Universidade Estadual Paulista Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Materiais Gustavo Vanin Bernardino de Souza Cálculo e análise de efeitos de campo magnético nos estados eletrônicos de impurezas rasas em materiais semicondutores Bauru 2009 Gustavo Vanin Bernardino de Souza Cálculo e análise de efeitos de campo magnético nos estados eletrônicos de impurezas rasas em materiais semicondutores Dissertação apresentada ao programa de Pós-graduação Institucional em Ciência e Tecnologia de Materiais da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, como requisito à obtenção do t́ıtulo de Mestre em Ciência e Tecnologia de Materiais, sob a orientação do professor Dr. Alexys Bruno Alfonso. Bauru 2009 de Souza, Gustavo Vanin Bernardino. Cálculo e análise de efeitos de campo magnético nos estados eletrônicos de impurezas rasas em materiais semicondutores / Gustavo Vanin Bernardino de Souza, 2009. 101 f. il. Orientador: Alexys Bruno Alfonso. Dissertação (Mestrado)– Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências, Bauru, 2009. 1. Semicondutor. 2. Campo magnético. 3. Átomo de Hidrogênio. 4. Massa efetiva. I. Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências. II. Título. À minha famı́lia. Agradecimentos Agradeço, aos professores e colegas do POSMAT e da graduação, que compartilharam seus conhecimentos e incentivaram a continuidade dos estudos. Em especial, agradeço aos professores Alexys Bruno Alfonso, André Luiz Malvezzi, Fábio de Jesus Ribeiro e Nelson Porras Montenegro pelas orientações e recomendações para a elaboração e aprimoramento deste documento. iv de Souza, G. V. B. Cálculo e análise de efeitos de campo magnético nos estados eletrônicos de impurezas rasas em materiais semicondutores 2007. 101f. Dissertação (Programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia de Materiais). UNESP, Bauru, 2009. RESUMO São calculados os ńıveis de energia para o átomo de hidrogênio sob campo magnético uniforme, utilizando o método das diferenças finitas. Estes resultados, quando multipli- cados pelo Rydberg efetivo (que depende da massa efetiva e da permitividade elétrica do meio) correspondem à solução do problema de um elétron ligado a uma impureza doadora rasa em um semicondutor sob campo magnético (caso isotrópico, parabólico, não degene- rado). Os valores encontrados, para campo nulo, são comparados com a solução anaĺıtica. Para campos magnéticos não nulos as soluções são comparadas com resultados teóricos obtidos mediante o método variacional ou por expansão em séries de potências na direção radial. O efeito do campo magnético sobre os orbitais atômicos é analisado a partir da representação gráfica dos mesmos. Os valores numéricos das energias de transição são comparados com dados experimentais para impurezas doadoras rasas em GaN, GaAs e InP. Palavras chave: átomo de hidrogênio, campo magnético, impurezas, massa efetiva, semicondutor. v de Souza, G. V. B. Theoretical study of shallow impurity states in semicon- ductors subject to a magnetic field. 2007. 101f. Dissertation (Program of Masters Degree in Science and Technology of Materials). UNESP, Bauru, 2009. ABSTRACT The energy levels of the hydrogen atom in a uniform magnetic field are calculated by using the finite difference method. The resulting energy levels, when multiplied by the effective Rydberg (that depends on the effective mass and the electric permittivity of the medium), correspond to the energy levels of an electron bound to a shallow donor impu- rity in a semiconductor (with non-degenerate, parabolic and isotropic conduction band) subject to a magnetic field. The results in the absence of the magnetic field are compared with the analytical solutions. For finite magnetic-field strengths, the solutions are com- pared with the results obtained by the variational method or through an expansion in a power series of the radial variable. The effect of the magnetic field on the atomic orbitals is analyzed with the aid of their graphical representation. The calculated transition ener- gies are compared with experimental data for shallow donor impurities in GaN, GaAs e InP. Key words: hydrogen atom, magnetic field, impurities, effective mass, semiconduc- tor. Sumário Sumário vi 1 Introdução 9 2 Semicondutores Dopados 13 2.1 Classificação de materiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 2.2 Semicondutor Intŕınseco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 2.3 Semicondutor Extŕınseco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 2.4 Estados Localizados de Impurezas Doadoras . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 2.5 Estados Localizados de Impurezas Doadoras Rasas sob Campo Magnético . 23 3 Átomo de Hidrogênio sem Campo Magnético 24 3.1 Encontrando a Equação do Movimento Relativo . . . . . . . . . . . . . . . 25 3.2 Resolução da Parte Angular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 3.3 Resolução da Parte Radial e Espectro de Energia . . . . . . . . . . . . . . 30 3.4 Representação Gráfica de orbitais do Átomo de Hidrogênio . . . . . . . . . 32 4 Átomo de Hidrogênio com Campo Magnético 42 4.1 A Equação Schrödinger com Campo Magnético . . . . . . . . . . . . . . . 42 4.2 Domı́nio Computacional e Análise da Simetria . . . . . . . . . . . . . . . . 45 4.3 Condições de Fronteira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48 4.3.1 Condição de Fronteira θ = 0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48 4.3.2 Condição de Fronteira ρ = 0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 4.3.3 Resumo das Condições de Fronteira . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52 5 Resolução do Átomo H com Campo Magnético por Diferenças Finitas 53 5.1 A malha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 vi vii 5.2 Aproximações das derivadas parciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 5.3 Discretização das equações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 5.3.1 Pontos interiores da malha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 5.3.2 Fronteiras com valores exatos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 5.3.3 Fronteiras com aproximações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 5.3.4 Resumo das condições de fronteira discretizadas . . . . . . . . . . . 61 5.4 Aplicação do Método . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 5.5 Normalização Numérica das soluções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 6 Resultados e Discussões 67 6.1 Representação gráfica dos orbitais do átomo H com campo magnético . . . 67 6.2 Comparação com a Solução Anaĺıtica para Campo Nulo . . . . . . . . . . . 71 6.3 Comparação com Método Variacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73 6.4 Comparação com solução mediante séries radiais . . . . . . . . . . . . . . . 73 6.5 Comparação com Resultados Experimentais . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 6.5.1 Transição entre estados de impurezas sob campo magnético . . . . . 75 6.5.2 Nitreto de Gálio (GaN) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77 6.5.3 Arseneto de Gálio (GaAs) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78 6.5.4 Fosfeto de Índio (InP) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80 7 Conclusões 81 A Polinômios e funções associadas de Legendre 83 A.1 Polinômios de Legendre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83 A.2 Funções associadas de Legendre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84 A.3 Norma das Funções associadas de Legendre . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85 B Polinômios e polinômios associados de Laguerre 87 B.1 Polinômios de Laguerre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87 B.2 Polinômios associadas de Laguerre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88 C Matrizes Y, O, P e Q 90 D Matrizes J, K e L 95 viii Referências Bibliográficas 99 Caṕıtulo 1 Introdução Os semicondutores desempenham um papel importante no desenvolvimento tecnológico. De maneira direta ou indireta, os avanços tecnológicos estão relacionados com dispositivos semicondutores. Estes dispositivos possuem diversas configurações que permitem utilizar as propriedades dos semicondutores para uma determinada finalidade. Por exemplo, para amplificar um sinal elétrico, funcionar como um interruptor em operações aritméticas e lógicas, permitir o fluxo de corrente em apenas uma direção e gerar luz. Ou seja, está presente em qualquer circuito eletrônico. Em nosso cotidiano, encontramos facilmente estes dispositivos. Como exemplo: � os diodos emissores de luz (LEDs) mostrados na Figura 1.1; Figura 1.1: Luz emitida por diodos (LED), esquema (painel esquerdo) re- tirado do site: HowStuffWorks - Como um diodo pode produzir luz?, http://eletronicos.hsw.uol.com.br/led2.htm, acesso em 25/10/2008. 9 10 � em amplificadores de aparelhos auditivos, como ilustra a Figura 1.2; e Figura 1.2: Aparelho auditivo que amplifica os sinais de audio, por meio de dispositivos semicondutores. � nos processadores dos computadores, Figura 1.3. Figura 1.3: Processador para computadores. Todos estes dispositivos estão relacionados com a Ciência dos Materiais, que segundo Callister [1], é a área que envolve a investigação das relações que existem entre as es- truturas e as propriedades dos materiais, ou seja, visa essencialmente a descoberta de conhecimentos fundamentais (propriedade, fenômenos) sobre os materiais. Dentre estes conhecimentos fundamentais sobre os materiais, serão colocados em evi- dência, neste trabalho, os semicondutores extŕınsecos. Esses semicondutores, quando submetidos a campo magnético, sofrem mudanças em seu espectro eletrônico (por exem- plo: o aumento das energias de transição). Para descrever essas alterações é necessário solucionar a equação de Schrödinger para um elétron ligado a uma impureza doadora na presença de campo magnético. Dentro da aproximação de massa efetiva [2] o problema é equivalente ao de um átomo de Hidrogênio na presença de campo magnético. Porém, com parâmetros efetivos para a massa do elétron e da permitividade elétrica do meio. 11 O problema do átomo de Hidrogênio sob campo magnético uniforme é de grande inter- esse para diversas áreas da F́ısica [3], tais como F́ısica do Estado Sólido, Espectroscopia Atômica e Astrof́ısica. A solução para este problema tem sido abordada por diversos autores considerando várias aproximações como a teoria das perturbações [4](campos magnéticos fracos); aproximação adiabática [5](campos magnéticos fortes); método varia- cional [6, 7]; métodos numéricos como o Método de Elementos Finitos [8]. Em particular, o método variacional tem sido aplicado com sucesso no cálculo de estados de impurezas doadoras rasas em heteroestruturas de semicondutores como poços quânticos [9, 10] e pontos quânticos [11, 12] sob campo magnético. Nesta Dissertação, utilizaremos o método das diferenças finitas para determinar as energias de transição entre estados eletrônicos de impurezas doadoras rasas na presença de campo magnético (caso isotrópico, parabólico, não degenerado), visando explicar re- sultados experimentais dispońıveis na literatura [13, 14, 15]. No Caṕıtulo 2, são classificados os semicondutores dopados, bem como apresentadas as equações da aproximação da massa efetiva. Também é estabelecida a relação entre o átomo de hidrogênio e um elétron ligado a uma impureza doadora, ambos na presença de campo magnético. No Caṕıtulo 3, emprega-se o método de separação de variáveis para equações dife- renciais parciais, com o objetivo de resolver a equação de Schrödinger estacionária para o átomo de Hidrogênio sem a presença do campo magnético. Também são apresentados graficamente alguns orbitais atômicos. No Caṕıtulo 4, são analisadas a simetria e as condições de