à compressão uniaxial (s ), velocidade de propagação de ondas ultra-sônicas longitudinais (Vp) e porosidade aparente (?) para as rochas feldspáticas estudadas nas condições seca e saturada em água …………………………………… 131 Tabela 9.5 A: Tensão à compressão uniaxial (s ), velocidade de propagação de ondas ultra-sônicas longitudinais (Vp) e porosidade aparente (?) para as rochas quartzo- feldspáticas estudadas nas condições seca e saturada em água ……………………… 132 Tabela 9.5 B: Tensão à compressão uniaxial (s ), velocidade de propagação de ondas ultra-sônicas longitudinais (Vp) e porosidade aparente (?) para as rochas quartzo- feldspáticas estudadas nas condições seca e saturada em água. (continuação) ……… 133 Tabela 9.6: Valores médios para cada eixo das propriedades tecnológicas estudas para as rochas carbonáticas, quartzosas e feldspáticas ……………………….…….…….… 137 Tabela 9.7: Valores médios para cada eixo das propriedades tecnológicas estudas para as rochas quartzo-feldspáticas …………………………………………………………. 138 Tabela 10.1: Comparação entre classes de intensidade de microfissuramento e de alteração, médias de coeficiente de dilatação térmica, anisotropia à dilatação e granulação média para as rochas carbonáticas, quartzosas, feldspáticas e quartzo- feldspáticas …………………………………………………………………….…….… 147 Tabela 10.2: Coeficientes de correlação de Pearson (R) entre as variáveis petrográficas e a resistência à compressão uniaxial na condição seca ………………… 153 Tabela 10.3: Coeficientes de correlação de Pearson (R) entre as variáveis petrográficas e a resistência à compressão uniaxial na condição saturado …………… 155 Tabela 10.4: Comparação entre classes de intensidade de microfissuramento e de alteração, médias de tensão de compressão, anisotropia à compressão em condição seca e granulação para as rochas carbonáticas, quartzosas, feldspáticas e quartzo- feldspáticas …………………………………………………………………….………. 158 x RESUMO _______________________________________________________________ Considerando um conjunto de 21 tipos de rochas utilizadas como revestimento e subdivididas em quatro conjuntos por afinidade da composição mineral (rochas carbonáticas, quartzosas, feldspáticas e quartzo-feldspáticas) foram realizados ensaios tecnológicos para a determinação do coeficiente de dilatação térmica linear e da resistência à compressão uniaxial, bem como a anisotropia dessas propriedades. Os dados tecnológicos obtidos foram correlacionados com informações petrográficas qualitativas e quantitativas referentes à composição mineral, variações texturais e estruturais determinadas em seções ortogonais entre si a partir de um sistema de referência (xyz) baseado na foliação e lineação macroscopicamente visíveis. A análise integrada dos dados utilizando estatística convencional e multivariada procurou apontar as variáveis petrográficas mais relevantes para as duas propriedades tecnológicas enfocadas e suas respectivas anisotropias. A dilatação térmica e sua anisotropia são influenciadas principalmente pela composição mineral e pela orientação preferencial dos minerais embora as microfissuras desempenhem papel importante em alguns casos. A tensão de compressão mostra sua variabilidade e anisotropia influenciadas pela granulação média, tipos de contatos minerais predominantes e padrões de microfissuras mais ou menos definidos por influência da foliação presente. Constatou-se que no conjunto analisado a presença da foliação não implica necessariamente em anisotropia das duas propriedades estudadas. Palavras-Chave: 1. Análise Petrográfica. 2. Rochas para revestimento. 3. Compressão uniaxial. 4. Dilatação térmica. 5. Anisotropia xi ABSTRACT _______________________________________________________________ Title: Influence of Petrography to Linear Thermal Expansion and Compressive Strength Anisotropies for Dimesnion Stones. The anisotropy of thermal expansion coefficient and compressive tensile strength were determined for 21 commercially used stones gathered in four set according the main mineral composition named carbonatic, quartz-rich, feldspar-rich and quartz-feldspar-rich rocks. Using a coordinate reference system (xyz) based on the macroscopic visible foliation and lineation the samples were submitted to normalized laboratorial analyses for determination of the both technological properties and the petrographical features such as mineral composition, texture and fabric. Additionally was carried out measurements of weathered area and microcrack quantification by image analysis and texture quantification by U-stage methods. In order to understand the relationship between the anisotropy measured and petrographical data it was applied traditional and multivariate statistical analysis. The results pointed to the great significance of mineral composition and the crystallographic preferred orientation for thermal expansion and respective anisotropy, especially to monomineralic and/or foliated rocks, in spite of some cases microcracks play this role. The compressive strength is mainly controlled by a complex interaction between grain size distribution, grain boundary and microcrack patterns related or not to foliation. Key-Words: 1. Petrographic analysis. 2. Dimension Stones. 3. Uniaxial Compressive Strength. 4. Thermal Expansion. 5. Anisotropy 1 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO ________________________________________________________________ 1.1. Apresentação do Tema O grande fator motivador do estudo das propriedades tecnológicas de rochas para revestimento é, sem dúvida, o significado que representam para a aplicação do material em obras de engenharia e do valor comercial embutido nesse contexto, além de constituir em tema técnico e científico. De qualquer forma, seguindo o princípio de conhecer o material pétreo para utilizá-lo, é necessário determinar suas propriedades tecnológicas e relacioná-las com as propriedades petrofísicas definidas pelo trinômio composição, textura e estrutura, presentes em qualquer rocha independentemente de sua origem. A aplicação de rochas com função de revestimentos de obras civis tem mostrado expressivo crescimento nos últimos anos, em parte resultado do surgimento de novos materiais e novas tecnologias que permitiram ganho considerável de produtividade e qualidade, com conseqüente queda do preço. Esse incremento, mais perceptível ao longo da década de 90, proporcionou condições favoráveis para o surgimento de novas tendências arquitetônicas que valorizaram e priorizaram o uso da pedra para revestimento de obras civis, por ser uma opção de acabamento que além de proteger a fachada, agrega estilo e nobreza à edificação com padrões estéticos exclusivos na maioria dos casos. A oferta e a demanda por materiais rochosos para revestimentos fizeram surgir no mercado uma variada gama de novos produtos que hoje, somente no Brasil, somam aproximadamente 600 tipos comerciais, provenientes de cerca de 1.500 jazidas (CHIODI FILHO, 2005), abrangendo tipos petrográficos como granitos, mármores, quartzitos, ardósias, basaltos, serpentinitos, conglomerados, calcários, arenitos e outros. Apenas em 2004 surgiram no mercado brasileiro cerca de 100 novos tipos de rochas, com destaque especial para rochas pegmatóides e cálcio-silicáticas, devido ao aspecto exótico que apresentam (DNPM, 2005). 2 As aplicações são diversas, abrangendo estatuária, arte funerária, peças especiais (balcões, fontes, colunas, entre outros) sendo em sua maioria utilizado no revestimento de fachadas, paredes e pisos de interiores e exteriores de edificações. O acabamento polido é tradicional e preferencialmente utilizado, mas os tipos levigado1, flameado2 e apicoado3 têm sido mais freqüentes nos projetos arquitetônicos que se valem da característica antiderrapante desses últimos para aplicações em exteriores, tanto em pisos quanto fachadas. A durabilidade de uma rocha depende de uma complexa interação entre suas propriedades intrínsecas, englobadas pela composição mineral, textura e estrutura, e os agentes extrínsecos que correspondem a todos agentes solicitantes dos processos de lavra, beneficiamento, acabamento e instalação. Depois de instaladas outros fatores extrínsecos atuam sobre as rochas, tais como variações sazonais e diárias da umidade e temperatura, agentes químicos provenientes de produtos de limpeza e/ou atmosferas agressivas (básicas, ácidas ou salinas), além de esforços mecânicos e atrito (FRASCÁ, 2004). Considere-se ainda, conforme muito bem salientado por Aires-Barros (1991), que as propriedades intrínsecas das rochas devem-se a combinações específicas de pressão e temperatura características do ambiente de geração de cada tipo de rocha (magmática, sedimentar ou metamórfica) e que resultam em múltiplos arranjos mineralógicos, texturais e estruturais que definem as rochas. Desde sua gênese, as rochas estão sujeitas a esforços e mudanças de caráter químico durante os processos de exumação e intemperismo, conforme os agentes físicos e químicos de cada ambiente. A sucessão de eventos e sobreposição de processos resulta em materiais que podem ter características físicas e mecânicas muito variadas, que consequentemente apresentam comportamentos diferentes perante as solicitações das etapas de lavra, beneficiamento e aplicação, utilização e manutenção. Define-se então um cenário paradoxal quanto ao uso e aplicação de rochas, onde por um lado a oferta de tecnologia de processos existentes contribui para o aumento da demanda do uso da rocha (especialmente em revestimentos) e por outro o risco de aplicações errôneas devido ao desconhecimento das interações entre características petrográficas, propriedades tecnológicas e ambientes de aplicação. Assim, fica patente a necessidade de compreender tais relações por meio de trabalhos que considerem a influência das variáveis composicionais, texturais e estruturais das rochas frente às solicitações que podem ser submetidas, visando à aplicação correta da rocha e valorizando-a como elemento de acabamento. 