UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA CAMPUS DE ARAÇATUBA AVALIAÇÃO CLÍNICO-LABORATORIAL DE CORDEIROS NASCIDOS A TERMO E PREMATUROS Larissa Gabriela Avila Médica Veterinária ARAÇATUBA - SP 2013 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA CAMPUS DE ARAÇATUBA AVALIAÇÃO CLÍNICO-LABORATORIAL DE CORDEIROS NASCIDOS A TERMO E PREMATUROS Larissa Gabriela Avila Orientador: Prof. Adj. Francisco Leydson Formiga Feitosa ARAÇATUBA – SP 2013 Tese apresentada à Faculdade de Medicina Veterinária – Unesp, Campus de Araçatuba, como parte das exigências para obtenção do título de Doutora em Ciência Animal (Fisiopatologia Médica e Cirúrgica) DADOS CURRICULARES DA AUTORA LARISSA GABRIELA AVILA – nascida em Brasília, Distrito Federal, em 10 de abril de 1981, graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – UNESP/FCAV, Campus de Jaboticabal, concluída em 2003. Aprimoramento em Medicina Veterinária, na área de Clínica Médica de Grandes Animais, pela mesma instituição, em 2004-2005. Mestre em Medicina Veterinária, área de concentração Clínica Médica Veterinária, pela mesma instituição, em 2009. “Uma mente que se abre a uma nova ideia jamais retornará ao seu tamanho original.” Albert Einstein Dedico aos meus pais, Frank e Maria Caetana, e à minha irmã, Krysia, que são os responsáveis por essa conquista e pela minha caminhada até aqui. Toda a dedicação, o incentivo, o amor e a amizade de vocês foram imprescindíveis ao meu crescimento pessoal e profissional. Vocês representam para mim o que há de melhor nesse mundo, são meus grandes referenciais e fazem tudo valer a pena!! AGRADECIMENTOS A Deus, por tudo que tem me concedido de precioso ao longo destes anos e por abrir caminhos muitas vezes inimagináveis, iluminando meus passos onde quer que eu esteja. À minha mãe, por ter me ensinado desde cedo a importância da disciplina e da responsabilidade, e por ser minha companheira, principalmente nos momentos difíceis. Você é o meu pilar! Ao meu pai, por ter me ensinado o conceito de retidão e justiça, pelas deliciosas conversas e os conselhos mais importantes. Você é o meu melhor amigo! À minha irmã, por me ensinar o verdadeiro sentido do amor fraternal e da amizade incondicional, me protegendo diante de qualquer perigo. Você é meu exemplo em tudo! Ao meu namorado, Luciano, que tem acreditado em mim e seguido comigo pelo mesmo caminho! À Faculdade de Medicina Veterinária, Campus de Araçatuba (FMVA/UNESP), por me receber com carinho para a obtenção deste título tão importante. Ao meu orientador e primeiro diretor da FMVA/UNESP, professor Francisco Leydson Feitosa, pelos ensinamentos, pela confiança que depositou em mim na realização deste trabalho e por me incentivar a melhorar sempre. À FAPESP, pela concessão do financiamento do projeto (2010/19497-4) e da bolsa de estudos (2011/01123-3), tornando possível a condução deste trabalho. Aos professores Juliana Peiró e Luiz Cláudio Mendes, pela amizade, pelo carinho e pela ajuda, a todo tempo, na parte experimental. Aos meus colegas pós-graduandos Fernanda Bovino, Diogo Gaubeur, Natália de Souza, Guilherme Fabretti, Maurício Deschk e Bianca Gerardi, que foram fundamentais em diferentes etapas do projeto e tornaram tudo muito mais divertido! Aos alunos de Iniciação Científica Vitor Silveira, Eduardo Mattos, Eduardo Panelli e Fernanda Fink, pelo envolvimento e ajuda no projeto. A Renata Figueiredo e Luis Gustavo Narciso, pelo processamento dos inúmeros hemogramas. Ao professor Paulo Sérgio Patto, pelo suporte na parte da anestesia durante as cesarianas. À professora Luciana Ciarlini, pela utilização do setor de Radiologia e pelos laudos radiográficos. Ao professor Mario Jefferson Louzada, pela disponibilidade na utilização do scanner em seu laboratório. À professora Marion Burkhardt de Koivisto e ao veterinário Petronio Gomes, pela assistência nos longos tratamentos reprodutivos nas ovelhas enfermas. À professora Gisele Fabrino, pelos laudos necroscópicos e histopatológicos. Ao professor Guilherme Nogueira, pelo processamento das amostras de cortisol em seu laboratório. À professora Sílvia Helena Perri, pelas análises estatísticas. Aos funcionários do setor de Grandes Animais, da esterilização e do Laboratório Clínico do Hospital Veterinário “Luiz Quintiliano de Oliveira”, por toda a ajuda com os animais, preparo do material utilizado no experimento e processamento das amostras. Ao funcionário Almir Spínola Lemos, pela ajuda na parte laboratorial de separação das amostras. Ao meu amigo Augusto Schweigert, pela amizade serena que nunca vai acabar. Às minhas amigas Maria Carolina Miguel e Heni Falcão, pela ajuda com a parte reprodutiva do experimento e pelos momentos incomparáveis de descontração. Às minhas amigas Bianca Gerardi, Bianca Arnone e Tatiane Poló, pelos encontros divertidos e muitas risadas ao longo deste período. Aos professores da Faculdade de Medicina Veterinária, Campus de Araçatuba, com os quais tive a oportunidade de conviver e aprender nas disciplinas cursadas. A todos que, de alguma forma, auxiliaram na conclusão de mais essa etapa na minha vida. SUMÁRIO Página CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS ................................................... 10 Objetivos ........................................................................................................... 15 Referências ....................................................................................................... 16 CAPÍTULO 2 – EFEITO DO GLICOCORTICOIDE NOS PARÂMETROS VITAIS DE CORDEIROS NASCIDOS A TERMO E PREMATUROS ............................ 22 RESUMO .......................................................................................................... 22 Palavras-Chave ................................................................................................ 22 SUMMARY........................................................................................................ 23 Keywords .......................................................................................................... 23 Introdução ......................................................................................................... 24 Material e Métodos ........................................................................................... 26 Resultados e Discussão.................................................................................... 31 Conclusões ....................................................................................................... 37 Referências ....................................................................................................... 37 CAPÍTULO 3 - VALORES HEMOGASOMÉTRICOS E CARACTERÍSTICAS RESPIRATÓRIAS DE CORDEIROS NASCIDOS A TERMO E PREMATUROS .......................................................................................................................... 53 RESUMO .......................................................................................................... 53 Palavras-Chave ................................................................................................ 53 SUMMARY........................................................................................................ 54 Keywords .......................................................................................................... 54 Introdução ......................................................................................................... 55 Material e Métodos ........................................................................................... 57 Resultados e Discussão.................................................................................... 61 Conclusões ....................................................................................................... 65 Referências ....................................................................................................... 66 CAPÍTULO 4 - PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS E PERFIL BIOQUÍMICO RENAL DE CORDEIROS NASCIDOS A TERMO E PREMATUROS ............... 74 RESUMO .......................................................................................................... 74 Palavras-Chave ................................................................................................ 74 SUMMARY........................................................................................................ 75 Keywords .......................................................................................................... 75 Introdução ......................................................................................................... 76 Material e Métodos ........................................................................................... 78 Resultados e Discussão.................................................................................... 81 Conclusões ....................................................................................................... 85 Referências ....................................................................................................... 