UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES, COMUNICAÇÃO E DESIGN CURSO COMUNICAÇÃO: RÁDIO, TELEVISÃO E INTERNET TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Elvis Idalino Fernandes Sarmento O MUNDO COLORIDO DE EVA: UM GUIA LGBTQIAPN+ PARA CRIANÇAS. BAURU - SP 2024 0 1 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES, COMUNICAÇÃO E DESIGN CURSO COMUNICAÇÃO: RÁDIO, TELEVISÃO E INTERNET TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Elvis Idalino Fernandes Sarmento RA: 191032433 O MUNDO COLORIDO DE EVA: UM GUIA LGBTQIAPN+ PARA CRIANÇAS. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus de Bauru - SP, como requisito para obtenção do grau de bacharel em Comunicação: Rádio, Televisão e Internet, sob orientação da Profa. Dsc. Maria Cristina Gobbi do Departamento de Comunicação Social. BAURU - SP 2024 2 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES, COMUNICAÇÃO E DESIGN CURSO COMUNICAÇÃO: RÁDIO, TELEVISÃO E INTERNET TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Elvis Idalino Fernandes Sarmento BANCA EXAMINADORA: Profa. Dsc. Maria Cristina Gobbi (Orientadora) Departamento de Comunicação Social - FAAC - UNESP/Bauru Prof. Dsc. Larissa Pelúcio Departamento de Comunicação Social - FAAC - UNESP/Bauru Msc. Victoria Galhardo Mestra em Mídia e Tecnologia - PPGCOM-Unesp BAURU - SP 2024 3 Para todas as crianças viadas, travestis e sapatão. Para o meu eu criança. 4 AGRADECIMENTOS É preciso agradecer aos primeiros, às pessoas que vieram antes de mim, assim como a todas as pessoas que me constituíram e contribuíram na minha formação enquanto sujeito. Aos primeiros agradeço: a Gabrielle Cabral que ouviu antes de todas a minha ideia e logo me disse que era a minha cara; Ao Fábio Luiz Alves que acreditou nesse projeto antes que eu mesma tivesse a coragem de acreditar; E ao Geovane Lopes que visualizou e me deu os olhos que eu precisava para enxergar a Eva. Agradeço a todas as pessoas LGBTQIAPN+ que vieram antes de mim e pavimentaram a estrada com suas próprias vidas e sangue, possibilitando este projeto e a discussão sobre sexualidade e gênero na sociedade. Sem elas, nada do que foi discutido aqui seria possível. A pessoa que me nutriu, acolheu e se dedicou a mim como se fosse o seu principal projeto, a minha mãe agradeço. Sou grato por todo o cuidado e ensinamentos que foram base para eu ser o sujeito que sou. Ainda sobre as primeiras pessoas que me formaram e me amaram, agradeço à minha tia Vera, aquela que já se foi e, mesmo assim, continua presente em meu dia por meio de seus ideais. Essa professora, curiosa e entusiasta da leitura, foi quem me ensinou a ler o mundo, as pessoas e as palavras. Sem você, eu não teria chegado até aqui. Agradeço a todos aqueles que me ajudaram nessa caminhada que não começou há 6 anos atrás, mas sim desde os meus 4 anos de idade em que comecei o meu processo de alfabetização, desde lá todos os professores, serventes e equipe pedagógica me construíram e possibilitaram estar aqui hoje, em agradecimento especial menciono aqueles que contribuíram significativamente no meu senso crítico: Victor Leite, Paula Gaudeda Marciniuk e Helena Medina. As mulheres que me orientaram e me guiaram neste processo de trabalho de conclusão de curso e durante a faculdade, eu agradeço. Obrigado Maria Cristina Gobbi por aceitar me orientar, se entusiasmar com o meu projeto e disponibilizar seu tempo neste processo. Agradeço também à Larissa Pelúcio, professora orientadora da minha iniciação científica, pessoa que me auxiliou no meu processo de pesquisa e acima de tudo foi minha referência teórica. Aos meus amigos, aqueles que sempre estiveram ao meu lado, me acolheram e me ouviram, agradeço infinitamente, vocês fazem parte de quem eu sou. Agradeço em especial aquela que esteve comigo do começo ao fim na faculdade: Bianca Portezan. As pessoas que 5 conheci durante essa jornada, também sou imensamente grato a esse encontro, assim como aqueles que já passaram por mim e se tornaram bons desencontros. Por fim, agradeço a todas as pessoas que participaram de forma direta ou indireta deste trabalho, em especial as pessoas que animaram, pois foram elas que deram o movimento a Eva e por fim terminaram o processo de concretização da minha ideia abstrata. 6 “Enviadesci, Enviadesci E agora macho alfa? Não tem mais pra onde fugir! [...] Já quebrei o meu armário, agora eu vou te destruir." Linn da Quebrada 7 RESUMO O Mundo Colorido de Eva é um projeto audiovisual de animação serializada, voltado para a educação e inclusão de crianças e responsáveis sobre o universo LGBTQIAPN+. Com 14 episódios de 3 minutos e meio, a série aborda temas como identidade de gênero, orientação sexual, expressão de gênero e arranjos familiares, utilizando uma narrativa lúdica e didática. A história segue Eva, uma criança curiosa, e seu amigo mágico, Biscoito, em aventuras cotidianas que promovem aprendizado e empatia. Inspirado em obras como De Onde Vem? e O Show da Luna, o projeto busca normalizar as diversidades humanas, utilizando a arte como ferramenta de enfrentamento ao preconceito e promoção do respeito. Palavras-chave: LGBTQIAPN+, Educação Infantil, Roteiro, Sexualidade, Identidade de gênero, Animação. 8 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Recortes de manchete de jornais. 14 Figura 2 - Biscoito da sexualidade. 23 Figura 3 - Capa do primeiro episódio de "De onde vem?" 25 Figura 4 - Kika, protagonista da animação "De onde vem?" 26 Figura 5 - Madelaine. 28 Figura 6 - Ficha dos episódios organizados em um quadro. 38 Figura 7 - Processo de escrita. 39 Figura 8 - Tabela de categorização dos episódios. 39 Figura 9 - Layout do Celtx. 40 Figura 10 - Fluxograma da produção geral. 44 Figura 11 - Fluxograma do roteiro. 45 Figura 12 - Fluxograma da direção de arte. 46 Figura 13 - Fluxograma do som. 46 Figura 14 - Fluxograma da direção. 46 Figura 15 - Paleta de cores. 48 Figura 16 - Prancha geral. 49 Figura 17 - Prancha do primeiro episódio. 49 Figura 18 - Prancha da Eva. 50 Figura 19 - Prancha do Biscoito. 51 Figura 20 - Logo da animação colorida. 51 9 Figura 21 - Logo da animação em preto e branco. 51 Figura 22 - Hex das cores e fontes utilizadas na logo. 52 Figura 23 - Manual da ilustração. 53 Figura 24 - Ilustração do MON. 53 Figura 25 - Ilustração do Pinhão. 53 Figura 26 - Cenários ilustrados. 54 Figura 27 - Fundos ilustrados. 54 Figura 28 - Objetos ilustrados. 55 Figura 29 - Evolução no processo de desenvolvimento da Eva. 55 Figura 30 - Evolução no processo de desenvolvimento do Biscoito. 55 Figura 31 - Evolução no processo de desenvolvimento do Bolacha 55 Figura 32 - Processo de produção do Storyboard. 57 Figura 33 - Processo de produção do Storyboard. 57 Figura 34 - Processo de produção do Storyboard. 57 Figura 35 - Fragmentos do Storyboard 58 Figura 36 - Foto da primeira gravação 60 Figura 37 - Foto do segundo dia de gravação [Leonardo, Yasmin e Giovanni respectivamente] 61 Figura 38 - Processo de animação da Eva através do Character animator 62 Figura 39 - Processo de animação do Biscoito através do Character animator 63 Figura 40 - Processo de animação através do DaVinci 63 10 SUMÁRIO Capítulo I: Porque fazemos o que fazemos? 13 1.1. Justificativa 14 1.2. Introdução 17 Capítulo II: As teorias que nos sustentam 18 2.1. Referencial Teórico 19 2.1.1. O roteiro 19 2.1.2. Mídia e Infância 21 2.1.3. Teoria do Cuier 22 2.2. Referencial Estético e Conceitual 24 Capítulo III: Sobre objetos, palavras e abstrações 27 3. O Mundo Colorido de Eva 28 3.1. One Page 28 3.2. A Bíblia 29 3.1.3. Os personagens 29 3.2.2. Argumento dos Episódios 30 3.3. O Processo de Criação 33 3.3.1. Estrutura 33 3.3.2. A Construção do Personagem 34 3.3.3. Ambientação 37 3.3.4. Episódios 37 11 3.3.5. Revisão 41 Capítulo IV: Do abstrato ao concreto. 42 4.1. Produção 43 4.2. Direção de Arte 47 4.2.1. Identidade Visual 47 4.2.2. Ilustração 52 4.2.3. Storyboard 56 4.3. Direção de Elenco 59 4.4. Edição 62 Capítulo V: O fim 64 5. Considerações Finais 65 6. Referências Bibliográficas 67 7. Apêndices 73 Apêndice 1 - A bíblia de “O Mundo Colorido de Eva” 73 Apêndice 2 - Storyboard de “O Mundo Colorido de Eva” 90 Apêndice 3 - Ilustração das mães de Eva. 192 12 CAPÍTULO I POR QUE FAZEMOS O QUE FAZEMOS? 13 1.1. JUSTIFICATIVA Figura 1: Recortes de manchete de jornais. Fonte: Diversos jornais digitais. 14 Em 2023 o Brasil registrou 257 mortes violentas motivadas por LGBTfobia, esse número inclui: crianças, adolescentes, jovens e adultos. Segundo os dados do Grupo Gay da Bahia1 continuamos a ser o país onde mais se mata pessoas LGBTQIAPN+2 no mundo. Há 7 anos atrás foi realizado um estudo apontando que os jovens latino-americanos LGBTQIAPN+ se sentem inseguros nas escolas, somado a isso, uma outra pesquisa do mesmo ano mostra que 73% dos alunos brasileiros sofreram violência verbal e 36% sofreram violência física. Ainda em 2017 o governo brasileiro através do MEC, o Ministério de Educação, decidiu aceitar a homofobia nas escolas e excluir o termo “identidade de gênero” e “orientação sexual” da Base Nacional Comum Curricular, a BNCC, do ensino infantil e fundamental. Desde violências físicas às violências simbólicas, o preconceito e a discriminação contra pessoas LGBTQIAPN+ permeiam todo o tecido social e isso pode-se observar atráves de jornais, séries, filmes e novelas, como também no dia a dia, em casa, nas escolas, na rua, no trabalho e em outras ambientes de socialização. Se partirmos do pressuposto que a escola é uma instituição que ensina sobre o mundo, realidades e vivências, para além de conhecimentos formais, como, matemática, português e ciências, é correto afirmar que ela desempenha um papel fundamental no combate ao preconceito e a violência, pois ela tem a capacidade e o poder de constituir o sujeito de maneira cidadã e emancipatória. Valendo-me das palavras de um dos maiores educadores e pedagogos do mundo, “a educação não transforma o mundo, a educação muda as pessoas e as pessoas transformam o mundo”. (FREIRE 1979, p.84) Sendo assim, é extremamente necessário que assuntos de diversidade sexual e de gênero sejam abordados no ensino brasileiro em uma tentativa de transformar a realidade da população LGBTQIAPN+. Em um levantamento de dados da organização “Todos pela Educação” revelou que no Brasil, nos últimos 10 anos, nunca se teve tão poucos projetos de combate a LGBTfobia nas escolas, chegando em média a 25% das redes de ensino, ou seja, de cada 4 escolas apenas 1 tem um projeto de combate ao preconceito. Este número inclui ações/políticas contra a discriminação e não apenas conteúdos pedagógicos e discussões em sala de aula. 2 Lésbicas, Gays, Bi, Trans, Queer/Questionando, Intersexo, Assexuais/Arromânticas/Agênero, Pan/Poli, Não-binárias e mais. O + está ali para pessoas não-cis que não se consideram trans (ou não-binárias, ou agênero), e por todas as outras orientações que não são hétero. 