A figueira, originária da região da Ásia Menor
e da Síria, foi cultivada e selecionada pela primeira
vez pelos árabes e judeus, em uma região situada
ao sudoeste da Ásia. É uma das mais antigas plantas
cultivadas no mundo, sendo considerada pelos
povos antigos como símbolo de honra e fertilidade.
Segundo os botânicos da Universidade americana
de Harvard, as figueiras do Oriente Médio foram
o primeiro cultivo realizado pelo ser humano, há
11.400 anos. Os pesquisadores encontraram restos
de figos pequenos e sementes secas enterradas em
um povoado no vale do Rio Jordão, ao norte de
Jericó. Os frutos estavam bem conservados, o que
demonstrou evidências de que eram previamente
secos para o consumo humano.
O figo foi um dos alimentos mais populares
que sustentaram a humanidade desde o começo
de sua história. Os frutos foram utilizados como
alimento dos atletas olímpicos e oferecidos como a
primeira medalha olímpica aos vencedores. A planta
também foi descrita em muitas passagens bíblicas
como árvore sagrada e respeitada pelos homens.
Durante o período dos grandes descobrimentos, o
figo foi difundido nas Américas. No Brasil, acredita-se
que a figueira tenha sido introduzida pela primeira
expedição colonizadora, em 1532, no estado de
São Paulo.
A cultura da figueira foi introduzida no Brasil
no início do século XX pelo italiano Lino Bussato,
sendo proveniente da Itália, de uma região situada
próxima ao mar Adriático. Entretanto, teve o início
de sua exploração econômica somente a partir de
1910, quando começou a ser cultivada comercial-
mente na região de Valinhos, em São Paulo. Nessa
região, os plantios restringiam-se ao cultivo de uma
única cultivar, o Roxo de Valinhos. Atualmente a
figueira é cultivada comercialmente nos estados
do Rio Grande do Sul, São Paulo e Minas Gerais.
A produção paulista é principalmente destinada
para o mercado de frutas ao natural, e a dos outros
estados, para o processamento industrial.
A cultura da figueira é interessante para o Brasil,
pela possibilidade de as exportações brasileiras
entrarem na entressafra da Turquia, o maior produ-
tor mundial do fruto. O Brasil, no entanto, vem se
destacando como um grande fornecedor de figos
para o mundo, com 20% a 30% do volume total
produzido no país destinado para a exportação.
Neste livro, organizado por Sarita Leonel e
Aloísio Costa Sampaio, diversas abordagens sobre
esse fruto, tanto em seu aspecto econômico como
biológico e até mesmo cultural, são feitas por espe-
cialistas, que procuram fazer uma revisão e uma
atualização bibliográfica sobre a figueira, demons-
trando a importância do figo ao longo da história
da humanidade, com referências registradas em
escritos religiosos, políticos, artísticos, medicinais e
gastronômicos.
Sarita Leonel possui graduação (1989), mestrado (1992) e doutora-
do (1994) em Agronomia (Horticultura), todos pela Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp). Trabalhou
como engenheira agrônoma na Secretaria de Agricultura e
Abastecimento do Estado de São Paulo, na Coordenadoria
de Assistência Técnica Integral, no período de 1993 a 2000.
Atualmente é professora-adjunta da Unesp. Tem experiência na
área de fruticultura, atuando principalmente nos seguintes temas:
propagação e produção de mudas, fisiologia e sistemas de pro-
dução de frutíferas.
Aloísio Costa Sampaio possui graduação (1987) em Agronomia,
mestrado (1991) em Agronomia (Produção Vegetal) e doutorado
(1995) em Agronomia (Horticultura), todos pela Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp). Atualmente
é professor-adjunto da Unesp. Tem experiência na área de
Agronomia, com ênfase em manejo e tratos culturais e fisiologia
de frutíferas, atuando principalmente nos seguintes temas: abacaxi,
maracujá, goiaba, abacate e fruticultura.
A figueira
Sarita Leonel e
Aloísio Costa Sampaio (Orgs.)
Sarita Leonel e A
loísio C
osta Sam
paio (O
rgs.)
A
figueira
A figueira, originária da região da Ásia Menor e da Síria, foi
cultivada e selecionada pela primeira vez pelos árabes e judeus,
em uma região situada ao sudoeste da Ásia. É uma das mais anti-
gas plantas cultivadas no mundo, sendo considerada pelos povos
antigos como símbolo de honra e fertilidade.
A cultura da figueira é interessante para o Brasil, que vem se
destacando como um grande fornecedor de figos para o mundo,
com 20% a 30% do volume total produzido no país destinado
para a exportação.
Neste livro, organizado por Sarita Leonel e Aloísio Costa
Sampaio, diversas abordagens sobre esse fruto, tanto em seu
aspecto econômico como biológico e até mesmo cultural, são
feitas por especialistas, que procuram fazer uma revisão biblio-
gráfica sobre a figueira, demonstrando sua importância ao longo
da história da humanidade, com referências registradas em escri-
tos religiosos, políticos, artísticos, medicinais e gastronômicos.
9 7 8 8 5 3 9 3 0 1 8 7 4
ISBN 978-85-393-0187-4
A figueirA
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A figueira / Sarita Leonel e Aloísio Costa Sampaio (Orgs.).
São Paulo: Editora Unesp, 2011.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-393-0187-4
1. Figo – Cultivo. I. Leonel, Sarita, 1965-. 2. Sampaio, Aloísio
Costa. I. Título.
11-7109 CDD: 634.37
CDU: 634.37
Este livro é publicado pelo projeto Edição de Textos de Docentes e
Pós-Graduados da UNESP – Pró-Reitoria de Pós-Graduação
da UNESP (PROPG) / Fundação Editora da UNESP (FEU)
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ESPEITE O DIREITO AUTOR
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Sumário
1 Figo, história e cultura 9
Lin Chau Ming, Maria de Nazaré Ângelo Menezes,
Gutemberg Armando Diniz Guerra
2 aspectos econômicos da produção e comercialização
do figo 57
Aldir Carlos Silva, Marco Antonio da Silva Vasconcellos,
Rubens Nei Briançon Busquet
3 aspectos botânicos e biologia reprodutiva da figueira 67
Rafael Pio, Sarita Leonel, Edvan Alves Chagas
4 propagação da figueira 77
Manoel Euzébio de Souza, Sarita Leonel
5 Variedades de figueira 93
Rafael Pio, Edvan Alves Chagas
6 exigências climáticas da figueira 111
Adilson Pacheco de Souza, Andréa Carvalho da Silva
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6 SARITA LEONEL E ALOíSIO COSTA SAMPAIO
7 ecofisiologia da figueira 123
Andréa Carvalho da Silva, Sarita Leonel
8 manejo da poda da figueira 151
Sarita Leonel, Aloísio Costa Sampaio
9 planejamento e instalação do pomar 167
Erval Rafael Damatto Junior
10 Uso da irrigação suplementar em figueira 177
Adilson Pacheco de Souza, Sarita Leonel
11 manejo nutricional da figueira 195
Sarita Leonel, Rubem Marcos de Oliveira Brizola
12 adubação orgânica da figueira 221
Sarita Leonel, Ronaldo Simões Grossi
13 manejo de culturas intercalares no pomar de figueira 237
Jaime Duarte Filho, Sarita Leonel
14 Utilização de fitorreguladores na cultura da figueira 255
Emerson Dias Gonçalves, João Vieira Neto, Fabíola Villa
15 Doenças da figueira 267
Emi Rainildes Lorenzetti
16 pragas de importância econômica da figueira 279
Thaíse Karla Ribeiro Dias, Everton Pires Soliman,
Aloísio Costa Sampaio
17 produção integrada de figo 305
José Augusto Maiorano
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A FIGUEIRA 7
18 Colheita do figo 337
Gláucia Cristina Moreira
19 pós-colheita do figo 347
Edvar de Sousa da Silva
20 processamento do figo 359
Magali Leonel, Sarita Leonel
21 a figueira como fonte terapêutica 373
Andréa Carvalho da Silva, Danila Monte Conceição
Sobre os autores 393
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1
Figo, hiStória e cultura
Lin Chau Ming
Maria de Nazaré Ângelo Menezes
Gutemberg Armando Diniz Guerra
Introdução
a história do figo remonta à época, não se sabe exatamente
quando, do início da domesticação das plantas pelo homem. Como
uma espécie encontrada na forma selvagem na natureza, ano após
ano, século após século, passados alguns milênios desde que o
primeiro ser humano a considerou apta para o consumo, foi sendo
moldada para os mais requintados e exigentes gostos e manipulada
para produzir mais, ser maior/menor/diferente, mais colorida/
doce/macia, nas mais diversas porções de nosso planeta, consti-
tuindo-se em importante alimento.
essa história pode ser escrita na forma de informações científicas
observadas em pesquisas arqueológicas (algumas paleoetnobotâni-
cas), tratados agronômicos/botânicos e escritos sobre a evolução da
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10 SARITA LEONEL E ALOíSIO COSTA SAMPAIO
culinária e da alimentação humana e em pesquisas etnobotânicas.
pode ainda existir na forma de estórias contadas de geração em
geração, muitas delas perpetuadas na forma de escritos, diversos
deles anônimos, desde tempos imemoriais, e que até hoje são ainda
contadas, cantadas e reinventadas. algumas delas transformaram-se
em lendas ou mitos, em contextos apropriados ao seu surgimento.
mesmo nesse tempo da informação digital, da facilidade de
comunicação escrita e eletrônica, muitas dessas estórias ainda são
transmitidas oralmente, reconstituindo o tempo passado, reforçando
os domínios culturais existentes das populações humanas e maravi-
lhando a imaginação de adultos e crianças.
O figo nas escavações arqueológicas
a arqueologia é uma ciência que permite descobrir e interpretar
as atividades humanas de épocas passadas. associar arqueologia
com Botânica, e mais do que isso, com etnobotânica, contribui
para que se entenda quais e como as plantas foram consumidas e
domesticadas pelo homem. Fatores culturais e ambientais interfe-
rem na conservação de vestígios pré-históricos em várias regiões do
globo onde, supõe-se, começou a história da relação do homen com
as plantas cultivadas.
entre as pesquisas paleoetnobotânicas do oriente médio e da
europa, há o trabalho de Jane m. renfrew. nesse trabalho, estudos
sobre o figo são apresentados indicando figos fossilizados em depó-
sitos do terciário e Quaternário na França e na itália. esses figos
fossilizados são menores e se parecem com os figos cultivados nos
dias atuais (renfrew, 1973).
raramente encontram-se figos em materiais paleoetnobotânicos,
mas quando isso acontece, os materiais carbonizados estão bem con-
servados, a exemplo dos encontrados em Jericó, da era neolítica, e
em gezer, na palestina (Flandrin & monatanari, 1998), indicando
serem de 5000 a.C. a morfologia do fruto/semente proporcionou
esse fato.
