UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS CÂMPUS DE JABOTICABAL RELATÓRIO FINAL DO ESTÁGIO CURRICULAR EM PRÁTICA VETERINÁRIA, REALIZADO JUNTO AO HOSPITAL VETERINÁRIO PÚBLICO ANCLIVEPA DE SÃO PAULO, CLÍNICA VETERINÁRIA CENTRAL, FAUNA ESPECIALIDADES E CENTRO DE DIAGNÓSTICO R&K Assunto de interesse: Diagnósticos diferenciais de lesões hiperecogênicas na próstata de cão castrado. Naira Nunes Simões Orientador: Prof. Dr. Gilson Hélio Toniollo Supervisores: Anderson Laureano, Daniel Delafiori, Luciana Bulgareli JABOTICABAL – S.P. 1° SEMESTRE DE 2023 Naira Nunes Simões Relatório final do estágio curricular em prática veterinária, realizado junto ao Hospital Veterinário Público Anclivepa de São Paulo, Clínica Veterinária Central, Fauna Especialidades e Centro de Diagnóstico R&K Assunto de interesse: Diagnósticos diferenciais de lesões hiperecogênicas na próstata de cão castrado. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado na UNESP/FCAV, câmpus Jaboticabal, como parte do requisito para formação em Médicina Veterinária. Orientador: Prof. Dr. Gilson Hélio Toniollo Jaboticabal 2023 AGRADECIMENTOS Agradeço à Deus por semear em meu coração o amor e compaixão aos animais e sobretudo por me ajudar a realizar o sonho de ser Médica Veterinária formada pela UNESP/FCAV. Agradeço a todos os animais que estiveram em meu caminho durante esses 5 anos de aprendizado, que compartilharam comigo seu amor e fraquezas e possibilitaram que eu desenvolvesse meus conhecimentos em medicina veterinária. Em especial, agradeço aos meus companheiros Luck, Noa e Frederico, que me tocam todos os dias com seu amor puro e que são minha inspiração e motivação para me tornar uma profissional melhor. Agradeço à minha Mãe, Sonia, que sempre foi meu alicerce e fortaleza. Nesses cinco anos esteve presente mesmo a tantos quilômetros de distância. A saudade foi grande, mas valeu a pena!!! Agradeço às minhas irmãs, Aila e Marila, grandes amigas e parceiras, que sempre confiaram em mim, me deram apoio e aplaudiram minhas conquistas. Estaremos sempre unidas! Agradeço ao meu Pai, João Mauro, que sempre me incentivou a estudar e proveu fins para que o fizesse. Agradeço aos meus amigos, Julia, Henrique, Letícia, Beatriz, Amanda, Gwennever e Bárbara, que estiveram comigo em todos os melhores (e piores) momentos da graduação. Desejo que todos alcancem o sucesso merecido. Agradeço à minha segunda família, República Boazona, por todo companheirismo e ensinamentos, levo todos os momentos que vivemos juntas no meu coração! Agradeço ao meu orientador, Prof. Dr. Gilson Hélio Toniollo, professor atencioso e admirável, que aceitou estar comigo nesta jornada e me deu todo seu apoio. Agradeço à minha orientadora de iniciação científica, Prof. Dra. Maricy Apparício, excelente professora e uma inspiração profissional! Agradeço à minha banca examinadora, Msc. Marina Estevam e Prof. Dra. Danuta Doiche, que gentilmente aceitaram a participar deste momento crucial para a finalização da minha graduação. Agradeço a todos os médicos veterinários que acompanhei durante os estágios, em especial aos Médicos Veterinários Anderson Laureano, Daniel Delafiori, Daniela Sereno e Luciana Bulgareli que com muita paciência compartilharam comigo seus conhecimentos e me proporcionaram grande expansão profissional. vi SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS ................................................................................................ viii LISTA DE QUADROS ................................................................................................ xi I – RELATÓRIO FINAL DE ESTÁGIO CURRICULAR ............................................... 1 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 1 2. DESCRIÇÃO DOS LOCAIS DE ESTÁGIO ................................................... 2 2.1 Hospital Veterinário Anclivepa, Unidade Zona Sul, São Paulo ................ 2 2.2 Clínica Veterinária Central, Ribeirão Pires, São Paulo ............................. 5 2.3 Fauna Especialidades, São Bernardo do Campo, São Paulo ................... 8 2.4 R&K Centro de Diagnóstico ...................................................................... 10 3. DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS....................................... 14 3.1 Hospital Veterinário Anclivepa, Unidade Zona Sul, São Paulo .............. 14 3.2 Clínica Veterinária Central, Ribeirão Pires, São Paulo ........................... 16 3.3 Fauna Especialidades, São Bernardo do Campo, São Paulo ................. 17 3.4 R&K Centro de Diagnóstico ...................................................................... 21 4.DISCUSSÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ........................................ 23 5.CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 29 6. REFERÊNCIAS ................................................................................................. 29 II – MONOGRAFIA: Ultrassonografia no diagnóstico de alterações prostáticas .................................................................................................................................. 30 1. INTRODUÇÃO E REVISÃO DE LITERATURA ........................................... 30 1.1 ANATOMIA E FISIOLOGIA DA PRÓSTATA .............................................. 33 1.2 PRINCIPAIS PROSTATOPATIAS ............................................................... 35 1.3 AVALIAÇÃO ULTRASSONOGRÁFICA DA PRÓSTATA DE CÃES .......... 43 2. RELATO DE CASO: Diagnósticos diferenciais de lesões hiperecogênicas na próstata de cão castrado .................................................. 60 vii 2.1 COMENTÁRIOS .......................................................................................... 64 3. CONCLUSÃO .............................................................................................. 72 4. REFERÊNCIAS ........................................................................................... 73 viii LISTA DE FIGURAS Figura 1. Hospital Público ANCLIVEPA, unidade Zona Sul. (A) Entrada do Hospital (B) Recepção do Hospital...........................................................................................14 Figura 2. Hospital Público ANCLIVEPA, unidade Zona Sul (A) Sala de Emergências (B) Corredor dos Consultórios....................................................................................15 Figura 3. Hospital Público ANCLIVEPA, unidade Zona Sul (A) Internação (B) Sala de Laudos do Raio- X.......................................................................................................15 Figura 4. Recepção da Clínica Veterinária Central, em Ribeirão Pires – SP. (A) Recepção vista da entrada (B) Recepção vista de dentro da clínica...........................17 Figura 5. Foto do Consultório 1 da Clínica Veterinária Central, em Ribeirão Pires – SP...............................................................................................................................17 Figura 6. Fotos da sala de internação da Clínica Veterinária Central, em Ribeirão Pires – SP. (A) Foto da sala de internação onde estão o berço, bombas de infusão, monitor de parâmetros (B) Foto da sala de internação onde estão as baias, bombas de infusão, oxigenador..................................................................................................................18 Figura 7. Sala de Diagnóstico por Imagem da Clínica Veterinária Central, em Ribeirão Pires – SP. (A) Aparelho de Raio-X Convencional e Equipamentos de Proteção (B) Aparelho de ultrassonografia marca SonoScape......................................................18 Figura 8. Laboratório de Análises Hematológicas e Bioquímicas da Clínica Veterinária Central, em Ribeirão Pires – SP..................................................................................18 Figura 9. Centro de Especialidades Fauna, em São Bernardo do Campo - SP (A) Foto da entrada (B) Foto da recepção.................................................................................20 ix Figura 10. Aparelho de Raio-X do Centro de Especialidades Fauna, em São Bernardo do Campo – SP..........................................................................................21 Figura 11. Sala de Ultrassonografia do Centro de Especialidades Fauna, em São Bernardo do Campo – SP...........................................................................................22 Figura 12. Entrada do Centro de Diagnóstico Veterinário R&K, em São Bernardo do Campo - São Paulo....................................................................................................23 Figura 13. Laboratório de Análises do Centro de Diagnóstico Veterinário R&K, em São Bernardo do Campo - São Paulo (A) Vista da Entrada do laboratório (B) Vista do interior do laboratório..................................................................................................23 Figura 14. Foto da Sala de Radiologia do Centro de Diagnóstico Veterinário R&K, em São Bernardo do Campo - São Paulo.........................................................................24 Figura 15. Recepção do setor de coletas e ultrassonografia do Centro de Diagnóstico Veterinário R&K, em São Bernardo do Campo - São Paulo........................................24 Figura 16. Consultório 1 do Centro de Diagnóstico Veterinário R&K, em São Bernardo do Campo - São Paulo (A) Sala de exames (B) Aparelho de Ultrassonografia GE Logiq F6...............................................................................................................................25 Figura 17. Alterações identificadas pelo ultrassom, separadas por órgãos, nos centros de diagnóstico R&K e Fauna, acompanhadas pela aluna..........................................38 Figura 18. Imagens do exame ultrassonográfico da uretra prostática e bexiga de cão realizado no centro de diagnóstico R&K pela médica veterinária Luciana Bulgarelli.....................................................................................................................78 x Figura 19. Imagens do exame ultrassonográfico da próstata e bexiga de cão realizado no centro de diagnóstico R&K pela médica veterinária Luciana Bulgarelli................78 xi LISTA DE QUADROS Quadro 1. Cães e gatos atendidos no Hospital Público Veterinário da Anclivepa, unidade Zona Sul, no período de 01 a 31 de maio....................................................................26 Quadro 2. Distribuição de animais com e sem raça definida atendidos na Clínica Veterinária Central, no período de 06 de junho de 2022 a 31 de agosto de 2022........26 Quadro 3. Atendimentos realizados, separados por especialidade, no Hospital Público Veterinário da Anclivepa, unidade Zona Sul, no período de 01 a 31 de maio.......................................................................................................................26 Quadro 4. Cães e gatos atendidos na Clínica Veterinária Central, no período de 06 de junho de 2022 a 31 de agosto de 2022...................................................................27 Quadro 5. Distribuição de animais com e sem raça definida atendidos na Clínica Veterinária Central, no período de 06 de junho de 2022 a 31 de agosto de 2022............................................................................................................................28 Quadro 6. Exames radiográficos e ultrassonográficos realizados em pequenos animais no centro de diagnóstico Fauna Especialidades, no período de 06 de junho de 2022 a 29 de julho de 2022..............................................................................................................29 Quadro 7. Distribuição de animais com e sem raça definida atendidos no centro de diagnóstico Fauna Especialidades, no período de 06 de junho de 2022 a 29 de julho de 2022.......................................................................................................................29 Quadro 8. Exames radiográficos por área de