1 Letícia do Nascimento Andrade de Almeida Rego LETÍCIA DO NASCIMENTO ANDRADE DE ALMEIDA REGO Tese apresentada para obtenção do título de Doutor em Genética São José do Rio Preto - SP 2012 ESPERMATOGÊNESE DE ZAPRIONUS INDIANUS E ZAPRIONUS SEPSOIDES (DIPTERA: DROSOPHILIDAE): CARACTERIZAÇÃO CITOQUÍMICA, ESTRUTURAL E ULTRAESTRUTURAL 2 Tese apresentada para obtenção do título de Doutor em Genética, junto ao Programa de Pós-Graduação em Genética do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus de São José do Rio Preto São José do Rio Preto - SP 2012 Orientadora: Profª Drª Lilian Madi-Ravazzi Co-orientadora: Profª Drª Maria Tercília Vilela de Azeredo-Oliveira ESPERMATOGÊNESE DE ZAPRIONUS INDIANUS E ZAPRIONUS SEPSOIDES (DIPTERA: DROSOPHILIDAE): CARACTERIZAÇÃO CITOQUÍMICA, ESTRUTURAL E ULTRAESTRUTURAL LETÍCIA DO NASCIMENTO ANDRADE DE ALMEIDA REGO 3 Rego, Letícia do Nascimento Andrade de Almeida. Espermatogênese de Zaprionus indianus e Zaprionus sepsoides (Diptera: Drosophilidae): caracterização citoquímica, estrutural e ultraestrutural / Letícia do Nascimento Andrade de Almeida Rego. - São José do Rio Preto : [s.n.], 2012. 103 f. : il. ; 30 cm. Orientador: Lilian Madi-Ravazzi Co-orientador: Maria Tercília Vilela Azeredo-Oliveira Tese (doutorado) – Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas 1. Meiose. 2. Zaprionus indianus. 3. Zaprionus sepsoides. 4. Espermatogênese. 5. Citoquímica. I. Madi-Ravazzi, Lilian. II. Azeredo- Oliveira, Maria Tercília Vilela. III. Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas. IV. Título. CDU – 576.354 Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca do IBILCE Campus de São José do Rio Preto - UNESP 4 LETÍCIA DO NASCIMENTO ANDRADE DE ALMEIDA REGO Espermatogênese de Zaprionus indianus e Zaprionus sepsoides (Diptera: Drosophilidae): caracterização citoquímica, estrutural e ultraestrutural. Tese apresentada para obtenção do título de Doutor em Genética, junto ao Programa de Pós- Graduação em Genética do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus de São José do Rio Preto. BANCA EXAMINADORA Profª Drª Lilian Madi-Ravazzi Professor Assistente Doutor UNESP – São José do Rio Preto Orientador _________________________________ Profª Drª Blanche Christine Pires de Bitner-Mathé Leal Professor Assistente Doutor Universidade Federal do Rio de Janeiro _________________________________ Profª Drª Maria Izabel Camargo Mathias Professor Titular UNESP – Rio Claro _________________________________ Profª Drª Hermione Elly Melara de Campos Bicudo Professor Emérito UNESP – São José do Rio Preto _________________________________ Profª Drª Patrícia Vilamaior Professor Assistente de Suporte Acadêmico UNESP – São José do Rio Preto _________________________________ São José do Rio Preto, 24 de Agosto de 2012 5 Este trabalho foi realizado no Laboratório de Genética, Ecologia e Evolução de Drosophila, no Laboratório de Biologia Celular, no Laboratório Multiusuário de Microscopia e Microanálise do Departamento de Biologia do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, IBILCE, Universidade Estadual Paulista, UNESP de São José do Rio Preto, e também no Centro de Microscopia da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, com auxílio financeiro da CAPES. 6 Dedico este trabalho, ao meu avô Zé Francisco (in memoriam), à Olivia minha afilhada, e ao Gabriel, meu primeiro sobrinho. 7 AGRADECIMENTOS À Profª Drª Lilian Madi-Ravazzi pela orientação, por confiar no meu trabalho, pelo incentivo, dedicação, respeito, ajuda incondicional, muita paciência e pelo carinho. Sem sua ajuda não conseguiria ter ido até o fim, uma vez que, tive um doutorado um tanto quanto “conturbado”, com várias “quase-desistências”, momentos difíceis, com troca de orientador, de cidade e de Projetos de Pesquisa. MUITO OBRIGADA LILIAN! À Profª Drª Maria Tercília Vilela de Azeredo-Oliveira por abrir seu laboratório, pelas dicas, sugestões, aprendizado, pelo carinho, generosidade, por confiar em meu trabalho e em meu potencial, por sempre me incentivar e não deixar que eu desistisse de alcançar meus objetivos. À Drª Rosana Silistino de Souza, pois sem ela grande parte prática do trabalho não teria sido realizada e ainda por cima, de maneira muito caprichosa. Obrigada pela paciência, total disposição, aprendizado, incentivo, carinho e apoio incondicional, além das várias boas conversas, científicas ou não, que tivemos ao longo do trabalho. Ao Prof. Dr. Sebastião Roberto Taboga pela disponibilidade do Laboratório Multiusuário de Microscopia e Microanálise e ao técnico José Augusto Maulim pelo auxílio na captura de imagens no Centro de Microscopia da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto. À Profª Drª Mary Massumi Itoyama por ter sido a primeira a ter me aberto as portas desta Instituição e pelo incentivo, além das sugestões feitas durante meu Exame Geral de Qualificação do Doutorado. Aos membros da banca examinadora, pela contribuição e sugestões para melhorar este trabalho. A todos os funcionários do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas de São José do Rio Preto (UNESP/IBILCE) e, em particular, aos funcionários do Departamento de Biologia que sempre possibilitam, direta ou indiretamente, a realização das pesquisas científicas. Agradecimentos especiais ao técnico Sebastião Dias Barbosa, à Simone Carvalho Fernandes, 8 à Jucimara Colombo, ao Luís Roberto Faleiros e à Damaris de Freitas por serem sempre muito solícitos. Agradecimentos especiais também aos funcionários da Biblioteca e aos funcionários da Seção de Pós-graduação. Agradeço, também, aos meus amigos de laboratório Emiliyn, Maria Clara, Priscila Pasquetto, Ana Letícia, Caio e Leiza por fazerem parte desta jornada. Ao órgão de Fomento CAPES pela bolsa concedida. Aos meus pais, Bimbo e Lila, por todo amor e dedicação. Vocês são meus maiores incentivadores, meus pilares, minha vida. Agradeço por terem batalhado tanto para que pudessem me deixar a melhor herança de todas: a educação e o caráter. Jamais terei palavras suficientes para expressar a minha gratidão e o tamanho do meu amor por vocês, por isso, digo apenas: muito obrigada sempre e por tudo. Saibam que tudo que faço em minha vida é dedicado a vocês. Quero que se orgulhem de mim sempre, e estou em busca disso a todo o momento. Aos meus amados irmãos Felipe, Hugo, Mariana e Vitor pelo amor, carinho, amizade, por serem parceiros, pelos conselhos, por me apoiarem na ‘alegria e na tristeza, na saúde e na doença’. Ao Felipe por ser meu conselheiro ‘master’, meu biólogo preferido, meu irmão mais velho incentivador, meu ‘co-orientador’ informal, meu orgulho. Ao Hugo por sempre ser tão amável, prestativo, disponível e disposto, também super conselheiro, carinhoso, por me animar sempre e ser um exemplo de generosidade. Ao Vitor meu irmãozinho esebano querido, por ser tão legal, fofo, parceiro e amigo. À Mariana, minha irmã gêmea, meu ‘confessionário’, literalmente, minha alma gêmea, te amo! À minha primeira orientadora científica, mãezona e incentivadora Sandra Morelli e à Alessandra, minha primeira co-orientadora ‘informal’ do Laboratório de Citogenética Animal da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Aos amigos da minha turma de graduação em Biologia da UFU que até hoje mantenho contato e quero ter sempre perto de mim: Ritinha Carneiro, Alexandre Bonder, Clarissa, Letícia Sueiro, Luisa Domingues e Lucas Zimon. 9 Aos amigos de Londrina por, de certa forma, fazerem parte dessa trajetória acadêmica e por serem inesquecíveis: Renata Bottós, Carolzinha Cainelli, Letícia Tartaglia, Lívia Bottura, Priscila Mary, Mariana Nardy, Thiaguim, Thiago Ribers. Aos amigos de Uberlândia, minha cidade natal, Mari Carneiro, Fredão, Deh e Philipim, Dani e Humberto, Ricardo, Tiago, Juninho e principalmente à Stela, minha melhor amiga! Aos amigos de São José do Rio Preto, Priscila Samara, Fabi Guchi, Adalgisa, Zé, Nayara, Maiara, Japa e André. Aos meus familiares queridos de Uberlândia e do Rio de Janeiro, em especial à vovó Placidina e à vovó Marise, Tia Susa e Carol e à madrinha Tia Regina. À minha cunhada querida Deisi e prima/cunhada/comadre também muito querida Beatrix. 10 “Science knows no country… Knowledge belongs to humanity… It’s the torch that illuminates the world.” Louis Pasteur 11 RESUMO Zaprionus indianus é um drosofilídeo nativo da região Afrotropical que colonizou o continente Sul Americano, apresentando uma ampla distribuição geográfica enquanto Z. sepsoides é restrita a algumas regiões africanas. As duas espécies diferem em relação ao tamanho dos testículos e dos espermatozoides que é maior em Z. indianus do que em Z. sepsoides. Com o intuito de conhecer aspectos da biologia e o grau de diferenciação destas espécies, o presente estudo avaliou a espermatogênese de machos de diferentes idades (1, 3, 5 e 8 dias) de ambas as espécies por meio de técnicas de coloração convencional e de ultraestrutura. A espermatogênese e ultraestrutura dos espermatozoides foram semelhantes nas espécies em que foi confirmado o número diploide de cromossomos com 2n = 12. Entretanto, foi observada uma quantidade maior de espermatozoides em machos jovens (1 a 3 dias de idade) em Z. indianus do que em Z. sepsoides, o qual apresentou maior frequência de estágios iniciais da espermatogênese nestas idades. A porção da cabeça dos espermatozoides foi fortemente marcada nas duas espécies pela coloração por prata (AgNOR), orceína lacto-acética e pela reação de Feulgen. Quando submetidos à reação de P.A.S., os testículos de Z. sepsoides e Z. indianus apresentaram grânulos de glicogênio. As espécies possuem a mesma ultraestrutura flagelar, em que o axonema mostra um arranjo de 9+9+2 microtúbulos, com a presença de dois derivados mitocondriais de diferentes tamanhos e o número de 64 espermatozoides por feixe, em ambas as espécies. A grande semelhança observada no padrão do arranjo de microtúbulos do axonema e nos derivados mitocondriais com diferentes tamanhos nas espécies de Zaprionus, comparadas com outras espécies de Drosophila, é indicativa da conservação destas estruturas na família Drosophilidae. As diferenças observadas nos machos jovens de Z. indianus e Z. sepsoides quanto a quantidade de espermatozoides e frequência de células em fases iniciais da espermatogênese são características que podem interferir no sucesso reprodutivo e adaptativo destas espécies e estar relacionadas ao maior potencial invasivo de Z. indianus. Palavras-chave: Zaprionus indianus, Zaprionus sepsoides, espermatogênese, citoquímica, ultraestrutura, meiose. 