UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Instituto de Geociências e Ciências Exatas Câmpus de Rio Claro Helder Eduardo Ribeiro do Amaral O DIAGNÓSTICO RURAL PARTICIPATIVO COMO FERRAMENTA PARA O ESTUDO DE PEQUENAS PROPRIEDADES EM RIO CLARO - SP Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto de Geociências e Ciências Exatas - Câmpus de Rio Claro, da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, para obtenção do grau de Bacharel em Geografia. Rio Claro - SP 2013 RESUMO Neste trabalho será abordada a modernização das técnicas em torno da produção agrícola e como o modo de produção familiar foi deixado de lado no que diz respeito às políticas públicas, que passou a favorecer as grandes produções agrícolas. É nesse contexto que apresentam-se as características desse tipo de agricultura e as técnicas utilizadas para mantê-la nos dias de hoje, com aplicação e análise do Diagnóstico Rural Participativo em pequenas propriedades rurais no bairro rural do Sobrado, município de Rio Claro, São Paulo que, historicamente, teve no cultivo do café a base para seu desenvolvimento político e econômico e se caracteriza por ter mais de oitenta por cento (80%) de suas terras destinadas às atividades agropastoris. Sendo assim, este trabalho corrobora a estudos relacionados à metodologia aplicada e ao desenvolvimento rural sustentável no município. Palavras-Chave Agricultura familiar, Diagnóstico Rural Participativo, Pequenas Propriedades Rurais, Rio Claro – SP. Sumário INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 7 OBJETIVOS .......................................................................................................................... 8 CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................... 9 1.1 Agricultura Familiar ...................................................................................................... 9 1.2 Estado da arte sobre o Diagnóstico Rural Participativo (DRP) ................................... 13 CAPÍTULO 2 – DESCRIÇÃO DA ÁREA EM ESTUDO ....................................................... 14 CAPÍTULO 3 – METODOLOGIA ......................................................................................... 18 CAPÍTULO 4 – RESULTADOS ........................................................................................... 21 Entrevista 1: Cezira Caparrotti Mackey ............................................................................ 22 Entrevista 2: Odete Maria Dal Posso Bertin...................................................................... 28 Entrevista 3: Edevaldo Paulo Dal Posso .......................................................................... 32 Entrevista 4: Moisés Amâncio .......................................................................................... 36 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 41 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 42 7 INTRODUÇÃO Este trabalho aborda um tema relevante, o desenvolvimento sustentável da economia e das propriedades rurais sob o enfoque do Diagnóstico Rural Participativo (DRP) em pequenas propriedades rurais localizadas em um bairro no município de Rio Claro/SP, destacando a valorização da propriedade pelos agricultores, relativos aos resultados alcançados, níveis de satisfação e perspectivas na propriedade, entre outras. Para tal, tem-se como objetivo avaliar como o pequeno agricultor rio-clarense percebe e valoriza sua propriedade. O estudo justifica-se em face da crescente necessidade de metodologias que dêem conta de explicar o homem do campo e sua propriedade, para atender enfim a demanda de informações decorrente ao abandono, permanência e valorização das pequenas propriedades rurais, entre outros. A agricultura familiar é considerada hoje uma categoria de ação política, de engajamento social; foi durante muito tempo definida como pequena produção, pequena agricultura, agricultura de baixa renda ou de subsistência, que com o avanço do agronegócio parecia ter certo a sua eliminação diante do cenário agropecuário. Três características básicas definem a unidade econômica da agricultura familiar:  acesso aos meios de produção, entre esses a terra;  o caráter familiar da produção;  a relação com o mercado, como articulação com o sistema global capitalista. A agricultura familiar é tida como categoria de ação política nomeia um amplo e diferenciado segmento mobilizado à construção de novas posições sociais mediante engajamento político. (NEVES, 2002, p. 137). Pode ser incorporada na agricultura familiar toda a população agrária que administra um estabelecimento agrícola como os assentados, agricultores de subsistência, posseiros entre outros. 8 OBJETIVOS OBJETIVO GERAL Avaliar como o pequeno agricultor rio-clarense percebe e valoriza sua propriedade. OBJETIVOS ESPECÍFICOS  Traçar um breve histórico da agricultura em Rio Claro;  Caracterizar a organização do espaço rural de Rio Claro;  Identificar as diferentes áreas geográficas que compõem o espaço rural de Rio Claro;  Traçar o perfil físico e socioeconômico de propriedades rurais selecionadas através do uso do Diagnóstico Rural Participativo;  Examinar se a metodologia DRP é válida para os estudos em geografia agrária;  Gerar uma documentação que tenha um fundo interpretativo para que a comunidade possa pensar opções para o futuro. 