UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Instituto de Geociências e Ciências Exatas Campus de Rio Claro Avaliação da Aplicabilidade de Sistema Computacional de Visualização de Imagens Aéreas de Alta Resolução em Tempo Real e Multitemporal à Degradação do Rio Corumbataí. Arthur Costa Falcão Tavares Orientador: Prof. Dr. Harold Gordon Fowler Tese de Doutorado elaborada junto ao Curso de Pós-Graduação em Geociências e Meio Ambiente - Área de Concentração em Geociências e Meio Ambiente para obtenção do título de Doutor em Geociências e Meio Ambiente. Rio Claro (SP) 2006 2 372.357 Tavares, Arthur Costa Falcão T231a Avaliação da aplicabilidade de um sistema computacional de visualização de imagens aéreas de alta resolução em tempo-real e multitemporal à degradação do rio Corumbataí / Arthur Costa Falcão Tavares. – Rio Claro : [s.n.], 2006 150 f. : il., fots. + 1 dvd Tese (doutorado) – Universidade Estadual Paulista, Instituto de Geociências de Rio Claro Orientador: Harold Gordon Fowler 1. Visualização em tempo-real. 2. Foto aérea. 3. SIG. 4. Análise multitemporal. 5. Recursos hídricos. 6. Educação ambiental. I. Título. Ficha catalográfica elaborada pela STATI – Biblioteca da UNESP Campus de Rio Claro/SP 3 Comissão Examinadora ___________________________________ Profª. Drª. Elizabeth Fátima de Souza ___________________________________ Prof. Dr. Luiz Roberto Moretti ___________________________________ Prof. Dr. Jarbas Honorio de Miranda __________________________________ Prof. Dr. Paulo Milton Barbosa Landim ___________________________________ Prof. Dr. Harold Gordon Fowler -Orientador- ____________________________________ Arthur Costa Falcão Tavares -Candidato- Rio Claro, ______ de __________________________ de _______. Resultado: ________________________________________________________________ 4 D E D I C A T Ó R I A Dedico este trabalho aos meus pais Carlos Henrique e Dirce que por algum motivo me deram à luz e que por algum motivo também, insistem em me apoiar. Dedicação especial, também, a todos os obstáculos vividos durante esta tese, principalmente, àqueles que não foram ultrapassados... ainda. 5 A G R A D E C I M E N T O S Agradeço à Universidade Estadual Paulista de Rio Claro, especificamente ao curso de Pós-graduação em Geociências e Meio Ambiente pela oportunidade de desenvolver esta tese de Doutorado. Agradeço a todos os professores, técnicos, secretárias e colegas de curso que de algum modo me ajudaram a desenvolver esta tese e que mais do que isso, acreditaram nela. Especial agradecimento à Priscila Andrea Salvioni Gali. Agradecimento especial aos seguintes funcionários da UNESP: Laura Silmara Pedroso Pereira Narcizo, Rosimeide Franchin de Jesus, Eliana Correa Contiero, Elaine Valéria Litoldo e Wagner Rocco. Agradeço ao querido Prof. Harold Gordon Fowler por ter me orientado na ética humana da pesquisa científica. Sem sua orientação certamente esta tese teria sido menos útil ou não teria sido Tese de Doutorado. Agradecimento especial aos Queridos Professores e Doutores Jarbas, Landim, Elizabeth, Moretti, Sérgio, Fúlfaro e Cláudio de Mauro pela confiança na idéia e no esforço para realização de um produto científico merecedor de ser chamado de Tese de Doutorado. Agradecimentos ao Professor Luis Velho e ao Pesquisador Sérgio Lisboa do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) pelo crédito à idéia e pela parceria e disponibilização de equipamentos, de tempo e do software de visualização de imagens de alta resolução para a realização desta tese. Agradecimento a todos os funcionários e instituições públicas e privadas do Estado de São Paulo pelo fornecimento de todo o material imprescindível para a realização desta tese. Agradeço ao Conselho Nacional de Apoio à Pesquisa (CNPq) pelo apoio financeiro a este trabalho durante os quatro anos de pesquisa. 6 A poluição como alienação pode acabar no dia em que vir minha comida não como mercadoria, mas como a “encarnação de forças essenciais humanas” e das relações amáveis e solidárias que os envolveram e os envolvem, nesse dia não terei mais resto, nem a noção suja de resto. Não mais terei lixo. Comerei o suficiente, e o que me sobrar, ainda será comida, conscientemente reintroduzida no processo de alimentação da matéria viva. O cianeto, o cromo, o cádmio e o mercúrio que se originarem dos processos produtivos em que estiver diretamente envolvido, serão consciente e cientificamente esperados, colhidos e reaplicados nos processos em que forem essenciais. Deixando de visar apenas o lucro, a produção implicará uma seqüência de processos integrando homem, matérias-primas, meio ambiente, produtos e subprodutos, energia, outros produtos e assim por diante. Nossas cidades irracionais, nossas megalópoles, às quais nossos miseráveis camponeses e marginais acorrem em ajuntamentos irracionais que na brutalidade de suas proporções e condições ambientais, afugentam os animais, por óbvio desmembrar-se-ão reintercalando-se seus segmentos com o verde. O urbanismo e a arquitetura renascerão como arte. Aliás, a arte não terá o trabalho não-artístico como categoria a se opor: toda a vida, todo o trabalho será estético. (Aílton Benedito de Souza e Roberto A. A. Vieira) 7 RESUMO A visualização de um evento ou de um objeto utilizando-se técnicas de animação proporciona um melhor entendimento sobre uma determinada informação, principalmente tratando-se de público leigo. Este trabalho compreende toda a extensão do rio Corumbataí, afluente do rio Piracicaba, e disponibiliza ferramenta digital para diagnóstico e prognóstico visual dos fatores que impactam negativamente a qualidade e quantidade de água que corre em seu leito. Foram utilizados dados digitais sobre o meio físico do entorno do rio e inseridas imagens orbitais, fotos aéreas e fotos locais de diferentes épocas dentro de um sistema computacional de visualização, que disponibiliza ferramentas de animação gráfica como translação, cross-dissolve, zoom e rascunho. O objetivo desse trabalho foi testar a eficácia de um sistema de visualização em tempo real de imagens de alta resolução, em ambiente SIG, para a produção de um método de análise que aumente a compreensão dos dados científicos. O resultado do trabalho foi a visualização de várias imagens multitemporais e de alta resolução para análise da degradação do rio Corumbataí, onde foi detectada a expansão urbana sobre sua área de mata ciliar. Outra possibilidade de uso do sistema, além da visualização do próprio rio, é a visualização das cidades que o margeiam, como Analândia, Corumbataí, Rio Claro e Piracicaba. Futuramente, este tipo de sistema computacional poderá ser utilizado como suporte para discussões sobre os recursos hídricos com uma maior participação do público em palestras de Educação Ambiental. Palavras-chave: Visualização em tempo-real; Foto aérea; SIG, Análise multitemporal; Recursos hídricos; Educação ambiental. 8 ABSTRACT The visualization of an event or an object using animation techniques provides a better understanding about the information, mainly, for laic people. This study involves the total Corumbataí river extension, tributary of Piracicaba river, and supplies digital tool for visual diagnosis and prognostic of factors that impact negatively the amount and quality of water that runs in its stream bed. Environmental digital data of Corumbataí river stream-side were used and multitemporal images like orbital image, aerial photographs and local photos were inserted in a computing system for visualization which provides graphical animation tools for translation, cross-dissolve, zoom and sketch. The purpose of this work was testing the efficiency of a real-time visualization system for high resolution image, in a GIS environment, to produce an analysis method that increases the scientific data comprehension. The result of this study was the visualization of many multitemporal and high resolution image to visual analyze Corumbataí river degradation, being detected urban expansion over stream-vegetation area. Beyond the visualization of the river itself, the system Corumbataí-2.0 also can be used to visualize the cities of Analândia, Corumbataí, Rio Claro and Piracicaba located around the Corumbataí river. For future applications, this computational system can be used like a tool to support discussions about water resources with a larger public participation in Environmental Education talks. Keywords: Real-time visualization; Aerial photograph; GIS, Multitemporal analisys; Water resources; Environmental education 9 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Taxa de analfabetismo funcional no Brasil - pessoas com 15 anos ou mais com menos de 4 anos de estudo........................................................................................................ 22 Quadro 2 - Evolução do número de analfabetos e da taxa de analfabetismo, no Brasil, entre a população de 5 anos ou mais, 10 anos ou mais e 15 anos ou mais, segundo os censos demográficos............................................................................................................................. 23 Quadro 3 – Áreas em km² e ha dos municípios de Analândia, Corumbataí, Rio Claro e Piracicaba.................................................................................................................................. 57 Quadro 4 – Fontes de obtenção dos materiais nas cidades de Rio Claro, Piracicaba, Campinas e São Paulo.............................................................................................................. 62 Quadro 5 – Tipos de fotos obtidas e os anos em que foram tomadas....................................... 67 Quadro 6 - Informações sobre o Banco Digital de Levantamentos Aerofotogramétricos 1 e 2................................................................................................................................................ 85 Quadro 7 – Fotos de levantamentos aerofotogramétricos: ano de execução, escala, no de fotos, no de faixas, empresa executora e cedente...................................................................... 155 Quadro 8 – Fotos aéreas oblíquas e fotos locais panorâmicas: ano de execução, escala, no de fotos e cedente...................................................................................................................... 157 10 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Localização da Bacia do Rio Corumbataí.......................................................... 58 Figura 2 - Limites dos municípios dentro da Bacia do Rio Corumbataí, com destaque para Analândia, Corumbataí, Rio Claro e Piracicaba.......................................................... 59 Figura 3 – Fluxograma geral das etapas de material e métodos.......................................... 60 Figura 4 – Carta Topográfica de Rio Claro (1998) em arquivo CAD................................. 63 Figura 5 – Planta Cadastral da área urbana do município de Rio Claro (1998) em arquivo CDR....................................................................................................................... 63 Figura 6 – Evolução da Cobertura Florestal do Estado de São Paulo, em arquivo BMP... 64 Figura 7 – Modelo Tridimensional do Relevo da Bacia do Corumbataí em arquivo JPEG.................................................................................................................................... 64 Figura 8 – Ângulos em que foram tomadas as fotos obtidas.............................................. 67 Figura 9 - Fotos originais dos levantamentos aerofotogramétricos, em P/B...................... 68 Figura 10 – Fotos originais coloridas dos levantamentos aerofotogramétricos.................. 69 Figura 11 – Imagem de Satélite Landsat, 2000................................................................... 70 Figura 12 - Fotos aéreas oblíquas (Canalização do córrego da Servidão, Rio Claro)......... 71 Figura 13 - Fotos locais panorâmicas (Canalização do córrego da Servidão, Rio Claro)... 71 Figura 14 – Processo de digitalização das filmagens analógicas em VHS e criação do Banco Digital de Filmes...................................................................................................... 