Estudos da Formação de Planetas Terrestres André Izidoro Ferreira da Costa Estudos da Formação de Planetas Terrestres Tese apresentada à Faculdade de Engenharia do Campus de Guaratinguetá, Universidade Estadual Paulista, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Física. Orientador: Prof. Dr. Othon Cabo Winter Co-orientador: Prof. Dr. Masayoshi Tsuchida Guaratinguetá 2013 Dados Curriculares ANDRÉ IZIDORO FERREIRA DA COSTA NASCIMENTO 30.11.1984 - FERNANDÓPOLIS / SP FILIAÇÃO Aécio Ferreira da Costa Valssy Izidoro Pereira da Costa 2003 - 2006 Bacharelado em Matématica Aplicada Instituto de Biociências Letras e Ciências Exatas - UNESP 2007 - 2009 Mestrado em Física Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá - UNESP 2009 - 2013 Doutorado em Física Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá - UNESP In memoriam de minha avó Juracy Corrêa de Moraes. Agradecimentos Por trás de uma Tese de doutorado existe uma longa jornada, pessoal e profissional, com inúmeros percalços pelo caminho. Assim, eu gostaria de expressão profunda gratidão a todos que, diretamente ou indiretamente, tornaram possível a realização deste trabalho e, provavelmente, menos dolorosa do que ela poderia ser. Em especial, gostaria de agradecer: Ao prof. Othon Cabo Winter, orientador desta Tese, por todo incentivo, compre- ensão, disponibilidade e ensinamentos transmitidos. Ao prof. Masayoshi Tsuchida, quem me acompanha a quase 10 anos, sendo o principal responsável pelos meus primeiros passos rumo à Astronomia. Ao prof. Nader Haghighipour, por sua hospitalidade durante a realização do meu doutorado sanduíche no Institute for Astronomy - University of Hawaii. Muito especialmente, aos meus queridos pais e irmãos por todo amor, carinho e apoio incondicional, ao longo de todos esses anos. À minha tia Dina, por tudo que já fez e tem feito por mim. Aos amigos e professores da pós-graduação, por tudo o que me ensinaram e compartilharam. Finalmente, a minha esposa Suelen, companheira de vida e de luta, pelo inesti- mável apoio ao longo dos momentos mais difíceis deste percurso, pela sua compreensão, durante inúmeros momentos de ausência e, também, por tudo que representa para mim. Este trabalho contou com o apoio financeiro da CAPES, CNPq e FAPESP. Não devemos ter medo dos confrontos... até os planetas se chocam e do caos nascem as estrelas. (Charles Chaplin) Nota Devido ao grande volume de gráficos e dados numéricos apresentados nesta dissertação, e a fim de compatibilizar a transferência de resultados entre aplicações de software e a escrita do texto, tomamos a liberdade de utilizar o padrão norte americano como marcador decimal, no qual o ponto “ . ” representa o separador decimal em vez do símbolo “ ,” (vírgula) adotado na língua portuguesa. Sumário 1 Introdução 25 1.1 A Formação do Sistema Solar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 2 Metodologia 31 2.1 O Integrador MERCURY . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 2.2 Descrevendo os problemas do código . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 2.2.1 Colisões irrealísticas com o corpo central . . . . . . . . . . . . . . . 33 2.2.1.1 Proposta de Correção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 2.2.2 O parâmetro de identificação de encontros próximos . . . . . . . . . 36 2.2.2.1 Proposta de Correção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 2.3 Simulações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 2.4 Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 2.4.1 Colisões irrealísticas com o Sol . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 2.4.2 A evolução da massa do disco protoplanetário . . . . . . . . . . . . 42 2.4.3 Sistemas Planetários Formados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 2.5 Considerações Finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 3 Efeitos do perfil de densidade superficial de massa 50 3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 3.2 O modelo do disco protoplanetário e condições iniciais . . . . . . . . . . . . 53 3.3 Simulações Numéricas e Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 3.3.1 Discos de partículas de teste . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 3.3.2 Estágio Inicial da Formação de Planetas Terrestres: Discos massivos 60 3.3.3 Características e Tendências dos Sistemas Planetários Formados . . 70 3.3.3.1 O número médio de planetas e o semi-eixo maior do pla- neta mais interno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73 3.3.3.2 A massa dos planetas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73 3.3.3.3 A quantidade de água nos planetas . . . . . . . . . . . . . 73 3.3.3.4 O tempo de formação dos planetas . . . . . . . . . . . . . 74 8 3.4 Comentários e Considerações Finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76 4 A origem da água da Terra 78 4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79 4.2 Modelo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86 4.3 Simulações Numéricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87 4.3.1 Quantidade de Água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96 4.3.2 Água na Zona Habitável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98 4.3.2.1 Quantidade de Água nos Planetas . . . . . . . . . . . . . . 99 4.3.2.2 Instante de Entrega de Água . . . . . . . . . . . . . . . . 103 4.3.2.3 Implicações da Razão D/H . . . . . . . . . . . . . . . . . 106 4.4 Observações Finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108 4.A Configurações finais das simulações do modelo A . . . . . . . . . . . . . . . 112 4.B Configurações finais das simulações do modelo B . . . . . . . . . . . . . . . 117 5 A Formação de Marte 120 5.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120 5.2 O Modelo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124 5.3 Simulações Numéricas e Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125 5.3.1 O Efeito da Escala de Depleção de Massa . . . . . . . . . . . . . . . 133 5.3.2 O efeito da localização da depleção de massa . . . . . . . . . . . . . 136 5.3.3 Comparação com o Sistema Solar e outras simulações . . . . . . . . 136 5.3.4 Efeito da Órbita Inicial dos Planetas Gigantes . . . . . . . . . . . . 138 5.3.5 Formação do Cinturão de Asteróides . . . . . . . . . . . . . . . . . 140 5.4 Conclusão e Discussão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143 Referências 148 A Artigos desta tese 163 A.1 Água - Aceito para publicação: ApJ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163 A.2 Marte - Submetido para publicação: ApJ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165 A.3 Discos - Submetido para publicação: CMDA . . . . . . . . . . . . . . . . . 167 9 Lista de Figuras 1.1 Imagens de quatro discos protoplanetários ao redor de estrelas jovens na Nebulosa de Orion, localizada a 1500 anos luz da Terra. . . . . . . . . . . . 26 1.2 Paradigma de formação estelar e planetária. Uma densa nuvem molecular colapsa em razão de sua própria gravidade. Por causa de sua rotação inicial e conservação do momento angular, um disco protoplanetário é formado. No disco protoplanetário, partículas de poeira microscópicas podem formar grãos maiores através de forças de adesão. Finalmente, esses grãos evoluem até a formação de planetas em escalas de tempo de poucas centenas de milhões de anos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 2.1 Exemplo da evolução dinâmica de um planetesimal rotulado irrealistica- mente como colidido com o Sol. A versão usada do MERCURY nesta simulação é a regular. Os dados do último instante de tempo mostrados nesta figura correspondem ao momento de máxima aproximação do ob- jeto a Júpiter, durante o encontro próximo. Neste caso, antes da execução do próximo passo de integração, o objeto colide (irrealisticamente) com o corpo central. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 2.2 Exemplo da evolução dinâmica de um planetesimal que seria rotulado irre- alisticamente como colidido com o Sol no uso da versão regular do pacote MERCURY. Nesta simulação, é usada a versão corrigida do código. A órbita do corpo produzida por esta versão é exatamente a mesma até o último instante de tempo mostrado na Figura 2.1. Enquanto que, na ver- são regular o planetesimal teria colidido com o Sol (irrealisticamente), feita a correção este objeto permaneceria “vivo” (Fig. 2.2-zomm (a)) até ser ejetado do sistema (Fig. 2.2 -zoom (b)) 200000 anos mais tarde. . . . . . . 42 10 2.3 Evolução temporal da massa restante do disco (embriões planetários + planetesimais) e quantidade de massa perdida por diferentes mecanismos: ejeção, colisão com o Sol e colisão com Júpiter. Nestas simulações Júpiter e Saturno estão inicialmente como em suas órbitas atuais. Os resultados foram obtidos a partir de um mesmo conjunto de condições iniciais do disco protoplanetários. A linha tracejada corresponde à simulação usando a versão regular do MERCURY e a linha sólida corresponde à simulação usando a versão corrigida. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 2.4 Evolução temporal da massa restante do disco (embriões planetários + planetesimais) e quantidade de massa perdida por diferentes mecanismos: ejeção, colisão com o Sol e colisão com Júpiter. Nestas simulações Júpiter e Saturno estão inicialmente como em suas órbitas atuais mas com valores de excentricidades alterados para 0.1. Os resultados foram obtidos a partir de um mesmo conjunto de condições iniciais do disco protoplanetários. A linha tracejada corresponde à simulação usando a versão regular do MERCURY e a linha sólida corresponde à simulação usando a versão corrigida. . . . . . 44 2.5 “Snapshots” da evolução dinâmica de um sistema inicialmente com Júpiter e Saturno em suas órbitas atuais. A versão usada do MERCURY é a versão regular. O tamanho de cada corpo corresponde a seu tamanho físico relativo, é proporcional a M1/3 e não está dimensionado sobre o eixo horizontal. O esquema de cores representa a massa de cada objeto, em massas da Terra. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 2.6 “Snapshots” da evolução dinâmica de um sistema inicialmente com Júpiter e Saturno em suas órbitas atuais. A versão usada do MERCURY é a versão corrigida. O tamanho de cada corpo corresponde a seu tamanho físico relativo, é proporcional a M1/3 e não está dimensionado sobre o eixo horizontal. O esquema de cores representa a massa de cada objeto, em massas da Terra. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 2.7 “Snapshots” da evolução dinâmica de um sistema inicialmente com Júpiter e Saturno em suas órbitas atuais, mas com excentricidades alteradas para 0.1. A versão usada do MERCURY é a versão regular. O tamanho de cada corpo corresponde a seu tamanho físico relativo, é proporcional a M1/3 e não está dimensionado sobre o eixo horizontal. O esquema de cores representa a massa de cada objeto, em massas da Terra. . . . . . . . . . . 47 11 2.8 “Snapshots” da evolução dinâmica de um sistema inicialmente com Júpiter e Saturno em suas órbitas atuais, mas com excentricidades alteradas para 0.1. A versão usada do MERCURY é a versão corrigida. O tamanho de cada corpo corresponde a seu tamanho físico relativo, é proporcional a M1/3 e não está dimensionado sobre o eixo horizontal. O esquema de cores representa a massa de cada objeto, em massas da Terra. . . . . . . . . . . 48 3.1 Gráficos da frequência de precessão g em função do semieixo maior de uma partícula de teste em um sistema com Júpiter e Saturno. Em cada painel, as linhas horizontais sólidas mostram as frequências de precessão secular do pericentro e a linha horizontal tracejada mostra a frequência de precessão nodal (−f). O gráfico superior corresponde a um sistema onde os elementos orbitais de Júpiter e Saturno são similares ao seus valores atuais. A figura inferior corresponde a um sistema com Júpiter e Saturno como no Modelo de Nice. Note que, em razão do valor da frequência g depender apenas do semi-eixo maior dos planetas gigantes e da partícula e também das massas desses planetas (na teoria linear de perturbação secular), o gráfico superior também mostra a variação de g em um sistema onde as órbitas de Júpiter e Saturno são extra excêntricas. No entanto é preciso cuidado quanto à limitação desta teoria, sendo sua aplicação apenas adequada em sistemas com perturbadores e partículas inicialmente em órbitas de baixas excentricidades e inclinações. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 3.2 Evolução da excentricidade de partículas de teste em um sistema onde Jú- piter e Saturno estão em suas órbitas atuais (superior), tem excentricidade de 0.1 (central), e estão como no Modelo de Nice (inferior). As localizações das ressonâncias ν5 e ν6 estão marcadas em cada painel. . . . . . . . . . . . 58 3.3 Evolução da inclinação de partículas de teste em um sistema onde Júpiter e Saturno estão em suas órbitas atuais (topo), tem excentricidade de 0.1 (central), e estão como no Modelo de Nice (inferior). A localização da ν16 está marcada em cada painel. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 3.4 Representação instantânea das estrutura dos discos de planetesimais e em- briões planetários em sistemas onde Júpiter e Saturno estão inicialmente em suas órbitas atuais. De cima para baixo, o perfil de densidade superficial do disco é proporcional a r−1.5 , r−1 e r0.5, respectivamente. A localização da ressonância ν6 é mostrada nos painéis da esquerda. A inclinação dos objetos (no mesmo instante de tempo) é mostrada no gráfico da direita. A localização ressonâncias de movimento médio com Júpiter também estão mostradas em cada painel. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 12 3.5 Gráficos da raiz quadrada da média dos quadrados (RMS) da excentri- cidade de planetesimais e embriões planetários em todos três modelos de discos para um sistema onde Júpiter e Saturno estão em suas órbitas atuais (superior) e em um sistema sem planetas gigantes (inferior). A perturbação orbital dos planetesimais na localização da ressonância ν6 pode ser vista em todos os três modelos de disco no painel superior. O gráfico da in- clinação para região de 3.6-4.0 UA foi interrompido aproximadamente a 1 Ma devido à variação da excentricidade depois deste tempo torna se muito grande e poderia cobrir os outros gráficos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 3.6 Gráficos da raiz quadrada da média dos quadrados (RMS) da inclinação de planetesimais e embriões planetários em todos três modelos de discos para um sistema onde Júpiter e Saturno estão em suas órbitas atuais (superior) e em um sistema sem planetas gigantes (inferior). A perturbação orbital dos planetesimais na localização da ressonância ν16 não se destacada em relação a perturbação de outras partes do disco no painel superior. O gráfico da inclinação para região de 3.6-4.0 UA foi interrompido aproximadamente a 1 Ma devido à variação da inclinação depois deste tempo torna se muito grande e poderia cobrir os outros gráficos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64 3.7 Gráficos da evolução da massa do disco residindo além de 2 UA em um sistema onde Júpiter e Saturno estão em suas órbitas atuais. De cima para baixo, o perfil de densidade superficial do disco é proporcional a r−1.5, r−1, e r−0.5. C.I. 1&2 representam duas diferentes condições iniciais. Note que a escala sobre o eixo vertical é logarítmica abaixo de 1 e linear para maiores valores. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65 3.8 “Snapshots” da evolução de um disco de planetesimais e embriões plane- tários em um sistema onde Júpiter e Saturno estão inicialmente em suas órbitas atuais, e o perfil de densidade superficial do disco é proporcional a r−1. A localização da ressonância ν6 é marcada nos painéis mostrando seu desvio em direção ao Sol. As ressonância de movimento com Júpiter também são mostradas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 3.9 Evolução do semi-eixo maior e excentricidade de Júpiter considerando di- ferentes perfis de densidade superficial. As linhas pretas correspondem a uma simulação com um disco considerando α = 0.5, as linha vermelhas a um disco com α = 1 e a linhas azuis quando α = 1.5. Em todos os casos Júpiter e Saturno estão inicialmente como em suas órbitas atuais. . . . . . 68 13 4.1 Configuração orbital final de 18 simulações do modelo A considerando so- mente Júpiter. Os valores da densidade superficial do disco a 1 UA são mostrados no eixo vertical. O Sistema Solar também é mostrado para comparação. O tamanho de cada corpo corresponde a seu tamanho fí- sico relativo, entretanto, esta grandeza não está dimensionada sobre o eixo horizontal. A cor de cada planeta representa sua razão água/massa. A ex- centricidade de cada corpo é representada pela linha horizontal mostrando a variação na sua distância heliocêntrica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 4.1 Cont.-Configuração orbital final de 18 simulações do modelo A conside- rando Júpiter e Saturno. Os valores da densidade superficial do disco a 1 UA são mostrados no eixo vertical. O Sistema Solar também é mostrado para comparação. O tamanho de cada corpo corresponde a seu tamanho fí- sico relativo, entretanto, esta grandeza não está dimensionada sobre o eixo horizontal. A cor de cada planeta representa sua razão água/massa. A ex- centricidade de cada corpo é representada pela linha horizontal mostrando a variação na sua distância heliocêntrica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 4.2 Configuração orbital final de 18 simulações do modelo B considerando so- mente Júpiter (SIM1B-J até Sim9B-J) e Júpiter e Saturno (Sim10B-JS até Sim18B-JS) para diferentes valores da densidade superficial a 1 UA do Sol. O Sistema Solar também é mostrado para comparação. O tamanho de cada corpo corresponde a seu tamanho físico relativo, entretanto, esta grandeza não está dimensionada sobre o eixo horizontal. A cor de cada planeta representa sua razão água/massa. A excentricidade de cada corpo é representada pela linha horizontal mostrando a variação na sua distância heliocêntrica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91 4.3 Massa inicial e final de embriões e planetesimais em todas as simulações. Superior esquerdo: Modelo A com somente Júpiter. Superior direito: Mo- delo A com Júpiter e Saturno. Inferior Esquerdo: Modelo B com somente Júpiter. Inferior Direito: Modelo B com Júpiter e Saturno. . . . . . . . . . 92 4.4 Semi-eixo maior final versus a massa final (M⊕) dos planetas formados nas simulações do modelo A. Note que cada caixa representa os resultados fi- nais de todas 6 simulações correspondendo a sua densidade superficial a 1 UA do Sol e configuração de planetas gigantes como explicado no texto. O tamanho de cada corpo corresponde a seu tamanho físico relativo, entre- tanto, este parâmetro não está dimensionado no eixo horizontal. A cor de cada planeta representa a sua quantidade de água. . . . . . . . . . . . . . . 96 14 4.5 Semi-eixo maior final versus a massa final (M⊕) dos planetas formados nas simulações do modelo B. Note que cada caixa representa os resultados finais de todas 3 simulações correspondendo a sua densidade superficial a 1 UA do Sol e a configuração de planetas gigantes como explicado no texto. O tamanho de cada corpo corresponde a seu tamanho físico relativo, entretanto, este valor não está dimensionado no eixo horizontal. A cor de cada planeta representa a sua quantidade de água. . . . . . . . . . . . . . . 97 5.1 Distribuição inicial de 154 embriões planetários (preto) e 973 planetesimais (vermelho) considerando uma depleção de massa de 50% entre 1.3 UA e 2.0 UA. As massas dos planetesimais são menores do que 0.003 massas da Terra. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125 5.2 Evolução dinâmica de objetos no disco protoplanetário considerando uma escala de depleção de massa de 75% entre 1.1 UA e 2.1 UA. Júpiter e Saturno estão inicialmente em suas órbitas atuais. O tamanho de cada corpo corresponde a seu tamanho físico relativo e é dimensionado como M1/3, onde M é a massa do corpo. Entretanto, ele não está dimensionado sobre o eixo horizontal. O esquema de cores representa a razão água/massa do corpo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129 5.3 Evolução dinâmica de objetos no disco protoplanetário considerando uma escala depleção de massa de 75% entre 1.3 UA e 2.0 UA. Júpiter e Saturno estão inicialmente em suas órbitas atuais. O tamanho de cada corpo cor- responde a seu tamanho físico relativo e é dimensionado como M1/3, onde M é a massa do corpo. Entretanto, ele não está dimensionado sobre o eixo horizontal. O esquema de cores representa a razão água/massa do corpo. . 130 5.4 Gráfico da inclinação orbital versus semi-eixo maior para o primeiro 1 Ma de integração da Figura 5.3. Como mostrado, a ν16 e as ressonâncias de movimento médio aumentam a inclinação de planetesimais e embriões pla- netários em torno da região depletada (1.3-2.0 AU). . . . . . . . . . . . . . 131 5.5 Evolução do semi-eixo maior e da massa de um análogo a Marte. Esse é um comportamento dinâmico típico que poderia ser visto em todos os nossos resultados. Os análogos a Marte formados em nossas simulações migraram das partes não depletadas do disco, internas ou externas, até a região depletada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132 15 5.6 Massa final e configuração orbital dos planetas nas simulações com diferen- tes escalas de depleção de massa. A área depletada nesse caso varia de 1.1 UA até 2.1 UA (Disco A). Como mostrado pelos números romanos no eixo vertical, para cada escala de depleção foram realizadas pelos menos 3 simu- lações considerando distribuições de embriões planetários e planetesimais levemente diferentes. O tamanho de cada corpo representa os seu tamanho físico relativo e está dimensionado com M1/3, onde M é a massa de cada objeto. Entretanto, ela não está dimensionada sobre o eixo horizontal. A cor de cada objeto representa a relativa contribuição de material de dife- rentes partes do disco. A excentricidade de cada planeta é representada por sua variação na distância heliocêntrica sobre o semi-eixo maior (barra horizontal). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134 5.7 Massa final e configuração orbital dos planetas nas simulações com diferen- tes escalas de depleção de massa. A área depletada nesse caso varia de 1.3 UA até 2.0 UA (Disco B). Como mostrado pelos números romanos no eixo vertical, para cada escala de depleção foram realizadas pelos menos 3 simu- lações considerando distribuições de embriões planetários e planetesimais levemente diferentes. O tamanho de cada corpo representa os seu tamanho físico relativo e está dimensionado com M1/3, onde M é a massa de cada objeto. Entretanto, ela não está dimensionada sobre o eixo horizontal. A cor de cada objeto representa a relativa contribuição de material de dife- rentes partes do disco. A excentricidade de cada planeta é representada por sua variação na distância heliocêntrica sobre o semi-eixo maior (barra horizontal). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135 5.8 Distribuição de massa versus semi-eixo maior dos corpos sobreviventes (cír- culos) nas simulações considerando o disco A (superior) e disco B (inferior) para todas as escalas de depleção. Júpiter e Saturno foram considerados inicialmente em órbitas circulares. Os triângulos representam a Marte, Terra, Vênus e Mercúrio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139 16 5.9 Distribuição orbital dos corpos sobreviventes nas simulações considerando o modelo de disco B com Júpiter e Saturno inicialmente em suas órbitas atuais. Os círculos correspondem aos corpos com massas maiores do que 0.3 MMars ≈ 0.033M⊕. Corpos menores são mostrados com símbolos de cruzes. Os gráficos da esquerda mostram os resultados de 9 simulações com uma escala de depleção de 50% e os gráficos da direita correspondem a aqueles com uma escala de depleção de 75%. Os triângulos representam os planetas terrestres do Sistema Solar. A área cinza mostra o cinturão de asteróides. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141 17 Lista de Tabelas 3.1 Contribuição média da massa dispersada de 1.8-2.5 UA dentro de 0.5-1.5 UA ao longo de 10 Ma. Os valores refletem a porcentagem da massa que existe dentro de 0.5-1.5 UA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69 3.2 Tendências considerando diferentes configurações de planetas gigantes e perfis de densidade superficial. Da esquerda para a direita as colunas são configuração de planetas gigantes, declive do perfil de densidade superfi- cial (α), densidade superficial a 1 UA (Σ1), número médio de planetas, semi-eixo maior médio dos planetas mais internos (UA), massa média dos planetas mais massivos (M⊕), fração média da massa inicial do disco con- finada em planetas (Mplanetas/Mdisco), média da massa dos planetas (M⊕), tempo de formação médio (Ma), razão água/massa média, excentricidade orbital média, número médio de planetas (< 1AU), massa (M⊕) média dos planetas mais massivos (< 1AU ), tempo (Ma) de formação médio (< 1AU) e razão água/massa média (< 1AU). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 3.3 Comparação das tendências de nossos resultados com aqueles observadas em Raymond et al. (2005b) como descrito no texto. Cada vez que uma dessas comparações individuais concordam entre si nós atribuímos um sinal de ‘�’, caso contrário, recebe um sinal como ×. Cada entrada da tabela recebe três sinais indicando as comparações entre α=0.5 e 1, α=1 e 1.5 e finalmente entre α=0.5 e 1.5. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76 4.1 Valores da razão D/H para comets, nebulosa solar e VSMOW. . . . . . . . 81 4.2 Massa total inicial e a quantidade de massa perdida através de diferentes mecanismos nas simulações do modelo A (J indica somente Júpiter e JS representa uma configuração com Júpiter e Saturno). Da esquerda para a direita as colunas mostram o número da simulação, densidade superficial a 1 UA, massa inicial total do disco, massa total ejetada do sistema, a quantidade de massa que colidiu com o Sol, a quantidade de massa que colidiu com Júpiter, a quantidade de massa que colidiu com Saturno. A unidade de massa é M⊕. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93 18 4.3 Massa total inicial e a quantidade de massa perdida através de diferentes mecanismos nas simulações do modelo B (J indica somente Júpiter e JS representa uma configuração com Júpiter e Saturno). Da esquerda para a direita as colunas mostram o número da simulação, densidade superficial a 1 UA, massa inicial total do disco, massa total ejetada do sistema, a quantidade de massa que colidiu com o Sol, a quantidade de massa que colidiu com Júpiter, a quantidade de massa que colidiu com Saturno. A unidade de massa é M⊕. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94 4.4 Planetas formados na ZH nas simulações do modelo A considerando so- mente Júpiter. Da direita para esquerda, as colunas mostram o número da simulação, semi-eixo maior, excentricidade, massa (M⊕), quantidade de água (O⊕), porcentagem de massa asteroidal (> 2.5UA), porcentagem de água asteroidal ( > 2.5UA), porcentagem de material cometário necessário para levantar a razão D/H até o valor do VSMOW, tempo (Ma) de entrega de 1O⊕, 2O⊕, 5O⊕, 10O⊕ e 15O⊕. Para comparação os valores entre pa- rênteses foram obtidos usando o modelo de distribuição de água com em Raymond et al. (2004; 2006; 2009). Quando os valores obtidos usando nosso modelo são iguais aqueles obtidos usando o modelo do Raymond, somente um valor em cada entrada da tabela é mostrado. . . . . . . . . . . 100 4.5 Planetas formados dentro da ZH nas simulações do modelo A considerando Júpiter e Saturno. Da direita para esquerda, as colunas mostram o número da simulação, semi-eixo maior, excentricidade, massa (M⊕), quantidade de água (O⊕), porcentagem de massa asteroidal (> 2.5UA), porcentagem de água asteroidal ( > 2.5UA), porcentagem de material cometário necessário para levantar a razão D/H até o valor do VSMOW, tempo (Ma) de entrega de 1O⊕, 2O⊕, 5O⊕, 10O⊕ e 15O⊕. Para comparação os valores entre pa- rênteses foram obtidos usando o modelo de distribuição de água com em Raymond et al. (2004; 2006; 2009). Quando os valores obtidos usando nosso modelo são iguais aqueles obtidos usando o modelo do Raymond, somente um valor em cada entrada da tabela é mostrado. . . . . . . . . . . 101 19 4.6 Planetas formados dentro da ZH nas simulações do modelo B (J indica somente Júpiter e JS significa que Júpiter e Saturno são considerados). Da direita para esquerda, as colunas mostram o número da simulação, semi- eixo maior, excentricidade, massa (M⊕), quantidade de água (O⊕), porcen- tagem de massa asteroidal (> 2.5UA), porcentagem de água asteroidal ( > 2.5UA), porcentagem de material cometário necessário para levantar a razão D/H até o valor do VSMOW, tempo (Ma) de entrega de 1O⊕, 2O⊕, 5O⊕, 10O⊕ e 15O⊕. Para comparação os valores entre parênteses foram obtidos usando o modelo de distribuição de água com em Raymond et al. (2004; 2006; 2009). Quando os valores obtidos usando nosso modelo são iguais aqueles obtidos usando o modelo do Raymond, somente um valor em cada entrada da tabela é mostrado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102 4.7 Análise da quantidade e tempo de entrega de água nos planetas dentro da ZH (veja Tabelas 4.4, 4.5 e 4.6). Da esquerda para direita as colunas mostram o modelo do disco (J indica somente Júpiter e JS significa que Júpiter e Saturno estão considerados), modelo de distribuição de água, quantidade de água entregue, número de planetas, tempo médio da entrega de água, intervalo do tempo de entrega de água, tempo médio de 60% de acresção, intervalo do tempo de 60% de acresção, tempo médio da última colisão gigante e intervalo do tempo da última colisão gigante. . . . . . . . 104 A1 Resultados finais das simulações do modelo A (J indica somente Júpiter e JS representa Júpiter e Saturno). Da esquerda para a direita, as colunas mostram o número da simulação, densidade superficial a 1 UA, semi-eixo maior, excentricidade, massa (M⊕), quantidade de água (O⊕), porcentagem de massa asteroidal (> 2.5AU), porcentagem de água asteroidal (> 2.5AU), razão D/H final, e o tempo (Ma) de entrega de 1O⊕, 2O⊕, 5O⊕, 10O⊕ e 15O⊕. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113 A1 Resultados finais das simulações do modelo A (J indica somente Júpiter e JS representa Júpiter e Saturno). Da esquerda para a direita, as colunas mostram o número da simulação, densidade superficial a 1 UA, semi-eixo maior, excentricidade, massa (M⊕), quantidade de água (O⊕), porcentagem de massa asteroidal (> 2.5UA), porcentagem de água asteroidal (> 2.5UA), razão D/H final, e o tempo (Ma) de entrega de 1O⊕, 2O⊕, 5O⊕, 10O⊕ e 15O⊕. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114 20 A1 Resultados finais das simulações do modelo A (J indica somente Júpiter e JS representa Júpiter e Saturno). Da esquerda para a direita, as colunas mostram o número da simulação, densidade superficial a 1 UA, semi-eixo maior, excentricidade, massa (M⊕), quantidade de água (O⊕), porcentagem de massa asteroidal (> 2.5UA), porcentagem de água asteroidal (> 2.5UA), razão D/H final, e o tempo (Ma) de entrega de 1O⊕, 2O⊕, 5O⊕, 10O⊕ e 15O⊕. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115 A1 Resultados finais das simulações do modelo A (J indica somente Júpiter e JS representa Júpiter e Saturno). Da esquerda para a direita, as colunas mostram o número da simulação, densidade superficial a 1 UA, semi-eixo maior, excentricidade, massa (M⊕), quantidade de água (O⊕), porcentagem de massa asteroidal (> 2.5UA), porcentagem de água asteroidal (> 2.5UA), razão D/H final, e o tempo (Ma) de entrega de 1O⊕, 2O⊕, 5O⊕, 10O⊕ e 15O⊕. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116 B1 Resultados finais das simulações do modelo B (J indica somente Júpiter e JS representa Júpiter e Saturno). Da esquerda para a direita, as colunas mostram o número da simulação, densidade superficial a 1 UA, semi-eixo maior, excentricidade, massa (M⊕), quantidade de água (O⊕), porcentagem de massa asteroidal (> 2.5UA), porcentagem de água asteroidal (> 2.5UA), razão D/H final, e o tempo (Ma) de entrega de 1O⊕, 2O⊕, 5O⊕, 10O⊕ e 15O⊕. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118 B1 Resultados finais das simulações do modelo B (J indica somente Júpiter e JS representa Júpiter e Saturno). Da esquerda para a direita, as colunas mostram o número da simulação, densidade superficial a 1 UA, semi-eixo maior, excentricidade, massa (M⊕), quantidade de água (O⊕), porcentagem de massa asteroidal (> 2.5UA), porcentagem de água asteroidal (> 2.5UA), razão D/H final, e o tempo (Ma) de entrega de 1O⊕, 2O⊕, 5O⊕, 10O⊕ e 15O⊕. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119 5.1 Região e escala da depleção em massa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125 5.2 Resultados das simulações considerando o modelo de disco A, no qual pelo menos um corpo com massa M< 0.5M⊕ foi formado dentro de 1.25 UA e 2.0 UA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127 5.3 Resultados das simulações considerando o modelo de disco B, no qual pelo menos um corpo com massa M< 0.5M⊕ foi formado dentro de 1.25 UA e 2.0 UA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128 21 5.4 Sumário dos resultados das simulações para a região depletada A. Cada coluna representa o critério que foi usado para verificar o sucesso de uma simulação em reproduzir características do Sistema Solar. Veja o texto para detalhes sobre a análise de cada critério. Sucesso é indicado por (�), falha é representado por (×) e um talvez por (∼) . . . . . . . . . . . . . . 143 5.5 Sumário dos resultados das simulações para a região depletada B. Cada coluna representa o critério que foi usado para verificar o sucesso de uma simulação em reproduzir características do Sistema Solar. Veja o texto para detalhes sobre a análise de cada critério. Sucesso é indicado por (�), falha é representado por (×) e um talvez por (∼) . . . . . . . . . . . . . . 144 22 Costa, A. I. F. Estudos da Formação de Planetas Terrestres. 2013, 169f. Tese (Dou- torado em Física)-Faculdade de Engenharia do Campus de Guaratinguetá, Universidade Estadual Paulista, Guaratinguetá. Resumo O estudo da formação de planetas terrestres no Sistema Solar, é crucial para compre- endermos como outros sistemas planetários formam e também inferir as condições que poderiam ter influenciado a origem e evolução de vida na Terra. Esta Tese de douto- rado apresenta um estudo numérico da formação de planetas terrestres. Nosso objetivo principal é analisar o último estágio da formação desses planetas no Sistema Solar, em particular, a formação de Marte e a origem da água da Terra. Esses dois pontos têm intrigado cientistas ao longo de muitos anos. Enquanto que o planeta produzido ao redor de 1.5 UA é, em geral, muito mais massivo do que Marte, na grande parte das simulações, a origem da água da Terra é outro tema de intenso debate. Em vista disso, nós desenvol- vemos um cenário considerando uma depleção local de massa, no disco protoplanetário, a fim de analisarmos a origem da baixa massa de Marte, e também usamos um modelo composto para estudarmos a origem da água da Terra. Este trabalho apresenta um grande número de simulações numéricas explorando uma diversidade de parâmetros do sistema. Entre os principais podemos citar as variadas configurações de planetas gigantes, discos com diferentes perfis de densidade superficial de massa e modelos de distribuição de água. Nós também apresentamos um estudo dos efeitos de ressonâncias seculares nesses discos protoplanetários. Os principais resultados desses experimentos apontam a possibilidade da formação de planetas similares a Marte ao redor de 1.5 UA, especialmente, quando é considerado uma escala de depleção local, no disco protoplanetário, moderadamente alta (50-75%), localizada ao redor de 1.5 UA. Isto é observado juntamente com a formação de planetas do tipo Terra, em torno de 1 UA do Sol, com substanciais quantidades de água. Ainda com respeito a origem da água da Terra, nós concluímos que o modelo composto, que considera que a água terrestre tem tanto origem endógena como exógena, desempe- nha um papel importante mostrando mais vantagem no tempo e na quantidade de água entregue a planetas dentro da zona habitável. Palavras-chave: Problema de N-corpos, Formação Planetária, Origem da Água da Terra, Formação de Marte 23 Costa, A. I. F. Studies of the Formation of Terrestrial Planets. 