9 CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 1.1 Agricultura Familiar A estrutura e organização agrária da agricultura familiar no contexto do Brasil são relevantes e contribuem para o desenvolvimento social, geração de emprego e sua participação na produção de alimentos corresponde a mais da metade do que são consumidos pelos brasileiros, estes dados são claramente identificadas nas informações disponibilizadas pelo IBGE (2006). Na Tabela 1 é possível verificar a porcentagem de alimentos consumidos pelos brasileiros e que sua produção advêm da agricultura familiar. Tabela 1: Porcentagem de produtos agropecuários advindos da agricultura familiar e que fazem parte da alimentação dos brasileiros. 87% mandioca 70% feijão 59% suínos 58% leite 50% aves 46% milho 38% café 34% arroz 30% bovinos 21% trigo 16% soja Fonte: IBGE, 2006. Destaca-se que esta temática vem ganhando cada vez mais espaço entre a mídia, políticos e acadêmicos, reconhecendo a realidade agrícola e do mundo rural no Brasil, principalmente após o estudo da FAO/INCRA (1994), onde houve o reconhecimento da agricultura familiar no País influenciando políticas públicas direcionadas à agricultura familiar como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), que visa o financiamento de projetos individuais ou coletivos com taxa de juros mais baixas e criação Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) afim de promover a Agricultura Familiar no Brasil. Seguem algumas referências do entendimento sobre a agricultura familiar: Observa-se de fato que existe certa dificuldade do ponto de vista teórico, em atribuir um valor conceitual à categoria agricultura familiar que se difundiu no Brasil, sobretudo a partir da implantação do Pronaf. As posições a esse respeito variam bastante. Para uns, o conceito agricultura familiar se confunde com a definição operacional adotada pelo Pronaf que propõe uma tipologia de beneficiários em função de sua capacidade de atendimento. Para outros agricultura familiar é uma certa camada de agricultores, 10 capazes de se adaptar as modernas exigências dos mercados em oposição aos demais “pequenos produtores” incapazes de assimilar tais modificações. São os chamados agricultores consolidados ou os que têm condições, em curto prazo, de se consolidar. Supõe-se que as políticas públicas devem construir as bases para a formação desse segmento. (WANDERLEY, 2003 p. 42-61) Segundo Pinto (2001), a agricultura familiar gera mais ocupações do que a agricultura patronal, utiliza de forma mais eficiente os recursos escassos da terra, trabalho e capital, e irradia mais desenvolvimento local. Não é necessário buscar exemplos distantes do papel positivo desempenhado pela agricultura familiar, sendo suficiente comparar os indicadores de desenvolvimento humano dos municípios do Sul do país que apresentam estrutura de distribuição de terra menos concentrada e onde prepondera a agricultura familiar (KUHN, 2011). A agricultura patronal, com suas levas de boias-frias e alguns poucos trabalhadores residentes vigiados por fiscais e dirigidos por gerentes, engendra forte concentração de renda e exclusão social, enquanto a agricultura familiar, ao contrário, apresenta um perfil essencialmente distributivo, além de ser incomparavelmente melhor em termos socioculturais. Sob o prisma da sustentabilidade (estabilidade, resiliência e equidade), são muitas as vantagens apresentadas pela organização familiar na produção agropecuária, devido à sua ênfase na diversificação e na maleabilidade de seu processo decisório. A versatilidade da agricultura familiar se opõe à especialização cada vez mais fragmentada da agricultura patronal.(VEIGA, 1996 p. 383 – 404) A exploração familiar, tal como a concebe-se, corresponde a uma unidade de produção agrícola onde propriedade e trabalho está intimamente ligado a família. A interdependência desses três fatores no funcionamento da exploração engendra necessariamente noções mais abstratas e complexas, tais como a transmissão do patrimônio e a reprodução da exploração. (LAMARCHE, 1993 p.15) Outra característica da agricultura familiar está no fato de ser constituída por minifúndios, pequenos e médios produtores rurais, os quais representam a imensa maioria de produtores brasileiros. Há disparidades no âmbito econômico, produtivo, social, organizacional, entre outros, tanto na escala municipal como na federação. Os principais desafios estão, na adaptação e organização do sistema produtivo, da diversificação de atividades, tecnologias e recursos disponíveis, mercado e os seus resultados, viáveis para a sua manutenção no campo, com perspectivas de renda e bem-estar, entre outros, para uma sociedade mais justa e harmoniosa (KUHN, 2011). 11 No Brasil, a Lei nº 11.326, de 24 de julho e 2006, definiu o termo agricultura e em seu Artigo 3º, considera agricultor familiar e empreendedor familiar rural como aquele que pratica atividades no meio rural, atendendo, simultaneamente, aos seguintes critérios: I - não detenha, a qualquer título, área maior do que 4 (quatro) módulos fiscais; II - utilize predominantemente mão de obra da própria família nas atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento; III - tenha renda familiar predominantemente originada de atividades econômicas vinculadas ao próprio estabelecimento ou empreendimento; IV - dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua família. § 1º O disposto no inciso I do caput deste artigo não se aplica quando se tratar de condomínio rural ou outras formas coletivas de propriedade, desde que a fração ideal por proprietário não ultrapasse 4 (quatro) módulos fiscais. § 2º São também beneficiários desta Lei: I - silvicultores que atendam simultaneamente a todos