12 ABSTRACT Zaprionus indianus is a drosophilid native to the Afrotropical region that has colonized South America. Z. indianus exhibits a wide geographical distribution, whereas Z. sepsoides is restricted to certain African regions. The two species differ in the size of their testes, which are larger in Z. indianus than in Z. sepsoides. To better understand the biology and the degree of differentiation of these species, the current study evaluated spermatogenesis in males of different ages (1, 3, 5 and 8 days old) from both species by conventional staining techniques and ultrastructural analysis. Spermatogenesis and the ultrastructure of spermatozoa were similar in the two species, for which the diploid number was confirmed to be 2n = 12 chromosomes. However, a greater number of spermatozoa were observed in young Z. indianus males (1-3 days old) than in young Z. sepsoides males, which showed a higher frequency of cells at the early stages of spermatogenesis at this age. A portion of the head of the sperm was strongly marked in both species by silver staining (AgNOR), lacto-acetic orcein and the Feulgen reaction. Additionally, when submitted to P.A.S. reaction, the testes of both Z. sepsoides and Z. indianus exhibited glycogen granules. The two species also presented the same flagellar ultrastructure, in which the axoneme includes a 9+9+2 arrangement of microtubules, two mitochondrial derivatives of different sizes are present and the number of spermatozoa per bundle is 64. The great similarity in the pattern of microtubule arrangement in the axoneme and in the mitochondrial derivatives of the species Zaprionus, as compared with other species of Drosophila, indicates that these structures are preserved in the family Drosophilidae. The differences observed between the young males of Z. indianus and Z. sepsoides, including the number and frequency of sperm cells in the early stages of spermatogenesis, are features that may interfere with reproductive success and may be related to the invasive potential of Z. indianus. Keywords: Zaprionus indianus, Zaprionus sepsoides, spermatogenesis, cytochemistry, ultrastructure, meiosis. 13 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 14 1.1 Gênero Zaprionus 16 1.2 Aspectos biológicos de Zaprionus indianus 17 1.3 Espermatogênese em Drosophilidae 17 1.4 Morfologia do testículo em Drosophilidae 20 1.5 Evolução do tamanho do espermatozoide e tamanho do testículo 22 1.6 Aspectos citogenéticos e comportamento nucleolar 23 1.7 Aspectos ultraestruturais dos espermatozoides 25 2 OBJETIVOS 28 3 MATERIAL E MÉTODOS 29 4 RESULTADOS 31 5 DISCUSSÃO 55 6 CONCLUSÕES 60 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 62 8 ARTIGO Spermatogenesis of the Zaprionus indianus and Zaprionus sepsoides (Diptera: Drosophilidae): cytochemical, structural and ultrastructural characterization 71 14 1. INTRODUÇÃO O gênero Zaprionus é dividido em dois subgêneros biogeograficamente separados: subgênero Anaprionus Okada, com cerca de 10 espécies na região Oriental e o subgênero Zaprionus, com cerca de 50 espécies na região Afrotropical (OKADA; CARSON, 1983; YASSIN et al., 2008). Filogeneticamente é um gênero muito próximo ao gênero Drosophila (YASSIN et al., 2007, 2008, 2010; YASSIN; DAVID, 2010). A espécie Zaprionus indianus (GUPTA, 1970) é original do continente africano e foi identificada pela primeira vez no Brasil em 1999, sendo considerada uma espécie invasora que tem atacado plantações de figo (VILELA, 1999; TIDON et al., 2003). Após as coletas de 1999, Z. indianus foi detectada em diferentes localidades do Brasil (TONI et al., 2001; CASTRO; VALENTE, 2001; SANTOS et al., 2003; KATO et al., 2004; MATTOS- MACHADO et al., 2005; DAVID et al., 2006), no Uruguai (GOÑI et al., 2001) e, em 2005, Z. indianus foi registrado na Flórida (EUA) (VAN DER LINDE et al., 2006) e Argentina (SOTO et al., 2006). Alguns estudos que têm examinado o potencial invasivo de Z. indianus incluem o ciclo de vida (AMOUDI et al., 1991; STEIN et al., 2003), competição larval (AMOUDI et al., 1993a) e componentes do valor adaptativo (AMOUDI et al., 1993b; SETTA; CARARETO, 2005) em linhagens de origem da Arábia Saudita. Estudos de aloenzimas indicam que a plasticidade na distribuição da frequência alélica do lócus da Est-3, também pode ter contribuído para o sucesso da dispersão desta espécie pelo continente americano (GALEGO; CARARETO, 2007, 2010). No entanto, há poucos estudos sobre aspectos da biologia e reprodução (ARARIPE et al., 2004), bem como de outras espécies de Zaprionus (YASSIN et al., 2007; YASSIN; DAVID, 2010; YASSIN et al., 2010) Das 49 espécies do gênero Zaprionus, somente três tornaram-se invasivas, Z. indianus, Z. tuberculatus e Z. ghesquierei (CHASSAGNARD; KRAAIJEVELD, 1991). Dentre estas 15 espécies Z. indianus é a que tem se dispersado pelos quarto continentes e é considerado um drosofilídeo com alta diversidade ecológica (YASSIN et al., 2007; YASSIN; DAVID, 2010; YASSIN et al., 2010). O hábito generalista desta espécie pode ser um dos principais fatores do sucesso de ocupação nos quatro continentes (LACHAISE; TSACAS 1983; SCHMITZ et al., 2007). Entretanto, outros fatores da história de vida (traits of life, incluindo aqui aspectos de sua reprodução e da espermatogênese), ecologia e adaptação desta espécie também devem estar envolvidos neste processo de invasão. Caracteres masculinos que podem influenciar a habilidade competitiva do acasalamento e sucesso da fertilização são parâmetros reprodutivos que também podem interferir no potencial adaptativo das espécies. Assim, o número de espermatozoides e seu período de desenvolvimento também são fatores que podem contribuir para o potencial reprodutivo da espécie (GARCIA-GONZÁLEZ; SIMMMONS, 2007; AMITIN; PITNICK, 2007). O estudo da espermatogênese efetuado no presente trabalho, de duas espécies com dinâmica ecológica bem diferenciada, uma invasora, Z. indianus, a outra com distribuição restrita, Z. sepsoides, com morfologia testicular e tamanho de espermatozoides diferentes, evidenciou diferenças na fase de maturação dos espermatozoides, entre estas espécies, as quais poderiam causar uma diferenciação adaptativa favorecendo Z. indianus a explorar novos ambientes. Assim, o presente trabalho analisou a espermatogênese e a ultraestrutura dos espermatozoides de uma linhagem geográfica de Z. indianus e uma de Zaprionus sepsoides (DUDA, 1939). Z. sepsoides é restrita a algumas regiões do leste africano e não é considerada uma espécie invasora; além disto, apresenta tamanho testicular e do espermatozoide diferentes de Z. indianus. 16 1.1. Gênero Zaprionus Coquillett (1902) A filogenia molecular sugere que o gênero Zaprionus é original do Oriente e invadiu a África (YASSIN et al., 2008, 2010). Durante o século XX, três espécies Afrotropicais invadiram a região Paleártica: Z. indianus, Z. tuberculatus e Z. ghesquieri. Dessas, somente Z. indianus invadiu as Américas, constituindo uma das espécies do gênero com maior sucesso de colonização (CHASSAGNARD; KRAAIJEVELD, 1991). Após as coletas de Vilela (1999) no Estado de São Paulo, Z. indianus foi detectada em Santa Catarina (TONI et al., 2001), Rio Grande do Sul (CASTRO; VALENTE, 2001) e Uruguai (GOÑI et al., 2001), além de ter sido registrada em diferentes localidades de Minas Gerais (KATO et al., 2004). Em 2002 foi encontrada em vários estados do Nordeste (MATTOS-MACHADO et al., 2005), com registros em Tocantins e no norte do Brasil em 2003 (SANTOS et al., 2003). Nesse mesmo ano de 2003 houve registros da espécie no Panamá (América Central) e, em 2005, Z. indianus foi registrado na Flórida (EUA) (VAN DER LINDE et al., 2006) e Argentina (SOTO et al., 2006). Essa dispersão geográfica ampla e rápida é indicativa da grande facilidade com a qual Z. indianus pode colonizar novos ambientes (KARAN et al., 1999; TIDON et al., 2003; ARARIPE et al., 2004). A questão das invasões biológicas é de interesse crescente para o campo de genética evolutiva. Vermeij (1996) classificou o processo de invasão em três etapas: chegada, estabelecimento e integração. Em muitos casos de invasões biológicas a primeira etapa tem sido facilitada pelo homem, direta ou indiretamente, através do transporte de passageiros e mercadorias. As últimas duas etapas, no entanto, dependem de características intrínsecas da espécie invasora e assumem que esta esteja respondendo a um regime seletivo e, mais ainda, esteja se tornando parte desse regime por sua interação com outras espécies da comunidade. 17 A partir daí, estudos acerca da invasão de Z. indianus no Brasil tornaram-se interessantes e nos levam a questionar quais as características biológicas e reprodutivas que contribuem para o sucesso de sua colonização e expansão geográfica. 1.2. Aspectos biológicos de Zaprionus indianus O adulto de Z. indianus mede de 2-3 mm de comprimento, apresentando na cabeça e no corpo faixas longitudinais brancas bordejadas de estreitas faixas negras, que contrastam fortemente com as áreas castanhas adjacentes (GUPTA, 1970). O trabalho de Araripe et al. (2004) avaliou que a tolerância térmica de Z. indianus, medida por meio de limites de temperatura, induz a esterilidade do macho. Os machos desta espécie são mais tolerantes ao frio e levam o mesmo tempo para recuperar a fertilidade, tanto quando submetidos a um estresse de temperatura baixa quanto a um estresse de temperatura alta. Assim, foi visto que temperaturas próximas a 25ºC são ótimas para o desenvolvimento de Z. indianus (de ovo a adulto), permitindo curto tempo de desenvolvimento e alta viabilidade (KARAN et al., 1999; STEIN et al., 2003; SETTA; CARARETO, 2005; NAVA et al., 2007). Além disso, aspectos como ciclo de vida (AMOUDI et al., 1991; STEIN et al., 2003), competição larval (AMOUDI et al., 1993a) e componentes do valor adaptativo (AMOUDI et al., 1993b; SETTA; CARARETO, 2005) em linhagens de Z. indianus de origem da Arábia Saudita ajudam a explicar o potencial invasivo dessa espécie de Drosophilidae. 