1 superfície plana como a polida, mas ainda áspera e sem brilho (etapa anterior ao polimento). 2 superfície irregular produzida por choque térmico com uso conjunto de um jato de chama e água. 3 superfície irregular, rústica, produzida com ponteira de aço golpeada com martelo manual ou automático. 3 Este trabalho traz uma contribuição ao tema, procurando quantificar a anisotropia de um conjunto selecionado de rochas para revestimento quanto às propriedades tecnológicas tensão de compressão e dilatação térmica, relacionando na medida do possível a causa dessa anisotropia com as feições petrográficas. 1.2. Objetivos O uso de rochas como revestimento no Brasil e no Mundo tem crescido largamente nos últimos anos. De modo geral nota-se que a seleção, instalação e manutenção de rochas seguem práticas pouco ou nada regulamentadas, baseadas mais no empirismo do que em aspectos técnicos. Como conseqüência há grande incidência de casos de deterioração de rochas (eflorescência, quebras, alterações minerais, desagregação, escarificação, mudanças de cor, esfoliação etc.) observados em obras nos mais diferentes contextos ambientais. A aplicação de rochas de forma inadequada pode causar sérios prejuízos econômicos, estéticos e, na hipótese mais grave, de segurança, como no caso de queda de placas de fachadas. A caracterização tecnológica de rochas deve ser adotada como premissa para a seleção e utilização de rochas em obras civis. Visando atender a quesitos mínimos de durabilidade que uma obra exige, essas informações devem ser integradas e interpretadas à luz das características petrográficas (mineralogia, textura e estrutura). Algumas das propriedades tecnológicas de um mesmo tipo rochoso podem variar de forma significativa por diferentes motivos, dentre os quais o estado de alteração, variações texturais e a presença de estruturas. A caracterização tecnológica, quando conduzida de forma adequada, possibilita avaliar as variações das propriedades tecnológicas aumentando o nível de informação para a execução de projetos e minimizando o risco de aplicação indevida e inadequada do material. Nesse sentido o presente trabalho apresenta um extenso conjunto de dados de caracterização tecnológica e petrográfica de rochas selecionadas com o objetivo de: • Verificar a variação (anisotropia) das propriedades relativas à tensão de compressão uniaxial e à dilatação térmica de um conjunto amplo de rochas que representam materiais utilizados no mercado nacional e internacional como elemento de revestimento; • Estudar a influência das características petrográficas no tocante à mineralogia, textura e estrutura sobre a anisotropia dessas propriedades. 4 CAPÍTULO 2 MÉTODOS DE TRABALHO ________________________________________________________________ Para alcançar os objetivos pretendidos neste trabalho foram desenvolvidas diversas etapas de trabalho focadas na aquisição de dados tecnológicos e petrográficos utilizando métodos normalizados pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e procedimentos internos do Grupo de Rochas Ornamentais do Departamento de Petrologia e Metalogenia (DPM) da Universidade Estadual Paulista, Campus Rio Claro, SP (UNESP). A anisotropia das propriedades estudadas foi calculada tendo-se em vista no mínimo três determinações para cada ensaio considerado. As informações assim coligidas foram organizadas e analisadas utilizando-se métodos estatísticos, cujos resultados foram interpretados e discutidos à luz dos diversos dados petrográficos analisados. 2.1. Revisão Bibliográfica Durante o período de desenvolvimento deste trabalho foram sistematicamente reunidos, lidos e consultados livros e artigos de periódicos nacionais e internacionais sobre as ocorrências geológicas estudadas, dados de mercado, aspectos conceituais referentes à caracterização petrográfica e textural e seus respectivos métodos de quantificação, bem como os métodos de ensaios tecnológicos utilizados. A revisão de trabalhos sobre a anisotropia de propriedades em minerais e rochas, bem como os métodos de investigação utilizados foi realizada pela consulta de diversos artigos de periódicos e publicações especiais. O resultado é apresentado em síntese numa revisão comentado no Capítulo 4. 5 2.2. Seleção e Coleta de Amostras Em acordo com os objetivos propostos foram selecionados 21 tipos de rochas, que compreenderam ampla gama de composições minerais, texturas e estruturas. Todos os tipos selecionados são usualmente aplicados como material para revestimentos e correspondem a materiais comercializados no mercado nacional e, principalmente, internacional. A coleta de amostras ocorreu em trabalhos de campo que compreenderam visitas técnicas a empresas produtoras e suas respectivas frentes de lavra para observação do processo produtivo, sempre acompanhadas de funcionário das empresas que forneceram informações a respeito do processo de lavra e das variações estéticas comercializadas. A representatividade dos materiais selecionados levou em conta o padrão estético de maior aceitação no mercado e o volume de amostras coletadas foi no mínimo de dois blocos cúbicos com 30 cm de aresta. Excepcionalmente alguns materiais foram enviados por empresas colaboradoras. 2.3. Sistema de Referência para Anisotropia Para controle da anisotropia das características petrográficas e das propriedades físicas e mecânicas estudadas, adotou-se um sistema de coordenadas xyz, definido a partir da identificação da foliação e da lineação mineral macroscopicamente visíveis (Figura 2.1A). A presença de estruturas tais como acamamento sedimentar e bandamento textural ou composicional é assumida como equivalente ao plano de foliação no sistema considerado. Nas situações em que a rocha não exibia foliação nítida, a aplicação do sistema de referência xyz foi realizada utilizando-se critérios informais de nomenclatura tradicionalmente usados nas minas de rochas ornamentais. A orientação para o desmonte de rochas em minas é direcionada a partir do reconhecimento de três planos designados como corrida, segundo e trincante, geralmente correspondentes ao sistema de fraturamento do maciço. No jargão mineiro entende-se como “corrida” o plano que oferece menor resistência ao uso de cunhas, ou seja, o plano em que a rocha se parte mais facilmente por acionamento mecânico. O plano do “trincante” refere-se àquele que oferece a maior resistência ao acionamento mecânico, enquanto o plano do “segundo” oferece resistência intermediária aos demais. Os termos corrida, segundo e trincante correspondem, respectivamente, aos termos rift plane, grain plane e hardway plane, 6 utilizados por Prikryl (2001). A Figura 2.1B representa a equivalência entre as duas classificações adotadas. Figura 2.1: Sistema de coordenadas xyz. A) referência aos elementos de anisotropia macroscopicamente visíveis foliação e lineação mineral (modificado de STROHMEYER; SIEGESMUND, 2002), e B) correspondência com a denominação informal usada em minas. A utilização desse sistema de referência é de fundamental importância para o desenvolvimento dos trabalhos, visto que os corpos-de-prova obtidos para os ensaios tecnológicos obedeceram ao mesmo critério, permitindo assim a análise detalhada das propriedades tecnológicas em função das direções de anisotropia assumidas nesse sistema. 2.4. Caracterização Petrográfica Considerou a descrição petrográfica convencional, abordando descritivamente as feições composicionais, texturais e estruturais das rochas analisadas, conforme preconiza a norma NBR 12768 (ABNT, 1992a) adicionado das recomendações de Rodrigues et al. (1996, 1997) e Navarro (1998). O levantamento das informações petrográficas foi realizado qualitativamente e, sempre que possível, quantitativamente. Para cada rocha estudada foram obtidas pelo menos três seções delgadas, com área de 2,5 cm x 4,0 cm e espessura de 0,3 µm, ortogonais a cada um dos eixos do sistema de coordenadas xyz adotado. 