POLLYANA ÁGATA GOMES DA ROCHA CUSTÓDIO AS BASES TEÓRICAS EXPRESSAS NAS TESES DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO NO BRASIL: UMA ANÁLISE CIENTOMÉTRICA Marília-SP 2018 POLLYANA ÁGATA GOMES DA ROCHA CUSTÓDIO AS BASES TEÓRICAS EXPRESSAS NAS TESES DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO NO BRASIL: UMA ANÁLISE CIENTOMÉTRICA Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI) da Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus de Marília como requisito para obtenção do título de Doutora em Ciência da Informação. Linha de Pesquisa: Produção e Organização da Informação. Orientadora: Leilah Santiago Bufrem Co-orientadora: Ely Francina Tannuri de Oliveira Agência de Fomento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Marília-SP 2018 Custódio, Pollyana Ágata Gomes da Rocha. C987b As bases teóricas expressas nas teses dos programas de pós- graduação em ciência da informação no Brasil: uma análise cientométrica / Pollyana Ágata Gomes da Rocha Custódio. – Marília, 2018. 131 f. ; 30 cm. Orientadora: Leilah Santiago Bufrem. Co-orientadora: Ely Francina Tannuri de Oliveira. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) – Universidade Estadual Paulista (Unesp), Faculdade de Filosofia e Ciências, 2018. Bibliografia: f. 125-131 Financiamento: CAPES 1. Ciência da informação - Brasil. 2. Pós-graduação. 3. Teses. 4. Bibliometria. I. Título. CDD 020.182 Ficha catalográfica elaborada por André Sávio Craveiro Bueno CRB 8/8211 Unesp – Faculdade de Filosofia e Ciências Tese apresentada junto ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, da Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus de Marília, como requisito para a obtenção do título de doutora em Ciência da Informação, sob a orientação da Professora Dra. Leilah Santiago Bufrem e co- orientação da Professora Dra. Ely Francina Tannuri de Oliveira. Área de concentração: Informação, Tecnologia e Conhecimento. Linha de Pesquisa: Produção e Organização da Informação. Data da Defesa: 28/03/2018 Membros da Banca Examinadora: Titular 1: Orientadora: Dra. Leilah Santiago Bufrem (UNESP/Marília-SP). _____________________________________________________________ Titular 2: Dra. Maria Cláudia Cabrini Grácio (UNESP/Marília-SP). _____________________________________________________________ Titular 3: Dr. Fábio Mascarenhas e Silva (UFPE). ______________________________________________________________ Titular 4: Dra. Nair Yumiko Kobashi (USP). ______________________________________________________________ Titular 5: Dr. Rene Faustino Gabriel Junior (UFRGS). ______________________________________________________________ Suplente 1: Dr. Daniel Martínez-Ávila (UNESP/Marília-SP). ______________________________________________________________ Suplente 2: Dra. Bruna Silva do Nascimento (Unirio). ______________________________________________________________ Suplente 3: Dr. Fabio Gouveia (Fiocruz). ______________________________________________________________ Marília, 28 de março de 2018. Dedico Ao meu marido, Fernando Cesar Pilan e à minha filha Isabella Fernanda Gomes Pilan, pelo amor intenso que nos une (amor incondicional). Em especial, à minha mãe, Luci Gomes, ao meu pai e tio, Josevaldo Gomes, e à minha irmã (little sister) Tabatha Laryssa, por darem a força essencial que move a vida. Aos meus avós, carinhosamente, Esmeraldo Gomes da Rocha e Josefa Soares Gomes da Rocha, aos avós Nina e Zezo, in memorian. AGRADECIMENTOS A todos que contribuíram para a realização deste trabalho, expresso aqui a minha gratidão e o meu carinho. Agradeço, primeiramente, a Deus por ter proporcionado a experiência incrível de me dedicar à pesquisa e trilhar os caminhos acadêmicos, por muitas vezes árduo, mas principalmente, muito gratificante. Agradeço à Querida Professora Leilah Santiago Bufrem pela paciência, confiança, sensibilidade, por ser tão humana durante todo o processo de orientação à minha tese, por ter sido tão acolhedora. Apesar da distância sempre tão perto e tão presente. Gostaria que soubesse que enquanto orientanda foi uma honra tê-la como mestre com tanta vitalidade e sabedoria, desde a qualificação de mestrado com maravilhosas contribuições, transitando belamente pelas duas áreas de conhecimento que carrego pelo resto da vida (Educação e Ciência da Informação). As contribuições oferecidas na disciplina marcante “Processo social e dinâmico da pesquisa” que foram essenciais como pesquisadora e enriquecedoras nas etapas de pesquisa. Obrigada pelas marcas afetivas e cognitivas construídas durante todo o processo. A Querida Professora Maria Cláudia Cabrini Grácio pelo incentivo à pesquisa e aos caminhos iniciais do desenvolvimento da dissertação de mestrado, a todo processo laboral e reflexivo da abordagem das citações, as análises relacionais de cocitação e acoplamento bibliográfico e as contribuições significativas sempre detendo o olhar reflexivo, cuidadoso e carinhoso com o desenvolvimento da tese. A todo aprendizado, conquistas, amadurecimento e amizade construída ao longo da trajetória acadêmica. A Querida co-orientadora Professora Ely Francina Tannuri pela paciência e pelo panorama estatístico e matemático, sobretudo, qualitativo e epistemológico. Ao legado e as contribuições à minha pesquisa. Por sempre me acolher em sua casa para orientações. Aos membros da banca Professor Fábio Mascarenhas e Silva, Professora Nair Yumiko Kobashi e Professor Rene Faustino Gabriel Junior pelas contribuições de extrema relevância, sobretudo, olhar crítico, para o desenvolvimento desta pesquisa. Ao meu marido filósofo Fernando Cesar Pilan por contribuir com olhar reflexivo, epistêmico, filosófico e carinhoso nas etapas e capítulos desenvolvidos durante a realização deste trabalho científico. Ao Grupo de Pesquisa “Estudos Métricos em Informação” (EMI) como parte integrante da minha trajetória na área da Ciência da Informação desde 2008, que tem servido como espaço privilegiado a tantas investigações científicas e contribuído em forma de parcerias, trocas, debates e aprofundamento de nossas pesquisas. Em especial, as parcerias temáticas e elaboração de artigos para eventos e trocas acadêmicas, à Lidyane Silva Lima, pela paciência, dedicação e amizade nesse longo processo de construção de conhecimentos, porém fonte inesgotável de busca da qual compartilhamos. À Deise Deolindo, pela afinidade e amizade, sempre pronta e prestativa para auxiliar nas minhas dúvidas durante o processo de elaboração e refinamento da tese, com visão ampla e profunda de sua área de conhecimento. Agradeço ao apoio da agência de fomento, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES, pelo financiamento da pesquisa durante três anos e o potencial da pesquisa numa época na qual a pesquisa, a universidade, a educação tem sido tão desvalorizada e esvaziada. A todos que, de alguma forma, contribuíram para esta construção. “Para tão longo amor, tão curta a vida” Luiz Vaz de Camões CUSTÓDIO, P. Á. G. R. As bases teóricas expressas nas teses dos programas de pós-graduação em Ciência da Informação no Brasil: uma análise cientométrica. 2018. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) - Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2018. RESUMO Esta pesquisa tem por objetivo compreender a dinâmica de pesquisa expressa por meio das teses nos programas de pós-graduação consolidados em Ciência da Informação no Brasil defendidas no período de 2007 a 2016. Como objetivos específicos constitui o corpus de citações por programa, categoriza as linhas de pesquisa por programas, analisa os referentes teóricos mais citados por instituição e no conjunto de instituições, identifica a frente de pesquisa desses programas e as tendências por núcleo de pesquisadores, temáticas, áreas interfaces, distribuição geográfica e analisa os referentes teóricos comuns nas teses dos programas de pós-graduação por meio do acoplamento bibliográfico. Adota como pressuposto que a Ciência da Informação, como área de conhecimento incipiente, tem como interesse investigar o conhecimento da sua própria área e refletir sobre seu campo. Identifica 23 programas de pós- graduação em Ciência da Informação no Brasil, dos quais analisa as cinco instituições representadas pelos programas de Ciência da Informação da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade de Brasília (UnB), Universidade Estadual Paulista (UNESP/Marília), Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), com convênio à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade Federal Fluminense (UFF). Analisa o conjunto de referências presentes nas cinco instituições, considerando como universo de pesquisa as teses. Adota procedimentos cientométricos e bibliométricos, especialmente os estudos de citações e a análise relacional de citações, por permitirem conhecer os pesquisadores mais influentes e mostrarem as inter-relações evidenciadas na área. A partir dos dados analisa as configurações da pesquisa científica socialmente construída e sua dinâmica na área. Desenvolve estudos que mapeiam o campo científico em associação com análises epistemológicas, críticas e históricas, a fim de compreender o universo estudado de forma mais plena e aprofundada. Considera que autocrítica da prática de citações contribui para aperfeiçoar a qualidade da pesquisa e do campo de conhecimento. Palavras-chave: Pós-graduação. Ciência da Informação. Brasil. Teses. Citações. Referentes Teóricos em Ciência da Informação. Análise cientométrica. CUSTÓDIO, P. Á. G. R. As bases teóricas expressas nas teses dos programas de pós- graduação em Ciência da Informação no Brasil: uma análise cientométrica. 2018. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) - Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2018. ABSTRACT This research aims to understand the dynamics of research expressed through theses in the postgraduate programs consolidated in Information Science in Brazil defended in the period from 2007 to 2016. As specific objectives it constitutes the corpus of citations by program, categorizes the lines of research by programs, analyzes the theoretical referents most cited by institution and in the set of institutions, identifies the research front of these programs and the trends by nucleus of researchers, thematic, interfaces areas, geographical distribution and analyzes the common theoretical references in the theses to postgraduate programs through the bibliographic coupling. It adopts as a presupposition that the Information Science, as an area of incipient knowledge, has as interest to investigate the knowledge of its own area and reflect on its field. It identifies 23 postgraduate programs in Information Science in Brazil, which analyzes the five institutions represented by the Information Science programs of the University of São Paulo (USP), Federal University of Minas Gerais (UFMG), University of Brasília (UnB), Paulista State University (UNESP/Marília), Brazilian Institute of Information in Science and Technology (IBICT), agreement with the Federal University of Rio de Janeiro (UFRJ) and Fluminense Federal University (UFF). It analyzes the set of references present in the five institutions, considering as a research universe the doctoral theses. It adopts scientometrics and bibliometrics procedures, especially the citation studies and the relational analysis of citations, since they allow to know the most influential researchers and to show the interrelations evidenced in the area. From the data analyzes the configurations of socially constructed scientific research and its dynamics in the area. It develops studies that map the scientific field in association with epistemological, critical and historical analyzes, in order to understand the studied universe in a fuller and deeper way. It considers that self-criticism of the practice of citations