fronteira na equação de Schrödinger para o átomo de hidrogênio sob campo magnético uniforme. No Caṕıtulo 5, utiliza-se o método de diferenças finitas para resolver a equação de Schrödinger para o átomo de hidrogênio sob campo magnético uniforme. No Caṕıtulo 6, são representados graficamente os orbitais do átomo de hidrogênio na presença de campo magnético. A comparação entre os gráficos para diferentes intensi- dades do campo permite apreciar o efeito de confinamento axial do mesmo. Os resultados do método implementado são comparados com os resultados anaĺıticos para o campo nulo. Quando o campo magnético não é nulo, os ńıveis calculados são comparados com resul- tados de outros dois métodos [3, 16]. Os valores calculados para as energias de transição são comparados com dados experimentais para impurezas doadoras rasas em GaN [13], 12 GaAs [14] e InP [15]. Para fundamentar a comparação com os dados experimentais, esse caṕıtulo inclui um resumo da teoria das transições ópticas de impurezas rasas na presença de campo magnético. O Caṕıtulo 7, apresenta as conclusões desta Dissertação, juntamente com algumas perspectivas de trabalhos futuros. Este documento também inclui a lista das referências bibliográficas mais relevantes para o trabalho realizado e quatro apêndices que contém complementos matemáticos ou computacionais da teoria. Caṕıtulo 2 Semicondutores Dopados 2.1 Classificação de materiais Um material, em temperatura 0 K, pode ser classificado de acordo com sua estrutura de bandas de energia. Figura 2.1: Estrutura simplificada das bandas de energia a 0 K. Conforme Figura 2.1, os metais não possuem banda proibida de energia, já os semicon- dutores e isolantes possuem banda proibida (ou gap). Quando a largura desta banda Eg for aproximadamente 1 eV o material é semicondutor, para Eg maior que 5 eV o material é isolante. Além desta divisão os semicondutores podem ser reclassificados em dois grupos: in- tŕınseco e extŕınseco. 13 14 2.2 Semicondutor Intŕınseco Nos semicondutores intŕınsecos o comportamento elétrico é baseado na estrutura eletrônica inerente ao material puro. Como exemplo, consideremos o cristal de Siĺıcio, que tem estrutura de diamante em uma rede cúbica de face centrada (fcc), e base de dois átomos de Siĺıcio (ver Figura 2.2). Figura 2.2: Rede cúbica de face centrada - fcc. Quando a base é repetida, em cada ponto da rede fcc forma-se o cristal de Siĺıcio, como mostrado na Figura 2.3. Figura 2.3: Representação tridimensional de alguns átomos no cristal de Siĺıcio. Neste cristal, cada átomo de Siĺıcio (valência 4) é ligado, na forma de tetraedro, a outros quatro átomos de Siĺıcio. Em cada ligação, são compartilhados dois elétrons através de uma ligação covalente. É posśıvel representar essas ligações em forma bidimensional, como na Figura 2.4. Semicondutores intŕınsecos, conforme a Figura 2.5, em temperatura 0 K não condu- zem; pois todos os estados da banda de valência estão ocupados e todos os estados da banda de condução estão vazios. Sob temperatura finita, os elétrons da banda de valência são termicamente excitados para a banda de condução e tanto os elétrons (e−) que fo- ram excitados quanto os buracos (b+) deixados na banda de valência contribuem para a condução. 15 Figura 2.4: Representação bidimensional de alguns átomos no cristal de Siĺıcio. Figura 2.5: Diagrama de bandas de um semicondutor intŕınseco. Uma caracteŕıstica importante nos semicondutores intŕınsecos é que o número de elétrons presentes na banda de condução é igual ao número de buracos presentes na banda de valência. 2.3 Semicondutor Extŕınseco Nos semicondutores extŕınsecos o comportamento elétrico é ditado pelas impurezas. Algumas impurezas ou imperfeições modificam drasticamente as propriedades elétricas dos semicondutores. O processo de adicionar impurezas, de maneira proposital, é denominado dopagem. 16 No processo de dopagem, os semicondutores são produzidos a partir de materiais que, inicialmente, possuem pureza extremamente elevada, contendo geralmente teores totais de impurezas da ordem de 10−7% a, ou seja, para cada 109 átomos do material está presente, de maneira não proposital, um átomo de impureza [1]. As impurezas podem ser classificadas em dois tipos: doadora e receptora. A classi- ficação das impurezas é relativa ao número de elétrons na camada de valência. Quando a impureza possui valência maior que a do átomo que ela substitui recebe o nome de impureza doadora. Caso possua menor valência; é denominada impureza aceitadora. A Figura 2.6 é uma representação bidimensional do cristal de Siĺıcio dopado com átomos de Arsênio. Como a valência do Arsênio (5) é maior que a do Siĺıcio (4) o Arsênio, neste caso, é impureza doadora. O nome impureza doadora se dá pelo fato de que um elétron excedente é facilmente doado para a banda de condução sem deixar buracos na banda de valência. Figura 2.6: Representação bidimensional do cristal de Si dopado com As, que é um semicondutor do tipo n. Materiais dopados com impurezas doadoras, conforme Figura 2.7, à temperatura 0 K possuem banda de valência cheia de elétrons (e−) e os elétrons excedentes estão nos ńıveis dos doadores. Nesta configuração não existem buracos (b+) na banda de valência nem elétrons na banda de condução. Em temperatura finita, elétrons dos ńıveis doadores são excitados para a banda de condução. Adicionalmente, a banda de condução recebe elétrons vindos da banda de valência, desta maneira existem mais elétrons na banda de condução que buracos na banda de valência, portanto a contribuição dos elétrons (e−) é maior para que ocorra 17 Figura 2.7: Diagrama das bandas de energia para semicondutores extŕınsecos do tipo n. a condução e o material é chamado de semicondutor extŕınseco do tipo n, ou seja, a condução se dá, principalmente, pelas cargas negativas na banda de condução. A Figura 2.8 é uma representação bidimensional do cristal de Siĺıcio dopado com átomos de Boro, como a valência do Boro (3) é menor que a do Siĺıcio (4); então o Boro, neste caso, é impureza aceitadora. Figura 2.8: Representação bidimensional do cristal de Si dopado com B, que é um semi- condutor do tipo p. Adicionando 1 átomo de Boro para cada 105 átomos de Siĺıcio a condutividade é aumentada, aproximadamente, 1000 vezes em comparação com a condutividade do Siĺıcio com pureza extremamente elevada, à temperatura ambiente [17]. Material dopado com impurezas aceitadoras, conforme Figura 2.9, em temperatura 18 0 K possui banda de valência cheia de elétrons e nos ńıveis aceitadores estão as lacunas (L+). Figura 2.9: Diagrama das bandas de energia para semicondutores extŕınsecos do tipo p. Sob temperatura finita, elétrons da banda de valência são excitados para os buracos nos ńıveis dos aceitadores e cada elétron excitado gera um respectivo buraco na banda de valência. Adicionalmente, elétrons da banda de valência são excitados para a banda de condução e também deixam seus respectivos buracos. Assim os buracos na banda de valência estão em maior número do que os elétrons na banda de condução. Portanto a condução é gerada, em sua maior parte, pelos buracos e o semicondutor é denominado extŕınseco do tipo p, ou seja, a condução ocorre, principalmente, pelas cargas positivas na banda de valência. Por outro lado, costuma-se distinguir as impurezas rasas das profundas. Geralmente, classifica-se como rasa aquela impureza cujos ńıveis ficam próximos das bordas das bandas correspondentes, em comparação com a energia do gap fundamental do semicondutor. No entanto, há autores que chamam de rasas apenas as impurezas cujos estados são descritos apropriadamente pelo modelo do átomo de hidrogênio [18]. É posśıvel determinar experimentalmente se uma amostra do semicondutor extŕınseco é do tipo p ou n. Para isso é usado o efeito Hall. Antes de descrever o efeito Hall, é necessário compreender que um carga pontual se move em órbitas circulares na presença de um campo magnético uniforme perpendicular ao vetor da velocidade, Figura 2.10. Os campos magnéticos não realizam trabalho sobre as 19 part́ıculas e não afetam suas energias cinéticas, apenas modificam a direção da velocidade. Figura 2.10: Movimento de cargas pontuais com velocidade perpendicular ao campo magnético uniforme �B. Figura 2.11: Movimento dos portadores de carga em um campo magnético �B perpendi- cular a corrente elétrica. Assim, uma corrente elétrica numa lâmina na presença de campo magnético perpen- dicular à mesma, produz uma separação de cargas na direção perpendicular ao plano comum da corrente e o campo. Essa separação está associada ao estabelecimento de uma 20 voltagem transversal que compensa a ação do campo magnético, e caracteriza o efeito Hall. O esquema, Figura 2.11, mostra que conforme as cargas são desviadas pelo campo magnético, elas acumulam-se num dos lados da lâmina. Isso estabelece uma diferença de potencial na direção transversal, cujo campo elétrico tende a compensar o efeito do campo magnético. No equiĺıbrio, as forças magnética e elétrica compensam-se, e a voltagem transversal é a chamada voltagem de Hall. 2.4 Estados Localizados de Impurezas Doadoras Considere uma rede com átomos ligados de forma covalente com os vizinhos mais próximos. Se substituirmos um destes átomos que tenha valência n por um outro, de valência n + 1, resulta em um elétron e uma carga positiva a mais. Assim, o elétron excedente não é requerido para as ligações covalentes dos vizinhos mais próximos. Este elétron pode ser facilmente excitado para a banda de condução sem deixar buracos na banda de valência. Desta maneira, o átomo introduzido é uma chamado de impureza doadora. Assim, quando o elétron excedente é excitado a impureza doadora passa a ser chamada de ion doador. O potencial atrativo entre este elétron excedente e o ion doador não é igual ao de um átomo isolado. Para calcular o potencial Coulombiano efetivo entre o elétron excedente e o ion doador é necessário considerar as interações entre os átomos e elétrons, tanto da impureza doadora quanto dos vizinhos próximos. O resultado final, destas interações, pode ser descrito como um elétron excedente fracamente ligado ao ion doador dentro do material hospedeiro. Isso significa que o tamanho dos orbitais da impureza é muito maior que a separação média entre os átomos do material. Porém, por se tratar de interações de muitos corpos o cálculo torna-se muito complicado. Uma aproximação simples que evita este problema é assumir que a carga positiva do ion doador é dividida pela constante dielétrica ε do cristal hospedeiro. Em outras palavras, como o elétron excedente está distante do ion doador, a rede cristalina funciona como um meio homogêneo de constante dielétrica relativa ε. Com esta aproximação o potencial Coulombiano do ion doador pode ser expresso como ϕ(�r) = e 4πεrε0|�r| , (2.1) 21 onde ε é a constante dielétrica do material hospedeiro. Como o elétron excedente se move dentro do semicondutor, seu movimento é afe- tado pelo potencial cristalino, além do potencial da impureza (2.1). Assim a equação de Schrödinger para o elétron excedente é dado por [Ĥ0 + U(�r)]Ψ(�r) = EΨ(�r), (2.2) onde Ĥ0 é o hamiltoniano do cristal perfeito, U(�r) = −eϕ(�r) é a energia potencial do elétron excedente no potencial coulombiano ϕ(�r), e Ψ(�r) é a função de onda do elétron excedente. Assim o potencial perturbador se reduz ao de um átomo de Hidrogênio num meio com constante dielétrica relativa ε. Explicitando a energia cinética e os potenciais de interação na equação (2.2), obtemos[ − �2 2m0 ∇2 + V0(�r) + U(�r) ] Ψ(�r) = EΨ(�r), (2.3) em que V0(�r) é o potencial do cristal perfeito. Devido à complexidade desse potencial a equação (2.3) é dif́ıcil de ser resolvida. Em materiais como GaAs e InP o valor mı́nimo da banda de condução, E0, é não degenerado e ocorre no ponto Γ da zona de Brillouin. Além disso, para energias acima de E0 em menos que 0.1 eV a banda pode ser aproximada pela expressão Ec(�k) = E0 + �2k2 2m∗ , (2.4) isto é, a banda é essencialmente parabólica e isotrópica (a energia depende de |�k| e não da direção de �k). Aqui m∗ é a massa efetiva do elétron, que é inversamente proporcional à curvatura da banda no ponto Γ. Nesses casos os estados de impurezas doadoras costumam ser calculados a partir da equação [ − �2 2m∗ ∇2 − e2 4πεrε0r︸ ︷︷ ︸ U(�r) ] ψ(�r) = (E −E0)ψ(�r), (2.5) em que ψ(�r) é uma função suave na escala da rede cristalina. A função de onda do elétron é dada por Ψ(�r) = uΓ(�r)ψ(�r), em que uΓ(�r) é a parte periódica da função de Bloch para o ponto Γ. Portanto, ψ(�r) é chamada de função envolvente. A equação (2.5) é chamada de Equação de Massa Efetiva para impurezas hidro- genóides. Essa equação pode ser obtida utilizando-se uma expansão de Ψ(�r) na base de funções de Wannier [18] ou de funções de Bloch [19]. 