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A FIGUEIRA 11
outras evidências são os sítios encontrados na grécia e na
mesopotâmia, do final da era neolítica. Figos também foram
encontrados em regiões alpinas da Suíça e no norte da itália, datados
da fase final da idade do Bronze, indicando terem sido transportados
para aquelas regiões, dadas as características climáticas desfavoráveis
ao seu desenvolvimento (renfrew, 1973). essas regiões apresentam
clima muito frio, nevado, impróprio ao crescimento do figo.
em outros locais neolíticos foram encontradas sementes de figos,
como em tell asward, na Síria (7800 a 6600 a.C.), e em Jericó (por
volta de 7000 a.C.), provavelmente de frutos selvagens coletados
por caçadores-coletores da época (roberts, 2001). Jonathan roberts
ressalta que as sementes fossilizadas foram encontradas em sítios no
vale do rio Jordão e em área do mar morto com datação indicativa
de 3500 a.C., e que as características são de figos cultivados, con-
forme evidências encontradas em escritos sumérios em placas de
argila que garantem que eles teriam sido cultivados na mesopotâmia
mil anos mais tarde (ibidem).
Ucko & Dimbleby também afirmam que sementes fossilizadas
de figo podem ser detectadas em muitas amostras depois do pri-
meiro assentamento em Jericó e que apenas uma vez foi encontrada
a polpa do fruto, em virtude da fragilidade de seus tecidos (Ucko &
Dimbleby, 1969).
Figos também foram gravados no egito por volta de 2750 a.C.,
com representações gráficas de colheita datadas de 1900 a.C. essas
evidências estão no túmulo de Knunhotep, em Beni Hasan (Berral,
1966; roberts, 2001; edlin, 1969). Há, inclusive, nessas evidências,
um interessante mural com o desenho da colheita de figo e presença
de macacos nas árvores dessa fruta.
outra evidência da presença do figo nos jardins egípcios é
a maquete encontrada no túmulo de meketre, chanceler do rei
mentuhotep ii, datado de 2000 a.C. tal maquete foi esculpida em
madeira pintada de verde, mostrando um jardim com um criatório
de peixes sombreado por figueiras (Hobhouse, 1993).
Van Wyk escreve que o figo é um dos mais antigos cultivos,
de acordo com informações arqueológicas que indicam que ele é
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12 SARITA LEONEL E ALOíSIO COSTA SAMPAIO
cultivado desde 4000 a.C. na mesopotâmia e no egito antigo (Van
Wyk, 2005).
presente em pomares e jardins, é vasta a ilustração sobre sua pre-
sença como planta cultivada e de uso difundido na história agrícola
da humanidade, em particular no egito (Wright, 1934; Hyams,
1971; Cowell, 1978.). importantes registros iconográficos demons-
tram a relevância do cultivo de árvores frutíferas na região naquela
época, quando a humanidade aprofundava seus conhecimentos
sistemáticos do cultivo de espécies vegetais.
no livro de Zohary & Hopf (2004) sobre domesticação de plantas
do Velho mundo, os autores citam que o figo é a terceira espécie
arbórea frutífera associada com o início da horticultura na Bacia
mediterrânea. Fazia parte dos elementos constituintes dos sistemas
de produção alimentares das populações do mediterrâneo, sendo
consumido no verão como fruta fresca e nas outras estações como
figo seco, rico em açúcar.
São vários os autores que relatam evidências arqueológicas a
partir de sementes fossilizadas encontradas em sítios desde a fase ini-
cial neolítica no oriente médio, em lugares como netive Hagdud,
israel (entre 7900 a.C. e 7500 a.C.). Foram encontrados vestígios de
figo na parte oeste do mediterrâneo, do período médio neolítico;
em grotta dell’Uzzo, na Sicília; e, da era do Bronze, em Vallegio,
no norte da itália (ibidem).
na região de Creta e Chipre, evidenciando as origens da agri-
cultura na era acerâmica neolítica, foram encontrados locais com
vestígios da espécie (Colledge & Conolly, 2007). o mesmo ocorreu
em sítios arqueológicos do neolítico em áreas no norte da itália
(rottoli & pessina, 2007) e no oeste do mediterrâneo (Buxó, 2007).
De Candolle (1885) apresenta um fato curioso acerca da exis-
tência do figo em épocas antigas na França. Segundo ele, foram
descobertas, em escavações em estratos quaternários de turfas de
montpellier e Saporta, e ainda perto de marselha e paris, folhas e
mesmo frutos de figo selvagem em dentes de Elephas primigenius,
um mamute, juntamente com folhas de outras plantas, entre as quais
algumas não mais existem, e outras, como a Laurus canariensis, que
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A FIGUEIRA 13
sobreviveram nas ilhas Canárias. então, talvez o figo existisse em
sua forma moderna naquelas épocas remotas e tenha se acabado no
Sul da França e reaparecido posteriormente em estado selvagem
nessa mesma região.
outros sítios arqueológicos estão sendo descobertos em diferen-
tes continentes e em eras distintas, como em israel, na Jordânia, na
grécia, no egito e na Síria, mostrando que desde a era do Bronze
os figos acompanharam olivas e uvas como principal elemento hor-
tícola da agricultura dependente das chuvas na área mediterrânea.
em que pesem as divergências nas datas, todas as evidências con-
firmam a ideia de que é possível afirmar que o figo é uma espécie de
cultivo antigo, compondo o grupo inicial de frutíferas domesticadas
pelo homem.
Qual o centro de origem do figo?
na Botânica existe sempre uma pergunta difícil de ser respon-
dida, que é a origem exata das espécies vegetais domesticadas.
algumas referências ajudam nos esclarecimentos dessa questão,
e algumas têm maior confiabilidade histórica ou científica do que
outras.
na publicação de Linneu de 1744, o autor indica os locais de
ocorrência: figo silvestre na itália, espanha e gália, em locais
montanhosos, editis, vetustis muris, ou seja, ligados a ambientes
antrópicos. Depois, em Species plantarum, de 1753, indica a europa
austral e a Ásia (trópicos, 2009).
o botânico inglês Charles Bryant, em 1783, citou o trabalho de
Linneu em seu livro Flora diætetica: or History of Esculent Plants,
Both Domestic and Foreign, e indica que “a figueira é nativa da Ásia,
mas é agora cultivada em quase toda a europa…” (Bryant, 1783,
p.194, tradução nossa).
a falta de um número maior de referências bibliográficas na
época e a dificuldade de viagens para pesquisa de campo e também
para o acesso a informações científicas resultaram em repetições de
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14 SARITA LEONEL E ALOíSIO COSTA SAMPAIO
dados anteriores, como nesse exemplo citado. essa situação não é
uma especificidade daquela época, ainda sendo comum esse tipo de
dificuldade em nossos dias.
em De Candolle (1885, p.294) encontra-se indicação de região
tendo como pressuposto que no final do século XiX as dificuldades
de se estabelecer os limites de supostas áreas de ocorrência eram
grandes:
as figueiras crescem selvagens, ou quase selvagens, sobre uma
vasta região da qual a Síria é quase o centro, quer dizer, do leste da
pérsia, ou mesmo do afeganistão, cruzando toda a região mediterrâ-
nea, tão longe quanto as ilhas Canárias. Do norte até o sul esta zona
varia em largura do paralelo 25 até o paralelo 40 ou 42, conforme as
circunstâncias locais. Como regra, o figo para, como a oliveira, nos
pés do Cáucaso e as montanhas da europa que limitam a bacia do
mediterrâneo, mas ele cresce quase selvagem na costa sudoeste da
França, onde o inverno é muito ameno. (tradução nossa)
a dificuldade de se ter uma definição mais precisa do centro de
origem do figo, assim como de muitas das espécies vegetais culti-
vadas, é notada, uma vez que outros autores também fazem, por
segurança, delimitações geográficas muito amplas, como Vavilov
(1951, p.34, tradução nossa), que, em seu clássico The Origin,
Variation, Immunity and Breeding of Cultivated Plants, incluiu o figo
no quarto centro de origem, o do oriente médio, “[...] incluindo o
interior da Ásia menor, todo o transcáucaso, irã e as terras altas do
turquemenistão”, ou Harrison et al. (1969, p.94), na publicação da
oxford University press, que indicam ser
[...] provavelmente nativa da Ásia ocidental, tendo sido cultivada
por seus frutos em tempos muito antigos e está espalhado em
regiões temperadas e subtropicais mais quentes. muitas vezes é
autossemeada e naturalizada, mesmo tão longe ao norte como as
ilhas Britânicas. (tradução nossa)
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A FIGUEIRA 15
Harlan, famoso pesquisador de plantas cultivadas, em seu livro
Crops & Man, incluiu o centro de origem do figo na Ásia menor,
ou turquia-irã-iraque (Harlan,1992). Hancock, em seu livro Plant
Evolution and the Origin of Crop Species, coloca seu centro de origem
no oriente médio (Hancock, 1992); Van Wyk o coloca como origi-
nário da região Leste do mediterrâneo (Van Wyk, 2005) e Simpson
& ogorzaly (1995), apenas do mediterrâneo. Holden, peacock &
William (1993) repetem o expresso por Harlan.
no trabalho enciclopédico de Hedrick (1972, p.268),
Sturtevant’s Edible Plants of the World, o figo é dito “ser indígena
na Síria, pérsia, Ásia menor, grécia e norte da África e tem sido
cultivado nesses países desde tempos imemoriais e mesmo tão
distante quanto o sul da alemanha” (tradução nossa), enquanto
Bianchini & Corbetta (1976, p.166), no livro The Complete Book of
Fruits and Vegetables, informam que “o figo é encontrado em uma
vasta área ininterrupta do Leste do irã até as ilhas Canárias, através
de países mediterrâneos. acredita-se que tenha vindo da Síria”
(tradução nossa).
autores ligados à área de horticultura, mais recentemente, aca-
bam por ter a mesma dificuldade em definir com exatidão o centro
de origem e acabam repetindo outros autores que já haviam se mani-
festado quanto a essa questão. Julia Brittain, em seu livro publicado
pela editora Horticulture Books, ohio, estados Unidos, coloca o
seguinte: “o figo, Ficus carica é denominado por causa desta antiga
região nas montanhas no extremo da parte sudoeste da Ásia menor.
ela é agora parte da turquia, próxima às ilhas gregas de rhodes e
Kos” (Brittain, 2006, p.47, tradução nossa).
outros pesquisadores, como Hyams (1971, p.107), seguem
De Candolle “em definir o habitat original do figo selvagem como
as partes médias e sul da bacia mediterrânea, da Síria até as ilhas
Canárias e indo em direção leste até pérsia ou afeganistão” (tra-
dução nossa). Segundo o mesmo autor, o figo selvagem é nativo da
grécia, porém os gregos não o domesticaram.
autores brasileiros também manifestaram suas opiniões. Corrêa
(1984), em sua memorável obra-prima Dicionário das plantas úteis
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16 SARITA LEONEL E ALOíSIO COSTA SAMPAIO
do Brasil e das exóticas cultivadas, faz uma aproximação geral,
afirmando:
parece fora de dúvida que esta espécie é originária da Cária dos
antigos, vasta região da Ásia menor situada entre o oceano e a Lícia,
a Lídia e a psídia, porém, para maior facilidade de compreensão, diz-
-se simplesmente ser originária da bacia do mediterrâneo, de onde
muito cedo foi levada para outros países bem distantes, inclusive o
arquipélago das Canárias, aí introduzida pelos Bérberes navegado-
res, se porventura também não é indígena dali.
observa-se então nos trabalhos que algumas certezas geográficas
com delimitações imprecisas, ou algumas delimitações precisas com
incertezas geográficas, refletem as dificuldades de se recompor a
construção da origem do figo.