helps to improve the quality of research and the field of knowledge. Keywords: Postgraduate. Information Science. Brazil. Theses. Citations. Theoretical Referents in Information Science. Scientometric analysis. LISTA DE FIGURAS Figura 1. Relação entre as especialidades métricas.................................................................28 Figura 2. Noção sobre Cocitação de Autores (ACA)..............................................................39 Figura 3. Noção sobre Acoplamento Bibliográfico de Autores (ABA)..................................39 Figura 4. Corpus da produção referenciada nas teses de Ciência da Informação, Universidade de Brasília.................................................................................................................................54 Figura 5. Corpus da produção referenciada nas teses de Ciência da Informação, Universidade Estadual Paulista......................................................................................................................68 Figura 6. Corpus da produção referenciada nas teses de Ciência da Informação, Universidade de São Paulo.............................................................................................................................83 Figura 7. Corpus da produção referenciada nas teses de Ciência da Informação, Universidade Federal de Minas Gerais...........................................................................................................93 Figura 8. Corpus da produção referenciada nas teses de Ciência da Informação, Universidade Federal do Rio de Janeiro e Universidade Federal Fluminense, convênio IBICT.................105 Figura 9. Diagrama de zonas de relação entre as instituições...............................................116 Figura 10. Diagrama de acoplamento entre quatro instituições............................................117 Figura 11. Acoplamento entre a UFMG e UnB....................................................................118 Figura 12. Referentes teóricos distintos de cada programa..................................................119 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Frequência de teses dos PPGCI por categorias temáticas.......................................51 Tabela 2. Número de teses por linhas de pesquisa (UnB).......................................................52 Tabela 3. Autores mais citados com pelo menos 27 citações registradas (UnB)....................55 Tabela 4. Autores mais citados pelo número de teses (UnB)..................................................63 Tabela 5. Número de teses por linhas de pesquisa (UNESP/Marília).....................................65 Tabela 6. Autores mais citados com pelo menos 29 citações registradas (UNESP/Marília)..69 Tabela 7. Autores mais citados pelo número de teses (UNESP/Marília)................................77 Tabela 8. Número de teses por linhas de pesquisa (USP).......................................................79 Tabela 9. Autores mais citados com pelo menos 16 citações registradas (USP)....................84 Tabela 10. Autores mais citados pelo número de teses (USP)................................................89 Tabela 11. Número de teses por linhas de pesquisa (UFMG).................................................91 Tabela 12. Autores mais citados com pelo menos 32 citações (UFMG)................................94 Tabela 13. Autores mais citados pelo número de teses (UFMG)............................................99 Tabela 14. Número de teses por linhas de pesquisa (IBICT/UFRJ/UFF).............................105 Tabela 15. Autores mais citados no convênio IBICT/UFRJ/UFF com pelo menos 17 citações...................................................................................................................................106 Tabela 16. Autores mais citados pelo número de teses (IBICT/UFRJ/UFF)........................110 Tabela 17. Relação dos referentes teóricos representativos dos programas de pós-graduação em CI no Brasil......................................................................................................................111 Tabela 18. Acoplamento dos referentes teóricos por instituições.........................................115 LISTA DE QUADROS Quadro 1. Programas de pós-graduação em Ciência da Informação no Brasil.......................47 Quadro 2. Áreas de concentração dos programas de pós-graduação em Ciência da Informação no Brasil................................................................................................................49 Quadro 3. Categorização das linhas de pesquisa dos PPGCI.................................................50 LISTA DE SIGLAS AAU - Aalborg Universitet ABA - Acoplamento Bibliográfico de Autores ACA - Análise de Cocitação de Autores AD - Análise do Domínio AI - Ato Institucional ANCIB - Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da Informação ARS - Análise de Redes Sociais BJIS - Brazilian Journal of Information Science CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CDC - Curso de Documentação Científica CEDUS - Centro de Estudos Design de Sistemas Virtuais Centrados no Usuário CI - Ciência da Informação CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CoLIS - Conceptions of Library and Information Science CPTPC - Centro de Pesquisa e Tecnologia de Produção Científica DRTC - Documentation Research and Training Centre ECA/USP - Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo ECC/USP - Escola de Comunicações Culturais da Universidade de São Paulo ECO/UFRJ - Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro EDICIC - Associação de Educação e Pesquisa em Ciência da Informação da Ibero-América e Caribe EMAp - Escola de Matemática Aplicada EMI - Estudos Métricos da Informação ENANCIB - Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação EUA - United States of America FAFICH/UFMG - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo FCI - Faculdade de Ciência da Informação FECI - Fundamentos Epistemológicos da Ciência da Informação FHICI - Fatores Humanos na Interação e Comunicação da Informação FI - Fator de Impacto FID - International Federation of Documentation GEBE - Grupo de Estudos em Biblioteca Escolar GIC - Gestão da Informação e do Conhecimento GT – Grupo de Trabalho IBBD - Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia ICS - Informação, Cultura e Sociedade IEB - Instituto de Estudos Brasileiros IFLA - International Federation of Library Associations and Institutions ISI - Grupo de Pesquisa “Informação e Sistemas da Informação” ISKO - International Society for Knowledge Organization ISTC - Istituto di Scienze e Tecnologie Cognitive JASIS - Journal of the American Society for Information Science LaCIP - Laboratório de Cultura, Informação e Público LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional MEC - Ministério da Educação MHTX - Modelagem Conceitual para Organização Hipertextual de Documentos MIT - Massachusetts Institute of Technology MUSAETEC - Grupo de Pesquisa e Estudos em Museologia, Arte e Estética na Tecnologia NEMUSAD - Núcleo de Estudos das Mediações e Usos Sociais dos Saberes e Informações NEPC - Núcleo de Estudos do Pensamento Contemporâneo OUI - Organização e Uso da Informação PPGCI - Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação PPGCOM - Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação PROESI - Programa Serviços de Informação em Educação PUC-SP - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC-Campinas - Pontifícia Universidade Católica de Campinas RECOL - Representação do Conhecimento, Ontologias e Linguagem em Ambientes Digitais SDI - Sistema de Disseminação de Informações TAR - Teoria Ator-Rede TI - Tratamento da Informação UEL - Universidade Estadual de Londrina UFAM - Universidade Federal do Amazonas UFBA - Universidade Federal da Bahia UFC - Universidade Federal do Ceará UFES - Universidade Federal do Espírito Santo UFF - Universidade Federal Fluminense UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais UFPA - Universidade Federal do Pará UFPB - Universidade Federal da Paraíba UFPE - Universidade Federal de Pernambuco UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina UFSCar - Universidade Federal de São Carlos UnB - Universidade de Brasília UNESP - Universidade Estadual Paulista UNIR - Universidade Federal de Rondônia UNISIST - United Nations Information System in Science and Technology UPM - Universidade Politécnica de Madri UQAM - Université du Québec à Montréal URL - Uniform Resource Locator USP - Universidade de São Paulo VINITI - Vserossiisky Institut Nauchnoi i Tekhnicheskoi Informatsii SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................14 2 REFERENCIAIS TEÓRICOS...................................................................................................18 2.1 O papel da pós-graduação stricto sensu no Brasil...........................................................18 2.2 Síntese Histórica da Ciência da Informação no Brasil..................................................21 2.3 Estudos Métricos em Informação..........................................................................................24 2.4 Estudos de Citações.....................................................................................................................29 2.5 Acoplamento Bibliográfico e Análise de Cocitação........................................................36 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.........................................................................40 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS..........................................46 4.1 Os Programas de Pós-Graduação em Ciência da Informação no Brasil...............46 4.2 Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (UnB)..............................52 4.3 Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (UNESP/MAR.)..........65 4.4 Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (USP)..............................79 4.5 Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (UFMG).........................91 4.6 Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT/UFRJ/UFF)...........................................................................................................................101 4.7 Referentes Teóricos dos Programas de Pós-Graduação em Ciência da Informação no Brasil....................................................................................................111 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................... 