22 A equação (2.5) é equivalente à equação do movimento relativo, (3.17), e suas soluções podem ser obtidas de maneira análoga àquela do átomo de hidrogênio, conforme Caṕıtulo 3. Assim, as energias têm a forma da equação (3.40), e são dadas por E − E0 = −Ry ∗ n2 , (2.6) onde n = 1, 2, 3, ... é o número quântico principal e Ry∗ é a constante de Rydberg efetiva dada por Ry∗ = ( m∗ m0 )( 1 εr2 )( e2m0 8πε20� 2 ) ︸ ︷︷ ︸ Ry , (2.7) Assim, o raio Bohr efetivo a∗ torna-se a∗ = (εrm0 m∗ )(4πε20�2 m0e2 ) ︸ ︷︷ ︸ a0 . (2.8) As soluções para o átomo de hidrogênio foram calculadas de maneira adimensional. Por- tanto, para calcular a energia em semicondutores como GaAs e InP, basta multiplicar as energias adimensionais por Ry∗. Os valores de massa efetiva, permitividade elétrica, raio de Bohr efetivo, Rydberg efetivo e energia do gap fundamental de InP, GaAs e InAs encontram-se na Tabela 2.1 [17]. Material m∗/m0 εr a∗ (Å) Ry∗ (meV) Eg(eV) - 300K InP 0.073 12.37 89.6702 6.49089 1.27 GaAs 0.067 13.13 103.703 5.28769 1.43 InAs 0.026 14.55 296.136 1.67097 0.36 Tabela 2.1: Massa efetiva (m∗), permitividade elétrica (εr), raio de Bohr efetivo (a∗), Rydberg efetivo (Ry∗) e energia do gap fundamental em temperatura ambiente (Eg) de InP, GaAs e InAs. 23 2.5 Estados Localizados de Impurezas Doadoras Ra- sas sob Campo Magnético Na presença de campo magnético uniforme, o hamiltoniano tem a forma daquele na equação (2.5), porém o operador �∇ é substitúıdo por (−i��∇ + e �A) [20], isto é, devemos resolver a equação[ − �2 2m∗ (−i��∇+ e �A)2 − e2 4πεrε0r︸ ︷︷ ︸ U(�r) ] ψ(�r) = (E −E0)ψ(�r). (2.9) O operador Hamiltoniano nessa equação tem a mesma forma que o do átomo de hidrogênio na presença de campo magnético, o qual será apresentado no Caṕıtulo 4. De fato, se expressarmos a energia E −E0 em unidades do Rydberg efetivo Ry∗ e a indução B do campo magnético em unidades do campo caracteŕıstico B∗ = �/[e (a∗)2], obtemos os valores adimensionais ε e γ que são calculados no Caṕıtulo 4. Caṕıtulo 3 Átomo de Hidrogênio sem Campo Magnético A Equação do Movimento Relativo descreve o movimento interno do átomo de Hi- drogênio, quando a única interação considerada entre o próton e o elétron é a Coulom- biana. Aqui será considerado o átomo neutro, no qual o elétron está ligado ao núcleo. Isto é, serão calculados apenas os estados localizados do elétron. O objetivo deste caṕıtulo é encontrar e resolver a Equação do Movimento Relativo. Antecipadamente, pode-se dizer que a equação procurada é[ − �2 2μ ∇2 r − k Ze2 r ] ψ(r) = Eψ(r), cujas soluções localizadas são escolhidas na forma ψ(r, θ, φ) = R(r)Y (θ, φ), composta de duas partes, uma radial R(r) e outra angular Y (θ, φ). As expressões dessas partes são: Ylm(θ, φ) = [ 2l + 1 4π (l − |m|)! (l + |m|)! ]1/2 P |m| l (cos(θ))eimφ, Rnl(r) = ( 2Z na0 )3/2√ (n− l − 1)! (n+ l)!2n ( 2Zr na0 )l e −Zr na0 L2l+1n−l−1 ( 2Zr na0 ) e a energia correspondente é En = −Ry n2 . Aqui, n, l e m são os números quânticos: principal, secundário e magnético; respectiva- mente. Os ı́ndices n, l e m; assumem valores que podem ser colocados em correspondência 24 25 com as camadas e sub-camadas da seguinte maneira: n = 1, 2, 3, . . . K, L,M, . . . l = 0, 1, 2, . . . , n− 1 s, p, d, . . . m = 0,±1,±2, . . . ,±l. Nas equações anteriores: k = 1 4πε0 , onde ε0 é a permitividade no vácuo; θ e φ va- riam entre [0, π] e [0, 2π], respectivamente; Ry (constante de Rydberg), a0 (Raio de Bohr), � (constante de Planck reduzida) e e (carga do elétron) são constantes; Z é o número atômico; μ é a Massa Reduzida; Pm l (x) são as funções associadas de Legendre (Apêndice A) e Lq p(x) os polinômios associados de Laguerre (Apêndice B). 3.1 Encontrando a Equação do Movimento Relativo Para encontrar a Equação do Movimento Relativo, considere o esquema da Figura 3.1, cm P2 P1 R � r � 0 r � 1 r � 2 Figura 3.1: Sistema de duas part́ıculas. onde: P1 = part́ıcula 1 com coordenadas (x1, y1, z1) e massa m1; P2 = part́ıcula 2 com coordenadas (x2, y2, z2) e massa m2; �r = �r2 − �r1, ou seja, (x, y, z) = (x2 − x1, y2 − y1, z2 − z1); r = |�r| = |�r2 − �r1|; e �R = m1�r1 +m2�r2 M , ou seja, (X, Y, Z) = ( m1x1 +m2x2 M , m1y1 +m2y2 M , m1z1 +m2z2 M ) , com M = m1 +m2. 26 É conveniente partir da Equação de Schrödinger independente do tempo:[ − �2 2m1 ∇2 1 − �2 2m2 ∇2 2 − k Ze2 r ] ϕ(�r1, �r2) = Eϕ(�r1, �r2), (3.1) onde ∇2 1 = ∂2 ∂x21 + ∂2 ∂y21 + ∂2 ∂z21 e ∇2 2 = ∂2 ∂x22 + ∂2 ∂y22 + ∂2 ∂z22 . Utilizando a regra da cadeia, cada componente do operador �∇1 = ( ∂ ∂x1 , ∂ ∂y1 , ∂ ∂z1 ) pode ser reescrito como: ∂ ∂x1 = ∂ ∂x ∂x ∂x1 + ∂ ∂X ∂X ∂x1 = − ∂ ∂x + m1 M ∂ ∂X , (3.2) ∂ ∂y1 = ∂ ∂y ∂y ∂y1 + ∂ ∂Y ∂Y ∂y1 = − ∂ ∂y + m1 M ∂ ∂Y (3.3) e ∂ ∂z1 = ∂ ∂z ∂z ∂z1 + ∂ ∂Z ∂Z ∂z1 = − ∂ ∂z + m1 M ∂ ∂Z . (3.4) Os quadrados desses operadores são, respectivamente ∂2 ∂x21 = ( − ∂ ∂x + m1 M ∂ ∂X )2 = ∂2 ∂x2 + (m1 M )2 ∂2 ∂X2 − 2m1 M ∂ ∂x ∂ ∂X , (3.5) ∂2 ∂y21 = ( − ∂ ∂y + m1 M ∂ ∂Y )2 = ∂2 ∂y2 + (m1 M )2 ∂2 ∂Y 2 − 2m1 M ∂ ∂y ∂ ∂Y (3.6) e ∂2 ∂z21 = ( − ∂ ∂z + m1 M ∂ ∂Z )2 = ∂2 ∂z2 + (m1 M )2 ∂2 ∂Z2 − 2m1 M ∂ ∂z ∂ ∂Z . (3.7) O mesmo pode ser feito para o operador �∇2 = ( ∂ ∂x2 , ∂ ∂y2 , ∂ ∂z2 ) da part́ıcula 2, resultando em ∂2 ∂x22 = ∂2 ∂x2 + (m2 M )2 ∂2 ∂X2 + 2m2 M ∂ ∂x ∂ ∂X , (3.8) ∂2 ∂y22 = ∂2 ∂y2 + (m2 M )2 ∂2 ∂Y 2 + 2m2 M ∂ ∂y ∂ ∂Y (3.9) e ∂2 ∂z22 = ∂2 ∂z2 + (m2 M )2 ∂2 ∂Z2 + 2m2 M ∂ ∂z ∂ ∂Z . (3.10) A equação de Schrödinger (3.1) pode ser reescrita da seguinte forma{ −�2 2 [ 1 m1 ∇2 1 + 1 m2 ∇2 2 ] − k Ze2 r } ϕ(�r1, �r2) = Eϕ(�r1, �r2). (3.11) A parte sublinhada da equação (3.11) torna-se − �2 2 ⎡ ⎢⎢⎣ ( 1 m1 ∂2 ∂x21 + 1 m2 ∂2 ∂x22 ) ︸ ︷︷ ︸ A + ( 1 m1 ∂2 ∂y21 + 1 m2 ∂2 ∂y22 ) ︸ ︷︷ ︸ B + ( 1 m1 ∂2 ∂z21 + 1 m2 ∂2 ∂z22 ) ︸ ︷︷ ︸ C ⎤ ⎥⎥⎦ . (3.12) 27 Substituindo da equação (3.5) até (3.10) nos termos A, B e C da equação (3.12), tem-se A = ( 1 m1 ∂2 ∂x21 + 1 m2 ∂2 ∂x22 ) = 1 m1 [ ∂2 ∂x2 + (m1 M )2 ∂2 ∂X2 − 2m1 M ∂ ∂x ∂ ∂X ] + + 1 m2 [ ∂2 ∂x2 + (m2 M )2 ∂2 ∂X2 + 2m2 M ∂ ∂x ∂ ∂X ] = ( 1 m1 + 1 m2 ) ∂2 ∂x2 + [ m2 1 m1(M)2 + m2 2 m2(M)2 ] ∂2 ∂X2 = ( 1 m1 + 1 m2 ) ∂2 ∂x2 + ( 1 M ) ∂2 ∂X2 = 1 μ ∂2 ∂x2 + 1 M ∂2 ∂X2 . Analogamente, B = 1 μ ∂2 ∂y2 + 1 M ∂2 ∂Y 2 e C = 1 μ ∂2 ∂z2 + 1 M ∂2 ∂Z2 , onde μ = m1m2 M é denominado Massa Reduzida do sistema. Substituindo os valores para A, B e C tem-se[ −�2 2 1 μ ( ∂2 ∂x2 + ∂2 ∂y2 + ∂2 ∂z2 ) −�2 2 1 M ( ∂2 ∂X2 + ∂2 ∂Y 2 + ∂2 ∂Z2 ) − k Ze2 r ] ϕ(�r, �R) = Eϕ(�r, �R). (3.13) Assim, a equação de Schrödinger (3.1) assume a seguinte forma[ −�2 2 1 μ ∇2 r − �2 2 1 M ∇2 R − k Ze2 r ] ϕ(�r, �R) = Eϕ(�r, �R). (3.14) Objetivando uma separação de variáveis, define-se ϕ(�r, �R) = ψ(�r)Ψ(�R). Aplicando os operadores ∇2 r e ∇2 R em ambos os lados da igualdade anterior tem-se ∇2 rϕ(�r, �R) = Ψ(�R)∇2 rψ(�r) e ∇2 Rϕ(�r, �R) = ψ(�r)∇2 RΨ(�R). Desta maneira, a equação (3.14) pode ser reescrita como − �2 2μ ∇2 rψ(�r)Ψ( �R)− �2 2M ψ(�r)∇2 RΨ( �R)− k Ze2 r ψ(�r)Ψ(�R) = Eψ(�r)Ψ(�R). (3.15) 28 Dividindo a equação (3.15) por ψ(�r)Ψ(�R) obtém-se − �2 2μ 1 ψ(�r) ∇2 rψ(�r)− �2 2M 1 Ψ(�R) ∇2 RΨ( �R)− k Ze2 r = E . (3.16) Usando o processo de separação de variáveis, iguala-se os termos que dependem de r e R a uma constante gerando duas equações[ − �2 2μ ∇2 r − k Ze2 r ] ψ(�r) = Eψ(�r) (3.17) e �2 2M ∇2 RΨ(�R) = (E − E)Ψ(�R). (3.18) A equação (3.18) representa a equação de Schrödinger para um part́ıcula de massa M = m1 + m2 localizada no centro de massa do sistema (cm), deslocando livremente no espaço. Suas auto-funções Ψ(�R) podem ser escolhidas como ondas planas. Sua auto- energia E − E pode ser qualquer valor positivo, portanto, tem espectro cont́ınuo. Já a equação (3.17) é a denominada Equação do Movimento Relativo. A equação (3.17) pode ser transformada em coordenadas esféricas, então (x, y, z) será transformado em (r, θ, φ), conforme o esquema da Figura 3.2. Figura 3.2: Representação dos ângulos polar θ e azimutal φ. Visando a separação das variáveis é conveniente fazer ψ(r) = R(r)Y (θ, φ). Assim os termos que dependem de (r) e (θ, φ) são igualados à constante λ e multiplicados por 2μ �2 1 R(r)Y (θ,φ) . Desta maneira, a equação (3.17) é dividida em duas partes: 1 r2 ∂ ∂r [ r2 ∂ ∂r R(r) ] + [ 2μ �2 ( E + k Ze2 r ) − λ r2 ] R(r) = 0 (3.19) 29 e − [ 1 sen(θ) ∂ ∂θ ( sen(θ) ∂ ∂θ ) + 1 sen2(θ) ∂2 ∂φ2 ] Y (θ, φ) = λY (θ, φ). (3.20) As equações (3.19) e (3.20) são conhecidas como parte radial e angular da equação do Movimento Relativo, respectivamente. 3.2 Resolução da Parte Angular Para resolver a equação (3.20) da parte angular do Movimento Relativo, é conveniente fazer a seguinte separação de variáveis Y (θ, φ) = Θ(θ)Φ(φ). (3.21) Com esta substituição tem-se ∂ ∂θ Y (θ, φ) = d dθ Θ(θ)Φ(φ) e ∂2 ∂φ2Y (θ, φ) = d2 dφ2Φ(φ). Com isso a equação (3.20) passa a ser escrita como − 1 sen(θ) d dθ [ sen(θ) d dθ Θ(θ)Φ(φ) ] − 1 sen2(θ) Θ(θ) d2 dφ2 Φ(φ) = λΘ(θ)Φ(φ). (3.22) Multiplicando essa equação por sen2(θ) e dividindo pela função produto Θ(θ)Φ(φ) encontra-se sen(θ) Θ(θ) d dθ [ sen(θ) d dθ Θ(θ) ] + λ sen2(θ) = − 1 Φ(φ) d2 dφ2 Φ(φ). (3.23) O lado esquerdo da equação (3.23) depende apenas da variável θ e o lado direito apenas da variável φ. Ambos lados devem ser igual uma constante, designada por m2. Isso permite escrever d2 dθ2 Φ(φ) +m2Φ(φ) = 0 (3.24) e sen(θ) d dθ [ sen(θ) d dθ Θ(θ) ] + λ sen2(θ)Θ(θ)−m2Θ(θ) = 0. (3.25) As soluções de (3.24), na forma normalizada, podem ser escolhidas na forma Φm(φ) = 1√ 2π e±imφ, (3.26) com m = 0,±1,±2, . . .. A restrição do valor de m é conseqüência de que Φ(0) = Φ(2π), assim eim0 = eim2π, ou seja, 1 = cos(m2π) + i sen(m2π). 