REMINISCÊNCIAS URBANAS O caso da Sanbra em Presidente Prudente Orientadora: Prof.ª Dr.ª Cristina Maria Perissinotto Baron Mariana Souza Branco Presidente Prudente Dezembro/2018 REMINISCÊNCIAS URBANAS O caso da Sanbra em Presidente Prudente Mariana Souza Branco Orientadora: Cristina Maria Perissinotto Baron Trabalho Final de Graduação II Universidade Estadual Paulista - FCT UNESP Arquitetura e Urbanismo Dedico esse trabalho final de graduação aos meus pais, principalmente a minha mãe, que se dedicaram tanto para eu chegar até aqui, e me ensinaram desde sempre que só deixariam uma única herança pra mim, que nunca poderia ser roubada ou perdida: uma educação de qualidade. Agradeço primeiramente a Deus por ter trilhado meu caminho até aqui. À minha família, por me dar suporte e compreender minha ausência em vários momentos. Aos meus amigos do cursinho pré-vestibular: Caio, Gabriella e Ana, por estarem sempre comigo e me apoiarem nessa jornada. À toda Turma XII, por me acompanharem nos cinco melhores anos da minha vida. Ao Daniel e ao Lucas Bosco, pela amizade, e principalmente a Mariana Chaves e Marina Souza, por compartilharem comigo os melhores momentos da vida universitária e me ajudarem neste trabalho. Aos professores da UNESP que me ensinaram e me desconstruíram em muitos aspectos, e à Professora Doutora Cristina Maria Perissinotto Baron, por toda orientação na graduação e no TFG. O artista busca a verdade eterna e ignora o que está à sua volta. Admira a coluna do templo babilônico e despreza a chaminé da usina. Qual a diferença das linhas? Quando a era da força motriz pela combustão do carvão estiver finda, adimirar-se-ão os vestígios das últimas chaminés como hoje se admiram os destroços das colunas dos templos (Benjamin, 1989). 1 RESUMO A cidade de Presidente Prudente, localizada no Oeste Paulista, surgiu a partir da chegada da Estrada de Ferro Sorocabana na região, no inÍcio do século XX. O advento da ferrovia trouxe consigo a construção de um patrimônio arquitetônico industrial, sendo notável os galpões que davam suporte a ferrovia. Entre Indústrias Matarazzo, Anderson & Clayton, e Instituto Brasileiro de Café (IBC), destaca-se a Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro – a Sanbra – construída em 1948. A Sanbra se configurava como um complexo industrial de galpões, porém após a construção de empreendimentos imobiliários no local boa parte desses galpões foram demolidos, restando apenas um exemplar, referente a termoelétrica da empresa, a casa de caldeira uma chaminé, importantes marcos na paisagem do município, que foram tombados pelo município em 2017. Sua localização é estratégica: adjacente a linha férrea, conectando o centro da cidade a zona leste, em uma via de movimento intenso, entretanto o complexo da Sanbra se mantém fechado e deteriorado, em estado de ruína, inserido em um grande e declivoso terreno vazio. O Trabalho Final de Graduação II (TFG II) pretende elaborar uma proposta projetual, levando em consideração teorias do patrimônio industrial, ruínas, vazios urbanos e paisagem como base para um adequado uso, em conjunto com estudos da área e referências projetuais. 2 3 Prelúdio introdução Preservação: as teorias vazios urbanos ruína paisagem Pano de fundo A Estrada de ferro sorocabana e formação de Presidente Prudente Sanbra panorama atual Cenário análise do local análise do terreno análise das edificações Referências projetuais Ensaio projetual Conclusão Referências Anexos 4 7 19 51 79 73 113 115 119 Sumário 4 5 prelúdio INTRODUÇÃO O patrimônio industrial construído na primeira metade do século XX foi testemunho da gênese urbana de Presidente Prudente, no entanto com a mudança nas formas de produção e acumulo de capital houve o esvaziamento das edificações industriais em todo mundo, e após a demolição de importantes símbolos recentes dessa nova arquitetura ferroviária-industrial a vertente industrial dos estudos patrimoniais começou a ser estudada e analisada a partir da década de 1970. Essas construções que anteriormente eram símbolo de prosperidade se tornaram símbolo de obsolescência, configurando áreas privilegiadas da cidade em seu entorno como vazios urbanos. A preservação dos remanescentes industriais se torna essencial para manter viva a memória da paisagem, porém com a lógica da imobiliária muitos deles tem sido demolidos para dar lugar a novos espaços de exploração de capital. A Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro (Sanbra) fazia parte de um grande complexo industrial, construído em 1948 e fechado oficialmente em 1978, mantendo-se inacessível e conformando um grande vazio urbano até 2013, quando teve a maior parte de suas edificações demolidas para dar lugar a um empreendimento imobiliário, restando apenas duas pequenas construções e uma chaminé, que devem ser salvaguardados mantendo suas características originais, como um exemplo da arquitetura do período. O objetivo do seguinte trabalho é dar diretrizes de uma intervenção projetual na remanescente da antiga Sanbra de Presidente Prudente, recuperando o ambiente degradado e dando uso aos edifícios remanescentes, de forma a atender a população da vizinhança e da cidade, levando em conta sua camada histórica e entorno, identificando o desenho urbano e arquitetura da edificação, verificando o significado e as permanências deste conjunto na paisagem urbana. Para tal deve-se considerar os principais teóricos do restauro e debates atuais sobre patrimônio industrial e preservação patrimonial, assim como cartas patrimoniais fomentando e justificando a reabilitação da ruína, e compreender a história da cidade e dinâmicas que resultaram no abandono do complexo industrial da Sanbra, e a posterior demolição de parte. Para tal utilizou-se de primeiramente levantamentos bibliográficos a preservação do patrimônio e suas problemáticas e variáveis, demonstrando a importância desses testemunhos, houve também revisão bibliográfica e iconográfica sobre Presidente Prudente e seu nascimento a partir da Estrada de Ferro Sorocabana, até chegar na construção e fechamento da indústria. Para entender seu entorno e suas especificidades foram feitos levantamentos técnicos da área a partir da produção de mapas de análise para compreensão do entorno, como suas camadas históricas, figura fundo, vegetação, mobilidade, entre outros, levantamento da área e sua topografia, das edificações atuais e suas estruturas. A partir de então foi feita a análise de referências projetuais de uso, ocupação e forma de intervenção no patrimônio, servindo de base para o futuro projeto de revitalização e ocupação do local. 6 7 preservação AS TEORIAS – PRESERVAÇÃO Patrimônio Industrial O patrimônio e a identificação do monumento são valores indispensáveis à História de todos os povos, pois definem e ilustram – na maioria dos casos – as raízes das populações as quais se inserem, como nas cidades do Oeste Paulista, marcadas pela malha ferroviária, que escoava a produção de grãos, inserindo fábricas e indústrias na cidade para o processamento dos produtos da agronomia, e galpões para armazenamento e transporte até a ferrovia. A restauração e preservação de edifícios provenientes da indústria surgiu como disciplina apenas no século XIX, resultado das transformações e destruições no ambiente urbano, causado pela nova sociedade industrial pós-revolução. O interesse pela preservação do patrimônio industrial é relativamente recente, com debate mais amplo acontecendo na Inglaterra dos anos 1950, e ganhando maior vigor e atenção publica a partir dos anos 60, quando importantes testemunhos arquitetônicos do processo de industrialização foram demolidos, principalmente na Europa (KÜHL, 2008). Kühl (1998, p. 208) cita que o patrimônio apresenta “massa construída, configuração 8 9 espacial, relação entre volume edificado e vazio, ritmo e cores, inserção na paisagem urbana ou natural”. A partir da segunda metade do século XX houve, portanto, uma ampliação do que é considerado patrimônio histórico, passando a englobar não somente monumentos de grande escala e de qualidade excepcional, mas ambientes urbanos ou rurais inteiros, arquiteturas vernaculares e construções mais recentes, remanescentes do patrimônio industrial. A categoria “Patrimônio Industrial” é referente aos bens construídos ou produzidos após a Revolução Industrial, trazendo inovação e tecnologia por meio das novas formas de produção aplicadas nas técnicas construtivas e materiais industrializados, referindo- se também a destinação desses bens, como fábricas, depósitos, ferrovias, entre outros. A mudança na forma de produção fez com que muitos desses elementos fossem abandonados, ou destruídos, desaparecendo com eles parte da história do lugar. Esse agrupamento patrimonial deve ser estudado em conjunto com as transformações tecnológicas, econômicas e sociais concretizadas na época, portanto está intrinsecamente ligado ao contexto social e econômico, devendo ser associado a história da técnica e pensamento da época (FINGER, 2009). As cartas patrimoniais, recomendações e diretrizes para a manutenção, restauro e conservação do patrimônio, material e imaterial, firmadas internacionalmente, tratam também do assunto. A Carta de Veneza (1964, §1), atualmente uma importante referência para os bens arquitetônicos, cita em seu primeiro artigo que: O conceito de monumento histórico engloba, não só as criações arquitetônicas isoladamente, mas também os sítios, urbanos ou rurais, nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilização particular, de uma fase significativa da evolução ou do progresso, ou algum acontecimento histórico. Este conceito é aplicável, quer às grandes criações, quer às realizações mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo (CARTA DE VENEZA, 1964, grifo nosso). Já a Carta de Nizhny Tagil (2003), aprovada em assembleia geral pelo Comitê Internacional para a Conservação do Patrimônio Industrial (TICCIH), na cidade de Nizhny Tagil, na Rússia, trata exclusivamente do patrimônio industrial, discorre sobre a relevância dos bens construídos para a atividade industrial, assim como os processos, ferramentas utilizadas e a paisagem onde estão inseridos, esclarecendo: [...] os vestígios da cultura industrial que possuem valor histórico, tecnológico, social, arquitetônico ou científico. Estes vestígios englobam edifícios e maquinaria, oficinas, fábricas, minas e locais de tratamento e de refinação, entrepostos e armazém, centros de produção, transmissão de energia, meios de transporte e de todas as suas estruturas, assim como os locais onde se desenvolveram atividades sociais relacionadas com a indústria, tais como habitações, locais de culto ou de educação. [...] II. O patrimônio industrial reveste um valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres comuns e, como tal, confere-lhes um importante sentimento identitário. Na história da indústria, da engenharia, da construção, o patrimônio industrial apresenta um valor científico e tecnológico, para além de poder também apresentar um valor estético, pela qualidade da sua arquitetura, do seu design ou da sua concepção. (CARTA DE NIZHNY TAGIL, 2003, p. 3, 4, grifo nosso). As duas cartas, portanto, afirmam a importância desses bens patrimoniais provenientes da indústria, que testemunharam parte da história da cidade, ou até sua gênese, como em Presidente Prudente, e defendem sua conservação, trazendo valor identitário para paisagem. Quanto as teorias de preservação e como fazê-la, Camillo Boito, arquiteto, em sua obra “Os Restauradores” (2008) procurava aprender sobre os aspectos formas e técnicas construtivas, baseando- se em estudos documentais e na observação e em levantamentos