UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – UNESP FACULDADE DE ENGENHARIA DE BAURU – FEB PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO MARCELO WILSON FURLAN MATOS ALVES GERENCIAMENTO DE CONTINGÊNCIAS CLIMÁTICAS: DO MONITORAMENTO DE RISCOS AOS BENEFÍCIOS ORIUNDOS PELA ADOÇÃO DE PRÁTICAS DE BAIXO CARBONO Bauru 2016 MARCELO WILSON FURLAN MATOS ALVES GERENCIAMENTO DE CONTINGÊNCIAS CLIMÁTICAS: DO MONITORAMENTO DE RISCOS AOS BENEFÍCIOS ORIUNDOS PELA ADOÇÃO DE PRÁTICAS DE BAIXO CARBONO Texto de Defesa apresentado ao Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção, modalidade de Mestrado, da Faculdade de Engenharia de Bauru - UNESP, como requisito para obtenção do título de mestre. Orientadora: Profª.Drª. Ana Beatriz L. S. Jabbour Bauru 2016 Alves, Marcelo Wilson Furlan Matos. Gerenciamento de contingências climáticas: do monitoramento de riscos aos benefícios oriundos pela adoção de práticas de baixo carbono / Marcelo Wilson Furlan Matos Alves, 2016 110 f. Orientadora: Ana Beatriz Lopes de Sousa Jabbour Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Engenharia, Bauru, 2016 1. Mudança Climática. 2. Operação de Baixo Carbono. 3. Teoria da Contingência. 4. Gerenciamento de Carbono. 5. Riscos Climáticos. I. Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Engenharia. II. Título. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus pela oportunidade de poder concluir mais esta etapa da minha vida. Agradeço a minha mãe, Naná, pelas várias oportunidades e conselhos que me foram proporcionados até o presente dia, certamente fizeram e fazem toda a diferença na minha vida. Agradeço meu pai Wilson (in memorian) e minha madrinha Rita (in memorian) pelas lições de vida que aprendi o quanto pude. Agradeço minha namorada Jaqueline pela paciência em me ouvir, pelas palavras de carinho e incentivo sem iguais durante todos esses anos de pesquisa. Agradeço meus irmãos (Wilson Eduardo, Guilherme, Amauri e Juliano), pelos incentivos, suportes e apoios nos vários momentos de minha carreira. Agradeço a minha orientadora Profª Ana Beatriz pelos dois anos de extensas lições sobre pesquisa, pela oportunidade concedida e dedicação nas orientações que contribuíram muito para minha carreira de pesquisador. Agradeço a participação dos professores Enzo Mariano e Mônica Sá de Abreu pelas leituras, sugestões e reflexões sobre minha pesquisa. Agradeço aos amigos de mestrado Robson, Breno e Camila pelas longas conversas e debates que tivemos durante esses anos. RESUMO O objetivo desta pesquisa é entender sob a perspectiva da teoria da contingência, como os fatores contingenciais climáticos e o gerenciamento interno organizacional realizado por um conjunto de empresas podem explicar a percepção de benefícios ao adotar práticas operacionais de baixo carbono. Para atingir este objetivo, o método de pesquisa escolhido foi entrevista, o qual foi conduzido com profissionais de seis empresas dividas em quatro setores industriais diferentes, utilizando para a análise dos dados o software NVivo a fim de entender as percepções dessas empresas estudadas. Os resultados encontrados foram: a) a percepção e o monitoramento de riscos climáticos disparam um gerenciamento interno organizacional mais estruturado pelas empresas; b) as empresas tendem a manter o modelo de gestão ambiental estabelecido para inserir fatores de mudanças climáticas em seus procedimentos; c) uma incipiente estrutura de gerenciamento interno organizacional presente nas empresas afeta suas percepções de benefícios ao adotarem práticas de baixo carbono, mesmo que diversifiquem suas ações; d) o gerenciamento de carbono sob os aspectos contingenciais pode explicar a inação das empresas neste contexto de mudança climática. Com isso, as contribuições deste trabalho consistem em fornecer à literatura evidências empíricas de como se estabelece a relação entre a percepção e o monitoramento de riscos com o gerenciamento de fatores climáticos organizacionais a partir do uso da teoria da contingência. Além disso, a pesquisa também contribui com discussões sobre a efetividade das ações em resposta aos eventos climáticos encarados pelas organizações. PALAVRAS-CHAVE: Mudança Climática, Operação de Baixo Carbono, Teoria da Contingência, Gerenciamento de Carbono, Riscos Climáticos. ABSTRACT The aim of this research is to understand, by the contingency theory perspective, how contingency climate factors and organizational internal factors management can explain the perception of benefits from adoption of low carbon operations practices by a set of enterprises. The research method chosen was interviews with specialists, which were made with professional of six enterprises in four different industries. The NVivo software was used to analyze data from interviews in order to understand the perceptions of those enterprises studied. The results found were: a) the perception and the monitoring of climate risks trigger organizational climate factors management better structured by enterprises; b) enterprises tend to keep the environmental management established to implant climate factors management in their procedures; c) incipient structure of climate factors management stand by in enterprises affect their perceptions of benefits when they have adopted low carbon operations practices, even they have diversified their actions; d) management carbon under contingencies aspects can explain the inaction of the enterprises in the climate change context. Therefore, this research contributes to literature through empirical evidences about how is the relationship between perception and monitoring of climate risks and organizational climate factors management by the perspective of contingency theory. Furthermore, the research contributes to discussion about the effectiveness of the actions in responding climate events faced by organizations. KEYWORDS: Climate Change, Low Carbon Operations, Contingency Theory, Carbon Management, Climate Risks. ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1: Estrutura dos conceitos utilizados na Pesquisa ......................................................... 13 Figura 2: Gerenciamento de fatores climáticos sob a ótica da teoria da contingência ............. 35 Figura 3: Benefícios percebidos empresa Alfa ........................................................................ 76 Figura 4: Benefícios percebidos pela empresa Beta ................................................................. 78 Figura 5: Benefícios percebidos pela empresa Gama .............................................................. 79 Figura 6: Benefícios percebidos pela empresa Delta ............................................................... 80 Figura 7: Benefícios percebidos pela empresa Sigma .............................................................. 81 Figura 8: Benefícios percebidos pela empresa Ômega ............................................................ 83 ÍNDICE DE QUADROS Quadro 1: Literatura relativa à práticas operacionais de baixo carbono .................................. 27 Quadro 2: Benefícios de ações estratégicas no contexto de mudança climática ...................... 32 Quadro 3: Conjunto de tópicos sobre risco climático .............................................................. 41 Quadro 4: Palavras e termos utilizados na análise de entrevistas de acordo com Hoffmann (2005) ....................................................................................................................................... 43 Quadro 5: Resumo dos Entrevistados ...................................................................................... 46 Quadro 6: Comportamento de risco físico ............................................................................... 49 Quadro 7: Gerenciamento contingencial de riscos climáticos ................................................. 56 Quadro 8: Estrutura de gerenciamento de carbono .................................................................. 62 Quadro 9: Adoção de práticas de baixo carbono ...................................................................... 68 Quadro 10: Monitoramento e controle de emissão .................................................................. 74 Quadro 11: Percepção de benefícios pelos entrevistados ......................................................... 83 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 11 1.1. CONTEXTO E PROBLEMA DA PESQUISA ............................................................ 11 1.2. QUESTÃO E OBJETIVOS DE PESQUISA ................................................................ 14 1.3. JUSTIFICATIVA DA PESQUISA ............................................................................... 14 1.4. ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO ............................................................................ 17 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................................... 18 2.1. GERENCIAMENTO CONTINGENCIAL DE RISCOS CLIMÁTICOS .................... 18 2.2. GERENCIAMENTO DE CARBONO .......................................................................... 23 2.2.1. Estrutura de Gerenciamento de Carbono ............................................................ 23 2.2.2. Práticas Operacionais de Baixo Carbono ........................................................... 27 2.2.3. Monitoramento e Controle de Emissão .............................................................. 30 2.3. BENEFÍCIOS AO ADOTAR PRÁTICAS DE BAIXO CARBONO .......................... 31 3. MÉTODO DE PESQUISA ................................................................................................ 36 3.1. CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA ........................................................................ 36 3.2. OBJETO DE ESTUDO ................................................................................................. 37 3.3. PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS ......................................................... 39 3.4. PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS ..................................................... 41 4. RESULTADOS ................................................................................................................... 44 4.1. CARACTERIZAÇÃO DAS EMPRESAS .................................................................... 44 4.2. COMPORTAMENTO FRENTE AOS RISCOS FÍSICOS .......................................... 46 4.3. GERENCIAMENTO CONTINGENCIAL DE RISCOS CLIMÁTICOS .................... 52 4.4. ESTRUTURA DE GERENCIAMENTO DE CARBONO ........................................... 57 4.5. PRÁTICAS OPERACIONAIS DE BAIXO CARBONO ............................................. 64 4.6. MONITORAMENTO E CONTROLE DE EMISSÃO ................................................ 70 4.7. BENEFÍCIOS AO ADOTAR PRÁTICAS DE BAIXO CARBONO .......................... 75 5. DISCUSSÃO ....................................................................................................................... 84 6. CONCLUSÃO .................................................................................................................... 96 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 99 APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA ............................................................... 107 APÊNDICE B – LISTA DE CATEGORIAS DE BENEFÍCIOS ..................................... 109 11 1. INTRODUÇÃO Neste capítulo é apresentado o contexto em que o estudo está inserido, onde a proposta de pesquisa se posiciona no panorama de pesquisas internacionais encontradas, passando pelas justificativas que sustentarão a importância dela, para então serem apresentados a questão de pesquisa e os objetivos. Por fim, é explicada a estrutura da dissertação. 