UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS - RIO CLARO LAYRA TARIFA TROVA TREINADORAS DE FUTEBOL FEMININO: O MACHISMO NO ESPORTE Rio Claro 2020 EDUCAÇÃO FÍSICA T862t Trova, Layra Tarifa Treinadoras de futebol feminino: o machismo no esporte / Layra Tarifa Trova. -- Rio Claro, 2020 38 f. Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado - Educação Física) - Universidade Estadual Paulista (Unesp), Instituto de Biociências, Rio Claro Orientador: Afonso Antonio Machado Coorientador: Kauan Galvão Morão 1. Futebol feminino. 2. Preconceito. 3. Sexismo. I. Título. Sistema de geração automática de fichas catalográficas da Unesp. Biblioteca do Instituto de Biociências, Rio Claro. Dados fornecidos pelo autor(a). Essa ficha não pode ser modificada. LAYRA TARIFA TROVA TREINADORAS DE FUTEBOL FEMININO: O MACHISMO NO ESPORTE Orientador: Afonso Antonio Machado Coorientador: Kauan Galvão Morão Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Câmpus de Rio Claro, para obtenção do grau de Bacharela em Educação Física. Rio Claro 2020 AGRADECIMENTOS A Deus por estar ao meu lado me guiando. Aos meus pais, Fábio e Fabiana, pelo apoio e dedicação comigo, tanto para minha formação pessoal, como acadêmica. Ao meu irmão Pablo e minha irmã Chloe, pela parceria, cumplicidade e atenção de sempre. Amo todos vocês. A toda minha família, avós, avôs, tios, tias e primas. Vocês foram e são essenciais em meu caminho. A todos os meus amigos e amigas, de dentro e de fora da Universidade, por todo o amor e carinho, por me ajudar, me apoiar e estar sempre ao meu lado durante minha trajetória. Ao meu orientador, Afonso Antonio Machado, e coorientador, Kauan Galvão Morão, que, sem eles, nada disso seria possível. Gratidão a Universidade Estadual Paulista, UNESP Rio Claro, seu corpo docente e todos funcionários, por tanto comprometimento e qualidade. TREINADORAS DE FUTEBOL FEMININO: O MACHISMO NO ESPORTE Resumo Atualmente a questão de gênero está muito presente no esporte, além de toda relação que envolve a inclusão das mulheres nesse âmbito. No contexto do futebol, é ainda mais ressaltado aspectos envolvendo a diferença de gênero, já que é um meio onde ocorre uma significativa desigualdade por meio de diversas questões, sejam elas em suas infraestruturas ou em questões salariais. Esse fato ocorre principalmente pelo futebol ser considerado um ambiente machista. A presente pesquisa busca mostrar as dificuldades e possíveis preconceitos que treinadoras enfrentam no cenário futebolístico, podendo gerar interferências na carreira esportiva das mesmas. O estudo foi realizado adotando o método de revisão bibliográfica e documental, abordando amplamente a temática aqui retratada. Por meio, dessa metodologia, foi possível encontrar dados que mostram que as barreiras enfrentadas pelas mulheres no futebol têm longa data, como quando o futebol feminino passou por 38 anos de proibição no Brasil. Ainda é possível observar diversos relatos das dificuldades e preconceitos que as mulheres sofreram para inserção no meio, evidenciando a diferença de gênero no esporte. Espera-se maior conscientização dos leitores e da sociedade em relação a visão de que mulher e futebol são fatores mais conectados ao que o senso comum acreditava anteriormente. Fica claro que há um longo caminho a ser percorrido pelas mulheres no meio futebolístico, assim espera-se que sejam elaboradas mais pesquisas e estudos sobre o tema, a fim de minimizar e diminuir as barreiras que duraram tanto tempo. Palavras-chave: Diferença de Gênero; Futebol; Mulher no Esporte; Preconceito. FEMALE SOCCER COACHES: SEXISM IN THE SPORT Abstract Nowadays, the issue of gender is very present in sport, in addition to any relationship that involves the inclusion of women in this area. In the football context, aspects involving gender difference are even more emphasized, since it is a place where significant inequality occurs through several issues, whether they are in their infrastructure or wage issues. This fact occurs mainly because football is considered a macho environment. The present research seeks to show the difficulties and possible prejudices that coaches face in the football scenario, which can generate interference in their sports career. The study was carried out using the method of bibliographic and documentary review, broadly addressing the theme portrayed here. Through this methodology, it was possible to find data that reinforced the barriers faced by women in football have a long history, as when women's football went through 38 years of prohibition in Brazil. It is still possible to observe several reports of the difficulties and prejudices that women faced to be a part of this world, showing the gender difference in sport. It is expected that the readers and society will become more aware of the view that women and football are more related than previously expected. It is clear that there is a long way to go for women in football, so it is hoped that more research and studies on the topic are expected to be carried out, in order to minimize and reduce the barriers that have lasted so long. Keywords: Gender difference; Football; Soccer; Woman in Sport; Preconception. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 6 2. OBJETIVO ............................................................................................................ 9 3. JUSTIFICATIVA ................................................................................................. 10 4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ........................................................... 11 5. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................................. 12 5.1 O futebol feminino ............................................................................................ 12 5.2 Preconceitos no futebol feminino ..................................................................... 14 5.3 O reflexo da disparidade entre as equipes ...................................................... 16 5.4 As vivências do futebol feminino ...................................................................... 17 5.5 Técnicas esportivas e as barreias encontradas no contexto futebolístico ....... 20 5.6 Treinar equipes masculinas: os novos preconceitos enfrentados .................... 23 5.7 A psicologia do esporte e as vertentes ............................................................ 26 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 30 Referências .............................................................................................................. 