os requisitos de que trata o caput deste artigo, cultivem florestas nativas ou exóticas e que promovam o manejo sustentável daqueles ambientes; II – aquicultores que atendam simultaneamente a todos os requisitos de que trata o caput deste artigo e explorem reservatórios hídricos com superfície total de até 2 ha (dois hectares) ou ocupem até 500m³ (quinhentos metros cúbicos) de água, quando a exploração se efetivar em tanques-rede; III - extrativistas que atendam simultaneamente aos requisi-tos previstos nos incisos II, III e IV do caput deste artigo e exerçam essa atividade artesanalmente no meio rural, excluídos os garimpeiros e faiscadores; V - pescadores que atendam simultaneamente aos requisitos previstos nos incisos I, II, III e IV do caput deste artigo e exerçam a atividade pesqueira artesanalmente. (LEI nº...) A agricultura familiar é uma forma social reconhecida e legitimada na maioria dos países desenvolvidos, onde se tem como assentimento que a terra é cultivada em pequenas propriedades classificadas em módulos fiscais, com mão-de-obra essencialmente advinda do núcleo familiar. Além de contribuir para dinamizar o crescimento econômico, desempenhou um papel estratégico, o de garantir uma transição socialmente equilibrada entre uma economia de base rural para uma economia urbana e industrial. (GUANZIROLI ET AL, 2001; CASTILHO E RAMOS, 2003; SCHEIDER, 1999; VEIGA, 1991; ABRAMOVAY 1992; LAMARCHE, 1993,1994 e KUHN, 2011). Ainda conforme os mesmos autores, o universo da agricultura familiar é extremamente diversificado e complexo. A diversidade reflete a própria natureza da agricultura familiar, em particular sua capacidade e tentativa de adaptação – nem sempre sustentável, deve-se dizer – às condições ambientais locais, à disponibilidade de recursos, à experiência, à cultura e à história das famílias assim 12 como às condições impostas pelo mercado e pela sua inserção na sociedade, entre outras. Segundo Abramovay (1997, p.3) o que define a agricultura familiar são os laços de sangue e de casamento dos indivíduos totalmente inseridos na gestão, no trabalho e na propriedade em si. A agricultura familiar é aquela em que a gestão, a propriedade e a maior parte do trabalho, vêm de indivíduos que mantêm entre si laços de sangue ou de casamento. Que esta definição não seja unânime e muitas vezes tampouco operacional. É perfeitamente compreensível, já que os diferentes setores sociais e suas representações constroem categorias científicas que servirão a certas finalidades práticas: a definição de agricultura familiar, para fins de atribuição de crédito, pode não ser exatamente a mesma daquela estabelecida com finalidades de quantificação estatística num estudo acadêmico. O importante é que estes três atributos básicos (gestão, propriedade e trabalho familiar) estão presentes em todas elas. (ABRAMOVAY, 1997, p.3) Veiga (1996) compara e identifica as principais características que diferenciam entre a agricultura familiar e a agricultura patronal: Quadro 1: Elementos comparativos entre Modelo de Agricultura Patronal e Modelo de Agricultura Familiar Modelo Patronal Modelo Familiar Completa separação entre gestão e trabalho Trabalho e gestão intimamente relacionados Organização centralizada Direção do processo produtivo assegurada diretamente pelos proprietários Ênfase na especialização Ênfase na diversificação Ênfase em práticas agrícolas padronizáveis Ênfase na durabilidade dos recursos naturais e na qualidade da vida Trabalho assalariado predominante Trabalho assalariado complementar Tecnologias dirigidas à eliminação das decisões “de terreno” e “de momento” Decisões imediatas, adequadas ao alto grau de imprevisibilidade do processo produtivo Tecnologias voltadas principalmente à redução das necessidades de mão- de-obra Tomada de decisões in loco, condicionada pelas especificidades do processo produtivo Pesada dependência de insumos comprados Ênfase no uso de insumos internos Fonte: Veiga, 1996. 13 1.2 Estado da arte sobre o Diagnóstico Rural Participativo (DRP) A base teórica do Diagnóstico Rural Participativo não está totalmente definida, mas há certa anuência no que diz respeito a sua origem. O Diagnóstico Rural Rápido, metodologia adotada no final dos anos 1970, foi considerada o primeiro dos modelos de diagnóstico participativo e teria sido criado no sentido de contrapor o Turismo de Desenvolvimento Rural, onde técnicos de agências de desenvolvimento e Universidades realizavam visitas rápidas às comunidades rurais e a partir de uma pequena observação, deliberavam, abrangendo todas as situações apresentadas o que deveria ser mudado no grupo pesquisado. Os usos de métodos participativos para estudo de áreas rurais apresentam alguns agentes motivadores como, por exemplo, aproveita e valoriza o conhecimento do agricultor, reconhece a responsabilidade do agricultor e capacita-o para as possíveis tomadas de decisões em sua propriedade (SCHMITZ, MOTA, 2010). Segundo Schmitz, Mota (2010) existem vários métodos participativos que analisam e valorizam a interação simultânea entre pesquisadores e agricultores, cada um deles assumindo lacunas e abordagens. O DRP é um tipo de pesquisa Ação Participante, que assume a inserção de grupos economicamente e/ou socialmente excluídos nas investigações, com a finalidade de transformar a realidade e produzir conhecimento sobre estas transformações. Autores como Menezes et al. (2011) aplicaram a metodologia no Território do Seridó/RN. Consideraram uma técnica relativamente simples, mas não simplória, pois exige atenção dos pesquisadores quanto ao respeito do ponto de vista dos agricultores e que os mesmos são os maiores analistas de sua realidade. Asseguram que o DRP deve e pode ser utilizado em pesquisas e outros estudos que visam a apreensão da percepção dos agricultores e agricultoras de sua realidade e suas potencialidades e necessidades locais. 