1.1. CONTEXTO E PROBLEMA DA PESQUISA Nas últimas duas décadas, a indústria mundial elevou suas emissões de gás carbônico (CO2) de 1,36 GtCO2eq em 1990 para 2,59 GtCO2eq em 2010, significando um aumento de 90,45% nos processos de emissão neste setor da economia (IPCC, 2014). O contexto é tão alarmante que um histórico acordo mundial se concretizou na Conference of Parties (COP- 21) realizada em Paris, onde 188 países se comprometeram a reduzir suas emissões até 2020, com revisão de metas em 2025 (UNFCCC, 2015). De fato, tem-se testemunhado vários eventos climáticos extremos (por exemplo, furacões e secas extremas) nos últimos anos (WINN et al., 2011; SLAWINSKI et al., 2015). Mesmo que não possam ser diretamente associados à mudança climática, eles se tornaram fonte de questionamentos por toda a sociedade e são presenciados nos vários continentes do planeta (WINN et al., 2011; LEE, Z.H. et al., 2013; GALBREATH, 2014; HAVERKORT; VERHAGEN, 2008; ASSAD et al., 2004; SMITH, 2013; MARENGO, 2014; GASBARRO; PINKSE, 2015). Sendo estes eventos climáticos uma forma de contingência gerada pelas mudanças climáticas, organizações industriais se deparam em maior ou menor escala a possíveis danos às próprias operações industriais e em nível de cadeia de suprimentos, incluindo interrupção de atividades, escassez de recursos, restrição de acesso às fontes de matérias primas e energia, aumento de custos operacionais entre outros impactos (DASAKLIS; PAPPIS, 2013; HAVERKORT; VERHAGEN, 2008; BUSCH; HOFFMANN, 2007; SCHULTZ; WILLIAMSON, 2005). De acordo com a vulnerabilidade percebida, as organizações passam a definir estruturas de gerenciamento de carbono e a responder com ações de adaptação a esse contexto (GASBARRO; PINKSE, 2015; WINN et al., 2011). Dessa forma, diante de tal contexto, um melhor desempenho organizacional é resultado da relação entre as estruturas de gerenciamento organizacional e o ambiente no qual as empresas estão inseridas (VOLBERDA et al., 2012). Mas, para isso, elas devem possuir práticas gerenciais com a finalidade de executar suas estratégias climáticas objetivando sempre a redução das suas emissões de CO2 e controlando contingências climáticas que interferem em suas atividades (WAHYUNI; RATNATUNGA, 2014; WEINHOFER; 12 BUSCH, 2013; PINKSE; KOLK, 2010; LEE, K.H., 2012; PESONEN; HORN, 2014; WEINHOFER; HOFFMANN, 2010; KOLK; PINKSE, 2004; BOCKEN et al., 2012; BOIRAL, 2006). E se o bom desempenho ambiental se traduz em competitividade (PORTER; VAN DER LINDE, 1996), com as questões climáticas não é diferente (HOFFMAN, 2005). O bom resultado financeiro de uma empresa depende, dessa maneira, da efetividade de suas atividades tais como, eficiência na manufatura, processos de inovação e também de seu gerenciamento ambiental, de acordo com contingências ocorridas ao longo do tempo (RUSSO; HARRISSON, 2005), cabendo aos gestores a tarefa cuidadosa de analisar esse contexto e levar em consideração as características internas da organização e suas práticas adaptativas (VOLBERDA et al., 2012). Entretanto, o que se identifica até o momento na literatura são trabalhos acerca de fatores que podem interferir nas estruturas de gerenciamento de carbono nas organizações, mesmo que não sejam caracterizados como fatores contingenciais. Dessa forma, os trabalhos destacam a importância de se monitorar as tecnologias, o acesso a fontes de matérias-primas e outros recursos, custos extras que surgem deste contexto climático, além da interferência de novas regulamentações nos processos de negócios da empresa e na demanda por seus produtos (SMITH, 2013; HAVERKORT; VERHAGEN, 2008; BUSCH; HOFFMANN, 2007; LEE, S.Y., 2012; PLAMBECK; 2012; ABEN; HARTLEY; WILKENING, 2010; JESWANI; WEHRMEYER; MULUGETTA, 2008; CHOI, 2013; HITCHCOCK, 2012; OKEREKE; KÜNG, 2013; LO, 2010; BURRITT; SCHALTEGGER; ZVEZDOV, 2011). E, quando fazem referência às consequências que as organizações podem enfrentar, os trabalhos tratam o gerenciamento de risco de forma restrita e isolada na organização (WEINHOFER; BUSCH, 2013; PINKSE; KOLK, 2010; WINN et al., 2011; GASBARRO; PINKSE, 2015), não relacionando-o às estruturas internas de gerenciamento organizacional, nem tão pouco a efetividade de suas ações. Portanto, é inevitável a influência do contexto de mudança climática nos aspectos gerenciais de uma empresa. Havendo diferentes formas de respostas aos impactos climáticos (GASBARRO; PINKSE, 2015) e diferentes percepções de desempenho ambiental - vantagens competitivas e benefícios alcançados - entre gestores (RUSSO; HARRISSON, 2005), a lacuna na literatura identificada por este estudo é que ainda carece o entendimento de como o monitoramento de contingências climáticas estão relacionadas com as estruturas internas de gerenciamento organizacional e como essa relação influencia a percepção pelas empresas de benefícios ao adotarem práticas operacionais de baixo carbono. 13 Por isso, a proposta desta pesquisa é analisar por meio de entrevistas com gestores/especialistas de sustentabilidade, como podem ser explicadas as suas percepções de benefícios ao adotarem práticas de baixo carbono levando em conta o comportamento que cada empresa apresenta quando se depara com riscos climáticos e também a forma como a organização gerencia internamente fatores relacionados às mudanças climáticas. Assim, a Figura 1 mostra a perspectiva da teoria da contingência para se diagnosticar as contingências climáticas na estrutura da organização. A partir dessa influência, utilizam-se duas variáveis, o comportamento face aos riscos e o gerenciamento de carbono que explicarão as práticas operacionais adotadas bem como os benefícios percebidos pelos gestores. Assim, conseguirá entender os resultados da pesquisa e suas contribuições teóricas e práticas. Figura 1: Estrutura dos conceitos utilizados na Pesquisa Fonte: Autor. 14 1.2. QUESTÃO E OBJETIVOS DE PESQUISA Tendo em vista o problema de pesquisa detectado que é as consequências das contingências climáticas no gerenciamento de carbono da organização e como esta deve agir em resposta a tais contingências, as questões de pesquisa que nortearam a condução deste estudo são: como as contingências climáticas se relacionam com o gerenciamento de carbono na organização? E como essa relação explica os benefícios percebidos ao adotar práticas de baixo carbono? Em seguida, foram estabelecidos objetivos de pesquisa para que a questão anteriormente apresentada fosse respondida ao final da realização do estudo. Por isso, o objetivo primário do estudo é: investigar como contingências climáticas se relacionam com o gerenciamento de carbono da organização e como essa relação pode explicar os benefícios percebidos ao adotar práticas de baixo carbono. Como forma de alcançar o objetivo proposto, têm-se os seguintes objetivos secundários: (a) identificar o comportamento das organizações em face aos riscos climáticos; (b) analisar a estrutura interna de gerenciamento de carbono sob as contingências climáticas; (c) identificar as práticas operacionais de baixo carbono que as empresas estudadas adotam e sua postura frente às contingências climáticas; (d) verificar os benefícios percebidos pelas empresas estudadas ao adotarem práticas operacionais de baixo carbono. 1.3. JUSTIFICATIVA DA PESQUISA A presente pesquisa se justifica em vários aspectos de acordo com a proposta de estudo descrita anteriormente. Os possíveis resultados encontrados podem contribuir para o preenchimento de lacunas da literatura para a perspectiva de contingências no gerenciamento de fatores climáticos, na relação entre exposição a riscos climáticos e estrutura de gerenciamento de fatores climáticos, das práticas operacionais de baixo carbono e dos benefícios percebidos após a adoção de tais práticas. Dessa forma, poder-se-á entender o alcance dos resultados da pesquisa bem como entender mais profundamente suas contribuições teóricas. Tendo em vista os eventos climáticos enfrentados pelas organizações que podem afetar fisicamente suas operações (WINN et al., 2011; SLAWINSKI et al., 2015), a presente pesquisa se utiliza da perspectiva teórica da contingência para entender o gerenciamento de carbono na relação outside-inside (WINN et al., 2011). Uma vez que poucos estudos endereçam os impactos físicos nos negócios e as ações das empresas diante desses impactos 15 (GASBARRO; PINKSE, 2015; WINN et al., 2011; SLAWINSKI et al., 2015), a presente pesquisa buscou entender como elas, as empresas, se preparam e adequam suas operações (SOUSA; VOSS, 2008) diante de contingências climáticas, o que pôde adicionar mais evidências para entender eventuais inações das organizações (SLAWINSKI et al., 2015). Porém, a teoria da contingência não assume de forma determinística quais são os fatores existentes entre o meio externo e a estrutura interna da organização, mas sim mostra que vários fatores situacionais influenciam a dimensão estrutural e a eficiência da organização (HÖRISCH, 2013). Por isso, a presente pesquisa elenca como contingências, outros fatores que não só os impactos físicos nas organizações, pois, com isso, abrange a riqueza contextual das organizações e seus efeitos (SOUSA; VOSS, 2008). O uso dessa lente teórica nesta pesquisa contribui para o uso de outras perspectivas tal como sugerido na literatura (LEE, S.Y., 2012; SLAWINSKI et al., 2015) que não somente as comumente usadas: institucional e stakeholders (PINKSE; BOHNSACK; KOLK, 2014; ABREU; ALBUQUERQUE; FREITAS, 2014; OKEREKE; KÜNG, 2013; ZHU; GENG, 2013; HITCHCOCK, 2012; ENGAU; HOFFMANN, 2009; KOLK; PINKSE, 2005). Encontra-se também na literatura pesquisas orientadas para a estratégia climática que estruturam formas de se gerenciar os fatores climáticos nas empresas (WEINHOFER; BUSCH, 2013; PINKSE; KOLK, 2010; LEE, K.H., 2012; PESONEN; HORN, 2014; WEINHOFER; HOFFMANN, 2010; KOLK; PINKSE, 2004; BOCKEN et al., 2012; BOIRAL, 2006). Entretanto, essas estruturas (frameworks) possuem uma construção dispersa e complexa para a assimilação de gerentes e diretores de empresas. Uma organização conceitual em torno do quê e de como gerenciar as emissões e pegadas carbônicas deve ser vista como necessária a fim de integrar a extensão desse gerenciamento de carbono. Sendo assim, a presente pesquisa evidencia a relação entre o gerenciamento de risco e o gerenciamento de carbono da organização que explica a efetividade das ações adotadas pelas empresas neste contexto climático. Dessa forma, o uso da teoria da contingência para estruturar uma proposta de gerenciamento pelas organizações faz com que a presente pesquisa tenha caráter inédito e de importante valor de contribuição para a literatura internacional. Ao propor a relação entre vulnerabilidade e incertezas sobre riscos climáticos (GASBARRO; PINKSE, 2015) e gerenciamento estratégico climático, a presente pesquisa identificará quais benefícios que não os financeiros (HOFFMAN, 2005) os gestores percebem. Dessa forma, uma contribuição da pesquisa foi entender como o comportamento (risco versus estrutura de gerenciamento) das organizações neste contexto de mudança climática explica a percepção dos benefícios ao adotar práticas de baixo carbono. 