32 6 1. INTRODUÇÃO A temática que possui como foco principal as mulheres como técnicas de futebol busca maior aperfeiçoamento sobre essa área, sendo que para alguns pode ser somente exercida por homens, já que o futebol é considerado um esporte masculinizado. Atualmente, a questão envolvendo gênero no esporte é bastante discutida, tratando da inclusão das mulheres e valorização das mesmas, principalmente, no ponto que tange o contexto futebolístico, pois as diferenças são evidentes, como a grande distinção relacionada aos investimentos e a exposição dos esportistas que praticam tal modalidade. Souza de Oliveira (2002) mostrou que no Rio de Janeiro, nove grandes clubes contaram com centenas de técnicos atuando ao longo de suas histórias, sendo apenas 34 mulheres, e 22 atuaram apenas nas categorias de base. Contudo, esse alcance feminino é apenas parcial, pois quando se trata de “comando esportivo” o que prevalece ainda são os homens no poder. Tal fato também pode ser visto no domínio masculino em cargos administrativos ou mesmo como diretores, o que pode ser associado à questão de masculinidade e autoridade, fator que ainda apresenta muita força diante da visão de boa parte dos indivíduos (NORMAN, 2010). Além dos preconceitos enfrentados, as mulheres que se arriscam a enfrentar o cenário esportivo ainda sofrem com a questão salarial, a baixa infraestrutura e menor público. Deste modo, grande parte acaba atuando por amor à modalidade e não com o intuito de serem milionárias ou idolatradas. A técnica Emily Lima, hoje comandando o time do Santos F.C., relata que quando foi chamada para atuar pela Seleção Brasileira, sentiu esperanças de uma evolução, porém a sua repentina demissão por ser mulher já voltou a assustá-la. Em trecho de seu relato, afirma que “Isso assusta um pouco porque o amor não põe comida na nossa mesa. Ele nos satisfaz, mas a gente precisa pagar nossas contas.” (BARLEM, 2018, p. 1). O intuito da presente pesquisa é mostrar as dificuldades e os preconceitos enfrentados por treinadoras no cenário futebolístico. Para que isso seja alcançado, busca-se apresentar entrevistas, relatos e depoimentos abordando como elas se sentem e como isso interfere ou interferiu em seu trabalho, como chegaram ou estão 7 ou onde poderiam estar se simplesmente o fato de serem mulheres não intervisse em suas carreiras. Na parte em que a revisão é abordada, buscou-se trazer de forma primária o futebol feminino em si, os aspectos mais relevantes da prática do mesmo de maneira geral. Posteriormente, é discutida a questão do preconceito no futebol feminino, enfatizando o nascer masculinizado do futebol, onde as mulheres foram proibidas de jogar futebol durante 38 anos no século XX. Mostrando ainda, o alto nível de sexualização da mulher e o ressaltar da beleza e não do desempenho, um fator que existe desde séculos passados e são questões sociais e culturais. Depois, um outro tópico é desenvolvido, com intuito de abordar a disparidade existente entre as equipes no mundo do futebol. Sobre isso, trata-se da desigualdade entre equipes femininas amadoras e profissionais, que, inseridas em um mesmo campeonato sofrem desde questões táticas a psicológicas, causando possivelmente um atraso no progresso da modalidade. Dando continuidade à revisão abordada nesta pesquisa, mais adiante, optou- se por abordar profundamente as vivências do futebol feminino, visibilizando relatos da realidade vivida por mulheres que atuam no meio, realçando os fatores que afetam em seu desempenho. Retrata também a luta e a persistência, como a história de uma mãe que fundou uma escolinha de futsal junto a suas filhas e netas, manifestando a importância da categoria de base no esporte. Na sequência, é exibido com mais precisão as barreiras enfrentadas por técnicas esportivas no meio futebolístico. Em 2013, apenas 7% de treinadores de esporte coletivo eram mulheres. A diferença das campanhas apresentadas por mulheres, que se igualam ou são melhores a de outros homens, porém geraram demissão, como a rápida passagem de Emily Lima, na seleção brasileira feminina. Conectado a esse assunto, foi dissertado sobre os novos preconceitos encontrados ao treinar equipes masculinas, as mulheres precisando estar sempre em constante aprendizado e ressaltando sua competência, mesmo assim, se quer são cogitadas a treinar uma equipe de futebol masculino, apesar de suas campanhas vitoriosas. Por fim, é tratado sobre a psicologia do esporte e suas vertentes, desenvolvendo assuntos sobre o poder, o corpo, o reforçar sobre a violência e suas diversas manifestações, salientando a violência de gênero. É enfocado também, a relação da ansiedade, depressão e a síndrome de burnout, o 8 alto esgotamento emocional e profissional, que leva a desistência de várias mulheres da área. Com isso, é pretendido que exista conscientização e possível diminuição desse atraso que ainda existe em relação ao futebol e a mulher, mostrando que a presença feminina não deve ser considerada um aspecto apenas de “embelezamento” do esporte. Dessa forma, busca-se demonstrar por meio desse estudo que as mulheres devem ter o mesmo direito e reconhecimento nos esportes e, principalmente, no futebol, que é o principal foco abordado nessa pesquisa. 9 2. OBJETIVO Como objetivo, o presente estudo busca identificar possíveis ocorrências de machismo e outros preconceitos que podem interferir na carreira esportiva de mulheres que atuam no cenário futebolístico, mais especificamente treinadoras e atletas. 10 3. JUSTIFICATIVA O tema foi escolhido para ser abordado neste trabalho por ser uma área em que a autora da presente obra pretende atuar, já que desde criança o futebol esteve presente em sua vida por meio da prática de jogos de videogame e, também, como telespectadora. Além disso, destaca-se o fato de que ainda hoje o público feminino encontra grande dificuldade para se inserir no futebol devido a preconceitos que vêm desde épocas passadas, também sendo culturalmente potencializado. Entende-se que esse tema deveria ser cada vez mais explorado, uma vez que temos nossa primeira técnica mulher na seleção feminina brasileira depois de anos. Por isso, o trabalho também é justificado pela necessidade de conscientização da sociedade acerca do fato de que as mulheres possuem espaço no cenário futebolístico, buscando desenraizar o pensamento de que “futebol é coisa para homem”, além de quebrar os tabus que ainda existem. Assim, contribuiria de alguma forma com a sociedade, demonstrando a importância que as mulheres possuem no futebol e como podem se inserir nesse contexto sem sofrer preconceitos e dificuldades pelo seu gênero. Por fim, mesmo que a temática aqui abordada seja atual, grande parte dos trabalhos acadêmicos referentes ao futebol envolvem apenas atletas ou técnicos do sexo masculino, implicando em poucos estudos que englobam as mulheres desse âmbito, sendo mais uma justificativa para o estudo dessa população. 11 4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Este trabalho consistiu em uma pesquisa que apresenta caráter de revisão bibliográfica e documental, havendo seleção de reportagens em jornais eletrônicos, revistas, websites, além de artigos científicos publicados em periódicos virtuais e/ou físicos, utilizando também livros que abordem a temática para maior embasamento e discussão dos conteúdos encontrados. Foram utilizadas entrevistas disponibilizadas em sites esportivos renomados no cenário jornalístico nacional, por exemplo, buscando corroborar com maior aprofundamento acerca do assunto aqui tratado, auxiliando na ilustração de situações e exemplos (THOMAS; NELSON, 2002). O material utilizado nesse trabalho permitiu com que a autora fizesse contextualizações e comparações referentes aos âmbitos abordados, sendo capaz de ilustrar de forma fidedigna o cenário atual e as limitações que as mulheres possuem ao buscarem a inserção no futebol, traçando relações e distinções com o contexto futebolístico geral. Por preferência da autora principal desta pesquisa, os conteúdos englobados nos materiais selecionados para estudo estavam nos idiomas: inglês ou português. Como suporte para busca de dados e arquivos, foram utilizadas plataformas de pesquisa como Google Acadêmico, Scielo, LILACS, PubMed, contendo filtros para melhor direcionar a consulta. Além disso, websites esportivos, jornais e revistas também foram analisados para facilitar a ilustração por meio de exemplos, situações que já ocorreram e relatos dos envolvidos com o problema que foram expostos na mídia, balizando discussões acerca da temática aqui exposta. 12 5. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Para compreensão do tema tratado nesta pesquisa, o trabalho foi dividido em alguns tópicos que fazem parte dessa revisão. Primeiramente são abordados pontos referentes ao futebol feminino no geral, buscando expor um pouco sobre o histórico do mesmo, além de suas principais características, bem como a mulher como foco desse esporte. E, em seguida, é trazido um tópico sobre o preconceito no futebol feminino, com o intuito de expor os possíveis preconceitos que as mulheres sofrem no cenário futebolístico, questões referentes ao machismo, dificuldade de inserção e valorização, menor reconhecimento, dentre outros fatores que ocorrem nesse contexto. 5.1 O futebol feminino Em 776 a.C, os homens se reuniam para honrar os deuses com jogos e lutas. No entanto, as mulheres eram proibidas de participar e de assistir a esses eventos. Caso alguma delas descumprisse essa regra, poderia até ser condenada à morte. Quando ocorreu a primeira Olimpíada da modernidade, as mulheres não podiam participar, sendo apenas espectadoras dos jogos. Havia nessa época a similaridade da mulher ao sexo frágil e só após a visibilidade dos Jogos Femininos Mundiais em 1932, foi aceita pelo COI (Comitê Olímpico Internacional), em 1936, a participação oficial de mulheres nas Olimpíadas (RIBEIRO et al., 2013). Não é espantosa a demora de inserir a mulher no esporte em relação aos homens, ainda mais no futebol que é popularmente conhecido como esporte masculino, o que tornou ainda mais difícil a inserção de treinadoras esportivas nesta modalidade. “O futebol nasce masculinizado” (TEIXEIRA JUNIOR, 2006, p. 14), potencializando a desconfiança da capacidade do trabalho de mulheres da área, sejam atletas, árbitras, treinadoras ou membra de comissão técnica, sofrendo preconceito para entrarem no futebol. Mas, como tudo ligado as mulheres associam-se à beleza exterior, não foi diferente no futebol. Maurício Cardoso publicou que depois da participação da equipe feminina na Olimpíada de Atlanta, em 1996, não era apenas a competência técnica que daria sucesso às mulheres, mas também a sua aparência. 13 O futebol masculino tornou-se um empreendimento comercial devido a competência dos jogadores, que é fundamental. Já no futebol praticado pelas mulheres, apenas isso não é o suficiente, pois os clubes procuram atletas que além de saber jogar, devem ser jogadoras bonitas (CARDOSO, 2000). Assim, tudo isso fazia parte de um espetáculo, pois com mulheres atraentes chamaria atenção do público aos estádios e com as propagandas aumentaria o capital e a visibilidade do esporte. Mesmo com avanços significativos na modalidade, a estrutura é precária, com poucos campeonatos, com contratações passageiras, descarecendo de politicas privadas e públicas que serviriam de incentivo às meninas e mulheres interessadas no esporte, seja para uma participação ou para o alto rendimento. Além disso, há fraca participação midiática, que quando citam algo, ainda não é sobre a competência das jogadoras, árbitras ou treinadoras, e sim sobre sua aparência ou comportamento (GOELLNER, 2005). O exemplo citado é o da assistente de arbitragem de futebol, Ana Paula da Silva Oliveira, que chamou atenção pela sua beleza e não por sua competência. Em sua obra, Jaeger et al. (2010, p. 261) ressaltam a fala de uma atleta e treinadora de futsal e futebol, afirmando que: De fato, as pessoas é que não se prepõe as coisas. Eu me propus e pessoas convidaram-me, e enfrento os desafios, eu mesma me proponho aos desafios, porque não vejo diferenças. É óbvio que existem alguns tipos de obstáculos que eu tenho que enfrentar e que os rapazes não têm, mas eu estou disposta a isso, estou disposta a ir à luta por eles. Eu acredito naquilo que eu faço e acredito que toda competência cria seu espaço. (Atleta e treinadora de futsal e futebol) (JAEGER et al., 2010, p. 261). Desta forma, é evidente que algumas mulheres estão dispostas a lutar, a enfrentar os obstáculos que possuem por conta da sociedade que prega a masculinidade no ambiente futebolístico. Contudo, é preciso que outras pessoas também tenham vontade de enfrentamento dessa realidade, pois somente assim as coisas podem sofrer mudanças, mesmo que pequenas, buscando igualdade ao futebol masculino vivido nos dias atuais (tanto em questões de valores contratuais, reconhecimento, valorização, mídia, dentre outros aspectos que envolvem não só aspectos financeiros, mas também de igualdade social). 14 5.2 Preconceitos no futebol feminino A sociedade age em geral de uma forma: a criança ao nascer é condicionada de acordo com os seus órgãos sexuais a agir de certa maneira ou de preferir certas coisas. Esse fato é afirmado através de análises realizadas no campo da sociologia. Quando o indivíduo é um menino, ganham carros ou bonecos super-heróis, se for menina é presenteada com bonecas ou miniaturas de eletrodomésticos (DAOLIO, 1997). O que enraíza ainda mais a ideia de que menino joga bola, brinca com carros ou heróis, e as meninas aprendem a brincar e cuidar de bonecas e da casa, enfatizando a distância que existe entre elas e o esporte, por exemplo. Em geral, a mulher é lembrada no esporte não por seu desempenho ou conquista, e sim pela sexualidade e beleza, em conjunto com o que é mostrado pela mídia que está ligada as características como suas pernas ou vestimentas, o padrão de beleza feminina que é vendido pela indústria cultural, que troca a estética de jogo pela estética de corpo (BRUHNS, 2000). Portanto, esses fatos demonstram o preconceito existente no futebol feminino que vem de questões culturais e sociais desde séculos passados, e enquanto ainda existir, as mulheres sofrerão para conseguir sua inserção não só nos cargos de futebol ou de jogadoras, como em outros esportes. Em Portugal já se vê algumas melhoras nas oportunidades e luta contra o preconceito no futebol feminino. Sarai Bareman, diretora de futebol feminino da FIFA ressaltou o “momento fantástico” que a modalidade vive no país. Os números apontam que há cerca de 8721 indivíduos que são praticantes de futebol e futsal femininos. A dirigente ainda frisa sua certeza de que um dia o futebol feminino terá maior igualdade com o futebol masculino, principalmente em termos salariais, citando o trecho a seguir que sugere que: Se há mulheres que estão a jogar futebol todos os dias, a darem o máximo e a fazerem do futebol a sua vida, então precisam ser valorizadas pelo que estão a fazer. É importante que o seu salário reflita isso (FDFREDACÇÃO, 2018, p. 1). Como exemplo de frases e termos, frequentemente, ouvidos por jogadoras de futebol, pode-se incluir alguns como: “mulher macho”; “sapatão”; “vai lavar louça”; por quê está jogando bola?”; “isso é coisa de homem”; “vamos tirar a roupa dela 15 para ver se é mulher mesmo”, dentre outras inúmeras ofensas relacionadas ao sexo das atletas. A partir de 1941, o futebol feminino teve 38 anos de proibição, sendo que em 1979 deixa de ser proibido no Brasil, mas ainda assim não era regulamentado, passando a ser somente em 1983 (PIRES, 2019). No futebol, nossa identidade é construída e influenciada por meio das Copas do Mundo. Em 2019 foi realizada a Copa do Mundo de Futebol Feminino, e talvez não tenha sido tão lembrada como a Copa do Mundo de Futebol Masculino. Todos os gols comemorados, títulos e jogos marcantes são todos da seleção masculina. Lembraram- se muito das fintas e passes de Ronaldinho Gaúcho, mas pouco se fala de Sissi, a camisa 10 da primeira seleção brasileira, artilheira da Copa do Mundo de 1999, uma das melhores jogadoras que o mundo já viu. De acordo com Amanda Kestelman (2019), Sissi contou que chegou a cortar o cabelo no intuito de homenagear uma criança que sofria com um câncer e havia sido vítima de bullying. Seu gesto acabou acarretando diversas ofensas. Uma das principais jogadoras da seleção nos anos 2000, se não a principal, deixou de receber aplausos, passando a ser alvo de diversos ataques. A seguir, é exposto um trecho do depoimento dela sobre tal situação. Na época ninguém sabia por que resolvi raspar a cabeça. Ninguém sabia. Era uma homenagem para uma criança que tinha câncer e sofreu bullying [...]