86 AVALIAÇÃO CLÍNICO-LABORATORIAL DE CORDEIROS NASCIDOS A TERMO E PREMATUROS RESUMO – O objetivo deste trabalho foi determinar e avaliar os parâmetros fisiológicos, a vitalidade, a glicemia, a concentração plasmática de lactato, os valores hemogasométricos e os perfis hematológico e bioquímico renal de cordeiros nascidos a termo e prematuros, do nascimento as 48 horas de vida. Foram constituídos quatros grupos experimentais: PN (cordeiros nascidos de parto normal, n=15, média de 146 dias); PNDEX (cordeiros nascidos de parto normal cujas mães receberam 16 mg de dexametasona aos 141 dias de gestação, n=8, média de 143 dias); PRE (cordeiros prematuros nascidos de cesarianas aos 138 dias de gestação, n=10) e PREDEX (cordeiros prematuros nascidos de cesarianas aos 138 dias de gestação, cujas mães receberam 16 mg de dexametasona dois dias antes, n=9). As frequências cardíaca e respiratória foram mais altas nos grupos de partos normais; a temperatura retal diminuiu em todos os grupos entre 15 e 60 minutos de vida, sendo os menores valores encontrados nos cordeiros prematuros. O escore Apgar foi mais alto nos animais nascidos em tempo gestacional normal, o que também aconteceu em relação à glicemia. Contudo, a concentração plasmática de lactato foi mais alta nos animais prematuros, os quais apresentaram valores mais baixos de pH e bicarbonato, e mais altos de pCO2 e BE, indicando quadro mais grave de acidose respiratória e metabólica. Não houve variações expressivas no perfil hematológico, ao contrário do que foi evidenciado no perfil bioquímico renal, em que os cordeiros prematuros apresentaram concentrações séricas mais altas de creatinina. PALAVRAS-CHAVE: Asfixia neonatal, bioquímica, gasometria, nascimento prematuro, vitalidade CLINICAL AND LABORATORIAL EVALUATION OF FULL-TERM AND PREMATURE LAMBS SUMMARY – The aim of this study was to determine and evaluate the physiological parameters, vitality, blood glucose and plasma lactate concentrations, blood gas values and hematological and biochemical profiles of full-term and premature lambs from birth to 48 hours of life. Four experimental groups were formed: NDG (normal delivery group - lambs vaginally delivered, n=15, average of 146 days); NDEXG (normal delivery with dexamethasone group - lambs vaginally delivered whose mothers received 16 mg of dexamethasone at 141 days of gestation, n=8, average of 143 days), PRE (premature lambs born by cesarean section at 138 days of gestation, n=10) and PREDEX (premature lambs born by cesarean section at 138 days of gestation, whose mothers received 16 mg of dexamethasone two days before, n=9). Heart and respiratory rates were higher in the groups of normal deliveries; rectal temperature decreased in all groups between 15 and 60 minutes of life with the lowest values found in premature lambs. The Apgar score was higher in animals born at normal gestational time, which also occurred in relation to glucose. However, plasma lactate concentration was higher in premature lambs, which also showed lower values of pH and bicarbonate, and higher pCO2 and BE, indicating more severe metabolic and respiratory acidosis. There were no significant variations in the hematological profile, contrary to what was found in renal biochemical profile, where premature lambs had higher serum creatinine concentrations. KEYWORDS: Neonatal asphyxia, biochemistry, blood gas analysis, premature birth, vitality 10 CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS A fase mais vulnerável da vida de qualquer espécie animal compreende o período anterior e imediatamente posterior ao nascimento (DWYER, 2008). A mortalidade perinatal em cordeiros é um dos principais fatores que prejudicam a produtividade das criações dos rebanhos ovinos em todo o mundo (MILLER et al., 2009), com taxas que podem variar de 10 a 25% na primeira semana de vida (MELLOR; STAFFORD, 2004). As causas são relacionadas ao parto, à adaptação neonatal à vida extrauterina, a desordens funcionais ou doenças infecciosas. Entre 50 e 70% destes óbitos ocorrem nos primeiros três dias de vida (DWYER, 2008; SAWALHA et al., 2007), por distocia, inanição e hipoglicemia-hipotermia (VAALA; HOUSE, 2006). A presença relativa de quaisquer dessas causas de mortalidade varia conforme a localidade e as condições de manejo; entretanto, o peso do cordeiro é um fator importante neste contexto (GAMA et al., 1991; FOGARTY et al., 2000). O parto pode ser laborioso em caso de animais pesados (DALTON et al., 1980; GARDNER et al., 2007), enquanto cordeiros com peso abaixo da média tendem a apresentar inanição e hipotermia (SCALES et al., 1986). O risco de mortalidade em decorrência da hipotermia é alto em cordeiros com baixo peso ao nascer (ALEXANDER, 1984; NOWAK et al., 2000) pois a produção de calor é dependente da massa corpórea, e a termólise encontra-se relacionada à área superficial. O período após o parto nos ovinos é caracterizado por interação comportamental expressiva entre a ovelha e os cordeiros recém-nascidos, além de mudanças fisiológicas específicas que permitem o contato entre eles (DWYER, 2003; DWYER; LAWRENCE, 1998). Os primeiros comportamentos do cordeiro são normalmente direcionados à mãe, com associações espaciais extremamente próximas entre eles durante os três primeiros dias de vida (MORGAN; ARNOLD, 1974). A liberação de aminoácidos e ocitocina dentro do bulbo olfatório estimula a atração pelo líquido amniótico e a aceitação do 11 cordeiro por parte da fêmea ovina (DWYER, 2008). Nas criações gregárias, é importante este reconhecimento dos filhotes (LAWRENCE, 1990), a fim de que os mesmos obtenham sucesso durante a amamentação e subsequente desenvolvimento até a idade adulta (SÈBE et al., 2008). Os cordeiros recém-nascidos são suscetíveis ao frio, e a hipotermia é causa importante de mortalidade neste período pós-natal imediato (PUGH, 2005). A transição do ambiente intrauterino para a fase pós-natal representa fonte de desafios e estresse, sendo que a interação do comportamento do cordeiro e da mãe influenciará as chances de sobrevivência do recém-nascido (NOWAK et al., 2000). Os recém-nascidos precisam ser vigorosos e rapidamente localizar a glândula mamária; para que isso aconteça, os cordeiros necessitam apresentar determinados padrões de comportamento bem adaptados imediatamente após o nascimento (MELLOR, 1988). As principais causas de mortalidade de cordeiros recém-nascidos incluem traumas durante o parto e falhas de adaptação à vida pós-natal, tais como a inabilidade para a manutenção da temperatura corporal, o vigor reduzido do cordeiro e a relação precária entre a mãe e o filhote (SOUTHEY et al., 2004; VON KEYSERLINGK; WEARY, 2007; DWYER, 2008). Os pequenos ruminantes normalmente evoluem para a posição quadrupedal e procuram a glândula mamária rapidamente, em comparação aos bezerros; a maioria dos cordeiros levanta-se em 30 minutos e mama ao longo de 90 minutos após o nascimento (DWYER, 2003). A falha do recém-nascido em mamar pode resultar do vigor neonatal reduzido, mau instinto materno ou condições ambientais adversas (DWYER; LAWRENCE, 2005). As primeiras horas após o parto são críticas para a sobrevivência do cordeiro, em virtude da perda de calor durante a transição do ambiente intrauterino para o meio externo (DWYER; MORGAN, 2006). Nos primeiros 15 minutos de vida, a temperatura interna do cordeiro diminui um a dois graus Celsius em relação à temperatura de 39o C do ambiente intrauterino. Neste momento, independentemente das condições climáticas e de outros fatores, há três pontos que podem influenciar a sobrevivência do cordeiro, a saber: o estado 12 fisiológico do recém-nascido e da ovelha no momento do parto; a qualidade do cuidado que a mãe vai dispensar ao recém-nascido; e, por fim, o comportamento do próprio cordeiro (NOWAK; POINDRON, 2006). O desenvolvimento do comportamento do recém-nascido e a habilidade em realizar a termorregulação podem ser associados à maturidade relativa ao nascimento. Os cordeiros com movimentação lenta para se levantar e mamar apresentam maiores chances de óbito (DWYER et al., 2001). Cordeiros cuja temperatura retal encontra-se abaixo dos valores fisiológicos para a referida faixa etária tendem a não alcançar a glândula mamária para realizar a primeira mamada (SLEE; SPRINGBETT, 1986; DWYER; MORGAN, 2006). À medida que a temperatura ambiental diminui, o metabolismo animal é acelerado com o intuito de manter a homeostase. A perda de calor nos recém-nascidos ocorre na dependência da velocidade do vento, da umidade do ambiente e do grau de evaporação de fluidos amnióticos da superfície corpórea. Para manter a homeostase antes da ingestão do colostro, o recém-nascido deve metabolizar as reservas energéticas do tecido adiposo marrom e estimular a atividade muscular, por meio dos tremores corporais (ALEXANDER; WILLIAMS, 1968). Após o nascimento, o recém-nascido necessita de intensas mudanças nos padrões respiratório e circulatório para a sua sobrevivência (PLADYS et al., 2008). O processo de adaptação ao meio extrauterino é dependente da ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, sendo mediado, principalmente, pelo cortisol, potente estimulador do metabolismo (SCHWARTZ; ROSE, 1998; WOOD, 1999). A maturação endócrina ao nascimento tem relevância na competência comportamental e na habilidade termorreguladora dos recém- nascidos, iniciada ainda na fase uterina, sendo o cortisol e os hormônios tireoideanos fundamentais para a maturação fetal (LIGGINS, 1994; FOWDEN et al., 1998; MILLER et al., 2009). O parto provavelmente é iniciado quando o hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) da hipófise fetal causa a liberação de cortisol a partir do córtex da adrenal fetal (BARTH, 1986). O cortisol reduz a produção placentária de progesterona e eleva a produção estrogênica, resultando na 13 liberação de prostaglandina F2α (PGF) uterina. Consequentemente, a atividade uterina diminui, ocorre luteólise e o parto é iniciado (KASTELIC et al., 1996). A dexametasona e outros glicocorticoides