16 A literatura dá pouca atenção para a relação entre práticas operacionais de baixo carbono (BÖTTCHER; MÜLLER, 2015) e benefícios advindos dessas ações (HOFFMAN, 2005). A presente pesquisa pode contribuir por meio de seus resultados às novas oportunidades e incentivos a execução de práticas operacionais de baixo carbono e formas diferentes de gerenciamento estratégico climático (GASBARRO et al., 2014; SCHOLTENS; KLEINSMANN, 2011), relacionando-os a outros possíveis benefícios que não sejam somente os estritamente econômicos (HOFFMAN, 2005). Assim, gerentes e diretores se sentirão encorajados e dispostos a praticarem ações de reduções de CO2 (BOIRAL; HENRI; TALBOT, 2012; WAHYUNI; RATNATUNGA, 2014; BOIRAL, 2006). Ainda, em relação aos benefícios, encontram-se na literatura internacional pesquisas que estudam as influências, as pressões e modo de se governar no contexto de mudança climática, dando pouca atenção aos benefícios alcançados por empresas ao agir em tal contexto, e quando os fazem sempre se voltam para os benefícios estritamente econômicos (BÖTTCHER; MÜLLER, 2014; BOIRAL; HENRI; TALBOT, 2012; SCHULTZ; WILLIAMSON, 2005; BOIRAL, 2006; WANG; LI; GAO, 2013; ZANG; WANG, 2014; WANG et al., 2013; KOLK; LEVY, 2001; FAHIMNIA et al., 2013; SCHOLTENS; KLEINSMANN, 2011; SLAWINSKI et al., 2015). Entretanto, como essa pesquisa usará os benefícios elencados por Hoffman (2005), os resultados podem fornecer novas evidências a partir da percepção dos benefícios advindos de ações estratégicas de carbono executadas pelas organizações. Wang, Li e Gao (2013) afirmam que tendo em vista as particularidades das regulamentações e da estrutura econômica de cada país, é justo de se supor que a relação entre emissão de gases do efeito estufa e o desempenho financeiro da empresa variem de acordo com cada país. Alicerçando ainda mais o raciocínio da característica única de cada país, Lee, K.H. (2012) indica que existem poucos estudos endereçados as atividades estratégicas de gestão de carbono em países em desenvolvimento, assim há a necessidade de melhores entendimentos das estratégias de carbono em diferentes contextos. Dessa maneira, como a presente pesquisa possui estudo de casos de empresas situadas no Brasil, os resultados encontrados por meio delas podem ser relevantes para o estado da arte do tema em questão. Portanto, ao se detectar a lacuna teórica de pesquisa sobre mudança climática e ao se apresentar as justificativas teóricas e práticas do presente estudo, é necessário esclarecer a estrutura da pesquisa e fundamentar os conceitos de gerenciamento de fatores climáticos. 17 1.4. ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO A presente pesquisa se estrutura nos seguintes capítulos: fundamentação teórica, método de pesquisa, resultados alcançados, discussões dos resultados e conclusão do estudo. No Capítulo 2 são apresentados os conceitos teóricos que sustentarão o desenvolvimento da pesquisa. No Capítulo 3 é apresentado o método de pesquisa, no qual os conceitos metodológicos e o passo-a-passo da pesquisa estão presentes. A partir deste capítulo, a pesquisa se encaminhará para seu final, no qual o Capítulo 4 se destina à apresentação dos resultados e o Capítulo 5 à discussão dos resultados encontrados. A pesquisa se encerra com o Capítulo 6, no qual as conclusões do estudo são apresentadas bem como as contribuições teóricas e as limitações encontradas durante a pesquisa. 18 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Neste capítulo são apresentados os conceitos que sustentam as escolhas das varáveis de pesquisa e que contribuem para as discussões dos futuros resultados encontrados no presente estudo. Na primeira seção discute-se o gerenciamento contingencial de riscos climáticos e como as organizações se comportam diante de eventos climáticos severos. Na segunda seção, discute-se o gerenciamento de carbono e as práticas operacionais de baixo carbono, apresentando-o conforme os conceitos da teoria da contingência. Na última seção, apresentam-se possíveis benefícios percebidos por elas ao adotarem tais práticas. 2.1. GERENCIAMENTO CONTINGENCIAL DE RISCOS CLIMÁTICOS Presentes desde o início da revolução industrial e com acentuado crescimento desde então, as emissões de gases do efeito estufa (GEE) possuem forte relação com o aumento de temperatura da Terra (IPCC, 2014). Segundo Slawinski et al. (2015), os níveis de emissão chegaram ao ponto em que a partir de agora impactos físicos serão observados em grande escala. Assim, as mudanças climáticas tornaram-se fontes de desafios para as organizações e a tendência é que só aumentem (WINN et al., 2011). Os desafios climáticos são esperados de forma diferente pelos diversos setores econômicos existentes e pelos diversos locais geográficos do mundo (WINN et al., 2011). Por isso, algumas empresas passaram a agir proativamente neste contexto buscando reduzir suas emissões, mensurando-as e declarando-as à sociedade (GHG PROTOCOL, 2015; CDP, 2016a). O estudo de Slawinski et al. (2015) mostra ainda que apesar dos esforços, os índices absolutos de emissão de CO2 não reduziram. A esse fato, os autores justificam que isso acontece porque as reduções de emissões acontecem por melhoria de eficiência produtiva ou diminuição da produtividade, ou ainda pela forma de medição, que deveria ser em termos absolutos e não por unidade produzida. Assim, mesmo que as organizações procurem reduzir suas emissões, elas não concretizam de fato ações para mitigação/adaptação, tampouco percebem os riscos climáticos que podem enfrentar. Portanto, as organizações estão suscetíveis a presenciar esse contexto climático, ainda que incerto e de difícil previsão dos impactos (WINN et al., 2011). Mas suas influências são reconhecidas como as maiores impactantes na estratégia corporativa, não somente na consciência de riscos, mas também na vulnerabilidade de enfrentá-los (GASBARRO; PINKSE, 2015). Assim, o gerenciamento de riscos climáticos passa a ser de grande valia para 19 os gestores, ainda mais quando existe essa dinâmica contingencial de fatores de mudanças climáticas ao longo do tempo (SOUSA; VOSS, 2008). Ao passo que o ambiente externo aumenta suas incertezas, mais informações devem ser gerenciadas pelos gestores (GORDON; NARAYANA, 1984). Dessa forma, segundo Sousa e Voss (2008), a teoria da contingência diz que as organizações adaptam suas estruturas a fim de manter o ajuste com as mudanças dos fatores contextuais. No contexto de mudanças climáticas pode-se utilizar a mesma lógica, ao perceberem incertezas do meio, os gestores devem procurar instituir nas organizações estratégias de mudanças climáticas capazes de lidar com suas expectativas de estado futuro bem como suas percepções sobre as incertezas de tais estados futuros (GORDON; NARAYANA, 1984; WINN et al., 2011). Com isso, ao se deparar na literatura com as dificuldades que organizações possuem em avaliar seus riscos e sua inação em termos de reduções de emissões (GASBARRO; PINKSE, 2015; SLAWINSKI et al., 2015), o presente trabalho vai ao encontro da necessidade de entender como as organizações se estruturam para prever, responder e se adaptar ao contexto de mudanças climáticas (WINN et al., 2011). As variações encontradas nas características organizacionais refletem as estratégias adotadas pelos gestores para combater esses graus de incertezas percebidos (GORDON; NARAYANAN, 1984). Portanto, o uso da teoria da contingência por essa pesquisa é capaz de contribuir para o entendimento do gerenciamento dos riscos climáticos nas operações industriais (SOUSA; VOSS, 2008). O gerenciamento de riscos climáticos tem sido visto pela literatura como aquele relacionado aos impactos físicos (WINN et al., 2011; GASBARRO; PINKSE, 2015). Por isso, os autores Winn et al. (2011) focam em sua pesquisa teórica os conceitos de gerenciamento de crises, riscos e mudança adaptativa. Basicamente, o foco nos imediatos desastres acometidos pela organização (crises), na identificação, análise e percepções de eventos (riscos) e por fim, no mecanismo da organização de se adaptar tanto interno quanto externamente (adaptação) podem ser enxergados como uma vantagem pelas oportunidades surgidas a partir de seus gerenciamentos. Mas outras fontes de contingência podem surgir desses eventos climáticos (SCHULTZ; WILLIAMSON, 2005) e que são sustentados pela teoria da contingência (SOUSA; VOSS, 2008). Assim, novas leis e regulamentações climáticas podem influenciar o gerenciamento estratégico das organizações (HITCHCOCK, 2012; OKEREKE; KÜNG, 2013; LO, 2010), custos podem surgir e afetar o gerenciamento das operações da empresa bem como afetar as iniciativas de mitigação/adaptação (BURRITT; SCHALTEGGER; ZVEZDOV, 2011; SLAWINSKI et al., 2015), novas tecnologias que visam reduzir as 20 emissões e que devem ser adquiridas diante das exigências de mercado (PLAMBECK; 2012; ABEN; HARTLEY; WILKENING, 2010), além do acesso aos recursos naturais e dificuldades de se adaptar em tal contexto estudado (SMITH, 2013; HAVERKORT; VERHAGEN, 2008). Dessa forma, atende-se às características da teoria da contingência descritas na literatura, a de identificar um conjunto limitado de fatores contingenciais para estudos organizacionais que são relevantes para os profissionais da área (SOUSA; VOSS, 2008). Assim, tendo em vista que as incertezas percebidas pelos gestores afetam as características de informações coletadas por eles (GORDON; NARAYANAN, 1984), a presente pesquisa utiliza como primeira variável de estudo, a percepção de riscos climáticos descritas em Gasbarro e Pinkse (2015). Assim, os autores Gasbarro e Pinkse (2015) examinaram em seu estudo empresas do setor de gás e óleo para saber como elas interpretam os eventos climáticos em termos de consciência e vulnerabilidade de prevenção para se adaptarem ao contexto do clima. O resultado que encontraram foi a definição de uma tipologia de adaptação ao clima de acordo com a percepção de risco pelas organizações, sendo elas: preventivo, reativo, continuado e deferido. Uma vez que o presente estudo procura entender como fatores contingenciais climáticos são gerenciados internamente e como são explicados benefícios ao adotar práticas operacionais de baixo carbono a partir desse gerenciamento, usa-se como primeira variável de pesquisa a tipologia definida na literatura (GASBARRO; PINKSE, 2015). Destaca-se que o objetivo do presente estudo não é discutir a diferença entre adaptação e mitigação, visto que não se quis restringir possíveis achados de empresas que adotam práticas de baixo carbono para se adaptar ao contexto climático e mitigar suas emissões ao mesmo tempo. Sendo assim, os quatros tipo de comportamento frente aos riscos climáticos percebidos são descritos a seguir (GASBARRO; PINKSE, 2015): a) Preventivo: são organizações bem conscientes das mudanças físicas induzidas pelo clima e avaliam sua vulnerabilidade como alta. Elas identificam mudanças geográficas locais em relação a seus ativos e possuem gerenciamento de risco e planos de contingência; b) Reativo: são aquelas que experimentaram diretamente as mudanças físicas induzidas pelo clima. Elas não estão preparadas, mas declaram uma alta percepção de risco climático. Transformam os impactos sofridos em perdas financeiras; 21 c) Continuado: são organizações localizadas em áreas sujeitas a condições extremas naturais. Essa categoria possui estratégia de risco focada nas condições naturais do ambiente, incluindo monitoramento de risco, avaliação, bem como emergência e planos de continuidade dos negócios; d) Deferido: empresas que não implementam medidas de adaptação e não pretendem fazer tão cedo. Suas operações estão localizadas em áreas menos afetadas pelo clima ou impactos físicos não são prováveis de ocorrer dentro de um período relevante para as atividades do seu negócio. E se o comportamento de risco climático é considerado como a primeira variável deste estudo como forma de classificar as organizações estudadas, deve-se então esclarecer quem são as variáveis relativas ao contexto para entender como as contingências climáticas são monitoradas pelas empresas (SOUSA; VOSS, 2008). Assim, apresenta-se a seguir contingências climáticas que o ambiente externo exerce sobre a empresa, evidenciando que o contexto de mudanças climáticas produzem efeitos sobre a empresa. Nesse constructo da variável contextual estabelecida como requisito pela literatura (SOUSA; VOSS, 2008), destaca-se primeiramente quais são os fatores considerados por este estudo e que estão relacionados com o contexto de mudança climática. Sendo assim, a organização terá pela frente desafios que contemplam escassez de recursos naturais, que acarreta além de uma disponibilidade menor, também com acesso difícil e por vezes, restrito a eles (SMITH, 2013; HAVERKORT; VERHAGEN, 2008). Além desse apelo natural, a empresa encarará novos desenvolvimentos tecnológicos, tendo que optar por ações alternativas ou esperar por novos avanços na linha de redução de carbono (BUSCH; HOFFMANN, 2007; LEE, S.Y., 2012; PLAMBECK; 2012; ABEN; HARTLEY; WILKENING, 2010). Ainda, levam-se em conta os fatores sociais e políticos, uma vez que questões de demanda podem se alterar, tanto em volume como em preferências e padrões, as regulamentações podem exigir impostos, custos extras poderão surgir, mudando dessa forma a maneira das empresas