estudo, realizados no centro de diagnóstico Fauna Especialidade, no período de 06 de junho de 2022 a 29 de julho de 2022............................................................................................................................30 xii Quadro 9. Distribuição por órgãos das alterações ultrassonográficas detectadas nos exames realizados no centro de diagnóstico Fauna Especialidade, no período de 06 de junho de 2022 a 29 de julho de 2022...........................................31 Quadro 10. Animais atendidos no Centro de Diagnóstico R&K, durante o período de 01 de agosto de 2022 a 31 de agosto de 2022............................................................32 Quadro 11. Distribuição de animais com e sem raça definida, atendidos no Centro de Diagnóstico R&K, durante o período de 01 de agosto de 2022 a 31 de agosto de 2022............................................................................................................................32 Quadro 12. Alterações encontradas nos exames ultrassonográficos abdominais encontradas pela ultrassonografia abdominal, divididas por órgãos, no centro de Diagnóstico R&K, no período de 01 de agosto de 2022 a 31 de agosto de 2022......................................................................33 Quadro 13. Alterações encontradas nos exames ultrassonográficos cervicais, no centro de Diagnóstico R&K, distribuídas por estruturas, no período de 01 de agosto de 2022 a 31 de agosto de 2022....................................................................34 Quadro 14. Medidas da próstata de cães normais, segundo Ruel et al. (1998)...........57 Quadro 15. Medidas da próstata de cães normais, segundo Kamolpatana et al., 2000............................................................................................................................57 Quadro 16. Dimensões prostáticas em diferentes faixas etárias, segundo Gadelha et al. (2008).....................................................................................................................58 Quadro 17. Variação nos valores dopplervelocimétricos do fluxo sanguíneo da artéria prostática canina em localizações diferentes da glândula, descritos por Freitas et al. (2015)........................................................................................................................64 Quadro 18. Descrição dos valores de referência de CEUS para cães saudáveis segundo Russo et al. (2009).......................................................................................67 xiii Quadro 19. Descrição dos valores de referência de CEUS para doenças prostáticas benignas e malignas, segundo Vignoli (F)........................................................................68 Quadro 20. Valores de velocidade de cisalhamento obtidos por meio da elastografia da próstata de cães saudáveis, segundo Feliciano et al. (2015)..................................70 1 I – RELATÓRIO FINAL DE ESTÁGIO CURRICULAR 1. INTRODUÇÃO No projeto pedagógico do curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV) da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), Câmpus de Jaboticabal, o estágio curricular supervisionado é obrigatório, sendo o cumprimento da sua carga horária um requisito para a conclusão do curso. O objetivo desta prática é desenvolver o estagiário como profissional e cidadão. O presente relatório refere-se às atividades desenvolvidas durante o estágio curricular em prática veterinária pela graduanda Naira Nunes Simões, aluna de medicina veterinária da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV) da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), Câmpus Jaboticabal. O estágio foi realizado sob orientação da Profa. Dra. Maricy Apparício e Prof. Dr. Gilson Hélio Toniollo, durante o período de 01 de maio de 2022 a 31 de agosto de 2022, totalizando 686 horas. As áreas de interesse escolhidas pela aluna para serem aprimoradas foram Diagnóstico por Imagem, especialmente ultrassonografia e radiologia, e Clínica Médica de Pequenos Animais. Para tal, foram escolhidos um hospital veterinário, uma clínica veterinária e dois centros de diagnóstico. O primeiro local de estágio foi no setor de clínica médica do Hospital Público Veterinário da Anclivepa, localizado na zona Sul de São Paulo, durante o período de 01/05/2022 a 31/05/2022, de segunda a sexta-feira, das 07:00 às 17:00 horas, totalizando a carga horária de 176 horas. O segundo local de estágio foi a Clínica Veterinária Central localizado em Ribeirão Pires, supervisionado pelo Médico Veterinário Anderson Laureano e ocorreu durante o período de 06 de junho de 2022 a 31 de agosto de 2022, de segunda a sexta-feira, das 08:30 às 13:00 horas, totalizando carga horária de 260 horas. O terceiro local de estágio foi o Centro de Diagnóstico Fauna, supervisionado pelo Médico Veterinário Imaginologista Daniel Delafiori e ocorreu durante o período de 06 de junho de 2022 a 29 de julho de 2022, de segunda a sexta-feira, das 14:00 às 17:30 horas, totalizando carga horária de 130 horas. O último local de estágio foi o Centro de Diagnóstico R&K sob orientação da 2 Médica Veterinária Ultrassonografista Luciana Maria Campos Bulgarelli Dora, durante o período de 01/08/2022 a 31/08/2022, de segunda-feira ao sábado, das 13:00 às 18:00 horas, totalizando carga horária de 120 horas. 2. DESCRIÇÃO DOS LOCAIS DE ESTÁGIO 2.1 Hospital Veterinário Anclivepa, Unidade Zona Sul, São Paulo O Hospital Público Veterinário foi inaugurado em agosto de 2020, é totalmente custeado pela prefeitura de São Paulo e administrado pela ANCLIVEPA (Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais de São Paulo). Está localizado na Rua Agostino Togneri, número 153, no bairro Jurubatuba na Zona Sul da cidade de São Paulo. Diariamente, a partir das 06:30 horas, são distribuídas 28 senhas para atendimento. A abertura do cadastro é realizada apenas aos munícipes da cidade de São Paulo (que possuem comprovante de endereço), acompanhados dos animais, portando RG e CPF. Figura 1. Hospital Público ANCLIVEPA, unidade Zona Sul. (A) Entrada do Hospital (B) Recepção do Hospital. Entre as especialidades oferecidas estão a clínica médica, oftalmologia, cirurgia de tecidos moles, anestesiologia, diagnóstico por imagem, cardiologia, odontologia, ortopedia, neurologia, oncologia, endocrinologia e infectologia. A estrutura do hospital é composta por uma grande recepção, almoxarifado, três centros cirúrgicos, quatorze consultórios, sala de raio-x, sala de ultrassonografia, sala de emergências, colheitas, enfermaria, ambulatório de doenças infectocontagiosas e internação. 3 Os consultórios não possuem nenhum equipamento, apenas mesa de exames e um computador. A emergência conta com cilindros de oxigênio e aquecedor. Algumas medicações e utensílios estão à disposição nas salas de emergência e enfermaria, as demais devem ser retiradas do almoxarifado. O setor de diagnóstico por imagem possui um raio-x digital indireto, com revelador automático e um aparelho de ultrassonografia. O hospital em si não conta com um laboratório, mas faz coletas diárias e envia para um laboratório externo. Figura 2. Hospital Público ANCLIVEPA, unidade Zona Sul (A) Sala de Emergências (B) Corredor dos Consultórios. 4 Figura 3. Hospital Público Veterinário da ANCLIVEPA, unidade Zona Sul (A) Internação (B) Sala de Laudos do Raio-X. A equipe de atendimento do setor de clínica médica é formada por 3 veterinários contratados, 5 residentes, diversos enfermeiros e estagiários. É fácil de identifica-los a partir da cor de seus uniformes, veterinários contratados vestem um pijama azul marinho, residentes vestem azul convencional, enfermeiros vestem verde escuro e estagiários devem vestir verde claro. Na parte da manhã o hospital atende exclusivamente os pacientes que receberem senha. Na parte da tarde atende os retornos. As emergências são atendidas durante todo o dia mediante avaliação da real necessidade por parte dos médicos veterinários. Os munícipes costumam chegar por volta das 02:00 horas para formarem a fila de espera pelas senhas. Durante a distribuição de senhas, os veterinários são responsáveis pela triagem dos pacientes, assim, os pacientes já são encaminhados para o setor de clínica médica, clínica cirúrgica ou ortopedia conforme a queixa principal. Consultas das demais especialidades funcionam com agendamento de horário em um dia específico da semana. Os exames de imagem funcionam diariamente, mas também sob regime de agendamento de horários. 5 2.2 Clínica Veterinária Central, Ribeirão Pires, São Paulo A clínica foi criada em 2009 pelo médico veterinário Anderson Laureano, está localizada na cidade de Ribeirão Pires, na região do ABC Paulista, onde possui bastante reconhecimento. Entre os serviços oferecidos na clínica estão consultas, cirurgias, internação, exames laboratoriais e exames de imagem. A equipe é composta por dois médicos veterinários e três auxiliares. As consultas oferecidas são de clínica média, dermatologia e neurologia. As demais especialidades (gastroenterologia, medicina felina, cardiologia, odontologia, oftalmologia, endoscopia, ortopedia, endocrinologia) contam com médicos veterinários volantes. Os exames laboratoriais oferecidos são de hematologia, bioquímica clínica e citologia. Os demais exames são colhidos, armazenados e enviados para laboratórios parceiros. Os exames de imagem oferecidos são de ultrassonografia e radiografia. A estrutura da clínica conta com uma recepção, dois consultórios, um centro cirúrgico, uma sala de diagnóstico por imagem, um laboratório, e duas internações, uma destinada para doenças em geral e outra especialmente destinada para doenças infectocontagiosas. Figura 4. Recepção da Clínica Veterinária Central, em Ribeirão Pires – SP. (A) Recepção vista da entrada (B) Recepção vista de dentro da clínica. Os consultórios são amplos, equipados com geladeiras onde são mantidas as vacinas e medicamentos que precisam ser mantidos sob refrigeração, balança, 6 otoscópios digitais com monitor, microscópio, termômetro, lanterna, doppler e esfigmomanômetro, e os demais equipamentos necessários para o atendimento dos animais. Figura 5. Foto do Consultório 1 da Clínica Veterinária Central, em Ribeirão Pires – SP. As internações possuem baias e berços onde são acomodados os animais internados, possuem bombas de infusão, monitor de parâmetros, oxímetro, aparelhos de glicemia, lactato, corpos cetônicos, um oxigenador, doppler com esfigmomanômetro e um aparelho de ultrassonografia que é destinado para utilização na rotina dos animais internados. Figura 6. Fotos da sala de internação da Clínica Veterinária Central, em Ribeirão Pires – SP. (A) Foto da sala de internação onde estão o berço, bombas de infusão, 7 monitor de parâmetros (B) Foto da sala de internação onde estão as baias, bombas de infusão, oxigenador. A sala de exames de imagem, conta com o aparelho de radiografia digital computadorizado, mesa fixa, filmes de tamanho 14 x 17, equipamentos de proteção (avental, protetor de tireóide, luva de chumbo e óculos de proteção) e um aparelho de ultrassonografia da marca SonoScape, calhas de diferentes tamanhos, gel acústico, máquina de tosa. Também está disponível um computador para a confecção dos laudos. Figura 7. Sala de Diagnóstico por Imagem da Clínica Veterinária Central, em Ribeirão Pires – SP. (A) Aparelho de Raio-X Convencional e Equipamentos de Proteção (B) Aparelho de ultrassonografia marca SonoScape. Figura 8. Laboratório de Análises Hematológicas e Bioquímicas da Clínica Veterinária Central, em Ribeirão Pires – SP. 8 O laboratório de análises clinicas conta com um analisador hematológico automático IDEXX modelo ProCyte One, centrífuga, reagentes para realização dos bioquímicos e autoclave. 