30 Esta igualdade é satisfeita somente quando m for inteiro. Para resolver a equação (3.25) é conveniente fazer a seguinte mudança de variável x = cos(θ). (3.27) Assim, a equação toma a forma: d dx {( 1− x2 ) dΦ(x) dx } + { λ− m2 1− x2 } Φ(x) = 0. (3.28) Conforme o Apêndice A, as soluções normalizadas da equação (3.28), que são conhe- cidas como Funções Associadas de Legendre, são dadas por Θlm(θ) = [ 2l + 1 2 (l − |m|)! (l + |m|)! ]1/2 P |m| l (cos(θ)), (3.29) em que |m| ≤ l. Substituindo as equação (3.26) e (3.29) em (3.21) obtemos a solução da equação da parte angular do Movimento Relativo conhecida como forma mecano-quântica dos Harmônicos Esféricos [21], ou seja, Ylm(θ, φ) = [ 2l + 1 4π (l − |m|)! (l + |m|)! ]1/2 P |m| l (cos(θ))eimφ, (3.30) com m = 0,± 1,±2, . . . e |m| ≤ l. 3.3 Resolução da Parte Radial e Espectro de Energia A equação da parte radial do Movimento Relativo (3.19), já com o valor de λ deter- minado, assume a forma 1 r2 d dr [ r2 d dr R(r) ] + [ k 2μZe2 �2r + 2μE �2 − l(l + 1) r2 ] R(r) = 0. (3.31) Mudando a variável r por ρ 2β , onde β2 = −2μE �2 , com R(r) = S(ρ) e definindo δ = k μZe2 β�2 , (3.32) a equação (3.31) pode ser escrita como d2 dρ2 S(ρ) + 2 ρ d dρ S(ρ) + [ δ ρ − 1 4 − l(l + 1) ρ2 ] S(ρ) = 0. (3.33) Para um ρ pequeno e l �= 0, a equação (3.33) torna-se d2 dρ2 S(ρ) + 2 ρ d dρ S(ρ) + [ − l(l + 1) ρ2 ] S(ρ) = 0, (3.34) 31 cuja solução é do tipo Aρ−(l+1) + Bρl. Porém, para que a função de onda satisfaça o requisito f́ısico de ser limitada, A deve ser zero, então a solução necessariamente tem que ser proporcional a ρl [22], portanto S(ρ) ∼ ρl. (3.35) Procurando encontrar uma solução para o comportamento assintótico de S(ρ), na condição em que ρ→∞ a equação (3.33) torna-se d2 dρ2 S(ρ)− 1 4 S(ρ) = 0. (3.36) A solução da equação (3.36) é do tipo S(ρ) = Ce− ρ 2 +De ρ 2 . Novamente, para satisfazer o requisito f́ısico de ser limitada, escolhe-se D = 0. Assim a solução fica na forma: S(ρ) ∼ e− ρ 2 . (3.37) Portanto, a solução para (3.33) é a função produto de (3.36) com (3.37) resultando em S(ρ) = ρle− ρ 2L(ρ). (3.38) Substituindo a equação anterior em (3.33) obtém-se ρ d2 dρ2 L(ρ) + [2l + 1︸ ︷︷ ︸ ν +1− ρ] d dρ L(ρ) + [δ − (l + 1)︸ ︷︷ ︸ λ ]L(ρ) = 0. (3.39) A solução L(ρ) pode ser expressa pela série ∑∞ i=0 λiρ i. Para que esta série não divirja, quando ρ → ∞, os coeficientes multiplicativos da série devem ser anulados quando i alcançar n− l− 1 iterações, para isso δ = n = 1, 2, 3, . . . garantindo a convergência. Com isso a equação (3.39) torna-se um caso particular da Equação de Laguerre Associada (B.4) com ν = 2l + 1 e λ = n − l − 1 cuja solução são os Polinômios Associados de Laguerre, portanto L(ρ) = Ln−l−1 2l+1 (ρ) (Apêndice B). Como n = 1, 2, 3, . . ., a equação (3.32) que representa o espectro de energia assume valores discretos expressos por: En = −k 2μZ2e4 2�2n2 = −kZ 2e2 2a0n2 = −Ry n2 , (3.40) em que a0 = � 2 kμe2 ≈ 5.29 × 10−11 m que é conhecido com Raio de Bohr e representa o menor raio para a órbita de um elétron em torno do núcleo e Ry = k2e4μ 2�2 ≈ 13.6 eV é a constante de Rydberg . 32 Para finalizar, basta calcular o Nlm que normalizará a parte radial no intervalo [0,∞], lembrando que ρ2dρ = ( 2Z na0 )3 r2dr assim ∫ ∞ 0 [Rnl(r)] 2r2dr = 1, ∫ ∞ 0 (Nlm) 2 ( 2Z na0 )−3 e−ρ(ρl)2[Ln−l−1 2l+1 (ρ)]2ρ2dρ = 1, e (Nnl) 2 ( 2Z na0 )−3 ∫ ∞ 0 e−ρρ k︷ ︸︸ ︷ 2l + 1+1[L2l+1n−l−1(x)] 2dρ = 1. Para resolver a integral acima, basta substituir k = 2l + 1 e p = n − l − 1 na equação (B.6), resultando em Nnl = ( 2Z na0 ) 3 2 √ (n− l − 1)! (l + n)!2n . (3.41) Desta maneira a solução já normalizada da parte radial é expressa por Rnl(r) = ( 2Z na0 )3/2√ (n− l − 1)! (n+ l)!2n ( 2Zr na0 )l e −Zr na0 L2l+1n−l−1 ( 2Zr na0 ) . (3.42) 3.4 Representação Gráfica de orbitais do Átomo de Hidrogênio Nas seções anteriores deste caṕıtulo foram calculadas as funções de onda localizadas para elétron no átomo de Hidrogênio, as quais são expressas por ψnlm(r, θ, φ). Essas funções são os orbitais atômicos. Neta seção, os orbitais são representados graficamente na forma de superf́ıcies de ńıvel da densidade de probabilidade |ψ|2, as quais são chamadas de superf́ıcies iso-probabiĺısticas. Cada um dos ńıveis é convenientemente expressado como porcentagem do valor máximo de |ψ|2 para o orbital em questão. É importante levar em conta que a função de onda ψ toma, em geral, valores complexos. Portanto, as superf́ıcies iso-probabiĺısticas não contém toda a informação sobre ψ. Uma forma de completar a informação no gráfico é colorir a superf́ıcie de modo que cada cor esteja em correspondência com um valor do argumento do número complexo ψ. A situação fica mais simples quando a função de onda é real. Nesse caso, são necessárias apenas duas 33 cores: uma para os valores positivos e outra para os negativos. Neste documento os valores positivos (negativos) são representados em azul (vermelho). Dentre os orbitais atômicos calculados, somente aqueles com m = 0 são funções reais. Essas funções têm a forma: ψnl0(r, θ, φ) = Rnl(r) Θl0(θ)√ 2π . (3.43) Por exemplo, o orbital 1s é uma função positiva, e sua superf́ıcie iso-probabiĺıstica é re- presentada em azul. Por outro lado, para m �= 0, a função ψn,l,m é complexa, e ψn,l,−m é solução das mesmas equações diferenciais que ψn,l,m, com os mesmos autovalores. Por- tanto, as combinações lineares ψ+n,l,m(r, θ, φ) = ψn,l,m(r, θ, φ) + ψn,l,−m(r, θ, φ)√ 2 = Rnl(r)Θlm(θ) cos(mφ)√ π (3.44) e ψ−nlm(r, θ, φ) = ψn,l,m(r, θ, φ)− ψn,l,−m(r, θ, φ) i √ 2 = Rnl(r)Θlm(θ) sen(mφ)√ π , (3.45) que são funções reais, também são orbitais atômicos para os números quânticos n, l, m. Note-se que o fator √ 2 nos denominadores é necessário para garantir que as funções continuem normalizadas. Nas Figuras 3.3 até 3.18, as coordenadas estão em unidades do raio de Bohr a0. Os pontos que remetem a valores positivos (negativos) de ψ±nlm são azuis (vermelhos). Estas superf́ıcies são chamadas de iso-probabiĺısticas, ou seja, nelas a densidade de probabilidade é constante [23]. Para facilitar a visualização, cada gráfico inclui as projeções da superf́ıcie nos três planos de coordenadas. Observa-se que quanto maior a porcentagem do valor máximo global menor será o volume que a superf́ıcie delimita, ou seja, os gráficos da esquerda possuem maior volume que os do lado direito. As superf́ıcies representadas nas Figuras 3.3 até 3.11 foram comparadas com as figuras 1.9, 1.10 e 1.11 do livro de Sutton [24], encontrando excelente acordo qualitativo. 34 Z Y X Figura 3.3: Orbital 1s, superf́ıcies de ńıvel de |ψ100|2 com 10 e 20 % do valor máximo, respectivamente Z Y X Figura 3.4: Orbital 2pz, superf́ıcies de ńıvel de |ψ210|2 com 10 e 50 % do valor máximo, respectivamente 35 Z Y X Figura 3.5: Orbital 2px, superf́ıcies de ńıvel de |ψ+211|2 com 10 e 50 % do valor máximo, respectivamente Z Y X Figura 3.6: Orbital 2py, superf́ıcies de ńıvel de |ψ−211|2 com 10 e 50 % do valor máximo, respectivamente 36 Z Y X Figura 3.7: Orbital 3dz2, superf́ıcies de ńıvel de |ψ320|2 com 10, 20 e 50 % do valor máximo, respectivamente Z Y X Figura 3.8: Orbital 3dxz, superf́ıcies de ńıvel de |ψ+321|2 com 10 e 50 % do valor máximo, respectivamente 37 Z Y X Figura 3.9: Orbital 3dyz, superf́ıcies de ńıvel de |ψ−321|2 com 10 e 50 % do valor máximo, respectivamente Z Y X Figura 3.10: Orbital 3dx2−y2 , superf́ıcies de ńıvel de |ψ+322|2 com 10 e 50 % do valor máximo, respectivamente 38 Z Y X Figura 3.11: Orbital 3dxy, superf́ıcies de ńıvel de |ψ−322|2 com 10 e 50 % do valor máximo, respectivamente Z Y X Figura 3.12: Orbital 4fz3 , superf́ıcies de ńıvel de |ψ430|2 com 10, 15 e 50 % do valor máximo, respectivamente 39 Z Y X Figura 3.13: Orbital 4fx3, superf́ıcies de ńıvel de |ψ+431|2 com 10 e 50 % do valor máximo, respectivamente Z Y X Figura 3.14: Orbital 4fy3 , superf́ıcies de ńıvel de |ψ−431|2 com 10 e 50 % do valor máximo, respectivamente 40 Z Y X Figura 3.15: Orbital 4fz(x2−y2), superf́ıcies de ńıvel de |ψ+432|2 com 10 e 50 % do valor máximo, respectivamente Z Y X Figura 3.16: Orbital 4fxyz, superf́ıcies de ńıvel de |ψ−432|2 com 10 e 50 % do valor máximo, respectivamente 41 Z Y X Figura 3.17: Orbital 4fx(x2−y2), superf́ıcies de ńıvel de |ψ+433|2 com 10 e 50 % do valor máximo, respectivamente Z Y X Figura 3.18: Orbital 4fy(x2−y2), superf́ıcies de ńıvel de |ψ−433|2 com 10 e 50 % do valor máximo, respectivamente Caṕıtulo 4 Átomo de Hidrogênio com Campo Magnético 4.1 A Equação Schrödinger com Campo Magnético No Caṕıtulo 3 foi apresentado o Hamiltoniano Ĥ para um elétron que interage com uma carga +e, na ausência de campo magnético. Esse operador tem a forma: Ĥ = 1 2m0 ( −i��∇ )2 − e2 4πε0 |�r| , (4.1) ondem0 é a massa do elétron; �, a constante de Planck dividida por 2π; e, o valor absoluto da carga do elétron; ε0, a permitividade elétrica do vazio; e �r localiza o elétron desde o núcleo. Na presença de campo magnético o momentum −i��∇ de uma part́ıcula com carga q é substitúıdo por (−i��∇− q �A), onde �A é o potencial vetor do campo magnético. No caso do átomo de hidrogênio, q = −e. Portanto, o Hamiltoniano torna-se Ĥ = 1 2m0 ( −i��∇ + e �A )2 − e2 4πε0 |�r| , (4.2) em que �A e o vetor indução do campo magnético �B satisfazem a seguinte relação: �B = �∇× �A. (4.3) Portanto, qualquer que seja a função ϕ(�r), os potenciais �A e �A + �∇ϕ descrevem o mesmo campo magnético. Assim, �A pode ser escolhido de diversas formas e cada uma delas é um calibre (gauge) do campo. Para preservar a simetria rotacional, é conveniente 42 43 utilizar o gauge simétrico [25], expresso por �A = �B × �r 2 . (4.4) Existem outras maneiras de calibrar o campo, tais como o gauge de Landau [25]. Figura 4.1: Coordenadas esféricas (r, θ, φ) para o átomo de hidrogênio sob campo magnético na direção do eixo z. Conforme a Figura 4.1, suponha-se que o campo magnético �B esteja na direção do eixo z, então �B = B�ez. Com esta configuração �A = 1 2 ∣∣∣∣∣∣∣∣∣ �i �j �k 0 0 B x y z ∣∣∣∣∣∣∣∣∣ = B 2 (−y, x, 0) = (Ax, Ay, Az). (4.5) No gauge simétrico o campo vetorial possui divergência nula, ou seja, é um campo sole- noidal [26], assim �∇ · �A = ∂Ax ∂x + ∂Ay ∂y + ∂Az ∂z = 0. (4.6) Utilizando a regra da derivada do produto e a equação (4.6) obtém-se �∇ · ( �Aψ) = ψ�∇ · �A+ �A · �∇ψ = �A · �∇ψ. (4.7) Desta maneira, com as equações (4.5) e (4.7), o termo (−i��∇ + e �A)2ψ torna-se (−i��∇ + e �A)2ψ = (−i��∇+ e �A) · [(−i��∇+ e �A)ψ] = −�2∇2ψ − i�e �∇ · ( �Aψ)︸ ︷︷ ︸ �A·�∇ψ −i�e �A · �∇ψ + e2A2ψ 44 = −�2∇2ψ − 2i�e �A · �∇ψ + e2A2ψ = −�2∇2ψ − i�eB(−y, x, 0) · ( ∂ψ ∂x , ∂ψ ∂y , ∂ψ ∂z ) + e2B2 4 (x2 + y2)ψ = −�2∇2ψ − i�eB ( −y∂ψ ∂x + x ∂ψ ∂y ) + e2B2 4 (x2 + y2)ψ. (4.8) Mudando as variáveis de coordenadas retangulares para esféricas (ver Figura 4.1) a equação (4.8) pode ser escrita como (−i��∇+ e �A)2ψ = ( −�2∇2 − i�eB ∂ ∂φ + e2B2 4 r2 sen2(θ) ) ψ. (4.9) Assim, a equação de Schrödinger, em coordenadas esféricas, para o átomo de Hi- drogênio com campo magnético, pode ser escrita como( − �2 2m0 ∇2 r,θ,φ − i�eB 2m0 ∂ ∂φ + e2B2 8m0 r2 sen2(θ)− e2 4πε0 r ) ψ(r, θ, φ) = Eψ(r, θ, φ). (4.10) Para trabalharmos com uma equação adimensional, a variável r da equação (4.10) é substitúıda por r = ρ a0, (4.11) em que a0 = 4πε0� 2/e2m0 é o raio de Bohr. Com esta substituição a equação (4.10) fica escrita como( − �2 2m0a20 ∇2 ρ,θ,φ − i�ωc 2 ∂ ∂φ + e2B2a20 8m0 ρ2 sen2(θ)− e2a0 4πε0 ρ ) Ψ(ρ, θ, φ) = EΨ(ρ, θ, φ), (4.12) onde ωc = eB m0 . (4.13) Numa abordagem Newtoniana, ωc é a freqüência com que o elétron executa trajetórias circulares num plano perpendicular ao vetor �B. Portanto, ωc é conhecido como freqüência ciclotrônica. O raio desta órbita (raio ciclotrônico) é dado por Rc = v ωc = √ 2m0E |eB| , (4.14) onde v é o módulo da velocidade e E = m0v2 2 a energia cinética do elétron. Como a força magnética é perpendicular à velocidade, v e E são constantes. Como o campo está aplicado na direção do eixo z, existe simetria de rotação em torno desse eixo. Isto é, a componente z do momentum angular está bem definida. Portanto a função ψ(ρ, θ, φ) pode ser substitúıda pelo produto Φm(φ)gm(ρ, θ), onde Φm(φ) é a 45 mesma função encontrada na solução para o átomo de hidrogênio sem campo magnético [ver equação (3.24)], escrita como Φm(φ) = 1√ 2π exp(imφ). (4.15) Quando os operadores −i ∂ ∂φ e ( −i ∂ ∂φ )2 atuam em Φm(φ) obtém-se − i ∂ ∂φ Φm(φ) = mΦm(φ) (4.16) e ( −i ∂ ∂φ )2 Φm(φ) = m2Φm(φ). (4.17) Novamente, para obtermos uma equação adimensional a variável E da equação (4.12) é substitúıda por E = εRy, (4.18) em que Ry = �2/(2m0a 2 0) é o Rydberg. Assim utilizando as equações (4.16) e (4.17) a função gm(ρ, θ) deve satisfazer a seguinte equação[ −∇2 ρ,θ + m2 ρ2 sen2(θ) +mγ + γ2 4 ρ2 sen2(θ)− 2 ρ − ε ] gm(ρ, θ) = 0, (4.19) onde ∇2 ρ,θ = 1 ρ2 ∂ ∂ρ ( ρ2 ∂ ∂ρ ) + 1 ρ2 sen(θ) ∂ ∂θ ( sen(θ) ∂ ∂θ ) = ∂2 ∂ρ2 + 2 ρ ∂ ∂ρ + 1 ρ2 ∂2 ∂θ2 + cot (θ) ρ2 sen(θ) ∂ ∂θ . (4.20) Definindo o campo caracteŕıstico B0 = �/(ea20), temos ε = E/Ry e γ = B/B0, que são medidas adimensionais da energia e da intensidade do campo magnético, respectivamente. É importante notar que B0 ≈ 2.3 × 105 T. Portanto, os campos magnéticos dispońıveis em laboratório (B < 100T), podem ser considerados fracos para o átomo de hidrogênio. 