241 Editoriais / Editorials Rev. bras. hematol. hemoter. 2006;28(4):239-245 ATRA, os pacientes com LPMA que representavam 14% dos casos tiveram uma evolução desfavorável que pesa negati- vamente nos resultados globais. A sobrevida livre de even- tos de 24 ± 7% e global de 34 ± 7% rivaliza com os melhores resultados alcançados pela geração de Protocolos da época dirigidos pelos grupos cooperativos internacionais mais re- presentativos.7,12 É relevante salientar a qualidade do trata- mento de suporte para atingir estes resultados. Devido à grande morbidade destes tratamentos, a com- paração de resultados entre instituições que usam o mesmo regime terapêutico é muitas vezes significativamente dife- rente, mesmo em países desenvolvidos. Além das condições hospitalares, o treinamento e a experiência da equipe multi- disciplinar têm grande impacto na obtenção de melhores ín- dices de cura com menor morbidade. A implementação de um protocolo brasileiro para o tra- tamento da LMA na infância e adolescência permitirá o re- crutamento de um maior número de pacientes, o que facilitará o disciplinamento do diagnóstico, análises de ínterim fre- qüentes, consultoria e encaminhamento para instituições com os recursos essenciais para o tratamento desta doença. Referências Bibliográficas 1. Beverly Lange. Editorial Overview: Progress in Acute Myelogenous Leukemia: The one hundred year's war. 2. Woods WG, Neudorf S, Gold S, Sanders J, Buckley JD, Barnard DR, et al; Children's Cancer Group. A comparison of allogeneic bone marrow transplantation, autologous bone marrow transplantation, and aggressive chemotherapy in children with acute myeloid leukemia in remission. Blood 2001;97(1):56-62. 3. Lie SO, Abrahamsson J, Clausen N, Forestier E, Hasle H, Hovi L, et al. Treatment stratification based on initial in vivo response in acute myeloid leukaemia in children without Down's syndrome: results of NOPHO-AML trials. Br J Haematol 2003; 122(2):217-25. 4. Cristofani LM, Vianna S, Pereira WV et al. Childhood acute myeloid leukemia (AML): International Outreach-97 protocol (IO-97) results. Proceedings of ASCO 2003. vol 22. p.808. r. 3.249. 5. Creutzig U, Dirk R, Ritter J, et al. Results in children and adolescents treated according to study AML-BFM 98: Less toxic deaths in the short-cycIe arm than in the 6-week consolidation arm. Blood 2005;106(11). 6. Weinstein HJ, Mayer RJ, Rosenthal DS, Coral FS, Camitta BM, Gelber RD. Chemotherapy for acute myelogenous leukemia in children and adults: VAPA update. Blood 1983;62(2):315-9. 7. Ribeiro RC, Razzouk BI, Pounds S, Hijiya N, Pui CH, Rubnitz JE. Successive clinical trials for childhood acute myeloid leukemia at St Jude Children's Research Hospital, from 1980 to 2000. Leukemia. 2005;19(12):2.125-9. 8. Stevens RF, Hann IM, Wheatley K, Gray RG. Marked improvements in outcome with chemotherapy alone in paediatric acute myeloid leukemia: results of the United Kingdom Medical Research Council's 10th AML trial. MRC Childhood Leukaemia Working Party. Br J Haematol 1998;101(1):130-40. 9. Gibson BE, Wheatley K, Hann IM, Stevens RF, Webb D, Hills RK, et al. Treatment strategy and long-term results in paediatric patients treated in consecutive UK AML trials. Leukemia 2005; 19 (12): 2.130-8. 10. Sanz MA, Martin G, Gonzalez M, Leon A, Rayon C, Rivas C; Programa de Estudio y Traitmiento de las Hemopatias Malignas. Risk-adapted treatment of acute promyelocytic leukemia with all-trans-retinoic acid and anthracycline monochemotherapy: a multicenter study by the Pethema group. Blood 2004Feb 15;103 (4):1237-43. Epub 2003 Oct 23. 11. Pui CH, Raimondi SC, Head DR, Schell MJ, Rivera GK, Mirro J Jr, et al. Characterization of childhood acute leukemia with multiple myeloid and lymphoid markers at diagnosis and at relapse. Blood. 1991 Sep 1;78(5):1.327-37. 12: Smith FO, Alonzo TA, Gerbing RB, Woods WG, Arceci RJ; Children's Cancer Group. Long-term results of children with acute myeloid leukemia: a report of three consecutive Phase III trials by the Children's Cancer Group: CCG 251, CCG 213 and CCG 2891. Leukemia. 2005 Dec;19(12):2054-62. Avaliação: O tema abordado foi sugerido e avaliado pelo editor. Conflito de interesse: não declarado Recebido: 11/08/2006 Aceito: 14/08/2006 Hemocromatose hereditária e as mutações no gene HFE Hereditary hemochromatosis and HFE gene mutations Claudia R. Bonini-Domingos O ferro é um elemento essencial para a vida e participa de numerosas funções estruturais e metabólicas nas células, graças à sua química flexível e potencial oxi-redutor. Participa de proteínas de transporte e reserva de oxigênio, como a hemoglobina e a mioglobina; da cadeia respiratória e de enzimas para a síntese de DNA.1 O metabolismo do ferro no organismo e as vias de cap- tação desse metal nas células intestinais têm sido objeto de estudo de vários grupos nos últimos anos. O acúmulo desse metal ocasiona uma patologia denominada hemocromatose, que pode ser resultado de defeitos genéticos ou devido a complicações de doenças hepáticas e certas anemias.1,2 Es- Prof. Titular da Disciplina de Hematologia-Oncologia. Universidade Federal de Santa Maria. Correspondência: Waldir V. Pereira Av. Roraima, 1000 – Cidade Universitária – Bairro Camobi 97105-900 – Santa Maria, RS – Brasil Tel.: (55) 3220-8554 E-mail:oncohema@husmufsm.br 242 Rev. bras. hematol. hemoter. 