2.3 Fauna Especialidades, São Bernardo do Campo, São Paulo O centro de diagnóstico e especialidades Fauna foi criado em 2003 e está situado na cidade de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. Possui serviços de diagnóstico por imagem, patologia clínica e atendimento de animais silvestres. Está localizado na Rua Copacabana, número 918 e funciona de segunda-feira aos sábados, das 08:00 horas às 18:30. O prédio da empresa conta com dois andares, no primeiro existe uma recepção ampla para atendimento dos clientes, uma recepção externa, uma sala de coletas e o setor de imagem, que conta com uma sala de radiografia, uma sala de ultrassonografia e a sala de laudos. No segundo andar, está o laboratório de análises clínicas, um consultório para especialidades e o setor de animais silvestres, que possui um consultório, um centro cirúrgico e uma internação especialmente voltada para esses animais. Figura 9. Centro de Especialidades Fauna, em São Bernardo do Campo - SP (A) Foto da entrada (B) Foto da recepção. Entre as modalidades de exames de imagem oferecidas estão ecocardiografia, radiografia simples e contrastada, ultrassonografia abdominal e cervical de cães, gatos e animais silvestres, bem como serviços de telerradiologia. O laboratório clínico realiza exames de hematologia, bioquímica clínica, urinálise, 9 hormônios, microbiologia, parasitologia, imunologia, histopatologia e citologia. O setor de animais silvestres conta com atendimentos clínicos, cirurgias, anestesia e internação especialmente pensado para estes animais. Ainda existem médicos veterinários de diferentes especialidades (oftalmologia, cardiologia, endocrinologia, gastroenterologia e ortopedia) que atendem com horário marcado. Os serviços de diagnóstico por imagem funcionam de forma volante e fixo. Entre os veterinários que compõem este setor estão 4 veterinários imaginologistas e dois técnicos em radiologia. O primeiro deles, trabalha durante todo o dia de forma volante percorrendo as clínicas da região para realização dos exames. Os demais permanecem no prédio, se revezando entre os períodos da manhã e da tarde. O aparelho de radiografia é do tipo digital computadorizado, possui uma mesa flutuante que facilita o posicionamento correto dos animais. Estão disponíveis placas receptoras de tamanhos diferentes, dois pequenos, dois médios e dois grandes, que são escolhidos conforme a região de estudo e ao tamanho do paciente. Os equipamentos de proteção radiográfica disponíveis são aventais, protetores de tireóide e luvas, bem como o dosímetro que é periodicamente trocado. Para facilitar a rotina, o aparelho de radiografia utilizado no serviço volante é um modelo digital direto. Figura 10. Aparelho de Raio-X do Centro de Especialidades Fauna, em São Bernardo do Campo – SP. O aparelho de ultrassonografia é do modelo estacionário Xario 100G da marca Toshiba, com 3 transdutores, sendo um linear, um convexo e um microconvexo. Na 10 sala de ultrassonografia também estão disponíveis uma máquina de tosa, gel acústico e duas calhas de tamanhos diferentes, que são utilizadas conforme o tamanho dos pacientes. Figura 11. Sala de Ultrassonografia do Centro de Especialidades Fauna, em São Bernardo do Campo – SP. 2.4 R&K Centro de Diagnóstico O centro de diagnóstico veterinário é referência na região do ABC Paulista e também oferece cursos e palestras para veterinários. São oferecidas diferentes especialidades, cardiologia, endocrinologia, diagnóstico por imagem (ultrassonografia e radiologia) e patologia clínica. Está localizado em uma das melhores regiões comerciais de São Bernardo, na Rua Ártico, número 248, Jardim Caminho do Mar, e funciona de segunda a sábado, das 08:00 às 18:00 horas. 11 Figura 12. Entrada do Centro de Diagnóstico Veterinário R&K, em São Bernardo do Campo - São Paulo. O prédio conta com três andares, no primeiro há duas recepções amplas, uma especialmente dedicada aos felinos e uma externa, uma sala de cardiologia que possui um aparelho de ultrassonografia, uma sala de fisioterapia, uma sala de colheitas e o setor de radiologia, que é composto por uma sala de exames devidamente isolada e uma sala de laudos. O segundo andar possui uma recepção, duas salas de colheita, sendo que em uma delas há um aparelho de ultrassonografia especialmente destinado a colheitas guiadas, uma sala de endocrinologia, o laboratório de análises clínicas e o setor de ultrassonografia. O terceiro andar é destinado à área de convivência e descanso dos funcionários, o centro administrativo e as salas onde são oferecidos os cursos. 12 Figura 13. Laboratório de Análises do Centro de Diagnóstico Veterinário R&K, em São Bernardo do Campo - São Paulo (A) Vista da Entrada do laboratório (B) Vista do interior do laboratório. Figura 14. Foto da Sala de Radiologia do Centro de Diagnóstico Veterinário R&K, em São Bernardo do Campo - São Paulo. O setor de ultrassonografia possui 3 salas de exame destinadas especialmente a ultrassonografia abdominal, cervical, encefálica e com doppler vascular. Cada consultório possui um aparelho de ultrassom estacionário contendo, no mínimo dois transdutores (linear e microconvexo), dos seguintes modelos: GE Logiq F6, GE Versana Balance, Toshiba Xario 100G. Nas salas também existe um computador equipado com os softwares Dr. Nuvem e Vertis, para a confecção dos laudos e todos os outros utensílios necessários para o preparo do paciente e execução do exame, como gel acústico, máquina de tosa e calhas de diversos tamanhos. 13 Figura 15. Recepção do setor de colheitas e ultrassonografia do Centro de Diagnóstico Veterinário R&K, em São Bernardo do Campo - São Paulo. Figura 16. Consultório 1 do Centro de Diagnóstico Veterinário R&K, em São Bernardo do Campo - São Paulo (A) Sala de exames (B) Aparelho de Ultrassonografia GE Logiq F6. A equipe do setor é formada por cinco veterinárias especializadas em ultrassonografia, 2 trainees, e auxiliares de veterinário. Os exames de ultrassonografia são agendados a cada 50 minutos. Durante a semana, o movimento é mais ameno e aos sábados tende a aumentar. 14 3. DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS 3.1 Hospital Veterinário Anclivepa, Unidade Zona Sul, São Paulo No período de estágio no Hospital Público, foi possível acompanhar diferentes residentes e médicos veterinários contratados, do setor de clínica médica, durante a rotina dos atendimentos. A rotina no hospital é intensa. Além das 28 senhas distribuídas diariamente, muitos pacientes que chegavam em situação de emergência eram encaixados e atendidos, e também haviam os retornos atendidos no período da tarde. Estima-se que tenha acompanhado cerca de 200 animais, sendo a maioria caninos sem raça definida. Quadro 1. Cães e gatos atendidos no Hospital Público Veterinário da Anclivepa, unidade Zona Sul, no período de 01 a 31 de maio. Animais atendidos Cães Felinos Total 83 65 148 Quadro 2. Distribuição de animais com e sem raça definida atendidos na Clínica Veterinária Central, no período de 06 de junho de 2022 a 31 de agosto de 2022. Raça Espécie Sem Raça Definida Raça Definida Canino 73 10 Felino 65 0 Quadro 3. Atendimentos realizados, separados por especialidade da queixa principal, no Hospital Público Veterinário da Anclivepa, unidade Zona Sul, no período de 01 a 31 de maio. Espécie Animal Casuística por especialidade Canino Felinos Total Reprodução 5 0 5 Traumatologia 5 7 12 15 Dermatologia 5 2 7 Gastroenterologia 2 8 10 Oftalmologia 4 0 4 Hepatobiliar 4 3 7 Cardiologia 5 0 5 Pneumologia 4 3 7 Toxicologia 1 5 6 Neurologia 6 0 6 Endocrinologia 2 1 3 Oncologia 10 7 17 Nefro e urologia 5 13 18 Infectologia 15 10 25 Ortopedia 5 3 8 Parasitologia 2 2 5 Hematologia 3 0 3 Segundo a casuística apresentada, o número de pacientes atendidos entre novos casos e emergências foi de 148 animais. É válido ressaltar que não consta neste levantamento os animais atendidos em retorno ou que vieram a óbito em situação de emergência sem esclarecer a causa. Salienta-se também que alguns dos diagnósticos não foram passíveis de confirmação pela falta de exames complementares, portanto, para a confecção desta casuística, nesses casos, considerou-se a principal suspeita como o diagnóstico. Entre as atividades realizadas pela aluna, estavam a anamnese, exame físico, redação de receitas e solicitação dos exames, bem como a comunicação com os tutores sobre o quadro do paciente. As demais atividades desenvolvidas no hospital incluiu a punção e colocação de acessos venosos, colheita de amostras biológicas, aferição de parâmetros vitais, administração de medicamentos e monitoramento intensivo dos animais no setor de emergências. 16 3.2 Clínica Veterinária Central, Ribeirão Pires, São Paulo Durante o mês de junho, a procura pelos atendimentos foi baixa quando comparada ao mesmo período de anos anteriores. Nos meses de julho e agosto o movimento passou a melhorar e o número de atendimentos normal foi reestabelecido. Estima-se que tenham sido atendidos por volta de 188 animais, entre as 08:30 horas e 13:00 horas no período de 06 de junho de 2022 a 31 de agosto de 2022. Quadro 4. Cães e gatos atendidos na Clínica Veterinária Central, no período de 06 de junho de 2022 a 31 de agosto de 2022. Animais atendidos Cães Felinos Total 142 46 188 Quadro 5. Distribuição de animais com e sem raça definida atendidos na Clínica Veterinária Central, no período de 06 de junho de 2022 a 31 de agosto de 2022. Raça Espécie Sem Raça Definida De Raça Canino 62 80 Felino 45 1 A maioria dos animais atendidos era composto por cães com raça definida. Entre os felinos, apenas um animal da raça Persa foi atendido. Entre os cães, foram atendidos animais das raças Yorkshire, Rotweiller, Pitbull, Bulldogue Francês, Lhasa Apso, Shih Tzu, Poodle, Bernese, Labrador Retriever, Spitz alemão, Bulldogue Inglês, Golden Retriever, Basset Hound, Bull Terrier, Pinscher, West Highland Terrier, Cocker Spaniel, Fila brasileiro, Pastor alemão, Pastor Suíço, American Bully, Border Collie, Boiadeiro Australiano e Husky Siberiano. As raças de pequeno porte se sobressaíram, especialmente cães da raça Shih Tzu (12,6%) e Lhasa Apso (7%), fato que demonstra a popularização destas raças entre as famílias. As principais atribuições da aluna dentro da clínica veterinária era o acompanhamento de todas as consultas, exames de imagem e cuidados com os animais internados. 17 Durante as consultas clínicas, suas atividades consistiam em acompanhar e auxiliar na anamnese, exame físico e colheita de amostras. Na internação, suas responsabilidades incluíam a colocação de acessos venosos, colheita de amostras, aplicação do protocolo terapêutico, aferição de parâmetros, alimentação dos pacientes, realização de curativos, bandagens e suturas. Em relação aos exames de imagem, durante as radiografias, sob supervisão do veterinário responsável, a aluna era responsável pelo preparo do exame (ajuste de técnicas e posicionamento dos pacientes) e disparo do feixe. Durante as ultrassonografias, também era responsabilidade o preparo do exame e posicionamento do paciente, quando possível, era permitido que a estagiária fizesse uma varredura inicial, que posteriormente era finalizada pelo médico veterinário responsável. Ademais, também foi possível realizar a confecção de laudos. 3.3 Fauna Especialidades, São Bernardo do Campo, São Paulo Durante o mês de junho a procura por exames de imagem no centro de diagnóstico também foi baixa. No mês seguinte, houve um aumento na procura por esses serviços. Estima-se que, entre exames de raio-x e ultrassom, tenham sido atendidos 128 animais entre as 14:00 horas e 17:30 horas, do período de 06 de junho de 2022 a 29 de julho de 2022. Quadro 6. Pequenos animais atendidos, para radiografia e ultrassonografia no centro de diagnóstico Fauna Especialidades, no período de 06 de junho de 2022 a 29 de julho de 2022. Animais atendidos Caninos Felinos Aves Pequenos roedores Coelhos Répteis Total 77 32 7 3 4 5 91 18 Quadro 7. Distribuição de animais com e sem raça definida atendidos no centro de diagnóstico Fauna Especialidades, no período de 06 de junho de 2022 a 29 de julho de 2022. Raça Espécie Sem Raça Definida De Raça Definida Canino 31 46 Felino 32 0 Por ser um centro de especialidades que também atende animais silvestres, foram realizados exames em aves (Calopsita, Agapornis, Papagaio, Galinha da Angola), répteis (Jaboti, Tigre d’agua), pequenos roedores (rato twister, hamster) e lagomorfos (coelhos). Mas a grande maioria dos animais atendidos compreendeu cães e gatos. Os cães de raça definida foram os mais atendidos, entre eles, estavam as raças Shih Tzu, Lhasa Apso, Golden Retriever, Bulldogue Francês, Pug, Spitz Alemão, Bulldogue Inglês, Pastor alemão, American Bully, American Staffordshire, Pinscher, Whippett, Border Collie, Rotweiller e Yorkshire. A maioria dos animais atendidos era da raça Shih Tzu, representando 13% dos animais de raça. Nenhum felino de raça definida foi atendido. 