UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Faculdade de Odontologia de Araraquara Amanda Fucci Wady Avaliação das características de superfície e formação de biofilmes em materiais odontológicos tratados em plasmas de HMDSO. Araraquara 2015 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Faculdade de Odontologia de Araraquara Amanda Fucci Wady Avaliação das características de superfície e formação de biofilmes em materiais odontológicos tratados em plasmas de HMDSO. Tese apresentada ao Programa de Pós Graduação em Reabilitação Oral – Área de Prótese, da Faculdade de Odontologia de Araraquara, da Universidade Estadual Paulista para obtenção do título de Doutor em Reabilitação Oral Orientadora: Profª Drª Ana Lucia Machado Araraquara 2015 Wady, Amanda Fucci Avaliação das características de superfície e formação de biofilmes em materiais odontológicos tratados em plasmas de HMDSO / Amanda Fucci Wady .-- Araraquara: [s.n.], 2015. 185 f. ; 30 cm. Tese (Doutorado) – Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Odontologia Orientadora: Profa. Dra. Ana Lucia Machado 1. Candida albicans 2. Porphyromonas gingivalis 3. Saliva 4. Biofilmes 5. Prótese dentária I. Título Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária Marley C. Chiusoli Montagnoli, CRB-8/5646 Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação da Faculdade de Odontologia de Araraquara / UNESP AMANDA FUCCI WADY Avaliação das características de superfície e formação de biofilmes em materiais odontológicos tratados em plasmas de HMDSO. COMISSÃO JULGADORA TESE PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR Presidente e Orientador: Profa. Dra. Ana Lucia Machado 2 Examinador: Prof. Dr. Prof. Dr. Francisco Assis Mollo Jr 3 Examinador: Prof. Dr. Luiz Antonio Borelli Barros 4 Examinador: Prof. Dr. Rogério Margonar 5 Examinador: Prof. Dr. Raphael Freitas de Souza Araraquara, 23 de março de 2015 3 DADOS CURRICULARES Amanda Fucci Wady NASCIMENTO: 04/01/1986 FILIAÇÃO: Gilberto Elias Wady e Joana Fucci Wady 2004-2007- Graduação em Odontologia - Faculdade de Odontologia de Araraquara - UNESP 2008-2011- Mestrado em Reabilitação Oral - Faculdade de Odontologia de Araraquara - UNESP 2013-2014- Especialização em Periodontia - Faculdade de Odontologia de Araraquara – UNESP/FAEPO 2011-2015- Doutorado em Reabilitação Oral - Faculdade de Odontologia de Araraquara - UNESP 4 Dedicatória Dedico este trabalho: A Deus, por proteger-me e me iluminar sempre, fazendo-me substituir as incertezas pela segurança e o medo pela vitória. Senhor Jesus!!! Agradeço pela Tua proteção no dia de ontem e no dia de hoje. Os trabalhos aos quais me dediquei foram profícuos, graças à Tua proteção e eu como uma criatura agradecida, venho aos Teus pés exultante, dar oferenda em sentimento das minhas vitórias, pois sei que tudo na vida está em Tuas Mãos. Agradeço, ainda pelas oportunidades que me foram dadas e, principalmente por ter conhecido pessoas tão especiais, que junto ao senhor puderam me mostrar caminhos, que tenho seguido. Muito obrigada pelas palavras consoladoras que me chegam de todas as formas. Eu sigo e sempre seguirei os Teus passos a todo o instante e ofereço aos meus irmãos tudo o que o Tu me ensinas e que eu aprendo com avidez. Sinto-me sempre amparada pelo Senhor!! Muito obrigada!!! 5 Aos meus pais, Gilberto e Joana, que sempre me ensinaram a viver com dignidade e sempre se dedicaram para que eu conseguisse trilhar o meu caminho. Muitos momentos tiveram que renunciar seus sonhos e me ajudaram de todas as formas para que o meu fosse realizado. Quero poder me dedicar com todo meu amor e carinho a vocês!! Meu amor por vocês é incondicional!!! Ao meu irmão Arthus que pude aprender o verdadeiro significado do amor eterno!!! “A morte não é nada. Eu somente passei para o outro lado do Caminho. Eu sou eu, vocês são vocês. O que eu era para vocês, eu continuarei sendo. Me dêem o nome que vocês sempre me deram, falem comigo como vocês sempre fizeram. Vocês continuam vivendo no mundo das criaturas, eu estou vivendo no mundo do Criador. Não utilizem um tom solene ou triste, continuem a rir daquilo que nos fazia rir juntos. Rezem, sorriam, pensem em mim. Rezem por mim. Que meu nome seja pronunciado como sempre foi, sem ênfase de nenhum tipo. Sem nenhum traço de sombra ou tristeza. A vida significa tudo 6 o que ela sempre significou, o fio não foi cortado. Porque eu estaria fora de seus pensamentos, agora que estou apenas fora de suas vistas? Eu não estou longe, apenas estou do outro lado do Caminho... Você que aí ficou, siga em frente, a vida continua, linda e bela como sempre foi." Santo Agostinho Aos meus irmãos Ariel e Ariane e aos meus cunhados Paulo e Denise, que também sempre estiveram ao meu lado, torcendo por mim, valorizando minhas conquistas e me ensinando a reconhecer ainda mais o valor da vida e de cada uma de suas fases. Aos meus sobrinhos Rafael, Marina, Pedro e João por me darem tantas alegrias e momentos de diversão. Muito obrigado por tudo! Amo vocês! À minha vó Emma que é uma mulher que todos devem se espelhar!! Adoro compartilhar todos os momentos de minha vida com ela!! Sempre tenho muito carinho amor e conselhos com muita sabedoria!!! Me ajuda sempre!! Amo muito você Vó!!! 7 Agradecimentos Especiais Aos meus amigos Aline Lopes, Carol Endres, Fernada Terruggi, Eduardo Moffa, Dani Cruz que sempre estão ao meu lado. Sei que sou uma pessoa de muita sorte, pois tenho amigos verdadeiros!!! Sempre dispostos a ajudar, não importa se será fácil ou difícil, sempre dizem sim!! Fundamentais em todas as etapas da minha vida!! Amigos sinceros, pacientes e que respeitam as dores, alegrias e cada momento que estou vivendo!! Muito obrigada!!! Também aos amigos Chico, Junior, Márcio, Pedro e, em especial, o Renato!! Pessoas maravilhosas, com um coração enorme, que conheci a pouco tempo, mas que parece há muito mais!! Pessoas que meu querido irmão Arthus escolheu como família! E que para mim, agora, estão em meu coração! ...E seu principal objetivo de ser o de ser amigo. Precisa-se de um amigo que faça a vida valer a pena, não porque a vida é bela, mas por já se ter um amigo. Precisa-se de um amigo que nos bata no ombro, sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo. Precisa-se de um amigo para ter-se a consciência de que ainda se vive. Carlos Drummond de Andrade À minha orientadora, Profª. Ana Lucia: Quando a conheci e tive oportunidade de desenvolver trabalhos pude ver a excelência na capacidade em ser pesquisadora! Tive uma grande oportunidade em conviver durante 10 anos!! Tivemos muitas alegrias, tristezas, atritos, agrados... Tudo o que se tem em um relacionamento orientador/aluno durante muitos anos!! Sem dúvida, pude aprender muito e o seu papel na minha vida contribuiu para meu amadurecimento!! Com certeza ficará no meu coração todo o carinho e admiração!! Muito obrigada por toda nossa convivência!! 8 Aos Professores Borelli, Kiko e Rogério!!!! Tenho extrema admiração profissional e pessoal. Aproveito, neste agradecimento, para mostrar minha sincera gratidão por ter convivido com vocês. Tenho grande orgulho em tê-los na minha formação!!! Muito obrigada! Ao Prof. Raphael por ter aceitado ser banca da Tese de Doutorado tão prontamente! Admiro-o como profissional e pessoa!! Muito obrigada! Aos Professores Elidiane Cipriano Rangel e Nilson Cristino da Cruz! Tiveram dedicação e atenção fundamentais para que o andamento deste estudo pudesse ser concretizado. E, colocaram à disposição a infraestrutura do Laboratório de Plasmas Tecnológicos (LaPTec) da UNESP, Sorocaba, no qual os filmes de HMDSO foram polimerizados e caracterizados. Ao meu namorado Vinicius, que está sempre ao meu lado em todos os momentos, deixando-os muito mais felizes e maravilhosos. Uma pessoa maravilhosa de um coração grande e bondoso!!! Agradeço a Deus sempre por ter colocado uma pessoa tão especial na minha vida. O tempo é muito lento para os que esperam, muito rápido para os que têm medo, muito longo para os que lamentam, muito curto para os que festejam. Mas para os que amam, o tempo é eternidade (William Shakespeare). Meu amor, muito obrigada por tornar meus momentos eternos e por me acompanhar nessa conquista. 9 Agradecimentos Aos docentes e funcionários do Departamento de Materiais Odontológicos e Prótese da Faculdade de Odontologia de Araraquara – UNESP, por permitirem o desenvolvimento deste trabalho, em especial à Érica. Aos Professores do Curso de Pós-Graduação em Reabilitação Oral, pela orientação, pelos ensinamentos e pelo apoio. À Profa. Denise Madalena Palomari Espolidório, que sempre nos cedeu o uso do laboratório. Aos Funcionários da Pós-Graduação, por toda atenção, auxílio e disponibilidade, em especial à Mara. Aos Funcionários da Biblioteca, pela ajuda prestada em prol deste trabalho. À Faculdade de Odontologia de Araraquara – UNESP. A CAPES pela bolsa de doutorado e em especial à FAPESP, também pela bolsa de doutorado (processo 2011/22445-9) pelo auxílio à pesquisa concedido para a realização deste trabalho (processo 2012/00122-6). À Empresa Conexão Sistema de Próteses, pela doação das amostras de titânio. Aos estimados amigos de Pós-Graduação pela amizade e pelos momentos de descontração. Aos meus colegas de Sorocaba por tirar todas as dúvidas e pelo carinho. Aos meus amigos André e Fer Izumida que, com muito carinho e paciência, me acompanham em momentos de dificuldade e alegria. 10 Aos queridos amigos Ju Godoy, Selma Gaudiosi, Luizinho Borelli, Gisele Esper, Bruna Lopes, Aninha Falone, Thallita Queiroz, Marcelo Del´Acqua que sempre mostraram gestos de carinho, atenção e delicadeza e me fizeram perceber o quanto vocês são especiais! Obrigada pela amizade!! Aos familiares, Tia Cássia, Tio João, Lucas, Tia Lucia, Melissa, Milena, Tio Sergio, Tia Marta e sua família por darem muito apoio, carinho, atenção nos momentos difíceis!! A presença de vocês em nossas vidas têm sido muito importante. Agradeço a Deus por fazerem parte da minha família! À técnica Raissa que sempre me ajudou com muito carinho e muita atenção. À minha psicóloga Tatiana Nagliati, excelente profissional e amiga, por sempre me orientar nas condutas e decisões. Ao seu marido Dr. Julio Nagliati por sempre me atender prontamente e fazer o melhor tratamento necessário. À Tia Nadir, ao Tio Marco, à Patrícia e ao César por sempre acreditarem e torcerem por mim. À Nea, Edy e Carol por ter sempre a paciência de organizar tudo o que preciso e me ajudarem com os cuidados dos meus pais. Muito obrigado a todos aqueles que, direta ou indiretamente, fizeram parte desta etapa de minha vida! Cada um que passa em nossa vida, passa sozinho, pois cada pessoa é única e nenhuma substitui outra. (Antoine de Saint-Exupéry) 11 Resumo 12 Wady AF. Avaliação das características de superfície e formação de biofilmes em materiais odontológicos tratados em plasmas de HMDSO. [Tese de doutorado]. Araraquara: Faculdade de odontologia da Unesp, 2015. Resumo Os materiais odontológicos atuam como substrato para a adesão dos microrganismos e, consequentemente, desenvolvimento do biofilme. Tendo em vista que as características de superfície dos materiais podem interferir na adesão inicial, alterações dessas características podem prevenir ou diminuir a adesão de bactérias e fungos, evitando assim, o desenvolvimento da doença. Outro aspecto a ser considerado é que, na cavidade oral, as superfícies são recobertas pela saliva, formando um fino filme denominado película adquirida. Para simular as condições bucais, os estudos in vitro têm utilizado o condicionamento prévio em saliva humana antes da formação do biofilme. Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar o efeito da deposição de filmes polimerizados a plasma a partir do composto organometálico hexametildisiloxano (HMDSO), nas características de superfície de materiais odontológicos (titânio, zircônia e resina acrílica), bem como na formação de biofilmes sobre esses materiais, com e sem armazenamento em saliva humana. Para isso, o HMDSO foi utilizado no processo PECVD (Plasma Enhanced Chemical Vapor Deposition) para a deposição de filmes nas superfícies dos corpos de prova, de maneira que resulte na formação de filmes com características hidrofóbicas ou hidrofílicas. Corpos de prova de cada um dos materiais foram mantidos sem deposição de filmes (grupos controles). A caracterização dos filmes obtidos foi realizada através de espectroscopia no infravermelho (FTIR), microscopia eletrônica de varredura (MEV), medida de ângulos de contato e energia de superfície, espectroscopia de fotoelétrons de raios-X (XPS) e perfilometria. Para avaliação da 13 formação de biofilmes, metade dos corpos de prova (10 × 2 mm) dos grupos experimentais e controles foram armazenados em saliva humana previamente preparada e, posteriormente, incubados com 1 × 107 células/mL tanto para C. albicans (para a resina acrílica) como para P. gingivalis (para o titânio e a zircônia). Amostras sem armazenamento em saliva também foram incubadas nos respectivos microrganismos. Após os períodos de formação dos biofilmes, esses foram avaliados por meio da contagem de colônias (UFC/mL). Foi possível desenvolver filmes a partir de HMDSO em todos os materiais avaliados. Os valores de formação de biofilme de Candida albicans em resina acrílica, sem pré-condicionamento em saliva, foram menores para os filmes com maior valor de ângulo de contato. Houve pequena redução na formação de biofilme de Porphyromonas gingivalis nos filmes depositados no titânio e na zircônia. Quando houve pré-condicionamento em saliva, a formação de biofilme de C. albicans em resina acrílica foi maior do que quando não houve pré-condicionamento. Nos corpos de prova de titânio e zircônia, o pré- condicionamento proporcionou redução da formação de biofilme de P. gingivalis. Palavras-chave: Candida albicans, Porphyromonas gingivalis, saliva, biofilmes, Prótese Dentária 14 Abstract 15 Wady AF. Evaluation of surface characteristics and biofilm formation on dental materials treated with HMDSO plasmas. [Tese de Doutorado]. Araraquara: Faculdade de Odontologia da Unesp, 2015. Abstract Dental materials act as substrates for the adhesion of microorganisms, and consequently, for biofilm development. Given that the surface characteristics of materials may interfere in the initial adhesion, changes in these characteristics may inhibit or reduce the adhesion of bacteria and fungi, thus preventing the development of diseases. Another aspect to consider is that, in the oral cavity, surfaces are covered with saliva, forming a thin film referred to as acquired salivary pellicle. In order to simulate oral conditions, in vitro studies have used preconditioning in human saliva before biofilm formation. Thus, the aim of this study was to evaluate the effect of plasma polymerized films on the surface characteristics of dental materials (acrylic resin, titanium and zirconia), as well as on the biofilm formation on these materials, with and without preconditioning in human saliva. For this purpose, the monomer hexamethyldisiloxane HMDSO was used as precursor in the PECVD (Plasma Enhanced Chemical Vapor Deposition) process. Deposition parameters were varied to produce a range of films with hydrophobic or hydrophilic characteristics. Specimens of each material without film deposition were used as controls. Characterization of the films was performed by Fourier Transformed infrared spectroscopy (FTIR), scanning electron microscopy (SEM), contact angle measurements and surface free energy, X-ray photoelectron spectroscopy (XPS), and profilometry. To evaluate biofilm formation, half of the test specimens (10 × 2 mm) of the experimental and control groups were stored in previously prepared 16 human saliva and afterwards incubated with 1 × 107 cells/mL of both Candida albicans (for acrylic resin) and Porphyromonas gingivalis (for titanium and zirconia). Samples without preconditioning in saliva were also incubated in the respective microorganisms. After the periods of biofilm formation, these were evaluated by counting the colony-forming units (CFU/mL). It was possible to develop films from HMDSO on all the materials evaluated. The values of C. albicans biofilm formation on acrylic resin, without preconditioning in saliva, were lower for the films with higher contact angle value. There was a small reduction in P. gingivalis biofilm formation on the films deposited on titanium and zirconia. C. albicans biofilm formation on acrylic resin was higher in the saliva-coated specimens than on the uncoated specimens. For titanium and zirconia, preconditioning of the test specimens in saliva resulted in a reduction of P. gingivalis biofilm formation. Key Words: Candida albicans, Porphyromonas gingivalis, saliva, biofilms, Dental Prosthesis. 17 Sumário 1 INTRODUÇÃO........................................................................................................21 2 REVISÃO DA LITERATURA..................................................................................29 2.1 Estudos Sobre Adesão e Formação de Biofilme Microbiano........................29 2.2 Estudos Sobre Filmes de HMDSO Polimerizados a Plasma..........................71 2.3 Estudos Sobre Película Salivar.........................................................................77 3 PROPOSIÇÃO........................................................................................................83 4 MATERIAL E MÉTODO..........................................................................................85 4.1 Confecção dos Corpos de Prova de Resina Acrílica.....................................85 4.2 Medida da Rugosidade Superficial (Ra)..........................................................86 4.3 Deposição e Caracterização de Filmes de HMDSO nos Corpos de Prova..........................................................................................................................87 4.4 Pós-tratamento Com O2.....................................................................................90 4.5 Limpeza a Plasma...............................................................................................91 4.6 Testes Microbiológicos......................................................................................91 4.6.1 Microrganismos e condições de crescimento..............................................91 4.6.1.1 Preparo do inóculo de C. albicans..................................................................91 4.6.1.2 Preparo do inóculo de P. gingivalis................................................................91 4.7 Coleta, Preparo e Pré-Condicionamento dos Corpos de Prova com Saliva Humana.....................................................................................................................93 4.8 Formação dos Biofilmes...................................................................................94 4.8.1 Biofilme de C. albicans..................................................................................94 4.8.2 Biofilme P. gingivalis.....................................................................................95 4.9 Análises dos Biofilmes.....................................................................................96 4.10 Determinação da Hidrofobicidade da Superfície Celular (HSC).................97 18 5 RESULTADO..........................................................................................................99 5.1 Filmes de HMDSO Formados na Superfície de Resina Acrílica.....................99 5.1.1 Filmes hidrofóbicos........................................................................................99 5.1.1.1 Espessura.......................................................................................................99 5.1.1.2 Ângulo de contato.........................................................................................100 5.1.1.3 Energia livre de superfície............................................................................101 5.1.1.4 Composição dos filmes (análise de XPS)....................................................102 5.1.1.5 FTIR.............................................................................................................103 5.1.1.6 Rugosidade..................................................................................................106 5.1.1.7 Análises de MEV..........................................................................................107 5.1.1.8 Formação de biofilme de C. albicans...........................................................109 5.1.1.8.1 Sem pré-condicionamento em saliva........................................................109 5.1.1.8.2 Com pré-condicionamento em saliva........................................................110 5.1.2 Filmes hidrofílicos (pós-tratamento com O2)..............................................110 5.1.2.1 Espessura.....................................................................................................110 5.1.2.2 Ângulo de contato.........................................................................................110 5.1.2.3 Composição dos filmes (Análise de XPS)....................................................111 5.1.2.4 Espectros de infravermelho – FTIR..............................................................113 5.1.2.5 Rugosidade..................................................................................................114 5.1.2.6 Análises de MEV..........................................................................................115 5.1.2.7 Formação de biofilme de C. albicans...........................................................116 5.1.2.7.1 Sem pré-condicionamento em saliva........................................................116 5.1.2.7.2 Com pré-condicionamento em saliva........................................................117 5.1.2.8 Hidrofobicidade celular.................................................................................118 5.2 Filmes de HMDSO Formados na Superfície de Titânio.................................118 19 5.2.1 Ângulo de contato.........................................................................................118 5.2.2 Energia livre de superfície............................................................................120 5.2.3 Composição dos filmes (Análise de XPS)...................................................120 5.2.4 Espectros de infravermelho – FTIR.............................................................123 5.2.5 Rugosidade....................................................................................................125 5.2.6 MEV.................................................................................................................125 5.2.7 Formação de biofilme de P. gingivalis........................................................127 5.2.7.1 Sem pré-condicionamento em saliva...........................................................127 5.2.7.2 Com pré-condicionamento em saliva...........................................................128 5.3 Filmes de HMDSO Formados na Superfície de Zircônia..............................129 5.3.1 Espessura......................................................................................................129 5.3.2 Ângulos de contato......................................................................................130 5.3.3 Energia livre de superfície............................................................................131 5.3.4 Composição dos filmes (análise de XPS)...................................................131 5.3.5 Espectros de infravermelho – FTIR.............................................................133 5.3.6 Rugosidade....................................................................................................135 5.3.7 MEV.................................................................................................................135 5.3.8 Formação de biofilme de P. gingivalis........................................................136 