0 Campus de Ilha Solteira UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE ENGENHARIA CAMPUS DE ILHA SOLTEIRA PAULO AFONSO FRANZON MANOEL TÍTULO: Influência de parâmetros físicos e do processamento digital utilizado nos sinais oriundos do ensaio Charpy instrumentado Ilha Solteira 2014 1 Campus de Ilha Solteira PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA Paulo Afonso Franzon Manoel Influência de parâmetros físicos e do processamento digital utilizado nos sinais oriundos do ensaio Charpy instrumentado Dissertação apresentada à Faculdade de Engenharia - UNESP – Campus de Ilha Solteira, para obtenção do título de Mestre em Engenharia Mecânica. Área de Conhecimento: Materiais e Processos de Fabricação Orientador: Prof. Dr. Ruis Camargo Tokimatsu Ilha Solteira 2014 2 Campus de Ilha Solteira 3 Campus de Ilha Solteira DEDICATÓRIA Ao meu pai Luiz Carlos, a minha mãe, Maria Luiza, a minha irmã Ana Carolina, aos amigos e demais familiares que sempre me apoiaram e acreditaram em mim. 4 Campus de Ilha Solteira AGRADECIMENTOS Ao Prof. Dr. Ruís Camargo Tokimatsu por me dar esta valiosa oportunidade, por confiar no meu potencial, pelos inúmeros ensinamentos e pelo grande companheirismo. Ao Prof. Celso Ryiotsi Sokei e ao Prof. Vicente Afonso Ventrella por me ensinaram a utilizar os equipamentos do laboratório e a fazer ataques químicos, por estarem presentes em meus seminários e pelo companheirismo. Ao Prof. Dr. João Antônio Pereira e ao Prof. Dr. Claudio Kitano, pois sem as opiniões e comentários expressas por eles em minha banca de estudos especiais meu trabalho não ganharia a qualidade que possui hoje. Aos professores Dr. Antonio de Pádua Lima Filho, Dr. Miguel Ângelo Menezes, Dr. João Batista Campos Silva, Dr. Marcio Antonio Bazani e Dr. Alessandro Roger Rodrigues pelos ensinamentos, pelos conselhos e pelo companheirismo. Agradeço ao GPU – DEM – UNESP/campus de Ilha Solteira pela usinagem dos cutelos utilizados neste estudo. Ao técnico Sr. Carlos José Santana do laboratório de extensometria – Mecânica dos Sólidos – DEM – UNESP/FEIS, por auxiliar em toda a etapa de colagem de extensômetros e zeragem da ponte, sua ajuda foi fundamental neste trabalho. Ao técnico Sr. Marino Teixeira Caetano por usinar grande parte dos corpos de prova utilizados neste estudo. Aos graduandos em engenharia mecânica Felipe Scheeffer de Souza, por me auxiliar nos ensaios, Humberto Meroto de Luca, por me ajudar na usinagem e no tratamento térmico dos novos cutelos, Renato Pimentel, por me ajudar no ensaio com as barras, Alexandre Chadouteaud, por auxiliar nas micrografias, e aos já graduados Eng. Lucas Bannwart, por me auxiliar nos ensaios e Eng. Bruno Colman, por ter desenhado os novos cutelos. Aos mestrandos Vicente Gerlin Neto e Claudemir Briguente, por acompanhem os ensaios e pelas sugestões na melhoria da metodologia experimental e pelo companheirismo. Aos doutorandos Me. Cleiton Lazaro Fazolo de Assis e Me. Danilo Borges por fornecerem amostras e pela confiança em nosso trabalho. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq – pela concessão da bolsa de estudos. À Pró-Reitoria de Pós Graduação da UNESP – PROPG pelo auxílio financeiro nas participações em eventos científicos. 5 Campus de Ilha Solteira Ao Curso de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica pelo auxílio financeiro nas participações em eventos científicos. Ao Departamento de Engenharia Mecânica e à Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira UNESP pela utilização dos laboratórios, viabilização do trabalho de pesquisa e realização dos cursos de graduação e mestrado. 6 Campus de Ilha Solteira RESUMO Neste estudo foi avaliada a influência dos parâmetros físicos (rigidez do cutelo, comprimento do corpo de prova, geometria do cutelo) sobre a magnitude das interferências presentes nas curvas força vs tempo e força vs deslocamento, também foi estudado o efeito de diversos filtros sobre o sinal coletado. Foram empregados cutelos instrumentados (atuando como células de carga) de diferente rigidez e também um cutelo com geometria distinta em relação aos demais. Foram realizados ensaios com corpos de prova de comprimento iguais a 55m (em conformidade com a ASTM E-23), 70 mm e 85 mm. Os dados foram tratados com filtros digitais: passa-baixa, passa-alta, passa-faixa e média móvel, os espectros dos sinais filtrados foram comparados aos dos sinais originais. Os resultados indicaram que a rigidez do cutelo possui relação inversa com a magnitude das interferências, por outro lado o comprimento do corpo de prova possui relação direta com o aumento no nível de interferências, o cutelo com geometria diferenciada também exerceu influência sobre a curva força vs deslocamento. A média móvel mostrou-se promissor no tratamento dos dados, desde que seja utilizado um número reduzido de pontos, de modo a não eliminar componentes fundamentais do sinal de interesse. Para os casos analisados o espectro do sinal encontra-se entre 100 Hz e 50 kHz, no entanto a faixa entre 10 kHz e 50 kHz há predomínio das componentes responsáveis pelas interferências. Palavras-chave: Ensaio Charpy instrumentado. Rigidez do cutelo. Geometria do cutelo. Comprimento do corpo de prova. Média móvel. 7 Campus de Ilha Solteira ABSTRACT In this work, was the influence of physical parameters evaluated (stiffness of the striker, length of the specimen, the geometry of the striker) on the magnitude of the interference present in the curves load vs. time and load vs. displacement, the effect of various filters on the signal obtained was also studied. In this study, instrumented strikers (like load cells) of different stiffness and were used a striker which has a different geometry than the others was also tested. Furthermore, the tests were conducted with specimens with length equal to 55 mm (according with ASTM E-23), 70 mm and 85 mm. The data were processed by these digital filters: low pass, high pass, band pass and moving average. The spectrums of the filtered signals were compared with the original ones. The results showed that the stiffness of the striker has an inverse relation with the magnitude of the interference. On the other hand, the length of the specimen has a direct relation with the increased level of interference, the striker with different geometry also exerted influence on the load vs displacement curve. The moving average filter has been a good way out in the treatment of data, but is necessary to use a limited number of points in order not to eliminate essential components of the signal which contains information about the deformation and fracture process. For the materials used in this work, the signal spectrum is between 100 Hz and 50 kHz, but the range between 10 kHz and 50 kHz is predominantly responsible for the interference components. Key-words: Instrumented Charpy test. Striker stiffness. Striker geometry. Specimen length. Moving average. 8 Campus de Ilha Solteira LISTA DE FIGURAS Figura 1 - (a) Fratura frágil em um aço doce e (b) fratura dúctil do tipo taça e cone no alumínio. .................................................................................................... 29 Figura 2 - Relação inversa entre tenacidade à fratura e resistência em ligas metálicas. ........................................................................................................ 30 Figura 3 - Estado de tensão em uma unidade de volume de um corpo de prova utilizado no ensaio de tração (à esquerda) e em um corpo de prova utilizado no ensaio de impacto Charpy (à direita). ........................................... 31 Figura 4 - Representação esquemática do ensaio de impacto Charpy. .............................. 32 Figura 5 - Corpos de prova Charpy normalizados pela ASTM E-23 (1996). .................... 34 Figura 6 - Ilustração apresentando a diferença no apoio do corpo de prova nos ensaios Charpy e Izod. ..................................................................................... 34 Figura 7 - Resposta ao impacto (força vs tempo) para um aço de média resistência mecânica sob diferentes condições de temperatura. ......................................... 35 Figura 8 - Pontos de interesse na curva força vs tempo obtida através do ensaio Charpy instrumentado. .................................................................................... 36 Figura 9 - Erro permissível de valores registrados dentro de uma faixa de força nominal. .......................................................................................................... 41 Figura 10 - Curva característica força-deslocamento classificadas pela norma ISO 14.556. ..................................................................................................... 42 Figura 11 - Elementos funcionais de um sistema de medição. ........................................... 46 Figura 12 - (a) Força externa tracionando o corpo, (b) força comprimindo o corpo e (c) força cisalhante. ......................................................................................... 49 Figura 13 - Extensômetros elétricos (a) de fio e (b) em lâmina (foil). ................................. 49 Figura 14 - Elemento resistivo. .......................................................................................... 50 Figura 15 - Ponte de extensômetros. ................................................................................. 51 Figura 16 - Sinal após receber um ganho G proporcionado pelo amplificador. ................... 53 Figura 17 - Circuito equivalente simplificado para o amplificador operacional. ................. 54 Figura 18 - (a) Diagrama esquemático do circuito que compõe um amplificador operacional 741, (b) bloco esquemático utilizado para representar um A.O. e (c) identificação dos pinos do CI 741 – amplificador operacional. ........ 55 Figura 19 - Amplificador de instrumentação. ..................................................................... 56 9 Campus de Ilha Solteira Figura 20 - Etapas do processamento de sinais analógicos (à esquerda), sinais no domínio do tempo (centro) e respectivas transformadas de Fourrier (à direita)............................................................................................................. 58 Figura 21 - Trem de impulsos aplicado ao sinal de entrada (contínuo). .............................. 59 Figura 22 - (a) Sinal de entrada no tempo contínuo, (b) espectro do sinal de entrada, (c) trem de pulsos, (d) espectro do trem de pulsos, (e) sinal auxiliar no tempo contínuo, (f) espectro do sinal auxiliar. ................................................. 60 Figura 23 - (a) Espectro do sinal no tempo contínuo xa(t), espectro do sinal auxiliar xi(t): (b) ΩS = ΩC, (c) ΩS < ΩC (ocorre aliasing) e (d) ΩS > ΩC. ....................... 62 Figura 24 - (a) Forma direta para filtros digitais FIR e (b) forma alternativa. ..................... 64 Figura 25 - Resposta de módulo ideais para os filtros: (a) passa-baixa, (b) passa-altas, (c) passa-faixa e (d) rejeita-faixa. .................................................................... 65 Figura 26 - Realização em forma direta IIR não-canônica. ................................................. 67 Figura 27 - Sinal aleatório. ................................................................................................ 69 Figura 28 - Comportamentos frequentemente observados na curva força vs tempo. ........... 73 Figura 29 - Representação esquemática do ensaio Charpy através de um sistema massa-mola, com detalhe para o cálculo do carregamento distribuído ao longo do comprimento do corpo de prova. ....................................................... 74 Figura 30 - Modelagem do sistema martelo e corpo de prova proposto por Sahraoui e Lataillade. ....................................................................................................... 