19 Quadro 8. Exames radiográficos por área de estudo, realizados no centro de diagnóstico Fauna Especialidade, no período de 06 de junho de 2022 a 29 de julho de 2022. Espécie Animal Projeções por área estudada Canino Felino Aves Pequenos roedores Coelhos Répteis Total Coluna cervical 4 4 Coluna torácica 2 1 3 Tóracolombar 5 2 6 Lombossacra 4 2 4 Articulação umeroradioulnar 2 2 Rádio e ulna 2 2 Carpo, metacarpo 1 1 Articulação coxofemoral 10 2 1 13 Articulação femurotibiopatelar 5 5 Tíbia e fíbula 3 1 1 6 Tarso e metatarso 3 2 5 Crânio 4 3 1 2 2 10 Abdominal 5 1 2 7 Cavidade celomática 7 5 12 Tórax 8 6 1 10 É válido ressaltar que o mesmo animal, pode ter feito mais do que uma projeção 20 Quadro 9. Total de alterações encontradas pela ultrassonografia, divididas por órgãos, encontradas nos exames realizados no centro de diagnóstico Fauna Especialidade, no período de 06 de junho de 2022 a 29 de julho de 2022. Órgão Caninos Felinos Coelhos Bexiga 17 10 2 Próstata 5 Útero 3 0 1 Cólon 6 Baço 18 4 Rim Esquerdo 21 15 1 Adrenal Esquerda 10 Ovário Esquerdo 3 Estômago 8 5 Fígado 23 10 Vesícula biliar 22 5 Duodeno 15 10 Pâncreas 11 10 Rim Direito 25 15 1 Adrenal esquerda 10 Ovário Direito 3 Linfonodos 3 5 Testículos 3 Íleo-ceco- cólica 5 Esteatite 6 Líquido livre 2 É válido ressaltar que os animais possuíam alterações em mais do que um órgão. 21 As funções da estagiária no centro de diagnóstico compreendiam o preparo da sala pré-exames, posicionamento e contenção dos animais. Quando possível, era permitido que a aluna treinasse as técnicas de posicionamento radiográfico e de varredura abdominal ultrassonográfica. Durante a confecção de laudos, havia a discussão de casos com os Médicos Veterinários, onde sanavam-se as possíveis dúvidas sobre o caso. 3.4 R&K Centro de Diagnóstico No centro de Diagnóstico R&K as atividades da estagiária foram concentradas apenas no setor de ultrassonografia. Estima-se que tenham sido atendidos 76 animais durante o período da tarde, entre 01 a 31 de agosto. Cães de raça definida foram a maioria dos animais. Quadro 10. Animais atendidos no Centro de Diagnóstico R&K, durante o período de 01 de agosto de 2022 a 31 de agosto de 2022. Animais atendidos Cães Felinos Total 45 31 76 Quadro 11. Distribuição de animais com e sem raça definida, atendidos no Centro de Diagnóstico R&K, durante o período de 01 de agosto de 2022 a 31 de agosto de 2022. Raça Espécie Sem Raça Definida Raça Definida Canino 11 34 Felino 27 4 Grande parte dos atendimentos foi de cães de raça, entre elas as mais recorrentes eram Golden Retriever (8,9%) e Spitz Alemão (8,9%). Entre os felinos, apenas quatro indivíduos eram de raça definida, sendo um Bengal, Ragdoll, Sphynx e Persa. 22 Quadro 12. Número de alterações ultrassonográficas identificadas por órgão Principais alterações encontradas nos exames ultrassonográficos abdominais apresentadas por órgão, no centro de Diagnóstico R&K, no período de 01 de agosto de 2022 a 31 de agosto de 2022. Órgão Caninos Felinos Bexiga 17 11 Próstata 5 Útero 2 Cólon 5 2 Jejuno 3 2 Baço 28 14 Rim Esquerdo 20 19 Adrenal Esquerda 8 Ovário Esquerdo 1 Estômago 9 5 Fígado 30 12 Vesícula biliar 20 3 Duodeno 5 4 Pâncreas 14 6 Rim Direito 20 19 Adrenal Direita 8 Ovário Direito 1 Linfonodos 5 6 Testículos 2 Ceco-cólica Íleo-ceco- cólica 4 Uretra Peniana 5 Esteatite 3 Líquido livre 2 23 Além da ultrassonografia abdominal, a aluna também acompanhou a realização de alguns exames de ultrassonografia cervical. Quadro 13. Total de alterações morfológicas encontradas pela ultrassonografia cervical, divididas por órgãos, no centro de Diagnóstico R&K, no período de 01 de agosto de 2022 a 31 de agosto de 2022. Estruturas Cães Artéria carótida Veia jugular Língua Esôfago Traqueia Laringe Tireoide 2 Paratireoide Linfonodos 3 Glândulas salivares 2 As atividades desenvolvidas durante este período compreendiam preparo da sala de exame, recepção dos tutores, contenção e posicionamento dos animais. Após todos os exames, as Médicas Veterinárias responsáveis pelo caso repassavam as imagens enquanto discutiam cada alteração presente no caso. 4. DISCUSSÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS O estágio desenvolvido no Hospital Público Veterinário da ANCLIVEPA, unidade zona Sul, se diferenciou dos demais locais em diversos aspectos. Foi entre todos os outros lugares o único onde os cães sem raça definida sobressaíram. Os pacientes eram de todas as faixas etárias e a maioria não possuía histórico de vacinação, castração, desvermifugação, controle de ectoparasitas e tinham livre acesso à rua. Entre a casuística atendida, destacaram-se as doenças infecto contagiosas, do trato urinário, doenças oncológicas e traumas. As doenças infecciosas de maior relevância na rotina do hospital consistiam em cinomose, parvovirose, leptospirose, 24 PIF, FIV e FeLV. A vacinação é uma forma eficiente de prevenção e interrupção da transmissão de algumas dessas doenças. Sabe-se que o nível socioeconômico dos tutores e o nível de informação, influi diretamente na realização do protocolo de vacinação adequado para estes animais. Shuett et al. (2013) em seu estudo, comprovaram que poucos tutores de cães e gatos sabiam da importância e necessidade de vacinação, confirmando a falta de conscientização da população. Outra questão discutida foi o custo da vacinação, que pode ser considerada um fator limitante e justificar a sua menor utilização. A exemplo do que se dá com a vacina da raiva, recomenda-se que campanhas de vacinação mais sérias, educativas e de maior penetração sejam realizadas buscando aumentar a taxa de adesão destes proprietários às medidas de imunização passiva. Doenças oncológicas e do trato urinário estão frequentemente relacionadas com a maior expectativa de vida destes animais. Existe uma tendência de cães mais velhos desenvolverem algumas neoplasias, o que pode ser justificado pela exposição prolongada aos agentes carcinogênicos e a diminuição da resposta imunológica em animais idosos (Rosseto et al., 2009; Moreira, et al., 2018). Sabe-se também que pacientes geriátricos passam por um processo natural de deteriorização de néfrons, o que resulta em fragilidade renal e predispõe a ocorrência de doenças renais e suas consequências (Krawiec, 1989). A alta ocorrência de traumas por acidentes automobilísticos, brigas e lesões corporais pode estar relacionado ao estilo de vida desses animais, que possuem frequentemente acesso livre à rua. No geral, boa parte dos animais atendidos estavam em más condições, sendo necessário encaminhamento para o setor de emergências a fim de receberem assistência imediata (fluidoterapia intravenosa, transfusão sanguínea, aquecimento, terapia medicamentosa, entre outros) e monitoramento intensivo durante o dia. Infelizmente, apenas 6 vagas de internação estão disponíveis no hospital, que são insuficientes para atender a sua demanda. As vagas são preenchidas conforme a fila de espera e o prognóstico do quadro. Apenas alguns exames laboratoriais, tais como hemograma, bioquímicos (ALT, FA, creatinina, uréia, proteínas totais e albumina) eram disponibilizados aos pacientes do hospital. Como a rotina do hospital é intensa e existe uma grande quantidade de animais que necessita dos seus serviços, a estrutura é insuficiente 25 para atender a todos prontamente. Por isso, a agenda dos exames de imagem é sempre cheia e requer um tempo de espera dos pacientes. Como grande parte dos casos atendidos era de alta complexidade e o estado geral dos pacientes era crítico, para a condução adequada do caso e obtenção do diagnóstico definitivo geralmente eram solicitados exames complementares externos, como testes sorológicos, PCR, citologia, histopatologia ou até mesmo exames mais simples como a mensuração de pressão arterial, eletro e ecocardiograma. Entretanto, foram poucas as vezes em que os tutores os realizaram. Por isso, muitas vezes tratava-se apenas a sintomatologia e o diagnóstico acabava sendo terapêutico ou inexistente. O perfil dos clientes e dos pacientes na Clínica Veterinária Central foi bem contrastante com a do Hospital Público e demonstra uma outra realidade. A maioria dos animais atendidos eram de meia-idade a idosos, vacinados, castrados e faziam controle de endo e ectoparasitas. A casuística revela que a maior parte dos atendimentos foi relativo a doenças dermatológicas, do sistema urinário e imunização. A elevada rotina de dermatologia está relacionada à especialização do M.V Anderson Laureano. Ademais, sabe-se que as afecções de pele possuem grande importância na clínica de pequenos animais e representam uma boa parte dos casos atendidos na rotina (Cardoso et al., 2011). Isso se deve provavelmente ao fato de que alterações de pele são facilmente identificadas e causam desconforto nos proprietários, fazendo com que procurem uma consulta veterinária (Souza et al., 2009). A maior parte dos atendimentos relacionados à pele, tratava-se de dermatopatias alérgicas. Autores relacionam o aumento da ocorrência destas afecções ao estilo de vida “indoor” destes animais, onde tem-se grande concentração dos seus principais alérgenos (Assunção et al., 2017), ocasionando prurido e quebra de barreiras cutâneas, predispondo a infecções secundárias, que também foram muito encontradas durante a rotina de estágio. Durante o período de estágio, a rotina de vacinação foi a maior de todas, elucidando o maior nível de informação e conscientização do público alvo da clínica, que se preocupa principalmente com a prevenção de doenças. Como grande parte dos atendimentos se deu em cães idosos, era de se esperar que doenças comuns no cão geriátrico compusessem alto número na rotina, 26 tal como foi com as doenças do trato urinário. Sabe-se que os animais estão vivendo mais em razão das vacinações, nutrição balanceada, melhoria nos protocolos terapêuticos e maior conscientização de seus tutores (Rosseto et al., 2009). Como já dito anteriormente neste relatório, doenças dos rins são comuns em cães idosos devido a fragilidade desse sistema (Krawiec et al., 1989). A rotina em ambos os centros de diagnóstico foi bem diferente dos demais. Nesses locais, como o propósito dos clientes era apenas a realização de exames complementares, especialmente exames de imagem (radiografia e ultrassonografia) pouco se sabia sobre o histórico, condição geral, tratamento e desfecho do quadro clínico desses animais. A discussão de casos clínicos e o acompanhamento da confecção de laudos, foi considerada como muito importante para a aluna pensando na construção do vocabulário de descrição das anormalidades ultrassonográficas e do raciocínio clínico ultrassonográfico. Entre os animais atendidos para fazer radiografias no centro de diagnóstico Fauna, a maioria buscava uma resposta para alterações do sistema locomotor. As radiografias de tórax objetivavam elucidar, em ordem de prioridade, o estadiamento oncológico, problemas respiratórios e cardíacos. Com as radiografias de crânio, buscava-se a avaliação principalmente dos seios nasais e o diagnóstico de massas intranasais. As maioria das aves apresentadas para radiografia de cavidade celomática apresentavam sintomas inespecíficos, como apatia e anorexia, exceto por uma, que possuía suspeita de ruptura de sacos aéreos, a qual foi confirmada por meio do exame. Entre os répteis atendidos, havia a suspeita de retenção de ovos e alterações intestinais. 