5.3.8.1 Sem pré-condicionamento em saliva...........................................................136 5.3.8.2 Com pré-condicionamento em saliva...........................................................137 5.3.9 Hidrofobicidade celular da P. gingivalis.....................................................138 6 DISCUSSÃO.........................................................................................................140 7 CONCLUSÃO.......................................................................................................162 REFERÊNCIA..........................................................................................................165 Anexo.......................................................................................................................183 20 INTRODUÇÃO 21 1 INTRODUÇÃO Os biofilmes têm sido descritos como comunidades diversas de microrganismos, que apresentam estruturas dinâmicas e complexas, envoltas por matriz polimérica extracelular21, 42, 44, 45, 81, 82, 112. Esses biofilmes usualmente estão aderidos a substratos sólidos, situados em ambientes úmidos ou líquidos44, 45, 82, 91. Especificamente na cavidade oral, várias espécies de microrganismos têm sido identificadas44, 45, 77, 82 e os biofilmes orais têm sido reconhecidos como fatores etiológicos de diversas doenças8, 9, 44, 45, 81, 105. Uma patologia associada à presença de biofilme é a candidíase que comumente afeta as mucosas urogenital, orofaríngea, esofágica e gastrointestinal48, 82. A candidíase oral, associada à utilização de próteses removíveis, tem sido denominada de estomatite protética82, 107. Um dos fatores que tem sido associado com essa patologia é a presença de Candida albicans40, 109 nas superfícies protéticas53, 70, 80, 107, 108, 117, que atuam como reservatório de microrganismos17, 64. A periodontite é, também, uma das doenças mais comuns da cavidade oral, mediada por processo inflamatório e iniciada pelo biofilme sub-gengival44, 45. As áreas subgengivais são banhadas pelo fluido crevicular, rico em compostos nitrogenados, e apresentam pH neutro e ambiente anaeróbio. Essas condições promovem o desenvolvimento de bactérias anaeróbias como Fusobacterium, Eubacterium, Campylobacter, Prevotella e Porphyromonas106. Os implantes osseointegrados de titânio têm sido utilizados para a reabilitação oral de pacientes total ou parcialmente desdentados e, usualmente, têm apresentado altas taxas de sobrevivência78. Entretanto, a inflamação dos tecidos periimplantares, devido à presença de biofilmes bacterianos21, tem sido apontada 22 como uma das causas de falhas dos implantes41, 78. A peri-implantite pode ser diretamente relacionada à infecção mista de microrganismos anaeróbios, sendo a Porphyromonas gingivalis presente em grande quantidade no biofilme supra e sub- gengival em peri-implantites28, 103. As porcelanas também têm sido amplamente empregadas na Odontologia e, em função dos avanços dos sistemas de cerâmicas puras102, houve aumento significativo no número de restaurações denominadas livres de metal ou metal-free. E, devido à demanda dos pacientes por restaurações estéticas, os pilares de cerâmica têm ganhado popularidade131. Um material que tem sido amplamente utilizado para a confecção de pilares é a zircônia32, devido às suas propriedades mecânicas superiores às da alumina32, 43. Estudos in vitro e in vivo têm demonstrado a adesão de microrganismos tanto às superfícies do titânio como da zircônia2, 11, 12, 13, 18, 19, 25, 37, 55, 58, 66, 67, 92, 93, 95, 100, 112, 134. Embora alguns estudos tenham observado que a zircônia foi menos susceptível à adesão de microrganimos que o titânio2, 3, 37, 67, 92, 100, outros não encontraram diferenças significativas13, 25, 55, 58, 67, 93, 95, 112. Assim, apesar de ter sido sugerido que a zircônia pode reduzir a adesão inicial de bactérias (< 24 horas) quando comparada ao titânio, ainda não está claro se essa característica resulta em benefício clínico66. E, enquanto vários pesquisadores avaliaram o titânio, estudos sobre a adesão microbiana à zircônia são recentes e mais informações ainda são necessárias35, 37. A presença de patologias orais como a periodontite pode resultar na infecção de outros órgãos106. A contínua deglutição ou aspiração de microrganismos presentes no biofilme formado nas superfícies das próteses também constitui risco de infecções sistêmicas109. A presença de C. albicans no trato respiratório de pacientes hospitalizados, submetidos à ventilação mecânica, tem papel significativo 23 no desenvolvimento da pneumonia bacteriana89. A candidemia, infecção sanguínea extremamente séria causada, predominantemente, por C. albicans, pode levar à mortalidade, sobretudo em pacientes imunocomprometidos48, 82. Da mesma forma, a periodontite tem sido considerada como fator de risco de doenças cardiovasculares, cerebrovasculares e diabetes mellitus com controle glicêmico deficiente8. Considerando-se que patógenos periodontais podem contribuir para complicações sistêmicas na presença de periodontite, riscos para a saúde podem também estar associados com a peri-implantite14. A formação dos diversos biofilmes inicia-se com o mecanismo de adesão, um processo complexo mediado pela interação entre os microrganismos e as propriedades da superfície dos substratos105. Tem sido relatado que a rugosidade pode favorecer a adesão de bactérias e fungos às superfícies dos materiais como titânio2, 12, 37, 76, 105 zircônia2, 37 e resina acrílica53, 70, 80, 108, 117. Nesse contexto, o valor de 0,2 µm tem sido considerado como o limite de rugosidade média abaixo do qual a adesão microbiana não pode ser reduzida significativamente10, 27. Outro fator que tem sido considerado importante no processo de adesão microbiana e formação dos biofilmes é a energia livre da superfície do substrato, que proporciona medida das forças atrativas intermoleculares ou interfaciais134. Uma maneira de se estudar as propriedades termodinâmicas de superfície das primeiras monocamadas de um sólido é por meio de experimentos de ângulo de contato, θ, definido como o ângulo na interseção entre um plano tangente à gota e a superfície onde o líquido se encontra depositado83, 84. A influência da energia de superfície na adesão microbiana tem sido intensivamente investigada com a conclusão frequente de que a adesão é menor a superfícies com baixa energia, isto é, hidrofóbicas1, 68, 124. Outros estudos também têm relatado que materiais, como o titânio, com 24 superfícies hidrofílicas (alta energia) seriam mais favoráveis à adesão microbiana105, 110. Entretanto, resultados contraditórios têm sido obtidos, com maior aderência de microrganismos em superfícies hidrofóbicas13, 50. Há autores, ainda, que relataram que não houve relação significativa entre a energia de superfície e a adesão microbiana35, 36, 61. Segundo Minagi et al.64 (1985), quanto mais próxima a energia livre de superfície do substrato e a do microrganismo, maior a probabilidade de aderência. Outros estudos também observaram que a energia do microrganismo pode influir nos resultados60, 61. Em função dos aspectos apontados, a modificação da superfície dos materiais tem sido proposta para prevenir a adesão dos microrganismos e formação de biofilmes. Uma técnica altamente efetiva para modificar superfícies, com a vantagem de não alterar as propriedades de camadas profundas (“bulk”) dos materiais, é o plasma7, 126. As condições de processamento que incluem potência, pressão e composição química do plasma e a natureza do substrato irão determinar se a modificação da superfície ocorrerá por meio da deposição de um filme, incorporação ou remoção de espécies, ou ainda por alterações estruturais induzidas por modificações químicas7. O processo de deposição de filme, denominado polimerização a plasma, ocorre quando um composto orgânico ou organometálico, conhecido como monômero, compõe a atmosfera usada para excitar o plasma. Devido à possibilidade de ocorrer intensa fragmentação molecular do monômero e, então, da estrutura conter ligações cruzadas, esses filmes, geralmente, apresentam forte adesão aos substratos7, 79 e resultam em superfícies lisas, sem a presença de falhas ou defeitos (pinhole-free homogeneous). Além disso, filmes que possuem elevada estabilidade química, física e mecânica79 podem ser produzidos por essa técnica. Qualquer composto na fase gasosa, ou que possa ser evaporado pode ser 25 usado como um precursor do filme. Nesse contexto, o hexametil disiloxano (HMDSO) é um monômero que pode ser polimerizado a plasma por meio do rearranjo de radicais produzidos pela dissociação induzida por impacto de elétrons126. O HMDSO é seguro, relativamente barato, de fácil manipulação e obtenção39, 52, 79. Há relatos de estudos que produziram superfícies hidrofóbicas por meio do tratamento a plasma com HMDSO39, 69, 85, 126. Entretanto, tem sido demonstrado que as propriedades dos filmes depositados a plasma dependem dos parâmetros da descarga, de modo que a escolha correta dos mesmos pode resultar em propriedades adequadas para uma dada aplicação. Variando os parâmetros de processamento (densidade do plasma, velocidade de escoamento do monômero e tempo de deposição, Krasteva et al.52 (2010) realizaram a deposição de filmes ultrafinos de HDMSO com baixa molhabilidade, que foram rapidamente hidrofilizados por meio de tratamento a plasma de amônia. Michaeli et al.63 (1993) também realizaram a polimerização a plasma do HDMSO sobre amostras de polimetil metacrilato e observaram que a tensão superficial pode variar, dependendo se o revestimento é preparado a partir do HDMSO puro ou misturado a outros gases. Outros estudos realizaram a polimerização a plasma do HDMSO com subsequente tratamento a plasma de oxigênio e obtiveram filmes com ângulos de contato que variaram de cerca de 0 a 106°119, 124. Bayram et al.6 (2010) e Radeva et al.79 (2010) mostraram, ainda, que os filmes preparados a partir de plasmas de HMDSO são biocompatíveis e não apresentaram efeito citotóxico na proliferação celular. A interação entre microrganismos e superfícies modificadas por polimerização a plasma do HDMSO também tem sido investigada56. Saulou et al.98 (2009) avaliaram amostras de aço inoxidável tratadas em plasma de HMDSO e verificaram 26 aumento na molhabilidade da superfície, manutenção da rugosidade e adesão significativamente reduzida de Saccharomyces cerevisiae tendo sido a maioria das células completamente removida com força (shear stress) considerada moderada. Esses resultados foram atribuídos à repulsão hidrofílica e ausência de transferência de carga entre o filme e a superfície fúngica. Resultados semelhantes foram relatados por Guillemot et al.33 (2008), Mercier-Bonin et al.62 (2012) e Saulou et al.99 (2012) que observaram que, para o aço inoxidável sem tratamento, ocorreu forte adesão do fungo S. cerevisiae99 e da bactéria Escherichia coli62 e nenhuma célula foi removida com forças entre 70 a 100 Pa. Já para as superfícies modificadas com deposição do filme de HMDSO, foi observado que apenas aproximadamente 20% das células permaneceram aderidas. Diante do exposto, os filmes depositados a plasma apresentam potencialidade para a modificação das propriedades de superfície de biomateriais tendo em vista que o processo é seco, limpo, rápido, barato e de fácil execução87; proporciona materiais uniformes, homogêneos, livres de defeitos e com propriedades fortemente dependentes dos parâmetros de deposição87; ocorre em baixa temperatura (cold plamas), permitindo o processamento de materiais que não resistem ao calor excessivo. De forma geral, o processo utilizado, conhecido como PECVD (Plasma Enhanced Chemical Vapor Deposition), apresenta vantagens como custo acessível; ecologicamente correto7, uma vez que não há geração de resíduos nocivos29; obtenção de filmes com alto grau de uniformidade, mesmo em substratos com formatos complexos5, e com ampla gama de propriedades por meio do controle dos parâmetros do processo115. Entretanto, apesar de tratamentos a plasma já terem sido realizados na Odontologia127, 128, 129, ainda há poucos estudos sobre a técnica de PECVD para a polimerização a plasma, utilizando o HDMSO39, 49, 116. 