UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Instituto de Biociências, Câmpus de Botucatu Departamento de Ciências Humanas e Ciências da Nutrição e Alimentação CHLOE BARBOSA TEIXEIRA GABRIEL NEGRI SOLCE THIAGO BLANCO PARRA FURLAN VITÓRIA CATHERINE RIMOLDI A MÚSICA COMO FERRAMENTA DE CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE O USO DE DROGAS: UMA ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR ENTRE ARTE E CIÊNCIA Orientador: PROF. DR. ANDRÉ SANTACHIARA FOSSALUZA Botucatu 2024 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Instituto de Biociências, Câmpus de Botucatu Departamento de Ciências Humanas e Ciências da Nutrição e Alimentação CHLOE BARBOSA TEIXEIRA GABRIEL NEGRI SOLCE THIAGO BLANCO PARRA FURLAN VITÓRIA CATHERINE RIMOLDI A MÚSICA COMO FERRAMENTA DE CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE O USO DE DROGAS: UMA ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR ENTRE ARTE E CIÊNCIA Orientador: PROF. DR. ANDRÉ SANTACHIARA FOSSALUZA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto de Biociências, Campus de Botucatu, UNESP, para obtenção do título de Licenciado(a) em Ciências Biológicas. Botucatu 2024 AGRADECIMENTOS Primeiramente, agradecemos à Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” por nos fornecer todo o conhecimento necessário para a realização deste trabalho. Agradecemos especialmente ao professor André Santachiara Fossaluza por todas as orientações e pelo apoio, tanto para este projeto quanto para nossa formação e também expressamos nossa gratidão aos Professores Especialistas em Currículo (PEC) da Diretoria de Ensino - Região de Botucatu, Vinicius Gonçalves Gil de Oliveira e Rafael Guerreiro Seraphim pela contribuição para o nosso projeto e para a elaboração da sequência didática. Chloe Barbosa Teixeira Agradeço à minha família – Ana Elisa, Severino, Andrea e Carol – por me proporcionarem a oportunidade de estar nesta universidade e por sempre me apoiarem, independentemente das minhas escolhas. Agradeço à Fabricia e ao Zé (vulgo: Carlos Eduardo) por serem minha família e apoio sem ser de sangue. Agradeço também às minhas amigas Bruna, Débora, Elis, Ana Beatriz e Mariana, com quem tive o privilégio de crescer, por me incentivarem e inspirarem a evoluir constantemente. Agradeço à República Trinkdas, que foi meu primeiro lar em Botucatu. Que me acolheu e me ensinou muito sobre convivência e amizade. Sou especialmente grata às minhas veteranas Gabriela Formoso, Gabriella Simião, Gabriela Loria, Julia Peres, Ana Lívia Marques e Eduarda Araújo, que, além de me darem muitos puxões de orelha, também me deram muito amor e companheirismo. Às minhas coleguinhas - Isabela e Bárbara- que estiveram comigo desde o início, em especial à Isabela Carrara, que veio comigo de Santa Cruz do Rio Pardo para trilharmos esse e outros caminhos, que viram, juntas. Agradeço ao Grupo de Estudo em Animais Selvagens (GEAS), ao Programa de Educação Tutorial (PET-CBB) e ao Departamento de Parasitologia, que contribuíram para meu crescimento pessoal e profissional, me tornando uma pessoa e futura bióloga melhor. Sou grata aos meus grandes amigos, que estiveram ao meu lado nos momentos bons e ruins, me apoiando nos momentos difíceis e tornando meus cinco anos de faculdade mais leves: Ana Carolina Gaspar, Gabriel Rocha e todos Bolsisters, Karen Andrade, Isabella Guimarães e as “bixinhas”, meus amigos do Licenciatures , Rafael Moraes, Michele Leite e Ellen Maia. Em especial, agradeço a alguém muito importante, que está ao meu lado todos os dias desde o início – o que começou com um encontro ao acaso em uma festa se transformou na maior parceria que eu poderia ter: Lívia Bakanovas, minha melhor amiga, companheira, cúmplice e roommate. Você me mostra todos os dias o valor de uma amizade sincera e é alguém que sempre quer me ver brilhar, e a sua felicidade é a minha felicidade. Minha vida é muito melhor com você. Por fim, agradeço aos meus colegas de TCC - Gabriel, Thiago e Vitória - pela realização deste projeto e pela parceria durante a graduação. Gabriel Negri Solce Gostaria de começar os agradecimentos deste trabalho e da graduação em geral evidenciando a importância da minha família neste período de formação acadêmica. Agradeço meu pai, Renato, e minha mãe, Gisele, por me apoiarem em todas as decisões e momentos difíceis nesta caminhada! Vocês contribuem em cada passo meu e sem vocês eu não seria ninguém nesta jornada. Agradeço também ao meu primo/irmão, Mateus, que foi um ombro amigo e uma válvula de escape para os desafios que enfrentei nos últimos anos. Aos meus avós, Carmo (in memoriam) e Emília (in memoriam), pais do meu pai, que infelizmente não puderam me ver ingressando na faculdade, mas tenho certeza que estão me vigiando no plano superior. Agradeço a minha avó, Teresinha, que me apoia diariamente nas lutas que tivemos que travar juntos e ao meu avô, Eduardo (in memoriam), o homem mais inteligente que eu já conheci. Minha família é tudo para mim! Falando em família, não poderia deixar de lembrar da República Xilindró, que me acolheu do melhor jeito desde meu primeiro dia em Botucatu. Dentro desta família, me desenvolvi pessoalmente com a ajuda de cada integrante que já passou por essa república, proporcionando experiências que nunca imaginei. Gostaria de citar aqueles que eu morei junto e sempre vou carregar no peito como irmãos pra vida inteira: Júlio (Lombriga), Leonardo (Tortuga), Tiago (Muralha), Lucca (Marrone), Pedro (Choku), Gustavo (Teto), Vinícius (Mudante), Gabriel (Pirubalde), Gustavo (Barata), Leonardo (Ppkinha), Caian (Bond), Marcelo (Gru), Enzo (Para sempre), Gabriel (Arroba), Vitor (Tomole), Diógenes (Menage), Samuel (Metatarso), Anderson (Tosobrio), Bruno (Corta), Pedro (Mataboy), Kauã (Marx), Vinícius (Puritano) e Henrique (Papão). Cada um contribuiu de uma maneira para a formação da minha pessoa e não irei esquecer de vocês! Por fim, mas não menos importante, agradeço aos amigos de graduação da turma LVI que levarei para vida inteira, em especial a Vitória e o Thiago, que compartilham este TCC comigo e que compartilharam momentos inexplicáveis, me acolhendo nos tempos difíceis e dividindo as mais sinceras alegrias, seja quando estávamos desesperados com a faculdade, nas mais loucas festas que fomos juntos ou neste final de curso que me emociona muito em lembrar o que já passamos juntos. Sem vocês a graduação não faria o menor sentido e com certeza não conseguiria ter completado! Obrigado a todos. Thiago Blanco Parra Furlan Em primeiro lugar, agradeço à minha base e aos pilares do meu caráter e educação: minha família. Rosana e Gilberto, meus pais, pelo amor mais lindo do mundo, que sempre cultivou em mim o carinho, a gratidão, o respeito e, principalmente, a minha essência! Obrigado por sempre me apoiarem, dos sonhos mais malucos às ideias mais concretas. Vó Isabel, Vô José (in memoriam) e Vó Lucinha (in memoriam), pelos olhares mais carinhosos e orgulhosos do mundo inteiro, e por me abençoarem todos os dias, especialmente aí de cima, como sou feliz em ter vocês. Para Tia Ana, Tio Rick e Tio Rê, agradeço a preocupação e o amor que transpõe todas as barreiras e que, mesmo de longe, fizeram a diferença na minha caminhada. Agradeço à minha segunda família, a República Kapim Kanela, por ser o meu lar ao longo desses cinco longos (mas muito ligeiros) anos, sendo o meu ombro amigo, o colo e a luz nos dias mais nublados, trazendo os maiores aprendizados de toda a minha trajetória. Vocês me conheceram como o Panturrilha e por muitas vezes até me fizeram esquecer qual era meu verdadeiro nome, mas quem realmente ganhou nessa caminhada toda foi o Thiago, que cresceu, evoluiu e amou demais, cada um de vocês, à sua maneira. Levo de todos um ensinamento: do Raul, a paciência; do Caíque, o foco; do Lucas, a evolução; do João Tiago, o carinho; do Gabriel, o companheirismo; do Luiz, o empenho; do Vinicius, a responsabilidade; do Caio, a alegria; do Diego, a maturidade; do Eduardo, a calma; do Rafael, a bondade; do Henrique, a leveza; do João Vitor, o riso; do Gustavo, o otimismo; do Lucas Duarte, a confiança e da Dona Michele, levo comigo um misto de todos esses sentimentos e agradeço por ser minha segunda mãe, me acolhendo como sua família todos os dias, um laço que como o de todos os meninos, levarei para vida. Sem qualquer um de vocês, estar escrevendo isso hoje seria impossível. Sou grato às minhas irmãs de coração: Victória, Manoela e Giovana, por serem meu conforto e porto seguro desde os tempos de colégio, me acolhendo toda vez que o caminho se estreitava, com os melhores conselhos, conversas e abraços, além de me darem as asas necessárias para voar tão longe; e aos amigos de infância Guilherme e Talita, pela leveza e alegria de todos os encontros. Vocês todos me lembram sempre de quem sou e o grande caminho que escolhi seguir, longe de Piracicaba, mas sempre pertinho de vocês! Agradeço, em especial, àqueles amigos que cultivei ao longo desses anos de graduação e sei que vou colher os frutos para a vida toda: Chloe, Gabriel e Vitória, em especial esses dois últimos, os quais, além de dividirmos e tornarmos mais felizes os dias e as memórias da turma LVI, também embarcaram comigo na construção desse projeto tão lindo; à Virgínia e Camila, por me acolherem tão bem no começo da minha trajetória em Botucatu e me arrancarem os mais belos sorrisos e risadas genuínas; aos queridos Igor, pelas descontrações e Miguel, pois para além das vivências, pensou comigo no pontapé inicial desse projeto, quando nem ao menos imaginava que seria de fato um; e à Vitória Lopes e Ana Beatriz, que, mesmo não dividindo a Biologia, dividiram momentos especiais que levarei no meu coração para sempre. Meu agradecimento especial vai para a Melina, que me iluminou desde o dia em que a conheci e que me faz repensar como era minha vida enquanto estávamos longe e o que seria dela se não tivéssemos cruzado o caminho. É sobre um encontro de outras vidas, uma conexão espiritual e uma amizade tão bonita. De você, sempre me lembrarei mais. Vitória Catherine Rimoldi Agradeço em primeiro lugar às mulheres da minha vida: minha mãe Maria e minha tia Amélia, pela minha origem, educação, força e determinação. Vocês batalharam para que eu estivesse dentro de uma universidade pública e possibilitaram que esse sonho fosse possível, acreditando em mim e estando ao meu lado sempre, sem vocês eu nada seria e nada disso teria se concretizado. Ao meu companheiro, Lucas, agradeço por ser a pessoa que tanto me ensina, me incentiva, me faz confiar mais em mim e sonhar mais alto. Com você aprendo todos os dias sobre o amor, gratidão por tanto! Gostaria também de agradecer à República Mash, que foi meu lar durante os primeiros anos da graduação e onde pude conhecer e conviver com mulheres incríveis e fortes, aprendendo a cada dia sobre parceria, respeito, coletividade e sobre mim mesma. Agradeço em especial às minhas amigas Natália, Luiza e Ana Clara, que sempre me fizeram sentir em casa e à Julia, que me acolheu antes mesmo de saber que eu viria pra Botucatu e sempre se fez presente, me salvando diversas vezes nesses últimos anos. Também agradeço aos meus irmãos, Thiago e Rodrigo, por me inspirarem e torcerem por mim e à minha cunhada