27 Figura 17. Alterações reveladas pelo ultrassom, separadas por órgãos, nos centros de diagnóstico R&K e Fauna, acompanhadas pela discente. Foram consideradas alterações de topografia, número, tamanho, ecogenicidade (focal, difusa, mista), ecotextura (focal, difusa), contornos e a presença de lesões parenquimatosas. A varredura abdominal foi feita de maneira a compreender todos os órgãos da cavidade abdominal e a avaliação foi feita minuciosamente. Todos os animais avaliados ao ultrassom apresentaram alteração em pelo menos um dos órgãos. O órgão que se apresentou alterado morfologicamente em maior número dos cães foi o fígado, seguido do baço, vesícula biliar e rins. A ultrassonografia é um método de diagnóstico sensível para detecção de alterações hepáticas, capaz de detectá-las antes mesmo de haver alteração de enzimas hepáticas. Entretanto, possui baixa sensibilidade para diferenciar lesões benignas de malignas, portanto, para complementar o diagnóstico é preciso exames mais específicos como biópsias ou citologias aspirativas (Carvalho; Guido; Tannouz, 2004). As alterações mais comuns do baço incluem esplenomegalia e a presença de lesões focais ou difusas (Carvalho; Guido; Tannouz, 2004), que são facilmente 0 10 20 30 40 50 60 Caninos Felinos Bexiga Próstata Útero Alças intestinais Baço Rins Adrenais Ovários Estômago Fígado Vesícula Biliar Pâncreas Linfonodos Testículos Esteatite Líquido Livre 28 detectáveis pela ultrassonografia. Punção por agulha fina deve ser considerada, principalmente em casos de suspeita de neoplasia. Em quase todos os animais que apresentavam alterações em vesícula biliar, visualizou-se um conteúdo denso, com aparência ecogênica. Esse é um achado comum em cães idosos, obesos, sedentários ou endocrinopatas e pode indicar estase biliar por jejum prolongado ou anorexia, entre outras. É uma alteração que quando persistente prediz a formação de cálculos biliosos ou de colesterol (Carvalho; Guido; Tannouz, 2004). Os órgãos que se apresentaram alterados morfologicamente em maior número de felinos foram os rins, fígado e bexiga. A ultrassonografia é um importante método de detecção precoce de desordens renais, sabe-se que a reserva funcional dos rins é muito grande, por isso é preciso haver perda funcional importante para prover alterações laboratoriais e sintomas clínicos (Carvalho; Guido; Tannouz, 2004). Por fornecer informações sobre o tamanho, forma e a arquitetura interna dos rins, é um dos primeiros exames a ser considerado no estadiamento de doença renal em felinos. Sabe-se que em felinos, o aumento de ecogenicidade da região cortical pode ocorrer em animais normais e castrados, por acúmulo de vacúolos de gordura (Carvalho; Guido; Tannouz, 2004). Em dois cães em que foi encontrado líquido livre abdominal, a ultrassonografia possibilitou a colheita de liquido para análise citológica. Sabe-se que esta é uma forma segura de auxiliar no diagnóstico, já que a colheita de materiais guiado em tempo real pelo aparelho de ultrassom diminui a probabilidade de complicações e a taxa de mortalidade (Carvalho; Guido; Tannouz, 2004). Todos os animais encaminhados para a realização da ultrassonografia cervical apresentavam aumento de volume de tecidos moles nessa região e buscaram o exame para auxiliar o diagnóstico. Além da varredura cervical, em três animais, a ultrassonografia possibilitou a colheita de amostras biológicas de linfonodos e glândulas salivares para análise citológica. O procedimento foi de fácil realização e em todos os casos a amostra colhida foi representativa. Em nenhum dos casos houve complicações após a realização da punção. 29 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O estágio obrigatório em prática veterinária se faz muito importante na construção do médico veterinário como uma forma de concretizar e aprofundar conhecimentos construídos durante os cinco anos de graduação. Proporciona ainda o contato e aprendizado de novos assuntos e novas áreas da medicina veterinária, e assim aperfeiçoar não só o conhecimento técnico médico, bem como relações interpessoais, por meio do contato direto com tutores e os colegas de profissão. Transitar por locais tão diferentes durante o período de estágio foi importante para conhecer a realidade de públicos distintos e aprender a lidar com eles de maneira adequada, entendendo e respeitando seus limites, mas ao mesmo tempo mantendo o foco em fazer sempre o melhor para os pacientes. A escolha de duas áreas para realização dos estágios foi uma boa decisão, visto que são complementares e os conhecimentos de clínica médica são indispensáveis para o bom desempenho no diagnóstico por imagem. As antigas dúvidas e indecisão a respeito dos locais de estágio escolhidos foram substituídos pelo sentimento de satisfação pela aluna. Os objetivos do estágio foram alcançados com sucesso, preparando a aluna para formar-se e finalmente assumir seu papel como médica veterinária. 6. REFERÊNCIAS ASSUNÇÃO, Dévaki L. de et al. Evaluation of the concentration of allergens from mites in fur and households dust of dogs with atopic dermatitis. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 37, p. 41-46, 2017. CARDOSO, Mauro José Lahm et al. Dermatopatias em cães: revisão de 257 casos. Archives of Veterinary Science, p. 66-74, 2011. CARVALHO, C. F; GUIDO, M. C.; TANNOUZ, V. G. S. Aparelho Reprodutor Masculino. In: CARVALHO, Cibele Figueira. Ultra-sonografia em pequenos animais. Roca, 2004. Cap. 15, p. 283-297 KRAWIEC, Donald R. Urologic disorders of the geriatric dog. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 19, n. 1, p. 75-85, 1989. MOREIRA, Leticia Fontoura et al. A geriatria canina e o manejo das doenças neoplásicas: Revisão. Pubvet. Maringá. Vol. 12, n. 4 (abr. 2018), a79, p. 1-7, 2018. 30 ROSSETTO, Victor J. V. et al. Frequency of tumors in dogs based on cytological diagnosis: a retrospective study in a veterinary teaching hospital. Semina Ci. agr., p. 189-200, 2009. SOUZA, Tatiana M. et al. Prevalência das dermatopatias não-tumorais em cães do município de Santa Maria, Rio Grande do Sul (2005-2008). Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 29, p. 157-162, 2009. SUHETT, Weslem Garcia et al. Percepção e atitudes de proprietários quanto a vacinação de cães na região sul do estado do Espírito Santo-Brasil. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, v. 50, n. 1, p. 26-32, 2013. II – MONOGRAFIA: Ultrassonografia no diagnóstico de alterações prostáticas 1. INTRODUÇÃO E REVISÃO DE LITERATURA A ultrassonografia é uma modalidade de diagnóstico por imagem de grande utilidade na rotina clínica de pequenos animais. Devido a melhora na qualidade de imagem dos equipamentos, alta resolução dos transdutores e relativa redução no custo dos aparelhos tem se tornado ainda mais acessível ao médico veterinário. Este é um exame que de forma rápida, sem radiação ionizante, com alta sensibilidade e não invasiva permite a avaliação morfológica dos órgãos obtendo informações sobre a arquitetura e características externa e interna destes (Feliciano; Garcia; Vicente, 2015). Visando aumentar a sensibilidade e especificidade do exame em modo B (modo de brilho), novas técnicas de ultrassonografia estão sendo desenvolvidas e empregadas na medicina veterinária, tais como o modo doppler, elastografia e ultrassonografia com contraste de microbolhas (CEUS) (Cintra et al., 2022). A ultrassonografia da próstata é indicada para cães que apresentem sinais de infecção urinária recorrente, hematúria, disúria, disquesia, prostatomegalia, febre de origem desconhecida, dor abdominal caudal e hemospermia (Breadley, 2011). Trata- se de uma ótima ferramenta diagnóstica, que permite identificar com precisão alterações na arquitetura, ecogenicidade, tamanho, forma e lesões focais da 31 glândula (Junior, 2012). No entanto, sabe-se que os achados ultrassonográficos são pouco específicos e não estão relacionados a uma única doença (Lévy et al., 2014). A ultrassonografia pode ser útil na orientação de colheitas de amostras biológicas, estabelecimento do diagnóstico presuntivo, drenagem de lesões cavitarias, e ainda, empregada na avaliação da resposta das doenças prostáticas ao tratamento empregado (Davidson e Baker, 2009; Mussel et al., 2010; Junior, 2012). A ultrassonografia com contraste de microbolhas tem sido empregada na identificação de áreas de vascularização anormal mostrando-se útil na detecção de enfermidades que alterem a hemodinâmica dos órgãos, como as neoplasias (Assis; Garcia; Feliciano, 2015; Cintra et al., 2022). A elastografia é utilizada na avaliação de alterações de rigidez de diferentes tecidos (Gennisson et al., 2013) e por meio dos elastogramas auxilia a identificação de até mesmo pequenas alterações patológicas no parênquima prostático, auxiliando tanto no diagnóstico presuntivo de prostatopatias como na colheita de amostras para biópsia representativas (Domosławska et al., 2018). Ambas são técnicas promissoras que se mostram úteis e, portanto, devem ser incluídas no diagnóstico de doenças prostáticas. Acima de todos os outros mamíferos, existe uma grande importância em estudar a próstata de cães e humanos, principalmente pela frequência de doenças que acometem essas duas espécies. Devido as proximidades anatômicas e fisiológicas, o cão é considerado o melhor modelo experimental para estudos da próstata, porque é o único, além do homem, a desenvolver espontaneamente a hiperplasia prostática benigna e o adenocarcinoma prostático (Gadelha et al., 2009; Sun; Baez-díaz; Sanchez-Margallo, 2017). As melhorias na nutrição, educação de tutores, manejo dos animais e nos cuidados veterinários em geral, incluindo programas de vacinação, melhora na acurácia do diagnóstico de doenças e protocolos terapêuticos mais eficazes são responsáveis por um aumento significativo na expectativa de vida dos cães (Da Rocha, 2013). Sabe-se que a idade é um fator significativo na etiologia das doenças prostáticas (Freitas et al., 2015) e portanto, concomitantemente a maior longevidade desses animais, observa-se aumento na incidência de doenças prostáticas (Mantziaras et al., 2017). 32 No geral, os sinais sugestivos de doença prostática são comuns em cães machos a partir dos seis anos de idade (Smith, 2008). Mantziaras et al. (2017) sugerem que a avaliação da próstata deve estar incluída nos exames preventivos de acompanhamento da saúde do cão idoso, uma vez que grande parte das doenças prostáticas se iniciam de forma silenciosa, assintomática e a detecção precoce auxiliaria no tratamento imediato e em melhores prognósticos. Por isso, os autores recomendam que o exame preventivo seja iniciado na idade relativa a 40% da longevidade do paciente (Mantziaras et al., 2017). As afecções da próstata de cães comumente encontradas incluem hiperplasia prostática benigna, seguida de cistos, abcessos, infecções agudas ou crônicas e neoplasias prostáticas (Krawiec, 1989; Junior, 2012;). Estudos demonstram que a ocorrência de hiperplasia prostática benigna é alta, representando mais de 50% dos casos de prostatopatias, enquanto porcentagem das infecções é inferior a 20%, neoplasias 7% e metaplasia escamosa inferior a 2% (Troisi et al., 2015). Em seus estudos, Junior (2012) encontrou incidência de 53,83% dos animais com hiperplasia prostática benigna, 26,92% hiperplasia prostática benigna cística, 23,07% prostatite bacteriana, 17,3% abcessos prostáticos, 13,46% cistos prostáticos, 3,84% adenocarcinoma prostático, 1,92% prostatite não bacteriana e 1,92% de cistos paraprostáticos. Hiperplasia prostática benigna é a mais comum entre as doenças da próstata, costuma ocorrer em cães não-castrados, acima de 5 anos de idade pelo efeito hormonal da di-hidrotestosterona no parênquima prostático (Gadelha et al., 2009; Davidson, 2014; Khanbazi et al., 2021). Cistos ocorrem em cães idosos, em média 8 anos de idade, e podem ser classificados como cistos prostáticos ou paraprostáticos (Apparício e Gadelha, 2015). A ocorrência de cistos parenquimatosos está frequentemente associada a outras doenças (Cunto et al., 2019). A forma mais comum de infecção da próstata é pela ascensão de bactérias vindas da uretra, mas a via hematógena e a migração de organismos da bexiga também são descritas (Apparício e Gadelha, 2015). Cães idosos são mais predispostos à ocorrência de prostatites pela diminuição do fator antibacteriano prostático (Gadelha et al., 2009). Os microrganismos comumente isolados são Escherichia coli, Staphylococcus spp, Streptococcus spp e Mycoplasma spp. Prostatites agudas são graves e podem levar 33 a sepse e morte (Davidson, 2014). Abcesso da glândula prostática é geralmente resultado de uma infecção bacteriana ascendente ou secundário a prostatite bacteriana supurativa (Apparício et al., 2006). O quadro geralmente é grave e frequentemente leva à morte (Apparício e Gadelha, 2015). Neoplasias prostáticas são incomuns e ocorrem tanto em animais castrados quanto não castrados. Quando diagnosticadas representam um problema, pois devido a sua característica de malignidade e grande capacidade de metastatizar o prognóstico tende a ser desfavorável (Gadelha et al., 2009; Cunto et al., 2019). Entre as neoplasias prostáticas, os adenocarcinomas são os mais frequentes. Possuem maior incidência em cães idosos de, em média, 10 anos de idade (Di Santis; Amorim; Bandarra, 2001). 