métricos do edifício. Usava também lições do passado da Arquitetura para o presente pela análise dos princípios de uma composição para conseguir formas materiais e funções verdadeiras, não apenas recompondo o estilo da obra. Para o arquiteto as intervenções devem ser feitas desde que muito necessárias, priorizando os trabalhos de conservação e manutenção. Propõe a preservação da pátina, ao mesmo tempo que preconizava a demolição de certos elementos acrescentados com o tempo, que poderiam causar um “falso histórico”, e a remoção dos acréscimos barrocos não originais no interior, portanto além da manutenção para conservar no monumento o seu velho aspecto artístico e pitoresco, ele defende que quando houvesse necessidade de intervenção ela deveria ser uma atuação contemporânea, distinguível do original, sem o risco de gerar esse “falso histórico”, porém sempre mantendo certa unidade de estilo. Sua ideia de restauração era baseada no historicismo, retomando elementos originais com um estudo sobre a Arquitetura na época da construção, propondo uma mínima intervenção, evitando a perda dos elementos característicos e sem a intenção de substituir o que ainda tem condições 10 11 de permanecer exercendo sua função. Para ele, as intervenções seriam “um mal necessário” para não se deixar o edifício ruir e para que o patrimônio continue no cotidiano da sociedade, do contrário acaba caindo no esquecimento (BOITO, 2008). Gustavo Giovannoni (2013) teve um importante papel na consolidação da restauração, em particular o restauro urbano como disciplina na Itália. Sua teoria possuía uma concordância com a de Camillo Boito (2008) mas de forma amplificada. Entendia que a cidade deveria ser trabalhada por inteiro, vista como um organismo complexo, e que todas as suas partes deveriam ser preservadas de forma articulada, melhorando as condições e mantendo as áreas de preservação. O Patrimônio Industrial (e também o moderno) contraria um ideal do teórico clássico Ruskin (2008), que defendia seriam necessários quatro a cinco séculos para uma obra ser considerada “monumento histórico”, porém com a Revolução Industrial (e posteriormente a Revolução Digital) a noção de espaço-tempo foi comprimida, mudando a velocidade da construção de importantes marcos na história, assim como a sua destruição. Um valor fundamental e nem sempre realçado nas ruínas industriais é a defendida por Ruskin (2008) uma forma pouco invasiva de conservação da obra: a manutenção, a partir de “um conjunto de operações preventivas destinadas a manter em bom funcionamento, quer uma edificação como um todo, quer cada uma das suas partes constituintes”. Pode ser complementada ao restauro, com uma intervenção mínima apenas onde for necessário, preservando sua autenticidade e integridade (RUSKIN, 2008). Vazios urbanos, ruína e paisagem O patrimônio industrial abandonado e desamparado pela mudança na forma de produção trouxe consigo outras problemáticas: os vazios urbanos, causados pelo encerramento da atividade industrial na área, surgindo os terrain vague (espaços residuais, por exemplo, nos entornos da ferrovia, áreas que resistem às estratégias de poder e transportam características que conectam o passado ao presente das cidades), e os “não lugares”, espaços geralmente centrais na cidade, propícios para a exploração do mercado imobiliário; a ruína, sendo resultado do tempo sobre a matéria, que exercem influência direta no tecido urbano, em um estado de abandono, sofrendo processo de degradação; e por fim, a paisagem, ou sua mutabilidade, equivalendo a consequência de todo um contexto histórico na qual está inserida, a partir da produção do espaço – influenciada pela produção humana (ALMEIDA, 2016; DITTMAR, 2006; LANDIM, 2004). Vazios urbanos A noção de espaço-tempo na sociedade contemporânea digital mudou comparada a de trinta anos atrás. Segundo Dittmar (2006) a noção de espaço é inseparável do sistema de tempo, que afeta a maneira como se vivencia a experiência do espaço, e atualmente a sociedade sofre com a compressão do tempo e do espaço. A Revolução Industrial forçou a separação entre a casa e o local de trabalho, que estão sendo unidos novamente hoje pela Revolução Digital, e essa nova relação entre tempo-espaço, novas formas de produções e digitalização faz com que alguns locais se esvaziem ou permaneçam vazios: os vazios urbanos. Os vazios urbanos são frutos da ação humana sobre o meio, um fragmento antigo de uma paisagem que se modificou. Qualificados como “resíduos” do crescimento urbano, firmados a partir de espaços residuais, remanescentes urbanos ou áreas ociosas, característicos principalmente do período pós industrial, que em conjunto com a especulação imobiliária, funcionam como uma ruptura no tecido urbano, quebrando o ritmo de funcionalidade do seu entorno, contribuindo para a falta de vitalidade urbana e a desqualificação dos caminhos, que se tornam morosos e repetitivos, o oposto do que acontece nas cidades mais densas e com diversidade de usos (REIS, 2010; DITTMAR, 2006). Dittmar (2006) divide “vazio urbano” em três tipologias: “área ociosa”, “remanescente” e “residual urbano”, podendo ser caracterizado pelas questões físicas, pelo esvaziamento de uso ou pela combinação entre os dois. No quadro na página a seguir, elaboradoro por Dittmar (2006), há as definições mínimas desses casos. O patrimônio industrial – que no Oeste Paulista em sua maioria foi originário das transformações trazidas por um atual terrain vague - os interstícios residuais na cidade, como mostra Morales (2002) - a linha férrea, e se enquadra pela classificação da autora como “remanescentes urbanos – vazio de uso”: locais de quebra de ritmo no desenho urbano e “realização desigual de poder, que se traduzem em transformações da morfologia urbana” (DITTMAR, 2006, p. 70), resultantes dos processos de desindustrialização, em que as transformações tecnológicas tornaram estes espaços obsoletos, perdendo sua função, o que antes era um eixo desenvolvimentista hoje se tornou uma “barreira urbana” (DITTMAR, 2006). 12 13 Jane Jacobs (2000), defensora da diversidade de usos nas cidades e da segurança a partir da movimentação constante e os “olhos da rua”, afirma: “Na ausência da diversidade urbana, as pessoas que Quadro 1: Esquema de vazios urbanos. Fonte: Dittmar, 2006. vivem em grandes comunidades provavelmente se saem melhor com um carro que a pé. Vazios urbanos insolúveis não são de forma alguma preferíveis ao trânsito urbano insolúvel.” (JACOBS, 2000, p. 205), e problematiza também as grandes quadras, que dificultam o caminhar do transeunte. Jacobs (2000) também defende prevenção, a partir da manutenção, dos edifícios patrimoniais, discorrendo que manter o meio da cidade marcado por prédios industriais enriquece a comunidade, provendo uma conexão com o passado, sendo impossível para ruas vigorosas e vivas nas cidades crescerem sem eles. Os vazios urbanos causados pela desativação das industrias são um fenômeno mundial, e começou a ser estudado já na segunda metade do século XIX. Mendonça (2001) em seu artigo “Vazios e Ruínas Industriais” introduz termos do francês para tratar dessas áreas, as “friches”, introduzidas pelo geografo francês Jean Labasse (1966) já em 1966 a partir das “friches sociales”. As “friches industrialles” e “friches urbaines” – não havendo uma tradução literal em português para esse fenômeno – são definidas pelo Dictionnaire de l’Urbanisme et de l’Aménagement como: Friches urbaines: “Terras livres e abandonadas no meio urbano e na periferia por não terem sido cultivadas ou construídas, onde há demolições de edifícios, fábricas ou instalações provisórias. Os antigos quarteirões de fábricas e vilas operárias”. Friches industriais: “terrenos abandonados pelas indústrias, por estas terem sido relocalizadas ou cessado suas atividades. Esta expressão é indicada aos terrenos ainda ocupados por construções de indústrias, não demolidos, mas inutilizados”. (MERLIN; CHOAY. Dictionnaire de l’Urbanisme et de l’Aménagement, 1988, p. 312, grifo nosso). Com o desaparecimento da vocação inicial das indústrias, associados aos ciclos industriais e a descentralização industrial, as friches com seu abandono causam efeitos de degradação na paisagem urbana, visuais, espaciais, econômicos, sociais e culturais. Alguns desses efeitos pode favorecer a sensação de insegurança, por serem locais em potenciais para abrigo de violência e tráfico, alterando hábito da vida dos habitantes locais, causando afastamento da população, no entanto, a recuperação de friches poderia assumir formas diversas: novas atividades, habitações populares, equipamentos urbanos, espaços verdes, etc. sendo um meio de preservar a “identidade local”. (MENDONÇA, 2001). Ruínas Os edifícios localizados nesses vazios 14 15 urbanos industriais desencadearam no passado uma era de progresso e uma nova forma de viver na cidade, a paisagem industrial trazia intrinsicamente consigo ideias de prosperidade e modernidade de uma sociedade futura, entretanto, atualmente sua paisagem evoca o oposto: abandono e desprezo, hoje esses edifícios e ruínas necessitam reconhecimento e de serem assumidos como herança para gerações futuras. A edificação em massa – excessiva e não planejada – durante o século XX, motivada pelos avanços tecnológicos significativas na construção civil, trouxe consigo crescente atividade econômica e desenvolvimento dos recursos e dos transportes, resultando em transformações urbanas que ocorreram em grande velocidade, no entanto em um curto período de tempo (ALMEIDA, 2016). A ruína se encontra cada vez mais ameaçada, não apenas pelo tempo – podendo alcançar sua última fase: o regresso à natureza – mas também pelo movimento da população, da vida social e econômica, que com o abandono de edifícios não desejados ou economicamente obsoletos, atinge um impacto decisivo nas malhas urbanas. Almeida (2016) elucida que a fábrica, o desígnio-mor da arquitetura industrial, é uma nova tipologia arquitetônica, surgida a partir do século XIX, podendo ser considerada um lugar redundante “[...] onde a estética moderna encontra o próprio programa moderno. Nada tem de natural, ou enraizado no tempo, como a habitação, a igreja ou o cemitério”, portanto torna-se um “objeto destinado a cair, ou a permanecer como uma ruína da modernidade” (ALMEIDA, 2016, p. 18). Sua única motivação é a função, e ao perdê-la – a partir dos avanços da sociedade – desaparece também seu “sentido primitivo”, ocasionando a ausência de seu significado. Seguindo a vertente de Louis Sullivan, de que “a forma segue a função”, os remanescentes da atividade industrial apresentam dificuldade ao lidar com seu programa inicial, considerando que “as características construtivas impostas pelas funcionalidades dos imóveis atuais e dos usos pertinentes não se encaixam com facilidade neste tipo de construção” (p. 19) estas construções industriais atingem, na maioria das vezes, uma situação de aparente inutilidade e uma iminente necessidade de adaptação. Labasse (1966) discorre sobre as problemáticas que o fenômeno das ruínas transporta, afirmando que esses edifícios ou vestígios industriais correspondem não a um problema, mas a um recurso, por haver uma infraestrutura disponível, que pode ser reabilitada e reutilizada, e também configura um dever, devido aos problemas que surgem em sua envolvente urbana, como desqualificação do ambiente, físico e social. Mendonça (2001) traz a questão da conservação da construções industriais, tratando que sua reutilização é uma forma mais concreta de conservação do que a “proteção oficial” – como o tombamento. Esses edifícios são heranças da sociedade industrial, sobrevivendo as