1 . 3 . Esp e rmat ogên es e e m D ros oph i l ida e A espermatogênese é um processo biológico de modificação gradual de células germinativas em espermatozoides dentro dos testículos. Esse processo envolve proliferação 18 celular por repetidas divisões mitóticas, duplicação das cromátides, divisão reducional por divisão meiótica para produzir espermátides haploides, e diferenciação terminal das espermátides em espermatozoides. Assim, a espermatogênese pode ser dividida em: proliferação, divisões reducional e equacional (na meiose) e diferenciação. Essas fases também são associadas com tipos de células germinativas específicas, isto é, espermatogônias, espermatócitos e espermátides. A organização dos testículos e o processo da espermatogênese de Drosophila melanogaster e de outros drosofilídeos são conhecidos em detalhes (COOPER, 1950; HARDY et al., 1979; LINDSLAY; TOKUYASU, 1980; FULLER, 1993; BARREAU et al., 2008) A primeira etapa da espermatogênese envolve a divisão de uma célula tronco espermatogonial (linhagem germinativa) e a divisão de duas células tronco somáticas (SCHARER et al., 2008). No ápice do testículo da drosófila, há dois tipos de células tronco, linhagem germinativa de células tronco (“germinative stem cells”-GSCs) e linhagem somática de células tronco (“somatic stem cells”- SSCs; são também conhecidas como células progenitoras do cisto). Essas células são responsáveis por produzir células germinativas diferenciadas e células somáticas do cisto, respectivamente. Cada uma das células GSCs, é unida a células somáticas de sustentação, chamadas em conjunto de células “hub” por possuírem forma de cubo. Essas células cúbicas estão ancoradas no ápice testicular por extensões da lâmina basal e as células tronco (SSC) estão firmemente atadas em um arranjo radial ao redor dessas células cúbicas (HARDY et al., 1979; LINDSLEY; TOKUYASU, 1980; FULLER, 1993; GÖNCZY et al., 1997; TULINA; MATUNIS, 2001; LI; XIE, 2005; SCHARER et al., 2008). Durante essas divisões as células mães permanecem ligadas às células somáticas “hub” (células cúbicas) e as células filhas juntas formam um cisto, no qual as duas células somáticas 19 se juntam e se fecham para formar uma nova célula germinativa (células em trânsito). O restante da espermatogênese ocorre dentro de cada cisto (Figura 1). À medida que o desenvolvimento ocorre, esses cistos são deslocados do ápice pela contínua geração de estágios anteriores nessa região do testículo (COOPER, 1950; LINDSLAY; TOKUYASU, 1980; GÖNCZY; DINARDO, 1996; MAINES; WASSERMAN, 1997; GÖNCZY et al., 1997; HARDY et al., 1979; FULLER, 1993; LI; XIE, 2005; SCHARER et al., 2008). Durante a proliferação, as células primordiais dos testículos, diploides, aumentam em quantidade por mitoses consecutivas e formam as espermatogônias. Cada espermatogônia passa por quatro divisões mitóticas gerando 16 espermatogônias. Um pequeno aumento no volume do citoplasma das espermatogônias as converte em espermatócitos de primeira ordem, também chamados espermatócitos primários ou espermatócitos I, também diploides e que se diferenciam dentro de um cisto. Cada um desses 16 espermatócitos passam por divisões Figura 1. Organização do ápice testicular de Drosophila melanogaster. Esquema adaptado de SCHARER et al., 2008. 20 meióticas, resultando num cisto de 64 espermátides circulares haploides. A divisão reducional corresponde ao período de ocorrência das meioses nos espermatócitos primários e secundários. A diferenciação corresponde à espermiogênese, processo que converte as espermátides em espermatozoides (COOPER, 1950; BAIRATI, 1968; MEYER, 1974; HARDY et al., 1979; LINDSLAY; TOKUYASU, 1980; FULLER, 1993; JOLY; BRESSAC, 1994; GÖNCZY; DINARDO, 1996; GÖNCZY et al., 1997; MAINES; WASSERMAN, 1997; REX, 1999; TULINA; MATUNIS, 2001; BARREAU et al., 2008; CHENG; MRUK, 2010). Assim, espécies dentro do gênero Drosophila e de outras espécies da família Drosophilidae, como do gênero Zaprionus, são um modelo atrativo para estudo de espermatogênese, além de que muitos mecanismos envolvidos na espermatogênese de mamíferos são preservados nas moscas (WHITE-COOPER, 2009). O estudo de características da espermatogênese das espécies do gênero Zaprionus, pode elucidar aspectos de sua reprodução e de seu desenvolvimento, além de observações acerca dos aspectos evolutivos do espermatozoide, podendo auxiliar na construção de hipóteses para o sucesso de Z. indianus desde as etapas iniciais de invasão. 1.4. Morfologia do testículo em Drosophilidae Na família Drosophilidae o desenho básico dos órgãos reprodutivos internos do macho é muito simples comparando com as partes externas do trato reprodutivo (DAVEY, 1985). Tipicamente, cada par de testículos abre em um ducto espermático, parte do qual é dilatado para formar a vesícula seminal (COOPER, 1950) (Figura 2). 21 Figura 2. Testículos de Zaprionus indianus (A e B) e Zaprionus sepsoides (C e D). B = Esquema adaptado de ARARIPE et al., 2004; C = Esquema adaptado de YASSIN; DAVID, 2010. Barras correspondem a 0.5 mm. 22 1.5. Evolução do tamanho do espermatozoide e tamanho do testículo Na família Drosophilidae o desenho básico dos órgãos reprodutivos internos do macho é muito simples comparando com as partes externas do trato reprodutivo (DAVEY, 1985). Tipicamente, cada par de testículos abre em um ducto espermático, parte do qual é dilatado para formar a vesícula seminal (COOPER, 1950). A vesícula seminal, então, conecta-se com o ducto ejaculatório. As diferenças consideráveis no comprimento dos testículos das espécies dessa família (JOLY; BRESSAC, 1994; JOLY et al., 2004) estão correlacionadas positivamente com o comprimento dos espermatozoides (JOLY; BRESSAC, 1994; PITNICK; MARKOW, 1994b; PITNICK, 1996; PITNICK; MILLER, 2000) que varia desde 77 µm em D. persimilis (SNOOK, 1997) a 6 cm em D. bifurca (PITNICK et al., 1995), bem como o tamanho do espermatozoide em relação ao tamanho do receptáculo da fêmea. A variação nas fêmeas envolve órgãos e estruturas internas que recebem e manipulam o espermatozoide, mais que aquelas envolvidas com a mecânica e a física da liberação do espermatozoide durante a cópula. Espermatozoides continuam a sofrer pressões seletivas e/ou competitivas dentro do trato reprodutivo feminino, e essa interação com o ambiente feminino pode ser uma grande força seletiva agindo nos tratos reprodutores femininos e masculinos (JOLY; SCHIFFER, 2010). Amitin e Pitnick (2007) sugeriram que a evolução da escolha feminina por determinado espermatozoide baseia-se em seu tamanho e, assim, espermatozoides longos apresentariam maior custo em serem produzidos em Drosophila, mas possuiriam vantagem competitiva na fertilização sobre espermatozoides menores. Essa hipótese de que espermatozoides grandes poderiam aumentar o potencial competitivo de um ejaculado ou promover a escolha feminina, poderia ser porque espermatozoides grandes, entre outras razões, se movimentariam mais rápido, sendo mais efetivo no deslocamento dentro do trato 23 reprodutivo da fêmea. O tamanho da espermateca feminina, então, influenciaria o padrão da seleção, podendo direcionar o tamanho do espermatozoide (SNOOK, 2005). García-González et al. (2007) estudaram o papel da variação natural no tamanho do espermatozoide e seu sucesso de fertilização no besouro Onthophagus taurus. Descobriram que o sucesso de fertilização foi maior em machos com espermatozoides relativamente pequenos. Mas essa seleção no tamanho do espermatozoide foi dependente da morfologia do trato reprodutivo feminino. Dessa forma, o tamanho do testículo envolve a resposta à demanda na produção de espermatozoides pela competição espermática e a maquinaria do testículo pode reagir a diferentes demandas de produção espermática, uma mudança que pode refletir no tamanho do testículo (SCHARER et al., 2008; VARRED et al., 2011). Assim, a evolução do tamanho do espermatozoide representa o resultado da seleção sexual pós-copulatória, mais especificamente de uma complexa interação entre competição espermática e escolha críptica da fêmea. Então, é possível que a seleção sexual possa influenciar a arquitetura testicular, quando está relacionada à seleção do tamanho do espermatozoide ou ao número de espermatozoides produzidos. Como consequência da variação na seleção sexual, o testículo não somente produz diferentes números de células, mas também células de alta complexidade e variação morfológica, significando que o testículo está sob variadas e rápidas mudanças da pressão seletiva (SCHARER et al., 2008). 