. Mas foi um absurdo no Brasil. Tive que escutar um monte de coisa. O fato de ter cabelo curto... todo mundo olhava. Em São Paulo, até não aceitaram que eu participasse de um campeonato. Mas sempre falo para as meninas não deixarem que mudem seus jeitos: ‘Se aceitar do jeito que você é’. (KESTELMAN, 2019, p. 1) A resposta aparece na prática, em campo, mas a luta das mulheres, não só no futebol, é incessante e ocorre desde quando eram obrigadas a jogar com uniformes masculinos, até os dias atuais, elas não se calam. Quando chegaram à final da Copa do Mundo em 2007, subiram ao pódio de vice-campeãs expondo em uma fronha de travesseiro o recado para a população, dizendo: “Brasil, precisamos de apoio.” (LAVINAS, 2007). Em 2019, na Copa do Mundo de Paris, a jogadora brasileira Marta recusou a utilização de qualquer tipo de patrocínio em suas chuteiras, portanto usou uma chuteira preta que possuía o símbolo da igualdade em azul e rosa, fazendo referência à luta das mulheres por igualdade, juntamente a isso, a crítica fazia 16 menção também à inferioridade dos contratos em relação aos homens “Se as mulheres jogam futebol da mesma forma que os homens, por que elas não recebem o devido reconhecimento? O devido apoio? A devida remuneração?” (VOGUE, 2019, p. 1). 5.3 O reflexo da disparidade entre as equipes Um caso recente e curioso ocorrido no Campeonato Carioca Feminino de 2019, foi destaque para diversas pessoas, não só por seu placar, mas sim pela falta de organização ou profissionalismo. O campeonato contou com 30 clubes e foi marcado pela grande diferença de nível técnico entre as equipes. Como exemplo, pode-se citar o atual tetracampeão estadual, Flamengo, que não encontrou qualquer resistência das equipes adversárias (ESCUDEIRO, 2019). Com a maior visibilidade proporcionada ao futebol feminino no ano de 2019, pelo menos pensando em um âmbito nacional, alguns clubes se interessaram mais em participar da competição que foi organizada pela Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FERJ), pois a mesma não restringia o campeonato apenas a times profissionais, abrindo possibilidade de participação a equipes amadoras. A participação de equipes amadoras fez com que as diferenças (sejam técnicas, táticas, físicas, psicológicas ou de qualquer outro aspecto futebolístico) pudesse ter potencialização. Isso implica em desconforto ao ler comentários que ressaltam apenas os resultados das partidas, contendo caráter depreciativo a respeito da modalidade, colocando em questionamento a qualidade e, até mesmo, a existência e o apoio ao futebol feminino (MENDONÇA, 2019). Por outro lado, contrastando com alguns comentários preconceituosos relacionados ao futebol feminino, o diretor da FERJ afirmou que o objetivo no presente momento é que existam duas divisões do campeonato carioca feminino, ampliando a competição e gerando melhorias para as próximas edições. O que acaba apresentando um choque a alguns indivíduos é a extrema diferença de realidade entre o futebol profissional, onde o nível de trabalho físico, técnico e tático é, por diversas vezes, muito forte e intenso, enquanto o amador acaba sendo um “catado” de meninas que sonham jogar futebol, não possuindo qualquer tipo de acompanhamento físico, tático, busca de melhorias técnicas e 17 outros fatores essenciais ao desenvolvimento do atleta (MENDONÇA, 2019). Sobre tal situação, Salles (2019) constatou que a equipe do “Greminho” (equipe que levou a goleada de 56 a 0 diante do time do Flamengo) se pronunciou, relatando que o time foi montado em dez dias, os treinos são feitos em um campo de terra do bairro e o investimento vem apenas dos bolsos das próprias atletas, que chegam a compartilhar caneleiras e até chuteiras entre si. Fato é que, às vezes, dá-se a impressão que tentam sabotar o futebol feminino e suas vertentes, pois dar um salto de quase três vezes no número de equipes em um campeonato em apenas um ano, com vários times amadores, parece ilógico. Apesar disso, muitos confundem ao dizerem que as jogadoras estão “blindadas” a serem cobradas por suas atuações. A cobrança deve existir como em qualquer outra modalidade, porém de uma forma justa, levando em conta a diferença de contexto existente em comparação ao cenário do futebol masculino. A realidade em que vivem é bem diferente, vendo que muitas atletas que estão no início conciliam sua carreira no esporte com atividades/trabalhos paralelos para se sustentar. 5.4 As vivências do futebol feminino Com o intuito de ilustrar algumas situações adversas vivenciadas no contexto esportivo do futebol feminino, este tópico busca explicitar fatores que podem interferir no rendimento das atletas, seja pelo cansaço físico, emocional, psicológico, estrutural ou de qualquer outra natureza que as esportistas passam a experienciar diante desse cenário repleto de (in)diferenças. Em Roraima, o estado mais violento do Brasil contra a mulher (OLIVEIRA, 2019), as agressões e preconceitos contra as jogadoras de futebol feminino também existem. A bombeira Eva Guevara, de 32 anos, foi chamada para jogar na capital há 10 anos e, desde então, o ex-marido não escondia o descontentamento, tornado as discussões frequentes. Ela conta que o rapaz atendia ligações e desligava na cara das meninas que a convidavam para jogar. Depois de tantas discussões, resolveu terminar o casamento. Hoje, Eva é volante do São Raimundo, atual tetracampeão de Roraima. O cenário futebolístico é pouco favorecido no estado, o futebol feminino é 18 amador e nenhuma atleta recebe salário. Apesar disso, a volante se diz feliz e conta com o apoio do novo marido (RANGEL; JUSTO, 2019). Sara Kethelem, lateral-direita de 20 anos, também atuando no São Raimundo, enfrentou preconceitos vindos de sua mãe, que a proibia de jogar. Relata que a mãe era machista. “Falava que futebol era para macho, para homem, que tinha que procurar outra coisa (...).” (RANGEL; JUSTO, 2019, p. 1). A jogadora mora numa periferia violenta de Boa Vista, com a mãe e dois irmãos e conta que com as constantes brigas familiares, passou a sofrer depressão. Chegou a cortar os pulsos em busca de “alívio” e sua dor acabou virando a dor também de Dona Francisca. Arrependida, buscou conhecimento e criou um grupo para ajudar mães e filhos vítimas de maus tratos na cidade. Em parte de seu depoimento, a mãe demonstra que hoje quer ver a filha feliz: “quero ver minha filha fazendo o que ela gosta. Os nossos sonhos já foram. Agora é o sonho dela. Ela quer ser jogadora de futebol, alcançar os objetivos. Eu só tenho que amar, lutar e torcer junto.” (RANGEL; JUSTO, 2019, p. 1). As agressões nos estádios também não passam ilesas, com algumas atletas relatando inclusive agressões físicas. Amanda Sobral, capitã do São Raimundo, conta que em uma vitória do time alguns homens não gostaram e partiram para cima das meninas, agredindo e quebrando o carro (RANGEL; JUSTO, 2019). O último Campeonato Estadual contou com apenas três times na disputa. O investimento é quase zero e a Federação local não se empenha muito