120 REFERÊNCIAS.................................................................................................................................125 14 1 INTRODUÇÃO Os programas de pós-graduação são definidos por sua historicidade, que significa um conjunto de fatores ou condições que caracterizam e constituem esses programas, por essa razão, o caráter histórico associado aos cenários de embates políticos, forças e relações de poder e saber são determinados pelas dimensões ideológica, histórica, social, política e cultural. Enquanto partícipes da produção coletiva da literatura científica, as teses são elementos substantivos, resultantes das práticas institucionalizadas de um processo dinâmico, em grande parte gerador e renovador de domínios científicos. A análise da produção científica com base nos estudos métricos contribui para a representação de uma dinâmica social de pesquisa apoiada em orientações e interesses científicos de uma comunidade (individual e/ou geral), associados ao seu e aos demais contextos. Em toda área do conhecimento, a pesquisa científica, entendida como um processo dinâmico de produção de conhecimentos, requer um espaço investigativo, que se retroalimenta, constrói, e se expressa de maneira dinâmica e complexa. A produção e a organização do conhecimento, de uma determinada área, se constituem por meio de sua pesquisa científica, compreendendo a cada campo de conhecimento: linguagens próprias, tendências, associações cognitivas e sociais, traços característicos, interesses científicos, que permitem definir o campo e seus desdobramentos de como o conhecimento é construído e socializado. No âmbito da pós-graduação, a importância do estudo da produção gerada em universidades, cujas dissertações e teses são consideradas estudos mais ricos e aprofundados, por constituírem o abastecimento da literatura científica (publicações em artigos, livros e capítulos de livros, entre outros), propiciam reflexões de um campo de conhecimento para melhor pensar seus modos de produção e atuação, visando aprimorar e desenvolver suas potencialidades e busca de soluções de problemas e desafios. Justifica-se a escolha de se trabalhar com as teses, pois, distinguindo-se das dissertações, são consideradas estudos mais aprofundados e originais, que detém maior disponibilidade temporal de reflexão e pressupõem maior maturidade teórica durante a etapa de desenvolvimento acadêmico desde a dissertação. A partir desse pressuposto, questiona-se como tem se configurado a produção científica das teses produzidas nos programas de pós-graduação consolidados. Justifica-se o fato de os programas de pós-graduação serem considerados consolidados aqueles que ofertam doutorado e são reconhecidos pelo Ministério da Educação, pois tem autorização definitiva para o funcionamento e estão dentro dos padrões exigidos, desse modo, são reconhecidos pela comunidade acadêmica e científica, em Ciência da Informação no Brasil, diferentemente, daqueles programas que são apenas autorizados, isso significa que a instituição tem prazo para 15 a regularização (RD Repórter Diário, 2013). Com base no problema de pesquisa, pretende-se contribuir para o entendimento dos referentes teóricos expressos na área da Ciência da Informação, do ponto de vista epistemológico, pois se investigam os fundamentos teóricos, epistemológicos e metodológicos construídos historicamente pelos pesquisadores deste campo do conhecimento. Este estudo, portanto, tem como objetivo geral compreender a dinâmica da pesquisa por meio da produção científica dos programas de pós-graduação consolidados, em Ciência da Informação, no Brasil, representada pelas teses defendidas no período de 2007 a 2016. Como objetivos específicos, esta pesquisa visou: a) organizar um referencial para a análise dos marcos teóricos da produção científica representada pelas teses defendidas em Ciência da Informação nos programas considerados consolidados no período; b) categorizar as linhas de pesquisa por programas de pós-graduação em ciência da informação considerados consolidados nesta análise a partir dos estudos de Souza e Stumpf (2009); c) constituir um corpus, composto pelas citações das teses de cada um dos programas selecionados; d) analisar os referentes teóricos mais citados que norteiam essa produção científica por instituição e no conjunto das instituições; e) identificar a frente de pesquisa dos programas em CI considerados consolidados no período; f) identificar as tendências de pesquisa por instituição e no conjunto das instituições por núcleo de pesquisadores, temáticas, áreas de conhecimento (predominância e interfaces) e distribuição geográfica; g) analisar os referentes teóricos comuns nas teses dos programas de pós- graduação consolidados em CI por meio do Acoplamento Bibliográfico de Autores (ABA). Dentre os 23 programas de pós-graduação em Ciência da Informação no Brasil, são analisadas cinco instituições consideradas consolidadas. Considera-se que os programas ou instituições consolidadas são aqueles que ofertam doutorado e têm denominação em Ciência da Informação, por este motivo, apresentam uma trajetória histórica institucional de pesquisa de caráter fundante e reconhecida, principalmente, por agências reguladoras de pesquisa, pela 16 relevância na área. A delimitação do recorte quanto ao período se justifica pela possibilidade de acesso e recuperação das teses, assim como por se considerar o período de dez anos suficiente para fins desta investigação. Este estudo permite compreender os referentes teóricos adotados como relevantes para cada comunidade científica analisada, caracterizando e refletindo sobre as tendências investigativas da área e suas configurações, tais como: as relações de saberes existentes entre o conjunto de autores referenciados nas teses por meio do mapeamento do domínio científico em análise; os desdobramentos históricos de cada programa e suas relações com os resultados obtidos, cujas contribuições carecem ser evidenciadas e avaliadas para se enfrentarem novos desafios. Alia-se a esses fatores, o interesse de conhecer e compreender o desenvolvimento da pesquisa na área da Ciência da Informação no Brasil a partir da produção consolidada e contribuir para reflexão dos cursos de doutorado e às novas configurações em que os programas de pós-graduação em Ciência da Informação vão adquirindo ao longo do tempo. Para mais bem compreender essa construção, recorremos a uma pesquisa epistemológica que tem como objeto de investigação as teses defendidas nos programas de pós- graduação em Ciência da Informação no Brasil. A parte metodológica corresponde à dimensão aplicada da pesquisa, designada como análise cientométrica, pela qual é possível conhecer aspectos característicos da ciência e suas configurações, do campo de conhecimento da Ciência da Informação (CI) no Brasil. As etapas de organização dos dados coletados, sustentados com base em Estudos Métricos da Informação (EMI), permitiram analisar o que se tem produzido na área, diante do crescimento significativo da produção científica, por meio de seu mapeamento, como por exemplo, a visibilidade dos referentes teóricos adotados e apontados com o uso de indicadores que sinalizam o estágio da ciência (passado, presente e futuro). Concebe-se a relevância do estudo cientométrico, cujas contribuições servem para conhecer e compreender a configuração (modo de pensamento) da área da Ciência da Informação no Brasil, de como tem se constituído socialmente. As áreas de conhecimento ou campos de saber no país são conduzidas, precisamente, por pesquisadores docentes, discentes e profissionais, que atuam e investigam sobre seu campo, contribuindo para o desenvolvimento científico do país. Em linhas gerais, esta pesquisa estrutura-se em cinco partes: a primeira corresponde à introdução, contendo o pressuposto, a definição do problema de pesquisa, os objetivos, geral e específicos, justificativa e dos propósitos desta investigação. Em seguida, apresenta-se à segunda parte, composta pelos referenciais teóricos que se desdobram em seis seções, compondo: as reflexões sobre o papel e a função social da pós-graduação; uma síntese histórica 17 da área da Ciência da Informação; os fundamentos teóricos dos Estudos Métricos da Informação (EMI), especialmente, os estudos de citações e sua matriz epistemológica. Agregados ao estudo de citações, apresentam-se dois tipos de análise relacional, a análise de cocitação e o acoplamento bibliográfico. Na terceira parte, apresentam-se os procedimentos metodológicos empregados durante a realização da dimensão aplicada da pesquisa, os passos e etapas de desenvolvimento, o levantamento dos dados, até a passagem dos resultados obtidos. Em decorrência, tem-se a quarta parte constituída pela apresentação e análise dos resultados, distribuída em sete seções, que retratam os cursos de pós-graduação em Ciência da Informação, e de forma, a facilitar a leitura e interpretação dos dados, optou-se pela construção de uma síntese histórica de cada programa de pós-graduação em Ciência da Informação analisado. A partir das sínteses históricas individuais, realiza-se uma análise da frente de pesquisa identificada por meio das citações nas teses do conjunto dos programas brasileiros de pós- graduação em CI no período. Por fim, a quinta parte corresponde às considerações finais, que conduzem às contribuições da pesquisa e às sugestões de trabalhos futuros em complementação a este estudo. 18 2 REFERENCIAIS TEÓRICOS A seguir, desenvolveu-se um olhar reflexivo sobre o objeto de investigação, discutindo-se o papel e a função social da pós-graduação, realizando-se uma síntese histórica da área de Ciência da Informação no Brasil. Com base nos estudos que envolvem Cientometria e Bibliometria, os estudos de citações e sua matriz epistemológica como aportes metodológicos para organização e representação dos referentes teóricos considerados significativos pela comunidade científica. 2.1 O Papel da Pós-Graduação stricto sensu no Brasil Nesta seção, discute-se o papel e a função social da pós-graduação stricto sensu no Brasil, a partir de algumas inquietações: Qual a natureza da pós-graduação? Qual o papel social dessa modalidade educacional na situação vigente? As novas características e finalidades dos cursos de mestrado e doutorado no país ao longo de sua implementação? As contribuições do fazer científico na pós-graduação expressos em dissertações e teses? A institucionalização do ensino de pós-graduação no país direcionou-se a partir da expansão do número de matrículas na graduação a partir de 1966. O crescimento de candidatos em busca do ensino na graduação chegou a ser tão elevado que criou o excedente, ou seja, o candidato aprovado, mas não matriculado por falta de vagas. Ao longo desse processo de expansão, conduziu-se o processo de elaboração e regulamentação do ensino de pós-graduação no Brasil sob a égide do período militar (CUNHA, 1974). Segundo Cunha, não existia uma legislação específica sobre pós-graduação no Brasil. Somente, em 1965, com o parecer do Conselho Federal de Educação, propõe-se a definição de um modelo de pós-graduação no país, impulsionando a uma legislação própria com maior garantia, ou seja, reconhecida pelo Ministério da Educação. No entanto, foi a partir das leis que compõem a Reforma Universitária em 1968 que se evidenciaram as principais características do ensino de pós-graduação brasileiro, demarcado por um cenário de insatisfações políticas quanto ao excedente ou a falta de vagas. Seu escopo inicial ocorreu a partir de uma política desenvolvimentista no país. De fato, a institucionalização do modelo de pós-graduação brasileiro e de uma legislação própria foi a criação do Conselho Nacional de Pós-Graduação em 1974. Cunha (1974) atribui ao ensino de pós-graduação dois tipos de funções: a função técnica e a função social. A função técnica objetiva formar professores competentes destinados à docência no ensino superior, com graus de mestres e doutores; estímulo da pesquisa científica 19 no país e desenvolvimento nacional potencial no país. Entretanto, “a função social da pós- graduação, na ótica proposta, é a de reestabelecer o valor econômico e simbólico do diploma do ensino superior” (CUNHA, p. 69). Complementa Gatti (2001) que outras funções, inicialmente propostas como parte integrante das atribuições de mestrados e doutorados, foram minimizadas, contemplando outro tipo de visão, como por exemplo, a de formar professores competentes para o ensino superior, em detrimento, de uma formação mais ampla e abrangente de formar pesquisadores. Em sua crítica à conjuntura de surgimento da pós-graduação no Brasil, Cunha (1974) observa que este se deu como consequência do modelo moderno de educação e sua inevitável massificação (democratização do acesso ao ensino superior). De acordo com o autor, uma das consequências deste modelo de ensino foi a baixa qualidade na formação e no ensino superior de graduação. Isto implicou no comprometimento da excelência, ao mesmo tempo que empreendeu o caráter discriminatório desta conjuntura. Como saída