Camila, que me auxiliou e me apoiou desde que me entendo por gente. Meu agradecimento especial vai para a minha sobrinha, Sofia, que me motiva a ser uma pessoa e profissional melhor, amo acompanhar seu processo de desenvolvimento. Não poderia deixar de agradecer ao Grupo de Estudos em Biologia Marinha (GEMAR) e ao Grupo de Estudos em Biodiversidade (GeBio) por contribuírem tanto para o meu crescimento como bióloga. Agradeço também aos diversos colegas que conheci nesses grupos e com quem pude trocar tanto conhecimento e experiências, agregando muito ao meu futuro profissional, vocês foram uma parte importante da minha trajetória. E por fim, agradeço aos amigos que estiveram comigo durante todos esses anos de graduação e com quem tive o privilégio de desenvolver esse trabalho: Chloe, Gabriel e Thiago. Em especial ao Gabriel e ao Thiago, que foram meus maiores parceiros durante o curso e estiveram sempre comigo, tanto nos momentos lindos quanto nos momentos difíceis, tornando essa jornada mais leve e especial. Vocês foram essenciais nesse processo e sempre lembrarei com carinho desses anos ao lado de vocês. A MÚSICA COMO FERRAMENTA DE CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE O USO DE DROGAS: UMA ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR ENTRE ARTE E CIÊNCIA RESUMO Vários fatores contribuem para o uso de drogas entre os(as) adolescentes, incluindo aspectos sociais, familiares, emocionais e culturais. Nesse contexto, é essencial que os(as) educadores(as), em conjunto com a escola, atuem por meio de um processo de sensibilização, oferecendo informação, conhecimento e orientação aos(as) adolescentes. Nesse sentido, a música pode ser vista não somente como um recurso didático, mas também, numa abordagem interdisciplinar, crítica e transformadora, como um objeto do conhecimento do componente curricular de Arte, visando potencializar e aprofundar o processo de ensino-aprendizagem de conteúdos curriculares de outras áreas do conhecimento. Dito isso, este trabalho objetivou desenvolver uma proposta pedagógica contextualizada e interdisciplinar para a conscientização de estudantes do Ensino Médio acerca do uso de drogas, além de analisar os conteúdos específicos sobre o tema abordados no Material Digital, produzido pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, e nos documentos curriculares utilizados no Ensino Médio das escolas públicas estaduais paulistas. Analisou-se a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e o Currículo Paulista e, a partir das lacunas encontradas nesses documentos, propôs-se o desenvolvimento de uma sequência didática baseada na Pedagogia Histórico-Crítica. A análise do Material Digital evidenciou uma abordagem descontextualizada e ameaçadora ao tratar o tema “Drogas”; a pesquisa feita no Currículo Paulista e na Base Nacional Comum Curricular revelou um tratamento superficial do tema. Em resposta a essas limitações, construiu-se uma proposta pedagógica que utiliza a música, por meio do rap e do funk, entre outros gêneros musicais possíveis em contextos diferentes, para estimular o pensamento crítico e promover uma compreensão integral e contextualizada do tema por estudantes do Ensino Médio. Entendemos a sequência didática proposta neste trabalho como uma ferramenta conscientizadora e adaptável que pode ser utilizada por professores(as) em diferentes realidades escolares, com a possibilidade de diálogo com outros componentes curriculares, numa perspectiva interdisciplinar. Palavras-chave: Sequência didática; Interdisciplinar; Drogas; Ensino de Biologia; Música. MUSIC AS A TOOL TO RAISE AWARENESS ABOUT DRUG USE: AN INTERDISCIPLINARY APPROACH BETWEEN ART AND SCIENCE ABSTRACT Several factors contribute to drug use among adolescents, including social, familial, emotional, and cultural aspects. In this context, it is essential for educators, in collaboration with schools, to engage in a process of awareness-raising by providing information, knowledge, and guidance to adolescents. In this sense, music can be viewed not only as a didactic resource but also, from an interdisciplinary, critical, and transformative approach, as an object of knowledge within the Art curriculum component, aiming to enhance and deepen the teaching and learning process of curricular content from other areas of knowledge. That said, this study aimed to develop a contextualized and interdisciplinary pedagogical proposal to raise awareness among high school students about drug use, as well as to analyze the specific content on the topic addressed in the Digital Material produced by the São Paulo State Department of Education and in the curricular documents used in public high schools in São Paulo State. The analysis included the Common National Curricular Base (BNCC) and the São Paulo Curriculum, and based on the gaps identified in these documents, a didactic sequence was developed based on the Historical-Critical Pedagogy approach. The analysis of the Digital Material revealed a decontextualized and intimidating approach to addressing the topic of "Drugs," while the research on the São Paulo Curriculum and the BNCC highlighted a superficial treatment of the subject. In response to these limitations, a pedagogical proposal was created that utilizes music—through genres such as rap and funk, among others—to stimulate critical thinking and promote a comprehensive and contextualized understanding of the topic among high school students. We understand the didactic sequence proposed in this study as an awareness-raising and adaptable tool that can be used by teachers in diverse school settings, allowing for dialogue with other curricular components from an interdisciplinary perspective. Key words: Didactic sequence; Interdisciplinary; Drugs; Biology Teaching; Music. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO................................................................................................................ 12 2. OBJETIVOS.................................................................................................................... 18 3. METODOLOGIA............................................................................................................. 18 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................................................ 20 4.1. Análise do Material Digital da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo e dos documentos curriculares................................................................................................... 21 4.2. Análise do Currículo Paulista e da Base Nacional Comum Curricular......................... 24 4.3. Proposta pedagógica para a conscientização dos(as) adolescentes do Ensino Médio sobre o uso de drogas........................................................................................................ 24 5. CONCLUSÃO.................................................................................................................. 36 6. REFERÊNCIAS.................................................................................................................38 ANEXO 1........................................................................................................................... 42 ANEXO 2........................................................................................................................... 45 1. INTRODUÇÃO Através das vivências proporcionadas pelos Estágios Supervisionados Obrigatórios em escolas públicas, componente curricular essencial nos cursos de licenciatura, tivemos a oportunidade de observar como a temática “Drogas” é desenvolvida com os(as) estudantes do Ensino Médio. Em diversas situações, o assunto surgia espontaneamente nas conversas em sala de aula, com os(as) alunos(as) frequentemente fazendo piadas ou comentando de forma aberta sobre o uso de substâncias. Tendo passado por essa etapa como estudantes e, agora, como estagiários(as), percebemos o quanto o tema é comum e próximo da realidade de muitos(as) estudantes; porém, raramente vimos uma abordagem pedagógica mais aprofundada e crítica em sala de aula que tratasse o assunto para além dos estigmas socialmente existentes numa sociedade desigual quanto à classes sociais, gênero e raça, entre outras. Observamos também que, nas Aulas de Trabalho Pedagógico Coletivo (ATPCs), onde professores(as) e coordenadores(as) discutem questões pedagógicas e comportamentais, o tema das drogas é constantemente mencionado. As discussões costumam resultar em medidas punitivas ou corretivas – como chamar os pais, mães ou outras pessoas responsáveis, advertir os(as) alunos(as) e até envolver a polícia –, ao invés de gerarem projetos pedagógicos que promovam uma discussão mais complexa e educativa sobre o assunto. Nesses encontros, raramente surgem ideias para lidar com o tema em sala de aula de forma prática e contextualizada. Nesse sentido, dentre as abordagens teóricas que consideram a educação como um processo contínuo de formação humana, a Pedagogia Histórico-Crítica (PHC) apresenta uma base teórica fundamentada na dialética do conhecimento. Essa teoria busca uma abordagem educativa que vá além da simples transmissão de conhecimentos, visando à formação integral do indivíduo e à sua inserção ativa na dinâmica social. Seu principal fundamento reside na compreensão de que a educação não é um processo isolado, mas sim uma mediação dentro da prática social que inclui a produção em cada indivíduo singular a humanidade que é produzida historicamente pelo conjunto dos homens (Saviani, 2014). Assim, baseia-se em uma metodologia que integra a prática social e a construção de saberes escolares, estimulando a iniciativa dos alunos sem suprimir a do(a) professor(a). Nessa pedagogia, o papel do(a) professor(a) é essencial em todo o processo de aprendizagem, 12 partindo da premissa de que o ensino envolve uma desigualdade inicial: o(a) professor(a), como detentor(a) do conhecimento sistematizado, utiliza os recursos pedagógicos para reduzir essa desigualdade, promovendo o avanço dos(as) alunos(as) do conhecimento sincrético, fundamentado na prática social, para um conhecimento sintetizado, que une o científico ao social. Assim, compreender o contexto social dos(as) alunos(as) é crucial para a PHC, que vê a educação não como um processo isolado, mas como uma mediação entre a prática social e o conhecimento científico, com o objetivo de construir uma sociedade democrática e politicamente educada. Nesse sentido, a PHC atua como uma teoria da educação que possibilita trabalhar os problemas atuais da sociedade, identificando suas raízes históricas, a realidade do(as) aluno(as) e as consequências do problema na vida individual e coletiva, transformando, assim, a prática social dos indivíduos. A partir desse contexto, um dos desafios da sociedade que pode ser trabalhado em sala de aula a partir da Pedagogia Histórico-Crítica é a conscientização sobre o uso de drogas. Segundo a Agência IBGE Notícias1, pelo menos 13% dos(as) estudantes escolares de 13 a 17 anos já utilizaram algum tipo de droga ilícita, como maconha, cocaína, crack ou ecstasy, tornando esse fenômeno não apenas um problema individual, mas também um reflexo de questões sociais mais amplas, como