pelas mulheres. O torneio mais popular no estado é organizado pela prefeitura da capital. A primeira rodada contou com um público de menos de 200 torcedores, e o São Raimundo goleou o Milan por 10 a 0. A ausência de Zeca Xaud, o mais antigo cartola no poder de uma federação no país, foi notada. O dirigente parece não se importar muito, uma vez que nem sabia que o Estadual havia sido disputado no ano anterior. Parece querer seguir o oposto do presidente da FIFA, Gianni Infantino, que quer aumentar a participação de mulheres no futebol. Xaud acha impossível esse projeto ser adotado no Brasil (RANGEL; JUSTO, 2019). A triste realidade do futebol local não impede as mulheres de continuarem lutando por apoio e investimento. Em Alto Alegre, uma família é símbolo da luta contra o preconceito no futebol feminino. Dona Lucimar Pereira, de 66 anos, montou um time de futsal com as filhas e netas. Jogadora até os 40 anos, conta que sofreu muito preconceito nos anos 80 ao chegar em Roraima. Nem as filhas e nem as netas 19 passam intactas da intolerância e preconceitos. Um dos destaques do São Raimundo, Nayandra Perreira, de apenas 15 anos, conta a rejeição sofrida por professores e amigos da escola por jogar futebol: “O preconceito que vier quero estar junto. Lugar de mulher é onde ela quiser”, diz a mãe da garota, Beatriz Pereira. (RANGEL; JUSTO, 2019, p. 1). Outro fator que compromete o futebol feminino é a falta de categoria de base na maior parte dos clubes. Este fato acaba sendo um meio muito importante de ascensão para o futebol masculino, carece às meninas. Apesar disso, já podemos ver grandes mudanças nas condutas de alguns clubes. O Corinthians, por exemplo, a partir de 2020, passou a profissionalizar o vínculo com as atletas, semelhante ao dos jogadores de times masculinos do país. O recurso financeiro referente a questão de investimentos da equipe tende a dobrar, sendo que as atletas passarão a ter direito de imagem e multa rescisória em contrato. (CANHEDO, 2020). O Corinthians hoje é a equipe atual campeã do Paulistão e da Copa Libertadores, sendo que Cris Gambaré, diretora da modalidade, destaca a importância da profissionalização do time para o crescimento do esporte. Em 2015, Pedro Melo relatou a precariedade da Copa do Brasil de Futebol Feminino. Cita que, segundo as súmulas, há falta de ambulâncias, policiamento, pagamentos de luz e, até mesmo, do trio de arbitragem. Em 1940, o jornal Diário da Noite publicou uma carta escrita por José Fuzeira, endereçada a Getúlio Vargas, Presidente da República daquela época, com os dizeres: "E, neste crescendo, dentro de um ano é provável que em todo o Brasil estejam organizados uns 200 clubes femininos de futebol, ou seja, 200 núcleos destroçadores de 2.200 futuras mães" (SEBBA, 2019, p. 1). Além disso, o discurso para as jogadoras sempre vem associado a paixão ao futebol, o que remeteu a falta de profissionalização e desvalorização monetária, diferente do futebol masculino, onde são atribuídos aos jogadores um “sonho” de ser profissional e jogar em um clube grande. A primeira Olimpíada de futebol feminino ocorreu em 1996, sendo que algo marcante para algumas atletas foi o fato da desconfiança ser tão grande que a própria CBF mandou as jogadoras para Atenas, disputar a competição, com passagens compradas para o retorno no final da primeira fase, sugerindo que elas seriam rapidamente eliminadas. No entanto, as mesmas ganharam e chegaram à 20 semifinal, possuindo como “prêmio” poder retornar no avião que era de uso exclusivo da equipe masculina. As dificuldades não ficaram por aí, Suzana Cavalheiro conta que as campeãs norueguesas não só tinham um bom futebol, mas também uma preparação, uma estrutura, um kit de primeiros socorros fantástico (o que é algo básico para a prática esportiva em alto rendimento), enquanto as brasileiras não tinham praticamente nada. Outros problemas apareceram na fase preparatória, no Rio de Janeiro, pois além de comerem em uma instalação militar, a comida não era suficiente. Devido a isso ter ocorrido há 23 anos, dá-se uma visão que hoje em dia já foram apresentados muitos progressos. Não é de se negar que pouco a pouco as coisas estão tomando um melhor lugar, porém em julho de 2019, a então técnica do Santos F.C, Emily Lima, relatou em um vídeo uma sucessão de erros entre a CBF e a empresa de viagens, já que além de problemas com o voo (encarando horas de esperas e escalas), ao chegarem no hotel localizados em Manaus, as atletas e a comissão não puderam fazer check-in, passando assim a dormirem todas no saguão. A CBF se manifestou em pedido de desculpas e se mostrou disposta a resolver o ocorrido. A meia-atacante do Santos, Patrícia Sohor, também se pronunciou em uma rede social dizendo que pedem a elas para que sejam profissionais, mas fazem roteiros de viagens que é preciso dormir horas em aeroportos e mesmo assim acabam ficando longe do local de jogo, além de contarem com erros em relação ao hotel (DOS SANTOS; STIVA, 2019). Assim, é triste ver que as instituições e a organização do campeonato não se planejam o suficiente para melhor atender suas atletas. A carga emocional e o desgaste físico que isso tudo traz é inegável, sendo extremamente prejudicial e afetando o desempenho do grupo, além da qualidade do campeonato. 5.5 Técnicas esportivas e as barreias encontradas no contexto futebolístico A representação de mulheres como treinadoras ou técnicas no esporte coletivo é apenas de 7% do total de técnicos no Brasil (FERREIRA et al., 2013). A primeira técnica a comandar a seleção brasileira feminina em até então 30 anos, foi Emily Lima, em 2016. A técnica teve uma rápida passagem pela seleção, em menos de um ano estava sendo demitida “sem muitas explicações”. Das 26 atletas 21 convocadas na época, 24 assinaram uma carta endereçada ao presidente da CBF, pedindo que houvesse permanência da comissão técnica. Algumas atletas renomadas como Cristiane, Francielle, Rosa, Andreia Rosa e Maurine anunciaram aposentadoria em protesto contra a Confederação. A causa foi justificada em uma sequência de seis derrotas, mas Emily tentou argumentar e mostrar dados, porém o presidente se limitou a dizer que “não era só por isso” (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 2017). O que chama a atenção para as treinadoras de futebol é o valor que suas campanhas apresentam quando comparadas às campanhas de treinadores do sexo masculino, pois uma campanha semelhante com a da treinadora citada anteriormente dificilmente levaria a demissão de um treinador. Como exemplo, pode- se citar que o ocorrido com o até então técnico da seleção feminina na Copa do Mundo de Futebol Feminino, Wadão, que antes da Copa teve uma série de derrotas e só foi demitido após o Mundial, quando o Brasil foi eliminado nas oitavas de final. Este fato acaba demonstrando e refirmando a existência de certo machismo social, já que as mulheres foram historicamente acostumadas a serem vistas como objetos sexuais e/ou donas de casa, destinadas a casar, cuidar e satisfazer, e não a estarem em cargos reconhecidos e considerados como elevados dentro de uma organização, principalmente quando atreladas a presença de indivíduos do sexo masculino. A representatividade que as mulheres possuem vem sendo cada vez mais reduzida nos esportes, assim como acontece no futebol, onde a predominância na área de treinadores é ocupada geralmente por homens, seja no feminino ou no masculino. A pesquisadora específica da área de futebol e professora na Universidade Federal de Pernambuco, Soraya Barreto, explica um pouco isso através da barreira artificial que foi criada, impedindo que as mulheres possuam acesso a cargos que exprimem liderança, como exposto abaixo. Vamos dizer que as mulheres tenham a mesma formação, mesma experiência de carreira. Para ela galgar um cargo máximo, sempre questões que estão ligadas ao biológico vão ser levadas em consideração. Se a mulher pretende ter filho ou se já tem. Ela olha, vê que tem chance sabe que pode fazer, mas outras coisas vão puxar ela para baixo e não vão deixá-la alcançar isso (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 2017, p.1). 