27 Outro aspecto a ser considerado é que, na cavidade oral, as superfícies das próteses fixas e removíveis são recobertas pela saliva, formando um fino filme denominado película adquirida121, 129, que também tem sido apontada como um dos fatores envolvidos no complexo processo de adesão e colonização de microrganismos, tanto às superfícies orgânicas quanto inorgânicas13, 54, 58, 61, 75, 94. A película, que é uma camada de bio-polímero com ligações cruzadas de alta tenacidade, com proteínas, enzimas e lipídios em sua composição 88, representa a interface entre o substrato e o meio ambiente oral, desempenhando um papel fundamental na mediação do processo de bio-adesão47, 88. Em geral, tem sido relatado que a presença de uma película salivar pode influenciar a quantidade e a qualidade de aderência aos substratos94, mas permanece controverso se o revestimento salivar reduz ou aumenta a adesão24, 26, 74. Assim, para simular as condições bucais, os estudos in vitro12, 13, 57, 73, 88, 96 têm utilizado o condicionamento prévio em saliva humana antes da formação do biofilme. A presença de saliva pode alterar as propriedades das superfícies121. Por outro lado, as características químicas e físicas da superfície dos biomateriais também influenciam a formação e a composição da película salivar65, 121, 122 e superfícies com diferenças em suas composições químicas e energia de superfície diferem com relação à adsorção de proteínas salivares23, 54, 71, 104, 121. Com base nessas considerações, foi considerado oportuno avaliar filmes de HMDSO polimerizados a plasma sobre materiais utilizados na confecção de próteses fixas e removíveis (resina acrílica, titânio e zircônia) quanto às características superficiais, bem como ao possível efeito na formação de biofilmes microbianos, na presença ou ausência de saliva. 28 Revisão de Literatura 29 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 Estudos Sobre Adesão e Formação de Biofilme Microbiano Em 1985, Minagi et al.64 utilizaram 21 materiais resinosos, a C. albicans IFO 1385 e a C. tropicalis IFO 1400 com o objetivo de examinar o efeito da hidrofobicidade de superfície dos substratos na aderência microbiana. Entre os materiais resinosos utilizados, 9 eram termopolimerizáveis, 2 autopolimerizáveis, 9 reembasadores de próteses resilientes e 1 polissulfeto. Os corpos-de-prova, com dimensões de 10 × 10 mm e superfícies lisas, foram contaminados por 1 hora a 37 ºC, com suspensões fúngicas em uma concentração de 107 células/mL para Candida albicans e 105 células/mL para Candida tropicalis. Após esse período, os mesmos foram lavados em PBS, fixados com formaldeído e metanol, corados com violeta cristal e analisados em microscopia. A contagem das células aderidas foi realizada em 10 campos para cada uma das amostras (n=7) e a média entre eles obtida. Além disso, foram realizadas medições dos ângulos de contato dos substratos e das células fúngicas. Os autores observaram que o aumento do ângulo de contato dos materiais estudados resultou em um aumento no número de células aderidas para Candida tropicalis, enquanto uma diminuição foi observada para Candida albicans. Além disso, foi notada uma relação entre a energia livre de superfície da resina, obtida por meio dos valores de ângulos de contato, e a aderência dessas duas espécies, ou seja, o aumento da energia livre da resina resultou em aumento da aderência de Candida albicans, por outro lado, uma diminuição da aderência de Candida tropicalis. Os autores concluíram que a presença de correlação entre a alteração de energia livre e aderência fúngica sugere 30 que a interação hidrofóbica é um importante fator na adesão inicial dos fungos às superfícies resinosas. Verran et al.117, em 1997, relataram que a adesão de microrganismos às superfícies de próteses removíveis é pré-requisito para a colonização. Este estudo comparou a retenção de Candida albicans sobre resina acrílica e silicone com superfícies lisas e rugosas após procedimento de lavagem para determinar o efeito da rugosidade da superfície sobre a infecção da prótese e a higiene. Amostras de resina acrílica e silicone, lisas e rugosas, foram incubadas em suspensões padronizadas de células de C. albicans durante 1 hora a 24 °C. Após lavagem, as células aderidas nas superfícies foram coradas com laranja de acridina e examinadas por microscopia de fluorescência. Para as superfícies lisas, não houve diferença significativa no número de células entre os dois materiais. Números significativamente maiores de células aderidas foram observados em superfícies rugosas (silicone > resina acrílica) quando comparadas com assuperfícies lisas.. Silicones utilizados em próteses foram processados contra gesso. A rugosidade da superfície obtida pode facilitar a retenção microbiana e a infecção, e, dessa forma, deve ser reduzida a um mínimo. Os autores concluíram que o aumento na rugosidade, seja nas superfícies de resina acrílica ou silicone, facilitou a retenção fúngica. Também em 1997, Bollen et al.10 reportaram que a rugosidade de superfícies duras intra-orais pode influenciar a adesão bacteriana. Assim, os autores realizaram uma revisão que avaliou a rugosidade inicial da superfície de vários materiais duros intra-orais, bem como as alterações nessa rugosidade, como consequência de 31 diferentes modalidades de tratamento. Artigos encontrados através de buscas no Medline foram incluídos na revisão, observando os seguintes critérios: 1) apresentou valores limites de rugosidade superficial e considerou as alterações na rugosidade da superfície, devido às diferentes técnicas de manipulação; ou 2) incluiu condições padronizadas de superfície que podem ser comparadas com a superfície tratada. Foi observado que, recentemente, alguns estudos in vivo, sugeriram um limite de rugosidade para a retenção de bactérias de Ra = 0,2 µm, abaixo do qual nenhuma redução adicional no acúmulo de bactérias poderia ser esperada. Aumento da rugosidade da superfície acima desse limite de rugosidade, no entanto, resultou num aumento simultâneo do acúmulo de placa bacteriana, aumentando assim o risco de cárie e doença periodontal. A rugosidade inicial da superfície de diferentes materiais odontológicos (por exemplo, dentes, pilares, ouro, amálgama, resina acrílica, resina composta, ionômero de vidro ou compósitos e cerâmica) e os efeitos de diferentes modalidades de tratamento (por exemplo, polimento, escovação, condensação ou acabamento) nessa rugosidade foram analisados e comparados com o limite máximo de 0,2 µm. Os efeitos microbiológicos dessas modalidades de tratamento, também foram discutidos e comparados com recentes dados in vivo. Com base na revisão realizada, foi observado que diferentes superfícies duras intra-bucais podem apresentar grande faixa de valores, entre máximos e mínimos, de rugosidade superficial, e que o impacto de tratamentos dentários sobre a rugosidade é dependente do material. Algumas técnicas clínicas resultam em superfícies muito lisas (compressão de compósitos contra matrizes), enquanto outras técnicas tornam as superfícies rugosas (aplicação de instrumentos manuais em ouro). Esses resultados indicaram que todos os materiais dentários precisam de uma modalidade 32 de tratamento específica, a fim de obter e de manter a superfície tão lisa quanto possível. Radford et al.80, em 1998, tiveram como objetivos avaliar a aderência in vitro de Candida albicans, em materiais para base de prótese rígidos e resilientes com diferentes rugosidades de superfície, e observar o efeito da película salivar sobre aderência de Candida a essas superfícies. Foram realizados ensaios de adesão in vitro em resina acrílica (Trevalon), Molloplast B e Novus utilizando a cepa de C. albicans NCPF 3153A. As superfícies para os ensaios foram preparadas utilizando- se instrumentos rotatórios. Além disso, para o estudo foi utilizada saliva total não estimulada, clarificada e obtida de cinco doadores. Os resultados mostraram que houve maior adesão de C. albicans nas superfícies rugosas que nas lisas, bem como maior adesão aos materiais reembasadores resilientes em comparação com a resina acrílica. O condicionamento em saliva diminuiu a adesão de C. albicans em todos os materiais. Dessa forma, este estudo demonstrou que para um determinado material para base de prótese, o aumento da rugosidade da superfície conduz ao aumento da adesão de Candida, mas não parece existir relação direta entre a rugosidade da superfície e adesão independentemente do material. A presença da película de saliva reduziu a adesão. Em muitos casos, essa redução foi considerável, diminuindo o efeito das diferenças de rugosidade e de energia livre de superfície entre materiais. Em estudos de adesão é importante a utilização de materiais que sejam adequados à clínica odontológica. Nesses estudos, resinas acrílicas termopolimerizáveis e materiais reembasadores resilientes tem sido utilizados com a intenção de se obter resultados clinicamente relevantes. Em termos clínicos, os resultados indicam que superfícies que podem favorecer o 33 desenvolvimento de biofilme microbiano devem ser manipuladas no laboratório e na clínica de maneira a produzir superfícies lisas. Isso levará à reduzida aderência e colonização de C. albicans, um patógeno oportunista, comumente associado ao uso de prótese. Ainda em 1998, Taylor et al.108 avaliaram o efeito do acabamento de superfície de materiais odontológicos sobre a subsequente contaminação por microrganismos. Para isso, foi comparada a adesão de Streptococcus oralis, Actinomyces viscosus e Candida albicans em amostras de liga de cobalto-cromo e de resina acrílica, submetidas a polimento convencional, eletrolítico e jateamento com partículas de óxido de alumínio de granulação fina ou grossa. Suspensões padronizadas de células dos microrganismos foram incubadas com os materiais avaliados, durante 1 hora a 37 °C, e, em seguida, as células aderidas foram contadas por meio de análise de imagem (área percentual de um campo do microscópio coberta por células). A retenção de células bacterianas foi substancial (S. oralis 12% a 20% e A. viscosus 9% a 16%), independentemente do acabamento da superfície. A retenção máxima foi observada em amostras de liga de cobalto- cromo que tinham sido submetidas ao jateamento com partículas finas e polimento eletrolítico. Para C. albicans, aumento da rugosidade da superfície (0,15 a 3,53 µm) resultou em aumento na retenção fúngica (3% a 9%). O tamanho das células e o tipo de rugosidade alteram significativamente a retenção de microrganismos em superfícies. O polimento eletrolítico em ligas de cobalto-cromo não reduziu a rugosidade da superfície ou a subsequente adesão de células. 