marginalização, falta de perspectivas e pressões externas, especialmente numa das sociedades mais desiguais como a brasileira, seja devido à classe social, gênero ou raça. Nesse sentido, a PHC propõe uma abordagem que não apenas lida com as consequências imediatas do uso de drogas, mas também identifica o contexto de surgimento e desenvolvimento deste problema, enfrentando-o de forma crítica e responsável Nesta faixa etária, assume-se a necessidade do tratamento deste assunto, uma vez que os(as) adolescentes são considerados(as) vulneráveis, pois é neste período que desenvolve-se no indivíduo a necessidade de se encaixar em determinado ciclo social, necessidade da sensação de prazer, diminuição da angústia e do estresse ou simplesmente para ter uma nova experiência, segundo o artigo "Principles of Adolescent Substance Use Disorder Treatment: A Research-Based Guide” (National Institute on Drug Abuse, 2014). Estes pressupostos devem ser considerados essenciais na conscientização sobre o uso de drogas 1 Fonte: Seis em cada dez estudantes haviam experimentado bebida alcoólica na pré-pandemia. Acesso em: 27 nov. 2025 13 https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/31580-seis-em-cada-dez-estudantes-haviam-experimentado-bebida-alcoolica-na-pre-pandemia#:~:text=13%25%20dos%20escolares%20de%2013,privada%20(11%2C4%25) por adolescentes, bem como em políticas públicas, projetos educativos e materiais didáticos presentes na escola. Segundo a Pedagogia Histórico-Crítica, é na escola, principalmente, que o indivíduo adquire os conhecimentos científicos sistematizados historicamente, ou seja, cabe aos(às) trabalhadores(as) desta instituição compartilhar conteúdos de base científica, em diálogo com a realidade concreta, sobre essas substâncias com os(as) alunos(as), pois ao desenvolverem o senso crítico, podem discernir o que é ou não é proveitoso à saúde e ao futuro de cada um(a) deles(as). Nesse sentido, os componentes curriculares de Ciências e Biologia, no Ensino Fundamental e Médio, respectivamente, são pilares fundamentais na educação em saúde pela inclusão deste movimento na escola e em seu currículo, segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação 5.692/71 (atualizada pela Lei 9.394/96) e a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 1996) (BRASIL, 2018). Ainda, em relação ao método de ministrar estes conhecimentos científicos, vale ressaltar que as escolas usam os livros didáticos como um suporte educacional, pois, estes deviam conter as informações necessárias para o(a) aluno(a) acompanhar e compreender as aulas. Olhando por esse viés, seria necessário e proveitoso que esses materiais trouxessem informações satisfatórias sobre drogas ilícitas (Rabello; Chabes; Lages, 2019). Porém, ao analisarem os materiais didáticos utilizados no Ensino Fundamental - Anos Finais e Ensino Médio, Teodoro et al. (2017), afirma que em 90% desses o tema “drogas” é abordado de forma superficial, sendo que em 54,17% há citações isoladas sobre estas substâncias, utilizando boxes de leituras extras, ou seja, não há presença de nenhum capítulo específico sobre drogas, assunto de extrema importância nesta fase do desenvolvimento humano. Dito isso, entendemos ser necessário que os materiais didáticos na área de Ciências da Natureza abordem o tema das drogas de forma menos superficial ou moralista, mostrando de maneira científica e social os malefícios das drogas ilícitas na vida das pessoas. O ensino do tema integrado às questões do cotidiano ajudaria os(as) estudantes a entender os malefícios e as consequências do uso de entorpecentes, assim como os(as) ajudariam a se proteger das drogas. Além dos materiais didáticos regularmente utilizados nas escolas, é relevante considerar projetos como o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (PROERD), realizado pela Polícia Militar, que atuam diretamente no combate contra as drogas, principalmente na faixa etária dos adolescentes. O objetivo do PROERD é prevenir 14 o uso e abuso de drogas, através da orientação e conscientização dos efeitos provocados pela dependência de substâncias químicas, sejam elas lícitas ou ilícitas. Para atingir seus objetivos, o programa traz uma série de ações preventivas contra as drogas, utilizando de iniciativas em conjunto com a família, estudantes e professores, por meio de brincadeiras e palestras, as quais são realizadas por policiais militares2. Em primeira instância, o objetivo proposto pelo projeto aparenta ser efetivo ao abranger as diversas esferas descritas anteriormente, porém, é de conhecimento geral que o uso e abuso de drogas na adolescência ainda é uma grande problemática em nosso país, visto que, segundo a Secretaria Nacional Antidrogas (Senad)3, por exemplo, em seus dados estatísticos sobre o uso de drogas psicotrópicas, aponta que entre os(as) estudantes do Ensino Fundamental e Médio das 27 capitais brasileiras, a idade relatada para o primeiro uso de crack é de 13,8 anos. Além disso, é importante relevar a limitação e as problemáticas oriundas da atuação de uma instituição militar no ambiente escolar, haja vista a própria cultura de repressão e violência dessas organizações e a ausência de formação pedagógica dos agentes policiais que realizam as atividades educativas. Nesse sentido, visamos desenvolver uma nova estratégia para a conscientização dos(as) adolescentes sobre o uso de drogas, por meio da aproximação deste público à arte, com a utilização de gêneros musicais; neste caso, optamos pelo “rap” e o “funk”, gêneros musicais que, de acordo com o jornal Estadão4, 69% dos(as) adolescentes de até 18 anos afirmam ter uma grande tendência a gostar destes gêneros musicais. Esses dados evidenciam uma oportunidade de articulação da música para a conscientização sobre o uso de drogas, com a possibilidade de promover uma abordagem interdisciplinar. A escolha do tema se fundamenta na necessidade de uma abordagem mais acessível e envolvente para o público adolescente do Ensino Médio. Dado o cenário educacional descrito no Material Digital do Estado de São Paulo, no Currículo Paulista e na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), onde o tema das drogas, em nossa análise, é tratado de forma superficial, alarmista e pouco interativa, a música surge como uma alternativa potente para preencher as lacunas deixadas por essas abordagens convencionais, que pouco conversam com seu público. 4 Fonte: Rap, funk, pop e sertanejo são os gêneros mais ouvidos em 5 escolas públicas de SP. Acesso em: 27 nov. 2024 3 Fonte: 40% dos viciados começam a se drogar antes dos 12. Acesso em: 27 nov. 2024. 2 Fonte: O que é o PROERD. Acesso em: 27 nov. 2024. 15 https://www.estadao.com.br/emais/comportamento/rap-funk-pop-e-sertanejo-sao-os-generos-mais-ouvidos-em-5-escolas-publicas-de-sp/?srsltid=AfmBOop3UrMfhGSh8-E9bQk-E0l-Nm9P3dMtfLFg7SkIgVlWvZ-KcWEG https://www.saopaulo.sp.gov.br/spnoticias/na-imprensa/40-dos-viciados-comecam-a-se-drogar-antes-dos-12 https://www.policiamilitar.sp.gov.br/unidades/cpam2/proerd.htm#:~:text=O%20que%20%C3%A9%20o%20PROERD&text=O%20PROERD%20%C3%A9%20um%20programa,de%20policiais%20fardados%20e%20professores A música, especialmente em gêneros como rap e funk, se faz presente como um canal expressivo e culturalmente significativo para a faixa etária infanto-juvenil, atuando como uma linguagem acessível que facilita a comunicação, o entendimento de temas mais complexos e consequentemente favorece o processo de ensino-aprendizagem (Correia, 2010). Utilizar a música no contexto de conscientização sobre o uso de drogas permite que a mensagem alcance os(as) alunos(as) de maneira menos repressiva e alarmante e mais reflexiva, promovendo uma conexão com suas vivências e realidades sociais, à luz da PHC. Ao integrar a Arte e a Biologia, por exemplo, esta abordagem permite o desenvolvimento de práticas pedagógicas interdisciplinares, necessárias para discutir não apenas os aspectos fisiológicos das drogas, mas também suas implicações sociais, emocionais e culturais. Além disso, o uso da música contribui para um ensino mais crítico e participativo, alinhando-se às demandas de um currículo mais humanizado (em contraponto com a superficialidade do Material Digital) e que dialogue diretamente com os interesses e contextos sociais dos(as) alunos(as). Dito isso, a intenção ao usar do artifício da interdisciplinaridade entre Ciência e Arte é superar a fragmentação histórica e a divisão rígida do conhecimento que permeiam o ensino tradicional. Esta divisão, que reflete o modelo industrial e a organização parcializada do trabalho, posiciona o conhecimento em compartimentos estanques e alienantes, como destacado por Frigotto (2008) e Almeida Filho (1997). A interdisciplinaridade emerge, nesse contexto, como uma alternativa que propõe uma formação mais integrada e flexível, a qual não busca eliminar as disciplinas, mas, como sugere Follari (1995), aprimorá-las por meio de uma integração que possibilita um entendimento mais amplo e crítico da realidade, promovendo, assim, uma formação integral do ser humano. Nesse sentido, a interdisciplinaridade entre os componentes curriculares de Arte e Biologia oferece oportunidades únicas para os(as) alunos(as) explorarem as interconexões entre diferentes áreas do conhecimento. Por exemplo, ao estudar os efeitos das drogas no corpo humano e em sua vida social, os(as) alunos(as) podem não apenas aprender sobre os aspectos biológicos, mas também explorar como esses efeitos são representados na arte e na cultura. Essa abordagem ampliada não só enriquece a experiência educacional dos(as) alunos(as), mas também os(as) capacita a enfrentar desafios complexos de maneira mais abrangente e criativa. Assim, ao integrar a arte e a ciência no ensino sobre o uso de drogas, a PHC pode promover uma educação mais completa e significativa, capacitando os(as) 16 estudantes a compreender e enfrentar os desafios de forma mais eficaz em suas vidas e em suas comunidades. Para iniciarmos o trabalho e conhecermos propostas didáticas já elaboradas acerca da temática, realizamos uma revisão bibliográfica na qual utilizamos como base de dados o Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Limitamos a busca a artigos publicados a partir de 2018, ano de implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e definimos as seguintes palavras-chave: “Droga” E “Sequência Didática”; “Droga” E “Interdisciplinar”; “Droga” E “Ensino de Biologia”; “Droga” E “Ensino Médio”; “Droga” E “BNCC”; “Droga” E “Currículo Paulista”; “Droga” E “Educação Básica” e “Droga” E “Escola”. Com os resultados das oito buscas, quantificamos os artigos encontrados e realizamos uma análise qualitativa preliminar para verificar a relevância dos conteúdos em relação ao tema do trabalho (Tabela 1). Tabela 1. Levantamento bibliográfico na plataforma Periódicos CAPES Palavras-chave utilizadas na busca Quantidade de artigos "Droga" e "Sequência didática" 1 "Droga" e "Ensino Médio" 2 “Drogas” e “Ensino de Biologia” 2 “Droga” e “Escola” 28 “Droga” e “Interdisciplinar” 78 “Droga” e “Ensino interdisciplinar” 0 “Droga” e “BNCC” 0 “Droga” e “Currículo Paulista” 0 TOTAL 111 Fonte: Elaborada pelos(as) autores(as). Essa busca visou reconhecer a produção acadêmica relacionada à temática e evidenciou uma escassez de estudos a partir do ano de 2018, com uma pequena quantidade de artigos relevantes para esta pesquisa, indicando que recentemente esse assunto não está sendo discutido e difundido cientificamente. Ressaltamos o fato de que a maior parte de 17 artigos relacionando “Drogas” e “Interdisciplinar” dizem respeito a uma quase totalidade de temáticas relacionadas aos “remédios” (ou “fármacos”) e não propriamente sobre as drogas de abuso, que são o foco principal da nossa pesquisa. Essa breve análise também evidenciou uma limitação de abordagens mais aprofundadas de caráter histórico, cultural e social, fugindo da complexidade que o tema exige em nossa sociedade atual. Diante desse cenário, propusemos uma nova abordagem sobre o tema "drogas", com uma proposição didática que se comunique de forma mais eficaz com o público infanto-juvenil, utilizando a música como uma alternativa de facilitação do processo de ensino-aprendizagem. Por meio de uma sequência didática, buscamos preencher lacunas deixadas por habilidades e competências inexistentes, bem como por programas educacionais que não refletem adequadamente a sociedade e o contexto social dos(as) alunos(as) do ensino médio em escolas públicas do estado de São Paulo. 