sintéticos mimetizam a ação do cortisol fetal (ADAMS; WAGNER, 1970) e podem ser utilizados para a indução do parto em ovelhas (BOSC, 1972; HARMAN; SLYTER, 1980). Embora a administração de corticosteroides para indução do parto esteja amplamente difundida em bovinos, é um procedimento relativamente incomum em ovinos. A maior limitação é a baixa taxa de sobrevivência de cordeiros prematuros e a frequente falta de informação precisa sobre o estágio da gestação nas ovelhas (INGOLDBY; JACKSON, 2001). Qualquer grau de dismaturidade pode apresentar efeito adverso sobre a sobrevivência neonatal. A indicação mais comum para a indução do parto está relacionada ao comprometimento da saúde materna, como nos casos de toxemia da gestação. Em casos graves, a fêmea pode estar em decúbito, gravemente deprimida e anoréxica; a contínua e provavelmente insatisfatória demanda de glicose para o(s) feto(s) representa uma ameaça à sobrevivência tanto da mãe quanto dos filhotes (INGOLDBY; JACKSON, 2001) e, neste momento, a indução do parto na tentativa de salvar a prole pode ser uma alternativa. O tratamento materno com glicocorticoide é utilizado para mimetizar a secreção fetal de cortisol, o que induz à disponibilidade de glicogênio e glicose (FRANKO et al., 2007) e à capacidade dos recém-nascidos realizarem termogênese sem tremores musculares (BISPHAM et al., 1999). Nos casos de parto distócico, entretanto, esta ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal pode estar suprimida, devido à possibilidade de ocorrência da síndrome asfixia/hipóxia neonatal (RAY et al., 1972). Em cordeiros, principalmente prematuros, a hipóxia grave, no momento do parto, pode causar morte logo após o nascimento, havendo maior risco, nos sobreviventes, de ocorrer acidose metabólica e diminuição da capacidade de produção de calor (termogênese), o que leva à condição de hipotermia (NOWAK et al., 2000). Durante o parto laborioso, há diminuição da frequência cardíaca do feto, com consequente diminuição no fluxo sanguíneo fetal 14 (JONKER et al., 1996). Os recém-nascidos tornam-se hipóxicos e desenvolvem quadro de acidose respiratória e metabolismo anaeróbico, que tendem a se normalizar ao longo das primeiras 24 horas de vida (LISBÔA et al., 2002). A avaliação física do recém-nascido, logo após o nascimento, é de grande relevância, por propiciar a observação de possíveis sinais clínicos de infecções sistêmicas, de alterações localizadas e/ou adquiridas, e da existência de dispneia (VAALA et al., 2006). Em animais com hipóxia, a atividade física normalmente encontra-se diminuída e os animais apresentam-se letárgicos e/ou incapazes de levantar-se e amamentar-se. Verifica-se a ocorrência de taquipneia e as mucosas aparentes tornam-se cianóticas e/ou pálidas (BENESI, 1993), enquanto animais saudáveis, ao nascimento, tendem a apresentar coloração rósea menos intensa (FEITOSA, 2008). Na espécie humana, rotineiramente adota-se o método de avaliação do recém-nascido, logo após o nascimento e aos cinco minutos de vida, denominado escore Apgar (APGAR et al., 1958), o qual foi modificado por Born (1981) e tem sido utilizado na medicina veterinária (GASPARELLI et al., 2009; VERONESI et al., 2009; BOVINO, 2011). Este método baseia-se na avaliação das frequências cardíaca e respiratória, tônus muscular, coloração das mucosas e respostas reflexas. Na espécie ovina o período gestacional varia de 145 a 148 dias (JAINUDEEN; HAFEZ, 2004). Os animais nascidos a partir de 137 dias são considerados prematuros, porém quanto mais próxima a data do parto do período gestacional normal, em média 145 dias, maior a sobrevida dos cordeiros (MOBINI et al. 2004). O nascimento prematuro representa grande desafio fisiológico ao recém-nascido em todas as espécies, uma vez que os pulmões imaturos deverão se adequar às necessidades respiratórias orgânicas (COCK et al., 2005). Cordeiros prematuros tem sido usados como modelo experimental para estudos da imaturidade pulmonar em recém-nascidos humanos (BJORKLUNG et al., 2001; SOZO et al., 2006), sendo poucos os trabalhos destinados à medicina veterinária, principalmente com enfoque nos animais pecuários. 15 Há evidências de que a maturação funcional pulmonar seja induzida pela administração de corticosteroides, primariamente por alterações pulmonares estruturais importantes (JOBE; IKEGAMI, 2000). Os resultados positivos após a administração materna de glicocorticoides dependem, contudo, da fase gestacional e do desenvolvimento pulmonar (JOBE, 2001; BONANNO; WAPNER, 2012). A partir destes dados, reforça-se a possibilidade da aplicação de tais fármacos em casos especiais, como nas doenças metabólicas maternas graves, que podem prejudicar a viabilidade fetal e diminuir sobremaneira a possibilidade de se conduzir a gestação a termo com o nascimento de filhotes saudáveis. Objetivos Objetivo Geral: � Estabelecer os parâmetros clínicos e laboratoriais de cordeiros nascidos a termo e prematuros ao longo das primeiras 48 horas de vida. Objetivos Específicos: � Determinar, avaliar e comparar a vitalidade, os parâmetros fisiológicos, a glicemia e as concentrações plasmáticas de lactato de cordeiros nascidos a termo e prematuros, do nascimento as 48 horas de vida; � Determinar, avaliar e comparar os valores do volume globular, do teor de hemoglobina, das contagens total e diferencial de leucócitos, as concentrações plasmáticas de proteínas totais e de fibrinogênio de cordeiros a termo e prematuros, do nascimento as 48 horas de vida; � Determinar, avaliar e comparar o equilíbrio ácido-básico em amostras de sangue venoso de cordeiros nascidos a termo e prematuros, do nascimento as 48 horas de vida; 16 � Verificar o efeito da realização de corticoterapia materna sobre as variáveis estudadas em cordeiros a termo e prematuros, do nascimento as 48 horas de vida, e a influência da dexametasona sobre a taxa de mortalidade em cordeiros prematuros. Referências ADAMS, W. M.; WAGNER, W. C. The role of corticoids in parturition. 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Foram constituídos quatros grupos experimentais: PN (cordeiros nascidos de parto normal, n=15, média de 146 dias); PNDEX (cordeiros nascidos de parto normal, cujas mães receberam 16 mg de dexametasona aos 141 de gestação, n=8, média de 143 dias); PRE (cordeiros prematuros nascidos de cesarianas aos 138 dias de gestação, n=10) e PREDEX (cordeiros prematuros nascidos de cesarianas aos 138 dias de gestação, cujas mães receberam 16 mg de dexametasona dois dias antes, n=9). As frequências cardíaca e respiratória variaram ao longo do período, com os maiores valores nos grupos de partos normais. A temperatura retal diminuiu em todos os grupos entre 15 e 60 minutos de vida, sendo os menores valores observados nos cordeiros prematuros. O escore Apgar foi mais alto nos animais nascidos em tempo gestacional normal, o que também foi verificado em relação ao perfil glicêmico. Contudo, a concentração plasmática de lactato foi mais alta nos animais prematuros. Os cordeiros prematuros apresentaram menor vitalidade e os valores de glicemia e concentração plasmática de lactato diferiram nos grupos, mostrando que prematuros apresentam menor chance de sobrevivência. Entretanto, menor taxa de mortalidade foi observada quando as ovelhas receberam dexametasona 48 horas antes da cirurgia eletiva. Palavras-Chave: Apgar, cordeiros, glicemia, lactato, prematuros, vitalidade 23 EFFECT OF GLUCOCORTICOID IN THE VITAL PARAMETERS OF FULL- TERM AND PREMATURE LAMBS SUMMARY – The aim of the study was to evaluate the influence of glucocorticoids on vital parameters of full-term and premature lambs from birth to 48 hours of life. Four experimental groups were formed: NDG (normal delivery group - lambs vaginally delivered, n=15, average of 146-day gestation); NDEXG (normal delivery with dexamethasone group - lambs vaginally delivered whose mothers received 16 mg of dexamethasone at 141 days of gestation, n=8, average of 143-day gestation); PRE (premature lambs born by cesarean section at 138 days of gestation, n=10) and PREDEX (premature lambs born by cesarean section at 138 days gestation, whose mothers received 16 mg of dexamethasone two days before, n=9). Heart and respiratory rates had variations during the observation period, with the highest mean values in the groups of normal deliveries (PN and PNDEX). Rectal temperature decreased in all groups between 15 and 60 minutes of life, with the lowest mean values observed in premature lambs (PRE and PREDEX). The Apgar score was higher in animals delivered at normal gestational time, which had relation to glycemic profile. However, plasma lactate concentration was higher in premature animals. Lambs withdrawn prematurely from intrauterine environment had lower vitality compared to lambs born at term. Blood glucose and plasma lactate concentration differed between groups, showing that premature lambs have lower chance of survival. However, lower mortality rate was observed in offspring of ewes that received dexamethasone 48 hours before elective surgery. Keywords: Apgar, lambs, glucose, lactate, premature, vitality 24 Introdução O período neonatal representa uma fase crítica no desenvolvimento dos animais recém-nascidos, os quais precisam se adaptar à vida extrauterina. Neste período de adaptação, os mecanismos homeostáticos termorreguladores, cardiovasculares, respiratórios e metabólicos completam sua maturação (PICCIONE et al., 2007; PLADYS et al., 2008). Entre 50 e 70% da mortalidade neonatal ocorre nos primeiros dois ou três dias de vida (DWYER, 2008; MELLOR; STAFFORD, 