75 Figura 15 – Pontos marcados para recorte das regiões de borda das fotos vizinhas........... 78 Figura 16 – Área de sobreposição sem a foto vizinha. ....................................................... 79 Figura 17 – Falha devido à ausência de mais de duas fotos vizinhas numa mesma faixa.. 79 Figura 18 – Fotos recortadas com os dois pontos de marcação para realizar mosaicagem......................................................................................................................... 80 Figura 19 - Marcação com zoom in dos pontos homogêneos nas áreas de sobreposição... 80 Figura 20 – Imagem resultante da mosaicagem. ................................................................ 81 Figura 21 – Trajetória de vôo paralelo (1962) e perpendicular ao percurso do rio Corumbataí (2000).............................................................................................................. 81 Figura 22 – Erro visível na junção de limites de estrada, durante a mosaicagem............... 82 Figura 23 – Foto original sem erros de mosaicagem.......................................................... 83 Figura 24 – Etapas de realização da mosaicagem e criação dos Bancos Digitais de Mosaicos 1 e 2..................................................................................................................... 84 Figura 25 - Seqüência de operações realizadas para visualizar um objeto gráfico 2D....... 86 Figura 26 - Decomposição de uma imagem gráfica............................................................ 87 Figura 27 - Representação em multi-resolução de uma imagem........................................ 88 11 Figura 28 - Multi-resolução de uma imagem com eliminação dos ladrilhos...................... 89 Figura 29 – Expansão urbana retirando a mata ciliar.......................................................... 94 Figura 30 –Localização da mata ciliar................................................................................ 94 Figura 31 – Esquema mostrando as conseqüências degradativas decorrentes da retirada da mata ciliar....................................................................................................................... 94 Figura 32 - Criação da pasta Corumbataí-2.0 dentro do disco “C”..................................... 95 Figura 33 - Cópia dos arquivos dos DVDs A e B para a pasta Corumbataí-2.0................. 96 Figura 34 – Modificação da letra “C” para letra “F”.......................................................... 96 Figura 35 – Modificação da letra “C” para a letra “F” do arquivo de atalho “Sigvia”....... 97 Figura 36 – Cópia do arquivo atalho “Sigvia” para a área de trabalho............................... 98 Figura 37 - Primeira imagem (1940) mostrada pelo sistema de visualização..................... 98 Figura 38 - Criação do arquivo de polígono “Area” com extensão BIN............................ 99 Figura 39 - Uso de régua para calcular a distância entre elementos ou o comprimento de elementos da imagem.......................................................................................................... 100 Figura 40 - Mapa da cidade de Rio Claro com a localização do bairro Jardim Boa Vista. 101 Figura 41 - Uso de zoom para visualização de diversas escalas do mosaico completo de 1962..................................................................................................................................... 103 Figura 42 – Translação pelo entorno do rio Corumbataí com zoom in (1962)................... 105 Figura 43 - Visualização multitemporal da cidade de Rio Claro utilizando a ferramenta de cross-dissolve................................................................................................................. 107 Figura 44 - Uso de cross-dissolve para transição de imagens de escalas diferentes........... 109 Figura 45 – Marcação, finalização e localização do polígono de expansão urbana no mosaico................................................................................................................................ 111 Figura 46 – Criação e localização do polígono de expansão urbana na foto aérea oblíqua 112 Figura 47 - Marcação, finalização e localização do polígono e área de mata ciliar no mosaico................................................................................................................................ 113 Figura 48 – Localização dos polígonos de expansão urbana no mosaico e na foto aérea oblíqua e de área de mata ciliar no mosaico........................................................................ 114 Figura 49 - Zoom in baixo para visualização da cidade de Rio Claro................................. 116 Figura 50 - Zoom in alto para visualização do rio Corumbataí e da área de mata ciliar..... 117 Figura 51 – Presença do bairro Jardim Boa Vista nos mosaicos de 2000, 1995 e 1988..... 117 Figura 52 - Sobrevôo pelos mosaicos sem a presença do bairro Jardim Boa Vista............ 118 Figura 53 – Surgimento do bairro Jardim boa vista entre 1988 e 1978.............................. 119 Figura 54 – Expansão urbana do bairro Jardim Boa Vista na direção da área de mata ciliar do rio Corumbataí...................................................................................................... 120 Figura 55 – Visualização de detalhes com o uso de cross-dissolve escalar........................ 121 Figura 56 – Ângulo de tomada de foto local permitindo identificar a direção de............... 122 12 Figura 57 – Diferença no posicionamento dos elementos, quanto ao ângulo – foz do rio Corumbataí em Piracicaba, nos mosaicos de 1940 e de 1945............................................. 128 Figura 58 – Exemplo de trajetória de vôo real com falhas visível na mosaicagem de faixas................................................................................................................................... 129 Figura 59 – Descarte de foto com presença de nuvens....................................................... 130 Figura 60 – Uso de fotos com presença de nuvens............................................................. 131 Figura 61 – Rabiscos de lápis e de caneta presentes no mosaico de 1950.......................... 132 Figura 62 – Maior diferença de localização do polígono do ano de 2000 para a mesma área geográfica: mosaico de 1965....................................................................................... 134 Figura 63 – Menor diferença de localização do polígono do ano de 2000 para a mesma área geográfica: mosaico de 1978....................................................................................... 134 Figura 64 – Diferença no formato dos polígonos do mesmo ano e da mesma área geográfica............................................................................................................................ 135 Figura 65 – Comparação dos aspectos de rio e de estrada para localização da área do bairro Jardim Boa Vista de 1978 a 1950............................................................................. 136 13 LISTA DE SIGLAS AIA - Avaliação de Impacto Ambiental ANA – Agência Nacional da Água ARPA - Advanced Research Projects Agency CATI – Coordenadoria de Assistência Técnica Integral CEAPLA/UNESP - Centro de Análise e Planejamento Ambiental / Universidade Estadual Paulista CENA/USP – Centro de Energia Nuclear na Agricultura / Universidade de São Paulo CETESB - Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente CONSÓRCIO PCJ – Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí COMITÊS PCJ – Comitês das Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí CPU – Unidade Central de Processamento / processador do computador DAEE - Departamento de Águas e Energia Elétrica DAAE - Departamento Autônomo de Água e Esgoto DPI – Dots per Inch (pontos por polegada) ESALQ/USP - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” / Universidade de São Paulo ETM - Sensor Thematic Mapper HD – Hard Disc (Disco Rígido do computador) IAC – Instituto Agronômico de Campinas IAP - Índice de qualidade de água bruta para fins de abastecimento público IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IET - Índice do Estado Trófico IF – Instituto Florestal IGC/USP – Instituto Geográfico e Cartográfico / Universidade de São Paulo IMPA – Instituto de Matemática Pura e Aplicada IPEF – Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais IQA - Índice de Qualidade das Águas IVA - Índice de qualidade de água para a proteção da vida aquática 14 JPEG – Joint Photographic Experts Groups MDT – Modelo Digital de Terreno NASA - National Aeronautics and Space Administration NSF - National Science Foundation P/B - Preto e Branco PDI – Processamento Digital de Imagem PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios PPI – Pixels per Inch (pixels por polegada) RA - Realidade Aumentada RGB - cor verdadeira: R: Vermelha, G: Verde e B:Azul RV - Realidade Virtual SEDEPLAMA – Secretaria de Desenvolvimento, Planejamento e Meio Ambiente SEMAE – Serviço Municipal de Água e Esgoto SIG - Sistemas de Informações Geográficas SNIG - Sistema Nacional de Informações Geográficas TIFF – Tagged-Image File Format UCSB - Universidade da Califórnia em Santa Bárbara USP - Universidade de São Paulo UNESP - Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” VESAMOTEX - Virtual Education Science and Math of Texas WEB ou WWW- World Wide Web 15 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO......................................................................................................... 17 1.1 Contextualização do Trabalho.................................................................................. 17 1.2. Objetivos.................................................................................................................. 18 1.2.1 Objetivo Principal.................................................................................................. 18 1.2.2 Objetivos Secundários........................................................................................... 19 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA............................................................................... 20 2.1. Demandas para Pesquisadores Ambientais............................................................. 20 2.2. Imagens Aéreas Multitemporais e seus Usos.......................................................... 27 2.3. Tratamento Digital................................................................................................... 30 2.4. Tecnologias de Informática e Multimídia............................................................... 39 2.5. Sistemas para Visualização de Imagens de Alta Resolução.................................... 48 2.5.1 Técnicas de Multi-resolução.................................................................................. 49 2.5.2 Técnicas de Gerenciamento de Memória.............................................................. 50 2.5.3 Técnica para Visualização Multitemporal: Cross-dissolve................................... 52 2.5.4 Sistemas Comerciais de Visualização em Tempo-real e Multitemporal............... 53 2.5.5 Motivação para Estudo do Rio Corumbataí.......................................................... 54 3. MATERIAL E MÉTODOS.................................................................................... 57 3.1 Localização da Área de Estudo................................................................................ 57 3.2 Estruturação e Aplicação das Imagens Obtidas........................................................ 60 3.3 Aquisição de Dados.................................................................................................. 61 3.4 Tratamento Digital.................................................................................................... 74 3.4.1 Filmagens.............................................................................................................. 74 3.4.2 Fotos...................................................................................................................... 