Universidade Estadual Paulista Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Araraquara Programa de Pós-Graduação em Análises Clínicas ANA CAROLINA URBACZEK “Burst oxidativo dos neutrófilos humanos: estudo da influência do polimorfism odo receptor para IgG FcγγγγRIIIb na cooperação com os receptores para complemento” Orientador: Prof. Dr. LUIZ MARCOS DA FONSECA Co-orientadora: Profa. Dra. CLENI MARA MARZOCCHI MACHADO Araraquara – SP 2008 2 ANA CAROLINA URBACZEK “Burst oxidativo dos neutrófilos humanos: estudo da influência do polimorfismo do receptor para IgG FcγγγγRIIIb na cooperação com os receptores para complemento” Dissertação apresentada ao Programa de Pós- graduação em Análises Clínicas, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, para a obtenção do título de mestre em Análises Clínicas. Orientador: Prof. Dr. Luiz Marcos da Fonseca Co-orientadora: Profa. Dra. Cleni Mara Marzocchi Machado Araraquara - SP 2008 3 Urbaczek, Ana Carolina U12b Burst oxidativo dos neutrófilos humanos: estudo da influência do polimorfismo do receptor para IgG FcγRIIIb na cooperação com os receptores para complemento. / Ana Carolina Urbaczek. – Araraquara, 2008. 127 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual Paulista. “Júlio de Mesquita Filho”. Faculdade de Ciências Farmacêuticas. Programa de Pós Graduação em Análises Clínicas Orientador: Luiz Marcos da Fonseca Co-orientador: Cleni Mara Marzocchi Machado 1.Receptores de IgG. 2.Neutrófilos. 3.Burst oxidativo. Hematologia. I.Fonseca, Luiz Marcos, orient.. II.Machado, Cleni Mara Marzocchi, co- orient.. III.Título. CDD: 616.1507 CAPES: 40300005 Ficha Catalográfica Elaborada Pelo Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação Faculdade de Ciências Farmacêuticas UNESP – Campus de Araraquara 4 COMISSÃO EXAMINADORA ______________________________________________ Prof. Dr. Luiz Marcos da Fonseca (Orientador) _______________________________________________ Prof. Dr. Marcelo Dias Baruffi (Membro da banca) _______________________________________________ Prof. Dr. Paulo Inácio da Costa (Membro da banca) 9 de Maio de 2008 5 “Não importa onde você parou... Em que momento da vida você cansou... O que importa é que sempre é possível e necessário RECOMEÇAR. Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo... É renovar as esperanças na vida E o mais importante... Acreditar em você de novo. Sofreu muito neste período? Foi aprendizado... Chorou muito? Foi limpeza da alma... Ficou com raiva das pessoas? Foi para perdoá-las um dia... Sentiu-se só por diversas vezes? Foi porque fechaste a porta até para os anjos... Acreditou naquilo que estava perdido? Era o início da tua melhora... Onde você quer chegar? Ir alto? Sonhe alto... Queira o melhor do melhor... Se pensarmos pequeno Coisas pequenas teremos... Mas, se desejarmos fortemente o melhor... E, principalmente... Lutarmos pelo melhor... O melhor vai acontecer em nossa vida. Porque sou do tamanho daquilo que vejo, E não do tamanho da minha altura.” (Carlos Drummond de Andrade) 6 Para meus amigos... Saudade... Um dia a maioria de nós irá se separar. Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que compartilhamos. Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia, das vésperas de finais de semana, de finais de ano, enfim... do companheirismo vivido. Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre. Hoje não tenho mais tanta certeza disso. Em breve cada um vai pra seu lado, seja pelo destino, ou por algum desentendimento, segue a sua vida, talvez continuemos a nos encontrar quem sabe... nos e-mails trocados. Podemos nos telefonar conversar algumas bobagens... Aí os dias vão passar, os meses... os anos... até este contato tornar-se cada vez mais raro. Vamos nos perder no tempo. Um dia nossos filhos verão aquelas fotografias e nos perguntarão: "Quem são essas pessoas?" Diremos que eram nossos amigos e isso vai doer tanto!... Foram meus amigos, foi com eles que vivi os melhores anos de minha vida! A saudade vai apertar bem dentro do peito... Vai dar uma vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente... Quando o nosso grupo estiver incompleto... nos reuniremos para um último adeus de amigo... E entre lágrimas nos abraçaremos . Faremos promessas de nos encontrarmos mais vezes daquele dia em diante. Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vidinha isolada do passado. E nos perderemos no tempo... Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades... Adoro todos vocês... Autor desconhecido 7 I CORÍNTIOS 13 AINDA que eu falasse a língua dos homens e dos anjos, se não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, se não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tivesse amor, nada disso me aproveitaria. O amor é paciente, é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. O amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se conduz incovenientemente, Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; Não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca falha e jamais acaba... Se eu não tivesse amor, eu nada seria... “Minha bondade é tão ilimitada quanto o mar, e tão profundo como este, é o meu amor. Quanto mais te dou, mais tenho, pois ambos são infinitos”. (Shakespeare) 8 DEDICATÓRIA Esta dissertação é dedicada a todos aqueles que fazem parte da minha vida... àqueles que me apoiam e me incentivam..., a Deus, aos meus pais Tercilha e Raimundo Urbaczek, à minha família, ao meu namorado Antonio Carlos Moro, aos meus amigos, aos doadores das amostras, aos funcionários da universidade e aos meus mestres Prof. Dr. Luiz Marcos da Fonseca e Profa. Dra. Cleni Mara Marzocchi Machado... ou seja... todos aqueles que contribuem para que cada vez eu alcance vôos mais altos... 9 AGRADECIMENTOS... Agradeço primeiramente a Deus, Por ter guiado meus caminhos e por ter me conduzido até aqui... Por sempre ter me dado fé, força e coragem e nunca ter me deixado desistir, pois só Ele sabe como não foi fácil chegar até onde cheguei... Por ter me incentivado a seguir sempre em frente, de cabeça erguida... Pela sua infinita bondade, me proporcionando capacidade e oportunidade de poder estudar até muito além do que estuda a maioria da população deste país, onde a educação muitas vezes é o último ítem da lista de prioridades daqueles que estão à frente da nação... Por ter me oferecido a oportunidade de pesquisar e quem sabe, algum dia, tentar fazer algo por aqueles que sofrem com suas enfermidades, amenizando seus sofrimentos, e desta forma retribuir à Ele, mesmo que de forma muito pequena e simples, tudo aquilo que Ele fez e faz por mim... Por ter colocado em meu caminho profissionais talentosos (meus mestres), pessoas maravilhosas! que se dedicaram imensamente a minha formação... Por ter me dado amigos e um namorado adorável... pessoas que sempre me ofereceram a mão quando precisei... Por ter compreendido os meus anseios e de minha família, e desta forma ter me dado a necessária coragem e ousadia para atingir meus objetivos... Por ter me colocado a frente de diversas provações, mas para que através delas eu aprendesse, me tornasse mais forte e capaz de superá-las... Foram muitas lições... Pela serenidade que me deu diante de todas as adversidades para que eu pudesse aceitá-las com resignação, mesmo que fosse para compreendê-las muito depois... Pois hoje tenho plena certeza de que tudo tem uma razão de ser... 10 Agradeço aos meus pais, que através de muito sacrifício, incentivo e paciência, me ofereceram a oportunidade do conhecimento... abrindo as portas do meu futuro e me dando o apoio necessário para que eu caminhasse com minhas próprias pernas na trilha que me levaria aos meus objetivos, coisa que nunca foi muito fácil, pois a estrada da vida é tortuosa e cheia de pedras... mas ao longo dela aparecem pessoas tão maravilhosas que a tornam muito mais bonita e que nos fazem prosseguir. Agradeço, por terem me mostrado durante toda a minha existência que o caminho do sucesso está no trabalho, na verdade e na dedicação. Agradeço também, por sempre terem acreditado em mim e por nunca terem medido esforços para a minha formação pessoal e profissional, deixando muitas vezes seus próprios sonhos de lado para viverem os meus e torná-los reais. Agradeço ainda, por tantas as vezes que suportaram a minha ausência e silenciosamente assumirem meus medos e emoções. Foi através de seus exemplos de vida, que aprendi a lutar com amor e perseverança pelos meus ideais. E por terem estado sempre presentes nos momentos bons e difíceis de minha caminhada posso dizer que este trabalho também é uma conquista de vocês! 11 Agradeço a minha família, em especial, tia Edith e Penha, por todo o apoio, incentivo, generosidade e por acreditarem em mim, saibam que o caminho até aqui não foi nada fácil, mas vocês contribuíram para que ele se tornasse suportável, a conquista deste trabalho também é dedicada a vocês... obrigada por tudo... Às primas Heloísa e Thaís, pelo apoio nas horas de desânimo e por toda a torcida mesmo de tão longe. Ao meu namorado, Antonio Carlos Moro, meu amor e um grande ser humano, sinto muito orgulho por estar ao seu lado, sei que posso contar sempre com você pra tudo, muito obrigada pelo amor, carinho, compreensão, cumplicidade, apoio e incentivo nos momentos em que a vontade era jogar tudo pra cima e fugir, nestas horas você me trazia à realidade novamente e com uma simples palavra tudo parecia estar bem de novo. “Foi assim como ver o mar... a primeira vez que meus olhos... se viram no seu olhar... não tive a intenção de me apaixonar... mera distração e já era o momento de se gostar...” (Todo azul do mar) Agradeço também aos meus avós (in memoriam), que sempre torceram por mim e intercediam a Deus pelas minhas conquistas, acredito que hoje vocês continuam a interceder por mim, só que agora muito mais de perto de Deus... Deixo aqui minha lembrança e meu carinho... 12 Aos meus grandes amigos conquistados ao longo da vida, Patrícia (“cabeça” – minha grande amiga-irmã dos anos de faculdade, saudades...), Camila Tita (amiga de faculdade e agora de pós), Kelin (amiga, conselheira e guia em Ribeirão Preto rs...), Fabiana, Ariane, Mari, Fábio, Gi, Rafa e Paty (estes últimos 5, amigos de churrasco, de piscina, de passeios, de comilanças... amigos pra todas as horas...). Vocês que sempre torceram por mim, que me deram conselhos valiosos, que me ofereceram uma palavra amiga quando eu mais precisava... sintam-se aqui lembrados com muito amor e carinho... que nossa amizade seja mais do que eterna... À Carol (ruiva), minha ”anexa”, estagiária, amiga, companheira e psicóloga rs... quantas foram as PCRs hein Carol??? Quantas horas de termociclador??? Quantos géis??? Mas entre uma coisa e outra sempre havia tempo para uma história, uma fofoquinha, uma brincadeira... muito obrigada pelo companheirismo... você é uma grande parceira!!! Obrigada!!! Aos amigos da Hematologia, Max, Pâmela, Débora, Karina e Marília, foi muito bom conviver com vocês... Às amigas de pós, Aline Tansini e Mariana Santoro de Camargo, pelo companheirismo durante as aulas, pelas conversas jogadas fora e pelas angústias divididas. 