75 Figura 31 - Oscilações na curva força vs tempo: (a) KC/KB = 1, (b) KC/KB = 5 e (c) KC/KB = 10. ..................................................................................................... 76 Figura 32 - (a) Sistemas massa-mola com 1 e com 2 graus de liberdade e (b) geometria do corpo de prova. .......................................................................... 77 Figura 33 - Curva força vs deslocamento obtida experimentalmente e prevista através da simulação numérica (PMMA, k2 = 1.12x10 6 N/m, m2 = 1.74 g, m1 = 1 kg, α = 6.9, υ0 = 1 m/s, a/W = 0,3) ................................................................... 80 Figura 34 - Curvas força vs deslocamento em amostras de diferentes comprimentos, com entalhe-V e com pré-trinca (a/W=0,3) obtidas através do ensaio de impacto Charpy instrumentado. ....................................................................... 80 Figura 35 - Método da alteração da taxa de flexibilidade. .................................................. 81 Figura 36 - Dimensões dos corpos de prova utilizados neste estudo ................................... 84 10 Campus de Ilha Solteira Figura 37 - Têmpera: (a) cutelo antes do tratamento térmico, (b) forno a 900°C, (c) cutelo aquecido após permanecer por 3h no forno em um recipiente com grafita e (d) cutelo resfriado em óleo ............................................................... 85 Figura 38 - Cutelos de (a) menor rigidez, (b) rigidez intermediária e (c) maior rigidez ....... 86 Figura 39 - Cutelos (a) de rigidez intermediária e (b) com nova geometria (GC3M-II) ...... 86 Figura 40 - Cutelo instrumentado e compensador estático ................................................. 87 Figura 41 - Arquitetura utilizada na aquisição simultânea de sinais com martelo e corpo de prova instrumentados. ....................................................................... 88 Figura 42 - Curva ganho x frequência do condicionador para um ganho de 100x. .............. 89 Figura 43 - Compensador estático. ..................................................................................... 89 Figura 44 - Cadeia de medição e máquina de ensaio instrumentada. .................................. 90 Figura 45 - (a), (b) e (c) Montagem experimental para levantar a curva de calibração estática e (d) TMDE ......................................................................................... 91 Figura 46 - Curvas de calibração do cutelo de menor rigidez ............................................. 92 Figura 47 - Curvas de calibração do cutelo de rigidez intermediária................................... 93 Figura 48 - Curvas de calibração do cutelo de maior rigidez, extensômetros posicionados a 9,8 mm da extremidade do cutelo ............................................ 93 Figura 49 - Curvas de calibração do cutelo de maior rigidez, extensômetros posicionados a 23,1 mm da extremidade do cutelo........................................... 94 Figura 50 - Curvas de calibração do cutelo de diferente geometria ..................................... 94 Figura 51 - Curva força vs tempo, material ensaiado: aço 1040 ......................................... 96 Figura 52 - Curva força vs tempo, material ensaiado: aço 4340 ......................................... 96 Figura 53 - Curva força vs tempo, material ensaiado: aço 1020 ......................................... 96 Figura 54 - Curva força vs tempo, material ensaiado: aço 1020, zoom no intervalo entre 0 e 1.8 ms ............................................................................................... 97 Figura 55 - Curva força vs tempo, material ensaiado: aço API X70 ................................... 97 Figura 56 - Curva força vs tempo, material ensaiado: aço API X70, o intervalo entre 0 e 1.5 ms ........................................................................................................ 97 Figura 57 - Curva força vs tempo, material ensaiado: aço 1040, instantes antes de ocorrer o impacto ............................................................................................ 98 Figura 58 - Curva força vs tempo, material ensaiado: aço 1040, instantes após a fratura do corpo de prova................................................................................. 99 Figura 59 - Curva força e energia vs deslocamento, amostra: aço 1040 .............................. 100 Figura 60 - Curva força e energia vs deslocamento, amostra: aço 4340. ............................. 100 11 Campus de Ilha Solteira Figura 61 - Curva força e energia vs deslocamento, amostra: aço 1020. ............................. 101 Figura 62 - Curva força e energia vs deslocamento, amostra: aço API X70 ........................ 101 Figura 63 - Curva força vs tempo (original), material ensaiado: aço ABNT 4340............... 103 Figura 64 - Curva força vs tempo após tratamento com filtro passa-baixa, fc = 100 Hz ................................................................................................................... 104 Figura 65 - Curva força vs tempo após tratamento com filtro passa-baixa, fc = 1 kHz........ 104 Figura 66 - Curva força vs tempo após tratamento com filtro passa-baixa, fc = 10 kHz ................................................................................................................. 105 Figura 67 - Curva força vs tempo após tratamento com filtro passa-baixa, fc = 100 kHz ................................................................................................................. 105 Figura 68 - Curva força vs tempo após tratamento com filtro passa-alta, fc = 100 Hz ............. 106 Figura 69 - Curva força vs tempo após tratamento com filtro passa-alta, fc = 1 kHz .......... 107 Figura 70 - Curva força vs tempo após tratamento com filtro passa-alta, fc = 10 kHz ........ 107 Figura 71 - Curva força vs tempo após tratamento com filtro passa-alta, fc = 100 kHz ...... 108 Figura 72 - Curva força vs tempo após tratamento com filtro passa-faixa, fc = 100 Hz e 1 kHz ............................................................................................................ 109 Figura 73 - Curva força vs tempo após tratamento com filtro passa-faixa, fc = 100 Hz e 10 kHz .......................................................................................................... 109 Figura 74 - Curva força vs tempo após tratamento com filtro passa-faixa, fc = 1 kHz e 10 kHz .......................................................................................................... 110 Figura 75 - Curva força vs tempo após tratamento com filtro passa-faixa, fc = 1 kHz e 100 kHz ........................................................................................................ 110 Figura 76 - Curva força vs tempo após tratamento com filtro média-móvel, M = 15 pontos ............................................................................................................. 112 Figura 77 - Curva força vs tempo após tratamento com filtro média-móvel, M = 55 pontos ............................................................................................................. 112 Figura 78 - Curva força vs tempo após tratamento com filtro média-móvel, M = 85 pontos ............................................................................................................. 113 Figura 79 - Curva força vs tempo após tratamento com filtro média-móvel, M = 155 pontos ............................................................................................................. 113 Figura 80 - Resposta em frequência do filtro média móvel em função do número de pontos empregados .......................................................................................... 114 Figura 81 - (a), (b) e (c) Curva força vs tempo, ensaio realizado utilizando corpo de prova de 55 mm de comprimento .................................................................... 116 12 Campus de Ilha Solteira Figura 82 - (a), (b) e (c) Curva força vs tempo, ensaio realizado utilizando corpo de prova de 70 mm de comprimento .................................................................... 117 Figura 83 - (a), (b) e (c) Curva força vs tempo, ensaio realizado utilizando corpo de prova de 85 mm de comprimento .................................................................... 118 Figura 84 - Cutelo de menor rigidez: (a) força vs tempo e (b) força vs deslocamento ......... 120 Figura 85 - Cutelo de rigidez intermediária: (a) força vs tempo e (b) força vs deslocamento .................................................................................................. 121 Figura 86 - Cutelo de maior rigidez: (a) força vs tempo e (b) força vs deslocamento .......... 122 Figura 87 - Cutelo GC3M-II (diferente geometria): (a) força vs tempo e (b) força e energia vs deslocamento .................................................................................. 123 Figura 88 - Cutelo GC3M-II (diferente geometria): (a) força vs tempo e (b) força e energia vs deslocamento .................................................................................. 124 Figura 89 - Cutelo de maior rigidez, força vs tempo, efeito do posicionamento dos extensômetros ................................................................................................. 125 Figura 90 - Curva energia vs deslocamento, cutelo de menor rigidez ................................. 126 Figura 91 - Curva energia vs deslocamento, cutelo de rigidez intermdiária, cp de 55 mm de comprimento........................................................................................ 127 Figura 92 - Curva energia vs deslocamento, cutelo de rigidez intermediária, corpo de prova de 70 mm de comprimento .................................................................... 127 Figura 93 - Curva energia vs deslocamento, cutelo de rigidez intermediária, corpo de prova de 85 mm de comprimento .................................................................... 128 Figura 94 - Curva energia vs deslocamento, cutelo de maior rigidez intermediária, extensômetro posicionado a 9,8 mm da extremidade ....................................... 128 Figura 95 - Curva energia vs deslocamento, cutelo de maior rigidez intermediária, extensômetro posicionado a 23,1 mm da extremidade...................................... 129 Figura 96 - Espectro do sinal obtido ao realizar o ensaio empregando o cutelo de menor rigidez antes e após o tratamento com o filtro média móvel (fazendo M=55 pontos) ................................................................................... 130 Figura 97 - Espectro do sinal obtido ao realizar o ensaio empregando o cutelo rigidez intermediária antes e após o tratamento com o filtro média móvel (fazendo M=55 pontos) ................................................................................... 130 Figura 98 - Espectro do sinal obtido ao realizar o ensaio empregando o cutelo rigidez intermediária antes e após o tratamento com o filtro média móvel (fazendo M=55 pontos), corpo de prova com 70 mm de comprimento ............. 131 13 Campus de Ilha Solteira Figura 99 - Espectro do sinal obtido ao realizar o ensaio empregando o cutelo rigidez intermediária antes e após o tratamento com o filtro média móvel (fazendo M=55 pontos), corpo de prova de 85 mm de comprimento ................ 131 Figura 100 - Espectro do sinal obtido ao realizar o ensaio empregando o cutelo de maior rigidez antes e após o tratamento com o filtro média móvel (fazendo M=55 pontos) ................................................................................... 