76 3.5 Teste de Eficácia do Uso do Sistema de Visualização............................................. 86 3.5.1 Decomposição e Multi-resolução.......................................................................... 87 3.5.2 Visualização de Objetos Gráficos......................................................................... 89 3.5.3 Sistema de Gerenciamento de Memória................................................................ 89 3.5.4 Sistema de Predição Adaptativo............................................................................ 90 3.5.5 Interface com as Aplicações.................................................................................. 91 3.6 Uso de Ferramenta para Análise Visual: Expansão Urbana..................................... 92 3.6.1 Características Gerais do Sistema Corumbataí-2.0............................................... 95 3.6.2 Translação e Zoom................................................................................................. 102 16 3.6.3 Cross-dissolve........................................................................................................ 106 3.6.4 Rascunho............................................................................................................... 110 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................... 115 4.1 Eficiência do Método............................................................................................... 115 4.2 Expansão Urbana sobre Área de Mata Ciliar........................................................... 116 4.3 Discussão.................................................................................................................. 123 4.3.1 Prognóstico e Diagnóstico..................................................................................... 125 4.3.2 Dificuldades de Desenvolvimento do Sistema Corumbataí-2.0............................ 126 4.3.3 Dificuldades da Análise de Expansão Urbana....................................................... 133 5. CONCLUSÕES.......................................................................................................... 137 5.1 Limitações do Sistema Corumbataí-2.0................................................................... 138 5.2 Possibilidades de Uso do Sistema Corumbataí-2.0.................................................. 141 5.3 Propostas Futuras...................................................................................................... 143 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................. 147 APÊNDICE 154 17 1. INTRODUÇÃO 1.1 Contextualização do Trabalho A visualização de um evento ou de um objeto utilizando-se técnicas de animação proporciona um melhor entendimento sobre determinada informação pelo público interessado, ou que se quer interessar. Quando comparadas com as informações escritas ou imagens estáticas de um modo geral, as animações gráficas demonstram grande poder didático principalmente quando se trata de público leigo, sem formação educacional suficiente. Porém, a eficiência da animação está diretamente ligada a sua visualização em tempo-real, ou seja, sem que ocorra falhas entre as imagens que estão sendo apresentadas na tela do monitor. O presente trabalho testou a aplicabilidade de um banco digital de imagens (fotografias aéreas e locais) em um sistema gráfico para visualização em tempo real e multitemporal de imagens de alta resolução em ambiente SIG. O sistema gráfico testado disponibiliza ferramentas de animação gráfica, como cross- dissolve e visualização em tempo real de imagens de alta resolução, aplicáveis às imagens digitais, possibilitando o acesso a dados georreferenciados e multitemporais em escala detalhada. Também permite a criação de um banco digital próprio utilizando ferramentas de inserção de desenhos vetoriais. O sucesso desta aplicabilidade permitiu o desenvolvimento de um sistema gráfico de visualização de imagens de um rio e das cidades que o margeiam. Como demonstração do uso deste sistema é apresentada neste trabalho, uma análise visual do fator expansão urbana que pode vir a comprometer os recursos hídricos. O foco principal das imagens utilizadas neste trabalho foi o rio Corumbataí, situado na Bacia Hidrográfica dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, no Estado de São Paulo. Compõem o banco digital, dados em formato raster (fotos aéreas e locais, mapas e MDT), 18 vetorial (mapas), e alfanumérico (texto e tabela) com informações sobre o rio Corumbataí, e as cidades de Analândia, Corumbataí, Rio Claro e Piracicaba. O sistema gráfico de visualização, composto pelos bancos digitais de imagens do rio Corumbataí e das cidades que o mesmo atravessa, possibilitou realizar análise visual da expansão urbana sobre a área de mata ciliar do rio Corumbataí, dentro da cidade de Rio Claro. Os resultados foram obtidos mediante análise visual realizada com o sistema de visualização em tempo real e multitemporal das imagens aéreas. Foi desenvolvida a análise de expansão da área urbana em direção à mata ciliar como um fator potencial de degradação do rio Corumbataí. A demanda para o desenvolvimento deste sistema gráfico com imagens do rio Corumbataí se baseou nas percepções da influência da imagem, juntamente com técnicas multimídia de animação gráfica como translação, zoom, cross-dissolve e rascunho, para transmitir informações sobre recursos hídricos. O grande desafio foi testar um sistema de visualização de imagens de alta resolução em ambiente SIG que pudesse ser executado em microcomputadores de configuração média de hardwares e acessado via internet. 1.2 Objetivos 1.2.1 Objetivo Principal Avaliar a eficiência de uma ferramenta de visualização em tempo real e multitemporal de imagens de alta resolução em ambiente SIG, para análise de fator potencial de degradação do rio Corumbataí dentro da cidade de Rio Claro. O sucesso na aplicação deste trabalho vislumbra o uso futuro desta ferramenta em palestras e eventos sobre educação ambiental para dar suporte aos dados técnico-científicos apresentados ao público. 19 1.2.2 Objetivos Secundários a) constituir um banco digital de imagens de diferentes épocas do rio Corumbataí; c) avaliar a eficácia de um sistema gráfico de visualização de imagens que possibilite as seguintes ações: armazenamento de banco digital georreferenciado; visualização de fotos aéreas digitais com tamanho ilimitado de bytes; uso de ferramentas de rascunho para inserção de desenhos vetoriais; visualização em tempo real e multitemporal de imagens do rio Corumbataí e das cidades de Analândia, Corumbataí, Rio Claro e Piracicaba; execução em microcomputadores de média configuração de hardware (PentiumII, por exemplo) e acesso via internet; d) disponibilizar DVD com o sistema de visualização de imagens e o banco de imagens digitais sobre o rio Corumbataí e as cidades que atravessa. 20 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1. Demandas para Pesquisadores Ambientais Pesquisadores de paisagem e meio ambiente têm tido participação cada vez maior nas discussões políticas, econômicas e sociais dos governos de todos os países. A responsabilidade destes pesquisadores tende a crescer na medida em que o tema sustentabilidade dos recursos naturais, entre eles a água, está presente e intimamente ligado aos projetos de desenvolvimento e sobrevivência do planeta. Para Leite (1994) a avaliação de qualquer projeto deve ter como base todas as conexões possíveis entre o natural e o social, a partir de padrões sociais de qualidade de vida, que são culturalmente estabelecidos. Suas alternativas devem contemplar além das questões técnicas e os custos financeiros, as questões sociais, ambientais, culturais e estéticas envolvidas na sua implantação. Segundo Décamps (2000) atualmente, em muitos países, os pesquisadores ambientais participam de decisões ministeriais como árbitros principais de ações políticas aumentando sua responsabilidade em mostrar transparência no seu trabalho. Para o mesmo autor, além dos avanços teóricos, há outro tremendo desafio que deve ser superado no nível ecológico da pesquisa e inclui percepção humana, aspectos culturais e ambientes virtuais. Sobretudo, ele deve ser superado nas interações entre natureza e cultura. Pesquisadores terão que melhorar sua habilidade em comunicar suas pesquisas e análises de alternativas para paisagens futuras, não apenas para tomadores de decisão, mas também para planejadores, administradores e para o público em geral. Cada vez mais, produtos visuais serão necessários para apresentar as análises e avaliações coletivas (NASSAUER, 1992; HUNZIKER e KIENAST, 1999 apud DÉCAMPS, 2000). Cada vez mais, também, uma prática de linguagens mais acessíveis será necessária para benefício do 21 conhecimento tradicional (BERKES et al., 1998 apud DÉCAMPS, 2000), e uma visão histórica das relações desenvolvidas entre grupos sociais e seus ambientes será necessária para entender as paisagens atuais (SCHAMA, 1995 apud DÉCAMPS, 2000). Dentro desta perspectiva, softwares e tecnologias de informática de um modo geral são ferramentas imprescindíveis para colaborar com os trabalhos de pesquisa na área ambiental. A produção de softwares requer que seus desenvolvedores combinem necessidades éticas e técnicas em parceria com usuários, co-desenvolvedores, público, culturas, grupos de interesse especial, empreendimentos comerciais, governos e outros grupos que possam ser afetados direta ou indiretamente. Desenvolvedores devem considerar também a informação que seu software usa ou gera, e a paisagem para tomada de decisão que ela afeta ou cria (THOMPSON e SCHMOLDT, 2001). Sobre as informações disponíveis pelos softwares Thompson e Schmoldt (2001) citam também que a distribuição do conhecimento deve estar agregada a conceitos apropriados para o público pretendido, assim como, evitar informações sobrecarregadas. Com relação às limitações dos softwares, como o acesso por grupos restritos, os mesmos autores indicam a necessidade do desenvolvimento de sistemas integrados que certifiquem o acesso por todos os envolvidos no ambiente de decisão. A análise da literatura permite observar uma grande preocupação com o sucesso de softwares desenvolvidos sem a devida atenção aos aspectos citados acima. Segundo Slofstra, (1999 apud THOMPSON e SCHMOLDT, 2001), a faixa de fracasso de projetos de desenvolvimento de software tem sido estimada em 70%. Wood-Harper et al. (1996 apud THOMPSON e SCHMOLDT, 2001) complementam que o fracasso nos sistemas de informação resulta de uma inabilidade ou má vontade para entender o contexto humano. Thompson e Schmoldt (2001) concluem que uma abordagem ética para o desenvolvimento de 22 sistemas dando maior atenção às percepções (éticas) humanas do bom e do ruim resultará em maior sucesso do software. Observa-se, no entanto que informações científicas ainda são apresentadas ao público num formato (ou linguagem) estritamente acadêmico e científico. Conforme Silva (2000) não há uma ponte confiável onde estas informações possam trafegar de modo a serem compreendidas pela população sem que percam sua base e credibilidade científica. Mesmo sendo poucos, existem jornalistas se especializando na divulgação deste tipo de informação, assim como cientistas se esforçando para tornar os resultados de suas pesquisas mais inteligíveis, e conseqüentemente, mais úteis a esta população. A análise das possibilidades de sucesso na comunicação da ciência para a população indica uma realidade, principalmente no Brasil, difícil de ser solucionada e que exigirá trabalho de longo prazo. Pessoas preparadas científica e educacionalmente para compreender informações e conhecimentos técnico-científicos representam uma parcela mínima da população brasileira (Quadros 1 e 2) (RIBEIRO, 2002). Ano Taxa de analfabetismo funcional (%) 1992 37 1997 32 1999 29 Fonte: IBGE, Censos demográficos e PNAD 1999. Quadro 1 - Taxa de analfabetismo funcional no Brasil - pessoas com 15 anos ou mais com menos de 4 anos de estudo (RIBEIRO, 2002). 