4.2 Domı́nio Computacional e Análise da Simetria Na Seção 4.1, foi visto que os estados eletrônicos em que a projeção do momento angular na direção de �B está bem definida, são escritos na forma Ψm(ρ, θ, φ) = 1√ 2π exp(imφ) gm(ρ, θ). (4.21) 46 Estamos interessados em estados localizados, assim gm(ρ, θ) deve satisfazer lim ρ→∞ gm(ρ, θ) = 0. (4.22) Então, no cálculo numérico é conveniente impor que gm(R, θ) = 0, (4.23) para um R suficientemente grande. Desta maneira, o domı́nio computacional para a variável ρ é reduzido para 0 ≤ ρ ≤ R. (4.24) Uma simplificação adicional é introduzida ao considerar a simetria do problema na variável θ em relação ao plano θ = π/2, que em coordenadas cartesianas corresponde ao plano xy. Considere o operador Ŝ de inversão em relação ao plano xy definido como: Ŝψ(x, y, z) = ψ(x, y,−z). (4.25) A equação de autovalores para o operador Ŝ tem a forma Ŝψ(x, y, z) = σψ(x, y, z). (4.26) Aplicando o operador novamente na equação (4.26), obtém-se o seguinte conjunto de equações equivalentes: Ŝ2ψ(x, y, z) = Ŝ(σψ(x, y, z)), (4.27a) Ŝψ(x, y,−z) = σ(σψ(x, y, z)), (4.27b) ψ(x, y, z) = σ2ψ(x, y, z), (4.27c) (σ2 − 1)ψ(x, y, z) = 0. (4.27d) Como ψ(x, y, z) não é identicamente nula, σ = ±1. Para σ = 1 tem-se ψ(x, y,−z) = ψ(x, y, z), (4.28) correspondendo às auto-funções simétricas.Para σ = −1 obtém-se ψ(x, y,−z) = −ψ(x, y, z), (4.29) que corresponde às auto-funções anti-simétricas. 47 Figura 4.2: Simetria em relação ao plano xy. O operador Ŝ em coordenadas esféricas substitui θ por π−θ, ou seja, (x, y, z) é levado em (x, y,−z), conforme a Figura 4.2. O operador Hamiltoniano da equação (4.12) comuta com Ŝ, portanto, eles tem um conjunto completo de auto-funções comuns [22]. Então, ao calcularmos as auto-funções de Ĥ , podemos tratar separadamente com funções pares e ı́mpares, ou seja, tais que gm(ρ, π − θ) = σgm(ρ, θ), (4.30) em que σ = 1 ou σ = −1. Para indicar a simetria de gm(ρ, θ), será utilizada a seguinte notação g (σ) m (ρ, θ). Assim, g (1) m (ρ, θ) corresponde às funções de onda simétricas, as quais obedecem ∂g (1) m ∂θ (ρ, π/2) = 0. (4.31) Por outro lado, g (−1) m (ρ, θ) corresponde às funções de onda anti-simétricas, que satisfazem g(−1)m (ρ, π/2) = 0. (4.32) Portanto, devido à simetria em relação ao plano θ = π/2, o domı́nio computacional para a variável θ é reduzido para 0 ≤ θ ≤ π/2. (4.33) 48 É conveniente notar que, na ausência de campo magnético, g(σ)m (ρ, θ) = Rn,l(ρ)Θl,m(θ), (4.34) em que Rn,l(ρ) e Θl,m(θ) são dadas pelas equações (3.42) e (3.29), respectivamente. Como Θl,m(θ) é proporcional a P |m| l (cos(θ)) e as funções associadas de Legendre têm a proprie- dade (A.8), obtemos Ŝg(σ)m (ρ, θ) = g(σ)m (ρ, π − θ) = (−1)l+|m|g(σ)m (ρ, θ). (4.35) Assim, o autovalor σ pode ser calculado a partir do número quântico magnético m e do número quântico secundário l, mediante a expressão σ = (−1)l−|m|. (4.36) 4.3 Condições de Fronteira A condição de fronteira para ρ = R é dada pela equação (4.23). Em θ = π/2, as condições são dadas pelas equações (4.31) e (4.32), para estados simétricos e anti- simétricos, respectivamente. As condições θ = 0 e ρ = 0 são apresentadas a seguir. 4.3.1 Condição de Fronteira θ = 0 A condição de fronteira θ = 0, corresponde aos pontos que estão na parte positiva do eixo z, conforme Figura 4.3. Quando θ = 0 as funções são Ψ(ρ, 0, φ) = g(±1)m (ρ, 0) exp(imφ)√ 2π , (4.37) onde o valor de Ψ(ρ, 0, φ) não deve se alterar ao variar φ, pois mudando o valor de φ o ponto (ρ, 0, φ) continua na mesma posição no espaço cartesiano (ver Figura 4.3 ). Quando m �= 0 a única maneira para que os valores Ψ(ρ, 0, φ) não se alterem ao variar φ é g(±1)m (ρ, 0) = 0. (4.38) Porém, quando m = 0 a função Ψ(ρ, 0, φ) naturalmente não se altera ao variar φ, pois Ψ(ρ, 0, φ) = g(±1)m (ρ, 0) 1√ 2π , (4.39) 49 Figura 4.3: Diagrama para obter a condição de fronteira em θ = 0. assim, é necessário usar um outro critério para estabelecer a condição de fronteira. Neste caso, será analisado o comportamento da taxa de variação de Ψ ao longo do caminho indicado na Figura 4.3, em relação ao comprimento de arco ρθ no ponto (ρ, 0, φ). A taxa de variação de Ψ ao chegar ao ponto deve coincidir com a taxa de variação ao sair. Isso é expressado pelas seguintes equações equivalentes: lim θ→0+ Ψ0(ρ, θ, π/2)−Ψ0(ρ, 0, π/2) ρθ = lim θ→0+ Ψ0(ρ, 0, 3π/2)−Ψ0(ρ, θ, 3π/2) ρθ ,(4.40a) 1√ 2π lim θ→0+ g (±1) 0 (ρ, θ)− g (±1) 0 (ρ, 0) ρθ = 1√ 2π lim θ→0+ g (±1) 0 (ρ, 0)− g (±1) 0 (ρ, θ) ρθ , (4.40b) ∂g (±1) 0 ∂θ (ρ, θ) = −∂g (±1) 0 ∂θ (ρ, θ), (4.40c) ou seja, ∂g (±1) 0 ∂θ (ρ, 0) = 0. (4.41) 4.3.2 Condição de Fronteira ρ = 0 Utilizando o mesmo racioćınio da fronteira θ = 0, observa-se que quando ρ = 0 a função de onda não depende de θ nem de φ, ou seja, variando θ e φ o ponto (0, θ, φ) continua no mesmo lugar no espaço cartesiano. Então, a função Ψ(0, θ, φ) não pode variar ao alterar os valores de θ e φ. No ponto (0, θ, φ) a função de onda Ψ é expressa por Ψ(0, θ, φ) = g(±1)m (0, θ) exp(imφ)√ 2π . (4.42) 50 Assim, quando m �= 0, a única maneira para que Ψ(0, θ, φ) não se altere ao variar φ é exigir que g(±1)m (0, θ) = 0. (4.43) Porém, quando m = 0 a função Ψ(0, θ, φ) naturalmente não se altera ao variar φ, pois Ψ(0, θ, φ) = g (±1) 0 (0, θ) 1√ 2π . (4.44) O mesmo não se pode falar ao variar θ na equação (4.44). Desta maneira, a variação de θ na equação (4.44) será analisada, separadamente, para o caso anti-simétrico e simétrico. No caso anti-simétrico, a condição de fronteira em θ = π/2 [ver equação (4.32)] esta- belece que g (−1) 0 (0, π/2) = 0, (4.45) ou seja, em θ = π/2 a condição de fronteira exige que a função g (−1) 0 (ρ, π/2) valha zero. Como Ψ(0, θ, φ) não pode ser alterada ao variar θ, então os demais pontos devem levar ao mesmo valor que em θ = π/2, assim g (−1) 0 (0, θ) = 0. (4.46) As equações (4.43) e (4.46), podem ser resumidas em uma única expressão, escrita como g(σ)m (0, θ) = 0. (4.47) Essa condição vale para m �= 0 ou σ = −1. Para obter a condição de fronteira para simétricos com m = 0, convém analisar a equação (4.19). Como m = 0, a equação (4.19) torna-se( −∇2 ρ,θ + γ2 4 ρ2 sen2(θ)− 2 ρ − ε ) g (1) 0 (ρ, θ) = 0. (4.48) Integrando numa bola T de raio δ centrada na origem, conforme Figura 4.4, obtém-se a︷ ︸︸ ︷∫ ∫ ∫ T ∇2 ρ,θ g (1) 0 (ρ, θ)dV = b︷ ︸︸ ︷∫ ∫ ∫ T ( γ2 4 ρ2 sen2(θ)− 2 ρ − ε ) g (1) 0 (ρ, θ)dV , (4.49) onde dV = ρ2 sen(θ) dρ dθ dφ é um infinitésimo de volume. Pelo Teorema de Gauss (da divergência) [27], a parte a equação (4.49) é convertida em uma integral de superf́ıcie, da seguinte maneira a = ∫ ∫ ∫ T ∇2 ρ,θ g (1) 0 (ρ, θ)dV = ∫ ∫ ∫ T �∇ · (�∇g(1)0 (ρ, θ))dV = ∫∫ S �∇g(1)0 (ρ, θ) · �dS. (4.50) 51 Figura 4.4: Diagrama para obter a condição de fronteira em ρ = 0. onde �dS = �n · dS é um infinitésimo de área da superf́ıcie S, dS = δ2 sen(θ) dθ dφ. Além disso, �n é o vetor unitário perpendicular a S e orientado para fora de T . Portanto, �n tem direção radial e obtemos a = ∫∫ S ∂g (1) 0 ∂ρ (ρ, θ)dS = 2πδ2 ∫ π 0 ∂g (1) 0 ∂ρ (δ, θ) sen(θ)dθ, (4.51) Para estados simétricos, a equação (4.51) pode ser expressa por a = 4πδ2 ∫ π 2 0 ∂g (1) 0 ∂ρ (δ, θ) sen(θ)dθ. (4.52) Na parte b da equação (4.49) substitui-se dV = ρ2 sen(θ) dρ dθ dφ e integra-se de 0 a 2π em dφ, resultando em b = 2π ∫ π 0 ∫ δ 0 ( γ2 4 ρ2 sen2(θ)− 2 ρ − ε ) g (1) 0 (ρ, θ)ρ2 sen(θ) dρ dθ. (4.53) Devido à simetria em relação a θ, a equação (4.53) torna-se b = 4π ∫ δ 0 ( γ2 4 ρ4q3(ρ)− 2ρq1(ρ)− ερ2q1(ρ) ) dρ, (4.54) em que qn(ρ) = ∫ π 2 0 g (1) 0 (ρ, θ) senn(θ)dθ. (4.55) Assim, com as equações (4.52) e (4.54), a equação (4.49) pode ser escrita como ∫ π 2 0 ∂g (1) 0 ∂ρ (δ, θ) sen(θ)dθ = 1 δ2 ∫ δ 0 ( γ2 4 ρ4q3(ρ)− 2ρq1(ρ)− ερ2q1(ρ) ) dρ. (4.56) 52 Como estamos procurando a condição de fronteira em ρ = 0, tomaremos o limite do lado direito da equação (4.56) para δ → 0+. Utilizando a regra de L‘ Hospital, obtém-se lim δ→0+ γ2 4 δ4q3(δ)− 2δq1(δ)− εδ2q1(δ) 2δ = lim δ→0+ γ2 8 δ3q3(δ)− q1(δ)− ε 2 δq1(δ) = −q1(0). (4.57) Portanto, ∫ π 2 0 ∂g (1) 0 ∂ρ (0, θ) sen(θ)dθ = −q1(0) = − ∫ π 2 0 g (1) 0 (0, θ) sen(θ)dθ, (4.58) Finalmente, da equação (4.58) obtém-se a condição de fronteira em ρ = 0, para o caso simétrico com m = 0, dada por g (1) 0 (0, θ) = − ∫ π/2 0 ∂g (1) 0 ∂ρ (0, θ) sen(θ)dθ. (4.59) 4.3.3 Resumo das Condições de Fronteira As condições de fronteiras estão resumidas na Tabela 4.1. m σ ρ = R θ = π/2 θ = 0 ρ = 0 0 1 Eq. (4.23) Eq. (4.31) Eq. (4.41) Eq. (4.59) 0 -1 Eq. (4.23) Eq. (4.32) Eq. (4.41) Eq. (4.47) �= 0 1 Eq. (4.23) Eq. (4.31) Eq. (4.38) Eq. (4.47) �= 0 -1 Eq. (4.23) Eq. (4.32) Eq. (4.38) Eq. (4.47) Tabela 4.1: Condições de fronteira. Caṕıtulo 5 Resolução do Átomo H com Campo Magnético por Diferenças Finitas 5.1 A malha Conforme as inequações (4.24) e (4.33), que restringem os valores para as variáveis ρ e θ, é gerada uma malha retangular e uniforme no domı́nio computacional [0, R]× [0, π/2], como mostra a Figura 5.1. Figura 5.1: Malha retangular. 53 54 Na direção de ρ são usadosM+2 pontos, de modo que o comprimento dos subintervalos é h = R M + 1 , (5.1) enquanto que na direção θ usa-se N + 2 pontos, com espaçamento k = π 2N + 2 . (5.2) Os nós da malha são os pontos (ρi, θj), com ρi = (i− 1)h (5.3) e θj = (j − 1)k, (5.4) em que i e j são inteiros tais que 1 ≤ i ≤M + 2 e 1 ≤ j ≤ N + 2. Para os nós interiores, 2 ≤ i ≤ M + 1 e 2 ≤ j ≤ N + 1, enquanto para os nós na fronteira, i = 1, i = M + 2, j = 1 ou j = N + 2. Os valores de gm(ρ, θ) nos nós são denotados por Gi,j = g(ρi, θj). (5.5) 5.2 Aproximações das derivadas parciais A Figura 5.2 mostra os vizinhos mais próximos de um dado (ρi, θj), na direção ρ, bem como seus respectivos valores. Figura 5.2: Os pontos que são vizinhos mais próximos de um dado (ρi, θj), na direção ρ. 55 Como os pontos estão alinhados na direção ρ, para análise das derivadas, a componente θj pode ser ocultada. Então, considere a expansão da série de Taylor [28], para g(ρi+1) em torno de um ponto ρi, que é dada por: g(ρi+1) = g(ρi) + h dg dρ (ρi) + h2 2! d2g dρ2 (ρi) + . . . + hq q! dqg dρq (ρi) + hq+1 (q + 1)! dq+1g dρq+1 (ξ+), (5.6) onde ρi < ξ+ < ρi+1. Considere, também, a mesma expansão da série de Taylor, para g(ρi−1) em torno de um ponto ρi, que é escrita como g(ρi+1) = g(ρi)− h dg dρ (ρi) + h2 2! d2g dρ2 (ρi) + . . . + (−h)q q! dqg dρq (ρi) + (−h)q+1 (q + 1)! dq+1g dρq+1 (ξ−), (5.7) onde ρi−1 < ξ− < ρi. Além disso, os últimos termos das equações (5.6) e (5.7) são chamados de erro de truncamento local [29]. Fazendo q = 2 nas equações (5.6) e (5.7), obtém-se g(ρi+1) = g(ρi) + h dg dρ (ρi) + h2 2! d2g dρ2 (ρi) + h3 3! d3g dρ3 (ξ+), (5.8) e g(ρi−1) = g(ρi)− h dg dρ (ρi) + h2 2! d2g dρ2 (ρi)− h3 3! d3g dρ3 (ξ−). (5.9) Com a diferença entre as equações (5.8) e (5.9), ou seja, g(ρi+1)− g(ρi−1), temos que g(ρi+1)− g(ρi−1) = 2h dg dρ (ρi) + 2h3 3! d3g dρ3 (ξi), (5.10) com ξ− ≤ ξ ≤ ξ+ e, portanto, ρi−1 < ξ < ρi+1. Isolando o termo dg dρ (ρi) da equação (5.10), obtém-se a fórmula centrada [29] das diferenças finitas, expressa por dg dρ (ρi) = g(ρi+1)− g(ρi−1) 2h + h2 3! d3g dρ3 (ξ) ≈ g(ρi+1)− g(ρi−1) 2h . (5.11) Para aproximar a segunda derivada, por uma diferença, substitui-se q = 3, e de ma- neira análoga resultará na seguinte expressão d2g dρ2 (ρi) = g(ρi+1)− 2g(ρi) + g(ρi−1) h2 + h2 12 d4g dρ4 (ξ) ≈ g(ρi+1)− 2g(ρi) + g(ρi−1) h2 , (5.12) 56 com ρi−1 < ξ < ρi+1. Neste caso, exibindo a variável θj que estava oculta, as derivadas d dρ e d2 dρ2 tornam-se ∂ ∂ρ e ∂2 ∂ρ2 , respectivamente. É conveniente observar que a aproximação da derivada de primeira ordem é igual ao coeficiente angular da reta secante. Neste trabalho são utilizadas as aproximações das derivadas parciais listadas na Ta- bela 5.1. Os valores das derivadas na direção θ são obtidos de maneira semelhante ao da direção ρ, lembrando que a distância entre os pontos na direção θ é dada por k. Derivadas parciais Aproximação por diferenças centradas ∂g ∂ρ (ρi, θj) Gi+1,j −Gi−1,j 2h ∂2g ∂ρ2 (ρi, θj) Gi+1,j − 2Gi,j +Gi−1,j h2 ∂g ∂θ (ρi, θj) Gi,j+1 −Gi,j−1 2k ∂2g ∂θ2 (ρi, θj) Gi,j+1 − 2Gi,j +Gi,j−1 k2 Tabela 5.1: Aproximações das derivadas parciais. 