132 Figura 101 - Espectro do sinal obtido ao realizar o ensaio empregando o cutelo de diferente rigidez antes e após o tratamento com o filtro média móvel (fazendo M=55 pontos) ................................................................................... 132 Figura 102 - Curva força vs deslocamento (azul), curva com mesma inclinação da região elástica (vermelha), variação de 5% em relação à reta guia (magenta) ........................................................................................................ 133 Figura 103 - Ruído de fundo com cadeia de medição ligada à rede elétrica 127VAC | 60 Hz ................................................................................................................... 136 Figura 104 - Ruído de fundo com cadeia de medição ligada a UPS ...................................... 137 Figura 105 - Ruído de fundo com cadeia de medição ligada à UPS ligada rede elétrica 127VAC | 60 Hz................................................................................................ 137 Figura 106 - Curvas força vs deslocamento: (a) alimentação com UPS e (b) com UPS ligado à rede elétrica ....................................................................................... 139 Figura 107 - Cutelo de rigidez intermediária (padrão) .......................................................... 161 Figura 108 - Cutelo de menor rigidez .................................................................................. 162 Figura 109 - Cutelo de maior rigidez ................................................................................... 163 Figura 110 - Cutelo GC3M – II ........................................................................................... 164 14 Campus de Ilha Solteira LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Símbolos, significados e unidades conforme a Norma ISO 14.556 (2000). ......... 39 Tabela 2 – Características ideais na frequência e respectivas respostas ao impulso para filtros passa-baixa, passa-alta, passa-faixa e rejeita faixa. ................................... 65 Tabela 3 – Tipos de filtros e respectivas aplicações. ............................................................ 68 Tabela 4 – Especificações dos extensômetros empregados neste estudo .............................. 83 Tabela 5 – Comparativo entre dureza do material, energia global de fratura, força máxima, deslocamento e tempo de fratura ......................................................... 102 Tabela 6 – Resultados obtidos através do ensaio com cutelo duplamente instrumentado .................................................................................................... 125 Tabela 7 – Resultados dos ensaios empregando o cutelo de menor rigidez (tipo A) ............. 134 Tabela 8 – Resultados dos ensaios empregando o cutelo de rigidez intermediária (tipo B) utilizando corpos de prova de 55 mm, 70 mm e 85 mm de comprimento ....... 134 Tabela 9 – Resultados dos ensaios empregando o cutelo de maior rigidez (tipo C). ............. 135 Tabela 10 – Resultados dos ensaios empregando o cutelo GC3M-II ...................................... 135 Tabela 11 – Montagem e explicações de circuitos em ponte com extensômetros ................... 157 15 Campus de Ilha Solteira LISTA DE SÍMBOLOS Capítulo 3 Símbolo Significado Unidade fg Limite da freqüência de saída Hz F Força ou carregamento N Fa Força ou carregamento no ponto de parada da trinca N Fgy Força ou carregamento no escoamento plástico N Fiu Força ou carregamento na iniciação da trinca N Fm Força ou carregamento máximo N gn Aceleração da gravidade m/s² H Altura da queda do centro do pêndulo m Hi Altura inicial m Hf Altura final m KV Energia absorvida como definida pela ISO 148-1 J M Massa efetiva do pêndulo Kg S Deslocamento ou Deflexão m sa Deslocamento ou Deflexão no final da trinca m sgy Deslocamento ou Deflexão no escoamento generalizado m siu Deslocamento ou Deflexão na iniciação da trinca m sm Deslocamento ou Deflexão na força máxima m st Deslocamento ou Deflexão total m t Tempo s to Tempo para o início da deformação elástica do CP s tr Tempo de subida do sinal s vo Velocidade inicial do martelo de impacto m/s vt Velocidade do martelo de impacto num tempo t m/s Wa Energia no ponto de parada da trinca J Wiu Energia de iniciação da trinca J Wm Energia na força máxima J Wt Energia total do impacto J 16 Campus de Ilha Solteira Capítulo 4 Símbolo Significado Unidade A Área m² D Diâmetro m ε Deformação G Ganho K Sensibilidade à deformação l, li Comprimento instantâneo m l0 Comprimento incial m Δl Alongamento R Resistência elétrica Ω ΔR Variação na resistência Ω ρ Resistividade Ω.m Capítulo 5 Símbolo Significado Unidade a Componentes de 1/D(z) b Componentes de N(z) E Operador esperança h[n] Resposta ao impulso no tempo discreto H(e jω ) Resposta ao impulso no domínio da frequência H(z) Resposta ao impulso no domínio de z j Número imaginário (√-1) M1, M2 Número de pontos Ω Frequência Hz ΩC Largura de faixa do sinal Hz ΩS Frequência de amostragem Hz p(t) Trem de pulsos no domínio do tempo P(jΩ) Trem de pulsos no domínio da frequência p(x) Função densidade de probabilidade P Potência média do sinal RSR Relação sinal-ruído Rx Autocorrelação Sx Densidade espectral de potência 17 Campus de Ilha Solteira T Período de amostragem s t Tempo s x Sinal no tempo discreto xa Sinal de entrada no tempo contínuo xi Sinal auxiliar Xi Sinal auxiliar no domínio da frequência xk Série finita Xk Série finita x[n] Entrada do filtro no domínio do tempo discreto X(e jω ) Entrada do filtro no domínio da frequência X(z) Entrada do filtro no domínio de z y[n] Saída do filtro no domínio do tempo discreto Y(e jω ) Saída do filtro no domínio da frequência Y(z) Saída do filtro no domínio de z ω Velocidade angular rad/s Capítulo 6 Símbolo Significado Unidade α Relação entre a rigidez k1 e rigidez k2 n Frequência natural do sistema Hz k1 Rigidez de contato (cutelo e corpo de prova) N/m k2 Rigidez de contato (corpo de prova e apoio) N/m LS Carregamento no corpo de prova N LT Carregamento no cutelo N LA Carregamento no apoio N Me Massa equivalente do sistema kg M Relação entre a massa do martelo e a do corpo de prova P Carregamento N RT Reação do martelo N RA Reação do apoio N Se Constante de mola equivalente do sistema N/m t Tempo s υ0 Velocidade do martelo m/s x Deslocamento m 18 Campus de Ilha Solteira Capítulo 7 Símbolo Significado Unidade a Comprimento inicial da pré-trinca m B Espessura do corpo de prova m C Coeficiente elástico aparente N/m Cel Coeficiente elastico N/m ΔC/C Compliance change rate Ei Energia necessária para iniciação de trinca J JId Tenacidade à fratura dinâmica do material na presença de trinca MPa.√m KId Tenacidade à fratura dinâmica do material na presença de trinca MPa.√m M Momento fletor aplicado N.m Pm Carregamento máximo N S Distância entre os apoios do corpo de prova m W Largura do corpo de prova m 19 Campus de Ilha Solteira SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 21 1.1 Considerações iniciais ............................................................................................. 21 1.2 Objetivos ................................................................................................................. 21 1.3 Justificativa ............................................................................................................. 22 1.4 Estrutura do trabalho ............................................................................................. 22 2 REVISÃO HISTÓRICA ........................................................................................ 24 3 ENSAIO CHARPY ................................................................................................. 29 3.1 Tradicional .............................................................................................................. 29 3.2 Instrumentado ........................................................................................................ 34 4 NOÇÕES DE INSTRUMENTAÇÃO .................................................................... 45 4.1 Instrumentos de medição ....................................................................................... 45 4.2 Extensômetro elétrico ............................................................................................. 47 4.3 O amplificador de instrumentação ........................................................................ 53 5 AMOSTRAGEM E PROCESSAMENTO DE SINAIS ........................................ 57 5.1 Classificação de Sinais ............................................................................................ 57 5.2 Teorema da amostragem ........................................................................................ 57 5.3 FFT e DFT .............................................................................................................. 62 5.4 Filtros digitais ......................................................................................................... 63 5.5 Autocorrelação e densidade espectral de potência ................................................ 68 5.6 Ruído ....................................................................................................................... 71 6 EFEITOS DINÂMICOS SOBRE A CURVA FORÇA VS TEMPO .................... 73 7 ALTERAÇÃO DA FLEXIBILIDADE E TENACIDADE À FRATURA DINÂMICA ............................................................................................................ 81 8 MATERIAIS E MÉTODOS................................................................................... 83 8.1 Extensômetros utilizados ........................................................................................ 83 8.2 Confecção dos corpos de prova .............................................................................. 83 8.3 Confecção dos cutelos ............................................................................................. 85 8.4 Cadeia de medição .................................................................................................. 87 8.5 Calibração estática ................................................................................................. 90 9 RESULTADOS E DISCUSSÕES .......................................................................... 95 9.1 Curvas força vs tempo ............................................................................................ 95 9.2 Uso de filtros digitais ............................................................................................ 102 20 Campus de Ilha Solteira 9.3 Influência do comprimento do corpo de prova.................................................... 114 9.4 Influência da rigidez do cutelo ............................................................................. 119 9.5 Influência da geometria do cutelo ........................................................................ 123 9.6 Influência do posicionamento dos extensômetros no cutelo ................................ 124 9.7 Influência do tratamento do sinal sobre o cálculo da energia global de fratura ................................................................................................................... 126 9.8 Espectro dos sinais antes e depois do tratamento com a média móvel ............... 129 9.9 Tenacidade à fratura dinâmica (KId) ................................................................... 133 9.10 Relação Sinal Ruído (RSR) e influência da fonte de alimentação ....................... 136 10 CONCLUSÕES .................................................................................................... 140 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 144 ANEXO A - Balanço de energia referente ao ensaio Charpy ............................. 149 ANEXO B - Variação da resistência em função da deformação ......................... 