demolições iminentes, portanto é fundamental um bom gerenciamento da integração dessas ruínas e enquadrar com uma mudança de uso, sempre preservando seu significado cultural, compreende-se assim que [...] mesmo que possamos admitir que estes edifícios já serviram totalmente a sua função e, portanto, obtiveram a sua provável forma de grandeza, resistindo sem um programa visível até serem identificados como ruínas e não como fábricas, são vestígios de um tempo e de um sentido que já não existe, como é o caso dos fortes medievais, mas, de igual forma, atingem o direito de verem os seus valores, memória e história, conservados. (ALMEIDA, 2016, p. 26) Paisagem Um lugar tem a capacidade de adquirir novos significados ao longo do tempo, sendo o homem capaz de transforma-los à medida que se acomoda nele e como se vai com ele identificando. Com a produção humana há a produção do espaço, da paisagem, o resultado de todo um contexto histórico na qual está inserida, havendo uma estrita relação entre paisagem e meios de produção e, portanto, quando há uma grande mudança nas formas e materiais de produção do espaço, ocorre com ela uma revolução na paisagem. Ela não é criada de uma vez, é composta por tempos diferenciais acumulados, sendo resultado entre a configuração física e a percepção humana, sob a ótica social, representando um ambiente parcial e totalmente, quando modificados leva a outra paisagem urbana (DITTMAR, 2006; LANDIM, 2004). A identidade visual dos lugares está relacionada com o fenômeno da paisagem, a criação ou valorização de referenciais urbanos. A percepção deve ser considerada um importante elemento mediador entre o homem e seu meio ambiente urbano, ela é ação mental de intercâmbio entre o indivíduo com o meio (a paisagem) envolvendo mecanismos sensitivos e cognitivos. As cidades sem elementos marcantes em sua paisagem, “pontos de referência considerados exteriores ao observador” sofrem com uma “não caracterização”, uma homogeneização (DITTMAR, 2006; LANDIM, 2004; LYNCH, 1980). 16 17 A organização e constituição da malha urbana até a industrialização não eram devidamente estudadas sob o ponto de vista urbano (resultando muitas vezes em áreas desordenadas e com excessiva carência urbana). As cidades do Oeste Paulista – originadas em razão da expansão cafeeira aliada ao advento da ferrovia – foram pensadas como um “carimbo”, apresentando traçado e relações urbanas similares: era inserida a malha ortogonal justaposta a outras formas de loteamento, sem haver uma unidade espacial ou novidade morfológica. Com o passar do tempo, ação do homem e mudanças nas formas de produção a paisagem também vai mudando, ou se adaptando, tornando- se característica de cada cidade. E essa “imagem da cidade” é a sua identidade mais pura, como seus habitantes a enxergam e a interpretam (LYNCH, 1980). Vitale (2013) em sua tese “Áreas industriais na orla ferroviária: valorização imobiliária ou valor urbano?” evidencia o esvaziar urbano causado pela modernização industrial, que originou o abandono e consigo ruínas, geralmente em centros urbanos – pela sua localização estratégica em cidades onde a indústria e ferrovia fizeram parte de sua gênese, como as do Oeste Paulista. Nesses locais há a perda de “valor-de-uso” da terra industrial, uma obsolescência produzida, na terra onde antes produzia mercadorias pela exploração do trabalho (“criador de valor”). A produção do espaço urbano na lógica da mercadoria é mera reprodução da mais valia, atravessada a diáspora rural-urbano, a consolidação da indústria e a cidade a partir dela, chegasse ao ponto da acumulação de renda a partir de investimentos imobiliários, a “acumulação por expropriação”. Esse esvaziar das terras industriais gera Dinâmicas que, por um lado, foram alimentadas pelos interesses imobiliários e especulativos na garantia de áreas bem localizadas, já naquela época - gerando rendas fundiárias maiores, necessárias à manutenção das posições privilegiadas das elites tradicionais de proprietários – e, por outro lado, a busca pela elite industrial de terrenos com dimensões adequadas para as novas instalações, em áreas mais afastadas, estava coerente com a lógica de expansão ilimitada e periférica. [...] o processo assim ocorre: produção do espaço, geração da obsolescência produtiva, desmonte da paisagem física, substituição com outro processo de acumulação reprodutível e funcional à superação dos espaços de concentração do capital fixo”. (VITALE, 2013, p. 38, 42) Durante o processo de obsolescência física e urbana esses lugares passam por um “um status de espera (temporária) para outras alocações de uso, dessa vez subordinados ao ‘valor-de-troca’, a fim de poder garantir taxa de mais valia maior na recuperação do capital anteriormente fixado.” (VITALE, 2013, p. 42). A paisagem nesse momento de “espera” (que dura décadas) torna-se intrínseca nas cidades criadas pelo advento da ferrovia. Em Presidente Prudente, por exemplo, a Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro (Sanbra), passou mais tempo fechada, durante trinta e cinco anos (de 1978 até sua demolição em 2013) do que em atividade, um período de trinta anos (1948-1978). Quando ocorre esse fenômeno do esvaziamento do “valor-de-uso” da terra industrial pelo processo de (re)produção do espaço por substituição de mercadorias imobiliárias, a memória coletiva urbana e essas paisagens tornam-se mais uma camada na história, suprimidas pela transformação drástica a partir da demolição dessas áreas de vazio urbano, ou “reservas” de terra urbana, e substituídas por “investimentos imobiliários”, comumente em forma de “carimbos” arquitetônicos, reproduzidos em larga escala, em várias cidades, sem a considerar os pormenores e elementos anteriores no local, já enraizados na imagem da cidade (VITALE, 2013). 18 19 pano de fundo A ESTRADA DE FERRO SOROCABANA E FORMAÇÃO DE PRESIDENTE PRUDENTE Os efeitos da Revolução Industrial na Europa repercutiram pelo mundo, nela houve redefinição de toda organização mundial em relação a produção e consumo, e o Brasil – ainda em seu período colonial – permanecia essencialmente agrícola e, portanto, tornou-se responsável pela produção de matérias-primas como açúcar, café, borracha e produtos têxtis. O café modificou relações econômicas do país e foi o principal responsável – em conjunto com a ferrovia – pelo desenvolvimento urbano e econômico do Estado de São Paulo (FINGER, 2009). O Oeste Paulista, região do Vale do Paranapanema, tem sua História intrinsicamente atrelada a malha ferroviária, elemento de propulsão a sua ocupação. A região, anteriormente descrita em mapas como “Terrenos Desconhecidos Habitados por Indígenas”, recebeu seus primeiros migrantes, ex-mineiros, em meados do século XIX, em função da Lei de Terras de 1850 e estimulados pelo declínio do ciclo do ouro em Minas Gerais, vindo em busca de terras para criação de gado e em seguida atraídos pela expansão cafeeira, que era trilhada pela ferrovia. Nesse processo houve o desflorestamento inicial, a dizimação e afastamento de indígenas (ABREU, 1972). 20 21 Segundo Morais (2002), o ciclo do açúcar dedicou parte da acumulação de seus capitais para cultura cafeeira, e o café, por meio de seus excedentes de capital, estimulou o processo de industrialização do estado de São Paulo, levando a uma nova fase da economia paulista, que provocou a implantação e expansão das linhas ferroviárias. A Estrada de Ferro Sorocabana (EFS) – fundada em 1872 com a função de escoar a produção do interior – foi a responsável por adentrar o extremo oeste paulista, com objetivo de ligar o porto de Santos ao Rio Paraná, com seu último ponto na cidade de Presidente Epitácio – inaugurado em 1922 – divisa com o Mato Grosso do Sul. Seu objetivo inicial era diferente do das demais companhias ferroviárias paulistas: pretendia transportar também algodão, produto de grande influencia na área em que foi implantada, na qual o café ainda se encontrava em desenvolvimento. ((ARARAKI, 2010; GHIRARDELLO, 2002). A região de Assis até Presidente Epitácio recebeu a EFS a partir de 1916, nesse trecho da ferrovia a implantação ocorreu de forma diferente dos demais trechos e companhias ferroviárias, as quais as redes ferroviárias eram projetadas considerando as redes fluviais – para em determinados períodos se encontrarem e complementarem em transporte de mercadorias – e implantadas seguindo fundos de vale. Segundo Araraki (2010) “Acompanhar o caminho dos rios é característica dos paulistas desde os primeiros bandeirantes. Sendo assim, muitos núcleos foram criados em sua proximidade [...]”. Nessa região, conhecida como Alta Sorocabana, a implantação foi feita a partir dos espigões, devido aos solos férteis e salubres, vantagens técnicas como melhor condição de tráfego e conservação, e também influenciado pela experiência da Companhia da Estrada de Ferro do Noroeste do Brasil (CEFNB), rede ferroviária próxima a Estrada de Ferro Sorocaba e que ligava Bauru (São Paulo) a Corumbá (Mato Grosso do Sul) localizada na divisa com a Bolívia, a qual houve sucesso seguindo terras mais altas, e surtos de doenças quando seguia as margens do rio Tietê (ARARAKI, 2010; GHIRARDELLO, 2002; ABREU, 1972). Nessas terras desconhecidas do extremo oeste paulista a ferrovia formou o povoado, surgindo em um “solo laico”, diferente das cidades coloniais e até mesmo cafeeiras, nas quais surgiam concomitantemente com capelas e igrejas, surgindo em torno da estação ferroviária (Figura 1) (GHIRARDELLO, 2002). Figura 1. Expansão da malha ferroviária. Fonte: DAL POZZO (2015). 22 23 Figura 2. Localização de Presidente Prudente em relação a São Paulo. Fonte: A autora (2018) Figura 3. Município de Presidente Prudente com mancha urbana destacada e a Sanbra apontada. Fonte: A autora (2018) Presidente Prudente, maior cidade da região e localizada a 500km de São Paulo (Figura 2 e 3), tem sua origem relacionada a seus fundadores, Francisco de Paula Goulart e José Soares Marcondes, interessados com a oportunidade que a Estrada de Ferro Sorocabana traria, viabilizando a marcha do café e valorização da terra na região, formando, portanto, um centro de “ligação entre o sertão e o mundo povoado”. Monbeig (1984) cita como era comum essa prática de estabelecer núcleos urbanos próximos a lotes rurais e em localizações próximas às estações ferroviárias, entretanto a consolidação de Presidente Prudente como “capital” da Alta Sorocabana se dá pela sua origem, pois foi aberta por um dos mais importantes vendedores de terra dessa área, trabalhando assim como centro comercial da região. Sua fundação é datada a 1917 quando Coronel Goulart, proprietário de uma grande gleba chamada Fazenda Pirapó-Santo Anastácio, ordenou a demarcação do território de um núcleo urbano, após tomar conhecimento do local exato onde seria implantada a primeira estação ferroviária, no limite entre sua fazenda e a Fazenda Montalvão, pertencente a Coronel Marcondes. Goulart denominou sua área de “Vila Goulart”, localizada ao oeste da cidade e em frente a estação ferroviária (inaugurada em 1919) e obteve mais sucesso em suas vendas comparado a Marcondes, devido a facilidade em se adquirir lotes em sua vila e ao seu caráter mais pessoal (chegando até a doar lotes) e menos empresarial, diferente do Cel. Marcondes que em sua vila, denominada de “Vila Marcondes” e situada às costas da estação ferroviária, concebeu as vendas de lotes de formas formal, criando uma empresa colonizadora para venda de terras, a Companhia Marcondes de Colonização S/A (ABREU, 1972). O agricultor necessitava não apenas de solo fértil, barato e transporte fácil, a existência de um núcleo urbano em seu torno era também de grande importância