2. OBJETIVOS O objetivo principal deste estudo é desenvolver uma proposta pedagógica contextualizada e inovadora acerca da conscientização sobre o uso de drogas para estudantes do Ensino Médio, especialmente da rede pública estadual. Para tal, visamos elaborar uma proposta interdisciplinar entre os componentes curriculares de Biologia e Arte, promovendo uma integração entre a música, enquanto linguagem artística, e os conteúdos curriculares da Biologia, em diálogo com a realidade concreta dos(as) estudantes. Além disso, é objetivo específico deste trabalho analisar os conteúdos específicos relacionados à temática abordados no Material Didático Digital, produzido pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (SEDUC), e nos documentos curriculares, no caso, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e o Currículo Paulista, utilizados no Ensino Médio do estado de São Paulo. 3. METODOLOGIA Esta é uma pesquisa qualitativa na qual buscamos compreender aspectos da realidade que não podem, necessariamente, ser quantificados (Minayo, 2002). Nosso estudo objetiva investigar como o ensino sobre drogas se dá nas escolas públicas do estado de São 18 Paulo, a fim de, com os resultados, desenvolver uma proposta didática baseada na interdisciplinaridade e fundamentada na Pedagogia Histórico-Crítica. Definimos que o nosso estudo seria voltado ao Ensino Médio das escolas públicas do estado de São Paulo e, para compreender a abordagem atual do tema, analisamos a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e o Currículo Paulista, documentos curriculares que estabelecem as competências, habilidades e objetos de conhecimento a serem trabalhados em todas as escolas estaduais durante a educação básica. Além disso, é importante destacar que as escolas públicas estaduais no estado de São Paulo, atualmente, contam com o Centro de Mídias de São Paulo, plataforma que agrega materiais didáticos produzidos pela Coordenadoria Pedagógica (COPED) da SEDUC. Nessa plataforma, os(as) professores(as) encontram apresentações de slides elaboradas para cada aula, indicando os conteúdos que devemos ser trabalhados, assim como a sua sequência. A análise documental dos materiais indicados acima foi realizada tendo como base os fundamentos Pedagogia Histórico-Crítica (PHC), a qual serviu como referencial teórico para avaliar como acreditamos que deveria se desenvolver a sequência didática. Nesta etapa, buscamos analisar como os conteúdos relacionados à temática “drogas” são abordados nos diferentes componentes curriculares, com especial atenção a Biologia. Após a análise dos documentos curriculares e dos materiais didáticos elaborados pela SEDUC, desenvolvemos um instrumento pedagógico interdisciplinar para conscientizar os(as) alunos(as) sobre o uso de drogas. Esse instrumento combina conteúdos curriculares de Biologia — incluindo Fisiologia Humana e os efeitos das drogas no organismo — e de Arte, explorando gêneros musicais como o rap e o funk para uma abordagem prática e envolvente. Esta sequência didática foi elaborada com base na abordagem da Pedagogia Histórico-Crítica (PHC), teoria desenvolvida prioritariamente por Dermeval Saviani (Saviani, 1984). A PHC valoriza o ensino de conteúdos escolares clássicos, enfatizando sua relevância, significado e contextualização social. Para elaborar essa sequência didática, seguimos as etapas fundamentais da PHC, iniciando com a prática social, que consiste na problematização da realidade vivenciada pelos(as) estudantes. Em seguida, avançamos para a teorização, que permite o desenvolvimento de conhecimentos científicos e culturais relacionados ao tema. Finalmente, avançamos para uma nova prática social, integrando o conhecimento adquirido e suas aplicações, de modo a promover uma aprendizagem significativa que prepare os(as) 19 estudantes para o exercício pleno da cidadania e para a transformação crítica de sua realidade social. Dessa forma, o material didático foi analisado e reconfigurado com base nos fundamentos da PHC, buscando uma abordagem educativa que alia teoria e prática, problematiza o contexto social e incentiva uma compreensão crítica do uso de drogas, suas implicações e suas raízes históricas e sociais. Isso não apenas potencializa a aprendizagem, mas também fomenta a formação integral dos(as) alunos(as), preparando-os(as) para interagir de maneira ativa e consciente na sociedade. Neste trabalho, entendemos a sequência didática como um conjunto de atividades organizadas de forma estruturada e articulada, visando promover o ensino de um conteúdo específico. Ela é planejada de maneira a facilitar o aprendizado dos alunos, respeitando um princípio e um fim claros, tanto para o professor quanto para os alunos. De acordo com (Ugalde, 2020), a sequência didática envolve atividades que permitem a construção gradual do conhecimento, com desafios progressivamente maiores. Esse método busca não apenas garantir a compreensão de conteúdos, mas também formar cidadãos críticos e transformadores da sociedade. Para que a sequência seja eficaz, ela deve ser centrada no aluno, utilizando atividades práticas, lúdicas e diferenciadas, que contemplem o conhecimento prévio do aluno e o estimulem a refletir e aprofundar seu aprendizado, com o objetivo de garantir uma aprendizagem significativa e eficiente. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Para cumprir com os objetivos do trabalho, inicialmente procuramos desenvolver uma análise documental do material digital utilizado nas escolas de São Paulo, identificando em qual série do Ensino Médio e de que forma é feita a abordagem sobre o uso de drogas, sendo este o primeiro tópico dos nossos resultados. Diante do cenário encontrado, em seguida à análise deste material, apresenta-se uma sequência didática como forma de prática pedagógica contextualizada e inovadora, baseada na PHC, para abordar a conscientização sobre o uso de drogas. Neste tópico, encontra-se uma abordagem dos componentes e informações necessárias para o desenvolvimento desta proposta, um quadro da sequência didática e a descrição detalhada de cada momento. 20 A sequência sugerida é estruturada em 10 aulas de 45 a 50 minutos, distribuídas em 5 blocos, aqui chamados de momentos, considerando que cada um deles contará com duas aulas consecutivas. Ao longo desse processo, transita-se entre entre as diversas etapas da didática PHC (prática social inicial, problematização, instrumentalização, catarse e prática social final)5. É importante ressaltar que a sequência didática elaborada é vista como uma sugestão, e não como um instrumento que deve ser utilizado de forma acrítica e descontextualizada pelo professor(a). Entendemos o trabalho docente como uma prática profissional crítica e reflexiva, sendo atribuição do(a) professor(a), entre outras, selecionar conteúdos, metodologias e objetivos apropriados à sua realidade concreta, em diálogo com a legislação pertinente. 4.1. Análise do Material Digital da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo e dos documentos curriculares A análise do Material Digital elaborado pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (SEDUC) para a 1ª, 2ª e 3ª séries do Ensino Médio, ao longo de 2023 e 2024, trabalha o tema de forma superficial, em nossa análise, aspecto que dificulta a formação crítica e contextualizada dos(as) alunos(as) em relação ao uso de drogas. Esse cenário reflete lacunas significativas, tanto na frequência com que o tema é trabalhado quanto na forma com que é abordado, o que dialoga com a problemática central deste trabalho, que visa explorar o uso da música e a abordagem pela PHC como proposta pedagógica interdisciplinar para abordar o tema de maneira mais educativa e contextualizada. No quadro abaixo (Quadro 1), apresentamos o levantamento das aulas que abordam o tema “Drogas” no Ensino Médio no Material Digital. É essencial destacar que a temática é somente abordada no 4º bimestre da 2ª série desta etapa da educação básica. Quadro 1. Mapeamento das aulas que abordam o tema “Drogas” Aula Título Conteúdo 5 A seleção dos conteúdos e métodos de ensino propostos para cada aula foi realizada de forma colaborativa, em reuniões e debates com especialistas dos componentes curriculares de Biologia e Arte, em parceria com a Diretoria de Ensino - Região de Botucatu. 21 Aula 5 Como que as drogas podem afetar o sistema nervoso ● Sistema Nervoso ● Tipos de drogas ● Como as drogas impactam o sistema nervoso Aula 6 Dependência de substâncias ● Sistema de recompensa cerebral ● Dependência química Aula 7 Drogas lícitas: Tabaco e nicotina ● Perigo do tabagismo e cigarro eletrônico ● Vulnerabilidade dos jovens a modismos Aula 8 Perigos do consumo abusivo de cafeína e energéticos ● Efeitos da cafeína no sistema nervoso ● Energéticos e cafés Fonte: Elaborada pelos(as) autores(as). Ao longo da 1ª série do Ensino Médio, não há qualquer menção ou título de algum assunto que poderia ser usado para relacionar ou gerar discussões sobre o uso de drogas neste material digital. Somente no segundo semestre da 2° série do Ensino Médio que encontramos conteúdos que abordam o uso de drogas lícitas e ilícitas, porém, na série seguinte, mais uma vez o assunto de drogas não é sequer mencionado, o que indica uma ausência sistemática da abordagem deste tema essencial para a educação em saúde, evidenciando uma lacuna no currículo que impede a continuidade e a profundidade da reflexão dos(as) estudantes. Essa ausência se manifesta na falta de oportunidades para que os(as) alunos(as) desenvolvam um entendimento crítico sobre o impacto das drogas em contextos sociais, biológicos e psicológicos. Como dito anteriormente, o tema das drogas é tratado apenas no 4º bimestre da 2ª série do Ensino Médio, mas de forma pontual e com um viés predominantemente alarmista. O conteúdo relativo às drogas foi localizado apenas em quatro aulas específicas, a partir da quinta aula do semestre, as quais foram analisadas, sob o viés da PHC, para entender como é tratado esse assunto nas salas de aula. Na aula 5, que possui a temática: "Como as drogas podem impactar o sistema nervoso”, aborda-se o funcionamento do sistema nervoso e neurotransmissores, os tipos de drogas e como elas afetam esse sistema. No entanto, a abordagem é negativa, focando nas consequências extremas do uso de drogas, sem considerar uma discussão equilibrada ou reflexiva, o que pode limitar a capacidade dos(as) alunos(as) de relacionar o conteúdo a suas próprias experiências e contextos. 