1 Organização não governamental fundada em 1980 voltada para a defesa dos direitos dos homossexuais no Brasil, também conhecida pela sua sigla GGB. 15 Partindo do contexto exposto acima, somando minhas vivências como sujeito LGBTQIAPN+, que sofreu com a falta de conhecimento e representação de diversidade na infância, aliadas à minha subjetividade — inquieta, embativa, questionadora e, acima de tudo, inconformada —, não tive outra escolha a não ser utilizar o audiovisual como uma ferramenta política pedagógica em uma tentativa de preencher as lacunas deixada pelo ensino brasileiro nas questões de diversidade sexual e de gênero. Por muitos meses, refleti sobre qual seria o produto do meu trabalho de conclusão de curso. Muitas ideias vieram à mente, e inicialmente me encantei com a possibilidade de escrever uma minissérie dramática sobre dois homens apaixonados na fronteira entre Brasil e o Paraguai. No entanto, ao longo do processo, percebi que, para mim, escrever ficção apenas por escrever não corresponderia à urgência das questões e injustiças que presencio no mundo. Reconhecendo meus privilégios e o contexto em que vivo, compreendi o meu papel como comunicador e ser político: utilizar meus conhecimentos para contribuir com a transformação da sociedade. Assim, optei por produzir um trabalho de caráter educacional, relevante e social, o que deu origem à ideia da animação “O Mundo Colorido de Eva". A animação é voltada para crianças de 06 anos em processo de alfabetização e pretende educar para a diversidade, além de combater a LGBTfobia desde a raiz. A infância é um momento de grande importância na vida de constituição do sujeito, segundo Freud, é um período crucial para a formação da personalidade e para a internalização de padrões que influenciarão o comportamento e as emoções. “O que é fixado na infância tende a persistir ao longo da vida." (FREUD, 1900) Para além dos aspectos de desenvolvimento emocional, cognitivo e social, a infância é o momento que precede a adolescência, um momento conturbado, de grandes mudanças e descobertas. Nem todas as crianças são hétero e cisgênero, e, partindo desse pressuposto, é na infância que devemos dar suporte a essas pessoas que fogem da cis-heteronormatividade, ajudando-as no processo de descoberta para minimizar as violências e opressões. É imprescindível que a sociedade admita a existência de crianças queer. Elas estão em todas as escolas, e, por isso, é fundamental que produtos como “O Mundo Colorido de Eva” cheguem até elas, auxiliando-as no processo de descoberta e autoaceitação. Indo além do combate a LGBTfobia, esse produto é para todas as pessoas, seja para as crianças queer em sua jornada de autodescoberta, seja para as cis-heterossexuais ensinando o respeito e o acolhimento, ou até mesmo para pais e responsáveis compreenderem melhor a realidade a sua volta. 16 1.2. INTRODUÇÃO O mundo em sua realidade não é binário e muito menos composto apenas por pessoas heterossexuais e cisgênero. Os pais e responsáveis ao se depararem com as questões de diversidade sexual e de gênero se perguntam: Como é que eu vou explicar isso para a minha criança? Pensando em responder a essa pergunta, nasce a ideia de “O Mundo Colorido de Eva’’, uma tentativa de auxiliar no processo de educação e enfrentamento às violências e preconceitos contra identidades que fogem à cis-heteronormatividade. “O Mundo Colorido de Eva” é uma obra de animação serializada com 14 episódios, de 3 minutos e meio de duração, que aborda questões sobre: Identidade de gênero, orientação sexual, sexo biológico e expressão de gênero. Seu público alvo são todas as crianças de 6 anos, em processo de alfabetização, assim como, pais e responsáveis. Inspirado em desenhos como, “De Onde vem?” e o “O Show da Luna”, a animação pretende explicar para as crianças sobre o universo LGBTQIAPN+ de forma dialógica e horizontalizada, sem exagero de fantasia ou metáforas, buscando sempre aproximar essas identidades do dia a dia das crianças. Pessoas LGBTQIAPN+ estão em todos os lugares, estão presentes em nosso cotidiano e permeiam toda a sociedade, por isso é fundamental criar uma narrativa que normalize essas pessoas e não as transforme em um ser alienígena, distante da realidade. Através de situações do dia a dia, como uma ida na sorveteria, um almoço de domingo ou uma brincadeira no parque, Eva irá explicar a Biscoito, um ser mágico e falante, sobre a diversidade à sua volta. Pensada como uma ferramenta audiovisual para a educação e combate do preconceito, sua estrutura de roteiro foi criada para diversos meios3, como, o Tik Tok, Youtube, Reels e Televisão. Neste relatório, o produto se faz através da bíblia da série e a produção do roteiro dos 14 episódios da primeira temporada. De maneira pretensiosa também busquei produzir um episódio, por isso o último capítulo discorre sobre o meu processo de animação do terceiro episódio, mas não se torna o foco deste trabalho. A escolha se deve pela minha relação com o tema, de todos esse é o que mais me toca. 3 Sobre os aspectos da visualidade não foi pensado para o Tik Tok e Reels, essas plataformas possuem uma proporção de 9:16 no formato da tela, menor que a Youtube e Televisão (16:9). Por isso, partindo de uma escolha estética, é mais agradável um vídeo de 16:9 diminuir e caber em um formato de 9:16 do que o contrário. 17 CAPÍTULO II AS TEORIAS QUE NOS SUSTENTAM 18 2.1. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1.1. O ROTEIRO O que é um roteiro? É um amontoado de palavras? É um guia? O roteiro é personagem? São cenas em sequências? O que um roteiro precisa ter? É o mesmo que uma peça de teatro? Compreender o conceito é um passo fundamental para sua execução. O roteiro é, segundo Syd Field, “uma história contada a partir de imagens, diálogos e descrições, localizadas no contexto da estrutura dramática”(FIELD, 1982). Ele funciona como o alicerce da narrativa audiovisual, através da imagem articula elementos como personagens, ações, espaços e diálogos em um formato que guia a produção do início ao fim: O roteiro é como um substantivo - é sobre uma pessoa, ou pessoas, num lugar, ou lugares, vivendo sua “coisa”. Todos os roteiros cumprem essa função básica. A pessoa é o personagem, e viver sua coisa é a ação. (Field, 2001, p. 2) Apesar do roteiro audiovisual possuir diferenças em relação às peças de teatro, há similaridades quando se apropria de elementos da dramaturgia. Syd Field ao definir roteiro faz uso das 3 unidades do drama, a ação, o tempo e o espaço. Para Aristóteles a dramaturgia possui 3 unidades básicas: 1) A ação, que é o conflito, unidade primordial; 2) O tempo, a duração, a ação deve se desenrolar em um intervalo limitado; 3) O lugar, o espaço que ocorre a ação. (ARISTÓTELES, 1996) Além das 3 unidades da ação dramática proposta por Aristóteles, há outros fundamentos da “Poética” que estruturam a história e são incorporados pelo roteiro audiovisual. Syd Field (2001) ao descrever a estrutura de um roteiro clássico, se apropria do pensamento de que toda história deve possuir, o "começo", introdução do conflito, o "meio", a complicação e o desenvolvimento do conflito, e o "fim", a resolução. (ARISTÓTELES, 1996) Baseado nisso, surge o paradigma da estrutura, um modelo conceitual, com 3 atos: 1°) Apresentação do conflito, em média 30 páginas4; 2°) Confrontação, momento em que o personagem principal enfrenta obstáculos, em média 60 páginas; 3°) Resolução, o desfecho do conflito, em média 30 páginas. No meio de cada ato há um ponto de virada. 4 Quando Syd Field propõe essa estrutura utiliza como modelo os roteiros de longa-metragem. 19 Um ato é uma série de sequências que culminam em uma cena climática, causando uma grande reversão de valores, mais poderosa em seu impacto do que em qualquer cena ou sequência anterior. (MCKEE, 2006, p. 52) Segunda a dramaturgia hegeliana, o drama reflete os conflitos fundamentais da existência humana, estruturados por forças opostas, como liberdade e autoridade, em um movimento dialético que culmina em uma síntese (HEGEL, 1996). Deste modo, o ato se constitui através de diversos acontecimentos que transformam os valores do personagem indo do negativo ao positivo ou ao contrário, até chegar no ponto de virada, “incidente, ou evento que “engancha” na ação e a reverte em outra direção” (FIELD, 2001). Deste modo se constroi uma estrutura dramática do roteiro, através de progressões da narrativa, em um movimento entre as cargas, positiva e negativa, dos valores presentes na história: A função da estrutura é criar pressões progressivamente construídas para que forcem o personagem a enfrentar dilemas cada vez mais difíceis [...] gradualmente revela sua verdadeira natureza, até mesmo chegando ao seu inconsciente. (MCKEE, 2006, p. 110) Assim, os personagens são fundamentais na narrativa. Toda história necessita de ação, conflito, e toda ação necessita de personagens. Esses seres atuantes da ação dramática são essenciais para o roteiro e por isso é importante o processo de sua construção. Syd Field (2001) propõe um modelo para a construção de personagens, fundamentado na ideia de que o personagem é ação. Ele divide essa construção em dois aspectos principais: o interior, que compreende a formação interna do personagem, e o exterior, que representa como o personagem se expressa no mundo. Cada um desses aspectos é subdividido para se aprofundar. O interior engloba elementos como a biografia, que revela a base psicológica e emocional do personagem. O exterior, por sua vez, está relacionado à necessidade e às ações realizadas pelo personagem. Essas ações são classificadas em categorias como: profissionais (relacionadas ao trabalho), pessoais (vinculadas a relações íntimas ou sociais), matrimoniais (envolvendo questões conjugais) e privadas (aquelas realizadas em momentos de solitude). Esse modelo destaca a relação entre quem o personagem é internamente e como ele age externamente, mostrando que ambas as dimensões são fundamentais para criar personagens complexos e autênticos. Essa construção colabora para o seu conflito e também para a construção do arco do personagem. 20 O arco de um personagem pode ser entendido como a transformação interna que ele experimenta ao longo da narrativa, resultando em uma mudança significativa, seja ela positiva ou negativa, em relação ao estado inicial. (MCKEE, 2006) Portanto, como o roteiro é uma história contada por meio de imagens, ele se constitui de diversos elementos — ação, personagens, cenas, sequências, atos, músicas, locações, etc. —, uma vez que todos esses aspectos são essenciais para a construção da história (FIELD, 2001). 