2004; SAWALHA et al., 2007), o que implica em significativa perda econômica e preocupação com o bem-estar animal (NOWAK et al., 2000; MEE, 2008). As maiores causas da mortalidade de cordeiros estão associadas a traumas durante o nascimento, falha na adaptação à vida pós-natal (inabilidade na manutenção da temperatura corporal, baixo vigor do cordeiro, estabelecimento de vínculo materno precário), doenças infecciosas, desordens funcionais e presença de predadores (DWYER; SMITH, 2007). A habilidade para sobreviver é dependente da resposta do cordeiro ao ambiente climático no qual ele nasceu (DWYER; MORGAN, 2006). Os cordeiros nascem em condições frias ou úmidas, com baixa reserva de gordura corporal e alta proporção da superfície em relação ao peso vivo, o que exacerba a perda de calor (STEPHENSON et al., 2001). Para manter a homeostase antes da ingestão do colostro, o recém-nascido deve metabolizar as reservas energéticas do tecido adiposo marrom e estimular a atividade muscular, por meio dos tremores corporais (ALEXANDER; WILLIAMS, 1968). Nos recém-nascidos ruminantes, aproximadamente 60% da termogênese é garantida pelos tremores da musculatura esquelética, enquanto os 40% restantes estão relacionados ao tecido adiposo marrom (BRUMBAUGH, 2003). Ao nascimento, o sistema respiratório precisa se desenvolver para exercer a função de troca gasosa, anteriormente provida pela placenta 25 (MORTOLA, 2001). Nos animais recém-nascidos, a hipóxia e hipercapnia induzem à variação na distribuição do sangue para os tecidos e órgãos cuja ativação inicialmente não era necessária à vida (tecidos digestivos, musculares e cutâneos) (PICCIONE et al., 2006). O desenvolvimento pré-natal dos pulmões, incluindo a síntese de surfactante, recebe influência dos níveis de glicocorticoides envolvidos nos processos metabólicos. Estes níveis de glicocorticoides durante os dois primeiros dias de vida asseguram teores adequados de glicose sanguínea, necessária aos processos termorreguladores que são essenciais à manutenção da temperatura corporal nos recém-nascidos (PICCIONE et al., 2007). O tratamento materno com glicocorticoide é utilizado para mimetizar a secreção fetal de cortisol, o que induz à disponibilidade de glicogênio e glicose (FRANKO et al., 2007) e à capacidade de realizar termogênese sem tremores musculares (BISPHAM et al., 1999). A infusão pré-natal de glicocorticoides também induz ao aumento transitório na concentração de leptina, hormônio com diversas ações sobre o crescimento e o desenvolvimento fetais (MILLER et al., 2009). A avaliação física do neonato, logo após o nascimento, é de grande relevância, por propiciar a observação de possíveis sinais clínicos de infecções sistêmicas, de alterações localizadas e/ou adquiridas, e da existência de dispneia (VAALA; HOUSE, 2006). Em animais com hipóxia, a atividade física normalmente encontra-se diminuída e os animais apresentam-se letárgicos, vagarosos ou incapazes de amamentar-se (DUTRA; BANCHERO, 2011). Verificam-se taquipneia e mucosas aparentes cianóticas e/ou pálidas (BENESI, 1993), enquanto animais saudáveis apresentam coloração rósea menos intensa ao nascimento (FEITOSA, 2008). A vitalidade também pode ser verificada pelo escore Apgar modificado por Born (1981), que se utiliza das avaliações de respostas reflexas, padrão respiratório e coloração das mucosas logo após o nascimento e nos primeiros minutos de vida em animais de diferentes espécies (BOVINO, 2011; GASPARELLI et al., 2009). 26 O objetivo deste estudo foi avaliar a influência do glicocorticoide sobre os parâmetros clínicos e laboratoriais de cordeiros nascidos a termo e prematuros, do nascimento as 48 horas de vida. A hipótese é de que cordeiros prematuros sob a influência da administração de glicocorticoide materno apresentam parâmetros clínicos e vitalidade semelhantes aos cordeiros com tempo gestacional normal para a espécie. Material e Métodos O presente estudo foi submetido à avaliação pelo comitê de ética animal da Faculdade de Medicina Veterinária, UNESP/Araçatuba (Committee for Ethical Use of Animals – CEUA, protocolo 02493-2011). Animais - Foram utilizados cordeiros cujas mães eram provenientes de rebanho da região de Araçatuba/SP, distribuídos em quatro grupos experimentais, a saber: Grupo PN: 15 cordeiros nascidos de partos normais (média de 146 dias de gestação). Grupo PNDEX: oito cordeiros nascidos de partos normais, cujas mães receberam 16 mg (INGOLDBY; JACKSON, 2001) de dexametasona (Azium®, Schering-Plough), por via intramuscular, aos 141 dias de gestação (média de 143 dias). Grupo PRE: dez cordeiros prematuros, nascidos por meio de cesarianas realizadas aos 138 dias de gestação. Grupo PREDEX: nove cordeiros prematuros, nascidos por meio de cesarianas realizadas aos 138 dias de gestação, cujas mães receberam 16 mg de dexametasona, por via intramuscular, dois dias antes da cirurgia (aos 136 dias). 27 Os cordeiros nascidos a partir de 137 dias são considerados prematuros, porém quanto mais próxima a data do parto do período gestacional normal, em média 145 dias, maior a sobrevida destes animais (MOBINI et al. 2004). Em estudos de modelo experimental para prematuros humanos, a interrupção da gestação ocorreu aos 133 dias nas ovelhas (COCK et al., 2005; DE MATTEO et al., 2009) e foi justificada pelos autores por ser a idade gestacional mínima para o nascimento de cordeiros viáveis sem a necessidade de suporte ventilatório. Entretanto, as informações são escassas com relação às espécies pecuárias, sendo que Radostits et al. (2002) citaram que esta idade mínima para a viabilidade dos recém-nascidos seria de 138 dias para a espécie ovina, utilizando-se, portanto, no presente estudo esta data para o nascimento dos animais prematuros. As datas de cobertura das ovelhas eram conhecidas e realizou-se exame ultrassonográfico (DP 2200 Vet, Mindray) abdominal para confirmação da gestação entre 45 e 60 dias após a última data de cobertura. O procedimento anestésico adotado nas cirurgias cesarianas empregou a anestesia local com bloqueio paravertebral proximal nos ramos nervosos das vértebras T13, L1 e L2, utilizando-se cloridrato de lidocaína (Xylestesin® 2%, Cristália), no volume de 5 mL em cada ponto dorsal e ventral aos processos transversos. Associou-se a anestesia peridural lombossacra (L6- S1) com sulfato de morfina (Dimorf®, Cristália) na dose de 0,1 mg/kg diluída em 5 mL de solução fisiológica. Nos casos em que a anestesia paravertebral não foi eficiente, realizou-se bloqueio infiltrativo no local da incisão com cloridrato de lidocaína. Após a retirada do feto, quando necessário, as ovelhas recebiam sedação com maleato de midazolam (Dormonid®, Roche) na dose de 0,2 mg/kg. O procedimento cirúrgico foi realizado com as ovelhas colocadas em decúbito lateral direito, para incisão em região do flanco esquerdo, conforme técnica descrita por Tibary e Van Metre (2004). Os cordeiros provenientes de partos normais permaneceram com as mães, ingerindo colostro à vontade. Os animais oriundos de cesarianas foram acompanhados e alimentados com colostro proveniente de banco de colostro 28 bovino, devido à ausência de produção de colostro nas mães e à dificuldade para formação de banco de colostro ovino. O colostro foi fornecido por intermédio do uso de mamadeiras nas primeiras horas de vida; quando não apresentavam reflexo de sucção, a administração era realizada com auxílio de sonda nasoesofágica. Os cuidados referentes à manutenção de temperatura e suporte ventilatório dos cordeiros prematuros (Figura 1), quando manifestaram hipotermia e hipóxia, foram realizados mantendo-os em incubadora (Olidef – 50064) e sob ventilação assistida durante período máximo padronizado de 30 minutos. Observou-se grande quantidade de líquido nas vias aéreas superiores, tendo-se realizado a aspiração do máximo possível deste conteúdo após a sondagem orotraqueal, com a utilização de bomba a vácuo (Figura 2). Estes procedimentos emergenciais foram realizados nos cordeiros prematuros na tentativa de mantê-los vivos e saudáveis ao longo das avaliações. Os cordeiros foram submetidos à mensuração da temperatura retal com uso de termômetro clínico digital e aferição das frequências cardíaca e respiratória por meio de auscultação, nos seguintes momentos: ao nascimento (M0h), aos 15 minutos (M15min), aos 60 minutos (M60min), e às 24 (M24h) e 48 horas de vida (M48h). Para avaliação da vitalidade dos cordeiros, utilizou-se o escore Apgar modificado por Born (1981), sendo realizado o teste logo após o nascimento (M0h), aos 15 minutos (M15min) e aos 60 minutos de vida (M60min). Os quatro itens de avaliação, pontuados de zero a dois, foram: a) movimentação da cabeça com água fria (zero – ausente; um - diminuída; dois - espontânea e com movimentos ativos); b) resposta reflexa óculo-palpebral e interdigital (zero – ausente; um – um reflexo presente; dois – dois reflexos presentes); c) tipo de respiração (zero – imperceptível; um - lenta e irregular; dois – rítmica e com profundidade normal); e d) coloração das mucosas (zero – branca azulada; um – azulada, e dois – rósea avermelhada). A pontuação foi interpretada da seguinte forma: sete a oito representavam boa vitalidade; quatro a seis 29 caracterizaram vitalidade moderada e de zero a três era indicativo de que o recém-nascido encontrava-se com baixa vitalidade (deprimido). Coleta e processamento das amostras - Amostras de sangue venoso foram colhidas no M0h, M15min, M60min, M24h e M48h; após antissepsia local, realizou-se punção da veia jugular, utilizando-se agulhas 25 x 0,7 mm (BD Vacutainer®) acopladas a tubos para coleta de sangue (BD Vacutainer®) com anticoagulante ácido etilenodiamino tetracético (EDTA), para volume de 5 mL. As mensurações da glicemia e da concentração plasmática de lactato foram realizadas imediatamente após a colheita de sangue em cada momento, em glicosímetro (One Touch Ultra II®, Johnson & Johnson) e lactímetro (Accutrend Plus®, Roche) respectivamente, seguindo-se as recomendações dos fabricantes. Análise estatística - Os dados foram submetidos à análise de variância com medidas repetidas, sendo as médias comparadas pelo teste de Tukey no nível de significância de 5%. As variáveis categóricas coloração de mucosas e escore Apgar foram analisadas pelo teste exato de Fisher em cada momento. A variável glicemia foi analisada pelo teste de Kruskal-Wallis para comparar os grupos em cada momento e pelo teste de Friedman para comparar os momentos em cada grupo, seguido do teste de Dunn para comparações múltiplas. As análises estatísticas foram efetuadas empregando-se o programa SAS (Statistical Analysis System - SAS Institute Inc., release 9.2. Cary:NC, 2008), sendo consideradas significativas quando p<0,05 (ZAR, 1998). 