14 CAPÍTULO 2 – DESCRIÇÃO DA ÁREA EM ESTUDO O município de Rio Claro (Figura 1) apresenta contingente populacional de 186.253 (IBGE, 2013), área territorial de 498,422 km2 e densidade demográfica de 373,47 hab./km2. Corresponde à área de transição entre os Biomas da Mata Atlântica e Cerrado. Figura 1: Imagem indicando os limites do município de Rio Claro e os municípios limítrofes. Fonte: Imagens ©2013 Cnes/Spot Image, DigitalGlobe, Landsat, Dados cartográficos Google Maps. Em relação à produção agrícola, Rio Claro tem como destaque histórico as lavouras de cana de açúcar e café, essa segunda sendo caracterizada como principal economia agrícola até a segunda metade do século passado. Atualmente, mais de oitenta por cento das terras de Rio Claro são destinadas às atividades agrícolas e a partir destas características do município é que tornamos válida uma pesquisa sobre uma parcela do que abrange esta atividade, a agricultura 15 familiar, e assim as possibilidades de trabalho com a terra que ela oferece, e com isso expor a metodologia que pode estudar a fundo a relação que o indivíduo rural mantém com o seu lugar de trabalho. Desta forma o Diagnóstico Rural Participativo foi utilizado com o olhar qualitativo, uma ferramenta que busca abranger o produtor rural e como este trabalha com a terra. A Tabela 1 apresenta as áreas de cultivos nas unidades de produção agrícola do município de Rio Claro onde podemos observar a grande variedade, desde a grande produção de cana de açúcar até menores produções, algumas caracterizando a presença da produção familiar no município. Tabela 1: Área cultivada, Município de Rio Claro, Estado de São Paulo, 2007/08 (em hectare). Cultura Número de UPAS MÍNIMO MÉDIA MÁXIMO TOTAL Cana de açúcar 451 0,2 31,3 1.258,2 14.114,0 Braquiária 553 0,2 14,7 305,0 8.138,8 Eucalipto 243 0,1 12,5 1.690,1 3.040,9 Laranja 78 0,1 25,9 1.367,7 2.023,0 Milho 89 0,4 15,3 546,7 1.356,7 Grama 44 0,5 11,7 92,2 514,1 Outras gramíneas 64 0,5 7,6 34,0 488,5 Pinus 2 11,0 240,6 470,1 481,1 Seringueira 1 223,1 223,1 223,1 223,1 Feijão 12 0,1 12,9 108,0 155,0 Limão 7 0,2 21,7 138,9 151,8 Arroz 15 0,6 9,4 108,0 141,1 Capim-napier 28 0,2 4,0 20,4 110,7 Café 20 0,1 5,2 15,2 103,3 Capim- jaraguá 5 1,0 14,6 28,8 73,1 Alface 22 0,3 2,4 12,0 53,4 Abacate 8 0,1 6,0 30,0 48,2 Manga 8 0,1 5,1 20,0 40,8 Mandioca 17 0,1 1,9 6,4 31,9 Colonião 4 1,7 6,2 11,5 24,8 Soja 2 9,6 12,3 15,0 24,6 Banana 6 0,5 3,6 15,0 21,4 16 Setária 1 20,0 20,0 20,0 20,0 Uva fina 1 19,0 19,0 19,0 19,0 Outras Olerícolas 14 0,1 1,3 3,2 18,5 Milho doce 6 1,0 2,8 6,1 16,7 Chicória (crespa) 8 0,1 1,8 4,8 14,0 Pomar doméstico 30 0,1 0,4 1,2 13,2 Couve (crespa) 17 0,1 0,7 3,2 12,6 Maracujá 3 1,2 4,1 9,2 12,4 Fonte: Secretaria de Agricultura e Abastecimento, CATI/IEA, Projeto LUPA Figura 2: Bairro do Sobrado no município de Rio Claro-SP destacado. Fonte:Imagens ©2013 Cnes/Spot Image, DigitalGlobe, Landsat, Dados cartográficos Google Maps. 17 O trabalho toma como área de estudo o Bairro do Sobrado (Figura 2) no município de Rio Claro-SP, caracterizado como um bairro rural e localizado na porção noroeste do município. Acredita-se que o bairro receba esse nome, pois em meados do século XIX, António Pompeu de Negreiros teria construído no local um grande sobrado para sua moradia. Segundo histórias locais a casa teria sido construída com paredes de taipa e barro socado, à margem esquerda do rio Corumbataí. Neste bairro, apesar do avanço da expansão urbana, impulsionada principalmente por programas governamentais, ainda é possível identificar resistências na paisagem no que diz respeito ao modo rural de vida e de trabalho sendo assim válida a análise a partir da aplicação do DRP. 18 CAPÍTULO 3 – METODOLOGIA Nas pesquisas que apresentam abordagem qualitativa, tem-se como ponto fundamental a análise descritiva do contexto social, econômico, cultural, natural, político da área em estudo, diferenciando-o de uma abordagem puramente quantitativa. Dentre as metodologias adotadas pela pesquisa qualitativa tem-se: a pesquisa-ação, pesquisa participante ou participativa, pesquisa etnográfica ou naturalística e o estudo de caso. A pesquisa qualitativa apresenta algumas características básicas que devem ser consideradas quando realizados estudos desta natureza. Bogdan e Biklen elaboraram cinco apontamentos, destacados por Lüdke; André (1986): 1. A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento; 2. Os dados coletados são predominantemente descritivos; 3. A preocupação com o processo é muito maior que com o produto; 4. O "significado" que as pessoas dão às coisas e à sua vida são focos de atenção especial pelo pesquisador; 5. A análise dos dados tende a seguir um processo indutivo, ou seja, os pesquisadores não se preocupam em buscar evidências que comprovem hipóteses definidas apriori, isto não implica a inexistência de um quadro teórico que oriente a coleta e a análise dos dados. A metodologia utilizada neste trabalho será o Diagnóstico Rural Participativo, que se consolidou como uma alternativa para a obtenção de dados e no planejamento de projetos que visa odesenvolvimento econômico e social, constituindo-se na principal ferramenta para estudos de comunidades, entre elas a rural. O Diagnóstico Rural Participativo (DRP) é um tipo de pesquisa Ação Participante que tem sido utilizada, prioritariamente, por técnicos de desenvolvimento internacional buscando inserir grupos economicamente e/ou socialmente marginalizados na identificação e investigação dos problemas locais, com o objetivo de catalisar sua ação. (DOYLE; KRASNY, 2003, P.92). 