34 van der Mei, Bos e Busscher113, em 1998, relataram que as interações ácido- base formam a origem da hidrofobicidade da superfície das células microbianas e podem ser quantificadas a partir de medidas de ângulo de contato com água, formamida, iodeto de metileno e / ou α-bromonaftaleno. Esta revisão proporciona um guia de referência para a hidrofobicidade celular microbiana baseada em ângulos de contato com os quatro líquidos e envolve Acinetobacter calcoaceticus, Actinobacillus actinomycetemcomitans, actinomyces, Brevibacterium linens, várias espécies de Candida, Capnocytophaga gingivalis, Enterococos, Escherichia coli, lactobacilos, Leuconostoc mesenteroides, peptostreptococos, Porphyromonas gingivalis, Prevotella intermedia, pseudomonas, Serratia marcescens, estafilococos e estreptococos, somando um total de 142 isolados entre os quais muitas cepas ATCC e NCTC e duas cepas padrão. A comparação dos resultados de uma análise de ácido-base das superfícies de células microbianas, com base nos ângulos de contato para as duas últimas cepas, e os resultados do método que mede a adesão microbiana aos hidrocarbonos, para determinar a hidrofobicidade da superfície celular, demonstraram que somente os ângulos de contato podem proporcionar uma estimativa real de hidrofobicidade celular. Além disso, os dados de ângulo de contato apresentados, torna claro que não podem ser feitas generalizações sobre as propriedades físico-químicas da superfície de microrganismos. Rimondini et al.92, em 2002, avaliaram a colonização microbiana de novos materiais cerâmicos desenvolvidos para a confecção de pilares protéticos sobre implantes. Os materiais utilizados foram discos cerâmicos de zircônia tetragonal estabilizada com ítrio (Y-TZP) e titânio comercialmente puro grau 2 (Ti) e seus correspondentes eluatos. Foram realizados testes, in vitro, com as seguintes 35 bactérias: Streptococcus mutans, S. sanguis, Actinomyces viscosus, A. naeslundii, e Porphyromonas gingivalis. A proliferação bacteriana foi avaliada em placas por meio de halos de inibição ao redor dos locais previamente inoculados com os eluatos obtidos a partir dos materiais. Já a adesão bacteriana nos materiais foi quantificada por espectrofotometria, avaliando a produção de “slime” pelas mesmas bactérias. Além disso, a adesão bacteriana inicial foi avaliada em voluntários e observada com MEV. Não foi observada inibição da proliferação bacteriana com a utilização dos eluatos. In vitro, os discos Y-TZP de zircônia sinterizada (“as-fired”) e altamente polida mostraram significativamente mais S. mutans aderidos que os discos de Ti, enquanto S. sanguis pareceu aderir facilmente nos espécimes de Ti. Não foram observadas diferenças para Actinomyces spp e P. gingivalis. In vivo, Y-TZP acumulou menos bactérias do que Ti em termos do número total de bactérias e presença de potenciais agentes patogênicos. Em geral, Y-TZP permitiu menor adesão de bactérias do que Ti, e pode ser considerado como um material promissor para a confecção de pilares protéticos sobre implantes. Em 2003, Lamfon et al.53 avaliaram a formação de biofilmes de C. albicans em superfícies de esmalte, dentina e resina acrílica, com diferentes rugosidades. Para isso, um isolado clínico de C. albicans (genótipo A) foi utilizado para o preparo do inóculo. Os substratos utilizados foram submetidos ao polimento com lixas, tendo sido utilizadas para a resina acrílica as granulações de n° 1000 (rugosidade superficial resultante de 2,5 Ra), 500 (3,5 Ra) e 80 (9,3 Ra), enquanto para o esmalte e a dentina, a rugosidade obtida com o polimento foi de 2,5 Ra. Os discos foram colocados em sistema que permite obter filmes com espessura constante (“constant depth film fermenter” – CDFF) que foi estabelecida para este estudo em 36 300 µm. O inóculo (10 ml da cultura + 500 ml de saliva artificial) foi bombeado no sistema por 6 horas. A fonte de nutrientes utilizada foi saliva artificial com conteúdo de mucina (fluxo de 0,72 L/dia). Em vários intervalos, até o período total de 96 horas, os biofilmes foram removidos do CDFF, agitados e diluídos em solução de PBS. Com o auxílio de hemocitômetro e microscópio de luz, com aumento de 40 vezes, o número de leveduras e hifas foi contado. Os biofilmes também foram analisados por meio de microscopia confocal à laser (3 amostras eram avaliadas em cada intervalo). Os resultados obtidos revelaram que o número de leveduras presentes no esmalte foi maior que nos demais substratos e que o número de leveduras foi maior que o número de hifas em todas as superfícies, em todos os períodos avaliados. Os números mais elevados de leveduras foram observados nas superfícies rugosas, no período de 6h; entretanto, números maiores de hifas foram encontrados no esmalte nos períodos de 6 e 24h. Além disso, foi relatado que a maturação dos biofilmes de C. albicans depende, possivelmente, de microrganismos em forma de hifas, tendo sido observado maior número de leveduras e hifas nas superfícies mais rugosas que nas superfícies polidas. A estrutura dos biofilmes também foi influenciada pela rugosidade superficial: nas superfícies mais rugosas, a formação do biofilme pareceu estar alinhada com os sulcos da superfície deixados pelas lixas, enquanto nas superfícies mais polidas, o biofilme formou-se em discretos aglomerados, com larga área da superfície não colonizada. Com isso, tanto o tipo de substrato quanto a rugosidade superficial influenciaram a formação inicial e consequente desenvolvimento dos biofilmes de C. albicans. De acordo com o que foi observado na microscopia confocal a laser, os autores concluíram que a organização do biofilme depende da rugosidade superficial e sua maturação está relacionada com os microrganismos em forma de hifas. 37 No ano seguinte, Scarano et al.100 relataram que há pouco conhecimento sobre os mecanismos de interação bacteriana com materiais de implante na cavidade oral. Tem sido relatada correlação entre o acúmulo de placa e perda óssea progressiva ao redor de implantes. A adesão bacteriana mostra correlação direta positiva com a rugosidade da superfície. Outras características de superfície também parecem ser extremamente importantes no que diz respeito à formação de placa. Diferentes afinidades de adesão de bactérias têm sido relatadas para os diferentes materiais. Com base nesses aspectos, os autores realizaram este estudo com o objetivo de caracterizar a percentagem de superfície coberta por bactérias em discos de titânio comercialmente puro e de óxido de zircônia. Dez pacientes participaram do estudo. Um dispositivo removível de resina acrílica foi adaptado na região de pré-molares e molares, e discos de titânio comercialmente puro (controle) e de óxido de zircônia (experimentais) foram fixados na parte vestibular de cada dispositivo que foram utilizados pelos participantes durante 24 horas. A rugosidade de todos os discos era similar, com valor médio de 0,73 ± 0,05 µm para o titânio e de 0,76 ± 0,06 µm para os de zircônia. Após esse período, os discos foram removidos e processados para análise em microscopia eletrônica de varredura, e avaliados em relação à área de superfície coberta por bactérias. Nas amostras controle, a área coberta por bactérias foi de 19,3% (± 2,9), enquanto nas experimentais, a área foi de 12,1% (± 1,96). A área do disco coberta por bactérias nas amostras esperimentais foi significativamente menor do que nas amostras controle (P = 0,0001). Assim, os resultados demonstraram que o óxido de zircônia pode ser um material adequado para a fabricação de pilares de implantes com baixo potencial de colonização. 38 De acordo com Yildirim et al.121, em 2005, um fator etiológico importante na patogênese de estomatite induzida por prótese, é a presença de numerosas leveduras, Candida albicans, usualmente sobre as superfícies internas da prótese. No presente estudo, foi avaliado o efeito de tratamento a plasma, técnica aplicada para aumentar a molhabilidade da superfície de resinas acrílicas, sobre a adesão de Candida. A durabilidade da modificação de superfície obtida com o tratamento a plasma com o condicionamento em saliva também foi estudada. As amostras, incluindo o controle e os grupos experimentais, foram preparadas utilizando a técnica convencional de inclusão e prensagem e polimerização por calor. Para obter superfícies com diferentes hidrofobicidades, os grupos experimentais foram expostos ao tratamento a plasma, excitado com radiofrequência em atmosfera de O2 com diferentes potências (50 W e 100 W). Para caracterizar as propriedades de molhabilidade, foram realizadas mensurações de ângulo de contato pelo método da gota séssil. O microrganismo utilizado foi C. albicans (ATTC10321). Amostras de resina acrílica foram revestidas com saliva total coletadas de um doador do sexo masculino e saudável. A suspensão fúngica foi vertida nas amostras condicionadas em saliva e incubada a 37 º C, durante 2 h. As amostras foram, então, fixadas com glutaraldeído e as células aderidas foram examinadas por microscopia de luz. Espectroscopia por refletância difusa no infravermelho com transformada de Fourier (Diffuse Reflectance Infrared Fourier Transform Spectroscopy - DRIFT) e análises em microscópio eletrônico de varredura, também foram realizados para avaliar a composição da superfície e a rugosidade dos grupos testados. Foi verificado que o tratamento a plasma foi eficaz em aumentar a molhabilidade da superfície, mesmo com a película salivar. O efeito foi dependente da potência utilizada durante o tratamento. Os valores de ângulo de contato, mensurados com água em amostras 39 de resina sem pré-condicionamento em saliva, foram de 78,65° para o grupo controle, 23,30° para as amostras tratadas com plasma de oxigênio e 50 W e de 15,35° para aquelas submetidas ao plasma de O2 e 100 W. As quantidades de células de Candida aderidas foram significativamente maiores em todas as superfícies tratadas a plasma que no grupo controle (não modificado - P <0,001). Dessa forma, os autores concluíram que a melhoria da molhabilidade da superfície de resinas acrílicas com o tratamento a plasma em atmosfera de O2 aumentou a adesão de C. albicans. Conforme relatado por Pier-Francesco et al.76, em 2006, os implantes dentários de titânio são uma opção de tratamento importante na substituição de dentes perdidos. Falhas de implante podem, no entanto, ocorrer e podem ser causadas pela perda de tecido como resultado de infecção bacteriana local (peri- implantite). Além disso, a adesão bacteriana nas superfícies de implantes pode ser influenciada pela rugosidade da superfície e parâmetros de energia livre de superfície do material. Assim, o objetivo deste estudo foi o de modificar essas propriedades do titânio e avaliar o efeito dessas modificações na adesão bacteriana. Para isso, 16 amostras de titânio com diferentes rugosidades (Ra 34,57 - 449,42 nm) foram preparadas utilizando procedimentos de polimento específicos. Seis amostras adicionais foram quimicamente alteradas por tratamento a plasma de argônio e imersão em soluções de silano para produzir diferentes hidrofobicidades de superfície. Um ensaio de adesão in vitro utilizando Porphyromonas gingivalis foi utilizado para avaliar o efeito das modificações na adesão bacteriana. Houve redução significativa na adesão aos materiais classificados como "muito lisos" (Ra 34,57 ± 5,79 nm). Essa redução não ocorreu nas superfícies classificadas como 40 “lisas” (Ra 155,00 ± 33,36 nm), "rugosas" (Ra 223,24 ± 9,86 nm) ou "muito rugosas" (Ra 449,42 ± 32,97 nm). Alterando-se a hidrofobicidade do material também não foi observado efeito na adesão bacteriana. Dessa forma, a adesão de P. gingivalis no titânio foi inibida em níveis de rugosidade superficial inferiores aos geralmente encontrados para as cintas dos implantes e pilares (Ra 350 nm). Esses resultados podem ser benéficos para a produção de implantes de titânio, a fim de reduzir a colonização bacteriana. No mesmo ano, He et al.40 reportaram que a adesão de espécies de Candida em resinas acrílicas é um primeiro passo essencial na patogênese da estomatite protética. Informações sobre a adesão relativa de espécies patogênicas de Candida não-albicans em diferentes materiais para base de prótese são escassas. Assim, o objetivo do estudo foi investigar a adesão, in vitro, de C. albicans, C. glabrata, C. krusei e C. dubliniensis em quatro diferentes materiais para base de prótese. Amostras de resinas termopolimerizáveis (Vertex e ProBase Hot) e de resinas autopolimerizáveis (Paladur A e Paladur B) foram preparadas utilizando um novo método e a adesão das diferentes espécies de Candida foi avaliada microscopicamente utilizando um sistema de imagem. Houve diferença significativa na aderência das leveduras entre a resina Vertex e os outros materiais avaliados. Apenas C. glabrata aderiu na resina Vertex, enquanto as demais espécies aderiram a todas as outras resinas testadas, exceto ProBase que não permitiu a adesão de C. krusei. Houve diferença significativa na adesão de Candida entre as resinas avaliadas (C. albicans, p = 0,039; C. glabrata, P = 0,002 e C. krusei, P = 0,000). O tipo de material base de prótese e como eles são polimerizados tem papel importante na adesão de Candida. 