30 Figura 1 – Cordeiro prematuro nascido por cirurgia cesariana realizada aos 138 dias de gestação (grupo PRE). Figura 2 – Procedimento de aspiração do conteúdo traqueal em cordeiro prematuro, nascido por cirurgia cesariana realizada aos 138 dias de gestação (grupo PRE), com uso de bomba a vácuo. 31 Resultados e Discussão Os resultados dos parâmetros fisiológicos, da vitalidade por meio do escore Apgar, da glicemia e das concentrações plasmáticas de lactato dos cordeiros dos grupos PN, PNDEX, PRE e PREDEX, do nascimento as 48 horas de vida, estão descritos nas Tabelas 1 a 5. Nos grupos PN e PNDEX foram avaliados 15 e oito cordeiros, respectivamente, do nascimento às 48 horas de vida. Os grupos PRE e PREDEX começaram com dez e nove cordeiros. Contudo, em virtude da ocorrência de vários óbitos com a evolução do tempo, restaram, finalizado o período de observação do estudo, apenas três e sete cordeiros, nos respectivos grupos (70% e 20% de mortalidade nos grupos PRE e PREDEX). Estes animais foram encaminhados ao Setor de Patologia Veterinária da FMVA/UNESP e, à necropsia, foram identificados pulmões congestos com áreas de atelectasia em graus variados, com causa mortis identificada como insuficiência cardiorrespiratória. No grupo PN, as ovelhas pariram em média aos 146 dias, enquanto no grupo PNDEX a média foi de 143 dias para a ocorrência dos partos. A dexametasona teve ação no grupo PNDEX, em média, 51 horas após a administração por via intramuscular nas ovelhas, a qual foi realizada de maneira padronizada aos 141 dias de gestação. A antecipação das parições no grupo PNDEX confirma a possibilidade de utilização de medicamentos para indução do parto em ruminantes (SIMPLÍCIO et al., 2007). O resultado obtido contrasta com a informação de que as fêmeas entrariam em trabalho de parto 36 a 48 horas após a administração (INGOLDBY; JACKSON, 2001), porém coincide com o que foi observado por Kastelic et al. (1996), havendo necessidade de monitoração contínua dos animais devido à possibilidade de variação na resposta individual. Os resultados deste estudo mostram que a mortalidade é elevada (70% no presente estudo) e a vitalidade nos sobreviventes é menor em cordeiros nascidos uma semana antes (aos 138 dias) do período gestacional médio, 32 aproximadamente, para a referida espécie (145 dias de gestação, MOBINI et al., 2004). Embora haja informação na literatura sobre a idade gestacional mínima que garantiria a sobrevivência das diferentes espécies, sendo, geralmente, de 138 dias para ovinos (RADOSTITS et al., 2002), o presente trabalho contesta tal informação, em virtude da elevada taxa de mortalidade verificada logo após o nascimento ou durante os primeiros 15 minutos de vida. A interrupção da gestação aos 138 dias provavelmente comprometeu a produção de surfactante, uma vez que foram observadas áreas de atelectasia pulmonar, o que indica que não houve expansão dos alvéolos ou a mesma não ocorreu de maneira eficiente (CUNINGHAM, 2004). O desenvolvimento pulmonar pré-natal, incluindo a síntese de surfactante, recebe influência dos níveis de glicocorticoides envolvidos nos processos metabólicos (PICCIONE et al., 2007). Assim, o sistema respiratório, ainda imaturo, não respondeu ou respondeu com pouca eficiência às exigências imediatas de ventilação nos animais prematuros, fato comprovado pela menor frequência respiratória verificada nos animais do grupo PRE. Outros autores também apontaram o comprometimento orgânico em recém- nascidos prematuros (GNANALINGHAM et al., 2008; BLEUL et al., 2009), dificultando a sobrevida dos mesmos. Com relação aos parâmetros fisiológicos, verificou-se diferença nos valores da frequência cardíaca (FC) entre os grupos de partos normais (PN=169±54 bpm e PNDEX=188±58 bpm) e o grupo PREDEX (108±43) no M0h (Tabela 1 e Figura 3), e entre os dois grupos de animais prematuros (PRE=171±42 bpm e PREDEX=220±26 bpm) no M60min, e nos valores da frequência respiratória (FR) entre os grupos de partos normais (PN=66±23 mpm e PNDEX=73±29 mpm) e o PRE (26±35 mpm), no M0h (Tabela 1 e Figura 4). Imediatamente após o nascimento, cordeiros apresentam volume sistólico reduzido, o que requer que o coração bombeie maior volume de sangue para dentro do sistema vascular, o qual possui baixa complacência, sendo responsável por aumento das resistências elástica e periférica 33 (PICCIONE et al., 2007). Além disso, o esforço para sucção da glândula mamária também eleva a FC (BUSCHMANN et al., 1993), o que justifica que cordeiros do grupo PREDEX tenham apresentado médias mais altas em relação ao grupo PRE no M60min, uma vez que os animais apresentavam maior vitalidade. As oscilações encontradas ao longo do período de observação podem ser explicadas pela constante movimentação e excitação dos recém-nascidos mediante a manipulação para a avaliação física. A atividade respiratória caracteriza-se pela irregularidade no período neonatal (PICCIONE et al., 2007), podendo a FR apresentar variabilidade fisiológica homeostática nas primeiras quatro semanas após o parto (DAVEY et al., 1998), fato verificado no presente estudo. Além disso, a exemplo do que ocorreu com a FC, a FR foi influenciada pela excitação dos recém-nascidos causada pela manipulação para avaliação dos parâmetros vitais. A diferença entre os grupos de partos normais e o grupo PRE deve-se à dificuldade que os animais prematuros tiveram para iniciar os movimentos respiratórios, responsáveis pelo início da ventilação e estabelecimento da capacidade residual funcional. A ausência de expansão pulmonar, associada à deficiência de surfactante, favoreceu sobremaneira a ocorrência das áreas de atelectasia pulmonar. A temperatura retal (TR) diminuiu em todos os grupos entre 15 e 60 minutos após o nascimento (Tabela 1 e Figura 5), e os valores médios foram marcadamente menores nos grupos PRE e PREDEX em todos os momentos avaliados, com destaque para o M60min (PRE=35,3±1,6oC e PREDEX=36,7±1,5oC). A capacidade de produzir calor é limitada nos cordeiros ao nascimento e dependente das reservas de glicogênio e da espessura do tecido adiposo marrom (PICCIONE et al., 2007). A termogênese está comprometida em cordeiros prematuros e/ou nascidos por cesariana (CLARKE et al., 1996; CLARKE et al., 1997), porém há melhora da capacidade termorreguladora com o tratamento materno por dexametasona (CLARKE et al., 1998; GNANALINGHAM et al., 2008). Os resultados apresentados corroboram esses dados, visto que os cordeiros prematuros de ambos os 34 grupos apresentaram TR mais baixa que os cordeiros nascidos naturalmente. Contudo, o grupo PREDEX apresentou valores médios mais altos que o PRE, denotando possível maturação do tecido adiposo marrom induzida pelo corticosteroide (GNANALINGHAM et al., 2008). Os cordeiros de todos os grupos apresentaram em média predomínio da coloração da mucosa óculo-palpebral de rósea a avermelhada, do nascimento as 48 horas de vida (Tabela 2 e Figura 6). No grupo PRE, 10% dos cordeiros apresentaram mucosa cianótica e, nos grupos que receberam a influência de dexametasona (PNDEX e PREDEX), observou-se a ocorrência de mucosa pálida em 12,5% dos recém-nascidos, no M48h e M24h, respectivamente. O predomínio da coloração rósea do nascimento às 48 horas de vida é fisiológico para a referida faixa etária (FEITOSA, 2008). A observação de mucosa cianótica no grupo PRE denota o comprometimento cardiorrespiratório intenso que alguns animais apresentaram, com dificuldade para o estabelecimento da ventilação e a adequada perfusão pulmonar. A vitalidade dos recém-nascidos, verificada por meio do escore Apgar, variou entre normal (pontuação 7 a 8) e moderada (pontuação 4 a 6) nos grupos PN (normal=86,67% e moderada=13,33%) e PNDEX (normal=75,00% e moderada=25,00%) nos três momentos avaliados – M0h, M15min e M60min (Tabela 3 e Figura 7). Verificou-se a presença de vitalidade baixa (pontuação 0 a 3) no grupo PRE no M0h (50,00%) e M15min (14,29%), e no grupo PREDEX no M0h (11,11%). Nos quatro grupos houve a diminuição da porcentagem do escore Apgar no M15min e M60min em relação ao M0h. Estes resultados contrastam com os obtidos por Gasparelli et al. (2009), que observaram que, em bezerros Nelore, independentemente do tipo de parto, 90% dos animais nasceram deprimidos (pontuação 4 a 6). Rodrigues et al. (2007) encontraram valores menores de escore Apgar ao nascimento, atingindo pontuação máxima aos 60 minutos de vida. Tais achados também