a esta precarização do ensino de graduação, tornou-se necessária a criação de outro nível de ensino para atender a esta demanda cultural elitista, resultando na criação do modelo de pós-graduação no país. “De um lado, promove-se a inevitável "democratização" da graduação e, de outro, restringe-se a pós- graduação que, "por sua natureza (...) há de ser restrita aos mais aptos". Em linhas gerais, com o aumento no número de estudantes ao ensino de graduação e sua abrangência às camadas sociais mais baixas e aos estudantes de mais baixo nível cultural, observou-se uma deficiência na qualidade do ensino e formação. Na atualidade, permanecem as observações de Cunha no que diz respeito ao ensino de graduação, pois as políticas educacionais nacionais das últimas décadas têm contribuído para a queda de qualidade, além de outros aspectos, como a improvisação de professores para nele atuarem como docentes, a precariedade de recursos e a falta de condições para o ensino. Essa situação conduz a críticas como a de que “não se trata de rebaixar padrões de formação, mas de criar novos padrões, também com boa qualidade” (GATTI, 2001, p.112). O modelo de expansão de educação superior adotado no Brasil a partir da Reforma Universitária (Lei n.5540/68), em plena ditadura militar, intensificou após aprovação da LDB (Lei 9394/96), que teve como diretriz central a abertura aos agentes do mercado, não logrando resolver o problema do atendimento, em nível compatível com a riqueza do país, além de ter produzido uma privatização e mercantilização sem precedentes, com graves consequências sobre a qualidade no ensino oferecido e sobre a equidade (PINTO, 2004). A educação proposta por marcos regulatórios é capaz de promover uma qualidade no ensino? E que tipo de qualidade ou excelência é propagada nas instituições de nível superior? 20 Como respostas a essas questões, Pinto (2004) sugere um novo olhar sobre a dimensão da qualidade no ensino superior. Para ele, a qualidade do ensino superior não se restringe propriamente a conhecimentos e conteúdos científicos especializados, argumentando que a inserção de alunos de camadas mais populares e carentes traz um perfil de estudante rico em outros conhecimentos, de uma vivência de um país real, aquele onde vive a maioria da população proporcionando uma qualidade em sentido social das instituições de ensino superior. A constituição da pós-graduação no Brasil seguiu o modelo norte-americano enquanto estrutura organizacional, com sua organização pautada em graus, consistindo em dois níveis: o lacto sensu e o stricto sensu. O stricto sensu, equivalente ao mestrado e doutorado, corresponde ao conjunto de estudos que compõem a área de concentração, cuja natureza se constitui num campo de conhecimento pelo qual se insere o objeto de interesse de investigação do candidato. Em contrapartida, a pós-graduação, relacionada quanto aos aspectos do campo teórico de influência europeia, pressupõe autonomia dos estudantes mestrandos e doutorandos no processo de desenvolvimento do trabalho científico bem conduzido. Grande parte dos primeiros docentes chamados a lecionar nos primeiros cursos de pós-graduação no Brasil eram oriundos da experiência formativa europeia. Portanto, o modelo de pós-graduação brasileiro, resultou da fusão das influências norte-americana e europeia, cuja articulação derivou em perfil mais rico e consistente. (SAVIANI, 2008). Os mestrados e doutorados são meios de ascensão dos estudantes a padrões sociais mais elevados, pois frequentando esses cursos tem a possibilidade de se desenvolverem pessoal, profissional, social e cientificamente e suas reflexões servem aos desafios no país, o que significa ir ao encontro a uma ampliação social de potencialidades humanas (GATTI, 2001). Segundo Castro (1985), a pós-graduação brasileira tem três grandes fases, seu início reflete a primeira etapa, em meados da década de 1950 e 1960, caracterizado pela formação pessoal, sobretudo, no exterior. O segundo momento, na década de 1970, com a vinda dos primeiros mestres e doutores formados, demarca o início da implementação e o desenvolvimento dos primeiros cursos de pós-graduação brasileira. Na década de 1980 ocorre o período de consolidação do sistema de pós-graduação no país com ênfase na pesquisa. Complementa-se que na década de 1990, há um crescimento de cursos emergentes de pós- graduação no país e a consolidação e o crescimento para o nível de doutorado. Diante dos novos desafios da pós-graduação vigente, a pesquisa tem sido considerada a principal função social do ensino superior. Isso pressupõe que o ensino superior e a universidade representam o espaço no qual a produção crítica de conhecimentos se realiza. “A 21 atividade de investigação científica como uma atividade de produção de conhecimentos” conforme Tozoni-Reis (s/d), considera que a pesquisa requer compreender de forma mais aprofundada um fenômeno estudado, por sua vez, o conhecimento produzido é a construção elaborada do pensamento. Essa construção elaborada é formalizada de diversos modos, entre os quais se destacam os trabalhos acadêmicos. Para obtenção do título de grau acadêmico de pós-graduação stricto sensu os alunos têm como requisito a elaboração de um trabalho científico denominado dissertação para o nível mestrado e tese para o nível doutorado. As teses e dissertações representam o resultado de um trabalho desenvolvido por esforços do pesquisador, contendo tema específico e boa delimitação. A importância da tese, distingue-se, pela contribuição significativa considerada como investigação científica original e inovadora que serve de aporte para o avanço científico na área. Esse tipo de produção acadêmica requer, sobretudo, a capacidade de contribuição teórica e empírica original ao conhecimento, realizada em período de até quatro anos, após o início do curso. Por sua vez, a dissertação de mestrado é limitada pela questão do tempo, correspondente a dois anos de desenvolvimento da pesquisa científica. A ampliação dos conhecimentos produzida no âmbito das dissertações e teses resulta em contribuições para as diversas áreas de conhecimento e especialidades que servem de sustentação para o desenvolvimento de novos trabalhos. O provimento de literatura científica por meio desse tipo de publicação tem sido considerado como produção significativa pois traz reflexões e estudos aprofundados e, nos últimos anos, tem abastecido os repositórios institucionais facilitando o acesso e a recuperação da informação. Esse tipo de produção científica, tem gerado também publicações em periódicos científicos, anais de eventos e capítulos de livros. Em suma, “a pós-graduação se constituiu num espaço privilegiado para o incremento da produção científica” (SAVIANI, 2008, p. 310). 2.2 Síntese histórica da Ciência da Informação no Brasil O cenário da pós-graduação em Ciência da Informação no Brasil está associado à criação do Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação (IBBD), com base no decreto nº 35.124, de 27 de fevereiro de 1954, posteriormente denominado Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), por meio da Resolução nº 20/76, de 25 de março de 1976 (CUNHA, 2005). 22 Os primeiros esforços para a implantação da pós-graduação na área foram ainda na década de 1950, com o primeiro curso de pós-graduação lato sensu criado pelo Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação (IBBD). Ao esclarecer que a Ciência da Informação não surgiu de repente em meados da década de 1970, sem qualquer respaldo ou anterioridade, Oddone (2006) argumenta que, ao contrário, a área se instituiu em um espaço demarcado por outros saberes já constituídos. O Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação pioneiro no Brasil tem origem no Curso de Documentação Científica (CDC), criado pelo IBICT em 1955, em nível de especialização, que foi oferecido por cerca de 35 anos ininterruptamente. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO). Consensualmente e tradicionalmente, o marco histórico do surgimento da Ciência da Informação no Brasil é considerado o ano de 1970, com a implantação pelo IBBD, do primeiro curso de mestrado em ciência da informação, com o protagonismo das bibliotecárias Celia Ribeiro Zaher e Hagar Espanha Gomes, respectivamente presidente e vice-presidente do IBBD, em meados da década de 1960. O PPGCI foi desenvolvido pelo IBICT com mandato acadêmico da UFRJ até 1981 e, de 1982 a 2002, como parte da estrutura acadêmica da Escola de Comunicação da UFRJ. De 2003 a 2008, o PPGCI funcionou em convênio com a Universidade Federal Fluminense (UFF), tendo retornado à UFRJ ao final de 2008. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO). O programa, inicialmente, teve como intuito propiciar aperfeiçoamento aos servidores do órgão e aos profissionais graduados em biblioteconomia e documentação o acesso aos conhecimentos e competências, procurando formar profissionais especializados no desempenho de suas funções diante da eclosão da tecnologia da informação. Contudo, para Oddone (2006), os antecedentes que constituem o campo têm suas origens na revolução científica, com o desenvolvimento da ciência e tecnologia, a criação de universidades, orientações de cunho internacional com a criação da International Federation of Documentation (FID) e da International Federation of Library Associations and Institutions (IFLA), de órgãos governamentais, com a postulação de princípios e técnicas de documentação científica e os movimentos da biblioteconomia brasileira, compondo um conjunto de fatos históricos e elementos determinantes que propiciaram o desencadeamento da área e os novos rumos de uma ciência da informação. Nesse sentido, Saracevic (1996) afirma que um campo de conhecimento não pode ser entendido apenas por meio de questões ou definições léxicas ou ontológicas, deve-se considerar a perspectiva histórica, suas implicações ou desdobramentos, condições e dimensões (política, 23 social, cultural, tecnológica) para compreensão do passado, presente e futuro da Ciência da Informação, assim propõe que a CI enquanto área de estudo emergiu no início dos anos 60 do século 20. Entretanto, embora sua institucionalização seja respaldada por outros saberes, os pesquisadores de CI têm se voltado à própria área, como modo de aprofundar seus próprios conhecimentos e de exercer a crítica à prática de pesquisa. Considerando-se que a CI no Brasil tem uma produção em processo de expansão e amadurecimento, acredita-se que um corpus constituído de teses oriundas de seus programas de pós-graduação seja uma fonte de conhecimentos para realizar “uma crítica à prática de sua produção, a partir dos subsídios teórico-metodológicos e seus resultados, que revelam modos concretos do fazer científico”. Isso porque a “diversidade de contextos e modos de produzir ciência transforma a cultura científica, demonstrando sua vitalidade” (BUFREM, 2017). A proposta de iniciativa de criação de cursos de pós-graduação em Ciência da Informação implica a ampliação de embasamento teórico para a área, contribuindo para a independência cultural do país em relação a outros países, de modo a superar a incipiência de uma produção científica em estado de expansão. No contexto do regime da ditatura militar, o papel do sujeito criativo e o estudo crítico não eram levados em consideração, demarcando o início do cenário da pós-graduação em Ciência da Informação no Brasil a um esvaziamento cultural, dependência econômica e carência de recursos devido a censura e ao Ato Institucional (AI-5) da época. O estímulo à pesquisa científica, à pós-graduação e às universidades no Brasil serviram, especialmente, para atender fins ideológico-estratégicos ou governamentais. A importância da iniciativa de criação de institutos e núcleos de pesquisa na área e seus desdobramentos para a pesquisa repercutiram no processo de institucionalização científica. As questões políticas e econômicas favoreceram ao IBBD abrir caminhos para uma nova forma de fazer pesquisa, na área, no país. (BUFREM, 1997). A fundação da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da Informação (Ancib), em 1989, foi propulsora para o amadurecimento da área por meio do início de encontros, que consistiam em espaços privilegiados de reflexão da área, o Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (ENANCIBs), para a consolidação e a criação de novos programas considerados emergentes por serem procedentes aos primeiros programas criados na área, que se desenvolveram a partir da década de 1990. Nesse contexto, a Ciência da Informação, enquanto campo de conhecimento interdisciplinar adquire, ao longo de sua trajetória, novas configurações (PINHEIRO, 2007). Constata-se, a partir desse contexto, o 24 fortalecimento e a conquista da autonomia, bem como, a consolidação de pesquisadores brasileiros ao longo do percurso histórico da Ciência da Informação. 