19 O Diagnóstico Rural Participativo surgiu em um momento em que se buscava organizar novas formas de investigação científica abrangendo o paradigma qualitativo e, especificamente, da teoria-crítica. O DRP tem suas bases fundamentadas mais na prática do que na teoria. Essa metodologia teve sua construção feita ao mesmo tempo em que suas técnicas eram aplicadas em diversas regiões pobres dos países caracterizados como subdesenvolvidos. O Diagnóstico Rural Rápido(DRR), que serviu de base para a criação do DRP tem seus préstimos na obtenção de informações mais próximas da realidade dos indivíduos, no entanto, são analisadas apenas pelos pesquisadores envolvidos sem o acompanhamento dos sujeitos, podendo ocorrer adulteração dos dados obtidos. Dessa forma, o DRR não trouxe mudança no que diz respeito à participação do produtor na pesquisa aplicada que acaba sendo tratado apenas como fonte de informações. As técnicas do DRR foram depois, contextualizadas no âmbito da Pesquisa- Ação, que se caracteriza por ser uma metodologia que pressupõe a investigação científica como instrumento de transformação da realidade social vivida pelos pesquisados, e da educação libertadora proposta por Paulo Freire, o que acaba dando ao DRP um caráter dinâmico e com um fundo crítico. A pesquisa-ação crítica considera a voz do sujeito, sua perspectiva, seu sentido, mas não apenas para registro e posterior interpretação do pesquisador: a voz do sujeito fará parte da tessitura da metodologia da investigação. É também por isso que tal metodologia assume o caráter emancipatório, pois mediante a participação consciente, os sujeitos da pesquisa passam a ter oportunidade de se libertar de mitos e preconceitos A pesquisa-ação crítica considera a voz do sujeito, sua perspectiva, seu sentido, mas não apenas para registro que organizam suas defesas à mudança e reorganizam a sua auto concepção de sujeitos históricos. (FRANCO, 2005, p.486) O DRP se enquadra muito bem na pesquisa referente às Ciências Humanas, principalmente na Geografia, pois esta metodologia engloba a interdisciplinaridade, o que acarreta em um vínculo maior ainda com esta Ciência, que abrange vários conhecimentos relativos a outras disciplinas. 20 Desta forma, com a ligação entre o DRP e a Geografia utilizamos de quatro técnicas usadas para se trabalhar na comunidade rural: Mapeamento Participativo, Caminhada Transversal, Diagrama de Venn e o calendário Sazonal. Que são as técnicas mais relevantes no que se refere a um estudo com uma análise geográfica. Mapeamento Participativo: Consiste em um instrumento do DRP que possibilita uma análise da configuração dinâmica do território estudado. Isso tudo é feito com base na percepção dos indivíduos e do conhecimento histórico adquirido. São feitas representações cartográficas, que caracterizam não apenas as características físicas, mas principalmente as dinâmicas socioculturais vivenciadas. Caminhada Transversal: Esta técnica consiste em percorrer uma determinada propriedade, acompanhada por pessoas pertencentes à comunidade, de preferência pessoas que tenham bastantes conhecimentos da área a fim de repassar conhecimento referente à produção, ao meio ambiente entre outros. Nessa caminhada devem ser feitas discussões em torno dos assuntos propostos, como por exemplo, a conservação do solo, nascentes e matas ciliares. Diagrama de Venn: Consiste em um estudo a fim de discutir a participação de órgãos e instituições envolvidos no dia a dia da comunidade pesquisada, discussão pautada principalmente na importância que estes têm para com os indivíduos em questão. Calendário sazonal: O calendário Sazonal é feito junto com o produtor, onde representará um esquema gráfico com a demanda de trabalho e a mão de obra inclusa durante um ano de trabalho agrícola, esta técnica proporciona também um conhecimento sobre o processo produtivo e as relações de produção envolvidas. Dessa forma, com as técnicas acima representadas será possível um diagnóstico e um planejamento por parte das propriedades estudadas. Cabe aqui dizer que o Diagnóstico Rural Participativo é uma metodologia utilizada a fim de promover uma conscientização não somente no que diz respeito ao rural, mas também as cidades, o urbano. 21 CAPÍTULO 4 – RESULTADOS Seguindo a proposta do Diagnóstico Rural Participativo, criou-se um roteiro para a realização das entrevistas e ao analisar as amostras, foram escolhidas quatro pequenas propriedades rurais para exemplificação das informações que foram priorizadas para o levantamento de campo, através de entrevistas e visitas às propriedades. As informações foram colhidas a partir de um questionário com temas que se organizaram da seguinte maneira:  Informações sobre o proprietário  Organização familiar  Características gerais da propriedade  Produção e organização do trabalho na propriedade  Relação com a vizinhança  Problemas do bairro  Lembranças do passado no bairro Após o fim de cada entrevista, como parte da proposta metodológica do DRP, o entrevistado para caracterizar sua lembrança e sua percepção atual da propriedade fez um croqui representado cada momento, alguns dos entrevistados tiveram dificuldades