13 Às amigas da Imuno, Dani Maia (a mais engraçada e despachada!), Marisa (aquela que de certa forma sempre cuidou da gente, e quem mais torceu pelo meu romance rs...), Paulinha (sempre sorridente), Micheli Sassá, Michelão (uma amiga muito querida, conselheira, muito bem humorada e companheira das saidinhas para comer, as “gordotes” rs... pena que hoje ela esteja longe), Ira, Djamile (minha amiga e companheira de rua 2, quantas foram as comprinhas hein amiga!), Camila (a consultora de moda do laboratório rs...), Marcela (uma amiga muito especial e um pouco vidente rs...), Flávia (saudades da Esquina da Esfiha!), Cleso (só você pra me encher com essa história de Polaka, com K), Dani Serinoli, Lucas (meu amigo de planos para dominar o universo!!! rs), Lívia, Alexandre, Sandra (minha amiga apaixonada por orquídeas), Alessandra, Maristela, Oedem, Ana Cláudia e Jú, muito obrigada pela convivência... apesar de oficialmente não fazer parte do laboratório de imuno, foi lá ao lado de vocês que passei talvez os melhores anos da minha vida, muitos foram os aniversários, as brincadeiras, as palhaçadas, até de cupido vocês atacaram... mas valeu por tudo... jamais me esquecerei de vocês... sempre os levarei em um lugar muito especial no meu coração. À Janessa, minha amiga muito especial... a menina dos peixinhos... foi uma ótima parceria!!!... saiba que você poderá contar comigo sempre, tanto para as pesquisas como para desabafar naqueles imensos e-mails, que por sinal eu adoro ler e responder,... sua amizade é uma das boas coisas que a vida acadêmica me proporcionou... sempre fazendo parte da comunidade “as cientistas mais gatas” rs... 14 À Ângela Mikawa, uma grande amiga da ciência... muito obrigada pela ajuda inicial com os DNAs... valiosas foram as suas dicas... foi muito bom ter te conhecido. Aos colegas da Micologia, Julhiany, Tati, Marcelo, Rô e Elaine, pelo auxílio durante os experimentos. Às funcionárias da Faculdade, Rosemira, Rita, Angélica e Márcia, pelo alegre “bom dia” de sempre, pelas brincadeiras, pelos papos e pela amizade. Às funcionárias do Hemonúcleo que me auxiliaram na coleta das amostras de sangue. Aos funcionários do NAC, em especial Vera Lúcia Correa e José Edson Casterete, pelo auxílio na coleta das amostras. Às funcionárias da pós-graduação, Sônia, Laura e Cláudia, pela atenção e auxílio. Às funcionárias da biblioteca pela correção desta dissertação. 15 À Profa. Dra. Maria José Soares Mendes Giannini, por ter autorizado a utilização do termociclador e do capturador de imagens, sem os quais não seria possível a realização deste trabalho. À Profa. Dra. Yara e à Aninha, pelo grande auxílio para que esta pesquisa acontecesse, não tenho palavras para agradecer, muito obrigada por tudo. Aos membros da banca de qualificação, Profa. Dra. Beatriz Maria Machado de Medeiros e Prof. Dr. Marcelo Dias Baruffi, que gentilmente contribuíram para o aprimoramento deste trabalho. À todos os professores da minha graduação e pós-graduação pelas contribuições à minha formação e pelo incentivo à carreira acadêmica. Hoje acredito que o conhecimento seja uma das poucas coisas que se leva para sempre na vida, pois ele não tem preço e não pode ser tirado, por isso é a maior riqueza que podemos possuir. À todos os doadores de sangue deste trabalho, sem os quais não haveria pesquisa, muitos deles meus amigos, que quando me viam no corredor já correriam pois sabiam que iria sobrar para eles rs... obrigada por tudo... nada se faz sem amigos... 16 Ao Prof. Dr. Roberto Passeto Falcão e a Biomédica Aglair Garcia, do laboratório de Hematologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto- USP e à Fabiana Rossetto de Morais, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto-USP, pela utilização do citômetro de fluxo. À Profa. Dra. Cleni Mara Marzocchi-Machado, minha co-orientadora e um pouco mãe, pelo incentivo, paciência, carinho e dedicação. Muito obrigada por tudo, não tenho palavras para agradecer tudo o que você fez por mim durante todos estes anos. Foi um grande prazer e uma inesquecível lição conviver ao lado de um ser humano tão especial, possuidor de admirável conhecimento e competência como você... obrigada!!!! Ao Prof. Dr. Luiz Marcos da Fonseca, meu orientador e um pouco pai, cuja compreensão, sabedoria e simplicidade encerram sem dúvida, as principais qualidades de um grande mestre e ser humano... muito obrigada pela orientação, pelo apoio e incentivo, foi muito bom poder trabalhar ao seu lado e aprender e também ver o carinho, atenção e respeito com os quais os alunos são tratados... Ao Prof. Dr. Paulo Inácio da Costa, pelo apoio e incentivo para que esta pesquisa acontecesse, obrigada pelas valiosas dicas sobre biologia molecular... À CAPES pela bolsa concedida. 17 “Vivemos esperando Dias melhores Dias de paz, dias a mais Dias que não deixaremos Para trás Vivemos esperando O dia em que Seremos melhores Melhores no amor Melhores na dor Melhores em tudo Vivemos esperando O dia em que seremos Para sempre Vivemos esperando Dias melhores pra sempre Vivemos esperando...” (Rogério Flausino)� 18 SUMÁRIO RESUMO ................................................................................ 20 ABSTRACT ............................................................................. 22 LISTA DE FIGURAS ............................................................... 24 LISTA DE TABELAS ............................................................... 26 LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS ............................ 27 1 INTRODUÇÃO ........................................................................ 30 2 OBJETIVOS ............................................................................ 50 3 MATERIAL E MÉTODOS ....................................................... 52 3.1 Amostras de sangue ............................................................... 53 3.2 Extração e caracterização do DNA genômico ........................ 53 3.2.1 Extração por método de salting out ........................................ 53 3.2.2 Quantificação de DNA na amostra e avaliação qualitativa da pureza ..................................................................................... 55 3.2.3 Verificação da qualidade e da integridade do DNA ................ 55 3.3 Análise dos genótipos ............................................................ 56 3.3.1 Análise do genótipo FcγRIIA ................................................... 57 3.3.2 Análise do genótipo FcγRIIIB .................................................. 58 3.3.3 Análise do genótipo SH .......................................................... 60 3.4 Eletroforese dos produtos da PCR ......................................... 62 3.5 Determinação da expressão dos receptores para IgG (FcγRIIa/CD32 e FcγRIIIb/CD16) e para complemento (CR1 e CR3) nos neutrófilos ............................................................ 62 3.6 Medida do burst oxidativo dos neutrófilos ............................... 64 3.6.1 Obtenção dos neutrófilos ........................................................ 64 3.6.2 Fonte de complemento ........................................................... 65 3.6.3 Imunocomplexos ..................................................................... 65 3.6.4 Medida do burst oxidativo por quimioluminescência dependente de luminol ............................................................ 66 3.7 Forma de análise dos resultados ............................................ 67 3.7.1 Análises Estatísticas ............................................................... 67 4 RESULTADOS ........................................................................ 68 19 4.1 Extração e caracterização do DNA genômico ........................ 69 4.2 Alotipagem do FcγRI ............................................................... 69 4.3 Análise da freqüência dos alótipos NA1, NA2 e SH ............... 74 4.4 Análise da freqüência dos genes H-131 e R-131.................... 76 4.5 Análise das combinações dos genótipos ................................ 76 4.6 Medida do burst oxidativo dos neutrófilos ............................... 77 4.7 Quantificação dos FcγR (FcγRIIa/CD32 e FcγRIIIb/CD16) e dos receptores para complemento (CR1 e CR3) nos neutrófilos por citometria de fluxo ........................................... 85 5 CONCLUSÕES ....................................................................... 98 6 DISCUSSÃO ........................................................................... 100 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................ 112 20 RESUMO Os receptores para a porção Fc das IgG (FcγR) estão amplamente expressos nas células do sistema imune e podem estimular uma variedade de respostas efetoras. Três classes de FcγR são descritas nos humanos: FcγRI, FcγRII e FcγRIII. O neutrófilo expressa constitutivamente as isoformas FcγRIIa (CD32) e FcγRIIIb (CD16), as quais apresentam um polimorfismo funcional decorrente do polimorfismo alélico. No FcγRIIa, a substituição da histidina (H) pela arginina (R) na posição 131 resulta nas variantes polimórficas FcγRIIa- R131 e FcγRIIa-H131, que diferem quanto à capacidade de ligação à IgG2 humana. Quanto ao FcγRIIIb (CD16), o polimorfismo genético é responsável pela expressão dos antígenos de neutrófilo (NA)1, NA2 e SH e resulta em um maior número de sítios de glicosilação em NA2. O FcγRIIIb é responsável pela aproximação dos ligantes na membrana para o FcγRIIa e também interage com o receptor para complemento tipo 3 (CR3) na superfície celular. A cooperação entre os FcγRIIa/IIIb com o CR3 promove a estimulação máxima das respostas do neutrófilo, dentre elas o burst oxidativo. Uma vez que a interação FcγRIIIb/CR3 ocorre via sítio de ligação lectina-sacarídeo, o objetivo deste estudo foi avaliar se o polimorfismo alélico do FcγRIIIb poderia afetar a cooperação entre os FcγR e os CR em mediar o burst oxidativo dos neutrófilos. As freqüências dos alelos H/R-131 e NA1/NA2/SH foram analisadas por genotipagem com oligonucleotídeos alelo-específicos e reação em cadeia da polimerase e a densidade de expressão dos receptores (FcγRIIa, FcγRIIIb, CR1 e CR3) foi determinada por citometria de fluxo. A distribuição dos genótipos para o FcγRIIIb (n=169) foi NA1/NA2 (52,1%), NA2 (27,8%) e NA1 (20,1%). Dentre 174 indivíduos, apenas 6,3% apresentaram o gene SH. Quanto aos genótipos para o FcγRIIa (n=143), a distribuição mostrou R-131 (41,2%), H/R-131 (38,5%) e H-131 (20,3%). Os neutrófilos foram estimulados com imunocomplexos (IC) de IgG opsonizados ou não por complemento e o burst oxidativo medido por quimioluminescência. De um modo geral, a opsonização com complemento aumenta o burst oxidativo confirmando os dados da literatura. A cooperação 21 dos CR com os FcγRIIIb em indivíduos NA2/NA2 não foi tão eficiente quanto nos outros genótipos para NA. O genótipo R/NA2 apresentou uma melhor cooperação entre os receptores para gerar o burst. Quanto à expressão de CD16, observou-se uma diferença significativa na expressão de CD16 entre os grupos R/NA2 e HR/NA1/2. Observou-se uma correlação positiva e significativa entre CR3 e CD16. A correlação entre os receptores estudados, em alguns casos, pode ser influenciada pelas diferentes combinações de genótipos. Palavras-chave: Receptores de IgG; neutrófilos; burst oxidativo. 