22 Em relação a aula 6, nomeada como “Dependência de substâncias”, é explorado o sistema de recompensa cerebral e a dependência química. Ainda que apresente informações importantes, a abordagem se concentra em alertar sobre riscos, deixando de lado uma perspectiva educativa que promova discussões sobre fatores que levam à dependência e estratégias de prevenção ou reflexão crítica. Na terceira aula da sequência didática proposta no Material Digital (Aula 7), o tema central são as drogas lícitas (tabaco e nicotina). Discute-se o tabagismo e os perigos do cigarro eletrônico, começando com uma notícia alarmante sobre um jovem que perdeu parte do pulmão por uso de vape. O tom de alerta usado nesta aula reflete um enfoque sensacionalista que busca assustar em detrimento de conscientizar, o que pode prejudicar a criação de um vínculo entre o problema e a prática social do(a) estudante, pressuposto básico para o desenvolvimento de uma aula crítica e um ambiente de diálogo. Por fim, na aula 8, que aborda os perigos do consumo abusivo de cafeína e energéticos, ocorre a exposição dos efeitos da cafeína no sistema nervoso e discussão do uso de energéticos entre jovens. Esta aula repete o enfoque de perigo extremo, deixando de lado uma análise mais equilibrada que considerasse, por exemplo, o uso consciente de substâncias comuns no cotidiano dos(as) estudantes. Dito isso, a análise do material revela uma abordagem fragmentada e pontual do tema das drogas, com foco excessivo em efeitos negativos e situações extremas, o qual reflete uma tendência moralista e ameaçadora. Essa abordagem pode comprometer o engajamento dos(as) estudantes e reduzir a relevância do conteúdo no contexto social e cultural deles(as), impedindo que desenvolvam um entendimento amplo e crítico sobre o tema. Dessa forma, a maneira como o material digital aborda as drogas pode distanciar os estudantes do processo de conscientização necessário, ao tratar o tema sem conexão com a realidade cotidiana e os fatores contextuais que envolvem o uso de substâncias. Esse cenário evidencia a necessidade de uma abordagem mais conectada e interdisciplinar, como a proposta deste trabalho, que visa à utilização da música (rap e funk) para integrar a biologia e a arte na conscientização sobre o uso de drogas. Ao explorar esses gêneros musicais, espera-se promover um ambiente educacional que dialogue com as vivências dos estudantes e permita uma reflexão mais rica, alinhada aos objetivos de uma educação crítica e significativa conforme fundamentado pela PHC. 23 4.2. Análise do Currículo Paulista e da Base Nacional Comum Curricular Segundo o caderno de habilidades do Currículo Paulista (São Paulo, 2023), ao considerarmos tanto os materiais de formação quanto as habilidades propostas, observamos uma abordagem superficial do tema "álcool e drogas", presente em apenas uma habilidade (EM13CNT207), que visa: Identificar, analisar e discutir vulnerabilidades vinculadas às vivências e aos desafios contemporâneos aos quais as juventudes estão expostas, considerando os aspectos físico, psicoemocional e social, a fim de desenvolver e divulgar ações de prevenção e de promoção da saúde e do bem-estar (São Paulo, 2023, p. 16). Esse trecho nos indica uma abordagem diluída do tema, excluindo o enfoque específico nas drogas e generalizando-as em um conjunto de questões que afetam a saúde e o bem-estar do adolescente, como infecções sexualmente transmissíveis, gravidez na adolescência, obesidade e desnutrição. Quando nos voltamos para a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), elaborada pelo Ministério da Educação (Brasil, 2018), não encontramos menção específica ao tema "álcool, drogas ou substâncias psicoativas" na etapa do Ensino Médio, que trata das habilidades específicas que compõem a base desse nível educacional. 4.3. Proposta pedagógica para a conscientização dos(as) adolescentes do Ensino Médio sobre o uso de drogas Diversos fatores contribuem para o uso de drogas entre adolescentes, incluindo questões sociais, familiares, emocionais e culturais. O contexto de vulnerabilidade social, a exposição a ambientes onde o consumo dessas substâncias é comum e a busca por aceitação social ou alívio de tensões emocionais são elementos que podem influenciar o comportamento dos(as) jovens. Além disso, a adolescência é uma fase de experimentação e construção de identidade, o que pode levar alguns(as) a experimentarem drogas como forma de explorar novas experiências ou lidar com situações difíceis. Nesse sentido, é essencial que os(as) professores(as), em conjunto com a escola, atuem por meio de um processo de sensibilização, oferecendo informação, conhecimento e 24 orientação aos(as) adolescentes. Isso possibilita aos(às) estudantes refletirem, desenvolverem o pensamento crítico e adquirirem valores e conhecimentos para a vida, contribuindo para a sua formação enquanto cidadãos(ãs) críticos(as), reflexivos(as), conscientes e responsáveis por suas ações. Nesse contexto, é primordial utilizar-se de alternativas didático-pedagógicas que visam contribuir com o processo de ensino e aprendizagem; dentre elas, as sequências didáticas têm demonstrado bons resultados no que tange ao ensino de Biologia (Moura et al., 2017). As sequências didáticas são conjuntos organizados de atividades de ensino, planejadas de forma progressiva para facilitar a aprendizagem de conteúdos específicos ou o desenvolvimento de habilidades. Assim, o alunado é integrante do processo de aprendizagem e contribui com conhecimentos do cotidiano e assuntos de interesse da comunidade para construção do conhecimento científico (Moura et al., 2017). A aplicação das sequências didáticas, alinhada à Pedagogia Histórico-Crítica (PHC), potencializa ainda mais o papel transformador da educação. Seguindo um método estruturado em cinco passos essenciais, conforme proposto por Saviani (2008) e aprofundado por Gasparin (2012), entre outros(as) autores(as), essas práticas garantem uma aprendizagem significativa e crítica. O(a) professor(a), como mediador(a) do processo de ensino-aprendizagem, desempenha um papel essencial ao promover o desenvolvimento das funções psicológicas superiores dos estudantes e ao facilitar a aprendizagem na Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP). Inspirando-se em Vygotsky, o professor contextualiza o conhecimento científico no ambiente escolar, estimulando os(as) estudantes a internalizar os conteúdos, analisarem criticamente a sociedade e contribuírem para a transformação da realidade em que vivem (Possamai, 2014). Iniciando com a "Prática Social Inicial", a metodologia começa com o(a) professor(a) se aproximando da realidade concreta, não necessariamente a imediata, dos(as) alunos(as), conhecendo suas experiências e alinhando o conteúdo à sua vivência. Em seguida, na "Problematização", são identificados os problemas sociais que orientam o que precisa ser aprendido, em diálogo com os conhecimentos clássicos, historicamente desenvolvidos pela humanidade, componentes do currículo escolar, estimulando uma abordagem crítica e prática da teoria. Na etapa de "Instrumentalização", o(a) professor(a) oferece instrumentos teóricos e práticos que auxiliam na resolução dos problemas identificados, para além da realidade mais próxima à realidade do(a) estudante, promovendo uma apropriação crítica do 25 conhecimento. A "Catarse" é o momento em que os(as) alunos(as) sintetizam e internalizam o conteúdo, consolidando sua autonomia e capacidade de transformar a prática social. Finalmente, a "Prática Social Final" permite aplicar concretamente os conhecimentos adquiridos, com o(a) aluno(a) desenvolvendo, junto ao(à) professor(a), um plano de ação que representa seu compromisso de transformação social. É importante ressaltar que este movimento não é unidirecional, e sim dialético e complexo, com as diferentes etapas se interconectando ao longo do processo de ensino-aprendizagem, superando, gradativamente, uma compreensão sincrética da realidade, em direção a conhecimentos sintéticos. O uso da música como uma ferramenta que visa potencializar o processo de ensino-aprendizagem pode estar atrelado a essa perspectiva crítica e transformadora, mirando professores(as) e alunos(as). Nesta perspectiva, Barros (2014) em sua análise sobre o uso de músicas nas aulas de Ciências, registra que as letras de música favorecem uma leitura crítica da realidade por parte dos(as) alunos(as), levando-os(as) a perceber que as formulações científicas não estão dissociadas das experiências cotidianas. O uso da música para trabalhar pedagogicamente conteúdos de Ciências e Biologia é marcado por uma diretriz interdisciplinar, a qual possibilita posturas mais eficazes e inclusivas para a apreensão da realidade social (Oliveira, 2008). Segundo Costa (2021), o uso de músicas em atividades pedagógicas pode viabilizar uma abordagem crítica da realidade, permitindo abordá-la através de conceitos científicos sem perder de vista os variados saberes que estão presentes na sociedade. Dessa forma, favorece que a ciência seja parte importante para a compreensão da realidade social. A partir disso, escolheu-se utilizar nesta sequência didática como ferramentas pedagógicas dois gêneros musicais que possuem forte apelo entre os(as) jovens no contexto atual do estado de São Paulo, o rap e o funk, que carregam em suas letras elementos que dialogam com as vivências, lutas e resistências das comunidades. A partir dessa abordagem, os(as) estudantes são convidados(as) a refletirem sobre as questões sociais e culturais que permeiam o uso de drogas, criando um vínculo entre os conteúdos abordados e as suas realidades cotidianas. De acordo com Ruzzi-Pereira (2018), nas letras de rap e funk os(as) autores(as) narram as suas experiências de vida e o cotidiano de suas comunidades, viabilizando com isso um processo de identificação por aqueles(as) que possuem a mesma realidade. É uma importante forma de expressão, servindo como porta-voz da realidade vivenciada por essa 26 população. Silva (2004) reitera essa visão ao dizer que o rap, em diálogo com o movimento hip hop, criação cultural do(a) jovem de periferia, constitui um sistema simbólico que produz uma forma particular de comunicação entre os(as) jovens, veiculando ideias, representações, conceitos e valores. Desse modo, ao tocar de forma crítica e consciente sobre questões socioculturais e a vida na periferia, muitas vezes permeadas pelo tráfico e consumo de drogas, pela violência e discriminação enfrentados pelos(as) jovens, o rap e o funk se configuram como recursos pedagógicos relevantes na construção de uma sequência didática que tem como objetivo a conscientização acerca do uso de drogas. Nesse sentido, o quadro 2 apresenta uma visão geral da proposta pedagógica elaborada neste trabalho para a conscientização acerca do uso de drogas para estudantes do Ensino Médio de escolas públicas do Estado de São Paulo. Destacamos que cada momento da sequência didática foi planejado para ser em "aulas duplas", ou seja, cada momento da sequência equivale a duas horas-aula (comumente atribuídas em 45 ou 50 minutos), para melhor sequência lógica e continuidade das ideias e atividades propostas. Logo após o quadro abaixo, cada momento neste trabalho é descrito e detalhado, seguindo as etapas sugeridas na Pedagogia Histórico-Crítica, de forma a conectar o ensino à prática social e promover uma aprendizagem transformadora (Quadros 3 a 7). Quadro 2. Proposta de sequência didática acerca da conscientização sobre o uso de drogas para estudantes do Ensino Médio, baseada em músicas brasileiras Título A MÚSICA COMO FERRAMENTA DE CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE O USO DE DROGAS: UMA ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR ENTRE ARTE E CIÊNCIA Caracterização dos(as) estudantes Caracterização da Escola Caracterização do Ambiente Escolar Alunos(as) do Ensino Médio, de 14 a 19 anos, em fase de desenvolvimento pessoal e social. A quantidade de alunos(as) pode variar de acordo com a realidade da escola. Escolas públicas. Período integral ou regular. Escolas que apresentem problemas com o uso de substâncias lícitas e ilícitas, mas não limitando somente a esse ambiente, sendo possível aplicar em qualquer caracterização escolar. 