1.1 ANATOMIA E FISIOLOGIA DA PRÓSTATA A próstata é a única glândula sexual acessória presente no cão (Johnston et al., 2001), sua função é produzir o fluido prostático que compõe a primeira e a terceira fração do ejaculado (Peter e Widmer, 2003) e atua no transporte e manutenção dos espermatozóides durante a ejaculação (Barsanti e Finco, 1986). É um órgão bilobulado e simétrico, de formato ovóide a esférico, (Apparício e Gadelha, 2015) recoberto por uma cápsula fibromuscular oriunda das fibras musculares lisas da parede da bexiga (Sun; Baez-díaz; Sanchez-Margallo, 2017). Um septo mediano proeminente, rico em tecido conjuntivo e fibras musculares lisas, percorre as regiões ventral e dorsal da próstata dividindo-a em lobos direito e esquerdo, que são subdivididos em lóbulos por septos também provenientes da cápsula externa da glândula. Em cada lóbulo encontram-se glândulas túbulo alveolares secretoras revestidas por epitélio colunar, que escoam seus produtos por meio de ductos para a uretra pélvica. Os ductos deferentes percorrem a próstata e desembocam na uretra pélvica, na região chamada de colículo seminal (Dyce, 2004; Evans e De Lahunta, 2013; Cunto et al., 2019). O desenvolvimento da glândula é hormônio-dependente e pode ser fracionado em três fases distintas relacionadas à idade. A primeira fase compreende o período da embriogênese até os 2 a 3 anos de idade e é caracterizado pelo crescimento normal da próstata, a segunda fase acontece nos jovens adultos a idosos de 12 a 15 anos e é marcada pelo crescimento hiperplásico e hipertrófico da 34 glândula, a última fase ocorre em cães muito idosos (acima de 15 anos de idade), nela observa-se a involução da glândula devido a diminuição dos andrógenos circulantes (O’Shea, 1962; Verstegen, 1998). A glândula circunda a região próxima da uretra e localiza-se caudal à bexiga, ventral ao reto e dorsal à sínfise púbica (Smith, 2008). Suas faces dorsal e lateral são recobertas por peritônio, diferentemente da face ventral, que é recoberta por gordura periprostática (Freitag et al., 2007). Nos cães púberes e adultos a próstata se encontra na cavidade pélvica, nos cães idosos a tendência é que avance em direção à região pélvica cranial e cavidade abdominal devido ao crescimento hiperplásico da glândula (Atalan; Holt; Barr, 1999; Mariano et al., 2015). Os vasos sanguíneos e nervos que sustentam a próstata adentram sua estrutura bilateralmente, na sua face dorsolateral. O suprimento sanguíneo da glândula provém da artéria prostática, um ramo da artéria pudenda interna, que ultrapassa a cápsula prostática e irriga o tecido glandular. Os dois lobos prostáticos possuem irrigação independente, proveniente da artéria prostática direita e esquerda. A drenagem venosa ocorre por meio das veias prostática e uretral, que destinam-se à veia ilíaca interna. Os vasos linfáticos que drenam a próstata desembocam nos linfonodos ilíacos. Os nervos hipogástrico e pélvico são responsáveis, respectivamente, pela inervação simpática e parassimpática da próstata. A estimulação simpática da próstata causa ejeção do fluido prostático na uretra prostática enquanto a estimulação parassimpática provoca um aumento na secreção glandular (Johnston et al., 2000; Freitag et al., 2007; Smith, 2008; Sun; Baez-díaz; Sanchez-Margallo, 2017). Histologicamente, a próstata canina é composta por ácinos túbulo-alveolares circundadas pelo estroma e envoltos por uma cápsula fibromuscular espessa. Os ductos excretórios são revestidos por epitélio cubóde ou colunar, mas na sua porção terminal que se abre no interior da uretra, transformam-se em epitélio de transição (Di Santis; Amorim; Bandarra, 2001; Wrobel e Bergmann, 2012). As células do parênquima prostático são estromais e epiteliais. As células epiteliais são do tipo colunares altas, com função secretória e basal, precursoras de epitélio secretório. As células que estão próximas à cápsula são mitoticamente ativas enquanto as que estão pelo parênquima prostático estão em repouso. Por sua vez, as células 35 estromais abrangem os fibroblastos e as células musculares lisas envolvidas em colágeno, com vasos sanguíneos e nervos (Apparício e Gadelha, 2015). A produção de fluido prostático ocorre tanto pela estimulação do sistema nervoso parassimpático como também por fatores hormonais principalmente di- hidrotestosterona (Peter e Widmer, 2003). A produção basal de líquido é constante nos animais intactos, sendo direcionada para ductos excretores e uretra prostática. Entretanto, na ausência de micção ou ejaculação para expulsão do conteúdo produzido, a pressão uretral direciona para o interior da bexiga (Barsanti e Finco, 1986). A dinâmica de crescimento e funcionamento da próstata é regulada pela testosterona (Frick e Aulitzky, 1991). A produção desse hormônio ocorre no eixo Hipotalâmico-Hipófisário-Testicular e é regulada por feedback negativo. O hipotálamo é responsável pela produção e secreção de GnRH que induz a produção e liberação de LH pela hipófise. O LH estimula a produção de testosterona pelas células intersticiais (células de Leydig) (Dukes e Reece, 2015). Grande parte da testosterona que penetra nas células da próstata é transformada em di- hidrotestosterona (DHT) por ação de enzimas 5-α-redutases. A testosterona e DHT se ligam aos mesmos receptores androgênicos e causam os mesmos efeitos. Entretanto, a ligação da DHT aos receptores é muito mais forte e possui maior duração do que a testosterona, dessa forma, esse metabólito possui grande contribuição na ativação de receptores androgênicos e consequente estimulação da produção e secreção de fluido prostático (Freitag et al., 2007; Christensen, 2018). O hormônio 17-β-estradiol, produzido por aromatases, têm efeito de sinergismo com andrógenos, e também auxilia no funcionamento e crescimento da próstata (Frick e Aulitzky, 1991). Decorrente de baixas taxas de testosterona no organismo, a próstata de cães castrados têm uma redução significativa no tamanho e atividade (Dukes e Reece, 2015). A influência hormonal sobre a próstata parece estar relacionada com a proteção da glândula frente a neoplasias, entretanto, sabe-se que a hiperplasia glandular comumente observada em cães inteiros predispõe a ocorrência de cistos e infecção do órgão (Christensen, 2018). 1.2 PRINCIPAIS PROSTATOPATIAS Hiperplasia prostática benigna (HPB) é caracterizada pelo aumento generalizado e progressivo da glândula (Davidson, 2014), em que se observa a 36 hipertrofia e hiperplasia das células epiteliais prostáticas (Christensen, 2018). É a prostatopatia mais diagnosticada em cães não castrados acima de 3 anos de idade (Apparício e Gadelha, 2015). Berry et al. (1986) encontraram relação direta da prevalência de cães com hiperplasia prostática benigna e o aumento da idade. Em cães com faixa etária de 1 a 2 anos a prevalência era de 16%, em cães com 4 a 5 anos a prevalência chegou a 50% e aos 9 anos de idade chegou a atingir 95% dos cães. Sabe-se que é um processo fisiológico que ocorre em resposta ao envelhecimento e alterações hormonais, mas torna-se patológica quando se institui o crescimento exagerado e sinais clínicos são observados (Apparício e Gadelha, 2015). Entre os sinais clínicos, é comum observar descarga uretral serosa a sanguinolenta, hematúria e hematospermia produzidas pelo tecido hiperplásico com vascularização aumentada. Tenesmo, constipação, disquesia podem ocorrer pelo aumento exagerado da glândula causando compressão do cólon. Ainda pode predispor ao desenvolvimento de outras afecções, como cistos, abscessos e prostatite, (Freitag et al., 2007; Smith, 2008; Cunto et al., 2019). O diagnóstico pode ser construído realizando-se a anamnese, exame físico, avaliação do fluido prostático e exame ultrassonográfico (Smith, 2008). Entretanto, o diagnóstico definitivo só é obtido através da avaliação citológica de aspirado com agulha fina ou biópsia de amostra prostática (Davidson, 2014). Cistos prostáticos são cavidades não sépticas preenchidas com fluido, no interior ou exterior da próstata (Mariano et al., 2015). Ocorrem preferencialmente em cães idosos, de grande porte, com mais de 8 anos de idade (Apparício e Gadelha, 2015). São encontrados em 15% dos cães acima de 7 anos (Lévy et al., 2014). Frequentemente, são associados a outros processos patológicos, como HPB, metaplasia escamosa ou neoplasia. São classificados como cistos de retenção ou cistos paraprostáticos (Smith, 2008). Acredita-se que os cistos de retenção se desenvolvem a partir de microcistos secundários ao aumento da produção ou diminuição das drenagens prostáticas (Freitag et al., 2007), observados devido à hiperplasia. Os cistos paraprostáticos, parecem se originar de remanescentes dos ductos paramesonéfricos (Pacliokova; Kahout; Vlasin, 2006), e estão adjacentes à próstata, geralmente conectados apenas por uma fina porção de tecido conectivo (Freitag et al., 2007; Smith, 2008). Geralmente são estruturas grandes, que podem ocasionar a compressão do cólon descendente e reto, ou estar relacionado com o 37 desenvolvimento de hérnia perineal (Pacliokova; Kahout; Vlasin, 2006). Os sinais clínicos variam conforme o tamanho e localização dos cistos (Freitag et al., 2007), podem ocorrer tenesmo, fezes em formato de fita, distensão abdominal, descarga uretral serosa a sanguinolenta (Barsanti e Finco, 1986). O diagnóstico inclui, um exame físico completo com palpação retal da glândula e exame ultrassonográfico (Apparício & Gadelha, 2015). Prostatite é, provavelmente, a segunda afecção prostática mais comum depois da hiperplasia prostática benigna (Verstegen, 1998). É definida como uma inflamação do parênquima prostático (Lévy et al., 2014), que pode assumir curso agudo ou crônico, com ou sem a formação de abcessos (Davidson, 2014). Escherichia coli é microrganismo mais isolado, porém a infecção por Staphylococcus aureus, Klebsiella spp., Proteus mirabilis, Mycoplasma canis, Pseudomonas aeruginosa, Enterobacter spp., Streptococcus spp., Pasteurella spp., Haemophilus spp. ou Brucella canis podem ocorrer (Johnston et al., 2000; Apparício e Gadelha, 2015). Na maioria dos casos a infecção ocorre de forma ascendente, onde os organismos viajam do pênis e prepúcio através da uretra até a próstata, no entanto, a forma hematógena também é possível (Smith, 2008; Foster, 2012). Cães saudáveis possuem mecanismos de defesa não específicos que reduzem o risco de infecção como a micção, pressão uretral, produção local de IgA e fator antibacteriano