Uso do figo ao longo do tempo
o figo tem sido usado tanto como alimento quanto como planta
medicinal desde os tempos antigos e essa evolução pode ser vista nas
características da planta evidenciadas pela arqueologia, em citações
históricas, como as bíblicas, e no conhecimento popular.
Conforme registros arqueológicos, o figo é uma planta que vem
sendo consumida desde épocas muito antigas, o que é confirmado
por provas de comensais desse fruto em tempos e regiões distin-
tas. Desenhos de figos datando de séculos antes de Cristo foram
encontrados na pirâmide de gisé, no egito. as plantas eram indu-
bitavelmente conhecidas na Babilônia, sendo cultivadas nos famosos
Jardins Suspensos do reinado de nabucodonosor ii (604 a.C. a 562
a.C.). os frutos eram comercializados pelos antigos comerciantes
gregos e fenícios, que podem ter sido os introdutores desse cultivo
na itália (Heinerman, 1988).
o figo é mencionado três vezes na Odisseia de Homero, indi-
cando ter Ulisses recebido vinte árvores de figo de seu pai, todas com
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A FIGUEIRA 17
nomes distintos. plínio, no primeiro século da era Cristã, listou 29
variedades de figo, indicando os lugares onde eram encontradas, o
que também foi referido por Cato, que acrescentou outras varieda-
des àquela lista (Condit, 1955).
aristóteles, teofrastus e Dioscórides falam dele como uma planta
cultivada por um longo tempo e cujos frutos, especialmente quando
secos, eram altamente apreciados (Bianchini & Corbetta, 1975).
por volta de 1500 a.C., depois do estabelecimento do novo
reino no egito, árvores nativas e flores foram intensamente plan-
tadas, sendo acrescidas provavelmente pelas trazidas do Leste e
Sudoeste do mediterrâneo, incluindo-se entre elas o figo. Diversos
baixos-relevos e pinturas dessa época encontradas nas pesquisas
arqueológicas mostram o figo cultivado nos jardins dos faraós egíp-
cios (richardson & Stubbs, 1978; Hobhouse, 1993).
as evidências apontam que provavelmente o uso principal
do figo nos períodos pré-históricos do homem tenha sido como
alimento. os vestígios encontrados conservaram apenas caracterís-
ticas de que foram consumidos, mas podem ter sido utilizados com
finalidades medicinais, à semelhança de outras partes de vegetais
ou outros produtos.
entre as evidências existe uma placa com escrita cuneiforme
dos sumérios que recomenda misturar tomilho seco e pulverizado,
peras e figos com cerveja e óleo, e usar a pasta como emplastro
(roberts, 2001).
o uso medicinal do figo também é citado na Bíblia, conforme se
pode atestar com o trecho seguinte: “isaías disse então: ‘Que tra-
gam um cataplasma de figos para aplicar sobre a úlcera, e ezequias
sarará’” (isaías 38:21). Krymow (2002), em seu livro dedicado às
plantas medicinais da Sagrada escritura, ressalta que em reis ii
(20:7), a citação bíblica contém o mesmo sentido daquele refletido
no trecho anterior e também coincide com o uso feito pelos sumérios,
conforme citado anteriormente.
Figos eram usados na medicina do egito desde tempos antigos,
tanto internamente, como purgativo e para doenças estomacais,
quanto externamente, para dores musculares e dores nas costas.
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os assírios usavam figos como emplastro, da mesma forma como
registros encontrados na Bíblia.
em seus trabalhos sobre a história natural de pompeia, plínio
e Dioscórides mostram muitos usos medicinais dessa planta
(Jashemski, 1999). eles fornecem uma vasta lista de curas realiza-
das usando o látex ou o fruto do figueira, preparado de diferentes
maneiras.
plínio recomendava o figo para remover excrescências da pele,
e Dioscórides e Celsus, como de uso laxativo. este último também
recomendava o figo cozido em água para remover certos tipos de
excrescências cutâneas. Scribonius usava figos secos em decocto
para tratar abscessos da garganta (ibidem). nessa mesma obra sobre
as plantas medicinais usadas pela população da extinta pompeia,
Soranus lista um supositório feito de figos secos para ser usado como
contraceptivo.
na antiguidade, gregos e romanos tinham conhecimento de
plantas usadas tanto para o controle de natalidade quanto para o
aborto e dominavam as diferenças entre seus usos. Segundo Soranus
(1991, p.62), “é muito melhor não conceber do que destruir o
embrião”, em uma posição religiosa semelhante à existente hoje. as
definições se distinguem: “um contraceptivo difere de um aborto,
pelo fato de o primeiro não deixar a concepção ocorrer, enquanto o
último destrói o que foi concebido. Deixe-nos, então, chamar um de
abortivo e o outro de contraceptivo”.
essas referências indicam a importância do uso do figo na medi-
cina e evocam a tradição religiosa da igreja Católica, que advoga
contra as situações contraceptivas e abortivas.
o uso do figo na europa entra na composição dos “quatro fructos
peitoraes; cozidos em leite são bons para gargarejos e combatem a dor
de garganta”, segundo apresentado em Chernoviz (1890, p.1175).
algumas plantas contêm compostos que podem ser fotossensí-
veis, havendo evidências de que o figo pode provocar fotodermatite
no homem (Lewis & elvin-Lewis, 1977). essa alergia pode ser
causada por compostos fenólicos nitrogenados, acoplados com um
anel aromático também nitrogenado, este muitas vezes hidroxilado.
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A FIGUEIRA 19
Segundo Wolf (2004, p.49), o figo é usado na medicina popular,
comendo-se os frutos secos para constipação e problemas digestivos,
assim como para anemia. assim diz a receita neste livro:
Ferver cinco figos em água quente, deixando-os nessa água por
três dias; filtrando-se a mistura, obtém-se um xarope que é efetivo
em casos de má digestão e anemia, assim como para curar gripes e
febres. a dosagem recomendada é cinco colheres cheias por dia.
(tradução nossa)
o autor continua:
[...] o líquido branco leitoso (látex) que exsuda dos ramos da
figueira quando são quebrados, é efetivo no tratamento de con-
tusões e feridas purulentas se aplicado diversas vezes. Cinco a dez
gotas desse mesmo líquido podem ser misturadas em água quente e
aplicados em infecções dos olhos. (ibidem)
a espécie ainda faz parte da composição de um laxante (xarope
de figos) usual na Farmacopeia Britânica (Harrison; masefield;
Wallis, 1969).
no Brasil são várias as indicações populares para o uso terapêu-
tico do figo, tais como peitoral, emoliente e laxativo. É indicado
também para combater tosses, bronquites e outras moléstias do
aparelho respiratório (Cruz, 1985, p.353-4).
martius já havia citado a espécie em suas atividades medicinais
em meados do século XiX, quando esteve no Brasil e conheceu as
plantas medicinais utilizadas pelos moradores brasileiros, o que
incluía espécies nativas e exóticas (martius, 1852). nessa publicação
sobre plantas medicinais, ele apresenta informações sobre o uso do
figo, com o uso de fruto fresco ou seco, chamado por ele de Ficus
passae, ou ainda na forma Caprificus.
a referência ao figo como alimento é subjacente a todo esse tra-
balho, destacando-se citações sobre seu uso desde o antigo egito,
atravessando praticamente toda a história da civilização humana,
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usado seja como complemento açucarado de pães e bolos, seja como
alimento consumido fresco ou seco. Dele também se produzia vinho
de alto teor alcoólico (Flandrin & montanari, 1998) e a quantidade
de vezes em que é citado tanto na literatura sagrada quanto na pro-
fana dá conta de sua importância em praticamente todo o mundo.
pelo fato de ser facilmente conservado pós-colheita, na forma
de passa, desidratado, seco, pode ser difundido em praticamente
todos os continentes, sendo muito popular na europa e Ásia desde
tempos imemoriais.
o figo torrado e moído substitui ou complementa o café e,
segundo Lewington (1990), é o mais luxuriante de seus substitutos.
os cafés da Áustria e Bavária são bem conhecidos por essa adição.
Dos figos secos se obtém, por destilação, apreciada aguardente
(Cruz, 1985). De suas folhas pode-se produzir licor, conforme
receita disponível em diversos websites e de fácil execução (Licor,
2009).1
Variedades de figos pretos e roxos podem ser consumidas fres-
cas, enquanto aqueles com epiderme verde são ricos em glucídeos e
geralmente são consumidos secos.
Figos fermentados produzem um vinho muito leve e o látex que
exsuda dos ramos é usado para fazer uma goma de mascar alternativa
(Viard, 1995).
São muitas as histórias ligadas ao fabrico de derivados do figo e
do sucesso pelo seu emprego adequado, como a da receita especial
de doce de figo cristalizado que teria sido a razão de sustento de toda
uma família, em guaratinguetá, no estado de São paulo, durante
décadas (Fontes, 2009). De fabricação artesanal e caseira, o sucesso
da receita permitiu a produção em série com a instalação de uma
fábrica para produção em escala ampliada.
1 ingredientes: folhas de figo, ½ garrafa de pinga; 3 copos de açúcar. modo de
fazer: Lave, enxugue e amasse as folhas de figo. Coloque-as em infusão com a
pinga, durante 4 dias. Faça uma calda grossa com o açúcar. Deixe esfriar e junte
à pinga coada, sem as folhas. misture bem e guarde em garrafas por 10 dias,
antes de servir (Licor, 2009).