2.1.2. MÍDIA E INFÂNCIA Roteiros, como elementos estruturais de qualquer produção audiovisual, desempenham um papel central no diálogo com o público-alvo. No caso do público infantil, embora frequentemente subestimado, é fundamental reconhecer que as crianças são altamente exigentes e perceptivas. Doc Comparato (2009) ressalta que "a criança é capaz de quase tudo, desde que se explique adequadamente". Tratar as crianças como incapazes ou inferiores é um erro, pois elas possuem uma surpreendente capacidade de compreender ideias complexas, quando apresentadas de forma elucidada e sensível. Essa visão dialoga com a ideia de Gomes e Avanzini (2015), que defendem que "[...] a infância é produzida pelo conjunto da sociedade a partir de ideias, práticas e valores que se referem, sobretudo, às crianças, sendo que esses elementos são estabelecidos, difundidos e reproduzidos social e culturalmente". A construção social da infância implica que as produções audiovisuais destinadas a esse público carregam significados profundamente enraizados nas normas e valores culturais da sociedade. Por isso, é imprescindível que tais conteúdos sejam desenvolvidos com responsabilidade, considerando tanto as capacidades intelectuais das crianças quanto o impacto social e cultural dessas produções. Na sociedade contemporânea, marcada pela midiatização, a mídia ocupa uma posição central na formação de identidades e na disseminação de valores. Martín-Barbero (2001) observa que os processos comunicativos mediados pela mídia têm uma influência decisiva nas relações sociais e na compreensão do mundo. Nesse cenário, as séries de animação educativa, como Dora, a Aventureira e Peixonauta, destacam-se por combinar entretenimento com aprendizado, promovendo o desenvolvimento cognitivo, social e emocional das crianças. Essas produções exemplificam como a animação pode ir além do entretenimento, transformando-se em uma ferramenta pedagógica poderosa. Entretanto, a mídia não se limita a ser um veículo de transmissão de informações; ela também é um espaço de disputas ideológicas. Stuart Hall (1980) afirma que "os meios de 21 comunicação não são apenas transmissores de informações, mas campos nos quais as lutas ideológicas e os significados são continuamente disputados". Esse conceito, presente na teoria da codificação e decodificação, ressalta que o conteúdo midiático nunca é neutro. No caso das animações infantis, as narrativas muitas vezes carregam valores e interpretações que influenciam diretamente a maneira como as crianças compreendem e interagem com o mundo ao seu redor. Nesse contexto, a animação se destaca como uma linguagem versátil e potente. Thomas e Johnston (1981) definem-na como "a criação da ilusão de vida em algo inanimado, por meio do movimento controlado". Essa técnica, aliada ao uso de expressividade, permite que histórias sejam contadas de forma a capturar a imaginação do público, especialmente das crianças. Mais do que uma forma de arte, a animação é um meio poderoso para conectar emocionalmente o espectador à narrativa e transmitir mensagens significativas. Por fim, a relação entre crianças e a mídia é dinâmica e ativa. Buckingham (2000) argumenta que "as crianças não são simplesmente receptores passivos da mídia, mas agentes ativos que negociam e reinterpretam as mensagens que consomem". Essa interação reforça a importância de criar conteúdos que respeitem e valorizem as capacidades infantis, promovendo não apenas o entretenimento, mas também a formação de valores, senso crítico e cidadania. 2.1.3. TEORIA CUIER A teoria de gênero proposta por Judith Butler (1990) desafia as concepções tradicionais sobre identidade de gênero, argumentando que o gênero não é algo inerente ou biológico, mas uma construção social performativa. Butler sugere que as identidades de gênero são resultado de uma repetição de atos e discursos que consolidam normas sociais e culturais, reforçando a ideia de que o gênero é algo que se faz, e não algo que se é. Assim, o gênero se torna um campo de constante negociação e resistência, sendo moldado pelas interações sociais e culturais. Essa perspectiva de Butler se conecta diretamente com o pensamento de Michel Foucault (1975), que argumenta que as identidades e os corpos são moldados por práticas discursivas e pela organização social imposta pelas instituições e sistemas de poder. O conceito de "dispositivo" de Foucault, que se refere a um conjunto de discursos, práticas e instituições que moldam e controlam os indivíduos ao longo da história, ajuda a entender como o gênero é socialmente regulado. Como Foucault afirma, "um conjunto de discursos, práticas, leis e instituições que estabelecem e organizam as maneiras de governar os corpos, 22 moldando a vida das pessoas e impondo regras de comportamento" (FOUCAULT, 1975, p. 157). Nesse contexto, a teoria de Butler e a ideia de Foucault sobre os dispositivos de poder compartilham uma visão comum: tanto o gênero quanto as identidades são construções sociais e culturais, moldadas por normas e discursos que governam a sociedade. A performatividade do gênero, defendida por Butler, reforça a ideia de que a identidade de gênero é continuamente produzida e reconfigurada dentro de um campo de poder e práticas sociais, tal como Foucault descreve em sua análise dos mecanismos que disciplinam os corpos. A teoria queer, ao se inspirar nessas ideias, busca subverter as normas tradicionais de gênero e sexualidade, contestando a rigidez das categorias binárias e desafiando a heteronormatividade. O movimento queer propõe, assim, uma multiplicidade de experiências e expressões de gênero, contestando a concepção tradicional do que é considerado "normal" ou "aceitável" dentro da sociedade. Em um contexto latino-americano, o termo "cuier" surge como uma adaptação crítica do conceito anglo-saxão "queer", com uma ênfase local que o torna particularmente relevante para as questões sociais e políticas da região. Larissa Pelúcio (2020) destaca que o "cuier" vai além da simples tradução fonética, representando "uma aliança teórica e política capaz de contestar as armadilhas identitárias" (Pelúcio, 2020, p. 135), uma ferramenta para resistir às violências simbólicas e às normas cisheteronormativas que impõe uma rígida divisão entre sexos e gêneros. A cisheteronormatividade, ao pressupor que todos devem se conformar a um padrão heterossexual e binário, marginaliza e exclui identidades que não se alinham a esse modelo. Nesse sentido, a interseccionalidade, proposta por Kimberlé Crenshaw (1989), oferece uma chave analítica importante para compreender como as opressões de gênero, sexualidade, raça e classe se entrelaçam e afetam de maneira única a vida das pessoas. Esse conceito é fundamental para entender as experiências de sujeitos cujas identidades atravessam múltiplas formas de marginalização, proporcionando uma análise mais abrangente das desigualdades sociais. 23 2.2. REFERENCIAL ESTÉTICO E CONCEITUAL Tudo que existe no mundo faz referência a uma outra já existente, há uma dependência, os signos, unidade básica da linguagem, existem apenas na relação entre o significante e o significado, sendo sempre parte de um sistema de referências. Ao criar, fazemos uso desse sistema e entramos no jogo da linguagem. Da linguística ao audiovisual, o processo de criação está imerso em um quadro referencial. O formato do produto, a estética visual, o som, o roteiro, a produção e a direção são inevitavelmente influenciados por outras obras já existentes. De forma consciente ou inconsciente, recorremos ao que conhecemos e compreendemos do mundo para dar forma à nossa imaginação. Em “O Mundo Colorido de Eva” a principal referência foi o “Genderbread Person” - ou como chamamos no Brasil, “Biscoito da sexualidade”-, criação do ativista, Sam Killerman, uma alegoria gráfica que auxilia no processo de educação, ensinando sobre a diversidade sexual e de gênero. A 1° versão surgiu em 2013 através do livro “A Guide to Gender: The Social Justice Advocate's Handbook”, desde então vem sendo atualizado pelo criador e atualmente está na sua 4° versão: 24 Figura 2: Biscoito da sexualidade Fonte: Disponível em It's Pronounced Metrossexual (2017) O Biscoito da sexualidade se apresenta como uma referência que fundamenta todos os roteiros, é através desse material didático apresentado por um biscoito junto com os 4 pilares da sexualidade que a história se inspira e se sustenta. Para além dos conceitos fundamentais da obra, há também os referenciais que estruturam e a colocam no campo audiovisual. Neste sentido, “De Onde vem?” é o produto central de influências para este projeto. A animação de 2001, produzida pela Tv PinGuim e estrelado por Kika, apresenta inúmeras inspirações, como, a estrutura dos episódios, a duração, o formato - interprogramas5 -, combinação do live action e animação, a protagonista e a sua interação com objetos animados. Figura 3: Capa de "De onde vem?" Figura 4: Kika, protagonista da animação "De onde vem?" Fonte: Disponível no youtube (2015) Fonte: Looke Os desenhos e programas presentes na grade da Tv Cultura nos anos 2000 se tornaram guias estéticos e educativos neste processo de produção. “Porque sim não é resposta”, “Cyberchase”, “Zoboomafoo”, além de “De onde vem?” foram referências didáticas do audiovisual como ferramenta de ensino. 5 Programa de curta duração transmitido entre a programação fixa da grade de um canal televisivo. 25 No que tange à ambientação, "Madeline" foi minha maior inspiração. A história melancólica, sem uso de fantasia, protagonizada por uma menina órfã, serviu como modelo durante a tomada de decisões criativas, assim como a sua visualidade. (As outras referências estéticas visuais serão exploradas no capítulo 4). Figura 5: Madelaine Fonte: KidStream Produtos mais recentes também fazem parte do meu quadro referencial, como, “O Show da Luna”, “Pocoyo” e “Meu Amigãozão”. 26 CAPÍTULO III SOBRE OBJETOS, PALAVRAS E ABSTRAÇÕES 27 3. O MUNDO COLORIDO DE EVA A série animada é uma jornada educativa e lúdica que explora a diversidade e inclusão LGBTQIAPN+ através da amizade entre Eva, uma menina curiosa e valente, e Biscoito, um ser mágico e questionador. A história se inicia em um dia comum, quando Eva, acompanhada de suas duas mães, encontra Biscoito esquecido em uma prateleira de supermercado. Esse encontro marca o início de uma amizade repleta de descobertas, em que Eva apresenta ao novo amigo o colorido universo das identidades humanas. 