1.6. Aspectos citogenéticos e comportamento nucleolar Apesar da grande importância ecológica e evolutiva do gênero Zaprionus, estudos citogenéticos em cromossomos não politênicos têm sido negligenciados neste grupo, uma vez que somente o número cromossômico foi estudado em poucos casos, evidenciando o número 24 diploide de 12 cromossomos (10A+XY) para as seguintes espécies: Z. vittiger, Z. ghesquieri, Z. multistriatus, Z. sepsoides, Z. argentoistriatesus e Z. tuberculatus (ver em GUPTA; KUMAR, 1987). Já aspectos citogenéticos e moleculares relacionados a cromossomos politênicos de espécies de Zaprionus são mais frequentemente analisados (GUPTA; KUMAR, 1987; HATCH; JEFFERY, 1992; SU et al. 1992; ANANINA et al., 2007; CAMPOS et al., 2007). Estudos citogenéticos de cromossomos politênicos no gênero Zaprionus mostraram que o padrão de cinco longos cromossomos e um sexto cromossomo menor correlacionados com cinco pares de cromossomos acrocêntricos e um par menor de cromossomos são características das poucas espécies estudadas do gênero Zaprionus (SCIANDRA et al., 1973; SU et al., 1992; HATCH; JEFFERY, 1992). O nucléolo é uma estrutura dinâmica que está relacionada com a compartimentalização das funções do núcleo (HERNADEZ-VERDUN, 1991), sendo considerado um subcompartimento nuclear altamente organizado, não envolto por membrana, apresentando número, forma e tamanhos variáveis, de acordo com a atividade celular e é onde ocorre a síntese de RNA ribossômico (GERBI et al., 2003). Dessa maneira, o nucléolo se forma ao redor de grupos de repetições do gene de RNA ribossômico (RNAr) durante o final da telófase, persiste em intérfase e se desfaz assim que a célula entra em divisão (LAM et al., 2005). Algumas atividades celulares estão ligadas ao nucléolo como síntese e processamento de RNAr e RNA transportador, reparo no dano de DNA, captura e liberação de proteínas envolvidas em silenciamento gênico e regulação da estabilidade proteica (OLSON et al., 2002; LAM et al., 2005; PEDERSON, 2010). O nucléolo interfásico encontra-se organizado ao redor de regiões cromossômicas denominadas Regiões Organizadoras de Nucléolos (RONs) ou NORs (do inglês Nucleolar Organization Regions), que são regiões do DNA responsáveis pela transcrição de RNA ribossômico e podem ser identificadas, de forma 25 indireta, pela técnica de impregnação pelo nitrato de prata. Nesta técnica são coradas as proteínas residuais que permaneceram aderidas às NORs, após as atividades transcricionais desta região para a formação do nucléolo, sendo uma das mais empregadas em estudos citogenéticos (MILLER, 1977). Sabe-se que o tamanho e o número de nucléolos e corpos pré-nucleolares dependem das características funcionais das células e podem refletir, então, diferenças metabólicas e funcionais. 1.7. Aspectos ultraestruturais dos espermatozoides em Drosophilidae Os espermatozoides são células geralmente pequenas, compactadas e altamente especializadas na fertilização do óvulo. São otimizadas para transferir o material genético paterno para o óvulo, processo essencial na transmissão da hereditariedade e posterior desenvolvimento do organismo. Caracterizam-se por serem células dotadas de um flagelo, cujo papel principal é impulsioná-las através do meio fluido. É uma célula altamente complexa e tem passado por diversas modificações morfológicas ao longo dos processos evolutivos (BACCETTI; AFZELIUS, 1976). O espermatozoide de Drosophila possui forma filiforme e núcleo alongado, seguido de uma longa cauda (PEROTTI, 1969). Embora alguns constituintes dos espermatozoides variem em forma e posição, a estrutura geral do espermatozoide na família Drosophilidae é relativamente bem conservada entre as espécies. Em contraste, o tamanho dos núcleos e da cauda são altamente variáveis entre espécies. O comprimento total do espermatozoide mede 3.7 mm em Zaprionus tuberculatus, cerca de 2 mm em Drosophila melanogaster e 1.2 mm em D. simulans, (JOLY et al., 2004). Já em D. hydei o espermatozoide mede 23 mm e em D. bifurca chega a 58.29 mm (PITNICK et al., 1995b). 26 As observações realizadas nos flagelos de espermatozoides de diferentes espécies de Drosophila contribuíram para o estudo da organização estrutural do axonema (Ax) desse grupo de dípteras (PEROTTI, 1969; KIEFER, 1970; DALLAI; AFZELIUS, 1991). A estrutura e organização do espermatozoide em Drosophila é caracterizada pela presença de: acrossoma localizado lateralmente ao núcleo, cromatina nuclear bastante compactada, centríolo, dois derivados mitocondriais de tamanhos diferentes preenchidos por material paracristalino e um axonema com o arranjo 9+9+2 de microtúbulos, que é o arranjo usual de 9+2 microtúbulos circundados por nove microtúbulos acessórios adicionais, ou seja, um par de microtúbulos centrais, nove microtúbulos duplos periféricos (formados por fibrila A e fibrila B) e nove microtúbulos acessórios (PHILLIPS, 1970; BACCETTI, 1972; JAMIESON et al., 1999). Na maioria dos insetos o padrão organizacional do axonema segue o arranjo 9+9+2. Em algumas espécies de insetos há variação nos elementos centrais do axonema, como em mosquitos é comum o arranjo 9+9+1, enquanto na ordem dos efemerópteros (libélulas), predomina o esquema 9+9+0 (PHILLIPS, 1970). No entanto, os microtúbulos duplos periféricos parecem ser uma característica conservada em todas as caudas de espermatozoides de dípteras (DALLAI et al., 1993). Durante a espermatogênese as mitocôndrias assumem diferentes morfologias e em insetos, a regularidade nas formas da mitocôndria é notável (PHILLIPS, 1970). No decorrer da espermatogênese as mitocôndrias sofrem mudanças morfológicas, onde a estrutura típica da mitocôndria é completamente modificada. Logo após a meiose há o início de uma série de fusões e rearranjos das mitocôndrias formando o complexo mitocondrial que é frequentemente denominado “Nebenkern”, especialmente em trabalhos mais antigos (PHILLIPS, 1970; BACCETTI, 1972). No decorrer da espermatogênese, ocorre a divisão do complexo mitocondrial em dois derivados mitocondriais, que no processo de alongamento do 27 espermatozoide posicionam-se bilateramente em relação ao axonema (LINDSLEY; TOKUYASU, 1980). A diferenciação mitocondrial resultando em um ou dois derivados mitocondriais de tamanhos diferentes varia de espécie para espécie. Em algumas ordens como Trichoptera somente um derivado mitocondrial é encontrado (PHILLIPS, 1970). Em espermatozoides de dípteros da família Drosophilidae, dois derivados mitocondriais de diferentes tamanhos são característicos e em outros dípteros como os das famílias Culicidae e Simullidae são encontrados dois derivados mitocondriais de tamanhos iguais (PHILLIPS, 1970). Durante o processo de diferenciação, os derivados mitocondriais são preenchidos ao longo de sua extensão por uma estrutura de natureza proteica, organizada num padrão paracristalino, e muitas espécies de insetos acumulam estas estruturas nas mitocôndrias durante a espermiogênese (PHILLIPS, 1970). Esta estrutura paracristalina é formado por uma proteína rica em prolina (BACCETTI et al., 1977). Várias são as funções sugeridas aos derivados mitocondriais dos espermatozoides de insetos, podendo participar no controle e regulação da forma do movimento flagelar e estando relacionados com o processo de estocagem e liberação de energia necessária para a motilidade flagelar (PHILLIPS, 1970). As diferenças observadas nos machos jovens de Z. indianus e Z. sepsoides quanto a quantidade de espermatozoides e frequência de células em fases iniciais da espermatogênese são características que podem interferir no sucesso reprodutivo e adaptativo destas espécies e estar relacionadas ao maior potencial invasivo de Z. indianus. 28 2. OBJETIVOS 2.1. Objetivo Geral Ampliar os estudos sobre a biologia de Z. indianus e Z. sepsoides por meio da espermatogênese e espermiogênese e identificar características que possam ajudar a entender o alto poder de adaptação de Zaprionus indianus a vários ambientes, refletida pelo sucesso de sua invasão em diferentes continentes. 2.2. Objetivos Específicos a) Descrever as fases da espermatogênese de ambas as espécies, utilizando técnicas citoquímicas de coloração com orceína lacto - acética, coloração com azul de toluidina, reação de P.A.S. e reação de Feulgen, em machos de diferentes idades. b) Avaliar o comportamento nucleolar durante a espermatogênese, por meio da técnica de impregnação pelo nitrato de prata. c) Analisar por meio de microscopia eletrônica de transmissão, os aspectos da espermiogênese e a ultraestrutura dos espermatozoides das espécies estudadas. 29 3. MATERIAL E MÉTODOS Procedência dos insetos Foram utilizadas uma linhagem de Zaprionus indianus procedente de Ubatuba/SP, Brasil, e uma linhagem de Zaprionus sepsoides procedente da África, região do Congo, cedida pelo Prof. Dr. Jean David (CNRS/Gif-sur-Yvette/França). Medidas dos testículos Medidas lineares de um total de 24 testículos de cada espécie foram feitas onde os pares de testículos foram obtidos de 12 pares de machos adultos, com oito dias de idade, de Z. indianus e Z. sepsoides. Para medir de maneira linear foi necessário desenrolar os testículos dos indivíduos de Z. indianus, já que os mesmos possuem forma de espiral. Preparação das lâminas e técnicas citoquímicas Nestas análises os testículos das duas espécies foram retirados de machos com diferentes idades (de 1 a 8 dias), corados com orceína lacto - acética de acordo com De Vaio et al. (1985) e impregnados com nitrato de prata de acordo com Howel e Black (1980), modificado. Após o preparo usual das lâminas, o procedimento para as duas espécies para a Reação de Feulgen foi seguido de acordo com Mello e Vidal (1980), com modificações. A análise estrutural e ultraestrutural foi feita de acordo com Cotta-Pereira et al. (1976), com modificações. Os testículos de adultos de Z. indianus e Z. sepsoides foram retirados desses insetos em diferentes fases de desenvolvimento (1, 3, 5 e 8 dias de vida) e foram fixados em solução de paraformaldeído 4% e glutaraldeído a 2,5% em tampão fosfato a 0,2M, 30 pH 7,4. Após a fixação inicial por 4 horas em geladeira, o material foi lavado três vezes em tampão fosfato 0,1M, pH 7,4, durante 15 minutos, e, em seguida, pós-fixado em tetróxido de ósmio 1%, no mesmo tampão, por 2 horas em geladeira e em frasco escuro vedado. Após esse procedimento, o material foi lavado três vezes em água destilada, durante 5 minutos em cada banho. Posteriormente, iniciou-se o processo de desidratação do material em sequência crescente de soluções de acetona (acetona 30%, 50%, 70% e 90% por 15 minutos em cada solução; na sequência, acetona 95% e 100%, três vezes, por 15 minutos, cada vez). Após a desidratação, o material foi embebido em uma mistura de resina (Araldite®) e acetona 100% (1:1), e deixado overnight à temperatura ambiente. Em seguida retirou-se a mistura Araldite®/acetona 100% (1:1) e depois ocorreu a inclusão em resina na estufa a 37º C por 2 horas. Depois os testículos foram retirados dos frascos