7 Utilizou-se um microscópio ótico binocular de luz transmitida da marca Olimpus® para as descrições petrográficas, e com um contador digital (marca Swift®) acoplado a esse microscópio, realizou-se a quantificação da mineralogia em pelo menos 700 pontos por seção. A classificação das rochas magmáticas seguiu os critérios de Le Maitre (1989), das metamórficas de Winkler (1976) e da sedimentar, Pettijhon (1975). As principais feições petrográficas consideradas foram: • grau de alteração: foram descritos os minerais mais afetados, os minerais secundários formados e a distribuição dos produtos de alterações sobre os cristais afetados. As áreas afetadas por alteração dos feldspatos e das micas foram quantificadas utilizando-se a técnica de análise de imagens; • tamanho dos cristais: as dimensões médias dos cristais, em milímetros, foram avaliadas no microscópio ótico de luz transmitida, atribuindo-se as classes fina (< 1,0 mm), média- fina (entre 1,0 mm e 3,0 mm), média (entre 3,0 mm e 7,0 mm), média-grossa (entre 7,0 mm e 10,0 mm) e grossa (> 10,0 mm); • relações de contato entre grãos minerais: foram considerados qualitativamente três tipos básicos: contatos plano, côncavo-convexo e serrilhado (Figura 2.2; Figura 2.2: Tipos de contatos minerais considerados para avaliação qualitativa (baseado em CASTRO DORADO, 1988 e HIBBARD, 1995). • microfissuras: foram identificadas ao microscópio petrográfico e quantificadas por sistema de análise de imagens (número médio por unidade de área e comprimento médio dos planos). Adicionalmente, utilizando-se platina universal, foi avaliada a orientação preferencial dos principais sistemas de microfissuras da rocha, visando compreender a 8 distribuição espacial destes, com base nas considerações de Vollbrecht; Weber (1994), Passchier; Trouw (1996). Os dados obtidos foram dispostos em estereogramas; • elementos microestruturais: foram descritos os principais elementos microestruturais presentes nos minerais essenciais das rochas analisadas, tais como extinção ondulante, lamelas de deformação, recristalização e outros, conforme revisão constante do Capítulo 4. 2.4.1. Quantificação do Microfissuramento e da Área Alterada Tradicionalmente, o microfissuramento e a alteração mineral são considerados apenas qualitativamente, figurando em descrições petrográficas adjetivados por termos tais como incipiente, moderado e intenso, atribuídos de forma subjetiva e baseado essencialmente na experiência do profissional que descreve a rocha. A dificuldade de quantificação desses parâmetros está ligada principalmente à subjetividade dos critérios adotados e à morosidade dos métodos disponíveis. Dada a importância dessas variáveis para o estudo e compreensão dos dados tecnológicos aqui considerados, houve especial atenção na quantificação desses parâmetros, tarefa desempenhada com auxílio de técnicas de análise de imagens, conforme descrito por Navarro et al. (2004; 2005). A aplicação de sistemas de análise de imagens para a quantificação de características composicionais, texturais e microestruturais é cada vez mais utilizada em Geologia e diversos autores apresentaram diferentes métodos para diferentes aplicações (HEILBRONNER; PAULI, 1994; LLOYD, 1994; PASSCHIER; TROUW, 1996; HEILBRONNER, 2000; HERWEGH, 2000; PRIKRYL, 2001; ADRIANI; WALSH, 2002; ÅKESSON, 2003). No caso do estudo das rochas ornamentais esse tipo de técnica tem sido usado para avaliação de cores em placas polidas (MOTOKI et al. 2000, 2003, 2005; MOTOKI; ZUCCO, 2005) e de texturas (TORQUATO-BESSA, 2004; 2005; CAMPELLO et al. 2005), mas ainda é pouco desenvolvido e utilizado, se considerado o potencial de aplicações. O sistema de análise de imagens utilizado nesta pesquisa para quantificação do microfissuramento e da área alterada, está alocado no DPM/UNESP - Rio Claro. Constitui-se de um microscópio petrográfico binocular de luz refletida e transmitida da marca Leica™ (modelo DMRX), ao qual está acoplada uma câmara de vídeo JVC™ modelo TK-C1380 com resolução 764 x 574 dpi, que captura as imagens observadas ao microscópio e as transmite para o computador, onde são processadas com o programa computacional Leica Q500Win©. 9 As imagens geralmente são gravadas em extensão .TIF ou .JPG para, em seguida, serem analisadas por meio de recursos automáticos (rotinas) ou manuais (marcação das feições com o uso do mouse), disponíveis no programa. O princípio básico de funcionamento das rotinas é a detecção automática na imagem capturada de cores predefinidas, com base nos sistemas de tons de cinza ou RGB (red, green, blue). No passo seguinte utilizam-se ferramentas (extrusão; dilatação; erosão; esqueletização; entre outros) que permitem a correção de pequenas distorções ocorridas na etapa de detecção das feições de interesse e, finalmente, a mensuração automatizada da feição marcada (área; comprimento máximo; perímetro etc.). Quando as imagens são originárias de microscópio petrográfico com polarizadores cruzados ocorre que a cor de interferência de minerais diferentes é detectada pela rotina como um mesmo mineral, distorcendo drasticamente os resultados, e tornando esse recurso ineficiente nesse caso. Dessa forma, a mensuração das características desejadas (microfissuras ou áreas alteradas) foi realizada por meio manual, ou seja, utilizando-se as ferramentas de traço disponíveis no programa e realçando as feições de interesse com o mouse, para posterior quantificação automática, conforme seqüência na Figura 2.3. Detalhes do método utilizado podem ser vistos em Navarro et al. (2005). Esse procedimento, embora algo moroso, tem como principal vantagem a diminuição da subjetividade das medidas tomadas, permitindo a quantificação de imagens com maior segurança e precisão, além da aquisição de um registro digital da imagem microscópica que pode ser trabalhado de maneira mais rápida e eficiente do que fotografias tradicionais, além de facilitar o arquivamento. O desenvolvimento do método poderá resultar em procedimentos mais precisos e rápidos, que certamente devem considerar a aquisição e detecção automáticos. 2.5. Orientação Cristalográfica Preferencial Para cada uma das seções confeccionadas foram obtidos dados de orientação cristalográfica preferencial com o auxílio de uma platina universal (Figura 2.4). Para as rochas quartzosas e quartzo-feldspáticas foram efetuadas medidas da orientação do eixo c dos cristais de quartzo, conforme procedimento descrito por autores como Kerr (1959), Wahlstrom (1960), Passchier; Trouw, (1996), e para os mármores considerou-se a dolomita, conforme procedimento descrito por Godoy et al. (1991). A quantidade de medidas efetuadas variou de 50 a 100, em função da granulação e estado de deformação dos cristais. 10 Figura 2.3: Seqüência da quantificação do microfissuramento (A) e da porcentagem de área alterada (B) com o programa computacional Leica Q500Win©, utilizado neste trabalho. 11 Figura 2.4: Microscópio Leinz equipado com platina universal utilizado para medida da orientação cristalográfica preferencial das rochas estudadas. A) vista geral B) detalhe. As rochas feldspáticas não foram avaliadas segundo este método devido à alta incidência de cristais de feldspatos com lamelas de deformação e extinção ondulante, dificultando o uso da platina universal, uma vez que eixos cristalográficos de cristais com essas características são demorados e difíceis de medir, além de gerarem dados pouco confiáveis. Dessa forma a orientação dos eixos cristalográficos dos feldspatos foi estimada combinando-se o tipo de geminação presente nesses minerais (pelas leis Carlsbad e Manebach para os feldspatos potássicos e polissintética pela lei Albita para os plagioclásios) com a determinação do sinal de elongação mineral. A posição do sinal de elongação foi determinada conforme descrito por Kerr (1959) e Fujimori; Ferreira (1979), visando à identificação dos eixos óticos. Sabe-se que nesses minerais o eixo ótico é paralelo ou aproximadamente paralelo ao eixo cristalográfico b (DEER et al., 1966), ao qual se dispõem ortogonalmente os planos de geminação {010} para os minerais mencionados (Figura 2.5). O reconhecimento do sinal ótico a partir da geminação permite inferir a posição do eixo cristalográfico b e, por dedução, a orientação do eixo cristalográfico c. Os dados obtidos para o quartzo e dolomita foram convertidos para notação Clar com auxílio de uma planilha de cálculo desenvolvida por Wanilson L. Souza no programa computacional Microsoft® Office Excel 2003© e dispostos em estereogramas de igual área (hemisfério inferior) utilizando-se o programa computacional Stereonet 3.03. Os dados obtidos para os feldspatos foram marcados em fotomicrografias digitais de seções delgadas com polarizadores cruzados (capturadas com o sistema Leica™) tratadas com programa computacional CorelDRAW(R) Graphics Suite – Versão 12.0. 