3.1. ONE PAGE O Mundo Colorido de Eva Longline Eva, uma menina muito inteligente e animada, explica para Biscoito, um biscoito mágico e falante, as identidades LGBTQIAPN+ e tudo que envolve esse universo. Sinopse A uma ida comum ao mercado com suas mães, Eva, uma menina muito perspicaz e valente conhece Biscoito, um ser mágico e falante que não conhece muito sobre a diversidade da existência humana. Ele está na prateleira a muito tempo, abandonado. Ao se conhecerem a primeira coisa que chama a atenção de Biscoito é o fato da menina ter duas mães, ele logo a questiona e Eva explica tudo pra ele sobre os arranjos familiares. Assim, eles se tornam amigos e a garotinha leva o Biscoito para casa. Eva ao chegar em casa apresenta o seu quarto para o seu novo amiguinho. O quarto é um lugar espaçoso, com muita decoração, brinquedos e fotos. Uma foto das mães de Eva chamam a atenção de Biscoito e ele começa a fazer algumas perguntas, a menina então explica para ele sobre os eixos da sexualidade. Biscoito, é um ser muito questionador e tudo que não conhece pergunta para Eva e com isso aprende sobre: Orientação sexual, sexo biológico, identidade de gênero, expressão de gênero, assexualidade, interseccionalidade, gênero não-binário, Queer, heteronormatividade, sair do armário e orgulho. Cada lição vem do seu dia a dia com Eva, de palavras que ele escuta, de situações que acontecem e da cultura que consomem, sendo sempre uma aventura prazerosa aprender. Em meio aos seus aprendizados, Biscoito conhece Bolacha, uma bolacha mágica, assim como ele, e se tornam amigos. Depois de um tempo, Biscoito percebe que sente mais 28 do que amizade por Bolacha. Ao se descobrir gay, Biscoito conta para Eva a sua sexualidade e depois sai em um encontro com Bolacha. 3.2. A BÍBLIA O universo de “O Mundo Colorido de Eva” é formado pelo faz de conta infantil. Faz de conta que tenho um Biscoito mágico e falante, e com ele vivo inúmeras aventuras, brinco, ensino e aprendo. Faz de conta que esse Biscoito é assim como eu questionador e busca compreender o mundo a sua volta. Faz de conta que o meu Biscoito se apaixona por uma Bolacha. Faz de conta que a gente vive em um mundo livre e justo. Faz de conta… 3.2.1. PERSONAGENS A animação conta com 9 personagens, sendo 3 principais e 6 secundários: 1) Eva - Criança de 6 anos, negra de cabelo cacheado, possui uma família homoparental. É animada, curiosa, inteligente, criativa, audaciosa e comunicativa. Sua cor favorita é vermelho, adora correr no parque e brincar de bola. Movida pela curiosidade, é super leal aos seus amigos e está sempre explicando o mundo a sua volta. Competitiva, forte e destemida, está sempre pronta para se aventurar; 2) Biscoito - Biscoito é um Biscoito mágico e falante que existe há 100 fornadas e está no mercado à espera de uma família. É comunicativo, prático, leal e inocente. Ama mudar de forma. Encontrou uma família junto a Eva e suas mães. Possui uma curiosidade em compreender os humanos e a si mesmo. Movido pela vontade de saber e pelos seus sentimentos, pergunta o porquê de tudo à sua volta; 3) Bolacha - Bolacha é uma Bolacha mágica e falante que existe há 100 fornadas. Foi comprado no mercado por Edu, uma criança de 06 anos agitada e radical. É calmo, esperto, sorridente e descolado. Ama andar de skate e está sempre praticando uma manobra radical. Movido pela aventura se interessa por Biscoito; 4) Vera - Distraída, está sempre muito apressada e alegre, gosta muito de inventar novos doces e combinar sabores, ela é confeiteira e autônoma. 38 anos. Uma palavra que a define é liberdade. Mãe de Eva, casada com Paula há 8 anos, é branca e seu cabelo é cacheado. 5) Paula - Comunicativa, sociável e carinhosa, gosta muito de aprender sobre assuntos novos, ler é seu momento terapêutico. 35 anos. Trabalha como professora de filosofia em uma escola do ensino médio. Mãe de Eva, casada com Vera há 8 anos, é negra e seu cabelo crespo; 29 6) Eduardo - Típica criança de 06 anos que ama uma bagunça, testar os seus limites, correr e andar de skate. Está sempre aprontando alguma coisa, às vezes se torna uma pessoa inflexível e birrenta, mas na maioria das vezes está sempre agitado, conversando e rindo; 7) Rafaela - Patricinha mimada pelos pais, confiante e sorridente. Está sempre rodeada de amigos e gosta muito de brincar e da cor rosa. De opinião forte, é uma pessoa teimosa, mas de um coração gigante; 8) Gustavo - Introspectivo, sensível e fofo. Está sempre no seu mundinho, gosta de brincar de bonecas e casinha. Inteligente e bom com os números é o aluno número 1 nas aulas de matemática; 9) Paçoca - Personagem descolado da realidade, sem noção e muito tagarela, está sempre conversando e às vezes é inconveniente. 3.2.2. ARGUMENTO DOS EPISÓDIOS Episódio 1 - Arranjos Familiares Está nublado, Eva vai ao supermercado com suas mães e encontra um pacote de bolacha na promoção. Dentro do pacote há um Biscoito mágico e falante. O encontro dos dois proporciona muito aprendizado sobre arranjos familiares e adoção. Biscoito, muito questionador pergunta para Eva porque ela tem duas mães e a criança fala sobre famílias homoparentais e outros modelos familiares existentes. Eva adota o Biscoito. Episódio 2 - Sexualidade Eva apresenta seu quarto e brinquedos para Biscoito. O espaço tem muitos brinquedos, decorações e um porta-retrato de Eva e suas mães, o que chama a atenção. Biscoito questiona Eva sobre suas mães serem um casal e ela explica sobre o conceito de sexualidade e seus 4 eixos (Sexo Biológico/Identidade de Gênero/Expressão de Gênero/Orientação Sexual). Episódio 3 - Orientação Sexual Está um dia ensolarado, Eva e Biscoito estão brincando no parque. Quem chegar primeiro na árvore ganha. Biscoito vence a primeira disputa, mas perde a segundo ao se distrair com Bolacha, uma bolacha mágica que fala. Após ver ele, Biscoito fica procurando-o e encontra dois homens se beijando. Ao questionar o beijo para Eva, ele aprende sobre sobre orientação sexual (Lésbicas/Gays/Bissexuais/Panssexuais/Heterossexuais). 30 Enquanto Biscoito espera por Eva, Bolacha reaparece e eles conversam. Episódio 4 - Assexualidade Está um dia chuvoso, Eva está em sua rede lendo um livro para o Biscoito. Ao final da história, Biscoito fica pensativo como sempre as histórias são sobre romances e Eva explica para Biscoito sobre pessoas arrômanticas e o espectro da assexualidade. Episódio 5 - Sexo Biológico Faz frio, Eva e Biscoito vão a uma festa de chá revelação. Após os adultos falarem que ia ser uma menina, Biscoito se questiona como eles sabem disso se a criança ainda nem nasceu. Eva então explica sobre o sexo biológico e intersexo. Episódio 6 - Expressão de gênero É dia do brinquedo na escola de Eva. Rafaela e Gustavo estão disputando o mesmo brinquedo, uma boneca. Após Edu fazer piadinhas sobre o fato do menino querer brincar com bonecas, Gustavo desiste da ideia. Eva resolve emprestar sua boneca e Rafaela questiona o fato dos meninos poderem brincar de boneca. Então, Eva explica sobre a expressão de gênero. Bolacha e Biscoito se reencontram na escola. Episódio 7 - Transgeneridade Está chovendo, Eva está brincando com Biscoito e suas mães estão assistindo o jornal. O jornal cita a Erika Hilton e falam sobre ela ser uma deputada transgênero. Biscoito pergunta para Eva o que é uma pessoa transgênero e a menina explica sobre identidade de gênero (Cisgênero/Transgênero). Episódio 8 - Não-Binário Está calor e ensolarado, Eva e Biscoito vão à sorveteria e são atendidos por Ariel, uma pessoa não-binária. Após Eva usar o pronome neutro com a pessoa atendente o seu amigo questiona porque ela está falando assim. Eva explica sobre as pessoas não-binárias. Episódio 9 - Bissexual e Panssexual Está nublado, é domingo e a família de Eva está reunida com os amigos. Beatriz, amiga das mães de Eva, chega com seu novo namorado e Biscoito questiona sobre a mudança de namorada para namorado. Eva explica sobre a bissexualidade e panssexualidade. 31 Bolacha está fazendo manobras de skate e ensina Biscoito a andar. Episódio 10 - Q de Queer As mães de Eva levam ela e Biscoito ao cinema. Na fila para comprar os ingressos, Biscoito escuta a conversa dos jovens na sua frente e escuta a palavra “Queer” ao questionar o que significa, Eva explica a palavra queer seu conceito e identidade, além de falar sobre a Judith Butler e a teoria queer. Episódio 11 - Heteronormatividade Bolacha quer chamar o Biscoito para sair, mas a todo momento que ele vai fazer a pergunta algo o interrompe. Biscoito se encontra com a Paçoca e ela ao ver Bolacha o questiona se ele tem uma namorada. Ele não se sente confortável com a pergunta e fala que a Paçoca foi heteronormativa. Biscoito pergunta para Eva o que é heteronormatividade e ela explica o conceito para ele. Bolacha chama Biscoito para um encontro e ele aceita. Episódio 12 - Orgulho: Onde tudo começou Está chovendo, Eva está indo dormir e pede para sua mãe contar uma história. Vera conta sobre a revolta do Ferro’s Bar, a ocupação das pessoas LGBTQIAPN+ naquele espaço. Episódio 13 - Interseccionalidade Eva está em aula e a professora explica sobre identidade racial, identidades e interseccionalidade. Episódio 14 - Saindo do Armário A avó de Eva vai visitá-la. A menina e Biscoito estão brincando e ouvindo a conversa das mães e da avó. Dona Maria fala que seu filho saiu do armário. Eva se questiona de qual armário ele saiu e Biscoito pergunta o que é sair do armário. Eva pela primeira vez não sabe a resposta. Eles tentam desvendar esse mistério e abrem todos os armários da casa. Ao ver se o tio caberia no armário da cozinha, Eva pergunta para suas mães o que é sair do armário. Paula explica o conceito. Biscoito conta para Eva que é gay e que irá sair com Bolacha. Biscoito e Bolacha vão ao encontro e reproduzem a clássica cena da dama e o vagabundo. 32 3.3. O PROCESSO DE CRIAÇÃO Do nada nasce a abstração. Todos nós somos dotados com o poder de criação, somos deuses do nosso micro universo. É neste ato que entramos em contato com o caos e dele surge a abstração, no meu caso a abstração das palavras. A partir deste ponto inicia-se o relato de todos os meus processos de criação, começando com o que pra mim é o maior ato, o mais sagrado, potente e transformador, a criação através das palavras. Escrever é para mim um ato de necessidade, uma forma de se salvar no mundo, “E haverá outro modo de salvar-se? Senão o de criar as próprias realidades?” (CLARICE LISPECTOR, 1978). Por isso escrevo. O processo de criação e escrita seguiu o seguinte fluxo: 1) Toró de ideias; 2) Argumento geral da série; 3) Estrutura narrativa do episódio; 4) Construção dos personagens; 5) Estrutura narrativa da série; 6) Argumento dos episódios; e 7) Desenvolvimento do roteiro. 