2013, 169f. Thesis (Doctorate in Physics)-Faculdade de Engenharia do Campus de Guaratinguetá, Univer- sidade Estadual Paulista, Guaratinguetá. Abstract The study of terrestrial planet formation in the Solar System is crucial to understand how other planetary systems form and to infer the conditions that favored the origin and evolution of life on Earth. In this Thesis we present a numerical study of the accretion of terrestrial planets. Our main goal is study the late stage of the terrestrial planet accretion in the Solar System, especially the formation of Mars and the origin of Earth’s water. These two points have intrigued scientists for many years. Whereas the planet formed around Mars’ semimajor axis is, in general, much more massive than Mars, the origin of Earth’s water is a matter of intense debate. In view of that, we have developed a scenario considering a local depletion in the density of the protosolar nebula in order to analyze the low mass of Mars, and also explored a compound model of water distribution to study the origin of Earth’s water. We have carried out extensive numerical simulations of the formation of terrestrial planets in protoplanetary disks exploring a large variety of parameters of the system, as different giant planet configurations, surface density profiles and water distribution models. We also have presented a study of the effects of secular resonances on the evolution of these protoplanetary disks. Our main results point to the possibility of the formation of Mars-sized bodies around 1.5 AU, especifically when is considered a scale of the disk local mass-depletion moderately high (50-75%) around 1.5 AU, as well as Earth-sized planets can form around 1 AU with substantial amount of water. Regarding the origin of Earth’s water, we find that the compound model incorporating both the principal endogenous and exogenous theories, play an important role by showing greater advantage in the amount and time of water delivery in Earth-like planets. Keywords: N-body Problem, Planet Formation, Origin of Earth’s water, Mars’ For- mation 24 Capítulo 1 Introdução Por séculos, o Sistema Solar foi o único sistema planetário conhecido. Naturalmente, por esse período, toda a teoria de formação e evolução planetária foi desenvolvida com base nas características dinâmicas, físicas e químicas dos corpos aqui observados. As des- cobertas de tantas estrelas em processo de formação, envolvidas por discos de gás e poeira, inseriram importantes restrições nestes modelos, já que esses locais são considerados ma- ternidades de planetas. Observações como essas, só foram possíveis graças a construção de modernos e poderosos telescópios, e o desenvolvimento de novas técnicas de observa- ção. Por exemplo, a Figura 1.1 mostra imagens de discos protoplanetários obtidas pelo Telescópio Espacial Hubble, onde é possível ver a estrela brilhando no centro, enquanto o disco é escuro na luz visível. Definitivamente, o desenvolvimento tecnológico alavancou a Astronomia nos últimos anos, entretanto, inúmeros fatores ainda permanecem totalmente obscuros ao homem. Com 861 exoplanetas agora conhecidos (exoplanet.eu), e a diversidade de seus sistemas planetários, como massa e suas arquiteturas orbitais, importantes características do nosso próprio Sistema Solar ainda permanecem mal compreendidas. A maioria dos modelos atuais, de formação dos planetas telúricos, ainda não conseguem explicar, por exemplo, a razão da grande diferença de massa observada entre Mercúrio, Vênus, Terra e Marte. Ainda neste aspecto, a origem da água da Terra é outro ponto de intenso debate. De forma interessante, desde 1995 com o primeiro exoplaneta descoberto, a observação desses novos sistemas planetários tem revigorado os modelos de formação planetária no Sistema Solar e até revivido modelos que foram considerados improváveis no passado. Com essa grande quantidade de exoplanetas descobertos e o grande número de candi- datos (> 2700 em Janeiro de 2013- Fonte: kepler.nasa.gov), a questão natural que surge é com respeito a habitabilidade desses novos sistemas planetários. De fato, um dos pontos mais fascinantes da Ciência atualmente é pensar que Vida poderá ser encontrada fora da Terra nas próximas décadas. Isso seria, com certeza, um dos maiores passos da Ciência 25 Figura 1.1: Imagens de quatro discos protoplanetários ao redor de estrelas jovens na Nebulosa de Orion, localizada a 1500 anos luz da Terra. desde sua ascendência na Grécia Antiga. Compreender em detalhes como o Sistema Solar se formou, e também como a Terra adquiriu as condições para habitabilidade, em especial sua água, pode ajudar a fornecer indícios para calibrarmos a procura por vida fora ou dentro do Sistema Solar. 1.1 A Formação do Sistema Solar O movimento dos planetas no Sistema Solar, em órbitas quase circulares e coplanares, foi o primeiro indicativo para se argumentar que a formação de nosso sistema planetário ocorreu a partir de um disco girando em torno do Sol. Essa teoria, conhecida como Hipótese Nebular, foi primeiro proposta por Immanuel Kant e Laplace (Woolfson, 2000), no final do século XVIII, e vem sendo refinada ao longo das últimas centenas de anos. De acordo com o atual paradigma de formação estelar e planetária, esse processo se inicia em uma grande nuvem de gás e poeira, chamada de nuvem molecular. Se certas regiões dessa nuvem tornam-se suficientemente densas e a temperatura é mantida adequadamente baixa, então a mesma pode colapsar, em razão de sua própria gravidade. O colapso pode ser ativado, por exemplo, por uma onda de choque de uma supernova vizinha, ou em razão 26 �������� � �� ����� ����� ��������� �� ����� �������� ����� ����� ������ ������� ��� ��� ���������� ���� � ������ ��������� ���� ��� ����� ������ ����� Figura 1.2: Paradigma de formação estelar e planetária. Uma densa nuvem molecular colapsa em razão de sua própria gravidade. Por causa de sua rotação inicial e conserva- ção do momento angular, um disco protoplanetário é formado. No disco protoplanetário, partículas de poeira microscópicas podem formar grãos maiores através de forças de ade- são. Finalmente, esses grãos evoluem até a formação de planetas em escalas de tempo de poucas centenas de milhões de anos. da colisão entre duas nuvens moleculares (Boss, 1995; Elmegreen, 1998). Por causa de sua rotação inicial e a conservação do momento angular, a nuvem não pode apenas colapsar e formar uma protoestrela, mas deve também formar um disco ao seu redor, denominado disco protoplanetário. As observações desses discos, ao redor de estrelas jovens como aquelas na Figura 1.1, deram suporte a este cenário como um mecanismo de formação de planetas. Esse processo se incia através da aglomeração de partículas microscópicas, evolui ao longo de ∼ 100 Ma e pode ser dividido em três estágios (Lissauer, 1993): 1. Fase inicial: Esse estágio descreve o crescimento de partículas microscópicas até a formação de planetesimais. Durante o assentamento no plano médio do disco, grãos de poeira microscópicos crescem até a formação de planetesimais, com tamanho da ordem de quilômetros, através de impactos a baixas velocidades relativas (< 1 m/s) de colisão e forças de adesão (Wurm & Blum, 2000), e, possivelmente, através de 27 instabilidades gravitacionais que podem ocorrer dependendo das condições do disco protoplanetário (Golderich & Ward, 1973; Youdin & Shu,2002; Johansen et al., 2007). A formação de planetesimais representa uma transição entre os regimes em que a dinâmica dos corpos é principalmente governada pela interação com o disco, e o momento que a interação gravitacional também passa a ser importante. Inicial- mente, planetesimais se movem em órbitas de baixas excentricidades e inclinações, devido ao arrasto gasoso. 2. Fase Intermediária: Chamado de crescimento oligárquico, este estágio segue a evolução de um grande número de planetesimais até a formação de objetos com massas entre aquelas da Lua e de Marte. No início dessa fase, os planetesimais, ainda pequenos, não são capazes de perturbar significativamente uns aos outros, no entanto, as colisões são muito frequentes. Neste período, quanto maior a massa de um objeto no disco, maior é sua taxa de crescimento, chegando assim a um estágio chamado “Runaway” (Kokubo & Ida, 1996). Conforme o “Runaway” prossegue, o disco é populado por um pequeno número de embriões planetários, distintamente mais massivos do que a maioria dos objetos do disco. Estes objetos evoluem em órbi- tas de baixas excentricidades e inclinações, submersos em um disco de planetesimais em órbitas cada vez mais excêntricas e inclinadas. Enquanto isso, esses pequenos corpos continuam alimentando o crescimento dos corpos maiores, até o momento que os embriões protoplanetários são massivos o suficiente para perturbarem suas zonas de alimentação, diminuindo a eficiência de acresção de planetesimais e desa- celerando sua taxa de crescimento (Ida & Makinon, 1993). A escala de tempo para esse processo ocorrer está relacionada com a densidade superficial local de massa do disco e com a distância heliocêntrica. Ao redor de 1 UA, um corpo com a massa de Marte se formaria em menos de 1 Ma, considerando uma densidade superficial local de massa igual a 10 g/cm2 (Kokubo & Ida, 2000). Na região dos planetas jovianos, protoplanetas formados através do crescimento oligárquico parecem estar consistentes com a formação de Júpiter e Saturno (Kokubo & Ida, 2000), de acordo com o tempo de vida de discos gasosos (< 10 Ma) e o modelo de acresção de um núcleo proposto em Pollack et al. (1996). 3. Fase Final: Uma vez que o crescimento oligárquico termina, em razão da falta de material para acresção na zona de alimentação de cada embrião planetário, os efeitos perturbativos entre esses objetos levam gradualmente ao cruzamento de suas órbitas e, como resultado, a um forte período de instabilidade dinâmica marcado por colisões muito energéticas que favorecem a mistura radial de material no disco. Este processo continua até quando apenas poucos objetos sobrevivam, formando 28 um sistema de planetas em órbitas estáveis e bem separadas (Weidenschilling et al., 1997; Chambers, 2001). Esses eventos ao todo ocorrem em ∼ 108 anos. O estudo da formação planetária reside basicamente na modelagem dos processos descritos acima de forma independente. Como visto, essas três etapas envolvem processos físicos completamente diferentes, assim, a modelagem completa deste problema se torna inviável (nos dias de hoje) devido ao alto custo computacional. O processo final da acresção de planetas terrestres é, usualmente, modelado a partir do crescimento oligárquico como descrito anteriormente (Kokubo & Ida, 2000). Neste aspecto, existe um grande número de parâmetros que combinados poderiam afetar a formação e a evolução desses planetas. Por exemplo, a existência, ou não, de planetas gigantes no sistema e suas arquiteturas orbitais, a estrutura do disco protoplanetário, a distribuição radial de água no disco (Raymond et al., 2004; 2005; 2009; Drake, 2005; Jin et al., 2008), etc. Ao longo dos anos, diversos parâmetros têm sido testados na busca por um modelo de formação do Sistema Solar Interior. Nas primeiras simulações da formação de planetas terrestres, a densidade superficial do disco protoplanetário foi considerada variar propor- cionalmente a r−3/2, onde r é a distância até o Sol. Esse modelo foi primeiro proposto por Weidenschilling (1977) e Hayashi (1981), e está baseado na hipótese, conservadora, que os planetas gigantes formaram em suas órbitas atuais. Entretanto, essas simulações preliminares ainda apresentavam resultados pouco aceitáveis. Anos mais tarde, a ideia de que planetas gigantes não mantiveram suas órbitas iniciais e sofreram algum tipo de migração radial ganhou força. Por exemplo, como mostrado por Fernandez & Ip (1984), os planetas gigantes poderiam ter desviado de suas órbitas iniciais devido à troca de momento angular com um disco de planetesimais, depois que o gás nebular foi dispersado. Considerando que planetas gigantes podem sofrer algum tipo de migração radial, isso significa que o perfil de densidade superficial de massa da nebulosa solar poderia diferir de r−3/2 (Davis, 2005). Esse conceito também foi reafirmado por observações e modelos teóricos de discos protoplanetários (Dullemond et al. 2007; Garaud & Lin, 2007). Apesar de mais de duas décadas de esforços, testando, em simulações, discos com diferentes perfis de densidade superficial de massa e sistemas com diferentes configurações orbitais de planetas gigantes, a fim de explicar a formação do sistema Solar Interior (e.g., Chambers & Wetherill, 1998; Agnor et al., 1999; Chambers, 2001; Chambers & Wetherill, 2001; Raymond et al., 2004, 2006; O’Brien et al. 2006; Raymond et al., 2007, 2009, Walsh et al., 2011, Izidoro et al., 2013b), a formação de Marte é ainda um grande mistério, e uma das restrições mais importantes que um modelo de formação do sistema solar deve reproduzir. 