27 Problematização Problemas sociais acerca do uso de drogas e as suas consequências. Objetivo Geral Compreender as questões sociais, fisiológicas e culturais relacionadas às drogas e como são impactados por elas, adquirindo um olhar mais crítico e interdisciplinar acerca do tema. Metodologia de Ensino Momento Objetivo Específico Conteúdo Dinâmica das Atividades 1 - Identificar músicas ouvidas em seu cotidiano que abordem o uso de drogas. - Debater as problemáticas que estão evidenciadas nas músicas. - Abordagem social e cultural sobre o uso de drogas. - O uso de drogas na realidade social - Divisão dos(as) alunos(as) em grupos. - Escolha e apresentação de músicas. - Discussão das letras levantadas. - Diagnosticar a visão dos(as) alunos(as) sobre o tema. 2 - Entender o contexto histórico e cultural de surgimento do Rap e Funk. - Identificar o papel social do funk e rap consciente e como este gênero evidencia os malefícios sobre o uso de drogas. - Racismo. - Desigualdades sociais. - Tráfico e uso de drogas. - Consequências sociais e individuais do uso e tráfico de drogas. - Investigação dialogada através de conversa com os(as) alunos(as) sobre as condicionantes sociais e culturais do uso de drogas evidenciando o papel do rap e funk. - Apresentação das músicas: "Ilusão - Cracolândia" e "Cocaína". - Análise das músicas impressas, com o auxílio do videoclipe e perguntas norteadoras realizadas pelo(a) professor(a). 28 3 - Entender o que efetivamente são as "drogas", sua diferença para com os remédios, os tipos de drogas (lícitas e ilícitas) e suas classes: depressoras, estimulantes, psicomiméticas e analgésicas. - Compreender os efeitos fisiológicos das principais drogas no organismo humano, especialmente no cérebro e também as consequências do seu uso crônico ou eventual - Compreender as reações adversas às drogas (overdose, cirrose, câncer etc.) a curto e longo prazo. - Drogas x Fármacos. - Drogas lícitas e ilícitas. - Drogas depressoras, estimulantes, psicomiméticas e analgésicas. - Efeitos fisiológicos das principais drogas no organismo humano. - Uso crônico x Uso eventual. - Reações adversas graves (overdose, cirrose, câncer etc.). - Aula expositiva dialogada com utilização de slides elaborados pelo(a) professor(a) (com imagens e vídeos). 4 - Assimilar as questões sociais, fisiológicas e culturais relacionadas às drogas e como estão interligadas. - Identificar e valorizar as características técnicas e estéticas da música. - Histórico e importância do rap e funk. - Como as drogas atuam no sistema nervoso. - A música e sua relação social e cultural com as drogas. - Estrutura e composição da música. - Roda de conversa. - Aula teórica sobre música com o professor de Arte. 5 - Criar a sua própria letra de música que aborde questões relacionadas às drogas . - Apresentar ao restante da sala a música elaborada. - Estrutura da música. - Confecção da letra de uma música sobre o uso de drogas. - Apresentação da atividade avaliativa. Avaliação Confecção de uma letra de música que aborde sobre o tema "drogas" tratado na sequência didática. Bibliografia Referencial Teórico Pedagogia Histórico-Crítica (PHC). 29 Material Utilizado - Letras de músicas impressas. - Slides com o conteúdo da aula expositiva. - Computador e projetor. - Videoclipes das músicas. Fonte: Elaborado pelos(as) autores(as). Quadro 3. Momento 1 - Diagnose sobre a visão dos(as) alunos acerca das drogas a partir de músicas presentes no seu cotidiano O primeiro momento da sequência didática inicia com o(a) professor(a) introduzindo o tema “música” e perguntando aos(às) alunos(as) quais estilos musicais eles(as) mais escutam. A partir dessas respostas, o(a) professor(a) conduzirá a discussão para explorar a relação entre esses estilos musicais e o tema do uso de drogas, abordando como gêneros como rap e funk, entre outros, em algumas letras, fazem referência ao consumo de substâncias lícitas e ilícitas. Nesse contexto, o(a) professor(a) buscará compreender o conhecimento prévio dos(as) alunos(as). Dependendo da realidade da turma, outros estilos musicais podem ser predominantes; assim, cabe ao(à) professor(a) adaptar-se à realidade da classe. Nesta sequência, consideramos que rap e funk sejam os estilos mais frequentes, mas isso pode variar. Os(as) alunos(as) serão divididos em grupos e orientados a identificar músicas que ouvem no cotidiano e que façam alusão ao uso de drogas. Cada grupo deverá ouvir as letras escolhidas e analisar a mensagem que elas transmitem sobre o consumo de drogas e o contexto em que estão inseridas. Alternativamente, se necessário devido à duração da aula, o(a) professor(a) pode optar por solicitar que os alunos(as) escolham a música fora do horário de aula e a tragam para a próxima aula, em vez de realizarem essa busca diretamente em sala. Ao final, as músicas selecionadas pelos grupos serão reproduzidas em sala, e todos(as) participarão de uma análise coletiva. Nesse momento, os(as) alunos(as) poderão compartilhar suas percepções sobre as mensagens das letras e discutir o impacto social das músicas. O objetivo da aula é promover a compreensão e reflexão dos(as) alunos(as) sobre as influências culturais e sociais que permeiam sua realidade, especialmente no que diz respeito ao consumo de drogas. A escolha de músicas de rap ou funk como temas centrais da discussão não apenas torna a abordagem mais atrativa para os(as) alunos(as), mas também serve como um ponto de partida para problematizar questões sociais relevantes. De acordo com os princípios da Pedagogia Histórico-Crítica (PHC), a dinâmica da aula valoriza a prática social inicial dos(as) alunos(as), considerando professor(es) e estudantes como agentes sociais com níveis distintos de experiência e conhecimento. O(a) professor(a), mesmo sem pleno conhecimento das vivências e experiências prévias dos(as) estudantes, deve investigá-las e utilizá-las para mediar o conteúdo de forma significativa. O foco na música como forma de expressão cultural permite que os(as) alunos(as) compartilhem suas preferências e discutam temas relacionados ao seu contexto social. Fonte: Elaborado pelos(as) autores(as). 30 Quadro 4. Momento 2 - Condicionantes sociais do uso de drogas e papel do funk e rap na conscientização sobre o tema Os objetivos principais deste momento são que, ao final dele, os(as) alunos(as) entendam o contexto histórico/cultural de surgimento do Rap e Funk, como esses estilos são um reflexo das vivências experimentadas pelos seus(suas) autores(as) e, consequentemente, influenciam as realidades sociais dos seus ouvintes; os(as) alunos(as) também devem saber correlacionar o fenômeno de "combate" às drogas aos problemas vivenciados pela população em vulnerabilidade social, como exclusão, racismo, preconceito, crime, guerra às drogas, vício, cadeia, etc; e por fim, os alunos devem ser capazes de compreender o papel social do funk e rap consciente e como este gênero evidencia as consequências sociais e individuais do uso e tráfico de drogas. Para isso, antes deste encontro, o(a) professor(a) deve pesquisar, superficialmente, sobre as letras e a realidade de alguns compositores das músicas selecionadas pelos(as) alunos(as) na primeira aula. Alguns questionamentos podem auxiliar nesta etapa: ● Qual é a sua história de vida? ● Quais as condições de vida dos(as) compositores(as): viviam ou vivem em zonas periféricas das cidades, favelas, ocupações, comunidades vulneráveis etc.? ● Já foram presos(as)? ● Já se envolveram com o tráfico? ● Quais as principais notícias sobre estes(as) artistas? Esta dinâmica visa um mapeamento com o objetivo principal de mobilizar a turma para a temática e estabelecer um canal de diálogo com a realidade deste território. As músicas trazidas pelos(as) estudantes não são objetivo principal de análise, visto à realidade da atuação docente que inviabiliza uma análise aprofundada de cada música. Dito isso, ao iniciar a aula, o(a) professor(a) deve apresentar essas informações e outras que achar necessário para realizar uma conexão entre as visões das músicas dos(as) alunos(as) com a intencionalidade de usar o Rap e Funk consciente para iniciar a discussão sobre a realidade que estes gêneros estão inseridos, direcionando a conversa para as consequências sociais e individuais de estar presente em um contexto de vulnerabilidade social. Neste momento, vale a pena salientar, principalmente, sobre a influência do tráfico na sociedade, além de ressaltar que na “guerra às drogas” a população mais afetada é a preta e pobre, pelo racismo e a desigualdades sociais intrínsecos às raízes do Brasil. Em seguida, será o momento para comentar sobre o funk e rap “consciente” e citar os exemplos que serão utilizados na aula: Funk Ilusão “Cracolândia” - Alok, MC Hariel, MC Davi, MC Ryan SP, Salvador da Rima e Djay W e o Rap “Cocaína” do Sabotage. A análise destas músicas deve ser feita através de suas letras, que serão impressas e entregue aos(às) alunos(as) e, com o auxílio de perguntas norteadoras utilizadas nas pausas dos videoclipes, visa-se gerar pontos de discussão sobre o que é evidenciado dos problemas sociais e individuais das pessoas que estão envolvidas, em diversas instâncias, com as drogas. Com isso, cumpre-se a etapa de problematização proposta na PHC, uma vez que, identificou-se e analisou-se as músicas do cotidiano dos(as) alunos(as) que refletem questões sociais relevantes relacionadas ao uso de drogas, permitindo compreender como eles(as) percebem e assimilam esses temas em suas práticas diárias. Esse processo possibilita estabelecer uma conexão entre reflexões geradas em sala de aula com a realidade social dos estudantes, garantindo que o aprendizado esteja orientado para a resolução de problemas reais. 