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A FIGUEIRA 21
Significados do nome científico e outros nomes
o Ficus carica (Linneu), popularmente conhecido como figo, tem
sua denominação assim explicada: Ficus é o nome da planta em latim,
e carica faz referência à região da Caria, sudoeste da turquia (Stearn,
1994; Hyam & pankhurst, 1995; Smith, 1997). o botânico Linneu,
quando deu esse nome à espécie, em 1753 (iSpn – international
Society for plant names, e no site trópicos.org), a associou à sua
provável região de origem. em Species Plantarum 2, onde faz a
diagnose botânica da espécie, na primeira referência da descoberta,
ele indica como habitat a europa austral e a Ásia.
anteriormente a essa publicação, Linneu já havia divulgado
um trabalho com algumas informações sobre a espécie (Linneu,
1744). nessa publicação, Ficus, ejusque historia naturalis & medica
exhibetur, ele indica alguns nomes científicos dados anteriormente
por outros botânicos, repetindo alguns deles em Species Plantarum
2, como Ficus foliis palmatis em Hort. Cliff. 471 e roy. Fugdb. 211,
Ficus communis em Bauh. pin. 457, em uma época em que a nomen-
clatura botânica ainda não estava estabelecida, havendo nomes
diferentes ou mesmo diferentes descrições botânicas grafadas em
latim, uma mostra da alternativa depois utilizada por Linneu para
uniformizar os nomes científicos.
então, em 1774, Linneu indicava os diferentes nomes do figo:
Ficus foliis palmatis (Hortus Cliffordianus 471), Ficus communis e
Ficus humilis (ambos em Bauh. pin.), Ficus sativa (Fuchs Hist.).
em Dioscoria Bauh. pin., a espécie é grafada como Ficus sylvestris,
mostrando dificuldade de se definir se era de ocorrência natural ou
cultivada, como alguns autores afirmavam à época. os botânicos
Hermanno e Boerhavio já indicavam “floribus intra fructum”.
ressalta-se também que, em virtude da complexidade floral do
figo, a singularidade morfológica do fruto e a dificuldade na exata
definição de suas partes vegetais, alguns botânicos tiveram grandes
problemas em enquadrá-lo corretamente nos grupos vegetais, tendo
o próprio Linneu que enquadrar a espécie como representante das
Criptógamas (ibidem).
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os significados das palavras mudam no tempo histórico, social
e cultural. os nomes dados às coisas e aos vegetais, por exemplo,
podem sofrer influências dessas variantes. Se uma espécie é origi-
nária de uma determinada região, seus moradores, os primeiros que
a conheceram ou a usaram, podem dar um nome a ela, sob diversas
justificativas. muitas espécies recebem então os nomes dos locais.
Quando uma espécie não é originária dessa região, tendo sido nela
introduzida, seus moradores podem se referir a ela a partir do nome
conhecido na região de origem ou na região onde essa espécie era
usada, ou ainda podem dar um nome diferente a ela, associado ou
não ao nome já conhecido.
no dicionário Vocabulário Portuguez e Latino, de raphael
Bluteau, o verbete “figo” apresenta as seguintes definições:
1. fruto da figueira, do tamanho & quase da figura de uma pera
meaã; he molle, carnoso, succulento, viscoso, delicioso ao gosto &
cheo de huns graõsinhos chatos, & redondos, a que o vulgo chama
milharas.
2. enfermidade nos cascos dos pés, ou mãos do Cavallo. He huma
carnosidade exterior nas ranilhas, & às vezes participa da palma.
Chamaõ lhe figo, porque o parece pela figura; tem sua raiz, & se se
não tira bem, vem outra vez, como gavarro. (Bluteau, 1712, p.112)
no Diccionario de Medicina Popular e das Sciencias Acessorias,
de Chernoviz, publicado em 1890, em paris, o mesmo verbete con-
tém a definição botânica, além de “excrescência syphilitica. Veja-se
Syphilis” (Chernoviz, 1890, p.1173).
mário Souto maior apresenta algumas outras definições para a
mesma palavra sob a ótica popular de diversas regiões brasileiras:
“1. úlcera do ânus ou de outro órgão pudendo; 2. pederasta passivo;
3. oftalmias; 4. Fígado, na linguagem popular” (16) (Souto maior,
1988, p.67).
ressalta-se que a sinonímia léxica da palavra com sentidos
diferentes pode ter origem na similaridade morfológica com outros
objetos, dependendo do ponto de vista retratado na escrita e nas
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A FIGUEIRA 23
narrativas, mesmo não sendo vegetais, e também como corruptela
da palavra “fígado”.
a história oral geralmente é responsável pela continuidade da
divulgação e do uso do vocábulo, como o encontrado na troca da
palavra “figo” por “fígado” na verbalização da estória do papa-figo
em suas diversas versões.
pode ser encontrada nos escritos dos primeiros cronistas euro-
peus que estiveram na américa do Sul e no Brasil a referência a
uma fruta também chamada figo, porém tratava-se da banana ou da
pacova. a associação pode ter sido feita pela semelhança da textura
das cascas: “tem uma pele como de figo” ou pelo tamanho “[...]
humas são pequenas como figos berjaçotes” (gandavo, 1980, p.97).
Quando de sua estada no Brasil, no final do século XVi, gabriel
Soares de Sousa, que viveu no nordeste brasileiro, tendo grande
experiência para o relato da vida na nova terra, descreveu no capítulo
L – Em que se declara a natureza das pacobas e bananas: “pacoba é
uma planta natural desta terra, a qual se dá em uma árvore muito
mole e fácil de cortar [...]; na índia chamam a estas pacobeiras
figueiras e ao fruto, figos” (Sousa, 1971, p.188). em outro trecho
do mesmo capítulo, ao se referir à banana, o autor escreveu: “as
bananeiras têm árvores, folhas e criação como as pacobeiras, e não
há nas árvores de umas às outras nenhuma diferença, as quais foram
ao Brasil de São tomé, aonde ao seu fruto chamam bananas e na
índia chamam a estes figos de horta, as quais são mais curtas que as
pacobas [...]” (ibidem, p.189).
entre os historiadores que esclarecem sobre a imprecisão desse
fato encontra-se o padre João Daniel, que durante seu período na
amazônia brasileira, entre os anos de 1741 e 1757, relatou que
“[...] ao ananás a pacova, a que a Ásia chamam de figo, porém não
tem nenhum parentesco com os verdadeiros figos” (Daniel, 2004,
p.459).
esse padre jesuíta escreveu sua obra em cárcere em portugal
quando esteve preso no período de 1757 a 1776, depois de deixar o
Forte de almeida e parte na torre de São Julião, vindo a falecer em
19 de janeiro de 1776.
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a obra de João Daniel é importante para o entendimento das
atividades agrícolas, dos habitantes e de suas tecnologias e conhe-
cimentos acerca da história natural da amazônia brasileira, ainda
desconhecida na época. Daí a importância de sua informação que
desenhava a amazônia:
[...] não falo agora das bananas, que, como já dissemos, na Ásia se
chamam figos, mas falo nos próprios figos, que em todo o mundo
são bem conhecidos e estimados, e na verdade são uma das mais
deliciosas frutas que Deus criou para regalo dos homens; mas
devem ser comidos quando já se lhe vai rasgando a camisa por
velha, e quando já se inclinam para cair de maduros, porque quanto
mais humildes, e mais rajetados, mais saborosos e sadios. (ibidem)
a designação de figo provavelmente se aplicava a espécies cujos
frutos tivessem alguma similaridade com o fruto de Ficus carica.
ou seja, além das já citadas por gandavo e Sousa, no final do século
XVi, poderia ser considerada sua textura interna (macia) e doçura.
nos meados do século seguinte, na medida em que outras espécies
do novo mundo foram levadas à europa e descritas por botânicos
da época, algumas dessas semelhanças morfológicas ainda eram
utilizadas para se manter o nome para plantas diferentes. exemplo
disso é visto no livro de John gerard, Gerard’s Herbal: of the
Historie of Plants, publicado em 1633. nesse livro, o capítulo 133 é
destinado à Ficus carica (“Da figueira”), e o capítulo seguinte, “Da
figueira da índia espinhosa”, destina-se ao hoje conhecido figo-da-
-índia (Opuntia ficus-indica). observa-se claramente nessa obra que
essas espécies recebem o designativo “figo” em razão da aparente
semelhança morfológica entre seus frutos, apesar de pertencerem a
famílias botânicas distintas. o adjetivo “espinhosa” está evidente-
mente bem esclarecido no nome (gerard, 1980).
Seguindo o caminho sugerido pela história do nome científico
da cactácea, observa-se que ela foi designada Ficus indica por
Bauhin, anteriormente a Linneu, que a designou Cactus ficus-
-indica, em 1753, em Species Plantarum 1, incluindo ainda em sua
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A FIGUEIRA 25
obra o binômio Cactus opuntia para a espécie Ficus indica designada
por Bauhin.
essa obra ajuda a confirmar outra informação: a “índia” do nome
científico se refere às índias ocidentais, ou seja, região do Caribe e da
américa Central, onde os espanhóis aportaram no final do século XV
e encontraram essa espécie. Linneu (1774, p.23) também cita na obra
seu habitat, “américa, peru e Virgínia, nunca na espanha e portugal”,
mostrando corretamente sua região de origem e sua dispersão por
outras regiões do continente de origem e posteriormente à europa.
apenas em 1768 miller, em sua obra The Gardener’s Dictionary,
8ª edição, incluiu a espécie no novo gênero Opuntia (criado pelo
mesmo autor em 1754), passando a ser então Opuntia ficus-indica
(L.) mill., com a manutenção do conhecido basônimo.
o nome popular dessa espécie, em várias partes do mundo,
incluindo o Brasil, é tradução literal de um dos nomes científicos
propostos em épocas anteriores. ressalta-se que existe outra espécie,
Opuntia ficus-barbarica (a. Berger), espécie coletada na região de
Cochabamba, Bolívia, e que está em perigo de extinção (trópicos,
2009). assim como outras Opuntia, os frutos são semelhantes, aju-
dando a conservar o nome dado.
a semelhança do fruto e, no caso, a existência de espinhos
também ajudaram a designar outras “figueiras”, como a figueira-do-
-inferno (Datura stramonium L.), da família Solanaceae. esse mesmo
nome popular é aplicado a outra espécie, Jathopha curcas (L.), da
família Euphorbiaceae (penna, 1941), não por causa dos espinhos,
não existentes nos frutos dessa espécie, mas provavelmente pelo
forte efeito diarreico de suas sementes.
ou seja, ao longo dos anos, e em diferentes circunstâncias, foram
adicionados novos ingredientes para o uso da mesma palavra para se
referir a plantas diferentes.
o caráter simbólico também compõe o panorama de significados
dado a essa planta, podendo-se listar entre eles o de paz e abundân-
cia, comum entre os hebreus, o de árvore do paraíso, comum no
mundo árabe, sabedoria e integridade, e árvore de Júpiter, entre os
astrólogos (Lehner & Lehner, 2003; p.115).
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muitos são os nomes pelos quais o figo é conhecido nas diversas
línguas, dando-se a seguir uma lista deles:
- para a árvore: Ficus, Ficus sativa e Ficus urbana (em latim);
fergenbaum (em alemão – norte); wygheboom (em alemão – sul);
figuier (em francês); fico (em italiano), higuera (em espanhol);
fig tree (em inglês);
- para o fruto: sukon (em grego); ficus (em latim); feygen (em
alemão – norte); wyghen (em alemão – sul); figues (em fran-
cês); fichi (em italiano); higos (em espanhol); fig (em inglês).
todos esses nomes estão escritos em gerard (1980).
Linneu (1744) apresentou os seguintes nomes: ficus (latim); fico
(italiano); figuier (francês); higuero (espanhol); fuchstegus (Bohemio);
figa (polonês); fikontrae (sueco); figentrae (dinamarquês); fig-tree
(inglês); fergenbaum (alemão); vygebom (belga); te-ena (hebraico);
tin (árabe); ingir (turco).
recebe ainda os nomes de fico (italiano); higo (espanhol); figue
(francês); mo fa go (cantonês) (rogers & powers-rogers, 1988, p.47).