para os agricultores, pois o povoado incentivaria a ocupação rural, amparava suas necessidades, servia como mercado. A paisagem da cidade – caracterizada anteriormente pela mata atlântica e presença indígena – foi sofrendo modificações, seu entorno ganhou um caráter agora rural, inserindo a cultura agrícola em grande parte do solo, deixando uma mínima parcela para cultura de subsistência (MONBEIG, 1984), entretanto partes da floresta eram resguardadas em meio a plantação para futura expansão do cafezal, pois a colheita era melhor em terras virgens (ARARAKI, 2010). O município é criado em 1921, tendo no café sua principal atividade econômica durante a década de 1920. Entretanto, devido à deterioração do solo arenoso e geadas que desgastavam as lavouras, a qualidade da produção cafeeira foi prejudicada, e com a crise econômica de 1929 houve também a crise do café, havendo necessidade, portanto, da descentralização dessa economia e surgimento de novas lavouras de outros grãos, como o arroz, amendoim, algodão e mamona (ABREU, 1972). O núcleo urbano foi sendo assim criado por duas diferentes vilas fortemente separadas pela linha férrea, estação ferroviária, (Figura 4) disputa entre seus “coronéis”, e pela topografia (na Figura 5 podemos observar a diferença entre topografia das vilas cortadas pela linha férrea), com a ferrovia implantada em um espigão divisor. As diferenças entre as vilas se sobressaem até hoje, com sua porção oeste, em frente a entrada da estação de trem, com maior crescimento e topografia mais suave. Já a Vila Marcondes se desenvolveu e expandiu (em menor escala) através do incentivo das industriais, que se localizavam nessa parte da cidade (facilitando processos de carga e descarga) devido a lei de 1925 que proibia a instalação de máquinas de beneficiamento de café e cereais no lado de acesso à estação de trem, 24 25 Figura 4. Núcleo urbano original. Fonte: ABREU, 1972 Figura 5. Topografia de Presidente Prudente na segunda metade do século XX. Fonte: SPÓSITO, 1983, p.70 caracterizando a Vila Marcondes até os anos 1970 como área industrial (ARARAKI, 2010; SOUSA, 2008). Presidente Prudente passa pela fase de industrialização com relevância após a década de 1930, a partir da agroindústria relativa a cultura do algodão (produto exportado para Alemanha) e estimulado pelo cenário nacional com o governo de Getúlio Vargas e seus mecanismos de fomento a industrialização. Segundo Araraki (2010): A produção do café, o trabalho livre, a imigração e a ferrovia vão promover uma dinamização dos núcleos e possibilitar a sua real urbanização [...] este quadro vai permitir um início de industrialização, que vai se firmar realmente depois da queda da bolsa de 1929 e com as medidas do Governo de Getúlio Vargas. (ARARAKI, p. 38, 2010). A policultura marcou a fase pós cafeeira e algumas empresas nacionais e internacionais se estabeleceram próximas a rede ferroviária durante o período do Estado Novo (1937-1945), no qual houve aumento da demanda externa, refletindo as condições impostas pela Segunda Guerra Mundial. As industriais implantadas na cidade eram voltadas para o comércio e beneficiamento de algodão, mamona e amendoim, como as S.A. Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo (1937); o Anderson Clayton e Co. S/A (1939); a Mc Fadden e Cia Ltda (1939); Instituto Brasileiro do Café – IBC (década de 50), e é nesse contexto que a Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro, a Sanbra, se instala em Presidente Prudente em 1948 (BARON et al., 2011; ARARAKI, 2010; SOUSA, 2008). Na Figura 6 é possível visualizar o skyline da cidade no início da década de 50, com a região oeste (lado direito da figura) mais expandida, o bosque da cidade na margem da Vila Goulart, e as indústrias Matarazzo, no lado esquerdo próximo a curva da ferrovia, a indústria Anderson e Clayton e o IBC no canto inferior da figura. A Sanbra A Sanbra – localizada em posição estratégica na cidade, próximo ao acesso a matéria-prima, a via de escoamento de produtos, e as demais indústrias de beneficiamento agrícola da época – foi a indústria de maior atuação regional, contendo 13 unidades espalhadas pela região, e teve seu ápice durante o período da 2ª Guerra Mundial, na qual o Brasil tinha grande representatividade na produção agrícola (MENDONÇA; COSTA, 2014). A empresa fazia parte do grupo internacional Bunge, fundada em 1818 em Amsterdam, chegou ao Brasil em 1905 e tornou-se um dos maiores grupos econômicos no país durante a primeira metade do século XIX (atualmente é a principal empresa do ramo agroalimentar e a terceira maior exportadora do país), estabelecida solidamente em diversos países europeus, africanos, americanos e asiáticos e atuando em vários setores, como financeiro, industrial, comércio internacional, propriedades agrárias, produção agrícola, criação bovina e industrialização de produtos. A Sanbra foi a primeira empresa da Bunge no segmento de 26 27 Figura 6. Vista área de Presidente Prudente no início da década de 1950. Fonte: IBGE oleaginosas, sendo adquirida em 1923 (COSTA; SILVA, 2015). Inaugurada em Presidente Prudente em 1948, nas margens da Estrada de Ferro Sorocabana e na antiga fazenda São José, buscava a facilidade de transporte, associada a glebas amplas e baratas e cursos d’água no entorno, assim como fazia outras indústrias na cidade e no estado (MATOS, 1981). Foi instalada em terras que totalizavam 62.882m², formalizadas através de duas matrículas de imóveis. Chegou a contar com 300 funcionários, industrializando grandes quantidades de amendoim, soja e mamona, sendo responsável também por exportar esses produtos para Europa. (BARON e PAIVA, 2015). Em 1974, o complexo industrial tinha “uma área de 84.755m², dos quais 13.444m² são cobertos” (O Imparcial, 1974). O complexo industrial da Sanbra contava com vinte e duas edificações (na figura 7 podemos observa-lo em 1951), onde aconteciam o processo de beneficiamento agrícola, administração e também uma pequena termoelétrica e caldeira, e uma chaminé de passagem de fumaça da usina – sendo esses três os únicos remanescentes da Sanbra atualmente. Segundo Mendonça e Costa (2014) os galpões foram projetados para atender as necessidades da indústria de modo que estas construções se espalhassem por todo o amplo terreno da Sanbra, e os prédios eram na grande maioria térreos – com exceção de um edifício de 03 pavimentos e pé direito de 3.00m – totalizando por volta de 10.00m de altura. Figura 7. Complexo industrial da Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro. Fonte: Museu Municipal Prefeito Antônio Sandoval Netto de Presidente Prudente 28 29 A instalação de uma usina termoelétrica se fez necessária dentro da Sanbra – contando com termoelétrica, casa de caldeira e chaminé – para gerar energia para seu consumo próprio, pois a energia elétrica na cidade antes da década de 1950 era fornecida apenas para uso doméstico e se caracterizava como motivo de briga entre os coronéis da cidade, pois “a firma começou a operar na Vila Marcondes e desejando estender seus postes para o lado da Vila Goulart, encontrou obstáculos. Colocados durante o dia, os postes eram derrubados á noite” (ABREU, 1972). Para a implantação e uso da usina termoelétrica foi necessário autorização para seu uso exclusivo para atividades realizadas na indústria, assinado pelo então presidente da Republica, Juscelino Kubitschek, em dezembro de 1957 ( I) (BARON; PAIVA, 2015). A paisagem da cidade caracterizava um pequeno núcleo urbano nos anos 20 – 30, marcado nitidamente pela ferrovia e contando com Catedral, Câmara Municipal, e equipamentos que prestavam serviços em nível regional, como Santa Casa e Grupo Escolar, enquanto o lado leste a partir dos anos 30 se caracterizava pela produção industrial da cidade, sendo marcado fortemente pela policultura, com vilas operárias e equipamentos de infraestrutura, visto como o lado de “serviços” da cidade, enquanto a Vila Goulart, em frente a ferrovia, era o “lado certo”, o lado de “visita” (ARARAKI, 2010). A ferrovia, elemento propulsor da gênese e crescimento da cidade de Presidente Prudente, começa a sofrer uma crise econômica causada pelos reflexos da Segunda Guerra Mundial, que só foram sentidos na cidade pós 1960. A modal rodoviário de transporte começou a receber incentivos fiscais e subsídios desde o pós-guerra, se tornando uma opção rápida para cargas e passageiros, aumentando sua utilização com a implantação da indústria automobilística no país nos anos 50 (MORAIS, 2002). Na figura 8 é pode-se observar o complexo industrial da Sanbra no início da década de 70, com a ferrovia à direita e no canto superior uma alça da ferrovia para dentro do pátio da Sanbra, o terreno – localizado do lado “além linha” – originalmente declivoso, foi modificado e planificado para instalação dos galpões. No canto inferior direito da imagem podemos notar a presença dos remanescentes atuais dessa indústria: o galpão da termoelétrica e a chaminé, que foram inseridos na parte planificada do terreno, e ao seu lado há um grande talude, e uma rua paralela, evidenciando a mudança nessa parte do terreno. Segundo Gomes (2007), na década de 60 Figura 8. Foto aérea da Sanbra na década de 70, no canto direito inferior nota- se a termoelétrica e a chaminé, com seu talude ao lado. Fonte: Folheto Presidente Prudente ‘74, editor O Imparcial. Editora Imprensa LTDA começou a ocorrer mudanças na agricultura regional, com a redução do plantio de algodão e amendoim, sendo substituída em parte pelas pastagens, com a ascensão da pecuária e as indústrias de tecnologia e automação. O algodão se manteve importante em Presidente Prudente até a década de 70, e a Sanbra se manteve em funcionamento até 1978, atuando no setor de beneficiamento de algodão e produzindo óleo a partir do caroço de algodão, encerrando suas atividades durante a política desenvolvimentista, que se consolidou durante o regime militar e se caracterizou com a penetração do capital estrangeiro de forma maciça. 