23 População Não alfabetizada Ano do Censo Total Nº % a) População de 5 anos ou mais 1872 8.854.774 7.290.293 82,3 1890 12.212.125 10.091.566 82,6 1920 26.042.442 18.549.085 71,2 1940 34.796.665 21.295.490 61,2 1950 43.573.517 24.907.696 57,2 1960 58.997.981 27.578.971 46,7 1970 79.327.231 30.718.597 38,7 1980 102.579.006 32.731.347 31,9 1991 130.283.402 31.580.488 24,2 2000 153.423.442 25.665.393 16,7 b) População de 10 anos ou mais 1940 29.037.849 16.452.832 56,7 1950 36.557.990 18.812.419 51,5 1960 48.839.558 19.378.801 39,7 1970 65.867.265 21.638.913 32,9 1980 87.805.265 22.393.295 25,5 1991 112.860.254 21.330.966 18,9 2000 136.881.115 17.552.762 12,8 c) População de 15 anos ou mais 1920 17.557.282 11.401.715 64,9 1940 23.709.769 13.242.172 55,9 1950 30.249.423 15.272.632 50,5 1960 40.278.602 15.964.852 39,6 1970 54.008.604 18.146.977 33,6 1980 73.542.003 18.716.847 25,5 1991 95.810.615 18.587.446 19,4 2000 119.533.048 16.294.889 13,6 Fontes: Para 1872, 1890 e 1920, ver: Brasil, Recenseamento Geral do Brasil 1920, v. IV, 4ª parte – População e IBGE, Censo 1940. Para os demais censos, ver: IBGE, Censo demográfico, 1940, 1950, 1960, 1970, 1980, 1991, 2000. Quadro 2 - Evolução do número de analfabetos e da taxa de analfabetismo, no Brasil, entre a população de 5 anos ou mais, 10 anos ou mais e 15 anos ou mais, segundo os censos demográficos (RIBEIRO, 2002). Há no Brasil um alto número de pessoas analfabetas e analfabeto-funcionais (RIBEIRO, 2002) que interagem de um modo ou de outro com os rios, porém, de forma alienada sem saber das conseqüências presentes e futuras dessa interação. 24 Como exemplos de alienação com relação aos recursos hídricos e o meio ambiente, Souza e Vieira (1984) questionam: como um empresário interessado em produzir para um mercado ávido para operar um bem de posse, poderá se preocupar com os resíduos dessa mercadoria, com os rios onde os despejará, ou com os outros usos benéficos dos rios, inclusive seu próprio abastecimento de água? Os mesmos autores inferem a necessidade de o Estado definir o que é poluição, para que suas instituições fiscalizadoras evitem um enfoque estritamente científico que em sua essência exclui o homem. Sendo o Estado o maior poluidor, não só por sua presença hegemônica na economia em setores como siderurgia, química, petróleo, petroquímica, desmatamento, mineração, energia nuclear, etc, como também por sua omissão na distribuição de serviços de saneamento básico e saúde, pode colaborar mais eficientemente com a defesa da natureza se reformular o seu sistema educacional, dinamizando o estudo e a pesquisa científica. De acordo com IBAMA (1995), nas condições atuais o fator mais importante que justifica os níveis de degradação ambiental são a inadequação e as falhas no próprio processo de gestão ambiental. Elas dificultam ou impedem os diversos agentes sociais (desde os responsáveis pela degradação até os responsáveis pela proteção) de apossar-se do conhecimento e das tecnologias científicas, aplicando-os no cotidiano da gestão. Para Leite (1994) alguns métodos de planejamento territorial adotam como pressuposto básico a abstração da realidade e crêem que o repouso, e não o movimento é o estado natural da paisagem. Assim como, os elementos existentes no nosso entorno visível não são duradouros e estão em contínua mutação, deve-se ter em mente, também, que as paisagens nas quais vivemos, são produto de 40 milhões de anos (período Mioceno e última glaciação) de desenvolvimento natural e cerca de 10.000 anos de desenvolvimento cultural. 25 Neste contexto, a Educação Ambiental é um importante trabalho de combate à poluição ambiental e dos recursos hídricos que vem sendo realizado no Brasil e na Bacia do rio Corumbataí, na tentativa de se fazer a ligação entre a ciência e a vida cotidiana. Órgãos públicos, privados e não governamentais têm investido grande capacidade técnica e financeira em projetos que visam transmitir ao público leigo as informações científicas sobre a realidade dos recursos hídricos. De acordo com Souza e Vieira (1984) é possível estabelecer alguns princípios básicos para aumentar a eficiência da participação da sociedade no desenvolvimento de soluções democráticas para a poluição ambiental: a) organização democrática de seus membros; b) consciência social das transformações que se buscam no contexto em que ocorre a participação; c) processo de comunicação participativo; d) desejo compartilhado de participação; e) causa comum, que sirva de objetivo ou fim à participação e f) facilitação do acesso ás informação. IPEF (2001) apresenta exemplos de projetos de Educação Ambiental, dentro da Bacia do Rio Corumbataí, que enfocam os princípios relatados acima. Um bom exemplo é o “Projeto de Educação Ambiental Rio Corumbataí – 2000", desenvolvido na E. E. Catharina Casale Padovani, em Piracicaba, e que se baseia numa intervenção educacional na área de meio ambiente. Deste projeto participam os alunos da 7ª e 8ª séries do curso fundamental e do 1º e 3º anos do ensino médio sob a coordenação direta dos professores. Uma das principais atividades desenvolvidas baseia-se na documentação das práticas realizadas através de fotos, filmagens e relatórios. O objetivo destas atividades é oferecer parâmetros para a orientação em trabalhos e pesquisas que auxiliem no desenvolvimento sustentável e na prática de atitudes ecologicamente corretas. 26 A implementação das demandas atuais de pesquisas e formas de difusão dos seus resultados, propostas por órgãos do governo Estadual e Federal, podem diminuir o abismo entre os problemas da poluição dos recursos hídricos e as suas soluções. Na esfera federal destacam-se os seguintes temas sugeridos pela Câmara Técnica de Ciência e Tecnologia, do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (ANA, 2003): a) desenvolver métodos de envolvimento comunitário e institucional, visando à elaboração de planos de recursos hídricos e de outros instrumentos de gestão; b) desenvolver e implantar sistemas interativos de informação; c) promover a elaboração de material técnico sobre o tema recursos hídricos na forma de cartilhas, apostilas, revistas, painéis, vídeos e CD-ROMs; d) promover o resgate da memória nacional sobre os recursos hídricos; e) desenvolver e tornar disponível um moderno e atualizado acervo de instrumentos pedagógicos em recursos hídricos; f) desenvolver métodos de comunicação social sobre questões associadas à gestão de recursos hídricos (alerta de enchentes, reuso, uso eficiente) e g) realizar cursos de treinamento de técnicos em Educação Ambiental para o gerenciamento de recursos hídricos. Na esfera estadual foi criado em 16 de abril de 2004 um grupo de trabalho específico, doravante denominado GT-Corumbataí no âmbito dos Comitês PCJ, que propõem metas de gestão, como: a) efetuar e atualizar cadastro de erosões (rurais e urbanas) e assoreamento presentes na bacia hidrográfica do rio Corumbataí e priorizar áreas mais críticas e b) priorizar áreas com voçorocas críticas nas áreas rurais e urbanas dos municípios pertencentes à bacia hidrográfica do rio Corumbataí. Soares e Gottlieb (1996) considerando a demanda de ferramentas para melhorar a comunicação do conhecimento adquirido pelos educadores e professores, discutiram propostas para os temas Comunicação e Plano Decenal de Educação realizado em 1993 projetando políticas que melhor atendessem à sociedade até o ano 2003. Entre as propostas estavam o uso de tecnologia de informática e multimídia durante todo o processo de relação, 27 comunicação e educação. Alertavam, porém, sobre a importância de o educador ter consciência de que deve utilizar a tecnologia educacional em todo o processo de aprendizado, caso contrário incorrerá na utilização do meio tecnológico sem o efeito adicional esperado. O uso das ferramentas de informática e de multimídia é uma tendência e o educador precisa dominá-lo. Estas tecnologias devem ser utilizadas enquanto domínio, e depois como prática pedagógica, para que o professor possa adaptá-la as suas próprias circunstâncias e ter mais segurança ao incentivar seu uso pelos alunos (SOARES e GOTTLIEB, 1996). A demanda de ferramentas para a realização e difusão de pesquisas ambientais, em específico para os recursos hídricos, devem ser consideradas e avaliadas criteriosamente. Os conteúdos que integram estas ferramentas, principalmente os softwares, devem ser mostrados para o público alvo que irá utilizá-los. A maioria dos softwares utilizados para análise ambiental, tem seu conteúdo restringido ao desenvolvedor e ao meio científico que o utiliza para suas análises. Imagens aéreas, como fotografias e imagens de satélite utilizadas para criação de mapas e informações textuais deveriam estar disponíveis para acesso, pois permitiriam ao público conhecer a matéria-prima que originou os dados apresentados. 2.2. Imagens Aéreas Multitemporais e seus Usos Fotografias aéreas e imagens de satélites podem ser utilizadas como ferramentas de alto grau de eficácia para suprir a demanda de comunicação nas informações relativas ao ambiente e seus recursos hídricos. A fotografia aérea pode ser classificada em seis categorias: vertical, oblíqua, leque, faixa contínua, panorâmica e aérea cinematográfica. Uma fotografia aérea vertical é tirada por uma aeronave, com o eixo da câmera vertical. O eixo da câmera é perpendicular a Terra e os atributos terrestres aparecem em perspectiva e com mínima distorção de suas dimensões 28 horizontais. Dentro da categoria de fotografia aérea vertical fazem parte os levantamentos aerofotogramétricos oficiais. A foto aérea oblíqua é tirada com o eixo da câmera direcionado entre os ângulos horizontal e o vertical. Uma foto aérea oblíqua mostra uma área geográfica maior que uma foto vertical tirada com a mesma lente focal e a partir da mesma altitude. Porém, as imagens tornam-se menores em direção ao horizonte (MANUAL OF AERIAL PHOTOGRAMMETRY, 2006). Os elementos que fazem parte de uma foto aérea indicam num determinado momento, a situação da região geográfica observada, mesmo que de forma estática. O detalhamento destas observações depende de alguns fatores. A qualidade e conservação estão entre os mais importantes. Fotos antigas arquivadas em ambiente não apropriado sofrem desgaste da película que recobre o papel, impossibilitando a visualização da imagem fotografada. Fotos antigas e em P/B têm menor poder de observação e diferenciação dos detalhes, porém são materiais preciosos para análises ambientais atuais e futuras de uma região. A escala (altitude) em que foram tiradas as fotos aéreas é outro fator que influi na observação de detalhes e conseqüentemente, no seu uso para análises ambientais. Fotos aéreas tomadas em baixa altitude cobrem visualmente uma região geográfica menor, porém disponibilizam mais detalhes dos elementos visualizados na imagem. Nos sobrevôos em grande altitude, as fotografias aéreas cobrem uma extensa área visual, porém não permitem uma visão detalhada dos elementos. Fotografias aéreas antigas e atuais tomadas a baixa altitude quando comparadas às imagens de satélites atuais apresentam desvantagem pois é necessário reunir um número suficiente de fotos para cobrir a mesma área geográfica que apenas uma imagem de satélite de alta resolução abrange, e com a mesma qualidade e mesmo detalhe visual dos elementos. 29 Todavia, cada foto aérea tomada durante um levantamento aerofotogramétrico apresenta distorções das imagens, principalmente nas suas extremidades. As distorções são causadas pelas condições de vôo e dependem da direção e velocidade do vento que pode alterar a posição da aeronave durante o sobrevôo, tanto para cima como para baixo, assim como para frente e para trás. Além das condições de vôo o fator relevo da região fotografada infere mais distorções a estas fotos. As fotografias aéreas apresentam vantagens com relação aos diferentes ângulos em que podem ser tomadas. De acordo com o objetivo do uso, estas fotografias podem ser tomadas por máquinas e ângulos que permitem visualizar aspectos ambientais que não são possíveis em imagens de satélites tomadas verticalmente. Como exemplo têm-se as fotografias aéreas que são tomadas para visualização em 3D, ou então as fotografias aéreas oblíquas que apresentam um ângulo de visão mais familiar ao público leigo (MANUAL OF AERIAL PHOTOGRAMMETRY, 2006). Atualmente, com o avanço tecnológico das máquinas fotográficas e dos satélites orbitais, estão disponíveis fotografias aéreas e imagens de satélites coloridas e em formato digital. As fotos aéreas e imagens de satélites mais antigas em papel fotográfico podem ser convertidas para formato digital utilizando-se o scanner. Essas imagens depois de digitalizadas podem ser muito úteis para análise ambiental na tela do computador. Para servir a esses objetivos, essas imagens devem passar por tratamentos computacionais, que irão interferir diretamente na sua qualidade visual e uso futuro. 