contendo a resina pura e iniciou-se o processo de inclusão no molde. Em seguida, colocou-se a placa contendo o molde em estufa a 60ºC por 72 horas (processo de polimerização). Os cortes semifinos de 0,5μm foram corados com de azul de toluidina 1% e analisados em microscópio de luz; os cortes ultrafinos de 70nm foram contrastados com acetato de uranila e citrato de chumbo e analisados em microscópio eletrônico de transmissão. Para a reação de P.A.S., após o preparo das lâminas para a análise estrutural, o seguinte procedimento foi seguido para as duas espécies (MELLO; VIDAL, 1980, com modificações): foram gotejadas sobre os cortes semi-finos de 0,5 μm, uma solução de ácido periódico a 0,5% em estufa a 60ºC, por 14 minutos e, em seguida, elas foram lavadas em água destilada corrente por 5 minutos. Adicionou-se o reativo de Shiff em placas de Petri protegidas da luz em estufa a 60ºC, por 45 minutos. Daí por diante, foram dados três banhos com água destilada, por 5 minutos cada um. Em seguida, as lâminas foram secas ao ar, montadas em verniz cristal e analisadas em microscópio de luz. 31 O material submetido às técnicas citoquímicas e citogenéticas convencionais foi analisado por meio de observação das lâminas ao microscópio de luz (Olympus BX40), com sistema analisador de imagem Axiovision LE, Versão 4.8 para Windows, do laboratório de Biologia Celular (IBILCE-UNESP-São José do Rio Preto). O material submetido às técnicas histológicas foi analisado e fotografado em microscópio eletrônico de transmissão-JEOL 1011 operado a 80kv, da Central de Microscopia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto/USP. 4. RESULTADOS 4.1. Morfologia dos testículos de Zaprionus indianus e Zaprionus sepsoides Os testículos de Z. indianus e Z. sepsoides apresentaram uma coloração amarela (Figuras 2A e 2C, respectivamente). Em Z. indianus são formados por dois tubos enovelados com cerca de 5 mm de comprimento cada um (Figura 2A). Em Z. sepsoides os testículos são dois tubos de aparência reniforme com cerca de 2 mm de comprimento cada um (Figura 2C). 4.2. Coloração com orceína lacto - acética e reação de Feulgen  Espermatogênese em Zaprionus indianus Na parte apical dos testículos observou-se um grande número de células em divisão. Na prófase I, os núcleos dos espermatócitos primários em diplóteno/diacinese apresentaram os cromossomos dispostos em anel circular (2n = 12; 10A+XY), com associações entre si e os cromossomos sexuais separados desse anel (Figura 3B). Apresentaram também quiasmas intersticiais conferindo sua disposição em forma de cruz (Figuras 3C-E e 3L). As metáfases I da meiose mostraram os cromossomos bivalentes em um arranjo circular no núcleo (Figuras 3F e 3M-N). Durante a anáfase meiótica foi possível discriminar alguns cromossomos 32 acrocêntricos migrando para os polos da célula (Figuras 3G e 3O). Na telófase I o material genético mostrou-se difuso no centro do núcleo (Figuras 3H e 3P). Ao término da telófase II, observou-se a formação de quatro núcleos haploides (Figura 3I), originando as espermátides. Por fim, durante o processo da espermiogênese, essas espermátides sofreram alongamento (Figuras 3J e 3Q) e se organizaram em longos feixes de espermatozoides (Figuras 3K e 3R).  Espermatogênese em Zaprionus sepsoides Durante a prófase I, na fase diplóteno/diacinese os cromossomos estavam dispostos em um anel circular, com associações entre si e os cromossomos sexuais separados desse anel (Figuras 4B e 4N-O). Ainda na fase diplóteno/diacinese quiasmas duplo terminais conferem aos cromossomos a morfologia arredondada (Figura 4C). Ainda em diplóteno/diacinese, os cromossomos apresentaram quiasmas intersticiais conferindo sua disposição em forma de cruz (Figura 4M). As metáfases I da meiose mostraram seis pares de cromossomos bivalentes (2n=10A+XY) (Figuras 4D-E e 4P-Q). Na anáfase foi possível observar cromossomos migrando para os polos da célula (Figura 4F). Na telófase I o material genético mostrou-se difuso no centro do núcleo (Figura 4G). Ao término da telófase II, observou-se a formação de quatro núcleos haploides (Figura 4H), originando as espermátides. Por fim, essas espermátides sofreram alongamento (Figura 4I) e em uma fase posterior se organizaram em curtos feixes de espermatozoides (Figuras 4K e 4S-T). Esses feixes de espermatozoides mostraram forte coloração e concentração de material genético em sua extremidade anterior, que correspondem aos núcleos desses espermatozoides em individualização (Figuras 4J-K e 4S-T), indicando a presença de moléculas carregadas positivamente dos grupos amina de resíduos dos aminoácidos proteicos (-NH3 + ), por conta da coloração com orceína lacto - 33 acética, bem como a presença de grupos aldeídos, por conta da reação produzida pelo reativo de Shiff. 4.3. Impregnação por prata (AgNOR) em células de Z. indianus e Z. sepsoides Foram observadas células em variadas fases da espermatogênese impregnadas com prata. Em Z. indianus foram vistos espermatócitos no estágio inicial da prófase I mostrando corpúsculos nucleolares espalhados por todo o núcleo das células (Figuras 5A-D). Espermátides em um estágio mais avançado de elongamento não apresentaram impregnação específica ao longo de todo o seu comprimento (Figuras 5E-F), enquanto espermatozoides organizados em feixes longos com extremidades fortemente coradas pela AgNOR foram vistos com bastante frequência (Figuras 5G-H). Em Z. sepsoides foram observados espermatócitos em prófase com os núcleos corados pelo nitrato de prata. Esses núcleos apresentaram corpúsculos nucleolares impregnado pela prata (Figuras 5I-L). Espermátides em um estágio mais avançado de elongamento não apresentaram impregnação específica ao longo de todo o seu comprimento (Figuras 5M-N). Os feixes de espermatozoides apresentaram-se distribuídos em todas as direções (Figura 5S), com as regiões das cabeças dos espermatozoides fortemente marcadas pela prata (Figuras 5O- U). Notou-se claramente a diferença de morfologia entre as células em prófase I, espermátides alongadas e espermatozoides (Figura 5V). Espermatozoides foram vistos entrelaçando-se uns nos outros (Figuras 5X-Z). 34 4.4. Análise estrutural e ultraestrutural dos testículos e da espermatogênese de Z. indianus e Z. sepsoides Foram analisados testículos de Z. sepsoides e Z. indianus em diferentes fases de desenvolvimento (1, 3, 5 e 8 dias de vida). Foi observado que as duas espécies possuem células em divisão e espermatozoides nos machos de diferentes idades. No entanto, células em divisão (espermatócitos) e em processo de elongamento (espermátides) são mais facilmente encontradas nos primeiros dias de vida do que com mais de cinco dias, onde são vistos espermatozoides com maior frequência, isto para Z. sepsoides foi mais evidente que em Z. indianus, que mostrou uma abundância maior de espermatozoides em machos jovens (1 a 3 dias), com poucas células nos estágios iniciais da espermatogênese. Nos testículos das duas espécies foram identificadas diversas estruturas celulares diferenciadas que são descritas a seguir. Camada de revestimento (cr): camada externa de células envolvendo cada órgão de maneira contínua. Essas células estão separadas do interior do testículo por um envoltório (en), na qual se alinha os espermatócitos e as células espermatogoniais. Centro germinativo (Cg): local onde foi observada uma quantidade considerável de células germinativas, identificadas no ápice do testículo (ap) das duas espécies de Zaprionus estudadas (Figuras 6A-B e 5D e Figuras 8A-C). O conteúdo testicular foi dividido em duas partes: células germinativas no ápice do testículo e o restante do testículo preenchido pelas células correspondentes as outras fases da espermatogênese (Figuras 6A e 8B-C). Principalmente nos testículos de Z. sepsoides foram observados grânulos fortemente corados, os quais podem ser grânulos de glicogênio, segundo dados da literatura. A presença de carboidratos nesses grânulos foi confirmada realizando-se a técnica de P.A.S. nesses testículos (Figura 9B). 35 Em Z. indianus não foi possível observar ao longo do testículo a localização das sucessivas fases da espermatogênese, talvez pela característica morfológica e tamanho deste órgão (em espiral) nesta espécie, que dificultou uma preparação adequada para a observação nos cortes ultrafinos ou porque o pico das fases iniciais pode ter ocorrido em estágios anteriores como, por exemplo, nas pupas. Em regiões como o ápice testicular, foram vistas muitas espermátides circulares e alongadas ocupando todo o interior dessa parte do órgão. Nas outras regiões, foram observados feixes de espermatozoides distribuídos em todas as direções (Figuras 6A-B e 7A-B). Em Z. sepsoides observou-se a localização de algumas fases da espermatogênese, com células em divisão ocupando toda a porção apical do testículo, juntamente coma presença de muitos grânulos (Figura 9B). Logo em seguida, foi localizada uma massa de espermátides e, adiante, ocupando todo o restante do interior do testículo, feixes de espermatozoides distribuídos em todas as direções (Figuras 9A-C). Pela microscopia eletrônica de transmissão (MET) foi possível observar que o testículo é composto de uma camada externa de revestimento, circundando o envoltório nas duas espécies estudadas (Figuras 10A, 10C e 11A). A diferenciação das espermátides nas duas espécies ocorre em sincronia dentro dos cistos, portanto estas se encontram no mesmo estágio de maturação (Figuras 10A-B e Figuras 11A-B). Dessa maneira, um fator relevante observado ultraestruturalmente foi o número constante de 64 espermatozoides por feixe em Z indianus (Figuras 10A-B) e em Z. sepsoides (Figuras 11A-B). A ultraestrutura dos espermatozoides de Z. indianus e Z. sepsoides revelou que o axonema de ambas as espécies possui o arranjo de 9+9+2: um par de microtúbulos centrais, nove microtúbulos duplos periféricos (formados por fibrila A e fibrila B), nove microtúbulos acessórios adicionais, além de nove 'spokes' (Figuras 10G-H e 11D-E, respectivamente). Foi 36 visto também que próximo ao axonema, dois derivados mitocondriais de tamanhos diferentes estão presentes em ambas as espécies (Figuras 10B, 10D-G e Figuras 11B-D). O derivado mitocondrial de maior tamanho contém material paracristalino bem evidente principalmente em Z. indianus (Figuras 10D-E). 