atuarem globalmente (BUSCH; HOFFMAN, 2007; JESWANI; WEHRMEYER; MULUGETTA, 2008; CHOI, 2013; HITCHCOCK, 2012; OKEREKE; KÜNG, 2013; LO, 2010; BURRITT; SCHALTEGGER; ZVEZDOV, 2011; SLAWINSKI et al., 2015). Resumidamente, o grupo de fatores contingenciais deste primeiro constructo é definido por: escassez de recursos naturais, acesso restrito aos recursos naturais, postura frente às regulamentações existentes, monitoramento da variação de demanda, aquisição de 22 avanços tecnológicos para a redução de emissões de carbono e avaliação de custos e impostos climáticos. Entretanto, há a necessidade de monitoramento pelas organizações destas contingências climáticas. Como forma de entender como as empresas gerenciam essas contingências e se de fato elas possuem algum tipo de mecanismo de gerenciamento para tais contingências, utiliza-se textos da literatura para tal constatação. Assim, o que é tratado na literatura varia desde o gerenciamento de risco, o qual trata de identificação, avaliação e três diferentes respostas (redução de riscos climáticos, prevenção de riscos climáticos e transferência de riscos climáticos) de modo a evitar danos à empresa (WEINHOFER; BUSCH, 2013) passando pela delimitação das fronteiras entre mudança tecnológica, sistema sócio técnico - conjunto de regras para design técnico, regras de desenvolvimento de mercado e regulamentações desses mercados - e avaliação das capabilidades empregadas na empresa (PINKSE; KOLK, 2010). A partir deste momento, a pesquisa se encontra fundamentada na sua primeira variável a de classificar os objetos de estudo em uma escala de percepção de risco climático e como a organização monitora esses riscos climáticos. Entretanto, da mesma forma que a percepção do ambiente afeta as informações coletadas pelas organizações, essa mesma percepção afeta também as estruturas internas organizacionais (GORDON; NARAYANAN, 1984). Por isso, ainda deve-se estruturar este estudo quanto às variáveis resposta e desempenho (SOUSA; VOSS, 2008), levando em consideração o gerenciamento de carbono da organização de acordo com a teoria da contingência (HÖRISCH, 2013; VOLBERDA et al., 2012; DRAZIN; VAN DE VEN, 1985; GORDON; NARAYANAN, 1984). Portanto, cabe-se fundamentar a partir de agora como as contingências climáticas afetam as organizações e como são transformadas em elementos para a estruturação de seu gerenciamento de carbono, o qual resultará em adoção de práticas operacionais de baixo carbono. 23 2.2. GERENCIAMENTO DE CARBONO Esta seção tem como objetivo fundamentar os conceitos de gerenciamento de carbono, que são estrutura de gerenciamento de carbono, práticas operacionais de baixo carbono e monitoramento e controle de emissões, para o entendimento de como as empresas estruturam seu gerenciamento neste contexto climático. 2.2.1. Estrutura de Gerenciamento de Carbono As estratégias empresariais voltadas para mudança climática ganham importância cada vez maior no âmbito organizacional desde a última década (KOLK; PINKSE, 2004; RENUKAPPA et al., 2013). Tanto o contexto alarmante dos acontecimentos e riscos climáticos (IPCC, 2014), bem como o olhar atento das autoridades para combater os altos níveis de emissões de carbono e de outros stakeholders envolvidos - ONG’s, investidores, fornecedores e clientes - (DUNN, 2002; KOLK; PINKSE, 2007; RENUKAPPA et al., 2013) conduzem as empresas a adotarem estratégias visando diminuir seus impactos climáticos e a explorarem as oportunidades e benefícios advindos das atividades que realizam em suas operações industriais. Para tanto, algumas pesquisas científicas exploram essa perspectiva de estratégia climática como um caminho necessário e benéfico para as empresas. Em um primeiro momento, vê-se a necessidade de estabelecer uma estratégia para gerenciamento das contingências climáticas voltada para as atividades internas da empresa, mas sem perder o foco estratégico externo dela. Dessa forma, a definição de estratégia empresarial de carbono segundo Lee, S.Y. (2012) é a seleção do escopo e nível de suas atividades de gerenciamento de carbono em resposta às mudanças climáticas. Essas atividades devem considerar a inclusão do comprometimento na redução das emissões, melhorias em processos e fornecimento, melhorias nos produtos, desenvolvimento de novos negócios e mercados, envolvimento organizacional interno e desenvolvimento de relações externas. Uma vez que as organizações industriais passam a se depararem com eventos climáticos, a teoria da contingência fornece uma explicação para a forma com que essas organizações devem agir e encarar tais eventos. Segundo Hörisch (2013), a teoria da contingência não estabelece o melhor caminho para a empresa seguir, mas sim enfatiza a importância e a capabilidade de uma organização de adaptar suas estruturas internas às contingências externas. Para Drazin e Van de Ven (1985), é central para a teoria da contingência a proposição de que estrutura e processo de uma organização devem se ajustar ao seu contexto 24 organizacional, seja para sobreviver ou para ser efetiva. Assim, os bons desempenhos dessas estratégias resultam de uma adequada resposta de estrutura e de gerenciamento organizacional de acordo com as contingências ambientais encaradas pela empresa (VOLBERDA et al., 2012). Portanto, no presente trabalho, será tratada uma definição de gestão estratégia climática sob a perspectiva da contingência para que ela sirva como um guia no desenvolvimento da pesquisa. Assim, a definição de estratégia climática é o planejamento de como monitorar e identificar as fontes de emissão por um caminho que leve a visualizar o atual impacto da empresa ao meio ambiente (WAHYUNI; RATNATUNGA, 2014) pelas diferentes atividades internas e externas que ela executa, passando pelo estabelecimento de ações e metas de melhorias internas, se estendendo até as relações com clientes e fornecedores (LEE, S.Y., 2012) como um caminho ideal para ajustar seu gerenciamento de atividades com as contingências climáticas, gerando como resultado satisfatório (desempenho) (DRAZIN; VAN DE VEN, 1985) uma vantagem competitiva, tanto em novos mercados quanto na obtenção de maiores benefícios na oferta de produtos com aspectos de carbono (SCHULTZ; WILLIAMSON, 2005). A importância da gestão de carbono está alicerçada ao gerenciamento contingencial, pois oportunidades aparecerão dos riscos de eventuais acontecimentos climáticos além das restrições de acesso aos variados tipos de recursos (financeiro, fontes de energia e matérias- primas) (SCHULTZ; WILLIAMSON, 2005). Para isso, a execução de ações que reduzem a pegada carbônica, guiando a resultados que não só atendem as possíveis regulamentações existentes, mas também que alcancem melhor posicionamento competitivo e lucros se tornam características de uma empresa proativa e do correto gerenciamento frente às contingências ambientais (WAHYUNI; RATNATUNGA, 2014; SCHNEIDER; WALLENBURG; FABEL, 2014). Outro desafio da gestão de carbono para que os riscos da implementação dessa gestão sejam minimizados, está no fato de que ela também deve ser acompanhada e entendida tanto pela alta administração quanto aos níveis mais operacionais da empresa, tais como os compradores, e da adequada coordenação entre departamentos a fim de que suas políticas sejam traduzidas em estratégias de sucesso (CORREIA et al., 2013; SCHNEIDER; WALLENBURG; FABEL, 2014). Essa coesão necessária entre departamentos e gerência é enfatizada pela teoria da contingência, a qual diz que os membros da organização são quem decidem sobre se e como reagir aos fatores contingenciais (HÖRISCH, 2013). 25 Em vista disso, pode-se perceber que o gerenciamento estratégico no contexto de mudanças climáticas tem papel fundamental nas empresas, pois os riscos inerentes às suas atividades podem ser minimizados e vantagens competitivas concretizadas (WINN et al., 2011), isso se ela possuir uma estratégia climática clara, ser proativa nas execuções dessas estratégias em suas operações e ainda manter-se alinhada em seus níveis hierárquicos por meio de políticas de mudanças climáticas sólidas, reagindo dessa maneira às contingências climáticas surgidas. Para elucidar a extensão e complexidade que o gerenciamento de carbono dentro de uma empresa, a presente pesquisa estrutura possíveis fatores encontrados na literatura a fim de que uma visão clara e sistêmica seja feita sobre o tema tratado (SOUSA; VOSS, 2008). Uma vez que a implementação da estratégica depende fortemente dos fatores contextuais (SCHNEIDER; WALLENBURG; FABEL, 2014), apresenta-se a seguir os fatores internos de gerenciamento que existem na relação empresa-meio ambiente (outside-inside) sob a ótica contingencial, como requisito para se compreender como as organizações agem em tal contexto (SOUSA; VOSS, 2008). Os fatores internos na empresa para que esta tenha capabilidade de agir no contexto climático estão relacionados com os conceitos da teoria da contingência presentes na literatura (HÖRISCH, 2013; VOLBERDA et al., 2012; DRAZIN; VAN DE VEN, 1985; GORDON; NARAYANAN, 1984). Dessa forma, a chamada estrutura de gerenciamento de cabrono se refere aos fatores que a organização deve gerenciar internamente a fim de que possa agir adequadamente aos fatores contingenciais climáticos enfrentados. O parágrafo seguinte mostra quais são os fatores organizacionais climáticos encontrados na literatura. Dessa forma, Renukappa et al. (2013) falam da importância de se trabalhar conjuntamente os fatores internos para que as estratégias de baixo carbono sejam implementadas com sucesso. Os fatores em questão são o comprometimento e o estabelecimento de uma liderança no gerenciamento de carbono, políticas escritas relacionadas à mudança climática, estabelecimento de estrutura de cargos da empresa relacionados aos aspectos de carbono, sistemas de recompensas para as iniciativas de redução de carbono, programas de treinamentos de funcionários e criação de um relatório de desempenho de emissões anual. Assim, o segundo grupo de fatores utilizados por este estudo é definido por: definição de uma liderança no gerenciamento de carbono, políticas climáticas claramente estabelecidas, estrutura de cargos relacionadas aos aspectos de carbono, sistema de recompensas para as iniciativas de redução de carbono, programas de treinamentos e criação de relatório anual. 26 Da mesma forma que há na literatura trabalhos para identificar a presença ou não de gerenciamento contingencial, destaca-se também a presença de trabalhos para entender a estrutura de gerenciamento de carbono. Porém, esses trabalhos encontrados na literatura, mesmo tratando do assunto mudança climática, tem-se uma dispersa construção em torno do quê e de como gerenciar as emissões e pegadas carbônicas. Além disso, eles abrangem de forma ampla e por vezes, pouco integrada a extensão desse gerenciamento. Sendo assim, faz-se necessário a estrutura de gerenciamento de carbono, desde a definição de metas e política, seguindo pelo gerenciamento de informação, pelo suporte gerencial, pelas direção, controle e implementação das atividades, finalizando pela comunicação interna e externa de seus resultados (LEE, K.H., 2012). A partir do estabelecimento dessa estrutura de gerenciamento, a formulação da estratégia passará pela identificação das oportunidades, ameaças, fraquezas e fortalezas que uma empresa precisa realizar para definir o quê e como executará suas ações estratégicas de mudança climática (PESONEN; HORN, 2014). Tal como explicado anteriormente, as variáveis relativas à estrutura de gerenciamento de carbono servirão como diagnóstico das empresas no estudo de casos proposto e que contribuirão para a obtenção de mais informações relativas às características de cada empresa. Por isso, a contribuição deste estudo é identificar as características de cada organização quando estas se deparam com as contingências climáticas. Portanto, ao apresentar o segundo constructo de variáveis do estudo que é entender a estrutura de gerenciamento de carbono, a presente pesquisa se estrutura sobre os conceitos da teoria da contingência (HÖRISCH, 2013; VOLBERDA et al., 2012; DRAZIN; VAN DE VEN, 1985; GORDON; NARAYANAN, 1984). E se as organizações devem se estruturar internamente para explorar da melhor forma suas capabilidades, deve-se identificar assim, que tipo de resposta ao meio externo ela realiza. Como forma de atender ao requisito da literatura de teoria da contingência de apresentar uma variável resposta (SOUSA; VOSS, 2008), apresenta-se os fatores operacionais na próxima seção do trabalho. 