12 microclínio ortoclásio oligoclásio anortita Figura 2.5: Orientação ótica de cristais de feldspatos potássicos e plagioclásios. (baseado DANA; HURLBUT, 1960; DEER et al., 1966. Ilustrações de Fábio Braz Machado). 2.6. Ensaios Tecnológicos Para avaliação da anisotropia nas rochas estudadas foram escolhidos dois ensaios tradicionalmente utilizados em rochas para revestimento: resistência à compressão uniaxial e dilatação térmica linear. Essas propriedades foram determinadas em corpos-de-prova obtidos paralelamente aos eixos do sistema de referência xyz adotado. Esse procedimento visou à obtenção de dados máximos, intermediários e mínimos para cada uma das propriedades tecnológicas analisadas, com a finalidade de calcular a anisotropia dessas propriedades e verificar a correlação com os dados petrográficos. 13 Como informações adicionais e complementares dos dados petrográficos foram determinadas a massa específica aparente, porosidade aparente, absorção d’água e velocidade de ondas ultra-sônicas longitudinais. Todos os ensaios tecnológicos foram realizados nos laboratórios do Departamento de Petrologia e Metalogenia (DPM) do Instituto de Geociências e Ciências Exatas (IGCE) da Universidade Estadual Paulista (UNESP), no Campus Rio Claro. Algumas verificações de coeficientes de dilatação térmica linear foram feitas em equipamento do Laboratório de Materiais de Construção Civil (LMCC) do Centro Tecnológico de Obras de Infra-estrutura (CT- Obras) do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT). 2.6.1. Rotina para Obtenção dos Dados Petrográficos e Tecnológicos De posse das amostras selecionadas foram obtidos dados petrográficos e tecnológicos, segundo o fluxograma de atividades da Figura 2.6. Houve o cuidado de que os dados de porosidade, absorção d’água e velocidade de propagação de ondas ultra-sônicas fossem obtidos em cada um dos corpos-de-prova utilizados nos ensaios de resistência à compressão uniaxial e dilatação térmica linear, procurando garantir melhor representação estatística dos dados. Dentre os corpos-de-prova cúbicos obtidos para os ensaios de resistência à compressão, um foi reservado para a confecção de três seções delgadas paralelas aos planos do sistema xyz (Figura 2.1). 2.6.2. Determinação dos Índices Físicos e da Velocidade de Ondas Ultra-sônicas Longitudinais Os chamados índices físicos compreendem a determinação da massa específica seca e saturada, porosidade aparente e absorção d’água conforme a norma NBR 12766 (ABNT, 1992b). Este procedimento foi efetuado em todos os corpos-de-prova submetidos aos ensaios mecânicos e de dilatação. Os corpos-de-prova foram saturados em água por três horas com o auxílio de uma bomba de vácuo, permanecendo nessa condição até completar 24 horas. Com uma balança hidrostática mediu-se a massa submersa (M sub) e a massa saturada (M sat). Em seguida os corpos-de-prova foram secados em estufa a 110 ± 5 ºC por 24 horas e novamente pesados para determinação da massa seca (M sec). 14 Figura 2.6: Fluxograma dos ensaios realizados. O cálculo dos índices físicos é feito relacionando as três medidas de massa de acordo com as fórmulas abaixo: ( ) água subsat MM M ρρ × − = sec sec ( ) água subsat sat sat MM M ρρ × − = 15 ( ) ( ) 100sec × − −= subsat sat MM MMη ( ) 100 sec sec ×−= M MM satα Onde: ρ sec = densidade aparente seca (kg/m3) ρ sat = densidade aparente saturada (kg/m3) ρ água = densidade aparente da água (= 1000 kg/m3) η = porosidade aparente (%) α = absorção de água (%) M sec = massa seca (g) M sat = massa saturada (g) M sub = massa submersa (g) Os índices físicos são características importantes, pois proporcionam noções dos vazios (fraturas e poros) presentes na rocha (FRAZÃO, 2002) e possibilitam correlacionar a diminuição da resistência mecânica com o aumento da porosidade e absorção d’água. Outro ensaio tecnológico de grande importância e frequentemente utilizado em associação com ensaios mecânicos é a determinação da velocidade de propagação de ondas ultra-sônicas longitudinais (Vp). Esse é um método indireto não destrutivo, de fácil e rápida execução que permite a avaliação de parâmetros como o grau de sanidade da rocha e o microfissuramento. Neste trabalho, sua aplicação tem a finalidade de verificar sua utilidade nas correlações com a anisotropia das demais propriedades avaliadas e com as feições texturais observadas, especialmente a orientação cristalográfica preferencial. O procedimento para mensuração da Vp baseou-se na norma D 2845 (ASTM, 1995) através da “técnica transmissão de pulso” utilizando-se transdutores cerâmicos piezoelétricos (BIRCH, 1960; SANTIN, 1996). Este ensaio foi realizado nos corpos-de-prova destinados aos ensaios de compressão e de dilatação, tanto em condição seca quanto saturada em água. O eixo de propagação da onda foi coincidente ao eixo de compressão e de dilatação assumido nos ensaios. O valor da velocidade de ultra-som é dado pela função: p p t L V = Onde: Vp = velocidade de propagação de ondas ultra-sônicas longitudinais (m/s); L = distância percorrida pelo pulso ultra-sônico (m); tp = tempo de percurso da onda longitudinal (s). 16 A anisotropia de Vp foi calculada pela expressão: 100 )( ×−= máximo mínimomáximo Vp VpVp AVp Onde: AVp = anisotropia de Vp (%) máximoVp = maior Vp determinado (m/s); mínimoVp = menor Vp determinado (m/s). Calculou-se também o coeficiente de incremento de Vp após saturação em água, pela expressão: o saturadoK secσ σ σ = Onde: VpK = coeficiente de incremento por saturação em água; saturadoVp = Vp médio para condição saturada em água (m/s); oVpsec = Vp médio para condição seca (m/s). 2.6.3. Coeficiente de Dilatação Térmica Linear A determinação do coeficiente de dilatação térmica linear baseou-se na norma NBR 12765 (ABNT, 1992c) com modificações na quantidade e dimensões dos corpos-de-prova. Foram utilizados três corpos-de-prova cilíndricos (um a mais que o preconizado), com diâmetro de 2,9 cm e altura de 9,0 cm, cada qual paralelo a um dos três eixos do sistema xyz adotado (Figura 2.1). A aquisição dos dados para cálculo do coeficiente de dilatação pode ser feita utilizando equipamento constituído por um sistema de banho ultratermostático que promove o aquecimento e resfriamento do corpo-de-prova. Em contato direto com o topo do corpo-de- prova há um transdutor capaz de medir a variação linear diferencial experimentada pela amostra durante o ensaio propriamente dito, que corresponde a dois ciclos com variação de temperatura. Primeiro a amostra é resfriada a 0ºC e após sua estabilização nessa temperatura dá-se início à etapa de aquecimento sob a taxa de 0,3ºC/min até 50ºC. Na segunda etapa deve- se aguardar a estabilização da temperatura do corpo-de-prova em 50 C, para então iniciar o resfriamento até 0ºC a uma taxa de 0,3 C/min. O cálculo da dilatação térmica linear de um 17 corpo-de-prova corresponde à média (βχ) entre os valores de βR e βA, calculados com as expressões abaixo: Ri R R TL L ∆× ∆=β Ai A A TL L ∆× ∆=β Onde: βR = coeficiente de dilatação térmica linear no resfriamento (mm/m ºC); βA = coeficiente de dilatação térmica linear no aquecimento (mm/m ºC); ∆LR = variação do comprimento do corpo-de-prova no resfriamento (mm); ∆LA = variação do comprimento do corpo-de-prova no aquecimento (mm); Li = comprimento inicial do corpo-de-prova (m); ∆TR = variação da temperatura no resfriamento (ºC); ∆TA = variação da temperatura no aquecimento (ºC) Para o caso específico deste trabalho não são considerados os valores médios entre os corpos-de-prova, como preconiza a NBR 12765, e sim apenas a média entre o aquecimento e o resfriamento de cada corpo-de-prova, resultando em três valores de dilatação para cada rocha, cada qual correspondendo a um eixo do sistema de referência. A anisotropia do coeficiente de dilatação foi calculada pela expressão: 100×−= máximo mínimomáximo )( A β ββ β Onde: βA = anisotropia do coeficiente de dilatação térmica linear (%) máximoβ = maior coeficiente de dilatação térmica linear (mm/m ºC); mínimoβ = menor coeficiente de dilatação térmica linear (mm/m ºC). A determinação deste coeficiente é de grande importância para a definição de juntas de dilatação para revestimentos de interiores e exteriores, principalmente fachadas cujos painéis serão fixados por dispositivos de ancoragem metálicos. Este ensaio é recomendável sempre que o material estiver em ambientes onde ocorrem grandes variações de temperatura (por exemplo, revestimentos de exteriores e peças decorativas expostas ao sol por longos períodos do dia, molduras de lareiras, entre outros). 