diferem dos dados deste estudo, em que os maiores valores foram detectados logo após o nascimento. Estes resultados (86,67%) assemelham-se aos obtidos por Camargo (2010) e Bovino (2011), em que se verificou vitalidade normal (pontuação 7 a 8) nos 35 primeiros minutos de vida (84,00% e 93,75%, respectivamente). A diminuição da porcentagem do escore Apgar no M15min e M60min, encontrada nos quatro grupos, todavia, não indica queda real da vitalidade, mas a diminuição da resposta ao teste, como por exemplo, em relação à resposta ao estímulo da água fria, coincidindo com os resultados de Bovino (2011). Quando realizada a administração de dexametasona, um glicocorticoide eficiente para indução de parto em ruminantes, os recém-nascidos apresentaram melhor condição clínica, iniciando os movimentos respiratórios logo após a interrupção do fornecimento sanguíneo pelo cordão umbilical. As condições gerais e a vitalidade dos cordeiros corroboram as maiores taxas de sobrevivência observadas no presente estudo. Sabidamente os tratamentos com corticosteroides aceleram a maturação pulmonar (STEIN et al., 1994) e melhoram a adaptação de prematuros após o nascimento por cesarianas (CLARKE et al., 1998), fato comprovado pelos resultados deste estudo. A espécie ovina tem sido utilizada como modelo experimental para estudo da displasia broncopulmonar em humanos (HILLMAN et al., 2010; JOBE et al., 2008; SATO et al., 2011; SOZO et al., 2006), porém o presente trabalho objetivou abranger a neonatologia pecuária, com interesse nas chances de sobrevida nas situações vivenciadas em campo. É possível a administração de corticosteroide para induzir a maturação pulmonar fetal em ovelhas com afecções metabólicas, como a toxemia da gestação, a fim de que se garanta a sobrevida dos produtos em propriedades com animais de alto valor zootécnico. Há, todavia, que se considerar outros aspectos, como a possibilidade de que a maturação intestinal, também favorecida pelo corticosteroide, possa diminuir a eficiência da transferência de imunidade passiva (dados não publicados). Com relação à glicemia, houve diferença significativa entre os grupos de partos normais (PN - Md=41 mg/dL e PNDEX - Md=38 mg/dL) e os grupos de cordeiros prematuros (PRE - Md=<20 mg/dL e PREDEX - Md=20 mg/dL) apenas no M0h, sendo os menores valores de mediana encontrados nos cordeiros prematuros (Tabela 4 e Figura 8). Em todos os grupos, houve 36 aumento da glicemia no M24h e/ou M48h em relação ao M0h. A glicose sanguínea, um dos substratos energéticos primários do ruminante recém- nascido, encontra-se em níveis baixos até a primeira ingestão de colostro (RADOSTITS et al., 2002). A glicemia é dependente diretamente da quantidade ingerida, da concentração de lactose presente no leite (KUHNE et al., 2000) e é influenciada pelo tempo de coleta. Os menores valores de glicemia são observados ao nascimento, seguindo-se elevação gradual e significativa após a ingestão do colostro até as 48 horas, quando a glicemia permanece estável até as 96 horas (KUHNE et al., 2000; PAIVA et al., 2006). Tal fato coincide com o aumento da glicemia ocorrido no M24h e/ou M48h no presente estudo, em decorrência da ingestão de colostro. A concentração plasmática de lactato foi diferente entre grupos apenas no M60min (PN - 6,4±1,9 mmol/L e PRE - 9,9±2,1 mmol/L) (Tabela 5 e Figura 9). Em todos os grupos, os valores médios mais baixos desta variável foram identificados no M24h e/ou M48h. Em condições de hipoxemia, o fornecimento de oxigênio às células torna-se prejudicado (VAALA; HOUSE, 2006) e o ácido láctico, resultante do metabolismo anaeróbico, acumula-se no organismo com consequente elevação de suas concentrações plasmáticas (MELLOR; STAFFORD, 2004). As maiores concentrações plasmáticas de lactato no grupo PRE em relação ao grupo PN reforçam o comprometimento respiratório dos cordeiros prematuros. Embora sem diferença estatística, no M60min o valor médio da concentração plasmática de lactato do grupo PREDEX foi menor do que o do grupo PRE (valor ainda elevado), o que denota a melhora da oxigenação tecidual com a administração materna de corticosteroide, corroborando as informações da literatura citada. A diminuição gradativa na concentração plasmática de lactato a partir do M24h coincide com a evolução clínica dos recém-nascidos observada ao longo das primeiras 48 horas de vida. 37 Conclusões A dexametasona mostrou-se eficiente na maturação tecidual em cordeiros prematuros, melhorando a vitalidade e a sobrevida destes animais. Referências ALEXANDER, G.; WILLIAMS, D. Shivering and non-shivering thermogenesis during summit metabolism in young lambs. J. Physiol., v. 198, n. 2, p. 251– 276, 1968. BENESI, F. J. Síndrome asfixia neonatal nos bezerros: importância e avaliação crítica. Arq. Esc. Med. Vet., v. 16, n. 1, p. 38-48, 1993. BISPHAM, J. R.; HEASMAN, L.; CLARKE, L. et al. 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Araçatuba-SP, 2013 VARIÁVEL MOMENTO PN PNDEX PRE PREDEX N x ±S n x ±S N x ±S n x ±S M0h 15 169±54 Ab 8 188±58 A 10 148±31AB 9 108±43 Bb M15min 15 206±32 a 8 197±40 7 163±53 8 191±33 a FC (bpm) M60min 15 204±33 Aba 8 217±42 AB 5 171±42 B 8 220±26 Aa M24h 15 187±28 ab 8 213±54 3 184±11 8 199±38 a M48h 15 197±31 ab 8 206±30 3 185±27 7 196±52 a M0h 15 66±23 A 8 73±29 Ab 10 26±35 Bb 9 50±31 ABc M15min 15 84±30 8 88±25 ab 7 55±45 ab 8 67±23 bc FR (mpm) M60min 15 70±9 8 68±15 b 5 76±30 ab 8 78±12 bc M24h 15 85±27 8 119±64 ab 3 71±32 ab 8 92±19 ab M48h 15 87±31 8 130±64 a 3 87±20 a 7 109±20 a M0h 15 39,7±0,7 Aa 8 39,5±0,5 Aa 10 38,3±1,2 Ba 9 38,5±0,7B a M15min 15 39,3±0,8 Aab 8 38,5±1,0 Ab 7 37,1±1,3 Bab 8 36,6±0,7 Bb TR (oC) M60min 15 39,1±0,7 Ab 8 39,4±0,6 Aab 5 35,3±1,6 Bb 8 36,7±1,5 Bb M24h 15 39,0±0,5 ABb 8 39,6±0,8 Aa 3 38,6±0,0 Ba 8 39,0±0,4 ABa M48h 15 39,3±0,4 ABab 8 39,9±0,6 Aa 3 38,3±0,6 Ca 7 38,7±0,6 BCa a A Médias seguidas de letras diferentes, maiúscula na linha e minúscula na coluna, diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05). A ausência de letras implica que não há diferença estatística. 44 Figura 3 - Representação gráfica dos valores médios de frequência cardíaca (FC, bpm), desde o nascimento até as 48 horas de vida, em cordeiros nascidos de parto normal (PN), nascidos de parto normal cujas mães receberam dexametasona aos 141 dias de gestação (PNDEX), nascidos prematuramente por cesariana aos 138 dias de gestação (PRE) e nascidos prematuramente aos 138 dias de gestação cujas mães receberam dexametasona dois dias antes (PREDEX). Araçatuba-SP, 2013. 45 Figura 4 - Representação gráfica dos valores médios de frequência respiratória (FR, mpm), desde o nascimento até as 48 horas de vida, em cordeiros nascidos de parto normal (PN), nascidos de parto normal cujas mães receberam dexametasona aos 141 dias de gestação (PNDEX), nascidos prematuramente por cesariana aos 138 dias de gestação (PRE) e nascidos prematuramente aos 138 dias de gestação cujas mães receberam dexametasona dois dias antes (PREDEX). Araçatuba-SP, 2013. 46 Figura 5 - Representação gráfica dos valores médios de temperatura retal (TR, oC), desde o nascimento até as 48 horas de vida, em cordeiros nascidos de parto normal (PN), nascidos de parto normal cujas mães receberam dexametasona aos 141 dias de gestação (PNDEX), nascidos prematuramente por cesariana aos 138 dias de gestação (PRE) e nascidos prematuramente aos 138 dias de gestação cujas mães receberam dexametasona dois dias antes (PREDEX). Araçatuba-SP, 2013. 47 Tabela 2 – Porcentagem (%) e coloração de mucosa ocular em cordeiros nascidos de parto normal (PN), nascidos de parto normal cujas mães receberam dexametasona aos 141 dias de gestação (PNDEX), nascidos prematuramente por cesariana aos 138 dias de gestação (PRE) e nascidos prematuramente aos 138 dias de gestação cujas mães receberam dexametasona dois dias antes (PREDEX), desde o nascimento até as 48 horas de vida. Araçatuba-SP, 2013 (1) teste exato de Fisher MOMENTO COLORAÇÃO DA MUCOSA PN PNDEX PRE PREDEX p(1) n % N % n % n % M0h Rósea 14 93,3 7 87,5 6 60,0 9 100,0 0,1436 Avermelhada 1 6,7 1 12,5 3 30,0 - - Cianótica - - - - 1 10,0 - - M15min Rósea 14 93,3 7 87,5 6 85,7 8 100,0 0,8862 Avermelhada 1 6,7 1 12,5 1 14,3 - - M60min Rósea 15 100,0 7 87,5 5 100,0 8 100,0 0,5833 Avermelhada - - 1 12,5 - - - - M24h Rósea 11 73,3 8 100,0 3 100,0 7 87,50 0,2366 Pálida - - - - - - 1 12,5 Avermelhada 4 26,7 - - - - - - M48h Rósea 13 86,7 7 87,5 3 100,0 7 100,0 0,7242 Pálida - - 1 12,5 - - - - Avermelhada 2 13,3 - - - - - - 48 Figura 6 - Representação gráfica da coloração das mucosas, desde o nascimento até as 48 horas de vida, em cordeiros nascidos de parto normal (PN), nascidos de parto normal cujas mães receberam dexametasona aos 141 dias de gestação (PNDEX), nascidos prematuramente por cesariana aos 138 dias de gestação (PRE) e nascidos prematuramente aos 138 dias de gestação cujas mães receberam dexametasona dois dias antes (PREDEX). Araçatuba-SP, 2013. 