Van Wyk (2006) enumera os seguintes nomes: wa hua guo (chinês);
figue (francês); feigenbaum (alemão); anjeer (indiano); fico (italiano);
ichijiku (japonês); figueira (português); higo, higuera (espanhol).
De Candolle (1885) apresenta uma série de informações histó-
ricas sobre os nomes do figo e sua dispersão. Segundo o autor, os
egípcios antigos chamavam o figo de teb e os livros hebraicos mais
antigos referem-se ao figo, tanto o cultivado como o selvagem, com
o nome de teenah, que deixa seus traços no nome árabe tin. o nome
persa é muito diferente, unjir, e o nome em sânscrito é udumvara, que
não mantém traços com línguas modernas na índia. ainda segundo
o autor, os gregos chamavam o figo selvagem de erineos, e os latinos
o chamavam de caprificus.
Verifica-se uma raiz comum em vários dos nomes que desig-
nam essa planta, em especial nos países europeus, indicando que
os nomes foram adotados em diferentes países à medida que eram
introduzidos.
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A FIGUEIRA 27
O figo e as religiões
“Então os seus olhos abriram-se; e, vendo que
estavam nus, tomaram folhas de figueira, liga-
ram-nas e fizeram cinturas para si.”
(gênesis, 3:7)
Quando alguém abre a Bíblia para iniciar seus estudos, verifica
que a primeira planta citada em suas linhas é o figo. está em gênesis
(3:7) (Bíblia Sagrada, 2004), quando adão e eva, após desobede-
cerem à ordem do Senhor, provando do fruto proibido, costuram
folhas de figo para cobrir a nudez, que a partir daquele momento se
tornara evidente. essa citação da figueira no gênesis pode ter sido
um forte elemento de indução a que se representasse essa planta
com a carga mística com que ela aparece nas sagradas escrituras da
cultura judaico-cristã, principalmente na idade média (Shibukawa,
2009), mas também em diversas outras representações de outras
culturas, como a árabe.
na Bíblia há ainda diversas outras passagens em que o figo ou a
figueira são citados, não menos que 57 vezes, segundo moldenke &
moldenke (1986). o Guia Ilustrado da National Geographic Society o
refere como a mais citada das plantas na Bíblia (national geographic
Society, 2008). São referências à árvore e ao fruto, às fases de seu
desenvolvimento ou a produtos dele derivados. Diferentes versões
bíblicas mostram essas situações. a palavra hebraica usada em
Deuterônimo (8:8) é teenah, ou t’aynah ou sukon ou suke, que em
grego significa um lugar fortificado, localizado em Syracusa, na
Sicília, assim chamado provavelmente por causa das figueiras que
cresciam na região e na própria fortificação.
além dessa referência usada para a árvore da figueira, há outras
quatro palavras que aludem não à árvore como tal, mas aos diferentes
estágios de desenvolvimento e condições do fruto:
1. teenim ou t’anim (forma plural de teenah), usada em Jeremias
(8:13), indicando o figo como fruta;
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2. pag ou pageha, usada em Cântico dos Cânticos (2:13), é o
fruto verde ou imaturo, que permanece na árvore durante o
inverno;
3. bikkurah ou bi’kurah, usada em oséas (9:10), são os primeiros
frutos;
4. debelah ou d’velet ou d’velim, usada em Samuel i (25:18) e reis
ii (20:7), é um bolo de figo seco, ou seja, o principal produto
da árvore conservado para uso no inverno, geralmente men-
cionado no Velho Testamento como um produto alimentar
básico.
o nome árabe para o figo é tin. É encontrado ainda em números
(13:23), que relata a exploração das terras de Canaã por moisés e
as recomendações deste para os que foram enviados para fazer a
primeira expedição. o seguinte trecho relata parte do retorno de tal
expedição: “Chegaram ao vale de escol, onde cortaram um ramo de
videira com um cacho de uvas, que dois homens levaram em uma
vara; tomaram também consigo romãs e figos”.
no retorno dos emissários da terra prometida, narram a moisés:
“É verdadeiramente uma terra onde corre leite e mel, como se pode
ver por esses frutos” (números, 13:27).
as citações anteriores permitem a reflexão de que a terra era fértil
na região ou que a figueira se adaptava bem a terrenos arenosos,
pedregosos e com níveis de fertilidade e umidade baixos, podendo
mesmo ali produzir bons frutos.
Jesus menciona a figueira mais de uma vez na Bíblia, fazendo
com que a planta seja frequente e essencial nas parábolas e perma-
nente na memória daqueles que as ouviram. a parábola da figueira
que não produzia frutos tem um apelo especial para os cristãos, pois
se reporta a uma figueira plantada entre as uvas de um parreiral
cujo proprietário, a cada ano, a observava sem frutos, apesar dos
tratos culturais apropriados para um bom crescimento. Como ela
continuava estéril, após três anos ordenou a seu empregado que a
cortasse, porém este relutou em cortar a figueira, considerando o
esforço dispendido, diz a parábola.
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A FIGUEIRA 29
marcos (11:12-13) escreveu em passagem do seu evangelho
sobre a esterilidade de uma figueira. Jesus teria visto uma planta
com muitas folhas na primavera e se aproximou com a expectativa
de nela encontrar figos maduros, ficando desapontado quando isso
não aconteceu.
Segundo King (1975), Jesus não dá explicação sobre esse fato,
sendo porém a interpretação favorita a de que a figueira permaneceu
em pé para a nação judia e a promessa de “uma chance a mais” pelo
desejo divino e universal.
mateus (21:19-22) e marcos (11:12-26) propõem outra inter-
pretação, em que o efeito da maldição lançada contra a figueira teria
sido para demonstrar que o poder da fé seria capaz de transformar
em realidade os desejos de seus discípulos.
a simbologia dessa passagem faz com que o figo, junto com a
videira e a oliveira, tenha papel destacado em escritos religiosos, con-
forme se pode ver na interpretação dos Deuteronômios (22: 9) pelo
padre ignácio dos escolápios (iii Domingo, 2009), que reconhece
não ser proibido pela lei o plantio dessas espécies em consórcio.
além disso, o padre faz uma leitura de uma resposta política dada
por Jesus, naquele momento em que era pressionado para tomar
posição contra os romanos. o apelo à parábola da figueira estéril
teria sido uma resposta em um contexto que provoca a reflexão dos
judeus sobre a relação entre o pecado e a punição divina, vindo ela de
fenômenos naturais ou de ações humanas. o fato é que essas passa-
gens da Bíblia demonstram o quanto o cultivo da figueira, da oliveira
e da vinha era consolidado em práticas culturais de domínio popular.
a última citação do figo na Bíblia é no apocalipse (6:13), em que
as estrelas cadentes do céu são comparadas a uma figueira soltando
seus frutos verdes quando agitada por um vento poderoso (King,
1975; p.9).
o figo é citado também no Alcorão, o livro sagrado dos muçul-
manos, em que há uma sura inteira, chamada “o figo” (2009, p.1):
em nome de alah, o misericordioso, o misericordiador:
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30 SARITA LEONEL E ALOíSIO COSTA SAMPAIO
pelo figo e pela oliva, e pelo monte Sinai, e por esta cidade
segura, com efeito criamos o ser humano na mais bela forma, em
seguida levamo-o ao mais baixo dos baixos degraus. exceto os que
creem e fazem as boas obras, eles terão prêmio incessante. então, o
que te leva depois disso a desmentir o dia do juízo? não é alá o mais
sábio dos juízes?
É importante ter em mente que a associação do figo com teste-
munho e julgamento é tema presente também na Bíblia, como pode
ser verificado em outras passagens (musselman, 2007).
podem-se encontrar outras apropriações religiosas do figo, como
a do texto de tauber (2009) sobre as sete espécies vegetais conside-
radas pelos mestres cabalistas do judaísmo (trigo, cevada, uva, figo,
romã, azeitona e tâmara), a cada uma das quais é atribuída uma
característica. o figo serve de referência para comparação entre as
fruteiras e reconhecido como o fruto da árvore do conhecimento do
Bem e do mal ou do Conhecimento, induzindo ao seu atributo de
envolvimento, pelo fato de que adão e eva pretendiam tudo conhe-
cer da divindade e se envolver com cada uma das criações, mesmo as
consideradas fora de seu alcance.
na mitologia grega, a deusa da terra, gaia, teria provocado um
broto na figueira para que este protegesse seu filho, o titan Sykeus,
dos rancorosos raios de Júpiter, sendo por isso corrente a ideia de que
a figueira está protegida contra esse fenômeno (impelluso, 2004).
É conhecido o fato de nos terreiros de candomblé a figueira
brava, conhecida como loco ou gameleira, ser considerada sagrada,
como no gantois e em muitas das outras casas de culto afro em
Salvador, na Bahia, o que despertou polêmica quando do processo
de abertura de avenidas para a modernização da cidade, exigindo
o abate de muitos de seus exemplares (Brito, 1980). não se trata,
evidentemente, de Ficus carica, mas a figueira é extremamente
importante nesse caso religioso.
a recorrência ao caráter místico da figueira se encontra enraizada
nas práticas culturais em quase todas as partes do mundo, sendo
abundante o registro do apelo que lhe atribui poderes no âmbito
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A FIGUEIRA 31
religioso, seja como planta abençoada, representada positivamente,
seja como planta maldita, representada por características negativas.
De uma maneira ou de outra, é incontestável sua importância como
planta medicinal e alimentícia, no que concerne ao plano material,
o que em muitos casos também se mistura ao mundo religioso e
também das lendas e mitos.
A trajetória do figo nas américas e no Brasil
a rainha de Castela, isabela, ao casar-se com Fernando, herdeiro
de aragão, acelerou, a partir de 1469, a expulsão dos mouros, cul-
minando em derrota proclamada em 1o de janeiro de 1492. nesse
mesmo ano foi comemorada não apenas a descoberta do novo
mundo, mas também a expulsão definitiva dos mouros da última
fortificação em poder deles, granada. Desde então as terras da
península ibérica passaram a ser governadas pelos cristão sobrevi-
ventes da monarquia.
a população majoritariamente rural era pobre e sobrevivia
cultivando variadas espécies vegetais. o figo predominava na parte
sul, pois a região mediterrânea é mais quente, e depois de Colombo,
com a expansão territorial espanhola, a transferência das principais
espécies cultivadas na europa para as novas terras foi intensificada.
o figo, por ser uma espécie apreciada e de fácil propagação, foi
trazida para a américa logo nas primeiras expedições que se suce-
deram ao descobrimento das terras americanas. as primeiras estacas
de figueira alcançaram as índias ocidentais em 1520, e por volta da
metade daquele século, variedades com polpas vermelhas e brancas
eram cultivados com sucesso nas ilhas (Dunmire, 2004).
o primeiro livro que versa sobre a história natural do novo
mundo, de Fernández de oviedo, publicado em 1526, informa
que na ilha de Hispaniola (atual república Dominicana) “havia
muitos figos durante todo o ano, muitas tamareiras e outras plantas
e árvores que foram levadas para lá da espanha” (oviedo, 1526,
tradução nossa).