22 ABSTRACT Receptors for immunoglobulin G (FcγR) are known to be expressed on many cells of the immune system and they can trigger a variety of biological responses. Human FcγR belong to the Ig superfamily and three classes of these receptors have been recognized: FcγRI, FcγRII and FcγRIIl, with different affinities and specificities for IgG subclasses. Neutrophils express the FcγRIIa (CD32) and FcγRIIlb (CD16) isoforms, which display a functional polymorphism due to biallelic polymorphisms. In the case of FcγRIIa, an arginine (FcγRIIa-R131) or histidine (FcγRIIa-H131) at amino acid position 131 determines receptor affinity for IgG2, FcγRIIa-H131 being the isoform with highest affinity. On neutrophils, the FcγRIIIb bears the neutrophil antigen (NA) polymorphism, NA1, NA2 and SH, NA2 being the more glycosylated isoform. Cooperation of FcγRIIIb with FcγRIIa and CR3 (complement receptor type 3) is necessary for efficient neutrophil responses, including the oxidative burst. Since the FcγRIIIb/CR3 cooperation occurs via lectin-sacharide-like interaction, the aim of this study was to evaluate whether the allelic polymorphism, NA1 and NA2, could influence the cooperation of FcγRIIIb with CR3 in mediating the oxidative burst of neutrophils. FcγRIIa and FcγRIIIb genotyping analysis were performed by polymerase chain reaction with allele- specific primers and surface expressions of FcγRIIa, FcγRIIIb, CR1 and CR3 on neutrophils were determined by flow cytometry. The FcγRIIIb genotype distribution (n=169) was NA1/NA2 (52.1%), NA2 (27.8%) and NA1 (20.1%). SH gene was found in 11 (6.3%) volunteers from 174 subjects. With respect to the FcγRIIa genotype (n=143), the distribution observed was R131 (41.2%), H/R131 (38.5%) and H (20.3%). Neutrophils were stimulated with immune complexes (IC)-IgG opsonized or not with complement and the oxidative burst was measured by chemiluminescence. Overall the opsonization with complement increased the oxidative burst, as described in literature. In neutrophils homozygous for NA2, the cooperation of CR3 with FcγRIIIb was not efficient, in contracts with those observed in other genotypes for NA. The most efficient cooperation between FcγR and CR in mediating the 23 oxidative burst was observed in neutrophils with the combination of the homozygosis R and NA2. Analysis of combinations of the FcγRIIa (R/H) and FcγRIIIb (NA1/NA2) gene variants revealed that the FcγRIIIb (CD16) expression on neutrophils was significantly different between R/NA2 and HR/NA1/NA2 groups. In addition, overall there was a positive correlation between CD16 and CR3 expressions on neutrophils, but the combinations of the HR/NA alleles may influence the correlation between the receptors studied. Key words: Receptors for IgG; polymorphism; complement receptors; neutrophils; oxidative burst. 24 LISTA DE FIGURAS Figura 1 Esquema representativo do complexo NADPH oxidase na membrana da célula e suas subunidades..................................... 32 Figura 2 Representação esquemática da família de receptores humanos para Fc de Imunoglobulina G (FcγR)............................................. 39 Figura 3 Representação esquemática das variantes polimórficas dos receptores humanos para Fc de imunoglobulina G (FcγR)............................................................................................ 43 Figura 4 Avaliação qualitativa das amostras de DNA extraídas pelo método de salting out.................................................................... 69 Figura 5 Perfil eletroforético dos produtos da PCR para amplificação do DNA com os oligonucleotídeos sense e anti-sense alelos- específicos para NA1 (141pb) e NA2 (221pb) em gel de agarose 2% em TBE pH 8,3. ...................................................................... 70 Figura 6 Perfil eletroforético dos produtos da PCR para amplificação do DNA com os oligonucleotídeos sense e anti-sense alelos- específicos para SH (191pb), em gel de agarose 2% em TBE pH 8,3............................................................................................ 72 Figura 7 Perfil eletroforético dos produtos da PCR para amplificação do DNA com os oligonucleotídeos “sense” e “anti-sense” alelos- específicos para H-131 e R-131 (253pb) em gel de agarose 2% em TBE pH 8,3. ............................................................................ 73 Figura 8 População de neutrófilos obtida a partir do método de gelatina. Lâmina preparada por citocentrifugação. Coloração de Leishman (microscopia de luz com aumento de 100x).............................................................................................. 78 Figura 9 Padronização da concentração de imunocomplexos. Medida do burst oxidativo de neutrófilos (2x106) estimulados com diferentes concentrações de IC-IgG. Ensaio representativo de 3 experimentos individuais............................................................... 78 Figura 10 Representação do perfil de QL registrado (mV) para os diferentes estímulos. Neutrófilos (2x106) de um indíviduo homozigoto para o genótipo FcγRIIIB-NA1 para 60μg de diferentes estímulos...................................................................... 79 25 Figura 11 Medida da QL-dependente de luminol.......................................... 80 Figura 12 QL dos neutrófilos agrupados segundo as diferentes combinações dos genótipos do FcγRIIIb e do FcγRIIa.................. 81 Figura 13 Cooperação dos CR para aumentar o burst oxidativo dos neutrófilos. .................................................................................... 82 Figura 14 Análise da cooperação dos CR com os FcγR em mediar o burst oxidativo de neutrófilos, de indivíduos com genótipos NA1, NA2 e NA1/2, mediado por FcγR (IC-IgG) e/ou FcγR/CR (IC- IgG/SHN)....................................................................................... 83 Figura 15 Perfil de QL dentro do grupo NA2, separado de acordo com as combinações dos genótipos HR para FcγRIIa.............................. 84 Figura 16 Perfil de QL dentro do grupo HR, separado de acordo com as combinações de genótipos para NA............................................. 85 Figura 17 Histogramas representativos dos ensaios de citometria de fluxo para determinação da expressão dos FcγR, FcγRIIa (CD32) e FcγRIIIb (CD16), nos neutrófilos (PMN) humanos de 83 amostras........................................................................................ 86 Figura 18 Histogramas representativos dos ensaios de citometria de fluxo para determinação da expressão dos receptores para complemento, CR1 (CD35) e CR3, nos neutrófilos (PMN) humanos de 55 amostras. ............................................................ 87 Figura 19A-B Análise da expressão de CD16 e CD32 por citometria de fluxo, nos neutrófilos de indivíduos com diferentes combinações dos genótipos para HR/NA................................................................... 88 Figura 20A-B Análise da expressão de CR3 e CR1, por citometria de fluxo, nos neutrófilos de indivíduos com diferentes combinações dos genótipos para HR/NA................................................................... 89 Figura 21A-F Análise da correlação da expressão dos receptores CD16, CD32, CR3 e CR1......................................................................... 90 Figura 22A-I Análise da correlação entre CD16 e CR3 nas diferentes combinações de genótiposHR/NA................................................. 92 Figura 23A-I Correlações entre CR1 e CD16 nas diferentes combinações de genótipos HR/NA........................................................................... 94 Figura 24A-I Correlações entre CD32 e CD16 nas diferentes combinações de genótipos HR/NA........................................................................... 96 26 LISTA DE TABELAS Tabela 1 Distribuição e propriedades dos FcγR humanos....................... 34 Tabela 2 Seqüências dos oligonucleotídeos e das condições de PCR para a alotipagem dos FcγR...................................................... 61 Tabela 3 Distribuição dos genótipos FcγRIIIB e SH e freqüência dos alelos NA1/2.............................................................................. 75 Tabela 4 Freqüência das combinações dos genótipos NA1/2 e SH........ 75 Tabela 5 Distribuição dos genótipos e freqüência dos alelos FcγRIIA..... 76 Tabela 6 Freqüência das combinações observadas para os genótipos FcγR.......................................................................................... 77 Tabela 7 Comparação entre as freqüências dos genótipos para FcγRIIIb entre diferentes populações........................................ 109 Tabela 8 Comparação entre as freqüências dos genótipos para SH entre diferentes populações...................................................... 109 Tabela 9 Comparação entre as freqüências dos genótipos para FcγRIIa entre diferentes populações...................................................... 110 Tabela 10 Comparação entre as freqüências dos genótipos combinados para FcγRIIIb/SH entre diferentes populações.......................... 110 Tabela 11 Comparação entre as freqüências dos genótipos combinados para FcγRIIa/FcγRIIIb entre diferentes populações................... 111 27 LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS A: Adenina ADCC: Antibody-Dependent Cell-Mediated Cytotoxicity Ala: Alanina Asp: Asparagina Ag: Antígeno BD: Becton & Dickinson BSA: Albumina de Soro Bovino (Bovine Serum Albumin) Domínio C: Domínio Citoplasmático C: Citosina ºC: Graus Celsius C3: Componente do Complemento 3 C3b: Componente 3b do complemento C3bi: Fragmento inativado do componente C3b do complemento CD: Cluster of Differentiation cm: Centímetros CR: Receptor para Complemento CR1: Receptor para Complemento tipo 1 CR3: Receptor para Complemento tipo 3 DNA: Ácido desoxiribonucléico dNTP: Dinucleotídeo Trifosfato DO: Densidade Ótica EC: Extracelular EC1: Domínio Extracelular 1 EC2: Domínio Extracelular 2 EDTA.K2: Sal Dipotássico do Ácido Etilenodiaminotetracético EDTA.Na2 Sal Dissódico do Ácido Etilenodiaminotetracético ERO: Espécies Reativas de Oxigênio F: Fenilalanina FACS: Fluorescent Activated Cell Sorter Fc: Fragmento cristalizável FcγR: Fc gamma receptors FcRn: Receptor Fc Neonatal para IgG 28 FITC: Isotiocianato de Fluoresceína G: Guanina g: Força de aceleração da gravidade G-CSF: Fator Estimulador de Colônia Granulocítica GM-CSF: Fator Estimulador de Colônia Granulocítica Monocítica GN: Glomerulonefrite GPI: Glycosyilphosfatidylinositol H: Histidina HGH: Hormônio do Crescimento Humano IC: Imunocomplexo IFN: Interferon Ig: Imunoglobulina IgG: Imunoglobulina da classe G IL: Interleucina ITAM: Immunoreceptor Tyrosyne-based Activation Motif ITIM: Immunoreceptor Tyrosyne-based Inhibitory Motif KCl: Cloreto de Potássio KDa: Kilodáltons LES: Lúpus Eritematoso Sistêmico LFA-1: Leukocyte Function-associated Antigen-1 M: Molar μg: Microgramas μl: Microlitros mg: Miligramas MgCl2: Cloreto de Magnésio min.: Minutos mL: Mililitros mm: Milímetros mM: Milimolar MPO: Mieloperoxidase mV: Milivolts NA: Neutrophil Antigen NA1: Neutrophil Antigen 1 29 NA2: Neutrophil Antigen 2 NAC: Núcleo de Atendimento a Comunidade NaCl: Cloreto de Sódio NADPH: Nicotinamida Adenina Dinucleotídeo Reduzido NH4Cl: Cloreto de Amônio ng: Nanogramas NK: Natural Killer nm: Nanômetros NNA: Neutropenia Neonatal Aloimune pb: Pares de Bases PBS: Salina Tamponada com Fosfato PCR: Reação em Cadeia da Polimerase PE: Ficoeritrina pH: Potencial Hidrogeniônico PMN: Polimorfonucleares QL: Quimioluminescência R: Arginina RNA: Ácido Ribonucléico rpm: Rotações por minuto SBF: Soro Bovino Fetal SDS: Dodecil Sulfato de Sódio SHN: Soro Humano Normal SHNI: Soro Humano Normal Inativado SNP: Single Nucleotide Polymorphism T: Timina TBE: Tris-Borato-EDTA TEA: Trietanolamina TM: Transmembrana TNF: Fator de Necrose Tumoral U: Unidade UV: Ultra-Violeta V: Volts V: Valina 30 1. INTRODUÇÃO 31 Neutrófilos Os neutrófilos são células fagocíticas extremamente importantes na defesa do hospedeiro contra microrganismos invasores e partículas estranhas. Nos mamíferos, a fagocitose de partículas estranhas é favorecida pela ligação das imunoglobulinas aos receptores para a porção Fc (FcR) nos fagócitos profissionais, tais como os neutrófilos e macrófagos, e a partícula opsonizada é, então, rapidamente internalizada. Esta internalização é caracterizada por uma extensão da membrana plasmática, dependente da actina, ao redor da partícula, e é seguida pela produção de espécies reativas de oxigênio, bem como pela liberação de enzimas lisossomais e de citocinas inflamatórias dos fagócitos (MAY; MACHESKY, 2001). Após estimulação o neutrófilo é capaz de produzir um metabolismo oxidativo, não mitocondrial, referido na literatura como burst (surto ou explosão) oxidativo ou respiratório. O burst oxidativo é caracterizado pela produção de espécies reativas de oxigênio (ERO), que são geradas por mecanismos dependentes da mieloperoxidase (MPO) liberada dos grânulos e por mecanismos independentes da MPO. Este metabolismo oxidativo dos neutrófilos é mediado por um complexo enzimático, associado às membranas citoplasmática e dos grânulos específicos, chamado nicotinamida adenina dinucleotídeo reduzido (NADPH) oxidase (Figura 1). O complexo NADPH oxidase está dormente na célula não estimulada, e é formado por sete subunidades, sendo que no estado não ativado, duas permanecem associadas à membrana da célula e cinco no citoplasma. Quando os fagócitos são expostos a estímulos adequados, as sete subunidades se unem e o complexo rapidamente se ativa (BABIOR, 1988; EL-BENNA et al., 2005). 