5.3 Discretização das equações 5.3.1 Pontos interiores da malha Para discretizar a equação diferencial nos pontos interiores da malha serão utilizadas as aproximações das derivadas parciais de primeira e segunda ordem, contidas na Tabela 5.1. Substituindo estas derivadas na equação (4.19) obtém-se − 1 h2 (Gi+1,j − 2Gi,j +Gi−1,j)− 1 hri (Gi+1,j −Gi−1,j) − 1 k2r2i (Gi,j+1 − 2Gi,j +Gi,j−1)− cot(θj) 2kr2i (Gi,j+1 −Gi,j−1) + Vi,j Gi,j = (ε−mγ)Gi,j, (5.13) em que, Vi,j = m2 r2i sin 2(θj) + γ2 4 r2i sin 2(θj)− 2 ri . (5.14) 57 5.3.2 Fronteiras com valores exatos As equações (4.23), (4.32), (4.38) e (4.47) são facilmente discretizadas, resultando respectivamente em GM+2,j = 0, (5.15) Gi,N+2 = 0, (5.16) Gi,1 = 0, (5.17) e G1,j = 0. (5.18) 5.3.3 Fronteiras com aproximações Para as fronteiras com equações (4.31), (4.41) e (4.59) é conveniente fazer uma apro- ximação por polinômio de segunda ordem. Nesta seção, dividiremos as equações em dois grupos. O primeiro grupo constitui das equações que contém derivadas parciais na direção θ, ou seja, as equações (4.31) e (4.41). O segundo grupo corresponde à equação (4.59), que contém derivada parcial na direção ρ. Seja o primeiro grupo. Por possúırem derivadas parciais na direção θ, é posśıvel simplificar as notações ocultando as coordenadas na direção ρ, ou seja, serão ocultados o ı́ndice i dos valores Gi,j e a coordenada ρi do par ordenado (ρi, θj). Assim, o polinômio de segundo grau utilizado na aproximação é convenientemente escrito como g(x) = a(x− θj) 2 + b(x− θj) +Gj , (5.19) desta maneira, quando x = θj temos g(θj) = Gj. Os valores para os pontos anterior e posterior a θj são, respectivamente, expressos por g(θj−1) = Gj−1 = ak2 − bk +Gj (5.20) e g(θj+1) = Gj+1 = ak2 + bk +Gj . (5.21) A derivada do polinômio (5.19) em relação a x é dada por dg dx (x) = 2a(x− θj) + b. (5.22) 58 O valor de a, na equação (5.22), pode ser encontrado ao somar a equação (5.20) com a equação (5.21). Esta soma é expressa por Gj−1 +Gj+1 − 2Gj = 2ak2. (5.23) Portanto, a = Gj−1 +Gj+1 − 2Gj 2k2 . (5.24) Para encontrar o valor de b, na equação (5.22), é subtraido a equação (5.20) da equação (5.21). Esta subtração é dada por Gj+1 −Gj−1 = 2bk. (5.25) Portanto, b = Gj+1 −Gj−1 2k . (5.26) Com os valores de a e b definidos pelas equações (5.24) e (5.26), respectivamente; a equação (5.22) torna-se dg dx (x) = Gj−1 +Gj+1 − 2Gj k2 (x− θj) + Gj+1 −Gj−1 2k . (5.27) Ao substituir x = θj+1 na equação (5.27) obtém-se dg dθ (θj+1) = Gj−1 +Gj+1 − 2Gj k2 (θj+1 − θj︸ ︷︷ ︸ k ) + Gj+1 −Gj−1 2k = Gj−1 +Gj+1 − 2Gj k + Gj+1 −Gj−1 2k = 1 2k (3Gj+1 − 4Gj +Gj−1). (5.28) Por outro lado, quando x = θj−1 na equação (5.27) encontra-se dg dθ (θj−1) = Gj−1 +Gj+1 − 2Gj k2 (θj+1 − θj︸ ︷︷ ︸ −k ) + Gj+1 −Gj−1 2k = Gj+1 −Gj−1 2k − Gj−1 +Gj+1 − 2Gj k = − 1 2k (3Gj−1 − 4Gj +Gj+1). (5.29) Exibindo a variável ρ outrora ocultada, d dθ transforma-se em ∂ ∂θ . Assim as equações (5.28) e (5.29) são, respectivamente, escritas como ∂g ∂θ (ρi, θj+1) = 1 2k (3Gi,j+1 − 4Gi,j +Gi,j−1) (5.30) 59 e ∂g ∂θ (ρi, θj−1) = − 1 2k (3Gi,j−1 − 4Gi,j +Gi,j+1). (5.31) Com as equações (5.30) e (5.31) é posśıvel calcular aproximadamente os valores das derivadas parciais em relação a θ para um ponto posterior e anterior, na direção θ. No caso do primeiro grupo, será calculado o valor anterior ao ponto (ρi, θ2) e o valor posterior ao ponto (ρi, θN+1). Estes valores coincidem com as fronteiras, conforme Figura 5.3. Figura 5.3: Esquema para discretizar as condições de fronteira que possuem derivadas parciais na direção θ. Para calcular a derivada parcial em relação a θ, na fronteira θ = π/2, utiliza-se a equação (5.30) no ponto (ρi, θN+1). Assim, na fronteira θ = π/2 a derivada pode ser aproximada, substituindo j = N + 1 na equação (5.30) da seguinte maneira ∂g ∂θ (ρi, θN+2) ≈ 1 2k (3Gi,N+2 − 4Gi,N+1 +Gi,N). (5.32) De maneira análoga, para a fronteira θ = 0 temos ∂g ∂θ (ρi, θ1) ≈ 1 2k (3Gi,1 − 4Gi,2 +Gi,3). (5.33) As condições de fronteira (4.31) e (4.41) exigem que as derivadas expressas pelas equações (5.32) e (5.33) sejam nulas. Esta exigência, resulta nas equações (5.34) e (5.35) que correspondem as versões discretizadas das equações (4.31) e (4.41), respectivamente. Elas têm a forma: Gi,N − 4Gi,N+1 + 3Gi,N+2 = 0 (5.34) e 3Gi,1 − 4Gi,2 +Gi,3 = 0. (5.35) 60 Para o segundo grupo, que possui derivada parcial na direção ρ, a aproximação é obtida de maneira análoga ao do primeiro grupo, resultando em ∂g0 ∂ρ (0, θj) ≈ − 1 2h (3G1,j − 4G2,j +G3,j). (5.36) Para calcular a integral dada pela equação (4.59) é conveniente fazer uma interpolação linear (Regra do Trapézio) [29]. A Figura 5.4 mostra um esquema para calcular esta integral, onde F (θ) é a função que está sendo integrada de 0 até π/2 em relação a θ, como mostra a seguinte equação: g (1) 0 (0, θ) = − ∫ π/2 0 ∂g (1) 0 ∂ρ (0, θ) sen(θ)︸ ︷︷ ︸ F (θ) dθ. (5.37) Figura 5.4: Esquema para calcular a integral pela Regra do Trapézio. Desta maneira, a integral será aproximada pela soma das áreas dos N + 1 trapézios, que podem ser expressos por:∫ π 2 0 ∂g (1) 0 ∂ρ (0, θ) sen(θ)dθ ≈ N+1∑ j=1 { k 2 [F (θj) + F (θj+1)] } (5.38a) ≈ k 2 N+1∑ j=1 [F (θj) + F (θj+1)] (5.38b) ≈ k 2 ( F (θ1) + N+1∑ j=2 F (θj) + N+1∑ j=2 F (θj) + F (θN+2) ) (5.38c) ≈ k 2 [F (θ1) + F (θN+2)] + k N+1∑ j=2 F (θj). (5.38d) Como F1 = 0, então a equação (5.38d) pode ser escrita como∫ π 2 0 ∂g0 ∂ρ (0, θ) sen(θ)dθ ≈ k 2 ∂g0 ∂ρ (0, θN+2) + k N+1∑ j=2 ∂g0 ∂ρ (0, θj) sen(θj). (5.39) 61 Substituindo a equação (5.36) em (5.39). Como G1,j não depende de j para qual- quer j o valor G1,j será substitúıdo por G1,1. Desta maneira, a versão discretizada da equação (4.59) pode ser escrita como: η G1,1 = N+1∑ j=2 (4G2,j −G3,j) sen(θj) + 2G2,N+2 − 1 2 G3,N+2, (5.40) em que η = 3 N+1∑ j=2 sen(θj) + 3 2 − 2h k (5.41a) = 3 2 cot ( k 2 ) − 2h k . (5.41b) 5.3.4 Resumo das condições de fronteira discretizadas De maneira resumida, as condições de fronteira da Tabela 4.1, agora na versão discre- tizada são mostradas na Tabela 5.2. m σ ρ = R θ = π/2 θ = 0 ρ = 0 0 1 Eq. (5.15) Eq. (5.34) Eq. (5.35) Eq. (5.40) 0 -1 Eq. (5.15) Eq. (5.16) Eq. (5.35) Eq. (5.18) �= 0 1 Eq. (5.15) Eq. (5.34) Eq. (5.17) Eq. (5.18) �= 0 -1 Eq. (5.15) Eq. (5.16) Eq. (5.17) Eq. (5.18) Tabela 5.2: Condições de fronteira discretizadas. 5.4 Aplicação do Método A equação discretizada para os nós interiores é dada pela equação (5.13), que pode ser escrita da seguinte maneira:( 2 k2ρ2i + 2 h2 + Vi,j ) ︸ ︷︷ ︸ y⊕ (i,j) Gi,j + ( − 1 k2ρ2i − cot(θj) 2kρ2i ) ︸ ︷︷ ︸ y↑(i,j) Gi,j+1 + 62 ( − 1 k2ρ2i + cot(θj) 2kr2i ) ︸ ︷︷ ︸ y↓(i,j) Gi,j−1 + ( − 1 h2 − 1 hρi ) ︸ ︷︷ ︸ y→(i,j) Gi+1,j + ( − 1 h2 + 1 hρi ) ︸ ︷︷ ︸ y←(i,j) Gi−1,j = (ε−mγ)Gi,j. (5.42) A equação (5.42) pode ser expressa como: M+2∑ i′=1 N+2∑ j′=1 W(i,j),(i′,j′) ·Gi′,j′ = (ε−mγ)Gi,j , (5.43) onde W(i,j),(i,j) = y⊕(i, j), (5.44a) W(i,j),(i,j+1) = y↑(i, j), (5.44b) W(i,j),(i,j−1) = y↓(i, j), (5.44c) W(i,j),(i+1,j) = y→(i, j), (5.44d) W(i,j),(i−1,j) = y←(i, j), (5.44e) e nos demais casos W(i,j),(i′,j′) = 0. (5.45) O śımbolo ( ⊕ ) indica que o coeficiente W multiplica o valor de G no próprio ponto da malha. As setas (←), (→), (↑) e (↓) indicam que o coeficiente W multiplica o valor de G no nó vizinho imediato à esquerda, à direita, acima e abaixo, respectivamente. W é um arranjo de 4 coeficientes. Para utilizarmos as operações usuais entre matrizes (Algebra Linear) é conveniente trabalharmos com dois coeficientes, para isso, os valores de Gi,j interiores serão armazenados em um arranjo unidimensional de dimensão MN , denotado por �X. De acordo com a Figura 5.5, temos Xs = Gi,j, (5.46) em que, a relação entre (i, j) e s é dada por: s = (i− 2)N + (j − 1). (5.47) Para encontrar a relação inversa, isto é (i, j) em termos de s, considere a posição s − 1, então com a equação (5.47) temos: s− 1 = (i− 2)N + (j − 2), (5.48) 63 Figura 5.5: Posição s no vetor �X. como j = 2, . . . , N +1, então i− 2 é a parte inteira (div) do quociente da divisão de s− 1 por N , assim i = 2 + div (s− 1, N) , (5.49) e j − 2 é o resto desta divisão (mod), expresso por: j = 2 +mod(s− 1, N). (5.50) As equações (5.47 - 5.50), são utilizadas para explicitar a equação (5.46), assim Xs = G2+div(s−1,N), 2+mod(s−1,N), (5.51) em que 1 ≤ s ≤MN ; e Gi,j = X(i−2)N+(j−1), (5.52) em que 2 ≤ i ≤M + 1 e 2 ≤ j ≤ N + 1. Os valores Gi,j na fronteira ρ = 0 são armazenados no vetor �A de dimensão N + 2. Para as fronteiras θ = 0 e θ = π/2 os valores Gi,j são, respectivamente, armazenados nos 64 vetores �B e �C de dimensão M . A fronteira ρ = R não será adicionada em nenhum vetor, pois de acordo com a equação (5.15) o valor de Gi,j, nestes pontos, sempre é nulo. Isso ocorre para qualquer valor de σ e m, conforme Tabela 5.2. Figura 5.6: Posição a, b e c nos vetores �A, �B e �C, respectivamente. De acordo com a Figura 5.6, temos: Aa = G1,a, (5.53) com 1 ≤ a ≤ N + 2; Bb = Gb+1,1, (5.54) onde 1 ≤ b ≤M ; e Cc = Gc+1,N+2, (5.55) para 1 ≤ c ≤M . A relação inversa, que também pode ser observada na Figura 5.6, é dada por G1,j = Aj , (5.56) com 1 ≤ j ≤ N + 2; Gi,1 = Bi−1, (5.57) 65 onde 2 ≤ i ≤M + 1; e Gi,N+2 = Ci−1, (5.58) para 2 ≤ i ≤M + 1. É conveniente separar a equação (5.43) em somatórios para os nós interiores da malha e para cada uma das fronteiras (retirando a fronteira ρ = R, na qual Gi,j é nulo), e substi- tuir os valores Gi,j pelas componentes �X, �A, �B ou �C. Desta maneira a equação (5.43) torna-se MN︷ ︸︸ ︷ M+1∑ i′=2 N+1∑ j′=2︸ ︷︷ ︸ s′=1 Ys,s′︷ ︸︸ ︷ W(i,j),(i′,j′) · Xs′︷︸︸︷ Gi′,j′ + N+2∑ j′=1︸︷︷︸ a=1 Os,a︷ ︸︸ ︷ W(i,j),(1,j′) · Aa︷︸︸︷ G1,j′ + M︷︸︸︷ M+1∑ i′=2︸︷︷︸ b=1 Ps,b︷ ︸︸ ︷ W(i,j),(i′,1) · Bb︷︸︸︷ Gi′,1+ M︷︸︸︷ M+1∑ i′=2︸︷︷︸ c=1 Qs,c︷ ︸︸ ︷ W(i,j),(i′,N+2) · Cc︷ ︸︸ ︷ Gi′,N+2 = (ε−mγ) Xs︷︸︸︷ Gi,j , (5.59) A equação (5.59) pode ser expressa na forma [30] (Algebra Linear). Y · �X +O · �A+ P · �B +Q · �C = (ε−mγ) �X (5.60) A forma expĺıcita das matrizes Y, O, P e Q é apresentada no Apêndice C. Utilizando as condições de fronteira discretizadas, os vetores �A, �B e �C podem ser expressos em função de �X. Assim �A = J · �X, (5.61) �B = K · �X (5.62) e �C = L · �X. (5.63) No Apêndice D são mostradas as matrizes J, K e L. Substituindo os valores das equações (5.61 - 5.63) encontramos o seguinte sistema linear de equações: (Y+O · J+ P ·K+Q · L︸ ︷︷ ︸ Z ) �X = (ε−mγ) �X (5.64) Forma-se assim um sistema de equações que reduz-se à forma Z �X = (ε−mγ) �X, (5.65) 66 em que �X é um arranjo linear de comprimento MN , e contém os valores Gi,j nos nós interiores da malha; Z é uma matriz quadrada de dimensão MN , que relaciona os valores de Gi,j nos pontos interiores, levando em conta a equação diferencial e as condições de fronteira. A matriz Z depende de γ, |m| e σ. Para resolver a equação (5.65) é usado um método numérico que fornece os autovalores (ε − mγ) e autovetores �X da matriz Z. Assim, as energias ε são encontradas ao somar mγ em cada um dos autovalores. Para cada um dos MN autovalores existe um vetor �X com MN componentes. Selecionando um dos valores de ε (ńıvel de energia) e seu respectivo vetor �X é posśıvel construir a tabela de valores da função de onda com os vetores �A, �B, �C e �X. Esta solução completa será armazenada na matriz G(M+2×N+2), que pode ser constrúıda com as equações (5.15), (5.52), (5.53), (5.54) e (5.55). 