30 31 Apesar das tentativas do governo em organizar e aproveitar a malha férrea, foi perceptível a priorização de investimentos governamentais em estradas de rodagem ao longo da segunda metade do século XX (FINGER, 2013). Grande parte das companhias ferroviárias paulistas foram estatizadas em 1971, criando a Ferrovia Paulista S/A, a FEPASA, que em 1998 foi incorporada pela a Rede Ferroviária Federal S/A, já em processo de liquidação, pois em 1992 foi incluída no Programa Nacional de Desestatização (PND). Em 1999 houve início o processo de liquidação patrimonial da RFFSA, o vencedor do edital de licitação de concessão da antiga FEPASA – por 20 anos renováveis – foi a Ferroban (Ferrovia Bandeirantes S/A) que, por sua vez, teve seu controle indireto assumido pela América Latina Logística (ALL) na época. A empresa ALL adquiriu concessões para explorar ferrovias também na Argentina, e possuía uma malha de 21.300 km de extensão. Na região do Oeste Paulista a circulação de trens de carga e de passageiros teve seu fim em 1999, com desativação de sua linha. Panorama atual As áreas e edifícios industriais no entorno da linha férrea - decorrentes da ferrovia - ocupam glebas privilegiadas na cidade, urbanizadas e localizadas em regiões centrais, sujeitas a sofrer pressões econômicas e políticas para sua ocupação, como ocorreu na Sanbra, que desde o encerramento de suas atividades em 1978 manteve seu complexo industrial fechado, em estado de abandono e ruína arquitetônica em uma vasta área, servindo como depósito de lixo, atividade ilícitas e criadouro de insetos, repercutindo negativamente tanto no âmbito econômico quanto em transformações em seu entorno, e sua área passou rapidamente por um processo especulativo, devido à localização estratégica na cidade (BARON; PAIVA, 2015; SOUSA, 2008). Segundo Sousa (2008): O abandono desses prédios, aliado à especulação imobiliária, é uma das causas da desvalorização das áreas em seu entorno, pois por oferecerem alguns aspectos negativos, [...] acabam por anular outras vantagens locacionais, principalmente das áreas centrais, gerando um processo de ocupação dos setores mais periféricos da cidade pelos segmentos intermediários de renda, processo concomitante com o abandono das áreas centrais por estes mesmos segmentos (SOUSA, 2008, p. 61). O entorno e sua paisagem passaram de uma área industrial com vitalidade, funcionários, para uma área abandonada e em degradação por quase 40 anos. Na Figura 9, uma imagem aérea de satélite, registrada em 2003 é possível observar o tamanho da área da Sanbra, em relação aos bairros do entorno, e boa parte dos galpões (vistos na Figura 8) já demolidos, podendo notar a localização destes no terreno a partir de suas áreas revestidas com concreto no solo, e sua implantação como uma grande barreira entre bairros, aumentando ainda mais o estigma do “além linha”. Na Figura 10, de 2006, percebe-se a manutenção do estado de degradação e ruína do complexo, assim como a tomada pela vegetação, aumento do salão de festas e estacionamento pertencente a Faculdades Integradas Antônio Eufrásio de Toledo, e loteamento de área entre o IBC e a Faculdade Toledo. Já em 2010 (Figura 11), todos os prédios pertencentes ao complexo industrial da Sanbra, vistos na Figura 10, se mantém, com crescimento das árvores na área. Figura 9. Imagem aérea de 2003. Fonte: Google Earth, 2018. 32 33 Figura 10. Imagem aérea de 2006. Fonte: Google Earth, 2018. Em 2011 (Figura 12) nota-se o aumento do estado de ruína dos galpões, com dois galpões no canto superior direito já sem cobertura. O complexo Industrial da Sanbra, pertencente a Duarte & Marino LTDA, foi comercializado e vendido a construtora MRV Engenharia (maior construtora e incorporadora do país em seu segmento), que em 2013 começou a preparação do terreno para construção de um grande empreendimento imobiliário, dois novos condomínios de edifícios, um com treze edifícios e outro com dezessete, com quatro andares cada, totalizando oitocentos e noventa e seis apartamentos, extremamente semelhantes a outros construídos na cidade pela mesma construtora. Costa e Ghirardello, 2017, destacam ainda hoje haver o estigma do “além linha” na cidade de Presidente Prudente, sendo a ferrovia uma barreira geográfica com reflexos sociais e econômicos, e como prova temos que a construtora MRV Engenharia vendeu os condomínios como se estivessem localizados na Vila Maristela, porém são pertencentes a Vila Furquim, que fica “do outro lado da linha”. Figura 11. Imagem aérea de 2010. Fonte: Google Earth, 2018. Figura 12. Imagem aérea de 2011. Fonte: Google Earth, 2018. 34 35 Figura 13. Imagem aérea abril de 2013. Fonte: Google Earth, 2018. Em 2013 foram registradas três imagens aéreas, em abril, agosto e outubro. Na primeira, de abril, pode-se observar um grande aumento da vegetação e crescimento da copa das árvores (Figura 13) em comparação a 2010. Em agosto de 2013 já não havia mais remanescentes dos galpões na área (Figura 14), que foram demolidos ainda no primeiro semestre desse ano para construção do conjunto habitacional, junto com a derrubada de parte de grande parte da vegetação, com o início da implantação da obra em outubro de 2013 (figura 15). Figura 14. Imagem aérea agosto de 2013. Fonte: Google Earth, 2018. Figura 15. Imagem aérea outubro de 2013. Fonte: Google Earth, 2018. 36 37 Como foi exposto por Sousa (2008), a área causava certo incomodo a população e, portanto, a demolição dos prédios não teve grandes impasses, como já havia ocorrido na cidade no caso de outro patrimônio industrial também testemunha da evolução urbana e econômica do município, parte do Antigo Expurgo, hoje sede do Poupatempo, e que no primeiro semestre de 2018 teve sua parte remanescente tomada por chamas e deteriorada. No quadro 2 há o antigo e atual uso de galpões industriais e ferrovíarios em Presidente Prudente, como o expurgo. O jornal “O Imparcial” em 2013, na reportagem “Condomínio é erguido em antiga fábrica da Sanbra” abordou o que seria a futura demolição dos prédios, que ao questionar um historiador da cidade teve como resposta o descaso com o patrimônio industrial: O historiador Ronaldo Antônio Barbosa Macedo não vê problemas em abrir mão de parte do antigo prédio para dar lugar ao conjunto habitacional. Para ele, é possível conciliar respeito à história local e desenvolvimento. “É preciso preservar apenas aquilo que caracteriza e identifica o prédio. No caso da Sanbra, a chaminé é o grande símbolo da fábrica”, declara. (O IMPARCIAL, 2013, . Acesso em: 08 de janeiro de 2018) No entanto, por esforços de parte da comunidade que reconhece o valor histórico do local e da Promotoria de Justiça de Presidente Prudente em uma ação civil pública instaurada em 2010, na qual o Ministério Público do Estado de São Paulo atuava como representante, solicitava a preservação do patrimônio histórico cultural das instalações da antiga unidade da Sanbra em Presidente Prudente (anexo II). O interesse público só foi despertado após a mudança brusca na paisagem e a ação da justiça ocorreu apenas quando grande parte das edificações foram derrubadas, resistindo somente a parte referente a termoelétrica, que conta com a chaminé, sala de caldeira e termoelétrica. Em fevereiro de 2014 o site de notícias G1 na seção de Presidente Prudente e região noticiou que a promotoria entrou com pedido de conservação da chaminé e galpões: A ação pede que dois galpões e uma chaminé do Sanbra sejam declarados “bens imóveis de valor histórico-cultural para a sociedade prudentina”. A solicitação prevê a obrigação de “não fazer consistente em se abster de intervir na propriedade de forma a destruí-la, modificá-la, demoli-la ou de praticar qualquer ato que, de alguma forma, prejudique a estrutura física externa e interna da chaminé e dos galpões, sob pena de multa diária de R$ 1 mil”. A promotoria solicita ainda, que providências imediatas sejam tomadas para a preservação do local, sob pena de multa diária de R$ 500. Após a decisão da Justiça, conforme o MPE, a empresa responsável pelo local, Duarte e Marino Ltda e a Prefeitura de Presidente Prudente devem apresentar dentro de 30 dias um cronograma de ações “visando a restauração e preservação de tais bens, sob pena de cumprir o plano que lhe for imposto”. O documento relata também, que “o patrimônio cultural material da sociedade prudentina não pode ficar à mercê da vontade dos gestores públicos e do proprietário particular. Se assim o for, não demorará tais construções darão lugar à evolução desenfreada e desordenada da cidade”. Ainda conforme a ação, o MPE afirma que tanto a chaminé, quanto os galpões “estão à própria sorte há tempos”. A promotoria reforça a relevância da antiga termoelétrica afirmando que se trata do registro de uma das fases históricas da indústria prudentina. “No final dos anos 50 quase toda a estrutura da indústria brasileira tinha sua base e existência diretamente ligada ao algodão, como foi o caso da Indústria Sanbra” (G1 Presidente Prudente, 2014). 38 39 Uso original Uso atual Situação Estação ferroviária Embarque e desembarque de viajantes Sede do PROCON Remodelada para atual uso, descaracterização média Galpão 1 ao lado da estação - FEPASA Galpão de armazém Galpão da Lua (Lacrado - Corpo de bombeiros não emitiu permissão de uso) Mantém boa parte das características originais Galpão 2 ao lado da estação - FEPASA Galpão de armazém Uso particular - depósito de telhas Mantém boa parte das características originais Cia. Anderson Clayton LTDA Beneficiamento de algodão e amendoim Um dos galpões: "Fanny Eventos" - salão de festas. Demais galpões: fechados. Salão de festas: remodelado para atual uso, pouco descaracterizado. Demais galpões: estado de ruína IBC (Instituto Brasileiro de Café) Armazenamento de café e posteriormente algodão Centro municipal de eventos Externamente: descaracterizado. Internamente: características originais, conservada e preservada Industrias Matarazzo Beneficiamento de café e posteriormente algodão e cereais Centro cultural municipal Remodelado em 2007 para atual uso, pouco descaracterizado Armazém do Expurgo - Posto de Sementes de Presidente Prudente Estocagem, distribuição e expurgamento das sementes de algodão Sede do Poupatempo Demolido em 2010 para uso atual Sanbra Beneficiamento de algodão e amendoim Fechado Maioria dos galpões demolidos. Remanescentes em estado de ruína Remanecentes ferroviários e industriais Quadro 02: Usos antigos e atuais dos remanescentes ferroviários e industriais na cidade de Presidente Prudente. Fonte: Autora. 40 41 O ano de 2014 foi marcado pela construção do empreendimento (Figura 16), e o processo obteve diversos desdobramentos na Justiça, sendo noticiados diversas vezes na mídia, a Promotoria se manifestava em prol da preservação dos prédios remanescentes da Sanbra, porém o proprietário não quis assumir a responsabilidade do imóvel, passando-o para prefeitura. Em notícia de 2017 do Portal G1 há um pequeno resumo do desenvolvimento do processo na justiça, na reportagem “Após impasse na Justiça, Prefeitura estuda revitalizar chaminé da Sanbra” em 13/03/2017: Ainda em fevereiro de 2014, a Justiça proibiu qualquer intervenção na estrutura física da chaminé e dos galpões. Em julho do mesmo ano, foi marcada uma conciliação sobre o tombamento da área com o MPE e a Duarte e Marino Ltda., que detém o espaço. Após a conciliação, no mês seguinte, a Justiça suspendeu por 30 dias o prazo do processo que buscava o tombamento e a preservação do patrimônio. Já em novembro de 2014, a Justiça considerou procedente a ação civil pública e declarou o valor histórico-cultural do local e impôs à Prefeitura a obrigação de iniciar os trâmites do tombamento em um prazo de 30 dias e concluí-lo em três meses. Em diversos momentos durante o trâmite na Justiça, o governo municipal frisou que, por se tratar de uma área particular, a administração pública não tinha “qualquer interesse em firmar compromisso sobre o assunto”, que deveria ser tratado com os proprietários do imóvel. (G1 Presidente Prudente, 2017) Nas imagens aéreas de 2015 e 2016 (Figuras 17 e 18) observa-se a brusca mudança na paisagem com a construção dos condomínios, todos padronizados no “estilo MRV”, e em 2015 também houve a reforma da via lindeira ao norte, que conecta a avenida Coronel José Soares Marcondes, uma das principais da cidade, a Faculdade Toledo, com a implantação de uma rotatória e aumento da largura da via. A ultima imagem aérea presente na plataforma Google Earth é do ano de 2017 (Figura 19), com os prédios já habitados, piscinas em funcionamento, seu vasto estacionamento ocupado, mínima vegetação, e a porção remanescente do patrimônio industrial ainda abandonada. O Google Maps/Google Earth também auxiliou na recuperação de imagens vistas a partir da rua (o modo “Street View” no programa), havendo imagens de 2011, algumas de 2012 e 2017, e sendo Figura 16. Imagem aérea de 2014. Fonte: Google Earth, 2018. Figura 17. Imagem aérea de 2015. Fonte: Google Earth, 2018. 