3.3.1. ESTRUTURA Todo ato criativo é também um ato de estruturação. Em “O Mundo Colorido de Eva” cada episódio seguiu a seguinte estrutura: 1° Apresenta o tema em uma situação do cotidiano. (0’45’’) 2° Dúvida. (0’15’’) 3° Explicação. (1’30’’) 4° Situação cotidiana. (0’30’’) A estrutura da série foi planejada priorizando o dinamismo, garantindo flexibilidade criativa sem comprometer a identidade central da narrativa. Esse formato permite explorar a escrita dos episódios de forma livre, abordando o tema através de diversas situações do cotidiano. Assim, evita-se uma "fórmula fixa" e abre-se espaço para uma abordagem original e diversificada, que se ajusta às mensagens e temas de cada episódio. Outro aspecto relevante é que a idealização de “O Mundo Colorido de Eva” parte da premissa de que a série pode ser assistida fora da ordem numérica, o que a caracteriza como uma série procedimental. Esse termo, amplamente utilizado na internet, descreve séries nas quais cada episódio é autossuficiente, resolvendo um 'caso' ou tema específico dentro de sua narrativa. Assim, a estrutura dramática da animação foi planejada para que cada capítulo funcione de forma independente, abordando situações e temas variados, sem a necessidade de 33 um arco narrativo contínuo ao longo da temporada. Isso proporciona maior flexibilidade ao espectador, que pode acessar os episódios em qualquer ordem, sem perder a coesão ou o entendimento de cada história. Contudo, mesmo com episódios autônomos, há também um arco narrativo que se desenvolve ao longo da série, assim como ocorre nas séries procedimentais tradicionais. O arco da narrativa da primeira temporada é sobre a jornada do Biscoito em seu processo de autodescoberta. Ao longo dos episódios o protagonista vai se apaixonando por Bolacha e ao final se reconhece como gay. 3.3.2. A CONSTRUÇÃO DOS PERSONAGENS Os personagens são essenciais para a construção de uma história. Eles integram a unidade dramática ao serem os agentes que dão vida e movimento à narrativa. Como seres atuantes, os personagens geram a unidade primordial do drama: a ação. Sem a ação, não há história, e sem personagem não há ação. Na relação de dependência entre a unidade da ação e o personagem, construir um bom personagem é criar uma boa unidade dramática. Por isso este processo é para mim um dos mais importantes e prazerosos. Criar um personagem é imaginar o além do roteiro, criar entrelinhas que talvez ninguém nunca chegue a ler, é constituir uma pessoa através das palavras, é dar forma e consistência. Cada personagem nasce de necessidades distintas dentro de uma obra. Em meu processo criativo penso nesses agentes atuantes como uma peça dentro de uma engrenagem, cada um se posiciona e recebe uma função para fazer a ideia acontecer. Neste caso, ao construir os personagens, haviam duas funções a ser desempenhadas, o de ensinar e o de aprender. Em um primeiro momento atribuí, aquele que ensina ao Biscoito e aquele que aprende a Eva. A primeira ideia era que o Biscoito explicasse para a menina tudo sobre o seu mundo mágico, a vila dos doces, criando uma analogia à diversidade com o mundo real. A ideia primária para a construção dos personagens, assim como a série em um geral, apresentava duas problemáticas que me incomodaram: 1) Uma pessoa do gênero masculino explicando o mundo para uma menina; 2) Normalizar as identidades LGBTQIAPN+ apenas em um mundo imaginário. Por isso há um deslocamento das funções dos protagonistas. Com essa mudança, personagens foram agregados à narrativa, como é o caso das mães de Eva e Bolacha. 34 Eva, a protagonista, aquela que está ensinando o mundo para o Biscoito é uma homenagem a minha mãe. Construí a personagem com seu nome, traços físicos e alguns aspectos da sua personalidade, neste processo enviei algumas perguntas para ela e as suas respostas fizessem parte da Eva fictícia. Assim, criei uma personagem que gosta de vermelho, melancia e sorvete de morango. Outros personagens que se inspiram em pessoas que conheço e admiro são as mães de Eva. Enquanto Vera faz uma homenagem à minha tia, confeiteira, alegre e aquariana, Paula faz a minha professora de filosofia do ensino médio. Para o processo de construção deste projeto, adotou-se a técnica de criação da ficha de personagem, e foi feito através do preenchimento de um questionário dividido em três aspectos principais: 1) Básico; 2) Físico; e 3) Emocional/psicológico. As perguntas se baseiam nas ideias de Syd Field e seu esquema de desenvolvimento interno e externo do personagem. Além disso, foram agregados questionários de criação de personagens literários encontrados em alguns blogs de escrita. A junção desses dois referenciais me proporcionou um maior desenvolvimento. Vale ressaltar que apenas os protagonistas foram construídos a partir de um questionário com 3 aspectos, para os personagens secundários6 foi criado um questionário menor, apenas com informações básicas, uma sintetização. A seguir apresento um fragmento da ficha7 de Eva e Biscoito: A) Eva Nome: Eva Costa Sarmento Idade: 06 anos Local de nascimento: Curitiba - Paraná Localização atual: Curitiba - Paraná Profissão: Estudante Sua aparência é: Criativa e despojada; Palavra preferida: Porquê? Frases de efeito: “Isso já é outraaaa história e eu te conto outro dia” Necessidade dramática: Conhecer o mundo a sua volta Síntese personagem: Eva é uma criança muito curiosa e alegre, com uma mente criativa imagina diversos cenários e aventuras junto com Biscoito, em meio a suas brincadeiras mostra um pouco do seu mundo a Biscoito. 7 A ficha completa se encontra em anexo na apêndice inserida na bíblia da série. 6 A ficha dos personagens secundários se encontra em anexo no apêndice inserido na bíblia. 35 Características físicas: Tipo corporal: Pequena Pele: Negra Cabelo: Escuro e cacheado Olhos: Preto Características básicas: Onde vive: Eva vive em um bairro da zona sul de Curitiba, em um pequeno sobrado amarelo cheio de plantas na sacada. Sua rua é cheia de vida, jovens brincando na rua, pessoas correndo, praticando esporte, carros passando e cachorros correndo. B) Biscoito Nome: Biscoito Idade: 100 fornadas Local de nascimento: O mundo da imaginação. Localização atual: Supermercado Condor. Profissão: Não tem! Sua aparência é: Mutável e Divertida; Palavra preferida: Biscoito Necessidade dramática: Encontrar um lar e aprender sobre o mundo dos humanos. Síntese personagem: Biscoito, está na prateleira do supermercado há muito tempo esperando uma família que o leve para casa. Características físicas: Tipo corporal: Mutável, feito de polvilho. Cor: Marrom claro Formato: Variados, mas na maioria das vezes é um Biscoito redondo. Características básicas: Onde vive: Biscoito viveu a maior parte da sua vida em uma prateleira do supermercado. Após Eva escolher ele, ele passa a ter um lar. O processo de criação do Biscoito, foi o mais complicado. Em primeiro momento imaginei ele como alguém mais ranzinza e amargurado, alguém que criasse um contraponto a 36 Eva, para desenvolver uma dinâmica divertida e engraçada entre eles. As minhas referências eram a relação de Raiva e nojinho (Divertidamente), Timão e Pumba (O Rei Leão) e Lilo e Stitch (Lilo & Stitch). Após criar sua ficha e iniciar os roteiros percebi que o personagem não estava sendo escrito de acordo com as suas características, havia uma inconsistência no personagem. No roteiro, Biscoito se apresentava como alguém ingênuo, questionador e alegre, divergindo completamente do que tinha sido pensado inicialmente. Por isso desloquei a minha perspectiva do personagem e reescrevi a sua ficha. Deste modo, Biscoito ganha uma leveza e passa a ter como referência os personagens: Olaf (Frozen) e Linguado (A Pequena Sereia). 3.3.3. AMBIENTAÇÃO O local de uma história é uma unidade fundamental, o espaço define o ambiente, limita situações e possibilita que a ação aconteça. Toda ação acontece em um lugar. Nesta obra, os ambientes principais são: Casa da Eva, Quarto da Eva e Escola Arco-íris, estes espaços são os mais recorrentes ao longo da animação. Já como ambientes secundários, temos: MON8, sorveteria, cinema e mercado, são espaços que aparecem em apenas um episódio. Ao retratar pessoas LGBTQIAPN+ no cotidiano, optei por cenários que traduzem essa abordagem criativa: espaços comuns e frequentados por todos. A escolha desses ambientes busca reforçar a universalidade da experiência humana, mostrando que a vivência dessas pessoas é parte integrante e natural do tecido social diário. A ambientação é um aspecto relevante produzido pela escolha do espaço em uma narrativa audiovisual. Na busca de me colocar em meu produto escolhi a minha cidade natal como pano de fundo. Assim, Curitiba se torna a cidade onde se passa a história, representada através de pontos turísticos, como, o Museu Oscar Niemeyer, e seu clima de céu nublado, chuvoso e frio. 3.3.4. EPISÓDIOS As palavras nascem. A escrita dos episódios é o penúltimo processo da roteirização, nesta fase é o momento que surge uma definição palpável da ideia, materialização da construção dos personagens, do espaço-tempo e da ação. É nessa fase que os personagens nascem, os conflitos se estruturam e a narrativa se organiza de maneira sólida. 8 Museu Oscar Niemeyer. 37 A roteirização dos 14 episódios se deu ao longo de 7 meses, entre pesquisas, rascunhos e escrita. O processo não foi linear e os episódios não foram escritos em ordem. Pode parecer estranho não seguir a ordem lógica da sequência, mas isso me auxiliou na construção de um episódio procedimental, por isso muitas vezes retomo alguns conceitos trabalhados em episódios passados, explicando-os brevemente antes de seguir com o tema e explicação. A ordem dos episódios foram definidos após a finalização do 3° roteiro9. Antes de iniciar a escrita foram definidos os temas dos 14 episódios, após ver todos os conceitos que seriam abordados na animação, agrupei eles em blocos para definir a sua ordem. Alguns temas se relacionam e precisam de uma explicação prévia para entender outro, por isso agrupei os episódios que estavam interligados para criar uma sequência lógica. Para entender a assexualidade é preciso antes compreender as orientações sexuais e a atração, o mesmo vale para as questões de identidade de gênero e expressão, antes de explicar sobre isso achei necessário explicar primeiro sobre o sexo biológico, a fim de facilitar o entendimento. Esta etapa de organização da sequência foi realizada com ajuda visual, montei uma pequena ficha para cada episódio e os coloquei em um mural: Figura 6: Ficha dos episódios organizados em um quadro Fonte: Acervo pessoal Isso me ajudou a visualizar o arco narrativo do Biscoito e na construção do seu romance com o Bolacha ao longo dos episódios. Definido a sequência dos episódios, dei continuidade ao desenvolvimento dos roteiros. 9 Ordem de produção, não dá sequência presente na bíblia. 