5.5 Normalização Numérica das soluções A norma (probabilidade total) da função de onda (4.21) é ∫ ∫ ∫ espaço |ψ|2 dV = ∫ π 0 ∫ +∞ 0 g(σ)m 2 (r, θ)ρ2 sin(θ)dρ dθ = 2I, (5.66) em que I = ∫ π 2 0 ∫ +∞ 0 g(σ)m 2 (ρ, θ)ρ2 sen(θ)dρ dθ (5.67a) ≈ ∫ π 2 0 ∫ R 0 g(σ)m 2 (ρ, θ) sen(θ)ρ2dρ dθ (5.67b) ≈ hk ( 1 2 M∑ c=1 C2 c ρ 2 c+1 + MN∑ s=1 X2 s ρ 2 i sen(θj) ) . (5.67c) Em geral, obteremos um valor para 2I diferente de 1. Portanto, para normalizar as funções, dividiremos a matriz a matriz GM+2×N+2 por √ 2I. Caṕıtulo 6 Resultados e Discussões 6.1 Representação gráfica dos orbitais do átomo H com campo magnético Na Seção 3.4, foram calculadas algumas superf́ıcies de ńıvel da densidade de probabi- lidade para o átomo de hidrogênio na ausência de campo magnético. De maneira análoga, são apresentadas algumas superf́ıcies de ńıvel do átomo de hidrogênio na presença de campo magnético. A densidade de probabilidade para o átomo de hidrogênio na presença de campo magnético depende dos valores de r e θ. O ângulo azimutal φ não modifica os valores da densidade de probabilidade, pois |Φm(φ)|2 = 1/(2π). Portanto, as superf́ıcies isopro- babiĺısticas na presença de campo magnético (utilizando a calibração simétrica) possuem simetria rotacional em relação à direção do campo aplicado, neste caso o eixo z. No trabalho de Rösner e colaboradores [31] são representados valores de densidade de probabilidade no plano xz para várias porcentagens do valor máximo. Nesta Dissertação, fixou-se 10% do valor máximo da densidade de probabilidade e incluiu-se a variação do ângulo azimutal para gerar as superf́ıcies isoprobabiĺısticas de revolução. Para facilitar a comparação com os orbitais reais foram selecionados aqueles que já possúıam esta simetria rotacional em relação ao eixo z, assim na ausência de campo magnético os orbitais 1s0, 2p0 e 3d0, podem ser comparados com os orbitais reais 1s, 2pz e 3dz2, respectivamente. Nas Figuras 6.1, 6.2 e 6.3 os eixos estão em unidades do raio de Bohr a0. Em todos os 67 68 casos, os resultados para campo magnético nulo são representados pelas superf́ıcies mais transparentes. Assim, é posśıvel observar a distorção que os orbitais sofrem ao variarmos a intensidade do campo magnético. De maneira geral, a aplicação do campo magnético aproxima os elétrons ao eixo z. Em alguns casos (1s0 e 2p0) a distância até o plano xy também diminui, ou seja, os orbitais são compactados nas três direções. Segundo Rösner e colaboradores [31], esta compactação ocorre nos estados fortemente ligados. Em outros casos, pode ocorrer um aumento da distância até o plano xy, dependendo da intensidade do campo. Esse é o caso do orbital 3d0 para γ = 1. Na Figura 6.3 é posśıvel observar a compactação na direção dos eixos x e y, além do alongamento na direção do eixo z. Z Y X Figura 6.1: Orbital 1s0 e tipo 1s0, superf́ıcies de ńıvel com 10% do valor máximo da densidade de probabilidade, sob campo magnético γ = 0, 2, 3 e 5, respectivamente. 69 Z Y X Figura 6.2: Orbital 2p0 e tipo 2p0, superf́ıcies de ńıvel com 10% do valor máximo da densidade de probabilidade, sob campo magnético γ = 0, 0.3, 3 e 5, respectivamente. 70 Z Y X Figura 6.3: Orbital 3d0 e tipo 3d0, superf́ıcies de ńıvel com 10% do valor máximo da densidade de probabilidade sob campo magnético γ = 0, 0.015, 0.03, 0.5, 1 e 5, respectiva- mente. 71 6.2 Comparação com a Solução Anaĺıtica para Campo Nulo A solução anaĺıtica para o átomo de hidrogênio na ausência de campo magnético é bem conhecida [32] e foram discutidas no Caṕıtulo 3. As funções de onda para este problema são dadas por ψn,l,m(r, θ, φ) = Rn,l(r) Θl,m(θ) Φm(φ). (6.1) Uma maneira de avaliar a qualidade dos resultados numéricos para γ = 0 (campo nulo), é comparar os gráficos de |gm(r, θ)|2 (gerados a partir dos valores nos nós da malha) com os gráficos da soluções anaĺıticas |Rn,l(r) Θn,l(θ)|2 (também avaliados nos nós da malha). A função de onda em módulo ao quadrado, por definição, fornece a densidade de probabilidade. Nas Figuras 6.4, 6.5, 6.6 e 6.7 são mostrados as curvas de ńıvel da densidade de probabilidade para os orbitais 1s, 2pz, 2p + e 3d+, respectivamente. Em cada figura, o painel da esquerda (direita) corresponde à solução anaĺıtica (numérica). Existe um excelente acordo qualitativo entre as duas soluções. Convém observar que as figuras correspondem, na ordem, às linhas da Tabela 4.1. Portanto, todas as condições de fronteira ficam verificadas. A maior diferença entre o resultado anaĺıtico e o numérico ocorre no ponto em que a densidade de probabilidade assume o valor máximo, assim, para cada um dos gráficos (Figura 6.4, 6.5, 6.6 e 6.7) a diferença é de 0.6, 2.3, 2.3 e 1% do respectivo valor máximo. analítico 0 1 2 3 4 5 6 7 0 Π 2 Ρ Θ numérico 0 1 2 3 4 5 6 7 0 Π 2 Ρ Θ Figura 6.4: Curva de ńıvel da densidade de probabilidade anaĺıtica e numérica para o estado 1s (com m = 0, σ = 1, R = 7, M = 50 e N = 40). 72 analítico 0 3 6 9 12 15 18 0 Π 2 Ρ Θ numérico 0 3 6 9 12 15 18 0 Π 2 Ρ Θ Figura 6.5: Curva de ńıvel da densidade de probabilidade anaĺıtica e numérica para o orbital 2pz (m = 0, σ = −1, R = 18, M = 50 e N = 40). analítico 0 3 6 9 12 15 18 0 Π 2 Ρ Θ numérico 0 3 6 9 12 15 18 0 Π 2 Ρ Θ Figura 6.6: Curva de ńıvel da densidade de probabilidade anaĺıtica e numérica para o orbital 2p+ (com m = 1, σ = 1, R = 18, M = 50 e N = 40). analítico 0 11 22 33 0 Π 2 Ρ Θ numérico 0 11 22 33 0 Π 2 Ρ Θ Figura 6.7: Curva de ńıvel da densidade de probabilidade anaĺıtica e numérica para o orbital 3d+ (com m = 1, σ = −1, R = 33, M = 50 e N = 40). 73 6.3 Comparação com Método Variacional Para dar uma idéia da qualidade das soluções para campo não-nulo, é apresentada uma comparação entre as energias calculadas mediante o presente método numérico e os resultados de um método variacional [16]. Essa comparação é mostrada na Figura 6.8, onde a linha cont́ınua foi gerada pelo método variacional e os pontos foram obtidos pelo presente método. A malha utilizada foi 52× 42 nós, ou seja M = 50 e N = 40. Para as energias 1s e 2p o raio empregado foi R = 7 e R = 18, respectivamente. 0 1 2 3 4 5 Γ �2 0 2 4 6 8 10 12 Ε numérico variacional �a� 2p� 2p� 1s 0 1 2 3 4 5 Γ �1 �0.5 0 0.5 1 Ε �b� 1s2p� numérico variacional 2p� Figura 6.8: Energia versus campo magnético. A Figura 6.8 (b) mostra uma ampliação da região de campo magnético fraco na Fi- gura 6.8 (a). Essa ampliação permite verificar que, para campo muito fraco, a energia dos estados 1s e 2p± aproxima-se de −1 e −1/4, como previsto analiticamente [32]. 6.4 Comparação com solução mediante séries radiais Em 1996, Kravchenko e colaboradores resolveram o problema do átomo de hidrogênio com campo magnético utilizando uma expansão em série de potências na direção radial. A precisão destes resultados é da ordem de 10−12 [33]. Nas Figuras 6.10 e 6.9, as linhas foram geradas a partir das tabelas do trabalho de Kravchenko e os pontos foram calculados pelo método das diferenças finitas. Os ńıveis de energia de um elétron livre na presença de campo magnético são chamados de ńıveis de Landau. Para cada N = 0, 1, 2, . . . há um ńıvel de Landau, cuja energia em unidades do Rydberg é ε(N) = (2N + 1)γ. (6.2) 74 Para cada orbital atômico com energia ε abaixo do ńıvel N = 0, a diferença ε(0) − ε é a energia de ligação εb do elétron ao átomo, ou seja, εb = ε(0)− ε = γ − ε. (6.3) 10�4 0.001 0.01 0.1 1 10 1.00 0.50 2.00 0.30 1.50 0.70 Γ Ε b 2s0 2p0 2p� Figura 6.9: Gráfico Log-Log da energia de ligação do elétron ao átomo versus campo magnético, para os orbitais atômicos 2s0, 2p0 e 2p−. Os resultados do cálculo mediante diferenças finitas são os pontos (M = 90, N = 30 e R = 30, exceto 2p− com R = 20), enquanto os resultados na Ref. [33], as linhas cont́ınuas. 10�4 0.001 0.01 0.1 1 10 1.00 0.50 0.20 0.30 0.15 1.50 0.70 Γ Ε b 3p0 3p� 3d� 3d�2 Figura 6.10: Gráfico Log-Log da energia de ligação do elétron ao átomo versus campo magnético, para os orbitais atômicos 3p0, 3p−, 3d− e 3d−2. Os resultados do cálculo mediante diferenças finitas são os pontos (M = 90, N = 30 e R=30, exceto 3p− com R = 20), enquanto os resultados na Ref. [33], as linhas cont́ınuas. 75 6.5 Comparação com Resultados Experimentais 6.5.1 Transição entre estados de impurezas sob campo magnético Antes de comparar os resultados teóricos com dados experimentais é importante men- cionar aspectos teóricos básicos sobre as transições entre estados de impurezas na presença de campo magnético. Em experimentos de absorção óptica a amostra é geralmente iluminada com luz mo- nocromática. Ao variar a freqüência desta luz, os elétrons presentes na amostra podem absorver esta energia e sofrer transições de ńıveis Ei para ńıveis de maior energia Ef . Porém, essas transições podem ocorrer somente quando a freqüência da luz ω, que incide na amostra, for igual a Ef−Ei � . Em uma situação inversa, o elétron pode liberar ener- gia ao sofrer transições de um ńıvel Ei de maior energia para um de menor energia Ef , nesta transição a energia excedente é liberada em forma de ondas eletromagnéticas cuja freqüência é Ei−Ef � . A seguir, serão apresentadas as regras de seleção dessas transições. Como veremos, a configuração experimental e a simetria dos estados inicial e final desempenham papéis centrais na obtenção dessas regras. Embora uma teoria completa das transições ópticas deve levar em consideração a quantização do campo eletromagnético, é posśıvel obter as regras de seleção mediante uma descrição clássica do campo [4]. Vamos considerar uma onda eletromagnética plana com vetor de onda �k e linearmente polarizada segundo o vetor �ε, cujo vetor potencial tem a forma �Ar(�r, t) = Ar �ε cos(�k · �r − ω t), (6.4) em que ω é a freqüência circular. Ao mesmo tempo, o potencial elétrico dessa radiação pode ser considerado nulo. Para calcular a probabilidade do elétron sofrer uma transição entre dois estados estacionários, pode-se utilizar a Teoria de Pertubações dependentes do tempo [4, 32]. Adicionalmente, para descrever os experimentos que seguem, não é necessário levar em conta a interação spin-órbita. Dessa forma, os estados inicial e final têm spin bem definido. Primeiramente, a perturbação devida ao campo eletromagnético conserva o spin do elétron. Ao mesmo tempo, a inclusão da interação do spin com o campo introduz apenas um deslocamento ŕıgido do espectro de energia. Esse deslocamento é diferente para cada 76 orientação de spin, mas as energias de transição entre estados do mesmo spin dependem apenas dos números quânticos orbitais dos estados inicial e final. Isso permite analisar as transições entre estados de impurezas mediante a teoria desenvolvida nos caṕıtulos anteriores. Consideremos a probabilidade de transição entre estados com partes espaciais Ψ (σ) m e Ψ (σ̄) m̄ . Isto é, cada estado é simétrico (σ = 1) ou anti-simétrico (σ = −1) na direção do campo e tem momentum angular bem definido nessa direção (determinado pelo valor de m). Assim obteremos regras de seleção para Δσ = σ̄ − σ e Δm = m̄ −m. Utilizando a aproximação de que o comprimento de onda da radiação é grande em comparação com as dimensões dos orbitais envolvidos, pode-se demonstrar que a probabilidade é proporcional ao módulo quadrado da seguinte integral:∫∫∫ [Ψ(σ) m (�r)]∗ (�ε · �r) Ψ(σ̄) m̄ (�r) dV. (6.5) Devido à simetria da impureza na presença do campo magnético em torno do eixo z, não perdemos generalidade ao considerar a luz polarizada segundo o vetor ε = (εx, 0, εz). Portanto, a integral toma a forma:∫∫∫ ei φΔm 2π [εx sin(θ) cos(φ) + εz cos(θ)] g (σ) m (r, θ) g (σ̄) m̄ (r, θ) r dV. (6.6) Como as transições permitidas são aquelas com probabilidade diferente de zero, obtemos as seguintes regras de seleção: � se εx �= 0, então Δσ = 0 e Δm = ±1, � se εz �= 0, então Δσ = ±2 e Δm = 0. Adicionalmente, em baixas temperaturas, o estado inicial das transições é aquele de menor energia. Para o caso das impurezas em campo magnético, esse estado é denominado como tipo 1s. Por exemplo, na configuração experimental conhecida como geometria de Faraday a direção de propagação coincide com a direção do campo. Portanto, temos εz = 0 e as transições permitidas são aquelas tais que Δσ = 0 e Δm = ±1. Considerando o estado inicial como tipo 1s, os valores iniciais de σ e m são 1 e 0, respectivamente. Portanto, os estados finais das transições