49 Tabela 3 – Porcentagem (%) de escore Apgar como indicativo de vitalidade (7 a 8 – normal; 4 a 6 – moderada; 0 a 3 – baixa) em cordeiros nascidos de parto normal (PN), nascidos de parto normal cujas mães receberam dexametasona aos 141 dias de gestação (PNDEX), nascidos prematuramente por cesariana aos 138 dias de gestação (PRE) e nascidos prematuramente aos 138 dias de gestação cujas mães receberam dexametasona dois dias antes (PREDEX), logo após o nascimento, aos 15 minutos e aos 60 minutos de vida. Araçatuba-SP, 2013 MOMENTO APGAR PN PNDEX PRE PREDEX P(1) n % N % N % n % M0h Normal (7 a 8) 15 86,67 8 75,00 10 30,00 9 33,33 0,0027 Moderada (4 a 6) 15 13,33 8 25,00 10 20,00 9 55,56 Baixa (0 a 3) 15 - 8 - 10 50,00 9 11,11 M15min Normal (7 a 8) 15 73,33 8 50,00 7 28,57 8 12,50 0,0280 Moderada (4 a 6) 15 26,67 8 50,00 7 57,14 8 87,50 Baixa (0 a 3) 15 - 8 - 7 14,29 8 - M60min Normal (7 a 8) 15 60,00 8 - 5 40 8 28,57 0,0292 Moderada (4 a 6) 15 40,00 8 100 5 60 8 71,43 (1) teste exato de Fisher 50 Figura 7 - Representação gráfica da vitalidade, por meio do escore Apgar, desde o nascimento até as 48 horas de vida, em cordeiros nascidos de parto normal (PN), nascidos de parto normal cujas mães receberam dexametasona aos 141 dias de gestação (PNDEX), nascidos prematuramente por cesariana aos 138 dias de gestação (PRE) e nascidos prematuramente aos 138 dias de gestação cujas mães receberam dexametasona dois dias antes (PREDEX). Araçatuba-SP, 2013. 51 Tabela 4 – Mediana (Md), mínimo (Mín) e máximo (Máx) da glicemia (mg/dL) em cordeiros nascidos de parto normal (PN), nascidos de parto normal cujas mães receberam dexametasona aos 141 dias de gestação (PNDEX), nascidos prematuramente por cesariana aos 138 dias de gestação (PRE) e nascidos prematuramente aos 138 dias de gestação cujas mães receberam dexametasona dois dias antes (PREDEX), desde o nascimento até as 48 horas de vida. Araçatuba-SP, 2013 Glicemia (mg/dL) MOMENTO PN PNDEX PRE PREDEX N Md Mín-Max n Md Mín-Max N Md Mín-Max N Md Mín-Max M0h 15 41 Ab <20-69 8 38 Ab 23-52 10 <20 Bb <20-37 9 20 ABb <20-100 M15min 15 37 b <20-92 8 31 b 23-64 7 34 ab <20-87 8 34 ab <20-129 M60min 15 33 b <20-74 8 43 ab 29-97 5 38 ab <20-54 8 43 ab 22-135 M24h 15 102 a 23-152 8 105 a 84-204 3 73 ab 23-88 8 99 a 53-145 M48h 15 111 a 44-174 8 134 a 72-190 3 74 a 30-104 7 103 a 81-170 a A Medianas seguidas de letras diferentes, maiúscula na linha e minúscula na coluna, diferem entre si pelo teste de Dunn (p<0,05). A ausência de letras implica que não há diferença estatística. Figura 8 - Representação gráfica da glicemia (mg/dL), desde o nascimento até as 48 horas de vida, em cordeiros nascidos de parto normal (PN), nascidos de parto normal cujas mães receberam dexametasona aos 141 dias de gestação (PNDEX), nascidos prematuramente por cesariana aos 138 dias de gestação (PRE) e nascidos prematuramente aos 138 dias de gestação cujas mães receberam dexametasona dois dias antes (PREDEX). Araçatuba-SP, 2013. 52 Tabela 5 – Média ( x ) e desvio-padrão (SD) da concentração plasmática de lactato (mmol/L) em cordeiros nascidos de parto normal (PN), nascidos de parto normal cujas mães receberam dexametasona aos 141 dias de gestação (PNDEX), nascidos prematuramente por cesariana aos 138 dias de gestação (PRE) e nascidos prematuramente aos 138 dias de gestação cujas mães receberam dexametasona dois dias antes (PREDEX), desde o nascimento até as 48 horas de vida. Araçatuba-SP, 2013 Figura 9 - Representação gráfica da concentração plasmática de lactato (mmol/L), desde o nascimento até as 48 horas de vida, em cordeiros nascidos de parto normal (PN), nascidos de parto normal cujas mães receberam dexametasona aos 141 dias de gestação (PNDEX), nascidos prematuramente por cesariana aos 138 dias de gestação (PRE) e nascidos prematuramente aos 138 dias de gestação cujas mães receberam dexametasona dois dias antes (PREDEX). Araçatuba-SP, 2013. Lactato (mmol/L) MOMENTO PN PNDEX PRE PREDEX N x ±S n x ±S n x ±S N x ±S M0h 15 8,1±2,8 a 8 8,2±2,3 a 10 9,8±2,5 a 9 9,1±2,1 a M15min 15 7,5±2,6 a 8 8,0±2,6 ab 7 9,0±3,0 a 8 9,2±2,4 a M60min 15 6,4±1,9 Bb 8 7,0±2,8 ABab 5 9,6±1,9 Aa 8 7,9±2,0 ABab M24h 15 5,7±1,1 b 8 6,2±1,2 b 3 6,2±2,6 ab 8 5,1±0,9 b M48h 15 4,5±0,4 c 8 6,1±1,6 b 3 3,8±1,0 b 7 6,1±2,8 b a A Médias seguidas de letras diferentes, maiúscula na linha e minúscula na coluna, diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05). A ausência de letras implica que não há diferença estatística. 53 CAPÍTULO 3 - VALORES HEMOGASOMÉTRICOS E CARACTERÍSTICAS RESPIRATÓRIAS DE CORDEIROS NASCIDOS A TERMO E PREMATUROS RESUMO – O objetivo do estudo foi avaliar as variáveis hemogasométricas e as características respiratórias de cordeiros nascidos a termo e prematuros do nascimento as 48 horas de vida. Foram constituídos quatros grupos experimentais: PN (cordeiros nascidos de parto normal, n=15, média de 146 dias de gestação); PNDEX (cordeiros nascidos de parto normal, cujas mães receberam 16 mg de dexametasona aos 141 de gestação, n=8, média de 143 dias); PRE (cordeiros prematuros nascidos de cesarianas aos 138 dias de gestação, n=10) e PREDEX (cordeiros prematuros nascidos de cesarianas aos 138 dias de gestação, cujas mães receberam 16 mg de dexametasona dois dias antes, n=9). Imediatamente após o nascimento, os cordeiros de todos os grupos apresentaram quadro de acidose respiratória (pH baixo e pCO2 elevada), com maior ênfase nos animais prematuros. A concentração de HCO3 - diminuiu entre 15 e 60 minutos de vida, principalmente nos grupos PRE e PREDEX, com posterior aumento no M24h. Os valores de diferença de base foram menores nos cordeiros prematuros, os quais apresentaram respiração abdominal, intensa dispneia e grande quantidade de líquido pulmonar. A estabilização do equilíbrio ácido-básico ocorreu em todos os animais ao longo das primeiras 24 horas de vida. A dexametasona teve influência positiva sobre a condição clínica dos animais prematuros, resultando em adequada ventilação e perfusão tecidual, o que garantiu maior taxa de sobrevivência. Palavras-Chave: Acidose, equilíbrio ácido-básico, hemogasometria, prematuros, respiração 54 BLOOD-GAS ANALYSIS AND RESPIRATORY CHARACTERISTICS IN FULL-TERM AND PREMATURE LAMBS SUMMARY – The aim of the study was to evaluate blood gas parameters and the respiratory characteristics of full-term and premature lambs from birth to 48 hours of life. Four experimental groups were formed: NDG (normal delivery group - lambs vaginally delivered, n=15, average of 146-day gestation); NDEXG (normal delivery with dexamethasone group - lambs vaginally delivered whose mothers received 16 mg of dexamethasone at 141 days of gestation, n=8, average of 143-day gestation); PRE (premature lambs born by cesarean section at 138 days of gestation, n=10) and PREDEX (premature lambs born by cesarean section at 138 days gestation, whose mothers received 16 mg of dexamethasone two days before, n=9). Immediately after birth, lambs from all groups showed respiratory acidosis (low pH and high pCO2), most obviously in premature animals. The concentration of HCO3 - was lower between 15 and 60 minutes of life, especially in PRE and PREDEX groups with subsequent increase in M24h. The values of base excess were lower in premature lambs, which showed abdominal breathing, severe dyspnea and lots of lung fluid. The stabilization of acid-base balance occurred in all animals during the first 24 hours of life. Dexamethasone had a positive effect on the clinical condition of the premature lambs, resulting in adequate ventilation and tissue perfusion, which guaranteed higher survival rate. Keywords: Acidosis, acid-base balance, blood gas analysis, premature, respiration 55 Introdução O período neonatal representa estágio crítico no desenvolvimento, em que os animais recém-nascidos necessitam adaptar-se à vida extrauterina. Este período caracteriza-se pela finalização da maturação dos mecanismos homeostáticos termorreguladores, cardiovasculares, respiratórios e metabólicos (PICCIONE et al., 2007). Em alguns casos, entretanto, a sobrevivência durante o nascimento e na fase neonatal posterior depende de cada indivíduo operando nos limites de sua capacidade fisiológica. Alguns desses recém-nascidos sobrevivem, outros são colocados além de seus limites e morrem (MELLOR; STAFFORD, 2004). Para o cordeiro e o cabrito, a primeira semana após o nascimento representa este período crítico de adaptação neonatal. As taxas de mortalidade são elevadas entre duas e 48 horas de vida e refletem normalmente desordens respiratórias e termorreguladoras (WALSER; BOSTEDT, 1993). Durante a gestação, o feto normalmente encontra-se hipoxêmico e hipercapneico, ou seja, a concentração de oxigênio no sangue arterial é relativamente baixa e a pressão parcial de dióxido de carbono elevada. A hipoxemia é responsável pela manutenção da circulação fetal por meio da hipertensão pulmonar e a resistência vascular pulmonar aumentada. Os pulmões estão preenchidos por líquido e ainda não estão envolvidos na oxigenação sanguínea e na remoção do dióxido de carbono, o que só ocorrerá após a parturição (RAVARY-PLUMIOEN, 2009). Durante o parto, as contrações uterinas e a ruptura das membranas fetais causam alterações na circulação feto-placentária, o que induz à acidose mista respiratória e metabólica transitória (NAGY, 2009), considerada fisiológica (pH venoso 7,2) (SZENCI et al., 1988). Embora a acidose metabólica normalmente seja resolvida em até duas horas após o nascimento, a acidose respiratória pode persistir por 24 a 48 horas (VARGA et al., 1998). Após a ruptura do cordão umbilical, há glicólise anaeróbica em tecidos pouco 56 perfundidos devido à transição do fornecimento placentário de oxigênio para o estabelecimento da função respiratória (VAALA; HOUSE, 2006). A discreta acidose respiratória e metabólica somada ao estímulo ambiental após o nascimento auxilia no início dos primeiros movimentos respiratórios espontâneos nos recém-nascidos. Durante as primeiras respirações, os pulmões são inflados com ar e isso leva ao aumento do fluxo sanguíneo pulmonar, à melhor oxigenação sanguínea e à diminuição da resistência vascular pulmonar (VARGA et al., 2001). As mudanças hemodinâmicas, metabólicas e