31 Por fim, ao término da análise das duas músicas, os(as) alunos(as) deverão estar alinhado(as) com os objetivos desta aula e, para finalizar, o(a) professor(a) deve perguntar a eles(as) se conhecem pessoas que passam por esses problemas evidenciados nas músicas, para criar uma aproximação dos(as) alunos(as) à realidade exposta durante a aula. Como material de apoio, segue a sugestão de algumas perguntas norteadoras para serem realizadas durante a análise das músicas propostas: Ilusão Cracolândia ● Qual a visão que o MC Davi passa nos primeiros trechos da música? "Molecada pensa lá na frente antes de ser inconsequente de ir na ideia dos outros pra usar". ● No trecho do MC Hariel, qual o problema sobre o uso de drogas no indivíduo em questão e o que levou ele a usar a droga? ● Qual conselho o MC Hariel dá para aqueles que pensam em usar droga? E quais drogas ele cita na música? ● Vocês conseguem identificar os problemas sociais que são evidenciados na primeira metade da música? ● Logo no início da parte do MC Ryan SP, é afirmado que o indivíduo abandonou o principal pilar de socialização e instrumentalização da sociedade. Qual esse pilar? ● Com o uso das drogas, o plano do indivíduo muda! Qual era o cenário inicial retratado pelo MC Ryan SP e como ele se configura após o uso de drogas? ● Salvador da Rima evidencia claramente o papel das drogas na vida do indivíduo. Alguém tem algum conhecido que vive essa vida? ● Segundo Salvador da Rima, qual a perspectiva que um indivíduo apresenta ao se envolver com drogas quando adolescente? ● A partir do vício pelas drogas, em qual parte da música Salvador da Rima evidencia sobre a exclusão social e qual é o problema deste fenômeno? Cocaína ● Quais as drogas citadas pela música na sua primeira parte? ● O que os bairros de São Paulo citados na letra têm em comum? ● Qual a consequência de estar envolvido com o tráfico segundo a letra da música? “Quem não se aposentou só se está preso ou é finado”. ● Qual a população mais afetada com a guerra “contra as drogas”? ● No final da primeira parte da música o autor dá um suspiro de esperança. Qual sua opinião sobre a reabilitação de viciados? ● Na segunda parte da música, o autor salienta principalmente sobre os malefícios de uma droga em específico, corroborando com o refrão, qual é esta droga e quais são estes malefícios? ● Qual o exemplo de situação que o autor salienta como o começo do uso de cocaína? Fonte: Elaborado pelos(as) autores(as). 32 Quadro 5. Momento 3 - Destrinchando as drogas: do uso ao efeito O terceiro momento da sequência didática propõe o ensino de conteúdos específicos relacionados às drogas, especialmente dentro do componente curricular de Biologia, contextualizando-as, explicando o que são, os seus diferentes tipos, sua ação no organismo e finalmente as consequências do seu uso crônico e eventual. Sugerimos que o(a) professor(a) conduza as aulas de forma expositiva-dialogada, utilizando slides para apresentar os conceitos e promover a interação com os(as) alunos(as). A introdução se dará com a definição do que são as "drogas", explicando que estas são substâncias capazes de alterar o funcionamento normal do corpo ou da mente (em todos os seus aspectos). O(a) professor(a) destacará que essas substâncias podem ser naturais ou sintéticas e que seus efeitos variam conforme o tipo e a quantidade consumida. Esse conceito inicial será essencial para que os alunos compreendam a amplitude do tema e como diversas substâncias, como os remédios, podem ser consideradas drogas. Em seguida, o(a) professor(a) explicará a diferença entre drogas e remédios (fármacos), abordando que remédios são substâncias administradas com o propósito de tratar ou prevenir doenças, enquanto as drogas, muitas vezes, são usadas fora desse contexto médico com o intuito de alterar a percepção ou o estado mental. A explicação também deve enfatizar que essa linha entre ambos pode ser tênue, especialmente quando medicamentos são utilizados de forma inadequada. O(a) professor(a) também explicará a diferença entre drogas lícitas e ilícitas. Drogas lícitas, como o álcool e o tabaco, são aquelas cuja venda e consumo são permitidos por lei, dentro de um determinado contexto histórico: pode mencionar que, por exemplo, o álcool já foi considerado uma droga ilícita. Por outro lado, drogas ilícitas, como a cocaína e a maconha (dependendo da legislação), são proibidas atualmente Baseado em Liberato (2019), as aulas abordarão a classificação das drogas com base nos seus efeitos no organismo. O(a) professor(a) explicará o que são as drogas depressoras, como o álcool, que reduzem a atividade do sistema nervoso central; as drogas estimulantes, como a cocaína, que aumentam a atividade cerebral; as drogas psicomiméticas, como o LSD, que alteram a percepção e as emoções; e as drogas analgésicas, como os opiáceos, que aliviam a dor mas têm grande potencial de causar dependência. Tendo as classes bem definidas, deve-se aprofundar os efeitos fisiológicos de cada tipo de droga, utilizando maiores explicações sobre sistema nervoso e neurotransmissores. As depressoras podem causar sonolência e perda de reflexos, enquanto as estimulantes podem provocar aumento da pressão arterial e ansiedade. As drogas psicomiméticas alteram a percepção sensorial, e as analgésicas, além de tratar a dor, podem levar à dependência severa. O(a) professor(a) também abordará a diferença entre o uso crônico e o uso eventual de drogas. O uso crônico envolve consumo contínuo e em grandes quantidades, com elevado risco de dependência e graves danos à saúde. Já o uso eventual, embora menos frequente, também pode ter consequências negativas a longo prazo, e o(a) professor(a) incentivará uma reflexão sobre os riscos em ambos os casos. Na sequência, o(a) professor(a) discutirá as consequências do uso crônico dessas drogas, incluindo a overdose, que pode resultar em morte; cirrose, ligada ao consumo excessivo de álcool; câncer pulmonar, associado ao tabagismo, e introduzirá brevemente a problemática social do uso das drogas, que será abordado na próxima e última aula. 33 Por fim, este momento está inserido na fase de instrumentalização, de acordo com a PHC (Saviani, 2014), a qual tem como objetivo fornecer aos(as) alunos(as), por meio do(a) professor(a), os conhecimentos técnicos-científicos necessários para interpretar e transformar a realidade circundante. Através da exposição guiada e a estimulação da participação ativa dos(as) alunos(as), com perguntas e discussões a respeito dos conceitos sobre as drogas e seus efeitos fisiológicos, a instrumentalização será promovida em uma construção coletiva e não em uma simples transmissão de conhecimento, propiciando o conhecimento necessário para as próximas etapas que serão trabalhadas na última aula: catarse e prática social final. Fonte: Elaborado pelos(as) autores(as). Quadro 6. Momento 4 - Relação entre as questões sociais, fisiológicas e culturais do uso de drogas e aula sobre música A partir do Momento 4, pretendemos que os(as) alunos(as) compreendam as questões sociais, fisiológicas e culturais relacionadas às drogas e como estão interligadas, além de identificar e valorizar as características técnicas e estéticas da música, compreendendo também que essas escolhas são culturalmente condicionadas. Para isso, é sugerida uma parceria com o(a) professor(a) de Arte, para que possa ser trabalhada em sala de aula a estrutura e composição musical, possibilitando que os(as) alunos(as) possuam um embasamento para compor, posteriormente, sua própria letra de música. Esse diálogo entre as diferentes áreas do conhecimento traz uma abordagem interdisciplinar a esta sequência didática, superando o uso da música exclusivamente como ferramenta didática. A aula iniciará com uma roda de conversa em que os(as) estudantes serão convidados(as) a compartilhar as suas percepções e conhecimentos adquiridos sobre o uso de drogas ao longo da sequência de aulas ministradas, discutindo os impactos sociais, fisiológicos e culturais acerca do tema. Esta etapa desempenha um papel central para estimular o diálogo, desenvolver a escuta ativa e promover um ambiente onde os(as) estudantes possam se sentir confortáveis em compartilhar suas opiniões e experiências. Para guiar o diálogo, o(a) professor(a) poderá utilizar questões orientadoras para instigar a discussão, como: ● Quais são os motivos que levam uma pessoa a experimentar ou usar drogas? ● Quais são os principais efeitos das drogas no organismo e no comportamento? ● Como as drogas podem afetar o dia a dia de uma pessoa? ● O que o rap e o funk nos dizem sobre as drogas? A roda de conversa será finalizada com uma breve síntese das principais ideias discutidas, enfatizando a interconexão entre as questões sociais, fisiológicas e culturais. O(a) professor(a) pode destacar como esses aspectos se entrelaçam para formar uma compreensão mais completa sobre o tema. Desta forma, pretendemos que esta aula da sequência didática contemple a fase de catarse da PHC, proposta por Saviani (2008). De acordo com Gasparin (2012), a catarse é a demonstração da internalização dos conteúdos pelo estudante e expressa a individualidade para si na apropriação do conhecimento que foi construído coletivamente. Neste momento da proposta pedagógica, o(a) estudante deve ser capaz de dar um novo sentido a sua aprendizagem e realizar a síntese, que segundo Genovese (2020), é entendida como o estabelecimento da conexão crítica entre o conhecimento prévio e o conhecimento historicamente 34 construído, para que na próxima etapa possa efetuar a mudança da sua prática social. Conforme Gasparin (2012), para se verificar essa mudança conceitual o(a) estudante deve realizar o processo mental de elaborar sua síntese teórica, ou seja, sua compreensão sintética do conteúdo. Na finalização deste encontro, em que o(a) professor(a) de Arte fará a exposição do conteúdo teórico, de forma crítica e dialogada, poderiam ser abordados, entre outros, conteúdos como: ● História da música e suas funções sociais; ● Elementos que compõem a música, como melodia, ritmo, harmonia e timbre; ● Impactos da indústria cultural na música. A ideia é que esta aula sirva de base para que os(as) estudantes possam realizar a atividade avaliativa da sequência didática, que será exposta a seguir. A parceria com o(a) professor(a) de Arte neste momento é essencial para que os conteúdos sejam expostos de forma efetiva e para que a aprendizagem seja significativa, pois o conhecimento especializado do(a) docente de Arte faz uma grande diferença no processo de ensino, proporcionando uma abordagem mais técnica e contextualizada e facilitando a compreensão dos(as) alunos(as). Fonte: Elaborada pelos(as) autores(as). Quadro 7. Momento 5 - Confecção da letra de música por parte dos(as) alunos(as) O objetivo do Momento 5 da Sequência Didática proposta é que os(as) alunos(as) possam criar sua própria letra de música que aborde questões relacionadas às drogas, usando como ponto de partida as músicas apresentadas a eles durante a sequência de aulas e também a exposição teórica sobre composição musical, feita pelo(a) professor(a) de Arte. Na primeira parte da aula, os(as) estudantes serão convidados a utilizar os conhecimentos adquiridos durante toda a sequência de aulas para criar uma letra de música que aborde questões relacionadas ao uso de drogas. A proposta é que eles se baseiem nas músicas estudadas em sala de aula, que tratam do tema de forma crítica, incentivando os(as) estudantes a refletirem sobre o papel da arte na conscientização social. Em seguida, os(as) alunos(as) poderão trabalhar em pequenos grupos para elaborar suas letras. Para encerrar a aula, os(as) alunos(as) terão a oportunidade de compartilhar suas letras com a turma. As apresentações podem ser feitas por leitura, canto ou declamação, conforme a preferência do grupo e após cada apresentação, a turma poderá discutir brevemente o que achou da letra e como ela transmite a mensagem relacionada ao tema das drogas. Como resultado, esperamos que esta última aula da sequência didática abranja a fase de prática social final da PHC, proposta por Saviani (2008). Para cumprir a fase da prática social final, em que professor(a) e estudante necessitam estar em equidade acerca dos conteúdos estudados, deve ser estabelecido aos(as) alunos(as) um plano de ação baseado nos conteúdos aprendidos. Segundo Câmara (2023), a proposta de ação deve ser elaborada pelo(a) estudante, expressando sua intenção de mudança. Dito isso, é proposto então que o plano de ação elaborado pelo(a) estudante seja representado por meio da criação desta letra de música sobre o tema drogas, concluindo assim, todas as etapas para a construção de uma aprendizagem significativa e transformadora, de acordo com a Pedagogia Histórico-Crítica. Fonte: Elaborada pelos(as) autores(as). 