prostático (Smith, 2008; Johnston et al., 2001). Após os 4 anos de idade ocorre uma diminuição na produção dos fatores antibacterianos tornando a próstata mais susceptível às infecções bacterianas. Ademais, a ocorrência de outras afecções capazes de alterar arquitetura normal da próstata, como cistos, neoplasias e hiperplasia prostática canina, interfere nos mecanismos de defesa da próstata e ainda são responsáveis por estabelecer um meio favorável à multiplicação dos micro-organismos, predispondo ao desenvolvimento de prostatites (Apparício e Gadelha, 2015). Cães com prostatite aguda geralmente apresentam sinais sistêmicos como febre, anorexia, letargia, e outros como dor à palpação abdominal caudal, presença de corrimento uretral constante ou intermitente, marcha rígida, disúria, hematúria, edema de escroto ou prepúcio, polaciúria, tenesmo (Barsanti e Finco, 1986; Johnston et al., 2000; Smith, 2008; Apparício e Gadelha, 2015; Cunto et al., 2019). Vômitos podem estar presentes quando a doença estiver associada com uma 38 peritonite (Barsanti e Finco, 1986). Os sinais envolvendo o sistema reprodutor são perda da libido, perda da qualidade seminal, hematospermia, piospermia (Christensen, 2018). Os sinais de prostatite crônica são mais discretos, alguns casos são diagnosticados acidentalmente quando quadros de infertilidade ou cistite recorrente são investigados (Johnston et al., 2000; Lévy et al., 2014). O diagnóstico deve ser conduzido conforme a história, exame físico, exames de imagem, hematologia, urinálise, análise do fluido prostático e cultura bacteriana (Smith, 2008). Abcessos são coleções purulentas encontradas no parênquima prostático (Smith, 2008), que podem se originar da infecção de cistos por bactérias ou ocorrer como consequência de prostatite (Freitag et al., 2007). Geralmente são resultado de uma infecção bacteriana que ascende pela uretra, ultrapassando seus mecanismos de defesa natural e colonizam o parênquima prostático (Apparício e Gadelha, 2015), entretanto, a via hematógena também pode ocorrer (Souza; Gasser; Rodrigues, 2019). O agente mais comum é Escherichia coli, presente em 70% dos casos (Souza; Gasser; Rodrigues, 2019). Entretanto, Staphylococcus spp., Pseudomonas spp. e Proteus spp. também podem estar associados (Freitag et al., 2007; Nanaboina; Adepu; Kaplaywar, 2018). Os sinais clínicos dependem do tamanho dos abcessos e da infecção se tornar sistêmica (Smith, 2008), geralmente são casos graves e associados a alta mortalidade (Apparício e Gadelha, 2015). Os sinais sistêmicos de infecção podem ser febre, anorexia, letargia e corrimento uretral intermitente ou constante de caráter hemorrágico ou purulento. Disquesia e disúria podem ocorrer quando abcessos se tornam muito grandes e causam compressão do cólon e uretra (Barsanti e Finco, 1986). A ruptura de abcessos prostáticos pode ocasionar choque séptico e morte (Lévy et al., 2014). O diagnóstico é feito geralmente pela ultrassonografia da próstata, em conjunto com a cultura bacteriana de líquido prostático (Smith, 2008). A diferenciação de cistos e abcessos exclusivamente através da ultrassonografia pode ser difícil, por isso se torna necessária a associação com outros métodos laboratoriais (Souza; Gasser; Rodrigues, 2019). O exame hematológico pode revelar leucocitose neutrofílica com ou sem desvio à esquerda. A presença de infecção urinária concomitante corrobora com a suspeita de abcessos prostáticos, já que são causadas pelo mesmo microrganismo. A cultura bacteriana do líquido prostático revela infecção bacteriana (Freitag et al., 2007; Apparício e Gadelha, 2015). 39 A metaplasia escamosa ocorre por uma mudança no epitélio glandular prostático em epitélio escamoso estratificado, por meio da produção de queratina pelas células basais (Foster, 2012). Sua ocorrência está associada a casos de irritação e prostatite crônica ou ao estímulo prolongado de hiperestrogenismo exógeno ou endógeno, comumente associado a tumor das células de Sertoli (Di Santis; Amorim; Bandarra, 2001; Cunto et al., 2019). É uma condição que predispõe à formação de cistos, de infecção e abscedação (Apparício e Gadelha, 2015). Sinais clínicos estão relacionados com prostatomegalia ou hiperestrogenismo, como alopecia, hiperpigmentação, ginecomastia, trombocitopenia, prepúcio penduloso e alterações testiculares (Apparício e Gadelha, 2015). A ultrassonografia revela prostatomegalia, contornos preservados ou irregulares, parênquima hiperecogênico de ecotextura variável, podendo ser encontradas áreas hipoecogênicas relacionadas com cistos ou abcessos, ou áreas focais hiperecogênicas relacionadas com mineralização parenquimatosa (Souza; Gasser; Rodrigues, 2019). Tumores prostáticos são malignos, altamente invasivos e incomuns. Acometem cães idosos, que possuem em média 10 anos de idade; (Johnston et al., 2000; Di Santis; Amorim; Bandarra, 2001; Freitag et al., 2007; Cunto et al., 2019). Adenocarcinoma e carcinoma de células de transição são os dois tumores mais frequentes da próstata canina. Outros tipos de tumores malignos, como sarcoma, leiomiossarcomas, fibrossarcoma e metástases também podem ocorrer (Di Santis; Amorim; Bandarra, 2001; Smith, 2008; Apparício, 2015). Acredita-se que a neoplasia intraepitelial prostática seja precursora do carcinoma prostático, portanto, seu diagnóstico auxilia na instituição do tratamento precoce evitando a progressão dessa lesão até o câncer (Peter e Widmer, 2003; Assis, Garcia, Feliciano, 2015). A prevalência é baixa, entre 0,2 a 0,6% (Johnston et al., 2000). Conforme o estudo de Lacreta (2012), adenocarcinomas representam apenas 3,85% dos casos entre as demais prostatopatias. Entretanto, deve-se ressaltar que a ocorrência de neoplasias prostáticas é provavelmente subestimada devido à falta de um teste laboratorial rápido e preciso tal qual a mensuração de PSA em humanos, ao diagnóstico errôneo por conta de sinais clínicos comuns a doenças de diferentes etiologias e ainda, a ausência de exames preventivos de próstata em cães assintomáticos (Leroy e Northrup, 2009). 40 A castração não demonstra efeito protetor sobre a próstata canina em relação às neoplasias (Smith, 2008) que, portanto, podem ocorrer tanto em cães castrados ou não castrados (Johnston et al., 2000; Cunto et al., 2019) e ambos costumam desenvolver essa afecção na mesma idade, por isso Teske et al. (2002) acreditam que a castração não seja um fator iniciador do tumor, mas que favoreça a sua progressão. Sabe-se que após a castração ocorre uma diminuição maciça no número de células epiteliais dependentes de andrógenos, as células basais permanecem intactas mesmo após a privação hormonal, mostrando que não dependem de andrógenos para se manter e que se proliferam ativamente (Teske et al., 2002; Pacliokova; Kahout; Vlasin, 2006). Acredita-se que o carcinoma prostático ocorra após a modificação, de caráter maligno, das células basais (Davidson, 2014). Não se sabe exatamente a razão da alta incidência de neoplasias prostáticas em cães castrados, mas hipóteses incluem a perda dos efeitos protetores dos andrógenos, a mudança na configuração do estroma prostático e aumento da longevidade dos cães castrados predispondo-os a neoplasias relacionadas à idade (Leroy e Northrup, 2009; Christensen, 2018). Metástases são comuns e acontecem rapidamente, em aproximadamente 70 a 80% dos casos. Acometem linfonodos ilíacos e sublombares, vértebras lombares, pelve, pulmões ou ainda podem invadir a uretra, bexiga, ureteres, cólon e musculatura pélvica (Pacliokova; Kahout; Vlasin, 2006; Leroy e Northrup, 2009; Cunto et al., 2019). Infelizmente, os tumores prostáticos muitas vezes não são diagnosticados até que sejam observados sinais clínicos, à essa altura metástases locais ou regionais já ocorreram (Smith, 2008). Considerando o estágio avançado de doença e a falta de tratamentos efetivos, o prognóstico é desfavorável e o tempo de sobrevivência após o diagnóstico varia de dias a semanas (Freitag et al., 2007; Leroy e Northrup, 2009; Christensen, 2018; Cunto et al., 2019). Os sinais clínicos apresentados são semelhantes a outras afecções (Freitag et al., 2007), geralmente estão relacionados com o aumento exagerado da próstata ou com a ocorrência de metástases causando tenesmo, constipação, disquesia, hematúria, disúria e estrangúria ou até mesmo dor, claudicação e paresia dos membros pélvicos por compressão nervosa. Sinais inespecíficos como dor abdominal, anorexia e perda de peso podem ocorrer (Barsanti e Finco, 1986; Johnston et al., 2001; Lévy et al., 2014; Christensen, 2018; Cunto et al., 2019). 41 O diagnóstico presuntivo é baseado na anamnese, exame físico, achados laboratoriais e exames de imagem. O diagnóstico definitivo exige a identificação de células neoplásicas em amostras de tecido prostático obtidas por meio de PAAF ou biópsias analisadas pelo exame histológico ou citológico da próstata (Barsanti e Finco, 1986; Johnston et al., 2001; Lévy et al., 2014; Assis, Garcia, Feliciano, 2015; Cunto et al., 2019). Durante a palpação retal a próstata normalmente encontra-se aumentada, sem mobilidade, firme, assimétrica, e o animal apresenta dor durante o toque (Barsanti e Finco, 1986; Apparício, 2015; Cunto et al., 2019). Em cães castrados a próstata deve ser pequena, se durante a palpação retal desses animais for encontrado aumento da glândula deve-se suspeitar de neoplasia (Peter e Widmer, 2003). Os exames laboratoriais possivelmente revelam anemia não regenerativa e leucocitose neutrofílica, a depender do grau de necrose e inflamação associado ao desenvolvimento tumoral. Na bioquímica sérica o achado mais comum é o aumento da fosfatase alcalina. Azotemia pode ser resultado de obstrução parcial ou total dos ureteres. A urinálise revela hematúria e piúria. O fluido prostático pode ser examinado em busca de células neoplásicas, mas o resultado falso negativo é comum (Barsanti e Finco, 1986; Peter e Widmer, 2003; Pacliokova; Kahout; Vlasin, 2006; Cunto et al., 2019). A punção aspirativa com agulha fina (PAAF) possibilita a colheita de líquido e tecido para a avaliação citológica e cultura microbiana. Permite a identificação de neoplasias prostáticas por meio de alterações no número, população, morfologia e características das células da próstata. A biópsia prostática consiste na colheita de fragmentos de tecido prostático para avaliação histopatológica, podendo ser feita durante um procedimento cirúrgico ou via transabdominal por Tru-cut (Pacliokova; Kahout; Vlasin, 2006; Apparício, 2015). Ambos os procedimentos estão associados ao risco de semeadura de células neoplásicas durante o trajeto da agulha (Freitag et al., 2007; Christensen, 2018). Sinais radiográficos de cães com neoplasias prostáticas incluem sinais de prostatomegalia, mineralização da glândula, linfadenomegalia regional e áreas de lise nos corpos vertebrais que são sugestivas de metástase (Assis, Garcia, Feliciano, 2015). Radiografias de tórax são indicadas para verificar a presença de metástases pulmonares (Barsanti e Finco, 1986; Assis, Garcia, Feliciano, 2015). Tomografia computadorizada e ressonância magnética podem contribuir para o diagnóstico, 42 porém são pouco realizados por conta do prognóstico desfavorável e alto custo (Lévy et al., 2014; Assis, Garcia, Feliciano, 2015; Cunto et al., 2019). A ultrassonografia é a metodologia de escolha para avaliação do tecido prostático acometido (Lévy et al., 2014; Russo et al., 2021) pois possibilita determinar com precisão o tamanho, contorno, homogeneidade, ecotextura e a presença de lesões cavitárias (Junior, 2012; Assis, Garcia, Feliciano, 2015), possibilitando além da avaliação da glândula a colheita de amostras guiada (Davidson e Baker, 2009). Ainda que a ultrassonografia convencional seja muito importante nem sempre possibilita diferenciar afecções benignas e malignas, uma vez que é uma técnica pouco específica e os achados são semelhantes em ambos os casos (Russo et al., 2021). Técnicas avançadas