41 A aderência de bactérias nas superfícies de dispositivos médicos, equipamentos de processamento alimentar, trocadores de calor e cascos de navios tem sido reconhecida como um problema generalizado. O mecanismo de adesão bacteriana é complexo e muitos fatores afetam a adesão celular. Nesse contexto, Zhao et al.134, em 2007, investigaram o efeito da energia livre de superfície de revestimentos na aderência bacteriana. Os revestimentos compósitos, metal- polímero, com várias energias livres de superfície foram desenvolvidos por uma técnica de revestimento sem eletrodos. Para isso, foi utilizado o politetrafluoroetileno (PTFE) que é conhecido por suas propriedades anti-aderentes e é biocompatível. Esse polímero foi utilizado para se obter os revestimentos compósitos contendo prata (Ag-PTFE), para aplicações na área médica e de implantes, ou níquel e cobre (Ni-Cu-PTFE), para utilização em equipamentos industriais. Os materiais utilizados como substratos foram placas de aço inoxidável e de titânio e cateteres de poliuretano. A aderência bacteriana nesses revestimentos foi, então, avaliada utilizando a bactéria Escherichia coli BL21. Ângulos de contato foram obtidos utilizando o método da gota séssil com um analisador de ângulo de contato Dataphysics OCA-20. Com base nos valores de ângulo de contato, as energias de superfície das amostras e os seus componentes dispersivo e polar, foram calculados usando o modelo de van Oss. Os resultados experimentais mostraram que a energia livre de superfície dos revestimentos teve influência significativa sobre a adesão bacteriana. A aderência bacteriana nas superfícies foi explicada utilizando a teoria DLVO (Derjaguin–Landau–Verwey–Overbeek) estendida. Os autores relataram que, em geral, existe uma energia livre de superfície ótima dos substratos para a qual a adesão bacteriana é mínima. Foi observado que, quando a energia livre dos das 42 superfícies revestidas com Ag-PTFE ou Ni-Cu-PTFE era de, aproximadamente, 20- 30 mJ/m2, a adesão de E. coli foi mínima. Em 2008, Elter et al.27 realizaram um estudo com o objetivo de estabelecer um método não invasivo para a análise quantitativa da formação de biofilme supra e sub-gengival em implantes dentários, considerando diferentes modificações de superfície. Foram avaliados pacientes de ambos os sexos, saudáveis, parcialmente edêntulos, e com pelo menos um implante parafusado com pilar apresentando áreas supra e sub-gengivais. Os pilares cicatrizadores foram inseridos e mantidos por 14 dias. As superfícies dos cicatrizadores foram divididas em quadrantes, tendo cada um deles recebido um tipo de tratamento: jateamento, desgaste, ataque ácido e sem tratamento (controle). A formação de biofilme sobre os pilares de cicatrização foi analisada por meio de microscopia eletrônica de varredura, incluindo métodos de elétrons secundários e de detecção de retro-espalhamento Rutherford. Cálculo das superfícies cobertas pelos biofilmes foi realizado dependendo dos valores obtidos nas imagens, considerando áreas supra e subgengivais. Depois de calcular valores absolutos e relativos das superfícies cobertas por biofilmes, dependendo da localização, foi analisada a influência da modificação da superfície sobre a formação de biofilme. No total, quinze pilares de cicatrização foram inseridos em 11 pacientes. Em todas as superfícies a adesão de placa em áreas supra-gengival foi significativamente maior (17,3% ± 23,1%) que nas sub-gengivais (0,8% ±- 1,0%). As medidas de rugosidade mostraram que as superfícies jateadas apresentaram rugosidade média (Ra) de 0,9 µm, as desgastadas de 0,4 µm, as que receberam ataque ácido 0,3 µm enquanto para as superfícies sem tratamento (controle) o valor médio de Ra foi de 0,2 µm. O acúmulo de biofilme em áreas supra-gengivais foi 43 aumentando, significativamente, em superfícies com maior rugosidade, enquanto que essa influência não foi detectada em áreas sub-gengivais. Os autores concluíram que o método descrito é válido para investigar a adesão de biofilme supra e subgengival sobre pilares de implantes com superfícies modificadas. Houve influência significativa da localização da superfície (supra e sub-gengival), bem como da modificação de superfície sobre a formação dos biofilmes. Nas superfícies jateadas, a formação de biofilme ocorreu em 47,4% das áreas supra-gengivais e em 1,3% das áreas sub-gengivais. Para os quadrantes desgastados, os biofilmes foram observados em 18,6% das superfícies supra-gengivais e em 0,6% das sub- gengivais. Os biofilmes estavam presentes em 15,6% das áreas supra-gengivais e em 0,6% das sub-gengivais para os quadrantes que receberam ataque ácido, enquanto para aqueles sem tratamento (controles) foi observada a formação de biofilmes em somente 5,7% das superfícies supra-gengivais e em 0,6% das sub- gengivais. Os autores também verificaram que os resultados de formação de biofilmes em todas as áreas supra-gengivais exibiram altos valores de desvios padrão. Ainda em 2008, Lima et al.58 tiveram como objetivo determinar o padrão de proteínas salivares presente no soro da película de saliva formada na superfície de titânio (Ti) e cerâmica zircônia (ZrO2), bem como a capacidade de células bacterianas aderirem às películas experimentais. Além disso, os perfis de proteínas e propriedades de ligação de películas bacterianas em Ti e ZrO2 foram comparados com os que se formam em superfície de hidroxiapatita (HA). As películas foram formadas, in vitro, por incubação dos materiais com a saliva, soro ou saliva + soro. Composição de proteína em cada uma das películas foi investigada por SDS-PAGE 44 e imunodetecção. A aderência de Streptococcus mutans e Actinomyces naeslundii em superfícies não revestidas e com películas experimentais foi determinada por meio de contagem de cintilação. As análises estatísticas foram realizadas utilizando o teste de análise de variância e teste de Tukey em nível de significância de P <0,05. Em geral, a análise eletroforética das películas formadas em HA, Ti e ZrO2 revelou poucas diferenças qualitativas da composição de proteínas das películas formadas nessas superfícies. Componentes identificados das películas incluíram amilase, IgA, IgG, albumina, fibronectina e fibrinogênio. O número de células aderidas de S. mutans em Ti e ZrO2 não revestido foi significativamente mais elevado que aquele aderido na HA (P <0,05). Entretanto, foi observado menor número de células aderidas de A. naeslundii em Ti e ZrO2 não revestido que em HA (P <0,05). Na presença de saliva e de saliva + soro houve maior redução no número de células de S. mutans com relação a cada uma das superfícies. Os dados mostraram que Ti e ZrO2 mostraram similaridade na composição da película e adesão bacteriana; no entanto, não foram observadas diferenças significativas em ambos os materiais quando comparados com HA. Shibli et al.103, também em 2008, compararam a composição microbiana do biofilme supra e sub-gengival em indivíduos com e sem peri-implantite. Quarenta e quatro indivíduos (média de idade de 48,9 +/- 13,51 anos) com pelo menos um implante reabilitado e funcional a pelo menos dois anos, foram divididos em dois grupos: um grupo de peri-implantite (n = 22), constituído por indivíduos apresentando defeitos radiográficos maiores que 3 mm, sangramento à sondagem e/ou supuração; e um grupo de controle (n = 22), constituído por indivíduos com implantes saudáveis. Os parâmetros clínicos avaliados foram índice de placa, 45 sangramento gengival, sangramento à sondagem, supuração, profundidade e nível de inserção clínica à sondagem. Amostras de biofilme supra e sub-gengivais foram retiradas dos locais mais profundos de cada implante e analisadas para a presença de 36 microrganismos pela técnica de hibridização DNA-DNA (Checkerboard). Maior número de Porphyromonas gingivalis, Treponema denticola e Tannerella forsythia foram observadas no grupo de peri-implantite, tanto supra como sub-gengivalmente (P <0,05). As proporções dos patógenos do complexo vermelho foram elevadas, enquanto complexos microbianos benéficos compatíveis com o hospedeiro foram reduzidos nos casos de peri-implantite em comparação com os implantes saudáveis. Os perfis microbiológicos dos ambientes supra e sub-gengivais não diferiram substancialmente dentro de cada grupo. Assim, foram observadas diferenças acentuadas na composição de biofilme supra e sub-gengival entre implantes saudáveis e com peri-implantite. A microbiota associada à peri-implantite foi composta por espécies de bactérias periodontais mais patogênicas, incluindo o biofilme supra-gengival. No mesmo ano, Karaagaclioglu et al.46 relataram que um fator etiológico importante na patogênese da candidíase atrófica crônica é a presença de Candida albicans na superfície interna das próteses. Nos casos de próteses removíveis reforçadas com fibras, essas podem entrar em contato com a mucosa oral durante os procedimentos de acabamento de resinas acrílicas. As fibras expostas podem proporcionar retenção mecânica para células de leveduras. Os efeitos de dois tipos de fibras de vidro e de dois ambientes foram avaliados em relação à adesão de Candida albicans à superfície da resina acrílica. Metade das amostras de resina, reforçadas com duas fibras diferentes (Sticknet e Eversticknet) foi pré-tratada com 46 solução salina tamponada com fosfato (PBS) e a outra metade com saliva não estimulada. As amostras foram colocadas em suspensão fúngica e as células aderidas foram examinadas em microscópio eletrônico de varredura. A quantidade de células aderidas por mm2 em PBS foi menor para Eversticknet, mas a diferença não foi significativa (p> 0,05). O número de células fúngicas diminuiu na presença da saliva para ambos os tipos de fibras, tendo sido a diferença estatisticamente significativa para as amostras reforçadas com Eversticknet (p <0,01). A utilização de Sticknet ou Eversticknet como material de reforço para o polimetilmetacrilato não teve efeito sobre a topografia da superfície, tendo em vista os resultados de adesão de Candida albicans, que foram similares para os dois tipos de fibras. A presença da película obtida a partir de saliva não estimulada reduziu a adesão de Candida albicans. Subramani et al.105, em 2009, realizaram uma revisão da literatura em relação à formação de biofilmes em implantes dentários e a influência das características de superfície (química, energia livre de superfície e rugosidade) dos materiais de implante e pilares protéticos bem como seu desenho e formato sobre a formação de biofilme e suas consequências. Foi realizada busca eletrônica no MEDLINE de estudos publicados entre 1966 e junho de 2007. As seguintes palavras-chave foram utilizadas: biofilme e implantes dentários, formação de biofilme/adesão bacteriana e implantes, placa/biofilme e características de superfície/rugosidade/energia livre de superfície de implantes dentários de titânio, interface implante-pilar e placa/biofilme, biofilme e microbiologia da placa supragengival/subgengival, biofilme/placa e infecção de implante, titânio antibacteriano/bacteriostático, titânio nanorevestimento/nanoestruturado, drogas/implante de titânio antimicrobianos. 