27 2.2.2. Práticas Operacionais de Baixo Carbono As práticas operacionais de baixo carbono estão relacionadas com o que a empresa adota com o objetivo de sobreviver ao contexto ou ser efetiva em suas ações, sendo divididos neste estudo em práticas operacionais de produto, processo e logística de baixo carbono (BÖTTCHER; MÜLLER, 2015). Segundo Böttcher e Müller (2015), construído sobre a definição de gerenciamento operacional sustentável, “o conceito de operações de baixo carbono (low carbon operations) é definido como sendo a integração de eficiência carbônica no planejamento, execução e controle dos processos de negócios da empresa para obter vantagem competitiva”. Tal como os autores afirmam em seu trabalho, os três tipos especificados de práticas de baixo carbono possuem uma elevada relevância para a mitigação de emissões de CO2 das empresas. Então, para ilustrar o entendimento dessas práticas, fez-se um quadro para elucidar as três práticas de baixo carbono encontradas na literatura. A fim de levantar os artigos científicos que sustentam essa relação, utilizou-se nos sistemas de buscas dos bancos de dados Web Of Science e Scopus palavras chave inglesas dentre elas: climate change, low carbon, carbon strategy, greenhouse gas emission, operations management, logistics, product, process, carbon emissions, carbon footprint, e por vezes, combinando-as entre si para especificar os resultados. Dessa forma, o Quadro 1 apresenta a alocação de cada artigo encontrado nas respectivas práticas tratadas por eles. Os artigos são brevemente descritos após a apresentação do quadro a fim de servirem como material para as futuras discussões do trabalho. Quadro 1: Literatura relativa à práticas operacionais de baixo carbono Fonte: Autor. Práticas Operacionais de Baixo Carbono Literatura Encontrada Produto Müller et al. (2014); Daneshi et al. (2014); Pourbafrani et al. (2014); Okereke; Küng (2013); Gasbarro; Rizzi; Frey (2014); Sharma; Henriques (2005). Processo Okereke; Küng (2013); Alkaya; Demirer (2014); Böttcher; Müller (2014); Wahyuni; Ratnatunga (2014); Correia et al. (2013). Logística Handler et al. (2014); Islam; Olsen (2014); Norlund; Gribkovskaia (2013). 28 O primeiro grupo de pesquisas encontradas na literatura está relacionado às práticas de Produto de Baixo Carbono. Dessa forma, quando se trata de produzir novos produtos com características específicas, a prática de plantações orgânicas levou Müller et al. (2014) a identificar reduções de emissões por meio de melhorias no plantio de kiwi com posterior aumento do lucro líquido devido ao produto ofertado ser considerado premium. Também, a redução de emissões foi identificada como consequência do design reciclável e mais leve da embalagem na produção de leite no Irã (DANESHI et al., 2014). Já o pré-tratamento tecnológico de produtos e subprodutos em uma biorefinaria localizada nos EUA, fez com que Pourbafrani et al. (2014) identificassem o potencial do etanol em substituir a gasolina como fonte de energia elétrica, reduzindo as quantidades de emissão de CO2 para a atmosfera. Na indústria de cimento, quatro das maiores produtoras européias buscam usar materiais alternativos para adição nos novos tipos de cimento. Com isso, os produtos conseguem: uma melhora na eficiência do processo, uma vez que as caldeiras trabalharão com maior eficiência energética; também, abrem oportunidade de novos mercados, pois terão maior apelo climático; e ainda, capacitam a empresa a influenciar as regulamentações tendo em vista as incertezas atuais (OKEREKE; KÜNG, 2013). E quando se trata dos stakeholders, empresas podem se beneficiar de uma melhor reputação, por isso Sharma e Henriques (2005) relatam que práticas de eco-desing e controle de poluição é uma forma de suavizar as críticas e diminuir as pressões dos stakeholders, mesmo com a ausência, por vezes, de uma regulamentação definida na indústria. Por fim, quando uma empresa olha para os riscos físicos e as regulamentações climáticas que a cercam, ela pode ter um efeito positivo de suas ações proativas, pois alcançam vantagem competitiva e exploram ainda um pioneirismo em novos mercados (GASBARRO; RIZZI; FREY, 2014). O segundo grupo se refere as práticas relacionadas ao Processo de Baixo Carbono. Em Alkaya e Demirer (2014), os autores falam que há vantagens econômicas por implementar produção sustentável na indústria têxtil, estando estritamente relacionadas com os custos envolvidos nos processos fabris. Os autores concluem que as economias oriundas dessas ações nos processos de produção são tão expressivas que levam a indústria turca a ter condições maiores de competitividade e ainda reconhecimento dos stakeholders quando comunicadas. Outro destaque, Müller et al. (2014) em sua pesquisa com plantação de kiwi verificaram também a alteração de certos fertilizantes e suas quantidades no processo de adubação das frutas o que gerou, não só o produto premium, mas também agregação de valor nos processos produtivos. Já nas empresas pesquisas por Wahyuni e Ratnatunga (2014), os autores detectaram as práticas que as empresas do setor de energia realizaram em seus 29 processos. O primeiro é que as empresas buscaram se envolver nas discussões de regulamentações a fim de obter permissões de repassar certos custos ao consumidor final, sendo que ainda, uma delas trabalha com seus clientes finais explicando formas de economizarem energia e alertando sobre as consequências climáticas. Os autores destacam por fim, a obtenção de novas formas de geração de energia que emitem menos CO2 na atmosfera. Em estudo já destacado anteriormente, uma das empresas pesquisadas por Okereke e Küng (2013) ressalta que a troca de combustível para caldeira, reduziu as emissões e ainda manteve os atuais níveis de eficiência do processo de produção. Já as empresas possuidoras de um sistema de gestão energética, se beneficiam de um processo de baixo carbono mais eficiente o que acarreta em bom desempenho econômico (BOTTCHER; MULLER, 2014). Por fim, os compradores nas empresas têm potencial de realizarem suas atividades optando por matérias primas que levam os processos industriais a terem maior eficiência energética ou ainda por aquelas renováveis, que também reduzem as emissões. Caso a empresa possua uma gestão estratégica sobre mudança climática bem implementada, os próprios compradores terão a consciência de seu papel nas reduções de CO2 (CORREIA et al., 2013). O terceiro grupo de pesquisas mostra as práticas que se referem à Logística de Baixo Carbono. Para Bottcher e Muller (2014), as empresas podem dar maior importância para as práticas de processo do que as de logística, pois eles evidenciaram um maior impacto das práticas de processo no desempenho de carbono. Neste grupo, vê-se o trabalho de Norlund e Gribkovskaia (2013) que otimizaram as velocidades das embarcações em uma offshore da empresa Statoil, chegando a conclusão que houve uma economia de combustível sem a necessidade de novas embarcações, atendendo as programações de abastecimento e descarregamento delas. E outro estudo, Islam e Olsen (2014) estudaram o compartilhamento de transporte, identificando como pontos de melhoria operacional, a diminuição de custos, monitoramento do uso de combustível e diminuição do número de caminhões rodando sem nenhuma carga. E, por fim, Handler et al. (2014) detectaram melhora na produtividade quando compararam os dados de um transporte de trem bimodal com outro 100% caminhão. Dessa forma, destaca-se a pertinência de estruturar os constructos à teoria da contingência. Portanto, o segundo requisito de variável contingencial descrita como necessária na literatura (SOUSA; VOSS, 2008) é a identificação de práticas operacionais de baixo carbono (resposta). 30 2.2.3. Monitoramento e Controle de Emissão Entretanto, ao executar suas práticas as empresas inevitavelmente emitem para a atmosfera quantidades de CO2. Essa poluição emitida tem aumentado ano após ano a níveis de concentração nunca antes registrados (IPCC, 2014). Dessa forma, as práticas de baixo carbono anteriormente citadas têm seu papel dentro das organizações essenciais. Com isso, a empresa deve olhar atentamente para os resultados de suas operações quanto à saúde humana (BUSCH; HOFFMANN, 2007) e ao meio ambiente (JI, GUNASEKARAN; YANG, 2014). Dessa maneira, promover-se-á a redução de emissões e o controle delas por meio do desenvolvimento de novos produtos que visam à diminuição de emissão e que se traduzem em eficiência energética, pelas buscas de matérias primas renováveis (OKEREKE; KÜNG, 2013; MÜLLER et al., 2014; GASBARRO; RIZZI; FREY, 2014; POURBAFRANI et al., 2014), pela melhoria de seus processos industriais (GOPALAKRISHNAN et al., 2012; WEINHOFER; BUSCH, 2013; ALKAYA; DEMIRER, 2014; WAHYUNI; RATNATUNGA, 2014; DANESHI et al., 2014) e pelo estabelecimento de novas rotas e alternativas dos modais de transporte para a redução de emissão (RIGOT-MULLER et al., 2013; HANDLER et al., 2014; VALIDI et al., 2014) farão com que a postura da organização frente as mudança climáticas seja bem sucedida. E para entender como a empresa gerencia suas emissões de acordo com as práticas adotadas por elas, encontra-se na literatura textos que sustentam o modo de gerenciar da organização neste contexto. Assim, a organização deve se ajustar suas práticas operacionais quanto à profundidade de suas ações (WEINHOFER; HOFFMANN, 2010). Neste caso, os pesquisadores apresentam três tipos de gerenciamento: compensação das emissões de CO2, redução de CO2 ou independência de carbono. Mas ainda, não basta somente calibrar a profundidade de suas ações quanto às emissões, é preciso também entender como elas se comportam dentro e fora dos limites da organização (KOLK; PINKSE, 2004). Assim, os autores propõe a extensão destas ações também em três tipos: interno (empresa), vertical (cadeia de suprimentos) ou horizontal (através da cadeia). A fim de adicionar maiores evidências de como gerenciam esta extensão de práticas pelas empresas pesquisadas, a presente pesquisa adiciona esse constructo a presença ou não de inventário dos escopos 1, 2 e 3 (WRI; WBCSD, 2004). Portanto, o terceiro grupo de fatores é definido neste estudo por: pelo monitoramento de indicadores de emissão de CO2 equivalente, profundidade das ações realizadas pelas empresas e extensão dessas ações. 31 Entretanto, ao se gerenciar estrategicamente as ações de baixo carbono, empresas buscam obter benefícios dessas ações seja buscando novas oportunidades no mercado ou melhorando seu gerenciamento interno. Sendo assim, a continuação desta pesquisa passa pela identificação dos benefícios percebidos pela adoção de práticas de baixo carbono por empresas industriais, como resultado de um bom gerenciamento contingencial das mudanças climáticas. 