30 2.3 Tratamento Digital Para simular ou estudar um determinado fenômeno do mundo real mediante processos computacionais é necessário alimentar o sistema com dados provenientes desse fenômeno. Em geral, quanto maior a quantidade das amostras adquiridas, maior será a precisão dos resultados retornados pelo sistema. Um objeto gráfico digital é definido por informações topológicas e geométricas e uma função de atributos que definem suas propriedades (PINHEIRO, 2004). Os dados bidimensionais são chamados de objetos gráficos 2D, e seus exemplos mais conhecidos para análise ambiental são os mapas, imagens de satélite e fotografias aéreas. O scanner transforma a imagem (cópia) de uma foto em bits de informações, de maneira que o computador possa entender e manipular. Quando digitalizada uma imagem, a dimensão dos pixels é o resultado da multiplicação entre a resolução (dpi ou ppi) da digitalização e a dimensão física (cm ou polegada) da área Por exemplo, a digitalização de uma foto com 4" x 6" a 100 dpi de resolução, resultará uma imagem com 400 x 600 pixels. O tamanho do arquivo de uma imagem é proporcional à sua dimensão de pixels, conseqüentemente, digitalizar em altas resoluções produzirá arquivos de imagens grandes e geralmente com mais detalhes do que em resolução baixa (GENIUS, 2006). O número máximo de cores por pixel mostrado em uma imagem pode ser medido em número de bits, e os modelos de cores mais utilizados são o P/B, Tons de Cinza, Cores Indexadas e o RGB Cor Verdadeira. O tamanho de uma imagem digital é o resultado da dimensão dos seus pixels multiplicados pela sua profundidade de cores. Por exemplo, o tamanho de uma imagem P/B (1 bit) de 100 x 80 pixels é 1.000 bytes. Se 1 byte equivale a 8 bits e 1 pixel equivale a 1 byte, então: 100 bytes x 80 bytes x 1/8 bytes = 1.000 bytes. Com as mesmas dimensões em pixels, uma imagem em Tons de Cinza (8 bits) tem 8.000 bytes (100 x 31 80 x 1 byte) e uma imagem RGB Cor Verdadeira (24 bits) tem 24.000 bytes (100 x 80 x 3 bytes) para armazenar a informação corretamente (GENIUS, 2006). Imagens digitais gravadas em formatos descompactados armazenam as imagens da forma como foram digitalizadas e mantém o tamanho original do arquivo, porém requerem maior espaço no disco. Os formatos de arquivos mais comuns são BMP, TIFF, PSD, etc. sendo apropriados para uso em edição futura, design gráfico ou publicações de alta qualidade (GENIUS, 2006). Existem formatos de compressão de imagem que reduzem o tamanho do arquivo apenas para o armazenamento, mas no geral, quanto menor a qualidade do arquivo de imagem, maior sua compactação, mas para processar essas imagens é necessário o espaço real do tamanho do arquivo no computador. Este fator é a chave para o desempenho de processamento, pois ao acessar um arquivo compactado, com 24Mb, por exemplo, em um editor de imagens é necessário um espaço na memória de até três vezes este valor (GENIUS, 2006). Hoje, o JPEG é um dos formatos compactados mais comuns na Internet e nos computadores pessoais. O JPEG utiliza esquemas diferentes para compactar imagens em RGB Cor Verdadeira, sendo o formato mais eficiente para armazenar fotos, vídeos, etc. Dentre as vantagens do uso deste formato pode-se citar a economia de espaço (reduzindo assim o tempo de transferência) e o fato de disponibilizarem imagens com qualidade suficiente (GENIUS, 2006). Depois de digitalizadas estas fotos podem passam por tratamentos digitais em software específico como o Photoshop (ADOBE, 2006), a fim de recuperar ou aumentar sua qualidade visual. Imagens aéreas atuais e antigas, de alta qualidade ou recuperadas digitalmente, podem e devem servir como ferramentas em análise e comunicação de conhecimentos sobre o 32 ambiente e seus recursos hídricos. Trabalhos e projetos científicos têm utilizado essas imagens, em formato digital, para análise multitemporal via tela do computador. Dentre as muitas possibilidades de uso para a fotografia aérea no estudo de ambientes, foram selecionados aqui estudos e projetos que se referem ao rio Corumbataí e outros que utilizaram séries multitemporais de fotografias aéreas e imagens de satélite. De acordo com Trindade (2004) o uso de uma série multitemporal de imagens aéreas digitais permite que povoados de pequeno e médio porte obtenham e atualizem sua base cartográfica de modo confiável, num curto período de tempo e com baixo custo. O uso destas imagens serve como ferramenta importante para registrar ocupações informais de áreas residenciais e planejar o desenvolvimento futuro. Fotografias aéreas e imagens de satélite podem ser úteis para análise multitemporal de áreas que apresentam contaminação de poços, de trincheiras e superficial. Eeckhout et al. (1996) utilizaram série multitemporal de fotografias aéreas digitais, imagens de satélite e ferramenta computacional de medição de áreas para definir a extensão territorial de minas, trincheiras e áreas de contaminação em New México - EUA. As fotografias aéreas digitais permitiram a detecção de mudanças do local, via tela do computador. Imagens aéreas multitemporais podem servir também, para análise de modificações ocorridas no canal de rios. Thomas, Best e Lane (2003), utilizaram fotografias aéreas digitais de um trecho do rio Saskatchewan tomadas em intervalos de seis meses, entre abril de 2000 e outubro de 2003 e MDT para identificar e explicar processos de mudança do canal e do cinturão do rio. Modificação de áreas de vegetação como florestas nativas, reflorestamentos ou cultivos de eucaliptos, mata ciliar, vegetação costeira ou vegetação pantanosa, podem ser analisadas e monitoradas multitemporalmente com o uso de imagens aéreas. Schultz (1999) utilizou vídeo e fotografias aéreas digitalizadas para propiciar alta qualidade na criação de 33 MDT, e desenvolver métodos semi-automáticos e de custo acessível para estimativa de biomassa em grandes áreas de vegetação. Pakzad (2002), Siegel et al. (2004) e Grosshans, Wrubleski e Goldsborough (2004) utilizaram série multitemporal de fotografias aéreas digitais com alta resolução para interpretação multitemporal de mudanças em áreas de vegetação e erosão, numa área pantanosa. Medinilha (1999), Hoffmanm e Zimmermann (2000) e Duke (2003) utilizaram fotografias aéreas multitemporais dentro de um SIG para calcular a mudança de áreas de mata ciliar, assim como sua degradação ao longo do tempo. Em ambientes naturais sensíveis, assim como em áreas urbanas, imagens aéreas multitemporais são usualmente utilizadas para avaliar a modificação de uso e ocupação do solo. Yokohari et al. (2000), Valério Filho, Serafim e Kurkdjian (2000), Oliveira e Costa (2001), Grigio e Amaro (2002), Almeida (2003) e Hurskainen e Pellikka (2004) utilizaram séries multitemporais de fotos aéreas e imagens de satélites para análise de uso e ocupação do solo em áreas urbanas. Fiori et al. (1998), Toledo e Ballester (2001), Grigio et al. (2001), Grigio e Amaro (2002), Morelli et al. (2003) citam o uso de séries multitemporais de fotografias aéreas e imagens de satélites para análise de adequação de uso e ocupação do solo em áreas ambientais sensíveis. A reunião de várias fotografias aéreas em uma única imagem é chamada mosaico. O mosaico facilita a análise ambiental, pois o analista não gasta tempo na localização da foto da área que se quer analisar. Um mosaico digital de fotografias aéreas cumpre a mesma função de uma imagem de satélite: disponibilizar, numa única imagem, elementos para análise visual de uma grande extensão territorial. Comparado com uma imagem de satélite, o uso de mosaico digital é particularmente mais importante e eficiente para fotos aéreas antigas. Nestes casos, as fotos foram tomadas numa escala que disponibiliza mais detalhes visuais que as imagens de satélites mais antigas. 34 Segundo Wolf e Dewitt (2000 apud ARRUDA JÚNIOR, 2002), se uma única foto não apresentar cobertura suficiente de uma área, um mosaico aéreo poderá ser preparado. Mais recentemente, mosaicos digitais estão sendo preparados com o uso de fotografias digitalizadas através de scanners e obtidas diretamente de câmaras digitais. Os mosaicos são construídos a partir de um bloco de fotografias com superposição que têm devidamente retirada a sua área de borda com maior distorção, e são depois unidas numa única foto. Os mosaicos de fotos aéreas geralmente são divididos em três classes: controlados, semi-controlados e não controlados. O mosaico digital controlado é o mais acurado das três classes, pois passa por um processo analítico similar ao georreferenciamento, onde as fotos são alinhadas por toda extensão, embora raramente coincidam devido ao deslocamento do relevo. Um mosaico digital não controlado compreende simples junção de fotos adjacentes, sem o uso de pontos de controle no solo, e sem retificação das fotografias aéreas. Mosaicos não controlados são mais fáceis e rápidos de serem preparados, porém não possuem a mesma acurácia dos mosaicos controlados, apesar de serem completamente satisfatórios para muitos usos qualitativos. Os mosaicos digitais semi-controlados são montados combinando especificações dos controlados e não controlados. O mosaico semi-controlado pode ser preparado pelo uso de pontos de controle no solo empregando fotos não retificadas e planificadas, sendo uma combinação de economia e acurácia (WOLF e DEWITT, 2000 apud ARRUDA JÚNIOR, 2002). Com o advento e avanço da informática a mosaicagem de fotografias aéreas pode ser feita dentro de um ambiente digital utilizando softwares específicos. Considerando as distorções destas fotos, para se obter mosaicos com o máximo de acurácia na junção dos elementos da imagem, como estradas, rodovias e limites de usos urbanos e agrícolas, é necessária a correção destas distorções. 35 Para o uso dos mosaicos aéreos em software com ambiente SIG, além da confiabilidade na junção dos elementos sobrepostos em fotos vizinhas, há que se verificar também a confiabilidade em futuros cálculos de áreas. Corrigidas as distorções, será maior a confiabilidade dos valores de área obtidos em ambiente SIG. De acordo com o objetivo de uso destes mosaicos, não é primordial a correção de distorções. Para uso exploratório em palestras e aulas didáticas, estes mosaicos podem ser feitos em softwares que não apresentam ferramentas específicas de correção de distorções, e disponibilizar um produto visual de alta qualidade. Mesmo nos casos de uso em software com ambiente SIG, estes mosaicos podem ser georreferenciados e utilizados para cálculos de área. Porém, sem as correções, a confiabilidade destes valores será ainda menor. Para Eickman (2001 apud POLSAPALLI, 2005), programas computacionais são ferramentas úteis para mosaicar imagens imperfeitas utilizando técnicas de sobreposição e balanço de cores. Este processo de mosaicagem pode consumir enorme tempo e ser mais ou menos influenciada pelas distorções da imagem, ou então, pode-se realizar uma simples mosaicagem de imagens utilizando softwares como Panavue. Thomson et al. (2005 apud POLSAPALLI, 2005) estudaram a mosaicagem de fotografias aéreas utilizando o software Panavue Image Assembler (Panavue, Québec, Canada). Seu método teve grande eficiência para imagens de baixa altitude, porém a quantidade de imagens requeridas para produção do mosaico podia ser problemática para territórios mais extensos. Concluíram que o software, além de ter baixo custo disponibilizou um método rápido para mosaicagem de imagens com objetivo de análise. Aproximadamente 100 imagens puderam ser montadas em um único dia utilizando o método automático de mosaicagem a partir de pontos de ligação comuns especificados em cada imagem, utilizando o software Panavue Image Assembler. 