47 Estudos in vitro e in vivo foram incluídos na revisão. Cinquenta e três artigos foram identificados nesse processo de revisão. Os artigos foram classificados em relação ao seu contexto na formação de biofilmes em superfícies de dentes e implantes dentários e no que diz respeito à influência das características de superfície dos biomateriais dos implantes (especialmente titânio) e características de desenho e formato do implante e componentes protéticos sobre a formação de biofilme. O estado atual da literatura é mais descritivo, em vez de fornecer dados que poderiam ser analisados através de meta-análise. Artigos de investigação sobre a modificação da superfície de titânio também foram incluídos na análise para avaliar as aplicações de tais estudos sobre a confecção de superfícies de implante que poderiam diminuir a colonização bacteriana inicial e a formação de biofilme. Foi possível concluir que o aumento da rugosidade e da energia livre de superfície facilita a formação de biofilmes em superfícies de implantes dentários e em componentes protéticos, embora essa conclusão seja derivada da literatura em grande parte descritiva. A composição química da superfície e as características de desenho da configuração implante-pilar também desempenham um papel significativo na formação de biofilmes. No mesmo ano, ten Cate et al.109 relataram que as infecções fúngicas na cavidade oral são causadas, principalmente, por C. albicans, mas outras espécies de Candida também são frequentemente identificadas. Elas estão aumentando em prevalência, especialmente em usuários de próteses removíveis e idosos, e podem levar a infecções invasivas, que têm alta taxa de mortalidade. Adesão aos tecidos da mucosa e às superfícies abióticas e a formação de biofilmes são passos fundamentais para a sobrevivência e a proliferação de Candida na cavidade oral. 48 Espécies de Candida possuem um vasto arsenal de glicoproteínas localizadas no lado externo da parede da célula, muitas das quais desempenham papel determinante nesses processos. Além disso, C. albicans segrega moléculas de sinalização que inibem a formação de biofilme e a transição de levedura para hifa. In vivo, espécies de Candida são membros de biofilmes mistos, e estão sujeitas a várias interações antagônicas e sinérgicas, que estão começando a ser exploradas. Os autores acreditam que esses novos conhecimentos permitirão tratamentos mais eficazes de infecções fúngicas bucais. Por exemplo, a utilização de moléculas de sinalização que inibem a formação de biofilme deve ser considerada. Além disso, as enzimas biossintéticas da parede celular, enzimas de reticulação da parede, e proteínas de parede, que incluem adesinas, proteínas envolvidas na formação de biofilme, interações com bactérias, e competição por locais de colonização da superfície, podem oferecer ampla gama de alvos potenciais para intervenções terapêuticas. Nesta revisão de literatura, os autores tiveram como foco principal as reações de superfície relevantes para a formação do biofilme, em particular as proteínas da parede celular das espécies de Candida e nas interações entre bactérias e fungos nos biofilmes mistos. Foram abordados a morfologia e o relacionamento evolutivo das espécies de Candida, a arquitetura molecular da parece celular da Candida albicans, o amplo arsenal de proteínas presentes na parede celular, que determinam as relações da Candida albicans com o meio externo, as propriedades dos substratos sobre os quais as espécies de Candida de aderem, os biofilmes de Candida e as interações Candida-bactérias. A formação de biofilme em implantes de titânio e zircônia foi avaliada, in vivo, por Al-Ahmad et al.2 em 2010. Os materiais avaliados foram: titânio usinado (Ti-m), 49 titânio modificado (TiUnite), zircônia modificada (ZiUnite), compósito alumina-zircônia usinado (ATZ-m), compósito alumina - zircônia jateado (ATZ-s), e zircônia usinada (TZP-Am). Blocos de esmalte bovino foram utilizados como controle. As morfologias de superfície foram avaliadas por microscopia de força atômica (AFM) e eletrônica de varredura (MEV). A molhabilidade da superfície também foi determinada. Doze voluntários saudáveis utilizaram um sistema de “splint” com os materiais testados. Após 3 e 5 dias, os materiais foram avaliados por hibridação in situ por fluorescência (FISH) e microscopia confocal a laser (MCL). Os níveis de Streptococcus spp., Veillonella spp., Fusobacteriaum nucleatum e Actinomyces foram quantificados. A espessura do biofilme foi entre 19,78 e 36,73 µm, após 3 dias e entre 26,11 e 32,43 µm depois de 5 dias. Com exceção de Ti-m, a espessura do biofilme após 3 dias foi correlacionada com a rugosidade da superfície. Além do microrganismo Streptococcus spp., que foi o principal componente do biofilme (11,23 a 25, 30%), F. nucleatum, A. naeslundii, e Veillonella spp também foram isolados. Não foram observadas diferenças significativas na composição dos biofilmes formados nas superfícies dos implantes. Os resultados deste estudo in vivo mostram que a influência da rugosidade da superfície e do tipo de material sobre a aderência de microrganismos é compensada pelo processo de maturação do biofilme oral. Devido a isso, a composição química do material de implante não parece ter influência no comportamento bacteriano, sobretudo em biofilmes maduros. Os materiais de zircônia utilizados não somente são comparáveis ao material clássico de implante (titânio), como também permitem menor formação de biofilme inicial. Além disso, a composição do biofilme presente nos diferentes materiais de implante parece ser semelhante ao do esmalte dental. Este estudo aumenta a atenção sobre a zircônia como material alternativo para os implantes orais. 50 Em 2010, Bürgers et al.12 realizaram estudo in vitro e in vivo com os seguintes objetivos: 1) avaliar a formação inicial de biofilme sobre diferentes superfícies de implantes de titânio por meio de duas técnicas de fluorescência, altamente sensíveis; 2) correlacionar os resultados obtidos com as diferentes propriedades da superfície. Na formação de biofilme in vivo foram utilizados amostras de implantes de titânio usinado (Pt) ou submetido ao jateamento seguido de condicionamento ácido (Prom), que foram montadas na região vestibular em “splints” individuais que foram utilizados por seis participantes por 12 h. A adesão bacteriana in vitro foi também avaliada após incubação das amostras em suspensão de Streptococcus sanguinis (37 °C, 2 h). As bactérias aderidas foram quantificadas pelas técnicas de fluorescência: coloração com Resazurina em combinação com leitor de fluorescência ou marcação de células vivas/mortas e microscopia de fluorescência. A rugosidade superficial (Ra) foi determinada com um perfilômetro e a energia livre de superfície (SFE) foi medida utilizando um goniômetro. As amostras de Prom mostraram mediana de Ra significativamente maior (0,95 µm) e mediana de SFE significativamente menor (18,3 mJ/m2) que as amostras de Pt (Ra 0,15 µm; SFE = 39,6 mJ/m2). Os testes in vitro e in vivo mostraram adesão bacteriana significativamente mais elevada para Prom que para Pt, e a formação de biofilme inicial sobre Pt foi correlacionada com as modificações circulares de superfície resultantes do processo de usinagem. Ambas as observações podem ser atribuídas à influência predominante da rugosidade da superfície sobre a adesão bacteriana. Não foram encontradas diferenças significativas na percentagem de células mortas entre todas as bactérias aderidas entre Prom (23,7%) e Pt (29,1%). Células ectópicas epiteliais da mucosa oral - que aderem fortemente ao substrato - foram observadas em todas as amostras de Prom, mas não nas amostras de Pt. Assim, os 51 autores concluíram que a adesão inicial bacteriana às superfícies de titânio com diferentes superfícies foi influenciada principalmente pela Ra, enquanto a influência de SFE parece ter menor importância. Dessa forma, as partes micro-estruturadas de um implante, que são expostas à cavidade oral, devem ser altamente polidas para impedir o acúmulo de microrganismos. Ambas as técnicas fluorimétricas utilizadas mostraram-se altamente sensíveis e reprodutíveis na quantificação da formação de biofilmes em superfícies de implantes de titânio. Ainda em 2010, Zamperini et al.128 relataram que a adesão de Candida albicans às superfícies é o pré-requisito para a ocorrência da estomatite protética. Assim, este estudo investigou se modificações de superfície com tratamentos a plasma poderiam reduzir a adesão de C. albicans a uma resina para base de prótese. Amostras (n = 180) com superfícies rugosas e lisas foram confeccionadas e divididas em cinco grupos: controle - sem tratamento; experimentais – as amostras foram submetidas aos tratamentos a plasma para obter superfícies com diferentes hidrofobicidades (Ar/50W; ArO2/70W; AAT/130W) ou incorporação de flúor (ArSF6/70W). Medidas de ângulo de contato foram realizadas imediatamente após os tratamentos e após imersão em água durante 48h. Para cada grupo, metade das amostras foi incubada com saliva, antes do ensaio de adesão. O número de células aderidas foi avaliado pelo método de redução de XTT. Para os grupos experimentais, houve alteração significativa no ângulo de contato médio após 48 h de imersão em água. Grupos ArO2/70W e ArSF6/70W mostraram leituras de absorbância significativamente mais baixas do que as dos outros grupos, independente da presença ou ausência de saliva e rugosidade superficial. Os resultados demonstraram que os tratamentos de plasma ArO2/70W e ArSF6/70W 52 apresentaram potencial promissor para reduzir a adesão de C. albicans em resinas para base de prótese. De acordo com Bürgers et al.13, em 2010, os implantes dentais podem ser considerados como potenciais reservatórios para a (re)infecção com Candida albicans. Assim, os autores realizaram estudo in vitro para avaliar a adesão de C. albicans em três superfícies de titânio e uma superfície de implante cerâmica: titânio usinado (MT), titânio jateado (SBT), titânio jateado, seguido de tratamento com ácido (SBAET) e zircônia (ZC). Além disso, os autores procuraram correlacionar os resultados obtidos com as características superficiais de rugosidade, energia livre e morfologia. Também foi avaliada a influência de proteínas salivares e de filmes de mucina e albumina na aderência fúngica inicial. Para o estudo foram utilizadas amostras com 5,0 mm de diâmetro e 1,0 mm de espessura. Foi determinada a rugosidade superficial (Ra) de 5 amostras de cada superfície estudada (MT, SBT, SBAET e ZC). A energia livre de superfície total (ELS), e seus componentes dispersivos e polares, foram calculados a partir das medidas do ângulo de contato com água deionizada, diiodometano e etileno glicol. Antes dos testes de adesão, as amostras foram pré-condicionadas com saliva humana, PBS, solução de mucina e de albumina. Para os testes de adesão, foi utilizado o isolado clínico de C. albicans 1386. A adesão foi avaliada por meio da intensidade de luminescência. Os resultados mostraram que a ZC não apresentou nenhuma tendência em reduzir a aderência de C. albicans, em comparação com os três substratos de titânio (MT, SBT e SBAET). De forma geral, a adesão de C. albicans foi menor para SBT, independentemente do tipo do pré-condicionamento. Os valores maiores de rugosidade foram observados para SBT e SBAET (1,18 µm). No presente estudo, a 53 rugosidade não influenciou a adesão de C. albicans e a ELS parece ter mostrado maior influência na adesão dos microrganismos que a rugosidade. Foi observada menor adesão de C. albicans para SBT, enquanto ZC não demonstrou potencial de reduzir a adesão de C. albicans. Não houve diferença estatística entre a adesão de C. albicans para as superfícies ZC, MT e SBAET. A influência da ELS na formação inicial de biofilme de C. albicans parece ser mais relevante que a da rugosidade. Além disso, os resultados desse estudo reforçam a relevância da película salivar e seus elementos constituintes para a adesão inicial de C. albicans. A mucina pode servir como receptor para a adesão de C. albicans, ao passo que a albumina pode atuar como agente bloqueador no complexo processo de aderência de C. albicans. Yoshijima et al.123, ainda em 2010, relaram que a aderência dos microrganismos às superfícies das próteses é um importante passo na etiologia da estomatite protética. Assim, a inibição desse processo poderia ser uma maneira efetiva para prevenir a ocorrência dessa patologia. Interações hidrofóbicas estão envolvidas na aderência de Candida à resina acrílica, sugerindo que superfícies hidrofílicas poderiam inibir a aderência fúngica. Dessa forma, este estudo investigou o efeito de revestimentos hidrofílicos sobre a resina acrílica com relação à aderência de Candida, especialmente de hifas de C. albicans. Para isso, amostras