2006;28(4):239-245 Editoriais / Editorials Referências Bibliográficas 1. Maggio A, Caronia F, Russo G. Clinica e Terapia della Talassemia. 2000, p.23; SEE. Societá Editrice Europea; Firenze, Italia. 2. Hillman RS, Ault KA. Hematology in Clinical Practice 2002, p. 161; Mc Graw-Hill Companies. USA. 3. Pietrangelo A. Medical progress: Hereditary hemochromatosis – a new look at an old disease. N Engl J Med 2004;350:2.383-2.397. 4. Auclair S, et al. Mild copper deficiency alter gene expression of proteins involved in iron metabolism. Blood Cells, Molecules and Disease 2006;36:15-20. 5. Feder JN, et al. A novel MHC class I-like gene is mutated in patients with hereditary hemochromatosis. Nat Genetics 1996;13:399-48. Avaliação: O tema abordado foi sugerido e avaliado pelo editor. Conflito de interesse: não declarado Recebido: 18/09/2006 Aceito: 26/09/2006 pecial atenção tem sido dada às formas hereditárias da hemocromatose e às diferentes proteínas envolvidas no me- tabolismo do ferro.3 A hemocromatose hereditária (HH), uma das afecções genéticas mais comuns em caucasóides, tem padrão de he- rança autossômico recessivo e acomete, na forma hetero- zigota, um em dez indivíduos de origem céltica ou descen- dentes de europeus, com característica de acúmulo de ferro em tecidos ocasionando lesões orgânicas e até a morte.3 O aparecimento dos sintomas clínicos, na maioria dos casos, ocorre após a terceira década de vida, pois a deposição do metal é gradativa e cumulativa. O acúmulo do metal ocorre particularmente no fígado, pâncreas, coração, articulações e glândula pituitária. As ma- nifestações são amplas, pois mecanismos metabólicos im- portantes estão envolvidos e comprometidos. O diabetes tipo 2 pode ser uma das muitas manifestações, por falha no funci- onamento das células pancreáticas devido ao excesso de ferro tecidual. Outras manifestações, muitas vezes relegadas a segundo plano, são as artralgias e fadiga muscular.4 De maneira geral os homens manifestam sintomas mais evidentes do que as mulheres e, além dos interferentes hor- monais, acredita-se que exista um equilíbrio entre acúmulo do metal e perdas mensais durante o período reprodutivo. Assim, resume-se a característica de manifestação fenotípica da HH em fatores individuais herdáveis, ao gênero, à idade e à dieta. Um outro interferente que vem sendo investigado diz respeito à influência do acúmulo do metal na formação de espécies reativas de oxigênio, levando a dano tecidual adici- onal, que pode ser considerado um fator de predisposição ou de proteção a algumas doenças infecto-parasitárias.4 Devido à necessidade de melhor entendimento dos mecanismos envolvidos no metabolismo do ferro e de eluci- dação das formas hereditárias da hemocromatose, a busca de genes responsáveis pelo controle da absorção do metal no organismo teve início com a descoberta do gene HFE localizado no cromossomo 6 região p21.3, em 1996, por Fe- der e colaboradores.5 Polimorfismos foram descritos nesse gene, envolvidos com 37 variantes alélicas, e a manifesta- ção clínica mais acentuada, em alguns grupos de europeus, mostrou relação direta com o mutante C282Y. Além desse mutante, dois outros têm sido exaustivamente investiga- dos, o H63D e o S65C, responsáveis por manifestações mais brandas.3,4 No Brasil, são escassos os registros sobre a relação dos mutantes, manifestação clínica ou sua freqüência em determinados grupos populacionais. Nesta edição, o traba- lho intitulado "Mutation in the HFEgene (C282Y, H63D, S65C) in a brazilian population" traz informações relevantes sobre a freqüência alélica das variantes mais comuns em pacientes e em um grupo de doadores de sangue, servindo como base para novos estudos moleculares desses mutantes em outros grupos populacionais e evidenciando a concordância dos achados laboratoriais com os dados da literatura, para caucasóides e descendentes de europeus, tão participantes da formação da população brasileira. Deformabilidade eritrocitária na anemia ferropriva Erythrocyte deformability in iron deficiency anemia Nesta edição da Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, Giuseppina M. Patavino e colaboradores des- crevem redução da deformabilidade das hemácias na anemia ferropriva além de certa correlação entre o índice de defor- mabilidade e o grau de microcitose. O método utilizado foi a ectacitometria, através do índice de deformabilidade medido durante shear stress, e os autores estudaram amostras de 21 pacientes e compararam com 21 doadores de sangue. Os au- tores concluem que a diminuição da deformabilidade das hemácias na anemia ferropriva deve-se provavelmente, à microcitose. Sara T. O. Saad Profa. de Pós-graduação do Ibilce, Unesp, SP. Correspondência: Claudia Regina Bonini-Domingos Unesp, Ibilce, Depto de Biologia, Laboratório de Hemoglobinas e Genética das Doenças Hematológicas Rua Cristóvão Colombo, 2265 – Jd. Nazareth 15054-000 – São José do Rio Preto, SP – Brasil Tel.:/Fax: (17) 3221-2392 E-mail: claudiabonini@yahoo.com.br