150 ANEXO C - Tensão de saída de uma ponte retificadora em função da deformação ........................................................................................................... 154 ANEXO D - Possíveis montagens e aplicações de pontes de extensômetros ....................................................................................................... 157 ANEXO E - Procedimento para colagem de extensômetros ............................... 159 APÊNDICE A - Cutelos utilizados neste estudo .................................................. 161 APÊNDICE B - Rotina computacional ................................................................ 165 21 Campus de Ilha Solteira 1 INTRODUÇÃO 1.1 Considerações iniciais Este estudo compõe uma das linhas de pesquisa do GC3M – Grupo de Caracterização Mecânica e Microestrutural dos Materiais – criado em 1999 no Departamento de Engenharia Mecânica da UNESP/campus de Ilha Solteira, dentro da qual foram realizados diversos estudos sobre o ensaio de impacto Charpy instrumentado, com o interesse em contribuir para o aprimoramento da metodologia utilizada, de modo a obter um maior volume de informações a respeito dos fenômenos envolvidos de forma confiável. Entre as diferentes formas de instrumentação da máquina de ensaio empregadas nestes estudos anteriores, destacam-se o uso de extensômetros elétricos, sensores piezelétricos, potenciômetros. Foram feitos avanços significativos na medição da força e do deslocamento durante o carregamento de impacto. No entanto, ainda é preciso investir na evolução do ensaio, sobretudo na aquisição dos sinais e tratamento dos mesmos, é nesse sentido que o presente estudo deseja fazer uma contribuição para a evolução da metodologia de ensaio. 1.2 Objetivos Este trabalho tem como objetivo: a) tratar os sinais obtidos de modo a evidenciar os comportamentos fundamentais para tornar a análise do processo de deformação e fratura mais precisa; b) elaborar uma rotina capaz de calcular a energia global de fratura e compará-la ao valor fornecido pelo dial; c) avaliar os efeitos causados nos sinais após o tratamento com filtros digitais; d) monitorar o processo de fratura e identificar as limitações na metodologia empregada para estimar o valor da tenacidade à fratura dinâmica; e) determinar as causas das interferências nos sinais obtidos; 22 Campus de Ilha Solteira f) verificar se a cadeia de medição utilizada atende as necessidades mínimas para a realização do ensaio; g) avaliar o efeito de variações nos parâmetros físicos do ensaio sobre as curvas força vs tempo e força vs deslocamento. 1.3 Justificativa A razão para instrumentar uma máquina de ensaio de impacto Charpy é a obtenção da curva força vs deslocamento com igual tem uma gama consideravelmente maior de informações se comparado à máquina tradicional, que simplesmente trata da resiliência do material. Para que estas informações possam ser obtidas sejam precisas e confiáveis, é necessário que os sinais coletados estejam livres de interferências ou que as principais informações não sejam adulteradas durante o tratamento do sinal, por isso este estudo procura identificar quais práticas podem contribuir para a obtenção de sinais que preservem as principais características do processo de deformação e fratura e identificar o comportamento das interferências nos sinais coletados. 1.4 Estrutura do trabalho As informações contidas neste estudo estão organizadas da seguinte forma: o capítulo 2 faz uma revisão histórica da instrumentação da máquina de ensaio de Charpy, desde a origem da metodologia até os dias atuais; o capítulo 3 expõe as normas que regem o ensaio Charpy tradicional e o instrumentado; o capítulo 4 traz algumas noções de medição, explicando os elementos presentes nos sistemas de medição, a aplicação de extensômetros elétricos e os princípios de um amplificador de instrumentação; o capítulo 5 faz considerações sobre sinais, sobre o teorema de amostragem de Nyquist, apresenta os filtros digitais FIR e IIR e também expõe quais as fontes de ruído mais comuns; o capítulo 6 expõe algumas metodologias utilizadas para eliminar os efeitos dinâmicos que se sobrepõe ao sinal de interesse; o capítulo 7 apresenta o método da alteração da taxa de flexibilidade proposto por Yamamoto e Kobayashi (1993) utilizado para auxiliar no cálculo da tenacidade à fratura dinâmica; o capítulo 8 enumera os materiais e métodos utilizados neste estudo; o capítulo 9 contém os resultados dos ensaios realizados e respectivos comentários e 23 Campus de Ilha Solteira discussões; no capítulo 10 são apresentadas as conclusões do presente trabalho e propõe sugestões para trabalhos futuros; o capítulo 11 exibe as referências que nortearam este estudo e, finalmente, os Anexos de A a E e Apêndices A e B auxiliam no desenvolvimento de ideias e conceitos apresentados ao longo do texto. 24 Campus de Ilha Solteira 2 REVISÃO HISTÓRICA O ensaio de impacto Charpy, consagrado no meio científico, recebeu este nome devido ao seu idealizador, Georges Augustin Albert Charpy, que viveu entre os anos de 1865 e 1945. Este ensaio destrutivo permite comparar o comportamento de diferentes materiais quando submetidos a uma elevada taxa de carregamento, ou avaliar o efeito de variações microestruturais, da temperatura, da presença de um concentrador de tensão, ou de todos estes efeitos combinados. Este é um ensaio pouco dispersivo, uma vez que as variáveis são devidamente controladas, podendo ser utilizado no controle de qualidade, para avaliar um determinado processo de fabricação. O ensaio de impacto Charpy também possui outras vantagens, como o reduzido tempo de realização do ensaio e reduzidas dimensões dos corpos de prova, quando comparados a outros ensaios destrutivos, como o ensaio de tração, por exemplo. A instrumentação da máquina de ensaio torna o ensaio mais proveitoso, pois permite monitorar o comportamento da carga no corpo de prova em função do tempo ou deslocamento, além de fornecer uma forma alternativa de obtenção do valor da energia global de fratura e outros parâmetros. De modo geral a instrumentação da máquina de ensaio e/ou do corpo de prova é realizada através da colagem de extensômetros elétricos, fazendo com que ambos passem a atuar como células de carga. No âmbito mundial, Ireland (1977) foi um dos pioneiros no estudo sobre a instrumentação do ensaio Charpy. As análises minuciosas realizadas nessa época contribuíram para a escolha dos equipamentos necessários para compor a cadeia de medição. Böhme e Kalthoff (1982), do Instituto de Materiais de Freiburg/Alemanha, iniciaram estudos a respeito da instrumentação de corpos de prova ao utilizar corpos de prova entalhados construídos de resina epoxy com dimensões maiores que as utilizadas no ensaio Charpy convencional. Os sinais força vs tempo foram medidos e comparados por meio de extensômetros elétricos posicionados no topo do martelo de impacto e na base de apoio dos corpos de prova. Kalthoff também fez uso do 25 Campus de Ilha Solteira ensaio de impacto em um estudo cujo objetivo era a caracterização de compósitos, este trabalho foi publicado em 2004. Yamamoto e Kobayashi (1993), da Universidade Tecnológica de Toyohashi – Japão, desenvolveram um sistema denominado Computer Aided Instrumented Charpy Impact Testing – CAI – pode-se determinar a tenacidade à fratura dinâmica, KId ou JId (vide capítulo 7), além das energias obtidas com base nas curvas força - deflexão, oriundas de corpos de prova Charpy-V pré-trincados. O grande avanço deste estudo foi a incorporação de um computador na cadeia de medição. Foi com esse objetivo que Schmitt et al. (1994) avaliaram a tenacidade a fratura dinâmica de materiais soldados em reatores nucleares através de corpos de prova entalhados e validaram-se os resultados por meio da simulação numérica. Nesse estudo foram colados extensômetros no topo do martelo pendular e nos corpos de prova, próximos ao ponto de apoio na máquina de ensaio. Delforge (1994), do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Ilha Solteira, em conjunto com o Departamento de Engenharia de Materiais da Universidade de Campinas - UNICAMP, por meio de um trabalho de mestrado, promoveu a instrumentação do pêndulo de uma máquina de ensaio Charpy convencional. Utilizando extensômetros elétricos devidamente fixados no martelo pendular, foram determinados diversos valores de tenacidade à fratura dinâmica aparente de materiais metálicos, tais como aços ABNT 1020, 4140 e 300M, de qualidade aeronáutica, além da liga de alumínio Al 7050 T76. Foram efetuadas diversas taxas de carregamento e temperaturas de ensaio no sentido de avaliar o desempenho da instrumentação implementada. Quinan (1996), do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, realizou (também em um trabalho de mestrado) uma análise do ensaio de impacto Charpy instrumentado recorrendo-se a extensômetros elétricos posicionados no martelo pendular. Um modelo numérico de distribuição de deformações foi desenvolvido utilizando o software de modelagem ANSYS®. O objetivo foi avaliar a qualidade da colagem dos extensômetros mediante a comparação dos resultados de deformação apresentados pelos modelos numérico e experimental. Perosanz et al. (1998), do Instituto de Tecnologia Nuclear de Madrid – Espanha, analisaram a tenacidade à fratura dinâmica utilizando o ensaio Charpy instrumentado em um aço comum e em outro usado em vasos de pressão de 26 Campus de Ilha Solteira reatores. Perosanz et. al. também empregaram a segunda lei de Newton para fazer estimativas sobre o deslocamento do martelo pendular (vide capítulo 2). Böhme et al. (1999), do Instituto de Materiais de Freiburgh/Alemanha, avaliaram a dispersão dos resultados de tenacidade à fratura dinâmica e monotônica, medidos em diferentes temperaturas na região de transição de aços ferríticos também utilizados em vasos de pressão de reatores nucleares. Poucas instituições de pesquisa no Brasil têm se dedicado ao estudo do ensaio Charpy instrumentado. O Centro de Pesquisas de Energia Elétrica - CEPEL - uma empresa do sistema Eletrobrás criada em 1974, vem utilizando uma máquina de ensaio Charpy instrumentada há algumas décadas. Em projetos conjuntos com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) geraram-se alguns trabalhos de mestrado, como alguns estudos sobre o comportamento à fratura dinâmica de materiais poliméricos compostos. No final de 2000 a Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo - USP adquiriu, através do Departamento de Engenharia de Materiais, uma máquina de ensaio Charpy instrumentada da marca Instron Wolpert® que apresenta o cutelo do martelo pendular instrumentado. Kobayashi et al. (2001) publicaram em 2001 um artigo sobre os progressos realizados no sistema CAI (citado na página 4). Rodrigues (2001), no desenvolvimento de um trabalho de mestrado, em 2001 instrumentou a máquina de ensaios com sensores piezoelétricos, usados como transdutores de força, os quais foram alojados na base de apoio dos corpos de prova. Os resultados foram comparados com os obtidos através do uso de extensômetros elétricos, fixados no cutelo do martelo pendular, tal como proposto por Delforge (1994). Assim, a máquina de ensaio Charpy convencional tornou-se duplamente instrumentada. Neste trabalho foi realizado um estudo da tenacidade à fratura dinâmica aparente de materiais metálicos e os resultados obtidos mostraram que os sensores piezoelétricos funcionaram como confiáveis transdutores de força para o ensaio em questão. Em 2001 foi realizada a CCC (Charpy Centenary Conference), na qual Manahan e Stonesifer (2002) apresentaram um estudo sobre a otimização de modelos de martelos (cutelos). Revelaram que o carregamento indicado pelo martelo do ensaio Charpy instrumentado pode ser adversamente afetado por forças 27 Campus de