42 43 Figura 18. Imagem aérea de 2016. Fonte: Google Earth, 2018. Figura 19. Imagem aérea de 2017. Fonte: Google Earth, 2018. comparadas também com imagens feitas pela autora em 2018. O choque entre as comparações das imagens é o mesmo: parte-se da imagem do passado, de uma paisagem gravada no subconsciente da população transeunte desse espaço, com suas cores se camuflando entre a vegetação, a terra e a ferrovia, e encontra-se uma mudança drástica, com uma imagem no presente intensamente branca, carimbos “assépticos” que já foram reproduzidos em larga escala em outros bairros da cidade (e com atualmente há mais dois condomínios em construção) - Figura 20. Na visão a partir da rua José Claro, há figuras apenas de 2011, que podem ser comparadas com figuras da autora, em 2018. No sentido centro – bairro o caráter de abandono é fortemente sentido, com vegetação Figura 20. Vista aéra de Presidente Prudente com a inserção em forma de maquete virtual dos prédios da MRV, sendo perceptível pela arborização, prédios remanescentes da Sanbra e traçado da rua. Fonte: Sítio da MRV Constutora. 44 45 Figura 21. Vista Street View sentido centro-bairro em 2011. Fonte: Google Street View, 2018. Figura 22. Vista na altura do pedestre no sentido centro-bairro em 2018. Fonte: A autora, 2018. alta no entorno da ferrovia, e podendo observar a falta de cobertura em alguns galpões (Figura 21). Em 2018 foram substituídos por fileiras de prédios, com os galpões remanescentes resistindo ao fundo (Figura 22). Na rua Alvino Gomes Teixeira, onde encontra-se presente também a Faculdade Toledo, localizava-se originalmente a entrada do complexo da Sanbra, e atualmente a entrada dos condomínios situa-se no mesmo Figura 23. Entrada do complexo da Sanbra em 2011. Fonte: Google Street View, 2018. Figura 24. Localização da antiga entrada do complexo da Sanbra e atual entrada do prédio da MRV, 2018. Fonte: Google Street View, 2018. local. A Faculdades Integradas Antônio Eufrásio de Toledo também contava com edifícios antigos, que foram também demolidos e substituídos por novos no mesmo “padrão” da MRV, brancos, com mínimo recuo e uma fachada “cega” para a rua (Figuras 23 e 24). Nas Figuras 25 e 26 os edifícios da Sanbra se encontram ao lado esquerdo da imagem, e o da 46 47 Figura 25. Vista da rua Alvino Gomes Teixeira em 2011 sentido norte. Fonte: Google Street View. Figura 26. Vista da rua Alvino Gomes Teixeira em 2018 sentido norte. Fonte: Google Street View. Faculdade Toledo ao lado direito. O impacto da imagem Street View de 2011 comparada com a de 2017 causa a sensação de serem capturadas em endereços diferentes, e a imagem de 2017 poderia ser tanto a reprodução de um render, uma imagem de modelagem digitalizada 3D (com coincidentemente até uma “escala humana” na imagem), quanto um local em qualquer parte do mundo, com as mesmas (ou a falta de) características estéticas. Com o processo da globalização em curso a cena urbana contemporânea sofre com a tendência homogeneização do ambiente construído, há uma valorização da “imagem internacional”, em detrimento do caráter histórico particular da cidade (HIRAO, 2016). Nas figuras 27 a 32 encontra-se mais imagens comparativas entre 2011 – 2017/2018, vistas sempre do mesmo local. Figura 27. Vista da Sanbra, 2011. Fonte: Google Street View Figura 29. Vista da Rua Alvino Gomes Texeira sentido sul, 2011. Fonte: Google Street View. Figura 31. Vista da Avenida José Claro sentido sul, 2011. Fonte: Google Street View. Figura 32. Vista da Avenida José Claro sentido sul, 2011. Fonte: Autora. Figura 30. Vista da Rua Alvino Gomes Texeira sentido sul, 2018. Fonte: Autora. Figura 28. Vista da MRV, 2018. Fonte: Google Street View 48 49 Processo de tombo Em março de 2017 foi protocolada a entrada da solicitação do processo de tombamento da Sanbra pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico, o COMUDEPHAAT, de Presidente Prudente na secretaria de administração do município, por meio do processo administrativo 7.769/2917. O processo contou com parecer da Secretaria de Cultura, do COMUDEPHAAT e a Secretaria de Planejamento – Seplan, contendo também o registro de matrícula do imóvel (anexo III): Segundo o registro de matrícula, do 1º oficial de registro de imóveis de Presidente Prudente (nº 18487, livro nº 2 – Registro Geral), a área da Sanbra foi vendida em 1993 para Fábrica de Tecidos Tatuapé S/A, com sede em São Paulo, sendo integrado ao patrimônio da nova sociedade constituída Santista Têxtil S/A, com sede em Osasco – SP, para o aumento de seu capital social. Em novembro de 2000 transmite à compradora Agropecuária Santa Inês LTDA, de São João Ramalho – SP, que em 2010 transfere o título de integralização de bens para fins de uma sociedade de responsabilidade limitada ao patrimônio da empresa de Rancharia – SP, Duarte & Marino LTDA, companhia que vendeu a área para a MRV e que diante polêmicas da área remanescente a qual contém a chaminé e galpões doou essa área, de 2.260,81m², em maio 2013 para o município de Presidente Prudente (figura 36). Deve-se lembrar que quando um bem privado é tombado cabe ao proprietário a manutenção do patrimônio para manter suas características, impedindo que ele seja descaracterizado. A Secretária de Cultura, por meio do secretário José Fabio Sousa Nogueira ao Procurador Pedro Anderson da Silva, manifestou interesse pela área em maio de 2017 durante o processo de tombamento, propondo sua utilização para sede da Escola Municipal de Teatro e Dança (anexo IV). Após a verificação do interesse do município e de confirmação de sua propriedade, em maio de 2017, por meio do decreto municipal 28.025/2017, a prefeitura do município decretou o tombamento das instalações da Sanbra, cabendo ao COMUDEPHAAT opinar sobre a adoção do plano urbanístico adequado para preservação do local. As despesas de conservação e restauração ficaram por conta de dotação própria orçamentaria. A cidade também conta com outros três bens tombados: o Museu e Arquivo Histórico Prefeito Antônio Sandoval Netto – Antigo Matadouro; o Centro Cultural Matarazzo – antigo Barracões das Industriais Matarazzo e o Bebedouro de Animais em frente à Antiga Estação Ferroviária (anexo V). Apesar de esforços da comunidade e do Ministério Público Estadual, com uma ação civil pública instaurada em 2010 e retomada após a notícia de venda e movimentação na área, grande parte do patrimônio industrial sucumbiu aos interesses privados, aliados ao mercado imobiliário e sua especulação. Em 2018, após quatro anos em processo e um ano tombado, cobranças do Ministério Público Estadual, determinações na justiça e estudos de arquitetos e profissionais sobre a importância do local, os galpões e a área permanecem fechados e se deteriorando com o tempo, sem nenhum plano concreto a curto ou longo prazo para reaproveitamento, uso e preservação do local. Costa e Ghirardello (2017) afirmam que apesar de essencial para garantir a salvaguarda do patrimônio, o tombamento nem sempre garante necessariamente sua recuperação. A aplicação do instrumento de tombamento deve acontecer junto com um projeto de restauração (COSTA; GHIRARDELLO, 2017) que deve “visar também à preservação de sua tipologia construtiva, procurando conservar o documento autêntico de uma dada técnica de construção” (KÜHL, 1998). 50 51 cenário O CENÁRIO – ANÁLISE DO LOCAL Figura 33. Localização da Sanbra em Presidente Prudente (círculo laranja) em relação ao centro da cidade (quadrado amarelo) Figura 34. Atual terreno da Sanbra, com seus prédios destacados. Para compreender a o objeto de estudo e oferecer um proposta projetual foram feitas análises desde sua escala urbana, do local de sua implantação, até sua escala arquitetônica, com seus elementos. análise urbana A Sanbra se localiza próxima ao centro da cidade e no limite entre a mancha urbana e atuais conjuntos habitacionais. Conta com um terreno de 2.260m² (Figuras 33 e 34). As três construções remanescentes estão implantadas no limite com a área da linha férrea e do atual conjunto habitacional. Para os estudos e análise do entorno foram traçados dois raios a partir do objeto, um de 2km e outro de 500m. 52 53 No mapa ao lado (Figura 35) podemos observar nas adjacências do local a presença de córregos em grande parte das áreas não ocupadas, e também uma densa mata vegetativa em seus entornos, sendo a mata ciliar dessas bacias, pertencentes a área de preservação e proteção ambiental e uma grande área verde ao norte conhecida como a “Mata do Furquim”. arborização densa córregos Raio de 2km Figura 35. A n á l i s e axonométrica dos córregos e arborização. Fonte: A autora, 2018. A ruína está localizada em uma zona residencial de média densidade populacional, de ocupação horizontal e vertical de até dois pavimentos, o que ressalta a presença de chaminé por sua altura. Em seu entorno temos o uso predominantemente residencial, e com existência de comércios e serviços nas vias estruturais, trazendo mais movimentação em seus arredores. Zona de comércio e serviço central, ocupação vertical Zona residencial de alta densidade Zona residencial de média densidade Zona especial Zona de preservação e proteção ambiental Figura 36. Zoneamento de Presidente Prudente. Fonte: Prefeitura Municipal, 2018. 54 55 Via perimetral Via estrutural Via coletora Via local O sistema viário de Presidente Prudente é divido pela prefeitura em cinco tipos de vias: perimetral, estrutural, coletora, marginal e local. No raio de 2km encontra-se todas tipologias, menos a marginal. A localização estratégica da Sanbra é relacionada a sua origem, próxima a via perimetral, atualmente sendo posicionada na confluência de importantes vias estruturais. Figura 37. Mapa de hierarquia das vias. Fonte: A atuora, 2018. Posicionado em localização central o terreno da Sanbra conta com um grande numero de instituições de ensino (públicas e privadas) em suas redodezas, e também em seu entorno imediato. Existem também equipamentos esportivos, porém nota-se a falta em áreas de lazes, livres e verdes qualificadas. Instituição pública de ensino Instituição privada de ensino Equipamentos esportivos Áreas verdes de lazer Figura 38. Mapa de equipamentos urbanos. Fonte: A autora, 2018. 56 57 A prefeitura Presidente Prudente pre inserir o plano de um “Corredor Histórico” na cidade, delimitando uma área para preservação dos bens históricos da cidade e incentivo a cultura. Começando na área da antiga escola estadual Arruda Mello, uma das primeiras da cidade, e passando pela Catedral, a Praça 9 de julho, calçadão, antiga estação ferroviária, galpões ferroviários, Centro Cultural Matarazzo, Centro de Eventos IBC e continuando até a área da Sanbra. No mapa podemos observar também os remanescentes da ferrovia (em roxo), assim como os bens tombados na cidade. Bens tombados pelo COMUDEPHAAT Remanescentes ferroviários Bens de interesse histórico e patrimônial Corredor histórico Figura 39. Mapa de interesses patrimoniais. Fonte: A autora, 2018. Quanto a morfologia urbana é possível agrupar esse entorno de 2km de raio em seis grandes áreas, mais a área do “terrain vague”, a qual pode-se afirmar que a Sanbra se inclui (momentaneamente). A linha férrea é uma forte marca, dividindo essas áreas. Ao norte temos uma concentração de residências de população de baixa renda, seguida por uma grande área verde não edificada ao seu leste. Ao sul dessa área verde temos o “além-linha” original, uma região com topografia declivosa e concentração de residências e algumas indústrias. O quadrilátero central é marcado pelo domínio de comércios e altas edificações. A região que envolve o quadrilátero central foram as primeiras expansões da cidade além “Vila Marcondes” e “Vila Goulart”, contendo em sua maioria habitações de classe média e também comércios, serviços e alguns edifícios. A última área pertencente a esse grupo é predominantemente residencial de classe média, de baixo gabarito, configurada como um interstício entre a primeira expansão da cidade e as novas habitações sociais, contendo alguns comércios e serviços. Figura 40. Mapa de morfologia urbana. Fonte: A autora, 2018. 