29 Outra importante característica, que um modelo robusto de formação do nosso sistema solar deve levar em conta, é a existência de água na Terra. Na década passada várias tentativas foram feitas para explicar a origem da água em nosso planeta. As possíveis fontes são classificadas entre endógenas e exógenas. Essas são: a água adsorvida por grãos de poeira na nebulosa solar (Stimpfl, Lauretta & Drake, 2004), a entrega através de asteroides, cometas, embriões planetários e planetesimais (Morbidelli et al. 2000; Raymond, Quinn & Lunine, 2004; O’Brien, Morbidelli & Levison, 2006; Raymond et al., 2004; 2006; 2009; Lunine, 2003; Drake & Campins, 2006) e a produção de água através da oxidação de uma atmosfera primordial rica em hidrogênio (Ikoma & Genda, 2006). No entanto, cada uma dessas fontes possuem suas próprias incertezas, e é muito provável que uma única fonte de água não possa fornecer uma explicação para a água da Terra como um todo. Tendo em vista a importância de todos esses tópicos, nós apresentamos nesta Tese um estudo numérico da fase final da acresção de planetas terrestres. Em nossas simulações, a distribuição dos objetos no disco protoplanetário segue o modelo de crescimento oligár- quico como descrito em Kokubo & Ida (2000). Além disso, quando considerando planetas gigantes, nós consideramos que esses objetos estão completamente formados desde o início das simulações. No Capítulo 2 desta Tese, nós apresentamos a metodologia adotada juntamente com uma análise detalhada do integrador numérico utilizado nessas simulações. No Capítulo 3, nós discutimos sobre a formação de planetas terrestres em discos com diferentes perfis de densidade superficial de massa. O Capítulo 4 apresenta o estudo de um modelo composto para a origem da água da Terra. Finalmente, no Capítulo 5, nós testamos um modelo para explicar a origem baixa massa do planeta Marte. No apêndice, estão as capas dos artigos gerados por esta Tese. Dos três manuscritos submetidos para publicação, um está aceito para publicação no ApJ, enquanto que os outros dois estão ainda em processo de revisão. Um quarto artigo encontra-se ainda em fase de preparação e não foi incluso no apêndice. 30 Capítulo 2 Metodologia Ao longo de toda esta tese é feita uma abordagem numérica da formação dos planetas terrestres. Como ferramenta principal, nós adotamos o pacote MERCURY (Chambers, 1999), um integrador de N-corpos amplamente usado em simulações da dinâmica plane- tária. A proposta deste capítulo não está restrita a apenas apresentar a metodologia utili- zada, mas principalmente, analisar e difundir a existência de dois defeitos de programação encontrados na versão regular pública do MERCURY, identificados por Rodney Gomes (comunicação pessoal). Aqui, nós descrevemos cada um desses problemas e demonstramos formas de corrigi-los no código, criando assim, uma versão levemente modificada, mais adequada e confiável, para a realização de nosso estudo. Como parte final deste capítulo, são apresentados os resultados produzidos por cada uma das versões do código, a partir de um mesmo conjunto de condições iniciais, representando o início da última fase da acresção de planetas terrestres. 2.1 O Integrador MERCURY No estudo da dinâmica de planetas e corpos menores em torno do Sol, é importante que o integrador numérico reproduza bem as características dinâmicas globais do sistema e que, ao mesmo tempo, isso não demande um alto custo computacional. Nas últimas duas décadas, tanto as técnicas de integração, como a capacidade de processamento de computadores, alcançaram um estágio importante para o estudo da dinâmica de formação e evolução do Sistema Solar. Atualmente, são de domínio público variados pacotes de integração, que permitem seguir a evolução dinâmica de um moderado número de corpos por escalas tempo de bilhões de anos. Entre os mais populares podemos listar MERCURY (Chambers, 1999) e SYMBA (Duncan et. al, 1998). Escrito em Fortran 77, por John Chambers, e especialmente desenvolvido para estudos da formação de planetas terrestres, o MERCURY é destacadamente o pacote de integração 31 numérica mais usado em estudos da dinâmica planetária, acumulando um total de mais de 630 citações (Fonte: Google) desde sua publicação, em 1999. Resultado este, obtido através da combinação de vários algorítimos de integração e uma amigável relação com o usuário, criando assim, uma ferramenta bastante versátil. Simulações da formação de planetas terrestres são bem caracterizadas pelo repetido número de encontros próximos e colisões entre os corpos do sistema. A fim de modelar adequadamente tais fenômenos, este pacote inclui um integrador simplético híbrido, que incorpora simultaneamente duas técnicas de integração diferentes. A grande vantagem no uso desses dois métodos é o preciso tratamento de encontros próximos sem reduzir excessivamente a velocidade da integração numérica. Esta técnica consiste em dividir o problema dinâmico em duas partes. Quando os corpos estão distantes, é usado um algorítimo simplético, como descrito por Wisdom e Holman (1991), o qual é muito rápido. Na ocorrência de um encontro próximo, a técnica simplética deixa de ser adequada e o passo de integração é sucessivamente subdividido até se atingir a precisão desejada através do uso do método Bulirscher-Stoer (Stoer & Bulirsch, 1980). Nas próximas seções deste capítulo, nós analisamos e corrigimos dois defeitos de pro- gramação existentes na versão pública do pacote MERCURY. Na seção 3.2, nós relatamos cada um desses problemas e propomos formas de corrigi-los no códigoa. Na seção 2.3, é apresentado o modelo de nossas simulações. A seção 2.4 é composta pela apresentação dos resultados produzidos pela versão regular e versão corrigida do código, a partir de um mesmo conjunto de condições iniciais representando o início do último estágio da acresção de planetas terrestres. Finalmente, na seção 2.5 é feita uma discussão geral deste estudo. 2.2 Descrevendo os problemas do código Estruturalmente, o MERCURY é composto por três códigos fontes (MERCURY6_- 2.for, ELEMENT6.FOR e CLOSE6.FOR) e alguns arquivos de entrada (contendo pa- râmetros de integração, condições iniciais, etc). O módulo principal, MERCURY6_- 2.for, contém os algorítimos de integração. Enquanto que, os programas auxiliares, ELE- MENT6.FOR e CLOSE6.FOR, são usados para a conversão de arquivos binários, pro- duzidos pelo MERCURY6_2.FOR, em arquivos de texto com detalhes das órbitas dos objetos. Os defeitos do código que serão aqui apresentados, estão em rotinas pertencentes ao módulo principal deste pacote. Antes de descrever tais problemas, é justo antecipar que nem todas as simulações usando o pacote MERCURY estão sujeitas a experimentar estes defeitos. A presença de cada um dos “bugs” está também relacionada com características da evolução dinâmica aSeguindo estas sugestões de correção é criado uma versão corrigida 32 dos corpos do sistema, como discutiremos em seguida. O primeiro problema tem origem na forma que o código define uma colisão com o corpo central. O critério usado nessa análise pode resultar em colisões irrealísticas. Ou seja, um corpo pode ser rotulado como “colidido com o corpo central”, sendo removido em seguida (através da acresção ao Sol), enquanto sua real distância a este objeto pode ser de várias unidades astronômicas. Nós identificamos que este problema deve somente ocorrer em simulações que apresentam encontros próximos entre objetos do sistema. Observamos, ainda, que este defeito poderia se manifestar no uso de qualquer algorítimo de integração do pacote que possa tratar adequadamente encontros próximos. Já o segundo defeito, apenas aparece no uso do integrador simplético híbrido. Ele afeta o critério de transição usado neste algorítimo (troca do integrador Simplético pelo Burlisch-Stoer, durante um encontro próximo) e se manifesta apenas em sistemas que apresentam colisões com o corpo central, ou ejeção de corpos do sistema. A consequência imediata, é um incorreto tratamento de encontros próximos, o que poderia alterar a verdadeira evolução dinâmica do corpos do sistema. É importante mencionar que esses não são os primeiros defeitos encontrados no pa- cote MERCURY. Anteriormente, de Souza Torres & Anderson (2008) reportaram uma inconsistência nos resultados durante simulações da formação de planetas terrestres. Eles mostraram que alguns corpos do sistema poderiam ser removidos de uma maneira não física no reinício de uma integração. Em geral, as simulações onde esse problema se mani- festava produziam menos planetas do que esperado a certas distâncias do Sol. Em nossa versão corrigida, nós também implementamos a proposta de correção em de Souza Torres & Anderson (2008). 2.2.1 Colisões irrealísticas com o corpo central Como apresentado, o integrador simplético híbrido do MERCURY está apto a tra- tar colisões entre os corpos do sistema. Colisões são sempre consideradas inelásticas, e um impacto entre dois corpos resulta em uma combinação de suas massas conservando momento linear. No MERCURY, a verificação de colisão com o corpo central é feita a cada passo de tempo, e a rotina que desempenha esta tarefa é chamada de MCE_CENT.FOR. Essa checagem é realizada a partir da posição e velocidade de cada um dos corpos do sistema nos extremos do atual intervalo de integração. Conhecido o raio físico do corpo central (rcen), se algum objeto tiver distância até a origem do sistema de referência menor que rcen, ou, se o objeto cruzou o pericentro de sua órbita durante esse intervalo de tempo, é usado o problema de dois corpos para estimar o instante em que a colisão ocorreu. Obviamente, quando o objeto tem distância até a origem do sistema menor que rcen, a 33 colisão é tratada de forma adequada. O erro do algorítimo aparece no critério usado para verificar se um objeto cruzou o pericentro de sua órbita como descrito em seguida. Em um sistema de referência inercial com origem no corpo central, sejam �r0 = (x0, y0, z0) e �v0 = (u0, v0, w0) os vetores posição e velocidade, em um instante de tempo t, de um corpo “EM” qualquer do sistema (exceto o central). Considere ainda, �r1 = (x1, y1, z1) e �v1 = (u1, v1, w1) os vetores posição e velocidade, deste mesmo corpo, no instante de tempo t + h, onde h representa o passo de tempo que a órbita está sendo integrada. Seja �ri • �vi, a representação do produto interno entre dois vetores �ri e �vi, onde i = 0, 1. O código considera que “EM” cruzou o pericentro de sua órbita, entre t e t + h, quando, �r0 • �v0 tem um valor negativo e �r1 • �v1 tem valor positivo (noção óbvia a partir dos ângulos entre esses vetores). Satisfeita esta condição, é calculado a excentricidade e a distância do pericentro (rp) deste objeto a partir do uso do problema de dois corpos. O critério final para determinar ou descartar a colisão de “EM” com o corpo central, é estabelecido a partir da análise do valor de rp. Se rp < rcen então, assume-se que em algum momento desta aproximação o objeto colidiu com o corpo central, e estima-se esse instante de tempo. Caso contrário nada é feito. É possível que o leitor já tenha notado que este tipo de aproximação não é sempre adequada. Suponha que em algum momento durante a integração, o corpo “EM” participe de um encontro próximo com outro corpo qualquer (considerando que este corpo exista, e que seja diferente do central). Estes fenômenos podem resultar em uma forte perturbação gravitacional e causar uma significativa mudança na órbita dos corpos envolvidos. Sob essas condições, é possível que a posição e velocidade de “EM”, nos instantes t e t + h, satisfaça o critério usado pelo código para verificar passagem pelo pericentro (�r0 • �v0 < 0 e �r1 • �v1 > 0). Satisfeita essa condição, o próximo passo do código é calcular a excentricidade osculadora do objeto. Note que, por causa de um encontro próximo, os elementos osculadores de “EM” podem apresentar uma grande variação durante um curto intervalo de tempo. Um possível aumento na excentricidade, combinado com o cálculo da distância do pericentro da órbita poderia colocar a máxima aproximação de “EM”, à origem do sistema, a uma distância inferior ao tamanho do raio físico do corpo central. Assim, o código contabilizaria a ocorrência de uma nova colisão incorretamente. Nós verificamos que esse tipo de colisão irrealística poderia ocorrer em simulações da formação de planetas terrestres usando a versão regular do MERCURY e apresentamos estes resultados na Seção 3.3. 