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muitas dessas frutas, de clima temperado, não se desenvolve-
ram bem ou não frutificavam. não existe referência à figueira nessa
lista, indicando que ela se portava bem no novo continente (Dun-
mire, 2004).
Com o avanço ao sul e ao oeste, alcançando o méxico, as fron-
teiras coloniais espanholas se expandiram em três corredores, mas
o plantio de figo ficou limitado aos climas mais quentes, motivo de
a planta não ter alcançado o norte e o el paso no corredor central.
em 1570, os espanhóis introduziram a cultura do figo na Flórida,
e dois séculos mais tarde a fruta chega à Califórnia (ibidem). em
1560, Cortez trouxe figueiras para o méxico, e em 1669 são mencio-
nados cultivos na Virgínia, observados por Wm. Bartram crescendo
fora das ruínas de Frederica, na geórgia, e na ilha pearl, perto de
nova orleans, nos idos de 1773 (Hedrick, 1972).
no século XViii os padres jesuítas cultivaram as primeiras
figueiras nas missões religiosas de San Diego, originando o figo-
-missão-preto, uma importante variedade cultivada no estado da
Califórnia, responsável pela maior parte da produção americana
(Heinerman, 1988). porém a variedade mais familiar nos estados
Unidos é o black-mission, que é disponibilizado fresco, seco ou
enlatado. É encontrada também a variedade brown-turkey, comu-
mente consumida fresca, e a variedade conardia, direcionada para
a indústria de figos secos. a variedade kadota é ofertada enlatada
(rogers & powers-rogers, 1988).
padre garcía de San Francisco, fundador da missão guadalupe,
foi um ávido horticultor e durante sua gestão construiu um sistema
de irrigação que alimentava os pomares dos diversos cultivos de
frutas, entre as quais o do figo (Dunmire, 2004).
no livro The Oxford Book of Food Plants, as variedades citadas
como entre as melhores dos estados Unidos são brunswick, turquia-
-marrom, ischia-preto e ischia-branco (Harrison; masefield; Wallis,
1969). essas mesmas variedades são referendadas por Viard (1995).
na inglaterra os nomes das variedades mais importantes cultivadas
no final do século XViii têm alguns desses mesmos nomes: ischia-
-marron, gênova-preto, branco-pequeno, gênova-branco-grande,
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ischia-preto, malta, nápoles-marrom ou murrey, ischia-verde,
brunswick e nápoles-comprido-marrom (Bryant, 1873).
alguns aspectos interessantes dessas variedades são:
- o ischia-marrom é um figo muito grande, de forma globular,
tem um olho grande e se insere próximo em curto pecíolo.
É de cor castanho-marrom na parte externa, quase púr-
pura, tem grãos grandes, é doce e de polpa muito saborosa.
amadurece no início de agosto e pode estourar;
- o gênova-preto é um figo alongado, extremidade superior
obtusa e inflada, mas de pecíolo muito delgado. É de cor púr-
pura escura por fora, coberta com um lilás suave. o interior é
vermelho brilhante e a polpa tem um elevado sabor. maduro
no início de agosto;
- o branco-pequeno é um figo arredondado, com um pecíolo
muito curto e achatado na coroa. a casca é fina e de cor ama-
relo pálido quando maduro. Branco por dentro e com a polpa
muito doce. maduro em agosto;
- o gênova-branco-grande é um figo arredondado, ligeira-
mente alongado em direção ao pecíolo. É amarelado quando
maduro, mas avermelhado antes. maduro em agosto;
- o figo ischia-preto é de tamanho médio, um pouco curto e
ligeiramente achatado na coroa. preto por fora e bem vermelho
por dentro. a polpa é muito saborosa. amadurece em agosto;
- o malta é um figo pequeno, marrom, bem achatado na coroa
e grandemente alongado em direção ao pecíolo. É amarron-
zado tanto por fora quanto por dentro. a polpa ou carne é
suculenta e bem saborosa. amadurece em agosto;
- o nápoles-marrom ou murrey é um belo, redondo e grande
figo com uma cor marrom brilhante com pequenas marcas
brancas. o interior é aproximadamente da mesma cor, os pés
são grandes e a polpa, muito saborosa. amadurece no fim de
agosto;
- o ischia-verde é um figo oblongo, porém arredondado na
coroa. o exterior é verde, mas quando completamente
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maduro torna-se amarronzado. a polpa é púrpura e muito
saborosa. amadurece no fim de agosto;
- o brunswick é um figo em forma de pera, grande, de cor
marrom externamente e marrom mais claro por dentro. a
polpa é rugosa e não muito saborosa. amadurece no início
de setembro;
- o nápoles-comprido-marrom tem um longo pedúnculo e o
figo é um pouco achatado na coroa. Quando maduro, sua
casca é de uma cor marrom escura, de sementes grandes,
polpa tendendo para o vermelho e muito saborosa. Fica
maduro em setembro.
Segundo a tradição inglesa, acredita-se que o figo tenha sido
trazido por um abade de Fécamp da normandia francesa que trans-
feriu-se para a Sompting abbots, em Sussex, no Sul da inglaterra.
outra versão é que thomas Beckett plantou um pomar com qui-
nhentas figueiras no antigo palácio dos arcebispos de Canterbury,
em West tarring, perto de Worthing, também em Sussex, em 1145
(Campbell-Culver, 2001). na inglaterra, essa região era conhecida
por cultivar figueiras e até os dias atuais existem muitas árvores
crescendo em casas antigas e produzindo bem a cada ano.
Segundo a mesma autora, a primeira referência escrita sobre a
figueira data de 1525, quando reginald pole, último arcebispo de
Canterbury, retornou de seus estudos na itália trazendo diversas
árvores para plantar no palácio Lambeth, em Londres. elas aparen-
temente eram do tipo white-marseilles e um exemplar cresceu até a
altura de aproximadamente 16 metros, sobrevivendo até ao rigoroso
inverno de 1814 (ibidem).
encontram-se referências na tradição que se assemelham ao dito
anterior, incluindo-se ainda como provável responsável pela chegada
do figo na inglaterra a esposa de eduardo i (roberts, 2001).
outra informação da trajetória da figueira é a de 1648, quando
o dr. pocock de aleppo, vindo da Síria, trouxe uma figueira e
plantou-a na igreja de oxford. a planta teria sobrevivido até apro-
ximadamente o ano de 1833, apesar de ter sido afetada severamente
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no incêndio de 1803. Segundo essa autora (Campbell-Culver, 2001),
na inglaterra a variedade mais conhecida é kadota, nome dado em
virtude da à sua semelhança com a forma de um específico tipo de
vaso grego chamado de kados, enquanto nos estados Unidos são
outras as variedades cultivadas, conforme Clevely (1988), tais como
turquia-marrom, celeste, kadota (ou dottato) e magnólia, todas cul-
tivadas em diversas regiões americanas.
no geral, observa-se que diversas variedades europeias foram
introduzidas na américa a partir de seu descobrimento, e as prin-
cipais, talvez as mais produtivas ou saborosas, tenham sido as
responsáveis pelo material primário para o desenvolvimento de
novas variedades locais adaptadas às novas condições ambientais,
levando em conta os novos paladares dos imigrantes e os dos habi-
tantes nativos. mistura de corpo e sangue junto com mistura de
gostos e sabores.
não se tem referências de figueiras tão antigas no Brasil como
as anteriormente relatadas, cujas espécimes têm entre 185 anos e
290 anos.
mas como o figo chegou ao Brasil? a partir de registros históricos
é possível redesenhar seu percurso. o início está posto na costa da
atual Bahia:
a armada de pedro Álvares Cabral em 1500 estava repleta de
víveres e mesa de gulodices e mimos de boca, confeitos, fartéis,
mel, figos passados, além de carne, porco, lacão, arroz, pão, vinho.
(Cascudo, 2004, p.322)
o historiador-folclorista Câmara Cascudo discute a dificuldade
na época em se organizar tais viagens transcontinentais, incluindo
a duração da travessia, a inconstância do vento, os navios superlo-
tados, a deficiência na alimentação e a dependência da simpatia do
rei. a conservação dos alimentos embarcados era um dos quesitos
principais para sua escolha.
o figo, à semelhança do fato de ter sido a primeira planta citada
na Bíblia (King, 1975; Baerg, 1989; Walker, 1957), foi a primeira
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espécie vegetal (fruta) experimentada pelos indígenas brasileiros
quando da chegada da expedição de Cabral na costa baiana. alguns
estudos, como o de Câmara Cascudo citado anteriormente, ajudam
a entender o ambiente no Brasil naquela época.
além disso, Fernando Denis relata as viagens portuguesas na
américa do Sul e faz relato dos primeiros contatos da esquadra cabra-
lina com os indígenas brasileiros. escreve que dois indígenas foram
convidados a entrar na nau, e ante os olhares de membros do staff
português, foram apresentados a alguns objetos trazidos da europa:
offerecerão-lhes pão, peixe, doces, passas e figos, e elles mani-
festarão muita repugnancia em provar destes alimentos, que apenas
levárão aos beiços longe de si arremeçarão. (Denis, 1844, p.9)
Versão semelhante relata Câmara Cascudo (2004, p.303): “[...]
na sexta-feira, 24 de abril de 1500: Deram-lhes ali de comer; pão
e peixe cozido, confeitos, fartéis e figos passados. primeiro ato de
conquista. a posse pela gula”.
mais tarde, mudas de figo foram sistematicamente trazidas,
desde o século XVi, de portugal para a nova colônia. o professor
pirajá da Silva informa que este “passa por ser o primeiro fruto cul-
tivado que os homens comeram” (ibidem, p.637). pode-se entender
nessa frase o sentido da palavra “homens” como tripulantes das
embarcações portuguesas (por não haver outros suprimentos frutais
nas embarcações, além de passas) ou mesmo os indígenas da nova
terra (pois lhes foi oferecida, a título de frutas, apenas essa
morácea).
no final do século XVi, gabriel Soares de Souza (1971, p.166)
descreve muitas das plantas trazidas de portugal e cultivadas no
Brasil. em seu pormenorizado relato sobre a vida cotidiana no
nordeste brasileiro, escreve:
as figueiras se dão de maneira que no primeiro ano que as plan-
tam vêm como novidade e, daí em diante, dão figos em todo o ano,
às quais nunca cai folha; e as que dão logo novidade e figo em todo
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o ano são figueiras pretas, que dão mui grandes e saborosos figos
prêtos e as árvores não são muito grandes, nem duram muito tempo,
porque como são de cinco, seis anos, logo se enchem de carrapatos
que as comem, e lhes fazem cair as fôlhas e ensoar o fruto, os quais
figos prêtos não criam bicho como os de portugal. também há
outras figueiras pretas que dão figos bêberas mui saborosos, as quais
são maiores árvores e duram perfeitas mais anos que as outras, mas
não dão a novidade tão depressa como ela.
pero de magalhães gandavo, na mesma época, diz em seu relato
sobre as frutas trazidas para a terra de Santa Cruz que “algumas
deste reino se dão também nestas partes, convem a saber, muitos
melões, pepinos, romãs e figos de muitas castas, muitas parreiras que
dão uvas duas, tres vezes no anno” (gandavo, 1980, p.51). indica
não apenas o representante das moráceas como também outras espé-
cies que vieram ao Brasil à época do início da colonização.
essas novas aquisições frutais moldaram o gosto e o paladar
dos que para cá vieram ou dos que já estavam por estas paragens,
entrando em sua lista de preferências.
em seu livro publicado em 1941, meira penna afirmava que na
europa havia muitas variedades de figo, distinguindo-se, dentre
elas, o figo roxo, o figo branco, o figo rajado e o figo grande.