32 Figura 1- Esquema representativo do complexo NADPH oxidase na membrana da célula e suas subunidades (LICHTMAN, et al.,2006). Quando os neutrófilos são ativados, as ERO geradas podem, via oxidação, converter moléculas como o luminol a derivados intermediários instáveis e excitados, que quando retornam ao seu estado fundamental emitem luz na forma de fótons. Esta produção de luz, durante a reação química, é conhecida por quimioluminescência (QL) e é uma das características do burst oxidativo, podendo ser um indicador da ativação do metabolismo oxidativo. Desta forma, o luminol tem sido utilizado, como sonda quimioluminescente no estudo do metabolismo oxidativo dos neutrófilos. O luminol é exclusivamente oxidado pelo peróxido de hidrogênio (H2O2) e espécies derivadas dele sendo a enzima mieloperoxidase, presente nos neutrófilos, um importante catalisador da reação. (ALLEN, 1982). Assim, o luminol pode ser utilizado para avaliar a produção de ERO durante a estimulação dos neutrófilos (GASBARRINI et al., 1998). Os estímulos que desencadeiam o burst oxidativo, envolvem uma variedade de agentes solúveis e particulados, capazes de ativar os fagócitos, podendo estar ou não revestidos por proteínas do hospedeiro (opsoninas), tais como imunoglobulinas, formando complexos antígeno-anticorpo (imunocomplexos = IC) e/ou complemento, que podem aumentar o reconhecimento da partícula pelos fagócitos. Esta ligação é mediada por receptores para a porção Fc (fragmento cristalizável) da IgG (FcγR = Fc gamma receptors) 33 e/ou receptores para complemento (CR) (MANTOVANI, 1975; MELAMED et al., 1982; OKHURO et al., 1995). Desta forma, a possibilidade de se estudar o metabolismo oxidativo dos neutrófilos por QL tem sido amplamente explorada e também utilizada para diferenciar doenças agudas e crônicas, o que implica na importância das alterações deste metabolismo para o significado clínico (ANTON et al., 1988; FONSECA et al., 1993; FONSECA et al., 1998). E como os neutrófilos podem ser ativados via FcγR e/ou CR, as diferenças nestes podem influenciar a dinâmica de ativação destas células. Receptores para IgG (FcγγγγR) As imunoglobulinas da classe G (IgG) exercem inúmeras e importantes funções biológicas pelo fato de interagirem com vários tipos celulares. A base desta interação é a ligação dos domínios Fc da IgG aos FcγR presentes nas membranas das células do sistema imune. Desta forma, os FcγR são importantes mediadores da ligação entre as respostas imunes celular e humoral, fazendo assim a ponte entre a imunidade inata e a adaptativa, com a finalidade de direcionar os imunocomplexos (IC) para as células efetoras (DAËRON, 1997b; BIEZEVELD et al., 2006). A IgG constitui 70-75% do total de imunoglobulinas (Ig) do soro humano, é a classe mais abundante nas respostas imunes secundárias e está distribuída igualmente entre os espaços intra e extravasculares. Existem quatro subclasses de IgG humana (IgG1, IgG2, IgG3 e IgG4) e elas possuem cadeias pesadas denominadas γ1, γ2, γ3 e γ4, respectivamente, que diferem ligeiramente entre si na seqüência de aminoácidos. Estas quatro subclasses de IgG (IgG1-IgG4) ocorrem, aproximadamente em proporções de 66%, 23%, 7% e 4%, respectivamente (MORELL et al., 1972; SCHUR, 1987). Inicialmente, os FcγR foram descritos há mais de 30 anos como glicoproteínas de membrana e, posteriormente, formas solúveis destas moléculas foram identificadas em alguns fluídos biológicos (DAËRON, 1997b; GALON et al., 1995). Os FcγR atuam como 34 reguladores das respostas imunes (NIMMERJAHN; RAVETCH, 2008) e a ligação da IgG aos FcγR estimula uma variedade de respostas biológicas, as quais dependem de fatores como: tipo celular, tipo de receptor Fcγ e natureza do complexo de IgG como está apresentado na Tabela 1. Tabela 1- Distribuição e propriedades dos FcγR humanos Expressão FcγγγγR Constitutiva Induzida Modulada Função Especificidade FcγγγγRI Monócitos, Macrófagos, precursores mielóides CD34+ Neutrófilos (IFN-γ, G- CSF); ↑: G-CSF, IFN-γ, IL-10 Fagocitose, ADCC, Endocitose, Internalização, Apresentação de antígeno, Produção de superóxido, Liberação de: TNF- α, IL-1β, IL-6 Monômeros e agregados de IgG1 e IgG3 humanas Eosinófilos (IFN-γ) ↓: IL-4, IL-3 FcγγγγRII IIa Monócitos, Macrófagos, Neutrófilos, Eosinófilos, Basófilos, Células de Langerhans, Plaquetas, Células endoteliais da placenta, Linhagem de células megacariocíticas ↑: IL-4 ↓: IFN-γ, IL-3 (eosinófilos somente) IIa:Fagocitose, ADCC, Endocitose, Internalização, Burst respiratório, Liberação de: TNF- α, IL-6 IIb Monócitos, Macrófagos, Células B, Subpopulações de Células T IIb1: Capping IIb2: Internalização IIb1/2: Down regulação de células B IIa-H131: IC de IgG3>IgG1=IgG2>>IgG 4 IIa-R131: IC de IgG3>IgG1>>IgG2,4 IC de IgG1 e IgG3 FcγγγγRIII IIIa Macrófafos, Linfócitos grande granulares/células NK, Células T γδ, Subpopulações de monócitos Monócitos: TGF-β ↓: IL-4 ↑: TGF-β Fagocitose, ADCC, Endocitose, Internalização, Produção de superóxido, Liberação de: IFN- γ, TNF-α, Indução de apoptose Afinidade intermediária para IgG monomérica e IC de IgG1 e IgG3 IIIb Neutrófilos Eosinófilos: IFN-γ ↑: IFN-γ, GM- CSF, G-CSF IIIb-NA1: IC de IgG3>>IgG1>>IgG2,4 IIIb-NA2: IC de IgG3>IgG1>>IgG2,4 Fonte: MARZOCCHI-MACHADO; LUCISANO-VALIM, 2005 Estas respostas incluem processos diretamente relacionados com a eliminação de antígenos tais como: fagocitose, citotoxicidade celular dependente de anticorpo (ADCC: antibody dependent cell-mediated cytotoxicity), geração de espécies reativas de oxigênio (indução do burst oxidativo), liberação de enzimas lisossomais, clearance de IC e regulação 35 da produção de anticorpos. Além do fato de que os FcγR também participam da imuno- regulação na patogênese de reações alérgicas (MALBEC; DAËRON, 2007), auto-imunes e inflamatórias (BIEZEVELD et al., 2006; SCHMIDT; GESSNER, 2005; TAN SARDJONO et al., 2003; DAËRON, 1997b). Esta diversidade funcional dos FcγR também é atribuída ao polimorfismo genético, que introduz variações entre os indivíduos (RASCU et al., 1997), bem como à geração de formas solúveis de FcγR (GALON et al., 1995) e ao sinergismo com outros receptores (ZHOU; BROWN, 1994). Nos seres humanos, todos os FcγR pertencem à superfamília das imunoglobulinas e são expressos em muitas células, principalmente nas de origem hematopoética, mas não são marcadores específicos de um clone, e uma mesma célula pode expressar mais do que um tipo deste receptor (DAËRON, 1997a). Sabe-se que os FcγR não reconhecem diretamente o antígeno, mas quando a imunoglobulina se liga ao FcγR, confere ao antígeno especificidade para uma grande variedade de células, sendo que a maioria das quais são destituídas de estruturas para o reconhecimento de antígeno (DAËRON, 1997a; BIEZEVELD et al., 2006), Os FcγR diferem em vários fatores, como: expressão e distribuição das diferentes classes destes receptores na superfície das células hematopoiéticas, peso molecular, afinidade (força e capacidade) de ligação às diferentes sub-classes de IgG e tipo de sinal intracelular. Sendo que a heterogeneidade destas classes de moléculas é ainda aumentada pelos polimorfismos genéticos e funcionais de algumas sub-classes ou isoformas destes receptores (FcγRIIA, FcγRIIIA e FcγRIIIB), cujos polimorfismos estão localizados nos domínios extracelulares, que são sítios de ligação de Ig e desta forma afetam a afinidade de ligação às diferentes sub-classes de IgG (DAËRON, 1997a; GESSNER et al., 1998; KIMBERLY; SALMON; EDBERG, 1995; TORKILDSEN et al., 2005). Assim, as três principais classes de FcγR reconhecidas nas superfícies celulares são: um receptor de alta afinidade FcγRI (CD64) e, os de baixa afinidade, FcγRII (CD32) e FcγRIII (CD16), além do receptor Fc neonatal para IgG (FcRn), cada um contendo múltiplos genes 36 distintos e variantes nos splicings alternativos. Além disso, os receptores FcγR exibem algumas isoformas: FcγRI (CD64) - FcγRIa e FcγRIb; FcγRII (CD32) - FcγRIIa, FcγRIIb e FcγRIIc; e FcγRIII (CD16) - FcγRIIIa e FcγRIIIb. Sendo que alguns destes genes, FcγRIIA, FcγRIIIA e FcγRIIIB, demonstram determinados polimorfismos genéticos (DAËRON, 1997a; GESSNER et al., 1998; KIMBERLY; SALMON; EDBERG, 1995; TORKILDSEN et al., 2005; DE HAAS et al., 1996). As classes de FcγR são codificadas por oito genes distintos que estão localizados no braço longo do cromossomo 1 (1q21-23), nas bandas 1p13 e 1q21 (FcγRI), na banda 1q22 (FcγRII e FcγRIII) e no cromossomo 19 nas bandas 19q13 para o FcRn. Alguns destes genes têm múltiplos exons e a seleção entre estes, na junção do RNA mensageiro (RNA-m) (splicing alternativo), pode gerar proteínas diferentes. A análise da seqüência dos RNAs-m indica a possibilidade da ocorrência de várias isoformas das três principais classes de FcγR, no entanto, muitas delas ainda não foram demonstradas in vivo (DAËRON, 1997b; GESSNER et al., 1998; BAZÍLIO et al., 2004). Além disso, o polimorfismo genético é responsável por variações entre os indivíduos. Por exemplo, o FcγRIIa, presente em neutrófilos, possui duas variantes alotípicas, o FcγRIIa- R131 e o FcγRIIa-H131, sendo que o FcγRIIa-R131 não liga a IgG2, ou o faz muito fracamente. Enquanto que o FcγRIIIb apresenta 3 alótipos, os antígenos de neutrófilo ou antígenos de neutrófilos humanos (NA - Neutrophil Antigen ou HNA – Human Neutrophil Antigens) 1 (NA1 ou HNA-1a) e 2 (NA2 ou HNA-1b) e o SH ou HNA-1c (BUX et al., 1997; SALMON; EDBERG; KIMBERLY, 1990; STEFFENSEN; VARMING; VERSILD, 2000). Em relação à sua estrutura molecular, os FcγR podem apresentar dois ou três domínios extracelulares (EC) semelhantes aos das imunoglobulinas (Ig-like), que são altamente conservados entre as diferentes classes destes receptores. Além dos domínios EC, os FcγR possuem domínios transmembrana (TM) e domínios citoplasmáticos (C). Sendo que o sítio de ligação para a IgG encontra-se no domínio EC de uma cadeia de aminoácidos, denominada cadeia α, presente nos FcγR. Alguns dos FcγR são moléculas 37 formadas por complexos de uma ou mais cadeias (γ, β ou ζ) associadas à cadeia α, sendo assim conhecidos como receptores de cadeias múltiplas, enquanto outros são apenas formados pela cadeia α, e por isso são conhecidos como receptores de cadeia única (GESSNER et al., 1998). Os receptores de IgG formados por cadeias múltiplas, podem ser divididos em dois tipos principais. O primeiro tipo é representado pelos FcγRI e FcγRIIIa, que são compostos de uma cadeia ou subunidade α ligante de IgG, semelhante àquela presente nos receptores de cadeia única. Nestes receptores, embora esta subunidade α apresente domínios EC e TM, o domínio citoplasmático não possui a seqüência de aminoácidos transdutora de sinal intracelular. No entanto, as subunidades α do FcγRI e do FcγRIIIa estão associadas a uma ou duas cadeias acessórias, que contêm tais seqüências de sinalização. Estas