36 Além do Panavue, um outro exemplo de software utilizado para produção de mosaicos não georreferenciados é o Adobe Photoshop. Este software, no entanto, não disponibiliza ferramenta para mosaicagem automática com a mesma ferramenta do Panavue. Dependendo do tamanho em bytes dos mosaicos, estes podem ser georreferenciados por qualquer software que apresente esta função. Tomaselli (2004) infere o uso de fotos aéreas digitais para criar mosaicos da cidade de Wabash (EUA). Os mosaicos da cidade foram georreferenciados e deles foram recortadas áreas fora do limite da cidade. O último passo foi comprimir o mosaico sem distorções de sobreposição. A digitalização de fotos aéreas em uma resolução de 600 ou 1200 dpi permite manter um equilíbrio entre a alta qualidade digital da imagem (por exemplo, árvores sozinhas que não são muito visíveis) e o tamanho da imagem de modo que o processamento do mosaico seja adaptável com o ambiente computacional (DUKE, 2003). Alguns fatores que impossibilitam as correções das distorções presentes nas fotos aéreas são: falta de câmera apropriada; verba insuficiente para ortorretificação; nenhum MDT disponível para as áreas de interesse; habilidades e tempo insuficientes para conduzir um trabalho mais minucioso. Como conseqüência da não correção das distorções das fotos aéreas, os mosaicos não têm um casamento perfeito entre as fotos vizinhas. As áreas sem grandes diferenças de elevação são menos afetadas. Mosaicos mais recentes podem ser georreferenciados a partir de imagens de satélites (Landsat ETM 5 ou 7) e a imagem georreferenciada resultante pode ser então utilizada para georreferenciar mosaicos aéreos mais antigos e o erro entre estas imagens é reduzido (DUKE, 2003). De acordo com Siegel (2004) o processamento das imagens inclui a retificação, recorte e mosaicagem das fotografias dentro de uma única imagem e compressão de cada 37 mosaico no arquivo JPEG, a 600 dpi. A extensão JPEG diminui o tamanho dos mosaicos que podem ser lidos por muito mais softwares e utilizados para análise quantitativa. Eeckhout et al. (1996) cita que o uso de mosaicos digitais oriundos de fotografias aéreas históricas para detectar mudanças na tela do computador permitiu visualizar a transformação do local estudado. Lange (2003) afirma que, num mosaico de ortofotos composto de diversas fotos aéreas, é importante que todas as imagens originais sejam tomadas na mesma hora do dia. O uso de fotos aéreas de diferentes estações do ano causará diferenças fenológicas na coloração da vegetação. Para Pakzad (2002) o uso de mosaicos aéreos multitemporais permite distinguir uma área de degeneração de uma área de regeneração, pois as informações obtidas nas imagens de determinado ano servirão como base para análise de um mosaico de época diferente. Hurskainen e Pellikka (2004) utilizaram mosaicos multitemporais de fotografias aéreas para realizar interpretações visuais e obter informações sobre o crescimento de conjuntos residenciais clandestinos em Voi, SE-Kenya. Esses autores citam também o uso de mosaico originado de fotos aéreas com problemas de sombras de nuvens e que não tiveram sobreposição lateral, como referência nos trabalhos de campo. Cant and Walker (1978 apud HURSKAINEN E PELLIKKA, 2004) compararam mosaicos de fotos aéreas obtidas antes e depois da alocação de uma barragem e notaram que o plano da forma do rio em sua escala de cinturão entrançado, tipo e atividade, não foi modificado. Sparovek e Costa (2004), a partir de mosaicos digitais de fotografias aéreas multitemporais, delimitaram perímetros urbanos evidenciando os vetores de expansão urbana de Piracicaba. 38 Com a evolução das técnicas de informática e de multimídia, as imagens aéreas, fotografias ou imagens de satélites, tiveram seu potencial de uso aumentado. A possibilidade de digitalização e uso em softwares de computação dessas imagens propicia a realização de análises mais dinâmicas e com maior precisão, além de permitir, também, a utilização de ferramentas de rascunho com objetivo de inserir desenhos vetoriais sobre as imagens. No caso do uso de softwares com ambiente SIG, tanto as imagens aéreas quanto os rascunhos feitos a partir delas, estarão disponíveis ao usuário com informações sobre sua localização geográfica ou georreferenciamento. O desenvolvimento de ferramentas de multimídia atreladas a ferramentas de informática, como técnicas de morphing e cross-dissolve para transição de imagens, técnicas de visualização em tempo-real e internet, têm possibilitado maior interação do público com as imagens aéreas. Entre as várias técnicas de transição de imagens na janela de visualização do computador, a mais comumente utilizada é chamada de cross-dissolve, quando a primeira imagem desaparece gradualmente, à medida que surge a próxima. No caso das fotos aéreas as técnicas de morphing e cross-dissolve podem ser muito úteis, pois são baseadas em algoritmos computacionais que possibilitam realizar transições entre imagens com as mesmas coordenadas geográficas e de diferentes épocas na tela do computador. Ao observar as transições das imagens de uma época para outra diferente é possível visualizar as transformações da região e assim detectar impactos ambientais decorrentes. As técnicas de morphing já são utilizadas em trabalhos para visualização e análise multitemporal de fotos aéreas. Neste trabalho foi testada a técnica de cross-dissolve para realizar a transição entre as imagens aéreas com as seguintes características: a) alta resolução; b) mesma coordenada geográfica; c) ângulo, escala e épocas diferentes. 39 Atualmente, com as ferramentas disponíveis qualquer pessoa que tenha acesso a computador e internet pode obter e visualizar imagens aéreas que foram utilizadas por cientistas para suas análises ambientais e dos recursos hídricos. Em alguns países, o uso da técnica de morphing para imagens aéreas já está disponível via internet para análises multitemporais diversas e para educação ambiental. Além da internet, podem ser utilizadas também ferramentas de acesso a filmagens aéreas e locais para tornar a análise e o aprendizado mais didáticos. O acesso a imagens e vídeos apresenta vantagens como menor custo, facilidade para acessar informações e possibilidades de manipulação não disponíveis nas fontes tradicionais. 2.4. Tecnologias de Informática e Multimídia Para processar os objetos gráficos 2D a partir de sistemas computacionais é necessário representá-los a partir de um número finito de parâmetros e de variáveis. A operação que transfere um objeto gráfico para o universo de representação é chamada de discretização. Essa operação associa ao objeto gráfico uma descrição finita de seus atributos (PINHEIRO, 2004). Objetos gráficos como fotografias aéreas digitais e os mosaicos formados a partir delas, assim como as imagens de satélite apresentam um potencial maior de informação quando inseridos em ambiente SIG com ferramentas multimídia. Textos científicos e comerciais demonstram a importância do desenvolvimento de software multimídia com ambiente SIG adaptado a uma realidade ambiental local para trabalhar imagens. Citam também outras aplicações de softwares envolvendo ambientes virtuais 3D e RA não disponibilizados neste trabalho, mas que poderão ser explorados futuramente. 40 Para se conhecer a produção nacional de softwares com tecnologia própria é necessária uma descrição da importância da estória da informática no Brasil e no mundo. O desenvolvimento da informática e outras tecnologias avançadas iniciaram uma nova transformação radical em nosso planeta. Hoje, o que distingue as épocas econômicas uma das outras não é o que se faz, mas como se faz e com que instrumentos de trabalho. A informática é o gatilho desse salto ao dotar a humanidade da capacidade de instruir as máquinas em vez de manejá-las, tornando-as não mais a continuidade das mãos, mas a continuidade do cérebro humano (AZEVEDO e ZAGO JÚNIOR, 1988). Ainda com relação ao desenvolvimento da tecnologia de informática no Brasil Azevedo e Zago Júnior (1988) inferem que dominar a tecnologia da informática não significa somente saber fazer, ter know how. O fundamental é o know why, o por quê fazer. A evolução da informática permitiu o desenvolvimento de uma outra tecnologia atualmente muito usada em todos os setores da sociedade contemporânea: multimídia. De acordo com a literatura citada, pode-se perceber que uma tecnologia não evolui sem a ajuda da outra. A multimídia tem gerado enorme demanda na evolução da informática para aproximar ao máximo da realidade suas ferramentas de comunicação assim como, a informática utiliza a multimídia para divulgar e garantir os recursos necessários para sua evolução. Para Silva Júnior (2000) é importante notar que a maior integração de ferramentas, dispositivos comunicacionais e tecnologia de informações envolvem provimento de acesso, tecnologia e conteúdo. De acordo com Wolfram (1994), havendo desejo de animar algo dentro da multimídia, deve-se primeiro prever se a animação terá as seguintes finalidades na apresentação: acentuar o impacto emocional; atender o objetivo do contexto apresentado; e melhorar a transmissão da mensagem. Para criar uma animação, o fator indispensável é também a criatividade. É 41 possível misturar imagens 2D com imagens 3D ou ainda compor imagens de vídeo com desenhos e textos, desde que o conjunto seja harmonioso e que a finalidade da animação dentro do produto multimídia seja a transmissão da mensagem. Para Assis (1998 apud RAMOS, 2005) no uso de multimídia interativa um tema é apresentado, bem como todos os outros a ele relacionado, e o usuário “navega” na informação de acordo com a sua necessidade. O desenvolvedor dá ao usuário o controle sobre a informação transmitida. De acordo com Russo (1999 apud RAMOS, 2005) as pessoas lembram de 15% do que escutam, 25% do que vêem e mais de 60% do que interage com elas. Cartwright (1996 apud RAMOS, 2005) cita que o desenvolvimento de aplicações multimídia deve envolver profissionais de diversas áreas em uma equipe composta por: coordenador do projeto; diretor de criação; desenvolvedor de conteúdo; escritores, editores, pesquisadores; designer gráfico; ilustrador; fotógrafo; especialista em digitalização e processamento de imagens; engenheiro de áudio; músicos/cantores; animadores; cinegrafistas; designers de informação; designers de interface gráfica ao usuário; programadores. Considerando o uso de técnicas de animação gráfica Lord (1938 apud BERTONI e LOMBARDI NETO, 1990) faz uma suposição: a existência de uma máquina cinematográfica colocada na Lua, tirando um instantâneo por ano. Com as suas lentes viradas para o nosso planeta, essa máquina vem trabalhando há quase um bilhão de anos. Como a velocidade comum de projeção de uma fita é de 24 figuras por segundo, essa película, se trazida para a Terra e projetada em um cinema, mostraria cerca de 1500 anos em um minuto ou ainda, quase 90000 anos em uma hora. Seria necessário um ano inteiro para exibir a fita, o que é muito tempo, embora ela reproduza os acontecimentos de quase 800.000.000 de anos. Ramos (2005) cita a importância do uso das tecnologias de multimídia e informática para pesquisa científica e cartográfica. O uso destas tecnologias permite: a) aumentar a apreensão e comunicação de informações que possibilitem ao leitor, por meio de sua 42 exploração, estabelecer análises próprias e chegar a um novo conhecimento; b) melhorar a compreensão de dados científicos aprimorando suas análises, evidenciando informações não percebidas de outra forma, ou acelerando o processo de percepção; c) reforçar o aprendizado tradicional sem substituí-lo; d) desenvolver pesquisas em aplicações interativas com fins pedagógicos; e) combinar tecnologias de hardware e software com conceitos de multimídia, interatividade e formas de distribuição de mapas gerados em SIG e imagens capturadas por meio de dispositivos como scanner, placa de captura de vídeo ou câmera digital; f) disponibilizar mapas a um público mais amplo; e g) elaborar mapas com ênfase no potencial analítico e na comunicação interativa, em que o usuário, ao explorar as informações do mapa, constrói o conhecimento e chega à comunicação final por ele mesmo. O projeto VESAMOTEX desenvolvido na cidade do Texas (EUA) é um bom exemplo de sucesso no uso de ferramentas multimídia na educação. Talkmitt (1996) cita o projeto, que apresenta quatro fases distintas: 1) investigação e compra de equipamento básico; 2) produção de aplicações científicas e matemáticas através do uso de vídeo e outras mídias; 3) uso da realidade virtual em aulas de ciência, computação e matemática e 4) demonstração de realidade virtual em escolas dentro do distrito e no seu entorno. De acordo com Talkmitt (1996), professores e estudantes entre 14 e 15 anos estão aprendendo juntos como utilizar o software. Desde que começou o projeto não houve notícias de atrasos, menos progresso nas aulas nem de problemas de disciplina, e a dificuldade nas provas foi reduzida de 50% para menos de 10% nos estudantes testados. Atualmente, os estudantes estão envolvidos em RV através da internet e através do desenvolvimento dos projetos relacionados aos seus estudos. Um dos grandes trunfos obtidos com a evolução e a união das ferramentas de multimídia e informática é a inserção de técnicas de animação gráfica em ambiente computacional e com ferramentas multimídia. 