38 Figura 7: Processo de escrita Fonte: Acervo pessoal Os episódios foram construídos com base em uma lógica interna que reflete as nuances do cotidiano das pessoas LGBTQIAPN+. Ao demonstrar afeto, consumir cultura, brincar, antes de nascer e no trabalho, esses indivíduos passam por situações que transpassam diretamente a sua identidade, causando enfrentamento, desafios e tensões frente às normas da cisheteronormatividade. A seguir apresento uma tabela que categoriza esses momentos: Figura 8: Tabela de categorização dos episódios Fonte: Acervo pessoal 39 Além disso, apresento nessa tabela o ambiente em que essa situação surge, o objeto fomentador dessa discussão, e o que ele busca representar. Durante a escrita do roteiro senti a necessidade de fazer mais pesquisas sobre os assuntos abordados, especialmente aqueles que fugiam dos 4 eixos da sexualidade, como é o caso dos episódios10 4, 11, 12 e 13. O youtube, site orientando11 e o google, foram fundamentais para as pesquisas, me auxiliaram com o conhecimento necessário para desenvolver os episódios. No processo de escrita dos roteiros fiz uso de 3 ferramentas que me auxiliaram: 1) Bloco de notas para organizar as ideias e meu fluxo de pensamentos. 2) Papel para os momentos que me sentia bloqueado; 3) Celtx12 para a formatação e produção do roteiro. O Celtx foi fundamental para a realização deste projeto, a plataforma otimiza o tempo de escrita, facilitando a formatação do roteiro e agilizando o fluxo de trabalho. Figura 9: Layout do Celtx Fonte: Acervo pessoal Outro aspecto relevante é a visualidade e a sua relação com o roteiro. Há muitos assuntos nos episódios que precisam de ilustrações para o seu entendimento completo, assim a direção de arte com a sua construção imagética é extremamente fundamental para fazer o 12 Software de pré-produção voltado à organização e desenvolvimento de projetos audiovisuais, como roteiros, filmes, vídeos e documentários. 11 Site que tem como objetivo ensinar sobre os diversos termos e identidades, além de questões que cercam tais identidades. 10 Apesar da assexualidade estar presente nos 4 eixos da sexualidade, ao falar sobre o seu espectro e a diferença com a identidade arromântica senti dificuldades em explicar. 40 roteiro ser compreendido. É através da narrativa visual que surgiram os elementos explicativos, exemplificando de forma didática e lúdica. Para o episódio produzido, foi construído em conjunto com a direção de arte um roteiro da narrativa visual. Este guia foi produzido a partir do roteiro original a fim de auxiliar nos exemplos, foi feito em forma de lista em que cada ação ou elemento corresponde a uma fala diferente. Este processo é extremamente necessário para a animação de todos os roteiros. 3.3.5. REVISÃO Durante o processo de escrita, estamos sujeitos a cometer inúmeros erros, sejam eles de digitação, coerência narrativa, formatação ou até mesmo na construção da ideia. Revisar permite identificar essas falhas e aprimorar a coesão, a lógica e a qualidade do texto. A etapa de revisão precede a finalização do roteiro, através dela consegui identificar inúmeros pontos, como, problematizações, linguagem imprópria para o público alvo, erros de construção da narrativa e digitação. A maioria dos roteiros tiveram apenas 2 versões até a sua finalização, mas alguns chegaram até a sua 12° versão. A responsável pelas revisões e feedbacks de todos os episódios foi a Tainá Arcanjo, roteirista e pedagoga, essas características foram fundamentais, pois ela uniu seu conhecimento da área pedagógica com o da dramaturgia e roteiro, podendo assim me auxiliar no processo de revisão de forma assertiva. Além dela, houve 3 episódios que foram revisados pelo Davi Lucas, por se tratar de temas que tangem a transgeneridade. 41 CAPÍTULO IV DO ABSTRATO AO CONCRETO 42 4.1. PRODUÇÃO É preciso ir além do abstrato é necessário que se torne concreto! A área de produção é responsável por estruturar o projeto, cuidar do orçamento e financiamento, organizar e planejar a obra. Imagino essa área como o trabalho de um engenheiro, sem uma estrutura sólida e uma ótima fundamentação seu prédio cresce instável e inconsistente, o mesmo vale para um produto audiovisual. O audiovisual é coletivo, essa foi uma das primeiras lições que eu aprendi ao longo da minha experiência no audiovisual. toda a produção é feita em uma equipe e a escolha dela nos aspectos quantitativo e qualitativo colaboram para o resultado final. O processo de produção foi solitário e de muito planejamento, iniciei montando uma lista de possíveis pessoas para participar do meu trabalho e optei por uma equipe reduzida. Essa escolha reflete uma saturação e desgaste das atividades interdisciplinares do curso, trabalhos em equipe que geram conflitos e frustrações. A equipe reduzida possibilitou um maior controle das tarefas e a produtividade delas, em contrapartida houve sobrecarga e negligências em algumas áreas. A equipe se formou com 11 pessoas, sendo elas: Natália Sena, Gabriel Nogueira, Ana Luísa, Júlia Ferreira, Geovane Lopes, Davi Lucas, Valéria Masero, Gabrielle Cabral, Fábio Alves, Tainá Arcanjo e eu. A divisão entre as áreas se deu pela familiaridade de cada pessoa pela área, e ficou da seguinte forma: Natália Sena como animadora e editora; Gabriel Nogueira como editor; Ana Luísa e Júlia Ferreira como assistente de edição; Geovane Lopes como diretor de arte, Davi Lucas e Valéria Masero como ilustradores; Gabrielle Cabral como assistente de roteiro; Tainá Arcanjo como revisora do texto; Fábio Alves como assistente de direção, produção e som; E eu fiquei responsável pelo roteiro, direção e produção. O projeto teve 9 meses, contando com 2 meses de pré-produção, 6 meses de produção e 1 mês e meio de pós-produção. O cronograma inicial foi reajustado 3 vezes. Por ter as tarefas muito detalhadas, optei por um cronograma mais simples para não ter a necessidade de modificá-lo o tempo todo. Essa mudança causou uma desorganização nos detalhes das atividades e algumas tarefas foram feitas com prazos muito apertados, afetando diretamente o produto final. O tempo de produção foi muito curto e o meu método de produção não foi suficiente eficaz para superar esse empecilho. Essa falta se deve a alguns fatores externos como, trabalho e desmotivação. Outro aspecto relevante sobre o cronograma é a sua expectativa e realidade. O planejamento foi feito para que a produção fosse realizada da seguinte maneira: 43 Pré-produção 2 meses Abril e Maio Produção 2 meses Junho e Julho Pós-produção 3 meses Agosto, Setembro e Outubro Na realidade ocorreu da seguinte forma: Pré-produção 3 meses Abril, Maio e Junho Produção 4 meses Julho, Agosto, Setembro e Outubro Pós-produção 1 mês e meio Novembro e Dezembro A organização das tarefas foi feita a partir de um fluxograma para compreender a produção em todos seus processos, mapeando-os. Isso facilitou a tomada de decisões, minimizou o atraso e facilitou o planejamento. Figura 10: Fluxograma da produção geral Fonte: Acervo pessoal 44 Além do fluxograma geral foi realizado um para cada área de forma detalhada. Figura 11: Fluxograma do roteiro Fonte: Acervo pessoal Figura 12: Fluxograma da direção de arte Fonte: Acervo pessoal 45 Figura 13: Fluxograma do som Figura 14: Fluxograma da direção Fonte: Acervo pessoal Fonte: Acervo pessoal “O Mundo Colorido de Eva” não teve nenhum orçamento e todos os gastos com transporte e alimentação saíram do meu bolso e não foram contabilizados. Por se tratar de animação, houve apenas gravações de dublagem que ocorreu em dois dias nos estúdios de Rádio da Unesp. As gravações tiveram muitos problemas técnicos devido a estrutura e equipamentos do estúdio, no primeiro dia o áudio ficou com ruídos e clipou, por isso tive que marcar uma nova gravação. No segundo dia de gravação, o ruído continuou, mas não clipou13. As gravações foram marcadas através do whatsapp com as pessoas dubladoras e pessoalmente para a reserva do estúdio. 13 É quando a gravação é feita num volume muito alto, e fica com alguns picos de saturação. 46 4.2. DIREÇÃO DE ARTE Da palavra nasce a imagem. Dentro do processo de produção audiovisual, a visualidade e tudo aquilo que a compõem é fundamental para o produto. Com o poder de construir realidades, exprimir emoções e se comunicar de forma universal, a visualidade é tão potente que cria discursos sem fazer o uso da palavra. Neste projeto, por se tratar de uma animação, a direção de arte foi fundamental, pois para além da identidade visual, paleta de cores, figurinos e fontes, essa área ficou responsável por desenvolver e desenhar todos os cenários, objetos cênicos, personagens e movimentos. A equipe foi composta por 3 pessoas: Geovane Lopes como o diretor de arte, Davi Lucas e Valéria Masera como pessoas ilustradoras. Em todo o processo foram mais de 3 reuniões gerais [com toda a equipe], 2 reuniões individuais com cada pessoa ilustradora e mais de 10 encontros com a direção de arte e a sequência do trabalho foi: 1°) Definição da identidade visual, estilo de desenho e traço; 2°) Produção das pranchas para localizar as pessoas ilustradoras e identificar a animação e personagens; 3°) Criação do Storyboard, a fim de facilitar a montagem e ilustração; 4°) Separação de desenhos, quantificação e distribuição das ilustrações; 5°) Processo de Ilustração; 6°) Produção da logo. 4.2.1. IDENTIDADE VISUAL Nas imagens nasce uma identidade. Em meio a um universo de estilos, traços, cores, texturas e conceitos, a definição é algo imprescindível da visualidade. É na seleção cuidadosa entre o caos de possibilidades que se constrói uma personalidade, capaz de se distinguir e comunicar sua singularidade. A identidade visual, aquilo que identifica o produto em meio às criações, tornando-o não apenas visível, mas significativo, gera uma conexão profunda com quem observa. Em “O Mundo Colorido de Eva” a identidade visual ficou nas mãos do Geovane Lopes, diretor de arte brilhante e criativo que criou e desenvolveu toda a visualidade no sentido de: Paleta de cores, texturas, logo, definição de estilo e traço, fontes, moodboard e storyboard. No conceito do que tange as cores, optamos por cores suaves, diferentes e harmônicas para representar a diversidade e a convivência pacífica. A coloração, aquarelada e os tons pasteis, criaram uma atmosfera leve, acolhedora e alegre, indo de encontro com a necessidade do público alvo. 47 Desta forma, a paleta de cores surgiu, buscando suavizar e confortar o olhar do espectador, e se definiu da seguinte maneira: Verde Claro [#9BFAB0], Azul claro [#8BA9FA], Vermelho [#FA533B], Amarelo [#FAE466] e Roxo [#CEA5FA]. No que diz respeito ao processo, fizemos uso do programa Adobe Colors e sua ferramenta círculo cromático, através dela foi possível visualizar as cores e também mudar a tonalidade e brilho de forma mais simples. Figura 15: Paleta de cores Fonte: Acervo pessoal Como nada surge do nada, as referências de traço de desenho, visualidade e conceito ficaram por conta das pranchas. As pranchas são uma colagem de referências para situar uma pessoa dentro de um fragmento das infinitas possibilidades da arte. O processo de produção das pranchas ocorreu em uma reunião muito divertida, regada a fofoca, reflexões e troca de referências culturais, ao todo foram feitas 4 pranchas, sendo elas: Animação no geral, primeiro episódio e dos personagens Eva e Biscoito. Através do After Efects, foram recortadas imagens, - retiradas da internet -, que simbolizam e representam cada uma das pranchas. 