2.3. BENEFÍCIOS AO ADOTAR PRÁTICAS DE BAIXO CARBONO No momento em que a organização executa seu planejamento estratégico em seus produtos, deve-se ponderar nas questões referentes aos benefícios e dificuldades de implementação de práticas de baixa emissão carbônica (BOCKEN et al., 2012). A empresa deve então manter-se sob o conceito de inteligência ambiental (BOIRAL, 2006), no qual ela tentará antecipar questões de aquecimento global de ordem tecnológica e científica, econômica, social e política regulatória ponderando-as em todo o gerenciamento interno de fatores climáticos a fim de alcançar os benefícios de uma postura proativa de sua gestão. Por isso, o gerenciamento de carbono é para muitos gestores fonte de incertezas e custos extras para a organização (BOIRAL; HENRI; TALBOT, 2012). Mas diante de tal visão, vê-se na literatura autores que garantem ao menos benefícios estritamente econômicos em suas pesquisas (BÖTTCHER; MÜLLER, 2014; BOIRAL; HENRI; TALBOT, 2012; SCHULTZ; WILLIAMSON, 2005; BOIRAL, 2006; WANG; LI; GAO, 2013; ZANG; WANG, 2014; WANG et al., 2013; KOLK; LEVY, 2001; FAHIMNIA et al., 2013; SCHOLTENS; KLEINSMANN, 2011). E se o gerenciamento de carbono pode garantir oportunidades aos negócios diante da adaptação no contexto climático (GASBARRO; RIZZI; FREY, 2014), a postura proativa nas atividades operacionais da organização também tem seu papel fundamental (WAHYUNI; RATNATUNGA, 2014) na obtenção de diferentes benefícios. Desse modo, a partir da postura proativa das empresas no contexto de mudança climática, Hoffman (2005) fala que há oportunidades para elas que buscam ser mais verdes que seus concorrentes. As empresas não devem encarar as mudanças climáticas como um problema científico ou social, elas devem se perguntar como e quando é melhor agir para alcançar bons resultados. Assim, ele enumera os aspectos que as empresas devem se perguntar, de modo que as respostas são os benefícios de se agir proativamente, totalizando sete categorias que serão descritas a seguir. O Quadro 2 mostra uma adaptação da tabela apresentada pelo autor em seu estudo, especificando em forma de questionamentos as sete 32 categorias de benefícios que podem ser alcançados caso a empresa opte por executar um gerenciamento estratégico no contexto de mudança climática. Portanto, tendo em vista a questão de pesquisa e os objetivos propostos, o presente estudo considera sob a perspectiva da teoria contingência, que o desempenho operacional (benefícios) da empresa dependerá dos ajustes no gerenciamento de carbono (anteriormente apresentados) presentes na relação contingencial empresa-meio ambiente, por isso, se faz a opção desta variável de estudo, descrita por Hoffman (2005), que contemple o resultado desse gerenciamento. Quadro 2: Benefícios de ações estratégicas no contexto de mudança climática BENEFÍCIOS Melhoria na Gestão de Riscos i. Há nas suas operações riscos devido às consequências climáticas e você sabe a implicação financeira dessa exposição? ii. Você sabe como quantificar suas emissões e os passivos financeiros que elas podem incorrer se um esquema de redução for estabelecido? Acesso às Novas Fontes de Capital i. Você sabe como conduzir o mercado de commodity de carbono e sabe dos subsídios do governo para esforços de redução de gases? Antecipação e Influência das Regulamentações Climáticas i. Você sabe monitorar e prever o desenvolvimento de regulamentações climáticas no seu país, estado e até internacionalmente? ii. Você pode influenciar a forma dessas regulamentações? Melhoria na Gestão de Recursos Humanos i. Seus empregados estão preocupados com as emissões de gases? ii. A redução voluntária de emissões melhoraria a moral, aumentaria a retenção de trabalhadores qualificados, diminuiria custos de recrutamento e treinamento de novos integrantes ou atrairia e reteria os mais qualificados? Identificação de Novos Mercados i. Há alternativas de produtos e processos que você poderia explorar que tornarão mais atrativo com a proliferação dos programas de redução de gases? ii. Há produtos ou serviços que sua empresa pode vender para outras que decidiram embarcar no voluntarismo de programas de redução de gases? Elevação da Reputação da Empresa i. Como a reputação de mercado da sua empresa melhorou ou piorou devido à sua postura em direção à redução de gases? ii. Você tem boas relações com constituintes chaves para cuidar da sua postura? Melhoria Operacional i. O que é eficiência energética para a suas operações e como você pode melhorá-las? ii. Você sabe como mensurar a produção de CO2 e também de outros gases do efeito estufa? iii. Você sabe avaliar as tecnologias ou alternativas para redução de emissão e o custo- benefício nos trade-offs associado a elas? Fonte: Adaptado de Hoffman (2005). 33 Com isso, caracteriza-se cada categoria de benefícios como sendo o desempenho de adoção de práticas de baixo carbono diante de contingências climáticas. Dessa forma, atende- se ao terceiro requisito de variáveis descritas na teoria da contingência (SOUSA; VOSS, 2008) a de definição de variável desempenho. Como forma de esclarecer do que se tratam esses benefícios, faz-se uma breve descrição de cada um deles. O benefício melhoria no gerenciamento de risco (Improving Risk Management), o autor retrata as perdas e os custos extras de magnitude bilionária que as empresas já tiveram, tendo sido afetadas por danos físicos às suas estruturas, devido às enchentes, inundações e tempestades e regulamentações governamentais para determinados setores da indústria. Atrelado a esse último aspecto, encontra-se também o benefício antecipação e influência das regulamentações climáticas (Anticipating and Influencing Climate Change Regulations), no qual o autor explora os possíveis benefícios advindos de novas regulamentações nos mercados de créditos de carbono e da criação de novos impostos, além da possível influência que o setor industrial pode exercer para que essas regulamentações sejam suavizadas. Por último, o benefício acesso a novas fontes de capital (Accessing New Sources of Capital), em que o autor relata diferentes maneiras de ter acesso ao capital, sendo por meio de incentivos diretos do governo, melhorias tecnológicas e operacionais e também pelo mercado de carbono, onde as empresas podem vender suas cotas de emissão. Hoffman (2005) ainda destacada outros benefícios: melhoria na gestão de recursos humanos (Enhancing Human Resource Management), identificação de novos mercados (Identifying New Market Opportunities) e elevação da reputação da empresa (Elevating Corporation Reputation). O primeiro fala sobre a adoção de práticas estratégicas de emissão de gases como uma forma de melhorar a moral interna da empresa, diminuir custos de contratação e treinamentos de novos integrantes e aumentar a produtividade no local de trabalho. O segundo benefício está relacionado à identificação de novos mercados, neste caso, a empresa pode produzir novas tecnologias e oferecer novos serviços voltados para a redução de emissão de gases (HOFFMAN, 2005). E o terceiro benefício a ser utilizada neste estudo é a elevação da reputação da empresa, na qual mesmo o autor ressaltando a dificuldade de quantificar ganhos, relata o exemplo de uma empresa de petróleo que evitou conflitos de interesses e se beneficiou de menores críticas e mais aceitação dos consumidores. Por último, certamente o benefício mais tangível, fácil de ser verificada e quantificada os seus benefícios, é a melhoria operacional (Improvement Operational). Assim, os benefícios descritos por Hoffman (2005) passam pela melhoria na eficiência energética, redução de custos operacionais através de verificação de vazamentos no processo produtivo, otimização 34 das frotas nos transportes de mercadorias e no desenvolvimento de novos modelos de construções. Portanto, as áreas e os questionamentos que levam as empresas a tomarem ações e alcançarem, por conseguinte, benefícios de reduzir a emissão dos gases do efeito estufa ficam esclarecidos neste estudo. A questão em torno dos benefícios de ações estratégicas de mudança climáticas pode ser defendida e explorada nas empresas, levando em conta a teoria contingencial. Uma vez que empresas têm como seu maior motivador o bom desempenho financeiro, elas deverão agir proativamente nas ações de redução de CO2 (BOIRAL, 2006; BOIRAL; HENRI; TALBOT, 2012; WANG; LI; GAO, 2013) a fim de alcançarem esse êxito. Para obter esse êxito em suas ações, elas deverão ajustar suas características internas e suas práticas às contingências ambientais (VOLBERDA et al., 2012). Portanto, o argumento de que agir nesse contexto de reduções de emissões se justifica por haver benefícios claros é sustentado e não o contrário como pode parecer (BOIRAL; HENRI; TALBOT, 2012; WANG; LI; GAO, 2013; SLAWINSKI et al., 2015), pois essas ações contribuem para aumentar a visibilidade da organização no mercado (NISHITANI; KOKUBU, 2012). Na pesquisa realizada por Slawinski et al. (2015), os autores elencam como fatores para inação das organizações neste contexto climático o curto prazo e a aversão à incerteza. Pode ser interessante para a presente pesquisa explorar empiricamente o artigo teórico publicado por esses autores. Nele, Slawinski e seus colegas defendem o ponto de vista que as empresas buscam recompensas de curto prazo (retorno financeiro, maiores vendas etc) e possuem aversão às incertezas (sobre clima, regulamentações etc), e que por isso, investimentos em infraestrutura e adequação de gerenciamento podem ser comprometidos. Neste caso, isso pode vir a contribuir para a pouca percepção de riscos climáticos e de benefícios que não os financeiros. Para sintetizar todo o constructo presente na seção de fundamentação teórica, a Figura 2 apresenta o raciocínio para o gerenciamento de fatores climáticos sob a ótica da teoria da contingência. 35 Figura 2: Gerenciamento de fatores climáticos sob a ótica da teoria da contingência Fonte: Autor. Dessa maneira, a fundamentação teórica apresentada estrutura-se de acordo com as variáveis sugeridas por Sousa e Voss (2008) para a aplicação da teoria da contingência em pesquisas de gestão de operações. A presente pesquisa possui assim uma variável contextual (contingências climáticas externas à organização), uma variável resposta (práticas operacionais a partir do gerenciamento de carbono) e uma variável desempenho (benefícios que não só os financeiros). Além disso, toda a estrutura gerencial proposta neste trabalho, comportamento sobre o risco climático e gerenciamento de carbono resultando em práticas operacionais e benefícios, é estruturada segundo os trabalhos encontrados na literatura sobre teoria da contingência (GORDON; NARAYANAN, 1984; DRAZIN; VAN DE VEN, 1985; SOUSA; VOSS, 2008; VOLBERDA et al., 2012). 36 3. MÉTODO DE PESQUISA Neste capítulo é descrito o método de pesquisa, o objeto de estudo e os procedimentos de coleta e análise de dados seguidos na pesquisa. 3.1. CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA Tendo em vista a questão de pesquisa e as justificativas para a contribuição acadêmica e preenchimento da lacuna da literatura, a escolha do método de entrevistas se faz mais adequada (OKEREKE; KÜNG, 2013). Por ser utilizada a teoria da contingência como perspectiva de análise do gerenciamento de carbono, há duas justificativas para a escolha do método proposto. A primeira está relacionada à riqueza de detalhes que um estudo qualitativo pode fornecer sob a perspectiva contingencial e a segunda, está no fato de que essa teoria não necessariamente precisa do uso de técnicas matemáticas para análise de resultados (SOUSA; VOSS, 2008). Ainda, o uso do método de entrevistas torna-se adequado para esta pesquisa também pelo fato de que são os membros das organizações quem decidem sobre os rumos e como reagir às contingências ambientais (HÖRISCH, 2013; RUSSO; HARRISSON, 2005). Dessa forma, a riqueza de detalhes descrita pelas atividades de gestores e especialistas relatadas nas entrevistas possibilita a formulação de proposições de pesquisa para futuros estudos (FAES; MATTHYSSENS, 2009). Como este estudo é qualitativo e empírico, podem-se basear as etapas de pesquisa de acordo com o método estudo de caso, em que também há entrevistas e possui características semelhantes. Assim, da mesma forma em que o estudo de caso força o pesquisador a construir uma estrutura conceitual, pensando com cuidado e seletivamente os constructos e variáveis a serem incluídas no estudo (VOSS; TSIKRIKTSIS; FROHLICH, 2002), o método de entrevistas, por ser também um método qualitativo, possui tal característica. No caso desta pesquisa foram trabalhados os conceitos de gerenciamento de carbono (interno e externo), práticas operacionais de baixo carbono e benefícios percebidos. Outra fonte de dados presente no método estudo de caso é a coleta de dados secundários (VOSS; TSIKRIKTSIS; FROHLICH, 2002). Sendo assim, dados secundários presentes em relatórios de sustentabilidade e site da empresa serviram como fonte adicional de informações às entrevistas realizadas com os especialistas de cada empresa estudada (OKEREKE; KÜNG, 2013; GALBREATH, 2014). Portanto, o método de entrevistas também pode utilizar essas fontes secundárias tal como no estudo de caso em que também há relevância em coleta de dados secundários. 