43 Gomes et al. (2003) apresentam a técnica morphing como ferramenta que abrange procedimentos de computação gráfica e processamento de imagem, sendo altamente recomendável para pesquisadores que pretendam utilizar animação gráfica. Como exemplos de aplicação desta técnica têm-se os programas computacionais de animação gráfica como o VISORAMA, aplicações técnicas de CD-ROM e Cinema Interativo; pedagógicas, com o desenvolvimento de um observatório para ensino de geografia e artísticas, com observatório artístico-virtual e instalações artístico-virtuais que podem ser integrados a paisagens da cidade. Segundo Matos et al. (2003) os sistemas de visualização baseados em imagens surgiram com o objetivo de inserir fotorealismo aos mundos virtuais. Ramos (2005) cita a animação gráfica como primeiro elemento multimídia de interesse dos cartógrafos, por seu potencial natural para a comunicação de fenômenos temporais não perceptíveis numa análise visual dos quadros individualmente, ou seja, o que acontece entre os quadros é mais importante do que o que existe em cada quadro. As animações cartográficas possibilitam a representação do tema no espaço ao longo do tempo, onde as variáveis de espaço e atributo são estáticas e a variável tempo é dinâmica; ou a representação do tema no tempo ao longo do espaço, onde a variável tempo é estática, mas a variável espaço, ou seja, o mapa base, é dinâmica, como nas simulações de vôo fly-by. Nas animações interativas, o usuário pode utilizar ferramentas como pan, zoom ou rotação e ferramentas de pausa, avanço ou retrocesso em velocidade normal ou acelerada da animação, além de introduzir informações na animação. Animação em três dimensões criada por modelagem virtual de espaços em três dimensões permite utilizar o recurso de navegação e o objeto modelado pode ser visto de diferentes ângulos e distâncias. É possível, ainda, utilizar o recurso de simulação para uma área alagada pela água da chuva, por exemplo, ou também, fazer uma animação temporal exibindo as transformações ocorridas em uma paisagem ao longo do tempo (RAMOS, 2005). 44 Para Fonseca (1994) o uso de multimídia contribui para o desenvolvimento de sistemas espaciais e temporais de suporte à decisão, mais próximos da realidade. Como exemplos têm-se o desenvolvimento de ferramentas multimídia aplicadas ao domínio dos recursos hídricos e o uso de SIG multimídia para participação do público no preparo e na apresentação de AIA, de um modo compreensível a pessoas sem bagagem técnica. A inclusão de vídeos, videografia digital e animações dentro do SIG, associados aos mapas de zoneamento, ajudam planejadores e tomadores de decisão a visualizar e avaliar o impacto de uma nova infra-estrutura no meio ambiente. A integração de simulações espaciais associadas a imagens reais permite uma melhor visualização do fenômeno e sua avaliação em tempo-real. Durante a visualização aérea e global, o que corresponde a um sobrevôo através das fotografias aéreas ou uma viagem pelas imagens de vídeos, podem ser acessados imagens estáticas, mapas e dados alfanuméricos, possibilitando uma abordagem dinâmica e visual da área de estudo. A animação de séries temporais de fotografias aéreas sobre gráficos 3D utilizando técnica morphing pode aumentar o realismo do resultado apresentado, pois cria a ilusão de movimento ou evolução de um sistema (FONSECA, 1994). Um exemplo de uso de imagens de alta resolução em ambiente SIG e com ferramentas de multimídia é o projeto Portugal Interativo, que contou com a colaboração de cientistas de solos, planejadores de uso da terra, agrônomos, engenheiros florestais, engenheiros ambientais e arqueologistas para o desenvolvimento de uma ferramenta vital para planejamento do uso da terra. Disponibiliza, via internet, ortofotos digitais de 1995 com resolução de 1200 dpi, permite a sobreposição de dados vetoriais a estas fotos e conta com um programa de cobertura por fotografias aéreas coloridas, tomadas a cada três meses, para avaliar a evolução de um determinado local (FERNANDES et al, 1997). 45 O projeto Portugal Interativo disponibilizará ferramenta morphing para visualizar a evolução de áreas selecionadas utilizando série temporal de fotos aéreas. Estas ferramentas estarão disponíveis para uso público através da rede de trabalho do SNIG, que representa a primeira infra-estrutura, na Europa, de informações geográficas nacionais conectadas através da internet. As conexões do SNIG com instituições que disponibilizam dados em tempo-real possibilitam o desenvolvimento de modelos de simulação visual na tela do computador tendo fotografias aéreas como pano de fundo (FERNANDES et al, 1997). Fernandes et al. (1997) citam aplicações comerciais de mosaicos de fotografias aéreas, como o trabalho desenvolvido para a companhia telefônica Danish, que permite aos usuários caminhar e aproximar, assim como executar várias operações de perguntas. Há também tentativas de acesso gráfico baseado em WEB com imagens digitais de sensoriamento remoto em projetos como Alexandria e UC Berkeley Digital Library, financiados pela NSF, ARPA e NASA. Segundo Jobst (2004), a combinação de multimídia 3D com sensoriamento remoto, modelagem fotográfica e visualização de cartografia deve ser encorajada para dar suporte à análise visual de profissionais de cartografia, arqueologia e planejamento de paisagem sobre aspectos culturais, econômicos e naturais. Pesquisas têm mostrado que 60% dos usuários de mapas topográficos 2D tem dificuldades de extrair uma impressão tridimensional. Neste caso, o uso de ortoimagens para representar mosaicos territorialmente grandes e de alta resolução, com dados de terreno permitem ao usuário navegar virtualmente por um sistema autônomo de visualização local e de alta qualidade, com seleção em nível de detalhe, que prevê a próxima visualização e explora a resolução visual humana (JOBST, 2004). O projeto Pilsen incorporou ao SIG ferramentas de rascunho, multimídia, modelagem tridimensional e disponibilização via internet para ampliar o poder dos planejadores e 46 participantes da comunidade de visualizar, avaliar e participar da revitalização dos seus bairros. Para aumentar a eficiência do SIG foi necessário o seu incremento com outras tecnologias de multimídia, como fotografias aéreas, animação e filmes, que têm sido integrados ao SIG para permitir o reconhecimento dos locais pelos participantes. Na mesma tela do computador, em uma janela são animadas imagens para criar filmes virtuais ao longo de uma estrada, e na outra janela têm-se mapas de rede de trabalho de ruas, avaliação de propriedades, construções de significância histórica, visualizações aéreas e uso da terra, com setas se movimentando e indicando a localização das fotos (AL-KODMANY, 2000). Lange (2003) cita que processos automáticos para gerar objetos em 3D a partir de dados em 2D podem preencher o espaço vazio entre os sistemas de SIG em 2D e os sistemas de visualização em 3D. Pode-se prever que, num futuro próximo, dados medidos em 3D ao invés de dados em 2D serão muito úteis para o planejamento assim como para a visualização de potenciais e ou futuras modificações na paisagem. Para Castro e Magalhães (1996), a elaboração de uma apresentação cartográfica multimídia inicia-se com a digitalização das imagens via scanner, gerando arquivos TIFF e em seguida, utilizando um software de tratamento de imagens para retoque dos arquivos TIFF e inserção dos textos. O recurso da multimídia, guardadas as limitações, é extremamente eficiente, revelando um forte potencial didático-pedagógico, uma vez que o usuário interage com a apresentação das informações cartográficas. Eeckhout et al. (1996) utilizaram técnicas de animação sobre imagens de satélites e uma série multitemporal de mosaicos aéreos georreferenciados para interpretação visual na tela do computador, realizando estudo das mudanças locais ao longo do tempo. Green e King (2001) prevêem que ambas as funcionalidades de SIG e PDI serão distribuídas pela internet permitindo ao usuário final utilizar uma imagem de mapa clicável, ou uma imagem 3D do terreno e interagir mais diretamente com estes dados acionando 47 camadas vetoriais e utilizando ferramentas de zoom, panning e de medição. Parte do problema de distribuição via internet recai sobre a rápida evolução da tecnologia computacional que torna difícil para a maioria das pessoas, manterem-se atualizadas e aptas a utilizá-la, além do problema da lacuna existente entre o desenvolvedor e o usuário final. Dentro da Cartografia Multimídia, Menezes (2003) infere que o estudo da Visualização Científica cria novos ambientes de análise espacial abrindo um novo leque de possibilidades e geração de aplicativos. Um ambiente de interações direta e dinâmica dentro da Cartografia Animada capacita o usuário a gerar informações segundo suas necessidades, porém nunca dissociadas dos antigos conceitos da cartografia, que continuarão a embasar toda e qualquer nova tecnologia. Ishii (2002) cita um teste realizado com 11 estudantes de nível superior do curso de desenho urbano, utilizando mapas e imagens de satélite em uma mesa luminosa (4m x 1.4m) para projetar uma simulação digital dinâmica que possibilite a criação de um desenho mais informativo, a comunicação e a colaboração entre usuários especialistas e não especialistas. ARTHUR é um sistema computacional que liga modelos digitais 3D a mecanismos de interação similares aos do mundo real a partir de uma interface simples e intuitiva para criação de desenhos complexos e planejamento de decisões, utilizando uma forma colaborativa e divertida de desenho (BROLL et al., 2004). Lin e Höllerer (2003) citam projeto que disponibiliza interfaces para navegação virtual através do campus da UCSB a partir de instrumentos computacionais utilizando uma fotografia aérea e MDT integrados no modelo 3D do campus; e quando o usuário se move ao redor do campus a informação do local é destacada no mapa 2D. Sayeg et al. (1996) citam o uso de ferramentas multimídia, como câmera de vídeo, de filmagem, placa de captura de filmagem e software de animação gráfica em geologia para o 48 registro de estruturas geológicas de grandes dimensões observadas em fotos aéreas e nas imagens de satélite. Fernandes et al. (1997) citam que uma ferramenta para desenho de dados vetoriais, como rodovias e rios, associados à ortofotos e as informações alfanuméricas em ambiente SIG, possibilitará aos profissionais geólogos, geógrafos e agrônomos ou até mesmo estrangeiros, através da WEB, relacionar a imagem na foto com as observações de campo e realizar cálculos de área e de distância. O uso de ferramentas de informática e multimídia aplicada em imagens aéreas traz maior veracidade e acurácia para comunicação dos cientistas entre si, dos cientistas com os seus alunos, e principalmente, dos cientistas com o público leigo. Para o caso do uso de imagens aéreas de alta resolução, ou seja, imagens que ocupam grande espaço no HD e na memória cache do computador torna-se necessário o desenvolvimento de sistema específico para gerenciar estes dados e possibilitar sua visualização em tempo-real na tela do computador. 