Ilha Solteira inerciais no martelo e por variações no contato da distribuição de força entre o martelo e corpo de prova. No mesmo congresso Manahan et al. (2002) publicaram um artigo comparando o valor da energia registrado pelo dial e o calculado pela integração numérica da curva força vs deslocamento, chegaram a conclusão de que a segunda refere-se apenas a energia necessária para deformar e fraturar o corpo de prova, a diferença diz respeito às perdas na máquina de ensaio, logo a utilização de martelos instrumentados constitui um método alternativo de medida de energia, tanto para ensaios utilizando corpos de prova convencionais como para miniaturas. Os trabalhos de Lorriot et al. (1994, 2002) empregaram um sensor a laser para medir o deslocamento e tentaram modelar a máquina de ensaio e o corpo de prova através de um sistema massa-mola com dois graus de liberdade (vide capítulo 6), em algumas condições o modelo foi capaz de prever o comportamento registado pela máquina de ensaio. Tronskar et al. (2002) estimaram os valores da tenacidade à fratura e da resistência à iniciação de trinca através de uma máquina equipada com um interferômetro a laser, neste estudo também foi empregado o método da compliance ratio. Morita et al. (2002) apresentaram alguns problemas relacionados à instrumentação. Percebeu-se que o diminuir demasiadamente a espessura dos corpos de prova os fatores de calibração tendem a cair. Assim, sugeriu que o sistema deve ser calibrado para corpos de prova com diferentes espessuras para que se conheça a acuracidade do sistema. Tanguy et al. (2002) da Ecole des Mines de Paris, propôs uma simulação numérica do ensaio Charpy-V no regime dúctil-frágil de transição. O modelo da falha dúctil foi baseado no modelo modificado de Rousselier. A fratura por clivagem foi descrita usando o modelo de Beremin. No ano seguinte, Kruger (2003) percebeu ao decorrer de seu trabalho de mestrado que a diminuição da rigidez do transdutor de força aumentava sua sensibilidade, porém isto aumentava o efeito das ondas de choque nos sinais coletados e que a posição dos sensores exerce influência sobre os resultados. Tvergaard e Needleman (2004) utilizaram o método de elementos finitos para descrever o estado de tensões em um corpo de prova soldado quando submetido ao impacto. 28 Campus de Ilha Solteira Kharchenko et al. (2006) estudaram o efeito da temperatura e do carregamento na energia necessária para iniciar e para propagar a trinca. Lucon (2008) comparou os valores da energia absorvida, força e deslocamento obtidos entre ensaios instrumentados que empregavam cutelos com diferentes raios de ponta, 2 e 8 mm, ele chegou a resultados muito interessantes, que apontavam que para corpos de prova com as dimensões padrões o valor da força máxima registrada era ligeiramente maior no martelo com raio de 2 mm, mas que a diferença no valor da força máxima entre os dois cutelos a medida que a tenacidade do material aumentava, este cutelo de menor raio também apresentou maior dispersão nos resultados. O dial da máquina não registrou diferenças significativas abaixo de 200 J. De modo geral, os valores da força e do deslocamento são mais elevados nos ensaios realizados com o cutelo com raio de 8 mm. Baer et al. (2009) também utilizaram o método da compliance ratio (vide capítulo 7) para determinar a tenacidade a fratura em corpos de prova de ferro fundido e Ferreño et al. (2010) traçaram a curva de transição dúctil-frágil para materiais utilizados em vasos de pressão em reatores nucleares utilizando máquinas de ensaio Charpy instrumentadas. Ali et al. (2011) realizaram um estudo sobre a análise dos sinais obtidos no ensaio Charpy instrumentado utilizando o método I-kaz, modelos estatísticos e densidade espectral de potência do sinal coletado. Ao realizar ensaios com aço 1050 e alumínio, notaram que o coeficiente I-kaz e o valor da densidade espectral de potência eram proporcionais ao módulo de elasticidade, que também seria proporcional ao valor da energia absorvida e à amplitude da deformação. Também concluíram que a ductilidade do material é capaz de afetar o tempo de fratura. Certamente, os exemplos citados correspondem apenas a uma pequena parcela dentre os inúmeros artigos citados sobre o assunto, porém capazes de ilustrar o interesse pelo assunto e os avanços conseguidos nas últimas décadas. 29 Campus de Ilha Solteira 3 ENSAIO CHARPY 3.1 Tradicional Em 1857 surgiu a primeira máquina de ensaio de impacto, tratava-se de uma máquina de queda de peso. Inicialmente os resultados obtidos eram bastante simples, pois apenas verificavam quais amostras eram levadas à fratura (divisão em duas ou mais partes) e quais não, estas também empregavam amostras sem entalhe. Os materiais que fraturavam eram considerados frágeis. Posteriormente, as fraturas foram classificadas como dúctil ou frágil. A fratura frágil é aquela que ocorre sem qualquer deformação apreciável e a superfície de fratura tende a ser plana e perpendicular a direção da tensão aplicada. Ao passo que se define fratura dúctil aquela seguida de deformação plástica generalizada, segundo Callister (2002, p. 129-167). A figura 1 apresenta exemplos destes dois comportamentos.1 Figura 1 - (a) Fratura frágil em um aço doce e (b) fratura dúctil do tipo taça e cone no alumínio. Fonte: Callister (2002). Mais do que classificar o modo como se dá a fratura nos materiais, o ensaio de impacto também é capaz de determinar a tenacidade dos materiais. Tenacidade pode ser entendida como sendo a energia absorvida antes e durante o processo de fratura de um determinado material, Callister (2002). A tenacidade de um determinado material está relacionada com sua capacidade de 1 Embora este estudo aborde questões relacionadas ao ensaios de impacto, as imagens apresentam corpos de prova de um ensaio de tração para exemplificar fratura dúctil e frágil. 30 Campus de Ilha Solteira deformar-se plasticamente (ductilidade) e de absorver energia enquanto este está se deformando elasticamente (resiliência). Logo, a tenacidade de um material está relacionada à combinação destas duas características, quanto maiores estas se apresentarem, maior será a tenacidade do material. Porém, ganho em tenacidade geralmente vem acompanhado de uma perda em resistência e vice-versa. Para favorecer as propriedades mecânicas do material é necessário realizar otimizações na liga, então as propriedades avançam no sentido da seta da figura 2. Figura 2 - Relação inversa entre tenacidade à fratura e resistência em ligas metálicas. Fonte: Tokimatsu (1995). Embora seja possível obter o valor de tenacidade de um material através de ensaios convencionais, os valores mais aceitos são aqueles obtidos sob altas taxas de deformação, como num ensaio de impacto, conforme afirmam Tokimatsu e Ferreira (1999). Isto ocorre porque as taxas de deformação são reduzidas nos ensaios convencionais, como no ensaio de tração. No entanto, as fraturas mais preocupantes são aquelas que ocorrem sob taxas mais elevadas, pois geralmente ocorrem de modo catastrófico e são de difícil controle. Por este motivo faz-se necessário avaliar a tenacidade dos materiais através de um ensaio de impacto (dinâmico) como o Charpy ou Izod, pois estes são capazes de reproduzir as condições citadas acima. Reed-Hill (1982) afirma que a taxa de 31 Campus de Ilha Solteira carregamento no ensaio de impacto é aproximadamente 10 milhões de vezes maior do que a de um ensaio de tração convencional. Além das elevadas taxas de carregamento, também se faz necessário utilizar amostras com entalhe, usadas pela primeira vez por LeChatelier em 1892, pois o entalhe introduz um estado triaxial de tensões nas amostras, que dificulta a ocorrência de deformação plástica, propiciando o crescimento da trinca. A figura 3 apresenta uma comparação entre o estado de tensão de um elemento de volume de um corpo de prova utilizado no ensaio de tração de um corpo de prova utilizado no ensaio Charpy na presença de um entalhe. Em relação à realização do ensaio de impacto, o procedimento é bastante simples, consiste em liberar o martelo pendular da máquina de ensaio a partir de uma determinada altura inicial. Então, este colide com o corpo de prova devidamente posicionado na máquina e após a colisão o martelo adquire uma altura final, sempre menor do que a inicial. Figura 3 - Estado de tensão em uma unidade de volume de um corpo de prova utilizado no ensaio de tração (à esquerda) e em um corpo de prova utilizado no ensaio de impacto Charpy (à direita). Fonte: Adaptado de Tokimatsu (1995). Em relação à realização do ensaio de impacto, o procedimento é bastante simples, consiste em liberar o martelo pendular da máquina de ensaio a partir de 32 Campus de Ilha Solteira uma determinada altura inicial. Então, este colide com o corpo de prova devidamente posicionado na máquina e após a colisão o martelo adquire uma altura final, sempre menor do que a inicial. A figura 4 ilustra todo esse processo, através do balanço de energia do sistema obtém-se a equação 1 (vide dedução no Anexo A), que relaciona energia responsável pelo processo de fratura mais perdas com a variação na energia potencial, esta é a relação fica registrada no dial da máquina de ensaio Charpy ao final do ensaio. Dependendo da aplicação do material é preciso realizar o ensaio com o corpo de prova na temperatura que melhor represente a condição de operação, pois esta influência o comportamento dos materiais submetidos a elevadas taxas de carregamento, de modo que diversos materiais se comportam de forma dúctil a temperatura ambiente e frágil em baixas temperaturas2. Não existe uma temperatura exata na qual ocorra a transição, em geral esta ocorre de forma gradual em função da temperatura, para traçá-la são realizados ensaios de impacto empregando um número representativo de corpos de prova em diferentes temperaturas. Figura 4 - Representação esquemática do ensaio de impacto Charpy. Fonte: Elaboração do autor. 2 Neste estudo todos os ensaios foram realizados a 27 °C. dial 33 Campus de Ilha Solteira (1) Onde, m = massa do martelo; gn = aceleração da gravidade; Hi = altura inicial do martelo; Hf = altura final do martelo; WT = energia global de fratura; WP = energia dissipada (perdas mecânicas, atrito com o ar, etc). Mas o efeito da temperatura só foi compreendido alguns anos após o fim da II Guerra Mundial, na qual ocorreram diversos incidentes com os navios da série Liberty, segundo Dieter (1988). Por causa disso foram feitas severas críticas ao ensaio Charpy. Posteriormente compreendeu-se que ao realizar os ensaios de impacto com o material usado nos cascos dos navios na faixa de temperatura das águas geladas do Atlântico Norte este se apresentava pouco tenaz. Enquanto a credibilidade do ensaio de impacto Charpy era recobrada uma nova metodologia de projeto que substituísse a Resistência dos Materiais começou a ser elaborada, atualmente conhecida como Mecânica da Fratura, porém ambas são empregadas atualmente, cada uma dentro do seu raio de aplicações. Após este período, o ensaio Charpy voltou a ter o devido reconhecimento e é considerado um ensaio clássico atualmente (2012). Além da temperatura, é preciso considerar também o efeito causado pelo entalhe, pois este introduz um estado triaxial de tensões, o que permite avaliar o comportamento do material na presença de um concentrador de tensão aliado a altas taxas de carregamento. É usual realizar ensaios de impacto com materiais metálicos empregando corpos de prova com entalhes. Conforme a ASTM E-23 (1996) são permitidos três diferentes tipos de entalhe nos corpos de prova utilizados, vide figura 5 extraída da norma em questão. Também é válido apresentar a diferença entre os ensaios de impacto Charpy e Izod, que consiste na forma como o corpo de prova é apoiado, vide figura 6. 