2.2.1.1 Proposta de Correção Como descrito na seção anterior, o critério usado no pacote MERCURY para o tra- tamento de colisões com o corpo central não é eficiente. Nosso objetivo nesta seção, é 34 apontar e corrigir tal problema alterando de forma mínima o código original. Portanto, é possível que o leitor visualize diversas maneiras diferentes de implementar tais correções. Nossa estratégia é manter a análise dessas colisões, a partir do uso da aproximação do problema de dois corpos e estimando o instante da colisão, assim como é feito na versão pública regular do código. Entretanto, apenas usar este critério, caso a distância mínima (em um dos limites do intervalo de integração) entre o corpo central e o corpo em questão (“EM”) seja menor do que um parâmetro de distância previamente definido pelo usuário. Nós denominamos esse parâmetro de lct (limite de teste de colisão). A escolha de lct deve ser feita levando em conta o passo de integração escolhido. O tratamento de colisões com o corpo central é um ponto bastante delicado para a maioria dos integradores numéricos. Erros de integração tendem a aumentar rapidamente, principalmente para integradores de passo de tempo fixo, a medida que um objeto se aproxima do corpo central (Chambers, 2001). Além disso, corpos com altas excentricidades, durante aproximações ao pericentro, de suas órbitas, podem percorrer grandes distâncias em apenas um passo de integração. Desta forma, é preciso cautela na escolha do valor adequado para o lct. Em nossas simulações nós usamos lct =0.1 UA, isto é aproximadamente 20 vezes o raio do Sol e acreditamos ser um valor adequado para simulações da dinâmica e modelos de formação do Sistema Solar (Chambers, 2001). O trecho de código a qual a correção deve ser implementada, se inicia na linha 939 da versão pública do Mercury, dentro da rotina MCE_CENT.FOR como mostrado em seguida. Parte regular do código: if (q .lt. rcen) then nhit = nhit + 1 jhit(nhit) = j dhit(nhit) = rcen continuação... Correção proposta: if ((q .lt. rcen) .and. Min(rr0,sqrt(rr1))) .lt. (lct)) then nhit = nhit + 1 jhit(nhit) = j dhit(nhit) = rcen continuação... 35 2.2.2 O parâmetro de identificação de encontros próximos Quando o método de integração escolhido é o simplético híbrido, o código ativa o algorítimo Burlish-Stoer para integrar um encontro próximo, e usa a técnica simplética para calcular os termos remanescentes, como descrito por Widsom e Holman (1991). Neste caso, é necessário que o usuário defina a distância crítica (rcrit) de aproximação de um objeto a outro a partir da qual um encontro próximo é iniciado. Essa escolha é que define o critério de troca entre os dois regimes de integração do método híbrido. O valor deste parâmetro é extremamente importante. Se rcrit é escolhido pequena, o encontro pode não ser tratado adequadamente. Por outro lado, se rcrit é excessivamente grande, ocorre um aumento no uso do Burlish-Stoer e na demanda de tempo de processamento (Chambers, 1999), fazendo com que a integração perca a vantagem do uso do integrador simplético. Duncan et al. (1998) sugere que um valor adequado para a rcrit de cada corpo seja de 3 raios de Hill (3RH). Este valor tem sido usado em estudos anteriores da formação de planetas terrestres (Chambers, 2001; O’brien et al., 2006; Raymond et al., 2004; 2005; 2006; 2007; 2009) e também foi o valor utilizado em nossas simulações. É importante notar que simulações do último estágio da acresção de planetas terrestres se iniciam com embriões planetários com massas entre as da Lua e de Marte (Kokubo & Ida, 2000). Estes corpos podem percorrer 3 raios de Hill em apenas um único passo de integração, o que resultaria numa falha na checagem de encontros próximos e grandes erros na integração (Chambers, 1999). Para evitar essa inconveniência Chambers (1999) usou uma segunda estratégia durante a escolha do valor adequado para rcrit. A escolha deste valor passou a ser feita considerando também a velocidade do corpo com menor semi-eixo maior, denominada vmax, e o passo de tempo de integração da simulação (h). Esse valor passou a ser definido como o máximo entre 3RH e 0.4hvmax. Como mencionado anteriormente, colisões são sempre consideradas perfeitamente cons- trutivas. Quando uma colisão ocorre é necessário combinar os corpos envolvidos, remover os corpos indesejados, reindexando as variáveis usados para armazenar os dados dos cor- pos, e finalmente recalcular os dados dos corpos sobreviventes que foram alterados, como por exemplo, a massa de um embrião que possa ter colidido com um planetesimal. A rotina chamada MXX_ELIM.FOR é a responsável por eliminar os corpos indesejados, ou seja, aqueles que foram incorporados a outro em uma colisão, ejetados ou colidiram com o corpo central. Na prática, isto consiste em reindexar as variáveis usadas para armaze- nar todos os dados dos corpos deixando apenas os objetos sobreviventes. O defeito no código é a incorreta reindexação das variáveis de cada corpo, feita dentro da estrutura de repetição Do-loop que se inicia na linha 6685 da versão regular do programa. Neste ponto, observe que a variável rcrit não está sendo reindexada (Rodney Gomes, comuni- cação pessoal), o que pode resultar em corpos portando valores de rcrit inconsistentes 36 com a definição deste parâmetro. Em outras palavras, alguns objetos do sistema podem receber valores de rcrit de outros objetos. Isso poderia resultar em um drástico tratamento de encontros próximos durante uma simulação, influenciado pela incorreta troca entre os dois integradores do método híbrido. A cada execução da rotina MXX_ELIM.FOR, é invocada consecutivamente a rotina MCE_INIT.FOR. Sua tarefa é recalcular os novos dados de cada corpo, como por exemplo raio físico, densidade e rcrit. Essas duas rotinas são executadas em três partes do código sempre seguidas uma da outra. Estas partes são: após identificação de colisão (corpo central não está envolvido), após colisão com corpo central e após alguma ejeção de corpo do sistema. Observe que para ejeções ou colisões com o corpo central é totalmente desnecessário recalcular alguns dados dos corpos como por exemplo rcrit, já que a massa dos objetos não mudariamb. Com isso em mente, Chambers (1999) criou uma variável sinalizadora (rcritf lag). Esta variável contém um valor lógico como forma de informar a rotina MCE_INIT.FOR quando deve, ou não, ser recalculado, para cada corpo, o valor de rcrit. Em outras palavras, apenas em colisões onde o corpo central não está envolvido é feito o cálculo do novo valor rcrit. Curiosamente, neste caso, o cálculo do novo valor desse parâmetro age como uma “vacina” eliminando o problema causado pela rotina MXX_- ELIM.FOR. No entanto, seguindo o fluxo de execução do código, as próxima etapas consistem da checagem de colisões com o corpo central e de ejeções de corpos do sistema. Na eventual identificação de colisões com o corpo central ou ejeções de corpos do sistema, os corpos são removidos e a reindexação das variáveis é feita novamente de forma incorreta pela rotina MXX_ELIM.FOR. Diferente do caso anterior, a execução, consecutiva, da rotina MCE_- INIT.FOR não requisita o recálculo de rcrit, através do valor da variável sinalizadora, passado como argumento da função (rcritf lag). Isto mantém a reindexação incorreta feita em MXX_ELIM.FOR durante, pelo menos, um passo de integração. Neste caso, é possível que o valor de rcrit de alguns dos corpos do sistema possam diferir consideravelmente dos seus valores adequados. Por consequência, o tratamento de encontros próximos durante toda a integração numérica deixa de ser um processo criterioso e bem definido, podendo apresentar grande sensibilidade a parâmetros como distância do Sol na qual um objeto é considerado ser ejetado, da massa dos corpos do sistema e até mesmo da disposição dos corpos no arquivo de condições iniciais. bDe fato, colisões com o corpo central alterariam sua massa, mas é provável que o autor do código tenha considerado essa variação negligenciável 37 2.2.2.1 Proposta de Correção Para corrigir este problema é necessário adicionar a instrução rcrit(j) = rcrit(l) na rotina MXX_ELIM.FOR dentro da estrutura de repetição que se inicia na linha 6685 da versão regular e pública do MERCURY como mostrado a seguir. Parte regular do código: c Eliminate unwanted objects do k = 1, nelim do j = elim(k)− k + 1,elim(k + 1)− k − 1 l = j + k x(1, j) = x(1, l) x(2, j) = x(2, l) x(3, j) = x(3, l) continuação... Correção proposta: c Eliminate unwanted objects do k = 1, nelim do j = elim(k)− k + 1,elim(k + 1)− k − 1 l = j + k rcrit(j) = rcrit(l) x(1, j) = x(1, l) x(2, j) = x(2, l) x(3, j) = x(3, l) continuação... 2.3 Simulações A partir das correções propostas anteriormente, nós criamos uma versão corrigida do pacote MERCURY e nesta seção são apresentados os resultados produzidos pelas dife- rentes versões do código. Isso é feito analisando os resultados obtidos pelo uso da versão regular contra aqueles obtidos através da versão corrigida, a partir de um idêntico con- junto de condições iniciais. Foram realizadas, no total, 12 simulações do último estágio da formação de planetas terrestres, ou seja, 6 simulações para cada versão do código. O perfil de densidade superficial de massa do disco, adotado nestes experimento, foi Σ(r) = Σ1r−α 38 com α = 1.5 (Weidenschilling, 1977; Hayashi, 1981). A densidade superficial de massa a 1 UA(Σ1) do Sol foi considerada igual a 8g/cm2 (Hayashi et al., 1981). O disco estende-se de 0.5 UA até 4.0 UA, tendo metade de sua massa distribuída entre embriões planetários e a outra metade entre planetesimais. A massa de cada embrião planetário é proporcional a r3/2(2−α)Δ3/2, onde Δ é o número de raios de Hill mútuos, representando o espaçamento entre um embrião e outro (Kokubo & Ida, 2000). Planetesimais são considerados não interagir entre eles, mas somente com embriões e planetas gigantes, e são distribuídos com número proporcional a r−α+1 e massa igual a 0.0025M⊕. Cada simulação contém aproximadamente 1000 planetesimais e ∼70 embriões planetários espaçados entre si por 5-10 raios de Hill mútuos (Kokubo & Ida, 2000). O passo de integração considerado neste estudo foi de 6 dias. Nós consideramos três diferentes configurações de planetas gigantes como em Raymond et al., (2009): • Júpiter e Saturno como em suas órbitas atuais, • Júpiter e Saturno como em suas órbitas atuais, mas excentricidades alteradas ex- centricidade para eJ = eS = 0.1, e • apenas Júpiter em sua órbita atual. Do total das 6 simulações para cada versão do código, foram realizadas duas para cada configuração de planetas gigantes, cada uma com condições iniciais de planetesimais e embriões planetários levemente diferentes. Planetesimais e embriões planetários estavam inicialmente em órbitas circulares. A inclinação orbital desses objetos foram escolhidas aleatoriamente num intervalo de 0.0001 até 0.001 graus, e suas anomalias médias foram tomadas variando no intervalo de 0 até 360◦. O valor inicial dos argumentos do pericentro e longitude do nodo ascendente desses corpos foram assumidos iguais a zero. É importante deixar claro que a apresentação dos resultados produzidos por cada versão do código tem principalmente caráter ilustrativo. Comparar as características finais dos sistemas de planetas formados por cada versão do código, usando um mesmo conjunto de condições iniciais, é um ponto bastante delicado neste tipo de estudo. O último estágio da acresção de planetas terrestres é um processo altamente estocástico. Logo, o limitado número de simulações aqui realizadas não seria suficiente para fornecer conclusões estatísticas. Entretanto, durante este estudo foram tomados diversos cuidados com a execução dessas 12 simulações. Foram usados os mesmos compiladores, e todas as simulações foram executados nos mesmos tipos de processadores, de forma contínua, de 0 Ma até 200 Ma (simulações não foram interrompidas e reiniciadas). Isso foi feito com o intuito de eliminar efeitos estocásticos que poderiam se apresentar em razão dessas situações. 