Segundo Corrêa (1984), as variedades introduzidas e cultivadas
no Brasil de que temos notícia são as seguintes: albicone, algarve,
gelfiore, brillasotto, brogiotto (branco e roxo), catalão, colo-de-
-dama (Collo di Signora, dos italianos, lamentavelmente deturpado
pelos nossos jardineiros e horticultores para cuello-de-dama), corfu,
dalmazia, kadota, madeleine, missión, napolitano, narras (figueira
branca de frutos brancos), negretto, ouro, portugal, troyano, vesúvio
e white-celeste.
Cruz (1985, p.353) informa que “em nosso país, porém, se
conhecem poucas variedades de figos, entre os quais se destacam o
douradinho, o branco, o roxo, o roxo grande e o rajado”.
em Valinhos, no interior de São paulo, há mais de sessenta
anos acontece o Festival do Figo-roxo. essa cidade é considerada
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importante centro produtor no estado, e o figo teria chegado ali em
1901, pelo imigrante italiano Lino Busatto, considerado o “inven-
tor” da variedade roxo-de-valinhos. Busatto veio da itália no final
do século XiX e trabalhou em fazendas do interior de São paulo,
vindo a residir em Valinhos, onde já havia plantio de figo-branco
(pingo-de-mel). Desejando saborear os figos diferentes de sua terra
natal, solicitou o envio de mudas. Com a chegada destas, em 1901,
e com a aprovação de seu sabor por moradores vizinhos, distribuiu
diversas mudas das árvores novas que cultivava, iniciando-se assim
a expansão dessa variedade na região (pires, 1970).
em 1910, com a ampliação da área cultivada e a distribuição para
diversos pontos do país, Valinhos passou a ser considerada a terra
do Figo, graças à iniciativa do sr. Busato. a tradicional festa do figo
dessa cidade iniciou-se em 1939, sem que o introdutor da varie-
dade mais conhecida tivesse conhecimento, uma vez que já havia
se mudado para outra cidade (Louveira, e posteriormente, Salto e
Jundiaí, onde veio a falecer em 1944).
a festa começou a ser promovida pelo mons. Bruno nardini, a
pretexto de arrecadar fundos para a construção da nova matriz de
São Sebastião, quando se estabeleceu o evento que congrega chaca-
reiros e a comunidade regional (Festa do Figo, 2009), mobilizando
em torno de 500 mil pessoas (60ª Festa do Figo movimenta, 2009)
no mês de janeiro de 2009.
em 1968, a prefeitura de Valinhos, em homenagem a Lino
Busatto, designa com seu nome o trecho da rua que passa em frente
à antiga chácara onde havia plantado o primeiro pé do figo roxo-
-de-valinhos. o vigor econômico do município está associado à
importância dessa atividade, dando-se-lhe o epíteto de pomo da
riqueza (pires, 1970).
outras cidades vêm promovendo eventos tendo como temática
a valorização do cultivo dessa planta, como se pode apreender do
processo ocorrido em Caçapava do Sul (rS), em que uma feira de
exposição de figo e mel – expofigo @ mel – tenta se consolidar ressal-
tando aspectos culturais que vão além dos trabalhos agrícolas ligados
à produção do figo e do mel (estado do rio grande do Sul, 2007).
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Certamente existem outras festas relativas a essa fruta, par-
ticularmente em regiões onde seu cultivo é mais promissor ou
tradicional.
O figo na literatura, nas artes e na estória oral
o figo e sua árvore é espécie cantada e contada em verso e prosa
há muito tempo, conforme se demonstrou no tópico sobre a figueira
nas Sagradas escrituras judaico-cristãs e muçulmana. Consta como
referência mitológica importante na representação da loba amamen-
tando os fundadores de roma, a árvore na sombra da qual os heróis
foram amamentados. Conta a lenda que depois de abandonados em
uma cesta no rio tibre, foi embaixo de uma figueira que a cesta
teria aportado (impelluso, 2004). na literatura clássica, popular, nas
estórias e narrativas orais, conforme se demonstra a seguir, o figo e
a figueira são presença marcante.
Don Quixote de la Mancha, considerado o primeiro romance
moderno, escrito por miguel de Cervantes, traz uma lista de 102
espécies, conforme levantamento feito por pardo-de-Santayana
(2006), demonstrando que essas citações estão associadas aos usos
feitos pela população no período em que a obra do escritor espanhol
se contextualiza. o figo é uma dessas plantas, citado seu fruto sem-
pre como referência a algo sem valor.
em manoel thomas, no seu livro 10 da Insulana, o figo é assim
descrito (Bluteau, 1712, p.112):
irá doçura o figo sustentando
Com mostras de pobreza no vestido
açúcar pelo olho distillando
Com seu pé de cajado retorcido,
Suaves embaxadas ensinando
a mercúrio na planta offercido,
Com q o reyno das arvores despreza
porque mais a doçura estima, & preza
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ainda de portugal do século XViii, os vários adágios impõem
respeito e talvez provocassem algum medo, alegria ou riso disfar-
çado. o mesmo autor cita:
em tempos de Figos, náo há amigos.
não darei por isso um Figo podre.
não busques o Figo na ameixeira.
o Figo cahido, para o Senhorio, & o que está quedo, para mim o quero.
a branca com frio, não val hum Figo. (Bluteau, 1712, p.113)
alguns deles também são citados por Souto maior (1988, p.67),
que apresenta algumas variações dos adágios anteriores e adiciona
outros provenientes de pesquisadores da cultura popular:
não fiarei dele um figo podre.
enquanto há figos, há amigos.
mais vale um pão duro que figo maduro.
Uva, figo e melão é sustento de nutrição.
Uns comem figo, outros arrebentam a boca.
merece destaque o adágio que associa léxicos semelhantes e já
comentados referentes à cura de doenças, talvez como adaptação
onomatopeica da teoria das assinaturas, mas certamente para favo-
recer a memorização da receita: “Chá de folhas de figo para os males
do fígado” (ibidem).
trazido de portugal, sem data precisa, dizia-se no campo: “Figo
cortado é figo estragado”. Segundo Câmara Cascudo (2004), “o
povo cisma em não cortar de faca certas frutas [...]. evita-se a con-
centração do tanino, o gosto adstringente característico?”.
o figo verde não é tão adstringente quanto outras frutas, mas,
por precaução, por que não respeitar o dito popular?
mitos envolvendo árvores são comuns e a figueira aparece em
várias deles como amaldiçoada ou assombrada, tendo como expli-
cação recorrente o fato de ter sido em uma planta dessa espécie
que Judas teria se enforcado (porteous, 2002). os evangelhos
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não dão detalhes sobre o suicídio de Judas, mas se consolidou a
tradição de que teria sido em uma figueira que ele teria cometido
o tresloucado ato.
a figueira foi amaldiçoada também pelo poeta português
antónio nobre, (Silva, 2002, p.201), que retomou essa antiga
lenda sobre o suicídio que Judas supostamente suicidara em uma
figueira nos arredores de Jerusalém: “ó figos pretos, sois as lágrimas
daquele/que, em certo dia, se enforcou em uma figueira. todos os
que a amaldiçoaram viveram bem menos do que a árvore”.
na Sicília, muitas superstições giram em torno dessa árvore,
como a de considerar imprudente repousar à sua sombra nas horas
quentes do dia, pois em cada folha habitaria um demônio sangui-
nário. Uma das lendas alerta sobre o risco de se encontrar uma
mulher vestida como freira, com uma faca na mão, perguntando se
a pessoa deseja pegá-la pelo cabo ou pela lâmina. Se a resposta for
pela lâmina, a pessoa morrerá, se responder que será pelo cabo, terá
sucesso em todas as tarefas assumidas.
na verdade, na Sicília as superstições sobre as árvores são muitas
e, particularmente na noite de São João, diz-se ser muito perigoso
dormir embaixo delas, sob o risco de sofrer assédio de demônios
(ibidem).
existem citações em que o figo é associado com a sorte, como no
caso de textos gregos e árabes que revelam que pessoas que sonham
estar colhendo figos maduros seriam abastecidas com dinheiro
(Simmons, 1998). além disso, segundo o mesmo autor, o formato
erótico do fruto do figo levou a associações na grécia antiga para o
campo da prosperidade e fertilidade, representações comuns na festa
de Dionísio. na antiga roma e em partes da índia e do Quênia,
o leite de figo fazia parte de cerimônias importantes, igualmente
associadas aos aspectos eróticos e reprodutivos.
talvez parte dessas associações e usos tenha influenciado
outros povos europeus e, trazida ao Brasil pelos missionários
no período colonial, ainda se faz presente nos dias atuais. Jean
Baptiste Debret (1978, p.208) descreve algumas cenas religiosas
da época, em que mães penduram “pequenos antebraços de punho
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fechado e que têm em geral uma polegada de comprimento” para
a proteção das crianças:
estes amuletos (feitos de raiz de arruda) têm o nome genérico
de figas, porque a princípio esculpiam-se pequenas peras ou figos
consagrados ao mesmo uso. a superstição recomenda que no
momento de pendurá-los no pescoço da criança se reze uma oração
a São João, o qual indubitavelmente preservará o pequeno de todas
as desgraças. (ibidem)
no Brasil Colônia, alguns escritores produziram saborosos textos
sobre a fruta. alguns exemplos podem ser vistos no livro de Cascudo
(2008), Antologia da alimentação no Brasil:
[...] o figo de cor roxa graciosos poucos se logram, salvo-se à porfia
se defendem de que com os biquinhos, os vão picando os leves
passarinhos. (atribuído a Frei manuel de Santa maria de itaparica,
1704-1768)
[...] as bananas famosas na doçura, fruta que em cachos pende e
cuida a gente
Que fora o figo da cruel serpente. (atribuído a Frei José de Santa
rita Durão, 1720-1784, do livro sobre “Frutos, caça e pesca do
Brasil”, de 1781, poema épico do descobrimento da Bahia)
aqui não faltam figos,
e os solicitaram pássaros amigos,
apetitosos de sua doce usura,
porque cria apetites e doçura;
e quando acaso os matam
porque os figos maltratam,
parecem mariposas, que embebidas
na chama alegre, vão perdendo as vidas.