22 Com a saída de Wadão, houve a chegada de uma “nova era” na seleção. A técnica escolhida foi a sueca Pia Sundhage, de 59 anos. A treinadora destinada ao cargo possui um histórico vencedor, com muitas glórias, incluindo a premiação de melhor técnica do mundo no ano de 2012 (LISBOA, 2019). Ao comando da seleção dos Estados Unidos, possui as conquistas de dois Jogos Olímpicos e uma medalha de prata com a Suécia em 2016. Apesar dos preconceitos para se tornar técnica, Pia, assumidamente lésbica, revela que não sofreu nenhuma homofobia como treinadora (O GLOBO, 2019). Em 09 de dezembro do ano de 2019, Tatiele Silveira, técnica da equipe feminina da Ferroviária, foi escolhida como a melhor treinadora do Campeonato Brasileiro (Brasileirão) 2019, apresentando um discurso que demonstra a luta que as mulheres enfrentam no cenário futebolístico, exposto por meio das seguintes palavras: “[...] Estou representando tantas mulheres que lutam diariamente, muitas treinadoras que têm muita qualidade e que também estão buscando seu lugar no futebol feminino.” (ACIDADEON, 2019, p. 1). Essas foram as palavras da treinadora ao receber o prêmio das mãos de Pia Sundhage, atual técnica da Seleção Brasileira Feminina. O fato destacado acima pode parecer normal, porém chama atenção porque foi a primeira vez que uma mulher conquistou o prêmio Brasileirão e foi contemplada com a premiação de melhor treinadora. Desde a mudança do formato do Brasileirão Feminino, em 2013, apenas homens haviam alcançado títulos com seus respectivos clubes. No ano de 2016, a treinadora Emily Lima foi a pioneira em chegar até a fase final, representando o sexo feminino no cargo (GOAL, 2019). O passado da treinadora Tatiele pode ser considerado cheio de vitórias e glórias, sendo enaltecido pelo fato de vencer 38 dos 40 jogos à frente da equipe do Internacional de Porto Alegre/RS, possuindo o título do Gauchão (campeonato estadual) e chegando até a etapa semifinal do Brasileirão Série A2. Contudo, tais resultados não foram suficientes para que ela permanecesse na equipe, passando então a defender o time de Araraquara. Esses dados, novamente, mostram que dificilmente no futebol masculino um treinador com esses números seria demitido (ACIDADEON, 2019). Gleice Falção, técnica há 15 anos em Pernambuco, conta que dirigiu quatro clubes, sendo que não teve remuneração em nenhuma dessas oportunidades. Além da falta de estrutura e de apoio, Gleice ainda cita que sempre teve que ir atrás de 23 outros empregos para completar sua renda mensal, o que é bem comum para as mulheres na profissão (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 2017). No entanto, sempre existem algumas exceções, como é o caso de Macarena Deuchler, técnica que além de apoio e incentivo familiar, conseguiu ter salário em todas as equipes pelas quais passou. Isso não tira suas dificuldades para manter um trabalho de consistência. Macarena, que é de nacionalidade chilena chegou ao Brasil no ano de 2014, contratada para dirigir o time Duque Caxiense (RJ) no sub-15 masculino, passou pelo feminino do Team Chicago Brasil e, ao comandar o Central (equipe de Caruaru), sofreu com a desativação da equipe ao alegarem falta de verba. Hoje em dia, trabalha como auxiliar técnica da equipe sub-17 feminina do Corinthians (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 2017). Asako Takakura foi a primeira técnica mulher a conquistar títulos com a seleção sub-17, sub-20 e a principal do Japão. Hoje, segue no comando da mesma, que é a atual campeã da Copa Asiática Feminina (AMARO, 2019). A técnica da equipe do time feminino do Chelsea, Emma Hayes, conquistou vários títulos importantes pelo clube, como o campeonato inglês e a liga inglesa, chegando a duas semifinais consecutivas da Champions League feminina. A técnica chegou a dizer em uma entrevista que acreditava que o baixo preço dos ingressos para a “FA Women’s Super League” não era justo em reflexo ao padrão de futebol oferecido (BLOOMFIELD, 2019). A vitoriosa seleção dos Estados Unidos passou pelos comandos de Jill Ellis, que conquistou o título ao enfrentar a treinadora da Holanda, Sarina Wiegman, durante a Copa do Mundo Feminina no ano de 2019. No mesmo mundial, apenas nove seleções eram comandadas por mulheres dentre as 24 classificadas. Uma final “feminina” não ocorria desde 2003, em uma disputa entre a técnica Tina Theune, pela Alemanha contra Marika Domanski-Lyfors pela Suécia (MEDONÇA, 2019). Portanto, são notórios os resultados positivos e expressivos que as mulheres possuem, merecendo reconhecimento perante o cenário futebolístico. Assim, será deixado de lado o preconceito em relação ao gênero dos profissionais da área, ampliando a representatividade das mesmas no contexto esportivo. 5.6 Treinar equipes masculinas: os novos preconceitos enfrentados 24 Se já existem inúmeras dificuldades para que treinadoras consigam dirigir equipes femininas, esse fato é ainda mais potencializado quando se trata de comandar clubes masculinos. No Brasil, não importa quão boa é ou quão bom é seu desempenho à frente das equipes, sequer é cogitada a contratação de uma técnica para grandes equipes de futebol masculino. Segundo a reportagem de Nina (2018), a primeira mulher a ter o registro como técnica de futebol registrada no Boletim Informativo Diário (BID) da CBF foi Nilmara Alves, comandando a equipe do Manthiqueira, que em 2018 disputava a quarta divisão paulista. Nilmara largou a carreira de atleta de futebol para ir estudar. Formada em Educação Física iniciou sua carreira como treinadora. Ela conciliava o futebol junto à profissão renumerada (concursada da Prefeitura), e após ser preparadora física das categorias sub-15 e sub-17, foi convidada a ser técnica, apresentando o discurso a seguir: “Aceitei para provar que a mulher pode exercer um cargo no futebol e provar que é tão competente quanto um homem" (NINA, 2018, p. 1) No entanto, os preconceitos não ficaram de lado, já que um dos fatos marcantes em toda sua trajetória foi quando ouviu de um técnico adversário que o mesmo não aceitaria ser derrotado por uma mulher. Nilmara cita que isso ocorreu em um jogo contra a equipe do União de Mogi, mas alega não lembrar o nome do treinador, como descreve a seguir: “Acabamos o primeiro tempo perdendo por 3x0. Fui pro vestiário, dei uma dura na equipe e mudamos a postura pro segundo tempo. Sei que viramos o jogo e ganhamos por 4×3”. (NINA, 2018, p. 1). A técnica esportiva Nilmara se preparava para fazer o curso de treinadores (promovido pela CBF), que já havia feito o Curso em São Paulo, mas relatou que é relevante o fato de adquirir conhecimento e estar sempre preparada, principalmente quando é uma mulher, visto as dificuldades que enfrentarão nesse cenário. As mulheres nessa área estão constantemente tendo que provar que sabem o que estão fazendo e que merecem estar naquele cargo que lhes foi concedido: “A gente tem que se preparar mais ainda porque o preconceito e as críticas são maiores, então pra mim é muito importante” (NINA, 2018, p. 1). Na França, a primeira mulher a comandar uma equipe masculina chama-se Corinnee Diacre, trabalhando com a equipe Clermont Foot, que em 2014 disputava a segunda divisão do campeonato francês (AMARO, 2019). 