34 Campus de Ilha Solteira Figura 5 - Corpos de prova Charpy normalizados pela ASTM E-23 (1996). Fonte: American Society for Testing and Materials (1996). Figura 6 - Ilustração apresentando a diferença no apoio do corpo de prova nos ensaios Charpy e Izod. Fonte: Callister (2002). 3.2 Instrumentado A máquina de ensaio Charpy tradicional possui um amplo campo de aplicações, todavia também encontra certas limitações. Por exemplo, o valor da 35 Campus de Ilha Solteira energia fornecido no dial da máquina tradicional apresenta o valor da energia total de fratura somado ao valor das perdas mecânicas da máquina de ensaio. Enquanto isso, ao instrumentar a máquina de ensaio Charpy o cutelo e/ou corpo de prova passam a atuar como células de carga, capazes de fornecer os valores de força e energia em função do deslocamento ao longo de todo o ensaio, ou seja, é possível monitorar todo o processo de deformação e fratura do corpo de prova e obter valores de força e energia no instante de iniciação da trinca (respectivamente, Fiu e W iu) e no ponto de parada da trinca (respectivamente, Fa e Wa), além de fornecer o valor da energia total de fratura livre das perdas mecânicas e valor da força máxima (Fm). Logo, ao comparar a gama de informações fornecidas pelo ensaio tradicional e pelo instrumentado é possível concluir que é vantajoso realizar os ensaios de impacto utilizando uma máquina instrumentada. Por exemplo, a figura 7 retirada de Shockey (1995), apresenta as curvas força vs tempo para corpos de prova de aço de média resistência mecânica em diferentes temperaturas obtidas através do ensaio Charpy instrumentado. Figura 7 - Resposta ao impacto (força vs tempo) para um aço de média resistência mecânica sob diferentes condições de temperatura. Fonte: Shockey (1995). 36 Campus de Ilha Solteira PM representa, na figura 7, o carregamento máximo durante o ensaio que ocorre no instante de tempo tM, a energia absorvida até o instante tM é igual a WM. A partir do instante tGy sob o carregamento PGy o corpo de prova começa a se deformar plasticamente. PA indica o carregamento no instante de parada da trinca. Portanto, é possível observar a mudança no comportamento da força em função do deslocamento (deformação) durante a transição dúctil-frágil dos materiais através do ensaio Charpy instrumentado, assim como a obtenção de informações necessárias para a realização de estudos no âmbito da mecânica da fratura linear- elástica (MFLE) ou da mecânica da fratura elasto-plástica (MFEP), detalhadas no capítulo 7 deste estudo. A partir das contribuições feitas para o desenvolvimento e melhoria na metodologia utilizada no ensaio instrumentado surgiu a norma ISO 14.556 (2000), que faz exigências quanto às características do sistema de medição. Esta norma pode ser aplicada para outros materiais metálicos fornecendo informações sobre o comportamento em fratura dos produtos ensaiados. Com a finalidade de padronização internacional, foram adotados os seguintes termos e definições apresentados a seguir. O gráfico da figura 8 mostra alguns pontos de grande interesse da curva força vs deslocamento. Figura 8 - Pontos de interesse na curva força vs tempo obtida através do ensaio Charpy instrumentado. Fonte: International Standard Steel 14.556 (2000). 37 Campus de Ilha Solteira De acordo com a norma ISO 14.556 (2000), são definidas as seguintes nomenclaturas para os parâmetros obtidos através do ensaio Charpy instrumentado: Valores característicos da força ou carregamento Nota: Valores característicos da força ou carregamento são expressos em Newtons. Força ou carregamento no escoamento (Fgy) Força no ponto de transição da parte linear para a parte curva do gráfico força vs deslocamento. Força ou carregamento máximo (Fm) Máxima força no percurso da curva força-deslocamento. Força ou carregamento de iniciação da trinca (Fiu) Força para o início da queda abrupta na curva força-deslocamento. Nota: Isto caracteriza o início da instabilidade de propagação da trinca. Força ou carregamento para parar a trinca (Fa) Força no final da instabilidade de propagação da trinca. Valores característicos do deslocamento ou deflexão Nota: Valores característicos do deslocamento ou deflexão são expressos em metros. Deslocamento ou Deflexão no escoamento generalizado (Sgy) Deslocamento correspondente à força no escoamento plástico, Fgy. Deslocamento ou Deflexão na força máxima (Sm) Deslocamento correspondente à força máxima. Deslocamento ou Deflexão na iniciação da trinca (Siu) Deslocamento para a inicialização da instabilidade de propagação da trinca. Deslocamento ou Deflexão no ponto de parada da trinca (Sa) Deslocamento para deter instabilidade para propagação da trinca. Deslocamento ou Deflexão Total (St) Deslocamento no fim da curva força-deslocamento. Valores característicos da energia de impacto 38 Campus de Ilha Solteira Nota: Valores característicos da energia de impacto são expressos em Joules. Energia na força máxima (Wm) Energia parcial de impacto S=0 até S=Sm. Energia para iniciação da trinca (Wiu) Energia parcial de impacto de S=0 até S=Siu. Energia no ponto de parada da trinca (Wa) Energia parcial de impacto de S=0 até S=Sa. Energia total de impacto (Wt) Energia absorvida no processo de fratura do corpo de prova, calculada pela da área sob a curva força-deslocamento de S=0 até S=St. A tabela 1 a seguir reúne todas estas informações, apresentando os símbolos e significados adotados pela ISO 14.556 (2000) e as unidades das grandezas envolvidas. Esta norma também faz consideração sobre as configurações mínimas do sistema de aquisição, que deve ser composto por um conversor analógico-digital de (no mínimo) 8 bits com uma taxa de amostragem de 250 kHz ou deve ser capaz de fazer a aquisição de 2000 palavras de 12 bits em um intervalo de 8 ms. Segundo a norma ISO 148-1 (2009), ao integrar a curva força vs deslocamento obtida durante o ensaio com auxílio deste sistema obtém-se o valor da energia total do impacto (Wt), também conhecida como energia global de fratura, ou seja, é toda energia absorvida pelo corpo de prova durante o ensaio. As curvas força vs deslocamento e energia vs deslocamento fornecem informações consideráveis sobre o comportamento à fratura do corpo de prova. De acordo com a norma ISO 148-2 (2008), pode-se comparar o valor da energia total de impacto instrumentado, W t, obtido a partir da integração da curva força vs deslocamento com o registrado pelo dial da máquina de ensaio (relógio mostrador), KV a fim de avaliar se estes apontam para o mesmo valor. Se a divergência entre ambos exceder ± 5 J, deve-se investigar: a) o atrito do sistema mecânico da máquina; b) a calibração do sistema de medidas; c) a rotina de integração utilizada. 39 Campus de Ilha Solteira A medição de força normalmente é realizada empregando-se dois extensômetros ativos colados no cutelo original, para formar o transdutor de força. Então os extensômetros são ligados de modo a formar uma ponte de Wheatstone, conforme detalhado no item 4 deste estudo. Tabela 1 - Símbolos, significados e unidades conforme a Norma ISO 14.556 (2000). Símbolo Significado Unidade fg Limite da frequência de saída Hz F Força ou carregamento N Fa Força ou carregamento no ponto de parada da trinca N Fgy Força ou carregamento no escoamento plástico N Fiu Força ou carregamento na iniciação da trinca N Fm Força ou carregamento máximo N gn Aceleração da gravidade m/s² H Altura da queda do centro do pêndulo m KV Energia absorvida como definida pela ISO 148-1 J M Massa efetiva do pêndulo Kg S Deslocamento ou Deflexão m sa Deslocamento ou Deflexão no final da trinca m sgy Deslocamento ou Deflexão no escoamento generalizado m siu Deslocamento ou Deflexão na iniciação da trinca m sm Deslocamento ou Deflexão na força máxima m st Deslocamento ou Deflexão total m t Tempo s to Tempo para o início da deformação elástica do CP s tr Tempo de subida do sinal s vo Velocidade inicial do martelo de impacto m/s vt Velocidade do martelo de impacto num tempo t m/s Wa Energia no ponto de parada da trinca J Wiu Energia de iniciação da trinca J Wm Energia na força máxima J Wt Energia global de fratura J Fonte: International Standard Steel 14.556 (2000). 40 Campus de Ilha Solteira O par de extensômetros colados em lados opostos do cutelo compõe o transdutor de força enquanto os outros dois restantes fazem a compensação de temperatura 3 . Os extensômetros de compensação não devem ser colados em nenhuma parte da máquina de ensaio que sofra impacto ou efeitos de vibração. Podem ser usados, alternativamente, outros instrumentos para formar um transdutor de força, que satisfaçam os níveis de desempenho requeridos. O sistema de medição de força (cutelo instrumentado, amplificador, sistema de aquisição e tratamento de dados) deve ter uma resposta em frequência de pelo menos 100 kHz, que corresponde ao tempo de subida, tr, de não mais que 3,5 μs. De acordo com a norma ISO 14.556 (2000), a avaliação dinâmica da medida da força encadeada pode ser simplificada pela medida dos valores de pico iniciais. Pela experiência, a cadeia de medição dinâmica pode ser considerada satisfatória se o corpo de prova de aço com entalhe em V apresentar um pico inicial maior que 8 kN, para uma velocidade de impacto entre 5 m/s e 5,5 m/s. Isto é válido se o centro dos extensômetros ativos estiverem afastados a uma distância entre 11 mm e 15 mm do ponto de contato do martelo. A instrumentação do cutelo deve ser designada para cobrir o intervalo nominal exigido para a força. O cutelo instrumentado deve ser projetado para minimizar sua sensibilidade para carregamentos não simétricos. Em geral, a força máxima registrada variam entre 10 kN e 40 kN quando são utilizados corpos de prova com entalhe em V para os variados tipos de aços. A norma ISO 14.556 (2000) também recomenda que a calibração seja realizada com o cutelo acoplado na máquina de ensaio. A força é aplicada no cutelo por uma máquina de carregamento equipada com uma célula de carga calibrada e utilizando-se uma base bem rígida capaz de sustentar este aparato. As condições de contato devem ser aproximadamente iguais, no sentido de fornecer resultados reprodutíveis. A linearidade estática e o erro de histerese na construção do martelo instrumentado, incluindo todas as partes do sistema de medida até o sistema de armazenamento de dados, devem estar dentro de ±2% da força medida, quando a faixa da força nominal estiver entre 50% e 100%, e dentro de ±1% do fundo de escala dos valores de força, quando a faixa da força nominal estiver entre 10% e 3 Elimina o efeito causado por variações na temperatura ambiente, que causa variação na resistência do extensômetro. 41 Campus de Ilha Solteira 50% (vide figura 9). Para a instrumentação do cutelo sozinho, recomenda-se que a acuracidade seja ±1% dos valores medidos entre 10% e 100% da força nominal. Figura 9 - Erro permissível de valores registrados dentro de uma faixa de força nominal. Fonte: International Standard Steel 14.556 (2000). A norma ISO 14.556 (2000) exige ainda que a máquina de ensaio Charpy e o sistema de medição devem ser calibrados em intervalos que não excedam 12 meses ou sempre que os equipamentos forem desmontados, movidos ou reparados. Se o deslocamento do martelo não puder ser medido diretamente ao longo do ensaio, como com o auxílio de um interferômetro4 (Tronskar et at., 2002), é possível estimá-lo através da equação 3, decorrente da Segunda Lei de Newton (equação 2). ∑ ⃗ (2)          t t t t dtdttF m VtS 0 0 )( 1 )( 0 (3) Onde, 4 Interferômetro é um dispositivo capaz de realizar medições de ângulos e de distâncias utilizando um feixe de laser. 