estão sendo estudadas e já podem ser incluídas na rotina de avaliação prostática. Doppler, ultrassonografia com contraste de microbolhas (CEUS) e elastografia podem contribuir com a diferenciação do tecido normal e neoplásico. Ao doppler observa-se aumento da vascularização interior da próstata. CEUS possibilita identificar o aumento da perfusão prostática, facilitar a identificação de nódulos e massas e ainda sugerir o tipo de tumor a partir dos parâmetros de perfusão. Com o emprego da elastografia, é possível identificar áreas de lesão no parênquima mensurando a rigidez tecidual (Russo et al., 2021; Cintra et al., 2022). O diagnóstico diferencial de neoplasias prostáticas deve incluir HPB, abscessos, cistos, prostatites, massas retais ou pélvicas (Fossum, 2015). Geralmente, no momento do diagnóstico a doença já está em estágio avançado e as opções terapêuticas são limitadas, preconizando o tratamento paliativo e o bem estar do animal. Ademais, o tratamento de cães com neoplasia prostática é pouco efetivo, nenhuma terapia específica tem aumentado a expectativa de vida dos cães (Johnston et al., 2001; Smith, 2008). A privação hormonal não demonstra efeito sobre as neoplasias prostáticas, portanto, a terapia anti-androgênica e a castração não são consideradas (Johnston et al., 2000; Davidson, 2014; Cunto et al., 2019). O uso de quimioterápicos ainda está sendo estudado, até o momento não foram bem sucedidos no manejo dessa afecção (Smith, 2008; Cunto et al., 2019). Anti-inflamatórios não esteroidais (AINES) demonstram ter um fator anticancerígeno que parece aumentar a expectativa e a 43 qualidade de vida dos cães durante um período (Christensen, 2018; Cunto et al., 2019;). A radioterapia é uma técnica de alto custo que ocasiona efeitos adversos severos, como colite crônica, perfuração gastrointestinal, osteopenia, espessamento da bexiga, cistite crônica, estenose uretral, edema de membros pélvicos e outros que resultam em diminuição da qualidade de vida desses animais (Christensen, 2018). A prostatectomia total é recomendada para o tratamento de animais em que metástases sejam inexistentes ou apenas pequenos focos (Leroy e Northrup, 2009; Apparício, 2015; Christensen, 2018; Cunto et al., 2019). A incidência de complicações pós-operatórias é alta, principalmente incontinência urinária, mas necrose do colo vesical e estenose uretral podem ocorrer (Freitag et al., 2007). A colocação de um tubo por cistotomia ou de um stent uretral podem ser consideradas para alívio da disúria. São técnicas que costumam ter bons resultados e aumentam em alguns dias a sobrevida dos animais. Os proprietários devem estar cientes das complicações, incluindo incontinência urinária, infecção do trato urinário, disseminação do tumor, perda do stent e reosbtrução (Christensen, 2018). Cada caso deve ser considerado individualmente, medidas paliativas para controle de dor e de outros efeitos devem ser recomendados, considerando as expectativas e preocupações do proprietário e principalmente a qualidade de vida do paciente (Christensen, 2018). Pacientes sem evidência de metástase apresentam maior sobrevida (Peter e Widmer, 2003), entretanto, na maior parte dos casos o diagnóstico é tardio, as terapias são ineficazes e a qualidade de vida do paciente está comprometida, por isso a eutanásia pode ser recomendada (Smith, 2008). 1.3 AVALIAÇÃO ULTRASSONOGRÁFICA DA PRÓSTATA DE CÃES 1.3.1 ULTRASSONOGRAFIA MODO B Antes de iniciar a varredura ultrassonográfica da próstata, alguns cuidados são necessários para otimizar a visibilização da glândula e execução do exame. A tricotomia da região abdominal caudoventral deve ser realizada de forma ampla (Assis; Garcia; Feliciano, 2015). Decúbitos lateral e dorsal podem ser utilizados, entretanto, o decúbito dorsal é preferível pois confere maior estabilidade durante o posicionamento do transdutor. Para garantir que o animal permaneça na posição 44 ideal a contenção é necessária, podendo ser feita de forma mecânica ou química, nos casos de pacientes que apresentem altos níveis de estresse, agressividade ou que não permitam a manipulação (Assis; Garcia; Feliciano, 2015). Por último, uma quantidade razoável de gel acústico deve ser aplicada sobre a pele do animal, a fim de aumentar o contato entre a superfície do transdutor e a região a ser estudada e principalmente evitar ar entre a probe e a pele (Carvalho; Guido; Tannouz, 2004). Transdutores de frequência de 5, 7,5 e 10 MHz podem ser utilizados durante o exame (Carvalho; Guido; Tannouz, 2004; Assis; Garcia; Feliciano, 2015). Transdutores de baixa frequência contribuem na identificação de anormalidades prostáticas mais grosseiras, como abscessos e cistos prostáticos e são recomendados no exame de cães de grande porte para garantir a visibilização completa da próstata. Transdutores de alta frequência, como os lineares, são preferíveis para o exame de cães de pequeno porte e fornecem para uma avaliação minuciosa e detalhada do parênquima prostático (Cartee e Rowles, 1983; Hecht e Pollard, 2015; Souza; Gasser; Rodrigues, 2019). A bexiga é considerada uma janela acústica para a identificação da próstata, uma vez que a região do colo vesical é utilizada para a sua localização, além disso, a repleção da bexiga também influencia uma vez que o esvaziamento da mesma tende a deslocar a glândula cranialmente para o interior do abdômen facilitando sua avaliação (Johnston et al., 1991; Breadley, 2011; Souza; Gasser; Rodrigues, 2019). Jejum alimentar de no mínimo 8 horas pode auxiliar na avaliação prostática, pois os gases intestinais e o conteúdo em colón descendente e ampola retal são formadores de artefatos de imagem na região (Souza; Gasser; Rodrigues, 2019). Ter uma abordagem sistemática de varredura da próstata é indispensável, para isso, imagens no plano longitudinal e sagital devem ser obtidas a fim de compreender todas as áreas do órgão durante o exame (Johnston et al., 1991; Breadley, 2011). Inicialmente, o transdutor é posicionado paralelamente ao prepúcio para localização da vesícula urinária, movendo-se caudalmente é identificado o colo e trígono vesicais, movimentos laterais e caudais sutis devem ser realizados até a localização da próstata. Toda a extensão da glândula deve ser inspecionada através de movimentos craniocaudais e laterolaterais (Breadley, 2011; Grahan; Kealy; McAllister, 2012). 45 Medidas prostáticas baseadas em radiografias nem sempre são tão acuradas devido a sobreposição e a falta de contraste tecidual entre as estruturas. Entretanto, devido ao contorno bem definido da próstata na imagem ultrassonográfica as mensurações realizadas pela ultrassonografia são comumente assertivas (Ruel et al., 1998). Ademais, sabe-se que existe boa relação entre as medidas obtidas por ultrassonografia e mensuração física da próstata, o que confere boa confiabilidade a este exame e torna a ultrassonografia o melhor método para mensuração da glândula (Gadelha, 2015). Algumas doenças da próstata canina estão relacionadas com a prostatomegalia (Gadelha, 2015). Dessa forma, se faz importante a aferição precisa do tamanho da glândula a fim de avaliar a progressão ou resolução dessas afecções prostáticas (Nyland e Matoon, 2015). Entretanto, deve-se ressaltar que o tamanho prostático não deve ser o único parâmetro avaliado; a forma, posição, contornos e ecogenicidade também devem ser considerados para uma avaliação completa do quadro (Ruel et al., 1998). Para mensurar o tamanho da glândula, medidas de comprimento, altura e largura são tomadas (Assis, Garcia, Feliciano, 2015). No plano longitudinal, o comprimento corresponde à máxima distância da glândula no eixo uretral, e a altura pelo maior diâmetro perpendicular ao eixo do comprimento. No plano transversal, a largura prostática corresponde à medida do diâmetro dos lobos (Carvalho; Guido; Tannouz, 2004; Freitas, 2015). Ruel e seus colaboradores (1998) utilizaram cães de diferentes raças e tamanhos a fim de obter medidas prostáticas que pudessem ser utilizadas como referência para cães saudáveis e seus resultados são descritos no quadro 14. Quadro 14. Medidas da próstata de cães normais segundo Ruel et al. (1998). Dimensão da próstata normal de cães Medidas Valores médios (cm) Comprimento 3,4 ± 1,1 cm Altura 2,8 ± 0,8 cm Largura 3,3 ± 0,9 Altura (corte transversal) 2,6 ± 0,7 cm 46 Kamolpatana et al. (2000) utilizando-se de animais com menos de 5 anos de idade, de diferentes tamanhos e pesos, obteve valores médios próximos aos de Ruel et al. (1998), que também podem ser utilizados como referência para cães normais e estão descritos no quadro 15. Quadro 15. Medidas da próstata de cães normais segundo Kamolpatana et al., 2000. Dimensão da próstata normal de cães Medidas Valores médios (cm) Comprimento 3,15 ± 0,8 cm Altura 3,15 ± 0,9 cm Largura 2,83 ± 0,6 Conforme descrito por diversos autores, sabe-se que existe influência da idade, peso e status reprodutivo no tamanho prostático (Ruel et al., 1998; Atalan; Holt; Barr, 1999; Nyland e Matoon, 2015). Em um estudo composto por uma população homogênea, de peso e tamanho semelhantes, Gadelha et al. (2008) encontraram medidas confiáveis de comprimento e altura conforme as faixas etárias. Seus resultados são mostrados no quadro 16. Quadro 16. Dimensões prostáticas em diferentes faixas etárias segundo Gadelha et al. (2008). Idade dos animais (anos) Dimensões prostáticas (cm) Altura Comprimento 1-3 anos 1,99 ± 0,18 2,3 ± 0,5 4-6 anos 1,9 ± 0,3 2,8 ± 0,4 > 7 anos 2,3 ± 0,4 3,4 ± 0,6 A influência da raça sobre o tamanho prostático também deve ser considerada. Sabe-se que cães da raça Scottish Terrier possuem próstata proporcionalmente maior do que de outras raças (Nyland e Matoon, 2015; Souza; Gasser; Rodrigues, 2019). 47 O exame ultrassonográfico da próstata revela contornos definidos e superfície lisa (Carvalho; Guido; Tannouz, 2004), delineada por uma cápsula fina, que pode ser vista como uma linha hiperecogênica evidente (Breadley, 2011; Nyland e Matoon, 2015). No plano longitudinal a próstata possui formato arredondado a oval, enquanto no plano transversal possui aspecto bilobado que deve ser simétrico. No corte transversal além dos sulcos (ventral e dorsal) que delimitam os dois lobos, ainda é possível visualizar a uretra prostática que aparece como uma área hipoecogênica circunscrita por uma parede hiperecogênica, circular entre os dois lobos da próstata (Breadley, 2011; Assis, Garcia, Feliciano, 2015; Hecht e Pollard, 2015; Nyland e Matoon, 2015). A aparência ultrassonográfica da glândula em cães saudáveis é de parênquima homogêneo com ecotextura fina a moderadamente grosseira. A ecogenicidade é variável, majoritariamente hiperecogênica, embora o mais comum seja ecogenicidade moderada, semelhante ao parênquima esplênico (Davidson e Baker, 2009; Breadley, 2011; Junior, 2012; Hecht e Pollard, 2015; Nyland e Matoon, 2015; De Souza et al., 2017; Souza; Gasser; Rodrigues, 2019; Khanbazi et al., 2021). Alterações patogênicas da próstata podem resultar tanto em alterações focais quanto difusas do parênquima, que podem ser hipoecogênicas, hiperecogênicas ou de ecogenicidade mista. Esses sinais são inespecíficos e comuns a diversas prostatopatias, por isso, exigem uma investigação mais completa do quadro (Junior, 2012; De Souza et al., 2017). Em cães mais velhos e intactos a próstata é tipicamente hiperecogênica aos tecidos circundantes e possui aumento de dimensões (Breadley, 2011; Hecht e Pollard, 2015). Nos machos castrados e sexualmente imaturos os lobos dificilmente são diferenciados e a glândula mostra-se pequena de aspecto homogêneo e hipoecogênico (Tannouz, 2004; Davidson e Baker, 2009; Breadley, 2011; Nyland e Matoon, 2015; Carvalho; Guido; De Souza et al., 2017). O tamanho reduzido do órgão nos cães castrados ocorre naturalmente pela privação de testosterona no parênquima e por vezes dificulta a identificação das margens prostáticas, que são confundidas com a gordura circundante (Souza; Gasser; Rodrigues, 201