18 2.6.4. Resistência à Compressão Uniaxial Para a determinação da resistência à compressão uniaxial adotou-se o procedimento descrito na norma NBR 12677 (ABNT, 1992d) com modificações. Foram obtidos quatro cubos com arestas de até 7,0 cm para cada um dos três eixos representados na Figura 2.1, totalizando 12 corpos-de-prova para cada rocha estudada. Em seguida os corpos-de-prova foram divididos em dois conjuntos (dois para cada eixo) para ensaio nas condições seca e saturada em água, e submetidos à determinação dos índices físicos e Vp. Os corpos-de-prova para ensaio em estado seco foram inicialmente saturados em água e pesados conforme descrito em 2.6.2, e depois acondicionados por 24 horas em estufa a 110ºC para secagem. Inversamente, os corpos-de-prova para ensaio na condição saturada, foram inicialmente secos em estufa e pesados, e posteriormente foram saturados em água para finalizar a determinação dos índices físicos. A Vp foi determinada nos dois conjuntos de corpos-de-prova imediatamente antes do ensaio de compressão propriamente dito. Por fim, cada corpo-de-prova foi acondicionado numa prensa hidráulica Forney modelo F502F - DFM/I (com capacidade de carga de 2.200 KN) e submetido, até a ruptura, a um esforço compressivo uniaxial com taxa de carregamento de 600 KPa/s (≅ 202,5 KN/min). A tensão de ruptura é calculada com a força obtida na compressão segundo a fórmula abaixo: A P=σ Onde: σ = tensão máxima de ruptura (MPa = N/mm2); P = força máxima de ruptura (N); A = área de aplicação da carga no corpo-de-prova (mm2); A anisotropia da tensão de compressão uniaxial foi determinada pela expressão: 100 )( ×−= máximo mínimomáximoA σ σσ σ Onde: σA = anisotropia da tensão de compressão uniaxial (%) máximoσ = maior valor de tensão de compressão uniaxial (MPa); mínimoσ = menor valor de tensão de compressão uniaxial (MPa) 19 Os dados de tensão obtidos nos estados seco e saturado em água foram utilizados para o cálculo do coeficiente de enfraquecimento pela expressão: o saturadoK secσ σ σ = Onde: σK = coeficiente de decaimento por saturação em água; saturadoσ = tensão média de compressão uniaxial na condição saturada (MPa); osecσ = tensão média de compressão uniaxial na condição seca (MPa). 2.7. Tratamento dos Dados Os dados petrográficos, texturais e tecnológicos obtidos foram tratados separadamente e em conjunto utilizando técnicas de estatística convencional e multivariada, com objetivo de reconhecer a contribuição das variáveis petrográficas estudadas nos ensaios realizados. O tratamento dos dados tecnológicos usando estatística tradicional considerou as recomendações de Landim (1998; 2000; 2003) e Lapponi (1997) e envolveu o cálculo da média, desvio padrão e coeficiente de variação, bem como a obtenção de histogramas e gráficos de dispersão de pontos, pelos programas Microsoft Office Excel® 2003 e Statistica®. Os dados de orientação cristalográfica preferencial foram dispostos em estereogramas do tipo Schmidt com projeção no hemisfério inferior (CARNEIRO et al., 1996) utilizando o programa Stereonet© 3.03. A correlação dos ensaios tecnológicos e petrográficos foi estudada por esses métodos e também por métodos de análise estatística multivariada, como análise discriminante e análise de regressão linear múltipla conforme apresentados nos trabalhos de Rao (1952), Li (1964), Davis (1986) e Landim (2000). Exemplos de aplicação da correlação entre dados tecnológicos e petrográficos com esses métodos podem ser encontrados em Navarro (2002), Navarro; Artur (2002; 2004). 20 CAPÍTULO 3 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O SETOR DE ROCHAS ORNAMENTAIS E PARA REVESTIMENTO ________________________________________________________________ O setor de rochas ornamentais e para revestimento representa atualmente um dos setores com maior crescimento econômico ao nível nacional e mundial, sendo as décadas de 1980 e 1990 consideradas como a “nova idade da pedra” (CHIODI FILHO 1995, 2002; ABIROCHAS, 2001; CHIODI FILHO et al. 2004). Segundo Montani (2005) a produção mundial de rochas em 2004 atingiu 81,25 milhões de t/ano, representando aumento de 8,33% em relação a 2004. Esse mercado vem movimentando desde 2002 mais de US$ 40bilhões/ano se considerados máquinas, equipamentos, insumos e serviços (MONTANI, 2003). As taxas médias mundiais de crescimento anual da produção, da exportação e do consumo têm oscilado entre 7% e 11% nos últimos quatro anos, sendo que a produção de rochas em 2004 cresceu cerca de 8,0% ao nível mundial em relação ao ano anterior (MONTANI, 2005). Os critérios controladores do mercado internacional de rochas ornamentais estão atrelados, sobretudo, aos modismos e tendências de design determinados no continente europeu, e que podem estar sujeitos a sazonalidades (ABIROCHAS, 2001). As práticas de mercado evidenciam plenamente que um dos principais fatores controladores desse mercado é o aspecto estético que o material exibe e as possibilidades arquitetônicas que permite, ficando em segundo plano as caraterísticas tecnológicas e propriedades físicas, mecânicas e químicas das rochas (FRASCÁ, 2002; 2004). Entretanto, como destacado por Selonen et al. (2000), os fatores geológicos que condicionam a ocorrência de determinado tipo de rocha ornamental apresentam importância fundamental para a definição do tipo de jazimento e, consequentemente, para a determinação da economicidade do depósito. As informações geológicas podem também definir e/ou contribuir de maneira significativa nos processos de lavra e beneficiamento. Do total de 81,25 milhões de toneladas de rochas produzidas em 2004 ao nível mundial, cerca de 43,75 milhões (53,9%) referem-se a mármores, 33,0 milhões (40,6%) 21 granitos e 4,5 milhões (5,5%) a ardósias e outros materiais. A Ásia, sobretudo pela atuação da China, respondeu por 44,1% dessa produção, ultrapassando a Europa com 38,4%, as Américas com 11,1%, a África com 6,1% e a Oceania com 0,31% (MONTANI, 2005). O ranking dos principais produtores apresentados por Montani (2005) organiza-se com a liderança da China (18,0 milhões t) seguida pela Índia (9,50 milhões t), Itália (7,65 milhões t), Espanha (6,25 milhões t), Irã (5,25 milhões t), Turquia (4,20 milhões t) e, o Brasil, em 7º lugar, com 4,0 milhões t. Entretanto Chiodi Filho (2005) referencia que a produção brasileira real já para 2003 foi de 6,1 milhões de toneladas e, portanto, superior ao Irã e Turquia. Montani (2005) considera um total de 32,84 milhões t de rochas brutas e beneficiadas comercializadas no mundo em 2004, sendo que a China participou com 7,53 milhões t (21,6%), a Índia com 3,87 milhões t (11,1%), a Itália com 3,09 milhões t (8,87%), a Turquia com 2,63 milhões t (7,5%), a Espanha com 2,46 milhões t (7,1%),) e o Brasil com 1,80 milhões t (5,2%) em 6º lugar. O Brasil apresenta certo destaque no mercado internacional, mas ainda ocupa uma posição muito tímida considerando-se a diversidade estética e o potencial geológico do país. Em 2003 o Brasil se firmou como 6o maior produtor de rochas, ocupando o 6º lugar como exportador de rochas em volume físico, 4º lugar como exportador de granitos em bruto, 7º exportador de rochas processadas e, junto com a Espanha, o 2º maior exportador de ardósias (CHIODI FILHO et al., 2004). Em pouco mais de 10 anos a China se destacou no cenário internacional pela aplicação de uma política de preços bastante agressiva (CHIODI FILHO, 2002), garantindo competitividade no mercado e alcançando a liderança de alguns segmentos de exportação (maior produtor de rochas brutas e beneficiadas) e importação (insumos, equipamentos, granitos e mármores brutos). Assim conquistou a posição de líder de mercado, ocupada durante 90 anos pela Itália (ABIROCHAS, 2001). Os principais exportadores mundiais de blocos praticam preços entre US$ 300/m3 e US$ 700/m3 para granitos e US$ 500/m3 e US$ 1.300/m3 para mármores, sendo que produtos semi-acabados (chapas polidas) alcançam preços de três a cinco vezes maiores. Produtos finais (peças padronizadas, sob medida ou personalizadas) são vendidos por valores seis a dez vezes maiores que os produtos brutos (MELLO, 2004). Projeções de consumo/produção e exportações mundiais indicam a manutenção da tendência de crescimento do setor registrada nas últimas duas décadas considerando que em 2025 a produção mundial de rochas atingirá 320 milhões t/ano, multiplicando-se por oito as atuais transações internacionais (CHIODI FILHO et al., 2004). 