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A FIGUEIRA 43
esse texto é atribuído a manuel Botelho de oliveira (1636-1711),
“as frutas e legumes”, produzido em Lisboa, em 1705, na forma de
música dividida em quatro coros de rimas portuguesas, castelhanas,
italianas e latinas.
ainda no Brasil, e mais recentemente, o figo foi merecedor de
citações em textos literários infantis, como em O Minotauro, de
monteiro Lobato (apud Camargos & Sacchetta, 2008, p.24), que
escrevia: “Jantar em casa de péricles primou pela simplicidade e
discrição: Carneiro assado – e ótimo! merecedor até da aprovação
de tia nastácia; pão; peixe; queijos de vários tipos; frutas secas e
frescas, figos, uvas; mel; leite; ótimos vinhos [...]”.
e ainda, em uma inimaginável viagem no tempo e no espaço, a
turma do Sítio do pica pau amarelo é levada para a antiga grécia,
à procura da cozinheira raptada, e lá encontra-se com Sócrates e
Heródoto. tia nastácia, sábia nos dotes culinários, encanta-se com
um prato oferecido por uma senhora helênica de nome aretusa,
feito de leite e toucinho preparado em folhas de figo. “Com que
regalo devorei o pitéu! tive a sensação de ambrosia dos deuses. Que
tempero, que arte não usou a velhinha para conseguir aquele prato!”
(ibidem), surpreendeu a cozinheira.
em seu livro Plantas medicinais, benzeduras e simpatias, téo
azevedo apresenta algumas crendices e adágios:
figueira: planta sagrada, no local que tem pé de figueira tudo corre bem.
figo(s): comer significa satisfação; figos frescos é prosperidade;
secos é sinal de decadência financeira; doce de figo é amizade sin-
cera, auxílio de amigos. (azevedo, 1984, p.35)
nem sempre o papel da figueira é explicitado senão como mero
elemento do enredo, como em A menina e a figueira, cabendo porém
a interpretação de sua importância no devido contexto. essa estória
possui muitas variantes, como se depreende dos outros títulos que
recebe (A madrasta, Figo da figueira, Menina enterrada, História
da figueira) e das diversas formas de contar, embora se mantenha o
enredo principal (neves, 2009; Histórias, 2009).
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De domínio público, aqui citada a partir do relato feito por Souto
maior (1988), trata-se de uma estória de maus-tratos a uma menina
que teve por tarefa ficar espantando os pássaros de uma figueira, a
pretexto de manter-se ocupada, enquanto a madrasta saía sabe-se lá
para que afazeres. o pai, nessa estória, como em outras de madras-
tas, viajava muito frequentemente, deixando os cuidados da casa e
da menina para a madrasta. a criança, por distração, não obedeceu
a ordem, indo brincar com outras crianças, e deixou a figueira ser
atacada, o que serviu de motivo para que fosse enterrada viva. na
fantasiosa estória, a menina é salva por um jardineiro e pelo pai.
José Lins do rego, no livro Menino do engenho, pela boca de
totonha contava estória semelhante (maior, 1988), e tantos outros
escritores também assim o fizeram. nas diversas versões existem
muitas variações, mas se mantêm os elementos principais, entre
os quais a figueira. a figueira, nesse caso, é elemento contextual,
sendo ideia-força a da madrasta perversa, reeditada após o caso
amplamente divulgado na mídia de maus-tratos com final criminoso
envolvendo o pai e a madrasta na capital paulista (Caso isabella,
2008; Brito, 2009).
Sobre essa lenda, há ainda algumas versões cantadas e outras
transformadas em filmes. elba ramalho, ainda pouco conhecida
na época, interpreta a “estória da figueira” em CD encartado no
livro Folclore musicado da Bahia, de ester pedreira de Cerqueira,
lançado em 1978.
Variações sobre a música entoada nessa estória são muitas, como
os versos com que a criança espantava os pássaros, retirado de neves
(2009, p.1):
Xô, xô, passarinho,
ai, não toques o biquinho,
vai-te embora pro teu ninho,
xô, xô, passarinho,
xô, xô!...
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Do mesmo autor, quando se aproxima o final desse conto, a
canção triste é entoada quando o capineiro carpia o terreno perto de
onde a menina havia sido enterrada:
Capineiro de meu pai,
não me cortes o cabelo,
minha mãe me penteava,
minha madrasta me enterrou,
pelo figo da figueira
que o passarinho bicou. (ibidem)
o caráter mágico da figueira aparece ressaltado em várias estórias
e contos, como no do caso registrado por Luciana Hartman (Fapesp,
2009). o enredo apresenta um dono de figueiral que espantava os
amigos a tiros de espingarda. os surrupiadores de figo descobrem
que ele tinha medo de assombração e o espantavam imitando vozes
do além, a partir do próprio figueiral, ficando livres para o delito.
o que chama a atenção na literatura em que entra a figueira é o
fato de esta sempre estar associada à sua prolificidade, seu sabor,
sua cor e textura, como nos anteriormente citados e em outros, como
no poema “o pisco e o figo” (petronilho, 2005), e em “a figueira”
(audrey, 2009). no primeiro, um figo convida um pássaro a expe-
rimentar suas qualidades, no segundo, uma figueira improdutiva
deseja ser prolífica, o que consegue, mas passa a ser por demais
assediada, arrependendo-se de ter desejado ser o que não era.
nas estórias de fundo moral, é comum encontrar figo e figueira
associados à nobreza, como no caso do Talmude, em que se encon-
tram pelo menos duas estórias com a presença dessa planta. o
Talmude é um livro considerado sagrado, utilizado pelos rabinos, em
que se encontram registrados debates, tradições e contos judaicos de
caráter moralizante.
em versões contadas por pinto (2009), na primeira das estó-
rias, intitulada “o imperador e os figos”, um agricultor oferece as
primeiras frutas de seu pomar ao imperador, recebendo em troca,
cheia de ouro, a mesma cesta na qual levara os figos. Um outro
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agricultor, invejoso, manda ao mesmo imperador uma cesta maior
ainda, esperando retribuição semelhante, recebendo, no entanto, o
desprezo do imperador.
na segunda estória, intitulada “os guardas do rei”, um cego e
um coxo são os protagonistas. o rei, constituindo-os guardas de
suas figueiras, ficou sabendo que os melhores frutos tinham desa-
parecido logo depois da primeira noite de vigília daqueles guardas.
interrogados, os dois inicialmente negam sua culpa alegando suas
deficiências físicas, posteriormente confessando terem se associado
para colher indevidamente os figos. ambos foram castigados.
entre as letras de músicas religiosas, a figueira também se faz
presente, evocando a parábola evangélica:
ainda que a figueira não floresça
e os campos não produzam mantimentos
não vem das mãos dos homens
minha força e provisão
É Deus a minha salvação
É Deus o meu alto refúgio
ainda que as bençãos pareçam não chegar
Deus é fiel e sem demora vem
a minha parte eu faço, eu não paro de adorar
a ele minhas mãos levantarei
mesmo se eu passar por um deserto
pelo vale ou seja onde for
nada poderá me abalar
pois quem me segura é o senhor
Deus determinou no coração
nos escolheu e nos chamou
e se chamou... com sua unção... nos capacitou
Deus nos escolheu
Deus nos chamou
Deus nos ungiu
nos capacitou (Deus, 2009, p.1)
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o mito do papa-figo, em que pese o título que remeteria à fruta,
nada, de fato, tem a ver com a planta da qual trata este artigo, apesar
das mesmas grafia e fonética referentes ao fruto da figueira.
a expressão papa-figo é uma corruptela de papa-fígado e se
refere a uma estória de fundo moralizante, de caráter repressor
(Queiroga, 2009), usualmente contada a meninos de mau compor-
tamento para amedrontá-los e forçá-los à obediência aos adultos
(Barros, 2009). o mito teria surgido da incompreensão de campone-
ses após uma epidemia da doença de Chagas, no nordeste brasileiro,
quando agentes de saúde coletavam amostras do fígado de pessoas
mortas com essa doença, em geral crianças (papa-figo, 2009), para
verificação da causa mortis. o papa-figo é representado por um
negro velho, sujo, vestindo farrapos, com um saco. pode ser pálido,
esquálido, com barba sempre por fazer. atrai crianças para comer-
-lhes o fígado, com momices ou mostrando-lhes brinquedos.
Costuma ficar à saída das escolas, jardins e parques. Conhecido em
todo o Brasil. (Lenda o papa-figo, 2009, p.1)
Há ainda uma versão indicando ser o papa-figo uma pessoa rica,
educada e respeitada, que foi vítima de uma terrível maldição, não se
sabe por parte de quem. Depois de se alimentar do fígado de alguma
criança, compensa financeiramente a família enlutada ao efetuar o
enterro da pequena criatura por ele sacrificada (ibidem).
ressalta-se nesse item que a expressão “papa-figo” pode tam-
bém se referir ao nome de um pássaro europeu, conforme citado
por Cascudo (2002), por aquele consumir essa fruta com frequência,
aumentando ainda mais a quantidade de variações nas estórias a
serem contadas sobre o tema.
associada ao imaginário infantil, a estória da moura encantada
também tem o figo presente. Um homem encontra uma mulher com
um cesto de figos à cabeça e pede um, que guarda para comer mais
tarde. ao sentir fome e tirar o figo do bolso, este se transformara em
uma moeda de ouro, percebendo o homem que a mulher encontrada
tratava-se de uma moura encantada (era uma vez, 2009). manuel e
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os pássaros é outra estória em que o figo aparece como fruta desejada
por uma criança maltratada pela patroa e bem cuidada por uma águia
(torrado & malaquias, 2009).
as inúmeras representações infantis, juvenis e para adultos
envolvendo o fruto da figueira reforçam a ideia de sua difusão e
importância cultural em praticamente todo o país.
Considerações finais
a revisão de literatura demonstra a importância do figo ao longo
da história da humanidade, estando a fruta presente em registros de
escritos religiosos, políticos, artísticos, medicinais e gastronômicos.
a facilidade de sua propagação e de conservação em forma desidra-
tada, em geleias, tanto isolado quanto associado a outros produtos,
mantendo elevados teores de açúcar e sabor agradável, é elemento
que favorece sua difusão em vasta extensão temporal e espacial. a
referência à planta ou a partes dela, como as folhas, os ramos, as
flores e os frutos, em civilizações antigas, modernas e contemporâ-
neas, é indicativo de sua significação pelos homens. pelo que se pode
demonstrar, é uma das primeiras plantas cultivadas referidas como
responsável por suprir comunidades ancestrais, assumindo em mui-
tos casos função simbólica e religiosa. no Brasil, é crescente seu uso
e sua difusão enquanto produto alimentar e referência cultural em
regiões de produção agrícola no Sul do país, onde tem sido cultivado
desde o início da colonização.
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