48 Figura 16: Prancha geral Fonte: Acervo pessoal Figura 17: Prancha do primeiro episódio Fonte: Acervo pessoal Heartstopper, a história em quadrinho, foi a principal referência estética no que diz respeito ao traço e desenho, já as cores foram de fontes diversas, como, O ursinho pooh, Hilda, Caillou e O pequeno urso. Na prancha dos personagens, para além de referências visuais, há imagens que buscam traduzir a personalidade e identidade. Na criação da visualidade da Eva, me inspirei 49 na minha mãe, e por isso a personagem se construiu da seguinte forma: Pele negra, cabelo cacheado, ama vermelho e melância. Figura 18: Prancha da Eva Fonte: Acervo pessoal Figura 19: Prancha do Biscoito Fonte: Acervo pessoal Outro aspecto imprescindível de uma identidade visual é sua logo, imagem estática que faz alusão ao produto, resumindo a obra e sintetizando a visualidade em uma única imagem. 50 Nesta animação, a logo se deu da seguinte forma: Primeiramente tínhamos uma ideia de trazer diversas texturas, formas e objetos, criando uma colagem com um planeta e a Eva, feitos de papelão, E.V.A e outros materiais. As letras com o nome da animação seriam feitas de barbante com cores fechadas. A ideia era digitalizar todos os materiais e fazer uma montagem do logo através do Ilustrator. Mas o computador do Geovane Lopes parou de funcionar e era o único meio de se conectar com a sua impressora (infelizmente ele não tinha mais o CD de instalação da impressora). Por conta disso, recalculamos rotas e o logo ficou definido como a versão final na figura 20. Em seu processo de produção o Geovane Lopes fez uso do Ilustrator, através dele foi possível desenhar a logo. No planeta, utilizamos uma imagem da internet como molde e a Eva, foi feita com o referencial das ilustrações do Davi Lucas. Ao final mantivemos as formas da ideia, mas não a seu estilo e textura. Figura 20: Logo da animação colorida Fonte: Acervo pessoal Figura 21: Logo da animação em preto e branco Fonte: Acervo pessoal 51 Figura 22: Hex das cores e fontes utilizadas na logo Fonte: Acervo pessoal 4.2.2. ILUSTRAÇÃO Da forma, nasce a vida. A ilustração dá origem a um mundo animado, onde o desenho atua como uma ponte entre as ideias abstratas e a realidade tangível, revelando, moldando e criando a visualidade que dá significado ao invisível. Neste projeto, a ilustração ficou responsável por desenvolver os cenários, objetos cênicos e personagens, sendo distribuído a equipe da seguinte forma: 1) Davi Lucas como ilustrador dos personagens Eva e Biscoito, - 22 desenhos a serem produzidos no total -; 2) Valéria Masero como ilustradora do todo o cenário, objetos cênicos e dos demais personagens, totalizando 28 desenhos a serem criados. O processo se deu através de software Procreate. Foi uma jornada solitária, em que o meu papel foi apenas aprovar e auxiliar nas dúvidas e questionamentos, enquanto o Davi e a Valéria produziam os desenhos. Esta etapa foi a mais complicada, não tinha controle da situação e muito menos conhecimento técnico para solucionar os problemas da forma mais eficaz. Os problemas que aconteceram, surgiram por falta de conhecimento técnico de desenho para animação, eu como diretor não sei nada sobre desenho e o mais difícil foi explicar e transmitir como deveria ser produzido, a fim de facilitar a edição. Minha sorte foi que pessoas extremamente talentosas preenchiam as lacunas da minha falta de conhecimento. 52 Para facilitar o desenvolvimento das ilustrações, após algumas reuniões e pesquisas, criei um pequeno manual com: a descrição do desenho a ser realizado, os fonemas, a dimensão do desenho, o storyboard e as pranchas, procurei ser o mais metódico possível para garantir um bom resultado. Figura 23: Manual da ilustração Fonte: Acervo pessoal As ilustrações dos cenários e objetos cênicos foram fundamentais para atingir um objetivo do roteiro, localizar a história no espaço. Destaco aqui 2 deles, o pinhão e o MON, Museu Oscar Niemeyer. Esses dois desenhos simbolizam e identificam, definindo o espaço da animação como Curitiba, Paraná. Figura 24: Ilustração do MON Figura 25: Ilustração do Pinhão Fonte: Acervo pessoal [ilustrado por Valéria Masero] 53 Em uma tentativa de regionalizar a animação busquei elementos que representassem a minha cidade natal. O pinhão simbolizando o Pinheiro do Paraná, culturalmente conhecido na região e o Museu Oscar Niemeyer identificando o público através de um ponto turístico da cidade. [A não escolha do óbvio, que seria representar a cidade através do Jardim Botânico, se justifica em uma localização de maneira sutil, sem que isso afete o público em relação a universalidade da história, além de subjetivamente gostar mais do Mon.] Para além desses cenários e objetos, outros foram desenvolvidos: Figura 26: Cenários ilustrados Fonte: Acervo pessoal [ilustrado por Valéria Masero] Figura 27: Fundos ilustrados Fonte: Acervo pessoal [ilustrado por Valéria Masero] 54 Figura 28: Objetos ilustrados Fonte: Acervo pessoal [ilustrado por Valéria Masero] A ilustração dos personagens foi o trabalho mais complicado no que diz respeito aos desenhos, eles passaram por inúmeras transformações até chegarem a versão final. As formas ao transmitir personalidades e sutilezas subjetivas, torna o trabalho da tradução das palavras, características abstratas, em uma readequação através da forma. E de formas em formas alcançamos os seguintes resultados: Figura 29: Evolução no processo de desenvolvimento da Eva Fonte: Acervo pessoal [ilustrado por Davi Lucas München14] Figura 30: Evolução no processo de desenvolvimento do Biscoito Fonte: Acervo pessoal [ilustrado por Davi Lucas München15] 15 Exceto o primeiro desenho que foi produzido pela Valéria Masero. 14 Exceto o primeiro desenho que foi produzido pela Valéria Masero 55 Figura 31: Evolução no processo de desenvolvimento do Bolacha Fonte: Acervo pessoal [ilustrado por Valéria Masero] As principais mudanças ocorreram no Biscoito, personagem que em suas definições não estavam apresentadas de forma consistente no roteiro e ficha do personagem. O que eu pensava dele e o que ele era de fato, eram pontos divergentes, isso influenciou muito na sua construção imagética. Podemos observar que enquanto eu o definia como um personagem, ranzinza e desbocado, ele se apresentava de uma forma grosseira, mas ao deslocar a visão dele para um personagem inocente e alegre, ele ganha outros detalhes que o suavizam. Outro aspecto importante a mencionar na mudança do formato do personagem do Biscoito, é a sua evolução de biscoito humanoide para um biscoito redondo. Essa escolha se deu pelo processo de produção, o personagem da Bolacha foi desenhado depois de algumas versões do Biscoito, e foi feito por outra pessoa ilustradora, assim ao colocar lado a lado os desenhos me causou estranhamento um Biscoito humanoide com uma Bolacha, foi preciso colocar os dois no mesmo universo imagético, assim o biscoito em formato de humano se transformou no biscoito comum. Isso ajudou a ressaltar a brasilidade e a identificação. 4.2.3. STORYBOARD O pensamento do movimento, eu chamo de desejo. O storyboard organiza uma montagem, coloca a imagem lado a lado, criando um movimento primitivo da animação e situa o editor. É um roteiro de imagens do que pode ser seguido, em minhas palavras o pensamento do movimento. Este processo de todo o TCC foi o mais divertido, um momento de reconectar com velhos amigos, colocar as ideias no lugar e “groselhar” muito com o Geovane Lopes, responsável por desenhar todo o storyboard a mão. 56 Figura 32: Processo de produção do Storyboard. Figura 33: Processo de produção do Storyboard. Fonte: Acervo pessoal Figura 34: Processo de produção do Storyboard Fonte: Acervo pessoal Durante a produção, usamos papel, lápis grafite, lápis de cor e canetinhas, foi um trabalho manual, enquanto Geovane Lopes desenhava, eu como uma criança arteira ficava 57 pintando [curioso como isso me remete a minha infância me fazendo lembrar da minha mãe e tia]. Ao todo foram mais de 6 encontros, em média de 4h cada, com muito café, cigarros, bolos, fofocas e salgados. Depois de 24h de trabalho o resultado foi o seguinte16: Figura 35: Fragmentos do Storyboard Fonte: Acervo pessoal 16 Foram selecionadas apenas alguns trechos do storyboard para o corpo do relatório. O storyboard completo se encontra anexado no apêndice. 58 4.3. DIREÇÃO DE ELENCO Toda vida tem alma e toda alma é composta por teatralidade. A atuação é uma mimese da realidade, mais que isso, é o ato de recriação através da sensibilidade subjetiva. Seja através da voz ou do corpo, o ser atuante é indispensável e o papel do diretor de elenco é fundamental nesse processo, pois é a função dele dar apoio, suporte e direção para o desenvolvimento da personagem. A atuação é alma, é corpo, é voz. Na dublagem, a atuação se dá apenas através da voz, uma tarefa muito difícil pois se perde todas as expressões e reações corporais do artista, mas por outro lado é um processo simplificado da preparação pois o mais importante é trabalhar apenas um aspecto da atuação. No processo da direção de elenco, construí alguns exercícios teatrais para o desenvolvimento da voz e construção das personagens. Realizei a preparação com a Yasmin e o Leonardo em 1 dia, como não houve testes para o elenco, foi de extrema importância este encontro, pois auxiliou na sintonia entre os atores, criação das personagens e o desenvolvimento vocal. Ao todo foram 10 exercícios e todos eles foram realizados pensando em desenvolver aspectos diferentes da atuação e dublagem, sendo 6 deles para voz e os outros no que diz respeito a atuação e criação do personagem. Os exercícios para a dicção e projeção da voz foram: Respiração pelo diafragma, falar “S”, fazer movimentos de mastigação, falar “O” e “A” em looping, trava-língua e falar texto com uma caneta na boca. Os outros 4 exercícios foram mais fundamentais para a atuação, eles provocaram os atores e instigaram a construir a voz e o subtexto [aquilo que não é dito] de cada personagem. Esses exercícios foram inventados por mim em uma tentativa de auxiliá-los no processo, utilizando como referência Viola Spolin. 