2.3 Estudos Métricos em Informação Os Estudos Métricos da Informação (EMI) se desenvolveram ao longo da trajetória da Ciência da Informação, incorporando novas técnicas de aplicações na pesquisa científica desde suas origens e sua tipologia, podendo variar dependendo do universo que se pretende investigar por meio de seus subcampos. Muitas pesquisas de diversos campos do conhecimento têm empregado procedimentos métricos, o que tem contribuído para o aumento desses tipos de estudos, porém a capacidade qualitativa requer o cientista da informação envolvido com procedimentos e técnicas da especialidade métrica. Esta pesquisa pretende compreender a comunidade científica analisada por meio da produção científica na área de conhecimento da Ciência da Informação, envolvendo, portanto, um estudo cientométrico, que pretende caracterizar e compreender sua configuração. Especificamente, caracteriza-se por um estudo bibliométrico, tendo como objeto de pesquisa a produção científica das teses nos programas de pós-graduação em Ciência da Informação, visando investigar a frequência de citações registradas a partir do conjunto de autores referenciados nessa produção por meio do método de citações. Em linhas gerais, Tague-Sutcliffe (1992) define cientometria como o estudo dos aspectos quantitativos da ciência, posto aqui, enquanto área de conhecimento. É parte integrante da sociologia da ciência e aplica-se para a formulação de políticas científicas. A Bibliometria, por sua vez, é entendida como “o estudo dos aspectos quantitativos da produção, disseminação e uso da informação”. Spinak (1998) aponta para associação entre a Cientometria e a Bibliometria, alegando que a Cientometria aplica técnicas bibliométricas à ciência. Por sua vez, o termo ciência refere- se a ciências físicas, naturais e sociais. Além da aplicação das técnicas bibliométricas à ciência, a Cientometria também se dedica para o desenvolvimento de políticas científicas, estabelecendo relações entre o desenvolvimento científico e o crescimento econômico dos países. Considerando a importância atribuída aos estudos e técnicas bibliométricas aplicadas à ciência, com base no conjunto de abordagens proposto por Hjørland (2002), que permite fornecer traços característicos de um domínio científico, podendo ser considerado o 25 entendimento de uma disciplina, área, especialidade, contexto científico ou domínio de conhecimento. Desse modo, visa caracterizar detalhadamente a dinâmica de pesquisa e enriquecer aspectos da investigação, em especial, aqueles relativos às associações e relações estabelecidas no campo de conhecimento. Os estudos bibliométricos associados aos estudos epistemológicos e históricos garantem maior abrangência e profundidade do objeto investigado, afirma Hjørland. Os estudos bibliométricos e seus indicadores científicos devem ser, portanto, relacionados ao contexto social e histórico em que a atividade científica é produzida, especialmente associados aos estudos críticos, de modo especial quando os métodos quantitativos são utilizados para o estudo que abrangem as atividades científicas. A pesquisa bibliométrica pressupõe três eixos que determinam temas e subáreas da Bibliometria contemporânea, conforme Glänzel (2003): - a) bibliometria para bibliometristas (metodologia) - o domínio da pesquisa bibliométrica básico e tradicionalmente consolidado por interesses usuais. A pesquisa metodológica é conduzida principalmente neste domínio; b) bibliometria para disciplinas científicas (informação científica) - os pesquisadores em disciplinas científicas constituem o maior, mas também o mais diversificado grupo de interesse em bibliometria. Devido à sua orientação científica primária, os seus interesses estão fortemente relacionados com a sua especialidade. Este domínio pode ser considerado uma extensão da ciência da informação, por meio das métricas. Aqui também se encontra fronteira comum com a pesquisa quantitativa na recuperação da informação; c) bibliometria para a política e gestão científica (política científica) - o domínio de avaliação da pesquisa, atualmente o tema mais importante no campo, ocorrendo em nível nacional, regional e nas estruturas institucionais da ciência e sua apresentação comparativa em primeiro plano. Inicialmente, a bibliometria esteve voltada para medição de livros, por exemplo: a quantidade de palavras contida nos livros, a contagem de edições e exemplares. Aos poucos, voltou-se para os estudos de outros formatos de produção bibliográfica, como artigos de periódicos, para posteriormente ocupar-se também da produtividade e visibilidade de pesquisadores, instituições e países e do estudo de citação (ARAÚJO, 2006). De acordo com Naseer e Mahmood (2009), a pesquisa científica baseada em procedimentos bibliométricos pode desempenhar a função avaliativa para fins de alocação de recursos, qualidade de produção de pesquisa, tomada de decisões e políticas de incentivo e fomento. A avaliação da produção gerada é parte integrante do processo da construção de novos conhecimentos produzidos por parte dos pesquisadores, com a finalidade de atribuir credibilidade e qualidade do conhecimento produzido. 26 A Cientometria, por sua vez, tem sua origem na década de 1960, na confluência da documentação científica, da Sociologia da Ciência e da História Social da Ciência, tendo por objetivo o estudo da atividade científica enquanto fenômeno social e mediante métodos e técnicas matemáticas aplicadas, derivada da tradução do termo russo "nauko-vometrica” atribuída por Doborov e Korennoi às técnicas estatísticas para medida da ciência (HAYASHI, 2012). A Cientometria está diretamente ligada ao nome de Derek de Solla Price, por meio da publicação “Science since Babylon”, em 1961 e “Little Science, Big Science” em 1963. De acordo com o percurso histórico que envolve o conceito de bibliometria, descrito por Hayashi (2012), referindo-se ao início do século XIX, essas definições desenvolvidas foram evoluindo em termos de fundamentos, técnicas e aplicações dos métodos bibliométricos. Nesse contexto, o termo bibliometria é definido por duas correntes: 1) a dos autores anglo- saxônicos que atribuem a Pritchard (1969) o pioneirismo, por ter cunhado o termo “bibliometria” para significar aplicação das matemáticas e dos métodos estatísticos aos livros e outros meios de comunicação – e; 2) a dos autores franceses, que a concedem a Paul Otlet por ter utilizado o termo no seu Traité de Documentation: le livre sur le livre, publicado em 1934, que trata da frequência de leitura de um autor e demonstra como as técnicas de mensuração do livro podem também contribuir para o entendimento dos acontecimentos no campo social. A partir de estudos baseados nas metodologias, Cientometria e Bibliometria, apresenta- se a possibilidade de construção de indicadores capazes de avaliar a produção científica gerada em uma determinada área de conhecimento, bem como de seus pesquisadores representativos. Esses tipos de pesquisa têm sido amplamente empregados em diversas áreas do conhecimento. Entretanto, a complexidade da interpretação dos indicadores decorrentes desses estudos exige o domínio de conhecimentos de campos diversos de conhecimento, tais como a Ciência da Informação e a Sociologia da Ciência, entre outras. Existem alguns softwares livres e proprietários que são utilizados para o desenvolvimento de estudos de citações de autores, auxiliando na automatização dos dados coletados, por exemplo, o Vantage Point de alto custo, e o BibExcel (livre) para a construção de alguns tipos de indicadores como índice h, ambos auxiliam na contagem das frequências e diminuem a demanda de tempo. Os indicadores científicos decorrentes do aperfeiçoamento e padronização dos estudos métricos pressupõem concepções teóricas adotados como relevantes que embasam a configuração da pesquisa na área. Assim, a pesquisa bibliométrica tem a possibilidade de identificar paradigmas teóricos, epistemológicos e metodológicos da área. 27 O processo de produção e/ou construção de conhecimentos concretizados por meio de instituições ou universidades e a comunidade de pesquisadores in loco, suas características, relações, interesses científicos, modos de produção e atuação expressas (comportamento informacional) revelam sua identidade a partir da conjuntura de aspectos (social, político, formativo, cultural, entre outros) e suas condições, dimensões não meramente determinadas. A dimensão aplicada da pesquisa bibliométrica enfrenta desafios e dificuldades como a coleta de dados, pelo grande volume que podem atingir. Em geral, a não padronização dos dados da lista de referências requer um trabalho árduo por parte do pesquisador para tornar essa coleta uniforme enquanto variável de análise, o que demanda tempo e esforço. Os softwares destinados a esse tipo de metodologia são de alto custo para pesquisadores brasileiros. Estudos semelhantes ao desta pesquisa, como de Kobashi e Santos (2007), “Análise de dissertações e teses de Ciência da Informação: estudo de institucionalização de um campo científico” analisaram as dissertações e teses produzidas na área nos programas de pós- graduação em Ciência da Informação no Brasil, considerando os trabalhos científicos defendidos nos programas da UnB, USP e PUC-Campinas, no período de 2002 a 2005 a partir de descritores (palavras-chave). De acordo com os resultados obtidos as temáticas mais trabalhadas foram dois eixos temáticos ancorados no GT3, ‘Mediação, Circulação e Apropriação da Informação’ e GT4, ‘Gestão da Informação e do Conhecimento’ dos encontros da ANCIB. Para Sanz Casado e Garcia Zorita (2014), a evolução histórica dos EMI fez com que se desenvolvessem novas técnicas métricas ou subcampos, cujas categorias de análise são específicas (variáveis), métodos, objetos e objetivos de investigação diversificados. A relação entre as especialidades métricas se desenvolve a partir de trabalhos de investigação que deram origem à Informetria, ainda que a maioria se apresenta sob diferentes enfoques ou especialidades métricas, como pesquisa bibliométrica, cientométrica, ou outras, as origens têm sido comuns. Com base na Figura 1, observam-se as dimensões das especialidades métricas trabalhadas nesta pesquisa: análise cientométrica e bibliométrica. 