39 2.4 Resultados 2.4.1 Colisões irrealísticas com o Sol Os dois problemas do código aqui relatados, poderiam se manifestar em simulações da formação de planetas terrestres, em função das características destes experimentos (grande número de encontros próximos e uso do integrador híbrido). Observe que essas são as condições necessárias para os defeitos do cogido se manisfestarem (Seção 2.2). No nosso caso, todas as colisões irrealísticas com o Sol ocorreram em razão de encontros próximos de embriões planetários, ou planetesimais, com o planeta Júpiter. Encontros próximos de embriões e planetesimais ou entre dois embriões não resultaram, nestes experimentos, em colisões irrealísticas com o Sol. Em simulações como as realizadas aqui, corpos em determinadas regiões do disco protoplanetário podem ser perturbados dinamicamente adquirindo órbitas de altas excen- tricidades (Chambers, 2001). Este tipo de efeito tende a aumentar a probabilidade de encontros próximos com Júpiter quando estes objetos se aproximam do apocentro de suas órbitas. A Figura 2.1 mostra um desses casos. Nesta simulação, nós identificamos uma colisão irrealística , de um planetesimal com o Sol, em uma simulação usando a versão re- gular do MERCURY e considerando inicialmente Júpiter e Saturno como em suas órbitas atuais. Nessa figura, as características da evolução orbital do objeto são mostradas até o momento de colisão com o corpo central. Observe na Figura 2.1 que, apesar do código considerar uma colisão com este objeto, os dados do último instante mostram que a distância do planetesimal ao Sol é superior a 5 UA, enquanto que sua distância à Júpiter é extremamente pequena. De fato, este instante corresponde ao momento de máxima aproximação do objeto a Júpiter. Isto resulta numa forte variação dos elementos orbitais osculadores do objeto, logo, antes que aconteça o próximo passo de integração, o código rotula este objeto como colidido com o corpo central (irrealisticamente) conforme discutido anteriormente. A fim de mostrar como seria a evolução deste objeto se o defeito no código não existisse, usando a versão corrigida, nós integramos exatamente o mesmo conjunto de condições inicias e seguimos novamente a órbita do mesmo corpo, para comparar com a Figura 2.1. A Figura 2.2 mostra este resultado. Ela ilustra claramente que a órbita do corpo produzida por cada versão do código é exatamente a mesma até o último instante de tempo mostrado na Figura 2.1. Enquanto que, na versão regular o planetesimal teria colidido com o Sol (irrealisticamente), em nossa versão corrigida o corpo permanece no sistema (Fig. 2.2-zomm (a)) até quando é ejetado (Fig. 2.2 -zoom (b)) 200000 anos mais tarde. 40 1.5 2 2.5 3 S em i-e ix o m ai or [U A ] 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 E xc en tr ic id ad e 0 2 4 6 8 10 D is t. de J up ite r[ U A ] 0 1 2 3 4 5 6 1e+05 1e+06 D is t. do S un [U A ] Tempo (Anos) 1.5 2 2.5 3 Zoom 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 0 2 4 6 8 10 0 1 2 3 4 5 6 1.65E+06 1.655E+06 1.66E+06 Figura 2.1: Exemplo da evolução dinâmica de um planetesimal rotulado irrealisticamente como colidido com o Sol. A versão usada do MERCURY nesta simulação é a regular. Os dados do último instante de tempo mostrados nesta figura correspondem ao momento de máxima aproximação do objeto a Júpiter, durante o encontro próximo. Neste caso, antes da execução do próximo passo de integração, o objeto colide (irrealisticamente) com o corpo central. Um encontro próximo, de um embrião planetário ou planetesimal com Júpiter, pode resultar em uma rápida variação nos elementos osculadores do menor objeto, satisfazendo o critério necessário para ocorrer colisões irrealísticas com o corpo central. No entanto, como vimos na simulação usando a versão corrigida, depois de um encontro próximo com Júpiter é muito provável que um objeto deste tipo tenha um tempo de vida bastante curto, e que apenas interaja fracamente com os outros corpos do disco protoplanetário. O mais provável é que este objeto seja rapidamente ejetado, colida com Júpiter ou até mesmo com o Sol (realisticamente) como evidenciamos na maioria de nossas simulações. Isto tende a minimizar as consequências do defeito do código, no uso da versão regular do MERCURY, em simulações similares as nossas. Todavia, a situação pode não ser tão favorável em outros tipos de sistemas dinâmicos, ou em estudos com abordagens estatísticas, dando importância a correção do código. 41 1.5 2 2.5 3 S em i-e ix o m ai or [U A ] 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 E xc en tr ic id ad e 0 2 4 6 8 10 D is t. de J up ite r[ U A ] 0 1 2 3 4 5 6 1e+05 1e+06 D is t. do S un [U A ] Tempo (Anos) 2 3 4 5 6 7 8 9 Zoom a) 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 0 2 4 6 8 10 0 1 2 3 4 5 6 1.65E+06 Zoom b) 1.66E+06 2.00E+06 Figura 2.2: Exemplo da evolução dinâmica de um planetesimal que seria rotulado irre- alisticamente como colidido com o Sol no uso da versão regular do pacote MERCURY. Nesta simulação, é usada a versão corrigida do código. A órbita do corpo produzida por esta versão é exatamente a mesma até o último instante de tempo mostrado na Figura 2.1. Enquanto que, na versão regular o planetesimal teria colidido com o Sol (irrealisti- camente), feita a correção este objeto permaneceria “vivo” (Fig. 2.2-zomm (a)) até ser ejetado do sistema (Fig. 2.2 -zoom (b)) 200000 anos mais tarde. 2.4.2 A evolução da massa do disco protoplanetário As Figuras 2.3 e 2.4 mostram a evolução temporal da massa restante do disco (massa em embriões e planetesimais sobreviventes) e também a quantidade de massa perdida através de ejeções, colisões com o Sol e colisões com Júpiter. Estes valores são produzidos para cada versão do código a partir de uma mesmo conjunto de condições iniciais. A Figura 2.3 mostra a evolução de sistemas inicialmente com Júpiter e Saturno em suas órbitas atuais. A Figura 2.4 corresponde ao caso onde Júpiter e Saturno estão inicialmente em suas órbitas atuais mas com excentricidades alteradas para (eJ = eS = 0.1). Nas Fig. 2.3 e 2.4 é notável que a quantidade de massa colidida com o corpo central é substancialmente maior em simulações usando a versão regular do código. Isto é esperado devido às irrealísticas colisões com o corpo central identificadas no uso desta versão. Após 42 2 3 4 5 M as sa ( M ⊕ ) V er si on Novo Regular Cod. de cores Massa disco Ejetada Colisao com Sol Colisao com Jupiter 0.001 0.01 0.1 1 10000 100000 1e+06 1e+07 1e+08 Tempo (Anos) V er sa o Novo Regular Codigo de Cores Massa disco Ejetada Colisao com Sol Colisao com Jupiter Figura 2.3: Evolução temporal da massa restante do disco (embriões planetários + plane- tesimais) e quantidade de massa perdida por diferentes mecanismos: ejeção, colisão com o Sol e colisão com Júpiter. Nestas simulações Júpiter e Saturno estão inicialmente como em suas órbitas atuais. Os resultados foram obtidos a partir de um mesmo conjunto de condições iniciais do disco protoplanetários. A linha tracejada corresponde à simulação usando a versão regular do MERCURY e a linha sólida corresponde à simulação usando a versão corrigida. a correção deste problema nós observamos que a tendência natural é ocorrer um aumento da quantidade de massa perdida através de ejeções. Por isso, nós acreditamos que este defeito do código não seja muito importante para este tipo de simulação. A quantidade de massa final do sistema (a soma das massas dos objetos sobreviventes) é bastante similar quando observamos os resultados produzidos por cada versão do código na Figuras 2.3. Por outro lado, a Figura 2.4 mostra um resultado bastante contrastante, onde a diferença na massa final de cada simulação é muito expressiva. Esses resultados mostram que a combinação dos defeitos do código e a estocasticidade desse tipo de si- mulação pode resultar na produção de resultados significativamente diferentes a partir de um mesmo conjunto de condições iniciais. Nos sistemas representados na Figura 2.4, a simulação usando o código corrigido apresentou um forte período de instabilidade dinâ- mica entre 30 e 40 Ma, resultando em uma grande quantidade de massa ejetada, diferente 43 2 3 4 5 M as sa ( M ⊕ ) V er sa o New Regular Codigo de cores Massa disco Ejetada Colisao com Sol Colisao com Jupiter 0.001 0.01 0.1 1 10000 100000 1e+06 1e+07 1e+08 Tempo (Anos) V er sa o Novo Regular Codigo de cores Massa disco Ejetada Colisao com Sol Colisao com Jupiter Figura 2.4: Evolução temporal da massa restante do disco (embriões planetários + pla- netesimais) e quantidade de massa perdida por diferentes mecanismos: ejeção, colisão com o Sol e colisão com Júpiter. Nestas simulações Júpiter e Saturno estão inicialmente como em suas órbitas atuais mas com valores de excentricidades alterados para 0.1. Os resultados foram obtidos a partir de um mesmo conjunto de condições iniciais do disco protoplanetários. A linha tracejada corresponde à simulação usando a versão regular do MERCURY e a linha sólida corresponde à simulação usando a versão corrigida. 44 do resultado obtido com a outra versão. 2.4.3 Sistemas Planetários Formados As Figuras 2.5, 2.6, 2.7 e 2.8 mostram a estrutura dos discos protoplanetários em um diagrama semi-eixo maior versus excentricidade para diferentes instantes de tempo. A Fi- gura 2.5 é obtida a partir do uso da versão regular do código, enquanto que a Figura 2.6 a partir da versão corrigida. Nesses dois últimos casos, Júpiter e Saturno estão inicialmente como em suas órbitas atuais, enquanto que, nas simulações mostradas nas Figuras 2.7 e 0.0 Ma 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 E xc en tr ic id ad e 0.001 0.01 0.1 1 3 Massa da Terra 0.1 Ma 0.001 0.01 0.1 1 3 Massa da Terra 1 Ma 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 E xc en tr ic id ad e 0.001 0.01 0.1 1 3 Massa da Terra 10 Ma 0.001 0.01 0.1 1 3 Massa da Terra 100 Ma 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 Semi-eixo maior (UA) 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 E xc en tr ic id ad e 0.001 0.01 0.1 1 3 Massa da Terra 200 Ma 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 Semi-eixo maior (UA) 0.001 0.01 0.1 1 3 Massa da Terra Figura 2.5: “Snapshots” da evolução dinâmica de um sistema inicialmente com Júpiter e Saturno em suas órbitas atuais. A versão usada do MERCURY é a versão regular. O tamanho de cada corpo corresponde a seu tamanho físico relativo, é proporcional a M1/3 e não está dimensionado sobre o eixo horizontal. O esquema de cores representa a massa de cada objeto, em massas da Terra. 45 0.0 Ma 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 E xc en tr ic id ad e 0.001 0.01 0.1 1 3 Massa da Terra 0.1 Ma 0.001 0.01 0.1 1 3 Massa da Terra 1 Ma 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 E xc en tr ic id ad e 0.001 0.01 0.1 1 3 Massa da Terra 10 Ma 0.001 0.01 0.1 1 3 Massa da Terra 100 Ma 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 Semi-eixo maior (UA) 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 E xc en tr ic id ad e 0.001 0.01 0.1 1 3 Massa da Terra 200 Ma 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 Semi-eixo maior (UA) 0.001 0.01 0.1 1 3 Massa da Terra Figura 2.6: “Snapshots” da evolução dinâmica de um sistema inicialmente com Júpiter e Saturno em suas órbitas atuais. A versão usada do MERCURY é a versão corrigida. O tamanho de cada corpo corresponde a seu tamanho físico relativo, é proporcional a M1/3 e não está dimensionado sobre o eixo horizontal. O esquema de cores representa a massa de cada objeto, em massas da Terra. 