35 5. CONCLUSÃO O principal objetivo deste trabalho diz respeito ao desenvolvimento de uma proposta pedagógica para conscientizar estudantes do Ensino Médio sobre o uso de drogas, utilizando a música brasileira, nas vertentes do rap e do funk em uma abordagem interdisciplinar entre Biologia e Arte. Além disso, fizemos uma análise da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), do Currículo Paulista e do Material Digital disponibilizado para os professores(as) da educação básica de escolas públicas do Estado de São Paulo. Ao longo da pesquisa, foi possível identificar lacunas no material didático utilizado nas escolas públicas, que, muitas vezes, apresenta uma visão superficial e alarmista sobre o tema. Em resposta a essas limitações, a proposta aqui apresentada introduz uma sequência didática que usa letras de rap e funk, por meio das músicas "Ilusão - Cracolândia" (Alok, MC Hariel, MC Davi, MC Ryan SP, Salvador da Rima e Djay W) e "Cocaína" (Sabotage) com forte apelo entre os(as) estudantes por dialogarem com essa faixa etária e proporcionarem uma abordagem mais próxima da realidade vivida por eles. Esse método visa não apenas informar, mas estimular o pensamento crítico, convidando os(as) estudantes a refletirem sobre as influências sociais, culturais e biológicas do uso de drogas, promovendo uma compreensão integral e contextualizada, baseada na Pedagogia Histórico-Crítica. Através da implementação dessa sequência, com atividades didáticas, críticas e criativas, visa-se promover uma maior compreensão e conscientização entre os(as) estudantes sobre o uso de drogas, especialmente quando efetivamente aplicada em sala de aula. Essa estrutura pedagógica proposta oferece uma base sólida para alcançar os nossos objetivos traçados, pois propõe uma ferramenta flexível e adaptável que pode ser utilizada por professores em diferentes realidades escolares. Apesar de focarmos no Estado de São Paulo, a música por si só conversa muito com a faixa etária adolescente. Utilizando-a não somente instrumento pedagógico, leva a proposta didática a ser aplicada em diferentes contextos, com as adaptações que cada professor(a) julgar necessárias. Em alguns locais, os gêneros musicais que conversarão com os adolescentes poderão ser diferentes dos analisados no Estado de São Paulo, transitando entre o forró, o sertanejo, piseiro e muito outros, cabendo ao(à) professor(a) o papel de investigador(a) da realidade concreta para o funcionamento da proposta, que lhe 36 proporciona um recurso prático para trabalhar o tema de forma contextualizada e interdisciplinar. Um dos desafios que podem ser encontrados na implementação dessa sequência didática refere-se à quantidade de aulas necessárias para cobrir o conteúdo do projeto. Tendo uma estrutura composta por cinco momentos, cada um deles com duas horas-aula de 45 a 50 minutos, há uma demanda significativa de tempo, o qual pode se tornar uma limitação para sua aplicação, visto que essa carga horária é superior àquela indicada no atual currículo escolar paulista para a abordagem desta temática no componente curricular de Biologia no Ensino Médio. Além disso, sabe-se que, na realidade escolar, é comum que o cronograma de aulas já esteja bastante apertado, com conteúdos programados e uma sequência a ser cumprida conforme orientações que superam o planejamento do(a)professor(a), especialmente em tempos de “plataformização” da educação escolar e da expansão das avaliações externas obrigatórias (como o SARESP, Prova Paulista, SAEB, PISA etc.). Nessa recente realidade, o(a) professor(a) é orientado(a) a se concentrar em conteúdos estritamente programados para o melhor desempenho desses(as) alunos(as) nesses exames externos, o qual aliado com a pressão para utilização do Material Digital como padrão ou base para suas aulas, não oferece ao(a) docente a mínima autonomia para a seleção de outros conteúdos ou projetos. Por isso, é fundamental que a execução do projeto seja planejada com antecedência, no início do período letivo, em alinhamento com toda a comunidade escolar, incluindo coordenação pedagógica e direção, para que ele não interfira no andamento de outros conteúdos já previstos no currículo. Outra consideração é que, mesmo com a interdisciplinaridade proposta com o componente curricular de Arte, este trabalho possui um aprofundamento maior no componente curricular de Biologia, uma vez que decidimos limitar a análise curricular a essa área. Sabemos que ambos os componentes curriculares são eixos norteadores do projeto, porém uma breve análise do currículo de Arte deixa em aberto a possibilidade de um estudo futuro mais detalhado, especialmente para apoiar ainda mais a integração das duas disciplinas, trazendo uma visão ainda mais rica, colaborativa e interdisciplinar. De toda forma, essa delimitação no estudo possibilitou um aprofundamento maior nas habilidades e nas competências da Biologia, alinhando a Sequência Didática com os conteúdos centrais dessa disciplina. 37 Por fim, esperamos que essa proposta pedagógica contribua para ressignificar um pouco o ensino sobre drogas nas escolas, promovendo uma conscientização tanto entre os(as) estudantes do Ensino Médio, que são o público-alvo, quanto entre os(as) professores(as), que são os(as) agentes de aplicação dessa sequência didática. Ao oferecermos um olhar crítico e reflexivo, convidamos todos os(as) educadores(as) a tratarem desse tema de forma mais humanizada e contextualizada, reconhecendo as múltiplas realidades que circundam os(as) alunos(as), ao invés de se limitarem a uma perspectiva mais punitiva e alarmista, pautada somente no Material Digital padrão. 6. REFERÊNCIAS ALMEIDA FILHO, Naomar de. Transdisciplinaridade e saúde coletiva. Ciência & saúde coletiva, v. 2, p. 5-20, 1997. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csc/a/ZvbpZyt8VYHSQT4jbcWzbHw/?format=pdf&lang=pt. Acesso em 12 nov. 2024. BRASIL. Ministério da Educação. Lei nº 9.394, de 25 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília: DOU, 1996. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/lei9394_ldbn1.pdf. Acesso em 12 nov. 2024. BRASIL. Ministério da Educação. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br. 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(Alok) Pra aqueles que querem fugir da realidade Cuidado com aquilo que te faz voar Mas depois tira o seu céu E o que sobra é só o inferno (MC Hariel) Enquanto a lata chacoalhar E a ilusão de ser mais poderoso Vários vai memo se arrastar Que a Cracolândia tá lotada de curioso (MC Davi) Já que é pra fazer uns consciente, então fique bem ciente Que os moleque é viciado em canetar Vários viciou e ficou demente, só preju pros seus parentes E a Dona Maria é crеnte e foi orar Era o mais brabo, chapa quentе, viciou no da Tenente Agora é dependente de droga Molecada, pensa lá na frente antes de ser inconsequente De ir na ideia dos outros pra usar E eu vou passar a visão pros meus Não precisa morrer pra falar com Deus (2x) (MC Hariel) Espera um pouco, para e pensa e controla com as droga Que um barco sem direção, o mar leva pra rocha A viagem é muito louca e sempre perigosa E tá transformando em zumbi vários truta da hora E lembra daquele parceiro que era atacante na quadra e com a mina? Sempre avançado no tempo, pelo linguajar e pela picadilha Dançava um break com nóis, sabadão quando tinha escola da família Tá desandado no óleo e de bom exemplo, virou parasita É que o beck enrolou e a brisa bateu na mente injuriada É que a nota enrolou, ele tava na hora errada com a banca errada Quando a brisa bateu, o convite foi feito, a atenção desviada Prejudicou, perdeu tudo o que tinha A família, os amigo, hoje não tem mais nada Enquanto a lata chacoalhar E a ilusão for a sensação de ser mais poderoso 42 https://www.youtube.com/watch?v=5LqeD-m7Iho&ab_channel=GR6EXPLODE Vários vai memo se arrastar Que a Cracolândia tá lotada de curioso (2x) (MC Ryan SP) Papai, solicito socorro, me instrua Me tire dessa rua escura Fui dominado pela droga, desisti do ensino Veio o apocalipse sombrear o meu caminho Desde o início, eu já sonhava em conquistar um cargo Currículo no Artigo 12 tava pegando mais fácil Abandonei a linha e o pipa pelo motor da Hornet Foi na porta do banco pelo artigo 157 E eu vou passar a visão pros meus Não precisa morrer pra falar com Deus Enquanto a lata chacoalhar E a ilusão de ser mais poderoso Vários vai memo se arrastar Que a Cracolândia tá lotada de curioso (Salvador da Rima) Eu vi de perto toda a adrenalina Eu vi os corre, eu vi os mano, eu vi as mina em cima As peça, as droga, as festa, os baile O desespero da sua família A necessidade fez o menor se envolver Com treze começou a usar, com quinze a vender Não tem nada a perder, então vai parar pra quê? Dezoito ano, 157, preso sem viver Amigo de copo tem um monte, pode pá Vários amigão pra chamar pra errar Poucos desses são os que vão te ajudar Amigo memo é sua mãe que vai te visitar Imagina o mundão mil grau e você aí privado Falando com seus parentes através de carta Cê ia ver se é fechamento quem tá do seu lado E aprender que a liberdade se troca por nada Essa eu fiz pra molecada que tá na ilusão Que deixou de correr pro sonho pra correr pro crime Cadeia não é mamão e o crime não é bombom Então usa a mente pro certo que a vida não é filme Essa eu fiz pra molecada que tá na ilusão Que deixou de correr pro sonho pra correr pro crime Cadeia não é mamão e o crime não é bombom Então usa a mente pro certo que a vida não é filme, certo? (MC Hariel) 43 Enquanto a lata chacoalhar E a ilusão for a sensação de ser mais poderoso Vários vai memo se arrastar Que a Cracolândia tá lotada de curioso (2x) (Alok) [...] que querem desisti