28 Figura 1. Relação entre as especialidades métricas. Fonte: SANZ CASADO, E.; GARCIA ZORITA, C. (2014). No âmbito da Ciência da Informação, os estudos métricos são considerados os estudos das “metrias” que consistem nos estudos quantitativos da ciência para a avaliação da produção científica e manutenção do padrão de qualidade das pesquisas desenvolvidas no país. Entre seus subcampos, encontram-se: a Bibliometria, a Cientometria, a Webometria, a Patentometria, a Altmetria e a Informetria, esta última com a maior amplitude e a primeira constituindo a origem dos Estudos Métricos” (GRÁCIO; OLIVEIRA, 2016, p.1). A abrangência de novas técnicas de aplicações e tipologias desenvolvidas na especialidade dos EMI, com especificidades nas categorias de análise e no objeto de estudos, em geral, são utilizadas como parte integrante de pesquisas bibliométricas. A análise da produção científica para avaliação envolve um conjunto de indicadores bibliométricos, que podem ser agrupados em indicadores de produção, indicadores de citação e indicadores de ligação (FAPESP, 2005). Indicadores são medidas realizadas para representar conceitos intangíveis. Os indicadores de produção científica são constituídos pela contagem do número de publicações: (1) por tipo de documento (livros, capítulos de livros, artigos, periódicos, relatórios, dissertações, teses), (2) por instituição, (3) área do conhecimento ou linhagens de pesquisa, (4) país ou região, panorama nacional ou internacional. O indicador básico é o número de publicações e busca refletir características da produção analisada. As leis bibliométricas clássicas também fazem parte deste rol de indicadores de produção, e entre as 29 principais estão: lei de Zipf (frequência das palavras), lei de Lotka (produtividade dos autores) e lei de Bradford (produtividade dos periódicos). Os indicadores de citação consistem na contagem do número de citações recebidas por uma determinada publicação. O indicador básico é o número de citações e busca refletir características relacionadas à visibilidade dos pesquisadores, tipologia, temporalidade, fonte, entre outros, citados na comunidade científica. Dentre outros indicadores derivados da análise de citação, destacam-se: a vida média da literatura (obsolescência), que pode ser definida como o período em que a literatura de determinadas áreas científicas alcança a metade de sua vida útil (BURTON; KEBLER, 1960), e o índice h, que, conforme define Barbosa Filho (2009), é uma proposta criada em 2005 pelo físico Jorge E. Hirsh, que permite medir a produtividade e o impacto dos pesquisadores, baseando-se nos seus artigos mais citados e o fator de impacto (FI) utilizado para avaliação de periódicos científicos contabilizando as médias de citações dos artigos publicados no período. Os indicadores de ligação são baseados na co-ocorrência de autoria, de citações e de palavras e são utilizados para mapeamento do conhecimento e da literatura, além de redes sociais e cognitivas entre pesquisadores, instituições e países. 2.4 Estudos de Citações O pesquisador, ao desenvolver um trabalho científico, se assume como “artesão pertinaz, paciente, atento, sensível e, ao mesmo tempo, despretensioso, zelador do consórcio entre teoria e prática, reservando exemplos probantes a cada movimento importante de sua reflexão” (OLIVEIRA, 1998, p. 20). Com essas palavras, Oliveira (1998) refere-se ao exercício das ciências humanas, como ofício que permite a cada pesquisador sentir-se parte integrante da tradição clássica, podendo fazer reviver aquilo que de mais alentador a condição humana pode oferecer. O autor comenta a aventura de buscar fundamento nos autores expressivos que semearam o terreno que se está reconhecendo, lapidando artesanalmente a construção dos estudos, sem perder de vista a ideia de totalidade das ciências humanas, desse modo, a partir da fundamentação e os referentes teóricos, o pesquisador passa a desenvolver a condição de próprio teórico. Essa possibilidade justifica o uso das citações para conferir à pesquisa conhecimentos especializados sobre o tema estudado, recorrendo a estudos que se desenvolveram ao longo da história e que servem de contribuições para a reflexão acerca do objeto investigado, cujo embasamento teórico pressupõe fundamentos de autores expressivos 30 em clássicos, seminais, fundantes, universais, abrangentes e locais que coincidem com a construção de uma especialidade cognitiva de uma área de conhecimento. As citações refletem, portanto, os modos de produção individual e coletivo e, como procedimentos potencialmente repetidos, sinalizam os fundamentos teóricos consignados e emergentes, suas contribuições e os pensadores significativos adotados como relevantes para a reflexão e o desenvolvimento dos conhecimentos científicos delineados na pesquisa de uma área de conhecimento. As práticas de citação e os padrões de citação são definidos por meio da composição da listagem de referências que reflete o perfil do autor e seu meio profissional (MACIAS- CHAPULA, 1998). A definição de um campo de conhecimento se dá por meio do uso social da composição desta lista de referências, que especifica a literatura cientifica aceita pelos pesquisadores de uma determinada especialidade ou comunidade científica. Para a compreensão dessa comunidade em seus elementos constitutivos e, com apoio da literatura e dos dicionários, foi possível formular uma tipologia representativa dessa distinção entre os autores de maior destaque. Considera-se que o referente teórico é o autor que contribui para a fundamentação do trabalho do pesquisador, tanto na determinação de questões motivadoras, considerações de conteúdo, características relacionadas ao objeto que se constrói na pesquisa ou mesmo aos procedimentos planejados para que se encontre uma resposta ao problema ou questões da pesquisa. Ele é referenciado/citado e também fundamenta a argumentação e o raciocínio do autor pesquisador. Portanto, referentes teóricos são autores ou pesquisadores norteadores da produção científica (GUIMARÃES; DALESSANDRO; MARTÍNEZ-ÁVILA, 2015) aqueles considerados significativos ou basilares no campo de conhecimento (CUSTÓDIO; OLIVEIRA; BUFREM, 2016; BUFREM, 2017). Nessa perspectiva, Bulgacov (2014) apresenta uma reflexão sobre a importância dos autores clássicos empregues no ensino e na pesquisa em Administração, considerando que os autores clássicos são aqueles estudiosos que fornecem os fundamentos e servem de referência das ideias que usamos. Ele refere-se às obras, mas esse conceito pode se aplicar também aos autores das obras. Assim, os autores clássicos permitem a compreensão de conceitos, pressupostos e teorias que permanecem e orientam as atuais reflexões e produções científicas. Desse modo, os autores clássicos são fontes de influência, uma relação com o passado, algo que pode ser utilizado como base ou referência. Com visão concordante, Oliveira (1998), os autores clássicos são referentes teóricos consagrados e basilares que servem de influência para outros pesquisadores que seguem de maneira singular suas formulações. No tocante à essas 31 ideias, um referente teórico pode ser considerado um clássico e não ser um autor fundante, consagrado, por sua qualidade, tem reconhecimento, constituindo-se como modelo ou referência. Para Bufrem (2017), os autores considerados seminais são aqueles que repercutem durante a vida de um pesquisador, permanecendo como inspiradores no interior de uma especialidade. Assim, define-se como autor seminal, para a compreensão desta pesquisa, o autor inaugural de uma teoria, ou corrente teórica, o primeiro ou que inspirou uma concepção ou uma escola. Desse modo, consideram-se autores seminais aqueles que por suas obras constituíram as bases da temática ao estabelecer marcos conceituais e terminológicos, enfoques de implementação, assim como uma profunda discussão das diferentes arestas relacionadas com a cultura organizacional. Assim, um autor ou obra pode ser seminal e não ser um referente teórico fundante, pois um autor pode ser inspirador para determinada corrente, linha ou ideologia. Por outro lado, os pesquisadores fundantes são aqueles inaugurais em conceitos, fundamentos e teorias que são influências intelectuais genealógicas, sem fronteiras. Por sua vez, os autores universais são aqueles abrangentes em conhecimentos diversos. Oliveira (1998), refere-se aos autores fundantes ou fundadores como sendo aqueles que remetem a propostas originais, pois contribuem e fornecem um novo conhecimento. Logo, um autor ou obra pode ser fundante e não ser um clássico, pode ser um fundante contemporâneo. “Um dos elementos constitutivos do discurso científico dos pesquisadores que configuram o campo de pesquisa é a citação, ao mesmo tempo, por ele configurada e concebida como manifestação ou expressão da preferência e posição de um autor, individual ou coletivo, em determinado campo de produção” Essa prática comunicativa ou discursiva das relações sociais ou associações cognitivas de um campo de conhecimento considera a citação enquanto elemento constitutivo que o integra e se constitui culturalmente, cuja legitimidade está sujeita ao contexto de relações históricas e sociais no qual se insere. (BUFREM, 2018) A necessidade de compreensão de um domínio científico se justifica pelo entendimento da estrutura e do escopo de um campo de conhecimento. Assim, especialidade ou comunidade científica são “construtos sociais que determinam a inclusão de certos objetos nesse domínio e a exclusão de outros”, na concepção de Vakkari (1994, p. 1). Nesse contexto, o conjunto de referências de um trabalho científico (artigo científico, teses, dissertações, livros e capítulos de livro) serve de fonte de informações para realização de um estudo cientométrico e bibliométrico, por meio de categorias de trabalho que fornecem mapeamentos da ciência, refletindo dinâmicas de citação. Para tanto, uma interpretação 32 (econômica, sociológica, histórica, política, cultural, institucional, entre outras) das citações contribui para o conhecimento novo gerado, uma vez que, por meio delas refletem-se os fundamentos que deram alicerce aos conhecimentos produzidos. Compreende-se, desse modo, o argumento de Leydesdorff (1998), sobre a impossibilidade de uma teoria abrangente de citação. A articulação da possibilidade de uma teoria de citações permaneceu apoiada no escopo de investigações da cientometria, sempre respaldada por contextos, situações e características concretos. Considera-se compreender a citação como medida de qualidade e relevância, pois as citações são referências às teorias, conceitos, trechos textuais que definem, complementam e agregam conhecimentos a uma investigação, desse modo, as citações em si, na forma como são estabelecidas na lista de referências refletem a relação do trabalho científico em desenvolvimento com os estudos referenciados e a relação desenvolvida nessas seleções. A citação se constitui de maneira complexa, pois, atende a uma função cognitiva e social do conhecimento, compreendendo os modos de pensar sobre o objeto investigado e o processo de construção dos conhecimentos enquanto uso social para a formação humana e o estudo crítico da realidade. Por que essa citação foi usada e não outra? Qual significado do uso ou prática social e cognitiva desta referência? Essas questões aliam-se a uma série de razões do uso da citação e podem ter diferentes significados de uso. Recorre-se a estudos sólidos para conferir qualidade e credibilidade, como por exemplo, a autores seminais e de reconhecimento. Numa perspectiva dinâmica, as citações refletem pressupostos cognitivos que são alterados, reforçados ou complementados na literatura científica. Com base em alguns de seus trabalhos sobre uso das citações e a contribuição de pesquisadores seminais da Ciência da Informação que aparecem citados repetidamente, Araújo, Silva, Coutinho e Souza (2009) propõem pensar os tipos de citações, diretas ou indiretas, classificando-as, em um conjunto de finalidades: (1) Citação conceitual - definida pelo uso de conceitos e tesauros; (2) Citação metodológica - quando se relaciona ao método desenvolvido de pesquisa; (3) Citação exemplificativa - ligada a exposição de exemplos; (4) Citação confirmativa - serve de base para afirmar uma ideia expressa; (5) Citação negativa ou enquanto crítica – definida como contraponto à uma ideia; (6) Citação