2.5. Sistemas para Visualização de Imagens de Alta Resolução Para realizar operações de visualização e processamento numa grande quantidade de dados gráficos é necessário unir técnicas de multiresolução com técnicas de gerenciamento de memória. As aplicações gráficas desenvolvidas para visualização de dados que respondem aos eventos sem que o usuário perceba nenhuma latência, ou falha, do sistema são chamadas de aplicações de visualização em tempo-real. A latência é o tempo que uma aplicação leva para responder a um evento realizado pelo usuário. 49 Pinheiro (2004) desenvolveu um sistema gráfico de visualização em tempo-real e multitemporal de imagens de satélite e panorâmicas com alta resolução em ambiente SIG, baseado em técnicas de multiresolução e técnicas de gerenciamento de memória. Foi usada para teste uma imagem de satélite com resolução de 32768 × 8192 pixels, ocupando 768 Mb de espaço para armazenamento, e uma imagem panorâmica com resolução de 32768 × 8192 pixels e 768 Mb de espaço ocupado. O sistema de Pinheiro (2004) foi desenvolvido utilizando-se linguagens de programação orientada a objetos em C++ e biblioteca de visualização OpenGL, em três configurações de hardwares: - Dual-PentiumII, 256Mb de memória, placa gráfica Geforce2MX e HD SCSI de 4Gb (5400 rpm). - PentiumIII, 768Mb de memória RAM, placa gráfica Oxygen GVX-420 e dois HDs SCSI de 20Gb (10000 rpm). - Pentium4, 1Gb de memória RAM, placa gráfica Geforce4Tl e dois HDs IDE de 40Gb (7200 rpm). Pinheiro (2004) utilizou como plataforma os sistemas operacionais Windows2000 Professional e WindowsXP em máquinas com processadores PentiumII, PentiumIII e Pentium4. 2.5.1 Técnicas de Multi-resolução De acordo com Pinheiro (2004) o objetivo das técnicas de multiresolução é reduzir a quantidade de dados que deve ser processada durante a fase de visualização do objeto gráfico, representando e armazenando os dados em vários níveis de detalhes. Esta técnica permite que os componentes de armazenamento de alta velocidade (memória de textura e memória RAM) 50 dos microcomputadores com configuração uma média armazenem todos os níveis de resolução da imagem. Trabalhos relacionados à técnica de multiresolução para visualização em tempo-real apresentam as seguintes características: a) simplicidade na estrutura de dados, facilidade no cálculo do mapeamento de textura e facilidade de implementação; b) podem representar dados de imagem em baixa resolução sem perdas visuais; c) consomem grande quantidade de recurso de armazenamento e de transmissão de dados e d) não fornecem método intuitivo ou automático para gerar níveis de resolução (PINHEIRO, 2004). 2.5.2 Técnicas de Gerenciamento de Memória Devido a baixa capacidade de processamento das placas gráficas dos microcomputadores, os primeiros trabalhos de pesquisa para visualização em tempo-real (LINDSTROM et al., 1996, DUCHAINEAU et al., 1997, HOPPE, 1996, HOPPE, 1997, HOPPE, 1998, HECKBERT e GARLAND, 1995, HECKBERT e GARLAND, 1997 e FUNKHOUSER e SEQUIN, 1993 apud PINHEIRO, 2004) focaram as técnicas para aceleração do processo de visualização. O trabalho de Youbing et al. (2001) apud Pinheiro (2004), por exemplo, desenvolveu uma técnica de compressão de dados para reduzir o consumo de memória. Com a evolução dos recursos de processamento gráfico destas placas, os trabalhos voltaram sua atenção ao problema de gerenciamento de memória. Alguns trabalhos (LINDSTROM, 2000, LINDSTROM e PASCUCCI, 2001, LINDSTROM e PASCUCCI, 2002 e D’OLLNER et al., 2000 apud PINHEIRO, 2004) avançaram em itens como operações de transferência de dados e operações de gerenciamento de memória para visualização de imagens, mas apresentam algumas desvantagens. Mudança brusca na direção do mouse durante a visualização da imagem incorre em perda de 51 desempenho da aplicação devido à exigência de alta capacidade de processamento para realizar esta ação. Trabalhos mais atuais vêm desenvolvendo sistemas preditivos de gerenciamento de memória que podem prever informações sobre os dados das imagens antes que sejam requisitados durante a visualização, diminuindo a perda de desempenho das aplicações. Foi essa característica de predição que possibilitou o desenvolvimento de aplicações em tempo- real utilizando hardwares que são facilmente encontrados no mercado e por um preço mais accessível (PINHEIRO, 2004). Pinheiros (2004) cita trabalhos que desenvolveram a técnica de multiresolução para visualização em tempo-real, e que apresentam as seguintes características: 1) uso de parâmetro de velocidade de movimentação do mouse para determinar quais dados devem ser carregados no próximo quadro num nível ótimo de resolução durante visualização de imagens com mais de 4Gb; 2) visualização de ambientes virtuais em tempo-real e representados em multiresolução, resolvendo o problema de mudança brusca na direção do mouse (HESINA e SCHMALSTIEG, 1998, CAPPS, 2000 e SCHMALSTIEG e GERVAUTZ, 1996 apud PINHEIRO, 2004); 3) aumento da velocidade do processamento; 4) visualização de ambientes virtuais, como interiores de casas e edifícios (FUNKHOUSER, et al.,1992 apud PINHEIRO, 2004); 5) uso de sistema de monitoramento que verifica quais são os locais mais visitados dando prioridade maior de carregamento na tela do computador, para os dados desses locais (PARK, 2001 apud PINHEIRO, 2004); 6) uso para visualização em tempo-real de panoramas virtuais (PINHEIRO e VELHO, 2002); 52 7) pode ser aplicado a dados bidimensionais, como nos SIGs e também na exibição de dados 3D (MATOS, GOMES e VELHO, 1998). 2.5.3 Técnica para Visualização Multitemporal: Cross-dissolve A técnica morphing tem sido utilizada para visualização multitemporal de imagens em vários projetos de análise ambiental e tem tido grande sucesso na interação e compreensão das informações pelo público leigo. O sistema de visualização utilizado neste trabalho disponibiliza uma outra técnica de visualização multitemporal de imagens chamada cross- dissolve. Esta técnica se mostrou bastante eficiente para o objetivo de visualização em tempo- real de imagens de diversas épocas e de diferentes escalas. O cross-dissolve realiza transformações para alterar as cores de pontos da imagem sem mudar sua relação espacial, como no caso de transformação que altere o brilho da imagem. Transformações de cor, incluindo brilho, contraste, amplificação de componentes de cor e correção gamma, são essenciais para que ocorra a transição de uma imagem para outra que se queira visualizar (SILVA, 1994). Segundo Gomes et al, (1998) quando as proporções da mistura entre duas imagens A e B mudam continuamente de 100% de A e 0% de B para 0% de A e 100% de B, uma transição de A para B é realizada e este efeito visual é chamado de cross-dissolve. Um cross-dissolve simples pode ser controlado por um único parâmetro que determina o peso da interpolação linear e à medida que o peso se altera, ocorre a variação da imagem de saída até que uma outra imagem seja obtida (SILVA, 1994). Este efeito pode ser utilizado tanto para fotos quanto para filmes. No caso de filmes, o cross-dissolve é um efeito freqüentemente utilizado na transição entre as cenas. Corresponde a 53 um efeito onde a cena atual gradualmente desaparece no preto e a próxima cena gradualmente surge do preto sobre o mesmo comprimento de filme (KONDO, 1997). 2.5.4 Sistemas Comerciais de Visualização em Tempo-real e Multitemporal Existem sistemas comerciais que oferecem serviços de visualização de dados gráficos como mapas, terrenos e imagens de satélite, via internet. Destacam-se pelo menos cinco de grande importância: SIGVIA (PRODEC, 2006), TerraServer (MICROSOFT, 2003 apud PINHEIRO, 2004), GoogleEarth (GOOGLE, 2006) e TerraFly (TERRAFLY, 2006). Dos cinco sistemas, apenas o SIGVIA foi desenvolvido no Brasil, e os outros quatro sistemas são norte-americanos. O SIGVIA é um sistema de visualização e gerenciamento de informações com ambiente SIG e banco de dados próprios para administrar malhas viárias: rodovias, ferrovias ou hidrovias. É feito sobre encomenda e pode ser utilizado acessando os dados via rede de trabalho. Utiliza técnicas de gerenciamento de memória preditivo e técnicas de representação por multiresolução para visualização em tempo-real e multitemporal de ortofotos e filmagens de alta resolução. Durante a visualização das ortofotos e das filmagens na tela do computador é possível acessar ou criar mapas e textos sobre estas imagens para análises diversas. O TerraServer (MICROSOFT, 2003 apud PINHEIRO, 2004) disponibiliza a visualização de mapas via internet e possui um grande banco de dados com informações geográficas do mundo inteiro, mas o serviço de consulta da página via web não permite a visualização dos dados em tempo-real. Dentre as tecnologias desenvolvidas e disponibilizadas pelos EUA, o TerraFly e o GoogleEarth parecem apresentar técnicas com maior nível de precisão durante a visualização de imagens de alta resolução. O GoogleEarth é formado por um servidor de dados de terreno e 54 imagens de satélites de todo o globo terrestre, visualizados em tempo-real e representados em multiresolução. Presume-se que o sistema de carregamento de dados da aplicação seja simples, pois a aplicação demora muito para mostrar os dados na resolução correta. Estes sistemas possibilitam aos usuários sobrevoar terrenos utilizando browser da WEB em praticamente todos os lugares nos EUA com uma resolução de um metro, sem a necessidade dos softwares padrões de SIG. O projeto TerraFly é financiado pela NASA, NSF e IBM e o GoogleEarth (EUA) é financiado pela empresa Google. Todas as tecnologias mencionadas anteriormente podem ser utilizadas em salas de aula para uso de programas interativos que ensinam aos alunos sobre seu mundo e seu ambiente a partir da observação de áreas geográficas de interesse. 2.5.5 Motivação para Estudo do Rio Corumbataí Fonte de abastecimento para grandes cidades como Piracicaba e Rio Claro, o rio Corumbataí tem sido objeto de estudo de diversos grupos técnicos e científicos que têm desenvolvido importantes trabalhos para levantar informações sobre os recursos hídricos de sua bacia. De acordo com as informações técnico-científicas obtidas, o panorama observado sobre a situação atual do rio Corumbataí (IPEF, 2001 ou SÃO PAULO, 2005) se caracteriza por: - tendência de deterioração da qualidade das águas do rio em razão do aumento da carga de materiais provenientes dos centros urbanos, das atividades industriais e da atividade agrícola; - aumento gradativo de carga orgânica com ocorrência de turbidez, cor, metais pesados e sedimentos; - tendência de queda nas vazões; 55 - a bacia do rio já atingiu mais de 50% da utilização de sua disponibilidade hídrica; - qualidade ruim no trecho da foz do rio; - valores de IQA indicam que as águas estão com qualidade boa, apesar da evidência do lançamento de esgotos domésticos. - não há indicação de tendência de evolução na qualidade da água deste rio; - em alguns pontos de coleta do rio os valores de IAP e IVA classificam a água do rio como ruim e os valores de IET classificam o rio como eutrófico e hipereutrófico; - na sua jusante, o rio não atende a Resolução CONAMA 20/86 com relação a alguns parâmetros estabelecidos para corpos d’água Classe 2; - nos seus trechos médio e final observa-se processo de eutrofização, que compromete a qualidade das águas, com conseqüente reflexo no tratamento das águas para abastecimento público; - queda nos valores de IQA em alguns locais, como no ponto de captação de Piracicaba; - tendência de diminuição da vazão e aumento da turbidez; - escassez significativa de água de boa qualidade; - aumento considerável no custo do tratamento d’água. A imensa quantidade de dados sobre a bacia do rio Corumbataí na forma de mapas, textos, tabelas e ima