25 Sobre o histórico de mulheres atuando em equipes masculinas de futebol, constata-se que a carioca Claudia Malheiro foi a primeira a trabalhar neste cargo, sendo que atuou na equipe do Vasco/AC como preparadora física, no ano de 1999. Contudo, assumiu o papel de treinadora interina quando surgiu uma oportunidade. Depois disso, em 2000, Claudia Malheiro foi convidada a treinar o Andirá Esporte Clube. O trabalho no time durou apenas um ano, mas a técnica retornou em 2006 conquistando o vice-campeonato estadual. Outro destaque no âmbito futebolístico foi Priscilla Mayla Grecco, ex-goleira que jogou pela seleção brasileira e por diversos clubes como Juventos, Internacional, Palmeiras e Santos. Mayla possui alguns títulos, sendo possível ressaltar que foi campeã da Libertadores, Copa do Brasil e Campeonato Paulista, encerrando sua carreira no ano de 2011. Após dois anos começou seu trabalho como preparadora de goleiros no Gremental, time onde treina as categorias de base do futebol masculino. Também está no comando do sub-13 do Jabaquara. Há vários cursos de especialização, dentre eles os promovidos pela CBF Academy, entretanto, apesar de sua ótima qualificação, as dificuldades não diminuem, muito menos o machismo e preconceito. Mayla relata que: O futebol, infelizmente tem sua resistência em ter mulheres como treinadoras. Dentro de um corpo técnico de futebol as mulheres geralmente estão representadas como psicólogas, nutricionistas e assistentes sociais (...). Uma vez, num curso de treinadores, um conhecido chegou até mim e falou que era melhor eu ir para a área de analista de desempenho do que ser treinadora, ainda mais no futebol masculino. Mas isso é algo que não me incomoda. Vejo o machismo como um paradigma que aos poucos estamos quebrando. Sei que o meu caminho e de outras mulheres no futebol masculino não vai ser nada fácil e teremos que romper barreiras. Com muito estudo e trabalho seremos reconhecidas e valorizadas no futebol, basta termos oportunidades para mostrarmos que somos capaz de comandar uma equipe de futebol. (NINA, 2018, p. 1). O curioso de todos os discursos expostos neste trabalho até o momento é que as mulheres estão cientes que deverão estar em constante aprendizado, estudo e dedicação, principalmente por saberem dos obstáculos que podem enfrentar por conta da diferença de gênero que perdura até os dias atuais. Como já dito, as treinadoras constantemente mostram que estão preparadas e que merecem oportunidades melhores. Ao contrário do que se passa com os homens, onde às vezes não possuem muita formação na área e acabam possuindo oportunidades de maneira mais facilitada, até mesmo por conta do sexo ao qual fazem parte. 26 Um caso que também ficou conhecido foi da primeira técnica de futebol profissional masculino, a portuguesa Helena Costa. Na reportagem de Campos (2014) para o site Torcedores, que informa o caso, é possível notar a importância que o texto aborda aos adjetivos “musa”, “gata” e as diversas fotos da técnica. Sua capacidade e competência não são nem citadas. Os ocorridos não acabam por aí, segundo o site do Globo Esporte (2019), Imke, técnica do time masculino BV Cloppenburg (Alemanha), foi indagada em uma entrevista coletiva se ela dava algum sinal de alerta ao entrar no vestiário dando tempo aos jogadores de se vestirem. Com ironia, a treinadora respondeu: “Claro que não. Eu sou uma profissional. Eu escalo meu time de acordo com o tamanho do pênis.” (GLOBOESPORTE.COM, 2019, p. 1). A atual treinadora da seleção brasileira feminina, Pia Sunhage, mesmo com tantos títulos e vitórias, nunca foi chamada para o comando de uma seleção masculina. No ano de 2017, a ex-jogadora Patrizia Panico, que defendia a seleção italiana de futebol, foi convidada para ser treinadora da categoria sub-16 da equipe masculina da Itália. Portanto, são perceptíveis as diferenças que existem, principalmente por nenhuma mulher comandar a seleção principal masculina de futebol. Fato que, se ocorresse, causaria uma grande quebra de paradigma na sociedade. Evidentemente, não deixariam de sofrer ofensas e comentários desrespeitosos, ainda mais em casos de derrotas. De maneira geral, isso tudo nos traz, no mínimo, uma reflexão de que apesar de estarmos progredindo, vamos enfrentar muitos preconceitos e “injustiças” até que, e se, atingirmos uma sociedade igualitária. 5.7 A psicologia do esporte e as vertentes O futebol feminino por meio de sua constituição histórica aponta relações de poder onde o papel fundamental são os marcadores de gênero. De acordo com Teixeira (2016) o poder não é acessível a estar nas mãos do indivíduo ou localizar- se nele. O poder é algo que passa por eles. Seguindo o que é afirmado por Altmann (2008) sobre o pensamento de Focault, o corpo é perfurado por vínculos de poder, sendo o “local de dominação por meio do qual a docilidade se realiza, e a subjetividade se constitui” (ALTMANN, 2008, p. 7). 27 O corpo através disso passa a ter um intuito de controle. É estabelecida então, nos corpos, a prática social de gênero que, segundo Altmann (1998), é dentro dela que os indivíduos se identificam ou constroem como masculino ou feminino. Louro (1997) esclarece sobre a pluralidade dos gêneros, afirmando que não se pode opor um gênero a outro. É preciso entender que cada masculino possui um polo feminino e vice-versa (TEIXEIRA, 2016). “Distinguir a diversidade é aceitar a ideia que ser diferente não é ser desigual, pois, nos marcadores identitários, vários sujeitos são excluídos de muitos direitos sociais, incluindo o esporte e lazer.” (GOELLNER, 2010, p. 25.). Louro (2008) trata em seu estudo sobre o fato de que ninguém nasce puramente homem ou mulher. Ser homem e ser mulher está em desenvolvimento em que se apresentam representados por uma cultura ou outra (TEIXEIRA, 2016). Ainda assim, a palavra de um homem hétero passou a quase ser incontestável, e as mulheres, gays, lésbicas e bissexuais eram de sexualidade desviantes. A batalha na área cultural demonstrava-se (e se demonstra), sobretudo, como uma batalha ao redor da significação em meio a relações de poder. (LOURO, 2008) As discussões sobre diversidade e gênero ainda se encontram em certo tabu. Até hoje são assuntos poucos comentados nas escolas, onde poderiam ser abordados de forma científica e não baseado em crenças. A realização da igualdade de gênero e o respeito à diversidade sexual interferem também diretamente nas áreas do esporte, dando visibilidade às exclusões e discriminações. Dentro da prática esportiva vemos o exemplo quando as diferenças biológicas justificam o acesso ou a permanência de meninas e meninos em distintas modalidades. Ou quando determinada prática corporal se identifica como indicada ou não para meninas e/ou meninos, por não condizer ao seu gênero (TEIXEIRA, 2016). Isso tudo reforça o que já foi citado no texto, onde as mulheres, em específico no futebol, vivem o esporte de forma diferente a dos homens. Wenetz (2012) em um estudo ressalta que no tempo de um intervalo escolar, o futebol é um local reservado e desejado por meninos, onde diante da prática são reforçadas características ditas como masculinas em nossa cultura. O que desde então mostra que, pelo menos uma parte das meninas que já se envolveram no futebol na infância, sofrerá ataques e situações de preconceito. 