37 Já o constructo comportamento de risco presente nesta pesquisa, que contribuiu para a identificação do tipo de risco que a organização percebe, também possui carácter qualitativo. Nesse caso, a presente pesquisa segue a caracterização de método encontrada na literatura, na qual os pesquisadores utilizaram a base de dados do Carbon Disclosure Project (CDP) para construir sua tipologia de risco organizacional (GASBARRO; PINKSE, 2015). Dessa forma, tal como os pesquisadores (GASBARRO; PINKSE, 2015) utilizaram a base de dados, a presente pesquisa utilizou a mesma base de dados e a tipologia criada por eles para identificar o comportamento de risco climático das empresas pesquisadas. Essa base de dados escolhida se mostra adequada para ser utilizada por uma grande quantidade de empresas que respondem ao questionário anualmente sobre emissões de CO2 (CDP, 2016b). Outro fato que respalda a escolha é que vários artigos encontrados na literatura se utilizam dessa base de dados para a realização de suas pesquisas como dado primário (JIRA; TOFFEL, 2013; GASBARRO; PINKSE, 2015; SULLIVAN, 2009; GASBARRO; RIZZI; FREY, 2014; STANNY; ELY, 2008; MATISOFF, 2013; LUO; LAN; TANG, 2012; STANNY, 2013; BURRITT; SCHALTEGGER; ZVEZDOV, 2011). 3.2. OBJETO DE ESTUDO As entrevistas com os gestores foram realizadas em seis empresas de vários setores econômicos. Esse número de empresa está em consonância com o número de empresas investigadas em outros estudos do tema mudança climática (OKEREKE; KÜNG, 2013; BURRITT; SCHALTEGGER; ZVEZDOV, 2011; ABEN; HARTLEY; WILKENING, 2010). Para especificar as escolhas feitas, os objetos de estudo se restringem às grandes empresas, pois elas possuem maiores recursos para medir e reportar suas emissões de gases do efeito estufa do que pequenas empresas, tanto que elas costumam responder os questionários de programa de mudança climática com maior frequência (BEN-AMAR; MCLLKENNY, 2014). Dentre esses programas de divulgação de relatórios climáticos, as empresas escolhidas fazem parte do programa Carbon Disclosure Program que é um programa internacional de iniciativa voluntária, com objetivo de promover a melhoria no gerenciamento de carbono pela divulgação de suas emissões, descrições de suas estratégias de carbono e de riscos e oportunidades relativas ao carbono (MATISOFF, 2013). Ainda, segundo Lee, S.Y. (2012), há dois fatores que também devem ser levados em consideração em relação à estratégia climática nas empresas. O primeiro é o fato de que as grandes empresas estão expostas a mais regulamentações e pressões dos stakeholders, tornando-as mais focadas na redução de suas emissões; e o segundo ponto é que estas mesmas 38 empresas por serem grandes corporações possuem maiores recursos financeiros para investirem nas atividades estratégias de carbono. Dessa forma, os aspectos de estratégia para práticas de baixo carbono são melhores trabalhadas em empresas de grande porte por possuírem maiores recursos financeiros (SULLIVAN, 2009; BOIRAL, 2006; BOIRAL; HENRI; TALBOT, 2012; WANG; LI; GAO, 2013). Portanto, a presente pesquisa escolheu como objeto de estudo seis empresas de grande porte de diferentes indústrias. Outro ponto levado em consideração na escolha do objeto de estudo foram as diferenças existentes nas características das indústrias, pois elas geram diferentes efeitos nas escolhas das estratégicas sobre carbono (LEE, S.Y., 2012; GASBARRO; PINKSE, 2015). Dessa forma, as seis empresas escolhidos podem ser dividas em setor agropecuário, alimentos, varejo, elétrico e eletrônico. O setor agropecuário brasileiro é destaque mundial e os produtores instalados no país exportam para mais de 180 países do mundo. Este setor na economia brasileira gira em torno de USD 76 bilhões anualmente (MAPA, 2010). A agropecuária brasileira representa 23% do total do PIB nacional, significando uma produção de riquezas para o país em torno de R$ 1,1 trilhão (PORTAL PLANALTO, 2015). O setor é tão importante para o país que houve um aumento de 35,67% nos financiamento do Programa Agricultura de Baixa Emissão de Carbono, isso representa 105% da meta para florestas plantadas, 80% para plantio direto e 40% para recuperação de pastagens degradadas na safra 2014/2015 (MA, 2016). O setor de alimentos no Brasil ocupa 13% da mão de obra formalmente registrada no país (SEBRAE, 2012). Ainda, o setor tem sua importância tendo em vista que o valor de mercado de empresas instaladas no país aumento R$ 36,8 bilhões em 2014 em 2015 na comparação com 2014 (ESTADÃO, 2015). Até novembro de 2011, a indústria de alimentos representava 43% dos projetos de crédito de carbono no Brasil, sendo que dos 198 projetos de redução de emissão registrados no país, 85 eram deste setor (CNI; ABIA, 2012). O setor de varejo possui um número crescente de empresas que aprecem como as maiores do Brasil (FGV, 2016). A principal referência de volume de vendas deste setor está vinculada com o consumo das famílias, e neste caso, o setor de varejo representa cerca de 55% do PIB nacional (SBVC, 2015). O impacto que este setor promove no meio ambiente é de 5 a 10% dos impactos totais gerados no país (ABMAPRO, 2016). O setor de eletrônico mesmo com a retração econômica presenciada, o setor faturou R$ 148, 3 bilhões em 2015 (ABINEE, 2015). Ao tratar de avanços tecnológicos, este setor recebe atenção do governo federal devido à sua aplicação em vários programas estabelecidos como estratégicos para a ciência, tecnologia e inovação no país (MCTI, 2012). Ainda, esse 39 setor é destacado como objeto de estudo por parte de linhas de pesquisas de universidades estaduais, as quais relacionam sustentabilidade e tecnologias de baixo carbono (USP, 2011). O setor elétrico tem se destacado pela redução do uso de combustíveis fósseis para a geração de energia (MCT, 2014). Segundo dados da ANEEL (2015), o uso de hidrelétricas no país chega a 72,2%, além de uma representatividade de mais de 15% em fontes renováveis de energia. Entre os anos de 2008 e 2015, o setor investiu R$ 4 bilhões em novos projetos de geração de energia e eficiência energética (ANEEL, 2015). O setor vem batendo recordes de geração de energia eólica e tendo esta fonte perspectiva de atingir 11% da matriz energética nacional até 2023 (PORTAL BRASIL, 2015). Em relação às opções de estratégias, cada empresa possui um gerenciamento de carbono dependendo de alguns atributos tais como localização, alcance geográfico, indústria e grau de verticalização da cadeia (KOLK; PINKSE, 2007; BOIRAL, 2006; SCHULTZ; WILLIAMSON, 2005). E como faltam pesquisas sobre estratégia empresarial voltada à mudança climática em países em desenvolvimento (LEE, S.Y., 2012) e também às diferentes características de regulamentações que cada país (WANG; LI; GAO, 2013), a escolha de empresas localizadas no Brasil passa a ter relevância acadêmica para os estudos encontrados na literatura. 3.3. PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS Para iniciar o procedimento de coleta de dados, o pesquisador, após determinar as empresas que foram pesquisadas, entrou em contato via telefone e email com gestores e especialistas da área de sustentabilidade/meio ambiente a fim de explicar os objetivos da pesquisa e os temas tratados (GALBREATH, 2014). Com isso, totalizaram-se seis empresas e oito entrevistados, sendo que em uma empresa foram entrevistados gestores da área de transporte/logística e engenharia. A presente pesquisa teve como entrevistados dois especialista de sustentabilidade e pode assim, confirmar outras perspectivas que além da de gestores (GALBREATH, 2014). A partir do momento em que foi aceito o convite de participação e a entrevista agendada, o roteiro de entrevista foi encaminhado para os entrevistados com antecedência (GALBREATH, 2014). Desse modo os entrevistados puderam se preparar e organizar seus raciocínios, além de separar dados secundários existentes para responderem as questões de forma mais clara e objetiva. Algumas outras fontes de dados foram coletadas em relatórios de sustentabilidade divulgados pelas organizações e notícias e informações contidas em seus respectivos sites na internet. 40 A forma de entrevista escolhida foi a semiestruturada, pois segundo Galbreath (2014), as entrevista semiestruturada permite ao pesquisador preparar as questões anteriormente e adicionar outras que emergem durante a entrevista. As entrevistas foram realizadas nos meses de novembro e dezembro de 2015. A duração total das entrevistas foi de 296 minutos, o que em média resulta em 49 minutos de entrevista por empresa pesquisada. Tal como relatado na literatura, a presente pesquisa também teve limitações ao marcar as entrevistas e contatar entrevistados (OKEREKE; KÜNG, 2013). Todas as entrevistas foram gravadas para que não houvesse perda de dados durante a conversa. Assim, posteriormente as entrevistas foram transcritas, possibilitando melhor análise dos dados. Conforme a coleta dos dados qualitativos, a qual tem como sustentação os conceitos do método de pesquisa qualitativa, é necessário entender como é estruturado o guia de entrevista. O guia de entrevista possui os constructos: diagnóstico do gerenciamento dos fatores climáticos, tanto os fatores contingenciais (externos) quanto fatores organizacionais (internos), identificação de práticas operacionais de baixo carbono e possíveis benefícios percebidos. O primeiro constructo é o comportamento de risco climático das organizações. Tendo em vista a tipologia de risco apresentada por Gasbarro e Pinkse (2015) que são preventivo, reativo, continuado e deferido, a presente pesquisa utilizou essa tipologia para os questionários respondidos pelas seis organizações ao CDP em 2015, diferentemente dos autores que usaram dados de 2010. Dessa forma, de acordo com o código presente no trabalho dos autores mencionados (GASBARRO; PINKSE, 2015), verificou-se no questionário de 2015 de cada organização a presença desses termos relacionados aos riscos climáticos a fim de identificar o perfil de cada uma delas. A Quadro 3 apresenta os termos que os autores utilizaram para análise dos seus dados e que foram utilizados também por esta pesquisa. O outro constructo (gerenciamento de carbono) foi questionado se os fatores descritos na fundamentação teórica são gerenciados ou não pelos gestores na empresa e como forma de validar a presença ou não de gerenciamento, foram questionadas quais as atividades de gerenciamento são realizados de acordo com aquelas encontradas na literatura (WEINHOFER; BUSCH, 2013; PINKSE; KOLK, 2010; LEE, K.H., 2012; WEINHOFER; HOFFMANN, 2010; PESONEN; HORN, 2014; KOLK; PINKSE, 2004; BOIRAL, 2006; BOCKEN et al., 2012). 41 Quadro 3: Conjunto de tópicos sobre risco climático Fonte: Adaptado de Gasbarro; Pinkse (2015). Último constructo utilizado nesta pesquisa se refere às práticas operacionais de baixo carbono e os possíveis benefícios de adotá-las no gerenciamento de carbono em empresas industriais. Assim, as práticas operacionais escolhidas foram a de produto, processo e logística, tal como a divisão realizada por Böttcher e Müller (2015). Para os benefícios alcançados pela adoção dessas práticas operacionais, serão utilizadas as sete categorias de benefícios descritas por Hoffman (2005), que são: Melhorias Operacionais, Influência e Antecipação de Regulamentações, Acesso às Novas Fontes de Capital, Melhoria da Gestão de Riscos, Melhoria na Reputação da Empresa, Identificação de Oportunidades em Novos Mercados e Melhoria na Gestão de Recursos Humanos. 