37 Figura 3. 38 Figura 3. A-R. Células de testículos de Zaprionus indianus coradas com orceína lacto – acética (A-K) e submetidas à reação de Feulgen (L-R). A. Intérfase com região correspondente ao nucléolo deslocada para a periferia do núcleo. B. Prófase I (diplóteno/diacinese), mostrando os cromossomos dispostos em um anel circular, e os cromossomos sexuais separados desse anel. C, D, L. Diplóteno/diacinese com quiasmas intersticiais que conferem aos cromossomos morfologia em forma de cruz; E, F, M, N. Metáfases I da meiose mostrando os seis pares de cromossomos bivalentes. G, O. Anáfase meiótica; H, P. Telófase I mostrando o material genético no centro de cada núcleo; I. Telófase II e a formação de quatro núcleos haploides; J, Q. Espermátides elongadas; K, R. Espermatozoides organizados em longos feixes. 39 Figura 4. 40 Figura 4. A-T. Células de testículos de Zaprionus sepsoides coradas com orceína lacto - acética (A-L) e submetidas à reação de Feulgen (M-T); A. Intérfase com região correspondente ao nucléolo deslocada para a periferia do núcleo; B, C e M, N, O. Prófase I (diplóteno/diacinese), mostrando os quiasmas intersticiais que conferem aos cromossomos a morfologia arredondada e os cromossomos sexuais separados desse anel; D, E e P, Q. Metáfases I da meiose mostrando os seis pares de cromossomos bivalentes; F. Anáfase inicial mostrando alguns cromossomos migrando para os polos da célula; G. Telófase I mostrando o material genético no centro de cada núcleo; H. Telófase II, mostrando a formação de quatro núcleos haploides; I e R. Espermátides elongadas; J, K e S, T. Feixes de espermatozoides apresentando forte coloração e concentração de material cromatínico na ponta desses feixes, que correspondem aos núcleos desses espermatozoides; L. Espermatozoides dispostos em feixes curtos e circulares no testículo 41 Figura 5. 42 Figura 5. Células de testículos de Zaprionus indianus (A-H) e Zaprionus sepsoides (I-Z) impregnadas pela prata. A-D. Células de testículos de Zaprionus indianus impregnadas pela prata. Espermatócitos no estágio inicial da prófase I mostrando corpúsculos nucleolares espalhados por todo o núcleo das células; E, F. Espermátides em um estágio mais avançado de elongamento não apresentando impregnação específica ao longo de todo o seu comprimento; G, H. Espermatozoides organizados em feixes longos e com as extremidades fortemente coradas pela AgNOR. (I-Z) Células de testículos de Zaprionus sepsoides impregnadas pela prata; I-L. Espermatócitos em prófase I mostrando os corpúsculos nucleolares das célula impregnados com a prata; M, N. Espermátides em um estágio mais avançado de elongamento não apresentando impregnação específica ao longo de todo o seu comprimento; O-R. Espermatozoides mostrando forte marcação de AgNOR em uma de suas extremidades correspondentes aos núcleos dessas células; S. Feixes curtos de espermatozoides distribuídos em todas as direções com as regiões das cabeças dos espermatozoides fortemente marcadas pela prata; V. Três tipos celulares da espermatogênese: núcleos em prófase, espermátides alongadas e espermatozoides; (T, U, X, Z) Feixes de espermatozoides vistos em detalhe 43 Figura 6. 44 Figura 6. Testículos e células de Zaprionus indianus. A, B. Esmagamento e coloração com orceína lacto - acética, mostrando no ápice do testículo (ap) a região do centro germinativo (Cg), seguida de células em divisão (Cd) e espermatozoides (C) presentes na região mediana do testículo; D. Corte histológico mostrando espermátides (spmtd), seguidas de feixes de espermatozoides arranjados em forma de feixes transversais de espermatozoides (fte), além de feixes longitudinais de espermatozoides (fle). Observar também outras estruturas presentes nos testículos como a camada de revestimento (cr) e o envoltório (en). Corte histológico em (D) com 0,5 µm de espessura e corado com azul de toluidina a 1%. Barras correspondem a 10 µm. 45 Figura 7. 46 Figura 7. Testículos e células de Zaprionus indianus; A. Corte histológico com 0,5 µm de espessura e corado com azul de toluidina a 1%, e em detalhe em (B), mostrando espermátides (spmtd), seguidas de feixes transversais de espermatozoides (fte); Observar também outras estruturas presentes nos testículos como a camada de revestimento (cr) e o envoltório (en). Barras correspondem a 10 µm. 47 Figura 8. 48 Figura 8. A-C. Testículos e células de Zaprionus sepsoides. A. Órgão de indivíduo com 8 dias de vida. Notar coloração amarelada; B. Esmagamento e coloração com orceína lacto - acética, mostrando no ápice do testículo (ap) a região do centro germinativo (Cg), seguida de células em divisão (Cd) e espermatozoides presentes na região mediana do testículo; C. Corte histológico células organizadas de forma regular e progressiva ao longo do comprimento dos testículos: centro germinativo (Cg) formado por espermatogônias e células em divisão (Cd) constituídas de espermatócitos e espermátides (spmtd), seguidas de feixes de espermatozoides (sptz) individualizados e arranjados em forma de feixes transversais de espermatozoides (fte), além de feixes longitudinais de espermatozoides (fle). Observar também outras estruturas presentes nos testículos como a camada de revestimento (cr) e o envoltório (en). Corte histológico em (C) com 0,5 µm de espessura e corado com azul de toluidina 1%. Barras correspondem a 10 µm. 49 Figura 9. 50 Figura 9. Cortes semifinos de testículos de Z. sepsoides corados com azul de toluidina a 1% e com P.A.S. A, C. Corte histológico com 0,5 µm de espessura, corado com azul de toluidina a 1%; em detalhe em (C), espermátides (spmtd), seguidas de feixes transversais de espermatozoides (fte), onde é possível visualizar o número de 64 espermatozoides por feixe (detalhe). Observar também outras estruturas presentes nos testículos como a camada de revestimento (cr), o envoltório (en), grânulos internos de glicogênio (gri) e grânulos externos de glicogênio. A figura (B) mostra o mesmo corte mostrado em (A), porém submetido à coloração P.A.S. Os detalhes mostram os grânulos de transição (grt) e os feixes transversais (fte) e longitudinais (fle) de espermatozoides. Barras correspondem a 10 µm. 51 Figura 10. 52 Figura 10. Micrografias em MET de espermatozoides-região do flagelo- de Z. indianus. A. Seção transversal do testículo mostrando diversos feixes de espermatozoides organizados em cistos. B. Seção transversal do testículo mostrando em detalhe um feixe contendo 64 espermatozoides. C. Seção transversal do testículo onde é possível observar uma camada de revestimento (cl) e um envoltório (notar estrela). D-G. Seção transversal de um feixe de espermatozoides, mostrando a região da cauda com axônios (Ax) e derivados mitocondriais de diferentes tamanhos: derivado mitocondrial maior (MD), onde é possível notar acúmulo de material paracristalino (p) e derivado mitocondrial menor (Md). Em (H) detalhe de um axônio, mostrando o arranjo de 9+9+2: um par de microtúbulos centrais, nove microtúbulos duplos periféricos (notar fibrila A e fibrila B), nove túbulos acessórios (TA), além de nove 'spokes' (s). 53 Figura 11. 54 Figura 11. Micrografias em MET de espermatozoides-região do flagelo- de Z. sepsoides. A. Seção transversal do testículo mostrando diversos feixes de espermatozoides organizados em cistos. B. Seção transversal do testículo mostrando em detalhe feixes contendo 64 espermatozoides. C, D. Seção transversal de um feixe de espermatozoides, mostrando a região da cauda com axônios (Ax) e derivados mitocondriais de diferentes tamanhos: derivado mitocondrial maior (MD), onde é possível notar acúmulo de material paracristalino (p) e derivado mitocondrial menor (Md). Em (E) detalhe de um axônio, mostrando o arranjo de 9+9+2: um par de microtúbulos centrais, nove microtúbulos duplos periféricos (notar fibrila A e fibrila B), nove túbulos acessórios (TA), além de nove 'spokes' (s). Observar o acúmulo de material elétron denso nos nove microtúbulos acessórios e nos dois microtúbulos centrais. 55 5. DISCUSSÃO A rápida dispersão de Z. indianus em diferentes continentes e principalmente no Brasil, onde é considerada uma praga das plantações de figo (STEIN et al., 2000), tem estimulado um crescente número de estudos visando entender aspectos de sua biologia e da história de sua invasão. A mesma razão motivou o presente estudo da espermatogênese desta espécie e de outra com características ecológicas e da morfologia testicular diferentes, que é Z. sepsoides. Foi evidenciado que os testículos de Z. indianus são formados por dois tubos enovelados com cerca de 5 mm de comprimento cada um e em Z. sepsoides os testículos são dois tubos de aparência reniforme com cerca de 2 mm de comprimento cada um. Essas medidas coincidem com as medidas lineares feitas por Yassin e David (2010) em testículos de diferentes espécies do gênero Zaprionus. Espécies do grupo inermis podem ser classificadas em duas categorias: aquelas com pequenos testículos variando de 1.0 a 2.0 mm (Z. sepsoides, Z. inermis, Z. cercus, Z. kolodkinae e Z. tsacasi), e aquelas com testículos grandes, variando de 5.2 a 5.4 mm, como em Z. indianus, Z. africanus e Z. taronus. Araripe et al. (2004) mostraram que a anatomia e fisiologia reprodutiva de Z. indianus são diferentes das conhecidas em D. melanogaster, uma vez que Z. indianus possui espermatozoides maiores (5 mm) que D. melanogaster (1.8 mm). Joly e Bressac (1994) mediram o tamanho dos espermatozoides e dos testículos de várias espécies de drosofilídeos e verificaram que, em Z. indianus, o tamanho do espermatozoide é de aproximadamente 6.07 mm e em Z. sepsoides de 0.78 mm, sendo os tamanhos dos testículos de 6.53 mm e 1.42 mm respectivamente. Essas medidas dos testículos correspondem às encontradas no presente trabalho. 