bioquímicas que ocorrem durante a transição da vida fetal para a neonatal podem ser agravadas se ocorrer algum episódio de asfixia no meio intrauterino. A asfixia parcial ou completa do feto pode ocorrer imediatamente antes ou após o parto; é causada pela redução no fluxo sanguíneo (isquemia) ou na oxigenação (hipóxia) e, na maior parte das vezes, acontece pela associação das duas causas (REY- SANTANO et al., 2011). O grau de hipóxia e hipercapnia, bem como a acidose respiratória e metabólica resultante, depende não somente da duração entre a completa separação do recém-nascido em relação à circulação materna e o início da respiração espontânea, mas também do grau de alteração nas trocas gasosas durante o nascimento (RAVARY-PLUMIOEN, 2009; SZENCI et al., 1989). Nos casos de parto distócico ou prematuro, a hipóxia grave, no momento do parto, pode causar morte logo após o nascimento. Nos filhotes que conseguem sobreviver, torna-se elevado o risco de ocorrer acidose metabólica grave e diminuição da capacidade de termogênese, o que leva à condição de hipotermia e o quadro agrava-se ainda mais (NOWAK et al., 2000). Cordeiros prematuros têm sido utilizados como modelo experimental para estudos da imaturidade pulmonar em recém-nascidos humanos (BJORKLUNG et al., 2001; SOZO et al., 2006), sendo poucos os trabalhos destinados à aplicação na área veterinária. A maturação estrutural e bioquímica do pulmão fetal normalmente não ocorre até bem próximo ao final da gestação. A deficiência de surfactante e a imaturidade estrutural do pulmão prematuro 57 contribuem para a ocorrência de afecções respiratórias, como a síndrome do desconforto respiratório em humanos (MOSS, 2006). Na espécie ovina, o parênquima pulmonar encontra-se integralmente alveolarizado ao nascimento, porém o adequado desempenho da função respiratória depende de outros fatores, como a produção e maturação da substância surfactante (DOCIMO et al., 1991; MOORE; PERSAUD, 2004), a partir da diferenciação das células epiteliais respiratórias do tipo 2 (MOSS, 2006). Evidências de estudos em animais prematuros indicam que a maturação funcional pulmonar induzida pela administração de corticosteroides ocorre primariamente por alterações estruturais e que a elevação da quantidade de surfactante acontece de maneira lenta e transitória (JOBE; IKEGAMI, 2000). Entretanto, há evidências clínicas de resultados positivos após a administração materna de glicocorticoides dependendo da fase gestacional e do desenvolvimento pulmonar (JOBE, 2001; BONANNO; WAPNER, 2012). Com este estudo, objetivou-se avaliar as variáveis hemogasométricas de cordeiros nascidos a termo e prematuros do nascimento as 48 horas de vida, bem como verificar a viabilidade destes prematuros mediante a administração materna de corticosteroide. Material e Métodos O presente estudo foi submetido à avaliação pelo comitê de ética animal da Faculdade de Medicina Veterinária, UNESP/Araçatuba (Committee for Ethical Use of Animals – CEUA, protocolo 02493-2011). Animais - Foram utilizados cordeiros cujas mães eram provenientes de rebanho da região de Araçatuba/SP, distribuídos em quatro grupos experimentais, a saber: 58 Grupo PN: 15 cordeiros nascidos de partos normais (média de 146 dias de gestação). Grupo PNDEX: oito cordeiros nascidos de partos normais, cujas mães receberam 16 mg (INGOLDBY; JACKSON, 2001) de dexametasona (Azium®, Schering-Plough), por via intramuscular, aos 141 dias de gestação (média de 143 dias). Grupo PRE: dez cordeiros prematuros, nascidos por meio de cesarianas realizadas aos 138 dias de gestação. Grupo PREDEX: nove cordeiros prematuros, nascidos por meio de cesarianas realizadas aos 138 dias de gestação, cujas mães receberam 16 mg de dexametasona, por via intramuscular, dois dias antes da cirurgia (aos 136 dias). As datas de cobertura das ovelhas eram conhecidas e realizou-se exame ultrassonográfico (DP 2200 Vet, Mindray) abdominal para confirmação da gestação entre 45 e 60 dias após a última data de cobertura. O procedimento anestésico adotado nas cirurgias cesarianas foi realizado empregando-se anestesia local com bloqueio paravertebral proximal nos ramos nervosos das vértebras T13, L1 e L2, utilizando-se cloridrato de lidocaína (Xylestesin® 2%, Cristália), no volume de 5 mL em cada ponto dorsal e ventral aos processos transversos. Adicionalmente, associou-se a anestesia peridural lombossacra (L6- S1) com sulfato de morfina (Dimorf®, Cristália) na dose de 0,1 mg/kg diluída em 5 mL de solução fisiológica. Nos casos em que a anestesia paravertebral não foi eficiente, realizou-se bloqueio infiltrativo no local da incisão com cloridrato de lidocaína. Após a retirada do feto, quando necessário, as ovelhas recebiam sedação com maleato de midazolam (Dormonid®, Roche) na dose de 0,2 mg/kg. O procedimento cirúrgico foi realizado com as ovelhas colocadas em decúbito lateral direito, para incisão em região do flanco esquerdo, conforme técnica descrita por Tibary e Van Metre (2004). Os cordeiros provenientes de partos normais permaneceram com as mães, ingerindo colostro à vontade. Os animais oriundos de cesarianas foram acompanhados e alimentados com colostro proveniente de banco de colostro 59 bovino, devido à ausência de produção de colostro nas mães e a dificuldade para formação de banco de colostro ovino. O colostro foi fornecido por intermédio do uso de mamadeiras nas primeiras horas de vida; quando não apresentavam reflexo de sucção, a administração era realizada com auxílio de sonda nasoesofágica. Os cuidados referentes ao suporte ventilatório, na evidência de hipóxia, foram realizados mantendo-se os prematuros sob ventilação assistida (Figura 1) durante período máximo padronizado de 30 minutos. Observou-se grande quantidade de líquido nas vias aéreas superiores, tendo-se realizado, previamente à ventilação, a sondagem orotraqueal e aspiração do máximo possível deste conteúdo por meio de bomba a vácuo. Estes procedimentos emergenciais foram realizados nos cordeiros prematuros na tentativa de mantê-los vivos e saudáveis ao longo das avaliações. Figura 1 – Procedimento de ventilação assistida em cordeiro prematuro, nascido por cirurgia cesariana realizada aos 138 dias de gestação (grupo PRE). 60 Coleta e processamento das amostras - Amostras de sangue venoso foram colhidas logo após o nascimento (M0h), aos 15 minutos (M15min), aos 60 minutos (M60min), às 24 horas (M24h) e às 48 horas de vida (M48h). Após antissepsia local, realizou-se punção da veia jugular, em condições de anaerobiose, por meio de seringas plásticas descartáveis, contendo heparina lítio cálcio (80 UI de heparina) para volume de 1,6 mL, acopladas a agulhas hipodérmicas 25 x 0,7 mm (marca BD). Quando presentes, o ar residual e as bolhas foram desprezados, e a seringa mantida selada e armazenada em recipiente térmico contendo água e gelo reciclável, sem contato direto, até o seu processamento, realizado, invariavelmente, em até 15 minutos após a colheita, como recomendado por Lisboa et al. (2002). Efetuou-se a determinação dos valores de pH, pressão parcial de gás carbônico (pCO2), bicarbonato (HCO3 -) e excesso/déficit de base (BE) em analisador clínico eletrônico portátil (i-Stat® Portable Clinical Analyzer), utilizando-se cartuchos específicos (EG7+ Cartridge) de acordo com as recomendações do fabricante, sendo calibrado automaticamente antes do processamento das amostras. Adicionalmente, como controle de qualidade, foi utilizado o simulador eletrônico (i-Stat® Electronic Simulator) para verificar o funcionamento correto do equipamento antes do processamento. Os valores de pH e pCO2 foram ajustados pelo aparelho, de acordo com a temperatura retal de cada animal, aferida com termômetro clínico digital. Devido às dificuldades para colheita de sangue arterial logo após o nascimento, principalmente nos cordeiros prematuros, nos quais foram instituídos procedimentos emergenciais em todas as cirurgias cesarianas, optou-se pela coleta de sangue venoso. Pelo fato de o sangue venoso não ser considerado fidedigno no que diz respeito à variável oxigênio, os dados referentes à pressão parcial de oxigênio e saturação de oxigênio não foram utilizados neste estudo. Análise estatística - Os dados foram submetidos à análise de variância com medidas repetidas, sendo as médias comparadas pelo teste de Tukey no nível de significância de 5%. A variável excesso/déficit de base (BE) foi 61 analisada pelo teste de Kruskal-Wallis para comparar os grupos em cada momento e pelo teste de Friedman para comparar os momentos em cada grupo, seguido do teste de Dunn para comparações múltiplas. As análises estatísticas foram efetuadas empregando-se o programa SAS (Statistical Analysis System - SAS Institute Inc., release 9.2, Cary:NC, 2008), sendo consideradas significativas quando p<0,05 (ZAR, 1998). Resultados e Discussão Os resultados das análises hemogasométricas, valores médios e desvios-padrão de pH, pCO2, HCO3 - e BE do sangue venoso dos cordeiros dos grupos PN, PNDEX, PRE e PREDEX, do nascimento as 48 horas de vida, estão descritos nas Tabelas 1 e 2. Nos grupos PN e PNDEX foram avaliados 15 e oito cordeiros, respectivamente, do nascimento às 48 horas de vida. Os grupos PRE e PREDEX começaram com dez e nove cordeiros. Contudo, em virtude da ocorrência de vários óbitos com a evolução do tempo, restaram, finalizado o período de observação do estudo, apenas três e sete cordeiros, nos respectivos grupos (70% e 20% de mortalidade nos grupos PRE e PREDEX). Estes animais foram encaminhados ao Setor de Patologia Veterinária da FMVA/UNESP e, à necropsia, foram ide