3.4. PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS Para a análise dos dados qualitativos, as entrevistas foram transcritas para melhor entendimento das informações coletadas. Assim, utilizou-se o software NVivo, que é um software para pesquisas qualitativas e utilizado em vários artigos (WRIGHT, 2009; GALBREATH, 2014; GASBARRO; PINKSE, 2015; SOLOMON et al., 2011), para extrair os dados provenientes das entrevistas e do questionário CDP 2015. Para utilizar o software, introduziram-se alguns termos e palavras para que houvesse a correta extração de trechos e conteúdos do texto transcrito. Assim, utilizou-se os tópicos do Quadro 3 para a extração de dados referentes ao questionário CDP 2015. Para analisar a variável benefício, extraíram-se do trabalho de Hoffman (2005) os termos referentes para cada benefício descrito pelo autor. Para isso, o pesquisador identificou em cada seção do trabalho de Hoffman (2005) as palavras e termos que faziam referência aos benefícios estudados de acordo com sua leitura. Após esse levantamento, traduziram-se os termos para o português e inserindo-os no programa para análise dos dados qualitativos. Dimensão Tópicos de Risco Climático Conscientização Fonte de Informação Tipo de mudança ecológica Conhecimento sobre mudança física Percepção de risco Cronologia das mudanças ecológicas Incerteza Vulnerabilidade Exposição ao risco Implicações Financeiras Impacto nos negócios Experiência prévia 42 O Quadro 4 mostra o levantamento de termos realizado que serviram para quantificar o número de vezes em que uma palavra ou termo aparecia nos dizeres dos entrevistados. Dessa forma, o software foi capaz de obter a nuvem de palavras. Portanto, conseguiu-se avaliar a amplitude e a real percepção dos benefícios percebidos, comparando-os entre si. Dessa forma, foi feito uma tabulação dos dados coletados para melhor visualizá-los no momento da discussão dos resultados (CAUCHICK MIGUEL, 2010; VOSS; TSIKRIKTSIS; FROHLICH, 2002). Com isso, puderam-se estruturar as informações contidas nos trechos transcritos das entrevistas relativas ao gerenciamento de fatores climáticos de cada empresa para então explorar a relação prevista no início do estudo: monitoramento de contingências climáticas versus gerenciamento de carbono. Utilizando trechos das entrevistas para confirmação do dado coletado, referente às práticas operacionais de baixo carbono e benefícios percebidos, foi feito da mesma maneira uma tabulação dos dados coletados. Após apresentação dos resultados, as análises foram feitas com o auxílio da literatura pesquisada, pois ela forneceu argumentos para sustentar os resultados encontrados nesta pesquisa. Por fim, a conclusão do estudo ressaltou os resultados que são relevantes para a literatura e qual foi a contribuição deles para os profissionais da área. No final, as limitações da pesquisa bem como as sugestões de pesquisa futuras foram apresentadas e explicadas para esclarecimento dos leitores. 43 Quadro 4: Palavras e termos utilizados na análise de entrevistas de acordo com Hoffmann (2005) Fonte: Autor. 44 4. RESULTADOS A apresentação dos resultados de pesquisa é subdividida de acordo com as variáveis de estudo. Assim, primeiramente é apresentada a caracterização das empresas frente aos riscos físicos encarados por elas para em seguida, apresentar os resultados do gerenciamento de carbono, as práticas operacionais de baixo carbono e os benefícios percebidos pelos gestores e especialistas. 4.1. CARACTERIZAÇÃO DAS EMPRESAS Antes da apresentação dos resultados da pesquisa, as seis empresas pesquisadas são descritas a fim de contextualizar os dados coletados. Assim, tendo em vista o caráter acadêmico desta pesquisa, os nomes das empresas serão renomeados de acordo com letras gregas e serão mantidas as correspondências dessas letras para os entrevistados. A primeira empresa é Alfa, uma empresa multinacional (EUA) do setor de agronegócio estando presente no Brasil há quase 110 anos. Suas unidades de produção estão presentes em 17 estados brasileiros e no Distrito Federal e envolve atividades relacionadas à agricultura, produção de alimentos e ingredientes, além de açúcar e bioenergia. Atualmente a empresa participa dos programas Carbon Disclosure Project (CDP) e GHG Protocol Brasileiro, além de ter recebido o Selo Combustível Social do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e o Selo Baixo Carbono do Ministério do Meio Ambiente (MMA). A unidade entrevista se localiza no Interior do Estado de São Paulo e fabrica atomatados, temperos e molhos prontos. O entrevistado da empresa Alfa é especialista em melhoria contínua e recentemente foi transferida para a área de meio ambiente da empresa. O entrevistado atua na empresa a dois anos tendo sido transferida para área de meio ambiente há seis meses. A segunda empresa é Beta, uma empresa nacional do setor elétrico possuindo operações no país há mais de 100 anos e há 18 anos como empresa privada. Possui operações em 11 estados brasileiros sendo divididas em geração, transformação e comercialização de energia elétrica, além de operações de serviço. A empresa possui ampla participação em programas, iniciativas e índices relacionados à sustentabilidade, sendo eles: Carbon Disclosure Project, GHG Protocol Brasileiro, Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE- BOVESPA), Índice Dow Jones Sustainability Emerging Markets (DJSI Emerging Markets- Bolsa de Nova Iorque), participa ativamente das Conferências do Clima das Organizações das Nações Unidas (ONU), Latin American Companies Circle do Banco Mundial e do Fórum Clima do Instituto Ethos. O entrevistado da empresa Beta é gestor de sustentabilidade na sede da empresa no interior de São Paulo e trabalha há seis anos na área ambiental da empresa. 45 A terceira empresa é Gama, uma empresa multinacional (Suíça) do setor de alimentos e bebidas com atuação no Brasil desde 1921. Possui 113 marcas de produtos e 30 fábricas espalhadas por oito estados brasileiros. A empresa participa de programas tais como CDP e GHG Protocol, além de participar do Pacto Global da ONU. A unidade pesquisada se encontra no interior do Estado de São Paulo tem como atividade a fabricação de sobremesas e iogurtes que utilizam leite já beneficiado por outras unidades. Os entrevistados Gama 1 e Gama 2, são respectivamente, gestor Brasil de suprimentos e especialista em meio ambiente da unidade pesquisada. O entrevistado Gama 1 está em cargos de gerência na empresa há 11 anos e o entrevistado Gama 2 é responsável de meio ambiente na unidade há quatro. A quarta empresa é Delta, uma empresa multinacional (EUA) do setor eletrônico com existência de 75 anos no mercado mundial. A empresa pesquisada não possui unidade operacional no Brasil, possuindo apenas uma sede e terceirizando a produção de seus produtos a uma empresa no interior do Estado de São Paulo. A empresa participa de programas tais como CDP e GHG Protocol a nível global, além do Índice Dow Jones Sustainability Emerging Markets (DJSI Emerging Markets-Bolsa de Nova Iorque) e do Pacto Global da ONU. O entrevistado da empresa Delta possui cargo de gestor Brasil/Argentina de sustentabilidade e está neste cargo há dois anos. A quinta empresa é Sigma, uma empresa nacional do setor de alimentos à base de carne animal presente no mercado há mais de 20 anos. A empresa possui operações em 11 países sendo que no Brasil possui 12 unidades operacionais. A empresa foi a primeira empresa de alimentos do mundo a assinar o compromisso público com ao Greenpeace no combate ao desmatamento na Amazônia, além de participar do CDP, GHG Protocol Brasileiro, Forest Footprint Disclosure (FFD) e Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE- BOVESPA). O entrevistado da empresa Sigma é gestor de sustentabilidade de um dos dois ramos de negócio da empresa pesquisa. O entrevistado está no cargo há sete anos e há dez na empresa. A sexta empresa é Ômega, uma empresa multinacional (EUA) do setor de varejo com operações no Brasil desde 1995, além de estar presente em 18 estados brasileiros com 540 lojas físicas. A empresa participa dos programas do CDP e GHG Protocol a nível global, além do Fórum Clima do Instituto Ethos. Além disso, a empresa possui um programa de sustentabilidade no Brasil em que trabalha com 28 fornecedores em questões de produto mais sustentáveis. Os denominados entrevistados Ômega 1, Ômega 2 e Ômega 3 são respectivamente, coordenadora de sustentabilidade Brasil, gestor de transporte Brasil e coordenador de utilidades Brasil. Os entrevistados possuem de 2 a 5 anos de empresa. 46 O Quadro 5 abaixo resume as empresas, as funções de cada entrevistado e sua localidade. Quadro 5: Resumo dos Entrevistados Fonte: Autor. 4.2. COMPORTAMENTO FRENTE AOS RISCOS FÍSICOS Assim, os primeiros resultados da presente pesquisa se destinam a variável comportamento de risco. De acordo com Gasbarro e Pinkse (2015), a tipologia do comportamento de risco em face às riscos físicos climáticos são quatro: preventivo, reativo, continuado, deferido. Dessa forma, apresenta-se para cada organização seu tipo de acordo com informações contidas no questionário CDP 2015 Global respondido por todas as empresas pesquisadas. Segundo o que é relatado no questionário CDP, a empresa Alfa reconhece que os eventos climáticos podem afetar suas operações em um nível de risco médio-alto, porém ela avalia com bastante incerteza a probabilidade de possíveis eventos danificarem suas operações. A empresa diz que por ter suas operações espalhadas pelo mundo, isso faz com que ela seja capaz de prever acontecimentos climáticos e serem flexíveis para responder possíveis contingências caso ocorram. Quanto à avaliação da vulnerabilidade da empresa, ela considera que está exposta ao risco climático por chuvas, secas e ciclones, considerando que esses eventos impactam-na indiretamente. E tendo em vista que o impacto nos negócios é indireto (em nível de cadeia), não possuem mensuração de impactos financeiros tampouco não possuem exemplos de acontecimentos ocorridos que a afetaram recentemente. Nesse caso, caracteriza-se esta empresa como deferida, àquela que não implementam ações de adaptação e que analisam sua vulnerabilidade como baixa. A empresa Beta possui monitoramento de mudança de padrões do clima e como eles afetam seu negócio, além disso, possui um conjunto de ações preventivas para melhorarem sua infraestrutura e segurança de suas operações. A empresa Beta declara perceber risco alto e 47 com prováveis acontecimentos climáticos como certos. Sendo assim, a empresa ao se declarar exposta ao risco físico diretamente, investe em novas formas de energia (eólica, solar etc). A empresa ainda diz que os eventos climáticos encarados por ela chegam a afetar em até 77% seu faturamento mensal, tendo experiências recentes dos impactos climáticos em suas operações. Dessa forma, a empresa Beta se caracteriza como preventiva. A empresa Gama declara possuir um banco de dados com exposições a risco e planos de ações atualizados constantemente de acordo com suas políticas, processos e controles relativos ao clima. Ela reconhece um risco médio-alto de possíveis eventos climáticos atingirem suas operações, dando como certeza que eventos extremos podem acontecer com frequência. A empresa ainda percebe a mudança de padrões do clima, tanto que relata sofrer impactos nos seus negócios. Possui 31 fábricas em locais de risco e mais de cem (100) em locais com risco de enchentes. Com isso, possui métricas financeiras para os impactos sofridos e declara já ter tido experiências de tais eventos. Portanto, a empresa pode ser caracterizada como reativa. A empresa Delta declara possuir informações gerenciais sobre riscos tanto em relação a itens físicos como organizacionais. Entretanto, sua consciência de risco é baixa para todos os eventos climáticos declarados por ela, considerando por vezes como desconhecida a probabilidade de ocorrência desses eventos nas suas operações e por outras, muito provável. Dessa forma, declara que ao mesmo tempo eventos climáticos impactam diretamente e indiretamente suas operações, mas não possuindo valores financeiros sobre tais impactos nos seus lucros. Dessa forma, a empresa Delta pode ser classificada como deferida. A empresa Sigma declara possuir parâmetros de todas as regiões do país quanto ao clima, possuindo tecnologia e práticas gerenciais para esse monitoramento. Reconhecem que temperatura e regime de chuvas afetam suas operaçõe