22 O mercado nacional em 2004, na análise de Chiodi Filho (2005), está abastecido por uma variedade de aproximadamente 600 tipos comerciais, provenientes de cerca de 1.500 frentes de lavra ativas. O parque empresarial composto por 12.000 empresas (destas 650 exportadoras) com 125.000 empregos diretos apresenta capacidade de serragem e polimento de mármores, granitos e outras rochas da ordem de 50 milhões m2/ano. Os negócios nacionais e internacionais envolvendo também máquinas, equipamentos e insumos movimentaram cerca de US$ 2,8 bilhões, e o saldo da balança comercial do setor no país excedeu US$ 580 milhões. A produção nacional que em 2004 teria sido de 6,45 milhões de toneladas (CHIODI FILHO, 2004), estaria centrada especialmente na região sudeste, onde só o Estado do Espírito Santo participou com 70%, seguido por Minas Gerais, Bahia, Paraná e Rio de Janeiro (Tabela 3.1). Chiodi Filho (2005) considerando uma densidade média de 2,75 g/cm3 (peso médio de 55 kg/m2 para chapas com 2 cm de espessura) para os 51,8 milhões m2 produzidos estima o consumo líquido de 15,9 kg per capita/ano e o consumo bruto de 26,1 kg per capita/ano. Tabela 3.1: Distribuição da produção de rochas ornamentais por regiões e estados brasileiros em 2004 (CHIODI FILHO, 2005). Região Estado Produção (x 1.000 t) Tipo de Rocha � Espírito Santo 2.800 Granito e mármore. � Minas Gerais 1.650 Granito, ardósia, quartzito foliado, pedra sabão, pedra talco, serpentinito, mármore e basalto. � Rio de Janeiro 250 Granito, mármore e Pedra Miracema. Sudeste � São Paulo 50 Granito, quartzito foliado e ardósia. � Paraná 200 Granito, mármore e outros. � Rio Grande do Sul 100 Granito e basalto.Sul � Santa Catarina 100 Granito e ardósia. Centro-Oeste � Goiás 150 Granito e quartzito foliado. � Bahia 410 Granito, mármore, travertino, arenito e quartzito. � Ceará 410 Granito e Pedra Cariri. � Paraíba 100 Granito e conglomerado. � Pernambuco 60 Granito. � Alagoas 30 Granito. � Rondônia 30 Granito. � Rio Grande Norte 30 Mármore e granito. � Pará 10 Granito. Norte e Nordeste � Piauí 70 Pedra Morisca. Total 6.450 Fonte: ABIROCHAS, 2005 As exportações brasileiras do setor de rochas ornamentais têm mostrado desempenho crescente ao longo das últimas décadas, sobretudo nos últimos 10 anos. Dados apresentados 23 por Chiodi Filho et al. (2004) mostram que entre 1999 e 2002 as exportações brasileiras do setor de rochas ornamentais cresceram 45,7% em faturamento e de 28,2% em volume físico, passando de US$ 232,46 milhões para US$ 338,80 milhões e de 983,61 mil t para 1.260,85 mil toneladas. O incremento médio anual registrado foi de 13,64% para o faturamento e de 9,34% para o volume físico, indicando a participação crescente de produtos com maior valor agregado nas exportações. Apenas para rochas processadas, abrangendo produtos acabados e semi-acabados de granitos, ardósias, quartzitos foliados, serpentinitos, pedra-sabão, mármores, travertinos, basaltos etc., registrou-se crescimento de 93,05% em valor e 140,07% em peso, no período considerado. A participação de rochas processadas, no total do faturamento, evoluiu de 49,9% em 1999 para 66,0% no ano de 2002 (CHIODI FILHO, 2004b). Em 2003, as exportações brasileiras de rochas ornamentais tiveram segundo CHIODI FILHO (2004a, c) o mais notável desempenho até então da história do setor, atingindo US$ 429,3 milhões e compondo um incremento de 26,7% frente a 2002, o que superou o recorde de 26,0% anteriormente verificado em 1997. Para CHIODI FILHO (op. cit.), este bom desempenho deveu-se às exportações de rochas processadas que tiveram incremento de 34,6% e somaram US$ 301,0 milhões, perfazendo 70,1% do total das exportações brasileiras. Durante 2004 as exportações de rochas ornamentais atingiram o equivalente a US$ 601,00 e 1.921,0 mil t (CHIODI FILHO, 2006), representando um incremento respectivamente de 29,5% em valor e 15,0% em volume físico em relação a 2003, novamente com destaque para as rochas processadas. No período de janeiro a novembro de 2005, CHIODI FILHO (2006) relata que as exportações brasileiras do setor de rochas ornamentais e de revestimento somaram US$ 713,65 milhões, correspondentes à comercialização de 1.963,9 mil t de rochas brutas e manufaturadas, representando crescimento de 31,50% no faturamento e de 16,27% no volume físico frente ao mesmo período de 2004. Segundo o mesmo autor, computando-se os últimos 12 meses (dezembro/2004 a novembro/2005) as exportações somaram US$ 771,9 milhões, e que se mantido o crescimento até então verificado as exportações brasileiras do setor de rochas ornamentais deverá somar US$ 780 milhões e 2,26 milhões de toneladas em 2005, representando incremento de respectivamente 30% e 15% frente a 2004. Do total exportado, as rochas processadas representam 79% do faturamento e 51% do volume físico, tendo, portanto, complemento de 21% e 49% para as rochas brutas. As expectativas das exportações brasileiras apontadas por Chiodi Filho (2006) para 2006 é que ocorra uma variação positiva próxima a 15% frente 2005, devendo-se, portanto, 24 atingir faturamento de cerca de US$ 900 milhões. Segundo boletim da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex, in: CHIODI FILHO, 2006), com as exportações de 2005 crescendo à taxa de 23%, portanto superior à taxa média global de 14%, a participação brasileira no mercado mundial deverá se ampliar de 1,0% para 1,2%. A performance no faturamento do setor de rochas ornamentais e de revestimento brasileiro deve-se fundamentalmente ao crescimento do número de empresas com negócios nas posições de rochas processadas, como o Espírito Santo (principal cluster de mármores e granitos no Brasil) que respondeu, segundo dados de Viguini (2006), por 78,03% do total de manufaturados exportados de janeiro a novembro/2005, perfazendo US$ 357,97 milhões, com uma variação positiva de 49,02% frente ao mesmo período de 2004. Viguini (op.cit.) destaca que do total geral das exportações brasileiras, a participação do Espírito Santo no período correspondeu a 61,95% em valores (US$ 442,089 milhões), representando um crescimento de 46,08% sobre o mesmo período de 2004. Do total de outras rochas, as exportações de Minas Gerais no período de janeiro a novembro/2005 representaram 83,89%, com participação geral de 18,26%, equivalente a US$ 130,32 milhões (VIGUINI, 2006). O mesmo autor aponta o estados do Rio de Janeiro em 3o. e Bahia em 4o. lugares, respectivamente com 5,4% e 3,31% do total geral das exportações brasileiras no setor de rochas ornamentais. O cenário mundial, com o destaque da China e Índia nos últimos anos, indica uma reestruturação mundial do setor, e a presença de países em desenvolvimento como a Índia e África com grande geodiversidade e capacidade produtiva, coloca o Brasil em situação de acirrada disputa e ampliação de mercados mais amplos, que deverão ser conquistadas com preços competitivos e provimento de tecnologia para aumento da quantidade de material produzido assegurando qualidade mínima. De certo modo, nos últimos cinco anos, o setor de rochas ornamentais no Brasil começa a responder aos desafios do mercado internacional alterando seu perfil de produtor de blocos para produtor de produtos acabados simples e especiais, além do notável incremento da produção de tipos estéticos pouco comuns no mercado, fator positivo para o fortalecimento da “marca Brasil”. Há de se considerar que a manutenção dos espaços conquistados e a abertura de novos nichos (Mercosul, Ásia e Oriente Médio) devem, necessariamente, envolver adequação tecnológica nas fases de beneficiamento (serragem e polimento) seguido de melhoria da estrutura portuária e dos processos envolvidos nas exportações, garantindo que contratos firmados sejam atendidos (CHIODI FILHO et al., 2004). 25 CAPÍTULO 4 PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS DAS ROCHAS ORNAMENTAIS ________________________________________________________________ As propriedades tecnológicas ou petrofísicas das rochas são amplamente diversificadas e definem o comportamento dos materiais pétreos quando submetidos aos processos de transformação, instalação e utilização. Envolvem todas as propriedades físicas, mecânicas e químicas das rochas, as quais são decorrentes da complexa interação de fatores intrínsecos, genericamente agrupados em composição mineralógica, textura e estrutura. Esse trinômio presente em todos os tipos de rochas é definido pela superposição de processos geológicos e eventos evolutivos que a rocha é submetida ao longo do tempo geológico. Por se tratar de um corpo dinâmico, ao alcançar a superfície, a rocha sofre solicitações de processos exógenos (intemperismo, erosão etc.) que modificam novamente suas propriedades, surgindo então uma nova condição de equilíbrio (AIRES-BARROS, 1991). Para aplicação das rochas em obras de engenharia normalmente recorre-se à determinação das propriedades tecnológicas utilizando procedimentos laboratoriais regidos por normas técnicas. Os dados obtidos por esses métodos geralmente fornecem parâmetros suficientes para definir critérios de utilização da rocha com segurança e durabilidade satisfatória. Ressalta-se, entretanto, que as relações entre características petrográficas e tecnológicas são algo complexas, não sendo claramente conhecidas todas as variantes dessas relações (MELLO MENDES 1968; RZHEVSKY; NOVIK 1971; WHITTAKER et al., 1992). No caso das rochas ornamentais e para revestimento o aspecto estético (também definido pelas propriedades intrínsecas) é o atributo mais utilizado e freqüentemente decisivo para seleção da rocha. Outro fator de grande relevância, mas atualmente nem sempre utilizado, é o tipo de ambiente que a rocha será instalada. O ambiente de aplicação definirá o conjunto de solicitações que a rocha será submetida, as quais por sua vez, atuarão sobre as propriedades intrínsecas. A durabilidade será definida pelo estado de equilíbrio alcançado pela rocha após a interação entre as propriedades petrofísicas e as solicitações do ambiente. 