1) “Fale como um…”, consistia em atribuir aos atores uma figura, seja humano, objeto ou animal e eles deveriam falar criando uma nova entonação para cada um dos personagens. Através disso foi possível deixar o elenco mais solto e confortável, além de desenvolverem uma entonação para os personagens; 2) Leitura com intenção. Cada pessoa recebe inicialmente uma intenção para colocar no texto e depois lê o trecho de um roteiro. A atividade auxilia no trabalho com as emoções; 3) Leitura com mudanças. Exercício similar ao anterior, a pessoa recebe um comando para mudar de intenção. Exemplo: Começa feliz, mas recebe um comando para mudar para raiva. 59 4) Improvise de acordo com o seu personagem. As duas pessoas do elenco receberam as fichas dos personagens e em seguida receberam alguns comandos de cenas, o objetivo é improvisar as situações de acordo com os personagens, Eva e Biscoito. No dia da dublagem os exercícios foram repetidos com todas as pessoas do elenco e tivemos uma diária muito animada e divertida por conta das brincadeiras cênicas. A escolha do elenco se deu através do meu dia a dia, durante os 4 primeiros meses de produção procurei pela Eva, Biscoito e Bolacha em todas as pessoas que eu tive contato. Pra mim quando se está procurando por atores, eles te encontram de um modo sutil, em um gesto, uma fala, um entonação de voz ou até mesmo no modo como se coloca no mundo. Assim, neste projeto não fui eu que encontrei o elenco, foram eles que me encontraram, cada um a seu modo. O personagem Eva, foi selecionado a partir da personalidade e sede de curiosidade pelo mundo que encontrei na Yasmin Moscoski, na época minha amiga do trabalho. Ela é uma pessoa super espontânea e carismática, em um dia estava subindo as escadas para entregar uma premiação e a forma como ela disse o seu discurso e se posicionou depois dele me chamaram a atenção e me fez ter certeza que ela seria a pessoa ideal para o papel. A escolha do dublador do Biscoito foi mais difícil pela inconsistência na criação do personagem, isso levou mais tempo para que eu conseguisse encontrá-lo. No primeiro momento com o Biscoito sendo ranzinza e irônico, pensei em uma voz mais grave, a fim de subverter o estereótipo do homem gay, mas após o deslocamento da visão sobre o personagem e algumas conversas com o Fábio Alves, decidi por uma suavização na voz. Então o que seria: Biscoito como Giovanni Gustavo e Bolacha como Leonardo Souza, passou a ser o contrário. E mesmo com as alterações, ao meu ver, houve uma subversão do estereótipo. Figura 36: Foto da primeira gravação 60 Fonte: Acervo pessoal Figura 37: Foto do segundo dia de gravação [Leonardo, Yasmin e Giovanni respectivamente] Fonte: Acervo pessoal 61 4.4. EDIÇÃO Da vida ao movimento. A edição dá o impulso, um pulo para o mundo físico, o que antes era um pé se transforma em uma caminhada, o que era estático passa a ser inquieto, enérgico, móvel. Em palavras menos filosóficas, é através da edição que cria-se ritmos, monta-se uma ordem de figuras, significa uma sequência de cenas e cria-se uma ambientação através de sentidos, com a visualidade e sonoridade. Alguns acreditam que esta área é a manipulação da realidade, para mim é a movimentação imagética em um sentido significativo do real. A produção de “O Mundo Colorido de Eva” se dividiu em 3 partes: 1) A animação, responsável por dar movimento aos personagens, incluindo a dublagem e o logo; 2) Montagem, responsável por colocar em ordem cronológica o movimento dos personagens, cenários e objetos cênicos; 3) Finalização, responsável pelos efeitos, suavização de movimentos, transições e sons de fundo. O processo de edição foi composto por 4 pessoas: Natália Sena, Gabriel Nogueira, Júlia Ferreira e Ana Luísa. A animação dos personagens ficou por conta da Natália Sena, assim como uma parte da montagem; A outra parte da montagem e a finalização foi de responsabilidade do Gabriel Nogueira, além de animar a logo e produzir os créditos. Nesta etapa, fizemos uso de diversos softwares de edição, como, Audition, After Effects, Premiere, DaVinci Resolve e Character animator. Sendo o último citado ser a ferramenta para animar os personagens e produzir o movimento dos fonemas em cada personagem. Figura 38: Processo de animação da Eva através do Character animator Fonte: Acervo pessoal 62 Figura 39: Processo de animação do Biscoito através do Character animator Fonte: Acervo pessoal O DaVinci foi utilizado através da sua aba fusion para animar alguns personagens e a aba edit para fazer alguns ajustes na camada. Figura 40: Processo de animação através do DaVinci Fonte: Acervo pessoal A área de edição foi a mais prejudicada com o atraso do cronograma, por isso no momento em que escrevo este relatório a animação ainda não foi finalizada e ainda não cheguemos no processo de montagem, a expectativa é que o produto tenha sua primeira versão até dia 7 de dezembro e a sua entrega final seja realizada no dia 10 de dezembro. 63 CAPÍTULO V O FIM 64 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A jornada do herói chega ao fim. Todo personagem que move o mundo da ação, possui um arco narrativo que o leva a uma transformação interna, ao mesmo tempo que ele impacta a narrativa e constroi os atos também produz transformações externas. Em minha jornada ao idealizar “O Mundo Colorido de Eva” foi um momento de autodescoberta. Todo processo criativo envolve um mergulho em si, seja no modo como você articula os pensamentos durante a escrita ou como as palavras que você utiliza te representam. E neste processo subjetivo descobri: a sensibilidade, o lúdico, o simples e o descomplicado, revivi a minha criança interior para ela brincar com as palavras e imaginar um outro mundo. Construir um mundo é sempre complicado, às vezes foge palavras, em outras foge a ação e por muitas vezes a definição. Amarrar uma história, criar narrativas secundárias, conter o fluxo do pensamento e construir os personagens foram os meus maiores aprendizados neste processo de autodescoberta. O personagem não é aquilo que a gente imagina dele, mas sim a ação que ele faz no papel, o que a gente escreve dele. No processo prático foi fundamental a visualização de todos os episódios em fichas pela praticidade em se ter o escrito nas mãos, o uso delas facilitaram o processo de escrita, organização e construção da narrativa final. Outra ferramenta essencial foi o Celtx para a otimização de tempo e formatação dos roteiros. As considerações finais deste trabalho ultrapassam a análise do produto em si, ao destacar a produção de sentido possibilitada pela narrativa de Eva. Este projeto oferece uma representação imagética de pessoas LGBTQIAPN+ no contexto do universo infantil, promovendo um discurso contra-hegemônico que busca proporcionar às crianças um primeiro contato com essas identidades, livre de preconceitos e violências. A discussão sobre esses temas se torna ainda mais relevante diante do crescimento do conservadorismo no Brasil e dos índices de violência enfrentados pela população LGBTQIAPN+. Educar, debater e incluir questões de gênero e sexualidade no cotidiano educacional e cultural é uma responsabilidade essencial, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa. É fundamental que esse papel seja assumido por instituições formais de ensino, assim como a mídia, pela produção artística e pelas famílias, ampliando os horizontes de diálogo e conscientização desde a infância. Vale destacar que há uma lacuna significativa na produção de conteúdos audiovisuais voltados ao público infantil que abordam a temática LGBTQIAPN+. Essa escassez reflete não apenas um vazio criativo, mas também um reflexo das barreiras impostas por contextos 65 sociais conservadores que dificultam a inclusão de narrativas que normalizam e representam essas identidades de maneira positiva, - como a Disney -. A ausência de tais produções limita o acesso das crianças a conteúdos que possam ampliar sua compreensão sobre diversidade e inclusão, reforçando estereótipos e invisibilidades. Por isso, iniciativas que busquem preencher essa lacuna são essenciais para o avanço em direção a uma sociedade mais igualitária e respeitosa. Partindo do princípio de que tudo é político, entende-se que o audiovisual é também uma ferramenta de contestação e ideologia. Neste contexto, a criação de uma narrativa LGBTQIAPN+ através deste projeto configura-se como um ato político e ideológico, posicionando-se em uma arena de disputa simbólica que busca não apenas contestar, mas ressignificar identidades historicamente marginalizadas. Assim, o trabalho não apenas narra uma história, mas se compromete com a transformação cultural e social. Portanto, desejo que o mundo se torne cada vez mais colorido. 66 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Estética: lições sobre a filosofia da arte. Trad. Marco Aurélio Werle. São Paulo: Editora UNESP, 2001. BUCKINGHAM, David. Crescer na era da mídia: educação para a mídia no século XXI. São Paulo: Loyola, 2007. COMPARATO, Doc. Roteiro: os segredos da escrita para cinema e televisão. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. GOMES, Mônica Leila; AVANZINI, Jussara Mendonça. Infância, cultura e educação: a imagem das crianças nas instituições escolares. Perspectiva, Florianópolis, v. 33, n. 1, p. 93-112, 2015. HALL, Stuart. Culture, Media and Language: Working Papers in Cultural Studies, 1972-79. London: Routledge, 1980. MARTÍN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. 2. ed. Rio de Janeiro: UFRJ, 2001. THOMAS, Frank; JOHNSTON, Ollie. 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Tradução de Maria Helena Chaves. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2020. BUTLER, Judith. Problemas de Gênero: Feminismo e subversão da identidade. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. Referência: PELÚCIO, Larissa. Queer call-out: O cuier como uma aliança teórica e política. Revista Contemporânea: Revista de Sociologia da UFSCar, v. 10, n. 1, p. 125-151, 2020. Disponível em: https://repositorio.unesp.br. TERRA. Bullying homofóbico colabora com evasão escolar, diz Unesco. Disponível em: https://www.terra.com.br/noticias/educacao/bullying-homofobico-colabora-com-evasao-escol ar-diz-unesco,17b942ba7d2da310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html. Acesso em: 27 nov. 2024. SAMUEL, Ginger. The Genderbread Person v4. It’s Pronounced Metrosexual, 2018. Disponível em: https://www.itspronouncedmetrosexual.com/2018/10/the-genderbread-person-v4/. Acesso em: 2 dez. 2024. CELTX. Celtx: tools for media pre-production. Disponível em: https://www.celtx.com/. 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