56 Foi verificado que os feixes de espermatozoides em Z. sepsoides possuem menor comprimento do que em Z. indianus, refletindo seu menor tamanho e, consequentemente, menor tamanho dos testículos. Como já é conhecido por dados da literatura, os testículos são tão longos quanto os espermatozoides que são fabricados neles (LINDSLEY; TOKUYASU, 1980; PITNICK; MARKOW, 1994). O número diploide de Z. indianus e Z. sepsoides foi confirmado como sendo 2n = 12. No presente trabalho não foi possível, pela técnica AgNOR evidenciar nos cromossomos meióticos as Regiões Organizadoras de Nucléolo, somente nos núcleos em prófase e nos espermatozoides, nos quais sua presença confirmou a intensa atividade de síntese proteica em sua região anterior, correspondente às cabeças dos espermatozoides. Esta marcação já foi evidenciada em estudos com outros organismos (TAVARES; AZEREDO-OLIVEIRA, 1997; TARTAROTTI; AZEREDO-OLIVEIRA, 1999; SEVERI-AGUIAR; AZEREDO-OLIVEIRA, 2005; MORIELLE-SOUZA; AZEREDO-OLIVEIRA, 2008; COSTA et al., 2008; PERUQUETTI et al., 2008, 2010). Existem poucos estudos utilizando marcações com AgNOR em espécies do gênero Zaprionus. Gupta e Kumar (1987) estudaram a associação dos cromossomos politênicos com o nucléolo em quatro populações indianas distintas de Zaprionus indianus e observaram que diferentes cromossomos, como o cromossomo X e o menor par de cromossomos do conjunto, estão envolvidos com as atividades da Região Organizadora do Nucléolo (RON). Em machos jovens (1 a 3 dias) de Z. sepsoides foram observados mais frequentemente que em Z. indianus, células em estágios iniciais da espermatogênese, como espermatócitos I e II, poucas espermátides e uma quantidade relativa de espermatozoides. Já em machos jovens de Z. indianus foram obtidas poucas células na fase inicial da espermatogênese e uma quantidade maior de espermátides e espermatozoides. Esta diferença observada sugere tempo de maturação diferencial dos espermatozoides entre estas espécies. Para espécies do gênero 57 Drosophila foi verificado que os espermatócitos começam a entrar na primeira divisão meiótica ainda no estágio de pupa (COOPER, 1950), sendo que os testículos da maioria das espécies de Drosophila não estão completamente desenvolvidos na eclosão e, portanto, continuam se desenvolvendo durante o período de maturação do adulto, e isto é altamente variável entre as espécies (PITNICK; MILLER, 2000). Em Z. indianus isto parece ocorrer também, tendo em vista que machos de um dia de idade mostram uma quantidade significante de espermatozoides, diferente de Z. sepsoides, que apresenta maiores quantidades em machos mais velhos (8 dias de idade). Estes resultados contrariam os de Pitnick e Miller (2000). Esses autores demonstraram um aumento no tempo de desenvolvimento (ovo-adulto) e no tempo de maturação dos espermatozoides pós-eclosão em D. hydei selecionada para testículos maiores, e isto contribui para um atraso na reprodução desta população. Em Z. indianus, que possui maior testículo e maior espermatozoide que Z. sepsoides, isto parece não ocorrer, pelo fato de machos jovens já apresentarem quantidades significantes de espermatozoides. A fertilidade de Z. indianus é maior que a de Z. sepsoides, ao menos em experimentos de laboratório (MADI-RAVAZZI, L; DAVID, J, comunicação pessoal), indicando um valor adaptativo diferencial entre estas espécies. Se as diferenças de tamanho e maturação de espermatozoides entre estas espécies favorecem maior potencial reprodutivo necessita ser investigado em detalhes. A distribuição organizada e direcionada das células espermatogênicas observadas em Z. indianus e Z. sepsoides obedece à mesma distribuição e localização nos testículos encontrada em outros drosofilídeos (COOPER, 1950; BAIRATI, 1968; MEYER, 1974; HARDY et al., 1979; LINDSLAY; TOKUYASU, 1980; FULLER, 1993, JOLY; BRESSAC, 1994; GÖNCZY; DINARDO, 1996; LI; XIE, 2005; SCHARER et al., 2008; MOJICA et al., 2000; BARREAU et al., 2008, CHENG; MRUK, 2010). 58 Outro fator relevante observado foi o número constante de 64 espermatozoides por feixe em Z indianus e em Z. sepsoides. O mecanismo de formação desses feixes é semelhante ao que ocorre em Drosophila e em outros insetos. Nessas espécies, um feixe de espermatozoides é produzido por uma série de divisões mitóticas da espermatogônia dentro de um cisto espermático (COOPER, 1950; HARDY et al., 1979; LINDSLAY; TOKUYASU, 1980; FULLER, 1993; FABRIZIO et al., 1998; MOJICA et al., 2000). Embora na maioria dos insetos as divisões mitóticas dentro do feixe sejam sincrônicas, em algumas espécies de Drosophila podem também ser assincrônicas e o número de espermatozoides por feixe pode variar de 32 como em D. hydei a 128 em D. pseudoobscura (MOJICA et al., 2000), bem como ocorre em abelhas (CRUZ-LANDIM, 2001) e em Coleoptera (NAME et al., 2007). Isso sugere que as células goniais de qualquer estágio são capazes de se tornarem espermatócitos e que o programa genético espécie-específico determina o número de divisões pré-meióticas na linhagem germinativa masculina (MOJICA et al., 2000). De acordo com Virkii (1969), ordens basais de insetos possuem mais espermatozoides por feixe que ordens mais recentes. Os grupos mais especializados tendem a possuir o menor número de espermatozoides por feixe. Name et al. (2007) mostraram, por exemplo, que alguns coleópteros como os escarabulídeos possuem de 128 a 512 espermatozoides por feixe e que as espécies por eles estudadas, Sitophilus zeamays e S. oryzae possuem cerca de 260 espermatozoides por feixe. Menos espermatozoides por feixe indicam produção reduzida de espermatozoides a qual pode corresponder a um valor adaptativo que limita a variabilidade genética (MOJICA et al., 2000). Embora em Z. indianus e em Z. sepsoides tenhamos observado o mesmo número de espermatozoides por feixe (64), há possibilidade de haver números diferentes de feixes nestas 59 espécies, o que é indicado pela abundância maior de espermatozoides em Z. indianus do que em Z. sepsoide. Isto necessita ser investigado. O presente estudo confirmou o padrão organizacional do axonema dos insetos que segue o esquema 9+9+2, que é o arranjo usual de 9+2 microtúbulos internos circundados por nove microtúbulos acessórios adicionais. Estudos da organização estrutural do axonema em Drosophila foram realizados por vários autores (PEROTTI, 1969; KIEFER, 1970; PHILLIPS, 1970; DALLAI; AFZELIUS, 1991; DALLAI et al., 1993; FABRIZIO et al., 1998; MOJICA et al., 2000) que confirmaram a conservação dessa estrutura em diferentes espécies do gênero Drosophila e da família Drosophilidae. Dois derivados mitocondriais de tamanhos diferentes estão presentes em ambas as espécies. Estas estruturas têm sido estudadas ultraestruturalmente em insetos com enfoque filogenético (PHILLIPS, 1970; MOJICA et al., 2000). Ao longo do processo de diferenciação, os derivados mitocondriais são preenchidos ao longo de sua extensão por uma estrutura proteica rica em prolina e organizada num padrão paracristalino (PHILLIPS, 1970; BACCETTI et al., 1977). Algumas funções dos derivados mitocondriais podem estar relacionadas ao processo de estocagem e liberação de energia necessária para a mobilidade do flagelo (PHILLIPS, 1970, LINDSLEY; TOKUYASU, 1980). Embora as relações dentro do gênero Zaprionus fossem propostas recentemente (YASSIN; DAVID, 2010), a sua posição dentro da família Drosophilidae ainda é debatida (YASSIN et al., 2007, 2008, 2010;. YASSIN; DAVID, 2010). Atualmente, a maior parte dos estudos concordam que Zaprionus pertence ao gênero Drosophila e que Zaprionus está mais intimamente relacionada com a Drosophila do que com os subgêneros Sophophora, o qual pertence o subgrupo melanogaster (DA LAGE et al, 2007;. COMMAR et al, 2012). 60 Estudos com elementos transponíveis mostraram maior similaridade de sequencias entre espécies do subgênero Zaprionus e algumas espécies do grupo melanogaster do que entre espécies do mesmo grupo (DE SETTA et al., 2009). As observações ultraestruturais do padrão organizacional do axonema (9+9+2) e dos derivados mitocondriais, sendo um maior e o outro menor, são características presentes nos espermatozoides das espécies do gênero Drosophila, corroborando a proximidade filogenética com Zaprionus. O estudo da espermatogênese efetuado no presente trabalho, de duas espécies com dinâmica ecológica bem diferenciada, uma invasora, Z. indianus, a outra com distribuição restrita, Z. sepsoides, com morfologia testicular e tamanho de espermatozoides diferentes, evidenciou diferenças na fase de maturação dos espermatozoides, entre estas espécies, as quais poderiam causar uma diferenciação adaptativa favorecendo Z. indianus a explorar novos ambientes. 6. CONCLUSÕES - Os aspectos da espermatogênese e da espermiogênese das espécies Z. indianus e Z. sepsoides são semelhantes em suas fases e também muito próximos de D. melanogaster, indicando uma conservação destes processos dentro da família Drosophilidae. - As principais diferenças observadas por microscopia óptica e pela microscopia eletrônica de transmissão entre Z. indianus e Z. sepsoides foram: menor tamanho do espermatozoide de Z. sepsoides em relação ao de Z. indianus, uma maior quantidade de material paracristalino nos derivados mitocondriais de Z. indianus e uma coloração destacada na região da cabeça do espermatozoide de Z. sepsoides quando submetidos à 61 coloração por orceína e Feulgen. Se estas diferenças estão relacionadas com o maior potencial invasivo de Z. indianus, há necessidade de maior investigação. 62 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANANINA, G. et al. Inversion polymorphism and a new polytene chromosome map of Zaprionus indianus Gupta (1970) (Diptera: Drosophilidae). 