26 As possibilidades de aplicação de rochas como revestimentos e os métodos disponíveis para tanto são muito amplos o que exige conhecimento detalhado das propriedades tecnológicas da rocha que se pretende utilizar, para garantir uma boa durabilidade. Os ensaios mais tradicionalmente utilizados objetivam determinar propriedades tais como: índices físicos (massa específica aparente, porosidade aparente e absorção d’água); velocidade de ondas ultra-sônicas; desgaste abrasivo Amsler; módulo de ruptura; resistências à flexão, à compressão uniaxial, ao impacto; coeficiente de dilatação térmica e alterabilidade. Em sua maioria contam com normas da ABNT e maiores comentários sobre essas propriedades, sua importância e utilidade para as rochas ornamentais podem ser encontrados em Melo Mendes (1968), IPT (1990; 2000), Aires-Barros (1991), Chiodi Filho (1995), Winkler (1997), Navarro (1998), Frazão; Paraguassú (1999); Frazão (2002) e Frascá (2004). Além da informação inerente à propriedade considerada a correlação entre propriedades pode ser particularmente útil para especificação, dimensionamento e conservação de rochas. Ao que se refere o setor de rochas ornamentais no Brasil, o assunto ainda é pouco estudado, sendo os trabalhos de Rodrigues et al. (1996; 1997) e Navarro (1998), os primeiros a abordar as relações entre aspectos petrográficos e tecnológicos de granitos ornamentais. Em trabalhos mais recentes, Navarro et al. (1999) apresentaram seis equações matemáticas para previsão dos ensaios de resistência à flexão e desgaste abrasivo Amsler, com base em informações petrográficas. Posteriormente, Navarro; Artur (2001, 2004) apresentam dados petrográficos quantificados através de microscopia convencional e análise de imagens. Tais informações foram correlacionadas com dados de caracterização tecnológica por meio da análise estatística multivariada, obtendo como resultado diversas equações que correlacionam variáveis petrográficas com dados tecnológicos. A resistência mecânica, bem como outras propriedades tecnológicas das rochas, depende de fatores como grau de alteração, microfissuramento e dimensões dos minerais presentes. Considere-se ainda que, durante a gênese de rochas magmáticas e metamórficas, a atuação de mecanismos de deformação resulta numa gama variada de defeitos cristalinos (pontuais, lineares e/ou planares) que configuram planos de fraqueza ou descontinuidades físicas das rochas, definindo assim zonas preferenciais para redistribuição de energia, iniciando a propagação de fraturas conforme as concepções postuladas pela Teoria de Griffith, e conseqüente desagregação da rocha (VUTUKURI et al., 1974; ATTEWELL; FARMER, 1976; WITTAKHER et al. 1992). O desenvolvimento de estruturas e texturas durante os processos genéticos freqüentemente faz com que as rochas sejam anisótropas quanto às suas propriedades físicas e mecânicas, ou 27 seja, apresentam variações das propriedades em diferentes direções do volume rochoso. Inversamente, alguns tipos de rochas podem apresentar comportamento isótropo, isto é, há constância das propriedades nas diferentes direções consideradas. Não apenas as rochas, mas também os minerais apresentam propriedades variáveis. Conforme Borges (1982) as propriedades físicas dos cristais podem ser escalares ou direcionais. As escalares são aquelas definidas por um número que relaciona duas grandezas mensuráveis nessa matéria, como por exemplo, a capacidade calorífica, que é a relação entre o calor cedido a um corpo e o aumento de temperatura do mesmo. As propriedades direcionais são aquelas que não podem ser definidas por grandeza escalar e, por conseguinte, são designadas por vetores, tornando possível classificar os materiais como anisotrópicos ou isotrópicos (BLOSS, 1971). Entre essas propriedades destacam-se a condutibilidade térmica e elétrica, a dilatação térmica, as propriedades óticas, dureza, clivagem, difração de raios X, geminações, entre outros. Sendo tais as propriedades dos minerais, entende-se que o arranjo e a disposição dos minerais podem definir planos de fraqueza ou de anisotropia nas rochas (ATTEWELL; FARMER, 1976; SCHÖN, 1996). Minerais com ocorrência ampla na natureza, tais como feldspatos, quartzo, micas e carbonatos apresentam anisotropias de propriedades óticas, velocidade de propagação de ondas ultra-sônicas (Figura 4.1; Tabela 4.1), condutividade térmica (Figura 4.2) e elétrica, entre outras. Tabela 4.1: Anisotropia à velocidade de ondas ultra-sônicas longitudinais de alguns minerais formadores de rochas (Weiss, 1998). MINERAIS ANISOTROPIA (%) moscovita 44,01 microclínio 37,52 plagioclásio 27,84 calcita 26,13 diopsídio 25,00 quartzo 23,79 hornblenda 23,63 sillimanita 22,81 olivina 21,84 bronzita 16,43 cordierita 10,96 28 Figura 4.1: Relação entre eixos óticos (na, nß, n?) e cristalográficos (a, b e c) e Vp calculada (lambda) para quartzo (A), plagioclásio (B), hornblenda (C), moscovita e biotita (D). Fonte: Siegesmund; Dams (1994). Figura 4.2: Relação entre eixos óticos (na, nß, n?) e cristalográficos (a, b, c) e condutividade térmica calculada (?) para quartzo (A), plagioclásio (B) e moscovita (C). Fonte: Siegesmund; Dams (1994). 29 Os defeitos cristalinos (Figura 4.3) também podem contribuir para variações nas propriedades das rochas. Os chamados defeitos cristalinos pontuais correspondem a lugares vagos de átomos ausentes na estrutura, nuvens de átomos e combinações entre vazios de átomos ou elétrons. São defeitos que podem ser responsáveis pela cor dos cristais e influenciar na condutividade elétrica, e em outros momentos podem influenciar significativamente na resistência mecânica dos cristais e, por conseguinte da rocha (HOBBS et al., 1976). A condutividade e os problemas de resistência estariam vinculados à concentração de impurezas nos espaços intersticiais (NICHOLAS, 1984). Defeitos lineares ou deslocamentos são mais importantes para o comportamento mecânico dos cristais (HOBBS et al., 1976). A combinação de um plano cristalográfico específico e uma direção cristalográfica nesse plano se chama sistema de deslizamento (slip sistem), o qual é preferencialmente ativado por efeitos de cisalhamento durante a aplicação de esforços (HOBBS et al., 1976). O movimento descrito pode ser o deslocamento de um plano ao longo de uma linha (edge dislocation), do plano com movimentos helicoidais (screw dislocation) ou, o que é mais freqüente, uma combinação complexa de ambos (SPRY, 1969). Cada espécie mineral apresenta um sistema típico de elementos cristalográficos que podem ser preferencialmente ativados, havendo influência da temperatura durante a implantação da deformação (NICHOLAS, 1984). Os defeitos planares compreendem as microestruturas classificadas como limites de subgrão, limites de grão, bandas e lamelas de deformação e geminações (HOBBS et al., 1976). Os limites de subgrão são limites relativamente planos com desvios de orientação reticular entre 1º e 5º, perceptíveis ao microscópio óptico pela posição de extinção. Os limites de grão separam cristais de orientação reticular ou composição distintas, havendo gradação completa entre os limites de subgrão e grão quando se tratam de minerais de mesma espécie. As bandas e lamelas de deformação são regiões planas dos cristais que sofreram deformação diferente de áreas adjacentes por torção do retículo cristalino (HOBBS et al., 1976). A geminação é definida por limites planos de dois cristais organizados de uma forma simétrica específica. A geração de uma geminação implica na aparição de um elemento de simetria que não se observa no cristal não geminado, de modo que as estruturas cristalinas situadas em cada lado do limite da geminação podem se relacionar por reflexão simples ou por rotação de um eixo. Um exemplo de geminação de reflexão é o tipo Brasil, segundo (0001), freqüentemente observada no quartzo. A geminação tipo albita é um exemplo de rotação de 180º no eixo perpendicular a (010) em feldspatos (HOBBS et al., 1976). As geminações originadas por crescimento podem ser distinguidas facilmente das geminações por deformação pela menor espessura e pelas terminações em forma de cone que 30 estas exibem. Essas feições são particularmente importantes nos casos de deformação da calcita em baixas temperaturas e dos plagioclásios (PASSCHIER; TROUW, 1996). Figura 4.3: Esquema dos principais tipos de defeitos planares em agregados