na hora de fazer o croqui e preferiram escolher algumas fotos representando cada fase. 22 Entrevista 1: Cezira Caparrotti Mackey Informações sobre o proprietário Data da visita: 27/08/2013 Data de nascimento: 06/10/1943 Naturalidade: Rio Claro – SP Organização familiar Nome Idade Escolaridade Atividade Praticada Cezira Caparroti Mackey 69 2 anos Aposentada Aldino Mackey (esposo) 80 2 anos Aposentado José Alberto Mackey (filho) 51 Ensino médio Autônomo Ivani Aparecida Mackey (filha) 50 Ensino médio Aposentada Márcia Cezira Mackey (filha) 45 Ensino médio Autônoma Carmem Silvia Mackey 43 Ensino Fundamental Fonte: Trabalho de Campo, 2013. Característica da propriedade A propriedade possui 15 alqueires e foi obtida por compra, pertencia ao pai da dona Cezira, o Sr. Aldino e o irmão dele compraram a propriedade do pai dela e mais tarde a parte pertencente ao irmão da dona Cezira foi comprada pelo seu filho, ela destacou a felicidade pela propriedade ter sempre ficado na família. Dona Cezira não mora mais na propriedade, mas frequenta a mesma ao menos uma vez na semana. Sua filha Carmem é quem mora atualmente na propriedade. Quando perguntada se gosta de morar/frequentar a propriedade, dona Cezira disse que todos da família gostam de frequentar a propriedade e se reunir com a família nos finais de semana para um almoço ou alguma comemoração. Produção e organização do trabalho na propriedade: 23 Em relação a produção da propriedade, na época em que a adquiriram, os produtos eram: arroz, feijão, milho, cana, mandioca, vagem, quiabo, repolho, entre outros. Atualmente na propriedade o filho e um sobrinho da dona Cezira plantam cana de açúcar, que posteriormente é vendida para uma usina. Na propriedade também existe a criação de gado, porcos e galinhas. O senhor Aldino, diferente da dona Cezira frequenta diariamente a propriedade e segundo ela a rotina é organizada da seguinte maneira: “ele sai de casa por volta das 8:30 horas, primeira coisa que faz é alimentar os animais. A propriedade possui um caseiro, e quando o Sr. Aldino chega na propriedade ele já tirou o leite da vaca, que é usado pro consumo e pra produção de queijos. O período da manhã é praticamente dedicado a isso, por volta das 11:30 horas eles almoçam e o período da tarde é dedicado as plantações, consertos em geral na propriedade, limpeza dos chiqueiros e outros pequenos serviços pela propriedade, por volta das 16:00 horas prendem os bezerros (separam das vacas) para que tenha a produção de leite para o outro dia, assim que começa a escurecer trancam as galinhas e vão embora”. Os animais criados na propriedade são usados para o consumo da família e alguns também são vendidos. Relação com a vizinhança: Dona Cezira destacou que a relação com a vizinhança sempre foi muito boa e não mudou desde quando adquiriram a propriedade. Também colocou que não venderia a propriedade por nenhum motivo, pois as lembranças que sua propriedade traz não pode ser comprada por dinheiro algum, e que só se mudou para a cidade por causa da distância da escola dos filhos. Problemas do bairro: Do período em que adquiriu a propriedade dona Cezira disse não lembrar de nenhum problema/dificuldade do bairro, mas destaca que, hoje em dia, a falta de asfalto em parte da estrada que dá acesso a propriedade dificulta a circulação de pessoas. Além disso o acúmulo de lixo na estrada também é muito grande e, segundo ela, decorrente da falta de coleta de lixo no bairro do sobrado. Lembranças do passado no bairro: 24 Perguntada sobre a maior lembrança de seu passado no bairro, dona Cezira destacou a imagem do pai voltando da pesca carregando vários peixes. Também lembrou da comemoração da festa de Santo Antônio, quando todo ano seu pai fazia uma fogueira homenageando o santo. Essa tradição segue até os dias de hoje em sua família, mas agora em homenagem ao santo e também aos seus pais. Dona Cezira destacou as mudanças na estrutura da casa, que teve de ser adaptada conforme as necessidades, a fachada da casa, destacada por ela ser uma lembrança muito forte. A chaminé do fogão a lenha deu lugar a antena parabólica e as modificações nos barracões também são destacadas. O paiol, anos atrás, armazenava o milho produzido e hoje modificado, armazena os maquinários utilizados na propriedade (Figuras 3 e 4). 25 Figura 3: Desenho feito pela entrevistada, dona Cezira, ilustrando a sua propriedade, considerando sua primeira lembrança. Fonte: Trabalho de campo, 2013. 26 Figura 4: Desenho feito pela entrevistada, dona Cezira, ilustrando a sua propriedade na atualidade. Fonte: Trabalho de campo, 2013. 27 Salienta-se que, ao observar as ilustrações e explicações de dona Cezira sobre a ilustração pode-se aferir que das atividades desempenhadas por ela, e consequentemente o que mais lhe vem à memória, remete-se a sede da propriedade. Esta condição também nos remete a divisão de trabalhos onde, senhor Aldino cuidava da produção e dona Cezira dos afazeres domésticos e aos cuidados dos arredores da sede (dedicava-se a horta, galinhas, entre outras atividades). 