42 Campus de Ilha Solteira t0 : instante em que o martelo está na iminência de tocar no corpo de prova; V0 : velocidade inicial do martelo; m: massa do martelo pendular; t : instante em que martelo e corpo de prova perdem o contato físico; F: força em função do tempo; V : velocidade em função do tempo; S : deslocamento em função do tempo. A violação de qualquer um dos procedimentos gerais implica na obtenção de resultados equivocados (ISO 14.556, 2000). A avaliação da curva força vs deslocamento para a determinação das forças utilizadas nos cálculos da tenacidade é feita considerando-se a classificação dos diversos formatos de sinais (vide figura 10) classificadas pela própria norma ISO 14.556 (2000) com as letras de A a F. Figura 10 - Curva característica força-deslocamento classificadas pela norma ISO 14.556. Fonte: International Standard Steel 14.556 (2000). 43 Campus de Ilha Solteira Uma vez que as curvas são obtidas, o valor da tenacidade (equação 4) é determinado pela área sob a curva tensão vs deformação obtida através o ensaio, ou seja, através da integração da curva a partir do instante em que o cutelo está na iminência de colidir com o corpo de prova, deformação nula, até a máxima deformação, na qual ocorre a fratura final. ∫ (4) Onde, Wt : energia global de fratura [J]; σ : tensão [MPa ou GPa]; ε : deformação; εf : deformação final (no instante em que ocorre a fratura final). Sabendo que σ=F/A e que dε=dL/L0, então a equação 4 pode ser reescrita da forma apresentada na equação 5. ∫ (5) Onde, F : força [N ou kN]; A0 : seção inicial do corpo de prova [m²]; L : variação no comprimento do corpo de prova [m]; L0 : comprimento inicial do corpo de prova [m]. Mas sabendo que o volume inicial do corpo de prova (prismático) é dado por V0=A0·L0, então a equação 5 pode ser reescrita na forma apresentada através da equação 6. ∫ (6) 44 Campus de Ilha Solteira Onde, V0 : Volume inicial do corpo de prova [m³]. Logo, a energia global de fratura pode ser calculada através da equação 6, sendo necessário entrar com os dados da força e do deslocamento obtidos experimentalmente, direta ou indiretamente. 45 Campus de Ilha Solteira 4 NOÇÕES DE INSTRUMENTAÇÃO 4.1 Instrumentos de medição Segundo Doebelin (2004), os instrumentos de medições são utilizados para monitorar processos e operações, podem ser utilizados em uma malha de controle e também são empregados em análises experimentais em engenharia. Porém, um mesmo instrumento pode possuir qualquer uma das funções citadas dependendo do ponto de vista. Em relação a esta última, há duas abordagens distintas: teórica e experimental. A abordagem teórica geralmente fornece resultados de uso geral. Além disso, é necessário recorrer a suposições simplificadoras, ou seja, utiliza-se um modelo simplificado, cujos resultados apresentam diferenças em relação ao comportamento real do sistema. Em algumas situações o equacionamento do sistema torna-se demasiadamente complexa, sendo necessário utilizar ferramentas computacionais. No entanto, a abordagem teórica não demanda tempo para a realização de montagens experimentais, na coleta de dados e calibração e montagem dos equipamentos de medição. Ao passo que a abordagem experimental fornece resultados limitados a uma aplicação específica, embora algumas técnicas permitam generalizações. Porém, não é necessário fazer hipóteses simplificadoras, pois os resultados já refletem o comportamento verdadeiro do sistema, todavia pode ser necessário empregar equipamentos complexos e de custo elevado para conseguir realizar medições capazes de revelar o comportamento real do sistema. Também é necessário investir uma quantidade de tempo considerável para projetar, construir, checar o aparato de medição. Quanto aos instrumentos empregados na análise experimental em engenharia, Doebelin (2004) afirma que estes podem ser utilizados para testar predições teóricas baseadas em hipóteses simplificadoras (ou seja, testam a validade das simplificações adotadas), também podem ser utilizados para auxiliar na formação de uma relação empírica em situações nas quais não existe uma teoria 46 Campus de Ilha Solteira suficientemente desenvolvida, além de auxiliar na compreensão de um fenômeno físico ou na solução de equações matemáticas por analogia. Instrumentos de medição também podem auxiliar na caracterização de materiais, na determinação de componentes e parâmetros de um sistema, na determinação de variáveis e índice de desempenho. Todo instrumento de medição é composto pelos blocos funcionais representado na figura 11. Porém, os blocos funcionais não correspondem aos elementos físicos que compõem o instrumento de medição, pois um elemento físico pode desempenhar duas ou mais funções mencionadas. Os diferentes instrumentos podem contem as funções básicas arranjadas de modo distinto e em diferente número, Doebelin (2004). Figura 11 - Elementos funcionais de um sistema de medição. Fonte: Adapatado de Doebelin (2004). O elemento sensitivo primário é aquele que recebe energia do meio, isto causa uma perturbação no meio devido justamente ao processo de medição, por isso teoricamente não existe uma forma de se obter uma medida perfeita. A saída do elemento físico primário é uma variável física, mas para que o instrumento execute a opção desejada é preciso converter a variável física em outra, esta é a função do bloco denominado elemento de conversão. O elemento de manipulação de variável realiza a manipulação dos dados que representam uma variável física, mas mantem a natureza física dessa variável. Por exemplo, um amplificador produz em sua saída um sinal dezenas ou centenas de vezes maior que o da entrada. Na verdade, o elemento de manipulação pode ocupar qualquer posição no diagrama de blocos, pode também não estar presente. O elemento de transmissão de dados representa o canal que une os elementos funcionais do instrumento de medição. Este pode ser composto por fios e 47 Campus de Ilha Solteira cabos, um sistema de eixos e rolamentos, um complexo sistema de telemetria, entre outros. A função do elemento de apresentação de dados é a de colocar os dados em uma forma em que o observador seja capaz de reconhecer através dos sentidos, como através de um ponteiro movendo em uma escala ou um display. Mas nem todos os elementos de apresentação de dados são visuais, alguns podem usar outros sentidos, como a audição ou o toque. O elemento de armazenamento de dados é composto por um elemento capaz de guardar os dados por certo tempo esperando o momento em que o observador necessitará deles, pode ser composto, por exemplo, por uma memória computacional. Os componentes que realizam as funções citadas podem ser classificados como transdutores, que por sua vez podem ser classificados como ativos ou passivos. Transdutores passivos são os componentes cuja energia da saída é fornecida exclusivamente pelo sinal da entrada, sensores piezoelétricos são exemplos disso. Já a energia do sinal de saída dos transdutores passivos é suprida por uma fonte auxiliar, como é o caso dos circuitos amplificador. Os instrumentos de medição também podem ser classificados como digitais e analógicos. Os analógicos são aqueles que apresentam um sinal de leitura contínua, sendo que a saída pode assumir valores infinitesimais. Os digitais apresentam um sinal de saída discreto, logo a saída pode assumir valores finitos dentro de uma dada faixa de operação. 4.2 Extensômetro elétrico Extensômetros elétricos são capazes de variar a resistência entre seus terminais em função da deformação em que for submetido. O campo de aplicação dos extensômetros é bastante amplo, podendo ser utilizado para medir a deformação em uma amostra até as últimas cargas em um ensaio destrutivo. De acordo com Doebelin (2004) e Andolfato (2004), os extensômetros, de modo geral, apresentam as seguintes características: a) alta precisão de medição; b) tamanho e massa reduzidos; 48 Campus de Ilha Solteira c) excelentes respostas aos fenômenos dinâmicos; d) fácil utilização (se adotadas as práticas adequadas); e) excelente linearidade; f) é possível realizar medições dentro de uma ampla faixa de temperatura; g) pode ser utilizado em ambientes agressivos (se devidamente protegido); h) possibilita a medição em lugares remotos; i) a saída pode ser conectada a um sistema de controle. O princípio de funcionamento do extensômetros elétrico é bastante simples. Por exemplo, ao exercer uma força ⃗⃗⃗ sobre um componente que possui uma seção inicial A0 aparecerá uma reação interna para contrabalancear a ação externa, a magnitude dessa força interna por unidade de área é chamado de tensão, Andolfato et al. (2004). O esforço aplicado pode ser descomposto em uma componente normal ou tangente ao plano. Forças de tração ou compressão (figura 12-a e 12-b) geram uma tensão normal ao plano, tensão normal é representada pelo símbolo σ, forças tangentes (figura 12-c) ao plano implicam no aparecimento de tensões cisalhantes, representadas pelo símbolo τ. Uma vez que existe uma força externa agindo e há uma reação (tensão) no corpo (seja este um componente ou uma estrutura), este tende a deformar-se, a deformação de engenharia ε é definida pela equação 7. 00 0 l l l lli     (7) Onde, ε : deformação; li : comprimento instantâneo; l0 : comprimento inicial; Δl : alongamento. 49 Campus de Ilha Solteira Figura 12 - (a) Força externa tracionando o corpo, (b) força comprimindo o corpo e (c) força cisalhante. Fonte: Andolfato (2004). Se o extensômetro for colado neste corpo que está se deformando, então ele se deformará também. É sabido que os extensômetros são compostos por um elemento resistivo, ou como fio ou como lâmina (foil), conforme apresentado na figura 13. Figura 13 - Extensômetros elétricos (a) de fio e (b) em lâmina (foil). Fonte: Andolfato (2004). A mudança nas dimensões do extensômetro causada pela deformação do corpo, no qual este se encontra colado implica na mudança da resistência do extensômetros, conforme enunciado pela 2ª Lei de Ohm, vide equação 8. Para 50 Campus de Ilha Solteira exemplificar esta variação na resistência toma-se o elemento resistivo apresentado na figura 14. Figura 14 - Elemento resistivo. Fonte: Andolfato (2004). 2 2         d l A l R   (8) Onde, R : Resistência elétrica; ρ : resistividade; l : comprimento; A: área da seção; d : diâmetro da seção. É fácil notar que a variação nas dimensões, no comprimento (alongamento) e no diâmetro, causa uma variação na resistência do componente. Sabe-se que a variação relativa na resistência é diretamente proporcional à deformação, como apresentado na equação 9, a dedução se encontra no Anexo B deste estudo.   K R R (9) 51 Campus de Ilha Solteira Onde: ΔR : variação na resistência; R : valor da resistência inicial (sem deformação); K : sensibilidade à deformação; ε : deformação; Após saber como o extensômetro é capaz de variar sua resistência ao se deformar juntamente com o componente ou estrutura na qual está colado, é preciso construir um dispositivo capaz de utilizar este conceito para medir as grandezas físicas por esta deformação. Para medir deformação é usual recorrer a circuitos em ponte, ou seja, são montadas pontes de Wheatstone empregando um extensômetro em cada um dos braços da ponte, conforme apresentado na figura 15. Figura 15 - Ponte de extensômetros. Fonte: Adaptado de Andolfato (2004). Se uma fonte de corrente contínua que fornece uma tensão E for conectada entre os terminais A e C, denominados como “entrada”, a tensão na saída da ponte, ou seja, entre os terminais B e D será dada pela equação 10, caso os extensômetros sejam nomeados conforme apresentado na figura 15. 