28 As consequências causadas nas mulheres são inúmeras. Dentre elas está a violência de gênero. De acordo com Strey (2004), ela está relacionada à distribuição desigual de poder e às relações diferentes entre homens e mulheres no contexto esportivo, por meio de ideologias sexistas. A violência de gênero contra a mulher caracteriza-se de várias maneiras, como a psicológica, física, sexual, simbólica ou econômica. Talvez, no contexto abordado, a mais evidente, apesar de menos visível que a física, seja a psicológica, podendo ocorrer por meio de insultos, ofensas, ameaças, preconceitos e outras formas. A violência simbólica, segundo Bourdieu (1996), trata-se da maneira em que a imagem feminina é abordada em meios de comunicação de massa (PAIM; STREY, 2006). Como a dúvida que paira algumas mulheres se elas realmente jogam bem ou estão no time por suas belezas e/ou características físicas. Além dessas violências já citadas, a mulher ainda sofre constante imposição sobre seu papel de mãe, esposa e dona do lar. Toda essa pressão psicológica desencadeia danos e reflexos na vida pessoal e profissional das mesmas no esporte. Para as atletas, até mesmo fatores como prevenção e recuperação de lesões estão relacionadas com atitudes psicológicas, segundo Epiphanio (1999). No futebol de alto rendimento, o sucesso do time dependerá da integração entre os diferentes fatores psicológicos, físicos e técnicos (GARGANTA et al., 1996). As cobranças sofridas podem gerar ainda níveis altos de ansiedade, dificuldade de concentração e auto avaliação de eficácia (CORRÊA; STREY, 1999). Segundo Ferreira et al. (2013), alguns motivos da baixa representatividade da mulher diante do comando de equipes esportivas ocorre por conta de diversas barreiras que elas enfrentam como técnicas, além de encontrarem obstáculos referentes à ascensão na carreira, aceitação feminina acerca da exclusão que sofrem devido ao sexo, ausência de mulheres que visam tal cargo e abandono/desistência da carreira. Já na perspectiva das mulheres sobre o assunto, Acosta e Carpenter (1994) relataram o sucesso existente da rede de contatos entre os homens, fracasso da rede de contatos entre as mulheres, discriminação e reprodução homóloga diante da etapa de contratação, ausência de suporte de programas e políticas para mulheres, ocorrência de síndrome de burnout entre elas e o abandono da carreira (FERREIRA et al., 2013). 29 A síndrome de Burnout é entendida como a reação ao alto esgotamento emocional e profissional (PIRES; BRANDÃO; MACHADO, 2005), sendo considerada como um dos principais motivos que levam treinadoras a desistirem da carreira, resultado da exaustão emocional e vivências da insatisfação profissional. A profissão de técnica ao mesmo tempo em que pode ser muito retribuidora, pode ser também decepcionante e exigir muito da mulher (HJÄLM et al., 2007). Com isso, pode-se enxergar que todos esses fatores sofridos pelas mulheres, vão desencadear reflexos no psicológico e na sua carreira profissional. As consequências são drásticas, e tudo começa há anos atrás onde o preconceito já existia e a sociedade machista que hoje vem se potencializando. Sabemos que as mudanças também precisam ocorrer de baixo, uma vez que faltam categorias de base no futebol feminino, falta acompanhamento profissional, infraestrutura adequada, auxílio psicológico, visibilidade, apoio, valorização e representatividade. O que ainda traz consigo o preconceito, a violência, as torcidas que se sentem no direito de ofender, e até mesmo machucar, além de psicologicamente, fisicamente as atletas e técnicas, a falta de colaboração dentro das próprias equipes e a imprensa que, às vezes, inviabiliza ou ainda dá importância a coisas fúteis. Não seria para menos as consequências de essas mulheres serem ansiedade, depressão, síndrome de burnout e a triste, porém, muitas vezes, entendíveis desistências de carreira. 30 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com a presente pesquisa, foi buscada a tentativa de mostrar os pontos onde a questão de gênero se faz presente no esporte, principalmente, no caso abordado, o futebol. É possível encontrar diversas matérias e reportagens onde é levantado o tema de machismo e preconceito, mas talvez ainda faltem mais pesquisas e artigos sobre. Além disso, o intuito também era de tentar conscientizar os leitores deste estudo e a população de maneira geral sobre esse atraso existente acerca da visão de que futebol e mulher são fatores distintos, buscando ressaltar quão preconceituoso e sem fundamentação é este argumento. Todavia, constata-se que para muitos da sociedade o futebol ainda é “coisa para homem”, potencializando o machismo de forma insistente através de ações diretas ou indiretas, passando inclusive por casos de ofensa, exclusão e preconceito com relação a mulher neste contexto. Foi possível mostrar a existência do preconceito e machismo na vida de atletas e técnicas de futebol e a maneira em que interferiram em suas carreiras. Fica evidente, também, que a modalidade vem avançando cada dia mais, mas carece ainda de políticas públicas e privadas, faltando erradicar o preconceito e o conceito de que futebol é coisa de homem. Também existe necessidade de melhorias referentes a infraestrutura, categorias de base, campeonatos, recursos, cursos e oportunidades dadas às mulheres. O preconceito existe de formas culturais e sociais desde séculos passados e nesse contexto traz interferência no rendimento das atletas, técnicas, árbitras, auxiliares de arbitragem, também, mulheres que possam compor as comissões técnicas, como preparadoras físicas e psicólogas do esporte. Esses danos físicos, emocionais e psicológicos refletem diretamente em suas carreiras. O preconceito que oprime e gera dúvida, em muitos casos, leva até à desistência. Fica evidente a falta de espaço para mulheres no esporte, visto que apenas 7% do total de técnicos do Brasil são mulheres (FERREIRA et al., 2013). São perceptíveis os resultados positivos apresentados por elas no cenário futebolístico, 31 um grande paradigma seria quebrado, por exemplo, com uma técnica comandando a seleção brasileira. Portanto, nota-se que há um grande caminho a ser percorrido por todas as mulheres que integram o meio futebolístico, sejam atletas, treinadoras, árbitras, auxiliares, ou qualquer outra profissional que atue nessa área de alguma forma, incluindo também torcedoras e espectadoras. Além disso, é evidente que a luta por direitos e contra preconceitos em geral não acabarão tão cedo. Espera-se que, em um futuro próximo, as mulheres consigam usufruir do esporte tal como ele é vivenciado pelos homens, conseguindo seu devido espaço, direito, valorização e reconhecimento. Por fim, sugere-se que sejam desenvolvidas mais pesquisas que abordem a temática que foi aprofundada aqui ou com teor parecido com este estudo, pois a questão que engloba o machismo no futebol, bem como a mulher no ambiente futebolístico é complexa e precisa ser melhor discutida, principalmente no momento pelo qual a sociedade atual está passando, em que as mulheres estão se unindo e buscando cada vez mais seu espaço, seus direitos e equidade. Assim, é interessante que novos trabalhos sobre essa e outras temáticas sejam desenvolvidos, discutindo amplamente questões de valorização e igualdade, quebra de preconceito e outros aspectos que busquem corroborar para maior conscientização da sociedade acerca de um assunto tão importante e que possui fortes raízes que envolvem preconceito, mas que merecem ser melhor refletidas para que exista mudança de pensamento, atitude, buscando maior valorização da mulher e respeito para com as mesmas. 32 Referências ACIDADEON. 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