58 59 Raio de 500m Para análise do entorno imediato delimitou-se o raio de 500m a partir do objeto para estudos. Sua vizinhança é bem arborizada, porém como visto anteriormente a antiga área pertencente a Sanbra contava com uma densa mata vegetativa, que foi substituída pelo conjunto habitacional. Em relação a seus lotes nota-se que a maioria dos adjacentes são divididos tradicionalmente, havendo grande impacto na porção onde se localiza a Sanbra, pela mínima divisão de lotes. Arborização Divisão de lotes Figura 41. Análise axonométrica dos lotes e árvores em um raio de 500m a partir da chaminé. Fonte: A autora, 2018. Outra forma de diagnóstico urbano é a análise por meio dos mapas “figura fundo”. Na “cidade tradicional” (anterior ao modernismo) uma importante característica era a valorização do traçado, ruas geradas em função da concepção de “quarteirões” e parcelamento desses em pequenas propriedades, gerando lotes, e também a existência de praças, um lugar público no conjunto de alguns quarteirões. Com esses elementos ruas, quarteirões, lotes, edifícios e praças pode-se gerar uma imagem de “cheios” e “vazios” a partir de sólidos, para analisar a densidade de um local, assim como seu traçado urbano, quantidade de locais públicos, entre outros, notando a rua como um grande destaque na organização da urbe. Nos bairros ao redor da Sanbra é notável a edificação em média densidade, havendo vazios em seus lotes. O impacto visual no quarteirão em que está localizada é grande, pois ao visualizar a figura-fundo das ruas nota-se que ele se configura como uma grande quadra (sendo uma das maiores da cidade), e apesar de muitos espaços livres nesse quarteirão a sua maioria é destinada a estacionamentos particulares. Figura 42. Mapa figura fundo de densidade (cheios e vazios). Fonte: A autora, 2018. Figura 43. Mapa figura fundo das vias. Fonte: A autora, 2018. 60 61 No raio de 500m foram identificados dez pontos de ônibus no entorno da ruína, demonstrando ser um patrimônio acessível para muitas pessoas, também por ser o encontro de vias estruturais, que tornam o fluxo de automóveis particulares intenso nessa área. Além dos automóveis é possível observar pessoas caminhando e correndo em uma pequena pista de caminhada próxima e pedestres andando até suas casas, trabalhos ou ponto de ônibus. Pista de caminhada Pontos de ônibus Fluxo intenso Fluxo mediano Figura 44. Mapa de mobilidade. Fonte: elaborado pela autora. “A imagem da cidade” Kevin Lynch em “A Imagem da Cidade” (1980) traz cinco elementos principais para estudar como as pessoas estruturam sua imagem da cidade: caminhos, limites, bairros, pontos nodais e marcos. Essa percepção ambiental do espaço, da paisagem, é feita de modo subconsciente e ao poucos pelos moradores do entorno, em relação a como o homem se sente e se relaciona com a cidade. Além desses elementos o autor apresenta também conceitos para a leitura da cidade. A Legibilidade de uma cidade é um dos conceitos, é a “facilidade com que cada uma das partes [da cidade] pode ser reconhecida e organizada em um padrão coerente”, proveniente dos aspectos visuais da cidade e é crucial, pois uma boa imagem ambiental, um ambiente legível, oferece sensação de segurança, e seria o antônimo do medo que uma cidade sem organização clara pode trazer. Ele também traz conceitos de Identidade - identificação e reconhecimento de algo pós-comparação com outro, Estrutura - imagem da cidade com uma padrão espacial e relações internas definidas e organizadas e Significado - algo com significado prático ou emocional, intimamente ligado a sua Identidade e seu papel dentro de uma Estrutura mais ampla. O ultimo conceito é o da Imageabilidade, que são os fatores, objetos que nos trazem uma forte imagem, mas eles não são sujeitos a serem vistos, são presentes aos sentidos de forma acentuada e está intrínseco ao conceito de Legibilidade. A alta Imageabilidade se dá através do tempo e, junto com a Imaginabilidade da forma urbana, é o centro do estudo do livro. Os elementos a serem trabalhados para leitura da imagem da cidade são os caminhos, locais de circulação,“[...] canais ao longo dos quais o observador costumeiramente, ocasionalmente, ou potencialmente se move. Podem ser ruas, calçadas, linhas de trânsito, canais, estradas-de-ferro” (LYNCH, 1980, p. 47); limites, elementos lineares que os transeuntes percebem como “fronteiras” dentro da própria cidade (como por exemplo a linha férrea), podendo ocorrer um efeito de segregação; bairros, não como limites administrativos, mas uma área onde ocorre homogeneidade em relação ao resto da cidade por possuir características em comum; e os dois últimos elementos podem ser considerados como pontos de referência para a urbe, são os Pontos Nodais, lugares estratégicos de uma cidade e importantes focos de circulação e os Marcos, elementos pontuais singulares que podem ser vistos de muitos lugares ou estabelecem um contraste com seu local. Esses elementos trabalham todos em 62 63 conjunto, estando um dentro ou ligado ao outro e não se excluem. Abaixo (Figura 45) temos o exemplo da aplicação desses elementos para entender melhor o entorno. Nota-se que a Sanbra se apresenta como um grande marco, principalmente pela altura de sua chaminé, e também na via a sua frente há um ponto nodal com o encontro de vários caminhos. A linha férrea consiste em um grande limite na cidade, mudando a homegeneidade e transicionando entre os “bairros” do entorno. Pontos nodais Limites Bairros Marcos Caminhos Figura 45. Mapa de imagem da cidade utilizando a técnica de Kevin Lynch. Fonte: elaborado pela autora. análise do terreno Seu terreno originalmente contava com 15.537m² e atualmente se configura como uma área de 2.260m² segundo sua matrícula em cartório. Como citado anteriomente os terrenos da zona leste prudentina, localizados no “além-linha” eram originalmente declivosos comparados com zona oeste. O terreno dessa industria já havia sido em grande parte planificado para sua implatação, restando um grande talude ao lado da termoelétrica, hoje construções remanescentes. Com a construção de uma nova rotatória ao lado do terreno e a implantação do conjunto habitacional sua topografia sofreu ainda mais mudanças e aumento em sua declividade. Nas Figuras 46 e 47 ao lado é possível observar sua implantação original, atual, na figura 48 seu levantamento topográfico (curvas de 1 em 1m) e na Figura 49 um corte esquemático do terreno. Figura 46. Implantação original do complexo da Sanbra. Fonte: A autora, 2018. Figura 47. Implantação atual do complexo da Sanbra. Fonte: A autora, 2018. 64 65 Figura 48. Levantamento topográfico da Sanbra. Fonte: A autora (2018), com base em dados de 2017 do Google Earth Pro. Figura 49. Corte esquemático do terreno. Fonte: A autora, 2018. análise da arquitetura e estrutura Apesar de seu estado de ruína e abandono a estrutura do galpão e casa de caldeira se mantém aparentemente sem comprometimentos. O galpão é um exemplo da arquitetura de ferro (material desenvolvido na Revolução Industrial) introduzida na primeira metade do século XX pelo advento da ferrovia e que se identificam com a Arquitetura Industrial. Composto por elementos pré-fabricados (que contam com a vantagem de rápida montagem), sua forma está ligada a sua função e sua estrutura, configurado como um aparentemente simples retângulo de aproximadamente 12.8m x 17 m, totalizando em torno de 217m². Sua estrutura conta com quatro pilares nos cantos de aproximadamente 20cm de espessura, porém seu perfil não é conhecido. Possivelmente para encaixe do fechamento vertical pré-fabricado em alvenaria a edificação conta também com elementos verticais em ferro de 15cm, que provavelmente podem auxiliar também sustentação da edificação. Por questões de encaixe entre esses elementos e as placas pré-fabricadas seu perfil presumivelmente é em I (Figura 52). Portanto sua estrutura em planta e em vista é possivelmente como a do esquema abaixo (Figuras 50 e 51). Figura 50. E s q u e m a de sua estrutura metálica em planta. Fonte: elaborado pela autora. Figura 51. Esquema de sua estrutura metálica em vista. Fonte: elaborado pela autora. Figura 52. E s q u e m a do possível pilar em perfil I. Fonte: elaborado pela autora. 66 67 A patina, uma característica dos patrimônios e das ruínas se encontra presente nas estruturas que está passando por um processo de oxidação. Nas Figuras 53 a 57 a seguir é possível observar a estrutura do galpão, seu estado de patina e a retomada da natureza em algumas partes. Figura 53. Galpão. Fonte: A autora, 2018. Figura 54. Galpão. Fonte: A autora, 2018. Figura 56. Galpão. Fonte: A autora, 2018. Figura 57. Galpão. Fonte: A autora, 2018. Figura 55. Galpão. Fonte: A autora, 2018. 68 69 NaFigura 58 acima é possível observar o contraventamento com estrutura metálica na parte interior do galpão. Figura 58. I n t e r i o r do galpão. Fonte: A autora, 2018. A construção referente a casa de caldeiras é feita de tijolos e estrutura em concreto. Não conta com portas e apenas com duas janelas, havendo abertura na alvenaria para passagem livre. Seu telhado conta com estrutura “tesoura” em madeira aparente, em treliça “Pratt”. Sua planta também é livre, sem divisórias, (Figura 59) havendo apenas a presença de uma pequena estante utilizando alvenaria (figura 66). Nas Figuras 60 a 63 a seguir podemos observar seu estado de ruína, sua abertura e telhado. Figura 59. Esquema do interior da casa de caldeira. Fonte: A autora, 2018. Figura 60. Estante no interior da casa de caldeira. Fonte:A autora, 2018. 70 71 Figura 61. Casa de caldeira. Fonte: A autora, 2018. Figura 62. Interior da casa de caldeira. Fonte: A autora, 2018. Figura 63. Estado de ruína da casa de caldeira. Fonte: A autora, 2018. A última construção remanescente, a chaminé, um importante marco se mantém conservada, sem danos estruturais e com sua base preservada - Figuras 64 e 65. Figura 64. Base da chaminé sem danos estruturais. Fonte: A autora, 2018. Figura 65. Chaminé. Fonte: A autora, 2018. 72 73 referências projetuais Para estudo visando uma proposta projetual no local onde se insere a Sanbra em Presidente Prudente foram tomadas duas frentes de analise: manutenção da ruína em seu estado puro, e usos em prédios patrimoniais. Foram procuradas obras nacionais e internacionais que respeitassem o valor da ruína, apresentando soluções práticas em sua conservação, mas com a mínima intervenção. Também foram analisadas patrimônios que exercem novos usos A dupla francesa responsável pelo escritório “Lacaton & Vassal” tem como partido em seu escritório uma arquitetura modesta, baseando-se em usar o que há no local, permanecer simples, abraçar o ar livre e honrar luz, liberdade e graça. Foram responsável por duas notáveis reativações em ruínas industriais, ambas atualmente centros de arte contemporânea, suas intervenções sempre parte do princípio da mínima interferência. Em seu portfólio há o seguinte manifesto “Nunca destruir, demolir, remover ou substituir. Sempre reutilizar e transformar. A proposta é mais importante do que a forma.”, por acreditarem que não existem lugares vazios, sentindo e percebendo o território antes de começar o projeto, compreendendo sua história e integrando essa préexistencia no que será criado. Reabilitação do Palais de Tokyo / Lacaton & Vassal Localizado em Paris, foi aberto em 1937 para abrigar arte moderna, porém ficou em segundo plano após a conclusão do Centre Pompidou no fim dos anos 1970, mantendo-se fechado até o fim do século XX. Finalizado em 2002 sua estrutura enxuta é um dos elementos de destaque no projeto, a dupla não utilizou os ambientes tipicamente “limpos” de museus e permitiram que a patina da quase um século da estrutura pudesse ser vista e vivenciada. Com mais de 20.000m² anteriormente subutilizados no centro de Paris o projeto hoje recebe 800 mil visitantes por ano, e a dupla afirma que o projeto pedia “quase nada [...] apenas o mínimo para aquecimento, para iluminação, para tornar sustentável o que já existe.”, sendo caracterizado hoje como um “local de criação contemporânea.” - figuras 66 a 70 (BRITTO, 2012). 