cadeias acessórias encontram-se na membrana celular e podem variar de acordo com o tipo celular onde estão expressas. Sendo assim, constituem as subunidades de transdução de sinal intracelular, quando há a ligação da IgG ao seu receptor (DAËRON, 1997b; GESSNER et al., 1998; FLESH; NEPPERT, 2000). O segundo tipo de receptor de IgG, formado por mais de uma cadeia, é o FcRn, e é o que possui alta afinidade para a IgG (ORLOFF et al., 1990). Já os FcγR de cadeia única que são receptores de baixa afinidade e compreendem as isoformas: FcγRIIb, FcγRIIa/c e FcγRIIIb. Os FcγRII apresentam uma cadeia α com um domínio EC, um domínio TM e um domínio C (com uma seqüência de aminoácidos responsável pela transdução de sinal intracelular). Entretanto, a cadeia α do FcγRIIIb não apresenta os domínios TM e C, portanto, a expressão deste receptor na membrana dos neutrófilos é mediada por uma molécula âncora de glicosil fosfatidil inositol (GPI: Glycosylphosphatidylinositol) (DAËRON, 1997b; SELVARAJ et al., 1988; ZHOU; BROWN, 1994). De acordo com as propriedades biológicas dos FcγR de membrana, podemos dividí- los em dois grupos principais sob o aspecto funcional: os FcγR que induzem a ativação 38 celular e os FcγR que não o fazem. Assim, respectivamente, o primeiro grupo de receptores possui um ou mais motivos de ativação citoplasmáticos denominados ITAM (Immunoreceptor Tyrosyne-based Activation Motif) e incluem os receptores de cadeia única (FcγRIIa) e os de cadeias múltiplas (FcγRI e FcγRIIIa). O segundo grupo, o dos receptores sem ITAM, inclui os FcγR que não estimulam a ativação celular e podem ser divididos em: a) receptores de cadeia única (FcγRIIb), apresentando ITIM (Immunoreceptor Tyrosyne-based Inhibitory Motif) no seu domínio C, que inibe a ativação celular mediada pelos receptores com ITAM, b) o FcγRIIIb, que não possui domínio C e por si só não é capaz de ativar a célula, mas contribui para a sinalização graças à co-expressão com outros receptores, o FcγRIIa e o receptor para complemento tipo 3 (CR3), e c) o FcRn, que não estimula nem inibe a célula, apenas medeia a transcitose da IgG em células polarizadas e recentemente tem sido sugerido que em neutrófilos este receptor neonatal tenha um papel importante em mediar a fagocitose (VIDARSSON et al., 2006; DAËRON, 1997a; DAËRON, 1997b). A interação entre FcγR e IgG estimula a rápida fosforilação dos resíduos de tirosina específicos nos motivos ITAMs dos domínios citoplasmáticos do receptor ou das moléculas acessórias (DAËRON, 1997a; DAËRON, 1997b). A Figura 2 ilustra as características estruturais da família de FcγR. 39 Figura 2- Representação esquemática da família de receptores humanos para Fc de Imunoglobulina G (FcγR). S-S: pontes de dissulfeto; ITAM: seqüência de ativação de imuno- receptor baseada em tirosina (Immunoreceptor Tyrosyne-based Activation Motif); ITIM: seqüência de inibição de imuno-receptor baseada em tirosina (Immunoreceptor Tyrosyne- based Inhibitory Motif); GPI: glicosil fosfatidil inositol (glycosylphosphatidylinositol). Os domínios Ig-semelhantes (Ig-like) próximos à membrana são os domínios ligantes de IgG. Com exceção do FcγRIIIb, todos os FcγR são moléculas transmembrana. Os produtos dos genes para cada classe de FcγR e suas subunidades individuais estão indicados como: a, b, e c; e α, β, γ e ζ, respectivamente. Fonte: MARZOCCHI-MACHADO; LUCISANO-VALIM, 2005. O FcγRI é primariamente expresso em monócitos e macrófagos, e como já dito anteriormente, é capaz de ligar IgG monomérica com alta afinidade (GESSNER et al., 1998). Ia Ib2 ITAM Iγγγγ -S-S- FcγγγγRI (CD64) + + FcγγγγRII (CD32) -S-S- + + IIγγγγ IIa IIc + + ITIM IIb3 IIb1 – – – IIb2 -S-S- IIIζζζζ + + + + + + + IIIζζζζ-γγγγ -S-S- + + + + IIIaββββ IIIaγγγγ -S-S- + + IIIa IIIb Âncora de GPI FcγγγγRIII (CD16) FcRn ββββ2 microglobulina αααα αααα αααα αααα αααα αααα αααα αααα αααα αααα 40 O FcγRII é a classe de receptores mais amplamente distribuída e é expresso em muitos tipos de células sangüíneas (leucócitos e plaquetas) (BIEZEVELD et al., 2006). Esta classe de receptor liga IgG na forma de IC e é predominantemente expresso em células mielóides. Um total de três genes, FcγRIIA, FcγRIIB e FcγRIIC, codificam respectivamente três isoformas: FcγRIIa, FcγRIIb e FcγRIIc. E este polimorfismo genético parece ser responsável por variações entre os indivíduos, além do fato de que estas isoformas apresentam funções divergentes, estimulatórias ou inibitórias, dependendo da presença do ITAM ou ITIM (Immunoreceptor Tyrosine-based Activation/Inhibition Motifs) no seu domínio intracitoplasmático (MARZOCCHI-MACHADO; LUCISANO-VALIM, 2005). Assim, a co- ligação tanto ao FcγR inibitório quanto ao FcγR estimulatório, pode determinar a magnitude da resposta celular efetora (VAN DEN BERG et al., 2001). O FcγRIIa está presente nos fagócitos mononucleares, neutrófilos e plaquetas, e é encontrado tanto na forma transmembrana (FcγRIIa1) quanto na forma solúvel (FcγRIIa2). Este tipo de receptor possui um importante e funcional polimorfismo de um único nucleotídeo (SNP: single nucleotide polymorphism), localizado no exon 4 (A/G) que leva à substituição de um aminoácido, uma arginina (R) ou uma histidina (H) na posição 131, no domínio extracelular 2 (EC2) da molécula (BIEZEVELD et al., 2006; WARMERDAN et al., 1990; KUWANO et al., 2000). Assim, dois alelos são expressos co-dominantemente, o FcγRIIa-R131 e o FcγRIIa-H131. Estas variantes polimórficas, interagem diferentemente com as subclasses de IgG, pois esta substituição do aminoácido influencia fortemente a sua capacidade para ligar principalmente a IgG2 humana. Assim, o FcγRIIa-H131 é o receptor de IgG que eficientemente liga IgG2 em humanos, enquanto o FcγRIIa-R131 não o faz ou o faz muito fracamente (BIEZEVELD et al., 2006; BAZÍLIO et al., 2004; TORKILDSEN et al., 2005). Assim, o genótipo H/H induz os fagócitos à uma capacidade de fagocitose maior do que o H/R e o R/R (TORKILDSEN et al., 2005; SALMON et al., 1992). Além disso, como a IgG2 não é um potente ativador da via clássica do complemento, o FcγRIIa-H131 é essencial para uma ligação eficiente de IC de IgG2 (BAZÍLIO et al., 2004) já que esta sub- 41 classe de IgG é a principal responsável pela resposta contra bactérias encapsuladas. Variações alélicas do FcγRIIA são comuns dentro da população e podem influenciar, em certos contextos ambientais e genéticos, na suscetibilidade a doenças mediadas por IC (BAZÍLIO et al., 2004). Quanto aos FcγRIII (CD16) humanos, estes são proteínas altamente glicosiladas que possuem pesos moleculares entre 50 a 80kDa. Estes receptores são capazes de ligar IgG na forma de IC, com especificidade para IgG1 e IgG3 (Ka < 107M-1) e pequena ligação para IgG4 e IgG2 (KIMBERLY; SALMON; EDBERG, 1995; GESSNER et al., 1998). A diversidade molecular do FcγRIII é decorrente da existência de dois genes, FcγRIIIA e FcγRIIIB, altamente homólogos. O produto do gene FcγRIIIA é o FcγRIIIa, que é um receptor transmembrana expresso em macrófagos e em células natural killer (NK), onde medeiam as funções citotóxicas e fagocíticas, sendo que nestas células dois alelos são expressos co-dominantemente, V158 (V: valina) e F158 (F: fenilalanina) (KOENE et al., 1997; WU et al., 1997). Enquanto que o gene FcγRIIIB codifica o FcγRIIIb, exclusivamente expresso nos neutrófilos, ligado à sua membrana por GPI (também promove a estimulação do burst oxidativo), sendo o único FcγR sem domínio TM (SELVARAJ et al., 1988; ZHOU; BROWN, 1994; TORKILDSEN et al., 2005). Mas dados experimentais, revelaram uma associação de proteínas ligadas à GPI dos FcγRIIIb, com domínios particulares de membrana, ricos em tirosina quinases (BROWN; ROSE, 1992; ZHOU; BROWN, 1994). O FcγRIIIb, preferencialmente, remove pequenos complexos imunes (ou imunocomplexos) da circulação. Além disso, o FcγRIIIb é liberado da membrana dos neutrófilos durante a apoptose, e na sua forma solúvel pode inibir a proliferação e a produção de imunoglobulinas por linfócitos B estimulados (BUX et al., 1997). O gene FcγRIIIB também apresenta um polimorfismo, que determina a ocorrência dos alótipos de antígenos específicos dos neutrófilos (NA - Neutrophil Antigen), 1 (NA1) e 2 (NA2), sorologicamente definidos (SALMON; EDBERG; KIMBERLY, 1990; BUX et al., 1997; 42 OMI et al., 2002). A seqüência de nucleotídeos dos genes de NA1 e NA2 codificam uma proteína contendo 233 resíduos de aminoácidos, entretanto, ao nível de DNA, os alelos NA1 e NA2 diferem em cinco nucleotídeos (G/C, C/T, A/G, G/A e G/A, respectivamente nas seguintes posições 141, 147, 227, 277 e 349), dentro do exon três, sendo que um deles (posição 147) é uma mutação silenciosa. Quando estes nucleotídeos são traduzidos, resultam em quatro aminoácidos diferentes entre os alótipos NA (R/S-36, N/S-65, D/N-82 e V/I-106) localizados no domínio EC1, com mutações nas posições 65 e 82, dando origem a dois sítios extras de glicosilação (seis ao invés de quatro) no FcγRIIIb-NA2 (SALMON; EDBERG; KIMBERLY, 1990; BREDIUS et al., 1994; ORY et al., 1989; KUWANO et al., 2000). Os alótipos NA diferem em seu peso molecular relativo: de 50 a 65 kDa para FcγRIIIb-NA1 e de 65 a 80 kDa para FcγRIIIb-NA2. Sendo que os diferentes pesos moleculares são atribuídos aos diferentes padrões de glicosilação, dois sítios de glicosilação a mais na isoforma NA2 do que na NA1. Além disso, os alótipos também se diferenciam pela capacidade de ligação aos diferentes tipos de subclasses de IgG humanas, o que influencia fortemente a capacidade fagocítica dos neutrófilos, demonstrando que este polimorfismo pode ter conseqüências significantes para as funções fisiológicas (BUX et al., 1997; SALMON; EDBERG; KIMBERLY, 1990; KUWANO et al., 2000). Os neutrófilos de indivíduos com o alótipo NA2 são menos eficientes para fagocitar IC com IgG1 e IgG3, quando comparados com os neutrófilos de indivíduos do alótipo NA1. No entanto, estes alótipos não apresentam diferenças quanto à fagocitose mediada por IgG2 (SALMON; EDBERG; KIMBERLY, 1990; BREDIUS et al., 1994). Desta forma, o FcγRIIA e o FcγRIIIB podem ser simultaneamente ligados, levando à uma colaboração na inicialização das funções integradas da célula. O polimorfismo FcγRIIIB-NA1/NA2, apresenta influência sob a função do FcγRIIA de forma alelo-específica. Já o FcγRIIIB-NA2/NA2, apresenta uma menor ativação da fagocitose mediada por FcγRIIA, quando comparada com o FcγRIIIB-NA1/NA1 (OMI et al, 2002). 