de resina acrílica recobertas com carragenana (“carrageenan”) e hidrocolóide foram utilizadas como substratos hidrofílicos e comparadas com amostras controles. As medidas de hidrofilicidade superficial dessas amostras foram determinadas por meio do ângulo de contato entre a água destilada e a superfície acrílica. Suspensões fúngicas (2 × 107 ufc/mL) de isolados clínicos de Candida foram colocadas sobre as amostras acrílicas e incubadas por 30 minutos. Após esse período, todas as amostras foram 54 lavadas com PBS e as células aderidas às superfícies acrílicas foram coletadas por meio do tratamento com tripsina a 0,25%. A hidrofobicidade de superfície celular foi estimada utilizando modificação da técnica do hidrocarbono. Os resultados obtidos demonstraram que quando as amostras acrílicas foram recobertas pelo revestimento hidrofílico, a aderência dos isolados hidrofóbicos de Candida e hifas hidrofóbicas de C. albicans diminuiu, enquanto a aderência de Candida não hidrofóbica não foi afetada ou aumentou. Os autores sugeriram que revestimentos hidrofílicos de superfícies protéticas apresentam potencial para redução da aderência de células fúngicas relativamente hidrofóbicas, particularmente, hifas de C. albicans. No ano seguinte, Zamperini et al.129 relataram que há tendência para a adesão de fungos no polimetilmetacrilato, material utilizado para a confecção de bases de próteses. Dessa forma, os autores investigaram se modificações de superfície com tratamentos a plasma poderiam reduzir a adesão de Candida albicans a uma resina para base de prótese. As amostras (n = 180) com superfícies lisas e rugosas foram confeccionadas e divididas em cinco grupos: controle - não tratados; - grupos experimentais submetidos a tratamentos com plasma para se obter superfícies com diferentes hidrofobicidades (Ar/50 W; ArO2/70 W; AAT/130 W) ou com incorporação de flúor (ArSF6/70 W). Ângulos de contato foram medidos imediatamente após os tratamentos e depois que as amostras foram imersas em água durante 48 h. Para cada grupo, metade das amostras foi incubada com saliva antes do teste de adesão. O número de C. albicans aderidas foi avaliado por contagem após coloração com cristal de violeta. Os tratamentos a plasma foram eficazes em modificar a superfície do polimetilmetacrilato. No entanto, houve alteração significativa no ângulo de contato após a imersão em água. Não foram 55 observadas diferenças estatisticamente significativas na adesão de C. albicans entre os grupos experimentais e controle, independentemente da presença ou ausência de saliva, e a rugosidade da superfície. Lee et al.55, também em 2011, realizaram um estudo in vitro para investigar a adesão do colonizador inicial, Streptococcus sanguis, em resina, titânio e zircônia, nas mesmas condições de polimento superficial. As amostras foram preparadas a partir de Z-250, CP-Ti e 3Y-TZP e polidas com pasta de diamante de granulação de 1 µm. Após o condicionamento em saliva, cada espécime foi incubado com Streptococcus sanguis. Microscópio eletrônico de varredura, coloração cristal violeta e mensuração da intensidade de fluorescência resultante da redução da resazurina foram utilizados para quantificar a adesão bacteriana. A superfície de resina composta foi significativamente mais rugosa (Ra = 0,179 µm) que a do titânio (Ra = 0,059 µm) e a da zircônia (Ra = 0,064 µm), apesar de todas as amostras avaliadas terem sido classificadas como lisas. Os corpos de prova de resina apresentaram menor valor de ângulo de contato (54,2°) em comparação com os de titânio (75,1°) e de zircônia (71,6°), e apresentaram superfícies hidrofílicas. As análises em microscopia eletrônica de varredura demonstraram que as bactérias foram mais abundantes na resina, em comparação com o titânio e a zircônia. Quando a massa total do biofilme foi determinada pelo método de coloração com cristal violeta, o valor de absorbância observado para a resina foi significativamente mais elevado que os do titânio ou da zircônia. Os resultados das intensidades relativas de fluorescência também demonstraram que a maior intensidade foi verificada para a superfície de resina. O valor de absorbância e a intensidade de fluorescência para o titânio não foram significativamente diferentes daqueles obtidos com a zircônia. Assim, as 56 amostras de resina apresentaram superfície mais rugosa e susceptibilidade significativamente maior para a adesão de Streptococcus sanguis que o titânio e a zircônia, quando as superfícies de cada espécime foram polidas nas mesmas condições. Não houve diferença significativa na adesão de bactérias entre o titânio e a zircônia, in vitro. O objetivo do estudo de Li et al.57, em 2012, foi obter informações sobre as características de superfície de vários materiais utilizados em próteses do tipo “overdenture” e a capacidade da C. albicans de aderir e formar biofilme nesses materiais. Foi avaliado também o papel da mucina salivar no processo de formação do biofilme de C. albicans. Sete diferentes materiais utilizados para próteses do tipo “overdenture” foram utilizados: zircônia - ZrO2, liga metálica ouro-prata-paládio - Au– Ag–Pd; titânio comercialmente puro - Ti; liga metálica de cobalto-cromo - Co-Cr; resina acrílica; politereftalato de etileno - PET; hidroxiapatita - HA. Poliestireno tratado com colágeno tipo I foi utilizado com controle. Para cada material, foram confeccionadas amostras de 13 mm de diâmetro por 2 mm de espessura, sendo n=12. Foram avaliados a rugosidade média (Ra), o ângulo de contato e a absorção de mucina bovina nas superfícies dos materiais. Amostras pré-condicionadas em saliva e não condicionadas foram incubadas com 1 mL de suspensão de C. albicans durante 90 min (fase de adesão) à 37 °C. Após esse período, as amostras foram lavadas cuidadosamente em PBS duas vezes. Então, as amostras foram incubadas em meio de cultura por mais 2 dias à 37 °C (fase de formação de biofilme). A adesão e a formação de biofilme foram avaliadas por meio da contagem do número de colônias que foi expresso em UFC/disco. As características morfológicas da adesão inicial e da formação de biofilme de C. albicans foram observadas por microscropia 57 eletrônica de varredura (MEV). A rugosidade dos materiais situou-se entre 0,07 e 0,10 µm. Foi verificado que os ângulos de contato dos materiais e o índice de hidrofobicidade correlacionaram positivamente com a adesão inicial e a formação de biofilme de C. albicans. Correlação negativa entre absorção de mucina e a remoção do biofilme de C. albicans indicou que a mucina apresenta papel importante na formação do biofilme e na sua rigidez. As análises em MEV também revelaram menor número de células de C. albicans nas amostras de Ti condicionadas em saliva que nas de HA ou de resina acrílica. Os autores confirmaram os efeitos da hidrofilicidade da superfície de materiais para próteses do tipo “overdenture” e da película de saliva na adesão e formação de biofilme, bem como na porcentagem de remoção de biofilme de C. albicans. O estudo sugere também que os materiais hidrofóbicos promoveriam maior adesão inicial, resultando, posteriormente, na formação de biofilme ativo, e que a mucina atua como receptor e desempenha um papel importante na imobilização de C. albicans e desenvolvimento do biofilme sobre os materiais avaliados. Papaioannou et al.73, também em 2012, examinaram a interação entre o periodontopatógeno Porphyromonas gingivalis e brackets ortodônticos in vitro bem como o efeito da película salivar recém formada e outras bactérias na formação do biofilme. Para isso, biofilmes mono e multi-espécies de P. gingivalis foram formados em 3 diferentes materiais de brackets ortodônticos: aço inoxidável, plástico (policarbonato) e cerâmica (alumina policristalina), com ou sem película salivar. Para os biofilmes multi-especies, além da bactéria P. gingivalis (DSM 20709), foram utilizadas cepas padrão de Fusobacterium nucleatum (DSM 15643) e Streptococcus oralis (DSM 20627), assim como isolados clínicos de Actinomyces spp. da Clínica de 58 Periodontia da Faculdade de Odontologia - Universidade de Atenas. As bactérias foram incubadas, individualmente, em placas de ágar sangue suplementado com hemina (5 µg/ml), menadiona (1 µg/ml) e 5% de sangue estéril de cavalo. As placas foram incubadas em jarras de anaerobiose (5% de CO2, 10% de H2 e 85% de N2) a 37◦ C, durante 5 dias. Para a formação da película de saliva, metade das amostras foram incubadas com 1 mL de saliva preparada em placas de cultura de 24 poços, durante 2 horas a 37 ◦C. Após esse período, as amostras foram removidas e colocadas em novas placas de cultura para a formação dos biofilmes. Após 5 dias de incubação em jarras de anaerobiose a 37 ◦C, foi realizada a contagem de colônias. Os resultados mostraram que a película salivar afetou significantemente (P <0,001) a formação de biofilme de P. gingivalis nos diferentes tipos de materiais, com número de bactérias estatisticamente maior nas amostras pré-condicionadas em saliva. O material por si só não é um fator significativo, embora algumas diferenças tenham sido evidentes na interação entre o material e a película salivar, que teve alto nível de significância (P = 0,009), no qual a película salivar seria responsável por esses resultados. Em relação ao tipo de biofilme, de P. gingivalis ou de múltiplas espécies, não houve efeito significativo, independentemente do material, embora para os brackets de aço inoxidável e de policarbonato tenha sido observada tendência de maior número do patógeno P. gingivalis nos biofilmes multi- espécies. Os autores concluíram que a película de saliva parece facilitar a adesão de P. gingivalis e a formação de biofilme em brackets ortodônticos, enquanto o material dos brackets não tem impacto significativo no número de bactérias. Ainda em 2012, Wady et al.118 avaliaram, inicialmente, a atividade de uma solução de nanopartículas de prata (AGNPS) contra Candida albicans. Em seguida, 59 os efeitos da incorporação de AGNPS em uma resina acrílica base da prótese sobre a hidrofobicidade do material, adesão de C. albicans e formação de biofilmes foram investigados. A solução de AGNPS foi sintetizada por redução química e caracterizada. As Concentrações Inibitória Mínima (CMI) e Fungicida Mínima (CFM) para células planctônicas e células sésseis (MFCs) da solução de AGNPS contra C. albicans foram determinadas. As amostras (n = 360) de resina acrílica com prata incorporada em concentrações de 1000, 750, 500, 250 e 30 ppm foram preparadas e armazenadas em PBS durante 0, 7, 90 e 180 dias. Amostras controle - sem AGNPS (0 ppm) foram também confeccionadas. Após os períodos de armazenamento, os ângulos de contato foram medidos e as amostras foram utilizadas para a adesão de C. albicans (37 ° C; 90 min; n = 9) e a formação de biofilme (37 ° C; 48 h; n = 9) através do ensaio de XTT. Os valores de MIC, MFC e MFCs foram 3,98, 15,63 e 1.000 ppm, respectivamente. A incorporação de AGNPS reduziu a hidrofobicidade da resina. Não foram observados efeitos sobre a adesão e a formação de biofilme. Aos 90 e 180 dias de armazenamento, houve aumento significativo na adesão e na formação de biofilme. Embora a solução de AGNPS tenha apresentado atividade antifúngica, nenhum efeito sobre a adesão e a formação de biofilme de C. albicans foi observado após sua incorporação em uma resina para base de prótese. A solução de AGNPS sintetizada é um agente antifúngico promissor, e merece investigações de métodos mais eficientes para sua incorporação em resinas de base de prótese. Os implantes dentários são propensos à colonização bacteriana, que pode resultar na destruição do tecido ósseo e na perda dos implantes. O tratamento da doença peri-implantar tem como objetivo reduzir a aderência bacteriana, deixando a 60 superfície do implante intacta para fixação de células hospedeiras, e assim possibilitar a regeneração óssea. Com base nesses aspectos, os objetivos do estudo de Hauser-Gerspach et al.38, também em 2012, foram avaliar a eficácia antimicrobiana de