74 75 Figura 66 a 70. Palais de Tokyo, com estrutura aparente e manutenção do estado de patina. Fonte: Britto (2012) FRAC Dunkerque / Lacaton & Vassal A dupla também foi responsável pela reativação das “Casas FRAC”, uma galeria de arte contemporânea no qual coleções são conservadas, arquivadas e apresentadas ao público em exibições no local e através de empréstimo para galerias e museus. Originalmente o local contava apenas com um antigo armazém abandonado de barcos de grande volume interno. O armazém original lembra as formas da Sanbra, com paredes em alvenaria pré fabricada e telha em treliça metálica e um grande vão completamente disponível, livre para utilização. A dupla escolheu por manter o armazém em sua totalidade, com mínima intervenção, porém era necessário implantar o programa da FRAC para se tornar uma catalisadora da nova área. Então o projeto foi criado a partir de uma duplicata contemporânea do armazém, justapondo-se sem competir com o original. Suas atividades contam com exibições temporárias excepcionais, criação de trabalhos em grande escala, manuseios específicos e de formas independentes para acolher eventos públicos, como concertos, feiras, shows, circuitos, esportes, podendo ter funcionamento separado ou combinado com entre si - figuras 71 e 72 (“FRAC Dunkerque / Lacaton & Vassal”, 2014). Figura 71 e 72. Galeria de Artes FRAC, utilizando antigo galpão. Fonte: “FRAC Dunkerque / Lacaton & Vassal” (2014) 76 77 Parque das Ruínas / efarquitetos Localizado no Rio de Janeiro o Parque das Ruínas são os resquícios do Palacete Murtinho Nobre, do fim do século XIX. Foi revitalizado em 1996. Localizado no alto de uma colina, com vistas privilegiadas para cidade, é caracterizado como um espaço cultural multiuso, com acervo de artes, teatro, área para apresentações, sendo ligado ao Museu da Chácara do Céu situado no terreno ao lado do qual se tornou anexo por uma passarela metálica. Sua intervenção buscou tratar a ruína como ela estava, sem criar falso histórico ao tentar recuperar ou restaurar sua versão original, somente alguns vão foram fechados, e apenas com vidro para que não houvesse alteração na luz existente, resultando no resgate de sua volumetria a partir de materiais contemporâneos - Figuras 73 e 74 (EF Arquitetos, 2018) . Figura 73 e 74. Parque das Ruínas no Rio de Janeiro. Fonte: EF Arquitetos (2018) Mosteiro de San Juan / BSA Localizado em Burgos, na Espanha, o mosteiro de San Juan é datado do século XI e recebeu uma nova cobertura em 2015 para proteger seus vestígios e criar um espaço para atividades culturais que esteja protegido das intempéries climáticas. Ele conta com 200m², não havendo divisórias entre as naves laterais, nave central e a abside, criando um grande espaço livre para atividades e contemplação do passado e da ruína. A intervenção foi inserida de forma singela, respeitando a história da edificação e garantindo a proteção de seus remanescentes (Figura 75.) Bar do parque la ruína / tamen arquitectura Implantado em uma antiga fábrica têxtil o bar se localiza em um lugar conhecido como “Parque La Ruína”, na cidade Hermosillo, no México, e tornou- se um espaço de referência na cidade para eventos, vida noturna e gastronomia. Ele segue o inverso da proposta do Mosteiro de San Juan, mantendo a área sem cobertura e qualificando o local para seu uso, com móveis e materiais respeitando a preexistência (Figura 76). Figura 75. Mosteiro San Juan. Fonte: Cobertura do Mosteiro de San Juan / BSA (2016). Figura 76. Bar em antigo estado de ruína e sem cobertura. Fonte: “Bar do Parque La Ruina / Tamen Arquitectura” (2018) 78 79 ensaio projetual O terreno e os prédios remanescentes, tombados pelo município, se apresentam como um espaço em potencial para a população prudentina e do Oeste Paulista, contando parte da história da cidade a partir da gênese da ferrovia, ápice industrial e especulação imobiliária. Além das análises do entorno e do terreno foi realizada uma matriz S.W.O.T - Forças (Strengths), Fraquezas (Weaknesses), Oportunidades (Opportunities) e Ameaças (Threats), uma forma de gestão e interpretação que apesar de não ter um criador definido “muitos acreditam que ela tenha sido desenvolvida na década de 1960 por professores da Universidade Stanford” (PORTAL SEBRAE, 2012). A partir dela analisou-se sua situação atual, para uma proposta projetual. O conjunto foi tombado pelo município, no entanto está inserido em uma área privada. Em conversas informais com os assessores da Secretaria de Cultura do município foi relatado que a doação de parte do terreno da Sanbra ao município foi referente a uma estreita faixa para ampliação da rua, mas mesmo tombado o conjunto da Sanbra mantém-se privado, e seu atual dono não tem interesse em doar ao município nem o terreno, nem as construções, o que o torna o responsável pela manutenção da ruína, estando passível a multas caso ela não seja mantida. Com base no referencial teórico de preservação do espaço, manutenção do estado da ruína e apropriação, análises urbanas e arquitetônicas, referências projetuais e a análise S.W.OT. para aproveitar suas forças e oportunidades, suprimindo as fraquezas e ameaças, propõe-se uma diretriz projetual de uma escola de artes cênicas, dança e teatro, sem a mudança da arquitetura da ruína e respeitando sua imagem. A ruína deve ser preservada, retardando sua oxidação e degradação, sendo utilizado como um grande espaço livre para expressão da contemporaneidade e contemplação do passado, a partir das artes cênicas e visuais. Visando o desejo da Secretaria de Cultura em transformá-la em uma escola de Ballet e Dança, pode-se tirar partido do grande talude do terreno para implantação de um novo prédio que não altere a imagem da ruína vista a partir da ferrovia e não possa competir com ela. A partir dessa implantação e declividade decidiu-se tirar partido da visual sentido norte, onde há uma ruptura na paisagem urbana com a presença de uma grande área verde. Em seu terreno também é possível a inserção 80 81 Quadro 3. Análise SWOT da Sanbra. Fonte: A autora, 2018. de futuramente uma área de lazer ao ar livre qualificada, se conectando com o Corredor Histórico e o IBC a partir de um parque linear qualificado para caminhadas na área da ferrovia, caso ele seja doado ao município. A decisão de o ensaio projetual ser de uma escola focada em dança e teatro se justifica também pelo fato de (segundo os assessores de cultura do município) o Centro Cultural Matarazzo estar saturado, não havendo espaço suficiente para muitas atividades. As artes musicais continuariam sendo exercidas no Matarazzo, e as artes corporais seriam feitas na nova escola. Estimando-se uso no período da manhã, tarde e noite, com três aulas em cada período, e duas vezes por semana, é possível atender até 1080 alunos se houverem seis salas de ensaio. Partindo dessa quantidade de salas, o programa e o pré-dimensionamento foram realizados , no quadro 4 temos também a dimensionamento de cada espaço do projeto, e área útil total. ACESSO E CONVIVÊNCIA AMBIENTE DESCRIÇÃO EQUIPAMENTOS ÁREA QUANT. TOTAL EDUCACIONAL AMBIENTE DESCRIÇÃO EQUIPAMENTOS ÁREA QUANT. TOTAL 82 83 ADMINISTRAÇÃO AMBIENTE DESCRIÇÃO EQUIPAMENTOS ÁREA QUANT. TOTAL SERVIÇOS AMBIENTE DESCRIÇÃO EQUIPAMENTOS ÁREA QUANT. TOTAL Área útil total 1417.2m² Quadro 4. Programa e dimensionamento. Fonte: A autora, 2018. ACESSO E CONVIVÊNCIA AMBIENTE DESCRIÇÃO EQUIPAMENTOS ÁREA QUANT. TOTAL EDUCACIONAL AMBIENTE DESCRIÇÃO EQUIPAMENTOS ÁREA QUANT. TOTAL 84 85 ADMINISTRAÇÃO AMBIENTE DESCRIÇÃO EQUIPAMENTOS ÁREA QUANT. TOTAL SERVIÇOS AMBIENTE DESCRIÇÃO EQUIPAMENTOS ÁREA QUANT. TOTAL Área útil total 1417.2m² As construções pré existentes devem manter ao máximo suas características originais, por isso não foram propostas intervenções bruscas, apenas a manutenção de telhas quebradas e inserção de portas. O galpão deve servir de um dos acessos para a escola e também como um espaço de exibição de obras, dança, teatro e também iconografias. Por isso foi proposto um mobiliário que possa ser facilmente movido e guardado no acervo da escola, e transformar o espaço em uma área para espetáculos e atividades. Para a casa de caldeira foi proposto um espaço de leitura e contemplação, com mobiliário para permanência. Essas construções se encontram acima da escola, que contém um teto verde que serve de extensão do espaço do patrimônio, e que abraça a chaminé, a qual tem sua base preservada no espaço dentro da escola. Seguindo as curvas de nível originais, foi proposto um pequeno anfiteatro aberto, em frente a escola, o qual tem seu último banco no nível 4 metros, estando na mesma altura do teto verde da escola, onde pode haver comunicação visual entre eles, sendo possível a utilização também para espetáculos. Na escola optou-se pela utilização de materiais como o revistimento em placa cimentícia, estrutura convencional em concreto e utilização de paredes de vidro, para manter a permeabilidade visual do espaço, das salas de ensaio para fora e da escola para o pátio. Por conta da utilização da utilização de vidro na fachada norte foi inserido brises basculantes para proteger visualmente e pelo conforto, em aço corten, materialidade que remete a ferrovia. Nas Figuras 77 a 88 a seguir temos a planta de cobertura, planta nível 4 metros, planta térreo, detalhes, cortes e elevações da proposta. 87 Figura 77. Planta de cobertura. Fonte: A autora, 2018. 89 Figura 78. Planta nível 4 m. Fonte: A autora, 2018. 91 Figura 79. Planta térreo. Fonte: A autora, 2018. 93 1:50 Figura 79. Detalhes: teto verde. Fonte: A autora, 2018. 94 95 Figura 80. Detalhes: Brise. Fonte: A autora, 2018. Detalhe: Desenho da placa Detalhe: Modo de abertura, basculante tipo “asa de avião” 1:20 97 1 5 10 Figura 81. Corte AA. Fonte: A autora, 2018. 98 99 1 5 10 Figura 82. Corte BB. Fonte: A autora, 2018. 100 101 1 5 10 Figura 83. Corte CC. Fonte: A autora, 2018. 102 103 1 5 10 Figura 84. Corte DD. Fonte: A autora, 2018. 104 105 1 5 10Figura 85. Elevação Oeste. Fonte: A autora, 2018. 106 107 1 5 10 Figura 86. Elevação Norte Fonte: A autora, 2018. 108 1091 5 10 Figura 87. Elevação Leste. Fonte: A autora, 2018. 110 111 1 5 10 Figura 88. Elevação Sul. Fonte: A autora, 2018. 112 113 conclusão O complexo da Sanbra em Presidente Prudente se mostra como uma grande potencialidade para o município e região. Apesar de estar inserido em uma área privada, se trata de um patrimônio para toda cidade - devendo ser ocupado pela mesma - que conta a história da região a partir de suas linhas, materiais, e localização. Neste Trabalho Final de Graduação buscou-se provar a importância da Sanbra, e uma possível experiência de ocupação a partir de um desejo de uso manifestado pela própria prefeitura - uma escola de artes cênicas. Em tempos de descaso e rápida perda de memória este é um patrimônio que deve resistir, mostrando consigo a passagem do tempo, mas também sendo apropriado pela população. 114 115 ABREU, D. S. Formação histórica de uma cidade pioneira paulista: Presidente Prudente. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Presidente Prudente, 1972. ALMEIDA, Beatriz D. Mineiro Correia de. 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