28 Entrevista 2: Odete Maria Dal Posso Bertin Informações sobre o proprietário Data da visita: 22/11/2013 Data de nascimento: 19/05/1947 Naturalidade: Rio Claro – SP Organização Familiar: Nome Idade Escolaridade Atividade Praticada Odete Maria Dal Posso Bertin 66 Ensino médio aposentada Onofre Bertin 69 Ensino médio aposentado Evaldo Carlos Bertin 40 Ensino superior empresário Eduardo Tadeu Bertin 34 Ensino superior empresário Características da propriedade: A propriedade possui 2 alqueires e foi obtida por herança, pertencia ao pai da dona Odete, atualmente está em processo de regularização da divisão entre os herdeiros. Dona Odete disse ser pessoa que mais gosta de frequentar a propriedade, o marido e os filhos não gostam muito, acabam frequentando mais quando acontece algum almoço de família. Os dois netos também gostam de frequentar a propriedade. Perguntada se venderia a propriedade por algum motivo, sem indagar dona Odete disse que não, que o valor sentimental pela terra e as lembranças que ela traz é bem maior que qualquer oferta que possa surgir. Produção e organização do trabalho na propriedade: A propriedade é explorada apenas pela família da dona Odete que não mora mais na propriedade, mas frequentam pelo menos duas vezes na semana. Atualmente na propriedade é produzido café que o senhor Onofre mesmo planta, mas o processo de secagem e embalamento é feito em casa, na cidade. Além da 29 produção de café, Sr. Onofre também é o responsável pela manutenção da propriedade. Relação com a vizinhança: A relação com a vizinhança dona Odete destacou que sempre foi muita boa, de grande amizade e até hoje é assim. Problemas do bairro: A partir de suas lembranças dona Odete não conseguiu resgatar nenhum problema no bairro na época que herdou a propriedade do pai, já hoje, destaca o descaso do poder público em relação a manutenção da estrada que dá acesso ao bairro e a sua propriedade. Lembranças do passado no bairro: As maiores lembranças de dona Odete do passado do bairro remetem as plantações que existiam pelo Bairro do Sobrado, que hoje já não fazem parte da paisagem. Quando adquiriu a propriedade dona Odete relatou só existir um pasto no local e que com o passar do tempo com o trabalho da família (como mostram as fotos) foi construído um rancho e plantadas árvores. 30 Figura 5: Propriedade quando dona Odete a herdou (somente pasto) Fonte: Trabalho de campo, 2013. ARQUIVO PESSOAL DONA ODETE Figura 6: Sr. Onofre trabalhando na construção do rancho, sede da propriedade. Fonte: Trabalho de campo, 2013. ARQUIVO PESSOAL DONA ODETE 31 Figura 7: Dona Odete e a propriedade como se encontra atualmente Fonte: Trabalho de campo, 2013. ARQUIVO PESSOAL DONA ODETE 32 Entrevista 3: Edevaldo Paulo Dal Posso Informações sobre o proprietário Data da visita: 24/10/2013 Data de nascimento: 24/01/1942 Naturalidade: Rio Claro – SP Organização Familiar: Nome Idade Escolaridade Atividade Praticada Edevaldo Paulo Dal Posso 72 Ensino primário aposentado Antônia M. Lucinda Dal Posso 65 Ensino primário aposentada Márcia Regina Dal Posso 42 Ensino médio enfermeira Márcio Luis Dal Posso 35 Ensino médio assalariado Larissa Inaie Dal Posso 15 Ensino médio estudante Características da propriedade: A propriedade possui 2 alqueires e foi obtida por herança, pertencia ao pai do Sr. Edevaldo, que mora na propriedade desde que nasceu. No período de 1951- 1980 a propriedade abrigou uma Olaria.Quando perguntado se venderia a propriedade por algum motivo, Sr. Edevaldo logo respondeu que não, que todos da família gostam muito de morar na propriedade e que por isso não vê motivo algum para a venda. Produção e organização do trabalho na propriedade: Atualmente na propriedade é criado gado para corte, o senhor Edevaldo é o principal responsável pela criação e também pela manutenção da propriedade, se dedica em torno de cinco horas diárias para o cuidar dos animais e da propriedade de um modo geral. Relação com a vizinhança: 33 A relação com a vizinhança o Sr. Edevaldo destacou ser sempre muito boa, de muita amizade, mas que antigamente era mais forte, hoje alguns vizinhos já não moram no bairro, venderam suas propriedades ou se mudaram e frequentam muito pouco. Problemas do bairro: O Sr. Edevaldo destacou somente o estado ruim da estrada de acesso ao bairro como um ponto negativo, relacionou isso ao descaso do poder público com o Bairro do Sobrado. Lembranças do passado no bairro: Não destacou nenhuma lembrança como sendo a melhor, mas sim que sempre gostou muito de morar na propriedade. No croqui feito pelo senhor Edevaldo ele destacou principalmente as mudanças em relação a estrutura da casa sede da propriedade, que na visão dele foi a que mais sofreu alterações com o passar dos anos. 34 Figura 8: Desenho feito pelo entrevistado, senhor Edevaldo, ilustrando a sua propriedade, considerando a sua primeira lembrança. Fonte: Trabalho de campo, 2013. 35 Figura 9: Desenho feito pelo entrevistado, senhor Edevaldo, ilustrando a sua propriedade, atualmente. Fonte: Trabalho de campo, 2013. 36 Entrevista 4: Moisés Amâncio Informações sobre o proprietário Data da visita: 18/08/2013 Idade: 62 anos Naturalidade: Rio Claro – SP Organização Familiar Nome Idade Escolaridade Atividade Praticada Moisés Amâncio 62 Ensino primário aposentado Sueli Marques Amâncio 52 Ensino primário Dona de casa Vanessa Amâncio 25 Ensino médio Produção de vasos José Cristiano Cardoso 32 Ensino médio Mecânico de motos João Vitor Cardoso 7 1º ano estudante Pedro Lucas Cardoso 11 meses Não afalbetizado ----------------------- Características da propriedade: A propriedade possui 0,5 alqueire e foi obtida por herança, pertencia ao pai do senhor Moisés. Produção e organização do trabalho na propriedade: Não existe mais nenhum tipo de cultivo na propriedade que antigamente era toda destinada a produção de laranja. Hoje, além de servir como moradia ela possui um barracão onde o Sr. Moisés e a filha trabalham na produção de vasos cerâmicos, que são feitos sob encomendas. Toda o processo é feito na propriedade, desde