52 Campus de Ilha Solteira E RR R RR R e             21 1 43 3 (10) Onde: E : tensão na entrada; e : tensão na saída; R1, R2, R3, R4 : resistência dos extensômetros. A equação 10 pode ser reescrita na forma apresentada pela equação 11 (após fazer o m.m.c. das duas parcelas). E RRRRRRRR RRRR e          )()()()( )()( 42413231 4123 (11) Através dos passos detalhados no Anexo C deste estudo é possível afirmar que a tensão na saída pode ser escrita na forma apresentada pela equação 12. )( 4 4321     EK e (12) Onde: E : tensão na entrada; e : tensão na saída; ε1, ε2, ε3, ε4 : deformação nos extensômetros. Rearranjando a equação 12 tem-se a equação 13. EK e    4 4321  (13) Com base na equação é possível determinar a deformação em função da relação entre a tensão de entrada e saída para um circuito em ponte. 53 Campus de Ilha Solteira Vale ressaltar que a deformação ε engloba tanto as deformações devido às tensões normais e cisalhantes e, também, efeitos térmicos. Devido a este último é comum ver montagem que empregam meia ponte e utilizam dois extensômetros para compensação do efeito da temperatura (compensador estático, vide figura 43). O Anexo D apresenta possíveis aplicações empregando ponte de extensômetros e respectivas montagens propostas pela Kyowa® (2012) em seu manual on-line. 4.3 O amplificador de instrumentação Todo amplificador apresenta na saída uma grandeza dada pelo produto entre a entrada e o fator multiplicativo, denominado ganho, Franco (2002). Por exemplo, o amplificador operacional (A.O.) é capaz de aumentar a potência de um sinal através do aumento da amplitude da tensão ou corrente, porém deve-se atentar que o comportamento do sinal (forma de onda) permanece inalterado na saída, com o ilustrado na figura 16. Certamente, a potência fornecida ao sinal é fornecida por uma fonte auxiliar, na qual o amplificador é conectado. Figura 16 - Sinal após receber um ganho G proporcionado pelo amplificador. Fonte: Adaptado de Franco (2002). Segundo Andolfato (2004, p.1-30), o amplificador operacional possui características muito interessantes, como: a) elevada resistência de entrada: isto permite causar o mínimo de interferência possível na fonte que está gerando o sinal a ser amplificado, pois a potência consumida na entrada é extremamente reduzida; b) reduzida impedância de saída; 54 Campus de Ilha Solteira c) entrada diferencial: interferências em modo comum são fortemente atenuadas; d) ganho elevado, dado pelos componentes externos (porém o A.O. só trabalha em baixas potências); e) elevada faixa de passagem; f) elevada razão de rejeição modo-comum (CMRR). Com base nessas características, o amplificador operacional pode ser modelado através do circuito equivalente apresentado na figura 17: Figura 17 - Circuito equivalente simplificado para o amplificador operacional. Fonte: Adaptado de Franco (2002). Onde, Rin é uma resistência muito elevada na entrada e a saída é composta por uma resistência muito reduzida Rout e uma fonte de corrente controlada pela tensão em Rin, representada por Vin. V+ corresponde a entrada não-inversora e V- a inversora, Vout é a tensão de saída, VCC e VEE são os terminais conectados a uma fonte externa. Certamente, o circuito apresentado na figura 18 trata-se apenas de uma simplificação, que pode ser utilizada em projetos a fim de facilitar os cálculos das tensões e correntes envolvidos. A figura 18-a apresenta um diagrama esquemático do circuito que compõe um A.O., a figura 18-b seu diagrama esquemático e a figura 18-c exibe um A.O. encapsulado. Existe um grande número de circuitos que empregam amplificadores operacionais, porém um deles merece devido destaque neste estudo, é o 55 Campus de Ilha Solteira amplificador de instrumentação, apresentado na figura 19, cuja equação da tensão de saída em função da diferença de potencial na entrada é dada pela equação 14. A modelagem do funcionamento do A.O. e a dedução do ganho proporcionado pelo amplificador de instrumentação podem ser encontradas de forma detalhada em Franco (2002). Figura 18 - (a) Diagrama esquemático do circuito que compõe um amplificador operacional 7415, (b) bloco esquemático utilizado para representar um A.O. e (c) identificação dos pinos do CI 741 – amplificador operacional. (a) (b) (c) Fonte: (a) AMPLIFICADOR ... (2007), (b) e (c) adaptado de Franco (2002). 5 As linhas pontilhadas correspondem a: espelhos de corrente (vermelho); amplificador diferencial (azul); estágio de ganho classe A (magenta); estágio anterior da saída (verde); estágio de saída (cian), 56 Campus de Ilha Solteira inin G out VGV R R R R V                2 312 1 (14) Onde: Vin: diferença de potencial na entrada (ou seja, Vin = V1 – V2); Vout : tensão na saída; R1, R2, R3, R4: resistência; RG: resistência (valor fixo ou variável); G: ganho. Figura 19 - Amplificador de instrumentação. Fonte: Adaptado de Franco (2002). Segundo Franco (2002), o amplificador de instrumentação possui as seguintes características: a) impedância de modo-comum e modo-diferencial extremamente elevadas (idealmente infinitas); b) impedância de saída (idealmente nula); c) ganho preciso e estável, tipicamente na faixa de 1 V/V para 103 V/V; d) rejeição de modo-comum extremamente elevado. 57 Campus de Ilha Solteira 5 AMOSTRAGEM E PROCESSAMENTO DE SINAIS 5.1 Classificação de Sinais Pode-se definir sinal como sendo uma representação matemática de um fenômeno físico dado em função de uma ou mais variáveis independentes (tempo, posição, temperatura, entre outras). Sinais também podem ser sintetizados (gerados com auxílio de um computador, por exemplo). Os sinais podem estar representados no domínio do tempo contínuo ou no tempo discreto, sendo possível convertê-lo para o tempo discreto ao amostrá-lo e quantificando os valores que ele assume no tempo (truncagem e arredondamento). Também é possível uma função interpoladora para converter um sinal digital em analógico. Um sinal no tempo contínuo é aquele que está definido para qualquer instante de tempo “t” (variável independente), onde t pode assumir qualquer valor real. Sinais digitais podem ser representados por uma série de dados g[n], na qual “n” corresponde a valores inteiros, para valores de “n” não inteiros a série não está definida. Os sinais também podem classificados como determinísticos ou como aleatórios, todo sinal que pode ser descrito por uma equação matemática. Para descrever sinais aleatórios é preciso empregar ferramentas estatísticas, como processos estocásticos e probabilidade. 5.2 Teorema da amostragem O ser humano na antiguidade já amostrava, de forma intuitiva, fenômenos contínuos no tempo ou no espaço. Segundo Prandoni e Vetterli (2008) os egípcios no século XXV A.C. faziam indicações nas rochas para representar o nível do rio Nilo em diferentes épocas do ano, já que a vida ali estava sujeito ao regime das águas do rio, assim era possível estimar a época do plantio e fazer o controle dos estoques de alimentos baseado nas marcações dos anos anteriores. Atualmente, o objetivo continua sendo o mesmo: representar um evento no tempo contínuo no tempo discreto. A conversão para o tempo discreto é feita através da amostragem do sinal no tempo contínuo, isto torna mais simples a realização de 58 Campus de Ilha Solteira inúmeras operações que se tornariam complexas se realizadas no tempo contínuo. Se o sinal original for limitado em banda é possível recuperá-lo após o processamento, como ilustrado na figura 20. Figura 20 - Etapas do processamento de sinais analógicos (à esquerda), sinais no domínio do tempo (centro) e respectivas transformadas de Fourrier (à direita). Fonte: Diniz et al (2004). 59 Campus de Ilha Solteira Segundo Diniz et al (2004), para um dado um sinal de entrada x‟a(t), contínuo no tempo, passa por um filtro passa-baixa antialising, resultando no sinal xa(t). Em seguida, no conversor A/D, é aplicado um trem de pulsos, p(t), sobre o sinal xa(t), vide equação 15, resultando no sinal auxiliar no tempo contínuo xi(t), equação 16. A figura 21 representa o diagrama deste processo e figura 22 apresenta um exemplo dos sinais no domínio do tempo e no da frequência dos respectivos sinais. Figura 21 - Trem de impulsos aplicado ao sinal de entrada (contínuo). Fonte: Adaptado de Diniz et al (2004).        n nTttp  (15)          n i nTtnxtx  (16) Sendo T o período de amostragem, então xa(t) é univocamente representado pelas suas amostra x[n] = xa(nT), onde n é sempre dado por um valor inteiro, tal como = 0, ±1, ±2, ... Logo, a equação 12 pode ser reescrita da forma apresentada na equação 17.              tptxnTttxnTtnTxtx a n a n ai        (17) Fazendo a transformada de Fourrier (TF) do trem de impulsos p(t) e do sinal auxiliar xi(t) obtêm-se as equações 18 e 19 respectivamente. 60 Campus de Ilha Solteira Figura 22 - (a) Sinal de entrada no tempo contínuo, (b) espectro do sinal de entrada, (c) trem de pulsos, (d) espectro do trem de pulsos, (e) sinal auxiliar no tempo contínuo, (f) espectro do sinal auxiliar. Fonte: Diniz et al (2004).             k k T jP   2 (18)              ''' 2 1 2 1 djPjjXjPjXjX aai  (19) Substituindo a equação 18 na 19 obtém-se a equação 20. Onde: t: tempo; 61 Campus de Ilha Solteira p: trem de impulsos; T: período de amostragem. P: trem de impulsos no domínio da frequência; xa: sinal de entrada no tempo contínuo; Ω: frequência; x: sinal no tempo discreto; xi: sinal auxiliar; Xi: Função auxiliar no domínio da frequência.             k ai k T jjX T jX 21 (20) Porém, para que a conversão A/D seja capaz de fazer uma discretização adequada do sinal analógico é preciso que a largura de faixa de sinal do sinal de entrada contínuo no tempo seja dado pela equação 21. (21) Ou seja, é possível reescrevê-la na forma apresentada na equação 22 (22) Onde: ΩS: frequência de amostragem; ΩC: largura de faixa do sinal. Sendo assim, para que não ocorra uma distorção no sinal, conhecida como aliasing (vide figura 23), é preciso que a período de amostragem seja adequado, dado pelo teorema de amostragem de Nyquist, que afirma que a frequência de amostragem deve ser superior ao dobro da maior frequência do espectro desse sinal, vide Diniz et al (2004). Ao respeitar esta condição o sinal poderá ser reconstituído utilizando um filtro passa-baixa ideal com largura de faixa de ΩS/2. 62 Campus de Ilha Solteira Uma vez que o sinal foi amostrado da forma correta, é preciso processá-lo para evidenciar certas componentes e atenuar, ou até mesmo excluir, outras que não fazem parte do sinal de interesse. Figura 23 - (a) Espectro do sinal no tempo contínuo xa(t), espectro do sinal auxiliar xi(t): (b) ΩS = ΩC, (c) ΩS < ΩC (ocorre aliasing) e (d) ΩS > ΩC. .Fonte: Diniz et al (2004). 5.3 FFT e DFT Transformada Rápida de Fourier (Fast Fourrier Trasnform - FFT) é um algoritmo eficiente para calcular a transformada de Fourier discreta (Discrete Fourrier Transform - DFT). A DFT de uma série finita, dada por {xr} onde r = 0, 1, 2, ... , (N-1), resulta em uma nova série finita Xk, Newland (1983, p. 150-166), como apresentado na equação 23.            1 0 2 1 N r N kr i rk ex N X  , k = 0, 1, 2, .... , (N-1) (23) 63 Campus de Ilha Solteira A DFT decompõe uma sequência de valores em componentes de diferentes frequências. Esta operação é útil em muitas áreas, mas computá-la através da definição é um processo lento. Pois para „N‟ pontos é necessário realizar „N²‟ multiplicações, enquanto que a FFT apresenta o resultado após „N(logN)‟ operações. A diferença de velocidade pode ser substancial, especialmente para longas séries de dados, onde N pode ser na casa dos milhares ou milhões, na prática, o tempo de computação pode ser reduzido por várias ordens de magnitude em tais casos, a melhoria é aproximadamente proporcional à N/ log(N). Ou seja, a FFT calcula a DFT e produz um resultado extremamente próximo necessitando de menos recurso computacional. Porém, existe uma característica muito comum na maioria dos algoritmos utilizados no cálculo da FFT, o comprimento do vetor contendo os dados há de ser uma potência de 2, ou seja, N = 2n, sendo n um número positivo. Nem sempre os dados são fornecidos dessa forma, portanto é neces