2.8 Júpiter e Saturno têm estes mesmos elementos orbitais, exceto os valores das excentri- cidades que foram alterados para e = 0.1 . A configuração inicial do disco protoplanetário (distribuição de embriões planetários e planetesimais) é a mesma nos 4 casos. Na comparação das Fig. 2.5 e 2.6 ou Fig. 2.7 e 2.8, é evidente que a estrutura do disco protoplanetário produzida por cada uma das versões do código mostram diferenças significativas durante a evolução dinâmica do sistema. Por exemplo, após 1 Ma, a locali- zação da ressonância secular ν6 aparece em regiões diferentes na comparação das Figuras 2.5 e 2.6, ou equivalentemente, quando são comparadas as Figuras 2.7 e 2.8. A Fig. 2.5 mostra que o pico da excentricidade, em razão a ν6, está ao redor de 2.0UA, enquanto 46 0.0 Ma 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 E xc en tr ic id ad e 0.001 0.01 0.1 1 3 Massa da Terra 0.1 Ma 0.001 0.01 0.1 1 3 Massa da Terra 1 Ma 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 E xc en tr ic id ad e 0.001 0.01 0.1 1 3 Massa da Terra 10 Ma 0.001 0.01 0.1 1 3 Massa da Terra 100 Ma 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 Semi-eixo maior (UA) 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 E xc en tr ic id ad e 0.001 0.01 0.1 1 3 Massa da Terra 200 Ma 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 Semi-eixo maior (UA) 0.001 0.01 0.1 1 3 Massa da Terra Figura 2.7: “Snapshots” da evolução dinâmica de um sistema inicialmente com Júpiter e Saturno em suas órbitas atuais, mas com excentricidades alteradas para 0.1. A versão usada do MERCURY é a versão regular. O tamanho de cada corpo corresponde a seu tamanho físico relativo, é proporcional a M1/3 e não está dimensionado sobre o eixo horizontal. O esquema de cores representa a massa de cada objeto, em massas da Terra. que na Fig 2.6, este é notado ao redor de 2.2UA. No caso da Figura 2.7, o efeito da ressonância secular ν6, aumentando a excentricidade, dos corpos é visto após 0.1 Ma de forma destacada ao redor de 2.3 UA. No entanto, seu efeito é bem menos pronunciado na Figura 2.8, comparando os mesmos instantes de tempo. Todas estas diferenças na evolução dos discos protoplanetários são resultados esperados. Corrigindo o problema do código afetando a troca entre as técnicas de integração, usada pelo algorítimo híbrido, todos os encontros próximos são tratados de forma correta e consequentemente a evolução do sistema pode mudar. Neste último caso a correção das colisões irrealísticas com o Sol, também deve ter uma contribuição na diferença da evolução 47 0.0 Ma 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 E xc en tr ic id ad e 0.001 0.01 0.1 1 3 Massa da Terra 0.1 Ma 0.001 0.01 0.1 1 3 Massa da Terra 1 Ma 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 E xc en tr ic id ad e 0.001 0.01 0.1 1 3 Massa da Terra 10 Ma 0.001 0.01 0.1 1 3 Massa da Terra 100 Ma 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 Semi-eixo maior (UA) 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 E xc en tr ic id ad e 0.001 0.01 0.1 1 3 Massa da Terra 200 Ma 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 Semi-eixo maior (UA) 0.001 0.01 0.1 1 3 Massa da Terra Figura 2.8: “Snapshots” da evolução dinâmica de um sistema inicialmente com Júpiter e Saturno em suas órbitas atuais, mas com excentricidades alteradas para 0.1. A versão usada do MERCURY é a versão corrigida. O tamanho de cada corpo corresponde a seu tamanho físico relativo, é proporcional a M1/3 e não está dimensionado sobre o eixo horizontal. O esquema de cores representa a massa de cada objeto, em massas da Terra. de cada simulação, isto é, versão corrigida contra regular. É importante deixar claro que os resultados apresentados aqui, especialmente estes ilustrando tais diferenças, não devem ser tomados como tendências ou características obedecidas pelo uso de cada uma das versões do código, em razão da estocasticidade deste tipo de experimento numérico. Para um estudo detalhado sobre a localização de ressonâncias seculares em simulações da formação de planetas terrestres nós recomendamos a leitura do Capítulo 3 desta tese. 48 2.5 Considerações Finais Neste capítulo nós analisamos e corrigimos dois defeitos de programação encontrados no pacote MERCURY, um conhecido integrador de N-corpos designado para estudos da dinâmica planetária. Nós notamos que o critério usado no reconhecimento de colisões com o corpo central pode resultar na identificação de colisões irrealísticas em simulações da formação de pla- netas terrestres. Discutimos também, que de forma geral, a origem desse defeito tem como pré-requisito a ocorrência de encontros próximos durante a evolução do sistema dinâmico estudado. Apesar do grande número de encontros próximos entre embriões e planetesimais, ou somente entre embriões, em nossos experimentos, nós constatamos que as causas das colisões irrealísticas com o Sol, apareceram sempre ligadas a ocorrência de encontros próximos com o planeta Júpiter. Por isso, nossos resultados indicam que este defeito do código pode não afetar qualitativamente os resultados de nossas simulações. Como mostrado na Figura 2.2, após a correção do “bug”, o tempo de vida de um planetesimal ou embrião planetário (em um encontro próximo com Júpiter) deve ser extremamente curto e é provável que objetos deste tipo não contribuam significativamente para a acresção de massa na zona terrestre. Entretanto, destacamos novamente, que tais atestações podem ser somente válidas no âmbito destes experimentos, e as consequências deste defeito do código para outros estudos podem ser completamente adversas as nossas, e talvez de grande importância. Por outro lado, o segundo defeito do código é altamente crítico e se manifesta de forma bastante complexa podendo alterar o correto tratamento de encontros próximos e a troca dos integradores no algorítimo híbrido. No entanto, por causa do alto grau de estocas- ticidade, presente em simulações da acresção de planetas terrestres, seria necessário um grande número de experimentos numéricos para constatarmos se existiria alguma dife- rença ou tendência significante entre os resultados produzidos por cada uma das versões. Todavia, tal estudo se encontra fora do escopo deste trabalho. O MERCURY é um pacote de integração polivalente e é provável que alguns estudos sejam mais suscetíveis aos defeitos do código do que outros. Sendo assim, é extrema- mente importante a implementação dessas duas correções no código, para que, os resulta- dos obtidos sejam confiáveis e verdadeiramente representativos da dinâmica do problema estudado. Com isso em mente, e com a implementação feita (disponível em caso de soli- citação), nós estamos aptos a seguir nosso estudo da formação de planetas terrestres. Os resultados apresentados nos capítulos seguintes foram obtidos utilizando a versão corrigida do pacote MERCURY. 49 Capítulo 3 Efeitos do perfil de densidade superficial de massa Nesse capítulo, nós apresentamos um estudo da última fase da acresção de planetas terrestres. Isso é feito analisando a evolução dinâmica de um grande número de plane- tesimais e embriões planetários para diferentes perfis de densidade superficial de massa, e diferentes parâmetros orbitais de Júpiter e Saturno. Primeiramente, é feito um es- tudo dos dez primeiros milhões de anos da evolução do disco, quando as ressonâncias seculares, principalmente a ν6, afetam significativamente a dinâmica dos embriões plane- tários e planetesimais. Na fase seguinte, as simulações são integradas até 300 Ma a fim de identificarmos as características gerais dos conjuntos de planetas terrestres formados, relacionando-as com os diferentes perfis de densidade superficial do disco e configurações de planetas gigantes. 3.1 Introdução Os planetas gigantes do Sistema Solar tiveram um profundo efeito sobre a formação dos planetas terrestres. Como mostrado por muitos autores incluindo Wetherill (1990a& b, 1994, 1996), Agnor et al (1999), Chambers e Wetherill (1998), Chambers (2001), Cham- bers & Cassen (2002), Levison & Agnor (2003), Raymond et al (2004, 2005a&b, 2006, 2007, 2009) e Agnor & Lin (2012), o conjunto final destes planetas, suas massas e as quantidades de água estão fortemente relacionadas com a estrutura dinâmica e proprie- dades orbitais de Júpiter e Saturno. Em outras palavras, tais características dependem diretamente da perturbação imposta pelos planetas gigantes na zona de acresção ter- restre. Neste caso, ressonâncias de movimento médio (Nesvorny & Morbidelli, 1998) e ressonâncias seculares (Milani e Knezevic, 1990) contribuem significativamente. Uma ressonância secular ocorre quando a precessão das órbitas de dois objetos estão em 50 sincronia. Ou seja, quando existe uma comensurabilidade entre as frequências de precessão do pericentro (ou do nodo) das órbitas do corpo perturbado e o corpo perturbador. Para os planetas do Sistema Solar, essas frequências são usualmente indicadas por gj, aquelas associadas ao pericentro, e por sj (algumas vezes fj), aquelas controlando os nodos, onde j representa o número do planeta contado a partir do Sol (Milani & Knezevic, 1990). Por exemplo, g6 e f6 são as taxas de precessão das longitudes do pericentro (�6) e do nodo (Ω6) de Saturno. As correspondentes frequências para um pequeno objeto, tal como um asteroide, são denotadas por g e f . Uma ressonância entre um pequeno corpo e um planeta ocorre quando g − gj ≈ 0 ou f − fj ≈ 0 e são denominadas νj e ν1j , respectivamente. As ressonâncias seculares associadas a Júpiter e Saturno aumentam a excentricidade (ou inclinação) de pequenos objetos interiores as suas órbitas, ejetando ou fazendo esses corpos colidirem com o Sol ou outros corpos do sistema. Dessa forma, os planetas gigantes têm um papel importante esculpindo o cinturão de asteroides, ejetando massa, e também, restringindo a inclinação e excentricidades dos asteroides e a acresção de planetesimais e embriões planetários no último estágio da formação de planetas terrestres. Entre as ressonâncias seculares, a ν6 mostra ter um efeito significante na dinâmica da fase inicial de discos protoplanetários, sendo a principal ressonância secular do Sistema Solar (Milani & Knezevic, 1990). Em conexão com a formação de planetas terrestres, como primeiro notado por Chambers e Wetherill (1998) e subsequentemente por Levison e Agnor (2003), essa ressonância altera significantemente as órbitas de planetesimais e embriões planetários, causando a ejeção do sistema de muitos desses objetos. Como a formação de planetas terrestres é um processo longo (> 100 Ma; Lissauer, 1993), e, em seu último estágio, é primariamente governada pela interação mútua entre embriões planetários, é importante determinar como ressonâncias afetam a dinâmica desses corpos, e a sua distribuição através do disco, em particular, durante os primeiros milhões de anos da evolução do disco. Como mencionado anteriormente, a dinâmica de discos protoplanetários e o processo da formação de planetas terrestres, em adição da perturbação dos planetas gigantes, são fortemente afetados pelas interações de planetesimais com embriões planetários, e a mútua interação entre os últimos corpos. Isso implica que a distribuição espacial desses objetos será um fator importante durante a fase de crescimento até corpos maiores. Em grande parte das simulações da formação de planetas terrestres, a densidade superficial do disco é considerada variar proporcionalmente a r−3/2, onde r é a distância até o Sol. Esse modelo foi primeiro proposto por Weidenschilling (1977) e Hayashi (1981), e está baseado na hipótese que os planetas gigantes se formaram em suas órbitas atuais. Entretanto, é amplamente aceito que esses objetos não mantiveram suas órbitas iniciais e sofreram algum tipo de migração radial. Por exemplo, como mostrado por Fernandez e Ip (1984), 51 os planetas gigantes poderiam ter desviado de suas órbitas iniciais devido à troca de momento angular com um disco de planetesimais depois que o gás nebular foi dispersado. A migração radial dos planetas gigantes também foi usada por Malhotra (1993, 1995) para explicar a peculiar (altamente excêntrica, inclinada e com movimento caótico) órbita de Plutão, e por Malhotra (1996), e Hahn e Malhotra (2005) para explicar a estrutura dinâmica do cinturão de Kuiper. Mais recentemente, a migração de Júpiter e Satu