permitidas são simétricos na direção do campo e têmm = ±1. Porém, se a luz não se propaga exatamente na direção do campo, então ocorre εz �= 0. Nessas condições, o estado final pode ser anti-simétrico na direção do campo, com m = 0. Esse seria o caso do estado 2pz. 77 6.5.2 Nitreto de Gálio (GaN) Em 2006, Wysmolek e colaboradores estudaram efeitos de campo magnético em Ni- treto de Gálio com estrutura cristalina tipo wurtzita dopado com siĺıcio [13]. A rede dessa estrutura é hexagonal compacta e cada célula unitária primitiva contém dois átomos. A Figura 6.11 mostra uma célula que consiste de duas células unitárias primitivas dessa estrutura. Figura 6.11: Estrutura cristalina wurtzita, figura retirada de http://en.wikipedia.org/wiki/Wurtzite, acesso em 10/11/2008. Neste material, o siĺıcio torna-se uma impureza doadora ao substituir átomos de gálio. Na Figura 6.12, os pontos são os resultados experimentais para elétrons ligados a impure- zas doadoras rasas de siĺıcio em GaN. Neste material, os valores efetivos para a massa e o Rydberg são m∗ = 0.215m0 e Ry ∗ = 30.3 meV, respectivamente. As energias correspon- dem às transições eletrônicas do estado 1s para os estados excitados 2s, 2p−, 2p0, 3d0 e 3d+. As linhas são aos resultados numéricos (método das diferenças finitas) para o problema do átomo de hidrogênio sob campo magnético. Os valores adimensionais das energias ε e da intensidade do campo magnético γ foram multiplicados por Ry∗ = 30.3 meV e B∗ = 112.56 T, respectivamente. É importante notar que, na Figura 6.12, as transições experimentais não respeitam as regras de seleção discutidas na subseção 6.5.1. Isto ocorre porque as energias de transição entre os estados de impurezas são determinadas a partir de transições que envolvem esta- dos de éxcitons ligados às impurezas. Portanto, o processo estudado experimentalmente é mais complicado do que aquele discutido na subseção 6.5.1. 78 0 5 10 15 20 25 30 20 25 30 35 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.6 0.7 0.8 0.9 1 1.1 Campo Magnético �T� En er gi a de Tr an si çã o �m eV � Γ Ε Silício 2p� 2p0 3d0 3d� 2p� B��c T�4.2K 2s GaN�Al2O3 GaN�FS� Figura 6.12: Dependência do campo magnético nas transições eletrônicas do estado 1s para os estados excitados 2s, 2p−, 2p0, 3d0 e 3d+, em GaN dopado com siĺıcio. As linhas correspondem aos resultados numéricos e os śımbolos, aos experimentais. Os śımbolos abertos e fechados correspondem a dois tipos de amostra: GaN crescido sobre safira (Al2O3) e GaN livre (FS). 6.5.3 Arseneto de Gálio (GaAs) Em 1993, Cheng e colaboradores estudaram as energias de transição para GaAs dopado com Si [14]. A estrutura desse material é blenda de zinco, que é mostrada na Figura 6.13. Figura 6.13: Estrutura cristalina blenda de zinco, para o GaAs os átomos gálio (arsênio) correspondem as esferas maiores (menores). Átomos de gálio são substitúıdos por siĺıcio (impureza doadora) formando estados loca- lizados de impurezas doadoras. Na Figura 6.14, os pontos são resultados experimentais [14] para elétrons ligados a impurezas doadoras rasas de siĺıcio em GaAs. Neste material, os 79 valores efetivos para a massa e o Rydberg são m∗ = 0.067m0 e Ry ∗ = 5.60758 meV, respectivamente. As energias correspondem às transições eletrônicas do estado 1s para os estados excitados 2p0, 2p+ e 2p−. As linhas são aos resultados numéricos (método das diferenças finitas) para o problema do átomo de hidrogênio sob campo magnético. Os valores adimensionais das energias ε e da intensidade do campo magnético γ foram multiplicados por Ry∗ = 5.60758 meV e B∗ = 6.49072 T, respectivamente. 0 5 10 15 20 25 10 20 30 40 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 1 2 3 4 5 6 7 Campo Magnético �T� En er gi a de Tr an si çã o �m eV � Γ Ε fônon LO 2p� 2p0 2p� Figura 6.14: Dependência do campo magnético nas transições eletrônicas do estado 1s para os estados excitados 2p0, 2p+ e 2p−, em GaAs dopado com siĺıcio. As linhas corres- pondem aos resultados numéricos e os śımbolos, aos experimentais. Para campos magnéticos moderados e energias de transição menores que a energia de um fônon longitudinal óptico (296cm−1 ≈ 36, 7 meV), o acordo teoria-experimento é muito bom. Fora desse regime, é preciso incluir os efeitos de interação elétron-fônon para melhor explicar os resultados do experimento [16]. Convém ressaltar que, na Figura 6.14, as transições experimentais estão em acordo com as regras de seleção discutidas na subseção 6.5.1. De fato, são observadas as transições para estados simétricos na direção do campo e com m = ±1. Esse é o caso dos estados 2p+ e 2p−. Também é detectada a transição 1s-2p0. Porém, trata-se de sinal fraco que pode ser devido à falta de alinhamento entre o campo magnético e o feixe da radiação incidente [14]. Essa possibilidade foi discutida na subseção 6.5.1. 80 6.5.4 Fosfeto de Índio (InP) Em 2005, Lewis e colaboradores estudaram as energias de transição entre estados de impurezas em InP (estrutura cristalina blenda de zinco, mostrada na Figura 6.13) dopados com Si. Neste caso, átomos de In são substitúıdos por Si, formando assim, estados localizados de impurezas doadoras. 0 5 10 15 20 25 30 0 10 20 30 40 50 60 0 0.5 1 1.5 2 2.5 0 2 4 6 Campo Magnético �T� En er gi a de Tr an si çã o �m eV � Γ Ε fônon LO 2p� 3p� Figura 6.15: Dependência do campo magnético nas transições eletrônicas do estado 1s para os estados excitados 2p+ e 3p+, em InP dopado com siĺıcio. As linhas correspondem aos resultados numéricos e os śımbolos, aos experimentais. Na Figura 6.15, os pontos são resultados experimentais [15] para elétrons ligados a impurezas doadoras rasas de siĺıcio em InP. Neste experimento, os valores efetivos para a massa e o Rydberg são m∗ = 0.07927m0 e Ry ∗ = 62.79 cm−1 ≈ 7.79 meV, respectiva- mente. As energias correspondem às transições eletrônicas do estado 1s para os estados excitados 2p+ e 3p+. As linhas são aos resultados numéricos (método das diferenças finitas) para o problema do átomo de hidrogênio sob campo magnético. Os valores adi- mensionais das energias ε e da intensidade do campo magnético γ foram multiplicados por Ry∗ = 7.79 meV e B∗ = 10.6617 T, respectivamente. Como no caso do GaAs, o acordo com o experimento é bom para campos magnéticos moderados e energias de transição menores que a energia de um fônon longitudinal óptico (349.5cm−1 ≈ 43.3 meV). Caṕıtulo 7 Conclusões Realizamos os cálculos para o átomo de hidrogênio na presença de campo magnético utilizando o método das diferenças finitas. Os valores de energia e campo magnético fo- ram trabalhados de forma adimensional. Ao multiplicar as energias pelo Rydberg efetivo (relacionado à massa efetiva e à permitividade elétrica do meio), os resultados corres- pondem a solução para um elétron ligado a um átomo de impureza doadora rasa em um semicondutor. Foi verificada a boa qualidade dos resultados numéricos mediante comparação com resultados anaĺıticos para campo nulo [32]. Na representação gráfica dos orbitais atômicos sob campo magnético observou-se uma aproximação dos elétrons ao eixo z. Para campo não-nulo, a comparação dos ńıveis calculados é feita com o método variacional utilizado em [16] e uma solução de reconhecida precisão [33]. Os resultados numéricos das energias de transição são comparados com dados experimentais para impurezas doadoras rasas em GaN [13], GaAs [14] e InP [15]. O acordo teoria-experimento mostrou-se muito bom para energias de transição abaixo da energia de um fônon longitudinal óptico. Algumas extensões naturais do estudo apresentado aqui são: � utilizar as funções de onda calculadas mediante diferenças finitas para obter a forma do espectro de absorção óptica devida às impurezas; � incluir a interação elétron-fônon para calcular e analisar os ńıveis de impureza de alta energia ou para campos magnéticos muito intensos [16]; � nos cálculos realizados, supõe-se que a função de onda anula-se na esfera de raio R centrada na origem, com R suficientemente grande. Cálculos para R pequeno, 81 82 menores do que 5, permitiriam obter os estados de impurezas em pontos quânticos esféricos [11, 34] fabricados com o material semicondutor considerado; e � o método de diferenças finitas pode ser adaptado para calcular estados de impurezas rasas em poços e pontos quânticos, os quais têm sido amplamente investigados por métodos variacionais [12]. � o método pode ser modificado para calcular estados de impurezas rasas em materiais semicondutores com banda de condução anisotrópica, tais como Si e Ge [18, 35, 36]. Apêndice A Polinômios e funções associadas de Legendre A.1 Polinômios de Legendre Os polinômios de Legendre, representados por Pl(x), são soluções da Equação Dife- rencial de Legendre, descrita por d dx [ (1− x2) dy dx ] + λy = 0. (A.1) Exigindo que a solução desta equação esteja limitada com x = ±1 e não tenha pontos ordinários temos λ = l(l + 1) e (l = 0, 1, 2, ...). Esta solução pode ser representada pela Representação de Rodrigues, da seguinte maneira: Pl(x) = 1 2ll! dl dxl (x2 − 1)l. (A.2) No desenvolvimento de códigos computacionais é conveniente utilizar fórmulas de re- corrência uma delas é a Fórmula de Recorrência Pura (2l + 1)xPl(x) = (l + 1)Pl+1(x) + lPl−1(x). (A.3) Ela permite calcular Pl+1(x) se Pl(x) e Pl−1(x) são conhecidos, lembrando que P0(x) = 1 e P1(x) = x. Na tabela A.1, temos os polinômios de Legendre para os diversos valores de l e, em seguida, os seus respectivos gráficos. 83 84 l Pl(x) 0 1 1 x 2 1 2 (3x2 − 1) 3 1 2 (5x3 − 3x) 4 1 8 (35x4 − 30x2 + 3) 5 1 8 (63x5 − 70x3 + 15x) Tabela A.1: Primeiros polinômios de Legendre. �1 1 x �1 �0.5 0.5 1 Pl�x� P0 P1 P2 P3 P5P4 Figura A.1: Gráfico dos primeiros polinômios de Legendre. De acordo com a Tabela A.1 e a Figura A.1, temos que os polinômios de ı́ndice par são funções pares de x, enquanto os de ı́ndice ı́mpar são funções ı́mpares. De maneira geral, prova-se a partir de (A.2) que Pl(−x) = (−1)lPl(x). (A.4) A.2 Funções associadas de Legendre As funções associadas de Legendre, representadas por Pm l (x), são soluções da Equação de Legendre Associada d dx [ (1− x2) dy dx ] + ( λ− m2 1− x2 ) y = 0. (A.5) 85 Exigindo que a solução desta equação seja finita nos pontos singulares x = ±1 temos que λ = l(l + 1) e 0 ≤ m ≤ l. Esta solução pode ser expressa como um fator multiplicado pela derivada m-ésima do Polinômio de Legendre (A.2) da seguinte maneira: Pm l (x) = (1− x2) m 2 dmPl(x) dxm , (A.6) onde 0 ≤ m ≤ l. Na equação (A.6), observa-se que quando m = 0 temos P 0 l (x) = Pl(x), em outras palavras a equação (A.5) torna-se (A.1). Além disso, para m ı́mpar o fator (1 − x2) m 2 é uma função irracional. Portanto, nesse caso Pm l (x) não é um polinômio. Por outro lado, se m é par, então Pm l (x) é um polinômio. No entanto, neste trabalho, usaremos x = cos(θ) onde a raiz √ 1− x2 fica sen(θ). Assim, os seis primeiros valores para Pm l (cos(θ)) são listados na Tabela A.2. P 0 0 = 1 P 0 1 = cos(θ) P 1 1 = sen(θ) P 0 2 = 1 2 (3 cos2(θ)− 1) P 1 2 = 3 sen(θ) cos(θ) P 2 2 = 3 sen2(θ) Tabela A.2: Seis primeiros polinômios associados de Legendre para x = cos(θ). Pm l (x) também pode ser expressa a partir da Representação de Rodrigues, substituindo (A.2) em (A.6), resultando em Pm l (x) = (1− x2)m/2 2ll! dl+m dxl+m (x2 − 1)l, (A.7) onde 0 ≤ m ≤ l. A partir da equação (A.7), prova-se que Pm l (−x) = (−1)l+mPm l (x). (A.8) Isso quer dizer que as funções associadas de Legendre têm paridade definida e a paridade de Pm l (x) é a mesma que a de l +m. A.3 Norma das Funções associadas de Legendre Em Mecânica Quântica, as funções de onda devem ser normalizadas uma vez que serão utilizadas como densidade de probabilidade. 86 A norma de, Pm l (x) no intervalo −1 ≤ x ≤ 1 é [22]:∫ 1 −1 [Pm l (x)] 2dx = 2 2l + 1 (l + |m|)! (l − |m|)! (A.9) para todo m e l, tal que 0 ≤ m ≤ l. Conseqüentemente, se defin