a preparação da argila até a queima dos vasos no forno, que também foi construído pelo senhor Moisés. Relação com a vizinhança: A relação com a vizinhança é boa, mas o senhor Moisés destacou que antigamente a proximidade das pessoas era maior, de companheirismo. Problemas do bairro: 37 Destacou o descuido da estrada que dá acesso ao Bairro do Sobrado como o maior problema, considerando o mal estado da estrada e também as pessoas que abusam do excesso de velocidade na estrada. Lembranças do passado no bairro: Não destacou nenhuma lembrança, mas disse que gosta muito de morar e trabalhar na propriedade. O senhor Moisés não conseguiu fazer um croqui representando sua propriedade antes e depois, mas mostrou todo o processo que é feito na produção de seus vasos. Figura 10: Torrões de argila secos, prontos para serem triturados. Fonte: Trabalho de campo, 2013. 38 Figura 11: Torrões de argila já triturados, o procedimento a seguir é a hidratação do material. Fonte: Trabalho de campo, 2013. 39 Figura 12: Barracão onde são produzidos e armazenados os vasos entre outros objetos. Fonte: Trabalho de campo, 2013. Figura 13: Sr. Moisés produzindo um vaso. Fonte: Trabalho de campo, 2013. 40 Figura 14: Sr. Moisés e os vasos recém produzidos. Fonte: Trabalho de campo, 2013. Figura 15: Vasos prontos para a venda. Fonte: Trabalho de campo, 2013. 41 CONSIDERAÇÕES FINAIS A aplicação da metodologia proposta pelo DRP é de fácil aplicação e entendimento. Constata-se que as principais diferenças entre um questionário/entrevista DRP e uma proposta por outra metodologia estão: 1- no tempo de aplicação; 2- na maior interatividade entre: entrevistador/entrevistado, entrevistador/propriedade e entrevistado/propriedade. Além disso, o DRP possibilita identificar os pontos principais da propriedade para o entrevistado, que podem ser diferentes do ponto de vista do entrevistador. Esta condição possibilita a identificação das potencialidades, bem como a compreensão dos aspectos falhos das políticas de incentivo ao desenvolvimento que não tomam a proporção desejada. A partir das informações colhidas nas entrevistas, nos questionários e nas visitas as propriedades pode-se observar características próprias de cada uma, no que diz respeito a sua definição dentro da categoria agricultura familiar, além disso, observamos com a aplicação do DRP as potencialidades de cada propriedade e como essa potencialidade pode ser trabalhada dentro das perspectivas de cada produtor, visando o seu desenvolvimento econômico e social. Dentre as propriedades visitadas e os levantamentos realizados, pode-se aferir que os proprietários têm características singulares, desde como percebem/valorizam sua propriedade, desenvolvendo algum tipo de trabalho que gere renda ou apenas utilizando-a para lazer, até no que diz respeito a pensarem opções para o futuro, valorizando cada vez mais sua propriedade. 42 REFERÊNCIAS ABRAMOVAY, R. Uma nova extensão para a agricultura familiar. In: SEMINÁRIO NACIONAL DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL, 1997. Brasília: Anais ... Brasília: PNUD, 1997. CASTILHO, Mara Lucy e RAMOS, José Maria, editores. Agronegócio e Desenvolvimento Sustentável. Calgan Editora Gráfica. Francisco Beltrão, 2003 FAO/INCRA – Food and Agriculture Organization/Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. Relatório Final de Projeto de Cooperação Técnica.Brasília:INCRA, 1994. GUANZIROLI, Carlos [et AL.]. Agricultura familiar e reforma agrária no século XXI. Rio de Janeiro: Garamond, 2001. IAPAR - Instituto Agronômico do Paraná. Enfoque Sistêmico em P&D: A experiência metodológica do IAPAR. Londrina: IAPAR, 1997. KUHN, S. L. Agroenergia no meio rural e a agricultura familiar, na Mesorregião Oeste do Paraná, Brasil. In: VII Jornadas Interdisciplinarias de EstudiosAgrarios y Agroindustriales, 2011. Facultad de CienciasEconómicas, Universidad de Buenos Aires: Anais ... Buenos Aires, 2011, 1-15 p. LAMARCHE, H. A Agricultura Familiar p.15 1993 Lei nº 4.504/64. O Estatuto da Terra no Brasil, de 30 de novembro de 1964. Presidente Humberto Castelo Branco. Lei nº 8.629/93. Módulo fiscal - parâmetro para a classificação fundiária do imóvel rural quanto a sua dimensão no Brasil. De 10 de dezembro de 1979. Expressa em hectares e é variável, sendo fixada para cada município. Presidente Itamar Franco. LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em Educação: Abordagens Qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. PINTO, Raul Belens Jungmann. Reforma Agrária e Agricultura Familiar no Limiar do Século XXI. Prólogo. Rio de Janeiro: Garamond, 2001. RODRIGUES, J. C. de L.; PESSÔA, V. L.S. (Org.). Geografia e pesquisa qualitativa: nas trilhas da investigação - Uberlândia: Assis, 2009. RUAS, E. D. Metodologia participativa de extensão rural para o desenvolvimento sustentável – MEXPAR - Belo Horizonte, Março 2006. SCHMITZ, H. (Org.). Agricultura Familiar: extensão rural e pesquisa participativa - São Paulo: Annablume, 2010. VEIGA, J. E. Agricultura Familiar e Sustentabilidade p. 395 Cadernos de Ciência e Tecnologia, Brasília, V.13, p. 383 – 404, 1996. 43 VEIGA, J. E. da. Debates: Agricultura familiar e sustentabilidade. Cadernos de Ciência e Tecnologia, Brasília, v.13, n.3, p. 383-404, 1996. WANDERLEY, M. N. B. Agricultura familiar e campesinato: rupturas e continuidade, Estudos Sociedade e Agricultura Rio de Janeiro,21, Outubro, 2003 42-61 WHITAKER, D. C. A. A sociologia Rural Questões Metodológicas Emergentes - Presidente Venceslau, São Paulo: Letras à Margem, 2002.