43 Vários estudos étnicos mostram variações na distribuição dos vários genótipos de FcγR (TORKILDSEN et al., 2005). Aproximadamente 0,1% da população Européia, não expressa o receptor FcγRIIIb em seus neutrófilos e consequentemente não apresentam os antígenos NA1 e NA2. Este fenótipo é chamado de NA-nulo é causado por uma deficiência no gene FcγRIIIB (BUX et al., 1997). Um outro alo-antígeno ou alótipo do gene FcγRIIIB, chamado SH, foi localizado no FcγRIIIb e é resultante de uma mutação em um único nucleotídeo no gene FcγRIIIB-NA2, C (no indivíduo NA2) para A (no indivíduo SH+) na posição 266, que resulta na substituição de uma alanina por um ácido aspártico na posição 78 (BUX et al., 1997; KUWANO et al., 2000). Um estudo de famílias confirmou que esta substituição de nucleotídeos é herdada, e corresponde ao fenótipo SH. Existe ainda uma outra hipótese de que os indivíduos SH positivos, possuam uma cópia adicional do gene FcγRIIIB, o qual pode ocorrer in tandem com NA2-FcγRIIIB (KOENE et al., 1998). Assim, três genes são identificados: FcγRIIIB-NA1, FcγRIIIB-NA2 e FcγRIIIB-SH (BUX et al., 1997; KOENE et al., 1998). A Figura 3 apresenta as variantes polimórficas dos FcγRIIa e FcγRIIIb. Figura 3- Representação esquemática das variantes polimórficas dos receptores humanos para Fc de imunoglobulina G (FcγR): R/Arg (Arginina)-131; H/His (Histidina)-131; V/Val (Valina)-158; F/Fen (Fenilalanina)-158; NA: antígeno de neutrófilo (neutrophil antigen; NA1 e NA2). ITAM: seqüência de ativação de imuno-receptor baseada em tirosina (Immunoreceptor Tyrosyne-based Activation Motif); GPI: glicosil fosfatidil inositol (glycosylphosphatidylinositol). Fonte: MARZOCCHI-MACHADO; LUCISANO-VALIM, 2005. FcγγγγRIIa + IIa-H131 + IIa-R131 -Arg131 -His131 IIIa-F158 IIIa-V158 FcγγγγRIIIa –Fen 158 –Val 158 FcγγγγRIIIb IIIb-NA1 Sítios de Glicosilação < IIIb-NA2 < < < < 44 As diferenças alélicas no FcγRIIA-131 e FcγRIIIA-176 podem predispor o indivíduo às doenças auto-imunes com base numa incapacidade de realizar o clearence dos IC ou mudanças no sinal de transdução sob estímulos apropriados, e alguns autores relatam a ocorrência de lúpus eritematoso sistêmico (LES) em pacientes com deficiência de FcγRIIIB. Além disso, alguns estudos prévios em várias populações indicam uma possível participação ou influência dos polimorfismos de FcγRIIA, FcγRIIIA e FcγRIIIB na suscetibilidade ao LES, nefrite lúpica e artrite reumatóide. Fatos que demonstram a importância da caracterização genética dos indivíduos quanto a estes polimorfismos, para contribuir para a identificação dos fatores primários que possam estar associados com as doenças auto-imunes (GONZÁLEZ-ESCRIBAN et al., 2002). As formas alotípicas do FcγRIIIb (NA1 versus NA2) também apresentam diferenças quanto à ligação e à fagocitose e podem ter relevância clínica para a suscetibilidade à doenças infecciosas. Já que este polimorfismo e a deficiência deste receptor têm sido associados à neutropenia neonatal, quando mães são alo-imunizadas em gestações anteriores, e passam anticorpos IgG anti-FcγRIIIb para o feto FcγRIIIb (+) (VANCE et al., 1993; HUIZINGA et al., 1990). Desta forma, os polimorfismos do FcγR podem influenciar a intensidade da resposta inflamatória, além de contribuir para as diferenças na suscetibilidade às doenças infecciosas e auto-imunes. Existem ainda, variações étnicas na freqüência de distribuição dos diferentes alótipos. Já que a prevalência das doenças auto-imunes e infecciosas também varia entre os diferentes grupos étnicos, pode ser que o polimorfismo destes receptores exerça importância clínica frente a estas doenças (VAN DEN BERG et al., 2001). Receptores para complemento Como o FcγRIIIb é incapaz de estimular a ativação celular por si só, por não possuir uma seqüência de sinalização citoplasmática, a sua interação com outros receptores na superfície celular é importante para uma resposta efetora completa, pois a cooperação do 45 FcγRIIIb com o FcγRIIa e o CR3 é necessária para a fagocitose, ADCC e desgranulação eficientes. Além disso, a co-agregação dos FcγRIIIb nos neutrófilos leva à ativação celular (ZHOU; BROWN,1994; HUNDT; SCHMIDT, 1992). Portanto, a ativação simultânea do FcγRIIIb e CR3 leva ao burst oxidativo em neutrófilos, devido à fosforilação do domínio C do FcγRIIa e ao cross-linking do CR3, que induz a associação do FcγRIIa com o citoesqueleto (ZHOU; BROWN,1994). Uma vez que a expressão do FcγRIIIb é predominante nos neutrófilos, com 1-3x106 moléculas/célula, e a expressão de FcγRIIa é de 1-2x104 moléculas/célula (UNKLESS et al., 1995), há de 10 a 20 vezes mais moléculas de FcγRIIIb expressas na superfície dos polimorfonucleares (PMN) do que FcγRIIa (HUIZINGA et al., 1990; ZHOU; BROWN, 1994). Assim, alguns estudos sugerem que, em neutrófilos, o FcγRIIIb, embora não possua domínios TM ou C, seria importante para o acúmulo de IC na membrana para ativar o FcγRIIa e para estimular o aumento do influxo de cálcio (Ca+2), enquanto que o FcγRIIa seria o responsável pelo potencial de membrana e geração de superóxido (BRUNKHORST et al., 1992; ZHOU et al., 1993). Os neutrófilos expressam os receptores para complemento CR1 e CR3 em sua superfície e ambos estão implicados com a fagocitose. O CR1 (CD35) é uma proteína transmembrana e medeia a aderência de partículas, já o CR3 é uma integrina heterodimérica (CD11b/CD18 ou Mac-1), capaz de ligar vários ligantes através de diferentes sítios de reconhecimento, e a ligação de C3bi (fragmento inativado do componente 3b do complemento) leva à fagocitose da partícula. O CR1 e o CR3 ligam o componente 3b do complemento (C3b) e o C3bi com diferentes afinidades (MAY; MACHESKY, 2001). A cooperação entre FcγR e receptor para complemento (CR) nos neutrófilos para promover a fagocitose está bem estabelecida na literatura (MANTOVANI, 1975; BROWN; BOHNSACK; GRESHAM, 1988; ZHOU et al., 1993). Pelo fato da IgG e do componente do complemento 3 (C3) serem as duas principais opsoninas do soro humano, a colaboração entre os receptores para anticorpo e complemento possui um importante papel na defesa do 46 hospedeiro, e o sinergismo entre anticorpo e complemento ativa as funções efetoras dos fagócitos (MANTOVANI, 1975; ZHOU; BROWN, 1994). Desde o trabalho de Ehlenberger e de Nussenzweig (1977) foi proposto que o papel da opsonização das partículas com complemento e sua interação com os CR era apenas aumentar a eficiência da apresentação de IgG para receptores Fc em fagócitos. Outros dados da literatura também apontavam para a falta de um papel para os CR na sinalização das funções destas células (ADEREM et al., 1985). Porém, outros estudos sugerem que os CR possam ter um papel direto na transdução de sinal, em funções mediadas por FcγR em fagócitos. Estudos bio-físicos mostraram que o CR3, um membro da família das β2 integrinas, coopera com FcγRIII em PMN, hipotetizando-se uma interação física direta entre FcγRIII e CR3 (ZHOU; BROWN, 1994). Um mecanismo potencial para a associação física destas duas moléculas na superfície dos neutrófilos é a interação lectina-sacarídeo (lectin-saccharide). Esta hipótese parece atrativa, porque Ross et al. (1985) mostraram que os CR3 possuem atividade lectina- semelhante e o FcγRIIIb apresentam sítios de ligação para a lectina. Portanto, para que haja a interação entre FcγRIIIb e outros receptores é necessário que este possua sítios para lectina (ZHOU et al., 1993). Além disso, os neutrófilos possuem uma outra integrina, a LFA-1 (leukocyte function-associated antigen-1; CD11a/CD18), que é estrutural e funcionalmente homóloga ao CR3. Esta molécula participa na interação entre CR3 e FcγRIIIb na membrana dos neutrófilos. Assim, além de ligar carboidratos na superfície de partículas estranhas, o CR3 também pode se ligar a carboidratos expressos na superfície dos neutrófilos (ZHOU et al., 1993). Em particular, o FcγRIIIb é conhecido por possuir cadeias de oligossacarídeos, desta forma, a interação do CR3 com o FcγRIIIb via o sítio de ligação lectina-sacarídeo-like, poderia explicar a associação destes receptores, a qual é importante para a fagocitose com FcγR descrita anteriormente (MANTOVANI, 1975; KIMBERLY et al, 1990; ZHOU et al., 1993; ROSS; CAIN; LACHMANN, 1985). 47 FcγγγγR e doenças Existem circunstâncias nas quais a interação dos IC com os neutrófilos, via FcγR e/ou CR, pode estar envolvida na fisiopatologia de doenças inflamatórias crônicas, especialmente aquelas de caráter auto-imune, tais como as doenças por imunocomplexos (DAVIES, 1996). Nestas doenças ocorre deposição de IC nos tecidos e conseqüentemente acúmulo de neutrófilos, estabelecendo-se um processo inflamatório no local. Os neutrófilos aderem aos IC depositados na tentativa de fagocitá-los. No entanto, o IC não é internalizado e em conseqüência desta fagocitose “frustrada”, há uma liberação maciça das ERO e enzimas lisossomais dos neutrófilos sobre as células do hospedeiro, causando lesão tecidual. Em circunstâncias normais, as proteinases que extravasam para o meio extracelular, durante a fagocitose, são rapidamente inativadas por antiproteinases, presentes nos fluidos intersticiais e no plasma, limitando os efeitos deletérios das proteinases sobre os tecidos. No entanto, estudos demonstraram que as antiproteinases eram sensíveis à oxidação por reagentes químicos ou produtos dos neutrófilos estimulados. A oxidação das antiproteinases diminui cerca de duas mil vezes a velocidade de associação entre estes inibidores e a elastase do neutrófilo. Assim, o ataque dos tecidos pela elastase não pode ser inibido. Ainda que o recrutamento dos neutrófilos para o foco inflamatório, inicialmente, tenha a função de defesa, em algumas circunstâncias, como nas doenças por IC, estas células tornam-se responsáveis pela destruição dos tecidos do hospedeiro (WEISS, 1989). Os IC formados por IgG estão envolvidos na patogênese de várias nefropatias incluindo a glomerulonefrite (GN) causada pelo LES. O clearance anormal de IC de IgG é considerado um importante fator na patogênese da GN, particularmente na nefrite causada pelo LES. Este clearance depende essencialmente da expressão de receptores para IgG (FcγR) nas células (MARZOCCHI-MACHADO; LUCISANO-VALIM, 1997). Existe ainda, uma alta relevância com relação aos polimorfismos das isoformas dos FcγR para a suscetibilidade e para o prognóstico das doenças auto-imunes (SALMON; 48 PRICOP, 2001; KARASSA; TRIKALINOS; IOANNIDIS, 2004), das doenças infecciosas (YUAN et al., 2003; REKAND et al., 2002), das respostas biológicas aos agentes terapêuticos (LOUIS et al., 2004, GRUEL et al., 2004) e do risco de rejeição a aloenxertos (YUAN et al., 2004). Os antígenos NA são clinicamente importantes, pois o polimorfismo estrutural do FcγRIIIb resulta na formação de alo-anticorpos, os quais podem ser responsáveis pela ocorrência da neutropenia neonatal alo-imune (NNA) e reações transfusionais (KOENE et al., 1998). Por causa da alo-imunização, o SH também tem sido reportado como causa da NNA, pois alo-anticorpos para o antígeno SH já foram identificados no soro materno de casos de NNA, indicando que a alo-imunização não é um evento raro. Embora esta patologia não seja muito freqüente, a NNA pode levar à graves infecções, como meningite ou pneumonia, principalmente quando não reconhecida adequadamente logo após o nascimento (BUX et al., 1997). Assim, pelo fato dos FcγR mediarem importantes respostas biológicas, especialmente a ativação de neutrófilos, a ativação e a regulação das funções mediadas por eles podem estar envolvidas na fisiopatologia de várias doenças e processos inflamatórios (revisado em MARZOCCHI-MACHADO; LUCISANO-VALIM, 2005). Portanto, o estudo da influência do polimorfismo dos FcγR, nas funções biológicas mediadas por eles, pode contribuir (i) para o entendimento da fisiopatologia de doenças infecciosas, bem como aquelas de caráter auto-imune; e (ii) para identificar indivíduos, cujo fenótipo determinado pelo polimorfismo dos FcγR possa conferir suscetibilidade ou proteção para determinadas doenças. Uma vez que a isoforma NA2 do FcγRIIIb difere da NA1 nos sítios de glicosilação, e que a interação do CR3 com o FcγRIIIb ocorre via o sítio de ligação lectina-sacarídeo, seria interessante determinar se este polimorfismo poderia afetar a cooperação entre CR3 e FcγRIIIb em mediar o burst oxidativo dos neutrófilos. Além disso, os estudos de determinação da freqüência dos alelos NA1/NA2 têm sido relacionados à avaliação da alo- 49 imunização pelos antígenos NA1 e NA2 durante a gravidez. Ainda não está bem estabelecida a freqüência desta imunização com a ocorrência da neutropenia neonatal (BUX; MUELLER-ECKHARDT, 1992; ZUPANSKA et al., 2001). 50 2. OBJETIVOS 51 2.1. Gerais 2.1.1. Avaliar a influência do polimorfismo FcγRIIIb (NA1/NA2) na cooperação com os CR para mediar o burst oxidativo dos neutrófilos humanos. 2.1.2. Analisar a freqüência dos genes NA1 e NA2 nos doadores de sangue do Hemonúcleo Regional de Araraquara do Núcleo de Atendimento à Comunidade (NAC), unidade auxiliar associada à Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Araraquara, Universidade Estadual Paulista (UNESP) “Júlio de Mesquita Filho”. 