cristalinos naturais (fonte: http://www.earth.monash.edu.au/Teaching/mscourse/lectures/lec2.html). Limites de grão: A) entre minerais diferentes; B) entre minerais de mesma espécie, caracterizado por alto ângulo da rede cristalina; C) limite de subgrão caracterizado pelo baixo ângulo entre o plano basal dos cristais. D) limite de grão entre dois cristais de mesma espécie mineral, separadas por um vazio E) limite de fase entre dois diferentes minerais, com um vazio preenchido por fluido. F) limite definido por um plano de geminação no mineral. Em rochas deformadas é comum a presença de orientações cristalográficas preferenciais (lattice preferred orientations), freqüentemente denominada como textura (PASSCHIER; TROUW, 1996). O arranjo sistemático de cristais com formas planares ou prismáticas segundo orientações preferenciais é o elemento que define a foliação ou lineação em uma rocha, podendo muitas vezes ser distinguido macroscopicamente (SPRAY, 1969). Outros minerais tendendo a equidimensionais como o quartzo e a calcita apresentam maiores dificuldades para identificação da textura, mas não requerem técnicas sofisticadas. Esses dados podem ser obtidos através da medida de eixos cristalográficos utilizando-se platina universal, e são frequentemente apresentados em estereogramas (Figura 4.4), facilitando a correlação com propriedades mecânicas. 31 Figura 4.4: Projeção estereográfica (diagrama de igual área) de eixos c de grãos de quartzo e sua relação com a foliação (S) e lineação (L). (BRUNEL, 1980). Schön (1996) considerando diversos autores assinala que gnaisses e xistos apresentam os valores mais altos de anisotropia das propriedades térmicas e que esse fator em rochas ígneas e metamórficas é afetado principalmente pelos constituintes minerais e consequentemente pela anisotropia individual de cada mineral essencial, pela forma e disposição dos minerais (foliação e xistosidade) e pela orientação e geometria das fraturas. De forma análoga observam-se as mesmas relações considerando as velocidades de propagação de ondas elásticas (Vp e Vs). Em países europeus, particularmente a Alemanha, pesquisas recentes demonstraram que a desagregação mecânica de mármores é iniciada por microfissuras induzidas termicamente (TSCHEGG et al. 1999). Em aprofundamento ao tema, Siegesmund et al. (2000) selecionaram amostras de mármores que foram submetidas a análises texturais, ensaios de dilatação térmica e modelagem da expansão térmica em função das texturas presentes. Constataram assim, que a desagregação mecânica é desencadeada em processos de dilatação térmica e favorecida por características texturais, tais como a orientação preferencial do eixo c da calcita. Weiss et al. (2000) estudando diversas amostras de mármores de uma mesma construção, através de métodos como resistência à compressão conjugada a propagação de ondas ultra-sônicas em amostras esféricas, porosidade, porosimetria de mercúrio e estudos texturais, através de análise de imagens SEM (scanning electron microscope) concluíram que pequenas variações de porosidade modificam significativamente a velocidade de propagação 32 de ondas resultando, portanto, em diminuição da resistência mecânica. Posteriormente, Weiss et al. (2002) mostraram que a anisotropia de velocidade de ultra-som e dilatação térmica de mármores estão intimamente associadas, sendo ambas uma resposta da orientação cristalográfica preferencial freqüentemente exibida por essas rochas. Mostram também que a aplicação de ondas ultra-sônicas é uma ferramenta útil para o controle de qualidade de mármores. Analisando granitos e gnaisses com granulações diferentes Prikryl (2001) demonstra que rochas com distribuição aleatória dos cristais apresentam baixa anisotropia da resistência mecânica (abaixo de 10%), ao passo que rochas com orientação por forma mais pronunciadas apresentam anisotropia maior. Adiciona ainda que os granitos não podem ser considerados como meios isotrópicos. Strohmeyer; Siegesmund (2002), comparando rochas graníticas em diferentes estágios de deformação (protomilonítica a ultramilonítica), mostram que as resistências ao desgaste e à compressão são influenciadas principalmente pela orientação cristalográfica dos filossilicatos e microfissuramentos. Entretanto a relação dessas características com os valores de resistência a compressão não é evidente devido aos efeitos causados pelas variações de espaçamento da foliação e da granulação nas rochas de acordo com a deformação que apresentam. 33 CAPÍTULO 5 MATERIAIS ESTUDADOS ________________________________________________________________ 5.1. Rochas Selecionadas A seleção de materiais considerou rochas de diferentes composições, texturas e estruturas, obrigatoriamente utilizadas como elemento de revestimento de edificações (preferencialmente como placas polidas) e comercializados no mercado internacional e/ou nacional. A seleção de rochas iniciou-se com a consulta de catálogos comerciais de São Paulo (IPT, 1990; 2000), Espírito Santo (IPT, 1993), Minas Gerais (COMIG, 1999), Bahia (SGM 1994; CBPM, 2002), Goiás (METAGO, 1999), Mato Grosso (DNPM, 1998), Ceará (FUNCAP, 2002), Rio de Janeiro (DRM, 2003), e com base na experiência acumulada em outros projetos desenvolvidos no âmbito do Grupo de Rochas Ornamentais da UNESP - Rio Claro. Na seqüência foram contatadas empresas produtoras para oficializar visitas técnicas às frentes de lavra objetivando a coleta de amostras em blocos com dimensões de 30 cm x 30 cm x 30 cm. As amostras coletadas foram subdivididas inicialmente em quatro grupos definidos com base em critérios mineralógicos, conforme abaixo: 1) Rochas Carbonáticas; 2) Rochas Quartzosas (> 60% quartzo); 3) Rochas Feldspáticas (> 60% feldspatos), e 4) Rochas Quartzo-feldspáticas (>20% quartzo e >40% feldspatos) As rochas coletadas (Tabela 5.1) são em sua maioria provenientes de jazidas operando em atividade plena ao longo do ano todo, ou sujeitas ao regime de demanda de cada empresa, que em alguns casos significa paralisações por pequenos períodos que, somados, podem chegar a seis meses. Os materiais selecionados apresentam preços que variam entre US$ 200,0/m3 e US$ 900,0/m3, de acordo com informações das empresas visitadas/consultadas. A produção 34 mensal varia da ordem de 100 a 300 m3/mês, atingindo em alguns casos 700 m3/mês. Os destinos de exportação são variados; para Europa é feita predominantemente na forma de blocos, como ocorrem com os tipos coletados em Minas Gerais, e para os Estados Unidos e outros na forma de chapas polidas, caso mais comum para as rochas capixabas. A rocha Azul Sucuru é quase exclusiva para exportação e foi relançada no mercado como Blue Diamond, durante a Feira Internacional de Vitória, em 2005. Os tipos Arenito Silicificado, Quartzito Ouro Preto, Preto Apiaí e Rosa Itupeva são comercializados apenas no mercado interno. Tabela 5.1: Tipos litológicos selecionados e estudados neste trabalho. grupo nome comercial sigla tipo petrográfico origem Cintilante CM dolomita mármore ca rb on át ic as Extra EX dolomita mármore Cachoeiro do Itapemirim, ES Arenito Silicificado AS arenito silicificado Araraquara, SP Imperial Blue IB dumortierita quartzito Macaúbas, BA qu ar tz os as Quartzito Ouro Preto QOP quartzito Ouro Preto, MG Marrom Café Imperial MCF sienito Marrom Caldas MCD sienito Caldas, MG Preto Apiaí PA gabronorito Apiaí, SP fe ld sp át ic as Preto Piracaia PP monzodiorito Piracaia, SP Azul Fantástico AF monzogranito porfirítico gnaissificado Bragança Paulista, SP Azul Sucuru AZS granito porfirítico Sumé, PB Jacarandá JR migmatito Extrema, MG Kashimir KA granada gnaisse Nova Venécia, ES Preto São Gabriel PSG enderbito São Rafael, ES Rosa Itupeva RI monzogranito Itupeva, SP Vermelho Bragança VB monzogranito porfirítico Bragança Paulista, SP Verde Camacho VCM migmatito Camacho, MG Verde Candeias VCD migmatito Candeias, MG Vermelho Capão Bonito VCB monzogranito Capão Bonito, SP Verde Maritaca VM migmatito Camacho, MG qu ar tz o- fe ld sp át ic as Verde Veneciano VV gnaisse Nova Venécia, ES 35 5.2. Localização e Contexto Geológico das Rochas Selecionadas Para a coleta de amostras das rochas selecionadas foram realizadas etapas de campo em diversas localidades no Estado de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Paraíba, sendo que a amostra proveniente da Bahia foi fornecida por uma empresa colaboradora. Visto a escala pontual que as pedreiras visitadas assumem nesse contexto, segue-se uma descrição breve dos principais aspectos geológicos regionais das unidades a que essas rochas pertencem, considerando o Estado de origem. Adicionalmente e de forma breve são mencionados o tipo do jazimento (maciço ou matacão) e os métodos de lavra utilizados. 5.2.1. Rochas do Estado de São Paulo As rochas ornamentais exploradas no Estado de São Paulo provêm essencialmente do embasamento cristalino que ocupa cerca de