de sustentação – serve como sustentação enquanto base de trabalho; (7) Citação panorâmica ou de revisão - definida como parte integrante de uma revisão de literatura; (8) Citação orgânica ou de compreensão - serve para um melhor entendimento de uma ideia discutida; (9) Citação de complementação - associada por agregar ideias ao tema; (10) Citação de inspiração - consiste em produção criativa 33 que denota o texto e (11) Não se aplica - quando as citações utilizadas não são modos próprios de pensamento do autor citado. As citações emergiram do contexto de organização e disseminação da informação e do conhecimento tomando como base as transições ao longo da história das ciências. Dar referência a algo implica posicionar-se frente a uma contribuição, em forma de produção de conhecimentos, e, conduz essencialmente a uma explicação adicional ao texto original, contestando, complementando ou legitimando os conhecimentos científicos dentro de uma tradição. A partir de uma releitura de Leydesdorff (1998), as referências adquirem uma nova função nas ciências modernas, contraposta a ciência tradicional, a matriz epistemológica da citação como prática social e cognitiva, capaz de refletir a dinâmica em termos de seleções que indicam o princípio cognitivo do referenciamento para a comunicação científica, discursiva e reflexiva no interior das relações sociais entre os pesquisadores, marcadamente, por referências tradicionalmente e historicamente aceitas pela comunidade científica como bases teóricas do conhecimento dentro de uma especialidade. Ainda segundo o autor, o debate sobre as citações por meio da filosofia da ciência, cuja citação tem caráter proeminente à produção do conhecimento, propõe novos caminhos ao desenvolvimento da história das citações sugerindo análise de citações, que traduz como parte integrante em busca de uma teoria de citação. Elas são capazes de representar uma dinâmica, definida, como um fenômeno complexo, potencialmente gerada ao longo de sua trajetória, reflete, atualmente, o entendimento da citação enquanto processo epistemológico de trabalho na ciência. A discussão sobre o método de análise de citação evoluiu, adquirindo a sua forma mais reflexiva e dispõe como conhecimento dinâmico e inconcluso a novos caminhos, transições e reflexões. O que as citações e as análises de citações significam para este estudo empírico? A análise da citação tem sido de interesse para os estudos científicos como um campo interdisciplinar porque permite aos pesquisadores compreender o reflexo das dimensões cognitiva, textual e social da ciência em termos de relações sociais e cognitivas. A partir do registro de referências de uma pesquisa científica, é possível averiguar a interlocução estabelecida entre os pesquisadores citantes e citados, compreendendo os autores utilizados para fundamentar a pesquisa. Os referentes teóricos expressos agregados a concepções e paradigmas, motivações e interesses científicos, definem uma relação epistêmica a partir dos elementos analisados. O estudo dos referentes teóricos expressos na produção científica nova com base na frequência e análise do registro de citações tem contribuído para o 34 reconhecimento da literatura adotada como significativa para a formação de pesquisadores na área. De acordo com Smiraglia (2015, p. 8) as citações “são uma forma de evidência das relações temáticas ou teóricas, e estas podem ser usadas para gerar visualizações de paradigmas temáticas ou teóricos dentro de comunidades específicas”. Entre os procedimentos bibliométricos adotados nesta pesquisa, os estudos de análise de citação de autores possibilitam compreender a dinâmica científica expressa, que se configuram ao longo do processo de construção dos conhecimentos, o modo como se comporta a ciência em uma determinada área, os modos de produção e atuação, que revelam tipos de concepções teóricas, epistemológicas e metodológicas empregadas. O estudo de citação verifica a frequência de citações recebidas por pesquisador, documento, instituição, país, ano, estabelecendo características do comportamento dessas informações. Esta pesquisa, dispõe a verificar dentre tantas possibilidades, a frequência de citações dos autores ou pesquisadores mais referenciados e relacioná-los as dimensões contextuais (afiliação, trajetória, teorias, experiências). De acordo com Romancini (2010), as citações são indissociáveis do seu contexto, sendo que a configuração determinada pelo uso das citações implica-se por fatores históricos, sociais, políticos e epistemológicos que constituem o cenário conjuntural de produção destas teses e suas respectivas citações. As citações são o reflexo da matriz epistemológica empregada, significando que são intrínsecas aos fundamentos teóricos e bases epistemológicas que deram sustentação e subsídios à pesquisa científica, e pressupõem a existência de correntes teóricas empregadas por uma literatura existente. Em linhas gerais, a epistemologia pode ser considerada “o estudo metódico e reflexivo do saber, de sua organização, de sua formação, de seu desenvolvimento, de seu funcionamento e de seus produtos intelectuais”. (JAPIASSU, 1934, p. 16). A epistemologia, marcadamente, pela tradição da filosofia, considera que a pesquisa epistemológica trata do estudo crítico dos conceitos, das ideias, concepções, teorias, fundamentos e dos resultados das diversas ciências. Segundo Japiassu (1934), “a tarefa da epistemologia consiste em conhecer este devir e em analisar todas as etapas de sua estruturação, chegando sempre a um conhecimento provisório, jamais acabado ou definitivo”. Nessa perspectiva, prevalece o entendimento da citação enquanto atividade científica, cuja função essencial consiste em submeter a prática dos cientistas a uma reflexão. De modo que os próprios pesquisadores têm o interesse de refletir sobre o campo de conhecimento para gerar contribuições para a realidade empírica. Diferentemente, da epistemologia proposta pela filosofia tradicional em determinar certezas e respostas a um conjunto de conhecimentos empíricos não por intermédio lógico ou racional, propôs-se uma nova concepção de 35 epistemologia, cuja função desempenhada reflete o estudo da gênese e a estrutura da formação dos conhecimentos científicos. A tarefa crítica à prática discursiva ou comunicativa dos pesquisadores citantes e a relação dos pesquisadores citados nas teses favorece e aprimora “procedimentos e formas de renovação dessa produção, uma vez que ela expressa a contradição inerente às funções, por um lado conservadora e, por outro, transformadora de um complexo científico instituído” (BUFREM, 2017). Russel e Sugimoto (2009) também afirmam que estudos da genealogia (acadêmica, científica e intelectual) são importantes porque fornecem contexto, história e potencializam o desenvolvimento de tendências futuras em um campo de conhecimento. Estudar a produção dos conhecimentos requer reconhecer que todo conhecimento, construído e em construção, está profundamente marcado por categorias determinadas socialmente, historicamente e culturalmente providas de sentido e significação, cujas condições históricas e sociais em que se realiza a prática social e dinâmica da pesquisa científica determinam a maneira como é refletida. A epistemologia, considerada como processo histórico, propõe uma reflexão com base nas fronteiras da própria epistemologia, considerando que as categorias autorreferentes e a historicidade definem a condição própria do conhecimento, isso significa que a atividade científica, social e cognitiva, na qual o sujeito cognoscente pretende compreender e explicar o mundo, o conhecimento é entendido como resultado concreto desta atividade, em busca de novos caminhos e fundamentos para o conhecimento e modos do pensamento. Ao estudar a epistemologia sob uma perspectiva social para a Ciência da Informação, Hjørland (2002) ratifica que os pesquisadores por meio da tomada de decisões e os modos de produção, revelam os modos de pensamento, suas posições teóricas, epistemológicas e paradigmáticas. A relação epistêmica (positivista, pragmática, racionalista, sociocognitiva) determina a forma como concebemos o conhecimento. Algumas pesquisas podem adotar um único paradigma teórico ou ainda um conjunto de paradigmas que constituem correntes teóricas em diferentes perspectivas epistemológicas (SMIRAGLIA, 2015). As unidades de análise dos estudos de citação são as referências arroladas no final de um trabalho científico, isto é, são as contribuições científicas que serviram como fonte de informações ao conhecimento. Nesse contexto, a forma como são descritas implicam, diretamente, na distorção ou não dos resultados. As referências contidas num trabalho científico fornecem indicadores a partir do registro dessa literatura. Desse modo, alguns problemas ou inquietações são encontrados no desenvolvimento de estudos que envolvem os estudos métricos da informação, como a insuficiência da descrição de categorias da 36 informação, tendo a necessidade da construção de novo banco de dados para atender aos objetivos da pesquisa. Uma referência deve ser redigida de forma rigorosa a partir de normas e técnicas, contudo, as recomendações são realizadas em diversos formatos o que dificulta os aspectos para fins de organização e padronização da informação. (SILVEIRA; BAZI, 2009). Estudos como esta pesquisa, realizados manualmente, minimizam efeitos de distorção dos resultados e da realidade investigada, uma vez que se pode atentar sobre esses problemas e intervir nas categorias citadas, em contrapartida, estudos automatizados estão mais passíveis de serem contabilizados de forma errônea e distorcida. Enfim, os estudos de citação fornecem e representam a dinâmica construída por uma comunidade por meio de seus aspectos nucleares adotados. Nesse sentido, a análise de citação possibilita conhecer os pesquisadores mais referenciados e agregados aos estudos de análise relacional, como a Análise de Cocitação de Autores (ACA) e a análise de Acoplamento Bibliográfico de Autores (ABA), busca aprofundar esse olhar, podendo perceber as relações de similaridades cognitivas e sociais entre estes pesquisadores. Essas relações ocorrem na comunidade científica e são representadas por meio de rede. Considera-se que os estudos métricos, em especial o estudo de citações sob viés epistemológico, agregados à Análise de Cocitação de Autores (ACA) e ao Acoplamento Bibliográfico de Autores (ABA) complementam e auxiliam na identificação das epistemologias, teorias e traços metodológicos que influenciam um domínio científico, sobretudo, para evidenciar sua comunidade epistêmica (ARAÚJO; GUIMARÃES, 2017). 