2.2. Específicos 2.2.1. Avaliar a influência do polimorfismo FcγRIIIb (NA1/NA2) na cooperação com os CR, em mediar o burst oxidativo dos neutrófilos utilizando como estímulos: (a) IC contendo IgG para avaliar a resposta dos neutrófilos mediada somente por FcγR; (b) IC contendo IgG e complemento do soro humano normal (SHN): IC/IgG-SHN, para avaliar a resposta dos neutrófilos mediada pela cooperação FcγR/CR; 2.2.2. Determinar os alótipos do FcγRIIIb, NA1 e NA2, por PCR alelo-específico, para estabelecer os grupos de indivíduos homozigotos NA1, homozigotos NA2 e heterozigotos NA1/NA2. 2.2.3. Determinar a densidade de expressão dos FcγR (FcγRIIa e FcγRIIIb) e dos CR (CR1 e CR3), por citometria de fluxo, para avaliar se existe relação do polimorfismo com a expressão dos receptores e com o resultado do teste funcional do burst oxidativo. 52 3. MATERIAL E MÉTODOS 53 3.1 Amostras de sangue O protocolo de pesquisa foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Araraquara (UNESP) e recebeu parecer favorável para a sua realização (Anexo 1). As amostras de sangue foram obtidas de voluntários adultos saudáveis doadores de sangue do Hemonúcleo Regional de Araraquara do Núcleo de Atendimento à Comunidade (NAC), unidade auxiliar associada à Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Araraquara, Universidade Estadual Paulista (UNESP) “Júlio de Mesquita Filho”. O doador voluntário foi esclarecido sobre a pesquisa, e após decidir participar desta, recebeu e assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 2). O sangue foi colhido por punção venosa, utilizando-se sistema de coleta a vácuo, Vacutainer®, em tubos estéreis e descartáveis contendo o sal dipotássico do ácido etilenodiaminotetracético (EDTA-K2) como anticoagulante. Cento e setenta e cinco (175) amostras de sangue foram coletadas e os respectivos ácidos desoxirribonucléicos (DNA) foram extraídos e armazenados. Deste total, 169 amostras foram genotipadas para o polimorfismo FcγRIIIb-NA1/NA2, 174 para o SH e 143 amostras para o polimorfismo FcγRIIa-H/R-131. Oitenta e três (83) amostras foram analisadas quanto à expressão dos FcγR [FcγRIIa (CD32) e FcγRIIIb (CD16)] e 55 amostras quanto à expressão dos CR (CR1 e CR3) na membrana dos neutrófilos. E 23 amostras foram submetidas à avaliação funcional dos neutrófilos medida por ensaios de quimioluminescência dependente de luminol. 3.2 Extração e caracterização do DNA genômico 3.2.1 Extração por método de “salting out” A extração de DNA foi realizada pelo método de salting out descrito por Abdel- Rahman, (1994) e Dynal, (1996) com algumas modificações. O protocolo para preparação das soluções consta no anexo 5. 54 As amostras de DNA genômico foram obtidas a partir da camada leucocitária separada após a centrifugação do sangue total, colhido com anticoagulante EDTA-K2, a 1000g por 10 minutos. Quinhentos microlitros de sangue total ou da camada leucocitária foram colocados em tubo tipo eppendorf e acrescidos de 1mL de tampão de lise para eritrócitos, que estava 5 vezes concentrado. A mistura foi cuidadosamente homogeneizada por inversão por 30 segundos e submetida à centrifugação a 15000g por 1 minuto. O sobrenadante foi desprezado e as células foram lavadas com 1mL de água destilada pura estéril e centrifugadas a 15000g por 1 minuto, desprezando-se o sobrenadante. As células foram ressuspendidas em uma mistura contendo 80μL de solução tampão proteinase K (5 vezes concentrado), 30μL de uma solução estoque de proteinase K (10mg/mL), 40μL de SDS (Dodecil Sulfato de Sódio) a 10% e 216μL de água destilada pura estéril. Esta suspensão foi mantida em banho a 56ºC por 30 minutos. Em seguida, a preparação foi resfriada à temperatura ambiente e, então, acrescida de 132μL de NaCl 5M, homogeneizada em vórtex por 15 segundos e submetida à centrifugação a 15000g por 6 minutos. O sobrenadante foi transferido para outro tubo limpo e estéril e submetido à centrifugação a 15000g por 3 minutos. Novamente o sobrenadante foi transferido para outro tubo limpo e estéril e 1mL de etanol absoluto (Merck) foi acrescentado. A mistura foi homogeneizada, deixada em repouso à temperatura ambiente por 2 minutos e submetida à centrifugação a 15000g por 2 minutos. O sobrenadante foi desprezado e o precipitado lavado com uma solução de etanol a 70% e centrifugado a 15000g por 2 minutos. A seguir, a remoção do sobrenadante foi realizada cuidadosamente e o tubo foi mantido invertido sobre um papel de filtro absorvente durante 5 minutos ou mais até a secagem completa. O DNA presente no precipitado seco foi dissolvido em 100μL de água destilada pura estéril, homogeneizado em vórtex por 30 segundos e, então, armazenado à temperatura de 4 a 8ºC, em tubo tipo eppendorf fechado, até o momento do uso. 55 3.2.2 Quantificação de DNA na amostra e avaliação qualitativa da pureza As amostras de DNA foram avaliadas quanto à concentração e pureza do material obtido baseando-se em métodos descritos em Maniatis et al., (1989). Para a quantificação, as amostras foram diluídas 100 vezes (1:100) em água destilada pura e a leitura das absorbâncias nos comprimentos de onda de 260 e 280nm foi determinada em espectrofotômetro modelo Hitachi U-3000. A quantidade de DNA existente na amostra foi determinada pela leitura da absorbância no comprimento de onda de 260nm, onde 1 unidade de densidade ótica (DO) corresponde a 50μg de DNA/mL. A concentração de DNA foi calculada pela seguinte fórmula: A pureza do ácido nucléico na amostra foi estimada pela razão entre os valores das leituras de DO em 260nm e 280nm (DO260nm/DO280nm), como mostra a fórmula abaixo, sendo que esta relação deve estar entre 1,8 e 2,0. 3.2.3 Verificação da qualidade e integridade do DNA As amostras de DNA foram submetidas à eletroforese em gel de agarose, para verificação da pureza da amostra e da integridade do DNA, baseando-se em métodos descritos em Maniatis et al., (1989). Cada gel foi preparado com 100 mL de agarose 0,8% em tampão Tris-Borato-EDTA (TBE) pH 8,3, nas dimensões de 11 x 14cm. Os poços para a aplicação das amostras foram confeccionados colocando-se um pente de 1mm de espessura, o qual foi retirado após a solidificação da agarose. Cinco microlitros de cada amostra de DNA diluídas 50 vezes foram acrescentados a 10μL de uma solução corante, contendo: azul de bromofenol 0,1%, SDS 1%, glicerol 50% e EDTA-Na2 0,1 M (tampão da amostra). As amostras com a solução DNA na amostra (μg/mL) = DO amostra (260nm) x 50 x diluição da amostra Pureza da amostra = DO amostra (260nm) / DO amostra (280nm)�� 56 corante, foram homogeneizadas em vórtex e, então, aplicadas nos poços do gel. Para a corrida eletroforética foram utilizadas cubas contendo eletrodo de platina e conectadas a uma fonte de corrente contínua. Antes de iniciar a corrida, deixou-se passar o tampão TBE pH 8,3 pelo gel durante 1 hora. A corrida foi acompanhada pela migração do azul de bromofenol, contido na solução corante da amostra, durante cerca de 40 minutos a 100 volts (V). Após a migração, o gel foi corado em um recipiente contendo 200mL de água destilada pura e 10μL de uma solução estoque de brometo de etídeo 10mg/mL, durante 10 a 15 minutos, para a visualização do DNA em transluminador de luz ultra-violeta (UV). Como o brometo de etídeo é capaz de absorver luz a 300nm e emitir luz vermelha e alaranjada a 590nm, a quantidade de brometo de etídeo intercalado no DNA, visto através do brilho refringente, é proporcional à concentração de DNA na amostra. 3.3. Análise dos genótipos A fim de esclarecer a nomenclatura apresentada, as formas “FcγRIIA” e “FcγRIIIB”, designam os genes para os receptores, enquanto que as formas “FcγRIIa” e “FcγRIIIb”, os produtos dos respectivos genes. Para estabelecer os grupos de indivíduos, os genótipos dos FcγR foram determinados tanto para o polimorfismo do FcγRIIIB (NA1/NA2 e SH), quanto para o FcγRIIA (H131/R131). Assim, obtivemos os seguintes grupos: a) NA1/H131/SH-; b) NA1/R131/SH-; c) NA2/H131/SH+; d) NA2/H131/SH-; e) NA2/R131/SH+; f) NA2/R131/SH-; g) NA1/NA2/H131/SH+; h) NA1/NA2/H131/SH-; i) NA1/NA2/R131/SH+; j) NA1/NA2/R131/SH-; k) NA1/H131/R131/SH-; l) NA2/H131/R131/SH+; m) NA2/H131/R131/SH-; n) NA1/NA2/H131/R131/SH+ e o) NA1/NA2/H131/R131/SH-. A análise do polimorfismo alélico dos FcγR foi realizada pela técnica de amplificação do DNA genômico auxiliada pela polimerase (PCR: Reação em Cadeia da Polimerase), utilizando-se oligonucleotídeos (primers) alelo-específicos. 57 Um controle positivo interno para o produto da PCR foi obtido pela adição, em todos os tubos, de oligonucleotídeos controles, 0,5mM do sense (5’ gcc ttc cca acc att ccc tta 3’) e 0,5mM do “anti-sense” (5’ ctc acg gat ttc tgt gtt tc 3’), para o gene HGH (Hormônio do Crescimento Humano), conforme descrito por Kuwano et al., (2000) e Tong et al., (2003), que foram adicionados a todos os tubos na concentração de 0,5mM, e visualizado no gel de agarose com peso molecular de 428pb. E ainda, como controle de contaminação dos reagentes com DNA, dois controles contendo todo o mix de reação, mas sem DNA, cada um contendo um dos primers alelo-específicos, também foram incluídos e submetidos às mesmas condições de reações dos outros tubos que continham amostras de DNA. E como controles da genotipagem, foram utilizadas amostras previamente genotipadas e seqüenciadas, adicionadas a todas as reações. 3.3.1 Análise do genótipo FcγγγγRIIA As formas alélicas FcγRIIA-H-131 e FcγRIIA-R-131 resultam nas variantes: H-131 e R- 131. Assim, para a análise do polimorfismo alélico do FcγRIIA duas PCRs foram realizadas para cada amostra de DNA. As reações utilizaram oligonucleotídeos sense específicos para cada um dos alelos (H-131 e R-131) e anti-sense comum aos dois, a saber: para H-131, sense 5’ atc cca gaa att ctc cca 3’, para R-131, sense 5’ atc cca gaa att ctc ccg 3’ e o anti- sense em comum 5’ caa ttt tgc tgc tat ggg c 3’. As seqüências dos oligonucleotídeos para H- 131 e R-131 foram reproduzidas de acordo com aquelas descritas por Osborne et al., (1994) e Kuwano et al., (2000) e aneladas à seqüência de DNA disponível no genbank para a verificação da seqüência dos oligonucleotídeos (Anexo 3). O volume total de reação em cada tubo foi de 25μL, sendo 100 a 200ng de DNA genômico (2,0μL) e o restante de um mix de reação. Foram realizados dois tubos de mix, um correspondente ao H-131 e outro ao R-131. O tubo de mix do H-131 era constituído pelas seguintes quantidades de reagentes correspondentes a uma amostra, sendo estas quantidades multiplicadas de acordo com o número de amostras, assim: 2,5μL de tampão 58 para PCR contendo KCl (10 vezes concentrado) (Fermentas); 2,0μL ou 2mM de solução de MgCl2 (25Mm) (Fermentas); 0,5μL ou 200μM de dinucleotídeo trifosfato (dNTP) (Promega); 0,1μL ou 0,5 unidade (U) de Taq DNA polimerase recombinante (Fermentas); 1mM ou 1,0μL de oligonucleotídeo H-131 sense (Bioneer); 1mM ou 1,0μL de oligonucleotídeo H/R-131 anti-sense (Bioneer) ; 0,5μL de cada oligonucleotídeo sense e anti-sense HGH (Bioneer) e água destilada pura estéril em quantidade suficiente para completar 25μL. O tubo de mix do R-131 era constituído pelas mesmas quantidades e reagentes do tubo para H-131, sendo que mudava-se apenas o oligonucleotídeo alelo-específico sense correspondente ao R-131 pois o oligonucleotídeo anti-sense (Bioneer) era comum aos dois tubos de reação. O tamanho dos fragmentos obtidos após a amplificação era: 253pb. As reações foram realizadas em um ciclador automático de temperatura Gene Amp PCR System 2400 (Perkin Elmer) nas condições descritas por Osborne et al., (1994) e Kuwano et al., (2000), com algumas modificações: 4 minutos a 95ºC para desnaturação inicial; 