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ARTIGO ACEITO NA GENETICS AND MOLECULAR BIOLOGY 72 Spermatogenesis of Zaprionus indianus and Zaprionus sepsoides (Diptera: Drosophilidae): cytochemical, structural and ultrastructural characterization Leticia do Nascimento Andrade de Almeida Rego 1 Maria Tercília Vilela de Azeredo-Oliveira 2 Rosana Silistino-Souza 2 Lilian Madi-Ravazzi 1,3 1 UNESP – Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Departamento de Biologia, Laboratório de Ecologia, Evolução e Genética de Drosophila, São José do Rio Preto, SP, Brasil; 2 UNESP – Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Departamento de Biologia, Laboratório de Biologia Celular, São José do Rio Preto, SP, Brasil. 3 Send correspondent to Lilian Madi-Ravazzi, UNESP- Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Departamento de Biologia, Laboratório de Ecologia, Evolução e Genética de Drosophila, Cristóvão Colombo, 2265- Jardim Nazareth. 15054-000. São José do Rio Preto, SP, Brasil. (17) 3221 2389/ FAX (17) 3221 2390/ email: lilian@ibilce.unesp.br Running Title: Spermatogenesis in Zaprionus sp. Key words: Zaprionus indianus, Zaprionus sepsoides, spermatogenesis, cytochemistry, ultrastructure, meiosis. mailto:lilian@ibilce.unesp.br 73 ABSTRACT Zaprionus indianus is a drosophilid native to the Afrotropical region that has colonized South America. Z. indianus exhibits a wide geographical distribution, whereas Z. sepsoides is restricted to certain African regions. The two species differ in the size of their testes, which are larger in Z. indianus than in Z. sepsoides. To better understand the biology and the degree of differentiation of these species, the current study evaluated spermatogenesis in males of different ages (1, 3, 5 and 8 days old) from both species by conventional staining techniques and ultrastructural analysis. Spermatogenesis and the ultrastructure of spermatozoa were similar in the two species, for which the diploid number was confirmed to be 2n = 12 chromosomes. However, a greater number of spermatozoa were observed in young Z. indianus males (1-3 days old) than in young Z. sepsoides males, which showed a higher frequency of cells at the early stages of spermatogenesis at this age. A portion of the head of the sperm was strongly marked in both species by silver staining (AgNOR), lacto-acetic orcein and the Feulgen reaction. Additionally, when submitted to P.A.S. reaction, the testes of both Z. sepsoides and Z. indianus exhibited glycogen granules. The two species also presented the same flagellar ultrastructure, in which the axoneme includes a 9+9+2 arrangement of microtubules, two mitochondrial derivatives of different sizes are present and the number of spermatozoa per bundle is 64. The great similarity in the pattern of microtubule arrangement in the axoneme and in the mitochondrial derivatives of the species Zaprionus, as compared with other species of Drosophila, indicates that these structures are preserved in the family Drosophilidae. The differences observed between the young males of Z. indianus and Z. sepsoides, including the number and frequency of sperm cells in the early stages of spermatogenesis, are features that may interfere with reproductive success and may be related to the invasive potential of Z. indianus. 74 INTRODUCTION The genus Zaprionus is divided into two biogeographically separate subgenera: the subgenus Anaprionus Okada, with approximately 10 species in the Eastern region, and the Zaprionus subgenera, with approximately 50 species in the Afrotropical region (Okada and Carson, 1983; Yassin et al., 2008). Phylogenetically, Zaprionus is very close to the genus Drosophila (Yassin et al., 2007, 2008, 2010; Yassin and David, 2010). The species Zaprionus indianus (Gupta, 1970) originated in Africa and was first identified in Brazil in 1999 and is considered an invasive species that has infested the fig plantations (Vilela, 1999; Tidon et al., 2003). After 1999, Z. indianus has been detected in different regions of Brazil (Toni et al., 2001, Castro and Valente, 2001; Santos et al., 2003; Kato et al., 2004; Mattos-Machado et al., 2005, David et al., 2006), Uruguay (Goñi et al., 2001) and, in 2005, Florida (USA) (Van der Linde et al., 2006) and Argentina (Soto et al., 2006). Some studies have examined the invasive potential of Z. indianus, including its life cycle (Amoudi et al., 1991; Stein et al., 2003), its larval competition (Amoundi et al., 1993a) and components of its adaptive value (Amoundi et al., 1993b; Setta and Carareto, 2005) in strains of Saudi Arabian origin. Allozyme studies have indicated that plasticity in the distribution of the allelic frequency of the locus Est-3 may have also contributed to this species success in spreading across the Americas (Gallego and Carareto, 2007, 2010). However, few studies have examined the biology and reproduction of Z. indianus (Araripe et al., 2004) or other Zaprionus species (Yassin et al., 2007; Yassin and David, 2010; Yassin et al., 2010). Of the 49 species of the genus Zaprionus, only three have become invasive: Z. indianus, Z. tuberculatus and Z. ghesquierei (Chassagnard and Kraaijeveld, 1991). Z. 75 indianus is the most widespread species of the genus and the most ecologically diverse of the Afrotropical drosophilid fauna (Yassin et al., 2007; Yassin and David, 2010; Yassin et al., 2010). The general habits of this species may be a major factor in its successful occupancy of four continents (Lachaise and Tsacas 1983, Schmitz et al., 2007). However, other factors, including aspects of its reproduction, adaptation and ecology, may also be involved in the invasion process. Male characteristics that influence the competitive ability to mate and fertilization success can also interfere with the adaptive potential of the species. For example, the size of the sperm is a male trait that is predicted to undergo strong sexual selection (Hosken et al., 2003, Snook, 2005; Scharer et al., 2008), although the selective advantage of different sizes of sperm remains largely unclear (Garcia-Gonzalez and Simmmons, 2007; Amitin and Pitnick, 2007). The number of sperm and their developmental stages are also factors that can contribute to the reproductive potential of the species. The present study aims to expand on previous studies of the biology of Z. indianus and the characteristics that aid its adaptation to various environments, reflected by its successful invasion of different continents. More specifically, this paper analyzes spermatogenesis and the sperm ultrastructure of a geographical strain of Z. indianus and Z. sepsoides (Duda, 1939). Z. sepsoides is restricted to some regions of East Africa, differs in testicular size and sperm from Z. indianus and is not considered an invasive species. MATERIAL AND METHODS Origin of insects 76 A strain of Z. indianus from Ubatuba, SP, Brazil, and a strain of Z. sepsoides from the Congo region of Africa were used in the present work. Measurements of testes Linear measurements of a total of 24 testes from each species were collected. The pairs of testes were obtained from 12 eight-day-old adult males. To perform the linear measurements, the testes from Z. indianus were first uncoiled due to their spiral shape. Preparation of slides and cytochemical techniques In this analysis, the testes were removed from males of different ages (1-8 days of life) from both species. The testes were stained using lacto-aceto orcein following De Vaio et al. (1985) and impregnated with silver nitrate following Howell and Black (1980), with modifications. After the slides were prepared, the two species were prepared for the Feulgen reaction following Mello and Vidal (1980), with modifications. The structural and ultrastructural analysis was performed according to Cotta-Pereira et al. (1976), with modifications. The testes of adult Z. indianus and Z. sepsoides were removed at different developmental stages (1, 3, 5 and 8 days old) and fixed in a solution of 4% paraformaldehyde and 2.5% glutaraldehyde in 0.2 M phosphate buffer, pH 7.4. After initial fixation for 4 hours in the refrigerator (4 o C), the testes were washed three times in 0.1 M phosphate buffer, pH 7.4, for 15 minutes each. Next, the material was post-fixed in a 1% osmium tetroxide solution for 2 hours in a dark, sealed bottle in the refrigerator. After this procedure, the material was washed three times in distilled water for 5 minutes each. The material was then dehydrated in a series of four increasingly concentrated acetone solutions 77 (30%, 50%, 70% and 90% acetone), with 15 minutes per solution, followed by dehydration in 95% and 100% acetone three times for 15 minutes each. After dehydration, the material was embedded in a 1:1 mixture of resin (Araldite®) and 100% acetone and incubated overnight at room temperature. The next day, the material was removed from the resin-acetone solution, placed in resin and placed in a 37ºC oven for 2 hours. The testes were then removed from the bottles containing the pure resin, and the embedding process was initiated for the mold. A plate containing the mold was placed in a 60ºC oven for 72 hours, allowing polymerization. Semi-thin, 0.5 μm sections of the testes were stained with 1% toluidine blue and analyzed using a light microscope. Ultra-thin, 70 nm sections were contrasted with uranyl acetate and lead citrate and analyzed by transmission electron microscopy. To perform period acid-Schiff (P.A.S.) staining, the slides were first prepared for structural analysis for the two species, as follows (Mello and Vidal, 1980, with modifications). A solution of 0.5% periodic acid was applied to the semi-thin, 0.5 μm sections using a dropper, and the sections were then placed in a 60°C oven for 14 minutes. Next, the sections were washed in distilled running water for 5 minutes. A Schiff reagent was added to Petri dishes, which were protected from light and were placed in a 60°C oven for 45 minutes. Following the washing of each sample in 3 distilled water baths for 5 minutes each; the slides were air-dried and mounted with polish before analysis by light microscopy. The material prepared using conventional cytochemical and staining techniques was analyzed using a light microscope (Olympus BX40) and