2.5 Acoplamento Bibliográfico e Análise de Cocitação O diálogo estabelecido entre os pesquisadores citantes e citados por meio do conjunto de referências dos trabalhos científicos revela similaridades de proximidade de seus aportes teóricos, temáticos, metodológicos e epistemológicos. Agregados aos estudos de citação, os dois métodos de análise relacional das citações já citados propõem agrupar por proximidade esses pesquisadores: a Análise de Acoplamento Bibliográfico de Autores (ABA) e a Análise de Cocitação de Autores (ACA) (GRÁCIO, 2016). Entende-se por Análise de Cocitação a frequência com que dois pesquisadores/autores aparecem citados juntos em um trabalho científico, indicativo de que pesquisadores têm interesses científicos comuns de pesquisa citam fontes informacionais similares, portanto, uma 37 relação de proximidade de conteúdo desses autores é traçada. Essa relação de similaridade é destacada por meio de representação gráfica, que se configura em mapeamentos de redes que expressam as inter-relações de um campo de conhecimento dos autores mais citados juntos a partir das citações registradas. A Análise de Cocitação de Autores (ACA) foi introduzida pela primeira vez por White e Griffith, em 1981, com intuito de analisar a dinâmica expressa por meio de um conjunto de pesquisadores organizados em rede (social e cognitiva) de uma comunidade científica, no qual tem empregado os autores como unidades de análise (WHITE; GRIFFITH, 1981; McCAIN, 1990). Por sua vez, a Análise de Acoplamento Bibliográfico (ABA) permite identificar linhas de pesquisa ou núcleos de pesquisa, com base na relação em que dois ou mais trabalhos científicos fazem uso da mesma referência, sendo sua frequência um indicador da intensidade do acoplamento que desenvolvem. O Acoplamento Bibliográfico, desenvolvido por Kessler (1963), destaca a relação temática por meio de medida em que duas ou mais publicações (artigos, teses, dissertações, disciplinas) são referenciadas em comum por essas publicações. Enquanto um fornece a relação dinâmica do grupo de cientistas que aparecem conjuntamente em um trabalho científico, o outro enfoca os núcleos de pesquisa pelas publicações em comum de dois ou mais trabalhos científicos. Uma referência em comum entre duas ou mais teses, significa que elas estão bibliograficamente acopladas, desse modo, o acoplamento bibliográfico determina a relação ou conexão entre os elementos citantes. Este método é pouco empregado, comparado, ao método relacional de análise de cocitação, geralmente, empregado por parte dos pesquisadores para realizar mapeamentos da estrutura social e cognitiva por meio de redes de conhecimento de uma especialidade ou comunidade científica, que expressa apenas influências intelectuais e vem se mostrando de modo hegemônico enquanto método no campo de conhecimento da Ciência da Informação. (ZHAO; STROTMANN, 2008). A frequência de par de pesquisadores citados juntos em um trabalho científico remete a cocitação, demonstrando que o enfoque é determinado pelas autorias designadas nas referências citadas, ou seja, nos trabalhos ou pesquisadores que estão sendo fundamentalmente citados, ou seja, observa-se uma relação dialógica entre os trabalhos citados. Em contrapartida, quando a frequência é determinada, pela publicação comum de trabalhos científicos, remete ao acoplamento, cujo enfoque prioriza os trabalhos citantes, que desenvolvem similaridades temáticas, teóricas, metodológicas e epistemológicas no interior da literatura e comunicação científica da área. 38 Segundo Hjørland (2013), “entender os padrões de cocitação significa entender a história do reconhecimento e impacto acadêmico das publicações, uma vez que uma publicação pode ser potencialmente relevante para pesquisas futuras e pode, assim, potencialmente ser citada”. Para alguns pesquisadores, o uso de índices relativos para os estudos de cocitação se justifica em função de padronizar os agrupamentos enquanto que os números absolutos indicam a frequência em que dois autores aparecem cocitados, sem considerar a população total dos autores envolvidos na rede. Para considerar a intensidade dessas relações de associação entre os autores, faz-se necessário recorrer ao uso dos indicadores relativos ou normalizados, que leva em consideração a quantidade da produção científica de cada um dos autores. Enfim, “os dois tipos de análise relacional de citações têm sido utilizados para diversas questões consignadas à Ciência da Informação, como para a compreensão da comunicação científica, a frente de pesquisa e a estrutura intelectual de um domínio científico” (GRÁCIO, 2016, p.86). Nessa perspectiva, observa-se que o método de acoplamento bibliográfico e o método de análise de cocitação, ambos fornecem indicadores de similaridade, proximidade ou associação temática, porém estabelecem padrões de citações significativamente distintos em relação à estrutura de uma especialidade científica (SMALL, 1973). A seguir, apresentam-se as figuras 2 e 3, que exemplificam a noção de cocitação e de acoplamento, a partir da adaptação dos estudos de Mattos e Dias (2010) para universo de análise de teses. 39 Figura 2: Noção sobre Cocitação de Autores (ACA) Fonte: Adaptada ao universo de pesquisa (MATTOS; DIAS, p.5, 2010). Na Figura 2, os pesquisadores Capurro e Hjørland são cocitados porque ambos são referenciados nas teses 1, 2, 3, 4 e [...]. Na figura 3, as teses 1 e 2 são acopladas pois citam os pesquisadores em comum, como Capurro, Hjørland, Saracevic, Buckland e Smiraglia. Contudo Lancaster e Le Coadic não são referentes teóricos comuns dessas teses, o que indica que as teses 1 e 2 não estão acopladas pelo par de pesquisadores citados, sendo que a tese 1 cita Lancaster e a tese 2 cita Le Coadic, o que pode ser um indicador de uma abordagem teórica específica. Destaca-se o fato de que análise de cocitação e análise de acoplamento, se pensadas como relacionais, podem ser complementares para um estudo mais rico da compreensão de um domínio científico. Figura 3: Noção sobre Acoplamento de Autores (ABA) 40 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Esta pesquisa é descritiva, entendendo-se que estudos descritivos são investigações sobre as características ou relações existentes na comunidade, grupo ou realidade pesquisada, isto é, estudos que visam identificar representações sociais e o perfil de indivíduos e grupos, como também estruturas. Em síntese, a pesquisa descritiva volta-se a dados ou fatos coletados da própria realidade. Essa coleta ou levantamento de dados é uma das etapas principais da pesquisa descritiva que serve como ferramentas para realização dos objetivos da pesquisa e tem toda uma significação envolvida. “Pesquisa descritiva observa, registra, analisa e correlaciona fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los. Procura descobrir, com a maior precisão possível, a frequência com que um fenômeno ocorre, sua relação e conexão com outros, sua natureza e características”. (CERVO; DERVIAN; DA SILVA, 2007, p. 61). Parte-se do método de citações para compreensão da comunidade de pesquisa por meio da produção científica de teses dos programas de pós-graduação em análise, que integra a análise cientométrica e bibliométrica dos dados e sua interpretação. Os tópicos contendo as etapas da pesquisa são: 1) Identificação e seleção do universo de pesquisa; 2) Recuperação e levantamento dos dados; 3) Organização dos dados; 4) Uso do Método de Citações e 5) Uso do Método de Acoplamento, os quais apresentam-se detalhadamente a seguir: 1. Identificação e seleção do universo de pesquisa: a primeira etapa deste estudo consistiu na identificação e seleção dos programas de pós-graduação para análise e interpretação da realidade. Consideraram-se para se constituir o universo, os programas que ofertam doutorado e são reconhecidos e não apenas autorizados. A pesquisa pauta-se na análise da produção científica representada pelas teses defendidas pelos programas com doutorado de CI no período de 2007 a 2016: USP, UNESP, UnB, UFMG, IBICT/UFRJ e UFF. Dentre os programas denominados Ciência da Informação, quatro ainda não contam com o doutorado acadêmico (UEL, UFC, UFPA e UFSCar) e os demais iniciaram oferta de doutorado mais recentemente. Com base nas informações e no período de recorte desta pesquisa, foram analisadas as teses correspondentes do convênio IBICT/UFF (2007-2008) e IBICT/UFRJ (2009-2016), considerando-se a produção do período de 2007 a 2016, desenvolvido durante os convênios do IBICT com as duas instituições de ensino superior. Para análise, considerou o convênio IBICT/UFF devido ao período da proposta desta investigação. No entanto, na atualidade, existe o programa próprio em CI da UFF, sem vínculo formalizado por convênio com outra instituição. 41 Em conjunto, o corpus é composto de 414 teses de doutorado produzidas nos programas de pós-graduação em Ciência da Informação, referentes ao período que compreende a década dos anos de 2007 a 2016, sendo 80 teses da Unesp, 54 teses da Usp, 121 teses da UnB, 105 teses da UFMG e 54 teses do IBICT, em convênios com a UFF e a UFRJ no período de 2007 a 2016, cujo levantamento de dados estabeleceu o total de 68.664 referências. 2. Recuperação e levantamento dos dados: no período de 2007 a 2012 foram recuperados os cadernos de indicadores contendo a lista de registros das teses e dissertações defendidas no ano e programa de pós-graduação pesquisado (descritor de busca). No período de 2013 a 2016, a lista das teses defendidas foi apresentada no ícone trabalho de conclusão de curso. Após reformulações e atualizações no órgão de sistema de avaliação, passou a ser identificada no ícone banco de teses e dissertações fornecido pelo Sistema de Disseminação de Informações (SDI). Com base na coleta contendo a lista de teses defendidas, as teses foram recuperadas no website de cada instituição. Para recuperação das teses de doutorado de 2012 em diante, recorreu-se, em parte, ao portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) em Plataforma Sucupira - Trabalhos de Conclusão - Dissertações e Teses defendidas e aprovadas no programa, com ano de busca, instituição, programa de pós-graduação que requer os dados, onde se pode selecionar o tipo de trabalho de conclusão, a opção Tese, e, então, clicar em Consultar. Desse modo, aparece a lista, contendo as teses defendidas no ano de busca e aonde o usuário pode clicar para também recuperá-la. 42 Em vista das novas reformulações de avaliação da pós-graduação brasileira e a avaliação em quadriênios, a plataforma da Capes tem integrado a compilação da pós- graduação brasileira por meio do novo Sistema de Disseminação de Informações (SDI) que pode ser acessado por meio da URL http://sdi.capes.gov.br/. Em consequência, parte das teses passou a ser recuperada no Banco de Teses e Dissertações. Portanto, os novos dados para recuperação e atualização do corpus, referentes às teses no período de 2013- 2016, passaram a ter sua busca por programas realizadas neste novo formato. Algumas teses não foram recuperadas por esse processo, motivo pelo qual foram enviadas mensagens aos seus autores, na tentativa de tornar a pesquisa mais completa dentro do recorte delimitado. Em alguns casos a devolutiva contribuiu para a incorporação da tese ao conjunto. Deste conjunto total de teses, 16 não foram incorporadas à pesquisa devido a sua não recuperação definitiva. Elaborou-se a construção de um banco de dados contendo o conjunto total de referências bibliográficas de cada programa, contudo algumas teses foram configuradas com pdf protegido, sendo necessárias conversões online dos arquivos por meio de site. Utilizou-se o conversor online , e para teses com maiores extensões ou de difícil carregamento (“arquivo pesado”) foi necessário utilizar outro tipo de conversor: , o qual permitiu converter apenas as páginas desejadas, portanto, aquelas referentes à bibliografia. Ambos os conversores são recomendáveis por auxiliarem nesta etapa-problema de pesquisa. http://sdi.capes.gov.br/ 43 As teses configuradas em pdf protegido localizam-se, principalmente, no universo de contexto da Universidade de São Paulo, mas essa característica não prejudicou a incorporação da produção representada. Observou-se que em termos de acesso, disseminação e recuperação dessas pesquisas, a Unesp de Marília foi a que propiciou a recuperação na íntegra de todas as teses. Em seguida, a USP e a UnB, com apenas uma tese não recuperada em cada uma das instituições. Na parte referente a apresentação e análise dos dados, desdobram-se seções contendo o panorama dos programas analisados, bem como a trajetória histórica de cada programa com intuito de contextualizar, associar e complementar os dados obtidos por programa. Foram utilizadas as informações atualizadas descritas nas websites de cada programa e, em alguns casos, recorreu-se à leitura da proposta do programa da Capes de 2012. 3. Organização dos dados coletados: o método de organização da informação, etapa indispensável para sistematização d