30 ciclos de amplificação de 1 minuto a 95ºC para desnaturação, 2 minutos a 57ºC para anelamento e 1 minuto a 72ºC para extensão, seguidos de um acréscimo de 5 minutos a 72ºC para completar a extensão final. Ao final da reação as amostras foram mantidas no ciclador a 4ºC e posteriormente foram armazenadas a -20ºC até o uso. 3.3.2 Análise do genótipo FcγγγγRIIIB As formas alélicas FcγRIIIB-NA1 e FcγRIIIB-NA2 resultam nas variantes polimórficas: os alo-antígenos NA1 e NA2, respectivamente. Assim, para a análise do polimorfismo alélico do FcγRIIIB duas PCRs foram realizadas para cada amostra de DNA. As reações utilizaram oligonucleotídeos sense específicos para cada um dos alelos (NA1 e NA2) e anti-sense comum aos dois, a saber: para NA1, sense 5’ cag tgg ttt cac aat gtg aa 3’, para NA2, “sense” 5’ ctc aat ggt aca gcg tgc tt 3’ e o anti-sense em comum 5’ atg gac ttc tag ctg cac 3’. As seqüências dos oligonucleotídeos para NA1 e NA2 foram reproduzidas de acordo com aquelas descritas por Torkildsen et al., (2005) e 59 aneladas à seqüência de DNA disponível no genbank para a verificação da seqüência dos oligonucleotídeos (Anexo 4). O volume total de reação em cada tubo foi de 25μL sendo 100 a 200ng de DNA genômico (2,0μL) e o restante de um mix de reação. Foram realizados dois tubos de mix, um correspondente ao NA1 e outro ao NA2. O tubo de mix do NA1 era constituído pelas seguintes quantidades de reagentes correspondentes a uma amostra, sendo estas quantidades multiplicadas de acordo com o número de amostras, assim: 2,5μL de tampão para PCR contendo KCl (10 vezes concentrado) (Fermentas); 2,0μL ou 2mM de solução de MgCl2 (25Mm) (Fermentas); 0,5μL ou 200μM de dinucleotídeo trifosfato (dNTP) (Promega); 0,1μL ou 0,5 unidade (U) de Taq DNA polimerase recombinante (Fermentas); 1mM ou 1,0μL de oligonucleotídeo sense NA1 (Bioneer); 1mM ou 1,0μL de oligonucleotídeo anti-sense (Bioneer); 0,5μL de cada oligonucleotídeo sense e anti-sense HGH (Bioneer) e água destilada pura estéril em quantidade suficiente para completar 25μL. O tubo de mix do NA2 era constituído pelas mesmas quantidades e reagentes do tubo para NA1, sendo que mudava-se apenas o oligonucleotídeo alelo-específico sense correspondente ao NA2. Os tamanhos dos fragmentos obtidos após a amplificação eram: 141 pb para o NA1 e 221 pb para o NA2. As reações foram realizadas em um ciclador automático de temperatura Gene Amp PCR System 2400 (Perkin Elmer) nas condições descritas por Torkildsen et al., (2005) com algumas modificações: 3 minutos a 94ºC para desnaturação inicial; 30 ciclos de amplificação de 1 minuto a 94ºC para desnaturação, 2 minutos a 57ºC para anelamento e 1 minuto a 72ºC para extensão, seguidos de um acréscimo de 10 minutos a 72ºC para completar a extensão final. Ao final da reação as amostras foram mantidas no ciclador a 4ºC e posteriormente foram armazenadas a -20ºC até o uso. 60 3.3.3 Análise do genótipo SH O alelo SH resultante de uma mutação do gene FcγRIIIB-NA2 dá origem ao alo- antígeno SH. Para a análise do alelo SH uma PCR foi realizada para cada amostra de DNA. As reações utilizaram os seguintes oligonucleotídeos: sense 5’ aag atc tcc caa aag gct gtg 3’, e o anti-sense 5’ act gtc gtt gac tgt gtc at 3’. As seqüências dos oligonucleotídeos para SH foram reproduzidas de acordo com aquelas descritas por Kuwano et al., (2000) e aneladas à seqüência de DNA disponível no genbank para a verificação da seqüência dos oligonucleotídeos (Anexo 4). O volume total de reação em cada tubo foi de 22,5μL sendo 100 a 200ng de DNA genômico (2,5μL) e 20μL do mix de reação. O mix de reação era constituído pelas seguintes quantidades de reagentes correspondentes a uma amostra, sendo estas quantidades multiplicadas de acordo com o número de amostras, assim: 2,25μL de tampão para PCR contendo KCl (10 vezes concentrado) (Fermentas); 1,125μL ou 2mM de solução de MgCl2 (50Mm) (Fermentas); 0,45μL ou 200μM de dinucleotídeo trifosfato (dNTP) (Promega); 0,16μL ou 0,5 unidade (U) de Taq DNA polimerase recombinante (Fermentas); 1mM ou 0,45μL de oligonucleotídeo sense (Bioneer); 1mM ou 0,45μL de oligonucleotídeo anti-sense (Bioneer); 0,12μL de cada oligonucleotídeo sense e anti-sense HGH (Bioneer) e água destilada pura estéril em quantidade suficiente para completar 22,5μL. O tamanho do fragmento obtido após a amplificação era de 191pb. As reações foram realizadas em um ciclador automático de temperatura Gene Amp PCR System 2400 (Perkin Elmer) nas condições descritas por KUWANO et al. (2000) com algumas modificações: 5 minutos a 94ºC para desnaturação inicial; 30 ciclos de amplificação de 30 segundos a 95ºC para desnaturação, 1 minuto a 60ºC para anelamento e 30 segundos a 71ºC para extensão, seguidos de um acréscimo de 5 minutos a 71ºC para completar a extensão final. Ao final da reação as amostras foram mantidas no ciclador a 4ºC e posteriormente foram armazenadas a -20ºC até o uso. 61 A Tabela 2 resume todos os oligonucleotídeos e condições para a análise dos genótipos FcγRIIa, FcγRIIIb e SH. Tabela 2- Seqüências dos oligonucleotídeos e das condições de PCR para a alotipagem dos FcγR. Gene e/ou alelo Seqüências dos oligonucleotídeos* Condições de PCR Referências Bibliográficas FcγRIIA H-131 sense 5’ atc cca gaa att ctc cca 3’ R-131 sense 5’ atc cca gaa att ctc ccg 3’ H e R-131 anti-sense 5’ caa ttt tgc tgc tat ggg c 3’ Hot start: 4 min. a 95ºC 30 ciclos: 1 min. a 95ºC 2 min. a 57ºC 1 min. a 72ºC Extensão: 5 min. a 72ºC Final: ∞ a 4ºC OSBORNE et al., 1994 KUWANO et al., 2000 FcγRIIIB NA1 sense 5’ cag tgg ttt cac aat gtg aa 3’ NA2 sense 5’ ctc aat ggt aca gcg tgc tt 3’ NA1 e NA2 anti-sense 5’ atg gac ttc tag ctg cac 3’ Hot start: 3 min. a 94ºC 30 ciclos: 1 min. a 94ºC 2 min. a 57ºC 1 min. a 72ºC Extensão: 10 min. a 72ºC Final: ∞ a 4ºC TORKILDSEN et al., 2005 SH sense 5’ aag atc tcc caa aag gct gtg 3’ anti-sense 5’ act gtc gtt gac tgt gtc at 3’ Hot start: 5 min. a 94ºC 30 ciclos: 30 seg. a 95ºC 1 min. a 60ºC 30 seg. a 71ºC Extensão: 5 min. a 71ºC Final: ∞ a 4ºC KUWANO et al., 2000 HGH sense 5’ gcc ttc cca acc att ccc tta 3’ anti-sense 5’ ctc acg gat ttc tgt gtt tc 3’ KUWANO et al., 2000; TONG et al., 2003 62 3.4 Eletroforese dos produtos da PCR Os fragmentos de DNA amplificados por PCR, para as variantes polimórficas do FcγR, foram separados por eletroforese em gel de agarose 2% em tampão TBE pH 8,3. Uma amostra de 10μL do produto de cada PCR foi misturada a 2μL do tampão da amostra para eletroforese de DNA, contendo azul de bromofenol. Estas misturas foram homogeneizadas em vórtex e, então, aplicadas nos poços do gel. Amostras padrões de marcadores de número de pares de base, DNA ladder 50pb, também foram aplicadas nos géis (0,5μg/poço). O preparo dos géis e as condições da corrida eletroforética foram realizados como descrito anteriormente para as amostras de DNA genômico (item 3.2.3). A corrida foi acompanhada pela migração do azul de bromofenol, contido na mistura da amostra, durante 60 a 90min a 100V. Após a migração, o gel foi corado em uma solução formada por 200mL de água destilada pura e 10μL de uma solução estoque de brometo de etídeo 10mg/mL, durante 10 a 15 minutos. As imagens dos fragmentos de DNA corados nos géis de eletroforese foram capturadas em um sistema ImageMaster® VDS, Pharmacia Biotech. 3.5 Determinação da expressão dos receptores para IgG (FcγγγγRIIa/CD32 e FcγγγγRIIIb/CD16) e para complemento (CR1 e CR3) nos neutrófilos Amostras de sangue total (100μL) de cada doador saudável foram utilizadas. Cada amostra foi incubada, à temperatura ambiente, por 20 minutos, ao abrigo da luz, com 5μL do anticorpo específico anti-receptor marcado com fluorocromo ou com o anticorpo isotipo controle como descrito por Marzocchi-Machado et al., (2002). As amostras que receberam o isotipo controle foram utilizadas para descontar a fluorescência causada pela ligação inespecífica do respectivo isotipo anti-receptor à célula. Após este período de incubação, todas as amostras receberam 2000μL de tampão de lise da marca Becton & Dickinson (BD), 63 para lisar os eritrócitos e foram mantidas à temperatura ambiente, por 10 minutos, ao abrigo da luz, e, em seguida, centrifugadas a 550g, a 4ºC, por 10 minutos. As misturas foram lavadas em 2000μL de PBS/SBF (Soro Bovino Fetal) 2%/azida ≤ 0,1 % pH7,2 gelado, a 550g, a 4ºC, por 10 minutos, e ressuspendidas em 500μL de PBS/formol 1%, para leitura no citômetro de fluxo dentro de 24 horas. Os anticorpos marcados com FITC (isotiocianato de fluoresceína) ou PE (ficoeritrina) usados foram: a) IgG1-PE de camundongo anti-FcγRIII (CD16) humano (BD PharMingen™- 30625X; clone 3G8; IgG1,κ); b) IgG1-PE de camundongo, isotipo controle para anti-CD16 (BD PharMingen™-33815X; clone MOPC-21; IgG1,κ); c) IgG2b-FITC de camundongo anti- FcγRII (CD32) humano (BD PharMingen™-30934X; clone FLI8.26; IgG2b,κ); d) IgG2b-FITC de camundongo, isotipo controle para CD32 (BD PharMingen™-33804X; clone 27-35; IgG2b,κ anti-Dansyl); e) IgG1-PE de camundongo anti-CD11b (CR3; Mac-1) humano (BD PharMingen™-30455X; clone ICRF44; IgG1,κ); f) IgG1-FITC de camundongo anti-CD35 (CR1) humano (BD PharMingen™-30964X; clone E11; IgG1,κ); g) IgG1-PE de camundongo, isotipo controle para anti-CD11b (CR3; Mac-1) (BD PharMingen™-33815X; clone MOPC-21; IgG1,κ) e h) IgG1-FITC de camundongo, isotipo controle para anti-CD35 (CR1) (BD PharMingen™-33814X; clone MOPC-21; IgG1,κ). As análises foram feitas em um citômetro de fluxo modelo Becton & Dickinson (BD) FACS (Fluorescent Activated Cell Sorter) Calibur software Cell Quest Pro, no Laboratório de Hematologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP. O citograma bidirecional permitiu distingüir e selecionar a população de neutrófilos analisada. Os resultados foram expressos como mediana da fluorescência/célula determinada em um histograma em escala logaritmo e como porcentagem de células fluorescentes na população total. 64 3.6 Medida do burst oxidativo dos neutrófilos 3.6.1 Obtenção dos neutrófilos Os neutrófilos foram obtidos a partir da mistura de sangue total com uma solução de gelatina, segundo metodologia descrita por Lucisano; Mantovani, (1984). O sangue total foi colhido por punção venosa dos indivíduos doadores, em sistema a vácuo, utilizando-se tubos (2 ou 3) sem anticoagulante (tubo seco) e rapidamente o sangue foi transferido para um tubo contendo como anticoagulante solução de Alséver (citrato de sódio) na proporção de volume a volume. Em seguida, o material foi centrifugado a 1000g por 10 minutos. O plasma e a camada leucocitária foram desprezados e acrescentou-se solução de gelatina 2,5% em cloreto de sódio (NaCl) 0,15M na quantidade equivalente à duas vezes o volume de células restantes. Esta mistura foi homogeneizada e deixada em banho a 37ºC por 30 minutos. Após este tempo o sobrenadante foi retirado e colocado em outro tubo. Ao sobrenadante foi acrescentado NaCl 0,15M na proporção de duas vezes o volume de sobrenadante. Após homogeneização e centrifugação a 650g por 10 minutos sem refrigeração, o sobrenadante foi desprezado e ao precipitado foi adicionado cloreto de amônio (NH4Cl) 0,83%, pH 7,2 (37ºC), na proporção de duas vezes o volume do precipitado. O material foi deixado em repouso a 37ºC por 5 minutos e submetido a centrifugação a 650g por 10 minutos. O sobrenadante foi desprezado e o precipitado foi lavado com NaCl 0,15M e então centrifugado a 650g por 10 minutos. O precipitado foi então ressuspendido com 1mL de solução balanceada de Hanks, pH 7,2, contendo gelatina 0,1% e mantido no gelo até o momento do uso. A suspensão de células foi diluída na proporção de 1:100 em Líquido de Lázarus e contadas em Câmara de Neubauer e depois avaliadas quanto à sua viabilidade pela exclusão do corante Azul de Tripan 0,04%,